Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Conceitos de Eletrônica Após esta introdução de conceitos sobre eletricidade, acessíveis a qualquer um, passaremos a expor alguns pontos, necessários ao melhor entendimento dos fundamentos da eletricidade, aplicáveis à eletrônica. Durante o seu curso o aluno verá muita coisa mais, com bastante aprofundamento. O que expomos aqui bastará para entendermos como funciona os semicondutores de uma forma geral, permitindo até pequenos projetos. É o nosso objetivo. O que faltar aqui será complementado com informações, exemplos e exercícios em sala de aula. Histórico : O estudo da eletricidade iniciou-se na Grécia antiga, quando um pastor percebeu que seu cajado era atraído por uma pedra de âmbar (eléktron em grego ). O estudo do fenômeno comprova a existência das cargas elétricas. Eletricidade : Fenômeno natural do movimento das cargas elétricas. Matéria : Tudo que ocupa lugar no espaço e possui massa. O átomo Para melhor entendimento da energia elétrica e seus fenômenos, procuremos entender primeiro a constituição da matéria. Conforme a teoria atômica, qualquer substância (madeira, ferro, cobre, etc.) é composta de átomos. Portanto, átomo é o elemento básico que constitui a matéria. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Os átomos possuem dimensões reduzidíssimas e são basicamente constituídos de partículas, e segundo a teoria atômica são classificados de: • Núcleo, composto por prótons e nêutrons, é onde se concentra a massa de átomo. • Elétrons, partículas com carga elétrica negativa, que giram em torno do núcleo com alta velocidade. Os prótons possuem carga elétrica positiva, os neutrons possuem carga elétrica neutra e os elétrons possuem carga elétrica negativa. As cargas elétricas iguais se repelem e as cargas elétricas diferentes se atraem. Os elétrons são atraídos pelo núcleo, que tem carga elétrica negativa, porém não chegam a se encostar nele, pois a aceleração centrípeda do elétron cria uma força que se equilibra com a força de atração do núcleo. Se os prótons possuem carga elétrica positiva e o núcleo é formado por prótons, é natural questionar por que não existe uma reação mútua entre eles de forma que se repelissem. Isso não acontece devido aos neutrons, que equilibram a massa do núcleo, evitando tal reação. A figura abaixo ilustra a ação ( campo elétrico ) das forças de ação e repulsão das cargas elétricas : Existem regiões nos átomos onde os elétrons podem se posicionar, que são chamadas camadas. A força de atração do núcleo em relação ao elétron varia conforme distância entre os dois e quanto maior a energia do elétron, maior será sua distância em relação ao núcleo, por Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo isso podemos concluir que as camadas representam também, a quantidade de energia do elétron. Quando o elétron recebe energia (quantum), se desloca para uma camada ou órbita mais externa e quando perde energia (fótons), se desloca para uma camada mais próxima do núcleo. Resumindo, quanto mais afastado do núcleo estiver o elétron, menor será a força de atração entre eles e, consequentemente, quanto mais próximo, maior a força de atração. A camada mais externa do átomo recebe o nome de camada de valência, e o elétron que a ocupa também recebe o nome de elétron de valência ou elétron de condução a até elétron livre. O elétron mais próximo do núcleo recebe o nome de elétron planetário. As cargas elétricas que se deslocam são somente as cargas negativas, sendo que as cargas positivas são estáticas. Seguindo essa relação entre camadas e força de atração, podemos definir os seguintes materiais elétricos : isolantes, condutores e semi-condutores. Condutores : os elétrons mais distantes do núcleo são atraídos muito fracamente, em conseqüência, possuem maior facilidade em se deslocarem para uma órbita mais externa. O elétron da última camada, quando recebe uma quantidade de energia (quantum), em forma de luz, temperatura ou outra, se torna um elétron livre. Resumindo, os elétrons mais distantes do núcleo, em especial os da última camada, têm maior facilidade em se desprenderem do átomo. Como a eletricidade é o movimento das cargas elétricas (negativas), é fácil deduzir que os condutores são os materiais que têm facilidade para permitir o movimento de cargas elétricas. Exemplos de materiais condutores : ouro, prata, cobre alumínio, zinco, etc. O cobre, por exemplo, possui 29 elétrons. Fazendo sua distribuição eletrônica poderemos perceber que na última camada restará apenas 1 elétron, que estará mais distante do núcleo. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Os bons condutores são materiais que têm facilidade em doar elétrons, permitem com facilidade o movimento de cargas elétricas. Isolantes : são materiais que possuem elétrons mais próximos do núcleo. Esses materiais têm dificuldade em permitir o movimento de cargas elétricas. Quando fazemos a distribuição eletrônica de uma material isolante perceberemos que sua camada de valência conterá entre 5 e 8 elétrons. Exemplos de materiais isolantes : borracha, mica, plástico, porcelana, etc. Os isolantes ou mau condutores, são materiais que não permitem o movimento de cargas elétricas, ou permitem com dificuldade. Semi-condutores : são materiais que podem ser isolantes ou condutores dependendo da forma como se interligam. Possuem 4 elétrons na camada de valência. Têm enorme aplicação na eletrônica. Exemplos de semi-condutores : silício, germânio, arsênio, etc. O esquema à seguir resume a relação entre esses materiais elétricos e a quantidade de elétrons em suas camadas de valência. Material N.º de elétrons na camada de valência Condutores 1a3 Semi-Condutores 4 Isolantes 5a8 Íons Os átomos são encontrados na natureza eletricamente equilibrados, ou seja possuem a mesma quantidade de protons e elétrons, esses átomos são chamados átomos neutros. Os átomos que possuem números diferentes de cargas positivas e negativas são chamados íons ou átomos desequilibrados. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Quando um átomo perde um elétron, ele se torna carregado positivamente, sendo denominado íon positivo ou ânion. Quando ganha um elétron, ele se torna carregado negativamente, sendo denominado íons negativo ou cátion. Grandezas Elétricas Tensão e Corrente elétrica Vamos considerar o material equilibrado da figura abaixo. Ao observarmos, notaremos que sua quantidade de elétrons é igual a quantidade de prótons. Causaremos um desequilíbrio elétrico nesse material, por exemplo nos átomos das extremidades. Retiraremos 1 elétron da extremidade da direita e acrescentarmos outro elétron no átomo da extremidade esquerda. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Notemos agora que existirá uma diferença entre os potenciais elétricos do material. A extremidade esquerda estará com uma carga negativa de 1 elétron e a extremidade direita estará com uma carga positiva de 1 elétron. Essa diferença é chamada de d.d.p. – diferença de potencial. Como existe agora a diferença de potencial, e as cargas diferentes se atraem, existirá, então uma força de atração que tenderá a manter o equilíbrio elétrico no material. Essa força é chamada f.e.m. – força eletromotriz. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo O elétron se deslocará, então, até a extremidade que falta um elétron, para manter o equilíbrio elétrico. A diferença de potencial (d.d.p.) e a força eletromotriz (f.e.m.), apesar de serem fenômenos distintos, podem ser considerados como a mesma grandeza : tensão elétrica. Tensão elétrica é a força que impulsiona ou movimenta os elétrons. Ao movimento do elétron em busca de equilíbrio elétrico no material chamamos de corrente elétrica. Corrente elétrica é o movimento ordenado dos elétrons em uma unidade de tempo. A tensão elétrica pode ser comparada a diferença de nível entre a água do dique e a do vale ( diferença de pressão), como mostra a figura abaixo: Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo A corrente a elétrica pode ser comparada com a água que escoa do dique para o vale. Somente haverá fluxo de água se houver um desnível de pressão. Da mesma forma, somente haverá corrente elétrica se houver d.d.p. – tensão elétrica. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo MÚLTIPLOS E SUBMÚLTIPLOS Muitas vezes as unidades de medida das grandezas elétricas são valores grandes ou pequenos demais de forma que se torna necessário a utilização de dos múltiplos ou de submúltiplos da unidade de medida. Os principais múltiplos e submúltiplos que iremos utilizar são identificados a seguir: µ - micro. Ex.: 1µV = 0,000.001V m – mili. Ex: 1mA = 0,001A K – quilo. Ex.: 1KΩ = 1000Ω M – mega. Ex.: 1MV = 1000.000V CONVERSÃO ENTRE OS MÚLTIPLOS E OS SUBMÚLTIPLOS Tabela do Sistema Internacional de Unidades Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo A conversão entre as unidades de medida pode ser feita através de regra de três simples, ou através da regra prática ilustrada a seguir: ÷1000 µ M unidade K M x1000 Na regra acima a cada mudança de unidade multiplicamos ou dividimos por mil conforme a transformação que estamos utilizando. Ex.: para transformamos 5.600mV para KV devemos dividir 5.600 por mil e teremos 5,6V, dividimos novamente por mil e temos então 0,056. Obs.: Existem ainda outros múltiplos e submúltiplos que não iremos utilizar nesse curso, são eles: Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira Nano (n). Ex.: 1nA = 0,000.000.001A Pico (p). Ex.: 1pV = 0,000.000.000.001V Giga (G). Ex.: 1GΩ = 1.000.000.000Ω Tera (T). Ex.: 1TΩ = 1.000.000.000.000Ω 1º Módulo 1a LEI DE OHM “A intensidade da corrente elétrica em um circuito é diretamente proporcional à tensão elétrica e inversamente proporcional à resistência elétrica..” Fórmula decorrente da Lei: I=E/R Equações decorrentes: E=R.I R=E/I 2ª LEI DE OHM “A resistência elétrica de um condutor é diretamente proporcional à sua resistividade e ao seu comprimento, e inversamente proporcional à sua área de seção transversal.” A resistividade é a resistência especifica de cada material, e a área de seção transversal é a área do condutor (bitola dada pelo fabricante). Área de seção transversal Resistividade de alguns materiais a temperatura ambiente (20oC): Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira Cobre = 0,017 Alumínio = 0,018 1º Módulo Tungstênio = 0,056; Prata = 0,015; Estanho = 0,02 Obs.: A temperatura também é um fator que interfere na resistividade elétrica dos materiais e a sua variação é dada por: r = ro.(1+ ∀.(T1 - To)) r - resistividade em Ω.m, a temperatura de T1 ro - resistividade em Ω.m, a temperatura de T0 ∀ - coeficiente de temperatura do material, em [oC-1] Coeficiente de temperatura de alguns materiais: Cobre = 0,004 Alumínio = 0,0039 Tungstênio = 0,0048; Prata = 0,0038; FÓRMULA DECORRENTE DA SEGUNDA LEI DE OHM: R = r. L /A Onde: A = r. L / R R - Resistência elétrica em W r - Resistividade elétrica L - Comprimento do condutor em metros A - Área de seção transversal em mm2 POTÊNCIA ELÉTRICA (P) A Potência elétrica (P) é a quantidade de energia consumida em um intervalo de tempo. A potência elétrica é medida em Watts (W) que corresponde a quantidade de energia por segundo (J/seg.), e possui os mesmos múltiplos e submúltiplos que as outras grandezas elétricas. Além das unidades convencionais existem ainda o cavalo vapor (CV) e o horse Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo power (HP) que serão de grande utilidade no nosso curso, observe as relações entre eles e o Watt: 1 CV = 736 W 1 HP = 746 W FORMULÁRIO: P=E.I P = E2 / R P = I2 . R E=I.R E=P/I E= R.P I=E/R I=P/E I= P/R R=E/I R = E2 / P R = P / I2 Cálculo técnico da Energia elétrica Na prática o consumo de energia elétrica é calculado com base no KWh, ou seja calcula-se a potência em KW e multiplica-se pelo tempo em horas. O preço de cada KWh é determinado pela concessionária de energia elétrica. Geralmente a quantidade de consumo influencia no valor. t = P. t INSTRUMENTOS DE MEDIDAS VOLTÍMETRO Destinado a medir a tensão elétrica. Deve ser conectado em paralelo com o elemento que se deseja saber a tensão. V AMPERÍMETRO Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo Destinado a medir a corrente elétrica. Deve ser conectado em série com o elemento que se deseja saber a tensão. A Voltímetros e Amperímetros Os amperímetros devem ter resistência muito pequena, de modo que podem ser substituídos por um curto-circuito, e devem ser colocados em série no circuito. Os voltímetros, por sua vez, têm, idealmente, resistências altas, podendo ser substituídos por um circuito aberto, e devem ser colocados em paralelo no circuito. OHMÍMETRO Destinado a medir a resistência elétrica. Deve ser conectado em circuitos que estejam sem tensão elétrica. Ω OBS.: O voltímetro e o amperímetro podem ser de corrente contínua ou de corrente alternada, por isso deve-se também observar que corrente elétrica estamos utilizando para ligarmos os instrumentos. MULTÍMETRO Instrumento composto por vários instrumentos de medidas elétricas, basicamente o ohmímetro, o amperímetro e o voltímetro, onde a seleção entre as diversas funções pode ser Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo feita por meio de chave seletora ou por uso adequado de bornes de conexão. Vide um exemplo abaixo. Corrente Alternada Provavelmente você sabe que mais de 90% de todas as linhas de transmissão de eletricidade conduzem corrente alternada. Usa-se muito pouco a corrente contínua nos temas de luz e força. Entretanto, a C. C. é importante nos circuitos eletrônicos. Existem duas razões muito boas para esta preferência. Inicialmente, a C.A. pode fazer quase tudo que é feito pela C.C. A transmissão elétrica é mais fácil e mais econômica com a C.A. do que com a C.C. A tensão alternada pode ser aumentada ou reduzida facilmente e sem perda apreciável com o emprego de transformadores. Nas estações geradoras, a tensão alternada é elevada por transformadores a valores muito altos e enviada às linhas de transmissão; no outro extremo das linhas, transformadores reduzem a tensão a valores que podem ser usados para iluminação e força. Diferentes equipamentos elétricos requerem tensões diferentes para que funcionem normalmente, obtidas facilmente com o uso de um transformador e da rede alimentação de C.A. Quanto maior a tensão em uma linha de transmissão, maior a sua eficiência. Atualmente, a elevação e a redução de tensões contínuas são processos difíceis e ineficientes de modo que é muito limitado o uso da transmissão de energia por C. C. Contudo, há algumas vantagens na transmissão de energia por C.C., e se fazem esforços para torná-la mais pratica. As diferenças entre a corrente alternada e a corrente contínua não estão apenas nas formas de ondas e no movimento dos elétrons, mas também na maneira com que ela age nos circuitos elétricos. 1. CORRENTE ALTERNADA — Corrente que muda constantemente de valor (amplitude) e inverte seu sentido a intervalos regulares, que podem atingir valores de milisegundos ou microsegundos e até valores menores. 2. FORMA DE ONDA — Gráfico das variações da tensão ou da corrente durante um certo tempo. 3. ONDA SENOIDAL - Uma curva contínua que representa todos os valores instantâneos de uma tensão ou corrente alternada senoidal. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 4. 1º Módulo CICLO: Um conjunto completo de valores positivos e negativos de uma onda de tensão ou corrente alternada. 5. FREQUÊNCIA: O número de ciclos por segundo. E expressa em hertz (Hz). 1 Hz = 1 ciclo/segundo. 6. FASE: Diferença de tempo relativa entre os mesmos pontos de duas formas de onda. 7. VALOR MÁXIMO: valor máximo que a tensão atinge em um ciclo regular. 8. EFICAZ: é o valor de expressão da corrente alternada que corresponde ao mesmo efeito, em termos de potência, da corrente contínua. Para a Corrente Alternada senoidal este corresponde a 0,707 do valor MÀXIMO. 9. VALOR MÉDIO de uma onda senoidal: é a razão entre o valor máximo e o valor mínimo. É a razão de tensão que produz efeito equivalente. 10. PERÍODO (T): É o tempo que uma onda gasta para completar um ciclo. 11. F=1/T , ou seja, a freqüência é o inverso do período. E tempo ciclo CIRCUITO MONOFÁSICO Constituído de uma fase e um neutro a ddp é sempre entre 0V e a variação da onda da fase. Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo E tempo neutro fase R CIRCUITO BIFÁSICO Constituído de duas fases, a ddp. é sempre entre a variação de uma fase e a variação da onda da outra fase. E tempo Fase S Fase R Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo CIRCUITO TRIFÁSICO Constituído de três fases (R,S,T) a ddp é sempre entre a variação das três fases R, S, T. E tempo Fase R Fase S Fase T Circuitos Simbologia de elementos usados em eletricidade e eletrônica: Eletrônica Professor João Luiz Cesarino Ferreira 1º Módulo