EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Maria Fernanda Rodrigues Pinto
Universidade Estadual de Londrina- Pr.
[email protected]
Diene Eire de Mello Bortotti de Oliveira
Universidade Estadual de Londrina- Pr.
[email protected]
Resumo
O número expressivo de futuros professores que buscam a EaD merece um
amplo investimento em pesquisa nas universidades, visto que futuros
professores estão sendo formados em tal modalidade de educação. O presente
estudo teve como objetivo perceber em que medida as pesquisas acerca da
formação de professores e EaD tem sido comtempladas como objeto de estudo
por pesquisadores da área de educação. A partir de uma pesquisa bibliográfica
na base de dados dada ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e
Pesquisa em Educação) no período de 2006-2010. Os dados levantados e
analisados apontam que somente 14 artigos brevemente tratavam do tema em
questão, sendo somente quatro que particularizavam a formação de
professores na EAD. Conclui-se, portanto, que existe um descompasso entre o
número de estudantes que buscam a EaD em relação à produção científica
nos eventos do ANPED. Tal dado pressupõe que existe uma necessidade
urgente de conhecer com profundidade tal modalidade, levando em conta o
grande número de alunos/futuros professores que estão tendo sua formação
docente por meio da EaD.
Palavras-chave: educação a distância, formação de professores, ANPED
Introdução
318
Há uma modalidade de ensino que vem ocupando espaço e
provocando grandes discussões: o ensino à distância. A definição objetiva de
EAD - ensino a distância - aplica-se ao conjunto de métodos, técnicas e
recursos postos à disposição de populações estudantis dotadas de um mínimo
de
maturidade
e
motivação
suficiente
para
que,
em
regime
de
autoaprendizagem, possam adquirir conhecimentos ou qualificações em
qualquer nível, já que o mesmo possibilita romper barreiras institucionais,
criando um espaço onde o sujeito pode se lançar em busca de formação de
competências e constituição de saberes individuais (American World University,
2000).
O aluno diante desse conceito “regime de autoaprendizagem”,
deve se exigir e ter responsabilidade para acompanhar o curso. No entanto, por
ser uma modalidade não presencial é quase óbvio pensar que somente o aluno
é o sujeito dessa ação. Segundo Freitas (2005), estudar mediante cursos a
distância requer disciplina de estudos e professores ou tutores especializados
para atenderem necessidades específicas.
[...] A educação a distância não é um modismo: é parte de um
amplo e contínuo processo de mudança, que inclui não só a
democratização do acesso a níveis crescentes de escolaridade
e atualização permanente como também a adoção de novos
paradigmas educacionais, em cuja base estão os conceitos de
totalidade, de aprendizagem como fenômeno pessoal e social,
de formação de sujeitos autônomos, capazes de buscar, criar e
aprender ao longo de toda a vida e de intervir no mundo em
que vivem. (NEVES, [20--])
Ainda, de acordo com Belloni (2006), o papel que o professor
assume no EAD é o de parceiro do estudante no processo de construção do
conhecimento, ou seja, acontece a transformação do professor de uma
319
entidade individual em uma entidade coletiva, onde o foco deixa de ser o
ensino para ser a aprendizagem.
Segundo dados do Censo da Educação Superior realizado em
2010 pelo INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira), 14,6% das matrículas para Ensino Superior no ano de 2012
foram da modalidade ensino à distância. Desses, 45,8% eram matrículas para
cursos de licenciatura, 28,8% para bacharelado e 25,3% para tecnológicos.
Esse aumento significativo no número de matrículas de EAD mostra a
integração dessa modalidade com o ensino superior e sua total participação no
processo educativo. Além disso, no outro estudo, quase metade dos cursos
escolhidos pelos alunos no EAD são licenciaturas. Ainda, no mesmo estudo do
INEP sobre o Ensino Superior, percebe-se que metade dos alunos tem até 32
anos, os 25% mais velhos tem mais de 40 anos e os 25% mais jovens tem até
26 anos. Em média, portanto, os alunos de ensino à distância têm 33 anos, ao
contrário dos cursos presenciais, que em média atendem a alunos de 26 anos.
Os pesquisadores notaram que o EAD se tornou uma opção viável para
aqueles que não puderam ingressar no ensino superior na idade apropriada e
também para aqueles que já estão no mercado de trabalho e procuram
horários flexíveis para um curso superior.
[...] Portanto, o projecto dos cursos para regime de ensino à
distância terá de ter em conta as características de
aprendizagem inerentes a esta heterogeneidade, tomando a
flexibilidade curricular como base e desenvolvendo esquemas
que permitam ao aluno o máximo de liberdade possível no
desenvolvimento, quer do seu currículo, quer no cumprimento
das suas metas de aprendizagem. (LAGARTO, 1994, p.39)
À medida que as matrículas de EAD crescem no país, buscase cada vez mais garantir ao aluno (seja na modalidade presencial, como na a
distância) um aprendizado significativo e que esteja dentro daquilo que a
320
proposta pedagógica almeja. Vários educadores vêm problematizando a
educação, procurando uma forma mais apropriada de ensino-aprendizagem.
[...] As múltiplas vozes presentes nas atividades coletivas – as
explicações do professor, a troca de experiência com os
colegas, as leituras de textos de diferentes naturezas sobre o
tema, a observação de vídeos explicativos, a realização de
experimentos – provocaram uma espécie de diálogo interno,
que apontava para uma reorganização do pensamento dos
alunos.
[...] Dificilmente teremos a certeza de que houve a apropriação
dos conceitos exatamente do modo como é a expectativa da
escola, mas a inserção do estudante em um movimento de
reflexão, mesmo que ainda oscilando entre o velho e o novo
conhecimento, é um indício de que ele está em atividade de
aprendizagem, no sentido exposto por Leontiev. (SFORNI,
2004, apud GALUCH, 2006, p.12).
Atualmente, há uma nova perspectiva de educação, em que o
professor se torna mediador do processo ensino-aprendizagem. Mediador
porque o aluno agora faz parte dessa ação e por si só se apropria do
conhecimento. Cabe ao professor dar suporte ao aluno e mediar a sua
aprendizagem. Um dos grandes pesquisadores que procurou saber mais sobre
a questão da mediação foi Vygotsky. Em seus estudos, Vygotsky percebeu que
pela mediação o aluno passa a ter uma relação direta com o objeto de estudo,
somente sendo mediado por um outro elemento.
Nesse caso, o mediador deve conduzir o aluno a um
aprendizado significativo, como por exemplo orientando-lhe em exercícios
propostos, para que nos próximos exercícios o aluno por si só já tenha
conhecimento de como resolvê-los.
[...] O aprendizado adequadamente organizado resulta em
desenvolvimento mental e põe em movimento vários processos
de desenvolvimento que, de outra forma, seriam impossíveis
de acontecer. (VYGOTSKY, 1984, p.101).
321
Esse desenvolvimento mental que Vygotsky põe em discussão,
pode ser entendido com a autoaprendizagem mediada pelo professor. O
professor agora não deve somente ensinar e transmitir o conhecimento, agora
ele deve facilitar ao aluno a aprendizagem e dar-lhe condições para que o
aluno por si só, adquira o conhecimento.
[...] O professor deve assumir o papel de investigador,
pesquisador e orientador; orientar o aluno e conceder-lhe
ampla margem de autocontrole e autonomia (REZENDE, 2005,
p. 5).
A Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394/96 estabelece que até
2006, todos os professores que forem admitidos deverão estar formados no
nível superior. Sabemos que nem mesmo até 2016 tal meta será cumprida no
país. Entretanto, a EaD tem sido vista como uma possibilidade ou talvez a
“única” possibilidade de se formar professores em nível superior. O Brasil com
sua extensão territorial e desenvolvimento econômico e social faz com que
estados que não possuem uma grande quantidade de universidades e
faculdades a meta torna-se quase uma utopia. Oliveira (2008, p.08) aponta:
Se analisarmos a quantidade de vagas nas universidades públicas,
trazendo como consequência uma grande concorrência para os
vestibulares, é possível compreender claramente que a universidade
pública está muito distante da maioria da população. Por outro lado, as
instituições privadas que ofertam o Curso de Pedagogia na modalidade
presencial, não dificultam o acesso. A seleção de alunos se faz de uma
forma menos rigorosa do que nas universidades públicas, sendo que a
concorrência por vagas é quase inexistente.
A autora ainda afirma:
Desta forma, o curso de Pedagogia a distância tem sido uma alternativa
até então inexistente na vida desses profissionais. O curso superior, que
322
se apresentava para esta população como algo impossível, passa a ser
perseguido por adultos que não tiveram possibilidade de ingressar no
curso superior logo após o término do ensino médio. Quase sempre são
mulheres, que optaram por cuidar da família e das atividades
domésticas e que, ao terem cumprido com tais tarefas, retornam ao
antigo sonho do curso superior. O curso a distância representa quase
que a única possibilidade para este grupo (2008, p.09)
Parece ainda contraditório que apesar da região sul e sudeste
terem um grande número de instituições de ensino superior, são também as
regiões onde se concentra a maior quantidade de alunos na EaD. Assim, é
possível afirmar que tal modalidade não se insere como possibilidade de
espaços longínquos i isolados do país, mas também uma forma de retorno aos
bancos escolares. O censo da EaD de 2010 aponta que 42,8% dos alunos
matriculados na EaD no país concentram-se na região sul. Só o estado de São
Paulo, por exemplo, com 30% dos alunos do país, supera as regiões Norte,
Nordeste e Centro-Oeste, que, juntas, educam 22% dos brasileiros em EAD.
Portanto, é um fenômeno que merece ser estudado
A educação à distância e a formação de professores, no
entanto, não é a mesma para os cursos presenciais. Segundo Lobo Neto
(2001, p.128) “programas, cursos, disciplinas ou mesmo conteúdos oferecidos
a
distância
exigem
administração,
desenho,
lógica,
linguagem,
acompanhamento, avaliação, recursos técnicos, tecnológicos e pedagógicos,
que não são mera transposição do presencial. Ou seja, a educação a distância
tem sua identidade própria.”
No decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, no artigo 1º
do capítulo I, há a definição do ensino distância como uma “modalidade
educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino
e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação
e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades
educativas em lugares ou tempos diversos.”
A formação de professores à distância pode “ser uma
excelente estratégia de ao mesmo tempo construir conhecimento, dominar
323
tecnologias, desenvolver competências e habilidades e discutir padrões éticos
que beneficiarão, mais tarde, os alunos desses professores”. (NEVES, [20--])
[...] Se a escola deve mudar, certamente os cursos de
formação de professores precisam também passar por uma
mudança profunda e radical. Todas as características da
escola contemporânea antes apresentadas devem estar
presentes nos cursos que formam os profissionais da
educação. O cotidiano da formação dos educadores deve ser
marcado por um diálogo interativo entre ciência, cultura, teorias
de aprendizagem, gestão da sala de aula e da escola,
atividades pedagógicas e domínio das tecnologias que facilitam
o acesso à informação e à pesquisa. (NEVES, [20--])
Diante disso, a presente pesquisa tem como objetivo responder
às seguintes questões: a formação de professores na modalidade à distância
tem sido objeto de estudo nas pesquisas na área de educação? Qual o
enfoque das pesquisas que tratam da EaD nos anais da ANPED?
PERCURSO METODOLÓGICO
O presente estudo é resultado de pesquisa bibliográfica, com
caráter exploratório, que buscou no site da ANPED (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Educação) nos dois Grupos de Trabalho:
Formação de professores e Educação Comunicação e Tecnologias, artigos que
tratassem sobre a formação de professores e educação a distância entre os
anos de 2006 e 2010. Partiu-se do pressuposto que estes dois eixos poderiam
aglutinar pesquisas que tratassem de formação de professores e Educação a
Distância.
324
Primeiramente, a pesquisa consistiu em procurar artigos que
pelo título e resumo comentassem a questão de formação de professores na
EAD. A busca foi realizada por conceitos como “educação online”, “educação à
distância”, “educação sem limites”, e etc. Todos esses conceitos foram
relacionados à pesquisa, pois a EAD é ainda, no Brasil, um termo complexo
que possui muitas variantes.
Feito isso, os artigos foram identificados e analisados,
buscando especificar o teor das pesquisas correspondentes.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No site da ANPED, calcula-se que há 1785 trabalhos
publicados durante o período selecionado (2006-2010). Conforme pesquisado,
somente catorze trabalhos foram destacados sobre ensino à distância. Desses,
onze artigos tratavam prioritariamente da formação de professores para o EAD
e outros temas necessários para tal formação. Nota-se que há uma grande
diferença entre o total de artigos publicados e os que tratam especificamente
da EaD, apesar de esta ser uma modalidade de educação que cresce tanto no
país.
Outro aspecto a ser notado é o conteúdo de tais publicações. A
tabela abaixo mostra de forma bem simplificada, os conteúdos dos artigos
destacados pela pesquisa.
Tabela: Conteúdo dos artigos destacados do site da ANPED.
Ensino à distância – história, institucionalização
Nº de
Trabalhos
02
325
Ensino à distância e formação de professores
04
Avaliação da aprendizagem no EAD
02
Atividades para o ensino à distância
02
Ensino à distância e formação do sujeito
01
Relação professor e aluno no EAD
01
Gestão pedagógica no ensino a distância
01
Ensino a distância para a formação de profissionais
01
Total
14
Os números mostram que de maneira geral a formação de
professores na modalidade à distância, não tem sido objeto de pesquisa por
boa parte dos pesquisadores na área de Educação. Se analisarmos as
pesquisas que analisam propriamente a formação de professores na EaD,
estas ainda se apresentam em número restrito. Mesmo se tomarmos o número
total (14 artigos), num rol de 1785 trabalhos apresentados, esses não chegam
a 1% da produção da ANPED. Conclui-se, portanto, que existe um
descompasso entre o número de estudantes que buscam a EaD em relação à
produção científica nos eventos do ANPED.
É possível perceber que existe uma grande preocupação nas
pesquisas acerca da EAD quanto à qualidade da oferta de tal modalidade.
Talvez, isso se deve ao fato de que muitos educadores concebem ainda a EaD
como uma modalidade que contradiz a sua formação ou ainda de qualidade
duvidosa (O que merece ainda mais empenho em pesquisas). Hoje, o mundo
vive em uma revolução tecnológica, e querendo ou não a sociedade faz parte
desse processo. A educação, como parte integrante e formadora da sociedade,
deve
também
passar
por
essas
inovações
e
buscar
alternativas
democratizantes que possam atender de maneira eficaz a todos.
326
[...] Nesse contexto, tratar de educação e da formação de
especialistas via educação a distância, tendo como referência
os avanços tecnológicos, não pode se reduzir a analisar o
impacto mútuo nem a propor indiscriminadamente o uso e o
desenvolvimento de novas tecnologias em resposta aos
recentes avanços.
A questão é muito mais complexa, pois ambas realidades
revolução tecnológica – educação, pressupõe processos
estreitamente relacionados ao modelo de sociedade do qual
são parte. Essa complexidade exige um esforço de
aprofundamento, tanto no âmbito do conhecimento como no
âmbito das decisões sobre propostas alternativas. (LOBO
NETO, 2001, p. 74)
É preciso compreender a EaD como um fenômeno do nosso
tempo, como uma resposta à sociedade em que estamos inseridos.
Considerações Finais
Diante dos resultados, nota-se que ainda há poucos estudos
sobre o ensino a distância, e menos ainda, sobre a formação de professores
para essa modalidade de educação. Tal dado pressupõe que existe uma
necessidade urgente de conhecer com profundidade tal modalidade, levando
em conta o grande número de alunos/futuros professores que estão tendo sua
formação docente por meio da EaD.
Portanto, as pesquisas analisadas mostram uma significativa
preocupação com essas transformações na sociedade, problematizando a
questão da EAD. Tais produções são de grande relevância, pois é necessário
sempre desconfiar e analisar com profundidade as mudanças ocorridas no
sistema educacional. Entretanto, estas precisam ampliar seu foco, buscando
sair dos simples aspectos de denúncias e buscar alternativas que possam
colaborar e apontar caminhos a fim de garantir qualidade para tal modalidade
de educação.
327
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