XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Médicos e enfermeiras: O relacionamento numa unidade de emergência (UE) Antônio Carlos Costa Silva (UFAL) [email protected] Lidiane da Cruz Barros (UFAL) [email protected] Carlos Eduardo Cavalcante Barros ( UFAL) [email protected] Gimerson Erick Ferreira (UFAL) [email protected] Rondinelle Ferreira da Silva (FUNESA) [email protected] Resumo Dentro da cultura complexa de uma organização hospitalar interagem dois grupos de grande importância para a atividade-fim do hospital, o médico e o enfermeiro. Por suas tarefas serem interdependentes, é mantido entre eles um estreito relacionamento. Dessa forma, neste estudo objetiva-se descrever tal interação, visto ser um dos grandes problemas das instituições de saúde. Os sujeitos investigados foram os médicos e enfermeiros da Unidade de Emergência Dr. Armando Lages que totalizaram 79 médicos e 49 enfermeiros. Os dados foram obtidos quantitativamente, por meio de escala Likert e analisados pelo uso de medidas de tendência, medidas de dispersão e análise fatorial. Dessa pesquisa foram identificados três fatores fortes e determinantes para a inter relação profissional, a saber: conflitos na relação, profissão e ambiente de trabalho, qualidade do relacionamento. Concluiu-se com este estudo, que a relação entre o médico e o enfermeiro nesta Unidade de Emergência envolve alguns conflitos e difícil relacionamento decorrentes do status profissional e da estruturação do serviço. Palavras Chaves: Hospital, Conflitos profissionais, relacionamento médico-enfermeira. 1. Introdução Gonçalves (2002) caracteriza uma instituição hospitalar como sendo organizações complexas, visto que necessita de uma diversidade de cargos, funções, departamentos e equipes exigindo as atividades fins inerentes a esta organização. Complementando isso, Alves e Brito (1999) indicam que essa complexidade é inerente a essa instituição devido à demanda de novas tecnologias que vem sendo implantadas para atender de forma mais eficiente e com qualidade “a sua clientela” (ALVES E BRITO, 1999). Para assistir a isto, os principais agentes da assistência hospitalar, os médicos e enfermeiros, são considerados os grupos de maior representatividade para os serviços de saúde devido às distintas funções que exercem. O médico encarrega-se do diagnóstico da queixa do paciente e ao enfermeiro cabe a execução da prescrição médica e os cuidados complementares ao paciente. Contudo, geralmente, esses profissionais possuem um relacionamento estreito e conflitante, por problemas pessoais ou estruturais, donde surgem obstáculos à excelência na produção em serviços de saúde. Gonçalves (2002) aponta que esses conflitos são iniciados geralmente devido à hegemonia ENEGEP 2006 ABEPRO 1 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 médica encontrada nos principais cargos gerenciais de um hospital. Por outro lado, como afirma Lima (1998), esses profissionais tiveram, no conteúdo de sua educação profissional, a cultura de aproveitar os seus recursos para auxiliá-lo no exercício da sua profissão. Alves e Brito (1999) adicionam que a cultura de formação inerente aos médicos e o tradicionalismo da profissão transformam esses profissionais em “senhores absolutos”. O autor ainda acrescenta que o fato de o médico pensar ser o responsável pela vida e morte do paciente, faz com que ele sinta-se superior aos outros cargos. Santos e Filho (1995) colocam que a enfermagem, mesmo constituindo o grupo de maior representatividade e possuir formação de nível superior, não tem autonomia de discutir, questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao paciente, ou seja, não possuem poder de decisão. Dessa forma, as enfermeiras sentem-se desestimuladas e sem autonomia para agir, tendo sua atividade limitada às prescrições médicas e esses problemas burocráticos desvirtuam ao objeto-fim da enfermagem, o cuidado do paciente. Além disso, como aponta Gonçalves (1987), essa profissional conhece melhor a realidade do hospital, as rotinas e procedimentos essenciais à assistência do paciente. Para observar esse conflito em um contexto dinâmico de uma organização hospitalar, recorremos a Silva (1998) para formular a questão de pesquisa de “Como é o relacionamento entre médicos e enfermeiros na Unidade de Emergência Dr. Armando Lages?”. Nosso objetivo foi avaliar o nível de conflito entre esses profissionais nesta Unidade de Emergência e avaliar o nível de intromissão de funções e descrever a qualidade do relacionamento entre esses profissionais no ambiente de trabalho. A seguir, proporcionamos a revisão da literatura, permeando a hegemonia do médico na instituição hospitalar, a busca do corpo de enfermagem por seu espaço e autonomia profissional, a relação médico-enfermeira e a luta pelo poder e autonomia entre médicos e enfermeira. 2. Revisão da Literatura 2.1. Médicos e seu poder hegemônico no hospital A medicina é uma profissão antiga, tradicional e consolidado, seu prestígio remonta a milênios de construção social da realidade. De acordo com estudos de Pires (1989), o conhecimento das primeiras técnicas, métodos e ações médicas datam da pré-história, com os homens das cavernas e, como toda ciência foi-se evoluindo, processos terapêuticos e intervenções cirúrgicas aperfeiçoadas, mas só quem fazia usufruto da assistência médica eram os grandes detentores de poder e status, a classe pobre cuidava-se por meios de pajelanças e curandeiriçes (PIRES, 1989). Pires (1989) apresenta que é durante o período colonial que se vem fomentar os primeiros traços do perfil médico, um dos fatores era a formação que ocorria nas melhores escolas européias. Além disso, recebia status por sua influência na intervenção da vida de pessoas influentes e ricas. Ou seja, surge nesta profissão, o corporativismo e a supremacia médica através da propagação da medicina como uma ciência superior às outras. Deve-se enfatizar também a divisão do trabalho na assistência a saúde: trabalho intelectual e trabalho manual. O trabalho intelectual referia-se à prática médica baseada no conhecimento sistematizado. O manual compreendia as atividades das quais os médicos não se ocupavam, deixando-as a cargo de outras pessoas que não possuíam formação específica para realizar tal trabalho. Essa divisão gerou os primeiros conflitos entre os médicos e as demais pessoas que trabalhavam na ação de saúde (PIRES, 1989). ENEGEP 2006 ABEPRO 2 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Agrega-se à figura do médico a supremacia em relação aos outros profissionais do setor de saúde. Com o crescimento da medicina no Brasil, os médicos passaram a ocupar cargos de diretores nessas instituições. Esse poder deriva dos saberes profissionais para tratamento e cura do mal físico (LIMA JÚNIOR, 1998). Com isso, Lima Júnior (1998) coloca que esse profissional controla e encaminha as ações dos outros profissionais da equipe de saúde, por está configurado no centro da atividade principal da organização, na qual torna-se vital para delimitar as zonas de autoridade e responsabilidade entre a categoria do médico e da enfermagem. Contudo, a hegemonia médica é formada por meio da competência técnica que esses profissionais possuem. Ou seja, a centralização de poder para administração de todas as ações terapêuticas e ter subservientes todos os outros membros de saúde. Lima Júnior (1989) aponta que as características que contribuem para o perfil desse profissional são os valores profissionais adquiridos, sua formação, seus objetivos, independência, isolacionismo e corporativismos aliados a profissão. Posteriormente, aborda-se sobre as profissionais que se tornaram dependentes e subordinadas à figura do médico, pois devido a sua ação estar limitadas à realização de um trabalho complementar, a enfermeira. 2.2. Enfermeira e a busca por espaço e autonomia profissional A profissão de enfermeira decorre da divisão do trabalho do médico, para complementação do trabalho manual dos cuidados com o paciente. Durante o período colonial, eram comumente conhecidas como religiosas, parteiras e voluntárias. O caráter predominantemente feminino também origina e explica a problemática relação entre o médico e a enfermeira, ou seja, o papel de insubordinação da mulher ao homem no lar e no trabalho (PIRES, 1989). Santos e Filho (1995) mencionam que, mesmo constituindo o grupo de maior representatividade e possuir formação de nível superior, a enfermeira não tem autonomia de discutir, questionar e deliberar junto ao médico sobre o andamento dos serviços prestados ao paciente, ou seja, não possuem poder de decisão. Dessa forma, as enfermeiras sentem-se desestimuladas e sem autonomia para agir, tendo sua atividade limitada às prescrições médicas e esses problemas burocráticos desvirtuam ao objeto-fim da enfermagem, o cuidado do paciente. Lima Junior (1998) aponta que a enfermeira é responsável pelo gerenciamento dos recursos humanos, do material e das instalações necessários ao atendimento dos pacientes hospitalizados em sua unidade. Além disso, as funções administrativas básicas de responsabilidade do corpo de enfermagem são: implementação das ordens médicas; orientação quanto às normas, rotinas e atribuições, nas quais são requeridas pela complexidade hospitalar; e, a verificação de prontuários, exames e escalas de cirurgias. Outro fator que contribui para a falta de autonomia das enfermeiras é a desorganização social e política dessas profissionais. Capella e Gelbecke (1988) dizem que a desorganização social da enfermagem demonstra a passividade desses profissionais no ambiente de trabalho, sendo a principal causa dessa desorganização e despolitização é a predominância maciça de mulheres nessa profissão impossibilitando um engajamento, pois as longas jornadas de trabalho no hospital e o trabalho doméstico impedem a organização política desses profissionais no ambiente de trabalho. Conclui-se, que é estreita a relação entre a enfermeira e o médico, no dia-a-dia do hospital. A dependência mútua dos trabalhos médicos e de enfermagem mostra-se como fonte de disputas ENEGEP 2006 ABEPRO 3 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 e conflitos entre esses profissionais. A seguir, apresenta-se o relacionamento entre o médico e o enfermeiro,do qual decorrem conflitos de poder e de autoridade, entre essas duas categorias. 2.3. Relação médico-enfermeira: lutas para aquisição de poder e autoridade Para que médico e enfermeira possam realizar um trabalho assistencial de qualidade é necessário que mantenham um relacionamento harmonioso. Essa relação pode ser caracterizada como uma estrutura de poder rígida, onde os médicos ocupam a posição de superior decorrente do status e dos saberes que possuem e as enfermeiras, embora de nível superior, ocupam posições inferiores na hierarquia administrativa, não sendo reconhecidas na organização pelo trabalho realizado (SANTOS E FILHO, 1995). A subordinação da enfermeira ao médico é fonte de conflito nessa relação, pois há uma restrição no campo de atuação da enfermeira que realiza um trabalho manual na assistência ao paciente, enquanto o médico realiza um trabalho intelectual. Os papéis de médico e enfermeira são delineados pela estrutura hierarquizada que indica limites, os quais são determinados pelas relações de poder e autoridade existentes na organização. Pires (1989) indica que o médico é o profissional da equipe de saúde detentor do poder de decisão terapêutica e controlador do processo de trabalho da saúde. O autor demonstra que o papel da enfermeira é passar o dia inteiro no hospital e lidar diretamente com os pacientes por um período de tempo maior do que os médicos, limitando-se somente aos procedimentos manuais, conseqüentemente, ficará isenta de qualquer forma de poder sobre a ação de saúde (PIRES, 1989). Lima Júnior (1998) conceitua poder como a capacidade de influenciar, originada do controle de recursos organizacionais utilizados para a concretização de determinados interesses, que são decorrentes da interação entre as pessoas no interior das organizações e fora dela. Srour (1989) esclarece que na relação médico-enfermeira o poder é unilateral e emanado do trabalho médico que é institucionalizada para a enfermagem. O poder e as linhas de autoridade decorrem das posições assumidas tradicionalmente por médicos e enfermeira na hierarquia hospitalar, as quais são expressas em diferenças salariais, poder de decisões e atribuições. Abaixo, apresenta-se um dos resultantes da relação médico-enfermeiro, os conflitos. 2.4. Conflito na relação médico-enfermeiro Lima Junior (1998) afirma que conflito é característico das relações sociais, nas quais indivíduos com comportamentos, atitudes e estilos de vida diferentes convivem nas organizações para satisfazer seus interesses. Monteiro et al.(1998) aponta que, no ambiente hospitalar, há um conflito implícito entre médicos e enfermeiras evidenciados na divisão de competências e responsabilidades. Em suma, esta relação está diretamente ligada ao parcelamento de atividades-fins que irão ser desempenhadas por estes profissionais. Silva (1998) indica que o principal fator popular de conflitos entre esses profissionais é a hegemonia médica sobre a enfermagem, na qual deve ser negociado e administrado para que não seja afetada a qualidade da assistência prestada. Posteriormente, contempla-se a metodologia empregada na pesquisa. 3. Metodologia ENEGEP 2006 ABEPRO 4 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 3.1. População A presente pesquisa foi realizada com médicos e enfermeiros da Unidade de Emergência Dr. Armando Lages, que trabalham no atendimento de urgências, os quais totalizam uma população de 283 servidores. Segundo dados do Setor de Recursos Humanos, a população de médicos corresponde a um total de 234 profissionais. Por seu lado, a população de enfermeiros corresponde a 49 profissionais. 3.2. Amostra Aplicou-se a fórmula para obter o valor correspondente ao estrato para os dois tipos de profissionais, na qual, para os médicos, n=57, e para as enfermeiras, n=22. Estabeleceu-se que a margem de confiança equivale a 95% com uma margem de erro de ±5%. As participações dos sujeitos no estrato dos médicos foram estabelecidas através de cálculos de proporção em relação ao número de participantes em cada especialidade, ao qual a seguinte amostra corresponde a seguir: Cirurgia Geral, 15; Clínica Médica, 18; Pediatria, 13; Ortopedia, 11, a qual totalizou 57 participantes, que foram selecionados por acessibilidade. No grupo das enfermeiras, o critério de escolha das participantes foi a sua distribuição no ambulatório e no setor de internamento, nos revezamentos de plantões semanais de 24 horas. 3.3. Processo de levantamento dos dados O instrumento utilizado foi desenvolvido por Silva (1998), sendo adaptado para a unidade de emergência. Este é composto por escala Likert, na qual participantes apontam sua posição ao questionamento feito graduando de 1 a 5 seu posicionamento para mensurar a satisfação e avaliar a qualidade do relacionamento. Também compõem o instrumento de coleta questões pessoais do respondente, como idade, sexo, tempo de serviço no hospital e carga horária semanal de trabalho na Unidade de Emergência. Os dados fora coletados durante três turnos de trabalho, de acordo com os plantões de doze horas diárias de trabalho de médicos e enfermeiros. Todos os participantes foram abordados dentro da Unidade de Emergência. O preenchimento do formulário foi precedido das instruções correspondentes. Os dados serão apresentados em duas etapas. A primeira compreende os dados demográficos que delineiam o perfil dos sujeitos. A segunda é composta pela discussão dos resultados dos itens da escala Lickert, através da análise fatorial. 3.4. Processo de tratamento dos dados Os dados foram processados eletronicamente no software estatístico SPSS. Para os itens da escala, na análise estatística, utilizamos a análise fatorial e, também, procedimentos convencionais de estatística descritiva. 3. Resultados 4.1. Dados demográficos Farão parte dos dados demográficos: a idade dos médicos e das enfermeiras; tempo de serviço dos médicos e das enfermeiras. Para analisar a vinculação ao grau de maturidade e experiência profissional, coletou-se a idade dos médicos e enfermeiras. Os médicos da UE encontram-se, em sua maioria, na faixa etária de 32 a 37 anos representando 40,4% do total de sujeitos nesse estrato. A seguir, tem-se 22,8% dos sujeitos na faixa etária de 45 a 50 anos. A faixa etária de 38 a 44 é representada por 17,5% dos médicos. Abrigando 14.0% dos sujeitos, encontramos a faixa etária de 26 a 31 ENEGEP 2006 ABEPRO 5 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 anos, em contrapartida, a de menor participação é a faixa etária superior a 50 anos, que totaliza 5,3% dos sujeitos formadores do estrato dos médicos. Não registramos nenhum médico com faixa etária entre 20 a 25 anos. Portanto, evidenciou-se a predominância de médicos com experiência no contexto hospitalar. A distribuição dos médicos por tempo de serviço torna-se importante para avaliação do relacionamento médico-enfermeira, pois denota maior vivência na organização, com sustentação a padrões cristalizados da cultura organizacional estabelecida. O resultado da avaliação por tempo de serviço mostra que 28,1% dos sujeitos possuem de 4 a 6 anos de trabalho. Situam-se 26,3% dos sujeitos na faixa de 1 a 3 anos de serviço prestado. Em seguida, 22,8% dos médicos possuem um longo tempo de trabalho, pois estes possuem de 10 a 12 anos de trabalho na assistência aos casos de emergências que chegam a UE. Assim sendo, o médico da UE pode ser caracterizado como um profissional que não atingiu os quarenta anos de idade, de maioria masculina, com até 40 anos de serviços prestados ao hospital. A maior parte das enfermeiras encontra-se na faixa etária de 38 a 44 anos, representando 40,9% dos sujeitos. A faixa de 32 a 37 anos possui 31,8% da amostra no grupo. Entre 26 e 31 anos, encontra-se a terceira maior concentração de sujeitos que totalizam, 13,6% da amostra. Com 4,5% dos sujeitos, a faixa etária de 45 a 50 anos representa a menor participação de enfermeiras. Os sujeitos com idade acima dos 50 anos representam 9,1% da amostra. A faixa etária de 20 a 25 anos não apresentou nenhum caso, demonstrando a ausência de concursos públicos ultimamente. A UE apresenta profissionais enfermeiros que corresponde a um grupo jovem se comparado aos percentuais dos médicos. A variável tempo de serviço das enfermeiras demonstrou uma distribuição igual dos sujeitos em duas faixas de tempo: de 10 a 12 anos e de 13 a 15 anos, abrigando cada uma 31,8% dos sujeitos, isso se deu devido a ausência de concursos públicos para renovação do quadro funcional nesse tempo. No tempo compreendido entre 4 e 6 anos, têm-se 22,7% dos sujeitos. Representando 9,1% das enfermarias estão aquelas que possuem entre 7 a 9 anos de trabalho no hospital. Enfermeiras com mais de 15 anos de UE totalizam 4,5% da amostra. Vale ressaltar que o trabalho das enfermeiras é variável, pois algumas trabalham em plantões de 24 horas por semana (27,3%). As outras desenvolvem uma carga horária de 30 horas por semana (68,2%). O perfil de enfermeiras deste hospital reúne mulheres em torno de 40 anos, com pelo menos 10 anos de serviço prestados à UE e jornada de trabalho de 24 a 30 horas. Constatamos, que nem o corpo clínico nem a enfermagem, possuem profissionais recémformados, isso ocorre devido a inexistência de concurso público os últimos 12 anos. 4.2. Análise fatorial As respostas obtidas nos itens da escala foram submetidas à análise fatorial em componentes principais, a qual eliminaram-se os itens com baixas correlações. Os vinte e quatro itens da escala agrupam-se em sete fatores, porém três explicam os maiores percentuais de variância. Evidencia-se isso analisando a tabela que se segue: Análise fatorial das respostas obtidas Conflito na relação médico e enfermeira Itens Fator 1 Conflito de interesses entre médico e enfermeira Influência do conflito de interesses na relação Conflito de interesses pessoais com os do grupo de trabalho ENEGEP 2006 ABEPRO ,846 ,808 ,824 6 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Influência deste conflito na relação Interferência da enfermeira nas funções do médico Influência negativa na relação provocada por esta interferência Divergências entre médico e enfermeira Porcentagem de variância explicada = 20,39% Elementos de satisfação Itens ,766 ,594 ,481 ,511 Fator 2 Reconhecimento de desempenho Responsabilidades no hospital Crescimento pessoal e profissional Condições de trabalho Salário Política administrativa do hospital Serviços da enfermeira ao paciente Serviços do médico ao paciente Porcentagem de variância explicada = 16,37% ,751 ,455 ,654 ,475 ,515 ,476 ,280 ,454 Qualidade do relacionamento Itens Fator 3 Relacionamento no setor de trabalho Relacionamento na UE como um todo Grau de dificuldade no relacionamento Qualidade de variância explicada = 8,57% ,667 ,644 ,543 Quanto à análise do fator 1, Conflito na relação, apresentou a maior correlação dentre todos os outros fatores (20,39%). O ítem conflito de interesses entre médicos e enfermeiras, na qual como salienta Monteiro et al. (1995) é um fator que está implicitamente na relação entre médico e enfermeiras, uma vez que a estrutura administrativa do hospital os coloca em posições opostas, estabelecendo a subordinação da enfermeira ao médico. A correlação entre conflito de interesses e sua influência na relação (r2 = ,800) mostrou que a incongruência de objetivos de médicos e enfermeiras dificulta o relacionamento de ambos. Também merece destaque a correlação entre conflitos de interesses entre médicos e enfermeiras e conflitos e conflito de interesses pessoais com as do grupo de trabalho (r2 = ,699), da qual inferimos que os interesses das categorias são convergentes, dificultando o relacionamento intergrupal. Outra variável a se aferir no fator 1 é a interferência da enfermeira na função no médico, explica-se isso, pelo fato da execução de algumas atividades-fins exclusivas do médico serem executadas pelo corpo de enfermagem, na qual transforma-se em um fator de conflito. Quanto äs divergências entre médicos e enfermeiras podem ser caracterizados como fontes de conflitos, uma vez que estas surgem em função da diferença de opiniões, atitudes, pensamentos e comportamentos. Na análise do fator 2, conhecido como profissão e o ambiente de trabalho, obtivemos as elevadas correlações, nas quais demonstramos um bom nível de satisfação dos sujeitos. Apenas os itens responsabilidades, condições de trabalho, avaliação dos serviços prestados por médicos e enfermeiros apresentam menores correlações. O bom nível de satisfação dos profissionais mostra que este fator não interfere negativamente na relação entre esses ENEGEP 2006 ABEPRO 7 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 profissionais. O fator 3 explicou apenas 8,57% da variância total. Denominamos de qualidade do relacionamento, em que se encontraram evidências de que há um grau de dificuldade elevado na relação médico e enfermeira. Porém, eles classificam a sua relação como boa apesar dos conflitos e dificuldades do relacionamento cotidiano. Por fim, os três fatores principais apontaram os itens que representam os principais aspectos da relação médico-enfermeira, a qual chama a atenção para aspectos referentes à profissão, conflitos e qualidade do relacionamento, os quais já foram explicados pelos três fatores principais. 4. Conclusões Pode-se verificar nos resultados apresentados que o relacionamento entre médicos e enfermeiras da UE é conflitante, como apontado pela literatura. O conflito implícito entre eles é uma decorrência natural da estrutura organizacional que os coloca em posições opostas e da natureza do trabalho que realizam na assistência ao paciente. Os conflitos existentes na relação entre médicos e enfermos estão relacionados aos interesses de ambos na organização. Estes interesses são ligados ao trabalho que realizam e aos objetivos de cada categoria enquanto profissional de saúde. Deste conflito de interesses, surgem as dificuldades de relacionamento entre eles. Relaciona-se também ao conflito na relação as divergências entre médico e enfermeira no ambiente de trabalho. As divergências associam-se aos conflitos de interesses, com elevação no grau de dificuldade no relacionamento. O grau de dificuldade na relação foi observado como alto por médicos e enfermeiras, o qual decorre da hierarquia pré-estabelecida no contexto complexo dessa organização hospitalar, com as especificidades dos serviços de urgência, excessiva quantidade de clientes e estrutura física sub dimensionada. 5. Referências bibliográficas ALVES, M. & BRITO, M.J.M. O trabalho da enfermagem na ótica do enfermeiro. Enfermeiro Revista. Belo horizonte, v. 5, n. 9 e n. 10, p. 51-61, jul/dez. 1999. CAPELLA, B. B. & GELBECKE, F.L. Enfermagem: sua prática e organização.Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, ano 41, n. 2, p. 132-129, abr/jun. 1988. GONÇALVES, E.L. Administração de Recursos Humanos nas instituições de saúde. São Paulo: Pioneira, 1987. GONÇALVES, E.L. Condicionantes internos e externos da atividade do hospital-empresa. RAE-eletrônica, v. 1, n. 2, jul/dez. 2002. LIMA JÚNIOR, J.H.V. Trabalhador de enfermagem: de anjo branco a profissional. 1998. 409 f. 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