OTIMIZAÇÃO DAS ÉPOCAS DE PLANTIO DE SOJA PARA A REGIÃO DE CAMPOS GERAIS DO PARANÁ Lucieta Guerreiro Martorano1, Paulo Henrique Caramori2, Marcos Silveira Wrege2 , João Henrique Caviglione2 , Rogério Teixeira de Faria2. 1 – EMBRAPA SOLOS, Rua Jardim Botânico, 1024, CEP 22460-000, Rio de Janeiro, RJ. E-mail: [email protected] 2 - IAPAR, Caixa Postal 481, CEP 86001-970, Londrina, PR. ABSTRACT Planting date for soybeans in Campos Gerais region, Parana State, Brazil, were investigated based on weather risk. A historical series with 45 years of daily observation was used to calculate frost and water deficit risk The growing season was established when frost risk was lower than 10%. Frost was assumed to occur when minimum temperatures at screen level were below 3oC. Water deficit was calculated using a climatological water balance model. The best planting dates for main cultivars were identified between October 10th and April 10th. INTRODUÇÃO Nos trópicos e subtrópicos em cultivos de sequeiro, a chuva e os índices de umidade são as variáveis meteorológicas de maior importância devido à safra depender muito da quantidade e distribuição das chuvas durante as fases de crescimento, floração e enchimento de grãos. Todavia, em altas altitudes e regiões temperadas, a temperatura é a variável atmosférica mais relevante. A área em estudo está inserida na região dos Campos Gerais, no Paraná, onde as características da paisagem natural predominantes são os campos limpos e os campos cerrados, bem como os capões de mata com pinheiro. Pertence ao Planalto de Ponta Grossa, constituída por rochas sedimentares da Era Paleozóica e rochas ígneas intrusivas, comportando-se como um extenso patamar de denudação periférica, atingindo altitudes que podem chegar a 1.200m (EMBRAPA, 1984). Essa região, destaca-se como uma das mais produtoras de soja, do Estado, necessitando de crescentes estudos para avaliar riscos nas fases fenológicas da cultura. A semente da soja necessita absorver cerca de 50% de seu peso em água para assegurar a germinação e a umidade do solo não deve exceder a 85% do total de água disponível. Com o desenvolvimento da cultura, vai aumentando a necessidade de água, atingindo o máximo durante a fase de floração-enchimento de grãos (7 a 8 mm.dia-1) e decrescendo após esse período. Déficits hídricos expressivos, nesta etapa, provocam alterações fisiológicas na planta, tais como o fechamento dos estômatos e o enrolamento das folhas. Para a obtenção do rendimento máximo, a cultura necessita, em todo o seu ciclo, de aproximadamente 450 a 800 mm que dependem das condições climáticas, do manejo e da duração do ciclo. Quanto às condições térmicas, a soja pode ser cultivada em áreas onde as temperaturas estão entre 20oC e 30oC e seu crescimento vegetativo é pequeno ou nulo sob temperaturas inferiores ou iguais a 10oC (Embrapa Soja, 1999). Grodzki at al. (1996), estudando o regime de geadas no Paraná, verificou que Ponta Grossa está incluída entre os locais de maior incidência de geadas, sendo que 10% das ocorrências estão entre 148 os dias 28/04 e 16/09; 30% entre 12/05 e 01/09, 50% entre 23/05 e 07/08 e 70% dos casos podem ocorrer de 02/06 a 03/08. Dentre os fatores que contribuem para a ocorrência de geadas na região, os mais frequentes são os referentes à escala topoclimática, relacionados ao relevo movimentado e à exposição do terreno. Áreas de baixadas e na face de exposição voltada para o sul são as mais suscetíveis ao fenômeno, devido ao acúmulo intenso de ar frio e à menor exposição ao sol, no inverno. Os cultivares de soja mais utilizados na região são: precoce, começa a produzir com até 115 dias; semi precoce de 116 a 125 dias e ciclo médio de 126 a 137 dias. Na safra de 99/2000, na região foram plantados: FT abayara (126 a 137 dias), Embrapa 48 (115 dias), Embrapa 59 (124 dias), BRS 133 (128 dias) e BR 16 (123 dias). Procurou-se, neste trabalho, avaliar as épocas de riscos climáticos durante as fases da cultura, bem como identificar épocas mais favoráveis à semeadura, propiciando orientação ao produtor nas estratégias de condução da soja, na região de Campos Gerais. METODOLOGIA Foram utilizados dados diários de precipitação pluvial e temperatura do ar, correspondentes ao período de 1954 a 1999 da localidade de Ponta Grossa (25O13´S, 50O01´W). Quando a temperatura mínima crítica no abrigo meteorológico for igual ou inferior a 3oC pode ocorrer geada de radiação (GRODZKI et al., 1996, Silva, 2000). As épocas de riscos de geadas foram estimadas de acordo com os diferentes níveis de probabilidade de ocorrência desses eventos, através de um programa em linguagem Fortran. Assim, essas temperaturas selecionadas, separando-se os dados em 10 dias consecutivos, utililando-se períodos móveis, com passo 1, ou seja 1-10, 2-11 e assim, sucessivamente. Outra variável meteorológica que pode influenciar no desenvolvimento da cultura é a deficiência hídrica no solo. Para avaliar as épocas mais favoráveis à cultura, adotou-se o modelo de balanço hídrico (OLIVEIRA et al., 1996; WREGE et al., 1997) com CAD (Capacidade de Água Disponível) variável, levando-se em consideração a profundidade média das raízes durante as fases fenológicas da cultura e sua suscetibilidade quanto ao défícit de água no solo. Os critérios adotados para avaliar do período mais favorável foram os seguintes: 1. Início do plantio permitido para épocas com risco de geadas inferior a 10%; 2. Menor risco de deficiência hídrica na floração e no estabelecimento da cultura; 3. Maior risco possível de deficiência hídrica, na colheita. A partir desses critérios, elaborou-se um algorítimo que procura, na série de dados, o período mais favorável para a semeadura, em função do ciclo da cultivar e permite visualizar, no gráfico, o período ideal ao cultivo da seguinte forma: S-semeadura, F-floração e C-colheita. 149 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 1 apresenta os resultados das análises para a cultura da soja. A semeadura é recomendada somente a partir de 10 de outubro, quando não há risco de geadas. Identificou-se um período de semeadura adequado entre 10 de outubro e 15 de dezembro. A cultura já deve ter completado o seu ciclo, no início de abril, quando começa o período com riscos de geadas. A semeadura feita com boa umidade no solo, pode reduzir os riscos no estabelecimento da cultura, sendo esse período indicado, consistente com dados de diversos anos de experimentos sobre épocas de semeadura conduzidos na região. Figura 1 – Período indicado para cultivo da soja na região dos Campos Gerais do Paraná, baseado na freqüência de geadas e no déficit hídrico. Ainda na Figura 1, verifica-se que a partir de 14 de maio as probabilidades de ocorrência desses eventos variam entre 20% a 40%. CONCLUSÕES A metodologia utilizada foi adequada para determinar os melhores períodos de semeadura da cultura. O período ideal para o cultivo da soja na região dos Campos Gerais vai de 10 de outubro a 10 de abril, quando a cultura já deve estar em fase de colheita. 150 BIBLIOGRAFIA GRODZKI, L., CARAMORI, P. A., BOOSTMA, A., OLIVEIRA, D. de., GOMES, J. Riscos de ocorrência de geada no estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria. , 1996. v.4, n.1, p.213-220. EMBRAPA – SNLCS/SUDESUL/IAPAR. Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado do paraná. 1984. 413 p. (EMBRAPA – SNLCS .Boletim Técnico, 57). EMBRAPA SOJA. Recomendações técnicas para a cultura da soja no Paraná 1999/2000. Londrina, PR, 1999. 263p. (Embrapa Soja. Documentos, 131). OLIVEIRA, D. & VILLA NOVA, N.A. Evapotranspiração máxima e lâminas de irrigação necessárias para feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) no Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, Santa Maria, v.4, n.1; p.29-36, 1996. SILVA, J. G. da. Avaliação do risco de ocorrência de Geadas no Estado de Santa Catarina. Piracicaba. 2000. ESALQ. 67p ( Dissertação de mestrado). WREGE, M.S., GONÇALVES, S.L., CARAMORI, P.H., VASCONCELLOS, M.E.C., OLIVEIRA, D., ABUCARUB NETO, M. , CAVIGLIONI, J.H. Risco de deficiência hídrica na cultura do feijoeiro durante a safra das águas no Estado do Paraná. Revista Brasileira de Agrometeorologia, v.5, n.1, p.51-59, 1997. 151