6 O Jornal de HOJE Natal, 25 de novembro de 2014 Cidade Terça-feira Wellington Rocha USUÁRIOS SOFREM COM FALTA DE MEDICAÇÃO DE ALTO CUSTO NA UNICAT O DRAMA PARECE INTERMINÁVEL PARA QUE NÃO TEM CONDIÇÕES FINANCEIRAS DE PAGAR PELO REMÉDIO ALESSANDRA BERNARDO [email protected] A continuidade da crise da saúde no Rio Grande do Norte, que atinge diretamente a distribuição de medicamentos e insumos para usuários atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e hospitais da rede pública estadual, tem gerado situações de desespero para quem não está recebendo os remédios pela Unidade Central de Agentes Terapêuticos (Unicat). No órgão, a lista dos itens em falta já ultrapassa a marca de 272 substâncias, incluindo 30 de alto custo, como Triptorrelina, usado para o tratamento de câncer de próstata. O aposentado Arnaldo Amaro tem viajado pelo menos duas vezes ao mês desde agosto passado, vindo do município de Lagoa Salgada, no Agreste potiguar, em busca do Alenia, que ele precisa usar para seu tratamento respiratório. A última vez que recebeu o medicamento foi em julho passado. Cansado, ele explicou que não tem condições financeiras para comprar uma caixa sequer na farmácia e que, como alternativa para que sua asma não piore, tem feito nebulização três vezes ao dia, no mínimo. "Não resolve como o remédio, mas é a única coisa que posso fazer para conseguir ter uma vida o mais próxima possível do normal, porque sem isso, não sairia de casa com o cansaço. Ainda tive sorte que consegui esse aparelho emprestado. Venho duas vezes ao mês e, na última, pediram para eu retornar nesta semana para fazer o recadastramento. Mas, quando cheguei aqui, me disseram que não iria fazer porque o Alenia está em falta e não tem data para distribuí-lo. Vou voltar de mãos vazias mais uma vez", desabafou. "Me disseram para ligar daqui a umas duas semanas, para saber se já chegou ou não as caixas dele, mas já faz tempo que venho aqui e nada. Infelizmente, vivo com uma aposentadoria de um salário e não tenho condição para comprar o remédio nas farmácias. Só faço tomar algo para ver se passam as dores, que são muitas e que muitas vezes me impede de sair ou fazer alguma coisa simples dentro de casa", afirmou. A aposentada Maria Pereira sofre com dores nos ossos sem o remédio Além deste medicamento, também estão em falta itens bastante procurados, como o Evista, indicado para o tratamento de osteoporose; Zoladex, para doenças hormonais e câncer de mama; Galantamina, nas três dosagens comercializadas e indicadas para Mal de Alzheimer; Topiramato, anticonvulsivo e Triptorrelina, substância usada para tratamento de câncer de próstata. Indicado para tratamento de os- teoporose, o Evista também consta na lista dos faltosos já há bastante tempo, sem previsão de chegada. Para quem convive com o problema e enfrenta dores severas nos ossos, a única coisa que resta é rezar, como faz a aposentada Maria Pereira. Relatando limitações nas atividades do dia-a-dia por causa da doença e dos incômodos, mais uma vez ela saiu sem receber a substância e sem saber quanto voltará. DÍVIDAS COM FORNECEDORES SE APROXIMAM DE R$ 100 MI Ciente da situação calamitosa vivida pela área, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) vem explicando há vários meses que as dificuldades na aquisição dos medicamentos estão diretamente relacionadas às dívidas milionárias do Governo do Estado com as indústrias farmacêuticas fornecedoras de itens como Galantamina 8, 16 e 24mg; Topiramato 25 e 50mg; Tobramicina (antibiótico para infecções dos olhos) e Riluzol, usado no tratamento de pacientes com esclerose lateral amiotrófica (Ela). Na última quarta-feira (19), o secretário Luiz Roberto Fonseca reconheceu o problema, disse que o débito está hoje em R$ 90 milhões e que a situação ocorre porque as empresas temem sofrer um calote, já que a partir do próximo ano será um novo governador. Diante disso, elas só aceitam entregar os medicamentos mediante o pagamento da dívida anterior e que isso tem contribuído para o desabastecimento das unidades em todo o Rio Grande do Norte. "Eles temem sofrer um novo calote, como o que ocorreu no final do governo Wilma de Faria em dezembro de 2010, quando a Secretaria de Planejamento cancelou o empenho de mais de R$ 70 milhões em medicamentos que já haviam sido entregues. No início do mês, foi feito o repasse de R$ 4,5 milhões para as farmacêuticas, para liberação dos itens licitados, mas, ainda assim, o nível de descrédito do Rio Grande do Norte é alto, afirmou. José Aldenir > MEDO DE EPIDEMIA RN investiga ao menos 13 casos suspeitos de febre chikungunya e pede cuidados à sociedade > ESTOQUE CRÍTICO Hemonorte estimula doação de sangue com entrega de brindes Quem doar sangue até o final desta semana estará concorrendo a brindes, como aparelho de som e bicicletas, e todos ganharão uma camisa do Hemonorte. Os agrados são em razão do Dia Nacional do Doador, que se estendem até sábado. Na verdade, o intuito é aumentar o estoque de sangue da instituição para atender a rede hospitalar pública e privada. De acordo com a diretora geral do Hemonorte, Linete Rocha, o estoque ideal para um período como o atual está entre 600 e 800 bolsas de sangue. No entanto, o número está muito abaixo disso. Na sexta-feira passada, havia apenas 405 bolsas em estoque. Na segunda-feira, esse número aumento para 450. O fato é que a média está muito baixa e com as férias de fim de ano a situação fica ainda mais crítica. "Em geral, existe uma diminuição de doação porque as pessoas começam a se ausentar da cidade por causa das férias escolares, das festas de fim de ano. Em contrapartida pessoas vêm de outras cidades. Então, a população flutuante da cidade aumenta", comentou a diretora geral da instituição. Além disso, um grande evento se aproxima, o Carnatal. De acordo com Linete Rocha, em festividades desse porte, a média ideal para o estoque deve ficar ainda maior: entre 800 e mil bolsas de sangue disponíveis. Para doar sangue você precisa: ter entre 16 e 69 anos (adolescentes de 16 anos devem estar acompanhados pelos pais. A primeira doação de qualquer pessoa só pode ocorrer até os 60 anos); ser saudável; pesar acima de 50 quilos; ter dormido pelo menos seis horas na noite anterior; Evitar alimentos gordurosos; não ingerir bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores; estar bem alimentado; e apresentar documento oficial com foto. Também há fatores que impedem a doação: ter feito endoscopia nos últimos seis meses; ter feito maquiagem definitiva, tatuagem ou piercing no último ano; ter sido acometido por hepatite viral depois dois 11 anos de idade; ser usuário de drogas outras drogas que não o álcool; ter se exposto a doenças trans- “Existe uma diminuição de doação, porque as pessoas começam a se ausentar da cidade por causa das férias escolares, das festas de fim de ano. Enquanto isso, pessoas de outras cidades chegam a Natal ” LINETE ROCHA DIRETORA DO HEMONORTE missíveis pelo sangue; e ter múltiplos parceiros(as) sexuais no último ano. DOADOR Nº 1 Para estimular os doadores, o Hemonorte dá lembrancinhas nessa época para o maior doador do sexo masculino e do feminino também. O homem que mais doou sangue no Rio Grande do Norte já realizou 150 doações ao longo de 23 anos. O vigilante Flávio Dantas Celestino Corrêa, de 43 anos, sempre leva consigo todas as suas carteirinhas de doação quando é homenageado anualmente pelo Hemonorte. A primeira coisa que exibe orgulhoso são suas pequenas relíquias da solidariedade. Amais velha data de 1991. Aprimeira doação foi para ajudar um parente distante e desconhecido. "Severino, esse nome nunca vou esquecer", acentuou. "E eu vim mais porque eu queria um atestado para não ir trabalhar. Mas eu gostei tanto que foram 150 doações, mas não foram 150 atestados não", brincou. Para aqueles que ainda não doam Flávio deixa um recado: "não é só parente que adoce, as pessoas não se lembram disso. Todos os dias no hospital tem gente necessitando do seu sangue. Você tem que fazer isso por amor, e não esperando um retorno. Isso é papai do céu quem dá. Eu sou tão abençoado que nunca peguei nem uma dengue". O exemplo do pai também é seguido pelos seus filhos. Por enquanto, o vigilante tem seis filhos. Dois deles em idade de doação de sangue. "O mais velho de 24 anos já doa. Da próxima vez vou trazer o de 16 também", prometeu. As doações podem ser feitas na sede do Hemonorte em Natal, de segunda a sábado, das 7h às 18h, na avenida Alexandrino de Alencar, 1800, tirol (próximo ao Parque das Dunas). Também há posto de coleta na Biblioteca Américo Oliveira Costa, no conjunto Santarém, funcionando de segunda a sábado das 8h às 17h. Na sede da Secretaria Estadual de Saúde Pública também há ponto de coleta. Em Mossoró, a população interessada por procurar o posto na rua Projetada, bairro Aeroporto, das 7h às 18h de segunda a sábado. Também há postos de coleta em Caicó, Currais Novos e Pau dos Ferros. Todos funcionando das 7h às 18h. Com 13 casos suspeitos de febre chikungunya sendo investigados atualmente, o Rio Grande do Norte tem intensificado as ações de orientação e capacitação de profissionais de saúde nos 167 municípios para evitar uma possível epidemia da doença. A proximidade do verão, época propícia para a reprodução do Aedes aegypti e do Aedes albopictus, transmissores da dengue e da febre, também preocupa a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap), que pede à sociedade que mantenha os cuidados redobrados contra o surgimento de focos dos mosquitos. Segundo a coordenadora do Programa Estadual de Controle da Dengue e Chikungunya, Sílvia Dinara, as formas de prevenção são idênticas para ambas as doenças por elas serem transmitidas pelos mesmos vetores e que o mais importante é evitar os criadouros, para impedir a ocorrência de surtos. "Os profissionais de saúde do Hospital Giselda Trigueiro, unidade de referência no Estado, já foram capacitados e todas as informações sobre a notificação dos casos suspeitos estão sendo repassadas para as secretarias de saúde dos municípios", afirmou. A diretora técnica do Programa, Cristiane Fialho, disse que o material a ser divulgado contém as medidas necessárias para a prevenção das duas doenças, Ela afirmou que, apesar dos 25 casos suspeitos notificados, sendo 12 já descartados e outros 13 em investigação (11 em Natal, um em Macaíba e um em Mossoró), não há motivo para pânico. No país, conforme dados do Ministério da Saúde, já foram contabilizados 828 casos até o final de outubro. Para ela, a população deve atuar de forma efetiva para impedir o acúmulo de água parada em vasos de plantas, pneus velhos, garrafas, caixas d'água ou outros objetos que possam atuar como depósito; manter tonéis, barris e outros reservatórios bem fechados; lavar semanalmente os tanques usados para armazenar água e não jogar lixo nas ruas ou terrenos baldios também são medidas bastante eficazes para impedir a reprodução e disseminação dos vetores. "É uma enfermidade já existente em outros países e que chegou José Aldenir Agentes intensificam as visitas e pedem à população para redobrar os cuidados ao Brasil há pouco tempo, mas as cadas e com indicação médica, já pessoas não precisam ficar assus- que o protocolo tem um custo muito tadas porque, mantendo os mesmos alto e está voltado para a área da cuidados que temos para prevenir a pesquisa. O interesse foi gerado pelo dengue, também podemos evitar a fato do Estado ter 13 municípios chikungunya, transmitida pelos mes- com risco de registrar infestação do mos mosquitos. Manter a atenção Aedes aegypti. redobrada é essencial para isso e é De acordo com informações da o que nós estamos divulgando entre Organização Mundial da Saúde a população", (OMS), os sinafirmou Cristomas da chikuntiane gunya são pareci“É uma enfermidade Na última dos com os da existente em outros paíssemana, profisdengue, como es e que chegou ao sionais de saúde febre, dor nas arBrasil há pouco tempo. de diversos muticulações, de nicípios pocabeça e muscular, Contudo, não é preciso tiguares particináusea e manchas que ninguém fique preparam de uma avermelhadas na ocupado, é só redobrar a atualização técpele. Entretanto, atenção com os focos do nica sobre a são mais domosquito chikungunya e o lorosos. Podem ebola. A preocudurar entre dez e pação é devido 15 dias, desapareCRISTIANE ao seu alto risco cendo em seguida, de epidemia, pomas há relatos em dendo contamique as dores articnar entre 35% e 75% da população ulares podem permanecer por meses ou mais ainda; a presença dos ve- ou anos. As complicações, raras, são tores transmissores da doença no relacionadas aos sistemas cardíaco Estado e o fato dela estar presente e neurológico, principalmente em em todo o país. pacientes idosos. Ainda assim, conforme a OMS, SINTOMAS PARECIDOS a doença causada pelo vírus do COM DENGUE, MAS gênero Alphavirus mata menos que MAIS DOLOROSOS a dengue, com quadros menos Desde o último dia 14 de no- severos que esta, principalmente em vembro, o Laboratório de Virologia termos de produzir casos graves e da Universidade Federal do Rio hospitalizações. Até o momento, não Grande do Norte (UFRN) tem foi descoberto um tratamento eficondições de desenvolver estudos e caz para curar a infecção ou vacina analisar casos suspeitos da enfer- para preveni-la, sendo assim, é inmidade no Estado. Apesar disso, só dicado o uso de antipiréticos e analatenderá as situações mais compli- gésicos para aliviar os sintomas. ”