EDUCAÇÃO ESCOLAR E MEIOS DE COMUNICAÇÃO Donizete Soares Os meios de comunicação fazem parte do nosso dia-a-dia: refletem e reinventam nossos modos de pensar e agir, interferem em nossas decisões e ações, operam no sentido de nos tirar de situações cômodas e arcaicas empurram-nos para novos tempos, utilizando tecnologias avançadas e fascinantes mexem com nossos nervos e sacodem nossas emoções transportam nossas idéias e vontades para lugares diferentes fazem com que fiquemos em casa ou ocupemos as ruas. Incitam-nos e nos acalmam envolvem-nos e nos separam criam em nós e para nós necessidades inimagináveis, levando-nos a realizar o objetivo maior da sociedade em que vivemos: consumir. Porque desenvolvem muito bem o seu papel, eles nos ligam uns aos outros o tempo todo, tornando-nos inter-dependentes: a todo momento somos fornecedores, produtores e consumidores. Porque são consistentes as suas operações, tanto as relações que estabelecem conosco como as que sugerem que estabeleçamos entre nós, tendem a ser cada mais tensas e carregadas de emoção – o que é bastante compreensível, afinal a razão de ser da existências deles não permite que brinquem em serviço. Trabalham com profissionais sérios, do tipo que mantém o controle de suas ações do início ao fim. Como ninguém, sabem transmitir os saberes acumulados pela humanidade, ilustrando-os de modo a transformá-los em curiosidades interessantes. Desempenham de forma brilhante a sua função de informar, não importando se o seu conteúdo tem a ver com filosofia, ciência, culinária, sexo ou o modelo do carro a ser lançado semana que vem... Temos que admitir: os meios de comunicação são muito competentes no que se propõem a fazer! Não produzem nada de forma aleatória e descomprometida. Jamais perdem tempo dizendo, escrevendo e mostrando alguma coisa por acaso ou gratuitamente. A informação sobre qualquer assunto, assim como os programas de entretenimento, viram mercadorias como outras quaisquer. www.portalgens.com.br 1 E, evidentemente, mercadorias não existem para ser admiradas, doadas ou entregues de graça. Elas sempre têm custos e preços de venda e, se estão à disposição no mercado, devem ser comercializadas. De alguma maneira, elas são ou deverão ser pagas... Os meios de comunicação funcionam como excelentes órgãos informativos da sociedade para ela mesma. Cada programa, cada fala, cada som, cada imagem, na realidade, são reportagens sobre a sociedade e, ao mesmo tempo, balcões de venda e de troca. A mídia em geral e, em especial, o rádio e a tevê, dada a grande aceitação que têm em todas as classes sociais, negociam o tempo todo e, é claro, visam lucros. Não importa se os produtos que dispõem em suas prateleiras são idéias, serviços ou produtos. Nelas, absolutamente tudo tem lugar, e para seus responsáveis é somente isso que interessa. Ora, para quem se dedica à educação escolar, reconhecer a importância dos meios de comunicação é, no mínimo, uma obrigação e uma necessidade. Obrigação, porque implica admitir que os profissionais que atuam junto a equipamentos que produzem textos, sons e imagens contam com recursos muito mais sofisticados que a escola e, portanto, conseguem, nesse aspecto, atingir os alunos com mais facilidade do que qualquer profissional de educação. A tevê, o rádio, o jornal, o vídeo, a revista informam mais e melhor do que o mais experiente e bem preparado professor. Necessidade, porque sem eles a escola é um lugar estranho. Aliás, muito estranho, porque, de uma forma ou de outra, os meios de comunicação já são conhecidos e seus equipamentos, manuseados por parcela significativa da população. Não há nada que justifique a ausência deles na escola e dentro da sala de aula. Assim como estão entre os objetos da casa, no escritório, no clube e são constantemente usados, também na escola eles devem ocupar um espaço e serem usados. Dada sua dimensão cultural e política, assim como seu alcance social, portanto, não há como nem por quê privilegiar os conteúdos que eles fazem circular. É um fato! Os meios de comunicação conquistaram espaços importantes entre nós, e a tendência é que eles se ampliem cada vez mais. A sociedade os requereu e eles souberam como atender à sua solicitação. São uma realidade, têm poder, conseguem se impor e são reconhecidamente importantes para todos nós. www.portalgens.com.br 2 Exatamente por isso, são fundamentais para a educação escolar. Tentar detê-los é lutar em vão. Não aceitá-los ou mesmo recusá-los não é nada estratégico. Simplesmente não considerá-los é impossível... Não há outro modo senão encará-los. Olhá-los de frente. Aproximar-se deles e conhecê-los. Aprender a lidar com eles – esse é o caminho. Mas, sobretudo, ir além da admiração e reconhecimento do quanto são capazes de mexer com a sociedade. À escola e ao professor cabe analisá-los e submetê-los à crítica. Ler e filtrar – e levar os alunos a lerem e filtrarem as mensagens produzidas e divulgadas pelos meios de comunicação – é o primeiro passo. É absolutamente inaceitável, hoje em dia, que professores e alunos não tenham acesso rápido e fácil a todas as mensagens midiáticas. É inaceitável também que as escolas e os professores não se interessem e não se capacitem para compreender essas novas linguagens que, certamente, estão interferindo no modo de pensar, de ser e de se expressar de todos nós e, em particular, das novas gerações. Propomos, todavia, que os profissionais de educação dêem um passo a mais: que utilizem os equipamentos dos meios de comunicação do mesmo modo como são utilizados o giz, a lousa, o lápis e o caderno; que a eles se misturem microfones, gravadores, câmeras fotográficas e de vídeo, computadores, aparelhos de tevê, rádio, caixas de som e cabos, cenários, trilhas sonoras etc...; que façam deles instrumentos de trabalho, objetos de manipulação, meios de produção dos saberes que todos nós precisamos para construir uma sociedade de pessoas autônomas, ativas e realmente comprometidas consigo mesmas e com os outros. www.portalgens.com.br 3