Instruções para a elaboração de relatórios no âmbito das disciplinas Química Geral e Experimental I e II Prof. Fabricio R. Sensato Fevereiro, 2005 Um dos objetivos de ensino de uma disciplina experimental introdutória é ensinar a redigir relatórios. A redação de comunicações tecno-científicas é uma tarefa rotineiramente realizada por um engenheiro. Paradoxalmente, é bem sabido que a maior parte destes profissionais se sente muito mais à vontade desenvolvendo suas atividades que reportando seus resultados e d e s c o b e r t a s . I s t o é particularmente preocupante pois, em certos casos, um relatório mal escrito suscita dúvidas quanto à capacidade profissional do engenheiro e quanto à fidedignidade dos dados e conclusões reportados. A seguir, são dadas algumas orientações sobre a redação de relatórios científicos, que devem ser seguidas na elaboração dos relatórios referentes às experiências realizadas ao longo do semestre no âmbito das disciplinas Química Geral e Experimental I e II. Outrossim, a leitura das referências arroladas no final deste texto é, enfaticamente, encorajada. Frases bem construídas são simples e sucintas. Elas são fáceis de serem lidas e compreendidas. Escreva com a preocupação de tornar fácil a leitura. Frases longas e complicadas podem ser indício de que o autor não pensou suficientemente no que desejava dizer. Reveja as frases longas que forem de leitura difícil ou desdobre-as em várias, mais curtas. Palavras desnecessárias não fazem senão perturbar, distrair e aborrecer o leitor. O uso da linguagem coloquial e de gírias não é apropriado para um texto tecno-científico. Habitue-se a escrever um relatório com um dicionário e uma gramática à mão. Não procure palavras sofisticadas e construções eruditas, mas sim as palavras mais adequadas e construções objetivas e sucintas. E m g e r a l , u m r e l a t ó r i o é c o m p o s t o d e s e t e s e ç õ e s : título, resumo, introdução, procedimento experimental, resultados e discussão, conclusões e Centro Universitário Fundação Santo André, 2005 2 referências. Embora, a rigorosa seleção dos elementos que devem figurar em cada seção seja usualmente uma prerrogativa da parte interessada no relatório, algumas diretrizes consensuais são sumariadas abaixo (consulte seu professor, ele pode desejar explorar outros aspectos no relatório) • Título O título deve ser conciso e deve dar clara indicação do assunto e da intenção do trabalho. Deve, ainda, refletir a ênfase e o conteúdo do relatório. • Resumo Consiste na apresentação concisa dos pontos relevantes e informa, de maneira clara e sintética, a natureza do trabalho (o que foi realizado, desenvolvido, examinado, etc), os principais resultados e descobertas e as conclusões mais relevantes. O resumo deve ser redigido com grande cuidado porque, em geral, a maioria dos leitores se limita a examinar os títulos dos trabalhos e os correspondentes resumos. É preciso que seja completo, interessante e informativo, de tal sorte que dispense consulta ao resto do relatório para que o leitor saiba de que se trata. No entanto, deve ser o mais curto possível (em geral, menos de 200 palavras). O resumo é mais fácil de ser escrito após a seção Resultados e Discussão estar concluída. As frases devem ser curtas e objetivas. Não devem ser incluídas informações, idéias e asserções que não constem do relatório. Para o experimento 1 (Bico de Bunsen e técnicas de aquecimento, Química geral e experimental I), o resumo poderia assumir a seguinte forma: “O manejo e a aplicabilidade do bico de Bunsen, bem como do banho de areia, no aquecimento de substâncias químicas foram examinados. A prévia mistura de ar e oxigênio no tubo do bico de Bunsen é essencial para se obter uma chama não luminosa sem vestígios de fuligem. O bico de Bunsen é utilizado eficientemente para o aquecimento de substâncias não inflamáveis acondicionadas em béqueres, tubos de ensaio e em cadinhos de porcelana, enquanto o banho de areia é adequado para processos em que um aquecimento uniforme é desejado”. Centro Universitário Fundação Santo André, 2005 3 • Introdução A seção introdução deve situar o experimento em um contexto apropriado, ou seja, deve fornecer uma clara apresentação do problema/tópico focalizado que justifique a realização do experimento. Os objetivos do experimento são, então, enunciados. A introdução deve, ainda, indicar qual a abordagem adotada (estratégia), e o(s) método(s) utilizado(s) para responder ao propósito do experimento. Os princípios fundamentais em que tal abordagem ou método(s) se baseiam podem ser sucintamente apresentados, se necessários para a realização/entendimento do experimento. Opcionalmente, um breve sumário dos resultados pode finalizar a introdução. Uma introdução bem escrita estrutura todo manuscrito/relatório. Para a experiência 1 a seção introdução poderia ser assim: “O aquecimento de substâncias é um procedimento muito comum em laboratórios químicos. Muitos são os sistemas de aquecimento disponíveis. A escolha do sistema apropriado depende de vários fatores como, por exemplo, inflamabilidade da substância a ser aquecida, taxa e temperatura de aquecimento desejadas, entre outros. Neste contexto, o conhecimento das características e aplicabilidade dos principais dispositivos de aquecimento encontrados no laboratório é requerido. Esta experiência teve como objetivo a examinação de vários sistemas de aquecimento empregados rotineiramente em um laboratório químico. As propriedades da chama produzida pelo bico de Bunsen foram examinadas mediante observação das características da queima de um palito de madeira em regiões discerníveis da chama. Líquidos acondicionados em béqueres e em tubos de ensaio foram aquecidos com a chama de um bico de Bunsen, enquanto uma solução de cloreto de sódio, contida em uma cápsula de porcelana, foi concentrada empregando-se um banho de areia”. Atenção!!! No âmbito da disciplina Química Geral-Experimental, o objetivo de um dado experimento é duplo: suprir conhecimentos e conferir ao estudante desenvoltura na redação técnico-científica. A confecção do correspondente relatório visa responder, em particular, ao segundo objetivo. Assim, o aluno deve reconhecer que o objetivo didático do experimento não é, necessariamente, aquele que deve figurar na seção “Introdução”. Para efeitos da confecção do relatório, se assume que o estudante seja suficientemente hábil para examinar/realizar o referido Centro Universitário Fundação Santo André, 2005 4 experimento. Isto implica que o excerto dedicado à enunciação do objetivo na seção “Introdução” não tenha uma conotação tão unicamente entusiástica. Assim, não inicie tal excerto com frases como “o objetivo do experimento foi aprender ...”. Ao invés, prefira expressões como “o objetivo do experimento foi examinar/perscrutar/investigar ...” • Procedimento experimental Esta seção deve conter relatos exatos e claros de como foi realizada a experiência, de modo que, baseada nesses relatos, qualquer pessoa com experiência na mesma área possa repeti-la. Deve-se descrever passo a passo como a experiência foi realizada. A forma deverá ser impessoal, usando voz passiva no tempo passado. Cite, ao longo da seção, todos os equipamentos utilizados e forneça suas principais características (volume nominal, por exemplo). Quantidades de reagentes, tais como massa e volume, devem ser explicitamente apresentadas. Detalhes específicos de um particular experimento devem ser apresentados na seção “Resultados e discussão”. Nenhum cálculo, resultado ou discussão deve ser apresentado nesta seção. Para o ensaio “aquecimento de líquidos no copo de béquer” na experiência 1, pode-se ter: “Um béquer de 250 mL contendo 100 mL de água destilada foi colocado em um sistema de aquecimento previamente montado com o bico de Bunsen, o tripé de ferro e uma tela de amianto. O béquer foi aquecido com a chama forte do bico de Bunsen e a temperatura da água foi monitorada com um termômetro” • Resultados e discussão Nesta seção do relatório, os dados coletados na experiência devem ser apresentados, interpretados e discutidos de forma clara, objetiva e concisa. Pode ser útil fazer breve referência a experimentos malsucedidos e tentativas infrutíferas, que fazem parte de qualquer ensaio experimental. Cálculos realizados são também apresentados nesta seção. Reporte todos os valores com o número correto de algarismos significativos. Lembre-se que o número de algarismos significativos não deve exceder a precisão da medida. Um excelente texto sobre a propagação de algarismos significativos (e suas limitações) é aquele escrito por Schwartz (1985). Centro Universitário Fundação Santo André, 2005 5 Indique sempre as unidades usadas nas medidas. Faça uso de gráficos, tabelas e diagramas para apresentação de dados numéricos. Esses elementos devem ser numerados e citados ao longo do texto. Detalhada orientação sobre a confecção e utilização desses elementos em textos tecno-científicos pode ser encontrada nos trabalhos de Barras (1994), Silva et al (1990) e Spector (1994). O relatório deve conter uma única seção “Resultados e discussão”, mesmo se o experimento preceituar a realização de vários ensaios. Para desenvolver a seção “Resultados e discussão” e, eventualmente, a seção “Introdução” use livros textos de ensino superior. Sejacriterioso ao pesquisar n a W e b . Não transcreva para o relatório o conteúdo completo do material bibliográfico pesquisado. Preocupe-s e , a o r e d i g i r e s t a s e ç ã o , e m fornecer informações que darão s u p o r t e a o s r e s u l t a d o s o b t i d o s e correspondentes interpretações e conclusões. • Conclusão Nesta seção, deve-se sumariar os resultados, descobertas e conclusões extraídas do experimento ou de sua interpretação. Não devem figurar nesta seção conclusões que não hajam sido derivadas do experimento ou de sua interpretação diretamente. A seção “Conclusão” deve estar em sintonia com os objetivos prenunciados na seção “Introdução”. • Referências Sempre se deve mencionar, no relatório, as fontes bibliográficas consultadas. Para tal, recomenda-se a utilização das normas para citação bibliográfica recomendadas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas-ABNT. Tais normas podem ser encontradas no manual para a elaboração de trabalhos acadêmicos organizado por Laporta e Zampieri (2003) disponível na biblioteca da Fundação Santo André. Informações pormenorizadas sobre vários aspectos devotados à redação técnico-científica podem ser encontradas nos textos arrolados abaixo: Centro Universitário Fundação Santo André, 2005 6 BARRAS, Robert. Os cientistas precisam escrever: guia de redação parar cientistas, engenheiros e estudantes. Tradução de Leila Novaes e Leônidas Hegenberg. 3. ed. São Paulo: T.A. Queizoz, 1994. 218 p. Título original: Scientists must write: a guide to better writing for scientists, engineers and students. LAPORTA, Marcia Zorello; ZAMPIERI, Marilim Fogo (Org.). Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos. Santo André: Ed. Centro Universitário Fundação Santo André, 2003, 88p. SCHWARTZ, L. M. Propagation of significant figures. J o u r n a l o f C h e m i c a l Education, v. 62, n. 8, p. 693-697, Aug. 1985. SILVA, R. R.; BOCCHI, N.; ROCHA FILHO, R. C. Introdução à química experimental. São Paulo: McGraw- Hill, 1990. THOMAS, S. Writing a scientific manuscript. Journal of Chemical Education, v. 71, n. 1, p. 47-50, jan. 1994. Centro Universitário Fundação Santo André, 2005