XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006
Médicos e enfermeiras: O relacionamento numa unidade de
emergência (UE)
Antônio Carlos Costa Silva (UFAL) [email protected]
Lidiane da Cruz Barros (UFAL) [email protected]
Carlos Eduardo Cavalcante Barros ( UFAL) [email protected]
Gimerson Erick Ferreira (UFAL) [email protected]
Rondinelle Ferreira da Silva (FUNESA) [email protected]
Resumo
Dentro da cultura complexa de uma organização hospitalar interagem dois grupos de grande
importância para a atividade-fim do hospital, o médico e o enfermeiro. Por suas tarefas
serem interdependentes, é mantido entre eles um estreito relacionamento. Dessa forma, neste
estudo objetiva-se descrever tal interação, visto ser um dos grandes problemas das
instituições de saúde. Os sujeitos investigados foram os médicos e enfermeiros da Unidade de
Emergência Dr. Armando Lages que totalizaram 79 médicos e 49 enfermeiros. Os dados
foram obtidos quantitativamente, por meio de escala Likert e analisados pelo uso de medidas
de tendência, medidas de dispersão e análise fatorial. Dessa pesquisa foram identificados
três fatores fortes e determinantes para a inter relação profissional, a saber: conflitos na
relação, profissão e ambiente de trabalho, qualidade do relacionamento. Concluiu-se com
este estudo, que a relação entre o médico e o enfermeiro nesta Unidade de Emergência
envolve alguns conflitos e difícil relacionamento decorrentes do status profissional e da
estruturação do serviço.
Palavras Chaves: Hospital, Conflitos profissionais, relacionamento médico-enfermeira.
1. Introdução
Gonçalves (2002) caracteriza uma instituição hospitalar como sendo organizações complexas,
visto que necessita de uma diversidade de cargos, funções, departamentos e equipes exigindo
as atividades fins inerentes a esta organização.
Complementando isso, Alves e Brito (1999) indicam que essa complexidade é inerente a essa
instituição devido à demanda de novas tecnologias que vem sendo implantadas para atender
de forma mais eficiente e com qualidade “a sua clientela” (ALVES E BRITO, 1999).
Para assistir a isto, os principais agentes da assistência hospitalar, os médicos e enfermeiros,
são considerados os grupos de maior representatividade para os serviços de saúde devido às
distintas funções que exercem. O médico encarrega-se do diagnóstico da queixa do paciente e
ao enfermeiro cabe a execução da prescrição médica e os cuidados complementares ao
paciente.
Contudo, geralmente, esses profissionais possuem um relacionamento estreito e conflitante,
por problemas pessoais ou estruturais, donde surgem obstáculos à excelência na produção em
serviços de saúde.
Gonçalves (2002) aponta que esses conflitos são iniciados geralmente devido à hegemonia
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médica encontrada nos principais cargos gerenciais de um hospital. Por outro lado, como
afirma Lima (1998), esses profissionais tiveram, no conteúdo de sua educação profissional, a
cultura de aproveitar os seus recursos para auxiliá-lo no exercício da sua profissão.
Alves e Brito (1999) adicionam que a cultura de formação inerente aos médicos e o
tradicionalismo da profissão transformam esses profissionais em “senhores absolutos”. O
autor ainda acrescenta que o fato de o médico pensar ser o responsável pela vida e morte do
paciente, faz com que ele sinta-se superior aos outros cargos.
Santos e Filho (1995) colocam que a enfermagem, mesmo constituindo o grupo de maior
representatividade e possuir formação de nível superior, não tem autonomia de discutir,
questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao paciente,
ou seja, não possuem poder de decisão. Dessa forma, as enfermeiras sentem-se
desestimuladas e sem autonomia para agir, tendo sua atividade limitada às prescrições
médicas e esses problemas burocráticos desvirtuam ao objeto-fim da enfermagem, o cuidado
do paciente. Além disso, como aponta Gonçalves (1987), essa profissional conhece melhor a
realidade do hospital, as rotinas e procedimentos essenciais à assistência do paciente.
Para observar esse conflito em um contexto dinâmico de uma organização hospitalar,
recorremos a Silva (1998) para formular a questão de pesquisa de “Como é o relacionamento
entre médicos e enfermeiros na Unidade de Emergência Dr. Armando Lages?”. Nosso
objetivo foi avaliar o nível de conflito entre esses profissionais nesta Unidade de Emergência
e avaliar o nível de intromissão de funções e descrever a qualidade do relacionamento entre
esses profissionais no ambiente de trabalho.
A seguir, proporcionamos a revisão da literatura, permeando a hegemonia do médico na
instituição hospitalar, a busca do corpo de enfermagem por seu espaço e autonomia
profissional, a relação médico-enfermeira e a luta pelo poder e autonomia entre médicos e
enfermeira.
2. Revisão da Literatura
2.1. Médicos e seu poder hegemônico no hospital
A medicina é uma profissão antiga, tradicional e consolidado, seu prestígio remonta a
milênios de construção social da realidade. De acordo com estudos de Pires (1989), o
conhecimento das primeiras técnicas, métodos e ações médicas datam da pré-história, com os
homens das cavernas e, como toda ciência foi-se evoluindo, processos terapêuticos e
intervenções cirúrgicas aperfeiçoadas, mas só quem fazia usufruto da assistência médica eram
os grandes detentores de poder e status, a classe pobre cuidava-se por meios de pajelanças e
curandeiriçes (PIRES, 1989).
Pires (1989) apresenta que é durante o período colonial que se vem fomentar os primeiros
traços do perfil médico, um dos fatores era a formação que ocorria nas melhores escolas
européias. Além disso, recebia status por sua influência na intervenção da vida de pessoas
influentes e ricas. Ou seja, surge nesta profissão, o corporativismo e a supremacia médica
através da propagação da medicina como uma ciência superior às outras.
Deve-se enfatizar também a divisão do trabalho na assistência a saúde: trabalho intelectual e
trabalho manual. O trabalho intelectual referia-se à prática médica baseada no conhecimento
sistematizado. O manual compreendia as atividades das quais os médicos não se ocupavam,
deixando-as a cargo de outras pessoas que não possuíam formação específica para realizar tal
trabalho. Essa divisão gerou os primeiros conflitos entre os médicos e as demais pessoas que
trabalhavam na ação de saúde (PIRES, 1989).
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Agrega-se à figura do médico a supremacia em relação aos outros profissionais do setor de
saúde. Com o crescimento da medicina no Brasil, os médicos passaram a ocupar cargos de
diretores nessas instituições. Esse poder deriva dos saberes profissionais para tratamento e
cura do mal físico (LIMA JÚNIOR, 1998).
Com isso, Lima Júnior (1998) coloca que esse profissional controla e encaminha as ações dos
outros profissionais da equipe de saúde, por está configurado no centro da atividade principal
da organização, na qual torna-se vital para delimitar as zonas de autoridade e responsabilidade
entre a categoria do médico e da enfermagem.
Contudo, a hegemonia médica é formada por meio da competência técnica que esses
profissionais possuem. Ou seja, a centralização de poder para administração de todas as ações
terapêuticas e ter subservientes todos os outros membros de saúde. Lima Júnior (1989) aponta
que as características que contribuem para o perfil desse profissional são os valores
profissionais adquiridos, sua formação, seus objetivos, independência, isolacionismo e
corporativismos aliados a profissão.
Posteriormente, aborda-se sobre as profissionais que se tornaram dependentes e subordinadas
à figura do médico, pois devido a sua ação estar limitadas à realização de um trabalho
complementar, a enfermeira.
2.2. Enfermeira e a busca por espaço e autonomia profissional
A profissão de enfermeira decorre da divisão do trabalho do médico, para complementação do
trabalho manual dos cuidados com o paciente. Durante o período colonial, eram comumente
conhecidas como religiosas, parteiras e voluntárias. O caráter predominantemente feminino
também origina e explica a problemática relação entre o médico e a enfermeira, ou seja, o
papel de insubordinação da mulher ao homem no lar e no trabalho (PIRES, 1989).
Santos e Filho (1995) mencionam que, mesmo constituindo o grupo de maior
representatividade e possuir formação de nível superior, a enfermeira não tem autonomia de
discutir, questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao
paciente, ou seja, não possuem poder de decisão. Dessa forma, as enfermeiras sentem-se
desestimuladas e sem autonomia para agir, tendo sua atividade limitada às prescrições
médicas e esses problemas burocráticos desvirtuam ao objeto-fim da enfermagem, o cuidado
do paciente.
Lima Junior (1998) aponta que a enfermeira é responsável pelo gerenciamento dos recursos
humanos, do material e das instalações necessários ao atendimento dos pacientes
hospitalizados em sua unidade. Além disso, as funções administrativas básicas de
responsabilidade do corpo de enfermagem são: implementação das ordens médicas;
orientação quanto às normas, rotinas e atribuições, nas quais são requeridas pela
complexidade hospitalar; e, a verificação de prontuários, exames e escalas de cirurgias.
Outro fator que contribui para a falta de autonomia das enfermeiras é a desorganização social
e política dessas profissionais. Capella e Gelbecke (1988) dizem que a desorganização social
da enfermagem demonstra a passividade desses profissionais no ambiente de trabalho, sendo a
principal causa dessa desorganização e despolitização é a predominância maciça de mulheres
nessa profissão impossibilitando um engajamento, pois as longas jornadas de trabalho no
hospital e o trabalho doméstico impedem a organização política desses profissionais no
ambiente de trabalho.
Conclui-se, que é estreita a relação entre a enfermeira e o médico, no dia-a-dia do hospital. A
dependência mútua dos trabalhos médicos e de enfermagem mostra-se como fonte de disputas
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e conflitos entre esses profissionais.
A seguir, apresenta-se o relacionamento entre o médico e o enfermeiro,do qual decorrem
conflitos de poder e de autoridade, entre essas duas categorias.
2.3. Relação médico-enfermeira: lutas para aquisição de poder e autoridade
Para que médico e enfermeira possam realizar um trabalho assistencial de qualidade é
necessário que mantenham um relacionamento harmonioso. Essa relação pode ser
caracterizada como uma estrutura de poder rígida, onde os médicos ocupam a posição de
superior decorrente do status e dos saberes que possuem e as enfermeiras, embora de nível
superior, ocupam posições inferiores na hierarquia administrativa, não sendo reconhecidas na
organização pelo trabalho realizado (SANTOS E FILHO, 1995).
A subordinação da enfermeira ao médico é fonte de conflito nessa relação, pois há uma
restrição no campo de atuação da enfermeira que realiza um trabalho manual na assistência ao
paciente, enquanto o médico realiza um trabalho intelectual. Os papéis de médico e
enfermeira são delineados pela estrutura hierarquizada que indica limites, os quais são
determinados pelas relações de poder e autoridade existentes na organização.
Pires (1989) indica que o médico é o profissional da equipe de saúde detentor do poder de
decisão terapêutica e controlador do processo de trabalho da saúde. O autor demonstra que o
papel da enfermeira é passar o dia inteiro no hospital e lidar diretamente com os pacientes por
um período de tempo maior do que os médicos, limitando-se somente aos procedimentos
manuais, conseqüentemente, ficará isenta de qualquer forma de poder sobre a ação de saúde
(PIRES, 1989).
Lima Júnior (1998) conceitua poder como a capacidade de influenciar, originada do controle
de recursos organizacionais utilizados para a concretização de determinados interesses, que
são decorrentes da interação entre as pessoas no interior das organizações e fora dela.
Srour (1989) esclarece que na relação médico-enfermeira o poder é unilateral e emanado do
trabalho médico que é institucionalizada para a enfermagem. O poder e as linhas de
autoridade decorrem das posições assumidas tradicionalmente por médicos e enfermeira na
hierarquia hospitalar, as quais são expressas em diferenças salariais, poder de decisões e
atribuições.
Abaixo, apresenta-se um dos resultantes da relação médico-enfermeiro, os conflitos.
2.4. Conflito na relação médico-enfermeiro
Lima Junior (1998) afirma que conflito é característico das relações sociais, nas quais
indivíduos com comportamentos, atitudes e estilos de vida diferentes convivem nas
organizações para satisfazer seus interesses.
Monteiro et al.(1998) aponta que, no ambiente hospitalar, há um conflito implícito entre
médicos e enfermeiras evidenciados na divisão de competências e responsabilidades. Em
suma, esta relação está diretamente ligada ao parcelamento de atividades-fins que irão ser
desempenhadas por estes profissionais.
Silva (1998) indica que o principal fator popular de conflitos entre esses profissionais é a
hegemonia médica sobre a enfermagem, na qual deve ser negociado e administrado para que
não seja afetada a qualidade da assistência prestada.
Posteriormente, contempla-se a metodologia empregada na pesquisa.
3. Metodologia
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3.1. População
A presente pesquisa foi realizada com médicos e enfermeiros da Unidade de Emergência Dr.
Armando Lages, que trabalham no atendimento de urgências, os quais totalizam uma
população de 283 servidores. Segundo dados do Setor de Recursos Humanos, a população de
médicos corresponde a um total de 234 profissionais. Por seu lado, a população de
enfermeiros corresponde a 49 profissionais.
3.2. Amostra
Aplicou-se a fórmula para obter o valor correspondente ao estrato para os dois tipos de
profissionais, na qual, para os médicos, n=57, e para as enfermeiras, n=22. Estabeleceu-se
que a margem de confiança equivale a 95% com uma margem de erro de ±5%.
As participações dos sujeitos no estrato dos médicos foram estabelecidas através de cálculos
de proporção em relação ao número de participantes em cada especialidade, ao qual a seguinte
amostra corresponde a seguir: Cirurgia Geral, 15; Clínica Médica, 18; Pediatria, 13;
Ortopedia, 11, a qual totalizou 57 participantes, que foram selecionados por acessibilidade.
No grupo das enfermeiras, o critério de escolha das participantes foi a sua distribuição no
ambulatório e no setor de internamento, nos revezamentos de plantões semanais de 24 horas.
3.3. Processo de levantamento dos dados
O instrumento utilizado foi desenvolvido por Silva (1998), sendo adaptado para a unidade de
emergência. Este é composto por escala Likert, na qual participantes apontam sua posição ao
questionamento feito graduando de 1 a 5 seu posicionamento para mensurar a satisfação e
avaliar a qualidade do relacionamento. Também compõem o instrumento de coleta questões
pessoais do respondente, como idade, sexo, tempo de serviço no hospital e carga horária
semanal de trabalho na Unidade de Emergência.
Os dados fora coletados durante três turnos de trabalho, de acordo com os plantões de doze
horas diárias de trabalho de médicos e enfermeiros. Todos os participantes foram abordados
dentro da Unidade de Emergência. O preenchimento do formulário foi precedido das
instruções correspondentes.
Os dados serão apresentados em duas etapas. A primeira compreende os dados demográficos
que delineiam o perfil dos sujeitos. A segunda é composta pela discussão dos resultados dos
itens da escala Lickert, através da análise fatorial.
3.4. Processo de tratamento dos dados
Os dados foram processados eletronicamente no software estatístico SPSS. Para os itens da
escala, na análise estatística, utilizamos a análise fatorial e, também, procedimentos
convencionais de estatística descritiva.
3. Resultados
4.1. Dados demográficos
Farão parte dos dados demográficos: a idade dos médicos e das enfermeiras; tempo de serviço
dos médicos e das enfermeiras.
Para analisar a vinculação ao grau de maturidade e experiência profissional, coletou-se a
idade dos médicos e enfermeiras. Os médicos da UE encontram-se, em sua maioria, na faixa
etária de 32 a 37 anos representando 40,4% do total de sujeitos nesse estrato. A seguir, tem-se
22,8% dos sujeitos na faixa etária de 45 a 50 anos. A faixa etária de 38 a 44 é representada
por 17,5% dos médicos. Abrigando 14.0% dos sujeitos, encontramos a faixa etária de 26 a 31
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anos, em contrapartida, a de menor participação é a faixa etária superior a 50 anos, que
totaliza 5,3% dos sujeitos formadores do estrato dos médicos. Não registramos nenhum
médico com faixa etária entre 20 a 25 anos. Portanto, evidenciou-se a predominância de
médicos com experiência no contexto hospitalar.
A distribuição dos médicos por tempo de serviço torna-se importante para avaliação do
relacionamento médico-enfermeira, pois denota maior vivência na organização, com
sustentação a padrões cristalizados da cultura organizacional estabelecida. O resultado da
avaliação por tempo de serviço mostra que 28,1% dos sujeitos possuem de 4 a 6 anos de
trabalho. Situam-se 26,3% dos sujeitos na faixa de 1 a 3 anos de serviço prestado. Em
seguida, 22,8% dos médicos possuem um longo tempo de trabalho, pois estes possuem de 10
a 12 anos de trabalho na assistência aos casos de emergências que chegam a UE. Assim
sendo, o médico da UE pode ser caracterizado como um profissional que não atingiu os
quarenta anos de idade, de maioria masculina, com até 40 anos de serviços prestados ao
hospital.
A maior parte das enfermeiras encontra-se na faixa etária de 38 a 44 anos, representando
40,9% dos sujeitos. A faixa de 32 a 37 anos possui 31,8% da amostra no grupo. Entre 26 e 31
anos, encontra-se a terceira maior concentração de sujeitos que totalizam, 13,6% da amostra.
Com 4,5% dos sujeitos, a faixa etária de 45 a 50 anos representa a menor participação de
enfermeiras. Os sujeitos com idade acima dos 50 anos representam 9,1% da amostra. A faixa
etária de 20 a 25 anos não apresentou nenhum caso, demonstrando a ausência de concursos
públicos ultimamente. A UE apresenta profissionais enfermeiros que corresponde a um grupo
jovem se comparado aos percentuais dos médicos.
A variável tempo de serviço das enfermeiras demonstrou uma distribuição igual dos sujeitos
em duas faixas de tempo: de 10 a 12 anos e de 13 a 15 anos, abrigando cada uma 31,8% dos
sujeitos, isso se deu devido a ausência de concursos públicos para renovação do quadro
funcional nesse tempo. No tempo compreendido entre 4 e 6 anos, têm-se 22,7% dos sujeitos.
Representando 9,1% das enfermarias estão aquelas que possuem entre 7 a 9 anos de trabalho
no hospital. Enfermeiras com mais de 15 anos de UE totalizam 4,5% da amostra. Vale
ressaltar que o trabalho das enfermeiras é variável, pois algumas trabalham em plantões de 24
horas por semana (27,3%). As outras desenvolvem uma carga horária de 30 horas por semana
(68,2%). O perfil de enfermeiras deste hospital reúne mulheres em torno de 40 anos, com pelo
menos 10 anos de serviço prestados à UE e jornada de trabalho de 24 a 30 horas.
Constatamos, que nem o corpo clínico nem a enfermagem, possuem profissionais recémformados, isso ocorre devido a inexistência de concurso público os últimos 12 anos.
4.2. Análise fatorial
As respostas obtidas nos itens da escala foram submetidas à análise fatorial em componentes
principais, a qual eliminaram-se os itens com baixas correlações. Os vinte e quatro itens da
escala agrupam-se em sete fatores, porém três explicam os maiores percentuais de variância.
Evidencia-se isso analisando a tabela que se segue:
Análise fatorial das respostas obtidas
Conflito na relação médico e enfermeira
Itens
Fator 1
Conflito de interesses entre médico e enfermeira
Influência do conflito de interesses na relação
Conflito de interesses pessoais com os do grupo de trabalho
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,846
,808
,824
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Influência deste conflito na relação
Interferência da enfermeira nas funções do médico
Influência negativa na relação provocada por esta interferência
Divergências entre médico e enfermeira
Porcentagem de variância explicada = 20,39%
Elementos de satisfação
Itens
,766
,594
,481
,511
Fator 2
Reconhecimento de desempenho
Responsabilidades no hospital
Crescimento pessoal e profissional
Condições de trabalho
Salário
Política administrativa do hospital
Serviços da enfermeira ao paciente
Serviços do médico ao paciente
Porcentagem de variância explicada = 16,37%
,751
,455
,654
,475
,515
,476
,280
,454
Qualidade do relacionamento
Itens
Fator 3
Relacionamento no setor de trabalho
Relacionamento na UE como um todo
Grau de dificuldade no relacionamento
Qualidade de variância explicada = 8,57%
,667
,644
,543
Quanto à análise do fator 1, Conflito na relação, apresentou a maior correlação dentre todos
os outros fatores (20,39%). O ítem conflito de interesses entre médicos e enfermeiras, na qual
como salienta Monteiro et al. (1995) é um fator que está implicitamente na relação entre
médico e enfermeiras, uma vez que a estrutura administrativa do hospital os coloca em
posições opostas, estabelecendo a subordinação da enfermeira ao médico. A correlação entre
conflito de interesses e sua influência na relação (r2 = ,800) mostrou que a incongruência de
objetivos de médicos e enfermeiras dificulta o relacionamento de ambos. Também merece
destaque a correlação entre conflitos de interesses entre médicos e enfermeiras e conflitos e
conflito de interesses pessoais com as do grupo de trabalho (r2 = ,699), da qual inferimos que
os interesses das categorias são convergentes, dificultando o relacionamento intergrupal.
Outra variável a se aferir no fator 1 é a interferência da enfermeira na função no médico,
explica-se isso, pelo fato da execução de algumas atividades-fins exclusivas do médico serem
executadas pelo corpo de enfermagem, na qual transforma-se em um fator de conflito. Quanto
äs divergências entre médicos e enfermeiras podem ser caracterizados como fontes de
conflitos, uma vez que estas surgem em função da diferença de opiniões, atitudes,
pensamentos e comportamentos.
Na análise do fator 2, conhecido como profissão e o ambiente de trabalho, obtivemos as
elevadas correlações, nas quais demonstramos um bom nível de satisfação dos sujeitos.
Apenas os itens responsabilidades, condições de trabalho, avaliação dos serviços prestados
por médicos e enfermeiros apresentam menores correlações. O bom nível de satisfação dos
profissionais mostra que este fator não interfere negativamente na relação entre esses
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profissionais.
O fator 3 explicou apenas 8,57% da variância total. Denominamos de qualidade do
relacionamento, em que se encontraram evidências de que há um grau de dificuldade elevado
na relação médico e enfermeira. Porém, eles classificam a sua relação como boa apesar dos
conflitos e dificuldades do relacionamento cotidiano.
Por fim, os três fatores principais apontaram os itens que representam os principais aspectos
da relação médico-enfermeira, a qual chama a atenção para aspectos referentes à profissão,
conflitos e qualidade do relacionamento, os quais já foram explicados pelos três fatores
principais.
4. Conclusões
Pode-se verificar nos resultados apresentados que o relacionamento entre médicos e
enfermeiras da UE é conflitante, como apontado pela literatura. O conflito implícito entre eles
é uma decorrência natural da estrutura organizacional que os coloca em posições opostas e da
natureza do trabalho que realizam na assistência ao paciente.
Os conflitos existentes na relação entre médicos e enfermos estão relacionados aos interesses
de ambos na organização. Estes interesses são ligados ao trabalho que realizam e aos
objetivos de cada categoria enquanto profissional de saúde. Deste conflito de interesses,
surgem as dificuldades de relacionamento entre eles. Relaciona-se também ao conflito na
relação as divergências entre médico e enfermeira no ambiente de trabalho. As divergências
associam-se aos conflitos de interesses, com elevação no grau de dificuldade no
relacionamento.
O grau de dificuldade na relação foi observado como alto por médicos e enfermeiras, o qual
decorre da hierarquia pré-estabelecida no contexto complexo dessa organização hospitalar,
com as especificidades dos serviços de urgência, excessiva quantidade de clientes e estrutura
física sub dimensionada.
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