INSPER Instituto de Ensino e Pesquisa RELATÓRIO FINAL: Os Efeitos do Programa Bolsa Família sobre a Economia dos Municípios Brasileiros Paulo Henrique Landim Junior Orientador: Prof. Dr. Naercio Aquino Menezes Filho São Paulo, Agosto 2009 1 Os Efeitos do Programa Bolsa Família sobre a Economia dos Municípios Brasileiros RESUMO Os efeitos do Programa Bolsa Família sobre a pobreza e a desigualdade de renda têm sido objeto de vários estudos e pesquisas. Esta pesquisa visa avaliar os efeitos do Programa Bolsa Família sobre a economia dos municípios brasileiros, para além de seus efeitos sobre a pobreza e desigualdade. Para quantificar este efeito relacionaremos a variação no número de famílias beneficiadas pelo programa e o valor de repasse anual com o PIB per capita municipal, após controlarmos por outras características municipais. Em seguida, o PIB será analisado por setores, de maneira a obter o impacto econômico nas diferentes atividades da economia. E por fim, analisaremos o impacto do programa sobre a arrecadação municipal. Os resultados indicam a existência de impactos positivos do programa no crescimento do PIB per capita dos municípios, e este impacto provém em grande parte do aumento da atividade industrial. Palavras-Chaves: Programa Bolsa Família; economia municipal; variação do PIB; desigualdade. ABSTRACT The effects of the Brazilian conditional cash transfer program, Bolsa Família, on poverty and income inequality have been object of many recent studies. This paper aspires to verify the effects of Bolsa Família on the local economy of Brazilian municipalities, beyond its effects on poverty and inequality. To quantify this effect, we relate the variation of the number of families that benefit from the program, and the total amount granted to the municipalities through the program, with the annual per capita municipal GDP, after controlling by other municipal characteristics. Next, we analyze the different economic sectors of the municipal GDP, to obtain the program’s impact on different economic activities. Finally, we analyze the program’s impact on municipal tax collection. Results indicate the existence of positive impacts on the growth of municipal per capita GDP, which occurs, in great part, due to an increase in local industrial activities. Keywords: Bolsa Família Program; municipal economy; inequality; GDP growth. JEL Classification: R5 Contato: [email protected] ou [email protected] 2 1 – Introdução É consenso que existe grande desigualdade social e econômica no Brasil. Esta desigualdade ocorre tanto no nível de indivíduos como no nível de unidades políticas, como a municipal. Essa situação pode ser observada através de indicadores sociais, como educação e saúde, e econômicos, como PIB per capita, por exemplo. A redução desta desigualdade é essencial para o avanço do país, e, portanto não se deve medir esforços para isso. Pode-se destacar três pontos fundamentais no combate da desigualdade no país, são eles: a compreensão dos fatores que a determinam, a formulação de políticas eficientes que a minimizam e a mensuração dos resultados destas políticas. O Bolsa Família consiste em uma transferência direta de renda, com condicionalidades, que hoje beneficia 11,1 milhões de famílias em todos os municípios brasileiros. Programas deste tipo podem ser encontrados em diversos países, com destaque para a região da América Latina e o Caribe, aonde grande parte dos países possui esses programas. O fundamento dos programas de transferência condicionada está no combate à transmissão de pobreza entre gerações, através da inclusão social com foco na educação. Assim estes operam por meio da combinação de transferências de curto prazo que aumentam a renda imediata com incentivos para investimentos de longo prazo em capital humano. O Programa opera através de uma política universal, que não se individualiza de acordo com o município em questão. São muitos os estudos que apontam os efeitos positivos de programas de transferência direta de renda sobre o nível educacional e nutricional dos beneficiados. Ainda, outro grupo de estudos conclui que esses programas reduzem o atraso social e econômico dos indivíduos beneficiados. Porém, pouco se conhece a respeito dos efeitos desses programas sobre a economia dos municípios beneficiados, justificando a elaboração de estudos e análises sobre este tema. Este estudo visa exatamente averiguar a existência de impactos do Programa Bolsa Família sobre as economias municipais brasileiras. A desigualdade de renda municipal no Brasil é excessiva e indesejada e, portanto, medidas devem ser tomadas com o intuito de suavizar esta discrepância. Assim, não seria incoerente indagar se o Programa Bolsa Família é capaz de amortizar essas desigualdades, ultrapassando seus objetivos de combate à pobreza em níveis individuais. 3 Com base em uma amostra de 5.500 municípios brasileiros, testaremos se, em média, aqueles municípios mais beneficiados pelo Programa Bolsa Família apresentaram um crescimento econômico superior. Para quantificar essas informações, faremos uso do PIB per capita médio municipal como medida de desempenho econômico do município e da porcentagem da população municipal beneficiada pelo Programa Bolsa Família e do valor de repasse médio per capita municipal, como medidas de difusão do Programa. Em seguida, analisaremos o impacto do programa sobre cada setor da economia. Assim será possível desvendar o efeito do programa sobre o PIB industrial, agrícola e de serviços. Por fim, analisaremos como o Programa Bolsa Família impacta a arrecadação municipal de impostos. A seção seguinte a esta introdução apresenta uma breve revisão da literatura científica a respeito do tema. Esta revisão objetiva discutir dois pontos: analisar estudos que indicam a redução da desigualdade como um fator que induz crescimento maior e trazer esta análise para o contexto do Programa Bolsa Família, com base em estudos sobre os efeitos de programas de transferência de renda. Em seguida, a seção três analisará a metodologia científica na qual este estudo se baseia, assim como as variáveis utilizadas. Na quarta seção, os dados serão analisados, e na quinta seção os resultados das regressões serão apresentados. Na sexta seção, uma análise de custo e benefício será feita para verificar os ganhos líquidos do programa. As conclusões serão apresentadas na sétima e ultima seção. 2 – Revisão da Literatura PERSON e TABELLINI, e, ALESINA e RODRIK, (1994) examinam o processo político como um meio através do qual uma maior desigualdade levaria a um crescimento econômico menor. Eles destacam que, a partir de uma estrutura societária desigual, o eleitor mediano procurará medidas que geram redistribuições financeiras de curto prazo, ratificando tais anseios nas urnas. Esses investimentos de curto prazo levariam a um menor crescimento de longo prazo para a economia local. Em sociedades mais igualitárias esses incentivos não estariam presentes. Existe um consenso político e econômico, indicando que a redução da desigualdade no Brasil é essencial para aumentar o bem estar social brasileiro. A redução da desigualdade pode ser relacionada ao crescimento econômico como fator indutor, para além do simples aumento do 4 bem estar social. BARRETO, TEBALDI e NETO (2001) estudaram como a desigualdade econômica dos estados nordestinos afetou o crescimento do PIB per capita dessa região. A conclusão foi que a desigualdade econômica gerou externalidades negativas para a economia nordestina e consequentemente prejudicou o crescimento do PIB per capita dessa região. Uma vez demonstrada a literatura que ampara a redução da desigualdade como indutor de crescimento econômico, é conveniente partir para uma análise dos efeitos específicos de programas de transferência de renda condicionada, em particular o Bolsa Família, sobre a redução de desigualdade. SOARES, MEDEIROS e OSÓRIO (2006) concluíram que programas de transferência de renda, com destaque para o Bolsa Família, foram importantes redutores da desigualdade no Brasil nos últimos anos, especificamente ao analisar a queda do índice de Gini brasileiro. O estudo conclui que 21% da redução do índice de Gini foi causada por esses programas. RAWLINGS e RUBIO (2003) analisaram os programas de transferência de renda condicionada em cinco países, México, Nicarágua, Brasil, Jamaica e Honduras. Elas reconhecem o empenho do poder público em medir a eficiência e o verdadeiro impacto desses programas sobre as famílias beneficiadas e destacam a acumulação de capital humano nessas famílias como objetivo comum dos programas pesquisados. As autoras destacam também os efeitos positivos desses programas sobre o número de faltas escolares, a melhora da saúde preventiva e o aumento do consumo familiar dos beneficiados. CARDOSO e SOUZA (2004) concluem que o maior feito dos programas de transferência de renda está no aumento da presença escolar dos estudantes das famílias beneficiadas. Porém, em termos de redução de trabalho infantil, o efeito não é significante. Os autores especulam que as crianças beneficiadas, de dez a quinze anos, preferem combinar escola e trabalho, ao invés de deixaram totalmente de trabalhar, uma vez que os repasses não são suficientes para incentivar as famílias a abrir mão da renda do trabalho infantil. HODDINOTT, SKOUFIAS e WASHBURN (2000) estudaram detalhadamente o impacto do Progressa, um programa de transferência condicionada do governo mexicano similar ao Bolsa Família, e compararam o consumo médio de domicílios beneficiados pelo programa com domicílios não beneficiados em 1998 e 1999. Observou-se um consumo médio maior em 14,53% nos domicílios beneficiados pelo programa, e quando se analisa somente o consumo de alimentos, observa-se uma diferença positiva de 10,6%. Ainda, foi constatado que o aumento de consumo de alimentos foi maior nos domicílios beneficiados mais pobres, 13,5% no 1° percentil em comparação com o aumento de 5,1% no 4° percentil. Também foi observado um aumento de 5 7,8% na aquisição calórica das famílias beneficiadas, e um aumento de 33,1% no consumo de vestiário e calçados infantil. Mas o valor gasto com despesas médicas diminuiu em 10,6% o que pode ser explicado pelas condições do programa que exigem, das famílias, um maior acompanhamento médico das crianças. HODDINOTT, SKOUFIAS e WASHBURN (2000) especulam que os elevados valores injetados nas comunidades devem ter um impacto sobre as economias locais e sugere que novos estudos sejam desenvolvidos nessa direção. PARKER E SKOUFIAS (2000) analisaram o impacto do Progressa sobre a alocação de tempo entre trabalho e lazer. Para adultos, não se encontrou evidências de que o programa tenha alterado a alocação entre trabalho e lazer, e o tempo dedicado a atividades domésticas não remuneradas, como a agricultura familiar, também se manteve constante. Porém, o estudo indicou que o programa reduziu a participação de crianças, de ambos os sexos, no mercado de trabalho. 3 – Análise Descritiva Para atender aos objetivos desta pesquisa, são necessários dados sobre o crescimento econômico dos municípios e também sobre a difusão do Programa Bolsa Família nos municípios. Tendo isso em mente, como medida de desempenho econômico este estudo fará uso do PIB per capita municipal. Esta informação é fornecida pelo IBGE e atualmente estão disponíveis dados de 1999 a 2006. Através da mesma fonte, é possível obter o PIB setorial dos municípios, para o mesmo período, sendo estes os setores: industrial, agrícola e de serviços. Por fim, a arrecadação anual e municipal de impostos também será fornecida pelo IBGE. Em relação à difusão do Programa Bolsa Família nos municípios, duas informações distintas serão usadas: a porcentagem de habitantes do município que é beneficiada pelo programa e o valor anual per capita repassado ao município através do Programa. O valor de repasse anual para cada município é divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Para chegar a um valor per capita, basta dividir este valor pela população do município. Já a porcentagem de habitantes beneficiada pelo PBF não está disponível e, portanto, para obter este dado é necessário fazer uso de outras informações e alguns cálculos. O MDS disponibiliza o número de famílias beneficiadas em cada município. Multiplicando este número por 4,1, o número médio de componentes das famílias beneficiadas pelo programa, segundo o MDS, obtêm-se o número estimado de habitantes beneficiados pelo 6 programa em cada município. Dividindo este número pela população de cada município, que é divulgada pelo IBGE, chegaremos à porcentagem de habitantes beneficiados pelo programa em cada município. Esses dados estão disponíveis de 2003 a 2006. Com a união dessas variáveis, as de mensuração econômica e as que quantificam a difusão do programa em cada município, será possível relacionar o efeito do programa e as economias municipais, chegando assim ao objetivo final desta pesquisa. Este estudo trabalhará com um universo de 5500 municípios, e o período analisado será de 2004 a 2006, sendo que os dados de 2003 não serão utilizados, pois o programa passou a existir apenas no mês de Outubro deste ano. Atualmente existem 5.564 municípios no Brasil, incluindo o distrito federal. Como este estudo consiste em uma análise de painel, apenas os municípios para os quais todos os dados estiverem disponíveis para todo o período em análise poderão fazer parte deste estudo. Sendo assim, 64 municípios foram excluídos deste estudo, porém acredita-se que esta exclusão não afetará os resultados, já que este número é bem pequeno se comparado ao universo total de municípios no Brasil. O PIB per capita de um município pode ser afetado por diversos fatores, como tamanho populacional, escolaridade e nível de pobreza, entre outros. Como o interesse deste estudo é analisar apenas o impacto do Programa Bolsa Família sobre o PIB per capita, far-se-á uso de variáveis de controle, que minimizam os efeitos dessas outras informações sobre o resultado final deste estudo. Assim as seguintes variáveis farão parte do conjunto de controle, aqui denominado conjunto Z: IDH, população economicamente ativa e duas variáveis ligadas ao nível de escolaridade, a taxa de analfabetismo e o número médio de anos de estudo. Todas as variáveis mencionadas acima são disponibilizadas pelo IPEAData e referentes ao ano de 2000. A análise dos dados confirma a constatação inicial de que existe uma grande desigualdade entre os municípios brasileiros, tanto em termos econômicos como sociais. Analisando as médias do PIB per capita dos municípios de cada, percebe-se grande diversidade regional. Os municípios de estados como Rio de Janeiro e Mato Grosso possuem, em média um PIB per capita bastante superior àquele observado para os municípios de estados como Piauí e Pernambuco (figura 1). O Distrito Federal se destaca com o maior PIB per capita médio do país. Nota-se também que a taxa de crescimento dos PIBs municipais variou bastante, sendo possível inclusive observar crescimento médio negativo, caso dos municípios de Mato Grosso. 7 Podemos ainda analisar a distribuição dos benefícios do Programa Bolsa Família. Os dados evidenciam um importante destaque para a região Nordeste do Brasil, sendo que os municípios que lá se encontram são os que possuem, em média, porcentagens mais altas de suas respectivas populações beneficiadas. O contrário pode ser dito para os municípios que se encontram nos estados mais economicamente desenvolvidos, como Rio de Janeiro e São Paulo. Estes possuem, em média, as porcentagens mais baixas de suas respectivas populações beneficiadas (figura 2). As conclusões são parecidas quando se analisa o repasse anual per capita médio dos mesmos municípios (figura 3). Também é possível observar um grande crescimento na porcentagem média da população beneficiada, praticamente em todos os estados. Esse crescimento demonstra a agressiva expansão do programa ao longo do período analisado, conclusão confirmada pela análise do repasse anual per capita médio. Figura 1 – Média do PIB per capita dos municípios de cada estado 40.000 35.000 30.000 25.000 2004 20.000 2005 15.000 2006 10.000 5.000 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Fonte: MDS - Elaboração própria 8 Figura 2 – Porcentagem da população estadual que é beneficiada pelo PBF 0,70 0,60 0,50 0,40 2004 0,30 2005 2006 0,20 0,10 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Fonte: MDS - Elaboração própria Figura 3 – Repasse anual per capita médio dos municípios de cada estado 120 100 80 Reais 2004 60 2005 40 2006 20 AC AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RR RS SC SE SP TO Fonte: MDS - Elaboração própria Para averiguar a relação entre o PIB municipal e as variáveis do Bolsa Família, foram construidos gráficos de dispersão (Figuras 4 e 5), através dos quais é possível comparar o comportamento do PIB com o da porcentagem da população beneficiada e o do valor de repasse per capita, todas em primeiras diferenças. Analisou-s o período de 2003 a 2006, durante o qual foi possível observar uma relação positva entre as variáveis em questão. Essa relação é evidenciada pela reta de tendência, que apresenta coeficiente positivo. Essa conclusão é consistente com ambas as variáveis analisadas. Ao final deste estudo a relação entre o PIB dos municípios e as variáveis do Bolsa Família ficará mais clara. 9 Figura 4 – Variação do PIB per capita e da porcentagem da população beneficiada 2003 a 2006 Fonte: MDS - Elaboração própria Figura 5 – Variação do PIB per capita e do repasse anual per capita 2003 a 2006 Fonte: MDS - Elaboração própria Para aprofundar esta análise, destacamos os municípios onde mais de 50% da população é beneficiada pelo Programa Bolsa Família. Esses municípios foram comparados com outros, onde uma parcela menor da população é beneficiada. Para isso foram criados e analisados os dois grupos de municípios: aqueles em que mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF (grupo 1) e aqueles em que menos de 50% da população é beneficiada pelo PBF (grupo 2). 10 Os dados permitem caracterizar os municípios mais beneficiados pelo Programa Bolsa Família. Aparentemente, os municípios mais beneficiados são aqueles menos desenvolvidos socialmente e economicamente. Podemos analisar as variáveis educacionais, por exemplo. Os municípios mais beneficiados possuem, em média, a metade do número de anos médio de estudos, e o dobro da taxa de analfabetismo, que aqueles menos beneficiados pelo Programa (tabela 1). Em termos econômicos, os municípios que são mais beneficiados possuem PIB per capita, em média, três vezes menor que os municípios menos beneficiados (tabela 2). Estes dados estão em conformidade com os objetivos do Programa de atingir as famílias menos desenvolvidas socialmente e economicamente. Os dados demonstram que o Programa Bolsa Família está atingindo, pelo menos em parte, seu público alvo. Estas informações serão úteis para analisar os resultados futuros deste estudo. Tabela 1- Características sociais dos grupos de municípios Grupo Tamanho amostral IDH Taxa de Anos médio analfabetismo de estudo População PEA Repasse per % Média da capita médio pop. beneficiada 1 712 0,60 37,41 2,65 12.277 38% R$ 113,68 61,89% 2 4789 0,71 19,43 4,25 33.624 44% R$ 43,04 26,89% Fonte: IPEAData – Elaboração Própria Nota: Grupo 1: Municípios em que mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF; Grupo 2: Municípios em que menos de 50% da população é beneficiada pelo PBF. Tabela 2- Características econômicas dos grupos de municípios PIB Médio PIB Per Capita médio Grupo 2004 2005 2006 2004 2005 2006 1 37.309 41.637 46.840 2.753 2.753 3.429 2 466.853 516.231 569.541 8.816 9.194 9.865 Fonte: IBGE – Elaboração Própria. Em R$ 1.000 Nota: Grupo 1: Municípios em que mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF; Grupo 2: Municípios em que menos de 50% da população é beneficiada pelo PBF. Com o objetivo de analisar o impacto do PBF no crescimento dos municípios, é interessante analisar a variação do PIB desses municípios de acordo com cada um dos grupos aqui estabelecidos. Espera-se que o PIB dos municípios onde mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF tenha crescido mais que o PIB dos municípios onde parcelas menores da população são beneficiadas. Esta hipótese de fato se confirma, conforme demonstram os dados 11 abaixo (tabela 3). Percebe-se que, a variação média do PIB e PIB per capita foi expressivamente maior nos municípios do grupo 1, quando comparado aos municípios do grupo 2. As diferenças foram testadas, por meio de testes de média, que as indicaram como significantes. Tabela 3- Crescimento econômico dos grupos de municípios ∆ PIB Médio Grupos 1 2 ∆ PIB Per Capita médio 2006 / 2004 2006 / 2004 10.06% 10.12% 7.95% 7.04% Fonte: IBGE – Elaboração Própria Nota: Grupo 1: Municípios em que mais de 50% da população é beneficiada pelo PBF; Grupo 2: Municípios em que menos de 50% da população é beneficiada pelo PBF. Agora podemos indagar: o crescimento maior, demonstrado pelos dados acima, foi realmente proporcionado pelo Programa Bolsa Família ou foi causado por fatores externos que não foram levados em conta neste estudo? Com o uso das regressões propostas iremos testar a hipótese de que o PBF teve um efeito positivo no PIB dos municípios, e ainda, tentar quantificar este efeito, caso ele exista. 4 – Metodologia Econométrica Regressões de diferentes formas funcionais foram estimadas. Antes de demonstrar os modelos, é conveniente nomear as seguintes variáveis: Yi: PIB per capita do município i; Wi: Valor de repasse per capita ao município; Zi: Conjunto de variáveis de controle; td2: Variável binária indicando o ano de 2005; 12 td3: Variável binária indicando o ano de 2006. : Erro aleatório relacionado ao município i. Sendo assim, os modelos serão do tipo: 1) Log(Yi ) = β1 + β 2 ⋅td 2 +β 3 ⋅td 3 +β 4 ⋅( W i ) + ∑γ j ⋅ Z j, i + εi 2) ∆Log (Yi ) = β 1+ β 2⋅td 2 + β 4 ∆( W i ) + ε i 3) ∆Log (Yi ) = β 1+ β 2⋅td 2 + β 4 ⋅ (∆W i ,t −1 ) + ε i Estas são as diferentes especificações que os modelos utilizados nesta averiguação seguirão. Vale notar que 3 modelos foram especificados, sendo que a variável resposta está na forma de logaritmo natural, no primeiro, e em primeiras diferenças, nos dois seguintes. Já a variável explicativa cuja relevância se pretende medir se encontra em três especificações diferentes, são elas: 1) sua forma normal; 2) Primeiras diferenças; e 3) Primeiras diferenças defasada em um ano. Os 3 modelos acima fazem referência apenas ao valor de repasse per capita como variável explicativa, porém, esses serão replicados, para a porcentagem da população beneficiada como variável explicativa também. Sendo assim chega-se a um total de seis modelos, que serão aplicados a cada uma das variáveis resposta, o PIB per capita, os PIBs setoriais e a arrecadação municipal. É necessário ainda mencionar que os modelos serão regredidos com as variáveis binárias td2 e td3 que indicam os anos de 2005 e 2006 respectivamente. Como conseqüência, o efeito do ano de 2004 será incorporado à constante do modelo, β1. 5 – Resultados As tabelas 4 e 5 apresentam os resultados das estimações de mínimos quadrados ordinários, sendo que a primeira contém as regressões com a porcentagem da população beneficiada como variável explicativa, e a segunda o valor de repasse anual per capita. Começaremos analisando os modelos em nível, nos quais a porcentagem da população beneficiada ou o repasse anual per capita explicam, em conjunto com as variáveis de controle e binárias, o log do PIB per capita municipal. 13 Analisando a significância das variáveis, percebe-se que todas as variáveis de controle foram significantes quando regredimos o PIB em função do repasse per capita e, portanto estas contribuíram para a explicação de variações no PIB per capita. Porém, quando regredimos o PIB per capita em função da porcentagem da população beneficiada, a variável taxa de analfabetismo foi insignificante com 5% de confiança. As variáveis do Bolsa Família foram significantes em ambas as tabelas, porém seus coeficientes foram negativos. Isso levaria à conclusão que quanto maior for o repasse per capita, ou maior a porcentagem da população beneficiada, menor será o PIB do município. Sabemos que este não é o caso, pois como a seção 4 deste estudo já indicou, os municípios mais beneficiados pelo Bolsa Família são os menos desenvolvidos socialmente e economicamente, justificativa razoável para essa relação negativa. A próxima análise será em torno dos modelos em primeiras diferenças, nos quais a variação do LOG do PIB per capita será explicada pela variação da porcentagem da população beneficiada (tabela 4) ou pela variação do repasse anual per capita (tabela 5). Estas regressões não computaram variáveis de controle, pois estas não variam no tempo, mas mantiveram as dummies temporais e a constante que foram significativas e positivas em ambas as regressões. Em termos das variáveis do Bolsa Família, os resultados foram bastante diferentes dos encontrados pelo primeiro modelo, aonde as variáveis estavam em nível. Agora, ambas as variáveis explicativas apresentaram uma relação positiva e significante com o PIB per capita municipal. As últimas regressões a serem analisadas, são as que relacionam o PIB per capita com as variáveis do Bolsa Família, aplicando as primeiras diferenças, porém com um ano de defasagem. Novamente as regressões não incluíram as variáveis de controle, mas apenas as dummies temporais e a constante. A constante é significante e positiva em ambas as regressões. Em relação às variáveis do Bolsa Família, as regressões estimaram um impacto positivo em ambos os casos, porém este só foi significante no modelo explicado pela porcentagem da população beneficiada. Assim há evidências plausíveis para acreditar que o Programa Bolsa Família teve um efeito positivo no PIB per capita dos municípios durante o período em questão. É conveniente quantificar este efeito com o intuito de verificar a intensidade do impacto econômico deste Programa. Para isso, faremos uso da elasticidade, que nos demonstra a variação percentual da 14 variável dependente, dado uma variação marginal da variável explicativa. Para o modelo LogLinear, forma funcional adotada, a elasticidade é medida da seguinte maneira: O valor de repasse per capita municipal médio, em 2006 foi de R$61,97 e a porcentagem da população beneficiada média foi 36,37%, os valores são referentes ao ano de 2006. Multiplicando os valores médios das variáveis explicativas, pelos coeficientes estimados, obtém-se a variação percentual da variável dependente, ou em outras palavras, o impacto do Programa Bolsa Família sobre o PIB dos municípios. Começaremos analisando o impacto de um aumento na porcentagem da população beneficiada pelo Programa. O coeficiente desta variável foi estimado em 0, 0009, quando a variável explicativa não está defasada, levando à conclusão que, um aumento de 10% na população beneficiada pelo Programa Bolsa Família, levaria a um aumento médio de 0,33% no PIB per capita do ano seguinte. Já quando a variável explicativa está defasada o coeficiente encontrado foi 0, 0004, implicando em um aumento médio de 0,15% no PIB per capita, com um ano de atraso, dado o mesmo aumento de 10% na população beneficiada pelo programa. Para o repasse per capita anual, estima-se que, em média, o PIB per capita aumente em 0,6% dado um aumento de 10% no valor de repasse per capita anual. Quando a variável explicativa está defasada, o aumento médio no PIB per capita estimado foi novamente 0,6%, dado o mesmo aumento de 10% na população beneficiada pelo programa. A princípio, o impacto em termos percentuais pode aparentar pequeno, porém, conforme veremos n análise de custo benefício, o impacto econômico em termos absolutos é bastante grande, na casa dos Bilhões de reais. 15 Tabela 4- Efeito do Programa Bolsa Família Sobre o PIB - 1 Variáveis Independentes Porcentagem beneficiada 1 LOG (PIB) -0, 0052*** (0, 0004) ∆ (Porcentagem Beneficiada) 2 3 ∆LOG( PIB) ∆LOG(PIB) 0, 0009*** (0, 0001) 0, 0004** (0, 0001) ∆(Porcentagem Beneficiada) t-1 IDH 0, 0538*** (0, 0016) PEA 0, 0014** (0, 0005) Anos de estudo 0, 0605*** (0, 0074) Analfabetismo 0, 0017* (0, 0009) Constante Time Dummies Obs. Prob>F R² Raiz EQM 4, 5698*** (0, 1174) Sim 16, 500 0, 0000 0, 6238 0, 4480 - 0, 0607*** (0, 0021) Sim 11.000 0, 0000 0, 0524 0, 1327 0, 0649*** (0, 0019) Sim 11.000 0, 0000 0, 0499 0, 1329 Fonte: Elaboração própria. Erro-padrão robusto entre parênteses. Significância dos coeficientes: *** 1%; ** 5%; * 10%. 16 Tabela 5- Efeito do Programa Bolsa Família sobre o PIB - 2 Variáveis independentes Repasse per capita 1 LOG (PIB) -0, 0035*** (0, 0002) 2 3 ∆LOG( PIB) ∆LOG(PIB) 0, 0009*** (0, 0001) ∆ Repasse per capita 0, 0010*** (0, 0001) ∆ Repasse per capita t-1 IDH 0, 0513*** (0, 0016) PEA 0, 0017*** (0, 0005) Anos de estudo 0, 0660*** (0, 0073) Analfabetismo Constante Time Dummies Obs. Prob>F R² Raiz EQM 0, 0027*** 0, 0009 4, 8549*** (0, 1178) Sim 16. 500 0, 0000 0, 6269 0, 4462 0, 0541*** (0, 0023) Sim 11.000 0, 0000 0, 0567 0, 1324 0, 0514*** (0, 0021) Sim 11.000 0, 0000 0, 0664 0, 1318 Fonte: Elaboração própria. Erro-padrão robusto em parênteses. Significância dos coeficientes: *** 1%; ** 5%; * 10%. Com base nos resultados encontrados acima, percebe-se que o Programa Bolsa Família impacta positivamente o PIB dos municípios. Mas esta análise pode ser aprofundada verificando como o programa impacta os diferentes setores da economia municipal. Por isso regredimos os PIBs setoriais em função das duas variáveis do Bolsa Família, a porcentagem da população beneficiada (tabela 6) e o valor de repasse per capita (Tabela 7). Nessas tabelas também foi incluído o resultado da regressão da arrecadação municipal. O modelo adotado está em primeiras diferenças, e também inclui as variáveis binárias. Ao analisarmos como que o programa afeta a arrecadação municipal, percebemos um impacto positiva e significante. O resultado indica que um aumento de 10% na população beneficiada leva a um aumento médio de 1,05% na arrecadação municipal, e um aumentou de 10% no valor de repasse per capita leva a um aumento médio de 1,36% na arrecadação 17 municipal. Este resultado é interessante, pois indica que parte do dinheiro investido no programa acaba voltando para os cofres públicos, a pesar de estarmos aqui em outra esfera governamental. Com o aumento do número de municípios, fenômeno que marcou a divisão geográfica do Brasil nas ultimas décadas, muitos municípios passaram a depender de verba federal para cobrir seus gastos. Assim, a elevação da arrecadação municipal, causada pelo programa, pode ajudar alguns municípios a se tornarem independentes da união em termos fiscais. Vimos que os municípios mais beneficiados pelo programa são também os mais deficitários, em termos de desenvolvimento socioeconômico. Se esta maior arrecadação for usada para melhorar a qualidade dos serviços municipais, pode haver um impacto indireto nos índices educacionais do município, para além do que se espera obter através das condicionalidades do programa. Seguimos para a análise do impacto nos diferentes setores da economia. Ambos os modelos indicam que o setor mais impactado pelo programa é o industrial. Dado um aumento de 10% no valor de repasse per capita, espera-se que o PIB industrial aumente em 0,81%, o que indica um impacto maior que o encontrado quando analisamos o PIB municipal como um todo, sem dividir por setores de atividade. O modelo que regride o PIB industrial em função da população beneficiada também indicou que o setor mais impactado pelo Programa Bolsa Família é o industrial. O setor de serviços apresentou o segundo maior impacto médio, indicando um aumento de 0,19% neste setor do PIB, dado o aumento de 10% no valor de repasse per capita; resultado parecido foi obtido quando a variável explicativa é a porcentagem da população beneficiada. Já o impacto de um aumento na população beneficiada sobre o PIB agrícola foi insignificante quando usamos a porcentagem da população beneficiada, e negativo quando a variável explicativa é o repasse per capita. 18 Tabela 6 - Efeito do Programa Bolsa Família sobre o PIB - 3 Variáveis independentes ∆ (Porcentagem Beneficiada) Constante Time Dummies Obs. Prob>F R² Raiz EQM 1 ∆LogImpost 0, 0029*** (0, 0003) 2 ∆LogIndust 0, 0013*** (0, 0002) 3 ∆LogServ 0, 0004*** (0, 0001) 4 ∆LogAgri 0, 0000 (0, 0003) 0, 1066*** (0, 0034) Sim 11.000 0, 0000 0, 0135 0, 2155 0, 0637*** (0, 0032) Sim 11.000 0, 0000 0, 0092 0, 2107 0, 0829*** (0, 0014) Sim 11.000 0, 0000 0, 0181 0, 0880 0, 0559*** (0, 0043) Sim 10.986 0, 0000 0, 0880 0, 2697 Fonte: Elaboração própria. Erro-padrão robusto em parênteses. Significância dos coeficientes: *** 1%; ** 5%; * 10%. Tabela 7 - Efeito do Programa Bolsa Família sobre o PIB - 4 1 2 3 Variáveis independentes ∆ Repasse per capita Constante Time Dummies Obs. Prob>F R² Raiz EQM ∆LogImpostos 0, 0022*** (0, 0002) ∆LogIndust 0, 0013*** (0, 0002) ∆LogServ 0, 0003*** (0, 0001) 4 ∆LogAgri -0, 0006*** (0, 0002) 0, 0949*** (0, 0036) Sim 11.000 0, 0000 0, 0183 0, 2150 0, 0539*** (0, 0037) Sim 11.000 0, 0000 0, 0130 0, 2103 0, 0823*** (0, 0016) Sim 11.000 0, 0000 0, 0177 0, 0880 0, 0480*** (0, 0047) Sim 10.986 0, 0000 0, 0888 0, 2696 Fonte: Elaboração própria. Erro-padrão robusto em parênteses. Significância dos coeficientes: *** 1%; ** 5%; * 10%. Com o objetivo de entender esses resultados, analisamos quais são as atividades contidas em cada um dos setores. Dentro do setor industrial está contido a quantidade produzida e distribuída de energia elétrica, água, esgoto e gás. Não seria absurdo concluir que um dos caminhos através do qual o Programa Bolsa Família eleva o PIB municipal é o aumento do consumo de energia, água, esgoto e gás. Isso por que o programa atinge famílias em situação de pobreza e extrema pobreza, e conforme a renda desse público aumenta consequentemente há um aumento no consumo desses fatores. E vale lembrar que água, gás, esgoto e energia elétrica são fatores bastante ligados ao consumo de alimentos e necessidades básicas. Podemos questionar também por que o efeito sobre o setor agrícola é insignificante. Acreditamos que as famílias mais pobres, principalmente as que vivem fora das grandes cidades, já possuem acesso a produtos agrícolas de gênero alimentício. E possivelmente é a 19 própria família que provê esses produtos, para consumo próprio. Um aumento na renda levará a uma diversificação do consumo, incluindo produtos e alimentos industrializados que antes não eram consumidos. 6 – Análise de custo benefício No dia a dia, gestores públicos são confrontados com importantes decisões sobre onde alocar seus recursos. Essas decisões afetam o bem estar da sociedade gerando um impacto nas gerações atuais e futuras. Os recursos são escassos, muitas vezes implicando na desistência de um projeto, quando outro é escolhido. Assim questões do tipo: devo alocar recursos para construir uma nova escola ou um novo hospital são corriqueiras. É a intuição e o senso comum que freqüentemente guiam o gestor público nessas escolhas. No entanto, existe uma variedade de instrumentos econômicos que podem auxiliar escolhas como esta, permitindo a alocação eficiente de recursos e a maximização do bem estar social. O uso de instrumentos econômicos modernos em políticas públicas representa uma junção das ciências política e econômica, formando uma importante ferramenta de análise. Um desses instrumentos é a análise de custo benefício, que é bastante eficaz em questões de políticas públicas. Essa análise consiste em identificar todos os custos e benefícios, convertê-los em unidades monetárias, e compará-los de maneira a determinar se um investimento é desejável ou não do ponto de vista da sociedade. A análise de custo benefício não é uma técnica nova, PREST e TURVEY (1965) detalharam os diversos campos que fizeram uso desta técnica. PREST e TURVEY (1965) datam em 1844 o surgimento desse tipo de análise, a partir do trabalho desenvolvido por J. Dupuit na França, sobre a utilidade de projetos públicos. Com o objetivo de colher os frutos deste ferramental, é conveniente aplicar esta análise ao Programa Bolsa Família, verificando a eficiência da alocação de recursos para este programa. É interessante comparar os benefícios e custos do programa, analisando se estes superam aqueles. Apesar de sua simplicidade, a análise de custo e benefício deve ser bastante abrangente, levando em conta os efeitos atuais e futuros, assim como os efeitos indiretos que não atingem diretamente o alvo do programa. Analisaremos os custos e os benefícios da expansão do programa no ano de 2006, último ano deste estudo, para o qual estão disponíveis PIBs municipais. Em 2006 os repasses do 20 programa somaram R$ 7.506.214.405,00, o que representa um aumento de 32,17% em relação a 2005. Como custo desta expansão é necessário analisar todos os recursos investidos no programa neste ano, e não apenas o total de repasse. Estas informações foram disponibilizadas pelo Ministério do Desenvolvimento Social (tabela 8). Como objetivamos analisar a expansão do programa, o que interessa é quanto foi investido a mais no período. Tabela 8 - valores empenhados no Programa Bolsa Família Valor empenhado Valor Empenhado Descrição do gasto Variação 2005 2006 Repasse às famílias 5.679.225.534,00 7.506.214.405,00 1.826.988.871,00 Gestão e Administração do Programa Sistema Nacional para Identificação e Seleção de Público - Cadastro Único Total 9.810.000,00 3.021.141,00 (6.788.859,00)1 7.200.000,00 21.860.345,00 14.660.345,00 5.696.235.534,00 7.531.095.891,00 1.834.860.357,00 Fonte: MDS – Elaboração própria Para comparar com estes custos usaremos os resultados das estimações obtidas por este estudo para estimarmos os benefícios da expansão do programa. Estimou-se um aumento de 0,06% no PIB per capita para cada aumento de 1% no valor de repasse per capita. Em relação a 2005 o repasse per capita aumentou em 30,34% (tabela 9). Com base nessas informações é possível obter o benefício estimado da expansão do Programa Bolsa Família no ano de 2006. Para isso basta multiplicar 0,06 por 30,34. O valor obtido, 1,82%, é o impacto estimado do aumento de 30,34% no repasse per capita sobre o PIB dos municípios. Em 2006 o PIB brasileiro foi R$ 2.369.797.000.000 e, portanto um aumento de 1,82% neste significa um acréscimo de R$ 43.139.784.588,00. Tabela 9 – Variação do repasse per capita 2005 2006 Repasse per capita R$ 30,91 R$ 40,28 Variação 30,34% Fonte: MDS – Elaboração própria É este o benefício estimado da expansão do valor de repasse do Programa Bolsa Família em 30,34%, aumento observado em 2006. Por trás desse resultado está a premissa de que o 1 O empenho com Gestão e Administração do Programa diminuiu neste período, apesar da expansão do mesmo. Acredita-se que a diminuição do gasto decorre de um ganho de eficiência no programa. 21 efeito do programa não é decrescente e sim constante. Isso por que o impacto estimado é válido para análises marginais. Por isso também analisamos o custo e benefício de aumentar em 1% o valor de repasse per capita, não precisando assim estabelecer premissas a respeito da validade do coeficiente estimado. Um aumento de 1% no repasse per capita, e nos outros custos do programa, significaria um empenho adicional de R$ 56.962.355,34. Estimou-se um impacto de 0,06% no PIB, dado o aumento de 1% no repasse per capita, levando a um ganho real de R$ 1.321.767.561,06. Observamos que tanto no caso da análise marginal, como no caso da análise que considera a verdadeira expansão do programa, os benefícios superaram os custos significativamente. É preciso levar em conta os benefícios das condicionalidades do programa, que visam alargar a formação de capital humano através do controle da frequência escolar das crianças da família beneficiada e melhorar a saúde dos beneficiados através de um controle do calendário vacinal. Espera-se que estas condicionalidades gerem um benefício de longo prazo bastante importante, efeito não captado por essa análise que tornaria a relação custo benefício ainda mais favorável. É interessante calcular a relação custo benefício, obtida pela simples divisão do custo pelo benefício (tabela 10). Observamos que a relação custo benefício é bastante parecida para as duas análises feitas, diferindo apenas na sugerindo que os resultados obtidos pela análise da real expansão do programa são válidos. Tabela 10 – Relação custo benefício Custo da expansão do programa em 2006 Benefício da expansão do programa em 2006 Relação custo benefício Análise da real expansão do programa R$ 1.834.860.357, 00 R$ 43.139.784.588,00 0, 0425 Análise marginal (expansão de 1%) R$ 56.962.355, 34 R$ 1.321.767.561,06 0, 0431 Fonte: MDS – Elaboração própria 7 – Conclusões Com base no conjunto de informações, até aqui apresentadas, fica claro que o Programa Bolsa Família gera um impacto positivo na economia dos municípios brasileiros, por meio de um aumento real no PIB per capita desses municípios. O interessante é que na seção 4 deste documento, os dados já demonstravam indícios desse impacto, ao constatar que o crescimento dos municípios mais beneficiados foi estatisticamente maior. 22 Os resultados indicaram um aumento imediato médio de 0,6%, e um aumento defasado médio de 0,9% no PIB per capita de um município, quando ocorre um aumento de 10% no valor de repasse per capita. Estamos trabalhando com o PIB real dos municípios, excluindo, portanto, o efeito de aumentos inflacionários do mesmo. O PIB brasileiro cresceu em média 2,86% nos últimos 10 anos. Dado esta baixa taxa de crescimento, o impacto de um aumento na porcentagem da população beneficiada pelo Programa Bolsa Família sobre o PIB dos municípios passa a ser expressivo. Os resultados mostram que este impacto positivo no PIB municipal se dá principalmente através de um aumento da atividade industrial, em segundo plano pelo aumento no setor de serviços. Ao mesmo tempo, os dados não foram capazes de detectar um impacto sobre a atividade no setor agrícola. Esse resultado não deixa de ser curioso, e é capaz de instigar novos estudos para compreender, em mais detalhes, por que o maior impacto se dá através da atividade industrial. Mas de qualquer forma especulamos alguns motivos que explicam essa descoberta, como a diversificação do consumo das famílias e o aumento no consumo de energia elétrica, água, esgoto e gás. Os resultados também confirmam a eficácia do Programa no combate à desigualdade econômica entre os municípios. Nota-se que os municípios menos desenvolvidos, foram os mais beneficiados pelo Programa, e por isso obtiveram um crescimento maior em seus respectivos PIB per capita. Por fim observou-se uma relação custo benefício de 0, 043, indicando que o benefício estimado da expansão do programa em 2006 foi significativamente maior do que os custos desta, mesmo ignorando os benefícios de longo prazo das condicionalidades. Através deste estudo mostramos os frutos do uso de uma análise custo benefício, assim como a facilidade de aplicá-la à prática política. Apesar dos avanços observados, sabe-se ainda, que o problema de desigualdade no Brasil persiste. O desenvolvimento de novas políticas que mira esta questão e o aprimoramento das já existentes se tornam tarefas indispensáveis para atingir um nível de bem estar maior e uma sociedade menos desigual. Vale lembrar que o problema da desigualdade não acontece apenas na esfera econômica, mas também na social, e por isso não basta a simples transferência de renda para os mais pobres. As condicionalidades ligadas à saúde e educação dos beneficiados são essenciais para o combate da desigualdade entre os indivíduos e a desigualdade entre os 23 municípios do Brasil. Um programa de transferência de renda eficaz é aquele que vai além do repasse financeiro, cobrando dos beneficiados o cumprimento das condicionalidades do programa, pois é este cumprimento que permite a quebra do ciclo de pobreza entre gerações. O universo de pesquisas relacionadas ao Programa Bolsa Família ainda é tímido, abrindo caminho para uma infinidade de estudos e pesquisas ligadas ao tema, principalmente com o passar do tempo e a conseqüente disponibilização de novos dados. Esses estudos só têm a contribuir com o avanço e aperfeiçoamento do Programa. 8 – Bibliografia ALESINA, A., RODRIK, D. (1994). “Distribution Polities and Economic Growth”, Quarterly Journal of Economics, n. 109, p.465-490. CARDOSO, Eliana e SOUZA, André P. (2004). “The Impact Of Cash Transfers On Child Labor And School Attendance In Brazil” Vanderbilt University, Nashville Tennessee. DUARTE, Gisléia B. , SILVEIRA NETO, Raul M. (2008). “Avaliando o impacto do Programa Bolsa Família Sobre a Frequência Escolar: O Caso da Agricultura Familiar no Nordeste do Brasil”. HODDINOTT, J., SKOUFIAS, E. e WASHBURN, R. (2000). “The Impact Of Progresa On Consumption : A Final Report” International Food Policy Research Intitute, Washington D.C. JANVRY, A. de, e SADOULET, E. (2006). “Making Conditional Cash Transfer Programs More Efficient: Designing for Maximum Effect of the Conditionality” World Bank Econ. Rev., 20(1): 1 - 29. JORGE-NETO, PAULO M. , BARRETO, F. A. F. D. e TEBALDI, E. (2001). “Desigualdade de Renda e Crescimento Econômico no Nordeste Brasileiro”, Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 32, p. 842-859. LINHARES, F. (2005). “Redução da desigualdade, da pobreza, e os programas de transferência de renda” Escola de Serviço Social, Universidade Federal Fluminense, Niterói. MAGALHAES, R. , BURLANDY, L. , SENNA, M. , (2004). “Implementação do Programa Bolsa Família: as experiências de São Francisco de Itabapoana e Duque de Caxias” ENSP/FIOCRUZ, UFF e UERJ Rio de Janeiro. 24 MARQUES, Rosa M. (2005). “A Importância do Bolsa Família nos Municípios Brasileiros”. Cadernos de Estudos - Desenvolvimento Social em Debate, Brasília, v. 1, p. 7-40. OLIVERIA JR, Antonio Carlos R. de, (2006). “Bolsa Família - Family grant program: The Brazilian experience in conditional cash transfer programs” Ministry of Social Development and Fight Against Hunger Brasília. PARKER, S. W., SKOUFIAS, E. (2000). “The Impact of Progresa On Work, Leisure, And Time Allocation” International Food Policy Research Intitute, Washington D.C. PERSSON, T., GUIDO, T. (1994) “Is Inequality Harmful For Growth? Theory and Evidence” American Economic Review, v. 84, p.600-621. Primeiros resultados da análise da linha de base da pesquisa de Avaliação de Impacto do Programa Bolsa Família, Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR), UFMG, (2007). SOARES, Fabio V., SOARES, Sergei, MEDEIROS, Marcelo e OSÓRIO, Rafael G. (2006). “Programas de Transferência de Renda no Brasil: Impactos sobre a Desigualdade”, Centro Internacional da Pobreza IPEA / PNUD e DISOC / IPEA. RAWLINGS, Laura B. e RUBIO, Gloria M. (2005). “Evaluating the Impact of Conditional Cash Transfer Programs” The World Bank Research Observer. VÈLEZ, Carlos E. , BOUILLON, C. e TEJERINA, L. (2006). “Sinopse Conceitual do Encontro Anual do Banco Interamericano de Desenvolvimento”, Belo Horizonte. 25