As contribuições do design instrucional na educação a distância online Greiziele Fernandes Oliveira Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFETMG RESUMO: O uso crescente das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) modificou a relação das pessoas com a construção do conhecimento e constituiu-se um recurso importante no desenvolvimento de cursos e materiais voltados para a Educação a Distância. Neste contexto, o design instrucional destaca-se por conduzir o processo de desenvolvimento dos conteúdos de forma contextualizada e coerente com as tecnologias disponíveis e em consonância com os sujeitos envolvidos. Este estudo realizouuma análise bibliográfica dos conceitos vinculados à definição da EaDonline e do design instrucional a fim de verificar a relação que se estabelece entre ambos e as influências que esta relação exerce na aprendizagem do aluno. PALAVRAS-CHAVE: Educação a Distância; aprendizagem; design instrucional. 1. Introdução A sociedade atual tem pautado as suas relações no uso constante das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), o que traz novos significados para as interações sociais, afetivas, econômicas e, inclusive, para o processo de construção do conhecimento. Neste cenário a Educação a Distância (EaD)online tem se difundido e a demanda por uma educação que não ofereça limitações espaço-temporais cresce gradualmente. Esta modalidade de ensino surgiu da necessidade de superar a barreira da distância e possibilitar a profissionalização daqueles que não podiam ou não possuíam condições de frequentar uma instituição de ensino em horário e local fixos. Desta forma, Moran (2002) define educação a distância como a forma educacional em que o processo de ensino e aprendizagem ocorreatravés do uso das TDIC e que majoritariamente, alunos e professores não compartilham das mesmas dimensões de tempo e espaço. Assim sendo, os locais voltados para o aprendizado são ressignificados, expandindo esta concepção para todo e qualquer espaço onde o aluno possa ter contato com o conteúdo através de uma determinada tecnologia.Seguindo este mesmo raciocínio, Moore e Kearsley (2007) apresentam o seguinte conceito: Educação a distância é o aprendizado planejado que ocorre normalmente em um lugar diferente do local de ensino, exigindo técnicas especiais de criação do curso e de instrução, comunicação por várias tecnologias e disposições organizacionais e administrativas especiais (MOORE e KEARLEY, 2007, p.2). Pretende-se, portanto, que através da incorporação de tais tecnologias ao programa de ensino, o aluno seja capaz de aprender e construir novos conhecimentos. No entanto, o uso das tecnologias necessita de uma sistematização que traga significado para a relação que esta irá estabelecer com o conteúdo. Neste cenário, o design instrucional destaca-se por conduzir o processo de desenvolvimento dos conteúdos de forma contextualizada e coerente com as tecnologias disponíveis. Comumente adotado nos processos de elaboração de conteúdos para a EaDonline, o design instrucional é definido como recurso pedagógico de suporte ao aprendizado que envolve o planejamento sistemático de uma ação com a intencionalidade de ensinar. Compreende uma análise contextualizada do objeto de estudo, do público ao qual se destina, do meio de veiculação, da abordagem pedagógica e das tecnologias disponíveis. Reforçando esta concepção, Filatro (2008) apresenta o design instrucional como: (...) a ação intencional e sistemática de ensino que envolve o planejamento, o desenvolvimento e a aplicação de métodos, técnicas, atividades, materiais, eventos e produtos educacionais em situações didáticas específicas, a fim de promover, a partir dos princípios de aprendizagem e instrução conhecidos, a aprendizagem humana. Em outras palavras, definimos design instrucional como o processo (conjunto de atividades) de identificar um problema (uma necessidade) de aprendizagem e desenhar, implementar e avaliar uma solução para esse problema (FILATRO, 2008, p.3) E, ao delinear o cenário atual da EaDno Brasil e as mudanças que se fazem necessárias, Moran (2013, online) aponta o design instrucional como “cada vez mais decisivo para contar com roteiros cognitivos inteligentes, com equilíbrio entre aprender juntos e sozinhos”. No entanto, ainda que reconhecido como um elemento estratégico na sistematização do ensino, não são todas as instituições dedicadas à oferta da EaD que incorporam o design instrucional ao processo de elaboração do curso. Sobre este tema Moran (2013) ressalta que: Muitos cursos são previsíveis, com informação simplificada, conteúdo raso e poucas atividades estimulantes e em ambientes virtuais pobres, banais. Focam mais conteúdos mínimos do que metodologias ativas como desafios, jogos, projetos. Alguns materiais são inferiores aos que são exigidos em cursos presenciais (MORAN, 2013, online.) Nessa perspectiva, este estudo teve como objetivoverificar as contribuições do design instrucional na educação a distância online. A partirdestarelação, foifeitaumareflexãosobre as influências que esta exerce sobre a aprendizagem do aluno da modalidade a distância online. Esse estudo se justifica devido ao fato de que apesar EaD ser um tema já recorrente no meio acadêmico, os estudos sobre os processos de desenvolvimento e sistematização de conteúdos para esta modalidade ainda são modestos. De acordo com dados disponíveis no Banco de Teses da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), de 2010 até o ano corrente houve 29 pesquisas envolvendo a temática design instrucional nos programas de mestrado acadêmico, mestrado profissional e doutorado. Destes, apenas três são da área da educação. A consulta ao Portal de Periódicos da CAPES apontou a existência de 26 artigos produzidos na área entre os anos de 2009 e 2014. Tais números demonstram como ainda é restrita a pesquisa voltada para o estudo do design instrucional e aponta para a necessidade de se aprofundar nessa temática. 2. Referencial teórico 2.1 Educação aDistância A EaD, ao contrário do que muitas vezes é apresentado, não está intrinsecamente ligada ao uso de tecnologias digitais e tampouco pode ser considerada como uma descoberta recente. Seu início remonta ao século XIX, através da troca de correspondências, estimulada pela expansão das redes ferroviárias, que tornaram os serviços postais mais baratos, rápidos e confiáveis (MOORE e KEARSLEY, 2007). A partir daí as tecnologias predominantes de cada época determinaram forte influência sobre os meios de veiculação da EaD, passando pelo rádio, televisão, teleconferências e computadores, até chegar ao formato mais utilizado atualmente, que ocorre através da internet. A década de 60 representou o começo de um período de intensa evolução tecnológica que gerou transformações na economia e nas relações humanas e também na estrutura social. Este advento tecnológico faz surgir uma nova sociedade, denominada por Castells (1999) de sociedade em rede, que se expressa através deste novo cenário, mediado pelas TDIC e as novas estruturas sociais que se estabeleceram. Surge ainda um novo modelo de desenvolvimento, o informacionalismo, que segundo Castells está “ligado à expansão e ao rejuvenescimento do capitalismo” (CASTELLS, 1999, p.55). Ao se fazer presente em todos os seguimentos desta nova sociedade as TDIC se tornaram fundamentais no estabelecimento de uma nova economia que é pautada na manipulação da informação e na construção dos conhecimentos individuais. Deste modo, “a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder” (CASTELLS, 1999, p.21). Neste contexto, é relevante salientar alguns marcos determinantes para a popularização do uso da internet e o estabelecimento da educação a distância online, conforme apresentado no quadro 1: QUADRO 1 – Marcos da evolução do uso da internet Ano Principais marcos Criação da AdvancedResearchProjectsAgency Network – Rede de Agências de Pesquisas em Projetos Avançados (ARPANET). Considerada o primórdio da internet, se tratava de 1969 uma rede operacional cujo objetivo era interligar os departamentos de pesquisa americanos com as bases militares como forma de proteger as informações do país. Invenção do primeiro microprocessador pela Intel Corporation 1971 Criação de uma linguagem única de comunicação entre as diversas redes operacionais, a TCP/IP, que permitiu conectar computadores de diferentes modelos e sistemas 1974 operacionais. Surgimento do primeiro microcomputador pessoal, o Mits Altair 8080, baseado na 1975 tecnologia da Intel. Popularização da internet através da comercialização das redes e surgimento das conexões 1988 dial-up. Surgimento da worldwide web, que permitiu a navegação entre diferentes páginas. 1992 Fonte: Elaborado pela autora a partir de consultas a sites que abordam o histórico da evolução da internet. A partir dos dados apresentados no quadro 1 pode-se verificar que o processo de evolução da internet partiu de uma demanda voltada para a proteção e o compartilhamento de informações confidenciais entre departamentos de pesquisa americanos e foi aprimorada para possibilitar a ampliação da troca de informações em nível mundial. As particularidades sociais, políticas, geográficas e tecnológicas de cada época tem influenciado a educação ao longo dos anos e se constituído como fatores determinantes para a sua evolução. Ao analisar a função da informação na constituição da cultura de uma sociedade LÈVY (2012) defende que a utilização de uma técnica é determinada pelas relações que esta mantém com o meio. Basta que alguns grupos sociais disseminem um novo dispositivo de comunicação, e todo o equilíbrio das representações e das imagens será transformado, como vimos no caso da escrita, do alfabeto, da impressão, ou dos meios de comunicação e transporte modernos (LÈVY, 2012, p.9). Assim sendo, as “coisas mudam, as técnicas transformam-se insensivelmente, as narrativas se alteram ao sabor das circunstâncias, pois a transmissão também é sempre recriação(...)” (LÈVY, 2012, p.51) 2.2 A relação entre as Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação e a sociedade Atualmente, vive-se em uma sociedade onde o acesso à informação e a comunicação é facilitado por uma grande diversidade de tecnologias e inovações que transformaram a relação entre as pessoas e a relação destas com a construção do conhecimento. Telefones celulares, computadores, notebooks e televisores são alguns exemplos de aparelhos que atualmente, em grande parte, possuem canais de acesso à internet e são capazes de interagir entre si. No Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil este advento tecnológico é explicado através de três fenômenos: a convergência da base tecnológica, que define a interação que se estabelece entre conteúdos, computação e informações através da digitalização dos processos; a dinâmica da indústria, que tem disponibilizado aparelhos tecnológicos a preços mais acessíveis; e por fim, o crescimento da internet, que é decorrente dos anteriores e conseguiu se disseminar por todo mundo em um período consideravelmente curto (BRASIL, 2000). Desta forma, a sociedade tem se constituído de modo a possibilitar que um número cada vez maior de pessoas esteja conectado às redes. Somando-se a isto, a evolução das formas de interação entre usuário e computador permite que estas pessoas produzam, modifiquem, troquem e reproduzam informações em grande escala e em tempo reduzido. Vive-se hoje a era da web 2.0, termo que define a nova relação que se estabeleceu entre usuário e rede nos últimos anos. Tal configuração permite que os usuários participem mais ativamente da produção e manipulação das informações através da maior interatividade que oferece através desta nova relação. Desta forma, estabelece-se uma inteligência coletiva, que tem sido utilizada para aperfeiçoar softwares, aplicativos e a própria rede. Tim O’Reilly, precursor o termo, define a web 2.0 como: a rede como plataforma, abarcando todos os dispositivos conectados. As aplicações Web 2.0 são aquelas que produzem a maioria das vantagens intrínsecas de tal plataforma: distribuem o software como um serviço de atualização contínuo que se torna melhor quanto mais pessoas o utilizam, consomem e transformam os dados de múltiplas fontes - inclusive de usuários individuais - enquanto fornecem seus próprios dados e serviços, de maneira a permitir modificações por outros usuários, criando efeitos de rede através de uma ‘arquitetura participativa’ e superando a metáfora de página da Web 1.0 para proporcionar ricas experiências aos usuários (O’REILLY, 2005). Segundo a páginaInternet Live Stat, que mostra as estatísticas referentes ao uso da internet em tempo real, em torno de 40% da população mundial está conectada à internet, sendo que em 1993 esta porcentagem não ultrapassou 0,3%. O número de websites também apresentou um crescimento expressivo, chegando apenas a 130 páginas em 1993 e ultrapassando, neste ano, a marca de 1 bilhão de páginas ativas. Avaliando de forma geral, percebe-se que nem metade da população possui acesso à internet, no entanto, estes 40% conectados apresentam uma relação bastante estreita e geram um grande número de informações na rede. O uso da internet se amplia para além da simples visualização de conteúdos e passa a fazer parte do cotidiano destes usuários, sendo capaz de oferecer a possibilidade de encurtar distâncias, reduzir custos e usufruir experiências diversificadas. Esta nova relação das pessoas com a internet e as TDIC tem modificado as interações sociais, de trabalho e, principalmente, a forma como ocorre aconstrução do conhecimento. Ofertar um curso no formato online deixa de ser somente a disponibilização das informações na rede e passa a exigir um diálogo ampliado destas informações com o universo do aluno. Neste sentido, o Livro Verde da Sociedade da Informação no Brasil (2000) afirma que: Educar em uma sociedade da informação significa muito mais que treinar pessoas para o uso das tecnologias de informação e comunicação: trata-se de investir na criação de competências suficientemente amplas que lhes permitam ter uma atuação afetiva na produção de bens e serviços,tomar decisões fundamentadas no conhecimento, operar com fluência os novos meiose ferramentas em seu trabalho, bem como aplicar criativamente as novas mídias, seja em usos simples e rotineiros, seja em aplicações mais sofisticadas. Trata-se também de formar os indivíduos para ‘aprender a aprender’, de modo a serem capazes de lidar positivamente com a contínua e acelerada transformação da base tecnológica (BRASIL, 2000, p.45). Estabelece-se assim, um cenário fecundo para a ampliação do uso das tecnologias digitais para a educação. Conforme histórico já apresentado, cada época determinou, tecnologicamente, uma grande influência no formato da EaD. Atualmente o uso das TDIC e da internetconstituem-se como as principais veiculadores dos cursos de EaDonline. 2.3 Profissionais envolvidos na elaboração de um curso na EaDonline O desenvolvimento de um curso ou conteúdo para a EaDonline requer uma organização específica do planejamento do ensino, que é fortemente determinado pelo distanciamento físico entre alunos, professores e instituição. Não raro, o conteúdo a ser trabalhado é o mesmo de um curso presencial, no entanto, a forma e as técnicas selecionadas para sua apresentação são pensadas para um contexto em que o aluno, na maioria das vezes, encontra-se sozinho diante do material a ser estudado. Considerando este aspecto, Moore e Kearsley (2007) colocam as seguintes questões a serem ponderadas ao se pensar um curso no formato EaD: Que conteúdo deve ser incluído ou excluído? De que forma ocorrerá a sequência e a estrutura da matéria? Que mídias serão usadas para apresentar as diferentes partes do material? Que estratégias de ensino serão utilizadas? Quanta interação existirá entre alunos e instrutor e entre alunos? Como o aprendizado será avaliado e que forma assumirá o feedback para os alunos? Quais métodos de produção serão usados para criar os materiais de ensino? (MOORE e KEARSLEY, 2007, p.107) Para tanto, demonstra-se necessária a participação de uma equipe dedicada ao desenvolvimento do curso, a fim de atender as questões anteriormente postas. Neste sentido, Moore e Kearsley(2007) recomendam que a criação de um curso para a EaD deve ser realizada por uma equipe, cuja natureza e número de pessoas envolvidas dependerá dos objetivos da instituição provedora. Assim, o processo se constitui em etapas pré-determinadas, onde o trabalho de cada profissional é interligado e dependente do outro. A partir deste contexto o trabalho docente se modifica, agrega novas funções e novos sujeitos, ao mesmo tempo em que novos recursos são adotados para estabelecer as relações que normalmente aconteciam somente na sala de aula. SeguntoBellonni (1999, online), na EaD ocorre “a transformação do professor de uma entidade individual em uma entidade coletiva.” Assim, o papel do professor se amplia e ao mesmo tempo se dilui: se amplia uma vez que o estudo acontece em tempos e espaços diversos e que não foram previamente definidos; e se dilui, uma vez que entram no cenário os profissionais de conteúdo, tutoria e produção do conteúdo para veiculação online e suporte aos alunos. No quadro 2 é apresentada uma possível configuração das atividades que se estabelecem na EaD a partir do papel originalmente exclusivo do docente. QUADRO 2 - Ampliação e diluição do papel do professor na EaD Educaçãopresencial Professor e pedagogo: responsável pela elaboração do conteúdo, criação de estratégias para sua apresentação em sala de aula e acompanhamento direto dos alunos. EaDOnline Conteudista: responsável pela escrita dos conteúdos que serão ofertados. Professor: possui domínio do conteúdo, realiza o acompanhamento dos alunos, é mediador dos fóruns e realiza a orientação dos tutores. Tutor: acompanha os alunos juntamente com o professor, o tutor esclarece algumas dúvidas em relação ao conteúdo e demais assuntos referentes ao curso/AVA. Equipe de produção do conteúdo online: responsáveis pela formatação do conteúdo escrito para a sua veiculação em um Ambiente Virtual de Aprendizagem. Geralmente envolve profissionais de design instrucional, designer gráfico, ilustração e programação. Fonte: Elaborado pela autora Ressalta-se que as funções referentes ao conteudista e ao professor em alguns casos são realizadas pelo mesmo profissional. Para um melhor entendimento foram apresentadas separadamente a fim de ilustrar todas as atividades envolvidas. A partir desta reconfiguração de papéis o design instrucional tem se consolidado como uma opção destinada à sistematização do processo de ensino e aprendizagem na EaDonline. 2.4 Design Instrucional Apesar de fortemente vinculado à ideia de educação online, o design instrucional pode ser percebido nas situações em que é feito uso de uma estratégia de ensino, podendo, assim, estar presente tanto nas modalidades presenciais como nas modalidades a distância ou semipresenciais (FILATRO, 2010). No contexto presencial são utilizados recursos físicos, como papel, quadro, projetor, impressões; no contexto da educação a distância, utiliza-se, em grande parte, os recursos tecnológicos, vídeos, hipertextos, animações gráficas e objetos de interação. No livro Trendsandissues in instructionaldesignandtechnology – Tendências e questões em design instrucional e tecnologia – Reiser e Dempsey (2012) trazem uma reflexão sobre o campo do design instrucional e das tecnologias, movendo o foco das habilidades em si para uma compreensão mais ampla da área, convidando para uma análise do histórico do design instrucional, as condições atuais, as questões envolvidas e as possibilidades futuras. Neste contexto, definem design instrucional como “um processo sistemático empregado para desenvolver programas de educação e formação de uma forma consistente e confiável”. O quadro3 apresenta alguns aspectos levantados por Filatro (2010) que referem-se ao design instrucional. QUADRO 3 – Características do design instrucional Definição Uso de estratégias de aprendizagem testadas para projetar atividades de aprendizagem que permitam a construção de habilidade e conhecimentos. Propósito Otimizar a construção de habilidades e conhecimentos conforme definida pelos objetivos de aprendizagem. Origens Psicologia, ciência da computação, engenharia, educação e negócios. Resultados desejados Estratégias de design Escopo do conhecimento Habilidades demonstráveis e conhecimento construído pelo aluno. Estratégias de demonstração orientadas empiricamente, prática orientada, prática não orientada e avaliação. Orientado pelo conjunto aprendizagem desejados. de habilidades e resultados de Sequenciamento Medidas de eficiência Medidas de efetividade Varia do controle total pelo sistema até o controle total pelo aluno, dependendo dos resultados de aprendizagem desejados. O tempo necessário para que o aluno domine o conteúdo. O aluno demonstra domínio sobre o conteúdo e transfere a aprendizagem para outras situações. Fonte: FILATRO, 2010 2.5 Design instrucional e EaDonline:uma relação para o aprendizado A relação do professor com os alunos em sala de aula possui uma proximidade que em certos momentos se torna um facilitador da aula. A apresentação dos conteúdos é pensada para um momento distinto, em que todos compartilham o mesmo espaço e o professor é o interlocutor que mantém um diálogo direto com os alunos, faz uso da sua voz, expressão corporal, memória e outros recursos que complementam e contribuem para a garantia do entendimento das informações. “É na sala de aula que o professor tem sua prática, seleciona conteúdos, passa posições políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores” (VASCONCELOS, 2005, p. 10). O aprendizado é favorecido em boa parte pela sua presença física em sala de aula, que é sensível à reação dos alunos e a qual eles podem recorrer em caso de alguma dúvida no percurso. Na educação a distância também há a presença do professor, que conta ainda com a ajuda dos tutores na tarefa de ensinar. No entanto, as mesmas características que facilitam e fazem desta uma modalidade mais flexível, criam certas barreiras que necessitam ser supridas com técnicas alternativas. Esta modalidade exige alguns cuidados específicos com o planejamento do ensino, que é determinado pelo distanciamento físico entre alunos, professores e instituição (VERGARA, 2007). O formato de apresentaçãodos conteúdos passa a necessitar de um artifício diferenciado, que não se esgote na mera entrega de informações, mas que isso aconteça de forma que o aluno seja capaz de compreendê-las, em sua maior parte, sem grandes interferências do professor e/ou tutor. Nesse sentido, o design instrucional tem participado da educação a distância online como um recurso mediador no processo de ensino e aprendizagem. Segundo Branch e Merrill (2012), há certas características que devem estar presentes em quaisquer ações relacionadas aodesign instrucional: 1. Design instrucional é centrado no aluno. 2. Design Instrucional é orientado para metas. 3. Design Instrucional é voltado para o desempenho significativo. 4. Design Instrucional possibilita que os resultados podem ser medidos de forma confiável e válida. 5. Design Instrucional é empírico, interativo e autocorretivo. 6. Design Instrucional normalmente é um esforço de equipe. Um modelo de design instrucional que tem sido bastante utilizado é o ADDIE, nome que representa o acrônimo das ações que envolvem a base do planejamento: análise (analysis), roteiro (design), desenvolvimento (development), implementação (implementation) e avaliação (evaluation). A ideia do ADDIE é se manter um ciclo dinâmico e flexível, onde são realizadas melhorias a partir do feedback constante dos participantes. Apesar de intimamente ligado ao conteúdo em si, o designer instrucional deve estar presente desde a ideia inicial do curso, levantando os aspectos iniciais que serão determinantes para a sua elaboração: Identificação do público-alvo Análise do perfil do público-alvo Definição dos objetivos Levantamento dos conhecimentos prévios e/ou pré-requisitos Levantamento das tecnologias disponíveis Análise dos conteúdos Filatro (2004) define este primeiro levantamento como análise contextual, que “consiste em examinar a dinamicidade entre os diferentes níveis contextuais a fim de identificar as necessidades ou os problemas de aprendizagem, caracterizar o público-alvo e levantar as restrições técnicas, administrativas e culturais” (FILATRO, 2008, p.36). A autora ressalta ainda umoutro ponto importante ao se pensar a EaDonline, que são os estilos de aprendizagem dos alunos. Nesse sentido, Markova (2000) afirma que a grande questão relacionada ao aprendizado, que se impõe hoje, dentro de uma sociedade em que as informações mudam em grande velocidade, não é mais o que aprender, mas sim, como aprender. A partir do momento em que o indivíduo se torna capaz de compreender como ocorre o seu próprio aprendizado, ele terá condições de absorver melhor as informações e conduzir o seu próprio processo de construção do conhecimento. Cada pessoa possui características neurológicas e experiências individuais que determinam a forma como interagem com as informações e constroem o conhecimento. A neurociência define a aprendizagem como um processo de mudança de comportamento obtido através da experiência construída por fatores emocionais, neurológicos, relacionais e ambientais. Aprender é o resultado da interação entre estruturas mentais e o meio ambiente. Sendo assim,o aprendizado pode ser potencializado através da geração de estímulos cerebrais (RELVAS, 2009). Ainda segundo Relvas (2009), o aprendizado pode ser impulsionado através da diversidade de estratégias, utilização de novas experiências, exploração dos sentidos e a inclusão de pequenos desafios às atividades. Tendo em vista tais questões, os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA)despontam como o novo espaço do saber e oferecem recursos tecnológicos diversificados. Os AVAsconstituem-se como softwares educativos que permitem o gerenciamento e controle de cursos virtuais. Tais ambientes possuem uma estrutura pedagogicamente pensada para que seja possível recriar, em certo nível, o contexto de uma sala de aula, fornecendo conteúdo, atividades, acesso a materiais de apoio, espaço para interação com o professor e entre os alunos e ainda acesso à informações administrativas. Reúnem ainda recursos midiáticos voltados para a veiculação de informações, que propiciam a construção do conhecimento pelo aluno e dialogam com tipos de mídias e objetos de aprendizagem variados. Com o propósito de relacionar alguns dos recursos disponíveis em um AVA, tomou-se como referência o Modular Object-OrientedDynamic Learning Environment (Moodle). Tal plataforma se consagrou como um software livre, colaborativo, de fácil manuseio e seguro, estando presente em mais de 200 países e com mais de 60 milhões de usuários cadastrados. No quadro 4 são apresentados alguns dos recursos disponíveis nesta plataforma: Quadro 4 – Recursos do Moodle Conteúdo instrucional: materiais e atividades • Páginas simples de texto • Páginas em HTML • Acesso a arquivos em qualquer formato (PDF, DOC, PPT, Flash, áudio, vídeo, etc.) ou a links externos (URLs). • Acesso a diretórios (pastas de arquivos no servidor) • Rótulos • Lições interativas • Livros eletrônicos • Wikis (textos colaborativos) • Glossários • Perguntas frequentes Ferramentas de interação: • Chat (bate-papo) • Fórum de discussão • Diários Fonte: http://www.ead.edumed.org.br/file.php/1/PlataformaMoodle.pdf Por meio dos dados apresentados percebe-se que o Moodle oferece opções diversificadas para o desenvolvimento de materiais voltados ao ensino e oferece também ferramentas que possibilitam a interação entre alunos e professores. O diálogo entre estas possibilidades tecnológicas e os objetivos do ensino, passa pelo design instrucional que possui potencial para funcionar como um elo entre estas duas pontas. Através da análise do conteúdo identificam-se os recursos adequados para a sua veiculação online e estabelecem-se as conexões que serão feitas entre as mídias disponíveis (FILATRO, 2010). Entendendo o aprendizado como resultante dos estímulos cerebrais e a diversidade de recursos como um fator impulsionador do aprendizado, as TDIC utilizadas para fins educativos podem ser consideradas como um recurso promissor na evolução da EaDonline. 3. Metodologia Para atingir o objetivo proposto neste estudo, realizou-se umaanálise bibliográfica dos conceitos vinculados à definição daEaDonline edo design instrucional a fim de verificar a relação que se estabelece entre ambos. Neste sentido, delineou-se o caminho trilhado pelas transformações tecnológicas que favoreceram o estabelecimento da EaDonline bem como o desenvolvimento das tecnologias que determinaram, ao longo dos anos, o ato de ensinar. A partir deste contexto realizou-se uma análise sobre a diluição da função do professor e dos novos sujeitos que surgiram através dele para se desenvolver um curso no formato EaD. Nesta nova configuração de funções destaca-se o designer instrucional, responsável pela sistematização do desenvolvimento do conteúdo que será apresentado em formato online. Tendo em vista que a diversificação de estratégias e a promoção da autonomia são dois aspectos inerentes ao aprendizado, analisou-se as possibilidades paraa EaD a partir da adoção de um design instrucional em consonância comas tecnologias da educação. 4. Resultados e análises A partir da análise das temáticas apresentadas no referencial teórico, identifica-se uma relação estreita e recíproca entre as TDIC e as pessoas que a utilizam. Esta relação trouxe uma nova concepção em relação à manipulação de informações, que passa a ser mais democrática por possibilitar que através do acesso a internet informações possam ser divulgadas e trocadas sem grandes limitações de tempo ou espaço.Nesta perspectiva, a EaDonline ganha evidência por possibilitar a incorporação das TDIC aos processos de ensino através da sistematização proposta pelodesign instrucional e dos recursos presentes no AVA. O uso das tecnologias como recurso educativo representa um considerável avanço no campo educacional, no entanto, reforça um aspecto importante da EaD, que é a distância física entre professor e aluno. Desta forma, faz-se necessário um comprometimento maior por parte do aluno, que precisa organizar seus próprios espaço e tempo para conseguir realizar suas tarefas. Da mesma forma, é grande o compromisso de quem está posicionado na outra ponta, a equipe docente, que está envolvida com a criação de estratégias para que, apesar de fisicamente sozinho, o aluno sinta-se respaldado e receba os recursos necessários para desenvolver plenamente a sua autonomia na construção do conhecimento. Assim, “o professor se torna um supervisor, um animador, um incentivador dos alunos na instigante aventura do conhecimento” (MORAN, 2009, online) Neste cenário o design instrucional contribui para um planejamento em consonância com o aluno, considerando as implicações do distanciamento entre os sujeitos. Assim, é realizada a identificação e análise do contexto de desenvolvimento do objeto de estudo, do perfil dos alunos e da disponibilidade de recursos tecnológicos que mediarão a relação professor-aluno, bem como a interação do aluno com o AVA. Os AVAs, geralmente, apresentam uma variedade considerável de possibilidades midiáticas. No caso do Moodle, utilizado como referência neste estudo, é possível utilizar textos, vídeos, podcasts, livros eletrônicos, inserir conteúdos através de links externos, mantendo a interação entre todos. E, como se trata de um software livre, a plataforma permite que sejam feitas alterações no seu formato de acordo com os objetivos e demandas de cada curso. A constância das inovações e da variação da relação do indivíduo com o conhecimento fazem da EaD um processo permanentemente em desenvolvimento. Desta forma o design instrucional, na busca de uma educação em consonância com as tecnologias e as necessidades do aluno, se volta para uma reflexão contínua sobre o planejamento, voltado para o aluno e a promoção do aprendizado. 5. Considerações finais O design instrucional na EaD virtual pode ser comparado às intervenções realizadas pelo professor em sala de aula com o intuito de garantir o aprendizado dos alunos. Através do planejamento sistematizado e análise do contexto em que será ofertado um curso EaDonline, torna-se possível criar estratégias que contribuirão com a construção do conhecimento pelo aluno. Tal planejamento estende-se também ao uso dos AVAs, que podem ser customizados e utilizados de acordo com cada demanda. Desta forma é possível haver certa disponibilidade e variedade de recursos a disposição do aluno para que ele possa interagir e buscar informações para além da aula. Compreendendo o aprendizado como a mudança de comportamento a partir de novas experiências, a variedade de recursos favorece-o na medida em que possibilita ao aluno chegar a um determinado ponto selecionando o caminho que seja mais adequado ao seu perfil. Deste modo, ele pode alcançar uma mesma informação lendo um texto, acessando um vídeo ou através de um fórum, com os demais alunos. Ao relacionar tais questões sobre o aprendizado com as possibilidades de mídias interativas presentes nos AVAs, é possível identificar oportunidades seguras de utilização dos recursos tecnológicos como potencializadores do aprendizado. Apesar de bastante popularizada, a educação a distância online ainda requer pesquisas e reflexões aprofundadas no que diz respeito às metodologias adotadas para a aprendizagem virtual, com destaque para o design instrucional. Foram identificados 29 trabalhos na plataforma Capes no período entre 2010 e 2014, sendo que apenas 3 destes abordam o design instrucional na área da educação. Outro fator observado, e que pode ser tomado para futuros trabalhos, refere-se à terminologia. Percebe-se em vários estudos e livros certa indefinição em relação ao termo design instrucional. Utilizados para definir o mesmo processo, foi possível identificar o uso de learningdesign, design de interação edesign de mídias referindo-se ao mesmo objeto. 6. Referências BELLONI, M. L. Educação à distância. Campinas: Autores Associados, 1999. CASTELLS, Manuel. (1999). A Era da Informação: economia, sociedade e cultura, vol. 3. São Paulo: Paz e terra. FILATRO, Andrea. Design instrucional contextualizado. 3a ed. São Paulo: Editora Senac, 2010. _________.Andrea. Design instrucional na prática. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2008. GOMES. Flávio. 2005. História do microcomputador: o surgimento do computador pessoal. 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