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Planejamento Escolar na perspectiva democrática
Marta Leandro da Silva
De onde vem a idéia do Planejamento?
A idéia de planejamento acompanha o homem em seu próprio processo de
humanização uma vez que o ato de planejar está associado à organização de uma
determinada ação. Desse modo, cabe dizer que, como prática humana, o planejamento é
anterior à idéia de escola.
Refletir sobre a trajetória histórica do planejamento implica reconhecer que a
atividade
de
planejar
é
essencialmente
humana,
demandando
reflexão
e
intencionalidade. Diferentes conceitos e práticas de planejamento encontram-se
intrinsecamente vinculados à categoria trabalho em suas múltiplas configurações e às
diferentes formações sociais. Nesse sentido o planejar remete à própria evolução
humana e o processo civilizatório.
Há importantes pesquisadores que investigam e analisam a trajetória do
conceito de planejamento, entre eles cita-se Albers Gerd (1972) que distingue três fases
do planejamento, interligadas à trajetória do desenvolvimento técnico-científico e
tecnológico.
No
início
do
processo
civilizatório
o
homem
preocupava-se,
prioritariamente, com as questões técnicas, focadas no domínio e modificação da
natureza. Nesta primeira fase, a ênfase está no como fazer as coisas e na busca imediata
de soluções satisfatórias para as suas necessidades primárias. Há, portanto, a clara
atribuição do planejamento como instrumental para facilitar ações.
Numa segunda etapa evolutiva do planejamento a ênfase passa do aspecto
prático/técnico, instrumental para focar a elaboração de quadros teóricos de referências,
buscando interpretar as emergentes necessidades e aspirações humanas. Nessas
circunstâncias o planejamento recebe contributos de diferentes áreas do conhecimento
(da sociologia; da política; da economia; da antropologia; da psicologia), sendo o
pensado à luz de diferentes dimensões, aspectos e linhas teóricas.
A terceira fase, ora emergente, caracteriza-se pela compreensão de que o
planejamento é aberto às finalidades do homem, mas também requer do planejador a
consciência dos fatores interdependentes que afetam o ato de planejar. Assim,
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consciência e intencionalidade, participação e responsabilidade se tornam termos-chave
dentro de uma nova visão de planejamento.
Em contextos histórico-sociais, técnico-científicos e político-econômicos
diversos observamos diferentes formas de transposição e ou adaptação das teorias
administrativas para o campo educacional. Esse é, contudo, um processo repleto de
embates, contradições e tensões e, conforme Vasconcellos (2000 p. 27), explica porque
a sistematização do planejamento se dá fora do campo educacional, estando ligada ao
mundo da produção ( I e II Revoluções Industriais) e à emergência da ciência da
Administração, no final do século XIX.” Neste campo de saber são emblemáticos os
nomes do americano Taylor (1856-1915) e do francês Fayol (1814-1925).
É, portanto, imprescindível reconhecer a relevância e a complexidade dos
estudos e pesquisas no campo da gestão educacional (escolar) que abarcam as diferentes
concepções e práticas de planejamento. Vale ainda destacar os embates e as
equivocadas tentativas de transposição dos conceitos e práticas de planejamento no
campo da administração/gestão de empresas para o campo educacional. O desafio é
pensar na especificidade do conceito de planejamento no campo educacional e na
reflexão quanto às implicações de transposições lineares não reflexivas de teorias e
práticas de planejamento não condizentes com os fins da educação e o papel social das
escolas.
Azanha (1993, p.70-78) traz um aspecto importante das teorias do planejamento
que merece ser debatido. Para ele, embora haja certa ambigüidade no conceito e mesmo
a ausência de teorias de planejamento, não há dúvidas sobre a necessidade de o
planejador reunir informações e conhecimentos sobre a realidade que pretende
modificar. Veja o que ele escreveu:
o significado do termo planejamento é muito ambíguo, mas no seu trivial
compreende a idéia de que sem um mínimo de conhecimentos das
condições existentes numa determinada situação e sem um esforço de
previsão das alterações possíveis dessa situação, nenhuma ação de
mudança será eficaz e eficiente, ainda que haja clareza a respeito dos
objetivos dessa ação. Nesse sentido trivial, qualquer indivíduo
razoavelmente equilibrado é um planejador. [...] Não há uma ciência do
planejamento, nem mesmo há métodos de planejamento gerais e
abstratos que possam ser aplicados à variedade de situações sociais
independentemente de considerações de natureza política, histórica,
cultural, econômica etc. (AZANHA, 1993 p.70-78).
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Vasconcelos (2000) explica que é por essa razão que ao analisarmos a história da
educação escolar, percebemos que, de acordo com cada contexto sócio-políticoeconômico-cultural, diferentes concepções do processo de planejamento orientaram os
educadores.
Atualmente, no campo dos estudos sobre planejamento, identificamos três
tendências/enfoques: o gerenciamento da qualidade total; o planejamento estratégico e o
planejamento participativo.
No Brasil, quanto ao aspecto histórico as autoras Sant’Anna; Enricone; André;
Turra revisitam os enfoques modernos de planejamento denominados: planejamento
normativo e planejamento participativo. Para as referidas autoras são diversas as
questões que podem ser levantadas sobre as teorias e práticas do planejamento
educacional. Elas colocam em discussão a relevância, no âmbito da educação, de um
conceito racional e técnico de planejamento, adaptado das teorias de administração de
empresas, indagando: “de que modo ajustar ideais e idéias educativas a conceitos de
eficiência e eficácia, mais condizentes com a construção de pontes, empresas
automobilísticas etc. que se orientam por outras finalidades?” (1986, p. 272).
Na trajetória histórica do planejamento é possível destacar, segundo MCGuinn
(1980), dois enfoques: o planejamento normativo ou racional e o planejamento
situacional, interativo, participativo.
A grosso modo o planejamento normativo é caracterizado pelo caráter
determinístico sendo assim denominado porque está situado na ótica da prescrição de
formas de ação dentro de uma programação mais fechada e pré-ativa.
O planejamento participativo recebe variadas denominações, sendo uma delas o
planejamento interativo ou situacional, assim concebido, porque “as organizações são
manejadas por pessoas, cuja percepção do que é possível e desejável depende da
situação em que são colocadas.[...] o planejamento é interativo no sentido de que a
organização (e as pessoas que nela atuam) é o sujeito do plano e, na busca de seus
objetivos, ela própria se modifica e encoraja transformações (também das pessoas)”.
(SANT’ANNA, ENRICONE, ANDRÉ e TURRA, 1986, p. 275).
Nesta sala ambiente destacaremos a concepção de planejamento participativo
concebido, segundo Cornely (1977), como sendo um processo político, um contínuo
propósito coletivo, de reflexão e amplo debate a fim de deliberar sobre a construção do
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futuro da comunidade contando com a participação do maior número possível de
membros das categorias que a constituem.
O planejamento participativo no âmbito da escola implica reavivar
continuamente o processo de reflexão e ação da coletividade ( da comunidade escolar).
Implica ainda a busca da identidade institucional, ou seja, da identidade construída e
reconstruída pela coletividade.
É por isso que o Planejamento Participativo passa a ter, então, “ um conjunto de
instrumentos técnicos a serviço de uma causa política.Seu escopo é obter a participação
co-responsável e consciente das maiorias a favor de mudanças estruturais. A coresponsabilidade dessas maiorias atinge também o processo decisório. A serviço dessas
decisões, e buscando atingir seus objetivos de maneira mais rápida, racional e eficaz, é
que se colocam as técnicas de planejamento” (VIANNA, 1977, p.38). Nesta forma de
planejamento fica explícito o que é a planificação participativa.
A seguir apresentamos um quadro comparativo entre os enfoques do
planejamento normativo e do planejamento participativo elaborado pelas autoras
SANT’ANNA; ENRICONE; ANDRÉ; TURRA (1986, p.275- 277)
Quadro I – COMPARAÇÃO ENTRE OS ENFOQUES RACIONAL E PARTICIPATIVO DE PLANEJAMENTO
REFERÊNCIAS
FATORES
CONTEXTUAIS
ENFOQUE RACIONAL
ENFOQUE PARTICIPATIVO OU
OU NORMATIVO
SITUACIONAL
• Secularização do conhecimento
• Visão crítica do conhecimento.
• Diversificação da estrutura econômica e
• Complexidade crescente das estruturas
racionalização do trabalho.
• Importância crescente da burocratização
do trabalho
• Aplicação da ciência ao cotidiano,
conhecidas como tecnificação
• Disciplinaridade (especialização)
• Pressões externas para o
desenvolvimento (de cima para baixo)
sociais e econômicas.
• Questionamento da organização
burocrática do trabalho
• Revisões e rupturas no pensamento
científico determinando novas formas de
aplicação
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PRESSUPOSTOS
PRINCIPAIS
(FILOSÓFICOS E
EPISTEMOLÓGICOS)
• Realidade concreta com certa
• Realidades teóricas a serem comprovadas
estabilidade, governada por leis
no real, na ação concreta.Fenomenologia
inteligíveis. Racionalismo e positivismo.
e materiaslismo dialético.
• A mudança é determinada pelas
possibilidades existentes. Princípio da
causa e efeito.
• O homem necessita de prescrições e
normas para regular suas ações.
• Racionalidade, objetividade,
• A mudança é dependente das pessoas e
das tendências em jogo
• O home é capaz de elaborar normas para
regular suas ações.
• Totalidade, diversidade, aceitação da
subjetividade; inter-subjetividade.
neutralidade
• Ciência como produto ( a bsuca do certo,
BASES CIENTÍFICAS
ÊNFASE
do provável)
• Convivência com o risco e a incerteza
• Investigação ( estratégia quantitativa)
• Investigação ( estratégia qualitativa)
• Planejamento como instrumento ou
• Planejamento como processo transacional
método de eficiência administrativa.
e atitudinal para desenvolvimento das
pessoas e das organizações
• Prescrições nos conteúdos das decisões
(o que, como fazer), independente de
PROCESSUAL
como construção e reconstrução)
• Diminuição do risco e da incerteza
CONCEITUAL
ÊNFASE
• Ciência como processo de conhecimento (
valores e da motivação das pessoas (nas
sociedades tradicionais)
• Preocupação pelo processo de seleção
(sociedades industriais, tanto capitalistas
como socialistas)
• Método racional (linearidade das etapas)
• Conciliação de idéias de planejamento,
liberdade e participação (fazer conjugado)
• Preocupação com a adaptação rápida às
mudanças, com os conflitos interpessoais
e sociais.
• Motivação e conscientização de todos os
envolvidos.
• Caráter mais ético que racional do
processo (compromisso e
responsabilidade das decisões)
• Solução de problemas, metodologia
heurística e participante.
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• Definição de objetivos (a partir das
FUNCIONALIDADE
• Objetivos formulados de modo
fontes políticas e institucionais ou por
participativo e diversificado, mais com
diagnósticos de necessidades)
base em feedback do que em diagnóstico
• Confronto entre situação idealizada e a
real, para seleção de meios ou
alternativas de ação.
de necessidades
• Revisão crítica e questionamento dos
objetivos
• Implementação das alternativas e
acompanhamento
• Avaliação de resultados, baseada em
normas
PLANEJADOR
•
Técnico ou perito, cuja preparação
• Profissional consciente da influência de
exige “objetividade” científica para a
suas próprias decisões, cuja preparação
tomada de decisão; conhecimento e
envolve conhecimento das complexas
domínio de estratégias e técnicas
interações entre pessoas e das
específicas
interdependências de fatores socais
diversos.
Ao analisarmos o quadro acima constatamos que o Planejamento Normativo
Tradicional (PNT) é marcado pela concepção tecnocrática e economicista. Conforme
esclarecem Vieira e Albuquerque (2001) este tipo de planejamento fundamenta-se na
ação instrumental do modelo positivista. Esta concepção de planejamento origina-se nas
primeira décadas do século XX, na antiga União Soviética, expandindo-se logo após a
Segunda Guerra Mundial para os países capitalistas.
Na América Latina, a expansão da concepção de planejamento normativo
tradicional ocorre por meio da Conferência de representantes dos países latinoamericanos realizada em Punta del Este, em 1961. Segundo Vieira (1999) o surgimento
deste enfoque vincula-se à Aliança para o Progresso e a sua exigência de projetos de
desenvolvimento econômico e social para a concessão de financiamentos.
No Brasil, é a partir da Segunda Guerra Mundial que as práticas
governamentais passaram a incorporar o enfoque do planejamento normativo tradicional
na condução da política econômica, então, concebido conforme Ianni (1996), como uma
técnica racionalizada de organização das informações.
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A esse respeito as autoras Vieira e Albuquerque (2001) esclarecem que é
somente a partir da ditadura militar que o planejamento é de fato instituído como
sistemática governamental, conforme formalizado pelo Decreto-Lei nº 200/67.
Neste momento histórico do contexto brasileiro podemos observar o fomento
das diferentes formas de financiamento internacional e ao planejamento direcionado ao
desenvolvimento econômico, culminando com a elaboração e implantação de planos e
programas setoriais e regionais, com destaque : os Planos Setoriais da Educação e os
Planos Nacionais de Desenvolvimento.
Diante das circunstâncias acima descritas surge um novo enfoque denominado
Planejamento Estratégico (PE) em resposta aos limites do campo de ação do
planejamento normativo tradicional. Ao lidar com as incertezas o planejamento
estratégico comporta duas vertentes intituladas de Planejamento Estratégico Corporativo
(PEC) e Planejamento Estratégico-Situacional (PES) que visam abrir espaços para
diferentes formas de sistematização das ações.
O planejamento estratégico corporativo está centrado nos problemas
característicos e peculiares das grandes corporações privadas e visa atender às
demandas da economia. Neste enfoque a sistematização das ações surge da identificação
e enumeração de possibilidades e alternativas para o enfrentamento do concorrente, ou
seja, do fortalecimento da competição empresarial, com a identificação da capacidade
de previsão e de orientação das ações futuras. Este enfoque situa-se predominantemente
no campo empresarial, contudo constata-se também a necessidade de um tipo de
planejamento focado para as práticas governamentais, surgindo o Planejamento
Estratégico Situacional (PES), enfoque proposto por Matus (1996). Assim, o referido
autor esclarece que partindo-se do entendimento de que a realidade comporta variáveis
políticas e não apenas econômicas esta concepção de planejamento, pensada para
dirigentes políticos, “ no governo ou na oposição, pode ser aplicada a qualquer órgão
cujo centro do jogo não seja exclusivamente o mercado, mas o jogo econômico, político
e social” (MATUS, 1996, p. 354). Outra característica a ser destacada na própria
nomenclatura do Planejamento Estratégico-Situacional é a ênfase conferida à categoria
situação. As autoras Vieira e Albuquerque ( 2001, p.36) identificam o deslocamento da
“ centralização para o exercício da descentralização; do reducionismo econômico para a
inclusão das demais variáveis sociopolíticas; do autoritarismo para a participação. A
idéia de governabilidade é aqui compreendida como uma relação entre as variáveis que
o ator controla e as que não controla no processo de governo[...]”
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Assim, constata-se uma mudança de foco do planejamento normativo
tradicional para o planejamento estratégico. Embora esta corrente de planejamento
tenha adquirido grande destaque, inclusive, na formulação das políticas governamentais
focalizando questões estratégicas é necessário atentar-se para as limitações que
engendra no processo de participação da coletividade no âmbito do planejamento
escolar. Para maior aprofundamento dos estudos sugerimos a leituras das obras de
Matus (1996) versando sobre o Planejamento Estratégico.
Outro enfoque de planejamento advindo do campo empresarial que ganha
destaque nas últimas décadas do século XX é denominado Planejamento no
Gerenciamento da Qualidade Total (CGT). No campo da teoria de administração o
conceito de qualidade total abarca elementos de diversos modelos e teorias
organizacionais caracterizando-se pelo seu caráter híbrido e pela amplificação de sua
área de implementação seguindo linguagem e metodologias próprias.
A implementação deste enfoque de planejamento no campo educacional tem
gerado inúmeras implicações e equívocos decorrentes de uma tentativa de transposição
linear que desconsidera o papel social da escola e a especificidade da dinâmica
organizacional da escola e de seus diferentes protagonistas. A respeito do
esclarecimento quanto aos diferentes enfoques de planejamento e a sua vinculação com
a política educacional sugerimos para leitura o livro denominado “Política e
Planejamento educacional”, de autoria de Sofia Lerche Vieira e Maria Gláucia Menezes
Albuquerque. Veja referência completa na bibliografia.
Por fim, evidenciamos que a cada momento histórico um tipo de planejamento
é proposto em função das concepções de sociedade, homem, de educação e de projeto
de formação que se coloca para a escola e seus agentes. E, assim, lidamos, na condição
de professores, coordenadores etc., com a discussão sobre planejamentos e a elaboração
de programas, projetos e planos da escola e do ensino. Como nos dizem os fragmentos
de texto da Sala Ambiente - Planejamento e Práticas da Gestão Escolar, de autoria de
Marcelo Soares Pereira da Silva, da Escola de Gestores da Educação Básica:
Em diferentes momentos e lugares em que a educação se desenvolve somos
solicitados a apresentar algum tipo de documento que expresse o
planejamento do trabalho a ser desenvolvido. Seja a proposta pedagógica da
escola, o projeto político-pedagógico da instituição, o plano de curso, o
plano de aula, enfim, a necessidade de se trabalhar de forma planejada
sempre foi uma constante e continua fortemente presente no interior da
escola. Também, no âmbito dos sistemas de ensino encontramos a demanda
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pelo planejamento do trabalho a ser desenvolvido, desde o Plano Nacional
de Educação com suas metas e diretrizes, até os planos elaborados pelos
sistemas de ensino nos estados e municípios.
Dessa maneira, em nosso cotidiano, em nosso fazer pedagógico tomamos
decisões e desencadeamos um processo de reflexão sobre as ações que necessitamos
desenvolver para alcançarmos os objetivos que definimos, utilizando, de forma mais
adequada, os recursos existentes. Também definimos meios para que as metas e
objetivos sejam possíveis de realização. As nossas necessidades em co-relação com a
nossa realidade é sempre o ponto de partida rumo ao ideal que desejamos alcançar!
Relembrando...
Em vários momentos de sua formação você já deve ter lido e discutido
sobre o que a legislação de ensino no Brasil nos fala sobre
planejamento.
Dessa forma, sabemos que, por exemplo, uma das inovações trazidas pela atual
LDB 9394/96 é a de que esta lei determina, em seu artigo 12º, como incumbência dos
estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e do sistema de ensino, nos
incisos:
I - Elaborar e executar sua proposta pedagógica; e
VI - Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de
integração da sociedade com a escola. Nestes termos, a LDB consagra o direito e o
dever da escola de elaborar e implementar a sua Proposta Pedagógica. A Proposta
Pedagógica assume a multidimensionalidade enquanto instrumento de construção de
identidade institucional e pedagógica da coletividade, que pressupõe a definição de uma
determinada concepção de educação, de homem-mundo e de trabalho, assim como a coresponsabilização pela práxis sócio-educativa. A Proposta Pedagógica configura-se na
legislação como um canal de participação e instrumento de viabilização da Gestão
Democrática requerendo a participação dos profissionais da educação e o diálogo com a
comunidade escolar e extra-escolar
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Os Dispositivos do Planejamento escolar e a prática pedagógica
A idéia de planejamento está associada ao que desejamos realizar, transformar e
até mesmo manter. Isto porque as “concepções sobre planejamento tanto podem estar
ligadas a ideais de transformação como às de manutenção de realidades ou situações
existentes”. (SANT’ANNA, ENRICONE, ANDRÉ e TURRA, 1986, p.273) . Contudo,
de modo geral a idéia de planejamento está muito mais vinculada aos propósitos de
transformação de uma dada realidade.
Assim, o planejamento escolar é também um processo reflexivo. Contudo, a
reflexão exigida no planejamento conduz
nosso olhar para a realidade da escola.
Realidade física, cultural, pedagógica, social e política. É importante que, para o alcance
dos objetivos estabelecidos no planejamento, não descuidemos da idéia de que o
planejamento é também um ato político. Nesse sentido, a apreensão da escola em sua
singularidade, a reflexão em torno das práticas pedagógicas e do compromisso social da
escola pública são atitudes essenciais dos diversos sujeitos que interagem como
protagonistas na dinâmica organizacional das instituições escolares.
Concebemos o planejamento como instrumento teórico-metodológico para a
intervenção na realidade. Dessa forma, o planejamento é imprescindível à ação
educativa e ao fazer pedagógico. Vasconcelos (2000, p.63) define o planejamento
“enquanto construção-transformação de representações é uma mediação teóricometodológica para a ação, que, em função de tal mediação, passa a ser consciente e
intencional”.
Nessa perspectiva, é importante que a reflexão acerca escola contemple três
dimensões: a realidade (onde estamos); os fins (onde queremos chegar ou que
desejamos alcançar); e a mediação ( como iremos alcançar o desejado ou de que forma
iremos chegar lá). Sua estrutura básica é composta por três dimensões: análise da
realidade (AR); projeção de Finalidades (PF) e elaboração das formas de mediação
(FM). (Vasconcellos, 2000).
São muitos os pesquisadores brasileiros que estudam o conceito e as
práticas de planejamento.Assim, há diversas definições de planejamento concebido
como atividade essencial e exclusivamente humana. A respeito do planejamento
educacional no Brasil e na América Latina indicamos a leitura das pesquisas de
Gentilini (vide referências).
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Desse modo, o planejamento no campo educacional comporta
diferentes níveis e aspectos: a) no macro-contexto das políticas educacionais temos o
conceito de planejamento educacional referindo-se ao planejamento dos sistemas de
ensino e de suas redes; b) no âmbito das instituições escolares temos o conceito de
planejamento escolar referindo-se à organização da escola, dos tempos e espaços
escolares; c) no âmbito do currículo temos o planejamento curricular referindo-se às
formas de reflexão e organização de temáticas, disciplinas em seus diversos campos de
conhecimento; d) no âmbito do ensino temos ainda o planejamento elaborado pelo
professor (plano docente ou plano de trabalho docente) que compreende os conteúdos
programáticos, objetivos e os procedimentos metodológicos e avaliatórios, bem como
os recursos e materiais didático-pedagógicos.
Veja !!
O
planejamento
educacional
compreende
diferentes níveis :
A- no âmbito dos Sistemas e de Redes de ensino;
B- no âmbito da Unidade Escolar e
C- no âmbito das atividades de ensino.
Finalidade do Planejamento escolar
Enquanto mediação teórico-metodológica o planejamento tem por finalidade “
fazer algo vir à tona, fazer acontecer, concretizar, e para isto é necessário ‘amarrar’,
‘condicionar’, estabelecer as condições – objetivas e subjetivas – prevendo o
desenvolvimento da ação no tempo (o que vem primeiro, o que vem em seguida), no
espaço (onde vai ser feita), as condições materiais (que recursos, materiais,
equipamentos serão necessários) e políticas (relações de poder, negociações, estruturas),
bem como a disposição interior (desejo, mobilização), para que aconteça.”
(VASCONCELLOS, 2000, p.79)
Esta perspectiva de análise implica conceber o planejamento enquanto processo
de reflexão e de tomada de decisão. Assim, quando falamos de planejamento referimo-
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nos a um processo, contínuo e dinâmico, portanto, permanente. Por isso é importante
distinguir os conceitos de planejamento e plano.
O plano é um produto refere-se a um determinado momento do planejamento.
Enquanto que o planejamento é o processo contínuo, dinâmico que incita uma
determinada intervenção na realidade, contudo, para fazermos esta intervenção (e ou
transformação) necessitamos definir objetivos, metas e plano de ação.
Podemos definir o objetivo como “ a expressão de uma necessidade humana que
só se satisfaz atingindo-se o resultado que aquele prefigura ou antecipa. Por isto, não se
trata apenas de antecipação ideal do que está por vir, mas sim de algo que, além disso,
queremos que venha” (VÁSQUEZ 1977, p.191)
No intento de realizar o que planejamos muitas vezes vivenciamos um processo
de constantes aproximações. No planejamento fazemos mediações entre o real e o ideal
(realidade e finalidade) identificamos então uma dada realidade (ou representações que
fazemos dela) com vistas à sua transformação.
Na perspectiva da gestão democrática o planejamento escolar caracteriza-se pelo
seu caráter interativo/dialógico e flexível tendo por finalidades: a) orientar o processo de
tomada de decisão e da execução dos objetivos e metas estabelecidas pela comunidade;
b) fazer a retroalimentação do sistema de informação oferecendo subsídios para o
redirecionamento/replanejamento das ações; c) otimizar os diferentes usos e realocações
de recursos materiais, financeiros, humanos; d) viabilizar alternativas/estratégias para o
estabelecimento do fazer pedagógico-organizacional a curto, médio ou longo prazo); e)
visualizar a instituição escolar em sua totalidade considerando o enfoque holístico e os
fatores interdependentes e suas relações; e) viabilizar as estratégias de inovação e de
mudança cultural nos espaços organizacionais.
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Para pensar....
Observações sobre o Papel do Coordenador no planejamento escolar.
•
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•
•
Sabemos que não é fácil a construção coletiva! É uma construção complexa,
assim, é preciso que os objetivos resultem da reflexão e definição coletiva da
comunidade escolar ; o coordenador enquanto mediador e articulador do diálogo
pode contribuir muito na explicitação destes objetivos.
O planejamento participativo é responsabilidade coletiva!
A coordenação pedagógica deve considerar as diferenças e a diversidade cultural
do grupo. A forma de trabalho deve responder as questões centrais de cada
escola, e, assim, coletivamente, define-se o caminho para efetivação de seus
projetos.
No planejamento escolar é preciso considerar os processos comunicativos
constituidores do espaço escolar. Veja, no futuro, as discussões que serão
apresentadas nas salas ambientes – Currículo, Cultura e Conhecimento Escolar e
Práticas e espaços de Comunicação na escola e não deixe de articular com as
discussões sobre o planejamento na escola.
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Planejamento Escolar na perspectiva democratica