XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Rendimento e análise sensorial da carne do caranguejo de água doce Dilocarcinus pagei Meat yield and sensory analysis of the freshwater crab Dilocarcinus pagei Elias Santos da Costa1, Márcia Loyana Pedreno Viana2, Bruno Sampaio Sant’Anna3, Gustavo Yomar Hattori3 Zootecnista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (IFAM) – Campus Parintins, Parintins, Amazonas, Brasil. Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência e Tecnologia para Recursos Amazônicos, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Manaus, Amazonas, Brasil. e-mail: [email protected] 2 Aluna de graduação, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Itacoatiara, Amazonas, Brasil 3 Professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia para Recursos Amazônicos, Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET), Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Itacoatiara, Amazonas, Brasil 1 Resumo: O objetivo do trabalho foi determinar o rendimento e a aceitação pelo consumidor comum da carne do caranguejo Dilocarcinus pagei e o efeito do tempo de cozimento sobre os mesmos. Os caranguejos foram cozidos em água salmorada a 10% durante três tempos de cozimento (10, 15 e 20 minutos) com registro da largura e comprimento da carapaça, peso total e da carne após cozimento para determinação do rendimento de carne. Um total de 40 provadores não treinados foram utilizados para a da análise sensorial com avaliação dos parâmetros: aparência, cor, odor, sabor, textura e aceitação global. Os rendimentos de carne obtidos em cada tempo de cozimento foram de 11,55 ± 2,44% (10 minutos), 12,82 ± 1,96% (15 minutos) e 12,30 ± 2,36% (20 minutos), não havendo diferença significativa. Para análise sensorial, as notas atribuídas pelos provadores para aparência, cor, odor, sabor, textura e aceitação global também não apresentaram diferença entre os tempos de cozimento. O caranguejo D. pagei apresentou um baixo rendimento de carne quando comparado a outras espécies de braquiúros, mas com boa aceitação pelos consumidores, evidenciando um potencial uso como uma fonte de alimento alternativa. Palavras–chave: aceitação, atributos sensoriais, tempos de cozimento Abstract: The present study determined the meat yield of the freshwater crab Dilocarcinus pagei and their acceptance by the ordinary consumer analyzing the influence of cooking time. The crabs were cooked in water and salt 10% in three different cooking times (10, 15 and 20 minutes). Biometric variable as the size (width and length of the carapace), the total wet weight and the cooked meat weight were recorded to determine the crab meat yield. A total of 40 tasters not trained were used in the meat sensory analysis where the attributes analyzed were: appearance, color, odor, flavor, texture and overall acceptability. The crab meat yield was 11.55 ± 2.44% (10 min) 12.82 ± 1.96% (15 minutes) and 12.30 ± 2.36% (20 minutes), without influence of the cooking time. The cooking time also did not influence the tasters score for appearance, color, odor, flavor, texture and overall acceptance. The freshwater crab D. pagei has low meat yield when compared to other braquiurans, but has a good meat acceptance by the consumers, which might be used as an alternative source of food. Keywords: acceptance, sensory attributes, cooking times Introdução Muitas espécies de caranguejos são usadas para alimentação humana em todo o mundo (Yeo et al., 2008) e Dilocarcinus pagei é um caranguejo de água doce de médio porte muito utilizado como isca-viva, mas que apresenta potencial para ser utilizado como fonte de alimento e renda na região amazônica, principalmente no período de escassez de peixes. O aproveitamento desse recurso esbarra na carência de trabalhos sobre rendimento de carne, composição química e aceitação pelo consumidor para a determinação da viabilidade e potencial desse recurso pesqueiro, com uma possível geração de subsídios para a indústria explorar. Nesse contexto, estudos sobre o potencial produtivo, geração e aproveitamento de resíduos e aceitação pelo consumidor são etapas fundamentais na determinação da viabilidade de que uma espécie possa ser explorada economicamente. O objetivo do trabalho foi determinar o rendimento e a aceitação pelo consumidor comum da carne do caranguejo D. pagei e o efeito do tempo de cozimento sobre os mesmos. Página - 1 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Material e Métodos Os caranguejos foram coletados na região de Itacoatiara (AM). Os animais foram mensurados quanto as variáveis biométricas: largura (LC) e comprimento da carapaça, com o auxílio de paquímetro (0,05mm) além do peso total úmido (PT) e peso da carne após cozimento (PC) com uma balança semi-analítica (0,001 g). O cozimento foi realizado em água salmorada a 10% onde os caranguejos foram divididos em três tempos de cozimento (10, 15 e 20 minutos). Após o cozimento, os exemplares foram estocados durante 12 horas em secador. A carne cozida foi obtida através da retirada de forma manual: da carapaça, pereiópodos e dos quelípodos para a obtenção do total de carne. O rendimento da carne foi determinado pela equação RC = (PC/PT)*100 onde, RC = rendimento de carne (%). Os dados de tamanho do animal e o peso total e o peso cozido da carne foram submetidos a uma análise de regressão linear para verificar uma possível relação entre essas variáveis. A aceitabilidade foi investigada por meio de oferecimento de porções de caranguejos de cada tempo de cozimento, sendo avaliada sensorialmente em um painel de 40 provadores. Os atributos qualitativos avaliados foram: aparência, cor, odor, sabor, textura e aceitação global, sendo utilizada uma escala hedônica de 9 pontos para cada atributo variando de 1 (desgostei muitíssimo) a 9 (gostei muitíssimo). Foi realizada a análise das frequências das notas hedônicas para cada tempo de cozimento onde as notas hedônicas que variaram de 1 a 5 indicaram consumidores que não gostaram da amostra e notas hedônicas que variaram de 6 a 9 indicaram os consumidores que gostaram da amostra. Os dados de rendimento e análise sensorial foram submetidos a ANOVA de uma via e posteriormente complementada com teste de Tukey quando houve diferença significativa adotando nível de significância de P<0,05. Resultados e Discussão Os animais foram agrupados por tamanho (largura e comprimento do cefalotórax) a fim de evitar o efeito do tamanho sobre o rendimento de carne dos mesmos (Tabela 1). Tabela 1. Variáveis biométricas dos 60 espécimes de D. pagei capturados para o presente estudo. Variáveis Largura da carapaça (mm) Comprimento da carapaça (mm) Peso total úmido (g) Peso da carne cozida (g) 10 min 43,19 ± 4,45 36,70 ± 3,31 38,01 ± 11,44 4,24 ± 1,89 Tempo de cozimento 15 min 20 min 41,78 ± 4,27 41,62 ± 4,91 36,18 ± 3,42 35,35 ± 4,08 36,21 ± 11,25 35,68 ± 9,76 3,95 ± 1,52 3,51 ± 1,45 Não foi encontrada diferença no rendimento de carne entre os tempos de cozimento (P>0,05). O rendimento de carne foi de 11,55 ± 2,44%, 12,82 ± 1,96% e 12,30 ± 2,36% para os tempos de cozimento de 10, 15 e 20 minutos, respectivamente. O baixo rendimento implica numa grande quantidade de resíduos produzidos concordando com Ogawa et al. (2007) Esse baixo rendimento de carne dificulta o aproveitamento dessa espécie como alimento direto, mas pode ser utilizado pela indústria alimentícia como extrativo saborizante e dos resíduos pode-se extrair outros produtos tais como pigmentos carotenoides e quitina/quitosana (Ogawa et al., 2007). Outra alternativa seria testar o SIAC (Sistema de Imobilização e Abate de Crustáceos) proposto por Ogawa et al. (2008) para o caranguejo Ucides cordatus com o objetivo de um maior aproveitamento da carne bem como a obtenção de um produto com melhor qualidade. As equações LogPC = 2,9485LogLC – 4,2282 (N = 60; F = 101,1025; R2 = 0,6355; P<0,0001) e LogPT = 2,4013LogLC – 2,3509 (N = 60; F = 196,1348; R2 = 0,791; P<0,0001) evidenciam uma aumento do peso da carne e do peso total úmido com o tamanho do caranguejo. A carne do D. pagei foi bem aceita pelo painel de provadores em todos os atributos avaliados (Figura 1). Os atributos aparência e odor apresentaram a maior aceitação (maior que 80%) sendo esses dois atributos importantíssimos na decisão do consumidor na aquisição de um produto (Teixeira, 2009). A aceitação da cor da carne variou de 62,5 a 72,5% devido à comparação à coloração da carne do camarão que é o crustáceo mais consumido na região. Os atributos sabor e textura que são relacionados ao paladar apresentaram aceitação maior que 70% o que demonstra que a carne do caranguejo D. pagei foi bem aceita pelo consumidor. Quanto à aceitação global, no qual o consumidor considera todos os atributos anteriores, a carne obteve aceitação mínima de 75% demonstrando uma tendência do consumidor comum em adquirir o produto. A carne de D. pagei pode ser considerada uma fonte alimentar alternativa importante na região amazônica, principalmente para as épocas com escassez de peixe. Página - 2 - de 3 XXV CONGRESSO BRASILEIRO DE ZOOTECNIA ZOOTEC 2015 Dimensões Tecnológicas e Sociais da Zootecnia Fortaleza – CE, 27 a 29 de maio de 2015 Figura 1. Notas de aceitação dos atributos sensoriais da carne do caranguejo D. pagei. O tempo de cozimento não influenciou nos atributos sensoriais da carne de caranguejo (Tabela 2). Isso pode ter acontecido devido à carapaça do caranguejo, no intervalo de tempo testado, proteger a carne da ação intensa do cozimento e, consequentemente, preservando as características sensoriais da mesma. Tabela 2. Média das notas atribuídas pelos provadores aos atributos sensoriais da pagei. Tempo de cozimento Atributo 10 min 15 min 6,90 ± 1,65 a 6,90 ± 1,78 a Aparência 7,05 ± 1,30 a 7,00 ± 1,60 a Odor 6,03 ± 1,93 a 6,53 ± 1,91 a Cor 6,93 ± 1,95 a 6,88 ± 2,10 a Sabor 6,83 ± 1,87 a 6,80 ± 1,96 a Textura 6,68 ± 1,79 a 7,05 ± 1,91 a Aceitação global Médias seguidas por letras iguais não diferiram estatisticamente (*P>0,05). carne do caranguejo D. 20 min 7,23 ± 1,62 a 7,10 ± 1,52 a 6,08 ± 2,51 a 6,43 ± 2,43 a 7,03 ± 1,97 a 6,68 ± 2,31 a Conclusões O caranguejo D. pagei apresenta baixo rendimento de carne e ausência de diferenças entre os atributos sensoriais analisados, independente do tempo de cozimento. A carne do caranguejo D. pagei apresentou boa aceitação entre os consumidores, podendo ser considerado uma fonte de alimento alternativa. Agradecimentos Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) pela Autorização para atividades com finalidade científica nº 43487-1, a todos os voluntários que participaram da análise sensorial e os membros (alunos de graduação e pós-graduação) do Laboratório de Zoologia do ICET/UFAM. Literatura citada OGAWA, M.; SILVA, A.I.M.; OGAWA, N.B.P.; MAIA, E.L.; NUNES, M.L. Adequações tecnológicas no processamento da carne de caranguejo. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.28, n.1, p.78 – 82, 2008. OGAWA, M.; MAIA, E.L.; FERNANDES, A.C.; NUNES, M.L.; OLIVEIRA, M.E.B.; FREITAS, S.T. Resíduos do beneficiamento do camarão cultivado: Obtenção de pigmentos carotenóides. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v.27, n.2, p.333 - 337, 2007. TEIXEIRA, L.V. Análise sensorial na indústria de alimentos. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v.64, n.366, p.12 - 21, 2009. YEO, D. C.J.; NG, P.K.L.; CUMBERLIDGE, N.; MAGALHÃES, C.; DANIELS, S.R.; CAMPOS, M.R. Global diversity of crabs (Crustacea: Decapoda: Brachyura) in freshwater. Hydrobiologia, v. 595, p.275 – 286, 2008. Página - 3 - de 3