1 A POLÍTICA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA (C&T) E GÊNERO: caminhos que se entrecruzam. Um estudo realizado na Universidade Estadual do Ceará Vivian Matias dos Santos Albuquerque* RESUMO Foi construída historicamente uma divisão sexual dos espaços sociais. Como reflexo desta construção sócio-histórica, a realidade da Universidade Estadual do Ceará não é diferente. Analisando-se os Grupos de Pesquisa desta instituição percebe-se que mesmo imersa num processo crescente de “feminização” - as mulheres são maioria em grande parte das áreas de conhecimento – na mesma há também uma delimitação dos espaços femininos e masculinos. Assim a participação crescente de mulheres pode não significar uma maior igualdade e democratização entre os sexos, haja vista permanecerem a segregação e hierarquização dos espaços pensados para mulheres e para homens na produção científica e tecnológica. Palavras-chave: Gênero, Ciência & Tecnologia e Universidade. ABSTRACT A sexual division of the social space was made historically. As a reflect and permanence of this frontiers that delimit territories for each sex, there are still today in University feminine and masculine niches. Having as methodology the realization of a census of the Research Groups in UECE, we conclude so, that there is in fact an advance: the growing movement of feminine insertion in research at UECE, however this may not signify a bigger equality and democratisation between men and women, because the thought spaces to women and men remain in university. Keywords: Gender, Sciense & Tecnology and university 1-INTRODUÇÃO Ao longo dos tempos a participação de mulheres e homens na Ciência tem se desenvolvido através da demarcação de espaços diferenciados, de predominância feminina ou masculina. Aos homens tradicionalmente se atribuem características como racionalidade, objetividade, decisão, liderança; enquanto que às mulheres são destinados atributos opostos, como afetividade, intuição e submissão. Assim, histórica e socialmente observa-se a existência de nítidas fronteiras que segregam sexuadamente os âmbitos público e privado: a esfera pública é tida como de domínio masculino; enquanto que a privada, mais especificamente a doméstica, é vinculada, sobretudo ao feminino. Como reflexo desta circunstância há também no meio acadêmico uma divisão sexual das áreas de conhecimento, que pode ser percebida por meio da existência de * Bacharela em Serviço Social, mestranda em Políticas Públicas e Sociedade, e pesquisadora do Grupo de pesquisa Gênero, família e Geração nas Políticas Sociais pela UECE. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 2 nichos feminizados e masculinizados. Nas universidades de forma geral, e especificamente na UECE - Universidade Estadual do Ceará, pode-se observar a presença de espaços bem delimitados para cada sexo, perceptíveis, sobretudo na distribuição de homens e mulheres em suas respectivas áreas de conhecimento. Esta realidade trás consigo imbricações para os mais diversos domínios da dinâmica institucional, especialmente na produção científica e tecnológica. 2 A PARTICIPAÇÃO DE MULHERES E HOMENS NOS GRUPOS DE PESQUISA DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ: um estudo de caso Realizou-se em maio do ano 2004, um recenseamento dos Grupos de Pesquisa certificados pela Universidade Estadual do Ceará e cadastrados no CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). Estes grupos são compostos por um ou dois líderes, por pesquisadores e pesquisadoras, e por estudantes de graduação e pós-graduação da universidade. Os projetos de pesquisa desenvolvidos por estes grupos são financiados principalmente pelo CNPq e pela FUNCAP1. Deste modo, acessou-se todos os grupos, a fim de verificar o número de componentes de cada sexo. Contabilizou-se então membro por membro dos Grupos de Pesquisa existentes neste estabelecimento educacional, através de seus respectivos nomes. Este método fez-se fundamental, visto que seria a única maneira de obter os dados desejados. Não existia, até o presente estudo, a quantificação dos participantes destes grupos segundo o sexo. Na UECE existem 86 Grupos de Pesquisa cadastrados no CNPq, divididos em 7 Grandes Áreas de Conhecimento: Ciências Agrárias, com 14 grupos de pesquisa cadastrados; Ciências Biológicas, com 10 grupos; Ciências Exatas e da Terra, 14 grupos; Ciências Humanas, 27 grupos; Ciências Sociais Aplicadas, 4 grupos; Ciências da Saúde, 14 grupos; e Lingüística, Letras e Artes, com 3 grupos (Gráfico 1). 1 Na área da pesquisa, a UECE possui como principais financiadores dos programas de iniciação científica a FUNCAP (Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa), e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico): atualmente, dos projetos de pesquisa desenvolvidos na universidade, 56% são 1 financiados pela FUNCAP e 30% pelo CNPq . É importante ainda saber que de 1996 a 2004 as bolsas de iniciação científica financiadas pelo CNPq tiveram um aumento de 100% e o incentivo da FUNCAP cresceu 200%, demonstrando assim a crescente relevância destes órgãos para a continuidade dos trabalhos de pesquisa nas mais diversas áreas de conhecimento da universidade. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 3 Gráfico 1 UECE Distribuição dos Grupos de Pesquisa segundo a Grande Área de Conhecimento 2004 Ciências da Saúde 16% Lingüística, Letras e Artes 3% Ciências Agrárias 16% Ciêncais Sociais Aplicadas 5% Ciências Biológicas 12% Ciências Humanas 32% Ciências Exatas e da Terra 16% A realização deste estudo acerca dos Grupos de Pesquisa da aludida universidade tornou possível visualizar que existem também no interior desta instituição espaços marcadamente femininos e masculinos. Destarte, faz-se necessária a exposição dos dados coletados a fim de percebermos como as relações hierarquizadas entre os sexos se dão na produção científica e tecnológica da instituição. 2.1 A presença contundente de mulheres Tomando como referência os Grupos de Pesquisa na totalidade de seus membros, observa-se que a maior parte das grandes áreas é composta por uma maioria de mulheres: Lingüística, Letras e Artes, com 53% do total de membros; Ciências Sociais Aplicadas, com 54%; Ciências Biológicas, com 59%; as Ciências Humanas, com 61%; e as Ciências da Saúde, com o percentual feminino de 81% dos membros. Enquanto que somente as áreas das Ciências Exatas e da Terra e das Ciências Agrárias, com respectivamente 65% e 53%, possuem maioria de seus membros do sexo masculino.(Gráfico 2). São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 4 Gráfico 2 UECE Distribuição de Mulheres e Homens nos Grupos de Pesquisa segundo a Grande Área de Conhecimento 2004 81% 53% 46% 65% 61% 59% 54% 47% 41% 53% 39% 47% 35% 19% Lingüística, Letras e Artes Ciências Sociais Aplicadas Ciências Biológicas Ciências Humanas Ciências da Saúde Ciências Exatas e da Terra Ciências Agrárias Homens 47% 46% 41% 39% 19% 65% 53% Mulheres 53% 54% 59% 61% 81% 35% 47% Homens Mulheres 2.2 Divisão sexual das áreas de conhecimento A incisiva entrada feminina no sistema educativo – conquista dos movimentos feministas que reivindicaram a emancipação da mulher - deve ser considerada também um reflexo da tentativa de inclusão e permanência no mercado de trabalho, cada vez mais competitivo. Vale dizer que a inserção das mulheres neste âmbito deu-se de forma bastante peculiar, prevalecendo uma notável desvantagem em relação aos homens: Essa transformação [...] não se traduziu por uma melhora equivalente da posição das mulheres no mercado de trabalho [...] [pois] o aumento da atividade das mulheres alimentou sobretudo os setores de empregos já feminizados. [...] [sendo estes] menos “interessantes” que aqueles que predominam os homens: eles oferecem menos oportunidades de carreira e remuneração inferior. (DAUNERICHARD, 2003, p.65). A segregação sexual dos espaços profissionais está intimamente relacionada à existência de nichos feminizados e masculinizados na universidade. Catherine Marry (2003, p.89) a partir de uma pesquisa comparativa realizada entre França e Alemanha, afirma que nos dois países, assim como em toda a parte, as clivagens sexuadas nos estudos e nos empregos perduram: letras, ciências humanas e especialidades do terciário ainda são privilegio das mulheres, já as ciências exatas e as técnicas industriais, dos homens. Afirma a autora que a formação profissional feminina obtida através de cursos superiores se construiu sob a ótica da preparação para as funções de mãe/esposa (costura, afazeres domésticos, assistência aos doentes e às crianças), e sua profissionalização (aperfeiçoamento dos conhecimentos gerais e técnicos). Este fato teve como conseqüência o problema de reconhecimento social e salarial. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 5 É importante, então, dizer que com a análise dos Grupos de Pesquisa da UECE, nota-se que as áreas em que as mulheres são maioria, são exatamente aquelas compostas por cursos de predominância feminina, como por exemplo, nas Ciências Biológicas e da Saúde, a presença de cursos como Enfermagem e Nutrição; nas Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, especialmente a participação de cursos como Serviço Social e Pedagogia. A maciça composição dos referidos cursos por mulheres deve-se ao fato destes serem tidos como balizados nos paradigmas do cuidado e da assistência, historicamente atribuídos ao sexo feminino. Devido a isso, estas profissões são desvalorizadas salarialmente, possuindo um status mais elevado aqueles profissionais que se enquadram em formações masculinas, ou seja, as atividades que se separam do doméstico. Já a predominância de homens se dá nas Ciências Agrárias e nas Ciências Exatas e da Terra, áreas constituídas por cursos como Matemática, Física, Computação, dentre outros que se caracterizam como guetos masculinos. Estes cursos não possuem uma vinculação com o âmbito doméstico como os que são feminizados. São, acima de tudo, vinculados à apropriação racional dos conhecimentos científicos e da tecnologia. 2.3 Hierarquia entre os sexos Uma análise mais detalhada dos Grupos de Pesquisa de cada área, sendo estas marcadas como espaços femininos ou masculinos, percebem-se outras implicações sociais, econômicas e culturais das relações sexuadas de poder. Ao se considerar a problemática da liderança, observa-se que em áreas como as Ciências Biológicas em que mais da metade são mulheres (59%), estas representam apenas 10% dos(as) líderes de grupo, enquanto que os homens 90%. O mesmo não ocorre em favor das mulheres, pois nas duas áreas masculinizadas os homens são maioria também nos postos de lideranças: nas Ciências Exatas e da Terra eles são 93%, enquanto que as mulheres apenas 7%; nas Ciências Agrárias são 57% e 43% respectivamente. Vislumbra-se então que a divisão sexual dos Grupos de Pesquisa da UECE se aparentemente de forma desigual e hierarquizada, onde as mulheres estão em posição desvantajosa. Mesmo o sexo feminino sendo maioria no total, não é predominante em posições mais elevadas no interior de cada grupo pesquisado2. 2 Este fato deve ser visto como reflexo de uma realidade mais ampla no contexto da Ciência & Tecnologia. De acordo com os dados do CNPq, no Brasil em 2002 para cada pesquisador homem, havia 0,84% de pesquisadoras cadastradas no Diretório de Grupos de Pesquisa. Todavia o desequilíbrio é acentuado se levarmos em consideração as bolsas de produtividade, que são as de maior nível hierárquico: para cada pesquisador contemplado, há apenas 0,48 pesquisadora na mesma situação. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 6 Isso ocorre em toda a sociabilidade. Nos diversos espaços mistos de trabalho e de formação científico-profissional, onde convivem homens e mulheres, pode-se identificar um mecanismo quase universal: a construção da diferença. Ora, em matéria de categorização social, a via é estreita entre diferenciar e hierarquizar (DAUNE-RICHARD, 2003, p. 74). Estas relações sexuadas hierarquizadas estabelecidas no seio dos Grupos de Pesquisa analisados devem ser entendidas como fruto das representações sociais onde o homem é visto como o “portador da cultura – e in fine pode dominar a natureza - e a mulher como submissa à natureza”, e, portanto, submissa ao homem. 2.4 A crescente “feminização” Realizando-se um estudo comparativo entre as funções de pesquisador(a) e estudante dos referidos grupos3, nota-se que existe uma constante em todas as áreas de conhecimento: a crescente participação feminina na produção científica e tecnológica da UECE, visto que o percentual de mulheres dentre as(os) estudantes é proporcionalmente maior que o percentual feminino dentre as(os) pesquisadoras(es). É grande a probabilidade destas alunas que fazem parte dos Grupos de Pesquisa se tornarem também pesquisadoras da universidade, pois possuem mais chances de seguirem uma carreira acadêmica aqueles(as) que fazem parte das seletas vagas dos programas de pesquisa. Neste sentido nota-se que nas Ciências Biológicas de 45% dos(as) pesquisadores(as) sendo mulheres, aumenta para 67% dos(as) estudantes deste sexo; nas Agrárias são 38% de pesquisadoras passando para 53% de alunas; nas Ciências da Saúde são 77% de pesquisadoras para 86% de estudantes; nas Ciências Sociais Aplicadas, com 42% de pesquisadoras para 63% de estudantes; nas Ciências Humanas, 60% de pesquisadoras para 62% de alunas; e nas Ciências Exatas e da Terra, 23% crescendo para 45%, respectivamente4. (Gráfico 3). 3 È importante lembrar que os grupos pesquisados são compostos pela seguinte hierarquia de funções: líder; pesquisadores(as), geralmente professores(as); e estudantes da graduação e pós-graduação. 4 A única exceção é a área da Lingüística, Letras e Artes, com as mulheres representando 72% dos(as) pesquisadores(as), e apenas 32% do total de estudantes. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 7 Gráfico 3 UECE Estudantes e Pesquisadoras do sexo feminino participantes dos Grupos de Pesquisa segundo a Grande Área de Conhecimento 2004 86% 67% 53% 38% 60% 45% 63% 62% 45% 72% 77% 42% 32% 23% Ciências Agrárias Ciências Biológicas Ciências Exatas e Ciências Sociais Lingüística, Letras Ciências Humanas Ciências da Saúde da Terra Aplicadas e Artes Pesquisadoras 38% 45% 23% 60% 42% 77% 72% Estudantes 53% 67% 45% 62% 63% 86% 32% Pesquisadoras Estudantes Assim, por meio destes dados, apreende-se que há uma tendência à inserção cada vez maior das mulheres na produção científica e tecnológica da UECE nas mais diversas áreas de conhecimento, mesmo naquelas masculinizadas. Por outro lado, a participação de homens vem decrescendo neste aspecto: nas Ciências Sociais Aplicadas 58% do total de pesquisadores(as) sendo homens, decresce para 37% dos(as) estudantes pertencentes a este sexo; nas Ciências da Saúde são 23% de pesquisadores passando para 14% de alunos; nas Ciências Biológicas são 55% de pesquisadores para 33% de estudantes; nas Agrárias são 62% para 47% de estudantes; nas Ciências Exatas e da Terra, são 77% de pesquisadores para 55% de alunos; nas Humanas são 40% diminuindo para 38%, consecutivamente.5 (Gráfico 4). Gráfico 4 UECE Estudantes e Pesquisadores do sexo masculino participantes dos Grupos de Pesquisa segundo a Grande Área de Conhecimento 2004 77% 68% 62% 47% 58% 55% 55% 33% 40% 38% 37% 28% 23% 14% Ciências Agrárias Ciências Biológicas Ciências Exatas e Ciências Humanas da Terra Ciências Sociais Aplicadas Ciências da Saúde Lingüística, Letras e Artes Pesquisadores 62% 55% 77% 40% 58% 23% 28% Estudantes 47% 33% 55% 38% 37% 14% 68% Pesquisadores Estudantes 5 Para o declínio da participação de homens, a exceção continua sendo a Lingüística, com 28% de pesquisadores contra 68% de alunos. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 8 A crescente “feminização” da UECE, inclusive no que se reporta à pesquisa desenvolvida nesta universidade, é então comprovada pelos dados obtidos através deste recenseamento dos Grupos de Pesquisa em questão. Entretanto, se por outro lado esta inserção continuar seguindo a tendência atual, um maior número de mulheres na universidade pode ser que não signifique uma maior igualdade e democratização entre os sexos. E ainda predominem relações hierarquizadas de poder, onde as pesquisadoras do sexo feminino possuem maior chance de assumirem cargos de liderança somente nos segmentos onde são maioria. As fronteiras da relação de dominação de gênero apenas têm sido deslocadas na universidade, e somente serão rompidas quando houver uma participação de homens e mulheres equivalente nas mais diversas áreas científicas, assim como também quando nos critérios para a liderança não pese a variável sexo. Para que as conquistas femininas no âmbito acadêmico deixem de ser balizadas pelas relações desiguais e hierarquizadas de gênero, necessita que ocorram mudanças em maiores proporções, em toda a sociedade. Somente transformações sócio-culturais, que perpassem o público e o privado em todas as esferas do cotidiano, podem ser o caminho para a igualdade efetiva entre homens e mulheres. 4- CONCLUSÃO A demarcação sexuada dos espaços sociais fez emergir, dentre outras coisas, a Ciência como um território masculino. A partir deste fato a crescente presença feminina no locus formal da produção científica e tecnológica, funciona balizada por esta lógica de dominação/subordinação entre os sexos. É seguindo essa dialética das relações de gênero, que se dá a participação de mulheres e homens na realidade analisada neste estudo: os Grupos de Pesquisa da UECE cadastrados no CNPq. Nestes, constatou-se um movimento crescente de “feminização”. Em contrapartida, com a realização do recenseamento destes grupos, nota-se a existência de guetos feminizados e masculinizados na UECE, reflexo da questão cultural que permeia as relações sociais sexuadas. A demarcação de territórios bem definidos para cada sexo ocorre influenciando e sendo influenciada pelo domínio masculino do poder de decisão, de mando, da razão, da ciência e da tecnologia. E ao contrário, às mulheres são atribuídas características como submissão, sensibilidade, intuição, assim como o seu domínio diz respeito às funções e atividades que historicamente são responsáveis no âmbito doméstico. São Luís – MA, 23 a 26 de agosto 2005 9 De tal modo nas relações estabelecidas entre os sexos nos Grupos de Pesquisa da UECE se apresenta um paradoxo: se por um lado a sua progressiva “feminização” representa um ganho que impulsiona novas conquistas; por outro, provavelmente estas relações continuem reproduzindo e sendo reproduzidas pela lógica da desigualdade, onde não existe o respeito pelo direito às diferenças. Sugere-se então a necessidade da criação de novos termos que melhor expressem a realidade das relações de gênero, visto que o aumento de mulheres no espaço de produção e socialização do conhecimento não representa uma real “feminização” na dinâmica dos micropoderes e na sociabilidade de forma geral. É difícil mensurar até que ponto as conquistas devem prosseguir para significar uma efetiva relação de igualdade de gênero. Todavia, pode-se ter uma noção de como estas conquistas devem ser desdobradas e em que direção: da mesma forma em que se deram todas as outras, através de um longo processo de luta dos movimentos feministas. Para que haja uma autêntica ruptura das relações desiguais entre os sexos na universidade, faz-se necessário que esta tenha de fato um comprometimento com uma construção do conhecimento alicerçada pela verdade, pela justiça e pela igualdade, enquanto bases fundamentais da estrutura social e inerentes à condição humana. REFERÊNCIAS BRASIL. 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