REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 Volume 12 - Número 2 - 2º Semestre 2012 Características físico-químicas de amostras de “queijo regional” produzidas em Macapá-AP, Brasil Flávio Henrique Ferreira Barbosa1, Larissa Paula Jardim de Lima2, Silvia Maria Mathes Faustino3 RESUMO Do ponto de vista de saúde pública, os alimentos disponíveis para o consumo humano devem ser de boa qualidade, dentro de padrões pré-estabelecidos, não só em valores nutritivos, como também, quanto às condições higiênicas adequadas, que propiciem segurança para a saúde do consumidor. O objetivo desse trabalho foi caracterizar físico-quimicamente o “queijo regional” produzido e comercializado no município de Macapá, Amapá. As cinco amostras de queijo recém-produzidas foram adquiridas diretamente dos Produtores Rurais que regularmente comercializam os produtos em feiras livres no município. As amostras foram levadas para análise no laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos da Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. De maneira geral, as amostras apresentaram resultados satisfatórios quanto aos aspectos analisados. Palavras-chave: Queijo regional, Composição físico-química. Physical-chemical characteristics of samples of “regional cheese” produced in Macapá-AP, Brazil ABSTRACT From the viewpoint of public health, the available food for human consumption must be of good quality within a pre-established standards, not only in the nutritional values as well, for the hygienic conditions suitable to provide safety to the health of consumer. The aim of this study was to characterize the physico-chemically "regional cheese" produced and sold in the city of Macapá, Amapá. The five samples of cheese were produced newly acquired directly from Farmers who regularly sell products at fairs in the city. Samples were taken for analysis in the laboratory of Food Science and Food Microbiology, Federal University of Amapá - UNIFAP. In general, the samples showed satisfactory results of the analyzed aspects. Keywords: Cheese regional, Physico-chemical composition. INTRODUÇÃO O “queijo regional” apresenta grande importância histórica, social, econômica e cultural para pequenos produtores rurais do Norte do Brasil. Geralmente, produzido artesanalmente por famílias na zona rural ou de forma industrializada por alguns laticínios, este alimento é amplamente consumido nesta região, e também no restante do país mais conhecido como queijo de coalho. Tecnicamente, o queijo de coalho pode ser definido como o produto obtido por coagulação enzimática, cuja coalhada pode ou não sofrer aquecimento, sendo prensado manualmente ou em pequenas prensas e salgado a seco, diretamente na massa ou na 88 superfície (Mangueira et al., 2001). O queijo de coalho produzido em estabelecimentos artesanais de Macapá pode ser definido em dois tipos: Tipo A, quando elaborado com leite integral ou desnatado pasteurizado, massa crua prensada, suficientemente dessorada, salgada e maturada; Tipo B, quando fabricado com leite cru integral ou desnatado, não pasteurizado, massa crua, prensada ou não, suficientemente dessorada, salgada e maturada. Os requisitos físico-químicos do queijo de coalho correspondem às características de composição e qualidade dos queijos de média a alta umidade, conforme estabelecido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), no Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade de Queijos (Portaria 146/96 - MAPA – Brasil, 1996) e com teor de gordura nos sólidos totais (GST) entre 35% e 60%. O presente estudo teve como objetivo avaliar os parâmetros de qualidade físicoquímica das amostras de “queijo regional” pesquisadas segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento – MAPA - (Brasil, 2001), MATERIAL E MÉTODOS Foram coletadas cinco amostras de “queijo regional” produzidos no estado do Amapá, sendo todas elas artesanais, feitas a partir de leite cru e a partir de leite pasteurizado. As cinco amostras de queijo recém-produzidas foram adquiridas diretamente dos Produtores Rurais que regularmente comercializam os produtos em feiras livres no município. As amostras foram levadas para análise no laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos da Universidade Federal do Amapá UNIFAP. As amostras de queijo foram submetidas às análises físico-químicas de determinação do extrato seco total (EST) e umidade - método gravimétrico, determinação de lipídeos de acordo com butirômetro para queijos e determinação da acidez titulável (Brasil, 2003). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os resultados obtidos na determinação de características e composição físico-químicas dos queijos de coalho “regionais” estão apresentados na Tabela 1. É interessante observar que os percentuais de gordura foram observados em valores considerados altos para as todas as amostras de queijo de artesanal, feito com leite cru integral, se estes forem comparados com queijos de coalho industriais, em que é verificada a padronização do teor de gordura do leite. As variações do teor de gordura também influenciaram os outros parâmetros físico-químicos avaliados (EST, umidade e gordura no EST), pois estes índices dependem do teor de gordura dos queijos. Quanto ao teor de umidade, de acordo com os padrões oficiais de inspeção (Brasil, 1996), a maioria das amostras de queijo de coalho puderam ser classificadas como sendo de alta umidade, o que seria o exigido pela legislação oficial de queijo de coalho (Brasil, 2001), excetuando-se apenas a amostra 04, que foi classificada como queijo de muito alta umidade. As variações do teor de umidade e de EST dos queijos podem ser explicadas por prováveis diferenças quanto às tecnologias de produção. A falta de padronização destas características também foi relatada por Sena et al. (2000), Araújo et al. (2002) e Guedes Neto et al., (2008). Quanto ao percentual de gordura no EST, as amostras de queijo de coalho foram classificadas como sendo semi-gordo a gordo, o que estaria de acordo com os critérios estabelecidos pelos Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Queijo de Coalho (Brasil, 2001). Tabela 1. Resultados de análises físico-químicas de seis amostras de queijo de coalho, produzido no Estado de Pernambuco. Amostra Gordura Gordura no EST EST Umidade Acidez titulável (%) (%) (%) (%) (º D) 01 14,48 36,27 45,34 50,14 86,5 02 20,82 44,12 48,54 46,12 84,3 03 19,0 52,10 49,56 51,61 60,0 04 21,0 39,26 40,29 58,76 82,4 89 05 27,0 55,41 Pode-se perceber também que existe grande variação dos valores de acidez titulável dos queijos de coalho regionais pesquisados (61,2 a 86,5 ºD). Este fato pode estar relacionado a microbiota específica de cada amostra, que apresentaria diferentes níveis de fermentação da lactose. Somado a isto, outros fatores tornam-se também relevantes, como as diferenças tecnológicas de fabricação, variações das embalagens (a vácuo ou não), tempo e temperatura de estocagem dos queijos, tipo de comercialização e manutenção da cadeia do frio. CONCLUSÃO Existe grande variação dos resultados de parâmetros físico-químicos (principalmente acidez titulável) entre as amostras de queijo de coalho analisadas, sendo que as mesmas classificam-se como semi-gordas a gordas e de alta ou muito alta umidade. 49,10 55,00 61,2 14/04/2003. Métodos Analíticos Oficiais FísicoQuímicos para Controle de Leite e Produtos Lácteos. Brasília: Ministério da Agricultura, 2003. GUEDES NETO, L.G. Isolamento, identificação e avaliação de características probióticas de bactérias ácido-láticas isoladas de amostras de queijo de coalho produzidas em Pernambuco Brasil. (Tese de Doutorado em Ciência Animal) - Universidade Federal de Minas Gerais, 2008. MANGUEIRA, T.F.B. et al. Aceitação sensorial de queijo de coalho com baixo teor de gordura (light) e enriquecido com ferro. Revista do Instituto de Laticínios Cândido Tostes, v. 56, n. 321, p. 109–116, 2001. SENA, M.J. et al. Características físicoquímicas de queijo de coalho comercializado em Recife, PE. Higiene Alimentar, v. 14, n. 74, p. 41-44, 2000. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ______________________________________ ARAÚJO, R.S.; NASSU, R.T.; ARAÚJO, S.R. Caracterização físico-química de queijo de manteiga, queijo de coalho e manteiga da terra produzidos nos estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Higiene Alimentar, v. 16, n. 97, p. 7075, 2002. [1] – Professor Adjunto, Colegiado de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos. BRASIL Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Portaria nº 146, de 07/03/96. Regulamento Técnico Geral para Fixação de Requisitos Microbiológicos de Queijos. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 1996. [2] – Bióloga, Real Biológica Ltda. Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos – Universidade Federal do Amapá - UNIFAP. [3] - Professora Adjunta, Colegiado de Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Amapá – UNIFAP. Laboratório de Bromatologia e Microbiologia de Alimentos. BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº 30, de 26/07/2001. Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Manteiga da Terra ou Manteiga de Garrafa; Queijo de Coalho e Queijo de Manteiga. Brasília: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2001. BRASIL. Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa nº. 22, de 89 90