Depois de seis safras, a ferrugem da soja perde fôlego no país
Patrick Cruz
A ferragem asiática, doença responsável por perdas superiores a US$ 10 bilhões
nas lavouras de soja nas últimas seis safras, enfim mostra sinais de
enfraquecimento no país. O número de focos detectados até o momento é um dos
mais baixos desde 2002, quando o Phakopsora pachyrhizi, fungo causador da
doença, alastrou-se pelas plantações brasileiras.
Segundo os dados do Consórcio Antiferrugem, da Embrapa Soja, o número de focos
registrados na safra 2007/08 é de 620 em todo o país. No ciclo anterior, os focos
chegaram a 1.559 até o fim de janeiro. Nesta safra, de acordo com o
levantamento, não foram detectados focos no mês de novembro. Na safra anterior,
foram 33 os registros.
São dois os principais fatores para a guinada, segundo os especialistas. O mais
importante deles é a adoção do vazio sanitário, durante o qual é proibido o plantio
de soja safrinha. O intervalo do vazio sanitário é de 90 dias e inclui a erradicação
das plantas que nascem de forma espontânea, conhecidas como soja guacha ou
tigüera.
"Neste ano, a melhora do combate à ferrugem é significativa. Os plantadores não
querem correr o risco de perder soja por causa dos bons preços", diz José Tadashi
Yorinori, da Tadashi Agro, um dos maiores especialistas em ferrugem asiática do
país. Contribui para essa melhora, segundo ele, a disseminação de fungicidas
genéricos. "Ó custo por aplicação tem sido, em média, de 10% a 15% menor",
afirma.
O La Nina é o segundo fator para a diminuição da incidência nas lavouras
brasileiras de soja. O fenômeno, que se caracteriza pelo resfriamento das águas na
faixa equatorial do Oceano Pacífico, reduziu o volume de chuvas nas plantações. O
La Nina atrasou o plantio em quase todos os Estados produtores, mas ajudou na
contenção da ferrugem, que se espalha mais rapidamente em ambiente mais
úmido.
Segundo o Consórcio Anti-ferrugem, a Bahia, na safra passada, chegou ao fim de
janeiro com 182 focos de ferragem asiática detectados. Neste ciclo, ainda não há
casos registrados. "A [falta de] chuva ajudou. Cedo ou tarde, a doença pode
aparecer, mas o que pode acontecer neste ano ê que ela não cause danos corno os
do passado", diz Monica Cagnin Martins, que lidera o programa de combate à
ferrugem pela Fundação Bahia.
O projeto anti-ferrugem da Associação de Produtores de Soja de Mato Grosso
(Áprosoja) registrou, até ontem, 23 focos da doença no Estado. O número é um
pouco superior ao registrado pela Embrapa Soja que utiliza metodologia diferente
na apuração dos dados até o fim de janeiro da safra anterior.
Ainda assim, a entidade comemora. Dificuldades na detecção dos focos no Estado
atestam, segundo os técnicos, que o número de ocorrências foi muito maior que as
17 registradas até o fim de janeiro na safra 2006/07. "Além de a incidência ser
menor, ela tem sido bem mais tardia que em outros anos. Já tem produtor
colhendo a safra e sem ter sido afetado pela doença", afirma Luiz Nery Ribas,
gerente técnico da Áprosoja.
Um dos Estados com o maior número de ocorrências nesta safra é o Mato Grosso
do Sul. São 247 os focos detectados até ontem, segundo a Agência Estadual de
Defesa Sanitária Animal e Vegetal (lagro). Ainda assim, o número representa
menos que a metade apurada nesta mesma época do último ciclo, de 499 focos. "A
ferragem está um pouco menos agressiva, mas não dá para o produtor baixar a
guarda", diz Eduardo Riedel, vice-presidente da Federação de Agricultura e Pecuária
de Mato Grosso do Sul (Famasul).
O temor com o recrudescimento da doença mostra por que os resultados deste ano
ainda são comemorados de forma comedida. Na safra 2004/05, as perdas totais
causadas pela ferrugem caíram 37%, para US$ 1,4 bilhão. No entanto, já no ciclo
seguinte, elas superaram os US$ 2,6 bilhões, um aumento de mais de 84%. "Até
agora, a ocorrência é menor, mas o produtor não pode se descuidar. Se ele achar
que a doença está controlada, ela volta com mais força no outro ano", diz José
Tadashi Yorinori, da Tadashi Agro.
Fonte: Valor Econômico, São Paulo, 29 jan. 2008, Empresas & Tecnologia,
p. B13
Download

A utilização deste artigo é exclusiva para fins educacionais.