mut Notícias do Mutualismo União das Mutualidades Portuguesas Boletim 09 | MAR 2010 (2.a Série) Alexandre Herculano – pai das caixas económicas – nasceu há 200 anos Mutualismo é defensor do Ambiente RELATÓRIO E CONTAS 2009 2 Assembleia Geral aprovou Relatório e Contas 2009 crise afectou resultados de exercício A crise global também já bateu à porta da União das Mutualidades Portuguesas, pois que o resultado líquido das suas contas do exercício de 2009, no montante de 39 862 euros, sofreu uma quebra de 14% em relação ao do ano antecedente, que havia sido de 46 360 euros. Por sua vez, os Resultados Correntes do exercício em análise tiveram uma queda ainda mais acentuada (-50%), ao baixarem de 47 174 para 23 362 euros. Da mesma ordem de grandeza (-49%) foi o tombo nos Resultados Operacionais, que passaram de 39 375 para 19 973 euros. Mas, o trambolhão maior aconteceu no apuramento dos Resultados Financeiros (-57% em relação a 2008) pois que, devido à descida das taxas de juro dos depósitos bancários, os proveitos foram de 3 389 euros, contra os 7 799 do ano anterior. A única excepção registouse nos Resultados Extraordinários; o que não admira por se tratar de numerário aleatório, isto é, dependente de acontecimento incerto. Para este conjunto de resultados recessivos que, explicados no Relatório, Balanço e Contas da União, foram apreciados e aprovados pela Assembleia Geral, reunida no dia 27 deste mês de Março, contribuiu o facto de os Custos e Perdas terem aumentado 27% (161 478 euros contra 127 204 no ano precedente), enquanto o acréscimo dos Proveitos e Ganhos não excedeu 16% (201 34O contra 173 564 euros). A justificação para o aumento dos Custos e Perdas encontra-se na «subida dos Fornecimentos e Serviços Externos, de 70 032 para 102 309 euros (+ 46%) e, em menor grau, dos Custos com o Pessoal, de 38687 para 4289O euros (+ 11%), aqueles por virtude; principalmente, Mutualismo é defensor do Ambiente dos honorários dos colaboradores avençados, dos encargos com as publicações (MUT) e dos trabalhos especializados (Dia do Mutualismo), e estes devido às actualizações de vencimentos, que não se faziam há vários anos». Por fim, os Proveitos e Ganhos «registaram a sua maior subida nas Comparticipações e Subsídios à Exploração do ISS, passando de 115000 para 141 842 euros (+23%) a que se adicionou um valor de 17 549 euros de Proveitos e Ganhos Extraordinários, respeitante à diferença entre a estimativa de apoio financeiro do ISS relativo a 2008 e o oue efectivamente veio a ser recebido em 2009». Não obstante os riscos e dificuldades que a conjuntura de crise profunda apresenta, a solidez financeira da UMP é confortável. 40 votos a favor e uma abstenção Realizada em Lisboa, no auditório do Montepio Geral, a assembleia, dirigida pelo Primeiro-Secretário da Mesa, Luís Oliveira Morgado – na ausência da presidente da Mesa, Maria de Belém Roseira –, registou a presença de 41 associados. Associados que, perante a evidência dos factos, não tiveram argumentos para apresentar, pelo que, postos à votação o Relatório do Conselho de Administração, o Balanço e as Contas da UMP e o Parecer do Conselho Fiscal, foram os documentos aprovados por 40 votos a favor e um voto de abstenção. A assembleia magna, à qual o presidente do órgão executivo, Alberto José dos Santos Ramalheira, deu cabais explicações complementares, também votou, da mesma forma acima referida, o 2.º ponto da ordem dos trabalhos: proposta de ratificação da deliberação do Conselho de Administração, de Dezembro de 2009, no sentido de a UMP subscrever e realizar partes de capital da Cooperativa António Sérgio para a Economia Social – Cooperativa de Interesse Público de Responsabilidade Limitada, no valor de 17 000 euros. Desta forma ficou rectificado o valor inicial do capital (14 000 euros) que a assembleia de 19/12/2009 havia aprovado. 쐍 A crise, o desemprego e a pobreza O Conselho de Administração da UMP reflecte, na introdução ao Relatório do exercício de 2009, sobre o papel do mutualismo perante a crise global, o desemprego e a pobreza, defendendo, obviamente, uma Europa de valores. Pela importância do tema, transcreve-se o respectivo texto: «A crise, o desemprego e a pobreza continuam na ordem do dia, conduzindo a «sentimentos» desesperantes. Efectivamente, no nosso país, segundo dados credíveis, reportados a finais de 2009, o desemprego passou a fasquia dos 10% e a franja populacional no limiar da pobreza registou dois milhões de pessoas, das quais cerca de 1/4 são crianças. A par deste quadro social, já de si preocupante, acresce o fenómeno crítico para a sustentabilidade dos regimes gerais de segurança social, de que uma em cada nove pessoas tem mais de sessenta anos, grupo populacional este que, segundo dados veiculados pelas Nações Unidas (World Population Ageing 2009) terá tendência a elevar-se para a relação de uma por cada cinco, dentro de quarenta anos, o que significa que, em 2045, o grupo populacional com mais de sessenta anos pode ser superior, pela primeira vez, ao das crianças com menos de 15 anos. Este quadro, com todo o seu brutal impacto económico-social, é tanto mais grave quanto se assevera que esta tendência será irreversível. Segundo a mesma fonte, o grupo populacional idoso que mais crescerá será o que tem mais de oitenta anos, atingindo um ritmo de crescimento anual de 3,8%. Mesmo que não se aceitem, de ânimo leve, perspectivas tão sombrias, é indubitável que terão de ser introduzidas adaptações restritivas aos sistemas vigentes, nomeadamente aos regimes públicos de saúde e de segurança social. É perante tal quadro de dificuldades que as soluções mutualistas podem e devem ser chamadas a encontrar respostas práticas para promover ajudas complementares, sobretudo em relação às pessoas de menores recursos. Efectivamente, acreditamos que o Mutualismo continuará a ter um Mutualismo é defensor do Ambiente papel essencial para minimizar os efeitos perniciosos das crises e dos infortúnios da vida, na fidelidade à sua matriz vocacional e com um aprofundamento da construção, sistematização e renovação dos seus valores essenciais. O regresso aos valores é uma das mais importantes consequências da actual crise global (financeira, económica, social e política). Daí, a União Europeia conjecturar a adopção de uma nova filosofia de avaliação prévia do impacto social das decisões que toma em todos os campos de intervenção. Podemos afirmar que aquilo que os mutualistas pretendem é uma Europa de valores e não uma Europa configurada apenas como União Económica, e que esta desenvolva uma verdadeira economia de mercado social, assente na solidariedade, ou seja, numa relação entre as pessoas, que assuma necessariamente a partilha dos seus problemas para proporcionar respostas com equidade, conforme se infere do Tratado de Lisboa, instrumento em vigor desde 1 de Dezembro de 2009.» 쐍 3 OPINIÃO 4 Mário Soares, então Primeiro-Ministro e Maria Barroso, na visita à exposição «Alexandre Herculano, Jornalista» acompanhados pela escritora e jornalista Manuela de Azevedo Alexandre Herculano – pai das caixas económicas – nasceu há 200 anos Em 1910, os movimentos associativos de natureza social celebraram em Lisboa, com um cortejo cívico, o Centenário do Nascimento de Alexandre Herculano. Em 1977-1978, julgo que apenas uma associação mutualista – a Casa da Imprensa – se associou às comemorações nacionais do Centenário da Morte do grande mestre da História de Portugal, com a apresentação de três conferências (Raul Rego, Manuela de Azevedo e Jacinto Baptista) e uma exposição documental, no salão nobre da sua sede, em que estiveram presentes, praticamente, todas as dezenas de publicações em que Herculano colaborou, desde o Repositório Literário ao Jornal do Comércio, sem esquecer, obviamente, a revista O Panorama, No dia 28 deste mês de Março de 2010 completaram-se 200 anos sobre a data do nascimento, em Lisboa, de Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, que foi o maior vulto das letras lusitanas do século XIX e talvez mesmo em todos os tempos, se exceptuarmos Camões. A efemeridade, que os tempos modernos cul- Mutualismo é defensor do Ambiente tivam, faz-nos esquecer, rapidamente, muitas coisas. Mas o esquecimento, sendo a mais insultuosa forma de ignorância e indiferença, desumaniza as relações humanas. Dizia Santo Agostinho que o presente das coisas idas é a memória, e que o presente das coisas futuras é a espera. Por isso, mutilar o presente da lembrança do passado e da expectativa do futuro, é deixá-lo sem substância. Portanto, a Casa da Imprensa, que sempre fez questão de desenvolver uma acção cultural consequente, muito se honrou com a homenagem prestada em 1978 ao seu confrade Herculano, como jornalista profissional que foi, e que ele próprio no Jornal do Comércio confessava: «Sou filho da imprensa. O pouco que posso e valho devo-lho a ela». Grande pensador, cidadão impoluto, austero e interventor, alto sentido da dignidade, firmeza de carácter e referência ética, que se ilustrou pelo espírito de liberdade e insubmissão, e que por muito boas causas travou grandes lutas – Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), estadista, publicista e filosofo do direito, e João de Andrade Corvo (1824-1890), jornalista, escritor e estadista, formaram com Alexandre Herculano o trio dos maio-res expoentes intelectuais que lançaram os fundamentos do associativismo e contribuíram para a moderna concepção da economia da solidariedade. De facto, foi Pinheiro Ferreira que publicou, em 1834, o «projecto de um Banco de Socorro e Seguro Mútuo», ao qual, seis anos corridos, juntou um «projecto de Associação para o Melhoramento das Classes Industriosas», que constituía uma proposta globalizante de reestruturação das actividades económicas e sociais. Por sua vez, Alexandre Herculano propôs, em 1844, a instituição das caixas económicas. Nesse notável discurso acerca «Das Caixas Económicas» (texto inserido nos Opúsculos), no qual fez um forte apelovà organização associativa do aforro popular, Herculano não se limitou a fazer a apologia do Montepio Geral que, nesse ano, pelas 10 horas do dia 24 de Março (domingo) procedeu à abertura do seu próprio estabelecimento de crédito. De acordo com o Prof. Fernando Ferreira da Costa, Herculano «não se limitou a fazer a apologia des- tas relevantes iniciativas, pois que actuou como mestre dos novos conceitos, influenciando uma notável plêiade de homens devotados, cuja acção viria a ter os mais amplos reflexos na economia social do século XIX». Mais: interligando o movimento associativo e cooperativo aos municípios, Herculano sugeriu uma nova forma de desenvolvimento descentralizado, que ele mesmo tentaria concretizar, quando presidia à Câmara Municipal de Belém. Por seu turno, o ministro do reino Andrade Corvo tentou, por lei de 1866, criar bancos municipais, concedendo para tal, às irmandades, confrarias laicas, misericórdias e celeiros comuns, a possibilidade de juntarem os seus capitais às novas instituições de crédito. Fazer convergir as sinergias e potencialidades existentes, por forma a resolver o problema do crédito rural, era o objectivo daquele governante que, no mesmo ano, dirigiu um inquérito às ASM, tendo por objecto o reforço da sua organização, e em 1867 fez publicar a célebre lei basilar das cooperativas. No Bicentenário do Nascimento de Herculano, reter na memória a exemplar herança cultural, cívica, social e humana legada por esse grande português,que foi soldado no Cerco do Porto, bibliotecário na Ajuda, poeta, escritor e político; também ideólogo do liberalismo de regeneração reformista e, enfim, um verdadeiro inovador para o seu tempo e para o espaço português, é o preito que o Movimento Mutualista lhe deve. Saibamos aproveitar a lição de humildade e dignidade que nos deixou e a força criadora que pôs ao serviço do progresso, enquanto fenómeno global: que «ou liberta o homem todo e todos os homens com ele ou é uma panaceia mítico-utópica». 쐍 OPINIÃO em defesa do direito à vida (abertamente contra a pena de morte), em prol da proclamação dos direitos humanos, da liberdade de associação e de expressão, etc. – Herculano foi o introdutor do romance histórico nas letras portuguesas. Eurico o Presbítero, O Monge de Cister e O Bobo são, da sua vastíssima obra, os romances mais ou menos presentes na memória dos portugueses. No entanto, facto praticamente desconhecido, o mestre da História também foi o mestre dos modernos conceitos da Economia Social e o pai fundador das caixas económicas. MÁRIO BRANCO Mutualismo é defensor do Ambiente 5 ANIVERSÁRIO Montepio Rainha D. Leonor celebra 150 anos e inaugura condomínio de residências assistidas A criação de uma nova casa de saúde e de equipamentos para a infância são algumas das ambições desta associação mutualista das Caldas da Rainha A inauguração de um condomínio com 95 residências assistidas, já nos próximos meses, e a construção de uma nova casa de saúde num terreno fronteiro à actual, assim que a conjuntura económica o permita, são dois dos principais projectos do Montepio Rainha D. Leonor. A associação mutualista das Caldas da Rainha comemora este ano o seu tricinquentenário, com um programa pensado para envolver colaboradores e associados, mas também as cerca de 6500 pessoas que nasceram na maternidade, que funcionou durante mais de três décadas. Fundado a 11 de Março de 1860, com a designação de MontePio Caldense, o Montepio Rainha Dona Leonor assumiu como missão pres- 6 Mutualismo é defensor do Ambiente tar apoio às viúvas e órfãos, existindo igualmente registos da concessão de empréstimos para apoio na construção e reparação de residências. O subsídio de funeral era outra das valências na génese da associação, mas hoje essa modalidade praticamente não tem expressão, havendo antes uma clara aposta na protecção da saúde dos seus cerca de oito mil associados. Presentemente, o Montepio Rainha D. Leonor dispõe de uma casa de saúde localizada no centro das Caldas da Rainha, em dois espaços ligados internamente (um deles inaugurado na década de 30 e o outro em 1960), que desde então foram alvo de variadas obras de melhoramento. Mas o aumento da actividade deste equipamento, bem como do número de associados da mutualidade, tem criado algumas dificuldades na gestão do espaço, manifestamente exíguo para dar resposta a todas as ambições da associação com um século e meio de vida. «Nos últimos anos temos feito autênticos milagres de multiplicação de espaços, já que estes têm sido disputados praticamente ao milímetro», diz o presidente do conselho de administração do Montepio Rainha D. Leonor, Joaquim Sanches de Sousa. O que não é de estranhar, se tivermos em conta que na casa de saúde, localizada na Rua do Montepio, funciona um Serviço de Atendimento Permanente aberto entre as 8 e as 22 horas, um serviço de RX, TAC e ecografia, consultas de especialidades diversas, uma área de internamento, uma sala de bloco operatório e uma unidade de convalescença. Casa de saúde proporciona aos utentes um ambiente familiar Em funcionamento no local está também uma clínica dentária, que tem um ficheiro com 19 mil utentes e realiza perto de 1200 consultas por mês. A casa de saúde dispõe de acordos «com o Serviço Nacional de Saúde, praticamente todos os sub-sistemas de saúde e ADSE», frisou Joaquim Saches de Sousa numa apresentação da associação mutualista na qual estiveram igualmente presentes o presidente da Assembleia Geral Carlos Santos, o administrador José Luís Ferreira e o administrador e secretário-geral José Manuel Netas. Este último conduziu-nos numa visita aos três pisos consagrados à área hospitalar, na qual foi possível perceber que a casa de saúde oferece aos seus utentes comodidades como uma pequena biblioteca e posto de internet e um ginásio de fisioterapia. A unidade de convalescença, integrada na Rede Nacional de Cuidados Conti- nuados, tem capacidade para 12 pessoas. Venda de residências assistidas supera expectativas José Manuel Netas sublinha a preocupação que existe em dar aos doentes um tratamento «muito personalizado», procurando-se igualmente manter um «carácter o mais familiar possível». Isso é conseguido com detalhes como a qualidade das refeições e o próprio refeitório, que com mesas e cadeiras de madeiras e toalhas aos quadrados faz lembrar a sala de jantar da casa de qualquer um de nós. Existe ainda uma farmácia hospitalar, um gabinete de assistência social e uma casa mortuária com duas capelas. Mas a curto prazo, ao que tudo indica ainda no primeiro semestre deste ano, o principal projecto é a abertura de um condomínio com 95 residências assistidas, de tipologias T0 e T1. Alguns dos apartamentos destinam-se à venda em regime de propriedade plena e os restantes garantem aos associados da associação mutualista o direito de habitação vitalício. A procura, garante Joaquim Sanches de Sousa, «tem excedido as expectativas», tendo já sido vendidos 29 dos 60 fogos colocados no mercado. A casa de saúde está apetrechada com «todos os equipamentos modernos» em áreas como o RX de última geração, a moderna imagiologia, a oftalmologia com tratamentos a laser ou a colonoscopia com apoio anestésico, como constatou o médico cirurgião e presidente da Assembleia Geral do Montepio Rainha D. Leonor, Carlos Santos. O reconhecimento da excelência desta infra-estrutura mutualista faz com que diariamente sejam aqui assistidas pessoas não só do concelho das Caldas da Rainha, mas também de Óbidos, Bombarral, Cadaval, Lourinhã, Torres Vedras e Rio Maior. O terreno para a construção do novo equipamento hospitalar já foi adquirido e o projecto encontra-se aprovado pela Câmara Municipal das Caldas da Rainha, mas o facto de estar em causa um investimento superior a 15 milhões de euros explica que esteja a ser procurado um parceiro «credível» para a iniciativa. Quando o novo equipamento entrar em funcionamento, a intenção do Montepio Rainha D. Leonor é reconverter as actuais instalações num hospital de cuidados continuados. No futuro, a associação quer também avançar com a edificação de uma creche no Bairro da Ponte. Mutualismo é defensor do Ambiente No futuro Condomínio Residencial do Montepio, cuja empreitada de construção está em curso, os utentes terão ao seu dispor um conjunto variado de serviços, pensado para responder às necessidades de cada um. Entre eles estão a limpeza dos apartamentos, o fornecimento de refeições, apoio médico e de enfermagem e a administração de medicamentos. A opção por viver num destes apartamentos oferece aos residentes a possibilidade de terem acesso a todo o apoio de que venham a precisar, sem no entanto serem obrigados a abdicar da sua privacidade ou a separarem-se dos seus cônjuges como por vezes acontece nos lares de terceira idade. O condomínio terá também espaços comuns como uma biblioteca, sala de jantar, salas de estar, um gabinete médico e de enfermagem e jardins, para usufruto dos seus utentes. Este equipamento terá uma ligação directa ao Centro de Apoio a Idosos Dr. Ernesto Moreira, localizado num terreno contíguo e também ele propriedade do Montepio Rainha D. Leonor. Este espaço, datado de 1995 e alvo de várias obras de melhoramento desde então, tem capacidade para 60 moradores e dez utentes na vertente de centro de dia, e uma lista de espera com praticamente 200 pessoas. 7 Lar com jardim interior a actividades variadas Comemorações prolongam-se até Outubro No lar, manter um carácter familiar é mais uma vez uma preocupação, juntamente com oferecer aos residentes e a quem lá passa o dia um vasto leque de actividades. «São os pequenos pormenores que nos diferenciam», explica José Manuel Netas, notando por exemplo a existência de «um pequeno cabeleireiro, pedicure e manicure» ou de várias zonas de estar aconchegantes onde os utentes podem usufruir de momentos de privacidade com as suas famílias. A comemoração dos 150 anos da associação arrancou no passado mês de Março com uma emissão personalizada de selos, que como descreve Joaquim Sanches de Sousa foi feita «pela primeira vez na história das Caldas da Rainha» e esgotou rapidamente graças à procura de coleccionadores de todo o país. Foi também descerrada «uma escultura alusiva ao mutualismo feita pelo mestre caldense Herculano Elias», que pode ser vista na entrada da casa de saúde e da qual foram feitas 250 medalhas. Os corredores do centro de apoio a idosos estão decorados com dezenas de quadros pintados pelos seus residentes, muitos deles no jardim interior no qual além de telas e mesas para a pintura existem equipamentos de ginástica, bancos, um lago com cágados e vegetação. O refeitório tem uma vista invejável sobre os jardins que rodeiam o lar e sobre a cidade, além de um terraço no qual é montada uma esplanada no verão. No Centro de Apoio a Idosos Dr. Ernesto Moreira funcionam ainda serviços de lavandaria e confecção de refeições (os quais prestam também serviço à casa de saúde) e uma unidade de fisioterapia, com capacidade para 150 utentes por dia. Ao dispor dos seus utentes está também uma olaria, na qual foi aliás feito o painel de azulejos que identifica e embeleza uma das entradas da casa de saúde. Prova viva do vigor do movimento mutualista em Portugal, o Montepio Rainha D. Leonor tem 168 trabalhadores no quadro mas dá trabalho directo e indirecto, segundo as contas do presidente do seu conselho de administração, a cerca de 400 pessoas. Quanto aos associados, eles são neste momento oito mil, 1200 dos quais conquistados nos últimos três anos, em parte graças à abolição da obrigatoriedade de residência no concelho das Caldas da Rainha e de um limite de idade. 8 moço ao ar livre e espectáculo nocturno, das cerca de 6500 pessoas que nasceram na maternidade, seus pais e restantes familiares. Em Outubro, o Dia Nacional do Mutualismo será assinalado nesta associação caldense. O Montepio Rainha D. Leonor já foi agraciado com a comenda de Oficial da Ordem de Benemerência quando era Presidente da República Américo Tomás, com o crachá de Serviços Distintos da Câmara Municipal das Caldas da Rainha e com o prémio Mutualismo, atribuído pela Casa da Imprensa. «É uma marca de referência pela sua cultura e dedicação», sintetiza Carlos Santos. O programa de festejo do tricinquentenário incluiu ainda um almoço convívio com os corpos sociais e os 150 O presidente do conselho de administração do Montepio Rainha D. Leonor, Joaquim Sanches de Sousa, associados que perfizeram 50 anos de ligação à instituição, no qual marcaram igualmente presença entidades oficiais do Governo civil, Câmara Municipal, Assembleia Municipal, Assembleia da República e União das Mutualidades Portuguesas. Em ano de celebração, houve também lugar à atribuição de distinções aos mais antigos colaboradores do Montepio Rainha D. Leonor e à realização de um concerto da fadista Carminho, que encheu o Centro Cultural e de Congressos das Caldas da Rainha. faz questão de sublinhar que no passado tal como no presente, são «os ideais mutualistas da solidariedade e da entreajuda» que dão sentido a esta instituição, que na sua génese foi encabeçada por Joaquim Hermenegildo, «um humilde funileiro». Uma certeza partilhada por Carlos Santos, presidente da Assembleia Geral, que acrescenta que «com esta crise evidente que o Estado social atravessa vão-se abrir janelas de oportunidade para o mutualismo, que pode vir a ter cada vez mais importância». 쐍 Para o verão está planeada uma concentração, com caminhada, al- Mutualismo é defensor do Ambiente A podridão monárquica prejudicou a criação de Caixas Económicas Em 1839. uma segunda tentativa, mais abrangente, pois que visava criar uma caixa económica em cada distrito administrativo, também abortou. A ideia, do deputado António de Oliveira Marreca, sob a forma de projecto de lei levado ao Parlamento, era providencialmente apoiada pelas confrarias, em relação à constituição do capital (mínimo de 4.000$000 réis) de cada caixa. Mas, além-Pirinéus, sobretudo na Alemanha, Suiça, Itália, Holanda e, também nos países nórdicos, estas instituições humanitárias, surgidas em finais do século XVIII e abrangidas pelo conceito de auxílio mútuo, promoveram grandes melhorias sociais aos trabalhadores e constituíram sustentáculo das actividades económicas locais. No nosso país, mais concretamente em Lisboa, com um atraso de 26 anos em relação a Paris e de seis anos com referência a Madrid, a primeira caixa económica, constituída por exclusiva iniciativa do Montepio Geral, foi inaugurada a 24 de Março de 1844. A abertura do balcão afluíram, nesse domingo, 38 clientes, que depositaram um total de 65$800 réis. Corrupção e aviltamento O falhanço, em toda a linha, da iniciativa pública, parece provar que a sociedade civil não acreditava no Estado. E, sendo infelizmente real o estado de pobreza da generalidade da população, nem a actividade privada se atrevia a criar a instituição vulgarizada sob a designação de Banco do Vintém ou Bolsa do Pobre, nem o pauperismo se atrevia a «jogar no escuro», isto é, a depositar uns vinténs numa instituição que, por ser desconhecida, não lhe merecia confiança. «Estamos pobres, somos ignorantes, vivemos na corrupção e no aviltamento. Em civilização material estanciamos dois furos abaixo da Turquia e outros tantos acima dos Hotentotes. Agitamo-nos no circulo estreito das revoluções incessantes e estéreis; a legalidade tornou-se impossível» – apontava Aexandre Herculano, em artigo de crítica mordaz, publicado em 24.07.1851, no jornal diário O Paiz. Que o próprio jornalista fundara. «A questão portuguesa, acrescentava, é a de sabermos se havemos de ficar eternamente sem vias de comunicação, sem crédito e sem instrução pública; Mutualismo é defensor do Ambiente MEMÓRIA Já existiam em Inglaterra 800 caixas económicas quando, em 1836, o Ministro do Reino Agostinho José Freire fez publicar um decreto com o intento de criar em Portugal uma caixa económica, destinada a receber depósitos a 4%, cujos fundos seriam colocados em empréstimos sobre penhores e o seu produto destinado a ajudar asilos para inválidos e órfãos. Embora a medida governamental valesse apenas como experiência, «para não continuarem a ser desconhecidas nestes reinos tão benéficas instituições, as quais diminuindo os males da indigência, e aumentando a riqueza nacional, melhoram a moral pública e produzem resultados da mais transcendente utilidade», tal medida não passou do papel. 9 se os capitais do país hão-de continuar a esterializar-se no giro improdutivo da agiotagem, em vez de serem fontes de produção e de riqueza pública. Se o imposto há-de continuar a chegar cerceado de metade à mão do governo e ser de novo reduzido a um terço pela peneira dos agiotas. Se os ministros hão-de ser pagos pelo Estado (...) para trabalhar em favor da Nação, ou subsidiados pela agiotagem para favorecer os seus interesses. Se háde haver um coverno independente ou se havemos de ficar eternamente enfeudados aos agiotas, ao contrato do tabaco: se hão-de governar os homens mais probos e inteligentes». Nobilitar o carácter do homem pobre Ora, este estado de espírito do maior pensador e interventor português do século XIX explica o porquê do pedido que lhe fora dirigido pelo Montepio Geral, no sentido de apadrinhar e avalizar, junto da opinião pública – dos órgãos da imprensa e dos cidadãos – os propósitos oue levariam à criação da Caixa Económica de Lisboa. E Herculano, firmeza de carácter e referência ética de dignidade humanista, que se ilustrou pelo espírito de liberdade e insubmissão, e que por essa e outras boas causas travou grandes lutas, não se fez rogado: «As caixas económicas diminuem o número de indigentes, concorrem para nobilitar o carácter do homem pobre e para lhe dar aquela honradez altiva que nasce da maior independência». Não obstante a força criadora que Herculano pôs ao serviço do progresso económico e social, nesse ano de 1844 apenas foi constituída mais uma bolsa do pobre: a Caixa Económica da Companhia União Comercial, com estatuto de autonomia em relação ao associativismo dos 10 Montepios. E depois, entre 1845 e 1862, ou seja durante 17 anos, apenas mais quatro caixas foram criadas: em Angra do Heroísmo, Aveiro, Lisboa (Imprensa Nacional) e Portalegre. Crises políticas e financeiras A agitação política e social que, desde a Revolução Liberal de 1820 se prolongara até à primeira metade do século, cujas consequências se reflectiram nas precárias condições de vida dos trabalhadores assalariados, na miséria de viúvas e órfãos, e na permanente degradação moral do sistema político, nos vinte anos seguintes, mercê de algum progresso material alcançado o elo «fontismo», o país conheceu certo clima de paz social e política. Gomo sabemos, foi entre 1851 a 1870 que se registou a expansão e consolidação do movimento mutualista. Infelizmente, nos últimos trinta anos de oitocentos, crises financeiras e políticas sucessivas, revelaram o adiantado estado de podridão do regime monárquico que, como veremos, prejudicou gravemente a constituição de caixas económicas abrangidas pelo conceito de auxílio mútuo. Os défices das contas públicas, a falência (1885) de uma casa bancária, que provocou uma corrida ao levantamento dos depósitos, e uma crise nos mercados financeiros europeus, geradora do aumento da inflação interna, apressou a instalação em Portugal de uma grave crise financeira, a qual culminou (1891) numa corrida aos depósitos, generalizada a todo o sistema financeiro, e na instauração de medidas de salvação pública. Por isso, no último terço do século XIX não se registou a esperada disseminação das caixas económicas. Facto que a comissão criada em 1866 pelo ministro Andrade Corvo, para proceder a inquéritos sobre a situação das sociedades de socorros mútuos, viria a acusar: «a falta de caixas económicas em número suficiente e com Mutualismo é defensor do Ambiente juro e condições vantajosas para vencerem o pouco prestígio que estas instituições têm no nosso país». A jóia da coroa Com excepção da Caixa Económica do Funchal, constituída em 1885 e que funcionou anexa à ASM «4 de Setembro de 1862», só no limiar do século XX, mais concretamente na primeira década – depois de esbatidos os ameaçadores embotes das crises financeiras e políticas que antecederam o derrube do regime monárquico – foram criadas algumas dessas instituições de crédito e, nomeadamente, seis delas (nos anos que vão indicados) anexas às seguintes associações: Montepio Abrantino Soares Mendes (1903), Montepio Egitaniense (1904), Montepio Comercial e Industrial (1904), ASM Igualdade-Alenquer (1904), Liga das ASM de V.N. Gaia (1905) e Previdência Familiar do Porto (1906). Finalmente, em 1930, a ASM dos Empregados no Comércio de Lisboa também instituiu uma dessas caixas económicas. Embora ignoremos quantos desses estabelecimentos de crédito desapareceram durante a ditadura salazarista, sabemos porém que, não obstante as grandes crises do século XX – «crash» da Bolsa de Nova Iorque (1929), primeiro choque petrolífero (1973) e segundo choque petrolífero (1979), – o levantamento dos indicadores da actividade mutualista, a que se procedeu em 1984, ainda registou a existência de nove associações com caixas económicas: ASM Montepio Egitaniense, ASM União e Beneficência do Espírito Santo (Horta), Montepio Geral, ASM dos Empregados no Comércio de Lisboa, ASM Montepio Comercial e Industrial, ASM «A Previdência Familiar do Porto», ASM «A Beneficência Familiar», ASM «4 de Setembro de 1862» (Funchal) e Montepio Abrantino Soares Mendes. Entretanto, lamentavelmente, por falta de credibilidade das respectivas instituições e/ou de capacidade técnica para geri-las, cinco dessas caixas econômicas desapareceram: por efeitos de extinção, integração, absorção, aquisição, ou por qualquer outro acto de perda. Tudo isso aconteceu num período de dez anos, entre 1985/1995, em pleno Estado de Direito democrático. Restam quatro caixas econômicas: duas no Porto («A Previdência Familiar» e «A Beneficência Familiar») e duas em Lisboa (Empregados no Comércio e Montepio Geral). dade perante a sociedade em que se impôs como marca credível e de referência ética, e assim vai realizando a desafiante aventura de mais felicidade futura, apresentamos os melhores parabéns. 쐍 A Caixa Económica Montepio Geral – jóia da coroa das instituições financeiras – mutualistas que,tendo celebrado 166 anos de actividade no dia 24 deste mês de Março, cumpre os deveres de solidarie- MÁRIO BRANCO Edição e Propriedade UNIÃO DAS MUTUALIDADES PORTUGUESAS Coordenação MÁRIO BRANCO Design NIELS FISCHER Fotos MIGUEL ANGELO Fotocomposição HERAGRÁFICA Impressão GRIFOS www.mutualismo.com | e-mail: [email protected] Tiragem 1 300 Exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Mutualismo é defensor do Ambiente 11 Parlamento Europeu apela ao implemento da promoção da economia social O Jornal Oficial da União Europeia publicou, na sua edição de 25 deste mês de Março, uma Resolução do Parlamento Europeu, de 19 de Fevereiro de 2009, sobre a economia social. Dirigida ao Conselho Europeu, à Comissão, aos Governos e aos parlamentos dos Estados-Membros, ao Comité Económico e Social Europeu, ao Comité das Regiões e ao Comité da Protecção Social, a «resolução», que ocupa o espaço de sete folhas do órgão de comunicação da U.E., considera que «há que valorizar os modelos da economia social para atingir os objectivos de crescimento económico, empregabilidade, formação e serviços pessoais que caracterizam todas as políticas europeias». Considerando que «a economia social representa 10% do conjunto das empresas europeias, ou seja, dois milhões de empresas, ou 6% do emprego total, e dispõe de um elevado potencial para gerar e manter empregos estáveis, principalmente porque estas actividades, pela sua própria natureza, não são susceptíveis de serem deslocalizadas». o Parlamento Europeu justifica, em doze considerandos, a abordagem que faz de seguida (em 47 pontos) das rúbricas Considerações Gerais, Reconheciemnto do conceiro de economia social, Reconhecimento Jurídico: estatutos europeus para as associações, fundações e mutualidades; Reconhecimento estatístico, Reconhecimento como parceiro social. A economia social como sectorchave para a concretização dos objectivos da Estratégia de Lisboa; e os Meios necessários para atingir os objectivos. A importância da resolução de Estrasburgo Na assembleia geral da UMP do dia 27 também do corrente mês, que reportamos no presente MUT, o presidente do Conselho de Administração, Alberto José Ramalheira, deu a conhecer a Resolução do Parlamento Europeu e a importância que o documento reveste, tendo. Inclusivamente, sublinhado algumas passagens. Assim: A economia social, ao aliar rentabilidade e solidariedade, desempenha um papel essencial na economia europeia, criando empregos de elevada qualidade, reforçando a coesão social, económica e regional, gerando capital social, promovendo a cidadania activa, a solidariedade e um tipo de economia com valores democráticos que põe as pessoas em primeiro lugar, para além de apoiar o desenvolvimento sustentável e, a inovação social, ambiental e tecnológica; Reconhece que a economia social só poderá prosperar e desenvolver todo o seu potencial se puder beneficiar de condições políticas, legislativas e operacionais adequadas, tendo em conta a riqueza da diversidade das instituições da economia social e as suas características específicas; Recorda que a comissão já reconheceu diversas vezes o conceito de economia social; Convida a Comissão a implementar a promoção da economia social nas suas novas políticas e a defender o conceito de «abordagem empresarial diferente» da economia social, cujo motor principal não é a rentabilidade financeira, mas sim a rentabilidade social, de modo a que as respec- Mutualismo é defensor do Ambiente tivas especificidades sejam tomadas realmente em conta na elaboração de enquadramentos jurídicos. A controvérsia sobre o Estatuto da Mutualidade Europeia A economia social existe tanto ao nível das nações, como do Parlamento de Estrasburgo e da Comissão da U.E., ainda que por vezes esta última prefira ignorá-la. A prová-lo, aí está a velha controvérsia, que tem quase 20 anos. Por isso, «a retirada das propostas da Comissão para um regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho sobre o estatuto da associação europeia e sobre o estatuto da mutualidade europeia, constitui um recuo significativo para o desenvolvimento destas formas de economia social na U.E.; insta, portanto, a Comissão a rever o seu programa de trabalho em conformidade». Por isso, ao convidar a Comissão e os Estados-Membros a desenvolverem um quadro jurídico que reconheça as componentes da economia social, e a apoiarem a criação de registos estatísticos nacionais das empresas do 3.º sector, também lhes sugere que «apoiem energicamente o processo de inclusão dos actores da economia social na concertação do diálogo social e no diálogo civil». E uma questão assaz importante, que a UMP há muitos anos defende: o Parlamento solicita aos Estados-Membros que «prevejam projectos de formação no ensino superior e universitário, bem como formação profissional, destinados a transmitir o conhecimento da economia social e as inicitivas empresariais fundadas nos seus valores». 쐍