Versão impressa REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 73 - nº 5 - Setembro/Outubro 2014 SET/OUT 2014 VOLUME 73 NÚMERO 5 P. 253-316 100 95 75 25 RBO 5 0 DESDE 1942 CAPA REVISTA-JUL-AGO-2014 quinta-feira, 13 de novembro de 2014 11:34:53 253 ISSN 0034-7280 Revista Brasileira de (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Sociedade Brasileira de Oftalmologia Indexada nas bases de dados: LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Newton Kara-Junior (SP) Editor Executivo Arlindo José Freire Portes (RJ) Co-editores André Luiz Land Curi (RJ) Arlindo José Freire Portes (RJ) Bruno Machado Fontes (RJ) Carlos Eduardo Leite Arieta (SP) Hamilton Moreira (PR) Liana Maria Vieira de Oliveira Ventura (PE) Marcony Rodrigues de Santhiago (RJ) Mario Martins dos Santos Motta (RJ) Maurício Maia (SP) Niro Kasahara (SP) Renato Ambrósio Jr. (RJ) Rodrigo Jorge (SP) Rodrigo Pessoa Cavalcanti Lira (PE) Silvana Artioli Schellini (SP) Walton Nosé (SP) Corpo Editorial Internacional Baruch D. Kuppermann - Califórnia - EUA Christopher Rapuano - Phyladelphia - EUA Curt Hartleben Martkin - Colina Roma - México Daniel Grigera - Olivos - Argentina Deepinder Kauer Dhaliwal - Pittsburg - EUA Felipe A. A. Medeiros - Califórnia - EUA Felix Gil Carrasco - México – México Fernando Arevalo - Riyadh - Arábia Saudita Francisco Rodríguez Alvira – Bogotá - Colombia Howard Fine - Eugene - EUA Jean Jacques De Laey - Ghent - Bélgica Kevin M. Miller - Califórnia - EUA Lawrence P. Chong - Califórnia - EUA Lihteh Wu – San José - Costa Rica Liliana Werner - Utah - EUA Miguel Burnier Jr. - Montreal - Canadá Pablo Cibils - Assunção - Paraguai Patricia Mitiko Santello Akaishi – Arábia Saudita Peter Laibson - Phyladelphia - EUA Steve Arshinoff - Toronto - Canadá Corpo Editorial Nacional A. Duarte - Rio de Janeiro - RJ Abelardo de Souza Couto - Rio de Janeiro- RJ Abrahão da Rocha Lucena - Fortaleza - CE Alexandre Augusto Cabral de Mello Ventura - Recife - PE Alexandre H. Principe de Oliveira – Salvador – BA Alexandre Seminoti Marcon – Porto Alegre - RS Ana Carolina Cabreira Vieira – Rio de Janeiro – RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP André Correa de Oliveira Romano – Americana - SP André Curi - Rio de Janeiro - RJ André Luis Freire Portes - Rio de Janeiro - RJ André Marcio Vieira Messias – Ribeirão Preto – SP Andrea Kara José Senra - São Paulo – SP Antonio Marcelo Barbante Casella - Londrina - PR Armando Stefano Crema- Rio de Janeiro- RJ Beatriz de Abreu Fiuza Gomes – Rio de Janeiro - RJ Bruna Vieira Ventura - Recife - PE Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 73, n. 5, p. 253 - 316, Set./Out. 2014 Bruno Diniz – Goiânia - GO Carlos Augusto Moreira Jr.- Curitiba- PR Carlos Gabriel Figueiredo - São José do Rio Preto - SP Carlos Ramos de Souza Dias- São Paulo- SP Claudio do Carmo Chaves - Manaus - AM Cristiano Caixeta Umbelino - São Paulo - SP Daniel Lavinsky – Porto Alegre - RS David Leonardo Cruvinel Isaac – Goiania - GO Diego Tebaldi Q. Barbosa - São Paulo - SP Edmundo Frota De Almeida Sobrinho- Belém- PA Eduardo Buchele Rodrigues – Florianópolis - SC Eduardo Cunha de Souza – São Paulo - SP Eduardo Damasceno - Rio de Janeiro - RJ Eduardo Dib – Rio de Janeiro - RJ Eduardo Ferrari Marback- Salvador- BA Eliezer Benchimol - Rio de Janeiro - RJ Enzo Augusto Medeiros Fulco – Jundiaí - SP Eugenio Santana de Figueiredo – Juazeiro do Norte - CE Fábio Marquez Vaz – Ondina – BA Felipe Almeida - Ribeirão Preto - SP Fernando Cançado Trindade - Belo Horizonte- MG Fernando Marcondes Penha - Florianópolis - SC Fernando Oréfice- Belo Horizonte- MG Fernando Roberte Zanetti – Vitória - ES Flavio Rezende- Rio de Janeiro- RJ Francisco de Assis Cordeiro Barbosa - Recife - PE Frederico Valadares de Souza Pena – Rio de Janeiro - RJ Frederico Guerra - Niterói - RJ Giovanni N.U.I.Colombini- Rio de Janeiro- RJ Guilherme Herzog Neto- Rio de Janeiro- RJ Harley Biccas - Ribeirão Preto - SP Haroldo Vieira de Moraes Jr.- Rio de Janeiro- RJ Hélcio Bessa - Rio de Janeiro - RJ Helena Parente Solari - Niterói - RJ Heloisa Helena Abil Russ – Curitiba – PR Henderson Celestino de Almeida- Belo Horizonte- MG Hilton Arcoverde G. de Medeiros- Brasilia- DF Homero Gusmao de Almeida- Belo Horizonte- MG Italo Mundialino Marcon- Porto Alegre- RS Iuuki Takasaka – Santa Isabel - SP Ivan Maynart Tavares - São Paulo - SP Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS Jair Giampani Junior – Cuiabá - MT Jeffersons Augusto Santana Ribeiro - Ribeirão Preto - SP João Borges Fortes Filho- Porto Alegre- RS João Luiz Lobo Ferreira – Florianópolis – SC João Marcelo de Almeida G. Lyra - Maceió - AL João Orlando Ribeiro Goncalves- Teresina- PI Jorge Carlos Pessoa Rocha – Salvador – BA JorgeAlberto de Oliveira - Rio de Janeiro - RJ José Augusto Cardillo – Araraquara – SP José Beniz Neto - Goiania - GO José Ricardo Carvalho L. Rehder- São Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitória- ES Leonardo Akaishi - Brasília - DF Leonardo Provetti Cunha - SP Leticia Paccola - Ribeirão Preto - SP Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Alberto Molina - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Hatanaka – São Paulo – SP Marcelo Netto - São Paulo - SP Marcelo Palis Ventura- Niterói- RJ Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Bonini Filho - Campo Grande - MS Marco Antonio Guarino Tanure - Belo Horizonte - MG Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirão Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Maria Vitória Moura Brasil - Rio de Janeiro - RJ Mário Genilhu Bomfim Pereira - Rio de Janeiro - RJ Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Mário Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Marlon Moraes Ibrahim – Franca - SP Mauricio Abujamra Nascimento – Campinas - SP Maurício Bastos Pereira - Rio de Janeiro - RJ Maurício Dela Paolera - São Paulo - SP Miguel Ângelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- São Paulo- SP Moyses Eduardo Zadjdenweber - Rio de Janeiro - RJ Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Nelson Alexandre Sabrosa - Rio de Janeiro – RJ Newton Kara-José - São Paulo - SP Newton Leitão de Andrade – Fortaleza – CE Núbia Vanessa dos Anjos Lima Henrique de Faria - Brasília-DF Octaviano Magalhães Júnior - Atibaia - SP Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Otacílio de Oliveira Maia Júnior – Salvador - BA Patrick Frensel de Moraes Tzelikis – Brasília – DF Paulo Augusto de Arruda Mello Filho – São Paulo – SP Paulo Augusto de Arruda Mello- São Paulo- SP Paulo Schor - São Paulo - SP Pedro Carlos Carricondo – São Paulo – SP Pedro Duraes Serracarbassa – São Paulo – SP Priscilla de Almeida Jorge – Recife – PE Rafael Ernane Almeida Andrade - Itabuna – BA Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Remo Susanna Jr.- São Paulo- SP Renata Rezende - Rio de Janeiro - RJ Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niterói- RJ Richard Yudi Hida – São Paulo – SP Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Roberto Pinto Coelho – Ribeirão Preto – SP Rodrigo França de Espíndola – São Paulo – SP Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rogerio de Almeida Torres - Curitiba - PR Rubens Belfort Neto – São Paulo – SP Rubens Camargo Siqueira- São José do Rio Preto- SP Sebastião Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sérgio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Sérgio Kwitko - Porto Alegre - RS Sérgio Luis Gianotti Pimentel – São Paulo – SP Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- São Paulo - SP Suzana Matayoshi - São Paulo - SP Tânia Mara Cunha Schaefer – Curitiba – PR Vitor Cerqueira - Rio de Janeiro - RJ Walter Yukihiko Takahashi – São Paulo – SP Walton Nose- São Paulo- SP Wener Passarinho Cella - Plano Piloto - DF Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição:Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Contato publicitário: Westinghouse Carvalho Tel: (11)3726-6941 / 99274-0724 [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$420,00 ou US$280,00 Impressão: Gráfica Stamppa Associada a ABEC - Associação Brasileira de Editores Científicos 254 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2013-2014 Presidente Marcus Vinicius Abbud Safady (RJ) Vice-presidentes Elisabeto Ribeiro Goncalves (MG) Fabíola Mansur de Carvalho (BA) João Alberto Holanda de Freitas (SP) Ricardo Lima de Almeida Neves (RJ) Tania Mara Cunha Schaefer (PR) Secretário Geral André Luis Freire Portes (RJ) 1º Secretário Sérgio Henrique S. Meirelles (RJ) 2º Secretário Giovanni N. U. I. Colombini (RJ) Tesoureiro Gilberto dos Passos (RJ) Diretor de Cursos Arlindo José Freire Portes (RJ) Diretor de Publicações Newton Kara-Junior (SP) Diretor de Biblioteca Armando Stefano Crema (RJ) Conselho Consultivo Membros eleitos Jacó Lavinsky (RS) Paulo Augusto de Arruda Mello (SP) Roberto Lorens Marback (BA) Conselho Fiscal Efetivos Francisco Eduardo Lopes Lima (GO) Leiria de Andrade Neto (CE) Roberto Pedrosa Galvão (PE) Suplentes Eduardo Henrique Morizot Leite (RJ) Jorge Alberto Soares de Oliveira (RJ) Mizael Augusto Pinto (RJ) SOCIEDADES FILIADAS À SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Ari de Souza Pena Associação Maranhense de Oftalmologia Presidente: Romero Henrique Carvalho Bertand Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Maurício Donatti Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Luciene Barbosa de Souza Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Otavio Bisneto Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Lhano Fernandes Adorno Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Elson Yamasato Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Mário Jorge Santos Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Flávio Rezende Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Armando Crema Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Ricardo Morschbacher Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Renato Ambrósio Jr. Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Norma Allerman Sociedade Brasileira Glaucoma Presidente: Francisco Lima Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Cesar Ronaldo Vieira Gomes Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Ramon Coral Ghanem Sociedade Cearense de Oftalmologia Presidente: Dácio Carvalho Costa Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Lúcia Helena Meluzzi Sociedade Norte-Nordeste de Oftalmologia Presidente: Francisco de Assis Cordeiro Barbosa Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Leila Suely Gouvea José Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: André Hasler Príncipe de Oliveira Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Mauro César Gobira Guimarães Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: João Pessoa de Souza Filho Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Ricardo Maia Diniz Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Afonso Reichel Pereira Sociedade de Oftalmologia do Sul de Minas Presidente: Mansur Elias Ticly Junior Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Lauro José Barata de Lima Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Saulo Zanone Lemos Neiva Sociedade Piauiense de Oftalmologia Maria de Lourdes Cristina Alcântara Paz Carvalho do Nascimento Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Bruno Campelo 255 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 (Versão impressa) ISSN 1982-8551 (Versão eletrônica) Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE www.freemedicaljournals.com Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br LILACS Literatura Latinoamericana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Publicação bimestral Rev Bras Oftalmol, v. 73, n. 5, p. 253 - 316, Set./Out. 2014 Sumário - Contents Editorial 257 Estrutura, estilo e escrita de artigo científico: a maneira com que pesquisadores reconhecem seus pares Structure, style and writing of a scientific paper: the way in which researchers acknowledge their peers Newton Kara-Junior 260 Aspectos sociais do transplante de córnea no Brasil: contraste entre avanços na técnica cirúrgica e limitação de acesso à população Social aspects of corneal transplantation in Brazil: contrast between advances in surgical technique and limiting access to the population Hirlana Gomes Almeida, Richard Yudi Hida Artigos originais 262 O papel da membrana de Descemet na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior The role of Descemet’s membrane in the pathogeny of corneal edema following anterior segment surgery 269 Analgesia preemptiva com nepafenaco 0,1% na fotocoagulação da retina Preemptive analgesia of nepafenac 0.1% in retinal photocoagulation Karine Feitosa Ximenes, Jailton Vieira Silva, Karla Feitosa Ximenes Vasconcelos, Fernando Queiroz Monte Emerson Fernandes de Sousa e Castro, Erika Araki Okuda, Vinícius Balbi Amatto, Hirlana Gomes Almeida, Marina Gracia, Newton Kara-Junior 256 273 Análise quantitativa e qualitativa do filme lacrimal nos pacientes submetidos a PRK e LASIK com femtossegundo Analysis quantitative and qualitative of the tear film in patients undergoing PRK and LASIK with femtosecond Rubens Amorim Leite, Ricardo Menon Nosé , Fábio Bernardi Daga, Tatiana Adarli Fioravanti Lui, Giovana Arlene Fioravanti Lui, Adamo Lui-Netto 279 Novel spatula and dissector for safer deep anterior lamellar keratoplasty Uso de espátula e dissector para otimização da ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK) 282 Serological profile of candidates for corneal donation Perfil sorológico de candidatos a doação de córneas Gustavo Bonfadini, Eun Chul Kim, Mauro Campos, Albert S. Jun Adroaldo Lunardelli, Richard Beraldini Alvarenga, Maria Luiza Assmann, Dário Eduardo de Lima Brum, Mirna Adolfina Barison 287 Sealing the gap between conjunctiva and Tenon’s capsule in primary pterygium surgery Adição do selamento entre conjuntiva e cápsula de Tenon em cirurgia de pterígio primário Ricardo Alexandre Stock, Luan Felipe Lückmann, Gabriel Alexander Ken-Itchi Kondo, Elcio Luiz Bonamigo 291 Visual impairment, rehabilitation and International Classification of Functioning, Disability and Health Deficiência visual, reabilitação e Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde Marissa Romano da Silva, Maria Inês Rubo de Souza Nobre, Keila Monteiro de Carvalho, Rita de Cássia Ietto Montilha 302 Nível de conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto entre os estudantes de medicina Knowledge about primary open angle glaucoma among medical students Saulo Costa Martins, Marcos Henrique Mendes, Ricardo Augusto Paletta Guedes, Vanessa Maria Paletta Guedes, Alfredo Chaoubah Relato de Casos 308 311 Oclusão de artéria central da retina associada a forame oval patente Central retinal artery occlusion associated with patent foramen ovale Patrícia Regina de Pinho Tavares, Mariana Rezende de Oliveira, Eduardo de Castro Miranda Diniz , Rafael Mourão Agostini , Daniela Vieira de Aguiar Dacriocistocele no adulto Adult dacryocystocele Silvia Helena Tavares Lorena , João Amaro Ferrari Silva Instruções aos autores 314 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 257 Estrutura, estilo e escrita de artigo científico: a maneira com que pesquisadores reconhecem seus pares Structure , style and writing of a scientific paper: the way in which researchers acknowledge their peers O estilo como um artigo é escrito sugere a revisores e a leitores se os autores estão familiarizados ou não com a ciência. Neste quesito, a leitura sistemática de publicações científicas é um ótimo treinamento para pesquisadores iniciantes. Publicações científicas são documentos que necessitam conter informações suficientes para permitir que leitores acessem o que foi observado pelos autores; determinem se as conclusões são justificadas pelos dados; sejam capazes de repetir o experimento. Toda pesquisa clínica se inicia com uma “dúvida” (pergunta que não pode ser respondida com base no conhecimento disponível na literatura). A partir dessa “dúvida”, o artigo científico será estruturado da seguinte forma: 1. Introdução - que pergunta foi feita? 2. Métodos - como ela foi estudada? 3. Resultados - o que foi achado? 4. Discussão - o que estes achados significam? É importante que a Introdução seja curta (três ou quatro parágrafos) e transmita claramente a pergunta que os autores tentarão responder com o estudo. Para que o leitor entenda a relevância da “dúvida” dos autores, é necessário iniciar com uma breve revisão da literatura, suficiente para contextualizar leitores e justificar a realização do estudo, demonstrando que esta nova pesquisa se faz necessária para preencher “lacunas” no conhecimento. Caso o assunto já tenha sido estudado em trabalhos anteriores, uma opção é justificar a nova pesquisa, mostrando que ela pode ser melhor do que as anteriores (evidenciar falhas metodológicas, limitações no tamanho da amostra, etc). Deve-se considerar que editores não querem publicar, autores não querem citar e leitores não querem ler estudos que simplesmente repitam o que já foi feito inúmeras vezes antes. Assim, na Introdução, a breve revisão da literatura deve partir do que já se sabe sobre o assunto, para justificar aonde se quer chegar com a pesquisa. O ideal é que a descrição do conhecimento existente na literatura se “afunile”, até que atinja a “lacuna”, que se pretende preencher com o estudo. Por exemplo, ao se “perguntar” sobre a existência de fatores emocionais que possam influenciar pacientes com catarata em relação à decisão de quando operar, sugere-se iniciar a Introdução, citando a importância da visão e o medo de se ficar cego, seguido pela explicação sobre a problemática social da cegueira por catarata, os benefícios visuais e os riscos da cirurgia corretiva. Para finalizar, pode-se apontar a possibilidade de pessoas com baixa visão por catarata evitarem a cirurgia devido a razões emocionais (medo de ficar cego por complicações cirúrgicas), de modo a enfatizar a importância deste estudo em identificar essa situação, a fim de nortear ações de esclarecimento da população (1). Toda informação descrita na Introdução deve ser lastreada em estudos anteriores, sempre citando as referências. Evite escrever sobre o que se considera que o leitor já saiba, priorizando a explicação do que o leitor ainda não sabe. Para isso, é necessário conhecer o público-alvo do estudo e já ter em mente o perfil do periódico em que se tentará a publicação. Assim, no exemplo anterior, (1) se os leitores forem médicos, não será necessário explicar o que é catarata. Sugere-se finalizar a Introdução, descrevendo o desenho do estudo e definindo, de forma clara, o objetivo da pesquisa (por exemplo, estudo prospectivo, randomizado, duplo mascarado, para determinar a eficácia e a segurança da....). Ao se planejar o estudo, é interessante escrever a Introdução antes de se iniciar a coleta de dados, a fim de não afastar os pesquisadores do objetivo inicial. A Metodologia descreve a maneira com que os dados serão coletados e como a pesquisa será realizada. Quanto mais detalhada e objetiva for a metodologia, maior será a percepção de revisores e leitores de que os resultados do estudo são confiáveis. Se a metodologia empregada para responder a pergunta da pesquisa for falha, os resultados e conclusões do estudo serão limitados. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 257-9 258 Kara-Junior N Caso tenha sido idealizado, para a pesquisa, um novo procedimento ou exame, é importante que este seja descrito detalhadamente, a fim de permitir reproduções futuras. Métodos de mensuração já padronizados e descritos em publicações anteriores, a menos que considerados falhos, devem ser copiados (e a fonte deve ser citada), a fim de facilitar comparação de dados de diferentes artigos. Por exemplo, se no estudo que inspirou o autor a pesquisar o desempenho visual de um modelo diferente de lente intraocular tiver sido utilizado determinado sensor de frentes de ondas, tabela de mensuração da visão e questionário de satisfação visual, o ideal seria que a nova pesquisa fosse desenhada com o emprego dos mesmos métodos de avaliação. Desta forma, minimiza-se a influência de outras variáveis na comparação dos resultados entre os estudos (2,3). A Metodologia deve se iniciar com a descrição do desenho da pesquisa, em que é exposto o tipo de estudo, a randomização e o mascaramento. Local e data em que o trabalho foi realizado também devem ser citados. A seguir, é explicada a maneira como a pesquisa foi conduzida: seleção da amostra, critérios de inclusão, comissão de ética, descrição precisa dos materiais utilizados, dosagem exata das drogas, descrição do tratamento e discriminação das variáveis que serão estudadas. Por fim, são demonstrados detalhes da análise estatística dos dados. Assim, enquanto a Introdução contém respostas para: “o que?” e “porque?” foi estudado, a Metodologia responde “como”?, “quando”? e “onde”? foi estudado. Nunca acredite que sua metodologia esteja imune a críticas, pois não existe execução perfeita de pesquisa, apenas espera-se evitar erros grosseiros e evidenciar pontos fracos, para que leitores possam julgar a validade dos dados obtidos de acordo com sua realidade e necessidade. Do ponto de vista do leitor, a sequência ideal para se ler um artigo científico é, após ter a atenção atraída pelo tema exposto no Título (interesse pela resposta à “dúvida” dos autores), ler a Introdução, a fim de entender o contexto do assunto e a pertinência da pesquisa. A seguir, ler cuidadosamente a Metodologia, para se certificar de que a maneira com que a amostra foi formada e o estudo foi conduzido estão de acordo com sua realidade e exigência. Por exemplo, um estudo que avalia o conhecimento da população sobre cirurgia de catarata, realizado em um país em desenvolvimento, provavelmente não influenciará a prática clínica em países desenvolvidos (4). A análise crítica de artigos, por meio de avaliação cuidadosa da Metodologia, permite que leitores identifiquem vieses (erros metodológicos) que podem eventualmente invalidar ou limitar os resultados. Leitores não devem confiar simplesmente que todo artigo publicado em revistas científicas, mesmo as de alto fator de impacto, sejam metodologicamente corretos (5). O item Resultados deve relatar os dados obtidos na pesquisa. Não deve conter interpretações ou opiniões do autor. Devem ser utilizadas tabelas para agrupar dados importantes e deve ser feita análise estatística para validar comparações. Sugerimos que o início dos Resultados caracterize qual a população que a amostra representa e, em caso de haver mais de um grupo avaliado, defina se os grupos estudados são homogêneos. A homogeneidade dos grupos é uma comprovação de que a randomização da amostra foi adequada, pois se todos os sujeitos do estudo tiverem a mesma chance de compor cada um dos grupos, então é natural que características como sexo e idade sejam, em média, equivalentes. Estas informações podem ser agrupadas em uma tabela e servirão para assegurar leitores de que características pessoais não irão influenciar o resultado da pesquisa. No caso de um estudo que avalia a eficiência de duas técnicas de capsulorrexe em cataratas intumescentes (6), a amostra estudada representará a população de portadores deste tipo de catarata e, portanto, o resultado só será válido para esse tipo de paciente. No caso dos grupos avaliados (considerando que cada grupo foi operado com uma técnica de capsulorrexe), se a randomização tiver sido realizada corretamente, ou seja, todos os pacientes selecionados para compor a amostra tiverem tido a mesma chance de serem sorteados para compor cada um dos grupos, então as características pessoais serão similares (sexo, idade, diâmetro axial do olho, etc), indicando que variações individuais provavelmente não influenciaram os resultados. Em uma pesquisa, os dados são representados por números e os resultados representam o significado dos números; assim, resultados devem ser escritos e dados devem ser colocados em tabelas. Parágrafos devem ser iniciados com a descrição dos resultados, para a seguir referir-se à tabela, de forma que seja indicado no texto o que se deve procurar na tabela. Tabelas devem sempre ser autossuficientes, contendo todas as informações necessárias para que o leitor as compreenda sem precisar ler o restante do artigo. Resultados devem ser, sempre que possível, acompanhados de análise estatística, para que as comparações tenham credibilidade (7). Sugere-se evitar termos qualitativos (subjetivos) como “muito”, “grande”, “somente”, etc, limitando-se apenas a informações quantitativas, como números absolutos e porcentagens. É importante citar todos os dados provenientes das variáveis estudadas e descritas no item Metodologia ou seja, todos os itens relacionados na Metodologia a serem pesquisados devem aparecer nos Resultados e ser mencionados na Discussão. Na seção Discussão, os achados da pesquisa devem ser correlacionados com os dados já descritos na literatura e seu significado deve ser interpretado.A Discussão deve citar apenas estudos relevantes (confirmatórios e contraditórios), não sendo necessário analisar toda a literatura. Deve-se evitar repetição de dados já expostos nos Resultados.Todos os achados descritos nos Resultados devem ser comentados na Discussão e somente números ou porcentagens principais devem ser citados. A Discussão deve ser iniciada com o resumo dos principais achados do estudo, discutindo-se possíveis falhas metodológicas. A seguir, compara-se os achados a estudos prévios e se discute as implicações clínicas de suas descobertas. É aqui que os pontos fortes do estudo devem ser enfatizados e estudos prévios, eventualmente, criticados. Na Discussão, o autor deve manifestar suas opiniões. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 257-9 Estrutura, estilo e escrita de artigo científico: a maneira com que pesquisadores reconhecem seus pares 259 Mesmo se julgar que seu estudo irá mudar a prática clínica, deve-se evitar exagerar na caracterização de sua importância, pois, em geral, toda pesquisa acrescenta uma limitada contribuição à área do conhecimento e, dificilmente, um tema será completamente estudado em um único trabalho. A Discussão deve terminar com um pequeno resumo dos principais achados e suas implicações (conclusão). É interessante terminar com a sugestão de estudos futuros. A escrita científica é diferente da linguagem científica falada. Aqui se deve evitar jargões e superlativos, escolhendose cuidadosamente as palavras. O maior desejo dos autores é que sua publicação seja lida e citada pelo maior número de pessoas possível. Assim, sempre se deve facilitar e tornar agradável a leitura e a interpretação do texto, pois leitores facilmente perdem o interesse pelo artigo. Na escrita científica, as sentenças devem ser simples e diretas, dizendo o que o leitor precisa saber, da maneira mais curta possível. Todas as abreviações devem ser explicadas no início de cada seção (Introdução, Metodologia,Tabelas, etc), pois os leitores não são obrigados a ler o artigo na sequência do texto. Na Metodologia, drogas devem sempre estar indicadas pelo princípio ativo e, quando nomes comerciais forem citados, deve-se sempre referir o nome e o local de origem do laboratório. No item Resultados, os números, sempre que possível, devem ser seguidos pela porcentagem, a fim de economizar tempo dos leitores em tentar compreender a dimensão do dado. Nas tabelas, a aritmética deve ser conferida, com atenção especial às porcentagens que, dependendo da aproximação das casas após a vírgula, estas podem dar um total diferente de 100%. Com relação às tabelas, checar se todas estão indicadas no texto, se os termos são os mesmos (tabela e texto) e se o cabeçalho é autossuficiente. Depois de concluído, é interessante que o artigo seja lido por médicos não envolvidos na pesquisa, antes que seja enviado para publicação, ou que o autor guarde o artigo por alguns dias, para a seguir, lê-lo novamente. Autores eventualmente, estão tão familiarizados com o assunto que há risco de escreverem de forma pouco clara para os demais leitores. Newton Kara-Junior Editor-Chefe da Revista Brasileira de Oftalmologia Professor Colaborador, livre-docente e professor do Programa de Pós-graduação da Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Marback R, Temporini E, Kara Júnior N. Emotional factors prior to cataract surgery. Clinics (Sao Paulo). 2007; 62(4):433-8 Hida WT, Motta AF, Kara-José Júnior N, Costa H, Tokunaga C, Cordeiro LN, Gemperli D, Nakano CT. [Comparison between OPD-Scan results and visual outcomes of Tecnis ZM900 and Restor SN60D3 diffractive multifocal intraocular lenses]. Arq Bras Oftalmol. 2008; 71(6):788-92. Portuguese. de Santhiago MR, Netto MV, Barreto J Jr, Gomes B de A, Schaefer A, Kara-Junior N. A contralateral eye study comparing apodized diffractive and full diffractive lenses: wavefront analysis and distance and near uncorrected visual acuity. Clinics (Sao Paulo). 2009; 64(10):953-60. Temporini ER, Kara N Jr, Jose NK, Holzchuh N. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Rev Saude Publica. 2002; 36(3):343-9. Chamon W. Plagiarism and misconduct in research: where we are and what we can do. Arq Bras Oftalmol. 2013; 76(6):V-VIII. Kara-Junior N, de Santhiago MR, Kawakami A, Carricondo P, Hida WT. Mini-rhexis for white intumescent cataracts. Clinics (Sao Paulo). 2009;64(4):309-12. Lopes B, Ramos IC, Ribeiro G, Correa R, Valbon B, Luz A, et al. Biostatistics: fundamental concepts and practical applications. Rev Bras Oftalmol. 2014;73(1):16-22. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 257-9 260 EDITORIAL Aspectos sociais do transplante de córnea no Brasil: contraste entre avanços na técnica cirúrgica e limitação de acesso à população Social aspects of corneal transplantation in Brazil: contrast between advances in surgical technique and limiting access to the population A busca constante por conhecimento impulsiona os avanços tecnológicos e aumenta exponencialmente as opções para diagnóstico e tratamento na Oftalmologia. Não raro, uma cirurgia considerada padrão-ouro em um passado recente, hoje é proscrita. O desenvolvimento de técnicas cirúrgicas menos invasivas e mais eficazes gera um crescimento na demanda por transplantes. Atualmente, as ceratoplastias são mais seguras, efetivas e bem-sucedidas se comparadas às técnicas e aos procedimentos realizados em uma história recente, tratando enfermidades outrora consideradas inoperáveis (1,2). Por isso, o número de pacientes que superam obstáculos, como o medo e a insegurança, e submetem-se ao procedimento é cada vez maior (3,4). Sabe-se que em muitos casos, pode-se substituir o transplante penetrante tradicional por uma ceratoplastia lamelar anterior ou posterior, nas quais apenas as camadas doentes da córnea são removidas e substituídas, enquanto as saudáveis permanecem intactas. Ceratoplastia lamelar anterior é indicada para opacidade de córnea no estroma anterior ou médio, podendo ser superficial (interface estroma-estroma ou SALK - superficial anterior lamelar keratoplasty) ou profunda (interface estromaDescemet ou DALK - deep anterior lamelar keratoplasty), indicados em doenças como ceratocone, degeneração marginal pelúcida, distrofias estromais e ectasia pós-cirurgia refrativa com camadas posteriores sadias (5-7). Apesar de exigir uma curva de aprendizado mais longa, esta técnica oferece vantagens importantes, visto que não penetra na câmara anterior e conserva o endotélio receptor, reduzindo significativamente o risco de rejeição endotelial (5-7). Ceratoplastia lamelar posterior permite a troca do endotélio doente, sem a necessidade de grandes incisões ou suturas na superfície corneana, podendo ser realizada por técnica PLK (posterior lamelar keratoplasty), DLEK (deep lamelar endotelial keratoplasty), DSEK (descemet stripping endotelial keratoplasty), DSAEK (descemet stripping automated endotelial keratoplasty), DMEK (descemet membrane endotelial keratoplasty) e DMAEK (descemet membrane automated endotelial keratoplasty), indicadas em distrofia endotelial de Fuchs, ceratopatia bolhosa pseudofácica e pós-falência endotelial de transplante penetrante com camadas anteriores sadias (5-7). As principais vantagens deste procedimento são mínima alteração da topografia corneana em relação ao pré-operatório, refração estável, endotélio saudável e globo ocular menos susceptível a trauma (5-7). Contudo, o aprimoramento destas técnicas cirúrgicas também dependem da modernização de instrumentais e insumos no mercado, com o objetivo de gerar menor trauma e reduzir a incidência de complicações per e pós-operatórias. A utilização do microcerátomo ou do excimer laser, tanto no botão receptor quanto no doador, permite a aquisição de cortes de diferentes espessuras e diâmetros (7). Porém, recentemente, o femtosecond laser, que possui comprimento de onda maior que o excimer laser, vem sendo amplamente utilizado para ressecção do tecido corneano, bem como para confecção da lamela com modelagem determinada pelo cirurgião (7). As substâncias viscoelásticas que foram desenvolvidas com a função de manter espaços (coesivos) ou de proteger tecidos intraoculares (dispersivos) durante o ato cirúrgico, hoje conseguem desempenhar estas duas funções em apenas um dispositivo (8). Há ainda a melhoria importante nas técnicas de processamento e conservação dos tecidos, a exemplo das câmaras anteriores artificiais que permitem que o botão corenoescleral seja preparado da mesma forma como se o globo ocular estivesse inteiro (7). Estes avanços em instrumentais cirúrgicos e meios de conservação do botão corneano proporcionam uma maior qualidade do tecido transplantado e, consequentemente resultados pós-cirúrgicos mais benéficos ao paciente e sua família. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 260-1 Aspectos sociais do transplante de córnea no Brasil: contraste entre avanços na técnica cirúrgica e limitação de acesso à população 261 Entretanto, vale salientar que muitos pacientes que apresentam indicação de transplante de córnea não ingressam em lista de espera e desistem da tentativa de reabilitação visual. Isto ocorre porque a população, principalmente a de baixa renda, mesmo instruída por médicos assistentes a buscar o transplante, não é corretamente orientada, não compreende a orientação ou não apresenta condições socioeconômicas necessárias para viabilizar o tratamento (9). Tal fato nos sugere que o acesso prévio ao exame oftalmológico e a indicação de transplante de córnea nem sempre é suficiente para muitos pacientes obterem tratamento definitivo. Por isso, faz-se necessária a efetiva comunicação entre os níveis de saúde secundário e terciário, a fim de garantir o efetivo cadastro em filas de espera e o acesso ao transplante de córnea (9). Um bom exemplo de um programa pioneiro, efetivo e bem organizado, que possui apoio da Secretaria de Saúde e do Governo Estadual, é o estado de São Paulo, onde a fila de espera está zerada e o número de córneas excedentes é enviado para os demais estados da federação, auxiliando também na redução das filas de espera destes (10). Logo, atualmente existem técnicas cirúrgicas menos invasivas que ampliam os benefícios e as melhorias na qualidade de vida dos pacientes tratados. Porém, apesar dos avanços tecnológicos em métodos e insumos para o transplante de córnea terem contribuído para a maior segurança e eficácia do procedimento, barreiras e limitações logísticas para o acesso ao tratamento cirúrgico ainda impedem que estes progressos estejam disponíveis de forma homogênea para todos os necessitados. Assim, faz-se necessário garantir o acesso a um sistema de saúde qualificado para diagnóstico e tratamento de toda a população. Hirlana Gomes Almeida Pós-graduanda, nível doutorado, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP Richard Yudi Hida Chefe do Setor de Catarata e Diretor Técnico do Banco de Tecidos Oculares da Santa Casa de São Paulo REFERÊNCIAS 1. Coelho JC, Trubian PS, Freitas AC, Parolin MB, Schulz GJ, Martins EL. Comparação entre o custo do transplante hepático cadavérico e o intervivos. Rev Assoc Med Bras. 2005;51(3):158-63. 2. Solar SP, Ovalle AR, Simian ME, Escobar JH, Beca JP. Tres factores que influyen en la actitud de las personas ante la donación de órganos. Rev Chil Cirug. 2008;60(3):262-7. 3. Temporini ER, Kara-Junior N, Kara José N, Holzchuh N. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Rev Saúde Pública. 2002;36(3):343-9. 4. Marback R, Temporinia ER, Kara-Junior N. Emotional factors prior to cataract surgery. Clinics. 2007;62(4):433-8. 5. Brito S, Cardoso A, Costa E, Rosa A, Quadrado MJ, Murta J. DSAEK: a espessura será realmente importante? Rev Soc Port Oftalmol. 2012:36(3):247-56. 6. Macedo JP, Forseto AS, Allemann N, Sousa LB. Avaliação da ceratoplastia lamelar anterior profunda em pacientes com ceratocone. Arq Bras Oftalmol. 2009:72(4): 486-492. 7. Moreira H, Sousa LB, Sato EH, Faria MA. Banco de olhos, transplante de córnea. 3 a ed. São Paulo:CBO; 2013. [ Série Oftalmologia Brasileira]. 8. Espíndola RF, Castro EF, Santhiago MR, Kara-Junior N. A clinical comparison between DisCoVisc and 2% hydroxypropylmethylcellulose in phacoemulsification: a fellow eye study. Clinics. 2012;67(9):1059-62. 9. Kara-Junior N, Mourad PC, Espíndola RF, AbilRuss HH. Expectativas e conhecimento entre pacientes com indicação de transplante de córnea. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(4):230-4. 10. Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. Registro Brasileiro de Transplantes. Dimensionamento dos transplantes no Brasil e em cada estado [Internet]. 2012. [citado 2014 Set 26]. Disponível em: http://www.abto.org.br/abtov03/Upload/file/RBT/2012/RBTdimensionamento2012.pdf. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 260-1 A 262 RTIGO ORIGINAL O papel da membrana de Descemet na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior The role of Descemet’s membrane in the pathogeny of corneal edema following anterior segment surgery Karine Feitosa Ximenes1, Jailton Vieira Silva2, Karla Feitosa Ximenes Vasconcelos3, Fernando Queiroz Monte1 R ESUMO Objetivo: Encontrar fatores importantes na patogenia do edema corneano pós-cirúrgico, em casos de pós-facectomia e pósceratoplastia, por meio do estudo dos achados histopatológicos, a fim de ver o que pode ser feito para evitar sucessivas ceratoplastias. Métodos: Estudo retrospectivo descritivo das alterações histopatológicas de casos de edema corneano pós-cirúrgicos. Os tecidos foram provenientes de ceratoplastia penetrante no período compreendido entre setembro de 2009 e agosto de 2013. Foi realizada revisão de prontuários em busca principalmente de informações sobre cirurgias prévias. Resultados: Foram incluídos 70 botões corneanos, sendo 34 de pacientes do sexo masculino e 36 do sexo feminino. A média das idades foi de 63,1±17,20 (média ± DP) anos. A maioria dos casos era de falência após transplante (71,43%). A rarefação celular foi a principal alteração encontrada no endotélio (58 casos), sendo também a alteração histopatológica mais frequente. Na membrana de Descemet, predominaram as alterações de integridade (53 casos), seja na forma de ruptura, de descolamento isolado ou de descolamento associado à ruptura. Foi frequente a associação de alterações endoteliais à ausência da integridade da membrana de Descemet. Conclusão: Descolamento da membrana de Descemet é um achado histopatológico frequente nos casos de edema corneano pós-cirúrgicos estudados, devendo ser considerado um fator importante na patogenia dos mesmos. Essa alteração deve ser procurada com atenção nos pós-operatórios, a fim de ser diagnosticada e tratada precocemente, vindo possivelmente a evitar muitas indicações de ceratoplastia. Descritores: Lâmina limitante posterior; Edema da córnea/etiologia; Edema da córnea/patologia; Ceratoplastia ABSTRACT Objective: To find relevant factors in the pathogeny of postoperative corneal edema in post-cataract surgery and post-keratoplasty cases, through the study of histopathological findings in order to see what can be done to avoid successive keratoplasties. Methods: Retrospective descriptive study of histopathological findings in postoperative corneal edema cases. Tissues were obtained from penetrating keratoplasty in the period between september 2009 and august 2013. A medical record review was conducted primarily looking for information about previous surgeries. Results: Seventy corneal buttons were included, out of which 34 were from male patients and 36 were from female patients. The mean age was 63.1±17.20 (mean ± SD) years. Most of cases were corneal failure after keratoplasty (71.43%). The main change found in endothelium was cellular rarefaction (58 cases), and it was also the most common histopathological change. Changes in integrity predominated in Descemet’s membrane (53 cases), whether in the form of rupture, isolated detachment or detachment associated with rupture. Endothelial changes associated with the absence in Descemet’s membrane integrity were frequent.Conclusion: Descemet’s membrane detachment is a frequent histopathological finding in postoperative corneal edema cases studied, thus it should be considered an important factor in the pathogeny of such cases. This change should be carefully researched in the postoperative period in order to be diagnosed and treated early, possibly avoiding many keratoplasty indications. Keywords: Descemet membrane; Corneal edema/etiology; Corneal edema/pathology; Keratoplasty Banco de Olhos do Estado do Ceará, Fortaleza (CE), Brasil; Universidade Federal do Ceará, Fortaleza (CE), Brasil; 3 Hospital Geral de Fortaleza, Fortaleza (CE), Brasil. 1 2 Instituição onde o trabalho foi realizado: Banco de olhos do Estado do Ceará, Brasil Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 08/04/2014 - Aceito para publicação em 08/06/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 O papel da membrana de Descemet na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior INTRODUÇÃO O edema corneano é uma condição clínica caracterizada pelo aumento da espessura ou do diâmetro ânteroposterior corneano (1,2). O edema pode ser confinado ao epitélio ou a uma parte dele, e o estroma também pode ter edema localizado. A mais frequente circunstância clínica é, no entanto, aquela em que ambos, epitélio e estroma, tornam-se edemaciados (2). Onde o edema se desenvolve, elementos estruturais são separados uns dos outros. No estroma, ceratócitos separam-se uns dos outros e das fibras colágenas adjacentes; as fibras colágenas também se tornam separadas umas das outras. Edema é geralmente associado com a perda da transparência na porção da córnea em que está presente (2). Os dois fatores principais considerados na etiologia do edema corneano são disfunção endotelial (2-4) e defeitos na membrana de Descemet. Células endoteliais constituem uma única camada de células-bomba na porção posterior da córnea responsáveis pela constante desidratação corneana. Essas células diminuem em número com a idade e geralmente não são capazes de se regenerar (5). Assim, oftalmologistas estão bem cientes da capacidade limitada de reparo do endotélio corneano humano e que muito cuidado deve ser tomado para evitar injúria a esse importante tecido durante procedimentos cirúrgicos(6). Defeitos na membrana de Descemet também levam ao influxo de humor aquoso na córnea e edema estromal (5) . Descolamentos na membrana de Descemet podem ser atribuídos a qualquer fator que seja responsável por uma ruptura na membrana de Descemet, seja ele cirúrgico (extração de catarata, iridectomia, ciclodiálise, ceratoplastia penetrante) ou o resultado de rupturas causadas por glaucoma congênito, ceratocone, ceratoglobo ou trauma (7). Grandes e extensos descolamentos têm uma apresentação impressionante com edema corneano e marcada redução da acuidade visual, frequentemente necessitando de intervenção cirúrgica para prevenir descompensação corneana permanente e potencial transplante de córnea (8). Diante do exposto, o nosso objetivo é determinar a patogenia do edema corneano pós-cirúrgico, em casos pósfacectomia e pós-ceratoplastia, através do estudo dos achados da membrana de Descemet e do endotélio em exame histopatológico, a fim de ver o que pode ser feito precocemente nesses casos como tentativa de evitar sucessivas ceratoplastias. A busca destas alterações poderá alertar o que deve ser pesquisado com rigor no pós-operatório dessas cirurgias. 263 sultados, verificamos somente a proporção do aparecimento desses achados. Outro fator que justifica usarmos esse tipo de estatística é que nos interessa estudar a patogenia e verificar as alterações encontradas. Em estudos posteriores, poderão ser feitas estatísticas de probabilidade, quando partiremos de achados conhecidos. Foram selecionados botões corneanos que possuíam edema estromal. Chamamos de edema estromal, do ponto de vista anatomohistopatológico, a presença de afastamento entre estruturas como ceratócitos e fibras colágenas. A desigualdade na intensidade do edema nos levou a classificá-lo em cinco graus de acordo com esse afastamento. A presença de edema epitelial (edema celular, vacúolos citoplasmáticos, microcistos e bolhas) não foi utilizada na classificação, embora fosse percebido em quase todos os casos. O edema leve ou grau I tinha afastamento pequeno e esparso das estruturas (figura 1a); ao se tornarem menos esparsos e mais difusos, tínhamos o edema leve-moderado ou grau II (figura 1b). No edema moderado ou grau III, havia edema mais generalizado, e mas ainda com espaçamentos pequenos (figura 1c). No edema moderado-acentuado ou grau IV, os espaços eram mais largos e muito frequentes (figura 1d). Por fim, no edema acentuado ou grau V; os espaços eram maiores, e o edema era generalizado (figura 1e). Em alguns casos, observamos que em uma mesma amostra de tecido existiam regiões com diferentes intensidades de edema. Classificamos esses últimos casos de acordo com o edema que predominava na maior porção da amostra, ou fizemos uma média entre as intensidades de edema encontrados. Figura 1a: Edema leve (grau I) com afastamento pequeno e esparso das estruturas estromais; a membrana de Descemet encontra-se espessada neste caso MÉTODOS Foi realizado estudo de botões corneanos provenientes de ceratoplastia penetrante no período compreendido entre setembro de 2009 e agosto de 2013, enviados para exame histopatológico ao Banco de Olhos. Os tecidos eram fixados em formol neutro a 10%, cortados pelo patologista apoiados pelo lado endotelial, com corte iniciando pelo epitélio e terminando pelo endotélio. A inclusão foi feita em parafina, com cortes subsequentes de 2,5µm e coloração com hematoxilina-eosina. Após o preparo, os tecidos foram examinados com microscópio óptico pelos autores. O estudo foi retrospectivo descritivo das alterações histopatológicas que aparecem nos edemas corneanos pós-cirúrgicos. Na falta de estudos que pudéssemos comparar os re- Figura 1b: Edema leve-moderado (grau II) com afastamento menos esparso e mais difuso Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 264 Ximenes KF, Silva JV, Vasconcelos KFX, Monte FQ Figura 1c: Edema moderado (grau III) mais generalizado, com espaçamentos ainda pequenos; microcistos podem ser vistos no epitélio nóstico informado pelo cirurgião tiveram esses dados obtidos por meio da cirurgia prévia encontrada no prontuário que tinha o formulário padrão de transplante de córnea. Os casos de transplante prévio foram considerados como falência, e os casos de facectomia prévia foram considerados como ceratopatia bolhosa. No exame histopatológico foram, então, pesquisadas as alterações da membrana de Descemet e do endotélio corneano em casos de edema corneano de cinco graus convencionados ou arbitrados, com diagnósticos de ceratopatia bolhosa após facectomia ou falência após transplante prévio. As alterações pesquisadas na membrana de Descemet foram rupturas, descolamento, dobras, bifurcações, alterações de espessura e distensão. As alterações pesquisadas no endotélio foram rarefação celular ou alteração celular. Como o atual estudo é sobre a patogenia, incluímos, na coleta de dados, informações sobre fatores que consideramos como causa. Não deixamos, no entanto, de citar também os fatores que nos pareciam efeito, para tentar demonstrar de maneira mais ampla o painel de achados histopatológicos. R ESULTADOS Foram incluídos 70 botões corneanos, sendo 34 de pacientes do sexo masculino e 36 do sexo feminino. A média das idades foi de 63,1±17,20 anos (média±DP). A composição da amostra era de 20 casos de ceratopatia bolhosa após facectomia e 50 casos de falência após transplante. A distribuição dos casos nos cinco graus de intensidade edema pode ser vista na tabela 1. Figura 1d: Edema moderado-acentuado (grau IV) com espaços mais largos e muito frequentes; uma extensa bolha pode ser vista descolando parte do epitélio Tabela 1 Composição da amostra de acordo com o grau de manifestação do edema corneano na amostra estudada em pacientes com lâminas examinadas entre setembro de 2009 e agosto de 2013 Grau I II III IV V Total Figura 1e: Edema acentuado (grau V) generalizado, com espaços muito maiores; algumas bolhas podem ser visualizadas no epitélio Os critérios de exclusão foram a reação inflamatória, sinéquia, afinamento estromal, ausência de prontuário ou nenhum registro de cirurgia prévia. Assim, foram incluídos apenas casos de edema corneano pós-cirúrgicos puros, isto é, não associados a causas secundárias. Os prontuários dos casos selecionados foram revisados em busca de informações sobre o diagnóstico feito pelo cirurgião, cirurgias anteriores, sexo e idade. Foram registrados os casos de facectomia ou transplante de córnea prévios. Aqueles casos em que havia o diagnóstico do cirurgião de ceratopatia bolhosa após facectomia ou falência após transplante prévio foram assim considerados. Os casos em que não havia nenhum diagRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 Ceratopatia bolhosa após facectomia (%) 5 3 4 5 3 (25) (15) (20) (25) (15) 20 (100) Falência após transplante (%) 13 (26) 8 (16) 7 (14) 14 (28) 8 (16) 50 (100) Total (%) 18 11 11 19 11 (25,71) (15,71) (15,71) (27,14) (15,71) 70 (100) Na tabela 2, encontramos as alterações histopatológicas encontradas na amostra. Observamos que as alterações mais encontradas na Descemet foram as rupturas em 41 (58,57%) casos e o descolamento em 40 (57,14%). Entre as outras alterações da Descemet, aquela que predominou foi a dobra em 25 (35,71%) casos. No endotélio, a principal alteração encontrada foi a rarefação celular em 58 (82,86%) casos. Considerando todas as alterações encontradas, aquela que predominou foi a rarefação celular do endotélio. A distribuição das alterações histopatológicas encontradas entre ceratopatia bolhosa após facectomia e falência após transplante pode ser vista na tabela 3. Tanto em ceratopatias bolhosas como em falências predominaram na Descemet as rupturas e o descolamento. A rarefação celular foi a principal alteração encontrada no endotélio nesses dois grupos, sendo também a alteração histopatológica mais frequente nos mesmos. O papel da membrana de Descemet na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior Tabela 2 Alterações encontradas nas córneas na amostra de lâminas de casos examinados entre setembro de 2009 e agosto de 2013 Alterações Quantidade (%) Descemet Rupturas Descolamento Dobras Bifurcações Espessamento Afinamento Distensão 41 (58,57) 40 (57,14) 25 (35,71) 3 (4,29) 4 (5,71) 6 (8,57) 3 (4,29) Endotélio Rarefação Alteração celular 58 (82,86) 9 (12,86) A soma percentual total é a diferente de 100% devido à associação das alterações Tabela 3 Comparação das alterações entre a ceratopatia bolhosa após facectomia e falência após transplante, na amostra colhida entre setembro de 2009 e agosto de 2013 265 endotelial isolada. No gráfico 1, observamos que as alterações da integridade da Descemet predominaram, sendo o descolamento associado ou não à ruptura (40 casos) uma alteração bastante frequente. Alterações endoteliais isoladas foram vistas apenas em 17 casos. A distribuição das alterações entre ceratopatia bolhosa após facectomia e falência após transplante seguiram relativamente o mesmo padrão da amostra geral (gráfico 2). A frequência das alterações da integridade da membrana de Descemet isoladas ou associadas é demonstrada na tabela 4. A mais frequente foi o descolamento associado à ruptura encontrado em 28 (40%) casos. As rupturas isoladas foram vistas em 13 (18,57%) casos, e o descolamento isolado foi observado em 12 (17,14%). Considerando a distribuição das alterações por grau de edema (gráficos 3-7), observamos que as alterações da integridade da Descemet também predominaram em todos. Uma alteração da integridade da Descemet bastante frequente em todos os graus de edema também foi o descolamento associado ou não à ruptura. Alterações endoteliais isoladas foram vistas principalmente no edema grau IV, onde foram encontradas em 9 (47,37%) casos, predominando sobre o descolamento que esteve presente em 8 (42,10%) casos. Gráfico 1 Alterações Ceratopatia Falência após bolhosa após transplante facectomia (%) (%) Descemet Rupturas Descolamento Dobras Bifurcações Espessamento Afinamento Distensão 10 (50) 14 (70) 4 (0) 0 (0) 3 (15) 3 (15) 0 (0) 31 26 21 3 1 3 3 Endotélio Rarefação Alteração celular 15 (75) 1 (5) 43 (86) 8 (16) Alterações histopatológicas distribuídas por grau de edema nos casos da amostra estudada pelos autores (62) (52) (42) (6) (2) (6) (6) A soma percentual total é a diferente de 100% devido à associação das alterações Tabela 4 Alterações da integridade da membrana de Descemet associadas ou isoladas nos casos de edema corneano pós-cirúrgico estudados pelos autores Alterações Rupturas Descolamento Dobras Quantidade (%) Gráfico 2 Alterações histopatológicas encontradas nos casos ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) da amostra estudada pelos autores 13 (18,57) 28 (40) 12 (17,14) A soma percentual total é diferente de 100%, pois foram consideradas aqui apenas alterações da integridade da membrana de Descemet, o que corresponde a parte da amostra Nos gráficos, observamos a distribuição das alterações histopatológicas nos cinco graus de edema corneano após cirurgia de segmento anterior. Aqui, mostramos apenas as alterações que podem ser consideradas como causa, sendo essas as alterações da integridade da membrana de Descemet (rupturas, rupturas + descolamento e descolamento isolado) e a alteração Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 266 Ximenes KF, Silva JV, Vasconcelos KFX, Monte FQ Gráfico 3 Gráfico 6 Alterações histopatológicas encontradas nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) com edema leve / grau I Alterações histopatológicas encontradas nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) com edema moderado-acentuado / grau IV Gráfico 7 Gráfico 4 Alterações histopatológicas encontradas nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) com edema acentuado / grau V Alterações histopatológicas encontradas nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) com edema leve-moderado / grau II DISCUSSÃO Gráfico 5 Alterações histopatológicas encontradas nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia (preto) e falência após transplante (cinza) com edema moderado / grau III Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 Realizamos estudo descritivo das alterações histopatológicas da membrana de Descemet e do endotélio corneano em casos de edema após cirurgia de segmento anterior (ceratoplastia ou facectomia). Observamos que a maioria dos casos encontrados foi de falência após transplante, e atribuímos esse achado ao fato de que a maioria dos botões corneanos enviados para exame histopatológico ao Banco de Olhos do Estado são provenientes de ceratoplastia de urgência, o que é feito de rotina; os casos de facectomia são enviados apenas eventualmente. A maioria dos casos tanto de ceratopatia bolhosa após facectomia como de falência após transplante foi encontrada nos graus I e IV de edema de acordo com nossa classificação, por isso não correlacionamos o diagnóstico com o grau de edema. A principal alteração histopatológica encontrada tanto nos casos de ceratopatia bolhosa após facectomia como naqueles de falência após transplante foi a rarefação celular do endotélio. Como alteração endotelial isolada foi vista em apenas 17 dos 70 casos (gráfico 1), observamos que foi frequente a associação da alteração endotelial com a ausência da integridade da membrana de Descemet, seja o descolamento isolado, a ruptura ou o O papel da membrana de Descemet na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior descolamento associado à ruptura. Sugerimos que essa associação poderia não ser unicamente devido ao acaso, mas também a causa desse achado tão frequente em nosso estudo. Outro motivo possível seria a maneira como foi feito o corte da peça, sobre o qual não tivemos controle, pois realizamos estudo retrospectivo. Estamos cientes também de que as células endoteliais são muito facilmente alteradas pela fixação e coloração, sendo, portanto, difícil ter uma figura precisa da sua estrutura normal e patológica a partir do exame microscópico de lâminas fixadas e coradas (3). Ressaltamos, porém, a confiabilidade de achados histopatológicos do endotélio, tendo como base estudos como o de Williams et al. que encontraram uma correlação direta entre o número de células endoteliais em exame histológico e a densidade de células na microscopia especular (9). Nosso estudo, no entanto, não foi dirigido diretamente para o endotélio, uma vez que essas alterações já foram bastante estudadas. Nos detivemos principalmente à membrana de Descemet, pois a mesma dominou o quadro em 53 dos 70 casos (gráfico 1 e tabela 4), por causa das possíveis repercussões do edema sobre ela e da possibilidade de combater precocemente com sucesso suas alterações. Sobre a membrana de Descemet, já que nosso objetivo é o estudo da patogenia, consideramos principalmente as alterações da integridade (gráfico 1 e tabela 4), pois são as citadas na literatura como possíveis responsáveis pelo edema corneano (5). Entre essas alterações, foi bastante frequente o descolamento associado à ruptura (40% dos casos) ou isolado (17,14% dos casos). O descolamento foi, então, responsável por 57,14% dos casos estudados, demonstrando a importância do seu reconhecimento como causa tratável. Não ficou claro, no entanto, se a ruptura tensionou a Descemet para o Descolamento ou se foram concomitantes. Entre as alterações não relacionadas com a patogenia, a mais encontrada foi a dobra, seguida por afinamento, espessamento, distensão e bifurcações (tabela 2). Não podemos, porém, afirmar se esses últimos achados seriam uma consequência do edema ou um achado ao acaso. As dobras foram cerca de duas vezes mais frequentes nos casos de falência (42% dos casos) que nos de ceratopatia bolhosa após facectomia (20% dos casos). Tentamos explicar esse último achado pelo fato de dobras serem um achado biomicróscópico que diminui com o tempo, e de geralmente os casos de falência, principalmente primárias, serem transplantados mais precocemente. A maioria dos estudos que falam sobre a etiologia da ceratopatia bolhosa ou do edema corneano, no entanto, citam como principal fator etiológico a disfunção ou a perda de células endoteliais (1,2,10,11). Poucas fontes na literatura citam defeitos na membrana de Descemet levando ao edema corneano (5), e geralmente não se referem ao trauma cirúrgico. Estudos sobre ausência da integridade da Descemet após cirurgia são geralmente específicos sobre o descolamento da membrana de Descemet após facectomia e suas modalidades de tratamento. Contrariamente à literatura que em sua maioria limita a etiopatogênese da ceratopatia bolhosa e do edema corneano ou ao fator endotélio ou, em menor número, à ausência da integridade da membrana de Descemet isoladamente, mostramos através de nosso estudo histopatológico que alterações da membrana de Descemet podem estar associadas à alteração endotelial na patogenia da ceratopatia bolhosa após facectomia. A mesma sugestão de que a alteração da integridade da membrana de Descemet seria o provável fator principal na patogenia dos casos estudados de ceratopatia bolhosa após facectomia poderia ser feita também para os casos de falência 267 após transplante. Apesar da melhora dos resultados que vem sendo verificada com a ceratoplastia penetrante, falência do enxerto permanece como um problema significante. As etiologias comuns são falência primária do doador, complicações cirúrgicas, complicações de lente intraocular, defeitos epiteliais persistentes, rejeição, infecção, glaucoma, trauma e recorrências de distrofias corneanas primárias (12). Observamos, no entanto, que assim como na ceratopatia bolhosa, um dos principais fatores citados na literatura como causa da falência de enxertos corneanos é a alteração das células endoteliais. Bell et al. demonstraram baixa contagem inicial de células endoteliais na microscopia especular sequencial e uma diminuição continuada nessa densidade ao longo de cinco anos de pós-operatório em pacientes que preenchiam critério para falência endotelial tardia e haviam realizado repetidas ceratoplastias (13). Santos et al., estudando espécimes corneanas diagnosticadas como falência do enxerto, encontraram como achado histopatológico mais comum a descompensação endotelial(14). Poucos são os estudos que como o de Aurora et al. citam defeitos na continuidade da membrana de Descemet na etiopatogênese da falência de enxerto corneano (15). Considerando a ausência da integridade da membrana de Descemet, representada em grande número de casos do nosso estudo pelo descolamento associado ou não à ruptura, como importante fator na patogenia dos casos estudados de ceratopatia bolhosa após facectomia e de falência após ceratoplastia, alertamos para a busca incessante dessa alteração em casos de edema no pós-operatório imediato dessas cirurgias. Descolamento da membrana de Descemet é uma complicação rara, porém séria das cirurgias intraoculares (16). Não é incomum em cirurgia de catarata, e a incidência é relatada como 0,5 e 2,6% em cirurgia extracapsular e facoemulsificação, respectivamente (17). Muitas abordagens têm sido relatadas como observação (18), injeção de gás C3F8 (19,20) ou SF6 (8,20,21) na câmara anterior, injeção de viscoelástico (22), suturas transcorneanas (23) e transplante de córnea. Descolamento da membrana de Descemet pode ser classificado em planar, quando a separação do estroma é de menos de 1mm; e não-planar, quando a separação é maior que 1mm. Cada um desses pode ainda ser descrito como periférico ou periférico com envolvimento central (7) . Vastine et al. sugerem que descolamentos pequenos e planares são melhor observados, uma vez que muitos resolvem espontaneamente. Grandes descolamentos planares e não-planares ou descolamentos enrolados (scrolled) requerem intervenção cirúrgica (24). Kim et al. citam como indicação para abordagem de tratamento com injeção de gás intracameral uma Descemet descolada, porém intacta (8). Enfim, como citado acima, diversas abordagens são possíveis para o descolamento de Descemet. Alguns tratamentos podem ser alternativas ao transplante de córnea, levando à resolução completa do edema corneano e evitando a necessidade desse procedimento. Embora o reposicionamento possa demorar um período de tempo, o complexo endotélio/ membrana de Descemet descolado pode permanecer relativamente saudável na câmara anterior com eventual retorno da claridade corneana quando o reposicionamento ocorre (21). Ressaltamos, então, novamente a busca exaustiva dessa alteração no pós-operatório imediato de casos com edema corneano após facectomia ou transplante de córnea, de modo a tentar evitar ceratoplastias através do diagnóstico precoce e uso de terapias alternativas. Cientes também de que em alguns casos, em que o edema corneano é severo, não é possível visualizar a membrana de Descemet na Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 268 Ximenes KF, Silva JV, Vasconcelos KFX, Monte FQ lâmpada de fenda (16), e não dispondo, muitas vezes de meios mais sofisticados de diagnósticos, sugerimos que começemos a pensar inclusive na possibilidade de usar os métodos alternativos acima de rotina em casos de edema corneano precoce após cirurgias traumáticas de segmento anterior, como tentativa de tratamento antes da primeira ou de sucessivas ceratoplastias. C ONCLUSÃO 8. 9. 10. Demonstramos, através de achados histopatológicos, que alterações da integridade da membrana de Descemet, representadas em grande número de casos do nosso estudo pelo descolamento isolado ou associado à ruptura, são achados frequentes em casos de edema corneano após cirurgia de segmento anterior, mais especificamente facectomia e transplante de córnea. A alta frequência desse achado nos leva a sugerir que o mesmo tenha importante papel na patogenia dos casos de edema estudados. Rarefação do endotélio também foi achado frequente, mas principalmente associado a defeitos na Descemet. Reconhecer que não apenas o endotélio, mas também o descolamento de Descemet pode ser importante na patogenia do edema corneano após cirurgia de segmento anterior deve alertar os oftalmologistas para pesquisa mais cuidadosa dessa alteração nos pósoperatórios, no sentido de tentar detectá-la e tratá-la precocemente, vindo possivelmente a evitar muitas indicações de ceratoplastia. Como o presente estudo é descritivo e retrospectivo, esperamos que nossos achados sirvam de estímulo para estudos futuros prospectivos que venham a confirmar as inferências aqui realizadas. 11. R EFERÊNCIAS 21. 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. Alomar TS, Al-Aqaba M, Gray T, Lowe J, Dua HS. Histological and confocal microscopy changes in chronic corneal edema: implications for endothelial transplantation. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2011;52(11):8193-207. Goldman JN, Kuwabara T. Histopathology of corneal edema. Int Ophthalmol Clin. 1968;8(3):561-79. Stocker FW. The endothelium of the cornea and its clinical implications. Trans Am Ophthalmol Soc. 1953;51:669-786. Patel SP. The bull’s eye: are we off-target for corneal endothelial cell physiology? J Ophthalmic Vis Res. 2013;8(1):83-5. Naumann GO, Holbach L, Kruse FE. Applied pathology for ophthalmic microsurgeons. Berlin: Springer; 2008. Murphy C, Alvarado J, Juster R, Maglio M. Prenatal and postnatal cellularity of the human corneal endothelium. A quantitative histologic study. Invest Ophthalmol Vis Sci. 1984;25(3):312-22. Mulhern M, Barry P, Condon P. A case of Descemet’s membrane detachment during phacoemulsification surgery. Br J Ophthalmol. 1996;80(2):185-6. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 262-8 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 22. 23. 24. Kim T, Hasan SA. A new technique for repairing descemet membrane detachments using intracameral gas injection. Arch Ophthalmol. 2002;120(2):181-3. Williams KK, Noe RL, Grossniklaus HE, Drews-Botsch C, Edelhauser HF. Correlation of histologic corneal endothelial cell counts with specular microscopic cell density. Arch Ophthalmol. 1992;110(8):1146-9. Gonçalves ED, Campos M, Paris F, Gomes JA, Farias CC. [Bullous keratopathy: etiopathogenesis and treatment: [review]]. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(6 suppl 0):61-4. Portuguese. Yi DH, Dana MR. Corneal edema after cataract surgery: incidence and etiology. Semin Ophthalmol. 2002;17(3-4):110-4. Review. Wilson SE, Kaufman HE. Graft failure after penetrating keratoplasty. Surv Ophthalmol. 1990;34(5):325-56. Review. Bell KD, Campbell RJ, Bourne WM. Pathology of late endothelial failure: late endothelial failure of penetrating keratoplasty: study with light and electron microscopy. Cornea. 2000;19(1):40-6. Santos LN, de Moura LR, Fernandes BF, Cheema DP, Burnier MN Jr. Histopathological study of delayed regraft after corneal graft failure. Cornea. 2011;30(2):167-70. Aurora AL, Khandur RC, Singh G. Pathogenesis of corneal graft failure. Indian J Ophthalmol. 1974;22(2):11-6. Kothari S, Kothari K, Parikh RS. Role of anterior segment optical coherence tomogram in Descemet’s membrane detachment. Indian J Ophthalmol. 2011;59(4):303-5. Anderson CJ. Gonioscopy in no-stitch cataract incisions. J Cataract Refract Surg. 1993;19(5):620-1. Assia EI, Levkovich-Verbin H, Blumenthal M. Management of Descemet’s membrane detachment. J Cataract Refract Surg. 1995;21(6):714-7. Lucena AR, Lucena DR, Macedo EL, Ferreira JL, Lucena AR. [C3F8 use in Descemet detachment after cataract surgery]. Arq Bras Oftalmol. 2006;69(3):339-43. Portuguese. Kim T, Sorenson A. Bilateral Descemet membrane detachments. Arch Ophthalmol. 2000;118(9):1302-3. Tai MC, Yieh FS, Chou PI. Repair of near total Descemet’s membrane detachment with intracameral injections of 20% sulfur hexafluoride gas. J Med Sci. 2002;22(5):231-4. Sonmez K, Ozcan PY, Altintas AG. Surgical repair of scrolled descemet’s membrane detachment with intracameral injection of 1.8% sodium hyaluronate. Int Ophthalmol. 2011;31(5):421-3. Pahor D, Gracner B. Surgical repair of Descemet’s membrane detachment. Coll Antropol. 2001;25 Suppl:13-6. Vastine DW, Weinberg RS, Sugar J, Binder PS. Stripping of Descemet’s membrane associated with intraocular lens implantation. Arch Ophthalmol. 1983;101(7):1042-5. Autor correspondente: Karine Feitosa Ximenes Rua Andrade Furtado, 150 - apto 1501, Cocó CEP 60192-070 - Fortaleza (CE) Brasil Tel: 55 (85) 3262-6781; 55 (85) 9673-3132 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 269 Analgesia preemptiva com nepafenaco 0,1% na fotocoagulação da retina Preemptive analgesia of nepafenac 0.1% in retinal photocoagulation Emerson Fernandes de Sousa e Castro1,2, Erika Araki Okuda2, Vinícius Balbi Amatto2, Hirlana Gomes Almeida1, Marina Gracia1, Newton Kara-Junior1 R ESUMO Objetivo: Avaliar o efeito preemptivo com nepafenaco 0,1% em pacientes submetidos à fotocoagulação da retina para tratamento da retinopatia diabética proliferativa. Métodos: Trinta pacientes foram submetidos à fotocoagulação com laser de argônio em ambos os olhos. O olho contralateral de cada paciente foi o controle. O nepafenaco e o placebo foram utilizados 30 minutos antes da aplicação do laser. Ambos os olhos foram fotocoagulados no mesmo dia. A intensidade da dor foi avaliada por meio da escala analógica visual e da escala descritiva de dor. Resultados: A análise da interação instilação versus nepafenaco mostrou que os pacientes do grupo placebo apresentaram níveis de dor semelhantes em ambos os olhos, e os do grupo nepafenaco apresentaram redução importante do nível de dor no olho em que foi instilado a suspensão de 0,1% quando comparado ao olho contralateral que recebeu placebo (p=0,023). Conclusão: Este estudo sugere que a suspensão de 0,1% de nepafenaco foi útil na analgesia preemptiva de pacientes submetidos à fotocoagulação de retina quando comparada ao placebo. Descritores: Dor/prevenção & controle; Analgesia; Anti-inflamatórios não esteroides/administração & dosagem; Anti-inflamatórios não esteroides/uso terapêutico; Fotocoagulação; Retinopatia diabética/quimioterapia ABSTRACT Objective: To evaluate the preemptive effect of nepafenac 0,1% in patients undergoing retinal photocoagulation for the treatment of proliferative diabetic retinopathy. Methods: Thirty patients underwent argon laser photocoagulation in both eyes. The contralateral eye of each patient was the control. The nepafenac and placebo were used 30 minutes before the application of the laser. Both eyes were photocoagulated in the same day. Pain intensity was assessed by visual analog scale and descriptive pain scale. Results: The analysis of the interaction instillation versus nepafenac showed that patients in the placebo group had similar levels of pain in both eyes, and the nepafenac group had significant reduction in pain in the eye that was instilled suspension of 0,1% when compared to the contralateral eye which received placebo (p = 0.023). Conclusion: This study suggests that a suspension of 0,1% nepafenac helpful for preemptive analgesia in patients undergoing retinal photocoagulation compared to placebo. Keywords: Pain/prevent & control; Analgesia; Anti-inflammatory agents, non-steroidal/administration & dosage; Antiinflammatory agents, non-steroidal/therapeutic use; Light coagulation; Diabetic retinopathy/drug therapy Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil; Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo “Francisco Morato de Oliveria”, São Paulo (SP), Brasil. 1 2 Trabalho não recebeu auxílio financeiro Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 13/06/2014 - Aceito para publicação em 11/07/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 269-72 270 Castro EFS, Okuda EA, Amatto VB, Almeida HG, Gracia M, Kara-Junior N INTRODUÇÃO A analgesia preemptiva objetiva a redução da intensidade e duração da dor durante e após procedimentos, por meio da prevenção da hiperexcitabilidade reflexa neuronal na medula espinhal (1). Comumente, durante a realização da fotocoagulação retiniana com laser de argônio não é utilizado analgésico, porém a maioria dos pacientes queixa-se de dor durante e após o procedimento, apesar da instilação de colírio anestésico. A anestesia geral ou o bloqueio anestésico local, indicado em casos de dor intolerável, aumentam a morbimortalidade do procedimento (2). Os anti-inflamatórios não esteroidais de uso local ou sistêmico têm propriedades analgésicas, antipiréticas e antiinflamatórias (3). O único desta classe com disponibilidade tópica é o nepafenaco 0,1% suspensão, com efetivo inibidor não seletivo da ciclo-oxigenase que, apresenta propriedades anti-inflamatórias superiores aos anti-inflamatórios não esteroidais convencionais (3). O nepafenaco a 0,1% é aprovado apenas para o tratamento da dor e da inflamação associadas à cirurgia de catarata (3). O objetivo desta pesquisa é estabelecer o benefício do uso de drogas analgésicas adicionais às anestésicas comumente utilizadas na fotocoagulação da retina. MÉTODOS Foi realizado estudo de caso controle, prospectivo, randomizado e duplo-mascarado em que foram incluídos 30 pacientes consecutivos com diagnóstico de retinopatia diabética proliferativa, com meios oculares transparentes, a serem submetidos à fotocoagulação com laser de argônio em ambos os olhos, no período de junho de 2011 a maio de 2012. Todos os pacientes foram inqueridos após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital do Servidor Público Estadual (nº 094/10), autorização do responsável pelo Hospital e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido pelos pacientes. Os critérios de exclusão foram a presença de alterações retinianas associadas a outras doenças sistêmicas, não-colaboração, gestantes, uso de drogas analgésicas ou anti-inflamatórias sistêmicas e não aceite em participar da pesquisa. As variáveis pesquisadas foram divididas em dependentes (nível de dor) e independentes (idade, gênero, instilação ou não do placebo e instilação ou não de napafenaco 0,1%). Os dados foram coletados por meio de questionário com a escala analógica visual (EAV) e escala descritiva de dor (EDD), muito utilizadas em outros trabalhos da literatura (4,5). Os pacientes foram divididos em dois grupos: o primeiro com 15 sujeitos que utilizaram o nepafenaco 0,1% e o segundo com 15 indivíduos que instilaram o placebo, sendo pareados para idade e gênero. Todos os sujeitos receberam uma gota de colírio anestésico 5 minutos antes da aplicação do laser. A medicação em estudo foi instilada 30 minutos antes da aplicação do laser. O olho contralateral foi o controle, tendo sido submetido à fotocoagulação no mesmo dia. Quinze minutos após a aplicação do laser era aplicado o questionário com a EAV e a EDD. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 269-72 A fotocoagulação foi realizada com equipamento Visulas 532s Zeiss, sendo os parâmetros fixados em mira 100µm, intensidade 0,20 mW, tempo de exposição 0,10 segundos e aproximadamente 200 disparos para todos os sujeitos do estudo. A resposta da dor em pacientes submetidos à fotocoagulação foi analisada por meio de uma ANOVA multifatorial, modelo misto. A escolha desse modelo seguiu o desenho experimental, que combina amostras pareadas e não pareadas. O nível de dor foi avaliado em relação a três fatores: 1) instilação do colírio em um dos olhos do paciente versus a não instilação no outro olho (amostras pareadas); 2) nepafenaco 0,1% em um grupo e outro grupo recebendo placebo (amostras não pareadas); e 3) gênero. A idade dos pacientes foi incluída como covariável e seus eventuais efeitos foram controlados pelo modelo. Além de todos os efeitos individuais, foram analisados também a combinação entre os três fatores avaliados. Foi adotado como índice de rejeição da hipótese de nulidade p<0,05. RESULTADOS Na tabela 1 os resultados baseados na EDD demonstraram que os efeitos isolados tais como idade, gênero, nepafenaco 0,1% e instilação não foram estatisticamente significativos, assim como as interações entre instilação versus idade, gênero versus nepafenaco 0,1%, instilação versus gênero versus nepafenaco 0,1%. Já as interações instilação versus gênero e instilação versus suspensão de 0,1% de nepafenaco apresentaram resultados estatisticamente significativos. Tabela 1 Efeitos isolados e interações dos pacientes submetidos à fotocoagulação Efeitos isolados Idade Gênero Nepafenaco 0,1% Instilação Interações Instilação x Idade Instilação x Gênero Instilação x Nepafenaco Gênero x Nepafenaco Instilação x Gênero x Nepafenaco F 2,09 0,37 2,02 0,40 F 0,11 6,97 5,85 0,85 3,59 Valor de p 0,1602 0,5470 0,1673 0,5304 p 0,7474 0,0141 0,0232 0,3657 0,0697 A figura 1 afirma que a instilação de nepafenaco 0,1% ou placebo no gênero masculino não modifica o nível de dor, enquanto que no gênero feminino a instilação reduz significativamente a percepção da dor Na figura 2 é demonstrado que os pacientes do grupo placebo apresentaram níveis de dor semelhantes em ambos os olhos. Porém, os pacientes do grupo nepafenaco apresentaram redução importante do nível de dor no olho em que foi instilado nepafenaco 0,1% quando comparado ao olho contralateral que não recebeu nenhum colírio. Analgesia preemptiva com nepafenaco 0,1% na fotocoagulação da retina Figura 1: Comparação entre instilação versus gênero dos pacientes submetidos à fotocoagulação, no período de junho de 2011 a maio de 2012 271 retinopatia diabética proliferativa concluiu que o cetorolaco de trometamina tópica 0,5% não é mais eficaz do que as lágrimas artificiais para alívio da dor durante fotocoagulação nestes pacientes (12). A analgesia preemptiva prega o uso de analgésico antes do estímulo doloroso, prevenindo ou reduzindo as respostas de hipersensibilidade e memória de dor no sistema nervoso; produzindo benefícios de longa duração para a qualidade de vida do paciente e diminuindo gastos com outros tratamentos (13). Outra opção sugerida na literatura é encurtar o tempo de exposição ao laser da retina, o que é significativamente menos doloroso (14). Na tabela 1 os resultados baseados na EDD demonstraram que os efeitos isolados idade, gênero, nepafenaco 0,1% e instilação não foram estatisticamente significativos, assim como as interações entre instilação versus idade, gênero versus nepafenaco 0,1%, instilação versus gênero versus nepafenaco 0,1%. Já as interações instilação versus gênero e instilação versus suspensão de 0,1% de nepafenaco apresentaram resultados estatisticamente significativos. De acordo com a figura 1 a instilação de nepafenaco 0,1% ou placebo no gênero masculino não modifica o nível de dor, enquanto que no gênero feminino a instilação reduz significativamente a percepção da dor. Na figura 2 é demonstrado que os pacientes do grupo placebo apresentaram níveis de dor semelhantes em ambos os olhos. Porém, os pacientes do grupo nepafenaco apresentaram redução importante do nível de dor no olho em que foi instilado nepafenaco 0,1% quando comparado ao olho contralateral que não recebeu nenhum colírio. C ONCLUSÃO Este estudo mostra que o nepafenaco 0,1% suspensão foi útil na analgesia preemptiva de pacientes submetidos à fotocoagulação da retina quando comparada ao placebo, especialmente em mulheres. Figura 2: Comparação entre instilação versus nepafenaco a 0,1% dos pacientes submetidos à fotocoagulação, no período de junho de 2011 a maio de 2012 R EFERÊNCIAS 1. D ISCUSSÃO A percepção da dor é uma experiência pessoal de cada indivíduo, sendo dependente de muitos fatores, incluindo diferenças culturais e de gênero, experiências passadas e o nível de ansiedade (2). A retinopatia diabética é a causa mais comum de cegueira na faixa etária economicamente ativa no Reino Unido (7). A fotocoagulação da retina que utiliza laser de argônio é um tratamento eficaz para reduzir a perda visual grave em pacientes com retinopatia diabética proliferativa (8). Como muitos pacientes relatam algum grau de dor durante e após o tratamento com laser (9), várias pesquisas têm procurado definir o melhor método de analgesia para tal procedimento (10). Procedimentos invasivos, como anestesia retrobulbar, peribulbar e subtenoniana foram sugeridos, embora possam apresentar complicações graves que limitem sua utilização (11). Um estudo realizado com 60 olhos de 30 pacientes com 2. 3. 4. 5. Alves AS, Campello RA, Mazzanti A, Alievi MM, Faria RX, Stedile R, Braga FA. Emprego do antiinflamatório não esteróide ketoprofeno na analgesia preemptiva em cães. Cienc Rural (Santa Maria). 2001;31(3):439-44. Vaideanu D, Taylor P, McAndrew P, Hildreth A, Deady JP, Steel DH. Double masked randomised controlled trial to assess the effectiveness of paracetamol in reducing pain in panretinal photocoagulation. Br J Ophthalmol. 2006;90(6):713-7. Weinberger D, Ron Y, Lichter H, Rosenblat I, Axer-Siegel R, Yassur Y. Analgesic effect of topical sodium diclofenac 0.1% drops during retinal laser photocoagulation. Br J Ophthalmol. 2000;84(2):135-7. Fortes AC, Martinelli EJ, Ribeiro LG, Corpa JH, Tarcha FA, Rehder JR. Ação do anestésico tópico diluído e da mitomicina sobre a sintomatologia e re-epitelização corneana no pós-operatório da ceratectomia fotorrefrativa. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(4):237-43. Lucena CR, Ramos Filho JA, Messias AM, Silva JÁ, Almeida FP, Scott IU, et al. Panretinal photocoagulation versus intravitreal injection retreatment pain in high-risk proliferative diabetic retinopathy. Arq Bras Oftalmol. 2013;76(1):18-20. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 269-72 272 Castro EFS, Okuda EA, Amatto VB, Almeida HG, Gracia M, Kara-Junior N 6. Gaynes BI, Onyekwuluje A. Topical ophthalmic NSAIDs: a discussion with focus on nepafenac ophthalmic suspension. Clin Ophthalmol. 2008;2(2):355-68. 7 . British Diabetic Association, Department of Health. St Vincent Joint Task Force for Diabetes: report of the Visual Impairment Subgroup. London: British Diabetic Association, Department of Health; 1994. 8 . Tonello M, Costa RA, Almeida FP, Barbosa JC, Scott IU, Jorge R. Panretinal photocoagulation versus PRP plus intravitreal bevacizumab for high-risk proliferative diabetic retinopathy (IBeHi study). Acta Ophthalmol. 2008;86(4):385-9. 9. Zakrzewski PA, O’Donnell HL, Lam WC. Oral versus topical diclofenac for pain prevention during panretinal photocoagulation. Ophthalmology. 2009;116:1168-1744. 10. Tamai M, Mizuno K. Distribution of intra- and extraocular pain induced by argon laser photocoagulation. Tahoku J Exp Med. 1984;142(4):427-35. 11. Wu WC, Hsu KH, Chen TL, Hwang YS, Lin KK, Li ML, Shih CP, La i CC. Interventions for relieving pain associated with panretinal photocoagulation: a prospective randomized trial. Eye (Lond). 2009;20(6):712-9. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 269-72 12. Esgin H, Samut HS. Topical ketorolac 0.5% for ocular pain relief during scatter laser photocoagulation with 532 nm green laser. J Ocul Pharmacol Ther .2006;22(6):460-4. 13. Grass JA, editor. Problems in anesthesia. vol. 10. Management of acute pain. Philadelphia:Lippincott-Raven; 1998. p.107-21. 14. Al-Hussainy S, Dodson PM, Gibson JM. Pain response and follow-up of patients undergoing panretinal laser photocoagulation with reduced exposure times. Eye (Lond). 2008;22(1):96-9. Correspondência com o autor: Hirlana Gomes Almeida Rua dos Médicis, nº 30, apto. 903 CEP: 50070-290 - Recife (PE), Brasil Tel: (081) 3049-1907 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 273 Análise quantitativa e qualitativa do filme lacrimal nos pacientes submetidos a PRK e LASIK com femtossegundo Analysis quantitative and qualitative of the tear film in patients undergoing PRK and LASIK with femtosecond Rubens Amorim Leite1, Ricardo Menon Nosé 1, Fábio Bernardi Daga 1, Tatiana Adarli Fioravanti Lui1, Giovana Arlene Fioravanti Lui2, Adamo Lui-Netto2 R ESUMO Objetivo: Analisar a secreção lacrimal, coloração da superfície ocular e estabilidade do filme lacrimal em indivíduos submetidos à cirurgia de PRK e LASIK com laser de femtossegundo (femto LASIK). Métodos: Vinte olhos de 10 pacientes submetidos à técnica de Femto LASIK e 11 olhos de 6 pacientes submetidos à técnica de PRK foram estudados de forma prospectiva, longitudinal e intervencionista. Tempo de rotura do filme lacrimal (TRFL), teste de Schirmer basal e coloração da superfície ocular com lissamina verde foram analisados no pré-operatório (pré), no 15º e no 30º dia pós-operatório (15º pós e 30º pós, respectivamente). Resultados: Agrupando todos os olhos, observou-se que o TRFL reduziu-se de forma estatisticamente significante no 15º pós em relação ao valor pré-operatório (p=0,025), mantendo-se reduzido no 30º pós (p= 0,001); não houve diferença estatisticamente significativa entre o 15º pós e o 30º pós (p=0,219). No teste da lissamina verde, houve aumento significativo desse escore, no 15º pós em relação ao período pré-operatório (p=0,021), havendo, posteriormente, redução no 30º pós (p=0,010). No teste de Schirmer basal, não foi detectada mudança estatisticamente significante ao longo dos três momentos (p=0,107). Comparando-se os testes TRFL, lissamina verde ou Schirmer basal, nos dois grupos estudados (PRK e LASIK), não houve diferença estatisticamente significante em nenhum dos três momentos (pré, 15º pós e 30º pós). Conclusão: Evidenciou-se alteração do filme lacrimal nos pacientes submetidos à cirurgia refrativa, quando foram utilizados os testes de TRFL e lissamina verde. Nas duas técnicas empregadas, não houve diferença estatisticamente significante de alteração do filme lacrimal, quando comparadas entre si (PRK e LASIK). Descritores: Síndrome do olho seco; Lágrimas; Procedimentos cirúrgicos refrativos; Ceratomileuse assistida por excimer laser in situ; Cirurgia da córnea a laser; Ceratectomia fotorrefrativa ABSTRACT Purpose: To evaluate tear film stability, ocular surface staining and tear secretion in patients undergoing PRK and femtosecond laser LASIK. Methods: Twenty eyes of 10 patients submitted to femtosecond laser LASIK and 11 eyes of the 6 patients submitted do PRK underwent tear film break-up time (TBUT), Schirmer’s basal and lissamine green staining measurements pre and postoperatively on days 15 (PO 15) and 30 (PO 30). Results: When grouping all eyes TBUT was reduced on PO 15 (p=0.025) and on PO 30 (p=0.001) compared to preoperative values. No difference was found between PO 15 and PO 30 (p=0.219). Compared to preoperative measurements, lissamine green test demonstrated a significant increase in score on PO 15 (p=0.021) and a significant reduction on PO 30 (p=0.010), when both groups were analyzed together (all 42 eyes). No changes in Schirmer’s basal test were detected in all 3 time periods (p=0.107). TBUT, lissamine green and Schirmer’s basal measurements were no different in all 3 time periods when both groups (PRK and femtosecond laser LASIK) were compared. Conclusion: TBUT and lissamine green measurements were altered after refractive surgery regardless the technique (PRK or femtosecond laser LASIK). When comparing one technique to the other, no difference was found in all measurements. Keywards: Dry eye syndromes; Tears; Refractive surgical procedures; Keratomileusis, laser in situ; Corneal surgery, laser; Photorefractive keratectomies Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil; Seção de Cirurgia Refrativa, Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, São Paulo (SP), Brasil. 1 2 Os autores declaram não haver conflitos de interesse. Recebido para publicação em 24/06/2014 - Aceito para publicação em 02/07/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 274 Leite RA, Nosé RM1, Daga FB, Lui TAF, Lui GAF, Lui-Netto A INTRODUÇÃO MÉTODOS s técnicas de cirurgia refrativa têm evoluído continuamente, sendo a ceratectomia fotorefrativa (PRK) e o “Laser assisted in situ keratomileusis” (LASIK) as duas técnicas mais usadas. Ambos os procedimentos são considerados seguros e atuam através da fotoablação de tecido corneano, e, consequentemente, seu poder refrativo (1,2). Estudos mostram que o LASIK é o procedimento refrativo mais usado para correção de miopia leve a moderada, sendo que existem diferentes aparelhos para confecção da lamela corneana (2,3) . Microceratótomos mecânicos são mais usados, e promovem uma recuperação visual rápida, com mínimo desconforto. Por sua vez, o laser de femtossegundo é um aparelho de criação de lamela automatizado, que pode fornecer maior segurança, reprodutibilidade e previsibilidade, podendo reduzir o risco de defeitos epiteliais e estrias na lamela corneana (4,5). Observa-se, na prática, que muitos pacientes se queixam de sensação de olho seco após a cirurgia refrativa (1,2). Isso deve ser levado em consideração, pois a qualidade de vida pode ser severamente afetada pela síndrome do olho seco. Pacientes com olho seco moderado a severo relatam escores quantitativos de qualidade de vida semelhantes a pacientes com angina moderada a severa, ou semelhantes a pacientes dialíticos, por exemplo. Além disso, olho seco é a razão principal de insatisfação dos pacientes após cirurgia refrativa (2,5,6). Diversos estudos já comprovaram o aumento da incidência de olho seco nos pacientes submetidos à cirurgia refrativa, nos primeiros meses pós-operatórios, através de testes quantitativos (1,2,5-8). Existem diversas teorias que tentam explicar o desencadeamento dessa síndrome após cirurgia refrativa. Existe uma complexa interação entre os nervos sensoriais aferentes da superfície ocular e os nervos eferentes autonômicos da glândula lacrimal, que modulam a secreção lacrimal. Qualquer fator que interfira nessa relação pode ocasionar o aparecimento do olho seco (1,5). Os nervos sensoriais da córnea, advindos do ramo oftálmico e maxilar do nervo trigêmeo, penetram através do limbo, formando um feixe nervoso espesso, no terço anterior da córnea; a seguir, curvam-se, penetrando na camada de Bowman, e formam o plexo nervoso epitelial-subepitelial entre as células basais epiteliais e a camada de Bowman. A secção desses nervos durante a confecção da lamela corneana no LASIK e a fotoablação no PRK afetam essa harmonia, podendo provocar olho seco (1,2,5-8). Além disso, inflamação pós-operatória, próxima às terminações nervosas poderiam estimular a produção de citocinas, exacerbando o quadro de olho seco pré-existente. Ademais, ambas as técnicas de cirurgia refrativa alteram a curvatura corneana, promovendo alteração da relação da superfície lacrimal com as pálpebras, durante o piscar, afetando a distribuição lacrimal (5). Outro mecanismo fisiopatológico proposto baseia-se, no fato de que já foi constatada a perda de células caliciformes nos pacientes submetidos ao LASIK, provavelmente devido ao dano direto do aparelho de sucção, durante confecção da lamela (seja através do microceratótomo ou laser de femtossegundo) (4,5). O objetivo deste trabalho foi determinar se pacientes submetidos ao PRK e ao LASIK com laser de femtossegundo apresentam alteração quantitativa e da estabilidade do filme lacrimal, no período pós-operatório, assim como se alguma dessas técnicas promove maior incidência dessas alterações, através dos seguintes testes: Tempo de rotura do filme lacrimal (TRFL), Schirmer basal e lissamina verde. Foi realizado um estudo prospectivo, longitudinal e intervencionista, analisando 31 olhos (16 pacientes); desses, 20 olhos (10 pacientes) foram submetidos ao LASIK com laser de femtossegundo e 11 olhos (6 pacientes) submetidos ao PRK. Tais pacientes procuraram a Seção de Cirurgia Refrativa da Santa Casa de São Paulo, entre agosto de 2012 e maio de 2013, e todas as cirurgias foram realizadas no dia 27 de junho de 2013, na clínica oftalmológica privada, Eye Clinic Day Hospital, sem custo financeiro para os pacientes. Usuários de lente de contato retiraram suas lentes um mês antes da cirurgia. O estudo em análise foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Santa Casa de São Paulo, nº 261728. A Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 Critérios de inclusão Indivíduos maiores de 21 anos, portadores de ametropia, com estabilidade de no mínimo um ano, com equivalente esférico entre -1,50 e - 6,00 dioptrias e componente cilíndrico menor que 2,00 dioptrias, com topografia corneana normal, sem doenças oftalmológicas. Critérios de exclusão Paciente sem disponibilidade para as visitas de controle, com cirurgia oftalmológica prévia, portadores de doenças sistêmicas e/ou doenças oftalmológicas que pudessem alterar o filme lacrimal, usuários de medicamentos que pudessem interferir na produção de lágrima. A decisão sobre a técnica cirúrgica (PRK ou LASIK) foi baseada de acordo com a ametropia e espessura corneana do paciente. Foram realizados os seguintes testes com esses pacientes, uma semana antes da cirurgia (pré), no 15º dia pós-operatório (15º pós) e no 30º dia pós-operatório (30º pós): Tempo de ruptura do filme lacrimal, lissamina verde e Schirmer basal. Todos os testes foram realizados no mesmo ambiente em sala fechada. O TRFL foi realizado instilando-se uma gota de fluoresceína no fundo de saco conjuntival. O paciente foi instruído a piscar várias vezes, para uniformizar a distribuição da fluoresceína. Posteriormente, o paciente foi examinado à lâmpada de fenda, com o filtro de azul de cobalto. Foi utilizado um cronômetro digital para marcar o tempo em segundos, entre o último piscar e o aparecimento do primeiro ponto seco. Em seguida, foi realizada a coloração de lissamina verde, colocando-se a fita de lissamina em contato com o menisco lacrimal do fundo de saco inferior, aguardando-se 2 minutos para a análise. Foi utilizada a classificação de van Bijsterveld para graduação. Dividiu-se a rima palpebral em 3 áreas: conjuntiva bulbar lateral, córnea e conjuntiva bulbar medial. Em cada uma dessas áreas foi empregada a seguinte graduação: 0- ausência de coloração, 1 - pontilhados finos, isolados; 2 - pontilhados grosseiros, agrupados; 3 - placa. Com a soma de cada uma dessas áreas chegou-se ao escore final (que pode variar de 0 a 9). Após 10 minutos foi realizado o teste de Schirmer basal instilando-se uma gota de anestésico no fórnice inferior. Em seguida, colocou-se uma tira de papel de filtro Whatman nº 41, de 5 mm de largura por 35 mm de comprimento, na junção do 1/ 3 médio e lateral da pálpebra inferior. Após 5 minutos, a tira foi retirada e a quantificação foi feita pela medida da extensão do papel filtro que ficou úmida. Técnica cirúrgica Para o PRK, foi utilizado o excimer laser WaveLight EX500® (Alcon). Foi utilizada lente de contato terapêutica nesses Análise quantitativa e qualitativa do filme lacrimal nos pacientes submetidos a PRK e LASIK com femtosegundo pacientes durante sete dias. A prescrição padrão incluiu colírio de moxifloxacino 0,5% (Vigamox®, Alcon) de 6/6 horas, durante sete dias, colírio de cetorolaco de trometamina (Acular®, Alcon), de 6/6 horas durante três dias, e acetato de prednisolona 0,12% (Ster MD®, Genom), em regressão durante seis semanas. Nos pacientes submetidos ao LASIK, a lamela corneana foi confeccionada, através do laser de femtossegundo LDV Z6® (Ziemer), com espessura de 110 µm e a fotoablação foi realizada utilizando-se o excimer laser WaveLight EX500® (Alcon). A prescrição incluiu colírio combinado de moxifloxacino 0,5% + dexametasona 0,1% (Vigadexa®, Alcon) durante sete dias. 275 Gráfico 1 Distribuição dos pacientes das técnicas PRK e LASIK, segundo gênero R ESULTADOS Foram utilizados os seguintes testes para análise estatística: • Teste exato de Fisher, na comparação da distribuição do sexo dos pacientes entre os grupos de técnica cirúrgica (PRK, LASIK); • Teste t-Student para amostras independentes, na comparação da idade (anos) dos pacientes entre os grupos de técnica cirúrgica (PRK, LASIK); • ANOVA em blocos, na comparação dos testes TRFL (segundos), lissamina verde (escore) e Schirmer basal (milímetros), ao longo dos momentos de tempo (pré, 15º pós e 30º pós), além das comparações múltiplas pelo método LSD, quando necessário. • ANOVA com medidas repetidas na comparação das técnicas cirúrgicas (PRK x LASIK) ao longo dos momentos de tempo (pré, 15º pós e 30º pós), nos testes TRFL, lissamina verde e Schirmer basal. Em todas as conclusões obtidas através das análises inferenciais, foi utilizado o nível de significância p igual a 5%. Gráfico 2 Diagrama de dispersão unidimensional da idade (anos) dos pacientes das técnicas PRK e LASIK Tabela 1 Distribuição dos pacientes das técnicas PRK e LASIK, segundo gênero e idade Gênero (n%) Feminino Masculino Total Idade (anos) N PRK LASIK Total Valor p 5 83,3 1 16,7 6 100,0 7 70,0 3 30,0 10 100,0 12 75,0 4 25,0 16 100,0 >0,999 a 6 10 16 Média 33,7 Mediana 33,5 Mínimo 26,0 Máximo 45,0 Desvio-padrão 7,6 32,1 32,0 22,0 52,0 9,0 0,728b 32,7 32,0 22,0 52,0 8,3 Exato de Fisher, bt-Student para amostras independentes a No grupo submetido ao PRK 83,3% eram do sexo feminino e no grupo submetido ao LASIK 70% eram do sexo feminino. Não houve diferença estatisticamente significante entre esses dois grupos, quanto ao sexo (p>0,999). Em relação à idade média, no grupo PRK ela foi de 33,7 ± 7,6, e no grupo LASIK, 32,1 ± 9,0, não se encontrando diferença estatisticamente significante (p=0,728); (tabela 1, gráficos 1 e 2). Agrupando-se os pacientes de ambas as técnicas foram obtidos no teste de TRFL os seguintes valores: 13,2 ± 3,3, no período pré-operatório; 11,3 ± 4,4, no 15º pós; e 10,4 ± 3,2, no 30º pós. Houve diferença estatisticamente significante entre os tempos pré e 15º pós (p=0,025) e entre os tempos pré e 30º pós (p=0,001), porém sem diferença estatisticamente significante entre os grupos 15º pós e 30º pós (p=0,219). Em relação ao teste de lissamina verde os valores foram: 1,0 ± 0,9, no período préoperatório; 1,3 ± 1,0, no 15º pós, e 1,0 ± 1,0, no 30º pós. Houve diferença estatisticamente significante entre os tempos pré e 15º pós (p=0,021) e entre os tempos 15º pós e 30º pós (p=0,010), porém entre os grupos pré e 30º pós, não se observou diferença significativa (p=0,768). Por fim, considerando o Teste de Schirmer, os resultados foram os seguintes: 17,6 ± 10,6, no período préoperatório; 14,5 ± 10,8, no 15º pós; e 16,2 ± 11,0, no 30º pós. Não houve diferença estatisticamente significativa durante esses 3 tempos (p=0,107); (tabela 2). Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 276 Leite RA, Nosé RM1, Daga FB, Lui TAF, Lui GAF, Lui-Netto A Tabela 2 Valores de média e desvio padrão do desempenho dos olhos de todos os pacientes nos testes TRFL (em segundos), lissamina verde (escore) e Schirmer basal (em milímetros) Tempo TRFL Média ± Desvio padrão Amplitude Valor pc Valor pd pré 15º pós 30º pós 13,2 ± 3,3 11,3 ± 4,4 10,4 ± 3,2 8,0 – 18,0 4,0 – 20,0 6,0 – 16,0 Lissamina pré 15º pós 30º pós 1,0 ± 0,9 1,3 ± 1,0 1,0 ± 1,0 0,0 – 3,0 0,0 – 3,0 0,0 – 3,0 0,019 0,021* 0,010** 0,768*** Schirmer pré 15º pós 30º pós 17,6 ± 10,6 14,5 ± 10,8 16,2 ± 11,0 0,0 – 35,0 0,0 – 35,0 0,0 – 35,0 0,107 - 0,003 0,025* 0,219** 0,001*** ANOVA em blocos; dcomparações múltiplas pelo método LSD; (*)comparação entre pré e 15º pós; (**) comparação entre 15º pós e 30º pós; (***) comparação entre pré e 30º pós c Tabela 3 Valores de média e desvio padrão do desempenho dos olhos dos pacientes das técnicas PRK e LASIK nos testes TRFL (em segundos), lissamina verde (escore) e Schirmer basal (em milímetros) Teste Tempo PRK LASIK Valor p TRFL pré 15º pós 30º pós 12,7 ± 2,8 10,5 ± 3,1 10,8 ± 3,0 13,4 ± 3,5 11,8 ± 5,1 10,2 ± 3,4 0,744c Lissamina pré 15º pós 30º pós 1,5 ± 0,9 1,7 ± 0,9 1,4 ± 1,1 0,8 ± 0,9 1,1 ± 1,0 0,8 ± 0,9 0,093c Schirmer pré 15º pós 30º pós 15,9 ± 10,4 11,9 ± 7,1 13,8 ± 6,9 18,6 ± 10,9 16,1 ± 12,5 17,7 ± 12,9 0,394c Valor de p comparando PRK e LASIK por meio da ANOVA com medidas repetidas; c Gráfico 3 Gráfico 4 Perfis individuais médios do desempenho dos olhos dos pacientes das técnicas PRK e LASIK no teste TRFL (em segundos) Perfis individuais médios do desempenho dos olhos dos pacientes das técnicas PRK e LASIK no teste lissamina verde (escore) Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 Análise quantitativa e qualitativa do filme lacrimal nos pacientes submetidos a PRK e LASIK com femtosegundo Gráfico 5 Perfis individuais médios do desempenho dos olhos dos pacientes das técnicas PRK e LASIK no teste Schirmer basal (em milímetros) Analisando os dois grupos separados (PRK e LASIK) obtiveram-se os seguintes resultados: No teste de TRFL, o grupo PRK apresentou, respectivamente, nos tempos pré, 15º pós e 30º pós: 12,7 ± 2,8; 10,5 ± 3,1; 10,8 ± 3,0, enquanto o grupo LASIK: 13,4 ± 3,5; 11,8 ± 5,1; 10,2 ± 3,4. Não houve diferença estatisticamente significativa entre as duas técnicas (p=0,744). Quanto ao teste da lissamina verde foram observados os seguintes valores no grupo PRK, respectivamente, nos tempos pré, 15º pós e 30º pós: 1,5 ± 0,9; 1,7 ± 0,9; 1,4 ± 1,1, enquanto no grupo LASIK: 0,8 ± 0,9; 1,1 ± 1,0; 0,8 ± 0,9. Não foi constatada diferença significativa, novamente (p=0,093), entre as duas técnicas. Quanto ao teste de Schirmer basal, por sua vez, no grupo PRK foram obtidos os seguintes resultados nos tempos pré, 15º pós e 30º pós, respectivamente: 15,9 ± 10,4; 11,9 ± 7,1; 13,8 ± 6,9, enquanto no grupo LASIK: 18,6 ± 10,9; 16,1 ± 12,5; 17,7 ± 12,9. Mais uma vez, não foi constatada diferença estatisticamente significativa entre essas duas técnicas (p=0,394); (tabela 3). D ISCUSSÃO Em relação à amostra populacional deste estudo, é importante enfatizar que, nos dois grupos (PRK e LASIK), não houve diferença estatisticamente significante em relação à idade, nem ao sexo dos pacientes (tabela 1, gráficos 1 e 2), o que poderia influir na incidência de olho seco de cada grupo. Pacientes mais idosos e do sexo feminino possuem maior tendência a desenvolver olho seco (6). Quando se agruparam os pacientes de ambas as técnicas cirúrgicas, para evidenciar o surgimento de olho seco, notou-se que, em relação ao TRFL, houve redução significativamente estatística no 15º pós, em relação aos valores pré-operatórios, se mantendo com níveis menores ainda no 30º pós (porém sem diferença significativa em relação ao 15º pós); (tabela 2, gráfico 3). Isso condiz com alguns trabalhos da literatura que evidenciam redução no TRFL (7,8). O TRFL é um importante teste para análise da estabilidade do filme lacrimal e foi considerado ser, juntamente com a avaliação de sintomas, o teste de olho seco mais confiável, devido à maior reprodutibilidade do exame, ou 277 seja, apresenta menor variação entre dois exames (9). Sendo assim, o presente estudo confirma a tendência ao aparecimento de olho seco nos pacientes submetidos à cirurgia refrativa. Em seguida, analisando-se o teste da lissamina verde, houve aumento significativo do escore, no 15º pós, em relação ao período pré-operatório, ocorrendo, em seguida, redução significativa no 30º pós, chegando a igualar-se estatisticamente com os valores basais pré-operatórios (tabela 2, gráfico 4). A lissamina verde é um importante corante, que impregna células do epitélio conjuntival e corneano desvitelizadas, presentes em pacientes com deficiência do filme lacrimal. Tem a mesma ação da rosabengala, com a vantagem de causar menos irritação. Apresenta reprodutibilidade moderada (9). Através desse teste, notou-se que ocorre realmente lesão das células epiteliais nas duas primeiras semanas de pós-operatório, em ambas as técnicas cirúrgicas, retornando aos valores basais pré-operatórios já no primeiro mês após a cirurgia. Essa lesão pode ter sido provocada pelo próprio ato cirúrgico em si, ou representar um sinal de olho seco precipitado por ele. Observando-se o Teste de Schirmer Basal, por sua vez, não foi observada diferença estatisticamente significante, nos 3 momentos (pré-operatório, 15º pós e 30º pós); (tabela 3, gráfico 5), ao contrário do constatado em vários outros estudos (1,7,8). Analisando-se apenas o gráfico, observa-se que o Schirmer tende a reduzir após a operação, porém isso não foi provado estatisticamente. Deve-se ressaltar que a maioria dos outros trabalhos estuda o Schirmer tipo I (sem instilação de colírio anestésico) no período pós-operatório de cirurgia refrativa, ao invés do basal, utilizado neste trabalho (no qual instilamos anestésico no fundo de saco, antes da colocação da tira de Schirmer). O Schirmer tipo 1, provavelmente, é o tipo mais afetado após a cirurgia refrativa, pois ele avalia a secreção basal e reflexa de lágrima, enquanto o Schirmer basal avalia apenas a secreção basal. Porém, Nichols et al. (9) demonstraram que o teste de Schirmer tipo I possui baixa reprodutibilidade nos pacientes com olho seco de leve a moderado, sendo mais confiável apenas nos pacientes com olho seco severo. Dessa forma, foi preferido utilizar o Schirmer basal, para o estudo em questão. Além disso, no mesmo dia do pré-operatório desses pacientes, em que foram coletados os exames de olho seco, foi realizada a refração estática, previamente, quando se instilaram colírios anestésico, cicloplégico e tropicamida. Sendo assim, para evitar o viés de alguns pacientes ainda apresentarem-se sob ação do colírio anestésico e outros sem ação do mesmo foi preferido utilizar-se do Schirmer basal. Deve ser levado em conta, também, que apesar de todos esses testes terem sido realizados no mesmo ambiente, em sala fechada, houve variação de temperatura e umidade, na cidade de São Paulo, onde foi realizado o experimento, o que pode, sem dúvida, ter influenciado nesses resultados. Alguns estudos mostram que os pacientes submetidos ao LASIK apresentam olho seco não apenas por maior período de tempo, em relação àqueles submetidos ao PRK, mas assim como maior incidência de olho seco nos pacientes pós-LASIK (7,8). No nosso estudo, entretanto, não se notou superioridade de nenhuma técnica em relação a outra, em nenhum dos testes, nos três momentos distintos de tempo analisados (pré, 15º pós e 30º pós); (tabela 3). Isso pode estar relacionado ao fato de que, nesses outros trabalhos, utilizou-se o microcerátomo para confecção da lamela, ao invés do laser de femtossegundo, utilizado neste trabalho. A introdução do laser de femtossegundo no LASIK trouxe a expectativa de reduzir a incidência de olho seco, Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 278 Leite RA, Nosé RM1, Daga FB, Lui TAF, Lui GAF, Lui-Netto A por ter maior segurança e acurácia, em relação ao procedimento com microceratótomo (4,5). Salomão et al. (10) concluíram que pacientes submetidos ao LASIK, com confecção da lamela corneana através do laser de femtossegundo apresentaram menos olho seco do que pacientes cuja lamela foi confeccionada através do microcerátomo manual. Por sua vez, Golas et al. (6) mostraram não haver diferença estatisticamente significante entre os sintomas de olho seco nesses dois grupos. Ressalta-se, assim, a importância do cirurgião de estar atento ao desenvolvimento de olho seco, após a cirurgia. Além disso, a escolha entre as duas técnicas cirúrgicas envolvidas não pareceu influenciar na alteração do filme lacrimal, segundo os resultados obtidos. C ONCLUSÃO O presente estudo evidenciou alterações do filme lacrimal nos pacientes submetidos ao PRK e ao LASIK com femtossegundo, quando analisados os testes de TRFL e lissamina verde, com retorno aos valores basais pré-operatórios do escore de lissamina verde 1 mês após a cirurgia. Em relação ao Schirmer, não houve alteração significativa no decorrer de 1 mês pósoperatório. As técnicas de PRK ou LASIK com femtossegundo mostraram resultados semelhantes na alteração do filme lacrimal. 3. Netto MV, Espíndola RF, Nogueira RG, Campos M, Ambrósio Jr. R, Andrade NL. Censo Brasileiro de Cirurgia Refrativa. Arq Bras Oftalmol. 2013;76(1):29-32. 4. Rodriguez AE, Rodriguez-Prats JL, Hamdi IM, Galal A, Awadalla M, Alio JL. Comparison of Goblet cell density after femtosecond laser and mechanical microkeratome in LASIK. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2007; 48(6): 2570–5. 5. Shtein RM. Post-LASIK dry eye. Expert Rev Ophthalmol. 2011; 6(5):575–82. 6. Golas L, Manche EE. Dry eye after laser in situ keratomileusis with femtosecond laser and mechanical keratome. J Cataract Refract Surg. 2011; 37(8):1476-80. 7. Lee JB, Ryu CH, Kim J, Kim EK, Kim HB. Comparison of tear secretion and tear film instability after photorefractive keratectomy and laser in situ keratomileusis. J Cataract Refract Surg. 2000; 26(9):1326–31. 8. Nejima R, Miyata K, Tanabe T, Okamoto F, Hiraoka T, Kiuchi T, Oshika T Corneal barrier function, tear film stability, and corneal sensation after photorefractive keratectomy and laser in situ keratomileusis. Am J Ophthalmol. 2005; 139(1):64-71. 9. Nichols KK, Mitchell GL, Zadnik K. The repeatability of clinical measurements of dry eye. Cornea. 2004;23 3):272–85. 10. Salomão MQ, Ambrósio R Jr, Wilson SE. Dry eye associated with laser in situ Keratomileusis: Mechanical microkeratome versus femtosecond laser. J Cataract Refract Surg. 2009; 35(10):1756-60. R EFERÊNCIAS 1. 2. Credie MG, Nishiwaki-Dantas MC, Felberg S, Amorim F, Dantas PE. Alterações quantitativas do filme lacrimal após cirurgia refrativa: estudo comparativo entre PRK e LASIK. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(1):23-30. Murakami Y, Manche EE. Prospective, randomized comparison of selfreported postoperative dry eye and visual fluctuation in LASIK and photorefractive keratectomy. Ophthalmology. 2012;119(11):2220–4. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 273-8 Correspondência com o autor: Rubens Amorim Leite Rua doutor Diogo de Faria, no 85, apto. 72 - Vila Clementino, São Paulo (SP), Brasil Tel: (11) 98568-5500 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 279 Novel spatula and dissector for safer deep anterior lamellar keratoplasty Uso de espátula e dissector para otimização da ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK) Gustavo Bonfadini1,2,3, Eun Chul Kim1,4, Mauro Campos3, Albert S. Jun1 ABSTRACT Objective: We describe a novel spatula and dissector to facilitate the big-bubble technique in deep anterior lamellar keratoplasty (DALK). Methods: A 29-year-old man who was diagnosed with bilateral keratoconus underwent deep anterior lamellar keratoplasty (DALK). After 350µm partial thickness incision of the recipient cornea, the Bonfadini dissector was inserted at the deepest point in the peripheral incision and could be advanced to the center of the cornea safely because of its “semi-sharp” tip. After achieving the big-bubble (BB) separation of Descemet membrane (DM) from the overlying stroma, the anterior stromal disc was removed. Viscoelastic material was placed on the stromal bed to prevent uncontrolled collapse and perforation of DM during the paracentesis blade incision into the BB. We could detect the safe opening of the BB using the Bonfadini dissector by the leakage of air bubbles into the viscoelastic material. After injecting viscoelastic material into the BB space, we inserted the Bonfadini spatula into the big-bubble safely because of its curved profile and blunt edges. The groove along the length of the Bonfadini spatula enables safe and efficient incision or the residual stromal tissue using the pointed end of a sharp blade while protecting the underlying DM. After removal of posterior stroma, the donor button was sutured with 16 interrupted 10-0 nylon sutures. Results: This technique and the use of the Bonfadini spatula and dissector facilitate exposure of Descemet membrane. Conclusion: The smooth Bonfadini DALK spatula and dissector facilitate safe and efficient completion of DALK surgery. Keywords: Deep anterior lamellar keratoplasty; Corneal transplantation/methods; Keratoplasty; Bonfadini dissector; Bonfadini spatula R ESUMO Objetivo: Descrevemos o uso de novos instrumentais cirúrgicos para facilitar a técnica de “big-bubble” na ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK). Métodos: Paciente masculino, 29 anos, foi diagnosticado com ceratocone bilateral e submetido à ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK). Após incisão da córnea receptora numa profundidade de 350µm de espessura parcial, o dissector Bonfadini foi inserido no ponto mais profundo da incisão periférica e pode avançar para o centro da córnea com segurança devido à sua ponta semiafiada. Depois de realizar a “big-bubble” (BB) e atingir a separação da Membrana de Descemet (MD) do estroma sobrejacente, o disco corneano de estroma anterior foi removido. Um viscoelástico foi colocado sobre o leito do estroma remanescente para impedir o colapso não-controlado e perfuração da MD durante a incisão na BB com lâmina de paracentese. Verificamos segurança no rompimento do estroma remanescente com o auxílio do dissector Bonfadini, para liberação da bolha de ar da BB através do viscoelástico. Depois de injetar o viscoelástico no espaço da BB, inserimos a espátula Bonfadini neste espaço, o que demonstrou-se seguro devido ao formato curvo e das bordas arredondadas do instrumental. A chanfradura ao longo do comprimento da espátula Bonfadini permite a incisão pela ponta de uma lâmina afiada, protegendo assim a MD subjacente. Após a remoção do estroma posterior, o botão doador foi suturado com 16 pontos interrompidos de fio nylon 10.0. Resultados: Esta técnica e o uso da espátula Bonfadini e dissector facilitam a exposição de membrana de Descemet. Conclusão: A superfície lisa da espátula Bonfadini e dissector, facilitam a realização segura e eficiente da ceratoplastia lamelar anterior profunda (DALK). Descritores: Ceratoplastia lamelar anterior profunda; Transplante de córnea/métodos; Ceratoplastia; Dissector Bonfadini; Espátula Bonfadini Cornea & Anterior Segment Service, Wilmer Eye Institute, Johns Hopkins School of Medicine, Baltimore, Maryland, USA; Rio de Janeiro Eye Bank, Rio de Janeiro, RJ, Brazil; 3 Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brazil; 4 College of Medicine, Catholic University of Korea, Seoul, Korea. 1 2 The authors have no public and private financial support, or financial interest Recebido para publicação em 25/02/2014 - Aceito para publicação em 26/04/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 279-81 280 Bonfadini G, Kim EC, Campos M, Jun AS D INTRODUCTION eep anterior lamellar keratoplasty (DALK) has been proposed as an alternative to penetrating keratoplasty (PK) for the treatment of various corneal diseases not affecting the endothelium. DALK surgery removes the anterior layers of the cornea, cleaving the deep stroma from Descemet membrane (DM). The advantages of the DALK technique for corneal stromal diseases include absence of endothelial rejection, avoidance of potential open-sky intra-operative complications of PK, faster visual rehabilitation due to earlier suture removal, and a predicted longer graft survival because of the lower rate of endothelial cell loss (1). DALK is a time-consuming and technically demanding procedure. The most frequent intraoperative complication is perforation of DM while attempting to separate it from the overlying stroma during creation of the big-bubble (BB) (2). Sarnicola et al.(3) reported that a smooth spatula and cannula can facilitate a high percentage of successful DALK and make the procedure more reliable than compared to air injection with a needle. In this report, we describe a novel Bonfadini dissector and spatula for safely manipulating the big-bubble and removing posterior stroma. Surgical technique A 29-year-old man diagnosed with bilateral keratoconus 6 years ago, visited our service complaining of ocular pain and decreased vision in the right eye. He had worn rigid gas permeable (RGP) contact lenses for 16 years. His best spectacle corrected visual acuity OD was 20/80 and OS was 20/25. Slitlamp examination revealed marked corneal stromal scarring and epithelial punctuate erosions on the right central cornea. Hence, deep anterior lamellar keratoplasty (DALK) was completed uneventfully in the right eye. The operation was performed under sub-Tenon anesthesia by A.S.J; The technique described by Anwar et al.(4) was followed with the described modifications. A surgical marking pen was used to mark the center of the host cornea. An 8.5mm diameter trephine was used to lightly score the epithelium of the host cornea to outline the recipient bed. An astigmatic keratotomy blade was used to incise the recipient cornea to a depth of 350µm along the 8.5mm trephine mark. Through a small peripheral clear cornea paracentesis, the anterior chamber (AC) was filled with air, and approximately physiologic intraocular pressure confirmed. The Bonfadini dissector (Katena Products, USA; Figure 1A) was inserted at the deepest point in the peripheral groove and was advanced toward the center of the cornea. Once the Bonfadini dissector was approximately 1-2mm from the apex of the cone (Figure 1B), it was removed and the Fogla 27 gauge air injection cannula (Bausch & Lomb Storz Ophthalmic, USA), attached to a 5mL syringe filled with air was introduced into the corneal tunnel. Air was then injected into the stroma to achieve the formation of a big-bubble (figure 1C). The central anterior stromal disc was removed with an angled crescent knife, and then air was evacuated through the previously placed paracentesis. To enter into the big-bubble, we used the Ophthalmic Viscosurgical Device–Assisted Incision technique (5). A cohesive viscoelastic (Healon, Abbott Medical Optics) was placed on the stromal bed and a 1.0mm incision was then created with a paracentesis blade using only the tip of the blade with a “lifting” motion to prevent rapid collapse of the bubble which could result in Descemet membrane perforation. Entry into the big-bubble was confirmed by the appearance of a small bubble within the overlying viscoelastic material, which also served to prevent rapid egress of air from the big-bubble and rapid collapse leading to a higher probability of perforating the Descemet membrane (figure 1D). Entry into the big-bubble was confirmed by the appearance Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 279-81 of a small bubble within the overlying viscoelastic material, which also served to prevent rapid egress of air from the big-bubble and rapid collapse leading to a higher probability of perforating the Descemet membrane (figure 1D). Viscoelastic material was injected into the pre-Descemet space to expand the potential space and separate the Descemet membrane from the overlying stromal tissue. The Bonfadini spatula (Katena Products, USA; figure 2A) was introduced into the pre-Descemet space. This instrument has blunt edges and a curved profile to minimize inadvertent damage to Descemet membrane. The groove along the length of the Bonfadini spatula serves as a guide to allow for rapid incision of the posterior stromal tissue using the sharp point of a paracentesis blade (figure 2B). The spatula serves to protect the DM from Figure 1: The Bonfadini dissector has a fine, rounded tip to enable stromal dissection while preventing inadvertent perforation of Descemet membrane (A); use of the Bonfadini dissector to create a deep tunnel toward the center of the cornea from a peripheral partial thickness groove incision (B); big-bubble formation by deep, intrastromal air injection with accompanying stromal opacification (C); opening of the big-bubble with a sharp blade was detected by air leaking into viscoelastic material placed on the posterior stromal bed (D) inadvertent perforation while incising the posterior stromal tissue. Once sufficient radial incisions in the posterior stroma were completed, we removed stroma with cornealscleral scissors along the peripheral partial thickness groove incision. The full-thickness donor graft was punched at 8.75mm diameter from the endothelial side, and the endothelium was stripped from the posterior surface using surgical spears. The donor button was then sutured into position with 16 interrupted 10-0 nylon sutures (figure 2C). The patient achieved uncorrected visual acuity of 20/125 and 20/60 with pinhole on day 1 postoperatively with a wellattached graft. At 3 months after DALK, his uncorrected visual acuity was 20/60 and best spectacle corrected visual acuity (1.25 + 1.5 x 30 degrees) was 20/25 OD. DISCUSSION Corneal transplantation is singular because it is habitually performed on persons with visual deficiency but with preserved life expectancy, mobility and social life. A graft not well succeeded may cause real blindness and permanent misery due to pain and discomfort (6). To obtain a satisfactory surgical result, there is a need of an appropriate patient selection and guidance about their eye problem, the proposed surgery, care and risk per and post operative as well as the visual rehabilitation perspective (7). 281 Novel spatula and dissector for safer deep anterior lamellar keratoplasty Figure 2: The groove along the Bonfadini spatula serves as a guide to protect Descemet membrane (DM) from inadvertent perforation when incising the posterior stroma with a blade (A); creation of wedgeshaped incisions of posterior stroma, using a blade guided along the groove of the Bonfadini spatula. The spatula serves to protect inadvertent perforation of DM (B); donor button was sutured into position with 16 interrupted 10-0 nylon sutures (C) Keratoconus is one of the main indications of keratoplasty in Brazil (8), and DALK is more cost-effective than penetrating keratoplasty (PK) (9). Prevention of immune-mediated graft rejection can be achieved through meticulous surgical technique such as lamellar surgery (10). DALK aims to remove and replace total or near-total corneal stroma while preserving host healthy endothelium. The advantages of DALK include reducing the risk of endothelial graft rejection, preservation of host endothelium with minimal surgical trauma, efficient visual rehabilitation relative to penetrating keratoplasty (PK), and also fewer intraoperative and postoperative complications including expulsive hemorrhage, anterior synechia, postoperative endophthalmitis, and glaucoma in comparison to PK. This procedure also requires less rigid criteria for donor corneal tissue selection that is often weighted toward donor endothelium in PK (11). Major disadvantages of anterior lamellar keratoplasty as compared to penetrating keratoplasty are the irregularity and sub-optimal optics of the corneal stromal bed which occur following manual lamellar dissection techniques (12). These issues are avoided in DALK. However, the challenge with DALK continues to be the learning curve for novice surgeons when trying to expose DM (descemetic DALK [dDALK]) versus dissection in a pre-Descemetic stromal plane (pre-Descemetic DALK [pdDALK]) (3). The dDALK procedure allows faster visual recovery than pdDALK(13). Thus, the goal of DALK is to expose the DM without damage and to achieve dDALK. Lamellar dissection of the stroma can be performed by a manual technique using a variety of instruments, including lamellar knives and dissectors (14). Using the Bonfadini dissector, we could create a deep tunnel near the corneal center prior to air injection. The Bonfadini dissector has a fine, rounded tip, which can dissect stromal tissue relatively easily while reducing the likelihood of penetrating Descemet membrane. Accessing the deep stroma for air injection may improve the success of achieving the big-bubble. The most serious complication during big-bubble DALK surgery is intraoperative perforation of Descemet membrane, which may require subsequent conversion to full-thickness penetrating keratoplasty (15). Perforation of Descemet membrane is more likely to occur as a result of direct needle trauma during initial air injection and dissection of the corneal stroma (16). As well, perforation of DM can occur while opening the big-bubble and dissecting remaining stroma over Descemet membrane. In the technique described here, viscoelastic material is placed on the stromal bed before opening the big-bubble (5). We can detect entry into the big-bubble (BB) by air leaking into the viscoelastic material. This sign allows a very controlled entry into the BB as it is readily and immediately visible and prevents rapid egress of air and collapse of the BB. Once the BB is accessed and further expanded by injection of viscoelastic into the BB, the design of the Bonfadini spatula allows it to be manipulated within the BB space with minimal chance of inadvertent trauma to DM. The groove along the length of the Bonfadini spatula also serves as a convenient guide to facilitate rapid incision of the posterior stroma into wedges, which can be excised at the periphery using standard corneal scissors. Thus, we present the novel Bonfadini dissector and spatula as aids for the successful completion of DALK surgery. In summary, the benefits of our proposed technique could be shown more conclusively in a case–control or prospective study with a larger number of patients to validate our findings. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. Shimmura S, Tsubota K. Deep anterior lamellar keratoplasty. Curr Opin Ophthalmol. 2006;17(4):349-55. Review. Michieletto P, Balestrazzi A, Balestrazzi A, Mazzotta C, Occhipinti I, Rossi T. Factors predicting unsuccessful big bubble deep lamellar anterior keratoplasty. Ophthalmologica. 2006;220(6):379-82. Sarnicola V, Toro P. Blunt cannula for descemetic deep anterior lamellar keratoplasty. Cornea. 2011;30(8):895-8. Anwar M, Teichmann KD. Big-bubble technique to bare Descemet’s membrane in anterior lamellar keratoplasty. J Cataract Refract Surg. 2002;28(3):398-403. Goshe J, Terry MA, Shamie N, Li J. Ophthalmic viscosurgical deviceassisted incision modification for the big-bubble technique in deep anterior lamellar keratoplasty. J Cataract Refract Surg. 2011;37(11):1923-7. Marcomini LA, Sobral RM, Seixas GO, Sousa SJ. [Corneal selection for transplants]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(6):430-6. Portuguese. Kara-Junior N, Mourad PC, Espíndola RF, AbilRuss HH. [Expectation and knowledge among patients with keratoplasty indication]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(4):230-4. Portuguese. Zeschau A, Balestrin IG, Stock RA, Bonamigo EL. [Indications of keratoplasty: a retrospective study in a University Hospital]. Rev Bras Oftalmol. 2013;72(5):316-20. Portuguese. Koo TS, Finkelstein E, Tan D, Mehta JS. Incremental cost-utility analysis of deep anterior lamellar keratoplasty compared with penetrating keratoplasty for the treatment of keratoconus.Am J Ophthalmol. 2011;152(1):40-47.e2. Costa DC, Kara-Joseì N. [Corneal transplant rejection]. Rev Bras Oftalmol. 2008; 67(5):255-63. Portuguese. Espandar L, Carlson AN. Lamellar Keratoplasty: A Literature Review. J Ophthalmol. 2013;2013:894319. Review. Parthasarathy A, Por YM, Tan DT. Use of a “small-bubble technique” to increase the success of Anwar’s “big-bubble technique” for deep lamellar keratoplasty with complete baring of Descemet’s membrane. Br J Ophthalmol. 2007;91(10):1369-73. Sarnicola V, Toro P, Gentile D, Hannush SB. Descemetic DALK and predescemetic DALK: outcomes in 236 cases of keratoconus. Cornea. 2010;29(1):53-9. Bonfadini G, Moreira H, Jun AS, Campos M, Kim EC, Arana E, et al. Modified femtosecond laser-assisted sutureless anterior lamellar keratoplasty. Cornea. 2013;32(4):533-7. Jhanji V, Sharma N, Vajpayee RB. Intraoperative perforation of Descemet’s membrane during “big bubble” deep anterior lamellar keratoplasty. Int Ophthalmol. 2010;30(3):291-5. Leccisotti A. Descemet’s membrane perforation during deep anterior lamellar keratoplasty: prognosis. J Cataract Refract Surg. 2007;33(5):825-9. Address reprint requests to: Albert S. Jun Cornea and External Disease Service Wilmer Smith Building 5011, The Johns Hopkins Medical Institutions 400 N. Wolfe Street, Baltimore, MD 21231 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 279-81 A 282 RTIGO ORIGINAL Serological profile of candidates for corneal donation Perfil sorológico de candidatos a doação de córneas Adroaldo Lunardelli1, Richard Beraldini Alvarenga1, Maria Luiza Assmann1, Dário Eduardo de Lima Brum1, Mirna Adolfina Barison1 ABSTRACT Objective: The purpose of this study is to map the serological profile of candidates to corneal donation at Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, identifying the percentage of disposal by serology and the marker involved. Methods: There have been analised – retrospectively – the results of serology of all corneal donors, made between the period of 1st january 2006 and 31st december 2012. Data analised were related to age, gender and the results of serology pertinent to viral markers (HBsAg, anti-HBc, anti-HCV and anti-HIV), these, determined by immunosorbent tests (ELISA). Results: In the period of the study, there were 2476 corneal donors at the institution, with a major incidence on the male gender, on an average of 58.7 years old. 23% of retention because of serological unfitness was also identified, that is, 570 samples were non-negative to any of the used tests. The marker anti-HBc was the most prevalent on the studied population, followed by the Hepatitis C virus (HCV) and by the Human Immunodeficiency Virus (HIV). Conclusion: From the data found through this study, it is essential to have the participation of an efficient service on the serological evaluation of the candidates to corneal donation, once the security of the receptor must be taken into consideration in a population of donors with 23% of unfitness prevalence, in which the most prevalent marker is the one of Hepatits B. Keywords: Serology; Córnea/immunology; Corneal transplantation R ESUMO Objetivo: O intento deste desígnio é mapear o perfil sorológico dos candidatos a doação de córneas na Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, identificando o percentual de descarte por sorologia e o marcador envolvido. Métodos: Foram analisados – retrospectivamente – os resultados da sorologia de todos os doadores de córneas compreendidos entre 01 de janeiro de 2006 a 31 de dezembro de 2012. Foram avaliados os dados de idade, sexo e os resultados da sorologia pertinentes aos marcadores virais (HBsAg, anti-HBc, anti-HCV e anti-HIV) determinados por testes imunoenzimáticos (ELISA). Resultados: No período coberto pelo estudo, houve 2476 doadores de córneas na instituição, com maior ocorrência do sexo masculino e média de 58,7 anos de idade. Foram verificados 23,0% de retenção por inaptidão sorológica, ou seja, 570 amostras mostraram-se não-negativas para qualquer dos testes empregados. O marcador anti-HBc foi o mais prevalente na população aferida, seguido pelo vírus da hepatite C (HCV) e pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Conclusão: Diante dos dados encontrados por este estudo, torna-se decisiva a participação de um serviço eficaz no tangente à avaliação sorológica dos candidatos à doação de córnea, uma vez que a segurança do receptor deve ser considerada numa população de doadores com prevalência de retenção por inaptidão sorológica de 23,0%, donde o marcador mais prevalente é o de hepatite B. Descritores: Sorologia; Córnea/imunologia; Transplante de córnea; 1 Serviço de Hemoterapia, Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Porto Alegre (RS), Brazil. Study carried out at Serviço de Hemoterapia, Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil The authors have no public and private financial support, or financial interest Recebido para publicação em 15/5/2013 - Aceito para publicação em 14/10/2013 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 282-6 Serological profile of candidates for corneal donation INTRODUCTION C orneal diseases are the second cause of reversible blindness around the world and affects a young and active population, leading to an important economic and social problem (1). The corneal transplant (keratoplasty) has developed fast through the last 10 years (2), and it is considered the most successful procedure among the human tissue transplants (3). Corneal transplantation is indicated to a huge variety of diseases and it provides visual recovering, in an efficient form and low cost, to patients with corneal opacities and irregularities. The success of this surgical procedure has been set due to the fact that the cornea is avascular and there are immunological privileges on this structure. Advances on the surgical technique (4) , equipment, materials, methods to preserve the donated cornea and postoperative handling have also contributed to the success of the corneal transplants (5). The intervention of the eye banks is essential in the search for donors, in the interview with the families, in the quality of processing and distribution of the donated tissues. The quality control of the whole process and distribution of donor cornea begins with the selection of the donors, careful processing using proper techniques of ocular globe enucleation, preservation of the cornea and evaluation of parameters, such as donor serology and endothelial cells counting and the slit lamp evaluation of the donor cornea by an experienced ophthalmologist (6). Because of the increase in the number of corneas donated and kept for longer periods, the careful evaluation becomes an indispensable procedure and of high responsibility by the ocular tissue banks (7). Positive serologic testing results are one of the major reasons for discarding donor corneas (8). Despite being rare, the potential for the transmission of diseases through organ and tissue grafts exists; even with avascular tissues, as the cornea, have already demonstrated being a way of contamination and transmition. There are reports of infections caused by bacteria, fungi, viruses and even prions acquired by corneal transplant (9). The Brazilian Law does not allow the use of tissues to transplant whose donor present positive serology to hepatitis B, hepatitis C or human immunodeficiency virus (HIV) (9) (according to Resolução da Diretoria Colegiada – RDC – number 67). The intention of this study is to map the serological profile of the candidates of corneal donation at Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA), and identify the percentage of disposal by serology and the marker involved. 283 Genescreen HIV 1/2 version 2 Bio-Rad). To Hepatitis C, the research of anti-HCV antibodies was made with the kit HCV 3.0 Ortho improved by SAVe. To Hepatitis B, anti HBc and HBsAg were measured through the kits anti-HBc Plus Bio-Rad and HBsAg Ultra Bio-Rad, respectively. The results of each serology were classified as fit (negative, according to manufacturer’s criteria) or unfit (inconclusive or positive, according to manufacturer’s criteria). The data is shown in absolute numbers or percentages. No statistical analysis was applied because it is exposed descriptive data. R ESULTS This study shows that, on average, Irmandade de Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre receives 353 corneas donations a year. During the period of the study, there were 2476 corneal donors at the institution (figure 1), mostly from the male gender (56% male, figure 2) and average of 58,7 years old (±15,5, standard deviation) and median and mode of 61 and 62, respectively. Table 1 shows the age distribution of 2182 donors, from whom there had been access to the referred parameter. Twenty-three per cent of retention because of serological unfitness was also identified, that is, 570 samples were nonnegative to any of the used tests (figure 3). The marker anti-HBc was the most prevalent on the studied population, followed by the hepatitis C virus (HCV) and by the human immunodeficiency virus (HIV), as shown on table 2. Figure 1: Distribution of the number of candidates to corneal donation stratified per year M ETHODS There have been analysed – retrospectively – the results of serology of all corneal donors at ISCMPA between the period of 1st january 2006 and 31st december 2012. Data was obtained through the analisys of the electronic data bank of the institution, Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre. All corneas which were captured, evaluated and kept are there in this data bank. There have been evaluated data related to age, gender and the results of serology pertaining to viral markers (HBsAg, anti-HBc, anti-HCV and anti-HIV). The blood samples were obtained according to conditions of accessibility. The blood was kept in a dry and non-preservative tube, centrifuged to 3000 rpm for five minutes and the supernatant serum was used to dosages of immunoenzymatic tests (ELISA). Two tests to detect HIV were used: Genescreen Ultra HIV AgAb Bio-Rad and Figure 2: Distribution of corneal donors, showing the percentage of individuals from the male (M) and female (F) gender Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 282-6 284 Lunardelli A, Alvarenga RB, Assmann ML, Brum DEL, Barison MA DISCUSSION Figure 3: Distribution of the percentual of individuals according to serological fitness Table 1 Distribution of the percentual of corneal donors according to age range Age range ≤ 20 21 to 31 to 41 to 51 to 61 to 71 to ≥ 81 (%) 3.16 4.17 4.95 10.72 25.44 26.49 24.66 0.41 30 40 50 60 70 80 Total 100.0 Table 2 Distribution of corneal donors stratified by serology Test Frequency Percentage on the total of donors Percentage on the total of restraints 1.58 55.26 19.82 7.89 4.74 6.67 2.11 1.40 0.35 0.18 HBsAg A-HBc HCV HIV A-HBc + HBsAg A-HBc + HCV A-HBc + HIV A-HBc + HCV + HIV A-HBc + HBsAg + HIV HCV + HIV 9 315 113 45 27 38 12 8 2 1 0.36 12.72 4.56 1.82 1.09 1.53 0.48 0.32 0.08 0.04 Total 570 23.0 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 282-6 100.0 The cornea is the most commonly transplanted tissue in the world (2); however, one of the major restrictions for the increase of transplants is due to the number of donations (10). In many states of Brazil, the lack of ocular tissues and eye banks which are able to provide corneas in adequate number and quantity to be transplanted is, unfortunately, real (11). However, efforts have been made to change this reality (12). This study shows, according to other authors, that there is a high percentage of donors of the male gender (9,13). The minimum and maximum ages of a donor for the usage of the tissue vary according to medical regulations of each eye bank (1) . In this study, the minimum and maximum ages found were of 3 and 84, respectively. The age average found in this study (58.6 years old) supports other studies, which show an age average of 60 (1,9), despite other works refer to minimum ages even lower (3,13,14). Scientific literature shows that there is no restriction of age to corneas donated and age is not issue to low survival of the graft; what’s more, quality in the biomicroscopic and specular microscopic evaluation of the endothelium have to be taken into consideration when using corneas (7). However, old age is taken as a limiting factor, once most surgeons prefer not to use corneas from patients over 75 years old. This age is arbitrary, once the age of the donor does not seem to be related to the survival of the graft (1), though, factors as advanced age range and presence of debilitating diseases tend to coexist and increase the chances of finding a worse evaluation of quality when compared to corneas of young donors and/or trauma deaths (7). Studies show that corneas of donors in advanced ages can be perfectly acceptable for transplants, showing that these tissues when coming from older donors (over 80 years old) present a lower chance of failure or post transplant rejection than younger corneas (15). There are eye banks that stipulate a minimum age for donation, and it can reach 10 years old (1,11). Because of this, scientific literature is conflicting and inconclusive about the effect of the age of donors related to the survival of the transplanted cornea (16,17). Viral infections transmitted through transplants have already been reported, once the viruses remain in the tissue after the collection; because of this, the serological screening is an important precondition to the tissue banks (8) and the clinic screening does not exclude the undertaking of serological tests. In this study, the corneas to be used in donation, 23% (570) were retained for being considered serologically inappropriate. This percentage is lower than the ones found in other studies, for instance, an eye bank in São Paulo, Brazil, registered a disposal of 33.4% in 2006-2007 (9) or the eye bank in Cascavel, a city in the state of Paraná, also in Brazil, reported a serological disposal of 51.8% (11); however, the percentage found in this study is higher than the one found in a study in Minas Gerais, Brazil, where 9% of 1668 corneas were discarded because of positive serology (18). It is important to mention that the commercial tests are not recommended to serum of corpses; however, there are not specific tests to this end. The corpse sample is usually of low quality. In many cases, the serological tests can show false-positive results in samples post-mortem, which can lead to an unnecessary disposal of the cornea. The time of collection after death and the immediate separation of the serum (centrifugation) are two steps that can affect the quality of the sample (8). It is crucial that the multi-disciplined team – militant in the procedures of collection and storage of ocular tissues – is shrewd Serological profile of candidates for corneal donation to proceed to the blood collection as soon as possible after the death of the donor and make the centrifugation of the collected material right after that. These measures increase serological tests in quality. What’s more, it is clear that the combination between the lower period of time from death to the preservation of the material generates better quality of the cornea. Among the explanations of the influence from the time of death and enucleation and/or preservation of the corneal tissue quality are the possible metabolical alterations or even anatomical alterations in the cornea during this process (15). The Brazilian Law (RDC 67 from 30th september 2008) demands two serological tests to the detection of hepatitis B (HBsAg and anti-HBc), which exclude donors in case of positivity. In this study, the major part (55.26%) of retentions is due to anti-HBc (table 2) individually, which represents 12.72% from the total of donations. A study made with corneal donors in the region of Cascavel (state of Paraná) revealed disposal because of isolated positivity of anti-HBc of 47.4% on the total of donors. It has already been reported that, in this city, positivity to antiHBc in donors of blood is significantly higher than in other regions of the same state; however, when the presence of the DNA of hepatitis B virus was detected (a more sensitive and specific test to determine the potential of infectivity of the virus) in donors of blood with positive serology to anti-HBc and negative to HBsAg, there had reached to the result of inexistence of the DNA of the hepatitis B virus in the samples (11). Experts question the adoption of serology anti-HBc to screening corneas (18) due to its high sensitivity but low specificity (11). The Eye Bank Association of America forebodes only the undertaking of HBsAg as a screening method to hepatitis B, not including in its routine the anti-HBc (11). This idea does not seem reasonable, for most tests used to the serological diagnosis being very sensitive and specific; they cannot detect all cases of hepatitis B. Several studies show that, after undertaking the conventional screening (HBsAg and anti-HBc), when making the research of anti-HBs in the individuals non-reagent to HBsAg, but reagent to antiHBc, 10 to 34% will be also non-reagent to anti-HBs, being classified as anti-HBc isolated (19). The presence of this profile is consistent with (a) old infection with low levels of anti-HBs, (b) period of immunological window, (c) false positive reaction and (d) HBsAg chronic carrier non-detectable. Through tests of amplification of nucleic acids, it was proved the presence of the DNA of the hepatitis B virus in 1.34% of donors HBsAg negative with anti-HBc positive (19). The detection of cases with anti-HBc isolated can be avoiding not only the transmission of wild strain (not detected due to the low viral load present in individuals with non-detectable levels of HBsAg) but also the transmission of mutant strains (19). Nowadays, the non-detection of HBsAg marker due to the appearance of these mutant strains has been cause of concern. The analytic sensitivity of tests to the detection of HBsAg may rely on the genotype or subtype of the hepatitis B virus (19). In this study, the presence of anti-HBc together with HBsAg was found in 4.74% of unable donors, reaching 1.09% of the total of donations. This rate is similar to the one in the region of Cascavel, which shows 1.5% of retention to this association of markers (11). This profile is consistent with the acute phase or the chronic carry of hepatitis B (20). Also, in this study there is a report on table 2 about the prevalence of 4.56% to HCV and 1.82% to HIV. These levels 285 are superior to the ones found in eye banks of São Paulo (9) and Cascavel (11). The presence of anti-HBc together with HCV was found in 38 candidates to donation, prevailing 1.53% (6.67% among the retained ones). This situation is common, and it can represent several other situations, among them, hidden hepatitis B in patients with chronic hepatitis C (21,22). The usage of nucleic acid tests to confirm (or not) positive results is foreboded once these tests would really detect the existence of infection, for antibodies detected through traditional serological methods could persist for longer time after active infection has stopped; however, one of the limiting factors to serological screening with acid nucleic tests are the costs (9). Tissue Banks must evaluate the usage of this kind of test because they reduce the risk of viral infections caused by grafts (8). This ideal situation is still not tangible to our reality, because of the excessive burden of the process. The plurality of professionals involved in a transplant of cornea is imperative facing the extensive work done in this process. It is essential, though, that the teams are aligned with the development of the work. It is essential to have the participation of an efficient service on the serological evaluation of the candidates to corneal donation, once the security of the receptor must be taken into consideration in a population of donors with high unfitness prevalence. In this context, the adoption of nucleic acid tests will enhance quality to the process in a near future. Works like this one are of elementary importance because they bring – to the scientific community – the profile of the corneal tissues donated, and from these data, they enable institutions to take measures in relation to implementing services of eye banks based on the knowledge they have about the target public. In our study, we show retention of 23% for serological unfitness. This index is considered high if compared to serological retention of blood donation, for instance. This fact occurs because there is no clinic retention to candidates of corneal donation, once the personal interview is impossible to be made, as the donors are corpses. The most prevalent marker was referent to Hepatitis B, followed by HCV and HIV. This study confirms the validity and the importance of serological tests so to exclude positive serological corneas to prevent infections, which could be transmitted to eventual cornea receptors Aknowlodgements The authors thank Marcela Migliavacca Alvarenga for their translation support. R EFERENCES 1. 2. 3. 4. Adán CB, Diniz AR, Perlatto D, Hirai FE, Sato EH. [Ten years of corneal donation to the Hospital São Paulo Eye Bank: characteristics of cornea donors from 1996 to 2005]. Arq Bras Oftalmol. 2008;71(2):176-81. Portuguese. Tan DT, Dart JK, Holland EJ, Kinoshita S. Corneal transplantation. Lancet. 2012;379(9827):1749-61. Review. Chalita MR, Diazgranados EB, Sato EH, Branco BC, Freitas D. [Corneal graft rejection after penetrating keratoplasty: analysis of the Eye Bank of the Hospital São Paulo - Escola Paulista de Medicina]. Arq Bras Oftalmol. 2000;63(1):55-8. Portuguese. Kara-Junior N, Mourad PC, Espíndola RF, AbilRuss HH. [Expectation and knowledge among patients with keratoplasty indication]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(4):230-4. Portuguese. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 282-6 286 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Lunardelli A, Alvarenga RB, Assmann ML, Brum DEL, Barison MA Fabris C, Corrêa ZM, Marcon AS, Castro TN, Marcon IM, Pawlowski C. [Retrospective study of penetrating keratoplasty at the Santa Casa of Porto Alegre]. Arq Bras Oftalmol. 2001;64(5):449-53. Portuguese. Marcomini LA, Sobral RM, Seixas GO, Sousa SJ. [Corneal selection for transplants]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(6):430-6. Portuguese. Pantaleão GR, Zapparolli M, Guedes GB, Dimartini Junior WM, Vidal CC, Wasilewski D, et al. [Evaluation of the quality of donor corneas in relation to the age of donor and cause of death]. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(5):631-5. Portuguese. Bensoussan D, Jeulin H, Decot V, Agrinier N, Venard V. Analyses of the effects of collection and processing time on the results of serology testing of cadaveric cornea donors. Diagn Microbiol Infect Dis. 2010;68(1):40-5. Viegas MT, Pessanha LC, Sato EH, Hirai FE, Adán CB. [Discarded corneas due to positive donor’s serologic test in the Hospital São Paulo Eye Bank: a two-year study]. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(2):180-4. Portuguese. Mello GH, Massanares TM, Guedes GB, Wasilewski D, Moreira H. [Study of cornea potential donors at the Clinical Hospital of UFPR]. Rev Bras Oftalmol. 2010;69(5):290-3. Portuguese. Shiratori CN, Hirai FE, Sato EH. [Characteristics of corneal donors in the Cascavel Eye Bank: impact of the anti-HBc test for hepatitis B]. Arq Bras Oftalmol. 2011;74(1):17-20. Portuguese. Almeida Sobrinho EF, Negrão BC, Almeida HG. [Epidemiological profile of patients waiting for penetrating keratoplasty in state of Pará, Brazil]. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(6):384-90. Portuguese. Calix Netto MJ, Giustina ED, Ramos GZ, Peccini RF, Sobrinho M, de Souza LB. [Major indications for corneal penetrating keratoplasty at a reference service in São Paulo state (Sorocaba - SP, Brazil)]. Arq Bras Oftalmol. 2006;69(5):661-4. Portuguese. Cattani S, Kwitko S, Kroeff MA, Marinho D, Rymer S, Bocaccio FL. [Indications for corneal graft surgery at the Hospital de Clínicas of Porto Alegre]. Arq Bras Oftalmol. 2002;65(1):95-98. Portuguese. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 282-6 15. Hirai FE, Adán CB, Sato EH. [Factors associated with quality of donated corneas in the Hospital São Paulo Eye Bank]. Arq Bras Oftalmol. 2009;72(1):57-61. Portuguese. 16. Cornea Donor Study Investigator Group, gal RL, Dontchev M, Beck RW, Mannis MJ, Holland EJ, Kollman C, Dunn SP, Heck EL, Lass JH, Montoya MM, Schultze RL, Stulting RD, Sugar A, Sugar J, Tennant B, Verdier DD. The effect of donor age on corneal transplantation outcome results of the cornea donor study. Ophthalmology. 2008;115(4):620-626.e6. 17. Al-Muammar A, Hodge WG. Donor age as a predictor of cornea transplant success. Can J Ophthalmol. 2005;40(4):460-6. 18. Saldanha BO, Oliveira RE Jr, Araújo PL, Pereira WA, Simão Filho C. Causes of nonuse of corneas donated in 2007 in Minas Gerais. Transplant Proc. 2009;41(3):802-3. 19. Caetano MM, Beck ST. [Importance of anti-HBC antibodies determination in blood transfusion centers to prevent the posttransfusional hepatitis B virus (HBV)]. RBAC. 2006;38(4):235-7. Portuguese. 20. Ferreira WA, Ávila SL. Diagnóstico laboratorial: das principais doenças infecciosas e auto-imunes. 2a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. 21. Khattab E, Chemin I, Vuillermoz I, Vieux C, Mrani S, Guillaud O, et al. Analysis of HCV co-infection with occult hepatitis B virus in patients undergoing IFN therapy. J Clin Virol. 2005;33(2):150-7. 22. Helmy A, Al-Sebayel MI. Isolated antibody to hepatitis B core antigen in patients with chronic hepatitis C virus infection. World J Gastroenterol. 2006;12(27):4406-10. Corresponding author: Dário Eduardo de Lima Brum Serviço de Hemoterapia, Irmandade Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre Rua Professor Annes Dias, nº 295- CEP 90020-09 - Porto Alegre (RS), Brazil - Phone: 55 (51) 3214-8263 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 287 Sealing the gap between conjunctiva and Tenon’s capsule in primary pterygium surgery Adição do selamento entre conjuntiva e cápsula de Tenon em cirurgia de pterígio primário Ricardo Alexandre Stock1, Luan Felipe Lückmann2, Gabriel Alexander Ken-Itchi Kondo2, Elcio Luiz Bonamigo1 ABSTRACT Objective: To assess the results of an alternative surgical approach in the excision of primary pterygium by analyzing the rates of recurrence and of intraoperative and postoperative complications. Methods: Retrospective cross-sectional study based reviewing the clinical records of individuals subjected to surgery for pterygium, with conjunctival autograft transplantation, fibrin glue and intraoperative application of mitomycin C. In addition, sealing was performed by suturing the gap between the conjunctiva and Tenon’s capsule. A total of 36 eyes from 35 individuals were subjected to the assessed techniques. The study variables were complications of surgery and recurrence rates during a minimun follow-up period of 6 months. Results: No recurrence occurred during the follow-up period. One graft (2.8%) exhibited partial retraction, but pterygium did not recur. The intraocular pressure increased in one eye (2.8%) and was controlled by clinical methods. Conclusion: Eyes in which a barrier was established between the conjunctiva and Tenon’s capsule by sealing the gap between them showed an absence of recurrence in the sample studied. However, there is the need of a random prospective study with a control group for a more accurate conclusion on the efficacy of the technique. Keywords: Pterygium/surgery; Autografts; Transplantation, autologous; Mitomycin/therapeutic use; Fibrin tissue adhesive; Recurrence R ESUMO Objetivo: Avaliar os resultados de uma abordagem cirúrgica alternativa na excisão de pterígio primário por meio da observação das taxas de recidiva e de complicações intraoperatórias e pós-operatórias. Métodos: Estudo retrospectivo e transversal realizado a partir da revisão de prontuários de pacientes submetidos à cirurgia de pterígio com transplante autólogo de conjuntiva, cola de fibrina e aplicação intraoperatória de mitomicina C. Além disso, foi realizado através de sutura, o selamento da lacuna entre a conjuntiva e cápsula de Tenon. No total, 36 olhos de 35 pacientes foram submetidos à técnica. As variáveis do estudo foram complicações da cirurgia e taxas de recidiva durante um período mínimo de 6 meses de seguimento. Resultados: Não foram constatadas recidivas durante o tempo de seguimento. Um enxerto (2,8%) desenvolveu retração parcial, sem posterior recorrência do pterígio, e um olho (2,8%) apresentou aumento da pressão intraocular, que foi controlada clinicamente. Conclusão: A criação de uma barreira entre a conjuntiva e cápsula de Tenon, por meio do selamento da lacuna, mostrou ausência de recidiva na amostra estudada. Necessita-se, no entanto, de um estudo prospectivo randomizado com grupo controle para uma conclusão mais precisa da eficácia da técnica. Descritores: Pterígio/cirurgia; Autoenxerto; Transplante autólogo; Mitomicina/uso terapêutico; Adesivo tecidual de fibrina; Recidiva 1 2 Department of Ophthalmology, Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina, Campus de Joaçaba (SC), Brazil; Student, Medical School, Universidade do Oeste do Estado de Santa Catarina, Campus de Joaçaba (SC), Brazil. Study conducted at the Department of Ophthalmology, Universidade do Oeste de Santa Catarina - Campus de Joaçaba, SC, Brazil The authors have no public and private financial support, or financial interest Recebido para publicação em 01/07/2014 - Aceito para publicação em 11/07/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 287-90 288 P Stock RA, Lückmann LF, Kondo GAKI, Bonamigo EL INTRODUCTION terygium, from the Greek, “pterygos”, small wing, is a triangle- or trapezoid-shaped fibrovascular growth of the conjunctiva, usually located in the nasal side of the sclera and extending towards the cornea (1,2). Its growth over time can cause visual and esthetic problems, impairing the quality of life of the patients and consequently requiring surgical removal. Although it is a common eye problem, its standard surgical treatment has not yet been established. The high rates of postoperative recurrence, which exhibit remarkable variation among studies, are the main challenge patients and surgeons must address. Simple excision with bare sclera was widely performed in the past; however, the associated recurrence rates were unacceptable, as they could reach as high as 50% (²). In addition to other factors that influence the treatment outcomes, such as the pterygium morphological characteristics, some demographic variables and the postoperative regimen, surgical parameters not yet fully elucidated lead to divergent results (3). In this regard, some authors observed that a gap is inevitably created between the conjunctiva and Tenon’s capsule after the excision of pterygium and Tenon’s resection, through which fibrovascular tissue remnants can pass to cause recurrence. By closing this gap during surgery, the recurrence rate achieved in one study was only 3.1% in all the groups, thus pointing to the potential utility of this technique (3). Therefore, the aim of this study was to assess the response to surgical treatment of primary pterygium including sealing of the gap between the conjunctiva and Tenon’s capsule, combined with conjunctival autograft transplantation using fibrin glue and the application of mitomycin C (MMC). METHODS The clinical records of individuals subjected to excision of primary pterygium using intraoperative MMC, non-pedunculated conjunctival autograft transplantation fixated with fibrin glue and the sealing of the gap by means of a suture between the conjunctiva and Tenon’s capsule, from february 2011 to august 2012, were retrospectively reviewed. The records were available at the database of BellotoStock Ophthalmology Center (Centro Oftalmológico BellotoStock), where the patients were assisted before and after surgery. During this period, this technique was applied to all of the patients who underwent pterygium surgery. Only individuals who were followed up for at least six months after surgery were included in the study. Cases of recurrent pterygium and cases that did not complete the minimum follow up period were excluded from analysis. The total sample comprised 36 eyes from 35 individuals. The following data were collected before surgery: age, gender and pterygium localization. The same surgeon (R.A.S.) performed all the surgical procedures at Santa Terezinha University Hospital (Hospital Universitário Santa Terezinha - HUST), Joaçaba (SC), Brazil, always using the same surgical and antiseptic techniques. The surgical technique was based on the one described by Liuet al. (3) The procedure started with peribulbar anesthesia using 2% lidocaine and 0.75% bupivacaine in 1:1 ratio. Asepsis was performed using 5% povidone-iodine followed by the placement of sterile surgical drapes and the eye speculum. Using conjunctival scissors, the pterygium body and underlying Tenon’s capsule were dissected. The underlying Tenon’s capsule was minimally resected 1mm below the conjunctival edge, and cauterization was kept to a minimum. A surgical sponge was soaked in 0.02% MMC (Ophtalmos, São Paulo, Brazil) and placed on the bare sclera for two minutes. The Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 287-90 sponge was then removed, and the eye was copiously irrigated with a balanced salt solution (BSS – Alcon, Fort Worth, USA). Finally, the pterygium head was resected. The gap invariably created between the conjunctiva and the underlying Tenon’s capsule following pterygium excision was first identified using two 0.12-mm forceps, one to grab the conjunctiva and the other to grab the Tenon’s capsule. The gap was then sealed by means of continuous suture with Vicryl 8.0 (Ethicon, Johnson & Johnson, São Paulo, Brazil) of both tissues, which blocked the emanation of fibrovascular tissue and restored the normal morphological features of the caruncle (Figure 1) (4) . The surgeon trained for the procedure by attending the course “Surgical Strategies for Recurrent Pterygium With or Without Motility Restriction” promoted by the American Academy of Ophthalmology (AAO) and taught by Scheffer C. G. Tseng MD PhD. Figure 1: Concept of sealing of the gap; fibrovascular tissue sandwiched between the conjunctiva (pink) and the Tenon capsule (green) flattens the caruncle (A, solid arrow) and anteriorly displaces the semilunar fold (A, broken arrow), causing recurrent pterygium (D); this gap is invariably created when the pterygium head and body is removed (B); the gap is best demonstrated by two 0.12-mm forceps grabbing each tissue edge (E); when the gap is sealed, the dome-shaped caruncle is recreated by pulling the Tenon capsule when it naturally retracts posteriorly (C, arrow), and the surrounding conjunctival edge is also bent and rounded (F) Source: Liu et al., JAMA, 2012. The techniques to elaborate and fixate the conjunctival autograft were based on the techniques described by Kenyon et al. (4) and Koranyi et al. (5), respectively. The ipsilateral inferior conjunctival graft was marked horizontally and vertically and dissected without the Tenon’s capsule and with a margin of 2 mm larger than the excised conjunctiva measurements. The free conjunctival graft was then transplanted to the receiving bed while complying with the limbus to limbus origin. The graft was fixed to the receiving site using fibrin glue Evicel® (Omrx Biopharmaceuticals, Ramat Gan, Israel). First, one drop of fibrinogen solution was applied to the scleral bed; then,the graft was placed on the bed, and one drop of thrombin and calcium chloride solution was applied on top. The excess glue was removed, and the graft was trimmed wherever necessary. Finally, moxifloxacin (Vigamox®, Alcon, São Paulo, Brazil) was administered, followed by a single subconjunctival application of betamethasone (Celestone®, Mantecorp, São Paulo, Brazil). An dressing was applied, which was removed 24 hours later. During the postoperative period, the following was prescribed: one drop of moxifloxacin eyedrops (Vigamox®, Alcon, São Paulo, Brazil) every four hours over 15 days; one drop of prednisolone acetate (PredFort®, Allergan, São Paulo, Brazil) every two hours over 15 days, tapered along two months; and Sealing the gap between conjunctiva and Tenon’s capsule in primary pterygium surgery one drop of eye lubricant (Optive®, Allergan, São Paulo, Brazil) every three hours as needed. The patients were assessed on days 1, 15, 30, 60, 120 and 180 and then every three months as to occurrence of relapse, which was defined as any growth of fibrovascular tissue that reached the corneal surface and extended beyond the limbus in the area corresponding to the excised pterygium. The Vicryl suture was removed two weeks after surgery with scissors under a slit lamp following the instillation of anesthetic eye drops. In the follow-up visits, the participants were subjected to slit lamp biomicroscopic examination, assessment of visual acuity and degree of conjunctival hyperemia and measurement of the intraocular pressure (IOP), and external photographs of all the eyes were acquired. To construct tables and graphics, the data were entered in a Microsoft Excel 2007 (Microsoft Corporation, Redmond, USA) spreadsheet. The study started after approval by the Research Ethics Committee of the University of West Santa Catarina on july 25 2012, ruling nº 66686. RESULTS 289 Figure 2: A) Clinical appearance of partial graft retraction two weeks after surgery; B) Appearance three months after surgery; C) Appearance six months after surgery The sample comprised 35 volunteers, 18 males (51.4%) and 17 females (48.6%). Twenty-one participants (60%) had pterygium in the right eye (RE), 13 (37.1%) in the left eye (LE) and one (2.9%) in both eyes. All the lesions were primary and located on the nasal side of the sclera (table 1). Table 1 Demographic and clinical data of individuals with primary pterygium treated by gap sealing Average age in years Age in years (minimum and maximum) Gender (n) Male Female Pterygium side (n) Right eye Left eye Both eyes 44.37 (±10.72) 29 – 71 18 (51.4%) 17 (48.6%) 21 (60%) 14 (37.1%) 1 (2.9%) The average age of the participants on the date of surgery was 44.37 years old, standard deviation (SD) ± 10.87, varying from 29 to 74 years old. Fourteen participants (40%) were 20 to 39 years old, 17 (48.5%) were 40 to 59 years old, and four (11.5%) were 60 years old or older. The duration of follow-up lasted 6 to 22 months, mean= 9 months, SD= ±3.69, and all of the patients completed the minimum follow-up period adopted. None of the 36 eyes exhibited pterygium recurrence during the follow-up period. No intraoperative complications occurred. One eye (2.8%) exhibited partial graft retraction, which did not require additional intervention and was not classified as recurrence due to later occurrence of conjunctivalization, which was complete by day 30 after surgery (figure 2). Another eye (2.8%) exhibited a moderate increase in the IOP, which was successfully handled by discontinuing the corticoid eye drops and introducing antiglaucoma eye drops. The esthetic results of the grafts were satisfactory, and the donor sites exhibited full recovery in all cases, while no instance of symblepharon, graft loss or excessive bleeding occurred during or after surgery (figure 3) Figure 3: A) Clinical appearance before surgery; B) Clinical appearance six months after surgery DISCUSSION Although many attempts have been made at improving the surgical treatment of pterygium, there is not yet a consensus on the ideal technique, and the recurrence rates after surgical excision exhibit remarkable variation among studies. Recently, quite complex approaches have been developed to reduce such variation and the rates of recurrence. The technique selected in this study was the surgical excision of the pterygium, with minimal resection of Tenon’s capsule combined with conjunctival autograft transplantation using fibrin glue and intraoperative application of MMC, which are usual techniques, in addition to an alternative procedure: the sealing of the gap between the conjunctiva and Tenon’s capsule by means of suture. The proponents of this technique (3) recommend the resection of Tenon’s capsule to be minimal and its suture with the conjuntiva to be continuous. The aim of surgical sealing is to hinder the propagation of residues of the fibrovascular tissue across the gap created between the conjunctiva and Tenon’s capsule after the pterygium excision, thus preventing its recurrence (3). Although the study that first demonstrated the efficacy of this procedure was conducted with individuals exhibiting multiple pterygium recurrence, the authors suggested the possibility of applying it to the treatment of primary pterygium (3). That comment motivated the performance of this study, which included a sample exclusively composed of individuals with primary pterygium. The sealing of the gap by continuous sutures was successful in all the treated eyes, and the continuous sutures proved to be effective to restore a normal caruncle compared to the use of anchored sutures or anchored sutures combined with fibrin glue (3). The procedure was brief, and the gaps were easily identified in all cases. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 287-90 290 Stock RA, Lückmann LF, Kondo GAKI, Bonamigo EL In contrast to other authors (3) who used cryopreserved amniotic membrane grafts, conjunctival autografts were preferred in this study. This choice was based on the results of a randomized study (6) and an official AAO report (7) describing significantly lower recurrence rates in the cases in which conjunctival autografts were used versus amniotic membrane grafts. One further peculiarity of the conjunctival grafts in the present study was the donor site. As a rule, grafts are taken from the ipsilateral upper conjunctiva; however, in this study, they were taken from the ipsilateral inferior conjunctiva to preserve the upper conjunctiva in case the patients might require antiglaucoma surgery in the future. In addition, one study failed to find a significant difference in the recurrence rates when the upper or inferior conjunctival quadrants were used as donor sites for primary pterygium surgery (8). In this study, conjunctival autograft transplantation and the intraoperative application of MMC as an adjuvant treatment were added to gap sealing. The combination of those two procedures for the treatment of primary pterygium, involving fixation of the conjunctival graft to the sclera by means of suture, has been successfully employed in comparative studies (9,10).With regard to recurrent pterygium, two recent studies reported excellent results using a modification of that technique, which consisted of fixing the conjunctival graft with fibrin glue instead of sutures (11,12). The use of fibrin glue helps to reduce the rate of recurrence, postoperative discomfort and the duration of surgery. For those reasons, it was used in this study (5,13).Those results are lent further support by an official report published by the AAO, according to which the combination of conjunctival autograft transplantation and MMC results in lower rates of recurrence following the excision of pterygium, compared to each procedure alone (7).In addition, the combination of the two procedures allows reduction of the dose and the intraoperative exposure of MMC, which makes the technique safer (14). Using these technical improvement (i.e., gap sealing, conjunctival autograft transplantation fixated with fibrin glue and intraoperative MMC), the recurrence rate was ideal, i.e., 0%, during the follow-up period. Among the studies that applied a similar technique, only one achieved 0% recurrence (10), while the other studies reported low recurrence rates, to wit, 2% (9), 3.5% (11) and 9.2% (14). In one study that performed conjunctival autograft transplantation only with fibrin glue, but did not include gap sealing, the recurrence rate was higher, at 11.3% (15).In the study most similar to this one, which also performed gap sealing in all the treated eyes, the adjusted recurrence rate was 3.1% in all the groups (3). The average duration of follow-up after surgery was 9 months; a period of 6 months is considered sufficient to detect 50% to 86% of the instances of relapse (16), while 93% of such cases are detected when follow-up is extended to 9 months (17). Moderate inflammation might occur during the first two weeks after surgery due to the presence of the Vicryl suture, which fully disappears following its removal. For that reason, topical corticoids should be used more intensively during that period, and the dose should be reduced after suture removal. No intraoperative complications occurred in this series. In one eye (2.8%), the graft exhibited partial retraction during the first days after surgery, but no intervention was required, and pterygium did not recur. The retraction was possibly due to excessive Tenon’s capsule remnants identified on slit lamp examination. That complication also occurred in one of the 28 eyes treated in another study (11). One eye (2.8%) exhibited a moderate increase in IOP, which was attributed to the topical corticoid used after surgery. That condition was fully controlled following discontinuance of the corticoid eye drops and the institution of clinical treatment. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 287-90 CONCLUSION The pterygium recurrence rate was 0% in the studied sample, and the two post-operative complications receded spontaneously or with the aid of a clinical treatment. Although the result was promising, a prospective randomized trial comparing groups treated with and without sealing of the gap between the conjunctiva and Tenon’s capsule is needed to establish more precise conclusions regarding the efficacy of that technique in the treatment of primary pterygium. REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Duke-Elder S. System of ophthalmology: disease of the outer eye. Vol. VIII. Parte I. London: Henry Kimpton, 1977. Hirst L.The treatment of pterygium. Surv Ophthalmol. 2003; 48(2): 145-80. Liu J, Fu Y, Xu Y, Tseng SG. New grading system to improve the surgical outcome of multirecurrent pterygia. Arch Ophthalmol. 2012;130(1):39-49. Kenyon KR,Wagoner MD, Hettinger ME. Conjunctival autograft transplantation for advanced and recurrent pterygium. Ophthalmology. 1985;92(11):1461-70. Koranyi G, Seregard S, Kopp ED. Cut and paste: a no suture, small incision approach to pterygium surgery. Br J Ophthalmol. 2004;88(7):911-4. Luanratanakorn P, Ratanapakorn T, Suwan-Apichon O, Chuck RS. Randomised controlled study of conjunctival autograft versus amniotic membrane graft in pterygium excision. Br J Ophthalmol. 2006;90(12):1476-80. Kaufman SC, Jacobs DS, Lee WB, Deng SX, Rosenblatt MI, Shtein RM. Options and adjuvants in surgery for pterygium: a report by the American Academy of Ophthalmology. Ophthalmology. 2013;120(1):201-8. Shrestha A, Shrestha A, Bhandari S, Maharjan N, Khadka D, Pant SR. Inferior conjunctival autografting for pterygium surgery: an alternative way of preserving the glaucoma filtration site in far western Nepal. Clin Ophthalmol. 2012;6:315-9. Segev F, Jaeger-Roshu S, Gefen-Carmi N, Assia EI. Combined mitomycin C application and free flap conjunctival autograft in pterygium surgery. Cornea. 2003;22(7):598-603. Frucht-Pery J, Raiskup F, Ilsar M, Landau D, Orucov F, Solomon A. Conjunctival autografting combined with low-dose mitomycin C for prevention of primary pterygium recurrence. Am J Ophthalmol. 2006;141(6):1044-50. Shehadeh-Mashor R, Srinivasan S, Boimer C, Lee K, Tomkins O, Slomovic AR. Management of recurrent pterygium with intraoperative mitomycin C and conjunctival autograft with fibrin glue. Am J Ophthalmol. 2011;152(5):730-2. Bakshi R, Gupta H, Khurana C, Sachdev MS. Conjunctival limbal autograft with fibrin glue with mitomycin-C in managing recurrent pterygium. Cornea. 2003;22:598-603. Koranyi G, Seregard S, Kopp ED. The cut-and-paste method for primary pterygium surgery: long-term follow-up. Acta Ophthalmol Scand. 2005;83(3):298-301. Wong VA, Law FCH. Use of mitomycin C with conjunctival autograft in pterygium surgery in Asian-Canadians. Ophthalmology. 1999;106(8):1512-5. Coral-Ghanem R, Oliveira RF, Furlanetto E, Ghanem MA, Ghanem VC. Transplante autólogo de conjuntiva com uso de cola de fibrina em pterígios primários. Arq Bras Oftalmol. 2010;73(4):350-3. Avisar R, Arnon A, Avisar E, Weinberger D. Primary pterygium recurrence time. Isr Med Assoc J. 2001;3(11):836-7. Ti S, Chee S, Dear K, Tan D. Analysis of variation in success rates in conjunctival autografting for primary and recurrent pterygium. Br J Ophthalmol. 2000;84(4):385-9. Corresponding author: Ricardo Alexandre Stock Rua Rio Branco, 589 – Joaçaba (SC), Brazil Telephone: +55 (49) 3522-0788 - Fax:+55 (49) 3522-5059 E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 291 Visual impairment, rehabilitation and International Classification of Functioning, Disability and Health Deficiência visual, reabilitação e Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde Marissa Romano da Silva1, Maria Inês Rubo de Souza Nobre2, Keila Monteiro de Carvalho3, Rita de Cássia Ietto Montilha2 ABSTRACT Objective: To describe the characteristics of people with visual impairment who participated in the Visual Rehabilitation Groups, according to the ICD-10 and the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF). Methods: Quantitative, cross-sectional survey, developed in a university rehabilitation research center between october and december 2012. The users from the Visual Rehabilitation Groups were invited; 13 of them agreed to participate. We performed an occupational therapy evaluation – with anamnesis, performance evaluation and functional vision assessment – an analysis of medical charts and patient description with the use of the ICF. Results: The major causes of visual impairment were diabetic retinopathy, glaucoma, optical neuritis and keratoconus. Some functions and structures of the body, performance and capabilities in activities and participation, environmental factors facilitators or limiters were highlighted in this study, allowing the description of the characteristics of each participant through the functionality and the improvement of the therapeutic planning. Assistive technologies, optical and non-optical aids used and their everyday benefits were presented. Conclusion: Visual loss, at any level, led to functional impairments, limiting and restricting the participation and performance in everyday activities, interfering with the individuals’ independence, autonomy and quality of life. However, the use of optical aids, non-optical aids and environmental adaptations proved to be beneficial for increasing the functionality, showing the influence of external factors on the performance. Knowing and recognizing the existence of diversities within the visual impairment universe allows us to understand who the treated individual is, avoiding the generalization by the visual condition. The ICF showed to have a fundamental role in this context. Keywords: International Classification of Functioning Disability and Health; International Classification of Diseases; Rehabilitation; Blindness; Low vision; Activities of daily living Masters in Health, Interdisciplinary and Rehabilitation Program, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brazil; 2 Centro de Estudos e Pesquisas em Reabilitação “Prof. Dr. Gabriel O.S. Porto”, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brazil; 3 Department of Ophtmalogy, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas (SP), Brazil. 1 The authors have no public and private financial support, or financial interest Recebido para publicação em 17/06/2014 - Aceito para publicação em 13/07/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 292 Silva MR, Nobre MIRS, Carvalho KM, Montilha RCL R ESUMO Objetivo: Descrever as características das pessoas com deficiência visual participantes de Grupos de Reabilitação Visual, segundo a CID-10 e a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF). Métodos: Pesquisa quantitativa de corte transversal, desenvolvida em um centro universitário de pesquisas em reabilitação entre outubro e dezembro de 2012. Usuários de Grupos de Reabilitação Visual foram convidados, sendo 13 os que aceitaram participar. Foi realizada avaliação de terapia ocupacional – com anamnese, avaliação de desempenho e avaliação funcional da visão – consulta aos prontuários e a classificação dos participantes utilizando a CIF. Resultados: As principais causas de deficiência visual foram retinopatia diabética, glaucoma, neurite óptica e ceratocone. Algumas funções e estruturas do corpo, desempenho e capacidades em atividades e participação, fatores ambientais facilitadores ou limitadores foram destacados neste estudo, possibilitando descrever as características de cada participante por meio de sua funcionalidade e auxiliando no planejamento terapêutico. Tecnologias assistivas, auxílios ópticos e não ópticos utilizados e seus benefícios cotidianos foram apresentados. Conclusão: A perda visual, em qualquer nível, levou a prejuízos funcionais, limitando e restringindo a participação e o desempenho em atividades cotidianas, interferindo na independência, autonomia e qualidade de vida dos sujeitos. Entretanto, o uso de recursos ópticos, não ópticos, auxílios e adaptações ambientais mostraram-se benéficos para a ampliação da funcionalidade, evidenciando a influência de fatores externos no desempenho do indivíduo. Conhecer e reconhecer a existência da diversidade dentro do universo da deficiência visual possibilita entender quem é o sujeito atendido, evitando a generalização pela condição visual, tendo a CIF papel fundamental nesse contexto. Descritores: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde; Classificação Internacional de Doenças; Reabilitação; Cegueira; Baixa visão; Atividades cotidianas INTRODUCTION C urrent estimates of the World Health Organization reveal that there are 314 million visually impaired people in the world – 269 million of these have subnormal vision and 45 million are blind (1-3), including uncorrected refractive errors. Etiologies are related to biological and contextual factors, mostly preventable, treatable and curable (2,4-5), associated to nutritional and infectious factors, lack of available technology, tobacco use, ultraviolet radiation exposure, vitamin A deficiency, high body mass index and metabolic disorders (1-2,5). The main causes of visual impairment in the world are uncorrected refractive error, cataracts, age-related macular degeneration, diabetic retinopathy, trachoma and corneal opacity (1-3,5-6). Vision is an afferent which is able to promote integration with other sensory information. It is a continuous stimulus that enables self-directed and intentional motor conducts, critical to locate and identify distant objects that cannot be captured by other senses, understand spatial relations, the position of the body in relation to space, capture effectively and quickly the environment in safe and confident manner, maintaining proper body posture, among other functions (7-9). Visual loss causes a sensory imbalance, to which the human body itself is not prepared to face, requiring adaptation and support (7). Thus, any visual impairment affects the individual’s health in all its aspects and brings it to functional impairments, generating interference in quality of life (9-11). Activities ranging from independent mobility inside and outside the house, carrying out basic and instrumental daily actions such as bathing, dressing, going to the grocery store or the bank, as well as to social activities, leisure and work, all of them may represent impairment in the daily life of the visually impaired (11-13). Along with the individual limitations there are the physical and social environmental factors that may constitute, respectively, architectural and attitudinal barriers. Rehabilitation is inserted in this context which can be defined as a process that is built according to the individuals´ constant identification of needs and demands, involving their current health condition, interests, context and expectations. Actions in rehabilitation should include the assistance of a Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 multispecialty team in order to provide timely and complete support to individuals with disabilities (2,11,14-15). According to the experiences of Lamoureux et al. (12), Aciem e Mazzotta (13) e Bittencourt et al. (16), the rehabilitation of the visual impairment has shown to be effective in the improvement of the users´ quality life in the services studied. To assist in this process, the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF) is to establish tasks as a standardized language on health and its conditions, enabling scientific basis for understanding health and its correlated states , comparing health actions on the same subject, helping in the decision making for the individualized rehabilitation process (17). The ICF puts functioning and disability under new perspectives, recognizes disability as a condition not of a minority but as an inherent human experience. Considering the strong influence of the context, it comprehends the relationship of health and environment as dynamic, which may give rise to changes in the health status of the subject. Moreover, it changes the focus in the disease classification since it favors the classification of the impacts of this disease on the individuals’ lives (17). The ICF is a milestone in legitimizing the Social Model in health and human rights, enabling communication between the Biomedical and Social Models. The university research center in rehabilitation involved in this research works on the rehabilitation of the visually impaired. One of the modalities of assistance which are practiced concerns the Visual Rehabilitation Groups, which are proposed to discuss immediate issues related to disability and rehabilitation, enabling participants to share their difficulties and strategies in solving them. This research was conducted with the aim of describing the characteristics of people with visual impairments, participants in the Visual Rehabilitation Groups, according to the International Classification of Diseases, Tenth Revision (ICD10) and the ICF. METHODS This is a quantitative cross-sectional research, developed in a university research center in rehabilitation. To participate in the study, the subjects should have the ICD-10 corresponding to visual impairment (18), aged over 18 Visual impairment, rehabilitation and International Classification Of Functioning, Disability And Health years and attending the Visual Rehabilitation Group of a university research center. As exclusion criteria is the non acceptance and not signing the consent form. The users inserted in the Visual Rehabilitation Groups (total = 19), from october to december 2012 were invited, with the elucidated objectives and procedures of the research. Thirteen people agreed to participate in this study. After the acceptance of those who attended, it was asked on a date and time for signing the consent form and the evaluation of the occupational therapy. At this time, the medical records of each participant were consulted as source of data on the cause of the visual loss, visual acuity and other information related to the eye health. Evaluation of the occupational therapy comprising history, performance evaluation and functional vision assessment was performed. Such procedures which lasted about 40 minutes were videotaped and analyzed by two examiners, and described using the International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF). The ICF belongs to the family of international classifications developed by the WHO which encompasses aspects of human health and components related to welfare. It describes them in terms of health domains (such as seeing, hearing, and walking) and health-related fields (such as transportation, social interaction). It is proposed to describe situations related to the human functioning and restrictions, as an organizing structure of information in a model that can be “significant, integrated and accessible” (17). This classification is divided into two sections, part 1 refers to the functionality and disability and part 2 concerns contextual factors. Each one of the parts is subdivided into two components, which receive specific alphanumeric codes in order to be differentiated: part 1 includes the functions of the body (letter b for body), Body Structures (letter s for structure) and activities and participation (letter d for domain), while part 2 covers the environmental factors (letter e for environment) and personal factors (17). The functions and structures of the body relate to physiological functions and anatomical parts of the body, respectively. Problems in the functions and/or structures of the body are considered impairments. Activities and participation include, in this order, the execution of a task by the individual 293 and his involvement in everyday situations. Difficulties in implementing the activities are called limitations while problems in performing these activities are called participation restrictions. Finally, environmental factors include the physical, social and attitudinal environment in which individuals are placed. For the ICF, all these components interact dynamically, considering functioning, disability and health as an interactive and evolutional process (17). The components of the classification are followed by numerical codes, the first is representative of the number of the chapter (one digit), followed by the second level (two digits) and the third and fourth levels (one digit each). The codes are only complete when adding the qualifier, which indicates the magnitude of the issue. The qualifiers are present after the period (or delimiter). Without the qualifier number, the codes of the ICF have no meaning. The components of part 1 (Body Functions and Structures, Activities and Participation) are qualified by the same general range of numbers (0-4). For the Functions and Structures of the body the qualifier is the magnitude of the impairment. The Structures of the body receive three different levels of qualifiers, the first qualifier for the degree of the commitment generated (0-4), the second corresponds to the nature of structural change (0-7) and finally brings the third location of this change (0-7) (table 1). For the component Activities and Participation are the constructs of this Performance and Capacity. The Performance (first qualifier) is what the subject does in his usual environment, while capacity (second qualifier) is what the subject is able to do in his likely maximum level of functionality without assistance. The third qualifier refers to the level of the subject’s ability to perform that activity with assistance. Finally, for the Environmental Factors, qualifiers can be called barriers or facilitators, depending on the effects of that factor in the subject’s life. Any barriers as facilitators have the same numerical scale (0-4), but the separation between the code and the domain qualifier takes place by means of a period (.) for barriers and a plus sign (+) for facilitators. After classification, the results of the participants were described in tables and charts with frequencies of ophthalmic diagnoses, limitations, restrictions, physical and attitudinal environmental barriers (17). The study was approved by the Ethics Committee on Research by the ruling nº 143.693/2012. Table 1 Structures of the body First qualifier xxx.0 xxx.1 xxx.2 xxx.3 xxx.4 NO Impairment LIGHT Impairment MODERATE Impairment SEVERE Impairment COMPLETE Impairment Second qualifier 0 No change in the structure 1 Total absence 2 Partial absence 3 Additional part 4 Abnormal dimensions 5 Discontinuity 6 Deflected position 7 Qualitative changes in the structure, including accumulation of fluid Third qualifier 0 More than one region 1 Right 2 Left 3 Both sides 4 Front part 5 Back part 6 Proximal 7 Distal Source: WHO, 2003 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 294 Silva MR, Nobre MIRS, Carvalho KM, Montilha RCL RESULTS Table 3 The sample consisted of 13 participants, 54% were female, mean age of 44 years (± 18.42), and a large share of it in relation to the employment condition is off work (62%). The main causes of visual impairment which were presented were diabetic retinopathy, glaucoma, keratoconus and optic neuritis (15% each). With regard to the type of visual impairment, 77%, presented low vision, most of them were acquired (92%) (table 2). Number of participants by gender, according to visual impairment Gender H54.0a ƒ % H54.1b ƒ % H54.2 ƒ % n=13 Total ƒ % Female Male Total 1 2 3 3 2 5 3 2 5 7 6 13 8 15 23 23 15,5 38,5 23 15,5 38,5 54 46 100 H54.0: Blindness in both eyes; bH54.1: Blindness, one eye, low vision in the other; c H54.2: Subnormal vision in both eyes a Table 2 Sample characterization n=13 ƒ Gender Female Male Average age Marital status Married Single Divorced Widow/Widower Work Conditions On sick leave Employed Retired Unemployed Ophthalmic Diagnosiss Diabetic retinopathy Glaucoma Optic neuritis Keratoconus Retinitis pigmentosa Macular chorioretinitis Age-related macular degeneration Central serous maculopathy Cortical Visual Impairment Acquired Congenital 7 6 54 46 44 (±18,42) 6 46 5 38 1 8 1 8 8 2 2 1 62 15 15 8 2 2 2 2 1 1 1 1 1 15 15 15 15 8 8 8 8 8 12 1 92 8 Visual Condition (CID-10) H54.0 Blindness in both eyes 3 H54.1 Blindness, one eye, low vision in the other 5 H54.2 Subnormal vision in both eyes 5 23 38,5 38,5 According to the ICD-10, 23% attendees are blind in both eyes (H54.0), 38.5% are blind in one eye and low vision in the other (H54.1) and 38.5% with low vision in both eyes (H54.2) (table 3). According to the causes of visual impairment, the most affected structures of the eyeball (s220) were: retina (s2203), structure of the cranial nerves (optic nerve, optic tract) (s1106) and cornea (s2201) (table 4). Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 Table 4 % Ophthalmologic diagnosis and body structure changes, according to the ICF n=13 Ophtalmologic Diagnosis Body structure ICF Diabetic Retinopathy Retina s2203 Retinitis Pigmentosa Retina 1 Macular Chorioretinitis Retina 1 Age-related macular degeneration Retina 1 Central serous maculopathy Retina 1 Cortical Optic tract s1106 Optic neuritis Optic nerve 2 Keratoconus Cornea s2201 Glaucoma Eyeball s220 ƒ % 2 46 1 23 2 2 15,5 15,5 With regard to body functions by the ICF classification, the monocular acuity of farsighted vision (b21001) for the right eye (RE) presented 1 subject with moderate disability (.2), 5 individuals with severe disabilities (.3) and other 7 people with complete deficiency (.4), while for the left eye (LE) 7 participants were classified with moderate disability (.2), 3 with severe disabilities (.3) and 3 with complete deficiency (.4) for this domain. For binocular acuity of short-sighted vision (b21002), 1 participant presented no difficulty (.0), another subject presented mild disability (.1), 6 subjects showed moderate disability (.2) and 5 presented complete deficiency (.4). Other body functions related to vision are described in table 5 as functions of the visual field (b2101), light sensitivity (b21020), color vision (b21021), contrast sensitivity (b21022) and quality of the visual image (b21023). The analysis of the data related to the component activities and participation, the tasks that are highlighted in this study showed higher difficulty within the repertoire of activities of the participants or significant change in the distribution of subjects compared to the performance and the ability to perform each task, with and without assistance. These activities include the areas of Reading (d166) and the accomplishment of the daily chores (d640), and the categories of walking on different surfaces (d4502) and socialization (d9205). In fields that refer to environmental factors, 4 participants considered the immediate family (e310), extended family (e315) and friends (e320) and their attitudes (e410, e415, e420), as complete facilitators (+4) of process of acceptance of disability, inclusion in the Visual Rehabilitation service and resumption of the daily activities. However, the strangers’ individual attitudes (e445) to 9 participants are deemed social barriers such as light Visual impairment, rehabilitation and International Classification Of Functioning, Disability And Health (.1) to moderate (.2). For a participant (S 12), the strangers’ attitudes represent complete barriers (.4), preventing her from leaving her residence to perform certain activities in the community. Products and assistive technology for mobility and personal transportation in internal and external environments (e1201) are often used by 5 people and are considered complete facilitators (e1201 +4) for 4 participants. In the case of visual impairment, this device is the white cane. The cane was presented to 8 other participants and they were trained in groups of visual rehabilitation of a university research center, concerning its correct and safe use since they do not use it daily. Products and assistive technology for communication (e1251), representing specialized writing devices, hardware and software, glasses or contact lenses are used by all the participants to assist in transmitting and receiving information. In addition, all participants reported that they benefit from products and technology used in designing, building and construction (e150), mainly in the categories of entering and exiting public buildings (e1500), such as ramps and level thresholds, and direction, guidance course and designation of places (e1502), using written signs or in Braille signs and embossed surface of the floors. The intensity of light (e2400) is identified by 8 participants as a barrier such as from moderate (.2) to complete (.4) limiting the involvement and performance in the daily activities. As for the quality of light (e2401), 11 participants reported as a facilitator from moderate (+2) to complete (+4), enabling them to fulfill their activities accurately and safely. Regarding non-optical devices, all participants reported using them in everyday life, the most cited: light control, use of contrast, aid to writing and electronic magnification, for carrying out the activities, especially reading. Three participants who are blind use a writing guide for signing their names. As for optical devices, 6 participants use these aids. Out of these, 4 participants use the aid for near and 5 use it for far sight. It is possible to illustrate the CIF rankings in visual impairment through S1 (table 5). With this example there is an attempt to guide the understanding and comprehension of the ICF domains and their practical applicability. The first participant, JVC, 67, is married, 3 daughters and, on sick leave, presents the ophthalmic glaucoma diagnosis and ICD-10 of blindness in both eyes (H54.0). According to the ICF, J. presents complete deficiency in all the Functions of the body (.4), since it is a case of blindness. The structure of the body is most affected, according to the diagnosis of glaucoma, the eyeball (s220.473) completely affected (.4) with a qualitative change in the structure, including accumulation of fluid (7), in both eyes (3). Regarding the activities and participation for the activity of reading (d166) J. presents complete constraint (.4 ) and total participation restrictions (. 4).Without the aid of assistive technology, however, when added to the task of using external resources, the participant begins to perform the activities with less limitations (d166.443). In the activity walking on different surfaces (d4502), the participant has considerable limitation (.3) and restriction (.3), but when there is the use of an aid for wandering the performance comes to moderate difficulty (d4502.332). For the activity accomplishing the daily chores (d640) she shows complete limitation (.4), severe restriction (.3), but with the use of aids she shall perform such activities with slight difficulty (d640.431). Lastly, for the activity of socialization (d9205), J. shows severe difficulty (.3), with little restriction (.1), and after the use of resources, her limitation ceases to exist 295 (d9205.310). For the domains related to environmental factors, S1 is aided by the white cane daily and benefits from this feature completely (e1201+4), while products and assistive technology for communication are used by her (as specialized writing devices, hardware and software), but they facilitate her daily activities moderately (e1251+2). Products and technology used in designing, building and construction for entering and exiting public buildings (e1500), such as ramps and level thresholds are considerable facilitators (e1500+3), enabling her to transit in public buildings with higher security, independence and autonomy. Products and technology used in design, architecture and construction for direction indication, route guidance and designation of places (e1502), using cards in Braille represent for this person, at the time of the evaluation a moderate facilitator (e1502+2) since she has not mastered Braille yet. The intensity of light (e2400) and Quality of light (e2401) for S1 are not considered barriers or facilitators due to their visual condition: blindness in both eyes. J. considers the immediate family (e310), extended family (e315), Friends (e320) and their attitudes as complete facilitators in her everyday life. However, she identifies the strangers’ Individual attitudes (e445) as moderate barriers, discouraging both engagement and conducting social activities. DISCUSSION This research was conducted with the aim of describing the characteristics of people with visual impairment, rehabilitation group participants, according to the ICD-10 and the ICF. After assessing thirteen participants, and following the ICF´s classification, it was possible to identify the causes of visual impairment, the functions and structures of the body with disabilities, the main limitations and constraints faced by these people, the type of disability according to the ICD-10 the frequency of gender, average age, among other characteristics of this population. It was found that the prevalence of low vision in relation to blindness is compatible with national and international findings (1-3,5-6,19-22) . Two major eye diseases found in this study (glaucoma and diabetic retinopathy) are the causes of visual impairment highlighted in Brazilian and global studies with several populations (3,6,19-21,23-26). While glaucoma and age-related macular degeneration are the major causes of visual impairment in subjects from 50 years old on, brazilian studies highlight these diseases in this age group (4,20,23). According to the WHO (6), the number of individuals over 50 years old exceeds the visually impaired other age groups. However, there is the small number of people over this age inserted the Visual Rehabilitation Groups (n = 3) and that may be the cause of such low demand for health services. The group of people, mostly elderly, with high predisposition to acquire diseases and high need for the access to the health services, is not being assisted due to low demand, either by distance from places of care, poor financial conditions or inadequate and little stimulating support from the family (4,27-28). The architectural and attitudinal barriers found in cities as they can be seen in the social nucleus may discourage the subject to seek services. The search for rehabilitation is delayed if the network does not encourage support, if the barriers are limiting and if there is not easy access to the health care services, to all of these there is the visual impairment itself, which is limiting and imposes restrictions as identified in this study (28). In a study by Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 296 Silva MR, Nobre MIRS, Carvalho KM, Montilha RCL Table 5 Characteristics of the subjects according to ophthalmologic diagnosis, ICD-10 and ICF Diagnosis S1 Glaucoma S1 Glaucoma S3 S4 Optic Neuritis Diabetic retinopathy ICD-10 H54.0 H54.0 H54.0 H54.1 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 Body functions b21001.4 (RE*) b21001.4 (LE**) b21002.4 b2101.4 b21020.4 b21021.4 b21022.4 b21023.4 b21001.4 (RE) b21001.4 (LE) b21002.4 b2101.4 b21020.4 b21021.4 b21022.4 b21023.4 b21001.4 (RE) b21001.4 (LE) b21002.4 b2101.3 b21020.3 b21021.3 b21022.3 b21023.3 b21001.4 (RE) b21001.2 (LE) b21002.2 b2101.1 b21020.1 b21021.0 b21022.0 b21023.2 Body structures s1106.423 s 220.473 s1106.423 s220.473 s1106.423 s2203.273 ICF Activities and participation d166.443 d4502.332 d640.431 d9205.310 d166.443 d4502.321 d640.221 d9205.220 d166.432 d4502.320 d640.221 d9205.332 d166.221 d4502.110 d640.310 d9205.100 Environment factors e1201+4 e1251+2 e1500+3 e1502+2 e2400.0 e2401+0 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+4 e420+4 e445.2 e1201+4 e1251+1 e1500+2 e1502+1 e2400.0 e2401+0 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+4 e420+4 e445.0 e1201+4 e1251+2 e1500+3 e1502+4 e2400.3 e2401+3 e310+3 e315+3 e320+2 e410.1 e415+3 e420+2 e445.2 e1201+3 e1251+4 e1500+3 e1502+4 e2400.2 e2401+4 e310+4 e315+4 e320+3 e410+4 e415+4 e420+3 e445.0 J.V.C., female, 67 years old, married, 3 daughters, on sick leave A.M.S., male, 74 years old, widower, 7 children, retired V.V.S., male, 47 years old, divorced, 3 daughters, on sick leave J.M.R., male, 31 years old, single, 1 son, on sick leave Visual impairment, rehabilitation and International Classification Of Functioning, Disability And Health Diagnosis S5 S6 S7 S8 Diabetic retinopathy Retinitis pigmentosa AMD Optic neuritis ICD-10 H54.1 H54.1 H54.1 H54.2 Body functions b21001.4 (RE) b21001.2 (LE) b21002.2 b2101.0 b21020.0 b21021.0 b21022.0 b21023.2 b21001.4 (RE) b21001.2 (LE) b21002.2 b2101.2 b21020.0 b21021.2 b21022.3 b21023.1 b21001.4 (RE) b21001.2 (LE) b21002.2 b2101.2 b21020.0 b21021.0 b21022.1 b21023.2 b21001.3 (RE) b21001.3 (LE) b21002.4 b2101.2 b21020.3 b21021.0 b21022.2 b21023.3 Body structures s2203.273 s2203.411(RE) s2203.222(LE) s2203.223 s1106.323 ICF Activities and participation d166.210 d4502.210 d640.110 d9205.310 d166.221 d4502.320 d640.110 d9205.300 d166.311 d4502.221 d640.110 d9205.200 d166.331 d4502.321 d640.211 d9205.332 297 Environment factors e1201+1 e1251+4 e1500+1 e1502+3 e2400.2 e2401+4 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+4 e420+4 e445.1 e1201+1 e1251+2 e1500+1 e1502+3 e2400.2 e2401+3 e310+4 e315+3 e320+2 e410+4 e415+3 e420+2 e445.2 e1201+0 e1251+3 e1500+3 e1502+3 e2400.1 e2401+3 e310+4 e315+3 e320+2 e410+4 e415+4 e420+2 e445.0 e1201+4 e1251+2 e1500+4 e1502+4 e2400.4 e2401+3 e310+4 e315+4 e320+3 e410+4 e415+4 e420+3 e445.1 R.C.G., female, 29 years old, single, pedagogue E.A.A., female, 34 years old, single, 1 son, cleaner B.P., female, 83 years old, single, retired. H.M.V., male, 33 years old, married, 1 daughter, on sick leave Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 298 Silva MR, Nobre MIRS, Carvalho KM, Montilha RCL Diagnosis S9 Macular C chorioretinitis AO S10 S11 S12 ICD-10 Central serous maculo pathysequel Keratoconus Keratoconus H54.2 H54.2 H54.2 H54.2 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 Body functions b21001.2(RE) b21001.2 (LE) b21002.0 b2101.2 b21020.0 b21021.0 b21022.0 b21023.1 b21001.3 (RE) b21001.3 (LE) b21002.4 b2101.3 b21020.2 b21021.0 b21022.2 b21023.3 b21001.3 (RE) b21001.2 (LE) b21002.2 b2101.0 b21020.2 b21021.0 b21022.1 b21023.2 b21001.3 (RE) b21001.2 (LE) b21002.1 b2101.0 b21020.1 b21021.0 b21022.1 b21023.3 Body structures s2203.223 s2203.373 s2201.263 s2201.263 ICF Activities and participation d166.110 d4502.110 d640.100 d9205.000 d166.331 d4502.320 d640.221 d9205.332 d166.110 d4502.220 d640.321 d9205.320 d166.110 d4502.221 d640.211 d9205.310 Environment factors e1201+0 e1251+4 e1500+2 e1502+3 e2400.0 e2401+4 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+4 e420+4 e445.2 F.S.A., female, 29 years old, married 1 son, unemployed e1201+0 e1251+4 e1500+1 e1502+3 e2400.4 e2401+3 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+3 e420+3 e445.2 D.C.F., male, 43 years old, married, 2 daughters, on sick leave e1201+1 e1251+4 e1500+2 e1502+4 e2400.3 e2401+4 e310+4 e315+4 e320+3 e410+4 e415+4 e420+3 e445.2 R.D.A.A., male, 48 years old, single, on sick leave e1201+2 e1251+4 e1500+3 e1502+4 e2400.2 e2401+4 e310+4 e315+4 e320+3 e410+4 e415+4 e420+3 e445.4 Visual impairment, rehabilitation and International Classification Of Functioning, Disability And Health Diagnosis S13 Cortical ICD-10 H54.2 Body functions b21001.3(RE) b21001.3(LE) b21002.2 b2101.2 b21020.0 b21021.0 b21022.0 b21023.3 Body structures s1106.452 ICF Activities and participation d166.220 d4502.220 d640.110 d9205.221 299 Environment factors e1201+0 e1251+4 e1500+3 e1502+3 e2400.1 e2401+2 e310+4 e315+4 e320+4 e410+4 e415+4 e420+3 e445.2 M.V.C.B., female, 33 years old, married, pregnant, on sick leave (*) RE: right eye; (**) LE: left eye Douglas et al. (29), the social and individual barriers found in the sample population prevented considerably the frequent outing of these people from their homes, the public transport was identified during the study as a major barrier in the subjects’ daily basis activities, besides the challenge to create awareness among the visual impaired population who sees the restraints of mobility as inherent to their condition, thus failing to access the health services. The visual functions with disabilities which were here presented implicated, at various levels, the activities and participation of the users, either under limiting or even disabling forms, these implications were also identified in studies of Marback, Temporini & Kara-Júnior (11) and Aciem & Mazzotta (13) . However, from the analysis of the obtained results it can be seen that the use of optical and non-optical devices were shown to be an effective aid for increasing the functionality with improved performance and participation in the daily activities and they can lead to increased self-esteem and social participation, as evidenced in other national and international researches (13,24,3032) . In the research conducted by Carvalho et al. (23), the optical devices prescribed for the visually impaired old people, after the assessment and knowledge of the visual category of each individual, their individual needs and aspects of their daily life, they helped in improving the functional performance and were recognized by the elderly as valid resources for managing their everyday activities. The findings of this study allow us to highlight the Basic Activities of Daily Life (ADLs), such as functional communication (d166), functional mobility (d4502) and socialization (d9205), were more implicated in this group of participants, than the Instrumental Activities of Daily Living such as household chores (d640). Although ADLs are less complex activities – in relation to required skills, the participants at the time of the survey are in the beginning of the rehabilitation process. Owsley et al. (33) , during the tracking of the vision rehabilitation services in the United States and the characteristics of the population assisted, found that reading is a performing task that is more compromised, about 85.9% of assisted subjects presented difficulty in reading, so as in this study, in which 76.92% presented impairment in the reading performance from moderate (.2) to complete (.4). When it comes to mobility (41.2%) and household chores (39.1%), these activities are shown as difficult to implement, though less prominently (33). The performance data of socialization, in which 7 people reported severe difficulty and 1 person complete difficulty in social performance (d9205), meets Cunha’s and Enumo’s speech (8) , which argues that deficiency leads to social losses. For other participants evaluated and ranked, social environmental factors are not barriers to their acceptance and engagement in activities, but facilitators. On the other hand, there are physical environments that are not prepared to receive the visually impaired, causing limitations and restrictions on the participation of people in public and private environments, creating real barriers, interfering with the right to come and go, and as mentioned previously, discouraging the access to and search for health services (4,27-29). The context of the health network, which is highlighted here, refers to the rehabilitation of the visual impaired. The rehabilitation goes beyond empowering, training or presenting resources, techniques and strategies to the individuals in dealing with their environment. It aims to take actions to facilitate and promote their social inclusion and integration, enabling the individuals to perform daily with autonomy, independence and quality of life. Visual rehabilitation groups stand for sources of experience for the participants, legitimizing capabilities, the possibilities for action, assisting in the reconstruction of their personal and social identities (13). It is important to highlight that the family members participate actively in some meetings, so they are constantly guided and kept close. The rapprochement of the family during the rehabilitation process is essential for the engagement, attendance and stimulation of the visually impaired. The visual loss at any level, studied in this research, was the cause of the functional impairment, regarding the independence of the activities in the daily living and, consequently, the quality of life of the individuals. In order to enable the participants to reach their maximum functionality and their well-being it is crucial in the habilitation and rehabilitation care process to count on a multi-skilled team and knowledge in order to encompass the individual as a whole being and rehabilitate him effectively (2,1115,33) . This wide and global approach is carried out at the research center as well as in the approach of the Visual Rehabilitation Group from the assessment until the discharge process. This Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 300 Silva MR, Nobre MIRS, Carvalho KM, Montilha RCL approach leads the therapeutic goals to be plotted according to the user’s individual needs in all aspects and his rehabilitation is closely monitored and is planned properly. The archaic concept of disability as irreversible condition and applied to small groups that should be medicalized and rehabilitated to bring the individual to the maximum of the expected standard of functionality, brings forth - and still does discrimination and segregation. In order to educate society that disability is inherent to the human diversity, constant actions are required and performed. Another significant struggle within the universe of disability refers to the different forms of limitations and the constraints that are usually faced. Impaired people experience their disabilities in different ways; they perform and participate in their daily activities on their own terms due to their personal factor, preferences, settings, facilitators, barriers, different history and culture. The lack of understanding that the same deficiency leads to various restrictions and limitations for each person who experiences it may lead to misconceptions, myths and prejudices in several areas, whether educational, legislative, financial, technological. It is precisely the importance of researching on the diversity within human diversity, i.e., within the peculiarities of the visual impairment, which are based on the rehabilitation process. It is this diversity that is the source of action in health. To research the diversity is to seek forms of intervention based on the needs and individualized demands. An example of diversity within the universe of visual impairment can be seen in Table 5. The S3 individual, considered blind in both eyes (H54.0), compared to S1 and S2, both with blindness in both eyes by the ICD-10, has less limiting and restrictive functional responses related to the visual impairment. When the same individual (S 3) is compared to S 8 and S 10, considered visually impaired with low vision in both eyes (H54.2), his performance and ability to perform daily activities is similar or slightly lower. These different responses within this universe allow the understanding about the individual who is assisted by the clinic such as his singularities. It is extremely important to plan the rehabilitation conduct preventing the generalization by the visual condition. The ICF has an essential role in this context, since it comes to discuss, extend and articulate the concepts about disability. Used as a tool in this study, the ICF proved to be a suitable tool for classifying visual disabilities that should be incorporated into the professional practice in the health field in order to guide actions centered on the needs of the individual with low vision or blindness, to turn the rehabilitation process individualized and effective. It is suggested that the ICF does not guide actions alone, but combined with other standardized structured and semi-structured assessment and mainly with the observation and approach to the subject assisted to improve strategic interventions that may be conducted. functionality, showing the influence of external factors on the individual’s performance. Knowing and recognizing the existence of diversity within the universe of visual impairment allows the understanding who the assisted subject is, avoiding the generalization by the visual condition. From this research it was possible to describe the characteristics of each individual diagnosed with visual impairment according to the ICD-10, and classify him according to the ICF. This process showed that the classification in the ICF favors the rehabilitation conduct since it covers the individual in his particularities and context, reaching his individual sphere that is embedded in a socio-cultural context historiography, based in unique and complex needs. R EFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. CONCLUSION 14. The visual loss, at any level, led to functional impairments, limiting and restricting the individuals’ participation and performance in the daily activities interfering with their independence, autonomy and their quality of life. However, the use of optical resources, non optical, aids and environmental adaptations proved to be beneficial for increasing the Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 15. World Health Organization. Vision 2020 – The Right to Sight: Global initiative for the elimination of avoidable blindness – Action plan 20062011 [Internet]. 2007 [cited 2012 Oct 13]. Available from: http:// www.who.int/blindness/Vision2020_report.pdf. World Health Organization. Action Plan for the Prevention of Avoidable Blindness and Visual Impairment - 2009-2013 [Internet]. 2010. [cited 2012 Oct 10]. Available from: http://www.who.int/blindness/ ACTION_PLAN_WHA62-1-English.pdf. Resnikoff S, Pascolini D, Mariotti SP, Pokharel GP. Global magnitude of visual impairment caused by uncorrected refractive errors in 2004. Bull World Health Org. 2008; 86(1):63–70. Salomão SR, Mitsuhiro MR, Belfort Jr R. Visual impairment and blindness: an overview of prevalence and causes in Brazil. An Acad Bras Ciênc. 2009; 81(3):539-49. World Health Organization. Visual impairment and blindness [Internet]. Updated October 2013. [cited 2012 July 20] Available from: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs282/en/. World Health Organization. Global data on visual impairment 2010. [Internet]. WHO; 2012. [cited 2012 Oct 10]. Available from: http:// www.who.int/blindness/Globaldatafinalforweb.pdf. Sanchez PA. Deficiencias visuales y psicomotricidad: teoría y práctica. Madrid: Organización Nacional de Ciegos Españoles, Sección de Educación, 1994. Cunha AC, Enumo SR. Desenvolvimento da criança com deficiência visual (DV) e interacção mãe-criança: algumas considerações. Psicol Saúde Doenças. 2003;4(1):33-46. Mancini MC, Braga MA, Albuquerque KA, Ramos TM, Chagas PS. Comparação do desempenho funcional de crianças com visão subnormal e crianças com desenvolvimento normal aos 2 e 6 anos de idade. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2010;21(3):215-22. West SK, Rubin GS, Broman AT, Muñoz B, Bandeen-Roche K, Turano K. How does visual impairment affect performance on tasks of everyday life? Arch Ophthalmol. 2002;120(6):774-80. Marback R, Temporini E, Kara-Júnior N. Emotional factors prior to cataract surgery. Clinics. 2007;62(4):433-8. Lamoureux EL, Pallant JF, Pesudovs K, Rees G, Hassell JB, Keeffe JE. The effectiveness of low-vision rehabilitation on participation in daily living and quality of life. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2007; 48(4):1476-82. Aciem TM, Mazzotta MJ. Autonomia pessoal e social de pessoas com deficiência visual após reabilitação. Rev Bras Oftalmol. 2013; 72(4):261-7. Steiner WA, Ryser L, Huber E, Uebelhart D, Aeschlimann A, Stucki G. Use of the ICF model as a clinical problem-solving tool in physical therapy and rehabilitation medicine. Phys Ther. 2002; 82(11):1098-107. Sampaio MW, Haddad MA. Avaliação oftalmológica da pessoa com baixa visão. In: Sampaio MW, Haddad MA, Costa Filho HA, Siaulys MO. Baixa visão e cegueira: os caminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: Cultura Médica; Guanabara Koogan; 2010. p. 45-50. Visual impairment, rehabilitation and International Classification Of Functioning, Disability And Health 16. Bittencourt ZZ, Montilha RC, Gasparetto ME,Temporini ER, Carvalho KM. Diabetic retinopathy and visual disabilities among patients in a rehabilitation program. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(6):342-8. 17. Organização Mundial da Saúde. CIF: Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde. Tradução: Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para a Família de Classificações Internacionais. São Paulo: EDUSP; 2003. 18. Organização Mundial da Saúde. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde: CID10 Tenth review. Translation: Centro Colaborador da Organização Mundial da Saúde para a Classificação de Doenças em Português. 3a ed. São Paulo: EDUSP; 1996. 19. Resnikoff S, Pascolini D, Etya’Ale D, Kocur I, Pararajasegaram R, Pokharel GP, Mariotti SP. Global data on visual impairment in the year 2002. Bull World Health Organ. 2004; 82(11):844-51. 20. Schellini SA, Durkin SR, Hoyama E, Hirai F, Cordeiro R, Casson RJ, et al. Prevalence and causes of visual impairment in a Brazilian population: The Botucatu Eye Study. BMC Ophthalmology. 2009;9:8. 21. Resnikoff S, Keys TU. Future trends in global blindness. Indian J Ophthalmol. 2012; 60(5):387–95. 22. Dandona L, Dandona R. What is the global burden of visual impairment? BMC Medicine. 2006; 4:6. 23. Carvalho KM, Monteiro GBM, Isaac CR, Shiroma LO, Amaral MS. Causes of low vision and use of optical aids in the elderly. Rev Hosp Clín Fac Med São Paulo . 2002;59(4):157-160. 24. Rosenberg EA, Sperazza LC. The visually impaired patient. Am Fam Physician. 2008; 77(10):1431-6. 25. Weih LM, VanNewkirk MR, McCarty CA, Taylor HR. Age-specific causes of bilateral visual impairment. Arch Ophthalmol. 2000; 118(2):264-9. 26. Yau JW, Rogers SL, Kawasaki R. Lamoureux EL, Kowalski JW, , Chen SJ, Dekker JM, Fletcher A, Grauslund J, Haffner S, Hamman RF, Ikram MK, Kayama T, Klein BE, Klein R, Krishnaiah S, Mayurasakorn K, O’Hare JP, Orchard TJ, Porta M, Rema M, Roy MS, Sharma T, Shaw J, Taylor H, Tielsch JM, Varma R, Wang JJ, Wang N, West S, Xu L, Yasuda M, Zhang X, Mitchell P, Wong TY; MetaAnalysis for Eye Disease (META-EYE) Study Group. Global prevalence and major risk factors of diabetic retinopathy. Diabetes Care. 2012; 35(3):556-64. 301 27. Sawyer DO, Leite IC, Alexandrino R. Perfis de utilização de serviços de saúde no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2002;7(4):757-76. 28. Temporini ER, Kara-Júnior N, Kara-José N, Holzchuh N. Popular beliefs regarding the treatment of senile cataract. Revista de Saúde Pública. 2002; 36(3):343-9. 29. Douglas G, Pavey S, Corcoran C, Clements B. Evaluating the use of the ICF as a framework for the interviewing people with a visual impairment about their mobility and travel. Br J Visual Impairment. 2012;30(1):6-21. 30. Lucas MB, Leal DB, Tavares SS, Barros EA, Aranha ST. Condutas reabilitacionais em pacientes com baixa visão. Arq Bras Oftalmol. 2003; 66(1):77-82. 31. Montilha RC, Temporini ER, Nobre MI, Gasparetto ME, Kara-Jose N. Utilização de recursos ópticos e equipamentos por escolares com deficiência visual. Arq Bras Oftalmol. 2006;69(2):207-11. 32. Haddad MA, Sampaio MW, Haddad M, et al. Auxílios para baixa visão. In: Sampaio MW, Haddad MA, Costa Filho HA, Siaulys MO. Baixa visão e cegueira: os caminhos para a reabilitação, a educação e a inclusão. Rio de Janeiro: Cultura Médica; Guanabara Koogan; 2010. p.113-39. 33. Owsley C, McGwin Jr G, Lee PP, Wasserman N, Searcey K. Characteristics of low-vision rehabilitation services in the United States. Arch Ophthalmol. 2009;127(5):681-9. Corresponding of author: Rua Primo Chiorlin, nº 80 CEP: 13105-556 – Campinas (SP), Brazil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 291-301 ARTIGO ORIGINAL 302 Nível de conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto entre os estudantes de medicina Knowledge about primary open angle glaucoma among medical students Saulo Costa Martins1, Marcos Henrique Mendes1, Ricardo Augusto Paletta Guedes2, Vanessa Maria Paletta Guedes3, Alfredo Chaoubah 4 R ESUMO Objetivo: Avaliar o conhecimento dos alunos de graduação do curso de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora em relação ao glaucoma primário de ângulo aberto. Métodos: Neste estudo transversal, aplicou-se aos alunos dos 5º e 6º ano um questionário contendo 11 questões referentes a epidemiologia, fatores de risco, sintomas, diagnóstico, tratamento, consequências do glaucoma e por último se consideram os conhecimentos adquiridos na universidade como suficientes. Características dos alunos (idade, sexo, especialidade pretendida) foram identificadas. Resultados: Entre os estudantes, 52,9% eram mulheres. A origem genética da doença foi identificada por 22,5%. Quase a metade (46,1%) não sabia que o glaucoma na maioria das vezes é assintomático. Aproximadamente 1 em cada 3 alunos não sabia que a cegueira do glaucoma era irreversível. A grande maioria (91,2%) identificou corretamente que a tonometria era um exame importante na avaliação do glaucoma e que o tratamento poderia ser clínico (70,6%) ou cirúrgico (71,6%). Porém, poucos alunos deram a real importância para os exames de fundoscopia (35,3%) e campimetria (28,7%). Quase a totalidade (95,1%) dos entrevistados considerou o próprio conhecimento como insuficiente. Conclusão: A maioria dos entrevistados acha que o conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto adquirido na graduação é insuficiente. Tal desconhecimento pode levar a oportunidades de diagnóstico perdidas e gerar consequências graves tanto do ponto de vista individual (cegueira) quanto do ponto de vista coletivo (impacto para o sistema de saúde e sociedade). Descritores: Glaucoma de ângulo aberto/diagnóstico; Glaucoma de ângulo aberto/prevenção & controle; Oftalmologia/educação; Estudantes de Medicina; Educação em graduação de Medicina ABSTRACT Objective: To assess the knowledge of primary open-angle glaucoma among medical students from Federal University of Juiz de Fora. Methods: In this cross sectional study, we conducted a survey among students attending the last two years of Medical School. The questionnaire consisted in 11 questions about epidemiology, risk factors, symptoms, diagnosis, treatment and primary open-angle glaucoma (POAG) consequences. The students were also asked if they considered their knowledge about POAG sufficient. Students’ characteristics (age, sex and intended area of specialization) were identified. Results: Women comprised 52.9% of the students. Only 22.5% identified POAG as having a genetic origin. Almost half of them (46.1%) did not know that POAG is asymptomatic and 1 out of 3 students did not know that glaucoma blindness is irreversible. The great majority (91.2%) correctly identified tonometry as an important tool for diagnosis and that glaucoma can be treated through medications (70.6%) or surgery (71.6%). However, few students identified fundoscopy (35.3%) and perimetry (28.7%) as important tools for glaucoma assessment. Almost everyone (95.1%) considered their knowledge insufficient. Conclusion: The majority of the participants believe that their knowledge of POAG is insufficient. This gap can lead to some serious consequences from both individual (blindness) and collective (negative impact in health system and society) perspectives. Keywords: Glaucoma, open-angle/diagnosis; Glaucoma, open-angle/prevention & control; Ophthalmology/education; Medical, students; Education, medical Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF – Juiz de Fora (MG), Brasil; Oftalmologista. Pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF – Juiz de Fora (MG), Brasil; 3 Oftalmologista. Chefe do Serviço de Oftalmologia da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora; pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF – Juiz de Fora (MG), Brasil; 4 Professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal de Juiz de Fora; pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF – Juiz de Fora (MG), Brasil. 1 2 Trabalho realizado na Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF – Juiz de Fora, MG, Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 25/09/2012 - Aceito para publicação em 29/8/2014 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 Nível de conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto entre os estudantes de medicina INTRODUÇÃO O glaucoma pode ser entendido como uma neuropatia óptica crônica, com alterações marcantes do disco óptico e da camada de fibras nervosas da retina que desencadeiam significativas mudanças no campo visual (1-3). A classificação da doença pelos mecanismos de obstrução da drenagem do humor aquoso distingue o glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA), o glaucoma primário de ângulo fechado (GPAF) e o glaucoma secundário(4). Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, o glaucoma é a segunda causa de cegueira no mundo (12,3%), após a catarata (47,8%). Em estudos no Brasil, a prevalência de glaucoma foi de 3,4%, sendo o GPAA, o mais prevalente (2,4%)(1). É importante ressaltar que a cegueira da catarata pode ser revertida com o tratamento cirúrgico, enquanto aquela provocada pelo glaucoma é irreversível(5). Inúmeros fatores de risco preditivos e fatores prognósticos são descritos para o GPAA, tais como aumento da pressão intraocular (PIO), história familiar e genética, origem étnica, miopia, diabetes mellitus(1,2), sendo que a PIO é mais consistentemente identificada nas associações ao glaucoma e é a mais importante, pois é a única em que se pode atuar com eficácia(1-3). A doença possui caráter assintomático nos estágios iniciais e sua evolução insidiosa leva ao diagnóstico tardio(1-3). Dessa maneira, estima-se que mais da metade dos casos de glaucoma permanece sem diagnóstico e tratamento(6,7). Tendo em vista que as consultas oftalmológicas representam 9% de todos os atendimentos médicos e que a distribuição de oftalmologistas nas diversas regiões do país é irregular, evidencia-se que o médico generalista tem importante papel na prevenção à cegueira(8,9). Nesse contexto, a graduação médica deveria capacitar os estudantes de medicina a diagnosticar, realizar o encaminhamento adequado e até tratar algumas doenças oculares mais prevalentes e incapacitantes, dentre elas o glaucoma(5,10,11). E no caso do GPAA, identificar os principais fatores de risco, aprender a referenciar pacientes para testes de glaucoma, reforçar a importância da prevenção, principalmente, nos casos de maior risco. E também, estimular a adesão ao tratamento contínuo, o que contribui para a diminuição da progressão da doença(5). No entanto, alguns estudos mostraram que a preparação em oftalmologia básica do estudante de graduação é insuficiente, e sugerem a necessidade de reavaliar o ensino desse tema na graduação(8,10). Dessa forma, torna-se relevante estudar o conhecimento sobre GPAA dos estudantes que estão às vésperas de se tornarem médicos generalistas, direcioná-los em sua formação e contribuir para as discussões de reforma curricular. O objetivo do presente estudo é avaliar o nível de conhecimento sobre GPAA entre os alunos nos últimos dois anos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil. MÉTODOS Foi realizado um estudo observacional transversal de agosto a setembro de 2012. A amostra foi composta por acadêmicos do curso de medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), sendo considerado erro amostral de 4,5% (para mais ou para menos). Os sujeitos da pesquisa foram abordados na 303 própria instituição, escolhidos aleatoriamente e convidados a responder ao questionário de forma voluntária, sem trazer nenhum custo ou prejuízo. Os critérios de inclusão na pesquisa foram ser estudante de medicina, maior de 18 anos, cursando um dos seguintes períodos 9º, 10º, 11º e 12º e responder de imediato o questionário. Foram excluídos da pesquisa estudantes de medicina de outros períodos, aqueles que não responderam de imediato o questionário, aqueles que se recusaram a participar da pesquisa ou que ainda não devolveram os questionários completos e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado. Os participantes foram abordados de forma padronizada por pesquisador treinado, com prévia concordância e com o preenchimento individual e voluntário do questionário, assinando o TCLE. Dois estudantes de medicina foram responsáveis pela coleta de dados. O treinamento para a referida coleta se deu através da realização de um estudo piloto com 16 indivíduos, a fim de testar o instrumento, identificar problemas na compreensão das perguntas, fazer alterações no questionário e contribuir para a organização do trabalho de campo. O instrumento de coleta utilizado foi um questionário estruturado (Anexo 1), composto por 11 questões relacionadas a fatores de risco, sintomas, diagnóstico, tratamento e consequências do glaucoma, direcionadas à avaliação do conhecimento dos sujeitos sobre o tema da pesquisa. As características dos alunos, tais como idade, sexo e especialidade escolhida foram descritas. Utilizou-se o programa software SPSS (SPSS Inc., Chicago, EUA) para a elaboração do banco de dados e para a análise estatística. A análise dos resultados obtidos irá respeitar as seguintes normas: intervalo de confiança de 95% e p-valor menor do que 0,05. A pesquisa seguiu as orientações sobre pesquisas envolvendo seres humanos contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde. Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, tendo sido aprovado com o nº de parecer 73374/2012. R ESULTADOS Cento e dois estudantes foram convidados e aceitaram participar da pesquisa. Eles estavam distribuídos da seguinte maneira: 25 do 9º período, 27 do 10º período, 25 do 11º período e 25 do 12º período. A idade média (+/- desvio padrão) da população estudada foi de 24,9 (+/- 2,2) anos. A maioria dos entrevistados (52,9%) era do sexo feminino. Dos entrevistados, somente 2,9% tinham como especialização pretendida a oftalmologia, 80,4% pretendiam outra especialidade médica e 16,7% não sabiam qual especialidade escolher ainda. A história familiar de glaucoma estava presente em 15,7% dos entrevistados. Aproximadamente 7% dos estudantes afirmaram desconhecer a existência de glaucoma na família, enquanto que a maioria (76,5%) negou a presença da doença na família. A figura 1 mostra quais foram as respostas dos alunos sobre qual seria a maior causa de cegueira irreversível no mundo. A maioria (59,8%) acertou ao responder o glaucoma. No entanto, 25,5% consideraram a retinopatia diabética. Dentre aqueles cuja especialização pretendida era a oftalmologia, todos acertaram, porém entre os demais (outra especialização pretendida ou não sabem o que vão fazer), 26,3% acharam que era a retinopatia diabética. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 304 Martins SC, Mendes MH, Guedes RAP, Guedes VMP, Chaoubah A mes importantes no glaucoma. Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. Figura 1: Maior causa de cegueira irreversível segundo os entrevistados A cegueira causada pelo glaucoma foi classificada como irreversível por 64,7% dos entrevistados, porém 17,6% acharam que a cegueira era reversível com algum tipo de tratamento e o mesmo número não sabia como responder, ou seja, 35,3% dos alunos (aproximadamente 1 em cada 3 alunos) não sabia que a cegueira do glaucoma era irreversível. Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida (p=0,964, qui-quadrado), por período (p=0,076, qui-quadrado), ou se tinham alguém na família com glaucoma (p=0,122, qui-quadrado). A identificação do GPAA como o tipo mais comum foi feita por 58,8%, mas 19,6% (1 em cada 5 alunos) não soube responder qual seria o tipo mais comum de glaucoma. Mais uma vez, não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida (p=0,387, quiquadrado), por período (p=0,045, qui-quadrado), ou se tinham alguém na família com glaucoma (p=0,782, qui-quadrado). Grande parte dos estudantes (67,6%) errou ao considerar a PIO como fator causal. Somente 22,5% acertaram ao identificar o fator genético como causa do GPAA e 16,7% não souberam responder. Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. A figura 2 mostra quais foram os fatores de risco para o GPAA, identificados pelos estudantes. A PIO elevada foi identificada por 88,2%, porém muitos outros fatores importantes deixaram de ser considerados pela maioria, tais como: HAS (49%); DM (26,5%); miopia (4,9%); trauma ocular (15,7%); uso de corticosteroide (43,1%); raça negra (15,7%). História familiar de glaucoma foi considerada corretamente como fator de risco por 72,5% dos entrevistados. Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. Dos entrevistados, 15,7% relataram que não sabiam reconhecer os sinais e os sintomas do GPAA. Somente 53,9% julgaram corretamente que o GPAA seria assintomático. Diversos sinais e sintomas foram citados pelos entrevistados como fazendo parte da clínica do GPAA: perda súbita de visão central (24,5%); dor ocular (33,3%); olhos vermelhos (9,8%); lacrimejamento (11,8%); cefaléia periocular (24,5%); cefaléia frontal (5,9%); fotofobia (11,8%). Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. A grande maioria, 91,2%, identificou corretamente que a tonometria (medida da PIO) era um exame importante na avaliação do glaucoma. No entanto, somente 35,3% consideraram a fundoscopia e 28,7% consideraram a campimetria visual como exaRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 Figura 2: Fatores de risco identificados pelos entrevistados para o glaucoma primário de ângulo aberto A figura 3 traz as respostas a respeito do tratamento do glaucoma. A maioria dos entrevistados acertou ao considerar os tratamentos clínico (70,6%) e cirúrgico (71,6%) para o glaucoma. O laser só foi citado como possibilidade terapêutica por 23,5%. Não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. Figura 3: Possibilidades de tratamento do glaucoma primário de ângulo aberto segundo os entrevistados A figura 4 mostra a proporção de entrevistados que considerou como suficientes seus conhecimentos obtidos durante a graduação sobre o GPAA Figura 4: Proporção de entrevistados que considerou seus conhecimentos obtidos durante a graduação sobre o glaucoma primário de ângulo aberto como suficientes Nível de conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto entre os estudantes de medicina DISCUSSÃO O presente estudo identificou que os estudantes de medicina dos dois últimos anos da graduação na Universidade Federal de Juiz de Fora se sentem incapacitados para identificar as principais características epidemiológicas e clínicas e as possibilidades terapêuticas do GPAA. Este dado pôde ser confirmado através das respostas destes mesmos estudantes ao questionário padronizado utilizado nesta pesquisa. O conhecimento do clínico geral é fundamental para possibilitar um aumento no número de diagnósticos precoces do GPAA, e consequentemente, da quantidade de tratamentos iniciados. Além disso, os conhecimentos errôneos e a ausência de conhecimentos constituem importantes obstáculos às ações de prevenção da saúde ocular (5,12). A avaliação dos estudantes de medicina nos últimos anos do curso pode ser entendida como uma ferramenta para refletir o conhecimento dos médicos, tendo em vista que em breve, grande parte desses alunos serão os responsáveis pela abordagem dos pacientes (5). Essa avaliação torna-se ainda mais relevante, na medida em que se espera um aumento da prevalência do glaucoma no mundo todo, como consequência do envelhecimento populacional e da insuficiência de recursos oftalmológicos para a intervenção efetiva contra essa afecção (5). Na amostra analisada, verificou-se que a maioria dos entrevistados acertou ao classificar o glaucoma como a causa de cegueira irreversível mais prevalente no mundo, porém um grande número de entrevistados considerou a retinopatia diabética. O fato de aproximadamente um quarto dos entrevistados ter escolhido a retinopatia diabética pode ser um sinal de que as ações de prevenção dessa doença, realizada por órgãos como a Associação Americana de Diabetes e a Sociedade Brasileira de Diabetes, despertam maior preocupação do que as ações do glaucoma. Esta situação é evidenciada pelo caráter contínuo e de ampla abrangência de programas como o Hiperdia e a Campanha Nacional de Retinopatia Diabética (13,14) e da falta de investimento e continuidade de programas como a Campanha do Glaucoma do Ministério da Saúde (5,14). Outra razão seria que a diabetes é uma doença muito mais estudada durante o curso de Medicina, pois envolve mais disciplinas no currículo médico, sendo que o glaucoma só é estudado dentro da disciplina de Oftalmologia. Ao se abordar a classificação do glaucoma, notou-se que a maioria dos alunos acertou ao identificar o GPAA como o tipo mais comum, porém o que chama a atenção é que 1 em cada 5 entrevistados não soube responder qual seria o tipo mais comum de glaucoma. Uma das fontes mais comuns de erros na avaliação do glaucoma é considerar a elevação da pressão intraocular como fator causal. A hipertensão ocular é somente um fator de risco (1) , existindo casos de hipertensos oculares que nunca vão se converter em glaucoma. Assim como existem casos de glaucoma onde a PIO se encontra em níveis normais (1). Ao serem questionados sobre o fator causal do GPAA, a maioria dos acadêmicos errou ao considerar a PIO elevada. Somente 22,5% acertaram ao considerar o fator genético como a causa do GPAA. Por outro lado e de maneira incongruente (fator causal não pode ser fator de risco ao mesmo tempo!), a maioria identificou a hipertensão ocular como um importante fator de risco para o glaucoma, o que está correto. A história familiar de 305 glaucoma foi considerada corretamente como fator de risco para 72,5% dos entrevistados. O GPAA é uma doença multifatorial, sendo imprescindível o domínio dos fatores de risco (1). A população alvo do estudo foi acadêmicos próximos de se tornarem médicos, provavelmente boa parte destes médicos comporão a Atenção Primária da Saúde. Sendo esta, a porta de entrada do usuário a uma rede de serviços resolutivos de acesso universal, a atenção básica tem a proposta de coordenar os cuidados na rede de serviços e realizar a integralidade nas suas dimensões (5). Mas os resultados encontrados sugerem disparidade entre a necessidade dos serviços de saúde ocular na atenção primária, isto é, reconhecimento do fator de risco para prevenção e controle de algumas causas evitáveis de cegueira e deficiência visual (5). O reconhecimento da apresentação clínica do glaucoma pelos profissionais de saúde é a pedra angular na prevenção e no controle da patologia (5) . O glaucoma é uma doença neurodegenerativa caracterizada por degeneração lenta e progressiva das células ganglionares da retina (3) , sendo assintomática no estágio inicial (1,2,5). Dessa forma, é necessário que os clínicos tenham o conhecimento de que os portadores ou suspeitos de glaucoma não vão se apresentar na consulta médica com sintomas exuberantes e se queixando de acometimento ocular de forma direta. Ao analisar a compreensão dos acadêmicos com relação à clínica do GPAA, notou-se que 15,7% afirmaram não saber quais eram os sinais e sintomas do GPAA e somente pouco mais da metade dos entrevistados, 53,9% julgaram corretamente que o GPAA evolui na maioria das vezes de forma assintomática. A casuística dos principais exames para o diagnóstico do GPAA mostrou que a grande maioria identificou corretamente que a tonometria era um exame importante na avaliação do glaucoma. No entanto, exames muito importantes como a fundoscopia e a campimetria foram citados somente por poucos entrevistados. O estudo aponta uma falha séria, visto que o glaucoma é uma doença do nervo óptico (neuropatia óptica), cuja avaliação (diagnóstico e seguimento) só pode ser feita através de uma boa fundoscopia e uma campimetria confiável (1). Atualmente, o tratamento do GPAA preconiza a redução da PIO, a qual continua a ser o único fator de risco comprovado e tratável para a doença (3). Existem várias modalidades de tratamento para diminuir a PIO: clínico, cirúrgico e laser. Os dados obtidos revelaram que a maioria dos entrevistados acertou ao considerar os tratamentos clínico e cirúrgico para o glaucoma. O laser é uma realidade no tratamento do glaucoma, porém só foi citado como possibilidade terapêutica por 23,5% dos participantes. Em todas as questões, não houve diferença das respostas se analisarmos separando por grupos de especialização pretendida, por período ou se tinham alguém na família com glaucoma. Esse cenário, evidencia que a baixa compreensão de fatores importantes relacionados ao glaucoma não se limita a uma determinada turma da faculdade. E também que, provavelmente, os pacientes portadores de glaucoma e seus familiares não têm a orientação adequada sobre esta doença e apresentam nível de conhecimento baixo sobre seu diagnóstico. Neste estudo quase a totalidade dos participantes considerou seus conhecimentos sobre glaucoma insuficientes. Pesquisa semelhante realizada com os últimos períodos das Faculdades de Medicina de São Paulo evidenciou importantes deficits no conhecimento oftalmológico dos futuros clínicos gerais (15) e outro estudo na Universidade Federal do Piauí, em 2011, aponRev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 306 Martins SC, Mendes MH, Guedes RAP, Guedes VMP, Chaoubah A tou índice de 99,1% de insegurança dos alunos no atendimento de afecções oftalmológicas (10). Dessa maneira, percebe-se que a nossa amostra é consonante com a realidade de outras faculdades de medicina, evidenciando o reconhecimento dos alunos com relação às falhas no ensino da oftalmologia e consequentemente o despreparo para abordar pacientes com queixas oftalmológicas. Tal realidade, possivelmente demonstra a necessidade de modificações na maneira como essa disciplina é abordada, passando a ser ensinada de maneira direcionada para o atendimento médico primário (16) e com foco na prevenção e no diagnostico precoce. CONCLUSÃO Este estudo demonstrou que a maioria dos entrevistados acha que o conhecimento sobre glaucoma adquirido na graduação é insuficiente. Esta lacuna gera equívocos importantes sobre questões fundamentais, tais como etiologia do glaucoma, seus fatores de risco, seu quadro clínico e seu tratamento. Tal desconhecimento pode levar a oportunidades de diagnóstico perdidas e gerar consequências graves tanto do ponto de vista individual (cegueira) quanto do ponto de vista coletivo (impacto para o sistema de saúde e sociedade). Anexo 1 Questionário aplicado aos estudantes de medicina Idade: ___________________ Sexo: _______________________ Período: _____________________________________________ Especialização pretendida:____________________________________________________________________________________ Você tem alguém na família com glaucoma? Sim Não Não sei A causa de cegueira irreversível mais prevalente no mundo é: Catarata Glaucoma Degeneração macular relacionada à idade Retinopatia diabética Não sei O glaucoma pode levar a cegueira. A cegueira do glaucoma é: Reversível com qualquer tratamento (clínico ou cirúrgico) Reversível somente com tratamento cirúrgico Irreversível Não sei O tipo mais comum de glaucoma é o seguinte: Glaucoma Primário de Ângulo Aberto Glaucoma Primário de Ângulo Estreito Glaucoma Congênito Glaucoma Secundário Não sei São causas do Glaucoma Primário de Ângulo Aberto: Fatores genéticos Pressão intraocular elevada Infecção Não sei Assinale os principais fatores de risco para o Glaucoma Primário de Ângulo Aberto (1 ou mais): Pressão intraocular elevada Hipertensão arterial Diabetes Doenças neurológicas Pacientes jovens Hipermetropia Miopia História familiar de glaucoma Trauma ocular Uso de corticosteróides Raça Negra Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 Com relação aos sinais e sintomas do Glaucoma Primário de Ângulo Aberto, assinale aquele(s) mais comum(s): Perda súbita da visão central Dor ocular Olhos vermelhos Lacrimejamento Cefaléia periocular Cefaléia frontal Fotofobia Ele é na grande maioria das vezes assintomático Não sei Diante de um glaucoma, os principais exames são: Medida da acuidade visual Fundo de olho Medida da pressão intraocular (tonometria) Campimetria visual Ressonância Nuclear Magnética Não sei. O tratamento do glaucoma pode ser feito com 1 ou mais da seguintes alternativas: Colírios Cirurgia Laser Não tem tratamento ainda Não sei O tratamento do glaucoma, quando eficaz, promove: A cura da doença O controle da doença, evitando-se a cegueira Alívio sintomático, porém a progressão para a cegueira é inevitável Não tem tratamento ainda Não sei Você considera que seus conhecimentos obtidos durante a graduação são suficientes para reconhecer um possível caso de Glaucoma Primário de Ângulo Aberto? Sim Não 307 Nível de conhecimento sobre glaucoma primário de ângulo aberto entre os estudantes de medicina R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Sociedade Brasileira de Glaucoma. 3º Consenso Brasileiro. glaucoma primário de ângulo aberto. São Paulo: BestPoint; 2009. Disponível em: http://www.sbglaucoma.com.br/pdf/consenso03.pdf National Health and Medical Research Council (NHMRC). A guide to glaucoma for primary care providers. A companion document to NHMRC Guidelines for the screening, prognosis, diagnosis, management and prevention of glaucoma. Camberra, Australia: NHMRC; 2011. Disponível em: http://www.nhmrc.gov.au/ _files_nhmrc/publications/attachments/cp113_b_glaucoma_ guide_healthcare_workers.pdf Weinreb RN, Khaw PT. Primary open-angle glaucoma. Lancet. 2004;363(9422):1711-20. Review. Shields MB, Ritch R, Krupin T. Classifications of the glaucomas. Ritch R, Shields MB, Krupin T, editors. The glaucomas. 2nd ed. St. Louis: Mosby; 1996. vol. 2. Guedes RA. As estratégias de prevenção em saúde ocular no âmbito da saúde coletiva e da Atenção Primária à Saúde - APS. Revista APS. 2007;10(1): 66-73. Guedes RA, Guedes VM. Custo crescente em glaucoma: atualidades e seu impacto na saúde coletiva. Revista APS. 2008;11(4):444-50. Póvoa CA, Nicolela MT, Valle AL, Gomes LE, Neustein I. Prevalência de glaucoma identificada em campanha de detecção em São Paulo. Arq Bras Oftalmol. 2001;64(4): 303-7. Manica MB, Corrêa ZM, Marcon IM, Telichevesky N, Loch LF. O que os pediatras conhecem sobre afecções oculares na criança? Arq Bras Oftalmol. 2003;66(4):489-92. Silva MR. O Ensino da Oftalmologia. Rev Bras Oftalmol. 2009; 68(3):127-8. 10. Lopes Filho JB, Leite RA, Leite DA, Castro AR, Andrade LS. Avaliação dos conhecimentos oftalmológicos básicos em estudantes de Medicina da Universidade Federal do Piauí. Rev Bras Oftalmol. 2011;70(1):27-31. 11. Temporini ER, Kara-José N, Gondim EL, Dantas FJ. Conhecimentos sobre saúde ocular entre profissionais de um hospital universitário. Medicina (Ribeirão Preto). 2002;35(1):53-61. 12. Espíndola RF, Rodrigues BA, Penteado LT, Tan-Ho G, Gozzan JO, Freitas JA. Conhecimento de estudantes de medicina sobre o processo de doação de córneas. Arq Bras Oftalmol. 2007;70(4):581-4. 13. Brasil. Ministério da Saúde. Portal da Saúde. Campanha: Dia Mundial do Diabetes. 2012. Disponível em: http:// portalsaude.saude.gov.br/portalsaude/ 14. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Departamento de Apoio à Descentralização. Coordenação-Geral de Apoio à Gestão Descentralizada. Diretrizes operacionais dos Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão. 2a. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. 76p. 15. Ginguerra MA, Ungaro AB, Villela FF, Kara-José AC, Kara-José N. Aspectos do ensino de graduação em oftalmologia. Arq Bras Oftalmol. 1998;61(5):546-50. 16. Kara-José AC, Passos LB, Kara-José FC, Kara-José, N. Ensino extracurricular em Oftalmologia: grupos de estudos/ligas de alunos de graduação. Rev Bras Educ Med. 2007;31(2):166-72. Correspondência com o autor: Saulo Costa Martins Rua Doutor Constantino Paletta, nº 10/401 - Centro CEP 36015-450 - Juiz de Fora (MG), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 302-7 RELATO 308 DE CASO Oclusão de artéria central da retina associada ao forame oval patente Central retinal artery occlusion associated with patent foramen ovale Patrícia Regina de Pinho Tavares 1, Mariana Rezende de Oliveira 2, Eduardo de Castro Miranda Diniz3 , Rafael Mourão Agostini4 , Daniela Vieira de Aguiar5 R ESUMO Oclusão da artéria central da retina é uma doença comumente encontrada em pacientes idosos, mas pode também ser vista em crianças e adultos jovens. Nestes, as principais causas são anomalias cardíacas, sendo o forame oval patente o mais observado. O objetivo do trabalho é relatar o caso de um paciente jovem com oclusão da artéria central da retina apresentando persistência de forame oval e, também, salientar a importância de uma propedêutica detalhada nos casos de oclusões vasculares da retina. Descritores: Artéria central da retina/patologia; Anomalias cardíacas; Forame oval patente; Oclusão da artéria retiniana; Adulto jovem; Relatos de casos. ABSTRACT Central retinal artery occlusion it’s a disease most encountered in older patients, however it can be seen in children and young persons. In this situation the principal causes are cardiac abnormalities, and the patent foramen ovale is the most observed. The purpose of this study is to report a case of central retinal artery occlusion in a young patient with patent foramen ovale and, also, describe the importance of a detailed management in cases of retinal vascular occlusions. Keywords: Central retinal artery/pathology; Cardiac abnormalities; Foramen ovale, patent; Retinal artery occlusion; Young adult; Case reports Departamento de Plástica Ocular do Centro Oftalmológico de Minas Gerais – Belo Horizonte (MG), Brasil; Departamento de Plástica Ocular da Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil; 3 Departamento de Glaucoma do Centro Oftalmológico de Minas Gerais – Belo Horizonte (MG), Brasil; 4 Departamento de Retina da Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil; 5 Departamento de Retina da Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte – Belo Horizonte (MG), Brasil. 1 2 Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 20/10/2011 - Aceito para publicação em 27/3/2012 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 308-10 Oclusão de artéria central da retina associada a forame oval patente 309 INTRODUÇÃO A oclusão da artéria central da retina (OACR) é caracte rizada por uma súbita, indolor e grave perda de visão. Normalmente acomete pessoas em torno de 60 anos de idade, sendo rara abaixo dos 30 anos. Geralmente os homens são afetados com mais freqüência que as mulheres. Na grande maioria dos casos a visão é pior que 20/400, mas algumas pessoas apresentam a artéria cíliorretiniana patente preservando uma visão central em torno de 20/40 ou melhor. A causa mais comum é trombose relacionada à aterosclerose no nível da lâmina crivosa(1). Porém em jovens a mais freqüente associação ocorre com distúrbios cardíacos, trauma, hemoglobinopatias e anormalidades oculares tais como drusas do nervo óptico e alça arterial peripapilar(2). O texto a ser apresentado relata o caso de uma oclusão de OACR em paciente jovem associada a forame oval patente e, de acordo com nosso conhecimento, é até o momento o primeiro caso na literatura brasileira. RELATO DE CASO Paciente RVS, 19 anos, sexo masculino, estudante, encaminhado à Clínica de Olhos da Santa Casa de Belo Horizonte (MG), com quadro de baixa acuidade visual súbita e indolor do olho esquerdo (OE) há cerca de vinte dias. História pregressa negativa para quaisquer patologias, trauma, uso de medicamentos ou drogas ilícitas, inclusive cigarro. Ao exame oftalmológico, a acuidade visual era de 20/20 no olho direito (OD) e movimento de mãos no OE, não apresentando melhora com o uso de pinhole. O exame biomicroscópico do OD não revelou alterações, porém OE encontrava-se com defeito pupilar aferente. A pressão intraocular era de 10 mmHg. A fundoscopia evidenciou OE com palidez de disco óptico e retina, estreitamento arteriolar, hemorragias em chama de vela e reliquat de edema em região macular, acúmulo de exsudato duro foveal e discreta formação de estrela macular. Devido à suspeita de doença vascular retiniana foram solicitados exames do protocolo de tromboembolismo (tabela 1), angiofluoresceinografia de retina, tomografia de coerência óptica (OCT), avaliação cardiológica e hematológica. Na investigação de fenômenos tromboembólicos apenas o ecocardiograma transtorácico estava alterado, mostrando septo interatrial com pequeno shunt da direita para a esquerda sugestivo de forame oval patente. A angiofluoresceinografia de retina (figura1) evidenciou manchas hipofluorescentes correspondendo a hemorragias retinianas e aumento da hipofluorescência foveal sugerindo isquemia. A OCT (figura 2) identificou aumento da espessura e da reflectividade das camadas retinianas internas correspondentes ao edema intracelular e isquemia, o que provoca atenuação dos sinais ópticos das camadas externas (complexo EPR/Bruch/ coriocapilar). No momento o paciente está em uso de AAS 100mg/dia conforme orientação cardiológica. D ISCUSSÃO De acordo com o estudo RECO (Retinal Emboli of Cardiac Origin), 45% dos pacientes com OACR com idade inferior a 45 anos têm anomalias cardíacas, dentre esses, 27% necessitam de anticoagulante ou cirurgia cardíaca (3). Tabela 1 Protocolo de tromboses e vasculites retinianas da Unidade de Retina e Vítreo da Santa Casa de Belo Horizonte · Retinografia simples · Angiografia · Coagulograma (SN) fatores VII, IX, XI, · Glicemia de jejum · VHS · FAN · Anticoagulante lúpico · Anticardiolipina IgG/IgM · Antifosfolípide · Antitrombina B · Proteína C e S · Fator V de Leyden · Mutação do gene da · Homocisteína · Eletroforese de proteínas · Hemograma: anemia eletroforese Hb, pesquisa de fibrinogênio drepanócitos, bilirrubina, Fé sérico, transferritina, ferritina leucograma/plaquetas - doenças mieloproliferativas/neoplasias · C3 – CH50 · Uréia e creatinina · Urina rotina (sedimentos) · VDRL – FTA Abs · PPD · Toxoplasmose IgM/IgG · Anti HIV · CMV · Herpes vírus · Hepatite B, A e C protrombina Figura 1A a 1D: Retinografia e angiofluoresceinografia mostrando sinais de oclusão de artéria central da retina Forame oval patente é a alteração cardíaca congênita mais comum, podendo se manifestar com êmbolos sistêmicos e cerebrais antes dos 55 anos (4). Em casos de forame oval patente de tamanho maior e com fluxo espontâneo da direita para a esquerda, o tratamento cirúrgico é indicado (5). O paciente em questão apresentou forame Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 308-10 310 Tavares PRP, Oliveira MR, Diniz ECM , Agostini RM , Aguiar DV oval patente pequeno e sem shunt espontâneo, o que possibilitou a escolha do tratamento anticoagulante. A ocorrência de OACR evidencia a importância de uma avaliação sistêmica minuciosa para identificação exata da sua etiologia, possibilitando o acompanhamento do paciente e prevenção de eventos tromboembólicos futuros. É aconselhável, devido a isso, a existência de um protocolo para oclusões vasculares retinianas em serviços de referências. 2. 3. 4. 5. Sharma S, Brown GC. Retinal artery obstruction. In: Ryan SJ. Retina, 3rd ed. St. Louis: Mosby; 2001. Vol. 1, p.1350-67. Clifford L, Sievers R, Salmon A, Newson RS. Central retinal artery occlusion: association with patent foramen ovale. Eye (Lond). 2006;20(6):736-8. Ho IV, Spaide R. Central retinal artery occlusion associated with a patent foramen ovale. Retina. 2007;27(2):259-60. Kramer M, Goldenberg-Cohen N, Shapira Y, Axer-Siegel R, Shmuely H, Adler Y, et al. Role of transesophageal echocardiography in the evaluation of patients with retinal artery occlusion. Ophtalmology. 2001;108(8):1461-4. Comment in Ophthalmology. 2002;109(5):829; author reply 829. Figura 2: Tomografia de coerência óptica do paciente com OACR R EFERÊNCIAS 1. Liesegng TJ, Skuta GL, Cantor LB, editors. Basic and Clinical Science Course. Section 12: Retina and vitreous. San Francisco:American Academy of Ophthalmology; 2005. p.54-79. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 308-10 Correspondência com o autor: Patrícia Regina de Pinho Tavares, Rua Alvarenga Peixoto,nº 580 apto. 401 – Lourdes CEP 30180- 120 – Belo Horizonte (MG), Brasil Fone: (31) 36573583 ou (31) 88918537 E-mail: [email protected] RELATO DE CASO311 Dacriocistocele no adulto Adult dacryocystocele Silvia Helena Tavares Lorena 1 , João Amaro Ferrari Silva 2 R ESUMO A dacriocistocele representa um saco lacrimal dilatado e é frequentemente considerada como tendo uma etiologia congênita. No entanto, dacriocistocele é uma doença rara em adultos. A característica clínica se caracteriza por um abaulamento indolor na região medial da órbita, inferior ao ligamento cantal medial. O teste de excreção lacrimal, endoscopia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são utilizados para fazer o diagnóstico de dacriocistocele. Semelhante a pacientes pediátricos, marsupialização endoscópica do cisto nasal e a colocação de stent parece ser a terapêutica adequada. Em alguns casos o tratamento consiste na dacriocistorrinostomia externa. Descritores: Órbita; Obstrução do ducto lacrimal; Dacriocistocele; Dacriocistorrinostomia ABSTRACT The dacryocystocele represents a dilated lacrimal sac and is often considered as having a congenital etiology. However, dacryocystocele is a rare disease in adults. The clinical feature is characterized by a painless bulge in the medial region of the orbit, below the medial canthal ligament. The lacrimal excretion test, endoscopy, computerized tomography and magnetic resonance image are used to make the diagnosis of dacryocystocele. Similar to pediatric patients, endoscopic marsupialization of the cyst with nasal stenting seems to be the appropriate therapy. In some cases the treatment consists of external dacryocystorhinostomy. Keywords: Orbit; Nasolacrimal duct obstruction; Dacryocystocele; Dacryocystorhinostomy 1 2 Programa de Pós-graduação (doutorado) do Setor de Vias Lacrimais, Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil; Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Trabalho realizado no Setor de Vias Lacrimais da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP – São Paulo (SP), Brasil. Os autores declaram não haver conflitos de interesse Recebido para publicação em 11/11/2011 - Aceito para publicação em 3/9/2012 Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 311-13 312 Lorena SHT , Silva JAF INTRODUÇÃO A dacriocistocele representa um saco lacrimal dilatado e é frequentemente considerada como tendo uma etiologia congênita. No entanto, dacriocistocele é uma doença rara em adultos. A característica clínica se caracteriza por um abaulamento indolor na região medial da órbita, inferior ao ligamento medial. O mecanismo para sua formação está associado à obstrução adquirida ao nível da válvula de Krause e obstrução proximal ao canalículo comum ao nível da válvula de Rosenmuller (1-3). Em um paciente com obstrução nasal, os diagnósticos diferenciais incluem massas, tais como hemangioma, glioma, encefalocele, e cisto dermóide, bem como anomalias congênitas ósseas, tais como atresia coanal(4,5). O teste de excreção lacrimal, endoscopia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são utilizados para fazer o diagnóstico de dacriocistocele. A dacriocistocele em adultos deve ser considerada como uma obstrução do canal nasolacrimal, e um exame intranasal deve ser realizado antes da dacriocistorrinostomia externa(6-8). Semelhante a pacientes pediátricos, marsupialização endoscópica do cisto nasal e com colocação de stent parece ser a terapêutica adequada. Em alguns casos o tratamento consiste na dacriocistorrinostomia externa (9-11). RELATO DE CASO Uma mulher de 42 anos de idade, branca, apresentando epífora em olho direito e congestão nasal ipsilateral progressiva de duração de 4 meses. Nega epistaxe, fratura facial e doenças sinusais e nasais. Achados no exame oftalmológico foram na inspeção: abaulamento em região medial da órbita direita (figura 1); na palpação massa de consistência mole; à biomicroscopia: conjuntiva bulbar sem hiperemia, ausência de reação em câmara anterior; teste de Milder 4+; cateterismo com soft stop (introdução da sonda de Bowman no canalículo de 9 mm); teste de Jones I negativo. Achados do exame ocular esquerdo foram normais, incluindo a posição da pálpebra. A rinoscopia anterior direita revelou ausência de massa localizada abaixo do corneto inferior. Realizou-se a antibióticoterapia profilática e compressas frias, havendo resolução da dacriocistocele após 2 semanas e evoluindo para dacriocistite crônica. A paciente será submetida à dacriocistorrinostomia externa. D ISCUSSÃO A ocorrência de dacriocistocele na região orbitária medial é bastante rara, mas a dacriocistocele congênita tem sido reconhecida como uma entidade clínica específica desde 1933 (12). As dacrioceles congênitas são encontradas quase que exclusivamente na população pediátrica(13). A dacriocistocele congênita tem características clínicas específicas, história natural, e mecanismo para a sua formação e tratamento. A distensão do saco lacrimal é devido à obstrução nasolacrimal distal do ducto e obstrução funcional no canalículo comum. Se houver uma obstrução do ducto nasolacrimal distal, as secreções podem acumular-se no interior do saco lacrimal culminando com a sua distensão e ocasionando uma obstrução no canalículo comum. Outro mecanismo proposto para a formação da dacriocistocele inclui dobras do canalículo comum devido a um saco lacrimal dilatado e mau funcionamento da válvula de Rosenmuller, secundária à edema e inflamação (13). As crianças com dacriocistocele são tratadas com antibioticoterapia, massagem e compressas frias e caso não tenha sucesso realizamos a sondagem e irrigação da via lacrimal associado à marsupialização endoscópica do cisto intranasal quando presente (14). A literatura relata alguns casos dacriocistocele em adultos (15) . A característica clínica da dacriocistocele é representada por abaulamento indolor na região medial da órbita, inferior ao ligamento medial. O teste de excreção lacrimal, endoscopia, tomografia computadorizada e ressonância magnética são utilizados para fazer o seu diagnóstico(16). O mecanismo de formação da dacriocistocele no adulto é semelhante ao da criança, porém a obstrução do ducto nasolacrimal no adulto é da forma adquirida.A dacriocistocele apresenta como complicação a dacriocistite crônica (17). O tratamento (18,19) consiste na utilização de um stent nasolacrimal ou a dacriocistorrinostomia. Pode ser necessário diferenciar um tumor do saco lacrimal de uma dacriocistocele (20,21) . Um diagnóstico correto de dacriocistocele no adulto pode ser determinado por exames de imagem tais como: ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética. A tomografia computadorizada se tornou o mais importante método para localização e caracterização de tumor orbital. Ela permite o diagnóstico correto anatômico, demonstrando a dacriocistocele do saco lacrimal, sendo também útil na diferenciação entre outras massas que podem surgir no canto medial em adultos. O tumor orbital ocorrendo na região medial orbitária, como hemangioma, neurofibroma, linfangioma e rabdomiossarcoma, aparecerá na tomografia como uma massa sólida. R EFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. Figura 1. Fotografia parcial da face da criança com dacriocistocele congênita do lado direito Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 311-13 Lai PC, Wang JK, Liao SL. A case of dacryocystocele in an adult. Jpn J Ophthalmol. 2004;48(4):419-21. Xiao MY, Tang LS, Zhu H, Li YJ, Li HL, Wu XR. Adult nasolacrimal sac mucocele. Ophthalmologica. 2008;222(1):21-6. Ansari SA, Pak J, Shields M. Pathology and imaging of the lacrimal drainage system. Neuroimaging Clin N Am. 2005;15(1):221-37. Lelli GJ, Levy RL. Epidermoid cyst masquerading as dacryocystocele: case report and review. Orbit. 2011;30(2):114-5. Debnam JM, Esmaeli B, Ginsberg LE. Imaging characteristics of dacryocystocele diagnosed after surgery for sinonasal cancer. AJNR Am J Neuroradiol. 2007;28(10):1872-5. 313 Dacriocistocele no adulto: relato de caso 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. Weber AL, Rodriguez-DeVelasquez A, Lucarelli MJ, Cheng HM. Normal anatomy and lesions of the lacrimal sac and duct: evaluated by dacryocystography, computed tomography, and MR imaging. Neuroimaging Clin N Am. 1996;6(1):199-217. Berlucchi M, Tomenzoli D, Trimarchi M, Lombardi D, Battaglia G, Nicolai P.[Dacryocystocele in the adult: etiology, diagnosis and treatment]. ActaOtorhinolaryngol Ital. 2001;21(2):100-4. Day S, Hwang TN, Pletcher SD, Bhatki A, McCulley TJ. Interactive image- guided endoscopic dacryocystorhinostomy. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2008;24(4):338-40. Plaza G, Nogueira A, González R, Ferrando J, Toledano N. Surgical treatment of familial dacryocystocele and lacrimal puncta agenesis. Ophthal Plast Reconstr Surg. 2009;25(1):52-3. Song HY, Lee DH, Ahn H, Kim JH, Kang SG, Yoon HK, et al. Lacrimal system obstruction treated with lacrimal polyurethane stents: outcome of removal of occluded stents. Radiology. 1998;208(3):689-94. Yazici B, Yazici Z, Parlak M. Treatment of nasolacrimal duct obstruction in adults with polyurethane stent. Am J Ophthalmol. 2001;131(1): 37-43. Duke-Elder SS, editor. System of ophthalmology: normal and abnormal development: congenital deformities. St Louis: Mosby; 1964. Vol. 3, Pt 2. p. 934-41. Rand PK, Ball WS Jr, Kulwin DR. Congenital nasolacrimal mucoceles: CT evaluation. Radiology. 1989;173(3):691-4. Shashy RG, Durairaj V, Holmes JM, Hohberger GG, Thompson DM, Kasperbauer JL. Congenital dacryocystocele associated with intranasal cysts: diagnosis and management. Laryngoscope. 2003;113(1):37-40. Erratum in Laryngoscope. 2005;115(4):759. Durairaj, Vikram [corrected to Durairaj, Vikram D]. 15. Yip CC, McCulley TJ, Kersten RC, Bowen AT, Alam S, Kulwin DR. Adult nasolacrimal duct mucocele. Arch Ophthalmol. 2003;121(7):1065-6. 16. PerryLJ, Jakobiec FA, Zakka FR, Rubin PA. Giant dacryocystomucopyoce in na adult a review of lacrimal sac enlargements with clinical and histopathologic differencial diagnoses. Sury Ophthalmol. 2012;57(5):474-85. 17. Meyer JR, Quint DJ, Holmes JM, Wiatrak BJ. Infected congenital mucocele of the nasolacrimal duct. AJNR Am J Neuroradiol. 1993;14(4):1008-10. 18. Perena MF, Castillo J, Medrano J, De Gregorio MA, Loras E, Cristobal JA. Nasolacrimal polyurethane stent placement: preliminary results. Eur J Ophthalmol. 2001;11(1):25-30. 19. Eloy P, Martinez A, Leruth E, Levecq L, Bertrand B. Endonasal endoscopic dacryocystorhinostomy for a primary dacryocystocele in an adult. B-ENT. 2009;5(3):179-82. 20. Fliss DM, Freeman JL, Hurwitz JJ, Heathcote JG. Mucoepidermoid carcinoma of the lacrimal sac: a report of two cases, with observations on the histogenesis. Can J Ophthalmol. 1993;28(5):228-35. 21. Sabet SJ, Tarbet KJ, Lemke BN, Smith ME, Albert DM. Granular cell tumor of the lacrimal sac and nasolacrimal duct: no invasive behavior with incomplete resection. Ophthalmology. 2000;107(11):1992-4. Correspondência com o autor: Silvia Helena Tavares Lorena Rua Flórida, nº 1404 - Brooklin CEP 04561-030 - São Paulo (SP), Brasil Email:[email protected] Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 311-13 314 Instruções aos autores A Revista Brasileira de Oftalmologia (Rev Bras Oftalmol.) - ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http://www.icmje.org Artigo de Revisão: Tem como finalidade examinar a bibliografia publicada sobre um determinado assunto, fazendo uma avaliação crítica e sistematizada da literatura sobre um determinado tema e apresentar as conclusões importantes, baseadas nessa literatura. Somente serão aceitos para publicação quando solicitado pelos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Artigo de Atualização: Revisões do estado-da-arte sobre determinado tema, escrito por especialista a convite dos Editores. Deve ter: Texto, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract, Keywords e Referências. Relato de Caso: Deve ser informativo e não deve conter detalhes irrelevantes. Só serão aceitos os relatos de casos clínicos de relevada importância, quer pela raridade como entidade nosológica, quer pela não usual forma de apresentação. Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico e foi aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa da Instituição em que o mesmo foi realizado. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. A Declaração de Conflitos de Interesses, segundo Resolução do Conselho Federal de Medicina nº 1595/2000, veda que em artigo científico seja feita promoção ou propaganda de quaisquer produtos ou equipamentos comerciais; • Informações sobre eventuais fontes de financiamento da pesquisa; • Artigo que trata de pesquisa clínica com seres humanos deve incluir a declaração de que os participantes assinaram Termo de Consentimento Livre Informado. Todas as pesquisas, tanto as clínicas como as experimentais, devem ter sido executadas de acordo com a Declaração de Helsinki. A Revista Brasileira de Oftalmologia não endossa a opinião dos autores, eximindo-se de qualquer responsabilidade em relação a matérias assinadas. Os artigos podem ser escritos em português, espanhol, inglês ou francês. A versão “on-line” da revista poderá ter artigos apenas em inglês. A Revista Brasileira de Oftalmologia recebe para publicação: Artigos Originais de pesquisa básica, experimentação clínica ou cirúrgica; Divulgação e condutas em casos clínicos de relevante importância; Revisões de temas específicos, Atualizações; Cartas ao editor. Os Editoriais serão escritos a convite, apresentando comentários de trabalhos relevantes da própria revista, pesquisas importantes publicadas ou comunicações dos editores de interesse para a especialidade. Artigos com objetivos comerciais ou propagandísticos serão recusados. Os manuscritos deverão obedecer as seguintes estruturas: Artigo Original: Descreve pesquisa experimental ou investigação clínica - prospectiva ou retrospectiva, randomizada ou duplo cego. Deve ter: Título em português e inglês, Resumo estruturado, Descritores; Abstract, Keywords, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão e Referências. Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 316-17 B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http://clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e sequencial, utilizando algarismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas sequencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. 315 Métodos: Deve conter informação suficiente para saber-se o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem defini-los. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style”, conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível, na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ entrez/query.fcgi?db=journals. Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident age-related macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word (r) e as demais em arquivos Microsoft Excel (r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD, com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. Versão português-inglês: Seguindo os padrões dos principais periódicos mundiais, a Revista Brasileira de Oftalmologia contará com uma versão eletrônica em inglês de todas as edições. Desta forma a revista impressa continuará a ser em português e a versão eletrônica será em inglês. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia, Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares e Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa, se comprometem a custear a tradução dos artigos para língua inglesa, porém seus autores uma vez que tenham aprovado seus artigos se disponham a traduzir a versão final para o inglês, está será publicada na versão eletrônica antecipadamente a publicação impressa (ahead of print). * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos poderão ser submetidos pela Internet, pelo site rbo.emnuvens.com.br Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 316-17 316 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (é necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2014; 73 (5): 318