RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL COMO ZONA DE AMORTECIMENTO DO PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DOS VEADEIROS 1 PEREIRA, Eliane Carvalhaes2 ; ALVES, Lorena da Silva2 ; ANTUNES, Erides Campos 3 ; PASQUALETTO, Antônio 4 RESUMO No Estado de Goiás existem 42 (quarenta e duas) Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s), que possuem forte argumento de criação visando fortalecer e estabelecer Zonas de Amortecimento para outras categorias de Unidades de Conservação (UC’s). A maior concentração destas reservas está no entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV) sobrepondo a Zona de Amortecimento deste, com a função de protegê - lo de ações antrópicas. O presente artigo analisa a efetividade destas reservas em relação ao Parque. Os resultados encontrados indicam que as reservas exercem papel fundamental para a redução de ações antrópicas circunvizinhas. Palavras-chaves: amortecimento, Unidade de Conservação, antropismo, patrimônio natural. ABSTRACT The State of Goias has 42 Particular Reserves of the Natural Patrimony – RPPNs. One of the most strong arguments for their creation has been the aim to stablish and enforce Buffer Zones for other categories of Conservation Units – UCs. In Goias the major concentration of RPPNs is around Chapada dos Veadeiros National Park – PNCV – overplacing its Buffer Zone aiming to protect it from anthropic actions. This article analyses the efectivity of these RPPNs in this function in relation to the PNCV. Results indicate that RPPNs have a key function on reducting anthropic actions in their neighbourhood. Key words: buffer, Conservation Units, anthropic, natural patrimony. 1 INTRODUÇÃO O Estado de Goiás possui 82 Unidades de Conservação (UC) previstas nos Sistemas de Unidades de Conservação Nacional (SNUC) e Estadual (SEUC) (BRASIL, 2000 e GOIÁS, 2002), duas Reservas da Biosfera e três Corredores Ecológicos, concentrados principalmente 1 Artigo apresentado como requisito parcial à obtenção de graduação no curso de Engenharia Ambiental da Universidade Católica de Goiás – UCG. 2 Graduandas em Engenharia Ambiental da UCG ([email protected] e [email protected]). 3 Eng. Ftal, Doutorando CIAMB/UFG, orientador deste Artigo. 4 Eng. Agro. Dr. Prof. da disciplina Projeto Final de Curso – UCG. 1 em duas regiões do Estado, gerando problemas de distribuição e deficiência na proteção da biodiversidade do bioma Cerrado, inexistindo políticas para solucionar a questão. Destas UC’s, 42 são Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN’s) que apresentam arranjo similar, principalmente por destacarem a iniciativa aleatória para sua criação. Assim, fortificou-se o argumento da criação de RPPN’s visando fortalecer e estabelecer Zona de Amortecimento para grandes UC’s e complementar determinação da resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA. As maiores concentrações observadas são no entorno do Parque Estadual dos Pirineus, com cinco RPPN’s, e do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (PNCV), com dez RPPN’s (ANTUNES et al., 2003), que no conjunto sobrepõem a Área de Proteção Ambiental Estadual Pouso Alto e geram base ao Corredor Ecológico Paranã-Pirineus. No que tange à extensão, o maior somatório de áreas concentra-se na microrregião Chapada dos Veadeiros (FALCONI e DINIZ FILHO, 2003). Dentre estas RPPN’s, nove estão localizadas no município de Alto Paraíso, principalmente na parte sul do PNCV, necessita-se então, analisar as reais relações de proteção e conservação desenvolvidas com a criação de RPPN’s no entorno do PNCV, considerando principalmente que estas UC’s podem reduzir ações degradadoras circunvizinhas e também maximizar ações turísticas desenvolvidas nas propriedades rurais que as compõem. As RPPN’s no entorno do PNCV influenciam direta e indiretamente o Parque que teve sua área reduzida para 65.514 ha, uma destas influências é a efetividade das mesmas como Zona de Amortecimento do Parque, protegendo-o das atividades antrópicas circunvizinhas. A Zona de Amortecimento ou Zona de Buffer no entorno de UC’s têm a finalidade de protegê- las. Logo, necessita-se localizar e avaliar as RPPN’s em relação a esta Zona e seus possíveis componentes ambientais, como as nascentes, os leitos d’água, as formações fitofisionômicas, as belezas cênicas e locais de significância biológica. Apesar de protegidos por lei, a maioria dos Parques está cercada por áreas que não são unidades de conservação, sofrendo inúmeras ameaças e pressões; (O QUE É UM PARQUE NACIONAL?, 2003), daí têm-se a necessidade de verificar quais são as pressões que as RPPN’s fazem sob o PNCV. Diversos conflitos afetam o PNCV como fogo provocado pela vizinhança, caça predatória, extração ilegal de madeira e mineral no nordeste do Parque, falta de práticas que 2 promovam a conservação do solo e especulação imobiliária na Zona de Amortecimento (USOS CONFLITANTES..., 2004). Possuindo estes dados, o Art. 2o . do Decreto 1.922 de 05/06/1996 (BRASIL, 1996) e o Art. 5o . item XIII da Lei do SNUC, que objetivam a proteção dos recursos ambientais representativos da região e a integração de UC’s de diferentes categorias, é necessário que sejam analisadas as importâncias das RPPN’s na Zona de Amortecimento do Parque e os seus estados de conservação. 2 REVISÃO DA LITERATURA 2.1 Antecedentes Legais das UC’s O programa de RPPN foi instituído em 1977 por meio da Portaria 327/77 do extinto Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), criando a modalidade dos Refúgios Particulares de Animais Nativos (REPAN’s). Mais tarde a idéia avançou para não só atender a proteção da fauna, mas também da vegetação e a Portaria nº 327/77 foi substituída pela Portaria IBDF-P nº 217, de julho de 1998, criando então as Reservas Particulares de Flora e Fauna. A fim de aprimorar estas duas portarias, em 1990 foi editado o Decreto 98.914 que instituiu a RPPN. Mais tarde este Decreto foi atualizado pelo Decreto 1.922/96, que dispõe sobre RPPN como uma “área de domínio privado a ser especialmente protegida, por iniciativa de seu proprietário, mediante reconhecimento do Poder Público” (Art 1º). Conforme Morsello (2001), citando Dean (1996), Diegues (1994), Drummond (1988) e Santos (1994b) a primeira referência à possibilidade de criação de um Parque Nacional no Brasil foi feita em 1876 por André Rebouças. A instituição do primeiro Parque Nacional brasileiro se deu em 1937, nesse ano criou-se o Parque Nacional do Itatiaia (MORSELLO 2001, citando MORRE e ORZÁBAL, 1998, DIEGUES 1994 e SANTOS 1994b). Em 18 de junho de 2000 foi editada a Lei nº 9.985, que institui o SNUC estabelecendo “critérios e normas para a criação, implementação, e gestão de unidades de conservação” (Art.1º). Hoje, a RPPN é uma categoria de UC, locada no grupo de Uso Sustentáve l e o Parque Nacional (PARNA) é outra categoria de UC locado no grupo de Proteção Integral. Os PARNA’s são totalmente “de posse e domínio públicos, sendo que, as áreas particulares 3 incluídas em seus limites são desapropriadas” (Art. 11, § 1º - Lei do SNUC), e as RPPN’s são de domínio privado gravadas em perpetuidade. O PNCV foi criado em 11 de janeiro de 1961, no governo de Juscelino Kubitschek, por meio do Decreto Nº 49.875, com nome de Parque Nacional do Tocantins. Quando foi criado, o parque protegia uma área de 650 mil ha. Em 11 de maio de 1972 foi editado o Decreto Nº 70.492 dando nova denominação ao Parque Nacional do Tocantins, passando a se chamar Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Este mesmo Decreto reduziu a área do Parque para 171.924,54 ha (BRASIL, 1972). O PNCV sofreu outra redefinição de limites em 1981, passando a ter uma área de 65.514 ha (BRASIL, 1981). Em 27 de setembro de 2001 foi editado o Decreto s/nº do então Presidente da República aumentando a área para mais de 230.000 ha, este Decreto foi declarado nulo pelo Supremo Tribunal Federal em 13 de agosto de 2003. Tal decisão foi tomada por Mandato de Segurança alegando que os novos limites do Parque atingiam glebas de terras de propriedade particular. No pedido, alegou-se que o decreto não teria cumprido a Lei do SNUC, que traz como exigência para a ampliação dos limites de uma área de conservação, a realização prévia de estudos técnicos e consulta à população atingida. (STF DECLARA NULO DECRETO..., 2004). 2.2 A presença das RPPN’s no contexto das UC’s As UC’s são áreas que contêm atributos excepcionais da natureza e que estão sob jurisdição dos Governos Federal, Estadual e Municipal e até mesmo de particulares, procurando garantir, assim, a sobrevivência dos recursos naturais que as integram. O objetivo dessa conservação é a manutenção do patrimônio natural e cultural da Nação para fins científicos, educacionais, estéticos e recreativos. O estabelecimento de UC’s, tanto públicas quanto privadas, em áreas remanescentes e representativas de ambientes naturais tem se tornado estratégia utilizada para a manutenção da biodiversidade (BRITEZ et al., 2003). Para que um sistema de reservas possa ser representativo de toda a biota regional, é necessário adicionar reservas pequenas ao conjunto de áreas do sistema (MORSELLO, 2001, citando MARGULES et al., 1994, SAETERSDAL et al., 1993). O número de espécies que as 4 reservas compartilham está por trás da estratégia de necessidade de adição de reservas pequenas. Considerando isso, a melhor estratégia não é selecionar apenas reservas grandes nem reservas pequenas, mas sim um misto de tipos de reservas (MORSELLO, 2001). Morsello (2001) define que a principal razão das reservas particulares adquirirem importância crescente parece ser a dificuldade do governo em indenizar as terras das áreas a serem protegidas, em virtude de problemas econômicos, políticos e sobreposição de títulos das terras. As RPPN’s constituem, portanto, uma alternativa bastante viável de proteção mais estrita com menor investimento e maior facilidade para o governo. A associação de unidades públicas e unidades privadas podem ser uma possibilidade de solução, ao menos parcial, dos problemas que as primeiras enfrentam há muito tempo. Embora ainda existam arestas a serem aparadas, esse no vo momento na história das UC’s parece trazer esperança de alteração no quadro geral (MORSELLO, 2001). 2.3 Zona de Amortecimento A Zona de Amortecimento foi estabelecida por meio da Resolução Nº 013 de 06 de dezembro de 1990 do CONAMA, e consiste numa faixa de 10 km nas áreas circundantes das UC’s, com a finalidade de protegê- las, sendo que, as atividades desenvolvidas nesta zona que possam afetar a biota, deverão ser licenciadas pelo órgão ambiental competente com parecer da equipe técnica da UC. Conforme citam Cerqueira et al. (2003); entorno é a área circunvizinha a uma UC, onde o uso do solo pode influenciar, tanto positiva como negativamente, o ambiente natural desta. Morsello (2001) define zona de amortecimento como uma porção adjacente à área protegida, no qual o uso da terra é parcialmente restringido para incorporar uma camada a mais de proteção para a UC. Pode ter a função de ampliar a presença na área protegida de certo tipo de habitat e pode servir a propósitos sociais. Britez et al. (2003) afirmam que o estabelecimento de UC’s por si só não assegura a efetiva manutenção de comunidades, haja visto que as UC’s podem ser verdadeiras ilhas que, isoladas em meio à paisagem, sofrem deterioração progressiva de seus ambientes, na maioria das vezes, partindo da borda. A Fundação Pró-Natureza (FUNATURA) estabeleceu um projeto de priorização de instituição de reservas nas proximidades de outras áreas governamentais protegidas ou mesmo 5 particulares (MORSELLO, 2001), além disso, os requerimentos de reconhecime nto de RPPN’s em imóveis contíguos às UC’s têm prioridade de apreciação do órgão responsável pelo reconhecimento (BRASIL, 1996). A zona de amortecimento torna-se importante, pois se o grau de exposição ao ambiente circundante for muito alto, o seu tamanho efetivo será progressivamente reduzido pela deterioração do habitat a partir de suas margens externas devido ao efeito de borda. Outro problema é que, a maior parte das dificuldades de se implantar o plano de manejo em UC’s são devido à zona de amortecimento (BRITEZ et al., 2003). 3 METODOLOGIA Para este artigo foram escolhidas as nove RPPN’s localizadas no município de Alto Paraíso, devido a proximidade do Parque, são elas: 1) Caminho do Silêncio; 2) Fazenda Campo Alegre; 3) Fazenda Cara Preta; 4) Fazenda Mata Funda; 5) Reserva Escarpas do Paraíso; 6) Reserva Terra do Segredo; 7) Reserva Vale dos Sonhos; 8) RPPN Vita Parque e 9) Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais. Apesar de Antunes et al. (2003) citarem a existência de dez RPPN’s no entorno do PNCV, a Reserva Ecológica Serra Dourada localizada no município de Trombas não foi considerada, pois não está no mesmo município que o PNCV. A revisão bibliográfica foi configurada em consultas à literatura sobre o assunto e aos processos de reconhecimento das RPPN’s localizadas no entorno do PNCV, junto a Gerência Executiva do IBAMA em Goiás. Nos processos de reconhecimento das RPPN’s foram buscadas as seguintes informações: motivo que levou o proprietário a criar a RPPN; considerações técnicas emitidas no parecer favorável ao reconhecimento da RPPN; características da área; localidade; tamanho e forma da reserva; tamanho da propriedade. Estas atividades iniciais serviram como base para os levantamentos de campo, quando foram realizadas visitas às RPPN’s observando e registrando principalmente os seguintes critérios: proximidade do Parque e acessos à RPPN; atividades desenvolvidas na reserva; atividades antrópicas desenvolvidas na propriedade; características fitofisionômicas do bioma cerrado na reserva; comportamentos de efeitos de borda; grau de antropismos e ações no 6 interior da reserva; condição de conservação da reserva; leitos d’água que abrangem as RPPN’s e o Parque a jusante; e similaridades entre formações, fitofisionomias e espécies. Considerando todos os dados levantados, foram desenvolvidas interpretações e associações, buscando conclusões sobre a importância das RPPN’s da zona de amortecimento. Os resultados positivos e adversos foram detalhados e analisados os procedimentos de utilização das RPPN’s para o ecoturismo e suas influências quanto a conservação in situ. Para análise das distâncias das RPPN’s ao PNCV foi utilizado o CD-ROM “Cartografia das Unidades de Conservação Federais – Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros” sendo a mesma calculada co m a fórmula matemática da distância entre dois pontos: D2 = (x1 -x2 )2 +(y1-y2 )2, onde “D” é a distância a ser encontrada; “x1 ” e “y1” são as coordenadas dos limites das RPPN’s e “x2 ” e “y2 ” são as coordenadas do PNCV no ponto mais próximo à RPPN. Para tabulação das condições ambientais internas das RPPN’s foram feitas consultas à literatura de FERREIRA (1986) e CERQUEIRA et al. (2003). Visando facilitar a interpretação destes dados, foram propostas condições que estão detalhadas no Quadro 1. QUADRO 1 – Escala para classificação das condições ambientais das RPPN’s. CONDIÇÃO AMBIENTAL Conservada Degradada Fragilizada Preservada CLASSIFICAÇÃO Apresenta conjunto de medidas com intervenções técnicas que visam conter deteriorações. Considera-se ainda, a manutenção e recuperação de populações viá veis de espécies em seus meios naturais. Apresenta deterioração, desgaste ou estrago à condição ambiental nativa. Com presença de pontos degradados, susceptíveis à invasões, extrações e caças clandestinas, porém com maior parte da área preservada. Apresenta ações que visam garantir a integridade e a perenidade da reserva. Além da garantia dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação dos sistemas naturais. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO Utilizando metodologia de identificação das fitofisionomias do Bioma Cerrado proposta por RIBEIRO e WALTER (1998), apresenta-se no Quadro 2 detalhamento dessas ocorrências em cada RPPN. Verifica-se que as fitofisionomias e os arranjos vegetais encontrados nas RPPN’s também são observados no PNCV, demonstrando que a Zona de Amortecimento é similar ao Parque, cumprindo sua função de proteção e estendendo a ação de efeitos de borda para zonas 7 distantes do núcleo. Conforme demonstrado no Quadro 2 que o tipo vegetacional de maior ocorrência nas RPPN’s é a Mata de Galeria Não Inundável seguida de Cerrado Sentido Restrito de característica Rupestre. QUADRO 2: Formações fitofisionômicas encontradas nas RPPN’s e no PNCV Com Murundus Úmido Seco Campo Rupestre Úmido Seco Com Murundus Formações Campestres Campo Campo Sujo Limpo Vereda Palmeiral Parque Cerrado Rupestre Ralo Típico FITOFISIONOMIA Formações Savânicas Cerrado sentido Restrito Denso Decídua Semidecídua Sempre Verde Cerradão Mata Ciliar Inundável RPPN Não inundável Formações Florestais Mata de Mata Seca Galeria 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PNCV Os números das RPPN’s correspondem: 1 – Caminho do Silêncio; 2 – Fazenda Campo Alegre; 3 – Fazenda Cara Preta; 4 – Fazenda Mata Funda; 5 – Reserva Escarpas do Paraíso; 6 – Reserva Terra do Segredo; 7 – Reserva Vale dos Sonhos; 8 – RPPN Vita Parque; 9 – Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais. As RPPN’s ainda não ocupam área significativa da Zona de Amortecimento do PNCV, conforme demonstra a Figura 1, mas estão localizadas em locais que concentram ambientes frágeis com elevados favorecimentos aos antropismos, pois encontram-se em pontos de maior interesse para o turismo e nas proximidades das zonas urbanas. 8 FIGURA 1: Localização das RPPN’s em relação ao PNCV e à Zona de Amortecimento A distância das RPPN’s em relação ao limite do Parque (Quadro 3) mostram que atendem o objetivo de proteger o PNCV. Mesmo as RPPN’s Caminho do Silêncio e Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais, que se encontram na mesma propriedade – Fazenda Brancas Terra dos Anões – apesar de fora da Zona de Amortecimento, atuam como barreira para atividades antrópicas. Este fato torna-se de maior magnitude, quando se avalia a percentagem das propriedades que possuem áreas transformadas em RPPN’s (Figura 2). QUADRO 3 – Áreas das RPPN’s, suas respectivas propriedades e distâncias destas ao PNCV RPPN ÁREA DA RPPN ÁREA TOTAL DA PROPRIEDADE DISTÂNCIA DA RPPN AO PNCV (ha) (ha) (Km) 1 9 2 3 4 5 6 7 8 12,00 600,00 7.500,82 975,00 110,00 82,71 40,00 66,16 23,26 1.427,00 19,33 7.895,65 975,00 229,48 93,72 76,04 77,56 48,40 3,21 0,00 1,49 0,76 0,76 0,76 0,00 9 100,00 90,00 80,00 70,00 60,00 50,00 40,00 30,00 20,00 10,00 0,00 V. Enc.da Cac. dos cristais e C. do Silêncio Campo Alegre Cara Preta Escarpas do Mata Funda Paraíso Terra do Segredo Vale dos Sonhos Vita Parque RPPN's FIGURA 2: Representação gráfica da percentagem da área de propriedades com RPPN’s destinadas à composição de UC’s. A condição de conservação interna das RPPN’s, conforme indicado nos Quadros 1 e 4, constitui-se em relevante situação para fortalecimento da Zona de Amortecimento considerando que quatro áreas (Fazenda Campo Alegre, Fazenda Cara Preta, Reserva Vale dos Sonhos e RPPN Vita Parque) configuram-se como preservadas, quatro áreas (Caminho do Silêncio, Fazenda Mata Funda, Reserva Terra do Segredo e Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais) como conservadas e apenas uma como fragilizada (Escarpas do Paraíso). As situações da Reserva Escarpas do Paraíso caracterizam- na como barreira contra ações antrópicas clandestinas nas áreas frágeis da Zona de Amortecimento, por estar nos limites do distrito de São Jorge. O entorno das RPPN’s também é fator importante para apresentar a função destas com o PNCV e com a Zona de Amortecimento. Verifica-se que as RPPN’s Caminho do Silêncio e Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais já são encraves de ambientes conservados em região com ocupação antrópica por cultivos intensos e contínuos, Quadro 4. Na propriedade onde estas se encontram além das atividades de manutenção, também é desenvolvida educação ambiental e favorecimento à pesquisa básica. 10 QUADRO 4 – Condições ambientais encontradas nas RPPN’s e entorno Nº RPPN 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Caminho do Silêncio Fazenda Campo Alegre Fazenda Cara Preta Fazenda Mata Funda Reserva Escarpas do Paraíso Reserva Terra do Segredo Reserva Vale dos Sonhos RPPN Vita Parque Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais CONDIÇÃO AMBIENTAL DA RPPN Conservada Preservada Preservada Conservada Fragilizada Conservada Preservada Preservada Conservada CONDIÇÃO AMBIENTAL DO ENTORNO DA RPPN Norte Sul Leste Oeste 2 2 2 2 4 3 4 4 2 2 4 2 4 4 4 4 3 4 3 2 3 4 3 2 3 4 3 2 4 4 4 4 3 2 2 3 As condições ambientais do entorno utilizadas no Quadro 4 são caracterizadas conforme o grau de antropismo encontrado: 1 – Ambientes antropizados com pecuária e agricultura. 2 – Ambientes fragmentados com presença de agricultura e pecuária. 3 – Pequena presença de ação antrópica. 4 – Ambientes preservados. Conforme observa-se no Quadro 5, que mesmo em ótimas condições de preservação, todas as unidades apresentam áreas antropizadas na forma de trilhas, acessos, casas, mirantes ou invasões. Nas RPPN’s a ocorrência de áreas alteradas e a presença de animais domésticos são fatores adversos e ilegais.As maiores ocorrências de animais estão relacionadas à acesso de eqüinos para fiscalização, operação e turismo nas áreas e dos cachorros que fazem vigilância nas propriedades. Apesar da beleza cênica e potencial turístico que a região da Chapada dos Veadeiros oferece, somente três RPPN’s e propriedades exploram ecoturismo, conforme observado no Quadro 5. Tal exploração é feita de forma controlada nas RPPN’s Caminho do Silêncio, Vale Encantado da Cachoeira dos Cristais e Fazenda Campo Alegre, sendo que, nesta última, o turismo é fe ito sem fins lucrativos. Na Reserva Escarpas do Paraíso o ecoturismo é feito de forma desordenada e invasora. Devido à proximidade da rodovia e ao Parque, os turistas invadem a propriedade buscando seus atrativos. 11 QUADRO 5 – Situações antrópicas encontradas nas RPPN’s Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PRESENÇA DE ANIMAIS DOMÉSTICOS Caminho do Silêncio Eqüinos para passeio turístico Fazenda Campo Alegre Eqüinos para deslocamentos Cachorros da fazenda Fazenda Cara Preta Eqüinos de invasão Fazenda Mata Funda Cachorros da fazenda Reserva Escarpas do Paraíso Cachorros de invasão Reserva Terra do Segredo Não Reserva Vale dos Sonhos Não RPPN Vita Parque Não Vale Encantado da Cachoeira Eqüinos para passeio turístico dos Cristais RPPN ÁREAS ANTRÓPICAS Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim TURISMO RPPN Propr. Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não Não Sim Não Não Não Não Não Não Sim Alguns dos aspectos ambientais de maior relevância estão descritos no Quadro 6, que poderão ser melhor detalhados em publicações posteriores. Dentre eles, deve-se destacar que o Rio Preto tem sua nascente dentro da RPPN Cara Preta. Tal rio constitui o principal atrativo ecoturístico do Parque à jusante. Levando-se também em consideração que esta RPPN está em propriedade limítrofe ao PNCV, este fato, somado à sua ótima preservação, fez com que a Cara Preta fosse excluída do perímetro da área do Parque na ocasião em que este teve seus limites ampliados. As Reservas Terra do Segredo e Vale dos Sonhos apresentam floresta de vegetação secundária com grande diversidade, garantindo a recuperação de ambientes fragilizados e preservando vegetações remanescentes do entorno do Parque. Além disto, a contigüidade destas duas Reservas e da Escarpas do Paraíso formam uma barreira com área representativa. QUADRO 6 – Aspectos de maior relevância encontrados nas RPPN’s RPPN 1 2 3 4 5 6 7 8 9 ASPECTO AMBIENTAL RELEVANTE Presença de trilhas com estações de educação ambiental bem sinalizadas. Maior RPPN do Estado. Nascente do Rio Preto; Pico mais alto do Centro-Oeste. Presença de Arnica (Solidago microglossa DC.), mirante e ambiente de fragilidade ambiental. Evita a expansão do povoado de São Jorge para ambientes frágeis. Presença de matas secundárias preservadas por aproximadamente 30 anos. Presença de matas secundárias preservadas por aproximadamente 30 anos. Preserva fitofisionomia de intensa fragilidade em propriedade limítrofe ao PNCV. Presença de matas intangíveis em forma de remanescentes em área com entorno antropizada. 12 5 CONCLUSÕES Apesar das RPPN’s do entorno do PNCV ainda não serem em número suficiente para cobrir pontos de maior relevância da Zona de Amortecimento, estas já garantem barreiras às ações antrópicas e têm suas atividades monitoradas, cumprindo assim a Resolução 013/90 do CONAMA. Cabe ao órgão ambiental competente promover ações que incentive a criação de mais RPPN’s na Zona de Amortecimento do Parque, principalmente na parte norte, onde não existem UC’s. Conforme levantado nas literaturas existentes e constatação em campo, pode-se concluir que o conjunto de UC’s formado pelo PNCV e as RPPN’s, é bastante satisfatório, pois além de haver o estabelecimento de unidade pública junto com privadas ainda há um misto de reservas pequenas à uma grande reserva. 6 AGRADECIMENTO Ao IBAMA, Gerência Executiva de Goiás, pelo apoio logístico e financeiro concedido. Em especial aos funcionários do Parque, que tão bem nos acolheram no período em que estivemos nas visitas a campo e nos cederam dados relevantes para a elaboração deste artigo . 13 7 REFERÊNCIAS ANTUNES, E. C. et al. Avaliação do Arranjo das RPPN’s no Estado de Goiás. Disponível em <http://www.ucg.br/Institutos/nucleos/nupenge/pdf/rppn.pdf>. Acesso em 25 de novembro de 2003. BRASIL. Decreto No 49.875, de 11 de Janeiro de 1961. Cria o "Parque Nacional do Tocantins", no Estado de Goiás e dá outras providências. Disponível em < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/Antigos/D49875.htm>. 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