XVII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA I ENCONTRO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS IV WORKSHOP DE LASER E ÓPTICA NA AGRICULTURA 27 a 31 de outubro de 2008 ESTABILIDADE TERMODINÂMICA DOS COMPLEXOS FORMADOS ENTRE O GLIFOSATO E ALGUNS METAIS PRESENTES NO SOLO MELISSA SOARES CAETANO1; DOUGLAS FIGUEIREDO BOTREL2; THAÍS CRISTINA SILVA DE SOUZA3; MARCUS VINÍCIUS JULIACI ROCHA4; TEODORICO DE CASTRO RAMALHO5, ELAINE F. F. DA CUNHA6 RESUMO O glifosato é o componente ativo do popular herbicida Round-up®, responsável pelo controle de ervas daninhas. Ele é um inibidor não seletivo e competitivo de PEP (fosfoenolpiruvato) na reação da 5-enolpiruvil shikimato-3-fosfato sintase (EPSP sintase). O herbicida é absorvido pelo tecido vivo e translocado, via floema, através da planta para raízes e rizomas. Quando aplicado diretamente no solo apresenta baixa atividade, devido à grande adsorção pelos constituintes do solo. A compreensão das interações específicas entre metais presentes no solo e o glifosato é um dos primeiros passos para o entendimento da baixa atividade do herbicida quando aplicado diretamente no solo e não pulverizado. De acordo com nossos cálculos concluiu-se que a ordem de estabilidade na complexação com o glifosato foi Co3+>Fe3+>Ca2+>Al3+>Mg2+>Cu2+>Cr3+>Zn2+>Cd2+, sendo que a situação onde o nitrogênio participa da coordenação com o metal foi a mais estável. Palavras-chave: Glifosato, complexos, cálculos teóricos. INTRODUÇÃO O Glifosato é o componente ativo do popular herbicida Round-up® é um herbicida pertencente ao grupo químico das glicinas substituídas, classificado como não seletivo (GALLI, 2005). Em diversos tipos de cultivo, este herbicida costuma ser pulverizado e absorvido na planta através de suas folhas e dos caulículos novos, sendo transportado por toda a planta, agindo nos vários sistemas enzimáticos, inibindo o metabolismo de aminoácidos. É um inibidor não seletivo e competitivo de PEP (fosfoenolpiruvato) na reação da 5enolpiruvil shikimato-3-fosfato sintase (EPSP sintase) que catalisa a reação que envolve a transferência do enolpiruvil do fosfoenolpiruvato (PEP) para o shikimato-3-fosfato (S3P) formando os produtos EPSP e fosfato inorgânico (Pi). (Figura 1) (SIRKOSKI, 1997). A toxicidade relativamente baixa pode ser atribuída à modalidade bioquímica de ação do glifosato em um caminho metabólico nas plantas (chamado mecanismo do ácido “shikimico”), similar ao existente em alguns microorganismos mais complexos, não existindo, entretanto, em animais (JUNIOR, 2002). As plantas tratadas com glifosato morrem lentamente, em poucos dias, meia vida por hidrólise de mais de 35 dias (GALLI, 2005) e, devido ao transporte do princípio ativo por todo o sistema, nenhuma parte da planta sobrevive (JUNIOR, 2002). 1 2 3 4 5 6 Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] Universidade Federal de Lavras, Departamento de Química [email protected] 245 XVII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA I ENCONTRO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS IV WORKSHOP DE LASER E ÓPTICA NA AGRICULTURA 27 a 31 de outubro de 2008 PEP COO- 2O PO CH2 3 S3P CH2 2- OH OPO OH O OPO 2- -OOC COO- PO4 COO 3 2- 3- PO3 N H 3 HO COOEPSP Glifosato Figura 1. Reação catalizada pela enzima EPSP sintase, na qual o glifosato é competitivo do substrato natural PEP. Quando aplicado diretamente no solo apresenta baixa atividade, devido à degradação microbiológica para produtos não fitotóxicos (CO2, PO4 -3 e NH3) e à grande adsorção pelos constituintes do solo. O grupo fosfonato R-PO(OH)2 do composto tem a habilidade de formar complexos fortes com metais. Todos os processos de adsorção, fotodegradação e biodegradação dos fosfonatos são modificados pela presença de íons metálicos, devido à formação de complexos solúveis e não solúveis. Além do grupo fosfonato, o herbicida possui outros dois grupos funcionais (amino e carboxilato) que podem se coordenar fortemente com íons metálicos, especialmente com os de transição em pH próximo de neutro onde os grupos carboxilato e fosfonato estão desprotonados. A habilidade para se coordenar como um ligante tridentado coloca o glifosato numa posição privilegiada entre os herbicidas. (COUTINHO, 2005) Absorção foliar é reduzida quando glifosato é aplicado em solução com cálcio, ferro, magnésio, manganês e zinco. Contudo, cloreto de cálcio em solução aumenta a absorção de glifosato em culturas de milho e soja e adicionando ferro e manganês aumenta-se a translocação do glifosato da solução da raiz para as folhas de trigo. Alguns dos efeitos negativos de cátions divalentes e trivalentes na absorção foliar de glifosato são reduzidos quando o glifosato é aplicado em solução com sulfato de amônio. (BERNARDS, 2005) A partir desse prévio conhecimento, pretende-se elucidar nesse trabalho, quais os metais que formam complexos mais estáveis com o glifosato no intuito de projetar novos herbicidas. METODOLOGIA Os cálculos foram realizados no Laboratório de Química Computacional (LQCUFLA). A estrutura inicial dos complexos foi construída em geometria octaédrica entre duas moléculas de glifosato e os seguintes metais: Zn 2+ ; Cd 2+ ; Cu 2+ ; Ca 2+ ; Mg 2+ ; Al 3+ ; Co3+; Fe 3+ ; Cr 3+. Todos os cálculos foram realizados em nível semi- empírico (PM3) com o programa Spartan Pro. As quatro formas de complexação propostas entre o glifosato e os metais podem ser visualizadas na Figura 2. 246 XVII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA I ENCONTRO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS IV WORKSHOP DE LASER E ÓPTICA NA AGRICULTURA 27 a 31 de outubro de 2008 Figura 2. Formas de complexação entre moléculas do glifosato e os metais (em verde): 1. Duas moléculas de glifosato com o átomo de nitrogênio realizando quatro ligações, sendo duas com átomos de hidrogênio (-NH 2+ -) se complexam ao metal. 2. Complexação entre uma molécula de glifosato (-NH 2+ -) e outra molécula de glifosato fazendo quatro ligações sendo uma coordenação com o metal. 3. Duas moléculas de glifosato com nitrogênio protonado se coordenando com o metal. 4. Duas moléculas de glifosato com nitrogênio fazendo três ligações (-NH-) se complexam com o metal. RESULTADOS E DISCUSSÃO De acordo com a tabela abaixo, dentre os metais testados o complexo mais estável foi aquele formado entre o glifosato e o íon Co 3+ com um menor valor de energia intermolecular para todas as quatro situações de complexação. A complexação entre o metal e o glifosato fazendo apenas 3 ligações, sem o átomo de nitrogênio protonado, foi a mais estável quando comparada as demais, observa-se um menor valor de energia intermolecular para todos os metais testados. A coordenação entre o metal e o glifosato se faz apenas pelo grupo R-PO(OH)2 e o grupo carboxilato, o que ocorre em pH neutro, onde esses grupos estão desprotonados. Segundo Coutinho (2005), o complexo de 2 moléculas de glifosato com Cobalto (III) forma 8 isômeros estruturais que não podem ser separados devido a sua rápida interconversão, o que poderia explicar a estabilidade do cobalto quando comparado aos demais metais pelos respectivos valores de energia. 247 XVII CONGRESSO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA UFLA I ENCONTRO DE ENGENHARIA DE SISTEMAS IV WORKSHOP DE LASER E ÓPTICA NA AGRICULTURA 27 a 31 de outubro de 2008 Tabela 1. Valores de energia intermolecular para os diversos complexos formados entre o glifosato e alguns metais presentes no solo. Zn 2+ Ca 2+ Mg 2+ Cd 2+ Cu 2+ Al 3+ Co 3+ Fe 3+ Cr 3+ Glifosato (-NH-) Glifosato (-NH 2+ -) -657,14 -977,57 -751,52 -650,06 -788,40 -803,10 -2313,54 -1008,15 -654,35 -550,02 -889,97 -690,82 -564,68 -693,49 -615,53 -2114,11 -552,98 -434,89 1Glifosato 2glifosatos (-NH 2+ -) e 1 NH+ glifosato NH+ coordenando coordenando com o metal com o metal -502,24 -404,67 -832,41 -761,14 -543,41 -542,05 -498,28 -409,68 -604,73 -553,74 -497,86 -408,72 -1981,31 -1923,30 -661,17 -713,25 -379,97 -251,27 CONCLUSÃO De acordo com nossos cálculos concluiu-se que a ordem de estabilidade na complexação com o glifosato foi Co>Fe>Ca>Al>Cu>Mg>Zn>Cr>Cd, sendo que a situação onde o nitrogênio não participa da coordenação com o metal e faz apenas 3 ligações foi a mais estável. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERNARDS, M.L.; THELEN, K.D.; PENNER, D., MUTHUKUMARAN, R.B.; MCCRACKEN, J.L. Glyphosate interaction with manganese in tank mixtures and its effect on glyphosate absorption and translocation. Weed Science, v.53, p.787–794, 2005. COUTINHO, C.F.B.; MAZO, L.H. Complexos metálicos com o herbicida glifosato: Revisão. Química Nova, v. 28, n. 6, p.1038-1045, 2005. GALLI, A.J.B.; MONTEZUMA, M.C. Alguns aspectos da utilização do herbicida glifosato na agricultura, 2005. JUNIOR, O.P.A.; SANTOS, T.C.R.; BRITO, N.M.; RIBEIRO, M.L. Glifosato: Propriedades, toxicidade, usos e legislação. Química. Nova, v. 25, n. 4, p.589-593, 2002. SIKORSKI, J.A.; GRUYS, K. Understanding Glyphosate’s molecular mode of action with EPSP synthase: Evidence favoring an allosteric inhibitor model. Acc. Chem. Res, v. 30, p. 28, 1997. 248