Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO CONTEXTO DE UM PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA PARA PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO Learning evaluation in the context of a process of continuing education for middle school teachers Alexandre GIACOMINI1 Everton LÜDKE2 RESUMO O presente artigo está embasado em opiniões, experiências e percepções vivenciadas por professores da escola estadual de ensino médio Érico Veríssimo do município de Restinga Sêca/RS a respeito dos problemas que envolvem a avaliação da aprendizagem no contexto de um processo de formação continuada. O estudo procura identificar e medir as opiniões e percepções dos professores da referida escola acerca das complexidades que permeiam o processo de avaliação da aprendizagem. O presente trabalho, quanto ao método e à forma apresentado, tem viés, de um estudo que associou as pesquisas do tipo qualitativa e quantitativa. Quanto aos procedimentos adotados na coleta de dados, o estudo tem viés de uma pesquisa do tipo estudo de caso. Os resultados que balizam o estudo estão reunidos em três pressupostos básicos que circundam a avaliação da aprendizagem e procuraram contribuir com a discussão sobre este tema: os elementos necessários que não se pode ignorar ao avaliar; as dificuldades e preocupações frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo avaliativo; e, o(s) instrumento(s) e procedimento(s) de avaliação mais utilizado(s). Palavras-chave: avaliação da aprendizagem, formação continuada de professores, ensino médio. ABSTRACT This article is based on opinions, experiences and perceptions experienced by teachers in the State School of secondary education Érico Veríssimo in the municipality of Restinga Sêca/RS about the problems involving the learning evaluation in the context of a process of continuing education. The study seeks to identify and measure the opinions and perceptions of teachers of that school about the complexities that permeate the learning evaluation process. The present work, regarding the method and the form presented, have bias, of a study that linked the qualitative and quantitative type searches. As for the procedures adopted in the collection of data, the study has a bias type search case study. The results basing the study are gathered in three basic assumptions surrounding the evaluation of learning and sought to contribute to the discussion on this theme: the required elements that cannot be ignored when assessing; the difficulties and concerns facing the relationships that are established in the classroom and the educational context in relation to the evaluation process; and the instrument(s) and procedure(s) most commonly used evaluation(s). 1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde da Universidade Federal de Santa Maria, Mestre pelo mesmo Programa, Professor de Física da SEDUC-RS. E-mail: [email protected] 2 Professor Doutor do Departamento de Física da Universidade Federal de Santa Maria e orientador do Curso de PósGraduação em Educação em Ciências: Química da Vida e Saúde (PPGECQVS) e do curso de Pós-Graduação em Educação Matemática e Ensino de Física (PGEMEF). E-mail: [email protected] Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 214 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Keywords: learning evaluation, continuing education of teachers, high school. INTRODUÇÃO O interesse e a preocupação com a temática da avaliação da aprendizagem vêm ganhando enorme destaque nas políticas públicas em todo mundo nos últimos tempos, bem como têm mobilizado educadores e pesquisadores (DEMO, 2001; ROMÃO, 2001; HOFFMANN, 2000; ESTEBAN, 1999; PERRENOUD, 1999; SAUL, 1995; LUCKESI, 1994) na busca de sua melhoria. Constantemente e em números cada vez mais expressivos são publicadas pesquisas relevantes e artigos científicos sobre este tema. Os congressos nacionais de educação e muitos eventos internacionais abrem cada vez mais espaços para o debate sobre a avaliação da aprendizagem. Nesse escopo, o Brasil, com vistas a garantir a qualidade do ensino médio, instituiu por meio da Portaria Ministerial nº 1.140, de 22 de novembro de 2013, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio. Este Pacto contempla, dentre outras, a ação de formação continuada dos professores e coordenadores pedagógicos de Ensino Médio por meio da colaboração entre Ministério da Educação, Secretarias Estaduais de Educação e Universidades. Ressalta-se, no entanto, que um dos eixos condutores deste programa de formação continuada é a avaliação da aprendizagem, foco deste artigo. Nesse contexto, emerge o problema de investigação do presente estudo: Quais são os elementos que devem ser considerados para uma reflexão consistente sobre a avaliação da aprendizagem na perspectiva dos professores de uma escola pública de ensino médio do município de Restinga Sêca/RS? A partir dessa questão, propõe-se o seguinte objetivo: Identificar e medir as opiniões e percepções dos professores da referida escola acerca das complexidades que permeiam o processo de avaliação da aprendizagem. ALGUNS PRESSUPOSTOS TEÓRICOS Em linhas gerais, no âmbito da literatura da área, a avaliação da aprendizagem é entendida como aquela “avaliação que os professores desenvolvem no dia a dia das salas de aula, tendo como foco o que seus alunos já aprenderam em relação às várias disciplinas e aos valores trabalhados na escola” (BRASIL, 2013, p. 16). Atualmente, a maioria das escolas vê a avaliação da aprendizagem como uma medida da diferença entre o que o aluno produz e o que o professor ensinou durante um certo intervalo de tempo. A busca por provas objetivas, a elaboração de testes de rendimento escolar, formas de avaliação padronizadas, a classificação dos alunos em fortes, médios e fracos são práticas que continuam sendo empregadas até hoje (ESTEBAN, 1999). Na prática pedagógica decorrente dessa concepção, o ato de avaliar permanece, de modo geral, pautado na busca de informações quantitativas e precisas, a partir das quais são atribuídas seleções, classificações e hierarquias aos alunos ou tomadas decisões unilaterais sobre suas competências, seus conhecimentos, suas possibilidades de continuar ou não aprendendo. O valor da aprendizagem, nesse contexto, traduz-se, então, por meio de uma nota ou conceito e, em grande parte, a avaliação da aprendizagem corresponde a uma prática para estimular e controlar o aluno. Por meio dela a escola seleciona, hierarquiza e regula sua conduta (ESTEBAN, 1999). Este modelo de avaliação encontra-se ultrapassado, uma vez que está marcado pela solidão e incerteza a que expõe os alunos. Ele tem contribuído para gerar distorções em aspectos básicos da educação escolar dos alunos, tais como a perda da vontade de aprender e de estar na escola e uma Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 215 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 relação deturpada com o conhecimento e um uso desestimulante de suas inteligências. Tais situações podem estar relacionadas ao desinteresse pela escola e certamente contribuem para o sentimento de fracasso que ronda o processo ensino/aprendizagem. A avaliação da aprendizagem, segundo outra perspectiva, a emancipatória (SAUL, 1995), deve ser tratado como estratégia de ensino, de promoção do aprendizado dos alunos, podendo assumir caráter eminentemente formativo, favorecedor do progresso pessoal e da autonomia do aluno. Integrada ao processo ensino/aprendizagem, deve permitir ao educando a consciência de seu próprio caminhar em relação ao conhecimento e ao educador o controle que possibilite a melhoria da sua prática pedagógica. Nessa ótica, a avaliação da aprendizagem, segundo Luckesi (1994), deve ser considerada como análise fundamental sobre os procedimentos de ensino/aprendizagem que possam atuar como verificação e tomada de decisão pelos profissionais da educação visando o aperfeiçoamento e a mudança no desenvolvimento de suas atividades didático/pedagógicas. Segundo uma visão mais social, a avaliação da aprendizagem, orientada conforme um processo de inclusão, gera dois objetivos essenciais a serem perseguidos pelos processos avaliativos, assim resumidos por Demo (2001, p.17): [...] a avaliação funcionará como expediente de pesquisa diagnóstica, no sentido de averiguar, com a devida profundidade, as condições de desempenho do aluno, indicando virtudes e vazios, problemas e potencialidades, motivações e obstáculos; a avaliação servirá como instrumento para refazer a rota de inclusão do aluno, garantindo-lhe o direito ao desempenho qualitativo considerado satisfatório, pelo menos. Desta forma, avalia-se a aprendizagem para adaptar estratégias de ensino, regular a utilização de recursos, classificar e promover alunos, orientar suas opções formativas, e, finalmente, qualificar as escolas. Já, segundo o paradigma em que a avaliação da aprendizagem possibilita investigar e refletir sobre a ação do aluno e do professor instigando a transformação por meio do contexto da sala de aula, Romão (2001, p. 101) afirma: A avaliação da aprendizagem é um tipo de investigação e é, também, um processo de conscientização sobre a “cultura primeira” do educando, com suas potencialidades, seus limites, seus traços e seus ritmos específicos. Ao mesmo tempo, ela propicia ao educador a revisão de seus procedimentos e até mesmo o questionamento de sua própria maneira de analisar a ciência e encarar o mundo. Ocorre, neste caso, um processo de mútua educação. Numa construção de avaliação informativa, pode-se enquadrar a observação de Perrenoud (1999), segundo o qual a avaliação não só regula as aprendizagens, mas também o trabalho, as atividades, as relações de autoridade e cooperação em aula, as relações entre a família e a escola e as relações entre profissionais da educação. Ainda destaca-se Hoffmann (2000), que assevera que a avaliação é o caminho de aprendizagem do aluno, quando possibilita ao professor tomar consciência da realidade do aluno e, a partir de então, levá-lo ao aprendizado. A avaliação mediadora se desenvolve em benefício do educando e dá-se fundamentalmente pela proximidade entre quem educa e quem é educando. Assim, a avaliação, numa perspectiva não mediadora, não emancipatória reforça uma concepção autoritária da avaliação enfatizando o controle, a seleção e a premiação de uma pequena parcela dos estudantes. Portanto, a avaliação se constitui para todos os envolvidos como o inventário de um processo vivo, intenso e complexo, podendo significar o modo pelo qual todos os participantes do projeto pedagógico tomam consciência de suas identidades, suas diferenças, responsabilidades e avanços, na busca da autonomia necessária para compreender o mundo no qual vivemos. Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 216 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 METODOLOGIA O presente trabalho, quanto ao método e à forma apresentado, tem viés, de acordo com Zanella (2009), de um estudo que associou as pesquisas do tipo qualitativa e quantitativa. Quanto aos procedimentos adotados na coleta de dados, o estudo tem viés de uma pesquisa do tipo estudo de caso (CHIZZOTTI, 1995), pois ele visa à descoberta, à interpretação no contexto e retrata em profundidade a realidade de um grupo de professores a respeito da avaliação da aprendizagem no contexto de um processo de formação continuada de professores de uma escola de ensino médio. Esta pesquisa foi desenvolvida em julho de 2014, durante o processo de formação continuada ocorrido na escola estadual de ensino médio Érico Veríssimo, do município de Restinga Sêca, localizado na região central do estado do Rio Grande do Sul (RS), com a participação dos professores que atuam nessa instituição. A referida escola tem aproximadamente 600 alunos e conta atualmente com 34 professores efetivos em sala de aula. Esse processo de formação continuada faz parte de uma formação maior intitulada de “Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio”, que é uma proposta do Ministério da Educação e tem por objetivo oferecer formação continuada aos professores do ensino médio nas 27 unidades da Federação do Brasil. A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas, descritas a seguir: Na primeira etapa, qualitativa, ocorrida nas duas primeiras semanas de julho de 2014, com a participação de 21 professores frequentadores do processo de formação continuada supramencionado, durante dois encontros de 4 horas cada. Estes foram estimulados a falar e discutir sobre três questões norteadoras sobre a avaliação da aprendizagem, listadas abaixo: – O que você professor acha necessário não ignorar ao avaliar? – Para você professor, quais as dificuldades e preocupações frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo avaliativo? – Para você professor, qual(is) o(s) instrumento(s) e procedimento(s) de avaliação mais utilizado(s)? Ainda, nesta primeira etapa, para a pesquisa de campo, foram utilizados os seguintes instrumentos para a obtenção de dados: a modalidade de observação direta individual, realizada pelo pesquisador e anotada em seu diário de bordo/caderno de campo; bem como, as análises documentais de registros escritos e redações produzidas pelos professores. Já, a metodologia de análise utilizada, nesta primeira etapa da pesquisa, foi a Análise Textual Discursiva (MORAES; GALIAZZI, 2007). Na segunda etapa da pesquisa, quantitativa, ocorrida na terceira semana de julho de 2014, com a participação de todos os 34 professores de sala de aula da referida instituição. Estes foram convidados a responder um questionário estruturado fechado contendo as três questões supramencionadas, porém, para cada questão havia afirmações/categorias que emergiram da metodologia de análise proposta na primeira etapa da pesquisa e que seriam medidas numa escala que variava entre as opções: concordo, discordo e indeciso. Já, a metodologia de análise utilizada, nesta segunda etapa, foi a análise estatística. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS Os resultados serão apresentados conforme as duas etapas da pesquisa. Primeira etapa da pesquisa – viés qualitativo Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 217 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Utilizando-se os instrumentos de coleta de dados da modalidade de observação direta individual do pesquisador, bem como, as análises documentais de registros escritos e redações produzidas pelos 21 professores participantes do processo de formação continuada, os resultados que emergiram, segundo a metodologia de Análise Textual Discursiva, foram categorizados conforme as três questões, já apontadas na metodologia, ou seja: Na primeira questão – O que você professor acha necessário não ignorar ao avaliar? – os resultados foram: os objetos de formação; os métodos e procedimentos do professor; a situação social dos alunos; as condições e meios de organização do ensino; os requisitos prévios que tem o aluno para assimilar conteúdos novos; as diferenças individuais; o nível de desenvolvimento intelectual e; as dificuldades de assimilação devidas às condições sociais, econômicas, culturais adversas dos alunos. Já, na segunda questão – Para você professor, quais as dificuldades e preocupações frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo avaliativo? – os resultados foram: cumprir programas extensos de sua disciplina ainda não suficientemente justificados; lidar com o diferente, ou seja, não saber agir diante de um aluno com piercing, cabelos compridos, tatuagens, etc. e; a situação dos professores que oriundos de várias disciplinas e com compromissos em diferentes escolas não chegam a formar uma equipe com objetivos comuns e com proximidade que permita a troca de experiências e de vivências. Enquanto que na terceira questão – Para você professor, qual(is) o(s) instrumento(s) e procedimento(s) de avaliação mais utilizado(s)? – os resultados foram: provas escritas; trabalhos de pesquisa e; elaborar seminários e debates. Segunda etapa da pesquisa – viés quantitativo Nesta, utilizando-se o questionário estruturado fechado contendo as três questões supramencionadas, bem como seus resultados, com todos os 34 professores que estão em efetivo exercício em sala de aula da referida escola; os resultados são apresentados conforme uma análise estatística, medida numa escala que variava entre as opções: concordo (C), discordo (D) e indeciso (I). Os resultados da primeira questão – O que você professor acha necessário não ignorar ao avaliar? – são mostrados a seguir na tabela 1: Tabela 1 – Elementos necessários não ignorar ao avaliar Afirmações/categorias A) Os objetos de formação B) Os métodos e procedimentos do professor C) A situação social dos alunos D) As condições e meios de organização do ensino E) Os requisitos prévios que tem o aluno para assimilar conteúdos novos F) As diferenças individuais G) O nível de desenvolvimento intelectual H) As dificuldades de assimilação devidas às condições sociais, econômicas, culturais adversas dos alunos C 80% 84% 47% 63% D 10% 16% 37% 32% I 10% 0% 16% 5% 68% 21% 11% 69% 84% 26% 11% 5% 5% 84% 11% 5% FONTE: Autoria própria (Dados de Campo, 2014). Analisando a tabela 1, observa-se que: Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 218 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 Para a afirmação/categoria A, a maioria dos professores (80%) concorda com os objetos de formação como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 10% discordam e 10% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria B, a maioria dos professores (84%) concorda com os métodos e procedimentos do professor como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 16% discordam e nenhum ficou indeciso. Para a afirmação/categoria C, houve um pequeno equilíbrio, mas a maioria dos professores (47%) concorda com a situação social dos alunos como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 37% discordam e 16% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria D, a maioria dos professores (63%) concorda com as condições e meios de organização do ensino como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 32% discordam e 5% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria E, a maioria dos professores (68%) concorda com os requisitos prévios que tem o aluno para assimilar conteúdos novos como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 21% discordam e 11% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria F, a maioria dos professores (69%) concorda com as diferenças individuais como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 26% discordam e 5% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria G, a maioria dos professores (84%) concorda com o nível de desenvolvimento intelectual como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 11% discordam e 5% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria H, a maioria dos professores (84%) concorda com as dificuldades de assimilação devidas às condições sociais, econômicas, culturais adversas dos alunos como elemento indispensável ao avaliar, enquanto que 11% discordam e 5% ficaram indecisos. Fazendo-se uma análise geral da opinião dos professores em relação à primeira questão e seus resultados, nota-se que a maioria deles concorda com os elementos presentes nas afirmações/categorias elencadas para a primeira questão. No entanto, para a afirmação/categoria C, se somarmos os que discordam com os indecisos, o percentual será maior dos que concordam, mostrando, desta forma, que para a maioria dos professores a situação social dos alunos não é tão necessária quanto deveria ser ao avaliá-los. Depreende-se destes resultados que o desenvolvimento dos processos de avaliação precisa levar em consideração aspectos intimamente relacionados com a verificação contínua da aprendizagem dos alunos, utilizando-se de métodos, técnicas e recursos que viabilizem ao aluno o alcance dos objetivos propostos, ou seja, verificar o desempenho da aprendizagem dos mesmos. E, ao mesmo tempo, ao considerar essas características, o professor estará desempenhando um processo de avaliação de si mesmo, do aluno e do processo de ensino/aprendizagem. Já, os resultados da segunda questão – Para você professor, quais as dificuldades e preocupações frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo avaliativo? – são mostrados a seguir na tabela 2: Tabela 2 – Dificuldades e preocupações frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo avaliativo Afirmações/categorias A) Cumprir programas extensos de sua disciplina ainda não suficientemente justificados B) Lidar com o diferente, ou seja, não saber agir diante de um aluno com piercing, cabelos compridos, tatuagens, etc. C) A situação dos professores que oriundos de várias disciplinas e com compromissos em diferentes escolas não chegam a formar Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 C 68% D 21% I 11% 20% 75% 5% 80% 10% 10% 219 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 uma equipe com objetivos comuns e com proximidade que permita a troca de experiências e de vivências FONTE: Autoria própria (Dados de Campo, 2014). Analisando a tabela 2, observa-se que: Para a afirmação/categoria A, a maioria dos professores (68%) concorda que cumprir programas extensos de sua disciplina ainda não suficientemente justificados constitui uma dificuldade e preocupação no processo avaliativo, enquanto que 21% discordam e 11% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria B, a maioria dos professores (75%) discorda que lidar com o diferente, ou seja, não saber agir diante de um aluno com piercing, cabelos compridos, tatuagens, etc. constitui uma dificuldade e preocupação no processo avaliativo, enquanto que 5% ficaram indecisos e 20% deles concordaram com a afirmação/categoria B. Para a afirmação/categoria C, a maioria dos professores (80%) concorda que a situação dos professores que oriundos de várias disciplinas e com compromissos em diferentes escolas não chegam a formar uma equipe com objetivos comuns e com proximidade que permita a troca de experiências e de vivências constitui uma dificuldade e preocupação no processo avaliativo, enquanto que 10% discordam e 10% ficaram indecisos. Fazendo-se uma análise geral da percepção dos professores em relação à segunda questão e seus resultados, nota-se que a maioria deles concorda com os elementos presentes nas afirmações/categorias A e C, ou seja, a avaliação perpassa por algumas dificuldades e preocupações no espaço escolar, entre elas, respectivamente, o excesso de conteúdos que faz parte do programa das disciplinas e a rotatividade dos professores. Infere-se a partir dos resultados supramencionados que, embora se apresente ao professor inúmeras dificuldades e preocupações perante o intrincado processo avaliativo, é necessária a consolidação de uma nova cultura da avaliação focada principalmente no sucesso de todos os alunos, bem como vinculada ao trabalho integrado e coletivo do corpo docente. Enquanto, os resultados da terceira questão – Para você professor, qual(is) o(s) instrumento(s) e procedimento(s) de avaliação mais utilizado(s)? – são mostrados a seguir na tabela 3: Tabela 3 – Instrumentos e procedimentos de avaliação mais utilizados Afirmações/categorias A) Provas escritas B) Trabalhos de pesquisa C) Elaborar seminários e debates C 90% 60% 53% D 5% 35% 47% I 5% 5% 0% FONTE: Autoria própria (Dados de Campo, 2014). Analisando a tabela 3, observa-se que: Para a afirmação/categoria A, a maioria dos professores (90%) concorda que provas escritas constituem os instrumentos de avaliação mais utilizados, enquanto que 5% discordam e 5% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria B, a maioria dos professores (60%) concorda que trabalhos de pesquisa constituem os instrumentos de avaliação mais utilizados, enquanto que 35% discordam e 5% ficaram indecisos. Para a afirmação/categoria C, a maioria dos professores (53%) concorda que elaborar seminários e debates constituem os instrumentos de avaliação mais utilizados, enquanto que 47% discordam e nenhum ficou indeciso. Fazendo-se uma análise geral da percepção dos professores em relação à terceira questão e seus resultados, nota-se que a maioria deles concorda com os elementos presentes nas Vivências. Vol. 11, N.20: p.214-222, Maio/2015 220 Vivências: Revista Eletrônica de Extensão da URI ISSN 1809-1636 afirmações/categorias A, B e C. Porém, em relação ao percentual de concordância, há uma sinalização de que a maioria dos professores (90% para A) ainda está “presa” às provas escritas, ou seja, um tipo de avaliação que, em sua maioria, torna-se classificatória, seletiva e reforça uma cultura de avaliação que visa a mais “premiar e punir”. Já, a concordância, não tão expressiva para as afirmações/categorias B (60%) e C (53%) demonstra que os professores precisam se atualizar e buscar instrumentos de avaliação mais voltados a uma perspectiva integral do aluno com ênfase para a construção de sua autonomia, de sua cidadania, de sua solidariedade e de sua responsabilidade social. Para tal, é necessário o comprometimento de todos os profissionais da educação nas atividades que estão sendo desenvolvidas no dia a dia da sala de aula. CONCLUSÕES Diante das constatações percebidas pelos professores da escola estadual de ensino médio Érico Veríssimo, os resultados demonstram que a maioria deles concorda que ao avaliar há elementos que devem ser considerados para uma reflexão consistente sobre a avaliação da aprendizagem, entre eles: os objetivos de formação (80%); os métodos e procedimentos do professor (84%); a situação social dos alunos (47%); as condições e meios de organização do ensino (63%); os requisitos prévios que tem o aluno para assimilar conteúdos novos (68%); as diferenças individuais (69%); o nível de desenvolvimento intelectual (84%); e, as dificuldades de assimilação devidas às condições sociais, econômicas, culturais adversas dos alunos (84%). Destaca-se também, entre os resultados, que, apesar das dificuldades e preocupações expostas pelos professores frente às relações que se estabelecem na sala de aula e no contexto educacional em relação ao processo da avaliação da aprendizagem, é necessário que estes profissionais consolidem uma nova cultura de avaliação, vinculada principalmente ao trabalho de natureza coletiva, compartilhada e solidária entre eles. É importante frisar que a opinião a favor, não tão marcante e nem tão grande, apresentada pelos professores em relação aos instrumentos e procedimentos de avaliação – trabalhos de pesquisa (60%) e elaboração de seminários e debates (53%) – leva a crer que a percepção por eles representada indica pouca possibilidade de práticas avaliativas inovadoras, reafirmando vários aspectos problemáticos do processo de avaliação. Ressalta-se, desta forma, que embora a avaliação seja um componente essencial do processo ensino/aprendizagem e do processo curricular, poucos professores estão preparados para esta tarefa. Considerando as complexidades que permeiam o processo de avaliação da aprendizagem, acredita-se que identificar e medir as opiniões e percepções dos professores pode trazer importantes elementos de reflexão sobre esta temática. Assim, é importante também ressaltar que a busca por instrumentos que ampliam essa reflexão crítica sobre a prática da avaliação da aprendizagem é encontrada principalmente em processos de formação continuada de professores como o que foi explanado na introdução desse artigo. REFERÊNCIAS BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Formação de professores do ensino médio, etapa I caderno VI: avaliação no ensino médio/Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica; [autores: Ocimar Alavarse, Gabriel Gabrowski]. – Curitiba: UFPR/Setor de Educação, 2013. 58p. CHIZZOTTI, A. 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