UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL Título: RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DO MUNICÍPIO DE SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO: Perfil e Características do Manejo ALUNO: ADRIANO LOPES DE MELO ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL SEROPÉDICA-RJ Novembro / 2004 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS CURSO DE ENGENHARIA FLORESTAL RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DO MUNICÍPIO DE SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO: Perfil e Características do Manejo ALUNO: ADRIANO LOPES DE MELO ORIENTADOR: RICARDO VALCARCEL Monografia apresentada ao Instituto de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos para obtenção do título de Engenheiro Florestal. SEROPÉDICA -RJ Novembro/ 2004 UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO DEPARTAMENTO CIÊNCIAS AMBIENTAIS Ata da reunião da Comissão Examinadora da monografia de graduação do discente Adriano Lopes de Melo, como parte dos requisitos da disciplina IF-223- Monografia e Seminários. Aos cinco dias do mês de novembro do ano de dois mil e quatro, às quinze horas e trinta minutos reuniram-se no Departamento de Ciências Ambientais o Professor Ricardo Valcarcel, o Engenheiro Florestal Msc. Carlos Alberto Bernardo Mesquita / Instituto BioAtlântica, o Biólogo Paulo César Silva da Motta / IBAMA, membros titulares, e Álvaro Freire da Motta/ IBAMA membro suplente da COMISSÃO EXAMINADORA da monografia de graduação intitulada “Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro: Perfil e Características do Manejo”, do discente Adriano Lopes de Melo, matrícula no. 199803502-9, tendo como orientador o Professor Ricardo Valcarcel, Presidente da Comissão. Após a apresentação da monografia, argüido o candidato, e feita a defesa, a Comissão atribuiu ao discente o conceito “A”, devendo o mesmo efetuar as correções recomendadas e entregar a versão final até o penúltimo dia do período letivo em que estiver matriculado na disciplina, com cópia para o Prof. responsável pela Disciplina, para lançamento do respectivo conceito na pauta. AGRADECIMENTOS Durante uns dois anos que antecediam a minha formatura, por muitas noites, dormi pensando neste momento, o de agradecer as pessoas que fizeram parte dos meus cinco anos e meio de estada nesse universo chamado universidade rural. Por isso considero este tópico, agradecimentos, um capítulo desta monografia, e não só de minha vida. A minha mãe, Olga, meu irmão/pai, Axel, e meu pai Guilton, guerreiros e apreciadores da vida, divido a alegria que sinto neste momento, em reconhecimento ao suporte familiar que me foi dado desde o meu primeiro choro. Aos meus avós, Pedro e Lina, também guerreiros da vida, fortalezas da família, por todo crédito e confiança depositados em mim como estudante. A minha grande companheira, amiga e dedicada namorada Monise, a qual expresso o meu reconhecimento por todo apoio e compreensão, principalmente nos momentos de minha ausência. A Gilberto Terra (opulento) e Avelino (ratão), camaradas fundamentais em minha graduação, boa parte do que sou hoje tem influência destes dois, bons momentos dividimos por esse Brasil afora, em ocasiões onde estudo e diversão eram uma só coisa. Por todo o suporte material e intelectual, dedico-lhes o meu título de engenheiro florestal. Aos professores do departamento de Botânica, local onde tudo começou, e onde as portas começaram a se abrir. Sorte a minha ter iniciado por lá. Ao Luis Fernando, agradeço por ter me dado a oportunidade de trabalhar na imperiosa Marambaia; As professoras Marilena (na verdade MÃErilena) e Helena, por todo ensinamento passado, acadêmico e de vida. Ao CAEF, por proporcionados. todo o ensinamento político e momentos Aos entusiastas Sá (políticas públicas) e Telmo (220V), grandes camaradas, por toda a força e troca de ensinamentos. A toda galera do alojamento M432, em suas várias gerações de membros, pelo aprendizado de vida. Ao professor Ricardo Valcarcel, pelas reflexões proporcionadas, por insistir em discutir filosofia do estudo, essência e hipóteses do mesmo, características tão necessárias quanto, infelizmente, “fora de moda” no mundo da ciência atual. Ao Beto Mesquita, que desde o primeiro contato se entusiasmou com o meu entusiasmo em relação ao estudo das RPPN, pelo crédito e confiança, além das horas destinadas a esse estudo (aspecto raro hoje em dia) e saberes repassados. Aos proprietários de RPPN de Silva Jardim, em especial à Deise, por todo apoio dado a esse estudo. Ao Paulo Motta (IBAMA), por dispor seu tempo para trocar de idéias sobre as RPPN e, ainda, por revisar este manuscrito. Da mesma maneira ao Alvinho, também do IBAMA. Ao Instituto Bioatlântica pelo suporte estrutural; a APN pela ajuda na reunião dos proprietários, na pessoa da Deise Moreira Paulo; a AMLD pelas informações disponibilizadas; e a Prefeitura Municipal de Silva Jardim pelo apoio, na pessoa de Ezequiel Moraes. A toda equipe enriquecedoras. do LMBH/IF pelas discussões e sugestões Não poderia deixar de agradecer a mim mesmo, por acreditar sempre no que estava fazendo, com entusiasmo e perseverança e, ainda, ao mar e ao bodyboarding, pelos momentos de puro alto astral em que passamos juntos. Tal sentimento, naturalmente, foi irradiado por tudo e todos que estavam em minha volta, o que tornou mais tranqüilo o andamento deste trabalho. Viver ainda é muito bom! ii “...não que a vida esteja assim tão boa, mas um sorriso ajuda a melhorar...” Forró do grupo Fala Mansa “Saber é poder” “Sejamos otimistas e deixemos o pessimismo para dias melhores” “No início o pessoal acha estranho, pensa que se está doando terras para o Ibama, e que esse negócio de preservar a natureza é coisa para doido ou para que não tem com que se preocupar...Mas depois, com a degradação do ambiente, aquele produtor rural que reservou um pedaço da mata, que protegeu as nascentes dos rios, que deixou em pé as árvores que abrigavam uma enorme quantidade de espécies, muitas ameaçadas de extinção, passa a ser visto como um visionário, alguém que enxerga longe faz a coisa certa: protege os recursos naturais que se encontram dentro de sua propriedade” Henrique Berbert (RPPN Serra do Teimoso – Jussari-BA) iii DEDICATÓRIA Dedico esta monografia a minha mãe e meu irmão, guerreiros incansáveis e apreciadores da vida. iv RESUMO Áreas naturais protegidas em terras privadas é uma estratégia disseminada mundialmente, constituindo uma alternativa para a proteção da biodiversidade in situ, dada a crescente destruição de habitats, especialmente nos trópicos. Contudo, o conhecimento sistemático sobre o perfil dessas reservas ainda apresenta-se como uma lacuna. No município de Silva Jardim, Estado do Rio de Janeiro, existem 10 Reservas Particulares do Patrimônio Natural RPPN, que protegem cerca de 1.000 ha de Mata Atlântica da zona entre Baixada Litorânea e pé da Serra do Mar, tornando-o o Município com mais RPPN Federais no Brasil, junto com Presidente Figueiredo, no Amazonas. O estudo analisa o perfil e suas características de manejo, de acordo com a percepção dos proprietários, onde coletou-se informações a partir de 42 perguntas adaptadas de MESQUITA (1999). O proprietário é pessoa física (100%), com idade compreendida entre 40-80 anos, atuando na conservação do patrimônio natural, sobretudo, por objetivos e motivações conservacionistas (100%), tais como conservar a diversidade biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção e conservar amostras de ecossistema. As RPPN estudadas não desenvolvem atividades de educação ambiental, pesquisa ou ecoturismo de forma sistemática e planejada (100%). Não há Plano de Manejo em 100% dos casos, e tampouco (100%) há assistência profissional para o manejo e proteção das mesmas. Todas as RPPN receberam algum tipo de incentivo para a criação da unidade, ora governamental ora através de ONGs. Os maiores problemas são, em ordem de importância, falta de políticas públicas claras, pressão de caça e falta de recursos financeiros. A interação com outras unidades de conservação, por meio de cooperação mútua, foi mencionada por 50% dos proprietários. Os proprietários estão satisfeitos (100%) em estarem desenvolvendo atitudes pro-ativas de conservação da natureza. As ações da Associação Mico-LeãoDourado, da Associação Patrimônio Natural do Rio de Janeiro e da Prefeitura de Silva Jardim foram identificadas como baluartes do movimento de criação de RPPN no município. Entretanto, esforços conservacionistas devem ser prioritariamente direcionados para a implementação de atividades básicas de manejo e proteção das RPPN que já existem, afim de que cumpram com os objetivos pelos quais foram criadas. Tais entidades foram identificadas como fatores condicionantes para que este processo, de fato, seja alavancado. Palavras chaves: Unidade de conservação, Reservas Particulares do Patrimônio Natural, RPPN, conservação em terras privadas, áreas protegidas e Silva Jardim. v ABSTRACT Protected natural areas in private lands are a worldwide disseminated strategy, being an alternative for the biodiversity protection in situ, facting the habitats destruction raising, specially in the tropics. Neverthless, the sistematic knowledge about these reserves profile still has been presented as a gap.There are 10 Natural Heritage Private Reserves (RPPN) in Silva Jardim city, in Rio de Janeiro, that protect around 1.000 hectares of Atlantic Rain Foresty. They are localizated at the zone between the Coastal lowland and next to Serra do Mar. This city became the one with more Federal RPPN in Brazil, together with Presidente Figueiredo in Amazonas. This study analyses the profile and the characteristics of manegement, in agreement with the proprietery`s perception, from where informations were collected through 42 adaptated questions from MESQUITA (1999). The proprietary is a physical person (100%), being between 40-80 years old, acting on the Natural Heritage conservation, overcoat for the goals and conservational motivations (100%), like to preserve biological diversity, to protect threated of extinction species and to preserve ecosystems samples. The studied RPPN don`t develop environmental education, research or ecotourism in a maneged and sistematic form (100%). There is nor a manegement plan in 100% of the cases, neither a professional assistance for the manegement and protection of the areas. All the RPPN received any kind of incentive for the easement criation, first government, then through NGO`s. The biggest problems, in an impotance order, are: the lack of a clear public policy, the hunting pression and the lack of financial resourses. The interaction with others easements conservation, through mutual cooperation, was mentionated for 50% of the proprietaries. The proprietaries are satisfied (100%) for being developing proactives attitudes for nature conservancy. The actions of Mico Leão Dourado Assossiation, the Rio de Janeiro Natural Heritage Association and the Silva Jardim`s prefecture were identified as a support to the RPPN`s criation moviment in the city. However, conservational efforts must be, in priority, directed to basic activities implementation, about manegement and protection of the already existing RPPN, these to cumply with the goals that they were criated for. These entities were identified as fundamental to the begining of this process. KEY WORDS: Conservation unit, Private Reserve of Natural Heritage, RPPN, conservation in private lands, protected areas, Silva Jardim. vi FICHA CATALOGRÁFICA MELO, Adriano Lopes de. Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro: perfil e características do manejo. 2004. 105p. Monografia (Obtenção do título de Engenheiro Florestal). Instituto de Florestas – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRuralRJ. vii SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................ 1 2.OBJETIVOS .................................................. 4 2.1 GERAL .................................................... 4 2.2 ESPECÍFICOS .............................................. 4 3. JUSTIFICATIVA ............................................. 5 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................... 6 4.1 Definição ................................................ 6 4.2 Histórico ................................................ 7 4.3 Importância ............................................. 10 4.4 O Movimento RPPNista..................................... 12 4.5 Desafios das RPPN no Brasil .............................. 15 4.8 Unidades de Conservação da natureza em Silva Jardim ....... 18 5. MATERIAL E MÉTODOS ....................................... 22 5.1 Área de estudo .......................................... 22 5.2 RPPN .................................................... 24 5.3 Aplicação do questionário................................ 25 5.4 Variáveis levantadas..................................... 25 5.5 Êxito das reservas....................................... 26 5.5 Análise estatística...................................... 28 6. RESULTADOS ............................................... 28 6.1 Percepção dos proprietários .............................. 29 6.2 Informações Tangíveis.................................... 36 7. DISCUSSÃO ................................................ 42 8. CONCLUSÕES ............................................... 71 9.RECOMENDAÇÕES ............................................. 73 10. REFERÊNCIAS ............................................. 74 ANEXO 1 - Questionário....................................... 81 ANEXO 2 - Fauna da região.................................... 92 ANEXO 3 - Flora da região.................................... 93 ANEXO 4 - Roteiro turístico com RPPN ......................... 94 viii 1. INTRODUÇÃO Áreas naturais protegidas estabelecidas em terrenos privados têm proliferado tanto em países industrializados quanto em nações em desenvolvimento (LANGHOLZ, 2003), constituindo-se em uma importante ferramenta da iniciativa privada para a conservação da biodiversidade. Elas atingem objetivos que variam desde formar zonas de amortecimento de Unidades de Conservação, corredores ecológicos ou simplesmente como manifestações conscientes da sociedade de conservar atributos ambientais regionais (ALDERMAN, 1994; LEES, 1995; LANGHOLZ, 1996; MITCHELL & BROWN, 1998; LANGHOLZ, 2002; MESQUITA, 1999; MORSELLO, 2001; THEULEN, 2003a; THEULEN et al. 2003). Este processo tem sido considerado pela comunidade conservacionista como uma alternativa inovadora para a proteção da biodiversidade in situ, porque rompem com o paradigma de que é o estado (poder público) quem tem a atribuição exclusiva de criar espaços naturais protegidos para proteger a biodiversidade. dada a crescente destruição de habitats, especialmente nos trópicos (LANGHOLZ, 2002; AZEVEDO, 2003; MESQUITA 2002b) Além disso, economizam recursos públicos, que sempre foram, e cada vez são mais, escassos para ações de conservação. Alguns estudos têm sido realizados nos últimos anos sobre as áreas protegidas em terrenos particulares, objetivando principalmente compreender as razões para sua implementação e suas estratégias de gestão e manutenção, entre os quais se destacam LANGHOLZ (1996), MESQUITA (1999), MORSELLO (2001), THEULEN (2003), THEULEN et al. (2003) e MARTINS (2003). Entretanto, a despeito desta súbita proliferação de reservas privadas no mundo e dos estudos a seu respeito, ainda há questionamentos não dirimidos (LANGHOLZ, 2002). No Brasil, isso 1 não é diferente, poucos são os dados disponíveis em relação aos motivos de criação dessas áreas (MORSELLO, 2001). No Brasil, o Decreto 98.914, de 31 de janeiro de 1990 definiu, pela primeira vez de maneira clara, as regras e condições para o reconhecimento e proteção de áreas naturais em terras privadas. Nesse momento surgiu o conceito e os principais preceitos das Reservas Particulares do Patrimônio Natural-RPPN, tendo sido estabelecidas às atividades permitidas, a forma de incentivo e os benefícios oferecidos aos que destinassem suas terras para a proteção do patrimônio natural (IBAMA, 1997; MESQUITA, 2004a). Desde então, foram criadas 656 RPPN em todo o país, somandose as reconhecidas pelo IBAMA e pelos órgãos estaduais de meio ambiente do Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco (os quatro estados que possuem, por enquanto, legislação específica para o reconhecimento de RPPN). Estas unidades de conservação juntas protegem mais de 519 mil hectares do patrimônio natural brasileiro. O município de Silva Jardim localiza-se na região centronorte do estado do Rio de Janeiro (22º30' e 22º33'S e 42º15' e 42º19'W Gr.), às margens da Rodovia BR-101, a 110 km da cidade do Rio de Janeiro. Com 940 Km2 de superfície, preserva cerca de 36% da cobertura florestal original (SOS Mata Atlântica, 2000). Totalmente inserido no Bioma Mata Atlântica, mais especificamente na área de ocorrência da Floresta Ombrófila Densa, seu território integra o Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, ocupando cerca de 43% da Bacia do Rio São João (parte da cabeceira), que abastece de água a Região dos Lagos. As florestas do município são classificadas como Ombrófila Densa Montana (no topo das montanhas), Ombrófila Densa SubMontana (localizada nas áreas de meia encosta) e de Planície Costeira (matas de baixada). O principal uso do solo no município 2 é a criação de gado para corte e leite na região das colinas e baixadas dessecadas, além da piscicultura, avicultura, suinocultura e criação de cavalos. A principal lavoura é de citricultura, seguida de cana-de-açúcar. Há dois fatores ligados à temática conservacionista que têm colocado o município de Silva Jardim em evidência no cenário nacional. O primeiro deles é a existência da Reserva Biológica de Poço das Antas, onde se desenvolve o programa de conservação e recuperação do mico-leão-dourado (Leontophitecus rosalia, Lesson), um dos principais símbolos da riqueza e da fragilidade da Mata Atlântica, espécie-bandeira para os esforços de proteção do patrimônio natural brasileiro. O outro fator é a existência de 10 RPPN neste município, fazendo do mesmo o recordista em número de unidades de conservação desta categoria, ao lado de Presidente Figueiredo, no estado do Amazonas. Não há dúvidas que existe uma forte relação entre estes fatores. Desde 1990, a Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) mantém o Programa de Incentivo à Criação e Implementação de RPPN, como um dos mecanismos para garantir o cumprimento de sua missão de “conservar a biodiversidade da Mata Atlântica, com ênfase na proteção do mico-leão-dourado e do seu habitat" (Associação Mico-Leão-Dourado, 2004). Este programa prevê o apoio a proprietários rurais conservacionistas, colaborando para que as áreas de florestas que estão sob seus domínios sejam legalmente protegidas em perpetuidade. Com o uso de sistemas de informações geográficas, são elaboradas plantas das propriedades e das áreas de florestas de interesse - um dos documentos necessários para a criação de uma RPPN. Nos últimos anos a AMLD tem atuado em parceria com a Prefeitura Municipal de Silva Jardim/Secretaria Municipal de Meio Ambiente e com a Associação Patrimônio Natural (APN), entidade que congrega os proprietários de RPPN do estado do Rio de 3 Janeiro. Esta sinergia nas ações tem apresentado resultados concretos. Além das 10 RPPN já criadas, pelo menos mais 6 processos estão tramitando no IBAMA para reconhecimento de novas RPPN em Silva Jardim, sendo que um deles trata-se da que virá a ser a maior RPPN do estado, com mais de 1.600 hectares (Associação do Patrimônio Natural, comunicação pessoal). A APN tem atuado ainda de maneira destacada na mobilização dos proprietários de RPPN no país, integrando a Confederação Nacional de RPPN e tendo executado, com apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente, um importante projeto para capacitação de proprietários na região sudeste. Por fim, em virtude dos poucos recursos públicos disponíveis para a conservação, e do interesse crescente do setor privado, é importante investigar as origens do movimento de criação de reservas privadas (LANGHOLZ, 2002), caracterizando-o e compreendendo-o para que seja estimulado através de políticas públicas de conservação e desenvolvimento (WILSON, 1997). 2.OBJETIVOS 2.1 GERAL Identificar o perfil e caracterizar a gestão das Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro, de acordo com percepção de seus proprietários e informações tangíveis existentes. 2.2 ESPECÍFICOS A) Verificar se os proprietários têm clareza quanto ao fato de serem donos de uma unidade de conservação; B) Identificar os principais objetivos das RPPN, seus problemas e tendências futuras; 4 C) Caracterizar e analisar a gestão das RPPN de Silva Jardim, contrapondo a situação atual com os aspectos legais vigentes sobre esta categoria de unidade de conservação; D) Dar subsídio a direcionadas potenciais para as RPPN ações de conservacionistas Silva Jardim, tanto governamentais quanto não-governamentais. 3. JUSTIFICATIVA As RPPN do Município de Silva Jardim estão localizadas entre a Reserva Biológica de Poço das Antas, Reserva Biológica União e o Parque Estadual dos Três Picos, estando superpostas à Área de Proteção Ambiental do Rio São João (BIDEGAIN & VOLCKER, 2003). A região faz parte do Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, área considerada biodiversidade, prioritária uma vez que para a possui conservação alguns dos da últimos remanescentes da Floresta Atlântica contínua do estado do Rio de Janeiro (MMA/SBF, 2000). Essa região em que o município de Silva Jardim está inserido é considerada ainda berço das águas da região litorânea do norte fluminense, que é conhecida como Região dos Lagos. Nas regiões baixas de Silva Jardim encontra-se o habitat do Mico-Leão-Dourado, espécie de primata incluída na lista vermelha de espécies ameaçadas de extinção. Estudos desenvolvidos pela Associação Mico-Leão-Dourado destacam que para viabilizar a sobrevivência do Leontopithecus rosalia são necessárias mais áreas protegidas na região, porém, a maioria das terras disponíveis se encontram em propriedades particulares (FERNANDES et al. 2002). Portanto, processo de as RPPN conservação são consideradas de remanescentes primordiais da região, para o para a 5 conservação em longo prazo do Mico-Leão-Dourado e para a proteção de corpos hídricos que abastecem a bacia hidrográfica. Tais reservas podem ainda ser utilizadas como corredores ecológicos para fluxo de sementes e espécies da fauna entre as unidades de conservação públicas e os fragmentos florestais da região. Contudo, o conhecimento sistemático sobre o perfil dessas RPPN ainda é uma lacuna, sobretudo em relação aos seus objetivos de manejo, atividades desenvolvidas, instrumentos de planejamento, principais problemas, expectativas para o futuro, relação com outras unidades de conservação, incentivos recebidos e rentabilidade; o que torna difícil saber quais as políticas e que tipo de apoio surtiria mais efeito do ponto de vista de conservação da biodiversidade, afim de que cumpram com seus objetivos. Neste contexto, este estudo contribui para o conhecimento das características das RPPN de Silva Jardim, relacionando as percepções dos seus proprietários com as informações tangíveis existentes. Tais conhecimentos podem servir para a agilizar ações da Prefeitura Municipal de Silva Jardim, Associação Patrimônio Natural, Associação Mico Leão Dourado e IBAMA, instituições diretamente ligadas a essas RPPN, na busca da manutenção do patrimônio natural de Silva Jardim. 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 Definição No Brasil o SNUC (2000) define RPPN como sendo uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica, sendo permitida nestas áreas a pesquisa científica, o ecoturismo e atividades de educação ambiental. 6 O Brasil é o único país da América Latina a incluir as reservas privadas no seu sistema de áreas protegidas oficial (Mesquita, 2004). Segundo MILANO (2003), as RPPN compreendem áreas privadas, naturais ou pouco alteradas, de tamanhos variáveis, que são oficialmente protegidas para a conservação da biodiversidade e/ou outros atributos naturais considerados relevantes. Para WIEDMANN (1997) a RPPN é uma reserva oficial de propriedade particular, designada de forma democrática pelo seu proprietário, onde a “vontade de proteger” é o ponto de partida e o início do procedimento que culmina na criação de uma RPPN. Segundo MESQUITA (1999), a Comissão Mundial de Áreas Protegidas não propõe uma definição básica que se pode aceitar a nível internacional para as reservas privadas. Sendo assim, cada país possui liberdade de propor sua própria definição legal, de acordo com seus objetivos e interesses. No Brasil, embora as RPPN figurem o grupo de Uso Sustentável do Sistema Nacional de Unidades de Conservação, as mesmas, de fato, poderiam ser consideradas como de Proteção Integral, já que o item do artigo 21 da Lei 9.985/00 foi vetado pelo Presidente da República. Como não é possível o Poder Executivo fazer alterações de redação, ou quaisquer outras modificações, a não ser por meio de supressão de trechos da lei aprovada pelo Congresso Nacional, as RPPN acabaram permanecendo como unidade de conservação de uso sustentável (MESQUITA, 2004a). 4.2 Histórico O Código Florestal de 1934 já previa, através de sua classificação das florestas, a conservação dos recursos naturais em terras privadas, outrora denominadas florestas protetoras (WIEDMANN, 1997). Criadas pelo poder público estas florestas 7 permaneciam de posse e domínio do proprietário e eram inalienáveis, sendo consideradas de conservação perene. Nestas áreas o proprietário ficava sujeito à observância das determinações das autoridades competentes, especialmente quanto ao plantio, à extensão, à oportunidade e à intensidade da exploração (WIEDMANN, 1997). A partir desse artigo do código, todas as florestas do país foram declaradas de interesse comum de todos os brasileiros, dessa forma restringindo, pela primeira vez, os direitos sobre a propriedade privada, isto é, poder-se-ia considerar que nenhuma floresta era considerada privada (DRUMMOND, 1988). No entanto, com o advento da Lei Florestal - Lei 4.771 de 15 de setembro de 1965, grandes alterações ocasionaram introduções e eliminações no velho texto, o do Código de 1934. Dentre tais alterações, destaca-se a extinção de isenção dos impostos, que, contudo, foi revogada um ano depois pela lei 5.106 de 02.09.66.(WIEDMANN, 1997). O Código Florestal de 1965 extinguiu a classificação de florestas até então vigente e a única modalidade de gravame em área particular que permaneceu está prevista no art. 6º: “O proprietário de floresta não preservada, nos termos desta Lei, poderá gravá-la com perpetuidade. Desde que verificada a existência de interesse público pela autoridade florestal. O vínculo constará de termo assinado perante a autoridade florestal e será averbado à margem da inscrição no Registro Público”. No entanto, somente em 1990, já sob a responsabilidade do recém criado Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), este artigo foi regulamentado, quando do surgimento das Reservas Particulares do Patrimônio Natural, pelo Decreto no. 98.914 de 31 de janeiro de 1990, que por sua vez foi atualizado pelo Decreto 1.922, de junho de 1996 (WIEDMANN, 1997). 8 Até a regulamentação do artigo 6º do Código Florestal, algumas modalidades foram criadas pelo Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF), tais como: Refúgios de Animais Nativos (1977); e Reservas Particulares de Flora e Fauna (1988) (WIEDMANN, 1997). Com o referido Decreto, foi a primeira vez que se instituíram reservas com esse caráter, ou seja, a iniciativa de instituição da área não nasce do governo, mas sim da livre e espontânea vontade do próprio proprietário. Dessa forma as RPPN diferem das mencionadas anteriormente, em que o Estado decide pela criação da reserva em terras que podem ser públicas ou privadas. Portanto, verdadeiramente proprietário as privadas, particular RPPN são pois são em terras as únicas reservas estabelecidas que também por têm um essa característica (MORSELLO, 2001). Na criação das Reservas Particulares do Patrimônio Natural, buscou-se atender o dispositivo da nova Constituição Brasileira, que por meio de seu artigo 225 impõe ao Poder Público e a coletividade o dever de defender o meio ambiente, classificado como bem de uso comum do povo (WIEDMANN, 2003). Encerra-se, com isso, um capítulo da história ambiental brasileira onde somente o Estado teria obrigações de defender o meio ambiente (WIEDMANN, 1997). Finalmente por força da Lei 9.985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, foi disposto em seu artigo 21 a definição de Reservas Particulares do Patrimônio Natural. Esta mesma Lei, através de seu artigo 46 menciona que cada unidade de conservação integrantes do SNUC será objeto de regulamento específico. 9 4.3 Importância As RPPN são, dentre as áreas protegidas particulares, aquelas que parecem ter as maiores chances de sucesso em virtude de serem cridas por vontade dos proprietários (MORSELLO, 2001). São, sem dúvida, a maior contribuição do setor privado para a conservação ambiental podem auxiliar os in situ (AZEVEDO, 2003). Essas áreas esforços de conservação e se justificam ecológica, econômica e político-institucionalmente (MORSELLO, 2001). 4.3.1 Importância Ecológica O estabelecimento de reservas particulares em locais próximos às áreas protegidas públicas pode servir para aumentar a superfície submetida a restrições de uso, incrementando a sua viabilidade (ALDERMAN, 1994). Essas áreas particulares podem ainda ser utilizadas para preencher o papel de corredores ou stepping stones entre as reservas oficiais, ou seja, possibilitando migração entre áreas sem efeitos negativos, isolamento de populações (MORSELLO, 2001). As grandes áreas protegidas públicas asseguram a conservação de amostras significativas dos ecossistemas, e as reservas particulares, embora sejam freqüentemente de pequeno tamanho, contribuem para este esforço, desempenhando um importante papel de amortecimento dos possíveis impactos do entorno (MESQUITA, 1999). Contudo, o fato de serem freqüentemente de superfície reduzida não as torna menos importantes, pois em muitas situações a conservação de pequenos partes de ecossistema pode contribuir para proteger espécies endêmicas e aves migratórias, por exemplo (MESQUITA,1999). Apenas áreas públicas não garantem manutenção de espécies nômades (MORSELLO, 2001). 10 LANGHOLZ (2002), menciona que há grande variação de manejo nos parques privados em todo o mundo, mas, mesmo assim, estes são capazes de abrigar ampla variedade de nichos de conservação. Por outro lado, MORSELLO (2001), menciona que na forma atual, as principais justificativas ecológicas para a criação das áreas particulares não são satisfeitas plenamente, a não ser em alguns casos fortuitos. Segundo esta autora, a função de corredores, o incremento às migrações entre diferentes áreas são aspectos que não são levados em conta na instituição dessas reservas. 4.3.2 Importância Econômica Em países em desenvolvimento os recursos para manutenção de parques diminuem e a gestão das unidades criadas se torna cada vez mais difícil (LANGHOLZ, 2002), uma vez que a proteção da natureza disputa recursos com outras prioridades públicas, tais como educação, saúde e segurança. E se já é difícil obter recursos para manejar as unidades existentes, mais ainda o é para criar novas, sobretudo devido ao alto custo das indenizações. Como as terras declaradas como RPPN não precisam ser adquiridas pelos governos, a prioridade poderia passar a ser o investimento através de recursos no apoio ao manejo e na solução dos seus principais problemas (MORSELLO, 2001). LANGHOLZ (2002), menciona que a criação de reservas de caráter privado representa economia substancial para os governos, que de outro modo teriam que comprar terras e pagar por sua proteção, como em um parque. 4.3.3 Importância Político-Institucional Por sua maleabilidade, as reservas privadas criada pelo movimento conservacionista podem inovar nos processos de 11 políticas e gestão das Unidades de Conservação, achando assim alternativas mais eficazes de conservação in situ (MORSELLO, 2001). Um exemplo deste aspecto é a RPPN Salto Morato, com 1.716 ha de extensão, que apesar de ser uma reserva privada, foi implementada como um parque no intuito de servir como uma unidade de conservação modelo desta categoria (MESQUITA,1999). Outro exemplo, citado por este autor, é a RPPN Ecoparque de Una, uma reserva que apresenta elevada biodiversidade e espécies endêmicas, que tem como principal objetivo demonstrar que é viável promover o desenvolvimento sócio-econômico compatibilizando-o com a conservação da biodiversidade da RPPN. 4.4. O Movimento RPPNista Atualmente, existem no Brasil 656 RPPN oficialmente reconhecidas, considerando as instituídas pelo IBAMA e órgãos estaduais de meio ambiente – neste caso somente Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Pernambuco -, somando mais de 519.000 ha de área protegidas no país - Figura 1. (MESQUITA 2004). O estado do Rio de Janeiro é o quarto estado com maior número De RPPN, com 43 reservas. 12 CERRADO 2 milhões de km2 23% do território brasileiro 103 RPPN 63 mil hectares ECOSSISTEMAS COSTEIROS 8 RPPN 830 hectares CAATINGA 735 mil km2 9% do território brasileiro 35 RPPN 65 mil hectares AMAZÔNIA 4.07 milhões km2 48% do território brasileiro 40 RPPN 39 mil hectares PANTANAL 110 mil km2 1.3% do território brasileiro 18 RPPN 248 mil hectares MATA ATLÂNTICA 1,3 milhão km2 15% do território brasileiro 443 RPPNs 99 mil hectares CAMPOS SULINOS 180 mil km2 2% do território brasileiro 9 RPPN 3 mil hectares Figura 1: Reservas Particulares do Patrimônio Natural por Bioma Brasileiro. Fonte MESQUITA & VIEIRA (2004). 13 O processo de organização e mobilização dos proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural começou em 1997, com a criação da Associação Patrimônio Natural (APN) do Rio de Janeiro. Desde então, onze associações de proprietários foram criadas, além da Confederação Nacional, são elas: • Associação Patrimônio Natural (APN) do Rio de Janeiro; • Associação Paranaense de Proprietários de RPPN; • Associação Bioma Amazônico (RPPN do Amazonas); • Associação dos Proprietários de Reservas Particulares da Bahia e Sergipe (PRESERVA); • Associação de RPPN e Reservas Particulares de Minas Gerais (ARPEMIG); • Associação de Reservas Naturais de São Paulo (RENASP); • Associação de RPPN de Goiás e Distrito Federal; • Associação de Proprietários do Mato Grosso do Sul • Associação de RPPN do Ceará, Piauí e Maranhão (Asa Branca); • Associação Pernambucana do Patrimônio Natural (APPN); • Associação das RPPN de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte (Macambira); • Associação Capixaba do Patrimônio Natural (ACPN), em processo de criação. As associações de proprietários de RPPN, juntamente com organizações ambientalistas tem sido fundamentais no processo de planejamento e implementação de políticas e incentivos a conservação em terras privadas (MESQUITA, 1999). 14 4.5. Desafios das RPPN no Brasil 4.5.1 Dificuldades O artigo 27 do SNUC estabelece que as Unidades de Conservação devem dispor de plano de manejo, elaborado até cinco anos após a sua criação (SNUC, 2000). Esta mesma lei dispõe em seu artigo 21, que órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário da Reserva Particular do Patrimônio Natural, para elaboração dos Planos de manejo ou de Gestão. Porém, segundo THEULEN (2003b) isto não tem sido efetivado até o momento, uma vez que poucas reservas privadas possuem plano de manejo que subsidiem suas atividades. Esta mesma autora menciona que, apesar de não haver dúvidas que o planejamento é uma ferramenta importante para o manejo das reservas naturais privadas, ainda existem dificuldades para sua viabilização na prática. Com o lançamento pelo Ibama do roteiro metodológico para elaboração de plano de manejo de RPPN, em outubro de 2004, durante o II Congresso Brasileiro de RPPN, um documento gerado por meio de discussões entre governo, associações de proprietários e especialistas na temática, a expectativa é que esta realidade seja revertida expressivamente, uma vez que prezou-se pela maior simplicidade na elaboração do plano de manejo pelo proprietário. Este fato é fundamental, pois a maioria dos proprietários não domina técnicas de planejamento. Algumas outras dificuldades são expostas por BERBERT (2003), tais como: Burocracia no reconhecimento federal por parte do IBAMA; falta de capacitação dos proprietários; inexistência de planejamento; implementação custosa; problemas no relacionamento 15 com o poder público municipal; ausência de apoio de órgãos responsáveis pela fiscalização ambiental; e, divulgação. 4.6.3 benefícios Os proprietários têm podido submeter projetos a editais específicos de apoio a programas conservacionistas como o Fundo Nacional de Meio Ambiente – FNMA; Fundação O Boticário de Proteção à Natureza; e Programa de Aliança para a Conservação da Mata Atlântica/Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação Internacional - CI-BRASIL (MESQUITA, 2003). O FNMA, apoiou em 2002 a elaboração de 11 planos de manejo de Reservas Particulares do Patrimônio Natural, sendo 5 (cinco) na Região Centro Oeste, 2 (dois) na Sudeste, 1 (um) Norte e 3 (três) na Nordeste (OLIVEIRA, 2003). Outros benefícios podem ser relacionados: parceria para realização de dissertações de mestrado, monografias, artigos científicos, programas de educação ambiental com apoio de prefeituras, ecoturismo, doações através de projetos e, parcerias com ONGs (BERBERT, 2003). O ICMS Ecológico, criado em 1991, no estado do Paraná, tem se mostrado uma promissora alternativa na composição dos instrumentos necessários a execução das políticas de conservação da biodiversidade, e no caso das RPPN, esse instrumento tem possibilitado a melhoria de sua conservação, embora exista necessidade de avanço (LOUREIRO, 2003). 4.6.4 Desafios Os desafios enfrentados pelo movimento conservacionista de terras privadas na América Latina tem sido substanciais. Países como Chile, Costa Rica e Equador têm providenciado a imposição de instrumentos legais mais compreensíveis e flexíveis para 16 conservação em terras privadas (Environmental Law Institute, 2003). Já no Brasil, MESQUITA (2003) considera como principais desafios o fortalecimento institucional das RPPN e de suas associações, juntamente com a criação e adoção de políticas públicas que reconheçam a importância desta categoria de unidade de conservação e que ofereçam mecanismos de compensação e valorização inovadores. Em outra abordagem, THEULEN (2003) lança o questionamento de como viabilizar o planejamento de uma RPPN, uma vez que existe dificuldades até mesmo de manter as suas necessidades básicas. Para LANGHOLZ (2002), o desafio, tanto para a academia quanto para os formuladores de políticas, é canalizar a tendência de crescimento do número de reservas privadas pelo mundo de um modo que salvaguarde tanto a integridade biológica como a dignidade humana em longo prazo. 4.7 O perfil das Reservas Privadas Segundo IBAMA (1999a), empresas, pessoas físicas e ONGs representam os proprietários de reservas particulares no Brasil. As pessoas físicas são proprietárias do maior número de reservas, sendo seguidas pelas empresas e ONGs. Contudo, no que se refere à área protegida, as ONGs aparecem em primeiro, seguido de pessoas físicas e empresas. No entanto, segundo MORSELLO (2001), pouco são os dados disponíveis em relação aos motivos de criação dessas áreas. Esta autora menciona que a fonte mais ampla é a apresentada em uma consultoria realizada pelo IBAMA onde pode-se constatar que: • existe intenção em utilizar a reserva para futuras atividades turísticas; • pretende-se desenvolver atividades de educação ambiental; 17 • há intenção conservacionista ao criar a reserva; e • existe apego sentimental na atitude de criação das UC. Na América Latina, os principais motivos relacionados com a criação de RPPN estão relacionados à conservação da diversidade biológica; de amostras de ecossistemas; proteção de espécies ameaçadas de extinção; promoção de educação ambiental e proteção de beleza cênica (MESQUITA, 1999). LANGHOLZ (2002), encontrou na Costa Rica a empresa familiar como a forma mais comum de proprietários, com diretoria composta por membros da família e/ou amigos próximos. Em seguida, são propriedade de incorporados em indivíduos um ou negócio. famílias, Além mas destas, não legalmente corporações não individuais ou familiares e organizações não lucrativas compõe o perfil dos proprietários da Costa Rica. LANGHOLZ (2002) menciona ainda que os usos mais comuns nas reservas daquele país estão relacionados a satisfação pessoal, ao uso próprio e ao ecoturismo. 4.8 Unidades de Conservação da natureza em Silva Jardim O município de Silva Jardim apresenta em seus domínios tanto unidades de conservação de caráter público quanto privado, dentre as quais têm-se as Reservas Particulares do Patrimônio Natural, parte da Reserva Biológica de Poço das Antas e parte do Parque Estadual dos Três Picos, além da Área de Proteção Ambiental do Rio São João. As RPPN de Silva Jardim estão localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental do Rio São João e, ainda, distantes cerca de 15 Km da Reserva Biológica de Poço das Antas. A Reserva Biológica de Poço das Antas, criada em 1974 pelo IBAMA (6.000 hectares) apresenta 40% com pastagens, sendo os seus 18 fragmentos florestais considerados como um dos últimos grandes fragmentos da baixada fluminense. Ele abriga um dos últimos refúgios do Mico-Leão-Dourado, espécie endêmica e ameaçada de extinção (FERNADES et al., 2002). O Parque Estadual dos Três Picos (46.350 hectares), criado pelo Decreto nº 31.343, de 06/06/02, é a maior unidade de conservação do grupo de proteção integral do Estado do Rio de Janeiro, tendo sido criado para preservar extensa porção de matas em excelente estado de conservação na Região Serrana do estado, naquele que é conhecido como o “Corredor da Serra do Mar”. Cerca de dois terços de sua área encontram-se no município de Cachoeiras de Macacu e o restante divide-se entre os municípios de Nova Friburgo, Teresópolis, Silva Jardim e Guapimirim (IEF, 2004). O Parque Estadual dos Três Picos forma um contínuo florestal com o Parque Nacional da Serra dos Órgãos e com a Estação Ecológica do Paraíso, aumentando a sua importância como refúgio para fauna e flora fluminenses, especialmente os grandes mamíferos e aves. Trata-se do local com os mais elevados índices de biodiversidade em todo o estado do Rio de Janeiro. Nesta Unidade de Conservação podem ser observadas formações tão diversas como a floresta ombrófila densa e as matas de encosta, além das matas de neblina e os campos de altitude (IEF, 2004). A Área de Proteção Ambiental (APA) da Bacia do Rio São João (144 mil hectares), onde estão localizadas as RPPN de Silva Jardim, situa-se sobre a bacia hidrográfica do Rio São João, nos municípios de Cachoeiras de Macacu (nascente), Silva Jardim, Araruama, Rio Bonito (parte intermediária) e Cabo Frio, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu (foz). As RPPN foram criadas a partir das propostas da Associação Mico-Leão-Dourado e do Consórcio Ambiental Lagos São João, para assegurar a proteção dos recursos ambientais, principalmente os 19 recursos hídricos, delimitar áreas para atividades antrópicas e promover a melhoria na qualidade de vida (Associação Mico-LeãoDourado, 2004). O município de Silva Jardim tem sido considerado uma das “capitais” brasileiras das RPPN, por possuir o maior número (10) destas unidades de conservação (FERNANDES & RAMBALDI, 2004) – ver figura 2. Contudo isso não significa automaticamente que estas unidades de conservação sejam bem protegidas e assegurem o patrimônio natural que visam perpetuar. Figura 2: Localização das Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Município de Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Em amarelo as RPPN já criadas e, em vermelho, as potenciais para serem criadas. Fonte: AMLD. O estado do Rio de Janeiro apresenta 5 grandes fragmentos florestais com conectividade entre si (ROCHA et al.,2003)- Figura 3. O Município de Silva Jardim está situado em duas partes: Bloco 20 da Região Norte Fluminense (1) e Bloco da Região Serrana Central (2)– Figura 3. Figura 3: Fragmentos florestais do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. (1)Bloco da Região Norte Fluminense (2)Bloco da Região Serrana Central (3) Bloco da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (4) Bloco da Região Sul Fluminense (5) Bloco da Região da Serra da Mantiqueira. A elipsóide envolve o município de Silva Jardim. Circulado em vermelho está a região aproximada de localização das RPPN de Silva Jardim. Fonte: ROCHA & BERGALLO (2003). As diferenças geográficas destes blocos (o primeiro possui orientação sudoeste-nordeste e o segundo, orientação oeste-leste) promovem variações nos seus ecossistemas que se refletem nas características faunísticas, vegetacionais e hídricas (ROCHA et al., 2003). Algumas destas áreas são reconhecidas como de Extrema alta prioridade para conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira(MMA/SBF, 2004). 21 5. MATERIAL E MÉTODOS 5.1 Área de estudo O município de Silva Jardim (Figura 4) ocupa 44% da Bacia Hidrográfica do Rio São João, a maior bacia fluminense (2.160 Km2), assim como os municípios de Araruama, Cabo Frio, Cachoeira de Macacu, Casimiro de Abreu, Rio Bonito, Rio das Ostras e São Pedro da Aldeia. Silva Jardim Figura 4: Município de Silva Jardim no Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Fonte: SOS Mata Atlântica (2004). O Relevo é diversificado (Tabela 01), com serras, planaltos, colinas e grandes baixadas. As serras escarpadas apresentam encostas íngremes e abruptas, que variam desde 190 m.s.n.m até 1.719 metros. O planalto apresenta altitudes mínimas de 100m, que aumenta até 908m. As colinas ocupam uma grande parte da bacia, distribuindo-se entre as serras e os planaltos, sendo a altitude máxima de 100m. As baixadas foram construídas pelos rios, com material obtido do desgaste das serras, do planalto e das colinas 22 e pelo mar. As restingas, chamadas também de zona da baixada, construídas pelo mar e um pouco pelos rios, ocupam a parte litorânea da baixada, chegando a ter 4 km de largura. Algumas depressões alagadas ocorrem neste percurso(PAULO & VOLCKER, 2003). Tabela 01: Relevo na bacia do rio São João no município de Silva Jardim Tipo de relevo % da bacia Serras 21 Planalto 13 Colinas 32 Baixadas 30 Restinga 4 Total 100 Fonte: BIDEGAIN & VOLCHER (2003) A complexidade do meio físico, associada a sua posição ambiental estratégica dentro do estado, conferem a estes ecossistemas características impares, que precisam ser observadas dentro do processo de planejamento de uso. O município de Silva Jardim apresenta em seus domínios remanescentes de Mata Atlântica (Floresta Ombrófila Densa Montana (altos das serras), Submontana (parte baixas da serra e morrotes na baixada) ecossistema, e de Terras conhecido como Baixas mata (planície). Este de costeira, baixada último é extremamente raro e isolado, devido ao aproveitamento dos mesmos para diversos fins (BIDEGAIN & VOLCKER, 2003). Atualmente cerca de 36% da área total do município permanece coberta com remanescentes da Mata Atlântica (Figura 05). 23 Figura 5: Cobertura florestal do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro, Brasil. Fonte: SOS Mata Atlântica (2004). O uso atual da terra apresenta partes urbanas e agrícolas, onde as pastagens e remanescentes de citricultura predominam. O município possui 21.239 habitantes, sendo a população urbana (14.193 hab.) maior que a rural (7.046 habitantes)(BIDEGAIN & VOLCKER, 2003). 5.2 RPPN Foram estudadas as RPPN legalmente reconhecidas até março de 2004 (Tabela 02). Tabela 2: RPPN no município de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Área Ano de Nome Arco-Íris Granja Redenção Sítio Santa-Fé Cach. Grande União Área Ano de (ha) Criação 117,39 61,50 12,82 16,00 108,00 2001 2001 2004 2004 2004 Nome (ha) Criação 45,86 33,80 14,31 14,00 343,10 1994 1996 1996 1997 2000 Gaviões Floresta Alta Serra Grande Lençóis Quero-Quero 24 5.3 Aplicação do questionário A coleta de dados foi realizada através de entrevistas realizadas com administração questionário os proprietários e/ou responsáveis das unidades de conservação, como roteiro da entrevista pela utilizando-se (Anexo 1). um Este questionário apresenta perguntas fechadas (com múltiplas opções de resposta) e abertas (dando margem a respostas não objetivas). O questionário apresentava 42 perguntas, distribuídas em 6 quesitos: identificação; objetivos; caracterização; administração e estratégias de manejo; econômico; expectativas para o futuro. As entrevistas foram realizadas individualmente, após reunião preparatória com os representantes das RPPN´s, Associação Patrimônio Natural (entidade que congrega proprietários de RPPN no Estado do Rio de Janeiro) Secretaria de Meio Ambiente do município de Silva Jardim e Associação Mico-Leão-Dourado. A primeira entrevista foi realizada em novembro de 2003 e a última em maio de 2004. 5.4 Variáveis levantadas As variáveis utilizadas foram escolhidas a partir do estudo de MESQUITA (1999), sendo feita, porém, algumas adaptações a partir da realidade em que as RPPN do município de Silva Jardim estão inseridas. As mesmas foram divididas em: variáveis de acordo com percepção dos proprietários, e variáveis de acordo com a as informações tangíveis constatadas in loco pelo pesquisador. Para o primeiro caso tem-se: a) perfil do proprietário; b) objetivos de criação; c) principais problemas; d) integração a outras Unidades de Conservação; e)integração ao movimento RPPNnista; f) êxito das reservas; g) expectativas para o futuro; h) proposições 25 para as RPPN de Silva Jardim. Para o segundo caso tem-se: a) atividades desenvolvidas nas RPPN; b) tamanho das reservas; c) idade das reservas; d) planejamento; e) incentivos recebidos; f) ecossistemas protegidos; g) perfil da propriedade; h) rentabilidade; e i) categorização das RPPN. 5.5 Êxito das reservas Nesta etapa, utilizou-se a metodologia descrita em MESQUITA (1999), que consistiu no cálculo do “índice de êxito”, que por sua vez está relacionado ao êxito no cumprimento dos objetivos de criação das RPPN. No questionário objetivos, foram distribuídos nos listados, em âmbitos duas ocasiões, econômico, social e 23 de conservação, considerados como potenciais para criação de RPPN (ver questionário – anexo 1). Foi então solicitado aos proprietários que identificassem, em um primeiro momento, o(s) objetivo(s) pelos quais suas reservas foram criadas, usando para isso uma escala de valoração de 1 a 5 (do menos ao mais importante). Em um segundo momento, quase ao final da entrevista, solicitou-se aos proprietários que assinalassem o grau de êxito que o mesmo alcançou até aquela ocasião, usando a mesma escala também de 1 a 5 (não êxito até o muito êxito). Por exemplo, o objetivo conservar a diversidade biológica, pode ser assinalado por um determinado proprietário com valor 5 (muito importante quando da criação da RPPN), isso em um primeiro momento. Já no segundo momento, este mesmo objetivo pode receber valor 3 (êxito médio), por não ter sido cumprido em sua plenitude, ainda segundo a percepção do proprietário. Esses valores, assinalados no questionário (de 1 a 5), foram transformados, após as entrevistas, já no laboratório, para uma outra escala com amplitude de zero (0) a quatro (4). Esta 26 conversão de escala foi utilizada como artifício matemático para facilitar o uso da “fórmula de êxito”, que será apresentada logo abaixo. Com isso, os objetivos que receberam o valor “um” ficaram como “zero” (não se aplica); os que receberam valor “dois” se transformaram em “um”, e assim sucessivamente, até que os que foram assinalados com “cinco” passassem a ser “quatro”. O objetivo foi produzir uma escala de índice de êxito entre “0” (zero) e 92, que é o produto da multiplicação do maior valor esperado na escala (4) e o número máximo de objetivos, 23. Abaixo segue a fórmula utilizada para o cálculo do índice de êxito. E=∑ ΕXi / 4* (23 - Fc) Onde: Ε= índice de êxito da reserva, em % da pontuação máxima esperada ou E= Pontuação observada / Pontuação máxima esperada ΕXi= soma dos valores de êxito atribuídos a cada objetivo. 4= pontuação máxima esperada para cada objetivo. 23= número total de objetivos. Fc= fator de correção, calculado por: Fc = Nob – Nex Onde: Nob= número de objetivos que não se aplicam ao manejo da reserva. Nex= número de objetivos que não se aplicam ao manejo porém que receberam algum grau de êxito. O Fator de correção é distinto para cada reserva, já que a pontuação máxima esperada depende da quantidade de objetivos que não se aplicam em algumas das reservas. Porém, algum objetivo pode ter recebido alguma pontuação por desenvolver atividades 27 indiretamente ligadas a ele. Nestes casos, tais objetivos foram contabilizados na fórmula em Nex. O índice de êxito obtido foi comparado com uma escala de êxito da Norma 10.004 (qualidade de serviços), assim como utilizada em Mesquita (1999) – ver tabela 3. Tabela 3: Escala de valoração do êxito das reservas privadas. Classificação Menor ou igual a 35% Significado Sem êxito Maior que 35 e menor igual a 60% Pouco êxito Maior que 60 e menor igual a 75% Médio êxito Maior que 75 e menor igual a 90% Maior que 90% Êxito alto Muito êxito Fonte: Mesquita (1999) 5.5 Análise estatística Foram determinados estatísticas descritivas para todas as variáveis relacionadas no item 5.4. 6. RESULTADOS Antes da apresentação deste tópico, cabe salientar que, embora sejam dez RPPN, são apenas oito proprietários, uma vez que há dois deles que possuem duas reservas cada. Portanto, as variáveis enquadradas no tópico percepção dos proprietários estão baseadas no universo de 8 proprietários, e as variáveis mencionadas no tópico informações tangíveis estão fundamentadas no universo de dez RPPN. 28 6.1 Percepção dos proprietários 6.1.1 Perfil dos proprietários Através dos dados obtidos constatou-se que, dentre os oito proprietários entrevistados, 7 possuem nível superior, com atuação em áreas como química, veterinária, direito e engenharia, dentre outras; estando 5 deles já aposentados em suas profissões. Todos os proprietários são de nacionalidade brasileira, sendo importante destacar, porém, que uma das reservas (RPPN Floresta Alta) é de fato de propriedade de um cidadão estrangeiro, tendo o mesmo preferido colocar o imóvel em nome de um amigo seu, brasileiro, por receio de sofrer preconceitos com relação ao fato de ser estrangeiro e querer proteger a natureza no Brasil, assim como pelas dificuldades de um estrangeiro registrar uma RPPN. Esse proprietário, segundo o seu representante no Brasil, atualmente reside no exterior, estando a reserva sob os cuidados de um amigo vizinho, que por sua vez possui duas RPPN contíguas. As RPPN pertencem a pessoas física em 100% dos casos. Em um dos casos, uma mesma propriedade familiar possui duas reservas distintas, onde a titularidade pertence ao pai e sua esposa. Essa mesma propriedade tem uma terceira RPPN requerida junto ao IBAMA, proprietários, contígua será as averbada outras em duas, nome da que segundo filha. Os seus mesmos pretendem adquirir mais terra para a criação futura de uma nova RPPN, a ser doada ao filho. A idade média dos proprietários de RPPN de Silva Jardim é de 50 anos, variando de 40-70 anos. Dos oito proprietários, sete residem fora do município de Silva Jardim, a maior parte deles na cidade do Rio de Janeiro. Informaram, no entanto, que freqüentam constantemente a fazenda e a reserva, geralmente em finais de semana e feriados. 29 6.1.2 Objetivos de criação das RPPN Identificou-se que todas as reservas foram criadas, por meio de objetivos conservacionistas, tais como conservar a diversidade biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção e conservar amostras de ecossistema. Os objetivos de caráter econômico são, segundo os proprietários das RPPN de Silva Jardim, os menos importantes, exceto para um, que informou ter, desde a criação da reserva, a intenção de gerar renda com as atividades conservacionistas. Em ordem de importância, têm-se os objetivos de conservação em primeiro, seguido daqueles de caráter social, e por último os objetivos econômicos (Tabela 4). Tabela 4: Principais objetivos de manejo das Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Objetivos de manejo Valor Desvio Tipo de médio* Padrão objetivo Conservar a diversidade biológica 5 0 Conservação Proteger espécies ameaçadas de extinção 5 0 Conservação Conservar amostras da Mata Atlântica 5 0 Conservação Proteger mananciais hídricos 4,9 0,31 Conservação Conservar paisagem natural 4,8 0,42 Conservação Impedir caça ou extração ilegal de árvores Satisfazer um desejo pessoal ou familiar 4,00 1,61 Conservação 3,71 1,44 Social Deixar patrimônio Natural protegido para herdeiros Abrir a área para realização de pesquisa científica Realizar reflorestamento com espécies nativas Garantir abastecimento de água 3,57 1,85 Social 3,5 1,64 Conservação 3,5 1,95 Conservação 3,43 1,82 Econômico Proteger lugares “sagrados” ou especiais 3,29 2,02 Social Continua... 30 ...Continuação Proteger a terra de ocupações e invasões 3,14 1,61 Social Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental Servir de exemplo para a comunidade local Promover a educação ambiental 3,00 1,95 Social 2,71 1,66 Social 2,57 1,61 Social Aumentar o valor da terra 2,29 1,76 Econômico Impedir expansão urbana e/ou obras de infra-estrutura 2,29 2,00 Social Obter isenção de impostos 1,70 1,34 Econômico Promover desenvolvimento turístico 1,57 1,77 Econômico Proteger espécies que servem de inimigos naturais de pragas Ter acesso a doações para projetos ambientais Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local 1,57 1,50 Econômico 1,43 1,28 Econômico 1,29 1,54 Econômico • Os valores variam de 1 a 5, do menos ao mais importante. 6.1.3 Principais problemas Os principais problemas nas RPPN em ordem de importância são: a) falta de políticas de apoio as reservas; b) pressão de caça; c) falta de recursos financeiros (Tabela 5). Tabela 5: Principais problemas encontrados pelas Reservas Particulares do Patrimônio Natural do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Problemas Valor médio* Desvio Padrão Falta de políticas de apoio 4,10 1,05 Caça 3,50 1,43 Falta de recursos financeiros 2,90 1,61 Manutenção e infraestrutura 2,43 1,75 Fogo 1,90 1,05 Poluição 1,70 1,32 Desmatamento no entorno da reserva 1,40 1,03 Continua... 31 ...Continuação Problemas com a prefeitura 1,10 1,33 Extração ilegal de madeira 1,00 0,94 Extração ilegal de palmito 1,00 0,73 Falta de visitantes 0,90 1,24 Desmatamento no interior da reserva 0,90 0,48 Invasão de posseiros 0,70 0,67 Oposição da comunidade local 0,70 1,47 Disputas por limites de propriedade 0,71 0,67 Invasão por animais domésticos 0,60 0,81 • Os valores variam de 1 a 5, do menos ao mais importante. 6.1.4 Integração com outras Unidades de Conservação Dos oito proprietários, 4 afirmaram haver cooperação entre a RPPN e a Rebio Poço das Antas, 3 mencionaram não haver relacionamento entre as unidades de conservação e 1 afirmou que apóia a Rebio sem ser, porém, apoiado (Figura 6). 1 0 3 4 RPPN p/ Rebio Rebio p/ RPPN coop.mut. não existe relacionamento Figura 6: Integração entre as RPPN e unidades de conservação públicas de Silva Jardim 32 No que se refere a cooperação entre as RPPN, apenas 2 proprietários afirmaram haver algum tipo de integração, 2 afirmaram que apóiam outras RPPN e 4 proprietários mencionaram não existir cooperação com outra RPPN (Figura 7). Todos os proprietários afirmaram não ter nenhum tipo de integração com a Área de Proteção Ambiental do Rio São João. 2 4 0 rp p/ rp coop mútua 2 outra p/ rp não há rel Figura 7: Nível de integração entre as RPPN de Silva Jardim. 6.1.5 Integração junto ao movimento RPPNista Todos os proprietários conhecem a Associação Patrimônio Natural do Rio de Janeiro, mas 2 desconhecem a Confederação Nacional de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (CNRPPN) e seu papel social. Dentre os benefícios mais citados pelos proprietários com a existência da APN, estão: relacionamento com órgãos públicos, troca de experiências, relacionamento com organizações conservacionistas e realização de cursos. Os donos de reservas em Silva Jardim, quando perguntados da importância de se ter uma organização nacional de proprietários, responderam que a existência desta entidade contribui não só para a busca de políticas públicas, projetos e incentivos para 33 estimular novas RPPN e possibilitar as existentes, mas também como meio de mobilização para reivindicar soluções para os problemas presentes. 6.1.6 Êxito das reservas De maneira geral, os proprietários afirmaram estar obtendo êxito no cumprimento dos objetivos pelos quais as RPPN foram criadas, isto é, com relação aos objetivos conservacionistas. Isto, segundo eles, deve-se ao fato das reservas terem sido criadas, sobretudo, com a finalidade de proteger uma área natural, não havendo, no ato de criação da reserva, alguma intenção de desenvolvimento de atividades de caráter social e econômico. O Índice de Êxito foi calculado para cada RPPN e logo após utilizou-se o mesmo em uma escala de valoração para classificá-lo (Tabela 6). Tabela 6: Classificação de êxito das Reservas Particulares do Patrimônio Natural do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Índice de êxito <=35% 36-60% 61-75% 76-90% >90% Classificação Sem êxito Pouco êxito Êxito médio Êxito alto Muito êxito Quantidade de reservas 0 0 5 5 0 % de RPPN 0 0 50 50 0 *forma de cálculo descrito na metodologia Os resultados desse tópico mostram que as reservas estão distribuídas na escala de êxito de forma eqüitativa em: reservas com êxito médio e reservas com êxito alto; isto é, 50% para ambos (Tabela 6). Cabe salientar que esses resultados de êxito das reservas estão relacionados ao máximo que cada uma delas poderia 34 alcançar, e desta maneira não é possível comparar o êxito obtido por uma RPPN com o de outra, já que cada reserva tem suas peculiaridades. 6.1.7 Expectativas para o futuro Do 8 proprietários entrevistados, 3 acreditam que atividades relacionadas ao ecoturismo ou turismo rural poderiam futuramente sustentar os custos de manutenção e proteção da propriedade e da RPPN, inclusive financiar investimentos em infra-estrutura, 3 mencionaram que não acreditam e os demais apresentaram desconhecimento quanto a essa possibilidade. Em relação ao desejo de proteger mais áreas, 6 proprietários afirmaram não pensar nesta possibilidade e apenas 1, como já dito anteriormente, mencionou o desejo de ampliar a superfície de área já protegida, através da conversão de mais área da própria fazenda em RPPN e compra de terras adjacentes. Quanto às perspectivas de pesquisas científicas nas RPPN, as respostas apontaram para o interesse dos proprietários em relação a esta atividade, desde que haja iniciativas pelas instituições de pesquisa. Quanto a Educação Ambiental, apenas 2 proprietários afirmaram ter a intenção de desenvolver atividades deste caráter. Em relação ao planejamento das RPPN, dos oito proprietários, apenas 4 sinalizaram com a possibilidade de futuramente elaborar um plano de manejo para suas reservas. 6.1.8 Proposições e estratégias para as RPPN Dentre proprietários as proposições para melhoria e de estratégias suas citadas reservas, pelos destacam-se: implantação de telefonia rural; conservação das vias de acesso as RPPN; regulamentação da categoria; esclarecimento aos 35 proprietários; facilidade aos incentivos disponíveis; divulgação das RPPN; e, parcerias para pesquisas e atividades de educação ambiental. 6.2 Informações Tangíveis 6.2.1 Atividades desenvolvidas nas reservas Verificou-se que apenas duas reservas, de um mesmo dono, desenvolvem atividades relacionadas à Educação Ambiental, contudo de maneira esporádica e sem planejamento sistemático. Estas atividades estão ligadas, sobretudo, a visitas de escolas do entorno à RPPN. Por outro lado, dentre os 8 proprietários, 5 afirmaram ser importante ou muito importante este objetivo de manejo. Das oito reservas, 3 já começaram a participar de circuitos de turismo rural e ecoturismo da região, com o apoio da Prefeitura Municipal de Silva Jardim, da Associação Brasileira de Turismo Rural (ABRATURR), SEBRAE-RJ, Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (TurisRio), AMLD e Associação Comercial, Industrial e Agropecuária de Silva Jardim (ACIASJ)- ver anexo 4. Recentemente, o Programa de Incentivo às RPPN, criado pela Aliança para a Conservação da Mata Atlântica (Conservação Internacional e Fundação SOS Mata Atlântica), fez uma doação para reforma de um antigo alambique localizado em uma propriedade rural que possui uma RPPN, além de equipamentos para processamento de mel silvestre de abelhas nativas, com intuito de resgatar importância histórico-cultural dessa propriedade e, ainda, possibilitar a geração de renda para a sustentabilidade financeira da RPPN. Ambas atividades já possibilitam a inclusão das RPPN no circuito turístico criado recentemente para a região. 36 Foi constatado que existe uma parceria entre uma empresa especializada em ecoturismo da cidade do Rio de Janeiro e uma das RPPN de Silva Jardim, o que também tem possibilitado a geração de renda para a reserva por meio de visitação. Com relação à pesquisa científica, sete das dez reservas são parceiras dos programas de pesquisa da Associação Mico-LeãoDourado, sendo que uma delas integra o programa de reintrodução de micos-leões-dourados desta entidade. 6.2.2 Tamanho das RPPN Com relação a área protegida pelas RPPN de Silva Jardim, tem-se que juntas estas unidades são responsáveis pela proteção de 1.086,17 hectares de Mata Atlântica, o que representa uma área média de 108,61 hectares por reserva. Quatro RPPN possuem menos que 20 hectares cada uma, três têm entre 20 e 70 hectares, duas são pouco maiores que 100 hectares e apenas uma reserva tem mais de 300 hectares (Figura 8). <=20 21-50 20% 51-100 0% 40% 101 - 200 201 - 300 >300 20% 0% 20% Figura 8: Tamanho das Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Silva Jardim, Rio de Janeiro. 6.2.3 Histórico de criação das RPPN A primeira RPPN foi criada em Silva Jardim em 1994. As três mais recentes foram reconhecidas em março de 2004. A evolução no 37 número e na superfície protegida por estas unidades de 200 5 3 200 2 9 199 8 199 7 199 5 199 1 199 4 6 2 200 200 0 3 200 1 4 199 no. de reservas criadas 4 conservação pode ser demonstrada pelo gráfico abaixo. 0 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200 100 0 período reservas superfície (ha) Figura 9: Número e superfície protegida pelas RPPN do município de Silva Jardim, Rio de Janeiro. Dentre as dez reservas, 5 aguardaram mais de 24 meses para tramitações legal no IBAMA no sentido de legalizar a sua criação. Outras 3 tiveram o tempo deduzido de 12 a 24 meses (Figura 10). 10% 10% até 6 meses 6 e 12 12 e 24 50% 30% mais de 24 Figura 10: Tempo para reconhecimento no IBAMA. 6.2.4 Planejamento Nenhuma RPPN de Silva Jardim possui plano de manejo ou instrumento de planejamento sistemático. As justificativas 38 relacionadas são: falta de apoio para elaboração deste documento; outras prioridades emergenciais; falta de cobrança governamental como instrumento de manejo da reserva. Todavia, quatro proprietários afirmaram ter interesse em elaborar um plano de manejo. Além disto, nenhuma das RPPN conta com apoio de profissional da área de conservação da natureza no seu planejamento. 6.2.5 Incentivos Os resultados demonstram que todos os proprietários utilizam a isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) e conhecem, ainda que superficialmente, as linhas de crédito a fundo perdido do Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA). A Associação de Proprietários do estado do Rio de Janeiro (APN) já foi contemplada pelo edital do FNMA, com um projeto de capacitação de donos de RPPN do estado No que se governamentais, refere algumas ao das apoio RPPN por de Organizações Silva Jardim já nãoforam beneficiadas por meio de assessoria técnica e financeira pela Associação Mico-Leão-Dourado, que atua na região na proteção da espécie de primata que dá nome a entidade, e por isso desenvolve um programa de apoio as RPPNs, sobretudo, no georreferenciamento da propriedade e RPPN, uma exigência do IBAMA. Este apoio tem sido considerado fundamental, já que a confecção do mapa georreferenciado da propriedade apresenta elevado custo. Das 10 reservas, 3 foram contempladas com mapeamento com foto aérea e 3 com mapeamento georreferenciado (FERNANDES, comunicação pessoal). Uma RPPN já foi beneficiada pelo Programa de Incentivo as RPPN da Mata Atlântica, criado pela Aliança para a Conservação da Mata Atlântica (Conservação Internacional – CI-Brasil e Fundação SOS Mata Atlântica), contudo, apenas uma foi contemplada. 39 Dentre os 8 proprietários, apenas 5 afirmam conhecer o Programa de Incentivo às RPPN da Mata Atlântica. 6.2.6 Ecossistemas protegidos A reservas conservam fragmentos de Floresta Ombrófila Densa Sub-Montana, geralmente topos de morros deixados pelo processo de abertura de pastos, além da Floresta Ombrófila Densa Montana, situada nas partes mais altas das serras. Uma das RPPN conserva relevante remanescente de Mata Atlântica de Baixada, com 343,10 superfície protegida (484 ha. de propriedade total). Tal unidade de conservação contribui para que esta tipologia florestal, que na região apresenta-se como de rara existência, esteja representada no Sistema Nacional de Unidades de Conservação. 6.2.7 Perfil das propriedades com RPPN As RPPN atividades encontram-se desenvolvidas em são fazendas Lazer, onde as agricultura principais e pecuária (Tabela 7). Por outro lado, existem 3 reservas que não desenvolvem atividades rentáveis, de maneira a gerar retorno financeiro para a propriedade e seu proprietário. Tabela 7: Atividades desenvolvidas nas propriedades rurais de Silva Jardim que possuem RPPN Atividades No. de Reservas Lazer 6 Agricultura 6 Pecuária 4 Reflorestamento 4 Colheita de produtos não-madeireiros 1 Ecoturismo ou Turismo Rural 3 40 Constatou-se que 50% das propriedades possuem planejamento quanto a suas despesas e receitas, através de livro caixa (Tabela 8). O monitoramento de impactos é praticado por 30% das reservas, e 20 % lançam mão de técnicas de tratamento de resíduos sólidos e de lixo. O uso alternativo, tanto de energia quanto de materiais locais de construções é desenvolvido apenas por 10% das unidades de conservação (Tabela 8). Tabela 8: Técnicas desenvolvidas nas propriedades rurais de Silva Jardim que possuem RPPN. Técnicas desenvolvidas nas propriedades Nºde RPPN Livro-caixa – Contabilidade 5 Monitoramento de Impactos ambientais em geral 3 Tratamento de esgoto e resíduos sólidos 2 Tratamento de lixo 2 Uso de fontes alternativas de energia 1 Uso de materiais locais alternativos nas construções 1 6.2.8 Rentabilidade Verificou-se que o “carro-chefe” de geração de receitas, quando existentes, está nas atividades produtivas relacionadas à fazenda e não nas diretamente ligadas às RPPN. Ainda assim, dos 8 proprietários, 5 afirmaram que “sai do bolso” todas as despesas com as atividades de manejo da reserva e propriedade. Três proprietários afirmaram que a renda gerada pela propriedade não contribui nem mesmo com 25% de sua renda total. Isso se comprova com o resultado de que nenhuma das RPPN de Silva Jardim estão gerando renda para seus proprietários. 41 6.2.9 Categorização das RPPN Mesquita (1999), ao estudar as características das reservas privadas da América Latina, definiu uma classificação com 5 categorias de manejo, a saber: Reserva Biológica, Parque Natural, Parque Ecoturístico, Reserva de Recursos e Reserva de Uso Múltiplo. As RPPN em estudo, segundo as suas características, poderiam ser enquadradas nesta classificação como Reservas de Recursos, definidas como aquelas que “não desenvolvem atividades, ou se desenvolvem não são em escala comercial e, ainda, não geram renda. Essas reservas podem ainda realizar pesquisa científica e educação ambiental, porém não de maneira sistemática e planejada. Não dispõe de ferramentas de planejamento ou quando existem não são adotadas. O proprietário muitas vezes a vê como uma reserva para uso futuro”. Isso se comprova pelas características descritas em tópicos anteriores, onde dentre outros fatores, destaca-se a ausência de plano atividades de manejo, relacionadas à a inexistência educação de ambiental, pesquisa de manejo científica e visitação, ou então desenvolvimento dessas atividades porém sem planejamento sistemático, e, ainda, não geração de renda pela unidade de conservação. 7. DISCUSSÃO Os resultados contribuíram para que alguns questionamentos pudessem ser respondidos, tais como: o que levou esses proprietários a transformar suas áreas em reservas privadas? E, ainda, o que os motivou? A resposta para a primeira pergunta aponta não para o ato voluntário do proprietário por si só, mas também para o fato de existir em Silva Jardim um sinergismo de esforços conservacionistas que favorecem o processo de 42 sensibilização dos proprietários rurais a transformarem parte ou totalidade de suas propriedades em reserva perpetuamente protegida por lei. Como baluarte do referido sinergismo, tem-se a Associação-Mico-Leão-Dourado que, segundo FERNANDES et. al(2002), desenvolve junto as comunidades rurais do entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas ações de sensibilização e de conscientização, por meio de programas de Educação e Extensão Ambiental. Com isso, até o ano de 2002, 75 fazendas da região foram cadastradas junto à associação, com pelo menos 33 envolvidos diretamente com projetos para salvaguardar a espécie e seu habitat, sendo 25 parceiros do Programa de Reintrodução de micos-leões, as quais totalizam cerca de 3.900 ha. Neste contexto, estão envolvidas as RPPN, ora no programa de reintrodução de micos-leões, ora contribuindo para a implantação de corredores de vegetação, ligando fragmentos florestais habitados por esta espécie de primata. Ainda segundo este autor, as RPPN têm sido criadas, na região de ocorrência do mico-leão-dourado através do estímulo e apoio da AMLD, e que isso tem aumentado a área protegida por lei, disponível na região. O apoio desta entidade inclui o custeio da elaboração do mapa georreferenciado da propriedade e da área da reserva, uma exigência do IBAMA para se criar uma RPPN, tão necessária quanto onerosa. Desta maneira, a participação da AMLD certamente foi – e ainda está sendo – um dos grandes pilares do movimento RPPNista no município de Silva Jardim. Mas outra instituição compõe tal sinergismo. Trata-se da Associação Patrimônio Natural, que por sua vez congrega os proprietários de RPPN do estado do Rio de Janeiro. Mesmo diante da pouca mobilização, a APN tem desenvolvido junto com a Prefeitura Municipal de Silva Jardim, através de sua Secretaria 43 de Meio Ambiente, um programa de apoio a criação de novas RPPN no município. PAULO(2002) relata que a APN, na busca de mobilizar e incentivar a criação de novas RPPN, tem desenvolvido no estado a idéia do “Efeito Demonstração”, uma estratégia mediante a qual deve o proprietário de RPPN ser visto pela comunidade de proprietários rurais como alguém que ao cumprir com a finalidade social de preservação do meio ambiente, é visto com prestígio e atenção pelo Poder Público e demais organizações da sociedade civil, bem como pela sociedade de maneira geral. Tanto a AMLD (desde 1990) como a APN (desde 1997) e a Prefeitura Municipal de Silva Jardim têm sido cruciais para a criação de RPPN na região, e como conseqüência desses esforços, segundo FERNANDES & RAMBALDI (2004), Silva Jardim é apresentada por eles como a “capital” brasileira das RPPN. Um outro ambientalistas exemplo na criação da de influência RPPN está no de instituições sul da Bahia. O Instituto de Estudos Sócio-Ambientais, organização ambientalista de caráter técnico-científico sediada em Ilhéus, desenvolve desde 1996 um projeto de incentivo à criação de RPPN na região. Uma estratégia tem sido apoiar produtores rurais, por meio de fomento as atividades agrícolas alternativas e sustentáveis, que agreguem valor econômico aos produtos e melhorem a produtividade das áreas de produção, propondo como contrapartida a averbação da Reserva Legal e a criação de RPPN como uma espécie de “compensação” pela assistência técnica recebida. Desta maneira esta instituição tem contribuído para que a Bahia, até o ano de 2002, possuísse 40 RPPN (MESQUITA & LEOPOLDINO, 2002). Com isso a premissa é de que onde há instituições ambientalistas atuando com proprietários rurais, principalmente despertando-os para a criação de RPPN e oferecendo apoio, tem-se um elevado número de RPPN. 44 Quanto à pergunta sobre a motivação pelo qual o proprietário criou um RPPN em Silva Jardim, isto é, o que os impulsionou, os resultados apontaram que a filosofia conservacionista ao criar a reserva preponderou em comparação com as motivações de caráter social ou econômico. Os proprietários criaram suas reservas para, sobretudo, conservar a diversidade biológica, proteger amostras da Mata Atlântica, proteger espécies ameaçadas de extinção e, ainda, proteger a paisagem natural e mananciais hídricos. Não que outros objetivos não estivessem nas intenções dos proprietários, como por exemplo, ecoturismo, educação ambiental, proteção contra possíveis desapropriações por improdutividade da terra e valor emocional da área, mas é que estes foram considerados, de modo geral, secundários pelos proprietários. Os resultados encontrados para Silva Jardim, assemelham-se aqueles obtidos por MESQUITA (1999), para as reservas privadas da América Latina (Tabela 9). Tabela 9: Comparação entre os principais objetivos de criação de Silva Jardim e da América Latina. Tipo de Silva América Objetivos de manejo Jardim* Latina** OBJETIVO Conservar a diversidade biológica Conservação 5 (1º) 4,8 (1º) Proteger espécies ameaçadas de extinção Conservação 5 (2º) 4,8 (2º) Conservar amostras de ecossistemas Conservação 5 (3º) 4,6 (3º) Proteger mananciais hídricos Conservação 4,9(4º) 3,6 (6º) Conservar paisagem natural Conservação 4,8(5º) 4,4 (5º) Promover Educação ambiental Social 2,5(16) 4,5 (4º) * Os valores fora dos parênteses variam de 1 a 5, do menos ao mais importante, respectivamente; os valores dentro do mesmo, referem-se a colocação que tal objetivo em ordem de importância para os proprietários. **Fonte: Mesquita (1999). Ao comparar os resultados obtidos para as reservas privadas de Silva Jardim com a amostra utilizada em MESQUITA (1999) – ver 45 Tabela 9 - observa-se que há uma similaridade entre quatro dos cinco objetivos apontados como sendo os mais relevantes na hora do estabelecimento das reservas. Esta informação corrobora a tese de que, dadas as condições e exigências para o reconhecimento de uma área natural em terreno privado como RPPN, e tendo em vista ainda as restrições de uso impostas as RPPN, esta categoria de unidade de conservação somente é atrativa para proprietários que tenham um perfil intrinsecamente conservacionista. A presença do mico-leão-dourado na região de Silva Jardim contribuiu para a motivação dos proprietários em criar RPPN. Isso se comprova pela 2º colocação em grau de importância dada pelos proprietários ao objetivo proteção de espécies ameaçadas de extinção. Chama a atenção o objetivo Educação Ambiental, que neste estudo apresentou 16o colocação em escala de importância, segundo os proprietários, ficando este mesmo em 4º lugar para a América Latina e, ainda, para o objetivo promoção do desenvolvimento turístico, que apresentou 20º colocação (Tabela 9). Com isso, mesmo que a Lei 9.985/00, através de seu artigo 21, permita ao dono de RPPN desenvolver pesquisa científica e visitação com ecoturismo, objetivos foi de constatado educação que esses ambiental, não estão recreação nos e planos prioritários da maioria dos proprietários. As pesquisas científicas desenvolvidas nas reservas estão, por sua vez, voltadas para a proteção do mico-leão-dourado, e são sobretudo de iniciativa da AMLD, com anuência dos proprietários. Esta falta de prioridade no desenvolvimento de atividades sociais e econômicas parece estar relacionada ao fato de que todos os proprietários, exceto um, residem na cidade do Rio de Janeiro (110 Km de distância) ou em outras localidades que não a da RPPN, e lá exercem suas profissões, sendo que muitos deles visitam a fazenda e a RPPN somente em finais de semana ou em 46 feriados, e por isso falta-lhes tempo para desenvolver atividades na reserva e no entorno. Por outro lado, a própria vontade de somente proteger a área, usando-a para desfrute da família e amigos são condicionantes ao desenvolvimento das RPPN. Um aspecto interessante a se ressaltar, neste contexto, é que a existência das RPPN depende da vontade dos proprietários, e conseqüentemente o sucesso das mesmas dependerá, pelo menos em parte, da não obrigação dos mesmos em perseguir objetivos de manejo que não lhes digam respeito direto e, assim, esta versatilidade da categoria é um fator básico para seu sucesso (MILANO et al., 2003). Assim, científica destaca-se e o que a ecoturismo educação ambiental, a pesquisa são atividades que podem ser desenvolvidas nas RPPN, porém estes não são objetivos primários pelos quais foram criadas as RPPN de Silva Jardim, e sim proteger o patrimônio natural. O “não-manejar” a reserva, isto é, não desenvolver as atividades mencionadas acima, está sendo um viés para o cumprimento deste objetivo, ainda que algumas providências básicas para a proteção da RPPN não estejam sendo colocadas em prática, como, por exemplo, o cercamento da área em alguns casos. Contudo, o que deve estar claro é que as atividades de manejo, compatíveis com os objetivos definidos, devem estar sendo norteadas por um plano de manejo (THEULEN, 2003b), mesmo que o “não-manejo” seja por si só uma decisão de manejo. Nas RPPN de Silva Jardim, de modo geral, as atividades de manejo, quando desenvolvidas, não têm sido planejadas de forma sistemática, comprovado pelo resultado de que 100% das reservas não possuem plano de manejo ou outro tipo de instrumento de planejamento. E mais, dos oito proprietários, apenas 4 mencionaram ter o interesse em elaborar futuramente um plano de manejo. Os que não pretendem fazer isso alegam falta de recursos 47 financeiros e de assessoria técnica, além de não acharem necessário e, portanto, não priorizarem sua elaboração. Essa realidade, no entanto, não é particular das reservas de Silva Jardim. THEULEN (2003), afirma que são poucas as RPPN no Brasil que possuem um plano de manejo que subsidie suas atividades e ações de manejo. A discussão da necessidade ou não das RPPN terem um plano de manejo tem sido argumentada por estudiosos da área. O argumento é que o plano de manejo não deveria ser uma exigência para as RPPN, sob a pena de onerar desnecessariamente o proprietário da área, desestimular a expansão da categoria e favorecer o surgimento de uma “indústria” de planos de manejo, cujo exame seria muito difícil e oneroso para os órgãos públicos fiscalizadores. Mas o fato é que o Decreto 1.922/96, dispõe em seu artigo 8º, que cabe ao proprietári o “submeter à aprovação do órgão responsável pelo reconhecimento o zoneamento e o plano de utilização da reserva” e, ainda, “encaminhar, anualmente e sempre que solicitado, ao órgão responsável pelo reconhecimento, relatório de situação da reserva e das atividades desenvolvidas”; Estas disposições, de acordo com a versão preliminar do Decreto de Regulamentação da categoria, que ainda no ano de 2004 deve revogar o Decreto 1992/96, devem ser mantidas. Os proprietários contam inclusive, a partir de outubro de 2004, com um Roteiro Metodológico para Plano de Manejo de RPPN, que por sua vez prevê maior complexidade e abrangência de acordo com as ações que o proprietário pretende desenvolver na RPPN. Ou seja, uma RPPN cujo único objetivo é a proteção da natureza, terá um plano de manejo mais simples, prevendo as ações de proteção e monitoramento da conservação. Por outro lado, uma RPPN onde se pretende desenvolver programas de uso público ou de pesquisa intensiva, precisará de um plano de manejo mais complexo, com muito mais informação sendo necessária para sua elaboração. 48 Entretanto, a Lei 9.985/00, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, dispõe no artigo 21, parágrafo 3º, que “Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou Proteção e de Gestão da Unidade”. O lançamento do roteiro metodológico de plano de manejo para a categoria, certamente irá se consolidar como uma efetiva ferramenta de norteamento para elaboração de plano de manejo para as RPPN, e isso mostra que o governo tem feito esforços na criação de mecanismos que façam “valer” a lei 9.985/00. Mas, ainda assim, é preciso buscar meios mais abrangentes e efetivos para despertar e capacitar os proprietários que não dispõe de assessoria técnica e, tampouco, conhecimento para elaboração desse instrumento de planejamento. O FNMA tem contribuído para isso, através dos editais destinados a elaboração de plano de manejo e capacitação de proprietários. As RPPN, segundo a Lei, (parágrafo único do artigo 8º, Decreto 1.992/96) poderiam ainda contar, para a elaboração do plano de manejo, com a cooperação de entidades ambientalistas devidamente credenciadas pelo Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistas – CNEA, do Conselho Nacional de Meio Ambiente; CONAMA. Contudo, tal cooperação está, via de regra, ligada as prioridades de ação dessas entidades ambientalistas. Mais recentemente, a Confederação Nacional de Proprietários de RPPN e as associações estaduais têm se fortalecido, e desta maneira, têm buscado preencher esta lacuna. Estas entidades, de forma conjunta e participativa, elaboraram com técnicos do IBAMA e especialistas da área o roteiro metodológico de plano de manejo para a categoria. Tal instrumento, lançado no II Congresso Brasileiro de RPPN, provavelmente corresponderá aos anseios dos 49 proprietários, uma vez que há participação espontânea na elaboração dos mesmos. Entretanto, elaborar um roteiro metodológico é apenas um primeiro passo, outros devem ser dados para o esclarecimento dos proprietários, não somente quanto a existência desse elemento norteador, mas também para o apoio no uso do mesmo. Uma sugestão para a realidade de Silva Jardim seria a Associação Patrimônio Natural, juntamente com a Associação MicoLeão-Dourado e a Prefeitura Municipal de Silva Jardim, estruturarem um programa de assistência à gestão destas reservas vislumbrando a elaboração de planos de manejo para as mesmas, com base no roteiro recentemente lançado pelo IBAMA. Enquanto isso, os proprietários devem atentar para o artigo 15 do Decreto 4.340/2002, que dispõe: “A partir da criação de cada unidade de conservação e até que seja estabelecido o Plano de Manejo, devem ser formalizadas e implementadas ações de proteção e fiscalização”. Isso já vem acontecendo em algumas reservas, só que em muitas vezes é o próprio dono que faz a “ronda”, havendo até mesmo casos de ameaças de morte a estes por caçadores. Paralelo a isto, “cabe ao órgão ambiental responsável o apoio aos proprietários nas ações de fiscalização, proteção e repressão aos prioritário crimes quando a ambientais, RPPN assegurando-os estiver sendo atendimento ameaçada ou seus atributos naturais estiverem comprometidos”; como disposto pela minuta do decreto de regulamentação da categoria que entrará em vigor ainda no ano de 2004. THEULEN planejamento (2003b), é uma afirma ferramenta que não há importante dúvidas para o de que manejo o das reservas privadas, porém, questiona a maneira com que tais planos podem ser viabilizados diante das dificuldades até mesmo para suprir suas necessidades básicas. Esta afirmativa pode, sem 50 sombra de dúvidas, ser extrapolada para a realidade das RPPN de Silva Jardim. O fundamental diante deste cenário é a busca por parcerias, principalmente junto a universidades ou outras instituições de pesquisa, de maneira que se viabilize uma rede de relações que possam contribuir para o manejo da área. Esta atitude tem conferido maior efetividade as ações que assegurem, em longo prazo, a concretização do desejo de conservação perpétua do patrimônio natural (MESQUITA & VIEIRA, 2004). As futuras ações no âmbito das RPPN de Silva Jardim devem, prioritariamente, ser direcionadas para o suporte as RPPN que já existem, focando o seu planejamento, tanto por meio da elaboração de plano de manejo quanto através da capacitação de seus proprietários. O fato de nenhuma das RPPN do município possuir sequer um instrumento básico de planejamento sugere baixa expectativa de viabilidade em longo prazo da reserva e, ainda, o rótulo de “RPPN de papel”, como mencionado por THEULEN (2003). A APN em 2002, a fim de reverter esse quadro, angariou recursos financeiros junto ao Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA) para capacitação de proprietários de RPPN do estado do Rio de Janeiro, e com isso foi possível demonstrar a alguns proprietários mais precisamente os direitos e deveres de ser dono de uma unidade de conservação. Mas ainda assim novos esforços devem ser alocados especificamente para a gestão dessas reservas. Em relação ao turismo nas RPPN de Silva Jardim, no ato de criação das reservas, apenas 3 proprietários mencionam que este objetivo de manejo foi importante ou muito importante, e destes, apenas 2 estão se envolvendo em atividades com este caráter, através de um circuito turístico denominado “eco-rural” (ver anexo 4). Um outro proprietário, que antes não tinha este anseio, agora participa de tal circuito. 51 Neste caso, a mudança de pensamento parece estar ligada fortemente ao fato de outras instituições estarem envolvidas no processo, tais como a Prefeitura Municipal de Silva Jardim, o SEBRAE, a Associação Brasileira de Turismo Rural, TurisRio, além de outras RPPN, gerando assim um sinergismo que sugere estar motivando-os a tentar alternativas de sustentabilidade financeira para suas reservas. Sem o apoio destas instituições para esse fim, que suplantam as ações isoladas, as reservas provavelmente não teriam o mesmo êxito. O município de Silva Jardim possui vocação e potencial para as atividades de turismo rural e ecoturismo, já que apresenta inúmeras fazendas e áreas naturais com diversos atrativos naturais e culturais, dentre os quais está o carismático micoleão-dourado, que além de ameaçado de extinção é endêmico da região, reconhecido no Brasil e em todo mundo como ícone da conservação da natureza (FERNANDES & RAMBALDI, 2004). Tal município está a apenas 100 Km da cidade do Rio de Janeiro e a cerca de 50 km da Região dos Lagos, uma região amplamente visitada por turistas, especialmente em feriados, finais de semana e períodos de férias escolares (verão). Com isso, tais atividades poderiam contribuir não só para a sustentabilidade financeira das RPPN, mas também promover a geração de trabalho e renda para as comunidades locais, alavancando o desenvolvimento sócio-econômico do município. A consolidação de parceiros nessa busca, como já vem acontecendo, mesmo que de forma embrionária, potencializa a vocação turística, ecológica e rural, tanto das RPPN como do município de Silva Jardim, e por isso devem ser estabelecidas de forma séria e inteligente. MESQUITA & LEOPOLDINO (2002), mencionam que no sul da Bahia, onde é possível compatibilizar conservação com desenvolvimento turístico, a estratégia adotada para as RPPN pode ser direcionada 52 para prestar assessoria e orientação ao planejamento, formatação e operação de atrativos e equipamentos ecoturísticos para as reservas, pois isso ajuda a despertar os proprietários para a associação de seus empreendimentos a iniciativas de conservação. Estes autores, porém, destacam que para aumentar o interesse dos proprietários é preciso adotar estratégias diferenciadas, de acordo com o perfil dos mesmos. A realidade de Una é semelhante a de Silva Jardim, pois a maioria dos proprietários são produtores rurais, gerem suas RPPN como garantia de preservação do patrimônio natural, estando elas no entorno da Rebio de Una, reconhecida pelos remanescentes de florestas. Algumas RPPN do Brasil, de propriedade de indivíduos ou famíliares, são exemplos bem sucedidos de sustentabilidade financeira, como a RPPN Vagafogo (GO), RPPN Fazenda Duas Barras (PR) e RPPN Serra do Teimoso (BA), todas possuindo relevantes atrativos naturais com interesse turístico. Elas estabeleceram parcerias sérias com organizações não-governamentais, que ajudavam na captação de recursos e assessoria técnica (ENCONTRO PARANAENSE DE RESERVAS NATURAIS PRIVADAS, 2003). Em relação a pesquisa científica, as RPPN em questão participam apenas de projetos relacionados a conservação do micoleão-dourado, da AMLD, mesmo que dos 8 proprietários, 4 mencionem que esta atividade de manejo é muito importante para a reserva. A região em que estão inseridas as RPPN, chamada de Corredor da Serra do Mar é considerado como área prioritária para a conservação da biodiversidade, haja vista o grau de endemismo e ameaça de extinção em que as espécies da fauna e flora estão submetidas, além de apresentar relevantes áreas de Mata Atlântica (MMA/SBF, 2002; ROCHA et al., 2003). Esta informação evidencia ainda mais a necessidade de pesquisas científicas na região e nas RPPN. 53 A listagem das espécies da fauna e flora (Anexo 2 e 3) demonstra o potencial para pesquisas científicas que estas unidades de conservação apresentam, que poderiam ainda subsidiar o manejo das mesmas, como por exemplo, através de inventários dos atributos naturais da unidade de conservação. Em um contexto maior, COSTA & HERRMANN (2002) afirmam que grande parte das RPPN existentes no Brasil desenvolvem atividades de educação ambiental e de ecoturismo, e uma parcela bem menor tem sido utilizada para realização de pesquisas científicas. Essas áreas, no entanto, oferecem um potencial ilimitado para a produção de conhecimento técnico-científico em diferentes áreas do saber. Algumas destas RPPN desenvolvem pesquisas sistemáticas sobre grupos florísticos e faunísticos, contribuindo com a formação de inúmeros profissionais, mestres e doutores. Para Silva Jardim, o que se constata é o não interesse nesse tipo de atividade de manejo. Neste ponto, tanto a RPPN de forma isolada como também a Associação de Proprietários poderiam tentar efetivar parcerias com universidades e organizações não- governamentais para esse fim. O estado do Rio de Janeiro possui universidades públicas e privadas que poderiam ser parceiras das reservas. A consolidação dessas parcerias relacionadas à pesquisa científica não só trariam resultados práticos para a reserva e entorno, mas também vantagens tanto para a RPPN quanto para o pesquisador. Do ponto de vista do proprietário, a divulgação da unidade de conservação, em artigos e congressos científicos pode atrair turistas e assim estimular outras atividades, como o turismo educacional, por exemplo, além de representar o alcance máximo de um de seus objetivos de conservação. Do ponto de vista do pesquisador, além de serem menos burocráticas de se trabalhar, se comparadas às unidades de conservação públicas, as RPPN oferecem um amplo espaço de estudos relacionados à fragmentação 54 de habitas e conservação da biodiversidade (COSTA & HERRMANN, 2002). A minuta de regulamentação da categoria, que ainda este ano deve ser publicada, aponta para a necessidade de estímulo de desenvolvimento de pesquisas científicas nas RPPN, inclusive de forma independente da existência do plano de manejo - mas quando existente, as prioridades de pesquisas deverão ser indicadas no plano -, dependendo somente da autorização do proprietário. E, quando for necessária a realização de coletas, os pesquisadores deverão adotar os procedimentos exigidos na legislação pertinente. Para a realidade de Silva Jardim, vale ressaltar o mencionado por Mesquita (2004), “... a investigação científica nas RPPN deveria ser um objetivo de todos os proprietários, mesmo nos casos onde o que se quer é apenas proteger a área. Até porque, não há garantias de que somente deixar a área sem nenhum tipo de uso assegure sua preservação...” Em relação à Educação Ambiental, esta atividade é desenvolvida apenas por duas RPPN, e estas estão relacionadas a visitas de escolas do entorno as reservas, contudo, isso tem acontecido de maneira esporádica. O trabalho periódico com escolas locais e a capacitação dos funcionários das fazendas pode ajudar na reversão do quadro de problemas encontrados pelas reservas, principalmente a caça, cultura que parece estar fortemente ligada ao município de Silva Jardim, além de promover a integração com a comunidade do entorno. Como exemplo, no sul da Bahia, a RPPN Serra do Teimoso desenvolveu um Programa de Educação Ambiental com alunos do ensino fundamental de uma escola do entorno, que teve como objetivo despertar os mesmos para o ciclo biológico de espécies da Mata Atlântica. O resultado, segundo BERBERT & CARVALHO (2002), foi a mudança no conhecimento e comportamento desses 55 atores, a integração entre a reserva e a comunidade do entorno e a percepção mais acurada da conservação de ambientes naturais. No que se refere aos principais problemas encontrados pelas RPPN, foi constatado que estes estão relacionados com a falta de políticas de apoio, pressão de caça e falta de recursos financeiros. Resultados semelhantes foram encontrados, para as reservas privadas da América Latina (Mesquita, 1999) (Tabela 10). Tabela 10: Comparação entre os principais problemas existentes nas RPPN de Silva Jardim e reservas privadas na América Latina. Problemas Valor médio* Silva Jardim Valor médio* América Latina 4,1 (1º) 3,9 (2º) 3,5 (2º) 3,1 (4º) 2,9 (3º) 4,1 (1º) Falta de políticas de apoio Caça Falta de recursos financeiros *varia de 1 a 5, em escala de importância. Os valores entre parênteses referem-se à importância identificada para os problemas. Comparando-se os dados da Tabela 10, é possível constatar que os problemas existentes para as reservas privadas de Silva Jardim e da América Latina são semelhantes. Cabe salientar que ambos os levantamentos são baseados em ameaças a partir da percepção dos proprietários e não da documentação de problemas através de monitoramento, atividade que segundo MORSELLO (2001) é praticamente nula nas Unidades de Conservação brasileiras. Segundo esta mesma autora, as informações sobre os principais problemas encontrados em unidades de conservação privadas são escassas e não sistematizadas. MILANO et al. (2003), afirmam que as reivindicações dos proprietários estão voltadas para reverter a falta de apoio à 56 criação de áreas protegidas privadas, passando pelas questões de fiscalização, planejamento, implementação e manejo, até questões mais específicas, como falta de pessoal. Tais problemas assolam também as Unidades de Conservação públicas. O poder público tem fortes limitações orçamentárias para a criação e implementação dessas áreas, uma vez que na equação orçamentária o peso relativo destas ações é irrisório comparado a outras políticas públicas tais como segurança, educação e saúde ou mesmo dentro do próprio quadro ambiental (ALGER & LIMA, 2003). O principal problema citado pelos proprietários é a falta de políticas direcionadas as reservas. Daí pode-se concluir que os incentivos governamentais por meio da isenção do Imposto Territorial Rural (ITR) para a área de RPPN são, de longe, insuficientes. Segundo MESQUITA & LEOPOLDINO (2002), a isenção do ITR no sul da Bahia não tem representado de fato um estímulo à criação de RPPN, principalmente quando trata-se de propriedades consideradas de tamanho médio. E para Silva Jardim, o mesmo foi constatado. Os benefícios adquiridos ao se transformar uma área de floresta em uma reserva perpetuamente protegida por lei são incipientes e pouco animadores (THEULEN, 2003a). Os proprietários de RPPN de Silva Jardim tem lançado mão de recursos próprios para garantir o mínimo de proteção à reserva e desenvolver algumas atividades de manejo. Em muitos casos, não há sequer o mínimo de proteção, estando a reserva extremamente susceptível a vetores de pressão, sobretudo caça. Os resultados conhecimento dos mostram programas que de 6 dos incentivo 8 proprietários as RPPN, sendo têm que somente até o momento apenas dois participaram desses editais. 57 Os recursos do FNMA e da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, ambos com viés de incentivo as RPPN, são concorridos e esbarram na falta de informação e assessoria voltada para os proprietários elaborarem projetos. E, ainda, no caso do FNMA, este somente pode ser acessado se o proprietário contar com uma pessoa jurídica associada, permitindo que ele recorra a recursos públicos. Já o edital da Aliança para a Conservação da Mata Atlântica, tem possibilitado que o proprietário por si só elabore um projeto para concorrer a recursos financeiros para sua reserva, isto é, sem precisar ter algum vínculo com alguma instituição para tal. Esse não vínculo tem facilitado o processo de implementação de atividades de proteção e manejo em muitas RPPN, já que tem propiciado condições de sustentabilidade financeira para as mesmas. Além disso, vêem provando que existem projetos sérios sendo realizados nas RPPN, mesmo sem o apoio de entidades ambientalistas. O estabelecimento do ICMS Ecológico no estado do Rio de Janeiro poderia mitigar estes problemas, em médio e longo prazo, contribuindo para a captação de recursos para as reservas, pelo menos para o desenvolvimento de atividades básicas de proteção. Segundo LOUREIRO (2004), “A constituição brasileira prevê repasse de recursos ao município por meio do ICMS, e determina ainda que 75% deve ser repassado segundo um critério denominado Valor Adicional Fiscal, podendo os outros 25% serem repassados de acordo com o que dispuser a legislação estadual. Portanto, cada Estado tem definido em legislação própria um conjunto de critérios que disciplina a distribuição destes 25% a que os municípios têm direito”. Com isso o Estado do Paraná incluiu desde 1992 um critério ambiental nos porcentuais para rateio do ICMS a que os municípios têm direito (LOUREIRO, 2004). 58 O repasse de recursos oriundos do ICMS para as RPPN, no Estado do Paraná, tem contribuído, sobremaneira, para o desenvolvimento de atividades de manejo nas reservas, favorecendo também sua sustentabilidade financeira. Para se ter uma idéia, LOUREIRO (2004), relata que um município do estado do Paraná chegou a receber R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), por possuir RPPN dentre seus domínios. No Rio de Janeiro, essa proposta de Lei, segundo LOUREIRO (2003), de autoria conjunta dos Deputados Carlos Minc e Alice Tamborindeguy, já chegou a entrar em regime de urgência, contudo, não há previsão de consolidação deste instrumento. LOUREIRO (2003) afirma ainda que existe a necessidade de mobilização para que a referida lei seja aprovada, em especial por parte dos municípios beneficiários potenciais e que isso caberia, sobretudo, ao Instituto Estadual de Florestas posto que o ICMS Ecológico em muito facilitaria o exercício da política pública de conservação rumo a construção do Sistema Estadual de Unidades de Conservação. Dentre os que este autor cita como municípios potencialmente beneficiários do ICMS Ecológico no Rio de Janeiro é possível incluir Silva Jardim, que por sua vez apresenta em seus domínios as RPPN e outras áreas naturais protegidas, como é o caso do Parque Estadual dos Três Picos, a Reserva Biológica de Poço das Antas e a Área de Proteção Ambiental do Rio São João. Por isso, talvez fosse interessante que a Prefeitura Municipal de Silva Jardim encampasse, junto com outros municípios da região, o processo de pressão para aprovação da referida lei. As RPPN de Silva Jardim podem vir ainda a ser beneficiar da compensação por proteção de áreas de produção de água, já que protegem alguns dos tributários do Rio São João, principal drenagem que abastece a região dos lagos. 59 A Lei 9.985/2000, através de seus artigos 47 e 48, dispõe “que os órgãos ou empresas, público ou privadas, responsáveis pelo abastecimento de água ou pela geração e distribuição de energia que faça uso de recursos hídricos, ou seja, beneficiário da proteção proporcionada pela RPPN, contribua financeiramente para sua proteção e implementação”. O novo regulamento da categoria provavelmente também trará esta disposição. Desta maneira, o envolvimento dos proprietários junto ao Comitê de Bacias Hidrográficas do Rio São João, por meio da Associação Patrimônio Natural, poderia catalisar este processo. A região em que o município de Silva Jardim está localizado é tida com “berço das águas da Região dos Lagos”, caracterizada por turismo intenso no verão, e por isso apresenta demanda grande por água. Como mencionado por MESQUITA (2004), o conceito de usuáriopagador tem sido difundido pelos comitês de bacias hidrográficas em diversas partes do Brasil. Mas ressalta que se não houver a implementação deste conceito, de forma concreta, em ações de conservação e recuperação de mananciais e florestas que os protegem, o mesmo terá pouca eficácia. Desta maneira, se os proprietários de Silva Jardim estão gerando benefícios para o bem comum por meio de sua atitude de criar uma unidade de conservação particular, em caráter perpétuo, destaca-se, porque não proporcionar sua viabilidade em logo prazo. Essa é uma discussão que deve ser amadurecida pelos proprietários de RPPN de Silva Jardim junto com a APN e CNRPPN, e depois dentro do Comitê de Bacias do Rio São João. O problema pressão de caça, segundo os proprietários, ostenta a segunda posição em grau de importância (Tabela 8). Isso, por sua vez, pode estar relacionado ao fato das RPPN de Silva Jardim estarem contíguas ao Corredor de Biodiversidade da Serra do Mar, onde ainda se encontra um contínuo remanescente da 60 floresta atlântica do Rio de Janeiro, e onde há uma expressiva presença da fauna de médio e grande porte (ver anexo 2 e 3). Os caçadores, segundo os proprietários provêm das comunidades do entorno e dos municípios vizinhos. Em algumas das reservas estudadas existe suspeita de caça até mesmo pelos próprios funcionários. Isto é, caso essa última afirmativa fosse de fato constatada, sugeriria que mesmo que a reserva possuísse um planejamento sistemático, provavelmente, a perda de biodiversidade ainda estaria ocorrendo na área. A remoção de fauna pela caça é apontada por Morsello (2001, apud Ibama, 1997) como uma das principais ameaças às unidades de conservação públicas, porém estas estão baseadas, como no caso das RPPN de Silvas Jardim, na percepção dos chefes das unidades. A mesma autora ressalta, porém, que os níveis com que estas atividades têm ocorrido no Brasil são desconhecidos, mas sabe-se que a fiscalização existente não consegue evitá-la. Este problema, de fato, merece atenção especial, pois diferentemente dos outros dois maiores problemas mencionados pelos proprietários para as RPPN de Silva Jardim – falta de políticas de apoio e falta de recursos financeiros -, afeta de forma direta o patrimônio natural de Silva Jardim. A não elaboração e encaminhamento ao IBAMA do relatório anual de situação das RPPN pelos proprietários, uma exigência prevista no artigo 8º do Decreto 1.922/1996, torna a real magnitude deste tipo de ameaça mais obscura para o Ibama, o que dificulta o direcionamento de possíveis ações inibitórias. A existência da Reserva Biológica de Poço das Antas, gerida por este órgão, tem contribuído junto a algumas das RPPN na fiscalização, porém sem muito êxito, já que a própria Rebio sofre da mesma ameaça. Vreugdenhil (2004), apud BRUNER et al. (2001), numa análise sobre o sucesso das áreas protegidas de todo o mundo, relata que 61 foi constatado uma correlação significativa entre o nível de repressão das atividades ilegais nestas áreas com o sucesso das mesmas. Uma sugestão, para que os principais problemas encontrados pelas RPPN pudessem ser mitigados, ou até mesmo sanados, talvez fosse a criação de um conselho informal da reserva, uma espécie de “amigos da RPPN”, que funcionaria através de reuniões onde tarefas fossem direcionadas aos atores presentes, de acordo com seus conhecimentos técnicos, científicos ou até mesmo políticos, na busca de soluções para os problemas. Tal conselho poderia não somente servir a uma RPPN, mais talvez ao conjunto delas. Alguns atores locais podem ser citados para esse fim, tais como: Associação Patrimônio Natural, Ibama (Rebio Poço das Antas, Rebio União e Gerex-RJ), AMLD, Prefeitura Municipal de Silva Jardim, através da Secretaria de Meio Ambiente e de Turismo, Universidades (UFRuralRJ, UENF, UFRJ, UFF, UERJ, além de universidades particulares), Associações comunitárias, dentre outros. No entanto, assim como na criação da RPPN, esta decisão cabe ao interesse e aos objetivos de cada um dos proprietários, ou de um grupo deles, capitaneados pela APN. Ao (2003), referir-se menciona à que articulação a tendência dos é proprietários, eles se Theulen tornarem mais organizados em nível regional. Porém, é necessário que haja uma postura mais madura dos mesmos, principalmente das lideranças, para que se estabeleça um processo de articulação mais eficiente e produtivo, conseguindo realmente uma posição mais eficaz para os problemas encontrados junto às áreas. E isso tem de fato se consolidado, e como prova máxima a RPPN será a primeira categoria de unidade de conservação a ter seu decreto de regulamentação. Mas outros indicadores de maturidade podem ser destacados para o movimento RPPNista, como a elaboração do roteiro metodológico, a realização do II Congresso Brasileiro de RPPN – e neste evento 62 grandes avanços foram notoriamente dados, como por exemplo o lançamento de 6 publicações sobre a temática -, e até mesmo a postura do Ibama e MMA em relação a essa categoria de Unidade de Conservação. Numa análise das atividades desenvolvidas na propriedade, os resultados demonstraram que as atividades com maior freqüência estão relacionadas ao lazer, agricultura, pecuária e, ainda, reflorestamento. Estas atividades, por sua vez, são consideradas compatíveis com a existência da RPPN, desde que planejadas de forma sustentável. Segundo Schaeffer & Prochow (2002), o proprietário rural precisa usar de muita criatividade e empenho para sobreviver no meio rural. A diversificação da produção agropecuária e o respeito pelo meio ambiente são os pilares da sustentabilidade econômica e ambiental da propriedade. As figuras 11 e 12 ilustram como pode ser viável diversificar o uso do solo na presença de uma RPPN na propriedade, isto é, conservar produzindo, produzir conservando. 63 Figura 11: exemplo de compatibilidade entre atividades produtivas e existência de Reservas Particulares do Patrimônio Natural na propriedade rural, segundo SHAEFFE & PROCHNOW(2002). 64 Figura 12: exemplo de compatibilidade entre atividades produtivas e existência de Reservas Particulares do Patrimônio Natural na propriedade rural, segundo SHAEFFE & PROCHNOW(2002). Este aspecto é extremamente relevante principalmente quando a RPPN não gera nenhuma receita, e esta é a realidade das RPPN de Silva Jardim. Por não gerarem renda, todas as atividades básicas de manejo da RPPN, via de regra, são custeadas pelo “bolso do dono”, como por exemplo o cercamento da área, ou então pelas 65 atividades produtivas proprietários desenvolvidas afirmaram ter uma na receita fazenda. na Somente propriedade 2 que custeie todas as despesas com a fazenda e RPPN. Outras cinco propriedades conseguem subsidiar apenas em 50% as despesas com a RPPN e a própria fazenda. Uma vez que as atenções dos proprietários de RPPN estão voltadas, sobretudo, para a produção agrícola, fomentar alternativas agrícolas sustentáveis deve ser uma diretriz a ser levada a cabo, conciliando assim conservação a produção, conforme mencionam MESQUITA & LEOPOLDINO (2002). Estes autores destacam o exemplo da Cooperativa de Produtores Orgânicos do Sul da Bahia (CABRUCA), entidade que tem sido um dos principais alvos dessa estratégia, juntamente com o IESB. A Associação Mico-Leão-Dourado tem desenvolvido na região de Silva Jardim e Casimiro de Abreu, no entorno da Reserva Biológica de Poço das Antas, atividades que incentivam o uso da agricultura familiar, através de sistemas agroflorestais e práticas agroecológicas para produção orgânica de alimentos, produção de mudas nativas, frutíferas, principalmente visando a conservação dos fragmentos que estejam nos domínios dos assentamentos de reforma agrária (Fernandes et al., 2002). A prática da extensão ambiental pode também ser exercida junto aos proprietários das fazendas que possuem RPPN. Além disto, o Sindicato Rural de Silva Jardim poderia desenvolver junto aos seus despertando-os associados para responsabilidades, o que mas um é trabalho uma também RPPN, como este, seus não benefícios sensibilizando-os só e para o unidades de desenvolvimento de práticas agropecuárias sustentáveis. Quanto à interação entre as RPPN e as conservação públicas existentes em Silva Jardim (Rebio Poço das Antas e APA do Rio São João) constatou-se que mesmo que haja 66 algum tipo de interação entre essas áreas, esta ainda é expressivamente incipiente. Da mesma maneira pode-se extrapolar para a interação entre as RPPN. O papel das RPPN, ao lado das Reservas Legais e Áreas de Preservação Permanente, é central na composição de zonas tampão de unidades de conservação e no estabelecimento de corredores ecológicos entre essas e fragmentos importantes (ALGER & LIMA, 2004). Desta maneira, integrar essas unidades de conservação privadas ao processo de gestão das unidades de conservação públicas é tão importante quanto necessário. Com isso a RPPN poderiam integrar o conselho gestor da Reserva Biológica Poço das Antas, bem como o Conselho gestor da APA do Rio São João. Essa iniciativa, todavia, certamente não depende somente de um convite aos proprietários, mas também do interesse por parte destes em se engajarem neste processo de gestão participativa do mosaico de UC localizadas no município. Quanto à integração entre as RPPN de Silva Jardim, ressaltase, novamente, a sugestão de criação de um conselho, por RPPN ou em conjunto, na tentativa de favorecimento da troca de experiências entre as RPPN, e entre essas e as unidades de conservação públicas do entorno. Em relação aos resultados de êxito apresentados, quais sejam, 50% das RPPN objeto de estudo têm obtido êxito médio e 50% êxito alto, pergunta-se: como as RPPN, desprovida de qualquer instrumento de planejamento que sistematize as ações de proteção e manejo, apresentam ainda assim êxito no cumprimento de seus objetivos? Antes de tudo, deve-se salientar que tais resultados foram obtidos de acordo com a percepção e respostas dos proprietários e não com base em avaliações de campo. Desta maneira, essa percepção não está baseada, por exemplo, em estudos que comprovem que os ecossistemas protegidos pelas RPPN estão ou não perdendo 67 biodiversidade ou, ainda, no monitoramento de uma determinada atividade. Pois como foi visto, a pesquisa científica ainda não é objetivo de manejo levado a cabo pelos proprietários das RPPN de Silva Jardim, tampouco o monitoramento sistemático das atividades de manejo. A explicação, por sua vez, está no fato que tais unidades de conservação foram criadas, como já foi visto, sobretudo por motivações conservacionistas, tais como: conservar a diversidade biológica, proteger espécies ameaçadas de extinção, proteger amostras conservar da Mata a Atlântica, paisagem proteger natural; mananciais esses objetivos, hídricos e segundo a percepção dos proprietários, na sua grande maioria leigos na ciência da biologia da conservação, têm sido alcançados. Porém, a ausência de monitoramento do ecossistema (flora, fauna e impactos negativos), confere aos proprietários a sensação de proteção do ecossistema e ausência de uso direto, porém ela pode ser irreal, como mencionado por PRIMARK & RODRIGUES (2001). Assim posto, estudos que visem o inventário biológico da área aliado ao monitoramento contínuo irão possivelmente comprovar se a biodiversidade existente nas RPPN está sendo, de fato, salvaguardada. Da mesma forma, para a proteção de mananciais hídricos, proteção do habitat do mico-leão-dourado e conservação da paisagem natural. Mesmo diante deste cenário de incertezas quanto a viabilidade ecológica das RPPN em longo prazo, essas reservas têm uma parcela de contribuição na qualidade de vida local e de toda a bacia hidrográfica. O município de Silva Jardim foi em passado recente considerado pólo pecuário do estado do Rio de Janeiro (PAULO, comunicação pessoal), onde as paisagens com lavouras de cítricos e pastos predominaram. 68 Naquela ocasião, a sensibilidade dos produtores rurais para a importância de conservação da natureza era desconsiderada, em função da demanda da produção agropecuária. Nos últimos 10 anos, o que se percebe é o início da reversão desta realidade, sendo que, atualmente, Silva Jardim desponta como a “capital” brasileira das RPPN. As RPPN têm contribuído para o aumento das expectativas quanto à viabilidade ecológica da população de mico-leão-dourado, através da adição de mais 1.000 ha protegido por lei ao habitat da espécie. Estas unidades de conservação têm ainda conservado fragmentos de Mata Atlântica que contribuem para a geração de serviços ambientais, nos moldes dos apresentados por TONHASCA Jr.(2004): a) produção de água; b)regulação micro-climática na região; c) proteção do solo; d) controle biológico de pragas; e) recreação (ecoturismo, turismo rural, atividades ao ar livre); f) controle de erosão; g) preservação de polinizadores vitais para reprodução de plantas; h) fonte de material genético; i) armazenamento de água na bacia hidrográfica; j) regulação de gases atmosféricos poluentes; e k) agregação de valor cultural a paisagem (estético, artístico, científico e espiritual). Esses abstratos. benefícios Eles são são de tão valiosos difícil quanto mensuração e muitas vezes acabam sendo despercebidos pela sociedade. Talvez os moradores à jusante das RPPN de Silva Jardim, no contexto da Bacia hidrográfica do São João, como aqueles que moram na Região dos Lagos, ou visitam-na em finais de semana e feriados na procura de lazer, não entendam o quão importante é o papel das RPPN, que são hoje remanescentes florestais protegidos por Lei, ao invés de terem sido transformados em pastagens ou lavouras. O mesmo acontece com as comunidades do entorno das RPPN. 69 A valoração financeira da geração desses benefícios tem sido praticada por especialistas no mundo todo, assim como feito por TONHASCA (2004), e talvez isso contribua para despertar a sociedade - já que se começa a falar em valores financeiros - de que pequenas contribuições (como a criação de RPPN de apenas 1 ha) são importantes para o alcance de um objetivo maior, o de manter os serviços ambientais das florestas. No contexto de uma bacia hidrográfica, ações que venham da sociedade civil e não somente do Estado, como a criação de uma RPPN, averbação da Reserva Legal e respeito às Áreas de Preservação Permanente, mesmo que isoladas, certamente geram produtos ambientais que melhoram a qualidade de vida das pessoas. Estes valores são ainda maiores em ambiente de Mata Atlântica, amplamente fragmentado. Iniciativas como estas contribuem com os esforços públicos na manutenção do patrimônio natural. Diante da falta de clareza da sociedade acerca dos benefícios tangíveis e abstratos gerados pela existência das RPPN de Silva Jardim e, ainda, pelo fato da maioria dessas unidades de conservação não lançarem mão de planejamento sistemático, muitas são rotuladas como “reservas de papel”, principalmente quando não desenvolvem atividades explícitas de proteção e manejo. Mas a verdade é que essas reservas, uma vez criadas, são perpétuas, e desta maneira contribuem para dirimir dúvidas sobre possíveis más intenções futuras, pois a lei perpetua a manutenção das paisagens florestais do município de Silva Jardim nestas áreas. Desta forma a iniciativa privada está contribuindo de forma prática a reverter os menos de 8% de Mata Atlântica remanescentes no Brasil e os 19,9% no estado do Rio de Janeiro (FUNDAÇÃO CIDE, 2000). Em Silva apresentado um Jardim, fim em o discurso si mesmo, conservacionista pelo contrário, não tem tem se consolidado em práticas e exemplos concretos, haja vista as 10 70 RPPN criadas em 10 anos, além das 6 em processo de reconhecimento no IBAMA. OS problemas existem e estão em vias de conhecimento para o devido equacionamento. Mesmo assim, os proprietários encontram-se satisfeitos com seu papel de conservacionistas, querendo deixar legados para as sociedades futuras. Por fim, cabe salientar o mencionado por THEULEN (2003b): ”não cabe a ninguém convencer outro na criação de uma RPPN. O processo deve ser de orientação, com todos os esclarecimentos possíveis, todos os prós e contras que envolvem a questão. O proprietário não deve ter pressa em criar uma RPPN, ele deve ter certeza, pois, se isso não ficar claro, a probabilidade de problemas futuros são enormes”. 8. CONCLUSÕES - As RPPN localizadas no município de Silva Jardim são responsáveis pela proteção de importantes fragmentos de Mata Atlântica, contribuindo não só para a proteção de 1008,67 hectares de habitat do mico-leão-dourado, mas também para a prestação de uma série de serviços ambientais, tão abstratos quanto valiosos para as comunidades vizinhas, tais como proteção do solo, controle de erosão, bem-estar e qualidade de vida. - Embora o município de Silva Jardim esteja entre os de maior número de RPPN no Brasil, os resultados deste estudo apontam para o fato de que todas as reservas não têm sido manejadas como unidades de conservação em si, mas sim como propriedades rurais com baixa intensidade de uso, haja vista a ausência de planejamento sistemático; 71 - O baixo investimento, em recursos, mas sobretudo em tempo e dedicação, dos proprietários destas reservas em ações de educação ambiental, planejamento e estratégias de conservação parece estar, via de regra, não só relacionado à falta de apoio e recursos financeiros, mas também à falta de esclarecimentos dos proprietários sobre suas responsabilidades enquanto proprietários e gestores de uma unidade de conservação. das A proteção em terras privadas no município de Silva por meio Reservas Particulares do Patrimônio Natural tem se consolidado por motivações conservacionistas, isto é, na busca da conservação do patrimônio natural; - Os principais problemas estão relacionados à falta de apoio, pressão de caça e falta de recursos financeiros; sendo que este segundo apresenta impacto direto sobre a biodiversidade da região; - As RPPN em questão não desenvolvem atividades de Educação Ambiental, Pesquisa Científica e Visitação com fins recreativos, aspectos que não se contrapõem aos objetivos da categoria dentro do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9.985/00). Contudo, as RPPN não possuem plano de manejo e tampouco encaminham relatório anual ao Ibama, o que vai de contra ao disposto pela referida Lei. - A Associação-Mico-Leão-Dourado, a Associação Patrimônio Natural e a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Silva Jardim foram identificadas como baluarte do processo de criação de RPPN no município. 72 9.RECOMENDAÇÕES - Seria interessante que esforços por parte da Associação Mico-Leão-Dourado, da Associação Patrimônio Natural e da Prefeitura de Silva Jardim, através de sua Secretaria de Meio Ambiente, fossem direcionados as RPPN, para capacitação de seus proprietários; - despertar dos proprietários de RPPN de Silva Jardim para a busca de parcerias é crucial, para viabilizar pelo menos as atividades básicas de manejo em suas unidades de conservação; Essas mesmas entidades devem agora direcionar suas ações não somente para a criação de novas RPPN no município, mas também para o apoio ao seu planejamento, e implementação de atividades básicas de proteção e manejo das mesmas. 73 10. REFERÊNCIAS ALDERMAN, C. L. The economics and the role of privately-owned lands used for nature tourism, education and conservation. In: Munasinghe, M; McNeely, J. eds. Protected areas, economic and policy: linking conservation and sustainable development. World Bank / IUCN, 1994. 1994. p.273-317. ALGER, K.; LIMA,A.;Políticas Públicas e a Fragmentação de ecossistemas. In: CAUSAS E EFEITOS SOBRE A BIODIVERSIDADE E RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS/Denise Marçal Rambaldi, Daniela América Suarez de Oliveira (Orgs). Brasília: MMA/SBF, 2003. 510p. ASSOCIAÇÃO MICO-LEÃO-DOURADO. Disponível <http://www.micoleao.org.br>. Acesso em: 12/01/2004. em: AZEVEDO, R.F. Aspecto jurídico das RPPNs-Legislação vigente, direitos e deveres dos proprietários de RPPNs. In: ENCONTRO PARANAENSE DE RESERVAS NATURAIS PRIVADAS. Anais...Paraná Associação Paranaense de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural. 2003.p. 7-9. BERBET, H. 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Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1997. 658p. 80 ANEXO 01 - Questionário UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE FLORESTAS - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS AMBIENTAIS LABORATÓRIO DE MANEJO DE BACIAS HIDROGRÁFICAS PERFIL DE MANEJO RESERVAS PARTICULARES DO PATRIMÔNIO NATURAL DE SILVA JARDIM, RIO DE JANEIRO, BRASIL. 1.0 IDENTIFICAÇÃO 1.1 Nome da reserva: _______________________________________________________ 1.2 Localização: ___________________________________________________________ Telefone:_____________ Fax:________________ E-mail:____________________ 1.3 Tamanho da RPPN_________________ (em ha) 1.4 Tamanho da propriedade _______________(em ha) 1.5 Condição do informante: Nome: _________________________________________ Proprietário Administrador Outro Especifique___________________________ 1.6 A RPPN é de propriedade de uma: Pessoa Física Família 2.0 OBJETIVOS 2.1 A RPPN foi criada no ano de ____________ 2.2 A RPPN é ou já foi beneficiada por algum programa ou projeto? Sim Não No caso de que sua resposta seja “Sim”, indique o nome e a instituição responsável: ____________________________________________________________________ 2.3 Marque qual(is) das seguintes atividades são realizadas na propriedade: Agricultura Extração de madeira para consumo próprio Pecuária Colheita de produtos não-madeireiros Extração de lenha Extração de madeira para comercialização Pesquisas Turismo de natureza (ecoturismo) Sistema agroflorestais Educação Ambiental Turismo rural Lazer 81 Reflorestamento Outros Especifique___________________ 2.4 De 1 a 5, classifique os objetivos abaixo de acordo com a importância que cada um teve para a criação da RPPN: OBJETIVOS Conservar a diversidade biológica Proteger espécies ameaçadas de extinção Abrir a área para realização de pesquisas científicas Conservar amostras da Mata Atlântica Proteger mananciais hídricos Conservar a paisagem natural Realizar reflorestamento com espécies nativas Obter isenção de impostos Garantir abastecimento de água Promover desenvolvimento turístico Aumentar o valor da terra Proteger espécies que servem como inimigos naturais de pragas Sem importância Pouco importante Média importância Importante Muito importante 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Continua... 82 Continuação... OBJETIVOS Sem importância Pouco importante Média importância Importante Muito importante 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 Ter acesso à doações para projetos ambientais Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local Servir de exemplo para a comunidade local Proteger a terra de ocupações e invasões Promover a Educação Ambiental Impedir expansão urbana e/ou obras de infraestrutura Satisfazer um desejo pessoal ou familiar Impedir caça e extração ilegal de árvores Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental Deixar patrimônio natural protegido para os herdeiros Proteger lugares "sagrados" ou especiais 3.0 CARACTERIZAÇÃO 3.1 Cite as espécies de flora e fauna que podem ser vistas na RPPN: Flora:_________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 83 Fauna:________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3.2 Algumas da espécies de fauna citadas acima passaram a ser observadas mais freqüentemente após a criação da RPPN? Sim Não Caso Sim, cite quais: Flora: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Fauna:_______________________________________________________________ ______________________________________________________________________ 3.3 A RPPN está aberta à visitação pública? Sim, qualquer pessoa pode visitá-la Sim, mas somente para pesquisadores autorizados e grupos para educação ambiental Não, apenas os proprietários, parentes, amigos e uns poucos convidados 3.4 O relacionamento da RPPN com a Reserva Biológica Poço das Antas se caracteriza como: Apoio da RPPN à Reserva Biológica Poço das Antas __________________________ Apoio da Reserva Biológica Poço das Antas à RPPN __________________________ Apoio mútuo, uma colabora com a outra_____________________________________ Não existe relacionamento Caso a resposta seja “não existe relacionamento”, qual seria a razão para isso? ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 3.6 O relacionamento com outras RPPNs em Silva Jardim se caracteriza como: Apoio desta RPPN à outras RPPNs________________________________________ Apoio de outras RPPNs à esta RPPN_______________________________________ Cooperação mútua entre as RPPNs________________________________________ Não existe relacionamento_______________________________________________ 84 3.7 Tem conhecimento da existência da Associação do Patrimônio Natural? Sim Não Caso “sim”, que papel ela desenvolve? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3.8 Quais os benefícios gerados pela Associação do Patrimônio Natural (APN) a RPPN? Troca de experiências entre proprietários de RPPNs Relacionamento com a Reserva Biológica de Poço das Antas Relacionamento com organizações conservacionistas Relacionamento com órgãos públicos (prefeituras, IBAMA, IEF, etc.) Assistência técnica Resolução de problemas enfrentados pelas RPPNs Elaboração de projetos para apoiar a RPPN Realização de cursos e eventos Políticas conjuntas para as RPPNs Outros: _____________________________________________________________________ 3.9 Tem conhecimento da existência da Confederação Nacional das RPPNs? Sim 3.10 Não Na sua opinião, qual a importância de se ter um organização nacional de proprietários de RPPNs? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3.11 Tem conhecimento do “Programa de Incentivo às RPPNs da Mata Atlântica? Sim Não Caso sim, o que sabe sobre este programa? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________ 3.12 Indique os tipos de apoio que a reserva tem recebido e de que tipo de instituição: 85 Governo Federal ONG ONG Empresa Estrang. Nacional Estrang. Empresa. Nacional Incentivos fiscais Doações Assessoria técnica Apoio com mão-de-obra Apoio em divulgação Assessoria científica Outros (especifique) ______________________________________________________________________ 3.12 Existem estudos científicos atualmente sendo desenvolvidos na área da RPPN? Sim Não Caso sim, quantos: ______flora _____fauna ______outros Caso não, justifique:______________________________________________________ _____________________________________________________________________ 4.0 ADMINISTRAÇÃO e ESTRATÉGIAS DE MANEJO 4.1 Indique quantos funcionários tem a propriedade: __________ funcionários fixos (CLT) ___________ funcionários temporários Nos serviços relacionados a manutenção e proteção da RPPN: ______pessoas Nas atividades produtivas da propriedade _______ pessoas 4.2 Quantos funcionários nasceram ou vivem na comunidade local? _______pessoas 4.3 A RPPN conta com alguma assessoria/orientação de algum profissional de conservação (biólogo, Eng. Florestal, etc.)? 86 Sim Não Se sua resposta for “Sim”, indique em que situação. Consultor remunerado Consultor voluntário Funcionário Técnico de ONG parceira Membro da família Outros___________________________ 4.4 Das técnicas apresentadas a seguir, marque aquelas que são executadas atualmente na propriedade: Monitoramento de Impactos ambientais em geral Tratamento de esgoto e resíduos sólidos Tratamento de lixo Educação Ambiental Livro-caixa - Contabilidade Uso de fontes alternativas de energia Uso de materiais de arquitetura típica do local nas construções 4.5 A RPPN possui plano de manejo ou algum outro instrumento de manejo? Se “Sim”, a quanto tempo?_________anos Se “Não”, pretende elaborar um? Sim Não Caso não tenha e não se pretenda elaborar, explique por quê? ______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________ 4.6 A RPPN enfrenta ou já enfrentou algum problema com seus vizinhos? Limites de propriedade Invasão por animais domésticos Caça Desmatamento Queimadas Extração de lenha 87 Outros ___________________________ 4.7 Os órgãos governamentais de meio ambiente comparecem quando solicitados? sempre dificilmente nunca 4.8 Quanto tempo demorou o reconhecimento da RPPN, desde a preparação da documentação necessária até a entrega do Título? Menos de 6 meses de 6 a 12 meses 12 a 24 meses mais de 24 meses 4.9 Está satisfeito de ter criado uma Unidade de Conservação de caráter perpétuo, em ser parceiro participante do movimento conservacionista brasileiro? Sim Não Explique por quê? ______________________________________________________________________________ ______________________________________________________________ 4.10 Dentre as opções a seguir, indique as que são adotadas atualmente para divulgar a RPPN: Distribuição de folders e cartazes Divulgação na Internet (home page) Promoção de eventos na RPPN Divulgação na TV, rádio, jornais e revistas Realização de cursos Participação em eventos 5.0 ASPECTOS ECONÔMICOS 5.1 A receita total da propriedade cobre qual porcentagem das despesas com sua manutenção? 0% < 25% 25-50% 50-75% > 75% 100% 5.2 Indique o percentual da renda anual do dono que é gerado pela propriedade: 0% < 25% 25-50% 50-75% > 75% 100% 5.3 Indique qual a participação estimada de cada uma das seguintes atividades na receita total da propriedade (as que não existem na propriedade devem receber um “ZERO”) 88 Agricultura ________% Pecuária ________% Venda de madeira/lenha ________% Venda de produtos não madeireiros ________% Turismo ________% Doações ________% Pagamento de serviços ambientais ________% Outros (especificar): ________% TOTAL: 100% 6.0 EXPECTATIVAS PARA O FUTURO 6.1 Acredita que, em longo prazo, atividades relacionadas ao ecoturismo ou turismo rural poderiam pagar os custos com a manutenção e proteção da propriedade e da RPPN, inclusive financiar investimentos em infra-estrutura? Sim Não Não sabe Justifique:_____________________________________________________________ 6.2 Tem interesse em incluir sua RPPN em um roteiro turístico municipal / regional? Sim Não Explique por quê. 6.3 Deseja ampliar o tamanho da RPPN? Sim Não 6.4 Caso a resposta anterior seja positiva, como pretende fazer isso: Converter mais área da própria fazenda em RPPN Comprar mais terras para anexar à RPPN Convencer os vizinhos a criar RPPNs 6.5 Marque o grau de sucesso atingido até o momento, nos seguintes objetivos: 89 OBJETIVOS Conservar a diversidade biológica Proteger espécies ameaçadas de extinção Abrir a área para realização de pesquisas científicas Conservar amostras da Mata Atlântica Proteger mananciais hídricos Conservar a paisagem natural Realizar reflorestamento com espécies nativas Obter isenção de impostos Garantir abastecimento de água Promover desenvolvimento turístico Aumentar o valor da terra Proteger espécies que servem como inimigos naturais de pragas Ter acesso à doações para projetos ambientais Fomentar o desenvolvimento econômico da comunidade local Servir de exemplo para a comunidade local Proteger a terra de ocupações e invasões Promover a Educação Ambiental Impedir expansão urbana e/ou obras de infraestrutura Satisfazer um desejo pessoal ou familiar Impedir caça e extração ilegal de árvores Proteger a área contra empreendimentos de alto impacto ambiental Deixar patrimônio natural protegido para os herdeiros Proteger lugares "sagrados" ou especiais Fracasso absoluto Mal sucedido Sucesso relativo Bem sucedido Sucesso absoluto 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 1 2 3 4 5 1 1 2 2 3 3 4 4 5 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 90 6.6 Indique, de acordo com grau de importância, os principais problemas da RPPN: Sem imp. Pouco imp. Regular Imp. Muito imp. Caça 1 2 3 4 5 Extração ilegal de madeira 1 2 3 4 5 Invasão por animais domésticos 1 2 3 4 5 Falta de visitantes 1 2 3 4 5 Fogo 1 2 3 4 5 Invasores/Posseiros 1 2 3 4 5 Oposição da comunidade local 1 2 3 4 5 Falta de recursos financeiros 1 2 3 4 5 Falta de políticas e programas de apoio 1 2 3 4 5 Poluição 1 2 3 4 5 Disputas por limites de propriedades 1 2 3 4 5 Manutenção da Infra-estrutura 1 2 3 4 5 Desmatamento dentro da RPPN 1 2 3 4 5 Desmatamento no entorno da RPPN 1 2 3 4 5 Problemas com a Prefeitura 1 2 Extração de Palmito 1 2 3 4 Outros__________________________ 1 2 3 4 3 4 5 5 5 6.7 Tem conhecimento que a Prefeitura de Silva Jardim, junto com a Associação do Patrimônio Natural, têm um projeto para tornar Silva Jardim no município com maior número de RPPNs do Brasil? Sim Não O que acha disso? 6.7 Se tivesse a oportunidade de propor estratégias e políticas que gerasse mais benefícios para as RPPNs, que propostas apresentaria? Quais seriam suas prioridades de ação? Cite três medidas que proporia para aumentar o apoio às RPPNs? 91 ANEXO 2 - Fauna da região Lista de algumas espécies da fauna existente nas RPPN de Silva Jardim, segundo seus proprietários. * citadas pelos proprietários NOME CIENTÍFICO Panthera onca Leonthopitecus rosalia Aloatta sp. Cebus apella Callithrix sp. --Nasua nasua Didelphis marsupialis A. paca Caimam latirostris Mazama sp. Dazyprocta sp. --Hydrochoerus hydrochoeris Chaetomis subpinosus Lachesis muta --Micrurus lemniscatus Bothrops fonsecai Bothsops jararacussu Boa constricta Puma concolor Bradypus torquatus ------------Neomorphus sp. Ramphastos sp. Myrmecophaga sp. Eira bárbara Cerdocyon thous Felis sp. Procyon cancrivorus Lutra longicaudis Ramphocelus bresulius Furnarius rufus Leopardus jardalis --- espécies não identificadas NOME VULGAR * Onça pintada Mico-leão-dourado Bugio Macaco prego Mico-estrela Tatu Quati Gambá Paca Jacaré de papo amarelo Veado Cutia Lagarto Teiú Capivara Ouriço Cobra surucucu Caxinguelê Cobra coral Jararaca Jararacucú Jibóia Onça parda Preguiça Andorinha Canário da terra Gavião Maritacas Sanhaços Sabiá Jacu Tucano Tamanduá Irara Cachorro do mato Maracajá Guaxinim(mão pelada) Lontra Tiê sangue João de barro Jaguatirica 92 ANEXO 3 - Flora da região Lista de algumas espécies da flora existente nas RPPN de Silva Jardim, segundo seus proprietários. * citadas pelos proprietários NOME CIENTÍFICO Dalbergia nigra Piptadenia gonoacantha Plathymeria foliosa Copaifera Cariniana legalis Tabebuia Erythrina sp. Hymenaea courbaril NOME VULGAR * Jacarandá da bahia Pau-jacaré Vinhático Copaíba Jequitibá Caixeta Eritrina Jatobá Cedrela fissilis Cedro Trichillia hirta Carrapeta Erythrina sp. Tibouchina grandiflora Albizia polycefala Cassia sp. Ficus guaranitica Schizolobium amazonicum Vitex sp. Mulungu Quaresmeira Cabuir Canafístula Figueira mata pau Guapuruvú Tapinhoã Ocotea porosa Imbuia Rapanea ferruginea Camará Tabebuia sp. Euterpe edulis Ipê amarelo Palmito jussara Gochnatia polymorpha Garapa Melanoxylum brauna Braúna Tabebuia sp. Ipê roxo 93 ANEXO 4 - Roteiro turístico com RPPN 94