PESQUISAS / RESEARCH / INVESTIGACIÓN Equipe de enfermagem e o acompanhante no parto em um hospital público de Porto Alegre Nursing staff and the companion in the childbirth at a public hospital in Porto Alegre Equipo de enfermería y el acompañante en el parto en un hospital público de Porto Alegre Lilia Silva Paz Enfermeira de Saúde Pública da Rede Municipal de Saúde de Porto Alegre-RS-Brasil, Aluna de Pós-Graduação em Enfermagem Obstétrica da UNISINOS, São Leopoldo-RS-Brasil. E-mail:liliajgt@ hotmail.com Lísia Maria Fensterseifer Professora Orientadora, Doutora, Docente do Curso de Enfermagem Obstétrica da UNISINOS, São Leopoldo-RS-Brasil. E-mail:[email protected] RESUMO Os objetivos do presente estudo são identificar como ocorre na prática a participação do acompanhante durante o parto; analisar as vivências relatadas pela equipe de enfermagem sobre a participação do acompanhante no parto; e caracterizar os sujeitos da pesquisa segundo idade, sexo,categoria profissional, formação profissional e tempo de serviço. É um estudo exploratório com abordagem qualitativa, realizado em um hospital público de Porto Alegre-RS com a participação de 18 profissionais de enfermagem, utilizando-se para coletas de dados entrevistas semi-estruturadas, analisadas pelo método de análise de conteúdo. Emergiram as categorias: equipe de enfermagem vivenciando a participação do acompanhante durante o trabalho de parto e parto; acompanhante participando do processo do parto, e a subcategoria: preparo do acompanhante e da parturiente; legislação e ações da equipe obstétrica; estrutura e organização do centro obstétrico. Percebe-se o esforço da equipe de enfermagem para superar medo, ansiedade e despreparo em relação à presença do acompanhante, havendo muito para ser feito, como o envolvimento dos profissionais médicos e da instituição de saúde. Descritores: Humanização do parto. Acompanhantes de pacientes. Conhecimentos, atitudes e prática em saúde. Equipe de Enfermagem. ABSTRACT The objectives of this study are Identify how occurs the participation of the companion in childbirth; analise the experiences related by the nursing staff about the participation of the companion in the childbirth; and caracterizing the subjects of the research second age, sex, professional category, professional formation and time doing the job . It is a exploratory study with qualitative approach, realized at in a public hospital in Porto Alegre - RS with the participation of 18 professionals of nursing using for data collections, semi structured interview, analyzed by the method of analysis of content. Emerged the categories: nursing staff, experiencing the companion participation during the childbirth; companion participating of the child birth, and the subcategory : preparation of the companion and the parturient; laws and action of the obstetric staff ; structure and organization of the obstetric center. Perceives the efforts of the nursing staff to overcome its fears, anxiety and unpreparedness related to the companion presence, having a lot to the done, like the involvement of the medics and the health institutions. Descriptors: Humanizing delivery. Patient’s companion. Health knowledge, attitudes, practice. Nursing team. RESUMEN Submissão: 18/08/2010 Aprovação: 20/10/2010 Los objetivos de este estudio son identificar como ocurre en la práctica, la participación del acompañante durante el parto; analizar las vivencias relatadas por el equipo de enfermería sobre la participación del acompañante en el parto, y caracterizar los sujetos de la investigación según idad, sexo, categoría profesional, formación profesional y tiempo de servicio. Es un estudio exploratorio con abordaje cualitativo, realizado en un hospital público de Porto Alegre-RS contando con la Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.9-13, Jan-Fev-Mar. 2011. 9 Paz, L. S. ; Fensterseifer, L. M. participación de 18 profesionales de enfermería. Utilizó, para la recolección de datos, entrevistas semi-estructuradas, analisadas por el método de análisis de contenido. Las categorías que emergieran fueran: equipo de enfermería, vivenciando la participación del acompañante durante el trabajo de parto y parto, acompañante participando del proceso del parto, y la subcategoría: preparo del acompañante y de la parturiente, legislación y acciones del equipo obstétrico, estructura y organización del centro obstétrico. Percibiese por el esfuerzo del equipo de enfermería para superar el miedo, la ansiedad y des preparo en relación a la presencia del acompañante, teniendo mucho a sé hacer, como el involucramiento de los profesionales médicos y de la institución de salud. Descriptores: Humanización del parto. Acompañante de pacientes. Conocimiento, Actitudes y prácticas en salud. Equipo de enfermería. 1 INTRODUÇÃO A presença de um acompanhante no trabalho de parto e no parto é incentivado pelas políticas públicas de saúde, observada na Lei nº 11.108, de 07 de abril de 2005, que garante as parturientes o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS (BRASIL, 2005). O cumprimento desta Lei exige uma reorganização dos serviços e dos profissionais de saúde, pois a presença do acompanhante de escolha da parturiente é uma intervenção comportamental que mobiliza a opinião dos profissionais de saúde e do acompanhante (BRÜGGEMANN et al, 2005). O acompanhamento à parturiente proporciona experiências positivas no processo do nascimento. Conforme Célia (1998), a presença do pai, ou a presença de um acompanhante terapeuta no parto, possibilita que a parturiente divida sua responsabilidade, suas angustias, inseguranças e medos. Os medos e angústias da parturiente devem sempre ser considerados pela equipe de enfermagem que assiste esta mulher. O atendimento de enfermagem diminui a probabilidade de avaliações negativas da experiência do parto, de sentimentos de tensão durante o trabalho de parto e de considerá-lo pior do que o esperado (RICCI, 2008). Os profissionais de saúde têm um papel importante no processo do nascimento, devem colocar seu conhecimento a serviço do bem-estar da mulher e do bebê, reconhecendo momentos críticos em que suas intervenções são necessárias para assegurar a saúde de ambos (BRASIL, 2003). Os dados de vários países em desenvolvimento indicam que a mortalidade materna é mais baixa em países onde existe uma alta proporção de partos atendidos por pessoal qualificado. No Brasil, os profissionais legalmente habilitados para realizar o parto são o médico, a enfermeira, a enfermeira obstétrica e a obstetriz (parteira profissional). À enfermeira, não especializada em enfermagem obstétrica, cabe realizar o parto sem distócia, sem episiotomia e episiorrafia (DOTTO; MAMEDE, 2008). Em estudos que analisaram resultados obstétricos mostraram que, quando as enfermeiras realizam a assistência ao parto, ocorrem menos intervenções, e os resultados finais são melhores do que os produzidos pela assistência médica convencional (DOTTO; MAMEDE, 2008). O trabalho da enfermeira apareceu subordinado ao médico, evidenciando-se uma divisão técnica e social do trabalho de assistência ao parto, de cujas decisões a enfermeira não participa, ou seja, o trabalho da enfermeira entra como instrumento do trabalho do médico. Essa subordi10 nação deve-se ao fato de tais enfermeiras não especializadas em obstetrícia tenderem a olhar a parturiente como o médico, sob o enfoque da doença (SODRÉ; LACERDA, 2007). A enfermeira obstetra é um profissional apropriado para o acompanhamento da gestação e parto normal de baixo risco. Estudos realizados na Inglaterra e Estados Unidos demonstraram que os partos assistidos pelas enfermeiras obstetras apresentam menores índices de cesarianas, de uso de fórceps, de indução do parto, controle eletrônico do foco e menor freqüência do uso de medicamentos (CASTRO; CLAPIS, 2005). Muitas vezes a própria enfermeira tem medo de ousar, sentindo-se insegura na sua atuação temendo julgamento dos outros, e que para conquistarem autonomia, as enfermeiras precisam se colocar como protagonistas do processo, acreditando nas suas capacidades de humanizar a assistência ao parto (CASTRO; CLAPIS,2005). Este estudo enfoca a realidade da assistência de enfermagem à parturiente, contribuindo para o processo de humanização das práticas obstétricas nos hospitais públicos. Sendo assim, os objetivos desta pesquisa foram: identificar como ocorre na prática a participação do acompanhante durante o parto; analisar as vivências relatadas pela equipe de enfermagem sobre a participação do acompanhante no parto e caracterizar os sujeitos da pesquisa segundo idade, sexo, categoria profissional, formação profissional e tempo de serviço na área obstétrica. 2 MÉTODO Trata-se de um estudo exploratório com abordagem qualitativa, realizado em um hospital público materno-infantil de Porto Alegre - RS. Os sujeitos da pesquisa foram 18 profissionais de enfermagem que prestavam assistência durante o trabalho de parto e parto, sendo quatro enfermeiras, nove auxiliares de enfermagem e cinco técnicas de enfermagem. Os dados foram coletados através de entrevistas semi-estruturadas, sendo utilizadas para análise as etapas de análise de conteúdo orientada por Gomes (2010). Assim, a análise do material coletado ocorreu em três etapas. Na pré-análise houve transcrição das gravações, releitura do material e organização dos depoimentos. A exploração do material deu-se pelo reconhecimento, identificação e agrupamento das unidades temáticas. Desse processo surgiram as seguintes categorias de análise: a equipe de enfermagem vivenciando a participação do acompanhante durante o trabalho de parto e parto; o acompanhante participando do processo do parto, sendo que nesta categoria uma subcategoria que foi o preparo da acompanhante e da parturiente; legislação e ações da equipe obstétrica; estrutura e organização do centro obstétrico. Por fim o tratamento dos dados obtidos e a interpretação ocorreram com a articulação dos temas,dos objetivos, questões e pressupostos do estudo. A pesquisa obteve a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do referido hospital conforme protocolo nº 33/10. Os entrevistados assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. As recomendações da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde foram observadas durante toda a pesquisa. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os sujeitos deste estudo foram 18 profissionais de enfermagem, que prestam atendimento no centro obstétrico estudado. Todas particiRevista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.9-13, Jan-Fev-Mar. 2011. Equipe de enfermagem e o acompanhante no parto em um hospital público de Porto Alegre pantes foram do sexo feminino, com idade média de 46 anos. Quanto à categoria profissional, quatro são enfermeiras obstétricas, cinco técnicas de enfermagem e nove auxiliares de enfermagem. O tempo de experiência profissional na área obstétrica variou entre quatro a 25 anos. É importante ressaltar que, na rotina desta instituição os profissionais de enfermagem que trabalham na assistência ao trabalho de parto e parto não realizam partos, mesmo tendo enfermeiras obstétricas no seu quadro de profissionais. 3.1 A Equipe de Enfermagem Vivenciando a Participação do Acompanhante Durante o Trabalho de Parto e Parto. Para que haja humanização na assistência ao parto, é preciso que a equipe seja preparada para esta nova relação com a clientela, numa desconstrução de sua postura autoritária (CARVALHO,2003). A postura autoritária mostrou-se presente na fala de uma das enfermeiras, quando se referiu à equipe dizendo que eles sentiam-se ameaçados pela presença do acompanhante: A dificuldade era em lidar com a equipe de trabalho, com auxiliares de enfermagem, com médicos que me pareciam sentirem-se ameaçados pela presença daquela pessoa estranha no território que é só nosso, criando até coisas que não existiam pra dificultar a presença do familiar, isto me deixava bem triste, tinham dias que eu saia daqui bem chateada (E-06). A postura receosa manifestada por parte de alguns profissionais na inserção do acompanhante no processo do nascimento, pode ser justificada por não ter havido um preparo específico para a equipe acerca da presença do mesmo. Segundo Soares et al (2010)a presença do acompanhante pode gerar medo e ansiedade relacionados à incerteza e preocupações relativas à observação de como a parturiente está sendo assistida. Não saber lidar com uma situação nova no cotidiano do trabalho pode gerar os sentimentos de medo e ansiedade que Soares et al (2010) apontam, veremos isto nos seguintes relatos das enfermeiras. No início foi uma coisa um pouco razoável, porque a gente não sabia lidar com o familiar, não sabia o que a gente tinha que fazer. Então passamos por tudo isso e tiramos o nosso perfil, e agora tudo se encaixa tranquilamente (E-12). Eu acho o que nos tornou receoso assim, vamos dizer com medo, é que a gente não sabia qual era a reação, parecia que era um monte de GNUS entrando centro obstétrico a dentro,...antes o paciente era muito nosso.Então era uma coisa mais fria, eu acho que na hora da chegada, na hora da partida, tu tem que estar com as pessoas que tu conhece (E-12.) No estudo realizado, no centro obstétrico de uma maternidade em Campinas-SP foi constatado que, a superação das expectativas negativas dos profissionais de saúde, em relação ao acompanhante, ocorreu após a percepção de que não houve alteração da assistência e da rotina hospitalar, pois não houve limitação, restrição ou alteração na conduta dos profissionais envolvidos na assistência ao parto (BRÜGGEMANN ET AL, 2005). A Resistência inicial da equipe de enfermagem para aceitação do novo modelo de assistência transpareceu nos dizeres da enfermeira e da técnica de enfermagem. Com relação a nós equipe não estava acostumado a ter alguém assim do lado. Claro que no início foi um pouco difícil, teve um pouco de resistência, mas depois acabamos aceitando. Até porque, quando precisa fazer algum procedimento que a gente não se sente a vontade com eles ao lado, se pede que eles aguardem na salinha de espera, e eles aguardam, eu particularmente não gosto de puncionar com familiar junto...no mais, não me incomodo do familiar junto (E-09). Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.9-13, Jan-Fev-Mar. 2011. A participação deles não atrapalhou em nenhum momento. Por mais que tivessem abraçado, contaminado o campo, batido na mesa, desmaiado, de eu olhar e (perguntar) tu não é o familiar da moça que estava no parto normal?(resposta do acompanhante) é que eu nunca vi uma cesárea. Por mais que tenha acontecido tudo isso, de qualquer maneira agora a gente ri.Então acabou nos construindo melhor (E-12). Os profissionais de saúde reconhecem que o apoio dos acompanhantes gera sentimentos positivos na paciente (BRÜGGEMANN et al, 2005). A valorização da participação do acompanhante é reconhecida pela equipe podendo-se observá-la nas manifestações das profissionais de enfermagem. É fundamental para segurança e tranqüilidade da paciente, para evolução do trabalho de parto, é sensacional a presença do acompanhante. (E-07). Eu acho importante, acho que é um avanço que a gente esta tendo (E-09). Acho importante o acompanhante, eu acho uma hora muito difícil, ainda mais quando é uma experiência nova, primeira gestação, acho importante o apoio do familiar, porque nesta hora tu ta num hospital, só pessoas estranhas na tua volta (E-08). 3.2 O Acompanhante Participando do Processo do Parto. Os profissionais de saúde estão percebendo mudanças positivas desencadeadas pela presença do acompanhante no processo do nascimento. No estudo de Brüggemann et al (2005) o acompanhante foi visto como um dos aspectos da humanização do parto, levando os profissionais de saúde a repensar o significado do nascimento. No presente estudo evidenciamos também, o que o autor acima encontrou. As técnicas de enfermagem assim falaram: Antigamente, quando eu entrei aqui, eram gritos, gritos, hoje em dia, não se vê mais paciente que berra, acho mais tranqüilo ... elas tão mais tranqüilas, bem mais confiantes, menos ansiosas, elas sabem que o trabalho de parto é demorado, o familiar também sabe...o trabalho flui mais no pré-parto, o familiar fica ali dando a mão, ajudando, estimulando, fica na cabeceira dando apoio pra ela (E-03). Para as pacientes tem sido bom, muito bom, porque elas se sentem mais seguras, por mais que tenha assistência de enfermagem: enfermeira, auxiliares, e médicos, elas querem enxergar um familiar seu, se sentem assim perdidas naquele momento.E melhorou bastante a condução do trabalho de parto... melhorou porque eles participam desde o início do trabalho de parto (E-17). Houve relatos de que algumas parturientes apresentam comportamento inadequado na presença do acompanhante, pois ficam dengosas, mimadas. A opinião dos profissionais, pode refletir a expectativa de um comportamento passivo da parturiente, conveniente à equipe de saúde e à instituição, como referiu também Brüggemann et al (2005) em seu estudo. Em outro estudo, é colocado que o acompanhante deve ser preparado para poder acompanhar com tranqüilidade o processo do parto, e não ser um instrumento de controle de comportamentos (CARVALHO, 2003). A mesma situação, relatada pelos autores, aflorou na presente pesquisa, identificada nas colocações das profissionais de enfermagem. Algumas pacientes ficam até um pouco dengosas ou mais queixosas quando tem um familiar (E-11). Tem outras que continuam em cima da cama, tem umas que machucam o acompanhante com mordidas, arranhões...(E-12). Também algumas pacientes que ficam mais manhosas, quando o familiar ta junto, elas solicitam mais, se queixam mais, geralmente quando é o marido de repente, ela ta querendo que o marido valorize tudo aquilo que ela ta passando (E18). 11 Paz, L. S. ; Fensterseifer, L. M. Nas urgências, os profissionais podem perceber o acompanhante como um parceiro, apesar da tensão sentida pela sua presença. No estudo de Brüggemann et al( 2005), os profissionais referiram que em situações de urgência, a presença do acompanhante gera ansiedade,mas isto não interferiu na forma de como a assistência foi prestada, pois o profissional concentrou sua atenção na parturiente. Disse uma técnica de enfermagem: Quando há uma complicação...foi uma cesárea, o bebê não nasceu bem, quando a gente viu o familiar tava ali em volta, naquela angústia, e a equipe toda envolvida com o bebê e não viu(ele)...ele foi uma pessoa bem coerente, graças a Deus, ele viu que a gente estava na correria, todo mundo envolvido em recuperar o bebê, então ele ficou ali parado...e a equipe médica também tensa...mas depois tudo ficou bem, o bebê ficou bem, e ele agradeceu, e entendeu tudo o que aconteceu...é um pouco difícil na hora da correria, mas a gente se acostuma...(E-09). quando a paciente é maior, eles não deixam, a não ser que incomodem muito, que faça bafo lá na frente, aí eles até deixam, mas não são todas as pessoas, não sei como é que vai ser agora com a lei (E-16). Depois de muitos anos trabalhando na obstetrícia, eu achei ótimo que isso seja lei, porque nosso país é muito grande, muitas diversidades, muitas culturas, eu acho que precisa de uma lei mesmo pra obrigar (E-07). Para o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), os profissionais de saúde desempenham um importante papel no processo do nascimento, tendo a oportunidade de colocar seu conhecimento a serviço do binômio mãe-bebê. Podem minimizar a dor, ficar ao lado, dar conforto, esclarecer, ajudar no trabalho de parto e parto. A equipe de enfermagem faz este preparo, como observamos nas expressões das técnicas de enfermagem. “Desde o início tento prepará-las para a dor...tu sabes que a tendência até o bebê nascer é que vai doer, a gente tenta explicar pra elas (E-01)...tu ta ali, dá conforto... tu dá a mão, tudo o que elas querem, elas querem esta em contato, tendo alivio (E-03). 3.2.1 Preparo do Acompanhante e da parturiente. As entrevistadas do presente estudo revelaram que as parturientes e seus acompanhantes, não estão sendo preparados adequadamente no pré-natal, pois muitos vivenciam medo, angustia, falta de esclarecimento sobre o trabalho de parto e parto. Um estudo realizado numa maternidade em Fortaleza, também relata que os acompanhantes não estão sendo orientados e preparados previamente para desempenhar o seu papel na sala de parto, pela falta de compreensão do trabalho de parto e a importância do suporte emocional(SOARES et al,2010). Foi dito por uma técnica de enfermagem: Eu vejo que eles estão muito despreparados, não existe uma preocupação no pré-natal...os familiares não participam do pré-natal, então eles não sabem muito bem o que é um trabalho de parto, então tudo assusta eles. Se está perdendo liquido assusta, se sai sangue assusta mais , tem que explicar que trabalho de parto é assim mesmo, que as dores não vão diminuir...aí, eu questiono o que ensinam no pré-natal (E-16). A equipe de enfermagem tem um papel importante na preparação e no apoio ao acompanhante e à parturiente para que tenham uma vivência mais humanizada no trabalho de parto e parto. No estudo de Soares et al (2010), a equipe de enfermagem não reconhece como sua, a responsabilidade pela orientação e treinamento do acompanhante, embora o faça na prática. A respeito disso, a enfermeira falou: Ele atrapalha em algumas circunstâncias, quando ele não sabe, e não foi instruído sobre qual é o papel dele, isto também é papel da enfermeira que recebeu o acompanhante, tem tempo pra disponibilizar, orientar sobre qual a importância dele ali, o que ele pode, e o que ele não pode, isto acontece tranqüilo, às vezes acontece tumulto porque não é esclarecido (E-07). 3.3 Legislação e Ações da Equipe Obstétrica. A medicina foi transformada pela sociedade capitalista numa estratégia de controle social, e o saber médico transformou a arte de curar em poder de curar (CASTRO; CLAPIS, 2003). E, Sodré; Lacerda (2007) diz ainda que, a enfermeira apresenta seu trabalho subordinado ao médico, sendo caracterizado como instrumento de trabalho do médico. Em alguns depoimentos das participantes deste estudo, percebe-se que a enfermagem ainda não tem autonomia para realizar práticas de humanização no processo do parto, devido a hegemonia médica, ou pela não adequação da maternidade às necessidades das parturientes. “A única enfermeira que usa essa coisa de humanização, parto humanizado, é a enfermeira da manhã, eu não sei se é por causa da lei. Essa a gente diz, se tiver gato até cachorro ela deixa passar junto, independente se for menor, ela deixa passar todo mundo” (E-16). 3.4 Estrutura e Organização do Centro Obstétrico. De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), os hospitais apresentam algumas resistências em modificar suas “rotinas” em obstetrícia e poucos são os que têm um mínimo de condições e instalações, por exemplo, para receber um acompanhante da gestante do SUS em trabalho de parto ou garantir sua privacidade. O ambiente físico do centro obstétrico pode ou não contribuir ou facilitar a presença do acompanhante. A fala da enfermeira mostra este aspecto: No hospital, o nosso problema é a área física...precisa passar por reforma, mas como é um hospital público, isto é mais complicado,...porque a gente precisa dar área física pra ele (acompanhante), que não tem conforto, eles não tem espaço prá botar uma cadeira do lado do leito, ele fica em pé, a gente não tem banheiro, o banheiro é no térreo (o centro obstétrico é no 10º andar) (E-07). De acordo com o Ministério da Saúde (BRASIL, 2003), é importante que os profissionais de saúde transformem sua prática na direção de uma relação mais humanizada e segura, onde o parto possa ser resgatado como o momento do nascimento, respeitando todos os seus significados e devolvendo à mulher o seu direito de ser mãe com humanidade e segurança. Em algumas entrevistas, percebe-se que entre as profissionais de enfermagem não existe um conhecimento uniforme sobre a Lei do Acompanhante, provocando ações contraditórias a uma prática humanizada no processo do nascimento. As falas assim o demonstram: Estudo semelhante ao nosso, realizado com pais em uma maternidade pública do Rio de Janeiro coloca que, em situações de lotação dos leitos disponíveis, a falta de privacidade impedia a presença dos pais que retornavam à sala de espera, e que depois de muitas horas de espera, desistiam e se retiravam (CARVALHO, 2003). As entrevistas possibilitaram que a equipe de enfermagem abordasse a falta de privacidade das parturientes, pois mesmo tendo os leitos separados por cortinas, quando o pré-parto encontrava-se lotado, os companheiros eram impedidos de permanecer ao lado delas. E não são todos que tem esse direito ao acompanhante, não sei agora com a função da lei como é que vai ficar?A princípio aqui é só quando são menores, É, tem pacientes que querem a presença do familiar, mas quando esta muito cheio com vários pacientes, o tamanho não é suficiente, o quarto é muito peque- 12 Revista Interdisciplinar NOVAFAPI, Teresina. v.4, n.1, p.9-13, Jan-Fev-Mar. 2011. Equipe de enfermagem e o acompanhante no parto em um hospital público de Porto Alegre ninho, uma coisinha de nada, tem as cortinas que separam, mas é muito apertadinho.(E-04).Conforme a demanda do serviço esta lotado, esta muita correria, a gente pede pros familiares realmente saírem, porque a gente se perde (E-12). Alguns profissionais referiram-se sobre a importância de ter uma estrutura física e organização adequada do centro obstétrico para a realização de uma assistência humanizada, mas evidenciaram que as mudanças mais importantes devem envolver os profissionais de saúde. Para o acompanhante se sentir acolhido, ele se sentir melhor aceito, respeitado...vendo que existe uma área restrita, que ele pode ficar mais a vontade, que existe uma roupa diferenciada,...a presença dele foi preparada...no entanto a reforma mais importante, fundamental, é a reforma de nós pessoas que trabalhamos neste lugar...então é uma reforma muito mais difícil do que a reforma física, que também é gritante, a reforma de nós trabalhadores do centro obstétrico ( E-06). O acompanhante que esta disposto a assistir o parto, ele não enxerga nada disto, ele não quer saber se não tem banheiro, se tem cadeira.Ele quer ta ali com o familiar dele, e na verdade é isto que importa pra ela é a presença, e pra eles é isto que eles querem é ta junto ( E-07). Percebe-se com os depoimentos, que a equipe de enfermagem muito tem contribuído para a humanização da assistência neste centro obstétrico, estimulando à presença do acompanhante durante o trabalho de parto e parto, mas a enfermeira obstétrica pode e deve ampliar sua prática profissional, como a realização de partos normais. Mas para isso, os profissionais médicos e a instituição também devem compreender que a enfermeira obstétrica é uma profissional especializada, integrante da equipe de saúde, que muito tem a contribuir no processo do nascimento. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Participaram do estudo, 18 profissionais integrantes da equipe de enfermagem do centro obstétrico, enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem, todas com experiência na área obstétrica. Os seus depoimentos demonstraram que o centro obstétrico está se adequando a nova legislação. Evidenciaram também que não houve um preparo inicial da equipe de saúde à presença do acompanhante no centro obstétrico, manifestada pela angústia, medo, resistência, e desconhecimento sobre a Lei do Acompanhante. Mostraram haver atitudes contraditórias às práticas humanizadas ao parto e trabalho de parto, como por exemplo: permitir somente o acompanhante nos turnos diurnos e no caso da parturiente ser menor de 18 anos. As profissionais de enfermagem demonstraram que estão mais sensibilizadas com as propostas de humanização da assistência ao nascimento, mas ainda encontram barreiras as suas práticas devido à falta de autonomia da enfermeira, a hegemonia médica e a não adequação da instituição ao novo modelo de assistência preconizada pelas políticas públicas de saúde. A ambigüidade institucional ficou clara em algumas entrevistas, pois aderiu a política de humanização ao parto e trabalho de parto, mas não realizou as mudanças necessárias na estrutura física e organizacional, para assegurar uma assistência humanizada no nascimento. A falta de protocolos assistenciais que garantam uma prática obstétrica humanizada baseada em evidências científicas, onde a enfermeira obstetra possa realizar partos normais é um outro aspecto que envolve a instituição, e que precisa ser observado. A presença do acompanhante no processo do nascimento é uma prática que favorece a humanização da assistência, provocando mudanças positivas: na parturiente, como segurança, conforto e vínculo com o seu meio familiar; na equipe, por estimular a reflexão da sua prática obstétrica e na instituição por favorecer a revisão de seu modo de gestão da assistência de saúde. Assim sendo, espera-se que este estudo contribua para o repensar das práticas da assistência de enfermagem obstétrica, onde a parturiente e seu acompanhante sejam protagonistas no processo do nascimento. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Área Técnica de Saúde da Mulher. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. p. 199. DOTTO, L. M. G.; MAMEDE. M. V. Atenção qualificada ao parto: a equipe de enfermagem em Rio Branco, Acre, Brasil. Rev. Esc. Enferm. USP, São Paulo, v. 42, n. 2, p.331-8, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. 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