Meu Boa Noite!
A tarefa de vos falar a esta hora muito me alegra, por
saber que aqui, em nome da Primeira Turma de Mestrado
Acadêmico iniciada no interior do Estado Ceará no ano
de 2013 pela nossa Universidade Estadual do Ceará –
UECE, aqui represento todos os mestre e doutores de
2015. Aproveito o ensejo para agradecer ao Pró-Reitor
de Pós-Graduação e Pesquisa, Professor Doutor Jerffeson
Teixeira
de
Souza,
por
conceder
em
forma
de
homenagem ao Mestrado Acadêmico Intercampi em
Educação
e
Ensino
–
MAIE,
a
oportunidade
de
representarmos os demais Mestrados da UECE nesta
solenidade de colação de grau. Agradeço também aos
colegas de turma pela confiança em mim depositada, o
que
inicialmente
causou-me
inquietação,
porém,
aquietei-me por sentir-me em casa, pois a UECE tem
sido para muitos de nós o lugar onde habitamos por
horas a fio em nossas diversas trajetórias, nos diversos
campos
do
saber
em
busca
de
aprendizado
e
aprimoramento, não somente no âmbito profissional,
mas também fazemos desta casa um campo de
extraordinárias oportunidades relacionais. Certamente,
muitas amizades e grandes conquistas pessoais foram
realizadas por cada um de nós nesse trajeto que hoje
torna-se um fim para alguns, mas que para outros é
apenas um passo rumo a outros passos vindouros.
Prezados, minha reflexão na noite de hoje é que nós,
Mestres e Doutores, onde quer que estejamos exercendo
nossa tarefa de professar e construir o conhecimento,
nós precisamos, pois, fazer dos espaços que ocupamos,
ambientes onde possamos cultivar novas ideias e novos
sentimentos que favoreçam, dentro do processo das
aprendizagens, outras experiências voltadas para a
dimensão e construção do “Homem Ser integral”.
Uma palavra que está na moda é ‘humanização’, dando
a entender que o animal homem, em sua essência, não
possuísse a capacidade de pensar e refletir, de articular
seus pensamentos e reflexões através da linguagem e
do gestual corporal; não tivesse a sensibilidade auditiva
e do toque da pele, não fosse dotado da visão que amplia
todos os campos dos sentidos, não fosse esse ser dotado
desses traços inerentes que o diferencia dos demais
animais. O significado encontrado no dicionário para o
termo humanizar é este mesmo, ‘domar animais’,
‘atribuir
caráter
humano’,
‘atribuir
sociabilidade,
civilização’, ‘tornar tolerável’, etc. todos os significados
conotando que ao homem deve ser impresso um toque
de sensibilidade, de humanidade. É como se o homem
tivesse perdido suas condições humanas e precisasse
reinvestir em si mesmo para estar no mundo dos
humanos, sentir-se humano outra vez e ver o outro
como também um humano, tornar seu oficio uma tarefa
humanizada, conviver socialmente de maneira civilizada,
ver e sentir no mundo ao seu entorno, a sua casa, a casa
dos humanos.
O homem, em sua totalidade, tornou-se desconhecido de
si mesmo no momento em que a ciência moderna,
transformou-o num mero componente que tem que ser
dividido
em
milhares
de
componentes
para
ser
compreendido. Esta visão compartimentada de homem
tem origem na antropologia cartesiana, onde o ser
humano é focalizado como uma máquina engenhosa
composta de peças que podem ser reparadas, e até
mesmo
trocadas,
apresentem,
para
dependendo
que
o
do
organismo
defeito
que
continue
em
funcionamento. Fora o lado físico representado pelo
corpo dividido em órgãos e sistemas, o homem sabe que
tem uma mente e que o funcionamento do corpo está
relacionado aos comandos dessa mente via os cinco
sentidos metafísicos (tato, audição, visão, olfato e
paladar). Gaiarsa (1991) acrescenta um sexto sentido,
que segundo ele, não é metafísico, mas muscular. Diz:
“não preciso ficar me olhando para saber como estou. E,
portanto, todo o nosso aparelho de movimento é
também de sensação. Se não fossem essas sensações,
jamais saberíamos o que quer dizer força, peso,
aceleração”. Dessa forma, não saberíamos o que é
espaço e tempo, o que define, segundo a lei da
relatividade geral de Einstein, a compreensão do
universo em escalas maiores.
A concepção antropológica dualista é expressa na divisão
entre matéria e mente, separados e diferentes – a alma
(res cogitans): coisa pensante pertencente ao mundo da
liberdade e o corpo (res extensa): coisa extensa
pertence ao mundo do determinismo. “A saber, que as
coisas que concebemos mui clara e mui distintamente
são todas verdadeiras, não é certo senão porque Deus é
ou existe, e é um ser perfeito, e porque tudo o que existe
em nós nos vem dele”. Esta sentença proferida por
Descartes em “O Discurso do Método” expressa que
tanto a alma quanto o corpo foram criados por uma
terceira, eterna e divina substância: Deus.
Mas o homem cartesiano esqueceu-se dos sentidos que
religam ao todo, às suas origens, ao todo indivisível, à
totalidade da qual não fugimos e por isso estamos
imersos num mundo de conflitos interiores e exteriores
que amedronta e causa incertezas, pois mesmo diante
de tantos avanços científicos e tecnológicos que nos
proporcionam conforto, estamos perdidos na incerteza
de nós mesmos porque tememos o desconhecido. O
medo do desconhecido que fez o homem avançar em
busca da compreensão de si mesmo, o medo da extinção
que foi o leitmotiv para que começasse a coletar e depois
a produzir sua sobrevivência, o mesmo medo que deu
origem a filosofia e as religiões como meios de encarálo, dando o conforto de uma continuidade da existência,
dando a certeza de que somos criação continua, pois em
nossa experiência pessoal estamos sempre querendo
continuar. Andar pra frente é o que fazemos todos os
dias porque estamos vivos, num universo vivo em
constante atividade de criação.
Mesmo limitado às fronteiras biológicas e psicológicas, o
homem, desde seus primórdios, assim comprovam as
tradições mais antigas por meio dos livros sagrados,
compreendeu que sua evolução depende de seus feitos
no mundo com uma finalidade divina. Toda a marcha do
homem
pela
sobrevivência
esteve
contrita
numa
simbologia que aplacasse o medo e vivificasse o amor,
dois componentes essenciais à sobrevivência ao homem
do Iníciom. Então pergunto: Quais são os medos e as
reais buscas do homem atual? O que temos feito em
favor de nossa evolução espiritual num contexto onde a
palavra Amor entrou em extinção e as relações são
efêmeras e descartáveis? Até que ponto a fragmentação
do todo irá influenciar o homem ao afastamento de sua
inteireza?
Dentre as contradições do que se convencionou chamar
de progresso podemos citar os meios inimagináveis de
violência que utilizam sofisticados avanços tecnológicos
que poderiam ser utilizados para o bem; os sistemas
econômicos concebidos para uma melhor distribuição de
riquezas, para uma repartição igualitária dos frutos do
trabalho
coletivo,
que
acabam
por
reforçar
desigualdades e injustiças, gerando e estimulando
mecanismos de exploração do homem pelo homem e
elevando o dinheiro a uma posição de poder absoluto; a
mídia que nos cerca de ilusões e fantasias, e meios que
são criados para justificar e propor explicações numa
tentativa de não nos deixar reconhecer um mundo
infeliz, inseguro, injusto...
Não se conhece outra forma de poder de influência tão
vasta e abrangente como a do conhecimento e do
pensamento científico. Será este o último capítulo da
história da humanidade? – Não. Trata-se de uma
produção
verdadeiramente
requintada
da
espécie
humana, nascida, em primeira instância, em Pitágoras,
Platão e Aristóteles para, em seguida, desaparecer.
Voltando ao cenário da vida durante o Renascimento e,
desde então, seu triunfo parecia estar completo...
Este poder de influência e de vasta abrangência da
ciência estaria contemplando seus propósitos, se tivesse
proporcionado ao homem as plenas condições de
liberdade, conhecimento e sabedoria para uma vida
saudável, harmoniosa e amorosa. Pois sendo o homem
parte integrante do todo infinito que é a fonte de criação
do universo, ele terá que constituir-se e reconhecer-se
como um ser completo, inteiro, livre – libertação,
iluminação, satori, nirvana, céu, infinito e tantos outros,
são a representação da união do individual com o total.
O homem liberto é aquele consciente de sua estada no
mundo e conectado à luz que emana no nosso centro
interior por toda a nossa evolução.
Muito Obrigada!
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