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Utilização dos arcos seccionados para o tratamento da
má oclusão Classe II, divisão 2
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Marília Ferreira Aranha*
Artênio José Isper Garbin**
Francisco Antônio Delgado Grieco***
Eduardo Guedes-Pinto****
Marcos Rogério de Mendonça*****
Abstract
Resumo
A má oclusão Classe II divisão 2
é caracterizada pela verticalização
dos incisivos superiores. Neste tipo
de má oclusão é comum a presença
de sobremordida profunda e curva de Spee inferior acentuada. O
presente artigo ilustra que o tratamento dessa má oclusão pode ser
facilitado com o emprego dos arcos
seccionados, como por exemplo, o
arco utilidade, segundo a técnica
Bioprogressiva de Ricketts.
The Class II division 2 malocclusion is characterized by the retroinclination or palatally inclination
of the maxillary incisors. In this
kind of malocclusion it is common
the presence of a deep bite and an
accentuated Spee curve. The present
article illustrates that the treatment of
this kind of malocclusion can be facilitated using segmented archs, like
the utility arch according to Ricketts´
Bioprogressive technique.
Palavras-chave:
Keywords:
Classe II divisão 2, arco utilidade, Bioprogressiva
Class II division 2, utility arch, Bioprogressive
ENVIAR TÍTULO EM INGLÊS E TITULAÇÃO DOS AUTORES
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Utilização dos arcos seccionados para o tratamento da má oclusão Classe II, divisão 2
Introdução
A má oclusão Classe II caracteriza-se pelo sulco mesiovestibular do primeiro molar permanente inferior ocluindo
posteriormente à cúspide mesiovestibular do primeiro molar
permanente superior1. Na divisão 2 apresenta sobremordida
profunda, ângulo interincisivos aumentado, curva de Spee
inferior acentuada geralmente causada pela extrusão dos
dentes anteriores inferiores e ocasionalmente atresia do arco
dentário superior. Na análise cefalométrica, observa-se redução na altura facial anterior inferior e retrusão mandibular8,13.
O fator hereditário está ligado a esta condição, o que torna
importante a observação e avaliação familiar no dignóstico10.
A má oclusão Classe II, divisão 2, freqüentemente está
presente nos braquifaciais11, manifestando musculatura forte2,4. Em estudo realizado com pacientes Classe II divisão 2
foi observado que há uma relação significativa entre a intensidade e a força dos lábios sobre a posição e a angulação dos
incisivos superiores e inferiores5,6,7.
Existe uma grande variedade de métodos e aparelhos
para o tratamento da Classe II divisão 2. Cabe ao Ortodontista avaliar qual terapia trará um melhor resultado para o
paciente9. O mais tradicional e difundido é o aparelho extrabucal (AEB) de tração cervical, conhecido como AEB tipo
Kloehn. No entanto, fatores como cooperação14 e a presença
de crescimento são determinantes do resultado.
A técnica Bioprogressiva preconiza o uso dos arcos utilidade de Ricketts para a correção da sobremordida profunda4,12, previamente à distalização dos dentes superiores
obtida com o uso de elásticos intermaxilares. Nesse caso, o
arco utilidade superior é instalado com ativações de intrusão
Figura 1 Fotografias faciais iniciais: Deficiência
mandibular.
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para corrigir a sobremordida e com torque vestibular para
corrigir a verticalização dos incisivos superiores. No arco
dentário inferior, o arco utilidade atua na correção da curva
de Spee, intruindo os incisivos inferiores, e como sistema de
ancoragem do primeiro molar. Para ancoragem, é incorporado torque vestibular de raízes, colocando-as contra o apoio
cortical e limitando sua movimentação, e expansão vestibular
para manter o torque12. Para que o molar resista à tração do
elástico intermaxilar são incorporadas no arco utilidade ativações no ângulo caudal para conservar a verticalização do
dente e desvio caudal para não permitir a vestibularização
do mesmo2.
O objetivo do presente trabalho é apresentar o tratamento da Classe II divisão 2 segundo a técnica Bioprogressiva
que utiliza arcos seccionados.
Descrição do caso clínico
O paciente L.X.D., 14 anos e 2 meses, gênero masculino
tinha expectativa para correção dos dentes quando procurou
o tratamento ortodôntico. O exame facial frontal mostrou o
terço inferior da face curto, ligeiramente discrepante em relação aos terços superior e médio. O perfil apresentava-se levemente convexo, como é característica da Classe II (Fig. 1).
Na análise oclusal foi diagnosticada a má oclusão Classe II divisão 2, com sobremordida profunda, curva de Spee
inferior acentuada e leve apinhamento ântero-inferior. Os incisivos centrais e laterais superiores apresentavam-se retroinclinados e com a linha média inferior desviada para o lado
direito (Fig. 2).
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A análise cefalométrica de Ricketts mostrou que o ângulo
interincisivos estava acima da norma, com 155º e os incisivos
superiores e inferiores retroinclinados, com 12º e 13º, respectivamente. As medidas obtidas para a profundidade facial e para
a profundidade maxilar estavam menores que a norma clínica,
83º e 88º, respectivamente, sendo que a primeira apresentava
maior diferença, indicando um problema mandibular. Porém,
o valor obtido para o comprimento da mandíbula, apesar de
estar menor que a norma, não justificou tamanha discrepância
na relação da mandíbula com a base do crânio, o que pode
indicar que a Classe II é resultado de uma posição posterior
da mandíbula e não por deficiência de crescimento mandibular. O arco mandibular apresentou-se aumentado, compatível
com padrão de crescimento horizontal da mandíbula (Fig. 3).
Procedimento Clínico
O tratamento teve início com a instalação do arco utilidade
superior com fio Elgiloy azul 0,016’’ x 0,016’’ para intrusão,
com ativação no ângulo caudal de aproximadamente 30o
(Fig. 4). O fio Elgiloy é utilizado na técnica Bioprogressiva por
apresentar maior resistência à fadiga, conservar maior força
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e permitir maior número de dobras sem que ocorra fratura3.
Após 5 meses ainda não havia espaço suficiente para a
colagem dos braquetes nos incisivos inferiores. Sendo assim,
para que a intrusão inferior fosse iniciada, foi instalado um arco
utilidade com fio Elgiloy azul 0,016” x 0,016” amarrado diretamente aos incisivos inferiores com fio de amarrilho 0,20 mm
(Fig. 5). Foram necessários mais 4 meses de intrusão inferior e
superior para a colagem dos braquetes inferiores (Fig. 6).
Os braquetes dos caninos e pré-molares superiores foram
colados e um arco seccionado de aço inoxidável 0,016” redondo foi instalado de cada lado. A intrusão dos caninos foi
realizada amarrando-se um fio elástico de seda ao acessório
ortodôntico e à ponte lateral do arco utilidade superior.
Depois de realizada a intrusão do canino superior esquerdo, este foi amarrado à ponte lateral do arco utilidade
superior com fio de amarrilho 0,25 mm para estabilização,
enquanto o canino superior direito mantinha sua intrusão
com fio elástico de seda. Houve a necessidade de intrusão
também do canino inferior esquerdo, sendo utilizada a mesma técnica acima citada. Terminada a intrusão dos caninos,
foi instalado um arco sobreposto de aço inoxidável 0,016”
redondo sobre o arco utilidade superior e um sobreposto de
fio Twist-flex 0,015” inferior para nivelamento dos dentes.
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Figura 1 Fotografias oclusais iniciais: Classe II, divisão 2.
Figura 3 Análise cefalométrica de Ricketts.
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Figura 4 Arco utilidade superior ativado para intrusão dos incisivos.
Figura 5 Arco utilidade inferior amarrado diretamente aos dentes.
Figura 6 Braquetes colados nos incisivos inferiores após a intrusão inicial.
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Figura 7 Arco utilidade de retração superior.
Figura 8 Fio elástico de seda passando dentro
das canaletas dos braquetes.
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Figura 9 Fotografias intrabucais finais.
Notou-se que, após a correção da sobremordida, a
mandíbula conseguiu alcançar uma posição mais anterior,
corrigindo a relação molar. Isto, provavelmente, deve-se
ao fato de que a mandíbula encontrava-se “travada” pelos incisivos superiores. Portanto, não foi necessária a utilização de elásticos intermaxilares para a distalização dos
dentes superiores.
Com a intrusão e a correção do torque dos incisivos superiores, foram gerados diastemas entre os dentes, sendo
necessária a instalação de um arco utilidade de retração com
fio Elgiloy azul 0,016” x 0,016”. A ativação deste arco era realizada a cada 28 dias, ativando de 1 a 2mm posteriormente
ao tubo do molar de cada lado (Fig. 7).
Depois da retração, os dentes superiores foram conjugados com fio de amarrilho 0,25 mm e, no arco inferior,
foi instalado um arco contínuo de fio TMA 0,016’’ x 0,016’’,
onde foram incorporadas dobras de finalização. Os espaços remanescentes no arco superior foram fechados com a
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utilização de um fio elástico de seda passando pela canaleta
dos braquetes como se fosse um arco, saindo do primeiro
molar superior direito ao primeiro molar superior esquerdo
(Fig. 8). Esse método para fechamentos de espaço foi desenvolvido no curso de Especialização em Ortodontia da
ABO - Regional de Araçatuba.
Após a remoção do aparelho foram instaladas as placas
Planas de contenção. Pode-se observar a boa oclusão (Fig.
9) conseguida com a mecânica, além da melhora do perfil do
paciente (Fig. 10). Na figura 11, nota-se a boa estabilidade da
oclusão após 10 meses de contenção.
Na análise cefalométrica final (Fig. 12) observa-se
uma melhora no ângulo interincisivos que antes era de
155º e, após o tratamento encontra-se com 120º. Os incisivos superiores e inferiores foram vestibularizados.
Pode-se observar um paralelismo entre o longo eixo do
incisivo inferior com o Eixo Facial (linha Pt-Gn). Essa situação está relacionada à estabilidade do tratamento2,4. A
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Figura 11 Oclusão estável durante o controle da contenção.
Figura 12 Análise cefalométrica de Ricketts.
profundidade facial apresentou grande alteração, passando de 83º no início do tratamento para 88º no final. Isto
confirma que a má oclusão Classe II estava relacionada ao
retroposicionamento da mandíbula.
Na 1ª área de sobreposição, observa-se uma diminuição
de 4º no ângulo do Eixo Facial, levando a mandíbula a um
giro no sentido horário, favorável em pacientes braquifaciais,
além de pouca extrusão do molar superior (Fig. 13).
Na 2ª área de sobreposição, o ponto A foi para traz 6mm
e a maxila girou no sentido horário (Fig. 14).
A 3ª área de sobreposição mostra o incisivo inferior com
uma inclinação de 6º para vestibular e 1mm de intrusão, enquanto que o molar inferior mesializou 1mm e não houve nenhuma extrusão (Fig. 15).
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Figura 13 1a área de sobreposição (Ba-Na com
centro em Cc).
Figura 15 3a área de sobreposição (Eixo do corpo com centro em Pm).
Figura 14 2a área de sobreposição (Ba-Na com
centro em Na).
Figura 16 4a área de sobreposição (ENA sobre
o plano palatino).
Figura 17 5a área de sobreposição (Plano Estético na intersecção com Plano Oclusal).
Observa-se que o incisivo superior intruiu 3mm e inclinou
10º para vestibular, ficando paralelo ao Eixo Facial que é uma
evidencia cefalométrica em Bioprogressiva para a estabilidade e ótima função4. O molar superior extruiu 4mm e mesializou 5mm (Fig. 16).
Nota-se também que o lábio inferior avançou 1 mm e o
Plano Oclusal abaixou 10o em direção ao ponto Xi (Fig. 17).
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Conclusão
Foi possível corrigir a sobremordida profunda com a
utilização dos arcos utilidade preconizados por Ricketts
e no presente caso observou-se que após a correção do
trespasse vertical a mandíbula se deslocou no sentido
horizontal melhorando a estética facial do paciente.
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Endereço para correspondência
Marília Ferreira Aranha
Rua José Estrada Carmona, 51 - 16.201-057 - Birigu / SP
E-mail: [email protected]
Rev Clín Ortod Dental Press. 2010 jun-jul;9(3):51-6
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Utilização dos arcos seccionados para o tratamento da