Teste de Apercepção Familiar (FAT): XI Salão de Iniciação Científica PUCRS Estudo de Fidedignidade Roberta Louzada Salvatori (BIC/CNPq)1, Liza Fensterseifer (Doutora em Psicologia) 2, Gabriela Quadros de Lima (Mestre em Psicologia Clínica) 1, Márcia Keller Coronel (Mestre em Psicologia Clínica) 1, Luísa Nedel Buhr (Auxiliar de Pesquisa) 1, Blanca Susana Guevara Werlang (orientadora) 1 1 Faculdade de Psicologia – PUCRS, , 2 Faculdade de Psicologia - PUCMinas Introdução O Teste de Apercepção Familiar (FAT) é um teste projetivo, criado nos Estados Unidos, por Sotile, Julian III, Henry e Sotile (1991), que avalia, na percepção de quem o responde, a estrutura e o funcionamento familiar. É um instrumento clínico que evoca variáveis do sistema familiar a partir dos pressupostos da Teoria Sistêmica. Seu público-alvo são crianças e adolescentes, com idades entre 06 e 15 anos. O FAT é constituído por uma série de 21 lâminas, que representam diversas situações de famílias comuns, em seu cotidiano, e que induzem a diversas associações projetivas a respeito do processo e da estrutura familiar. Cada lâmina traz uma temática específica, envolvendo os relacionamentos entre pais, filhos, irmãos e outros integrantes da família extensa. Considerando a importância da adaptação de instrumentos psicológicos, o objetivo do presente estudo é criar subsídios para o uso do Teste de Apercepção Familiar (FAT) na realidade brasileira. Para isso, criou-se, em um primeiro momento, um sistema de categorização para analisar as respostas dadas a cada uma das 21 lâminas do teste. Posteriormente, foi realizado um estudo de fidedignidade entre avaliadores, no qual diferentes juízes analisaram os mesmos protocolos, de forma a investigar se, a partir do sistema de categorização das respostas proposto, havia concordância entre eles sinalizando, conseqüentemente, para o grau de fidedignidade dos resultados produzidos pelo instrumento. Método O estudo é de cunho quantitativo, do tipo transversal. Para a organização de um sistema de categorização de respostas ao FAT, foram colhidas respostas de 30 crianças e adolescentes, dos sexos masculino e feminino, com idades entre 06 e 15 anos, da população geral, matriculados em escolas públicas e privadas das cidades da Grande Porto Alegre e de Belo Horizonte. As respostas foram escrutinadas por duas psicólogas clínicas, para verificar a consistência lógica com o construto implícito e verificar se o material real permitiria a XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1737 identificação de categorias, com base numa revisão teórica utilizando pressupostos sistêmicos. Para os estudos de fidedignidade entre avaliadores foi utilizada uma amostra de 320 crianças e adolescentes das mesmas cidades anteriormente citadas, divididas em 16 grupos de acordo com sexo, faixa etária e tipo de escola (publica ou privada). Previamente à coleta dos dados foi encaminhada uma carta aos pais, uma ficha de dados sóciodemográficos e um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido com o objetivo de explicar a natureza do trabalho a ser desenvolvido, bem como obter a autorização de participação. De posse destes materiais procedeu-se a administração dos instrumentos de forma individual em dois encontros na própria instituição escolar. Um encontro para o Teste Raven (para excluir casos com suspeita de comprometimento intelectual) e outro para o FAT. Após a aplicação dos instrumentos, os dados foram levantados por três juízes (psicólogas clínicas) distintos. Resultados e Discussão Foi possível construir um sistema de categorização visando o levantamento de hipóteses sobre o sistema familiar do sujeito testado. Este sistema de categorização, constituído por 11 categorias, possibilita uma compreensão dos relacionamentos e processos presentes dentro de uma família. Para cada aspecto analisado (Tabela 1), o avaliador deve assinalar a alternativa que melhor representa o que está expresso nas histórias contadas para as lâminas-estímulo. Tabela 1. Sistema de categorização das respostas do FAT. Categorias Conflito Tipo de resolução do conflito Imposição de limites Qualidade do relacionamento Fronteiras Coalizão Relações abusivas Modulação emocional Tipo de comunicação Fenômenos especiais Circularidade disfuncional (no teste) Possibilidades de pontuação Familiar / Conjugal / Outros / Ausência Positiva / Negativa ou sem resolução / Mágica Adequada/obediente Adequada/desobediente Inadequada/obediente Inadequada/desobediente Confortável / Desconfortável Nítidas / Difusas / Rígidas Presente / Ausente Abuso físico e/ou psicológico Abuso sexual Abuso de substâncias Depressão / Alegria / Raiva / Ansiedade Aberta/ clara Fechada/ confusa Resposta incomum / Rejeição /Choque / Contaminação / Auto-referência Presente / Ausente XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1738 Com o intuito de verificar a viabilidade e adequação dos propósitos desta pesquisa, foram analisadas as respostas de 320 crianças e adolescentes (160 de BH e 160 de POA) e suas verbalizações ao FAT foram avaliadas por três juízes, com base no sistema de categorização apresentado anteriormente. A partir das avaliações dos juízes foi utilizada a estatística Kappa para avaliar o grau de concordância entre os mesmos. As comparações foram assim delineadas: J1-J2, J1-J3, J2-J3, J1-J2-J3. Tabela 2. Sumário do resultado da medida de concordância entre os juízes em cada uma das 10 categorias, considerando todas as 21 lâminas (n=320). Categorias Conflito Tipo de resolução de conflito Imposição de limites Qualidade do relacionamento Fronteiras Coalizão Relações abusivas Modulação emocional Tipo de comunicação Fenômenos especiais Kappa 0,97 0,95 0,94 0,92 0,96 0,92 0,95 0,92 0,95 0,93 P <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 <0,001 Grau de concordância Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita Quase perfeita A Tabela 2 apresenta o nível geral de concordância entre os juízes, em cada uma das 10 categorias de análise. A partir dos resultados obtidos é possível dizer que eles foram altamente satisfatórios, uma vez que a concordância alcançada foi substancial em algumas categorias, e quase perfeita na grande maioria delas. Isso significa que os três psicólogos que atuaram como juízes concordaram quase que integralmente em suas avaliações, o que aponta para a adequação do sistema de categorização construído e desenvolvido para a análise das respostas dadas ao FAT. É possível dizer, igualmente, que os profissionais que atuaram como juízes entenderam o sistema de categorização proposto, trabalhando adequadamente com ele. A única forma de garantir que examinadores distintos interpretem um mesmo protocolo de maneira semelhante é certificando-se de que eles partirão do mesmo ponto, e para isso, bom conhecimento e compreensão do sistema de categorização das respostas são fundamentais. Referências SOTILE, W. M.; JULIAN III, A.; HENRY, S. E.; SOTILE, M. O. Family Apperception Test: Manual. Los Angeles: Western Psychological Services, 1991. WERLANG, B. S. G.; FENSTERSEIFER, L.; LIMA, G. Q. de . Teste de Apercepção Familiar – FAT. In: VILLERMOR-AMARAL, A. E.; WERLANG, B. S. G. Atualizações em Métodos Projetivos para Avaliação Psicológica. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2008. pp. 171-181. XI Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 09 a 12 de agosto de 2010 1739