RELATÓRIO FINAL CALDAS NOVAS E RIO QUENTE – GO TURISMO SOCIAL E TERMALISMO VIVÊNCIAS BRASIL: APRENDENDO COM O TURISMO NACIONAL 2008/2009 MARÇO/ABRIL DE 2009 MINISTÉRIO DO TURISMO Luiz Eduardo Pereira Barretto Filho, Ministro de Estado Secretaria Nacional de Políticas do Turismo Airton Pereira, Secretário Diretoria de Estruturação, Articulação e Ordenamento Turístico Tânia Brizolla, Diretora Coordenação Geral de Segmentação Rosiane Rockenbach, Coordenadora Fabiana Oliveira Wilken Souto SEBRAE NACIONAL – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas Paulo Tarciso Okamotto, Presidente Diretoria de Administração e Finanças Carlos Alberto dos Santos, Diretor Diretoria Técnica Luiz Carlos Barboza, Diretor Gerência da Unidade de Atendimento Coletivo, Comércio e Serviços Ricardo Guedes, Gerente Aryanna Nery Décio Tavares Coutinho Dival Schmidt Lara Franco Germana Barros Magalhães Valéria Barros BRAZTOA – Associação Brasileira das Operadoras de Turismo José Eduardo Barbosa – Presidente Monica Eliza Samia – Diretora Executiva Domenico Palma Neto – Coordenador Geral Lilian La Luna Márcia Neves Rafael Frias Consultoria Técnica Anete Ferreira 3 SUMÁRIO 1. Apresentação do projeto Vivências Brasil ...................................................... 5 2. Apresentação institucional........................................................................... 7 3. Participantes da viagem técnica ................................................................... 9 4. Metodologia de benchmarking utilizada........................................................12 5. Boas e melhores práticas em Turismo Social e Termalismo em Caldas Novas e Rio Quente ................................................................................................. 18 5.1 Roteiro de viagem ...................................................................................20 5.2 Práticas identificadas ...............................................................................22 5.3 Experiências observadas no roteiro ...........................................................25 Conclusão ....................................................................................................59 Referências Bibliográficas ..............................................................................61 4 1. Apresentação do projeto Vivências Brasil O Projeto VIVÊNCIAS BRASIL: Aprendendo com o Turismo Nacional foi idealizado em 2005, no âmbito do macro-projeto “Brasil, Brasil”, cujo objetivo é proporcionar a diversificação da oferta turística a partir dos segmentos turísticos. O projeto é uma iniciativa do Ministério do Turismo, por meio da Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – Sebrae, em parceria com a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo – Braztoa. Dessa forma, os objetivos do Projeto Vivências Brasil estão contextualizados dentro das políticas públicas do Ministério do Turismo. Proporcionam aos destinos turísticos brasileiros possibilidades para o incremento na qualidade da oferta e a melhoria nas práticas da operação, por meio da realização de viagens técnicas para a observação da operação, da gestão empresarial e das estratégias de desenvolvimento de produtos turísticos segmentados, que são referência no país. A realização de viagens técnicas para as observações de experiências que representam boas práticas, na operação da atividade turística com foco na oferta segmentada, é uma forma alternativa de encorajar os atores de destinos turísticos a implementar significativas inovações em sua maneira de atuar, visando elevar a qualidade dos serviços prestados. A técnica utilizada para a observação e o aprendizado com o exemplo das boas e melhores práticas é a de benchmarking1, que permite a vivência in loco das práticas de referência almejadas. O ciclo do benchmarking perpassa essencialmente cinco etapas: observação, assimilação, comparação, adequação e implementação. A partir do Projeto Excelência em Turismo: Aprendendo com as Melhores Experiências Internacionais iniciado em 2005, foram identificadas boas oportunidades de melhorias e inovações na gestão dos destinos que tiveram empresários turísticos participantes. Assim, com aprendizado adquirido por meio do Projeto Excelência em Turismo, foi possível verificar a eminente necessidade de se trabalhar processos similares para atender regiões turísticas do Brasil que ainda não estão em estágios avançados para implementação de melhores práticas, mas que já recebem números significativos de turistas do país e do mundo. Nesse sentido, foi realizado em 2006, pela primeira vez, o Projeto Vivências Brasil, a partir de algumas regiões turísticas do país, que já trabalham o produto turístico de forma madura e satisfatória, o que pôde se constituir em exemplos de boas práticas que podem e devem ser assimiladas e replicadas nas regiões menos desenvolvidas nesse quesito. Em 2006, os segmentos contemplados foram cultural, rural, ecoturismo, mergulho, aventura e sol e praia e os destinos referência que nortearam os trabalhos nessa 1ª edição foram Estrada Real (MG), Vale do Café (RJ), Bonito (MS), Fernando de Noronha (PE), Roteiro Integrado (CE, PI, MA) e Costa dos Corais (AL), respectivamente. Cinqüenta e cinco empresários de turismo foram apoiados diretamente em 2006, favorecendo cerca de quatro mil atores da cadeia produtiva do turismo através da disseminação do aprendizado, numa previsão modesta de que cada empresário 1 Benchmarking: trata-se de um processo dinâmico e contínuo de aprimoramento e melhoria em negócios/empresas ou instituições, com base na observação e análise de outras experiências de referência, adaptações, implementações e constante avaliação. 5 participante das viagens capacita outros trinta profissionais em 3 ações de multiplicação. A partir do sucesso do projeto Vivências Brasil 2006 e do Excelência em Turismo 2005 e 2006, foi lançada a 2ª edição do Vivências Brasil, considerando os ajustes necessários a partir do aprendizado obtido nas edições anteriores. Portanto, o alcance dos resultados efetivos para o aumento da qualidade dos produtos e serviços turísticos vem ao encontro da necessidade de atender às exigências de turistas nacionais e internacionais. O Projeto 2008/09 renova a parceria entre Ministério do Turismo, Sebrae e Braztoa, e tem como segmentos prioritários para visitas Ecoturismo em Unidades de Conservação, Turismo Cultural, Turismo Rural, Turismo de Sol e Praia, Turismo Social e Termalismo. Os destinos selecionados são, respectivamente: Foz do Iguaçu/PR, Rio de Janeiro e Paraty/RJ, Serra Gaúcha/RS, Acolhida na Colônia/SC, Costa dos Coqueiros/BA e Caldas Novas – Rio Quente/GO. Público-alvo Prioritariamente pequenos e médios empresários, representantes ativos da cadeia produtiva do turismo, que focam sua atuação principalmente nos 65 Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional, identificados pelo MTur, e atendem especialmente ao turismo receptivo internacional, nos segmentos/temas de cada uma das viagens técnicas. Objetivo geral Identificar, observar e analisar, em destinos nacionalmente reconhecidos, boas e melhores práticas, possibilitando que outros destinos turísticos com vocações semelhantes tenham como referência as estratégias e os modelos levantados e possam adaptá-los a sua cultura e as suas peculiaridades, com vistas a uma mudança que leve o desenvolvimento da atividade turística no País a melhores resultados. Por meio da organização de seis viagens técnicas, o projeto foca na observação da operação e da estratégia de desenvolvimento de produtos turísticos nos segmentos-tema. Enfoca também o aprendizado e o fomento à implementação das boas práticas observadas, visando o aprendizado pelos participantes e o conseqüente aprimoramento dos serviços, da qualidade e da competitividade dos produtos turísticos brasileiros. Este relatório apresenta a experiência vivenciada durante a viagem técnica realizada em Caldas Novas e Rio Quente, onde foram observadas práticas relacionadas ao turismo social, à estrutura termal, as iniciativas voltadas para o público da melhor idade e aos grupos familiares. 6 2. Apresentação institucional Ministério do Turismo/EMBRATUR Tem como missão desenvolver o turismo como uma atividade econômica sustentável, com papel relevante na geração de empregos e divisas, proporcionando a inclusão social. O Ministério do Turismo inova na condução de políticas públicas com um modelo de gestão descentralizado, orientado pelo pensamento estratégico. Papel no projeto – Instituição Realizadora Propôs o projeto e acompanha os resultados Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE Nacional) Trabalha pelo desenvolvimento sustentável das empresas de micro e pequeno porte, promovendo cursos de capacitação, facilitando o acesso a serviços financeiros, estimulando a cooperação entre as empresas, organizando feiras e rodadas de negócios e incentivando o desenvolvimento de atividades que contribuam para a geração de emprego e renda. Papel no projeto – Instituição Realizadora Propôs o projeto e acompanha os resultados Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA) É uma sociedade civil, sem fins lucrativos, fundada em 1989. Sua finalidade é: Promover a valorização das atividades desenvolvidas por seus associados, no País e no exterior; Promover ações que aproximem seus associados das agências de viagens e dos demais segmentos do setor turístico; Promover o aperfeiçoamento das relações comerciais entre seus associados e empresas de transporte aéreo, hotéis e demais fornecedores; Aproximar os associados de entidades congêneres nacionais internacionais, podendo participar também de suas ações promocionais; ou Promover pesquisas, capacitação e ensino, visando o desenvolvimento institucional; Promover, por meio de projetos e parcerias, a divulgação de informações, atividades e outras demandas de interesse da entidade e de seus associados em 7 qualquer meio falado, escrito, eletrônico ou virtual, procedendo-se os eventuais registros nos órgãos competentes, se necessário. Papel no projeto – Executora Executa as ações previstas no projeto 8 3. Participantes da viagem técnica O grupo da viagem técnica foi composto por: EMPRESA PARTICIPANTE SEGMENTOS EM QUE OPERA DESTINO E TIPO CONTATO DE OPERAÇÃO Maria de Lourdes Santos Monteiro Negócios e Ecoturismo Ilha de Marajó – Soure/PA [email protected] Carmélia Jania da Costa Silva Rural Guarapari/ES [email protected] União Palace Hotel Fabiana Rodrigues Rocha Eventos e Negócios Janaúba /MG [email protected] Solar Corte Real Luiz Neves de Souza Cultural, Eventos e Negócios Sabará/MG Ouro Minas Grande Hotel e Termas de Araxá Sebastiana Aparecida Santos Eventos e Negócios, Termalismo Araxá/MG [email protected] Termas Ramos de Ayr Loss Termalismo e Saúde Marcelino Ramos/RS [email protected] Hotel Mossoró Thermas Marcos Roberto Souza Cultura, Eventos Termalismo Mossoró/RN [email protected] Hotel Marajó Pousada Montanha Águas da Marcelino de e Negócios, 9 INSTITUIÇÃO REPRESENTANTE ORIGEM CONTATO Ministério do Turismo Fabiana Oliveira Brasília/DF [email protected] Braztoa Lilian La Luna São Paulo/SP [email protected] Luzenice Bezerra Neves João Pessoa/PB [email protected] Viaja Mais – Melhor Idade Sylvio Campos São Paulo/SP [email protected] Roteirista João Akira Nishimura São Paulo/SP [email protected] Cinegrafista Fabiana Regina Leão Gavioli São Paulo/SP [email protected] Consultora Anete Ferreira Rio de Janeiro/RJ [email protected] Associação Brasileira Clubes da Melhor Idade dos 10 De forma ilustrativa, as seguintes Unidades da Federação tiverem representantes durante a viagem: Os participantes da visita técnica: Lourdes, Ayr, Fabiana Gavioli, Fabiana Rocha, Sebastiana, Luis, Luzenice, Marcos, Jaina e Lilian (em cima, da esquerda para a direita). Akira, Fabiana Oliveira, Anete e Sylvio. Fonte: Luzenice Bezerra Neves 11 4. Metodologia de benchmarking utilizada O benchmarking é um procedimento de comparação contínuo e sistemático que tem como objetivo principal verificar o estado de evolução de organizações, produtos, processos, estratégias ou atividades em relação a outras com características similares e/ou passíveis desta comparação. O benchmarking também tem como objetivo criar os padrões de referência para que as organizações e pessoas possam melhorar seu rendimento (desempenho) e, portanto, obter resultados mais adequados para a diferenciação competitiva no mercado. Para o processo da aplicação de benchmarking se utilizam alguns procedimentos de pesquisa estruturados em uma metodologia adequada às necessidades do tipo de observação e análise que se está efetuando. No caso do Projeto VIVÊNCIAS BRASIL – Aprendendo com o turismo nacional, a metodologia foi estruturada considerando cinco etapas, subdivididas em ações específicas, conforme demonstra a figura 1, a seguir. 12 Figura 1. Etapas da Pesquisa 1 - Pré-viagem - Identificação metodologia; - Realização benchmarking; do de destino e treinamento organização online da sobre - Reunião de Pactualização com empresários 2 - Pesquisa de Campo - Observação das boas e melhores práticas; - Entrevistas e aplicação dos questionários. - Análise do observado, com foco possíveis implementações no Brasil; nas - Análise final; 3 - Avaliação - Tabulação empresários; dos dados coletados pelos - Análise dos dados; 4 - Sistematização Final de informações técnicas 5 - Disseminação - Organização das informações em relatório final, DVD e banco de boas práticas (website); - Disseminação do conhecimento obtido, por meio de ações de multiplicação; - Aplicação do aprendizado em empresas e instituições – implementações; 13 Na primeira etapa (chamada pré-viagem) foi identificado o destino mais adequado para observação de boas e melhores práticas para o segmento escolhido. Também foi capacitada a equipe técnica do projeto, de forma a compreender o processo de benchmarking e a aplicação das ferramentas metodológicas. Os empresários selecionados foram capacitados por meio de um treinamento online sobre o conceito do projeto e puderam se preparar para a viagem; Também foi realizada a Reunião de Pactualização, com a liderança técnica, empresários e técnicos participantes da viagem, com o objetivo de informar detalhadamente a metodologia do projeto, alinhar os conhecimentos de benchmarking e explicar os principais aspectos a serem observados ao longo da viagem, na aplicação dos questionários e na realização das entrevistas. Os principais temas selecionados para observação durante as visitas e entrevistas, estão divididos em nove temas, e são: Aspectos de Gestão – Este item é relativo ao processo de gestão dos negócios. A observação foi efetuada considerando quais os elementos do processo que apóiam ou contribuem para a boa gestão dos negócios de turismo e se tornaram boa ou melhor prática no empreendimento visitado. Aspectos de Infraestrutura – Este item é relativo à disponibilidade do equipamento em relação à estrutura/capacidade física e de adaptação para atendimento a diversificados públicos/tipos de clientes. Refere-se, também, à apresentação, estética, decoração, acessibilidade e funcionalidade da estrutura do negócio. A sinalização é um ponto igualmente observado. Aspectos do Negócio – Produtos e Serviços Ofertados – Este item é relativo ao negócio propriamente dito, considerando as características específicas de cada equipamento turístico. É relacionado com a definição e estratégias dos 4 Ps do marketing (produto, praça, promoção e preço), e, principalmente, atendimento. Aspectos de Certificação – Este item é relativo ao processo de padronização e validação de procedimentos para a devida certificação dos produtos e/ou serviços turísticos. Corresponde a avaliação da existência de normas, regulamentos/leis e padrões mínimos para o estabelecimento de procedimentos de estruturação, avaliação e certificação dos produtos turísticos locais e/ou regionais. Aspectos de Formação e Qualificação – Este item observa as ações relativas à formação de profissionais para executar os serviços turísticos, bem como as políticas de gestão de pessoas aplicadas. Também observa a relação da formação profissional com os aspectos culturais e suas especificidades. Identifica qual a infraestrutura de instituições de formação e qualificação profissional existente e que contribui para o desenvolvimento do turismo. Aspectos de Segurança – Neste item é importante a observação dos aspectos relativos à segurança pessoal dos turistas/clientes, sua integridade física e moral durante o período de estada no destino. Observa a segurança de equipamentos utilizados no produto turístico, a gestão de riscos das atividades e as respectivas normas de conduta. Aspectos de Parcerias - Networking – Neste item são observados os aspectos relativos à parceria entre empresas, entre o setor público e privado e as entidades de classe e representação empresarial. Também investiga e identifica as melhores práticas de articulações interinstitucionais que promoveram o desenvolvimento dos negócios do turismo no destino. Aspectos envolvimento e características e desenvolvimento de Envolvimento da Comunidade – Este item investiga como ocorre o a participação da comunidade local no negócio, considerando suas especificidades. Observa a existência de projetos de inclusão social e da comunidade. Também verifica a integração e utilização dos aspectos 14 culturais do local nos produtos turísticos, como artesanato, costumes e outros, sob o ponto de vista da sustentabilidade social/cultural. . Segmento específico - Neste item são observadas as características e detalhes específicos dos espaços e atividades relacionados ao segmento analisado, sua forma de constituição e a importância como negócio. Na segunda etapa (pesquisa de campo – durante a viagem) foram realizados os levantamentos de informações, a aplicação dos questionários, a observação das boas e melhores práticas e as respectivas entrevistas nos destinos visitados. O elemento principal da pesquisa de campo foi a busca de informações, norteada pela visão dos empresários nas experiências práticas de cada viagem. Esta etapa compreendeu a observação e análise da realidade, registro das principais boas e melhores práticas e possibilidades de implementação das mesmas em seus negócios. Na terceira etapa (chamada Avaliação) foram realizadas as respectivas tabulações e análises dos instrumentos de levantamento de informações utilizados. Nas análises quantitativas, os equipamentos foram agrupados de acordo com o tipo de atividade do negócio, sendo que as respostas foram transformadas em porcentagens. A análise das questões teve como objetivo principal validar as boas e melhores práticas identificadas no destino e nos equipamentos visitados. Na quarta etapa (chamada Sistematização final de informações técnicas) foram efetuados os cruzamentos dos dados necessários e a identificação e respectivas conclusões de cada uma das boas e melhores práticas verificadas em cada destino. Como resultado desta etapa foram constituídos um relatório final, um DVD e demais informações apresentadas no website do projeto. O presente relatório é resultado final desta quarta etapa, que descreve as boas e melhores práticas observadas em cada visita, e faz referência aos principais exemplos que caracterizam a aplicação prática da gestão no turismo, infraestrutura, negócios e produtos turísticos, certificação e segurança nas operações de turismo, qualificação e formação de pessoas, parcerias empresariais e governamentais para desenvolver o turismo, envolvimento da comunidade no turismo e do segmento específico. Para facilitar o entendimento do leitor, destacam-se as diferenças entre boas e melhores práticas. Boas práticas são aquelas que refletem a aplicação de técnicas e ações já amplamente conhecidas em outros negócios e setores, que proporcionam algum grau de diferenciação do negócio ou destino turístico, mas que, no setor do turismo, ainda não estão totalmente disseminadas. Também é importante ressaltar que um conjunto de boas práticas poderá ajudar a construir uma melhor prática, evidenciando o processo de melhoria contínua que os negócios podem obter com uma boa gestão. Melhores práticas são aquelas que refletem uma implementação de técnicas e ações com alto grau de excelência, resultando, portanto, em uma diferenciação significativa no negócio ou destino turístico. Importante ressaltar que a prática de excelência pode tornar o negócio ou destino turístico diferenciado entre seus concorrentes, proporcionando alta competitividade empresarial (negócio turístico) e regional (destino turístico). A partir da análise das boas e melhores práticas, iniciam-se os procedimentos da última etapa (chamada Disseminação), que contempla a realização de reuniões, palestras e oficinas em várias regiões do Brasil para que os participantes (empresários, consultores e técnicos) das viagens possam disseminar os conhecimentos aprendidos e informações com o objetivo de promover novas práticas para o desenvolvimento do turismo. 15 O grande resultado do projeto e de todas as etapas acontecem quando os empresários implementam em seus negócios as práticas de referência observadas e conseguem por meio dessas inovações, alcançar melhores resultados do ponto de vista da qualidade e da satisfação de seus clientes. Esse relatório sistematiza os resultados e evidencia as boas e melhores práticas observadas durante a viagem técnica a Caldas Novas e Rio Quente, seguindo as etapas apresentadas acima. Para ilustrar cada prática observada, foi adaptada a seguinte iconografia: 16 Verde - BOA PRÁTICA Azul - MELHOR PRÁTICA Gestão Parcerias Infraestrutura Envolvimento da Comunidade Negócio Segmento Específico Certificação Segurança Qualificação e Formação 17 5. Boas e melhores práticas em Turismo Social e Termalismo em Caldas Novas e Rio Quente Caldas Novas e Rio Quente são duas cidades que integram a Região das Águas de Goiás e, juntas, formam o principal destino do interior do Brasil em termos de fluxo e de capacidade instalada da hotelaria. A viagem técnica do Vivências Brasil proporcionou aos participantes a observação de um destino estruturado para o atendimento de grandes fluxos. Todos os números impressionam, são mais de 3 milhões de visitantes por ano, com empreendimento que recebe sozinho aproximadamente 700 mil. Os espaços e serviços ordenados para o atendimento têm o tamanho e a proporção compatível com a alta temporada. Foi também uma oportunidade para conhecer melhor a dinâmica dos equipamentos que trabalham com os públicos das classes C e D, que são os segmentos determinantes na região, principalmente em Caldas Novas. A estrutura física e de serviços favorecem a convivência, adotam parâmetros médios, sem preocupações espaciais para as situações de exceção ou de exclusividade. Um dos aspectos que chamou a atenção do grupo foi a sinalização e as placas informativas in door, uma necessidade que se coloca em função do tamanho dos espaços físicos e do número de pessoas que frequentam simultaneamente os ambientes. Em todos os empreendimentos visitados essa prática estava presente, para orientar a circulação e o uso dos serviços pelos hóspedes. Caldas Novas, visão do bairro Turismo, que concentra o maior número de hotéis e é a área de expansão da cidade. Fonte: Anete Ferreira Chamou a atenção dos participantes o papel preponderante do empresariado. É a iniciativa privada quem responde integralmente pela promoção, pela imagem e pelo posicionamento do destino. Talvez uma consequência do modelo de 18 empreendimento “verticalizado” que busca ter o controle total do visitante, desde sua captação no mercado, passando pelo processo de comercialização, sua chegada e permanência no destino. Ao contrário do que acontece normalmente nos destinos domésticos e em outros lugares do mundo, o poder público é efetivamente um parceiro menor, circunscrito quase que exclusivamente ao atendimento da infra-estrutura básica, que neste caso é a mesma disponibilizada à população em geral. Mas também não se verifica uma liderança empresarial consistente, não identificamos nenhuma diretriz de orientação como destino. O que se observa são grupos empresariais fortes e atuantes, mas ainda sem uma ação coordenada de conjunto. Do ponto de vista do mercado turístico, a região é de certa forma, uma espécie de somatório das práticas desses grupos empresarias que, em função do referido modelo “verticalizado”, partilham dos mesmos conceitos, com visões e iniciativas muito semelhantes. Certamente esse cenário institucional, se por um lado, garante autonomia total aos empresários do setor, que não precisam cooperar ou participar de nenhuma ação coletiva; por outro, falta integração e compartilhamento nas iniciativas como destino, que muitas vezes se coloca fragilizado e vulnerável nas reivindicações em que precisa se colocar como tal, como é o caso das esferas ou instâncias públicas superiores, causando prejuízos à cidade e também ao ambiente dos negócios. Mas a experiência recente mostra que os empresários e/ou seus representantes diretos estão trilhando novas perspectivas em busca de soluções coletivas e práticas de cooperação. Durante a visita técnica, o grupo do Vivências Brasil teve a oportunidade de conhecer uma experiência muito interessante e inovadora da Associação das Empresas Mineradoras das Águas Termais de Goiás (AMAT). Mas antes é necessário um pequeno preâmbulo para contextualizar a importância do trabalho desenvolvido pela AMAT para o destino como um todo. O principal atrativo de Caldas Novas e Rio Quente é a água termal, que a legislação brasileira considera como sendo um recurso mineral e não necessariamente hídrico, como tal é regulamentada por códigos aprovados na década de 1940. O mundo mudou, e muito deste então, e a questão dos recursos naturais também, sobretudo a água, que tem recebido atenção especial da sociedade civil e dos governos. A distinção entre recurso mineral X recurso hídrico envolve uma diferença conceitual complexa, que alguns reduzem meramente a uma questão de exploração X gestão. Isso poderia não se configurar como problema efetivo se em nenhum momento a questão da possibilidade de finitude das águas termais não fosse colocada aos empresários da região, principalmente Caldas Novas. Mas o crescimento do número de hotéis, o aumento progressivo da vazão e da quantidade de poços associado ao problema da impermeabilização do solo na área urbana colocou em ameaça o nível dos mananciais, com o rebaixamento dos aquíferos termais; ou em outras palavras, o atrativo turístico do destino simplesmente poderia deixar de existir. O risco levou à organização dessa associação que em pouco tempo criou um sofisticado sistema de monitoramento, desenvolveu um projeto inovador de reabastecimento artificial dos aquíferos e contribuiu para o estabelecimento de novos parâmetros para o manejo/gestão das águas termais. Hoje a AMAT, além de auxiliar diretamente o DNPM (Departamento Nacional de Pesquisas Minerais) nos mecanismos de controle, é uma referência para a ANA (Agência Nacional de Águas) que lhe concedeu o prêmio pelo projeto que desenvolveu. A experiência da AMAT representa um avanço considerável no campo das ações cooperadas, que antes eram inexistentes e para as quais aparentemente não 19 haviam espaço. Esse processo com a AMAT foi, em parte, exequível pelo esforço empreendido pelos gerentes dos empreendimentos. A despeito das diferenças ou da concorrência entre os grupos empresariais, eles foram os primeiros a agir em prol do destino, criaram uma associação da categoria, depois lideraram a criação do Convention Bureau. Outra importante iniciativa em curso é o Projeto GEOR (Gestão Estratégica Orientada para Resultados) desenvolvido SEBRAE GO e que foi implantado na região em 2008. Em poucos meses este projeto conseguiu mobilizar e reunir os diferentes atores dos dois municípios em torno de temas de interesse comum, é hoje um instrumento que promove a integração e a articulação entre os setores públicos e privados. A própria metodologia do projeto exige um processo participativo, de encontros, reuniões, atividades e decisões e isso é, em si mesmo, um passo importante para o estabelecimento de uma visão conjunta do destino e para induzir práticas de cooperação, de parceria, ampliar a participação de outras áreas e abrir novas perspectivas de ação para o destino. Daí surgem outros projetos e ações, como o que está sendo realizado com o artesanato, o plano de marketing, a segmentação das atividades turísticas, entre outros. Caldas Novas e Rio Quente mostram a importância do empreendedorismo e das infinitas possibilidades comerciais de um destino quando é o empresário que está à frente, quando a atividade é tratada exclusivamente como um negócio. Isso exige determinação, coragem e capacidade de iniciativa. Mas o roteiro nos permitiu também observar um contraponto interessante, refletir sobre as fragilidades, obstáculos e oportunidades ignoradas quando a atividade turística que é realizada de forma isolada, sem parceria, sem cooperação, sem intercâmbio. 5.1 Roteiro de viagem No período de 30 de março a 04 de abril, o roteiro selecionado para as visitas dos participantes foi: Data 30/03 31/03 01/04 Horário Evento/atividade 15h00 Transfer Goiânia/Caldas Novas 19h00 Jantar em Caldas Novas 08h00 Café da manhã 09h00 Reunião de pactualização 12h30 Almoço 14h00 Visita ao Golden Dolphin Resorts 16h00 Visita ao Grupo DiRoma 18h00 Reunião de avaliação 20h00 Jantar 08h00 Café da manhã 09h00 Continuação visita ao Grupo DiRoma 10h30 Visita ao Hotel Taiyo 13h00 Transfer Caldas Novas/Rio Quente 20 02/04 13h30 Check in – Almoço 14h30 Visita ao Hot Park e Praia do Cerrado 19h00 Reunião de avaliação 21h00 Jantar 08h00 Café da manhã 09h00 Visita ao Rio Quente Resorts 13h00 Almoço 14h00 Continuação visita ao Rio Quente Resorts 16h00 Visita ao Serra Park 18h30 Reunião de avaliação 20h30 Jantar 07h30 Check out - Café da manhã 08h30 Transfer Rio Quente/Caldas Novas 09h00 Visita ao Sesc 13h30 Almoço Seminário 03/04 - Projeto GEOR - Sebrae 15h00 - AMAT - Convention Bureau - Secretarias de Turismo 04/04 18h00 Reunião de avaliação final 20h00 Jantar 09h00 Check out - Café da manhã 10h00 Transfer Caldas Novas/Goiânia 12h00 Chegada ao aeroporto para vôos de retorno aos destinos 21 5.2 Práticas identificadas A partir de todo o aprendizado obtido nas visitas, foram selecionadas as boas e melhores de cada experiência, conforme tabela abaixo: Práticas de Referência X Quartos X X para a família e o 22 Segmento Específico X Envolvimento da Comunidade Equipamentos em diferentes categorias para atender aos diferentes segmentos de público Parcerias - Network Grupo DiRoma Qualificação e formação Serviços 1 X Segurança e Estratégia de promoção e logística de comercialização Certificação Produtos Ações Negócio Ofertados Empreendimentos/Negócios visitados Infraestrutura Gestão Nº atendimento de grandes grupos Lazer, segmentação de público e como enfrentar a baixa temporada X Apartamentos com espaço físico e estrutura para o atendimento confortável de grupos e famílias. 2 3 Golden Dolphin Hotel Taiyo Gestão dos recursos naturais: faixa de preservação ambiental, estação de tratamento da água das piscinas térmicas Rio Quente Resorts (+ Hot Park) X X A estratégia comercial com ações diferenciadas por mercado de interesse X Qualidade e eficiência nos serviços X Iniciativas demonstram preocupações e atitudes de responsabilidade sócio-ambiental X Planejamento estratégico e business plan com visão de longo prazo 4 X Mix de produtos: promoção e vendas estratégia X de X Animação turística: intensa programação cultural, esportiva e de entretenimento X Conservação dos recursos naturais, valorização dos espaços verdes e dos jardins X X Diferentes X X equipamentos de 23 X X X X hospedagem atendidos por uma cozinha centralizada Política de parcerias para a qualificação e diversificação da oferta Uma equipe de talentos humanos 5 6 Serra Park Sesc Caldas Novas X X X Estratégia Comercial O turismo social na prática: inclusão, acessibilidade, convivência e intercâmbio entre os grupos, qualidade na estrutura e serviços (auto atendimento) X X Lazer, entretenimento, esporte e cultura complementam o produto SESC Caldas Novas Responsabilidade social e ambiental: o envolvimento com a comunidade e a estação de tratamento de água das piscinas termais X X X X X A rede de turismo social e a central nacional de reservas X Boa prática Melhor prática 24 X 5.3 Experiências observadas no roteiro De acordo com o roteiro proposto para a viagem técnica, os primeiros encontros aconteceram em Caldas Novas e tiveram o objetivo de apresentar as iniciativas dos empreendimentos para turismo social do ponto de vista conceitual e da operação em geral. A seguir, apresentam-se os resultados das reuniões acontecidas no local. 1 Grupo DiRoma Considerado como um dos maiores grupos empresariais da região, os empreendimentos do DiRoma incluem parques termais, centro de eventos e 7 equipamentos de hospedagem, que juntos representam mais de 1000 UHs da região. E o planejamento de expansão para o próximo triênio prevê a ampliação da capacidade instalada dos hotéis, a inauguração de um novo parque aquático e a construção de novos flats. Áreas de lazer de diferentes equipamentos de hospedagem do Grupo DiRoma Fonte: www.diroma.com.br É uma trajetória admirável para um negócio que começou em 1972 com um pequeno hotel acomodado em uma casa com 5 quartos no centro de Caldas Novas e soube crescer de forma consistente ao longo desses quase 40 anos. O DiRoma espelha muito bem o ciclo de desenvolvimento do turismo na região, às vezes liderando as transformações e em outras apenas incorporando as mudanças em processo. No começo da década de 1990 o sistema de flats e hotéis condomínios chegou a Caldas Novas. Em 1994 foi inaugurado o Império Romano, primeiro flat com a marca DiRoma. Hoje esses equipamentos correspondem aproximadamente a 80% da oferta hoteleira do Grupo e é o segmento que mantém forte ritmo de expansão. 25 É uma mudança substancial do perfil do negócio, que guarda relação direta com as transformações do setor de turismo no destino e com a própria estrutura urbana da cidade, que se verticalizou rapidamente em pouco mais de 15 anos. Os participantes conversam com o Gerente Geral de Hospedagem do Grupo DiRoma, Sr. Sparapani Fonte: Fabiana Rocha Contraditoriamente, tanto na rede DiRoma e como no destino, são os hotéis convencionais que apresentam o melhor desempenho em termos de taxa média de ocupação, 68% contra 35% nos flats, e no padrão de fidelização do cliente. Durante a visita técnica, pudemos confirmar isso junto aos hóspedes do Thermas e do “Rominha” (hotéis convencionais do Grupo), ouvimos depoimentos de turistas que visitam regularmente a cidade, ficam sempre hospedados no mesmo lugar, manifestam plena satisfação com a escolha e dispensam a possibilidade de experimentar outras alternativas. Contato www.diroma.com.br Tel: (64) 3455 9393 Sparapani Práticas observadas: Estratégia de promoção e a logística de comercialização O pioneirismo do DiRoma associado a uma visão empreendedora da empresária Magda Mofatto transformaram um pequeno empreendimento em um dos maiores Grupo empresariais da região. Chama a atenção a capacidade de manter o foco no negócio, o olhar atento para seus mercados geográficos e públicos específicos, utilizando todos os instrumentos e possibilidades para alcançar os resultados pretendidos. No trabalho de promoção e comercialização existe uma preocupação efetiva com a questão da acessibilidade e mobilidade até o destino. Para isso são adotadas estratégias e ações diferenciadas conforme a distância e análise do emissivo de cada mercado. Nas cidades mais próximas (até 200 km) existe um corpo a corpo, com vendedores que fazem visitas regulares, lojas para o atendimento do público e uso de mídia outdoor e veículos de comunicação de massa. Para os mercados prioritários, definidos de acordo com a capacidade emissiva, existe um foco mais direcionado aos canais regulares de distribuição, realizado através dos escritórios comerciais e/ou de representação, com mídia direcionada principalmente jornais e revistas. 26 No entanto, o que mais se destaca é a percepção de uso dos canais de comercialização não convencionais, através dos clubes e associações da melhor idade, dos grupos e autônomos que organizam viagens, que são conhecidos popularmente como “as tias Maria”. Esse segmento tem uma importância determinante na taxa de ocupação dos hotéis da rede e da região como um todo. E cabe salientar o esforço de identificação e o aproveitamento das oportunidades localizadas, como os feriados municipais, que são cuidadosamente mapeados e onde são realizadas ações direcionadas e específicas, sempre considerando o raio de distância da cidade alvo e o número de dias da “emenda” do feriado. A imagem abaixo ilustra bem essas iniciativas: trata-se de um anúncio publicado no Caderno de Viagens do jornal O Globo do Rio de Janeiro veiculado na semana que antecedeu aos feriados de Tiradentes (21/04) e São Jorge (23/04), este último é um feriado municipal e que permitiu à alguns cariocas uma semana inteira de folga, viabilizando inclusive viagens mais longas. Anúncio do DiRoma Resort vinculado aos feriados de 21 e 23 de abril Fonte: Jornal O Globo, caderno Boa Viagem (16/04/09 pagina 32) Equipamentos em categorias diferentes para atender aos diferentes segmentos de público Uma característica marcante do DiRoma é a diversificação dos meios de hospedagem. São 7 equipamentos diferentes, para atender os mais variados públicos e mercados. Tudo é feito para manter o cliente dentro do equipamento ou no âmbito das possibilidades que o Grupo oferece: todos têm estrutura própria de lazer, com piscinas termais, ao que se associa a possibilidade de uso de um parque aquático “completo” e em expansão. Essa iniciativa produz um efeito interessante na promoção, em como a marca aparece na mídia e na imprensa especializada; com consequência direta na segmentação de público. No Guia 4 Rodas, por exemplo, que é considerado o principal guia de viagens publicado no Brasil, o Thermas se destaca como o melhor e mais bem equipado hotel de Caldas Novas. 27 No entanto, as diferenças se concentram na gestão – hotelaria convencional X flats e “condo-hotéis” –, nos mecanismos de controle de consumo e na estrutura física (vertical X horizontal). Nas construções horizontais, os espaços ao ar livre, as áreas de lazer, os parques termais, os jardins são proporcionalmente maiores. No mais, existe uma similaridade nos serviços, nas acomodações, na decoração, nas mesas de café da manhã, no cardápio dos restaurantes. A similitude existente entre os equipamentos, ao que parece, não cria nenhum tipo de descontentamento ou insatisfação por parte do hóspede, que na verdade é cliente da unidade e não da rede. Instalações dos hotéis do Grupo DiRoma Fonte: www.diroma.com.br e Marcos Roberto Souza Quartos para a família e o atendimento de grandes grupos O espaço físico dos apartamentos é um diferencial da rede. Eles foram projetados para comportar confortavelmente 3 leitos. Em todos os equipamentos existem apartamentos maiores, compatíveis para 4 ou mais pessoas. Essa é uma opção atraente para quem viaja em família e é um fator determinante em destinos de lazer, primeiro porque reduz as despesas com hospedagem e depois porque dá aos pais uma sensação de tranquilidade e segurança. Apartamento familiar – DiRoma Resorts Fonte: www.diroma.com.br E nos flats do Grupo DiRoma encontramos algumas soluções criativas para otimizar a estrutura dos apartamentos, uma delas é o móvel rotatório que possibilita o compartilhamento do uso da televisão em dois ambientes. 28 Móvel quarto Villas DiRoma Fonte: Anete Ferreira e Marcos Roberto Souza Toda a estrutura é pensada para grandes públicos, seja na disponibilidade de quartos espaçosos, seja na área das piscinas térmicas ou no tamanho dos restaurantes. E essa característica, de certa forma, contagia o ritmo do atendimento e dos serviços. Observamos a transformação que se processa entre os dias mais vazios e os dias de maior ocupação. Quanto menor o número de mesas ocupadas, mais displicente é o atendimento no restaurante, por exemplo, mas se o movimento aumenta, os garçons ficam mais ágeis, mais atentos e solícitos. A impressão é que as equipes funcionam melhor com mais gente, que a movimentação dos hóspedes estimula o andamento dos trabalhos e a atenção dos funcionários. Lazer, segmentação de público e como enfrentar a baixa temporada Uma prática que se destaca, no DiRoma e no destino, é a preocupação em oferecer atividades de lazer para o público em geral e algumas específicas para a melhor idade, como hidroginástica, trabalhos manuais e bingo. Isso é muito interessante, porque todos se sentem integrados e contemplados, recebem uma atenção especial. O público aproveita os parques termais integrados aos hotéis da rede DiRoma Fonte: www.diroma.com.br 29 Essa visão lúdica do termalismo é, provavelmente, um dos elementos responsáveis pela fidelização do público. O que se vê é que as fontes termais são o principal atrativo, utilizadas para promover bem estar e relaxamento, ao que se incorporaram possibilidades de entretenimento e lazer. Como o atrativo (a água quente) é perene, as condições climáticas não sofrem fortes oscilações e a estrutura de lazer está pronta, é possível uma ação focada para minimizar os efeitos da baixa temporada. As tarifas são reduzidas e os programas e pacotes para o público da melhor idade intensificados. Também neste período, os trabalhos com os grupos e os canais não convencionais de comercialização recebem atenção especial. 2 Golden Dolphin Resort Os dois empreendimentos do Grupo Golden Dolphin em Caldas Novas, os maiores hotéis verticais da cidade. Fonte: www.goldendolphin.com.br O Golden Dolphin é um dos grupos empresariais mais recentes em Caldas Novas, eles têm uma área de atuação ampla, que inclui, entre outras, a construção civil e a hotelaria. A empresa se instalou na cidade quando a expansão do sistema de flats vive o seu primeiro impulso e é exclusivamente neste modelo que ela passou a operar. O Hot Spring foi o primeiro grande empreendimento com a marca Golden Dolphin, e em 2003, foi inaugurado o Resort, considerado um dos maiores empreendimentos hoteleiros da cidade, com 326 apartamentos administrados no esquema de condomínio e mais 200 como flat. O Gerente de Reservas do Golden Dolphin conduz o grupo durante a visita técnica Fonte: Marcos Roberto Souza 30 Aspectos da cozinha do Golden Dolphin Resort observados durante a visita técnica Fonte: Marcos Roberto Souza A visita se concentrou apenas no resort, que tem uma estrutura nova, aparentemente mais funcional e com manutenção mais eficiente do que a média dos equipamentos no destino como um todo. Os apartamentos são amplos, iluminados e arejados. As dependências da cozinha apresentam um padrão de organização excelente, com áreas específicas para a preparação e finalização dos alimentos, câmeras frias separadas conforme o tipo de produto. Outro aspecto diferencial é o sistema de tratamento e reaproveitamento das águas termais que são descartadas das piscinas do parque aquático. Contato www.goldendolphin.com.br (64) 3454 7500 Fábio Chagas 31 Práticas observadas: Apartamentos com espaço físico e estrutura para o atendimento confortável de grupos e famílias. Um dos diferenciais observados durante a visita técnica do grupo foi a versatilidade do espaço físico do hotel como um todo, com estrutura física compatível ao atendimento de públicos variados, seja o hóspede de negócios, seja o visitante de lazer, que viaja em grupo ou com a família. Suítes com sala e cozinha americana, a sala dispõe de um sofá cama; apartamentos com duas camas ou cama de casal; e uma modalidade família, que acomoda até seis pessoas, com 2 quartos mais a sala. Os diferentes quartos do Golden Dolphin Fonte: Anete Ferreira Gestão dos recursos naturais: faixa de preservação ambiental, estação de tratamento da água das piscinas térmicas No Golden Dophin Resort encontramos uma preocupação e uma prática efetiva de conservação dos recursos naturais. A construção do parque aquático, localizado próximo ao rio, respeitou a faixa de proteção ambiental e área recebe atenção especial do empreendimento. Mas foi o manejo da água termal o que mais chamou a atenção dos participantes. O complexo dispõe de uma unidade de tratamento para cuidar de toda água termal que é descartada da piscina. Uma parte é armazenada e aproveitada no uso da manutenção do hotel, o que sobra é descartado na rede coletora da cidade. O tratamento da água termal após sua utilização é uma iniciativa fundamental no contexto do manejo das reservas do aquífero. A Associação das Empresas Mineradoras das Águas Termais de Goiás definiu um projeto de recarga artificial do aquífero termal utilizando águas utilizadas nas piscinas e parques da cidade, que após o tratamento serão injetadas no subsolo. 32 A estratégia comercial com ações diferenciadas por mercado de interesse. A organização da parte comercial do Golden Dolphin foi outro tema que chamou a atenção dos participantes. Fábio Chagas mostrou ao grupo como as vendas são trabalhadas dentro do grupo. Sua apresentação detalhou a estrutura da área comercial e a forma de atuação Fonte: elaborado pela consultoria a partir da apresentação do Gerente de Reserva do Golden Dolphin Resort, Sr. Fábio Chagas. 3 Hotel Taiyo Há pouco mais de 15 anos, um grupo de amigos, todos de origem nipônica, empresários de diferentes áreas, firmaram uma sociedade para abrir um hotel em Caldas Novas. Nenhum deles tinha experiência ou conheciam a área de hotelaria, apenas vislumbraram a oportunidade do novo negócio. A responsabilidade da obra coube ao engenheiro, que hoje é o gerente do hotel, Sr. Saito. Com o avanço das obras perceberam as dificuldades que seria tocar o novo ramo de negócio. A comercialização do produto exigia uma expertise que eles não conheciam. Haviam considerado apenas o fato da cultura japonesa valorizar muito os banhos termais e a colônia no Brasil seria então o mercado a ser trabalhado. E isto foi e ainda é o diferencial do hotel. Os participantes no começo da visita ao Taiyo, em destaque Lourdes e Jaina Fonte: Marcos Roberto Souza 33 Nos primeiros anos foi feito um trabalho promocional para tornar o hotel conhecido junto a este público específico. Algumas atividades e programações específicas foram estruturadas para melhor atender o mercado em questão. Trouxeram alguns eventos tradicionais da colônia japonesa, ofereceram acomodações e serviços adequados às exigências do grupo. Hoje a fidelização é total; são os grupos e os organizadores dos eventos que procuram o hotel, criando assim um calendário com programação própria. Eventos da colônia japonesa no Taiyo. Acima momentos da festa da cultura japonesa e abaixo da Cultura Okinawa. Fonte: Hotel Taiyo Mas não se trata de hotel temático, pelo contrário, é uma estrutura simples, com os confortos básicos. Poucos elementos dispersos pelas áreas de uso comum, quase sempre deixados como recordação de algum evento, lembram a cultura japonesa. No entanto a visão dos serviços, a preocupação com a qualidade e o compromisso em atender as expectativas de seu público alvo, não deixa dúvida quanto a origem dos proprietários do negócio. Detalhes na área interna do hotel trazem alguns elementos relacionados à cultura japonesa. Fonte: Carmélia Jaina Costa Silva e Marcos Roberto Souza A inauguração do Taiyo acontece num momento de profundas mudanças na hotelaria de Caldas Novas, coincide com a chegada do sistema de flats e com a perda progressiva de espaço no mercado dos equipamentos independentes. E o empreendimento consegue encontrar seu lugar, mesmo sem contar com um planejamento consistente, mas com o compromisso de serviços de qualidade, eficiência no atendimento; aspectos que vêm garantindo ao Taiyo a abertura de novos segmentos de mercado, como são os eventos de grupos religiosos. 34 Contato www.hoteltaiyo.com.br (64) 3455 5555 Sr. Saito Práticas observadas: Qualidade e eficiência nos serviços Uma dos diferenciais do Taiyo está exatamente na preocupação com a qualidade nos serviços, em tudo que eles oferecem ao seu cliente. Quando o hotel foi inaugurado, os proprietários foram verificar os fornecedores a qualidade dos produtos, sobretudo os hortifrutigranjeiros e o que viram não agradou nem um pouco. Perceberam que seria difícil, para não dizer impossível, oferecer uma alimentação adequada, dentro dos parâmetros ideais com as matérias primas disponíveis. Optaram pela produção própria, compraram uma chácara onde passaram a cultivar hortaliças, alguns legumes, frutas como laranja, limão e mamão. Na etapa seguinte a pequena propriedade começou a produzir algumas espécies de peixe e outros pequenos animais. Atualmente uma área próxima ao hotel, adquirida para a expansão das atividades do empreendimento, está sendo ocupada por uma horta. O excedente é comercializado na cidade. O processo de produção é convencional, com o uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, mas segue totalmente as orientações quanto às marcas autorizadas e os procedimentos adequados. Foi formalizada uma parceria com um agrônomo, em troca de diárias no hotel, ele faz o trabalho de supervisão e monitoramento do processo produtivo. Alguns produtos da chácara do Taiyo e a placa que informa o horário de venda Fonte: Hotel Taiyo e Marcos Roberto Souza 35 Para atender o público alvo do empreendimento, foram criadas algumas estruturas específicas necessárias à prática de modalidades específicas que são populares entre os japoneses e seus descentes. Quadras de gateball, softball e tênis hoje são o palco de campeonatos em categorias máster. Eventos esportivos promovidos nas quadras do Taiyo pela colônia japonesa Fonte: Hotel Taiyo Iniciativas demonstram responsabilidade sócio-ambiental preocupações e atitudes de A gestão de pessoal é uma das áreas mais sensíveis do empreendimento, iniciativas de valorização da equipe estão entre as iniciativas destacadas durante a visita: participação nos lucros diferenciada por tempo de serviço, incentivo à construção da casa própria (sua casa é o nosso sonho) e aos estudos regulares. São atitudes que reduzem a rotatividade e contribuem para melhorar a performance profissional dos funcionários. O envolvimento e compromisso com a comunidade também estão entre os valores e princípios que orientam a gestão do empreendimento. Atuando isoladamente ou em parceria com outros atores do setor, com iniciativas que buscam a melhoria da qualidade de vida dos idosos e crianças da cidade. A partir da preocupação em como um destino que atende prioritariamente o público da melhor idade trata seus próprios idosos foi o mote para que o Taiyo liderasse uma ação para a reforma do asilo de Caldas Novas e procurasse alternativas para o abastecimento dos gêneros de primeira necessidade. Outra proposta foi o trabalho com crianças e menores, não apenas no acolhimento, mas também na formação e na criação de perspectivas de futuro. O manejo da água termal também chamou a atenção. Um processo de filtragem permite a utilização de parte do volume que saí das piscinas, que é aproveitado para a limpeza, a rega do jardim e da horta. O que sobra é descartado à rede coletora, mas em condições próprias, de forma a não contaminar os mananciais. 36 Uma atitude para evitar a proliferação de moscas é o congelamento do lixo. Uma câmara fria própria foi instalada em uma área fora do hotel, onde o lixo é acondicionado até o dia da coleta. 4 Rio Quente Resorts Localizado no município de Rio Quente, distante 27 Km de Caldas Novas, este empreendimento foi o primeiro da região e o pioneiro na implantação do conceito de termalismo associado ao lazer e ao entretenimento. Na década de 1960, quando seu primeiro núcleo entrou em operação, ainda estava em voga no Brasil a prática do termalismo eminentemente de saúde, era o fim da época de ouro das estâncias de águas que funcionavam como locais de repouso e ofereciam as atividades terapêuticas, que valorizavam principalmente as instalações e serviços médicos apropriados aos tratamentos dos males do corpo. Era também o começo de nova época, o processo de urbanização acelerado que o país conhecia, o rápido desenvolvimento da medicina com a aplicação crescente dos produtos da indústria farmacêutica colocava em choque saberes e as práticas ancestrais, como a crenologia, rapidamente tornava-se obsoleta e entrava em desuso. Não demorou para que as charmosas estâncias hidrominerais tradicionais tivessem uma imagem pejorativa, identificadas como “lugar de doentes”. Entrada de hóspedes do Rio Quente Resorts Fonte: Fabiana Rocha A primeira novidade da Pousada do Rio Quente (primeira marca do empreendimento) foi a utilização das águas termais para fins de lazer e entretenimento associados à idéia de relaxamento, de bem estar. Um produto para a família, onde os pais descansam e os filhos se divertem, com muitas opções de atividades e brincadeiras. Um verdadeiro paraíso tropical de águas quentes o ano inteiro. Um fator determinante no êxito da Pousada foi o aproveitamento do público “brasiliense”, ela surge exatamente no momento em que Brasília se consolida como a nova capital do Brasil e em pouco tempo se transformou em um dos principais mercados emissivos do turismo doméstico. A proximidade com Brasília e o que a cidade proporcionou em termos de melhoria das conexões rodoviárias para a região Centro Oeste, certamente, foi uma contribuição importante para o sucesso do negócio e uma oportunidade otimizada pelos grupos empresariais que assumiram seu controle. 37 O Parque das Fontes, núcleo original do Rio Quente Resorts e de acesso exclusivo dos hóspedes do complexo. Fonte: www.rioquenteresorts.com.br Inovou quando ampliou a visão do negócio, saiu da esfera regional e passou a atuar no mercado nacional. Marca um novo momento do empreendimento, 1979 quando os grupos ALGAR e GEBEPAR assumem o controle acionário da companhia. Nessa fase, o passo mais importante foi o pioneirismo no desenvolvimento de produtos para enfrentar a baixa temporada, os festivais temáticos dedicados às diferentes públicos procuravam inicialmente atrair os públicos das colônias étnicas existentes no país, mas se transformaram em atrativos que mobilizavam e mobilizam visitantes de todo Brasil. Os festivais associados a uma extensa programação cultural, um calendário de eventos esportivos e atividades de lazer são hoje uma marca do Rio Quente Resorts e uma prática que fez escola. Inúmeros outros destinos e equipamentos turísticos brasileiros passaram a adotar iniciativas semelhantes. E a capacidade de inovação é, certamente, um dos emblemas do Rio Quente Resorts. Na fase atual buscou no conceito de resort destination sua visão de futuro, a combinação de diferentes motivações e atrativos é o desafio colocado para o negócio que tem na água termal maior apelo. Mega atrações e excelência em todas as iniciativas é a combinação utilizada. O resultado pode ser conferido nas taxas médias de ocupação, que hoje são superiores a 80%; a liderança absoluta no segmento de resort no Brasil, responde por mais de 16% desse mercado, com índice de retorno de 50%; e é há 8 anos é considerado o melhor resort de campo do país. A importância do empreendimento para a região pode ser medida pela criação do município de Rio Quente, que nasceu em 1988, a partir da movimentação econômica gerada pelo empreendimento. Mas o Rio Quente Resorts é, em boa 38 parte, o principal responsável pela “imagem e posicionamento” do destino, porque ele sempre foi um grande anunciante, um dos maiores do setor de turismo no Brasil, porque tem uma estratégia comercial e promocional muito arrojada, é um produto que está de fato em todas as prateleiras. Não seria exagero afirmar, que o Rio Quente Resorts ou sua versão original – a Pousada – foi fundamental para a consolidação do próprio destino, que sua experiência e fluxo/demanda gerada foi e é importante no contexto regional. E também, que é um modelo e uma referência para os empreendimentos termais em Caldas Novas e Rio Quente. É muito interessante observar a sinergia que se estabelece entre o Rio Quente Resort e os demais empreendimentos, atuam com segmentos de público diferentes, mas se complementam em termos de mercados e na composição dos produtos do destino. Atualmente o Hot Park (que é um parque aquático dentro do complexo do Rio Quente que funciona no sistema de day use para o público externo), é o maior atrativo da região, um produto de visibilidade e de excelente apelo comercial, que está presente em inúmeros pontos de venda em toda a cidade de Caldas Novas, inclusive hotéis. E, dessa forma, Caldas Novas responde por mais de 70% das vendas de day use do Hot Park; e é um público do parque, mas não do resort. O Rio Quente Resorts é uma liderança respeitável, mas não tem uma hegemonia, tanto que existem outros grupos empresariais sólidos e encorpados como o DiRoma, o Golden Dolphin e o Privé, entre outros. Alguns momentos dos encontros realizados durante a visita ao Rio Quente Resorts: com a Gerência Executiva, com a Gerência Comercial Regional, com as coordenações de A&B e Manutenção dos Parques (da esquerda para direita) Fonte: Luzenice Bezerra Neves, Anete Ferreira, Fabiana Rocha e Marcos Roberto Souza Contato http://www.rioquenteresorts.com.br Tel: (11) 3512-4862 Ieda Stroschein Práticas observadas: Planejamento estratégico e business plan com visão de longo prazo O Rio Quente Resorts une a cultura empresarial de dois grupos diferentes – GEBEPAR e ALGAR – e isso tem influência direta na gestão do negócio e nos seus resultados. Qualquer desequilíbrio no comando do empreendimento afeta diretamente o êxito das iniciativas. Existe um pacto em torno do “negócio”. O Conselho Administrativo é formado por representantes dos dois grupos e existe uma “divisão” de responsabilidades: o marketing e a comercialização ficou para um, a administração e gestão para outro. 39 Mas não se limita a uma organização e divisão de tarefas, o planejamento estratégico adotou alguns procedimentos para orientar suas principais linhas de ação, utilizou inclusive as melhores ferramentas e instrumentos de inteligência competitiva e foi buscar referências externas como o uso do benchmarking, por exemplo. Para se tornar o principal resort destination da América Latina, foi observar o que os líderes mundiais deste segmento fazem e também procurou conhecer em profundidade as melhores práticas adotadas pelos maiores parques temáticos americanos. O plano estratégico contempla mais de 300 projetos, incluindo o trabalho de consultorias especializadas, ações em todas as áreas de expansão do negócio, com a diversificação de atividades e serviços, previsão de metas e monitoramento de desempenho. O máster plan indica a implantação de projetos estratégicos necessários para conquistar o objetivo e a visão de futuro estabelecida para a empresa. Fonte: Rio Quente Resorts O planejamento inclui mega atrações como a Praia do Cerrado, uma piscina termal de ondas com mais de 25 mil m2. A praia viabilizou uma série de eventos sociais e esportivos, o réveillon, a etapa do campeonato latino americano de futebol de areia, entre outros. Os próximos lançamentos incluem um campo de golfe e um novo centro de convenções. Diferentes ambientes da Praia do Cerrado, novo mega atrativo do Rio Quente Resorts Fonte: Anete Ferreira 40 O mais interessante na estratégia de crescimento adotada pelo empreendimento, é que todo novo produto inclui um leque de possibilidades, todas buscam excelência e sua liderança específica. Existe uma preocupação e oferecer ao cliente uma gama completa de serviços, com diversificação das atividades agregadas. Nenhuma oportunidade de venda é desperdiçada. Alguns exemplos: as fotografias produzidas em todos os ambientes do complexo, as butiques com produtos próprios, os pontos de alimentação, a comercialização do Rio Quente Vacation, entre outros. No conjunto de atividades de aventura, por exemplo, o mergulho se transformou em uma modalidade âncora e é hoje a principal escola em operação no país com certificação para os alunos. A escolinha de surf da Praia tem parceria com um dos mais reconhecidos atletas brasileiros da modalidade. O Birdland, viveiro de pássaros que recebe e desenvolve um trabalho de recuperação de aves apreendidas pelo IBAMA, em poucos meses alcançou o reconhecimento pela qualidade das atividades que desenvolve. Diferentes atividades e modalidades de aventura oferecidas no Hot Park e na Praia do Cerrado. Fonte:www.rioquenteresorts.com.br Existe unidade de informação da equipe de funcionários quando o tema é apresentar um novo produto para quaisquer públicos. Uma sincronia fina na implantação e desenvolvimento de novos produtos com a preparação das equipes responsáveis pelas diferentes áreas de atendimento do público, seja nas operações comerciais, nas ações promocionais ou no receptivo. Todos falam exatamente a mesma linguagem, enfatizam os aspectos positivos, mas o discurso é diferente, dependendo do emissor e do receptor da mensagem. 41 Mix de produtos: estratégia de promoção e vendas A política comercial do Rio Quente Resorts também foi objeto de observação do grupo. A integração de diferentes áreas, o desenvolvimento constante de novos produtos e serviços foram alguns dos aspectos que mereceram atenção. A Valetur é uma operadora própria criada para ativar as vendas do Resort e é também um núcleo importante na própria estrutura do negócio. A operadora tem uma rede própria com lojas em São Paulo capital (2), no interior (Santo André, Campinas e Ribeirão Preto), Brasília e Rio Quente; operadoras credenciadas em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Goiânia e agências credenciadas em mais 18 cidades brasileiras, distribuídas pelas diferentes regiões geográficas do país. Entre os inúmeros programas implementados para ampliar as possibilidades de uso do Rio Quente Resorts e melhorar a taxa de ocupação na baixa temporada estão: Rio Quente Vacation clube: O time-share (em inglês), ou sistema de tempo compartilhado é o segmento do turismo que mais cresce hoje no mundo, com 4 milhões de usuários. O conceito surgiu logo após a 2ª Guerra Mundial, mas foi a partir da década de 1970 que ele foi introduzido nos Estados Unidos como alternativa para o setor imobiliário abalado pela crise econômica do período e logo se mostrou ser também um instrumento muito eficaz para o setor de turismo. Publicidade do RQVC dentro do complexo Fonte: Anete Ferreira Rio Quente Vacation Club é o programa de férias do Rio Quente Resorts pelo sistema de tempo compartilhado, que é credenciado à RCI, considerada a maior empresa de intercâmbio de semanas de férias do mundo. No Brasil, o sucesso do programa no Rio Quente Resorts garantiu sua liderança neste segmento e com a vantagem de que o maior uso é exatamente no próprio destino. 42 Participantes do Hot Trip Fonte: www.rioquenteresorts.com.br Hot Trip: Programa voltado exclusivamente para os grupos de formandos do ensino médio e universitário, com pacotes completos de atividades conforme a faixa etária do grupo. O programa existe há mais de 12 anos e atende em média 7 mil formandos por ano, o que é uma alternativa muito interessante considerando que esses grupos viajam nos períodos de pré temporada. Mas como são jovens e adolescentes, este público exige da empresa uma série de cuidados especiais e uma delicada operação de atendimento. Com relação a bebida alcoólica, por exemplo, é imprescindível evitar os excessos e superar as expectativas dos grupos. Academia Rio Quente: Um programa que oferece estágios e visitas técnicas aos estudantes da área de turismo e atividades relacionadas. Essa é uma atividade que atrai alunos de diferentes escolas, seja através de parceria com instituições, seja atendendo a demanda de grupos e avulsos. Uma participante do grupo que realizava a visita técnica realizou um estágio no Rio Quente quando ainda era universitária e ressaltou a qualidade do programa. Melhor Idade: Programação e atividades especiais para as pessoas que tem mais de 60 anos, que funciona muito bem para grandes grupos. O sucesso dessa iniciativa pode ser conferido pelo retorno de semanas temáticas como o “Idade de Ouro”, que mobilizou dezenas de ônibus de diferentes lugares, principalmente do interior de São Paulo. 43 Alguns dos grupos e das atividades realizadas durante o período do Idade de Ouro do primeiro semestre de 2009 Fonte: Rio Quente Resorts Animação turística: intensa programação cultural, esportiva e de entretenimento Para envolver e atrair diferentes públicos o empreendimento investe, há mais de 2 décadas, em uma intensa programação durante todo o ano. Existem espaços específicos para shows, atividades culturais e entretenimento, como é o caso da tenda localizada nas imediações do Parque das Fontes, onde são realizados shows e apresentações todas as noites. Atividades físicas e lazer acontecem diariamente nas áreas das piscinas. Exemplo do calendário anual de eventos, que reúne programas regulares e ações exclusivas. Fonte: Rio Quente Resorts 44 Para dar vida a essa programação existe a Equipe Boto, cujos integrantes são os responsáveis por todas as iniciativas de animação turística com os diferentes públicos. No dia a dia, é a Equipe Boto que comanda as aulas de hidroginástica, os espetáculos circenses, as peças teatrais, os shows, os bailes. Seus integrantes se envolvem diretamente nas atividades com o público: cuidam das crianças para que os pais possam usufruir de momentos de descanso com toda a tranquilidade, inclusive durante as refeições; durante os bailes da melhor idade, eles estimulam os participantes a dançar, entre outras atividades. Alguns momento da Equipe Boto e a Turma do Cerrado Fonte: Rio Quente Resorts A Equipe Boto está presente no cotidiano do Resort. Sua função é garantir que em qualquer dia, a qualquer hora, o hóspede tenha uma opção de entretenimento e lazer. No Hot Park, um dos braços da Equipe Boto é a Turma do Cerrado, uma trupe de animais típicos da região, que desenvolve atividades de envolver e animar os visitantes. A isso se soma os eventos especiais, que pode ser um torneio esportivo, que pode ser o campeonato de soccer beach ou um máster de tênis, um show com um grande nome da música brasileira. Ponto de Encontro da Equipe Boto e a programação diária Fonte: Anete Ferreira Conservação valorização dos espaços verdes e dos jardins dos recursos naturais, a No empreendimento, o tratamento dos ambientes ao ar livre têm destaque e atenção especial, não apenas porque está em um espaço natural privilegiado, aos pés da Serra de Caldas, onde brota o rio de águas quentes; o cuidado na conservação e o aprimoramento das belezas naturais é uma preocupação muito antes disso ser tema de relevância ou foco de atenção da opinião pública. Em 1977 quando foi inaugurado o Hotel Turismo o projeto dos jardins foi encomendado ao maior paisagista brasileiro, Burle Marx, que valorizou a flora do 45 cerrado e harmonizou a introdução de espécies exóticas. O alcance do legado vai além de um projeto bem fundamentado, a valorização dos recursos naturais, do meio ambiente e seu uso sustentável na composição do produto é o aspecto mais relevante da prática observada no Rio Quente Resorts. Áreas verdes, jardins externos e internos do empreendimento Fonte: Anete Ferreira e Carmélia Jaina Costa Silva Os jardins criam uma deliciosa ambiência em todo o espaço do empreendimento, permitindo agradáveis sombreamentos para a circulação, minimizando os efeitos do sol forte e do clima do cerrado. As matas ciliares que envolvem as nascentes e o leito do rio Quente também recebem atenção especial. E para dar suporte à manutenção dos jardins existe um viveiro de mudas e todo um departamento de jardinagem. De acordo com os técnicos responsáveis hoje o viveiro se dedica exclusivamente à produção de espécies do cerrado, utilizadas para a reposição e a formação de novas áreas de jardins, para o replantio e reflorestamento de áreas do entorno do Resort. É também um local para a recuperação de vasos que fazem a decoração dos ambientes internos. A importância da gestão correta dos recursos naturais é evidenciada no processo de certificação ISO 14001/ABNT NBR 14001. O Rio Quente Resorts foi o primeiro e é, ainda hoje, o único resort brasileiro com essa certificação. O viveiro de mudas, momentos da visita dos participantes e os técnicos responsáveis durante a conversa com o grupo Fonte: Anete Ferreira e Carmélia Jaina Costa Silva 46 O empreendimento conta com um laboratório próprio para monitoramento e controle de qualidade da água termal. Diferentes equipamentos de hospedagem atendidas por uma cozinha centralizada. O empreendimento dispõe de 6 equipamentos de hospedagem, 2 dentro do complexo e os demais em área externa. Com faixas de preço diferenciadas, a proposta é oferecer produtos compatíveis aos segmentos de públicos distintos e também ter opções para a montagem de promoções e ofertas. Com a implantação de novos equipamentos de hospedagem, prevista no planejamento estratégico, a idéia é criar bandeiras específicas conforme a categoria do hotel. Os diferentes hotéis que integram o Rio Quente Resorts Fonte: www.rioquenteresorts.com.br Todos oferecem meia pensão, todos têm restaurantes próprios, mas o cardápio é o mesmo e a produção dos pratos é centralizada em uma única cozinha, que fornece também o cardápio dos bares e restaurantes dos parques. Existe uma sofisticada logística para o abastecimento dos pontos de consumo, onde é feita a finalização e acabamento dos pratos. A centralização trouxe uma série de benefícios. Além da padronização dos serviços, permitiu o estabelecimento de rotinas de procedimentos, mecanismos de controle da produção, monitoramento de segurança alimentar, entre outros. Política de parcerias para qualificação da estrutura e diversificação da oferta. Dentre as parcerias que têm um papel importante na diversificação e qualificação das ofertas dentro do complexo do Rio Quente Resorts, duas chamaram a atenção durante a visita técnica. 47 Os móveis Mac nos jardins do Hotel Turismo e na área das piscinas do Parque das Fontes. Na foto pequena, abaixo à esquerda, Jaina, uma das participantes, confere o conforto de uma espreguiçadeira. Fonte: Anete Ferreira e Marcos Roberto Souza Mac Móveis, que fabrica móveis para jardins e ambientes ao ar livre, é parceira oficial do resort. Suas peças estão presentes em toda área do Parque das Fontes e espaços de uso comum do hotel Turismo e da Pousada. São peças exclusivas, com design contemporâneo, o que garante uma decoração atualizada, confortável, com toques de sofisticação e bom gosto. Um espaço exclusivo da Mac foi instalado dentro do complexo, nas imediações do Hotel Turismo. A Ambev, uma das maiores empresas do ramo de bebidas do mundo, também é parceira do resort. Nos pontos de venda dentro do complexo apenas há a comercialização da linha de produtos Ambev e dois espaços exclusivos: o Bar Brahma e o Stella Artois. Houve também um cuidado quanto ao perfil do produto por segmento de mercado. A Stella Artois é uma cerveja premium, seu espaço fica no lobby do Hotel Turismo, próximo à área da piscina e a entrada do restaurante; o Bar Brahma fica na entrada do Hot Park, de frente ao Hotel Pousada e seu acesso é aberto a todos os públicos, sejam hóspedes, day use ou passantes. O Bar Brahma ou Clube Chopp Brahma Rio Quente Resorts Fonte: Marcos Roberto Souza e Fabiana Rocha 48 Uma equipe de Talentos Humanos A equipe de funcionários do Rio Quente Resorts é composta por mais de 1.300 funcionários. Pudemos constatar, em mais de uma ocasião, a importância do empreendimento na formação dos profissionais de turismo da região. Encontramos em outras empresas visitadas funcionários oriundos do resort. Não é simples e nem fácil fazer a captação de profissionais qualificados para trabalhar em um empreendimento do interior. Esse é um trabalho que no resort tem uma atenção toda especial, a começar pelo nome da área que é designada como “Talentos Humanos” e os funcionários são identificados como “associados”, designação utilizada inclusive para os terceirizados. Programas de incentivo com iniciativas diferenciadas para áreas específicas e sistema de pontuação para distribuição de resultados por semestre estão entre as iniciativas da área. Iniciativas como o dia da família garante que os familiares dos funcionários vivenciem das muitas possibilidades que o complexo tem a oferecer aos seus visitantes, na festa de final de ano um dia é reservado para que esse grupo possa usufruir dos brinquedos do Hot Park. Cabe aos talentos da casa algumas das ações e projetos de destaque no empreendimento, como a Praia do Cerrado e de seu paisagismo. Soluções criativas Sauna a vapor natural, que utiliza o calor das águas termais. Uma alternativa, simples, econômica e eficiente que chamou a atenção e agradou os participantes dos empreendimentos termais que participaram desta visita técnica. Entrada da Sauna Fonte: Anete Ferreira “Bichinhos de toalha” foi a surpresa que as camareiras reservam aos hóspedes no segundo dia no complexo. Os participantes se encantaram e procuraram as artistas para aprender esta técnica de origami. 49 Origamis de toalha e suas dobraduras, um trabalho feito pelas camareiras do complexo Fonte: Fabiana Rocha 5 Serra Park O município de Rio Quente foi criado em 1988 a partir do desmembramento do território de Caldas Novas. Seu núcleo urbano original era a vila dos funcionários da então Pousada do Rio Quente, empreendimento indutor do desenvolvimento na região. Atualmente é uma pequenininha e tranquila cidade do interior. Sua área de expansão urbana acontece há muitos quilômetros dali, na entrada do Rio Quente Resorts, é a Esplanada. A Esplanada é um bairro vertical em franco crescimento, são inúmeros prédios que totalizam mais de 3 mil apartamentos. Aí se concentram inúmeros flats e apartamentos para locação, inclusive 3 administrados pelo Rio Quente Resorts. Essa oferta cresceu induzida pela movimentação do público de day use do Hot Park e de eventuais visitantes avulsos que procuram o resort, mas não tiveram o cuidado de fazer antecipadamente a reserva. Desta forma, os empreendimentos que surgem na Esplanada, pouco ou quase nada fazem em termos de esforço de venda, de promoção e comercialização propriamente dita. Na maioria dos casos, o empresário constrói um novo equipamento e fica “esperando” o cliente chegar, atraído pela promoção do promoção do Rio Quente, do Hot Park e, mais recentemente, da Praia do Cerrado. Esse era o caminho que o Serra Park começou a trilhar. Inaugurado em 2006 o flat tinha uma taxa de ocupação insignificante, até que foi contratado um gerente comercial de grande experiência e que mudou a história do negócio. Fachada do Serra Park Flat Fonte: Anete Ferreira 50 Contato www.serrapark.com.br (4) 3452 8100 Cleverson Práticas observadas: Estratégia de vendas e parcerias comerciais Cleverson é um dos mais experientes profissionais de venda da Região das Águas em Goiás. Trabalhou nas maiores empresas de Rio Quente e Caldas Novas, normalmente liderando o processo de implantação de novos investimentos, como foi o caso do Hot Park e do Acqua Park. Ele é o que se pode chamar de um vendedor nato, gosta do que faz e faz muito bem. Cleverson durante a conversa com os participantes do Vivências Brasil Fonte: Fabiana Rocha Ele já estava aposentado quando foi convidado para assumir o Serra Park. Em menos de 1 ano o empreendimento atingiu uma taxa de ocupação superior a 60% e, na opinião de Cleverson, ainda tem muito espaço para crescer. A avaliação dele é que a oferta hoteleira da Esplanada é grande, mas a concorrência é absolutamente passiva, não faz nenhum tipo de ação ou movimento, apenas fica aguardando a chegada do hóspede. A estratégia que está colocando em prática é uma atitude simples, primeiro é preciso e fundamental levar a marca do empreendimento para além dos horizontes da Esplanada, se fazer conhecer pelo turista antes da sua chegada a Rio Quente e Hot Park. E neste sentido ele adota duas ações diferentes, uma para quem já está a caminho e outra nos principais mercados emissores. A mídia nas estradas de acesso, principalmente faixas onde anuncia seu hotel como uma alternativa para quem vai visitar o Hot Park e a Praia do Cerrado, diz isso de forma direta, objetiva. Parcerias comerciais é a solução aplicada aos mercados emissores e, neste caso, 51 aproveita todas as possibilidades e contatos estabelecidos ao longo de sua experiência profissional. O Serra Park consta do Portal de Hospedagem e do Guia do Viaja Mais Melhor Idade; é o primeiro hotel fora do Cia Termas do Rio Quente a ser comercializado pela Valetur; tem parcerias com diferentes operadoras, agências de viagem e empresas. Mas sabe a importância em fidelizar o cliente, e para isso investe nos canais de relacionamento, com contatos regulares e a oferta de promoções. E, para Cleverson, vender é uma premissa permanente, não importa o tamanho da venda, qualquer operação se configura em uma oportunidade para novos negócios e para a empresa se “ativa” junto aos clientes e parceiros. 6 SESC Caldas Novas O SESC Caldas Novas estabelece uma relação interessante com o trade turístico da cidade. Parte das instalações estão abertas aos hóspedes de outros hotéis e seu parque aquático é o local onde os funcionários da área de hotelaria e seus familiares têm acesso aos banhos termais. E, por outro lado, a demanda gerada pelo sistema SESC é muito maior que a capacidade instalada da unidade, gerando assim um fluxo para outros equipamentos, que são parceiros formais da instituição. Um dos aspectos mais delicados nas cidades onde o SESC tem equipamento de hospedagem, sobretudo os municípios de menor porte, é o conflito pelo fato da instituição ter recursos para investimentos, subsidiar a estrutura e o programa de turismo social, o que é considerado uma concorrência desleal. A visita ao Sesc de Caldas Novas mostrou que a principal diferença entre um empreendimento puramente comercial e outro de natureza social é a atenção especial às questões da infraestrutura física do equipamento. No SESC pudemos observar a qualidade das instalações, da estrutura, como tudo é feito para durar, tem funcionalidade e preocupação com a acessibilidade; ao que se soma um cuidado excepcional com a conservação e a manutenção. Mas os serviços oferecidos são extremamente simples, não existem garçons no restaurante ou nos bares do parque aquático, o hóspede tem que se locomover para buscar o que precisa. A alimentação também segue o padrão básico, o cardápio do ponto de vista nutricional é correto, mas os pratos têm pouca variedade e nenhum tipo de sofisticação na apresentação. Os ambientes internos e quartos, a decoração e o enxoval é simples, pois a proposta é favorecer a convivência social e a integração entre os grupos. É realmente uma hospedagem que atende todos os requisitos em suas instalações, com serviços corretos, mas não oferece diferenciais ou mimos especiais para o cliente. Da visita ao SESC Caldas Novas guardamos a impressão de que a hotelaria privada e aquela que oferecida pela instituição tem foco e públicos diferentes. Contato www.sescgo.com.br (64) 3455 9460 Marlo Camargo 52 Práticas observadas: O turismo social na prática: inclusão, acessibilidade, convivência e intercâmbio entre os grupos, qualidade na estrutura e serviços (auto atendimento) A experiência de turismo social que o SESC acumulou ao longo de mais de 6 décadas é hoje uma referência internacional. A proposta é oferecer estrutura e serviços simples, sem sofisticação ou refinamento, mas com qualidade nos materiais, na estrutura física e na conservação. O preço é um diferencial de inclusão importante, mas também são as iniciativas que garantem a acessibilidade e a integração entre os grupos. Durante a visita técnica, o grupo pode observar que na maioria dos prédios do equipamento não tem elevadores, o que reduz custos na estrutura e na conservação. E para facilitar a circulação das bagagens e acessibilidade de quaisquer públicos, os prédios têm rampas. Em destaque na foto abaixo. Diferentes aspectos da estrutura física do SESC Fonte: Anete Ferreira A pista de cooper, assim como o parque aquático, são atrativos abertos à comunidade de Caldas. A pista é utilizada também pelos hóspedes de outros equipamentos, sendo inclusive oferecida em vários hotéis como uma opção para a prática esportiva com grupos. Mas para garantir a privacidade dos hóspedes, em cada unidade existe um conjunto de piscinas termais, onde eles podem usufruir, com tranquilidade, dos relaxantes banhos de água quente. 53 Espaços para atividades complementares, que contribuem para ampliar as possibilidades de convivência entre os grupos e as possibilidades de lazer. Fonte: Anete Ferreira e Fabiana Rocha A proposta é valorizar atividades coletivas e oferecer os serviços dentro desse conceito. Os espaços complementares dispõem de toda a estrutura adequada à prática da atividade oferecida. Na sala de leitura os hóspedes encontram livros selecionados, revistas atualizadas e acesso à internet. O café é uma opção para o lanche complementar e local para uma boa conversa. A brinquedoteca, localizada próxima às piscinas do parque aquático, é uma opção para as crianças menores, muito procurada pelos pais nos horários de maior incidência de sol. A sala de televisão é uma opção para as unidades que não têm TV nos quartos; e a maioria presente é que define o programa a ser visto. A estrutura dos apartamentos e as muitas orientações para os hóspedes Fonte: Fabiana Rocha Os quartos são confortáveis, mas a estrutura é simples, sóbria, quase espartana, mesmo nas categorias superiores. Em alguns blocos, não tem ar condicionador ou televisor. Se por um lado, a proposta é oferecer condições de hospedagem a baixo 54 custo, por outro lado as salas de TV, no lobby das unidades, favorece o convívio social e a integração entre os grupos. Um dos mecanismos utilizados para reduzir os custos é o controle feito do enxoval. Qualquer peça danificada durante a estadia é cobrada do hóspede, e ele é informado disso no check in. A conferência e cobrança é feita no check out. Na visita, também chamou a atenção as regras de conduta disponíveis em todos os quartos. Ela informa todas as práticas aceitáveis. Alguns participantes consideraram essa iniciativa como sendo autoritária, outros viram nelas o instrumento de educação de um público diversificado, com hábitos e particularidades. A estrutura da copa de andar Fonte: Fabiana Rocha Em todos os andares dos blocos de apartamentos existe uma pequena copa, onde o hóspede tem à sua disposição, água filtrada, ferro e tábua de passar, fogão e panelas para a preparação de alimentos rápidos, principalmente mamadeiras. O salão do restaurante e o toalete para a atendimento do público Fonte: Anete Ferreira O equipamento possui um grande restaurante, com capacidade para atender simultaneamente mais de 400 pessoas, onde são realizadas todas as refeições inclusas na diária de pensão completa. E para reduzir custos, o serviço é estilo “bandejão”, onde o próprio usuário faz todo o serviço de mesa, incluindo pegar as bebidas em máquinas disponíveis dentro do salão. Não existem garçons, nem no restaurante e nem nos bares do parque aquático. O cardápio é simples. Os pratos quentes incluem normalmente arroz, feijão, macarrão, um tipo de legume refogado ou em creme, dois tipos de carne, uma vermelha e outra branca. Um balcão com algumas variedades de saladas frias, alface, tomate e maionese sempre estão presentes. E a refeição se complementa com duas opções de sobremesa, sendo uma necessariamente diet. Mas a preparação tem todo o acompanhamento nutricional e de segurança alimentar. Duas nutricionistas são responsáveis pela definição do cardápio, pela recepção e controle dos ingredientes, produção e manuseio dos alimentos. 55 Lazer, entretenimento, esporte e cultura complementam o produto SESC Caldas Novas O cliente de Caldas Novas tem como motivação principal o uso das piscinas termais para relaxamento e lazer. Isso o SESC oferece com eficiência. A estrutura do parque aquático com piscinas termais e brinquedos é igual ou superior a de vários hotéis na cidade. No entanto, existe uma preocupação em ampliar o tempo de ócio e descanso com atividades que têm um papel importante na formação do indivíduo e em sua qualidade de vida. Cartaz com a programação diária (disponibilizado em vários locais dentro do SESC) Fonte: Anete Ferreira Uma equipe de lazer cuida dessas atividades e da participação dos hóspedes, alertando para os excessos ou convidando para um programa. A estrutura e o conteúdo do que é oferecido são diferenciais importantes. Existe uma ótima sala de teatro, que é utilizada para shows, peças e projeção de cinema, cuja programação é exclusivamente de filmes brasileiros. Existe um conjunto de quadras poliesportivas, ao que se agrega a pista de cooper de 1200 metros. 56 No espaço cultural do SESC, onde se localiza a primeira residência de Caldas Novas, os participantes do Vivências Brasil aproveitaram para brincar um pouco e pousar para a foto Fonte: Anete Ferreira Responsabilidade social e ambiental: o envolvimento com a comunidade e a estação de tratamento de água das piscinas termais A inclusão da comunidade é outra prática em que o SESC se destaca no contexto do turismo de Caldas Novas. É o único parque termal aberto ao público da cidade e também os visitantes hospedados em outros hotéis. Os moradores também frequentam a biblioteca, as áreas esportivas e participa das atividades oferecidas. Além disso, a instituição implementa vários programas voltados para o desenvolvimento da qualidade de vida da população. 57 A unidade de tratamento das águas termais que saem das piscinas Fonte: Fabiana Rodrigues O SESC Caldas Novas foi pioneiro na implantação da unidade de tratamento das águas descartadas das piscinas, uma preocupação cuja origem é o manejo adequado das fontes termais. Eles têm poços com capacidade de vazão suficiente para o abastecimento do parque, mas consideram o impacto desse consumo na manutenção dos níveis do aquífero. A água que sai da unidade de tratamento tem excelente potabilidade para o consumo humano, é aproveitada em toda a estrutura, inclusive para controlar a temperatura das piscinas. Atualmente uma parte da água tratada é descartada para a rede de esgoto, mas estão ampliando o tamanho do reservatório para que seu aproveitamento seja total. A rede de turismo social e a central nacional de reservas O SESC dispõe de uma central nacional de reservas, que opera todo o receptivo. É uma estrutura interessante, enxuta e que está caminhando para o funcionamento totalmente on line. Uma iniciativa pioneira na dimensão e profundidade em que ela opera, existem critérios rigorosos para os procedimentos de reserva, cotas definidas para o público alvo prioritário da instituição, os comerciários e seus familiares, que são diferenciadas por períodos de antecedência e restrita em termos do número de diárias. Essa é uma experiência válida seja para a operação de destinos, seja para redes de parcerias ou programas específicos. 58 Conclusão O roteiro como proposto, buscou privilegiar a observação de práticas diferenciadas, adotadas pelos empreendimentos para minimizar os efeitos da baixa temporada, de ações e iniciativas que produzem melhoria na rentabilidade média e, que ao mesmo, proporcionam a inclusão de faixas de público. Conceitualmente esse conjunto de atitudes e práticas é identificado contemporaneamente como turismo social. Tradicionalmente este segmento é compreendido como um princípio de que a atividade turística é um direito de todos, independentemente da classe social, da raça, credo religioso ou origem geográfica. O movimento sindicalista foi determinante para fazer valer esse direito aos trabalhadores, de poder usufruir dos benefícios de férias e lazer fora do ambiente de residência permanente, sobretudo das categorias de menor salário, que são excluídas economicamente. As experiências de turismo social, que são reconhecidas internacionalmente, em sua maioria, têm como pressuposto algum tipo de subsídio, seja através do poder público, seja através de organizações trabalhistas ou classistas. O exemplo clássico no Brasil é o trabalho do SESC, que é uma referência no mundo. A visão atual é que o turismo social, além de ser reconhecido como um direito de todos, pode também ser um instrumento importante de controle da sazonalidade da atividade turística, com consequências positivas para a qualidade e estabilidade dos postos de trabalho e para o aumento da rentabilidade dos empreendimentos. Mas ainda com o peso da subvenção pública. Encontramos na Região das Águas de Goiás, um destino inteiro trabalhando na perspectiva contemporânea do conceito de turismo social. Nos empreendimentos visitados pelo Vivências Brasil, deparamos com práticas consolidadas, voltadas para os segmentos C e D, direcionadas principalmente aos públicos da melhor idade, onde as ofertas, com ênfase na redução das tarifas, são estruturadas exclusivamente na baixa temporada. No caso mais específico do Rio Quente Resorts, que tem um mercado mais elitizado, o que acontece é uma ampliação do leque nessas ocasiões, para atingir um volume maior na classe C. São, pelo menos, três décadas de experiência acumulada, de conhecimento e expertise, em que o público alvo é absolutamente fidelizado; as pessoas retornam regularmente, algumas fazem autênticas vilegiaturas, as famosas viagens anuais de cura do passado, pois todos os anos visitam Caldas Novas e Rio Quente e ficam sempre nos mesmos hotéis. O mais extraordinário, é que se trata de uma iniciativa dos próprios empresários, sem nenhum um tipo de subsídio ou investimento do Estado, com retorno econômico satisfatório, que se comprova pelo ritmo da expansão da oferta hoteleira nos dois municípios. Isso não significa que os empreendimentos estão completamente estruturados dentro dos requisitos e princípios definidos pelo Código de Ética Mundial para o Turismo ou do turismo social de forma mais específica. Existem alguns limites, como práticas pouco sustentáveis de uso dos recursos naturais, restrições de acessibilidade aos deficientes físicos, poucas iniciativas de envolvimento e integração com a comunidade; mas também existem situações e empreendimentos que têm excelentes práticas, inclusive nos aspectos aqui apontados. E que a consolidação dessa experiência, com o alto índice de fidelização do público, gerou uma tendência à acomodação, com prejuízo para a capacidade competitiva: estrutura e serviços parecidos, sem o compromisso efetivo com a qualidade, falta de inovação (todos os produtos são no mesmo segmento de interesse e mercado, inclusive os novos lançamentos), autonomia excessiva dos empreendimentos, sem uma ação coordenada de destino. Mas são aspectos e detalhes que podem ser ajustados e, ao que parece, os empresários (ou seus representantes) já estão 59 trabalhando nesse sentido, em uma iniciativa organizada pelo Sebrae, em parceria com as Secretarias de Turismo. Mas inegavelmente, pudemos observar, no destino como um todo, uma prática de turismo social que é uma referência, que encontrou soluções novas e diferenciadas. O roteiro procurou ainda proporcionar a observação das práticas de termalismo adotadas pelos empreendimentos visitados. A realidade de Caldas Novas e Rio Quente é muito peculiar, em que as características do aquífero termal são preponderantes. É um destino termal, com diferentes opções de hospedagem com as termas integradas. Não existe um balneário que concentra as opções de banhos termais, essa possibilidade está colocada em praticamente todos os equipamentos. A maioria dos hotéis têm sua própria piscina termal ou um conjunto delas, ou ainda um parque aquático termal com inúmeros brinquedos. Mas por outro lado, é necessário considerar que a região se antecipou a uma tendência do termalismo mundial, enfatizou pioneiramente as atividades lúdicas, de lazer e entretenimento. Caldas Novas e Rio Quente conseguiram romper com a imagem e o posicionamento que as estâncias hidrominerais ainda carregam, de ser um lugar de “doentes”, este foi é e ainda é um estigma que pesa sobre esses destinos. E cabe lembrar que o ciclo da atividade turística tem etapas bastante distintas, de expansão, de consolidação, de amadurecimento e decadência. Esses estágios têm duração e ritmo próprio, variando conforme o lugar e as iniciativas colocadas em prática para lidar com cada fase. Todos os sintomas observados apontam auge da maturidade do turismo na região e o futuro depende dos rumos que os empreendimentos, de forma isolada ou coordenada, adotarem. Numa visão de longo prazo, com olhar voltado para o passado, identificamos outros momentos em que o destino se reinventou dentro do mesmo segmento – o termalismo de lazer – estabelecendo novos pequenos ciclos dentro da fase de maturidade. 60 Referências Bibliográficas DELISLE, Marie-Andrée & JOLIN, Louis. 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