Teoria da Regulação Econômica Agradecimentos a Ana Carolina Hohmann pela cessão de alguns slides Sumário Teorias antecessoras TER (texto Stigler) Críticas à TER Para que serve a regulação? Teoria positiva / normativa / interesse público Finalidade da regulação é corrigir falhas de mercado (monopólio natural, assimetria de informação, externalidades, bens públicos), diminuindo as ineficiências Visão positiva da regulação Subestima o custo da regulação (considera que a regulação praticamente não tem custos) Desconsidera que há uma série de mercados sem falhas estruturais graves que acabam sendo regulados Como explicar a existência de regulação em mercados que não apresentam graves falhas de mercado? Porém... ...a regulação acaba sendo favorável aos regulados Só deveria haver regulação em mercados fortemente concentrados ou com graves falhas, mas não é o que ocorre na prática Não considera os custos da regulação Os regulados acabam conseguindo fazer passar regulação que lhes é favorável – “institucionalização do cartel” ou do monopólio => Teoria da captura Obs. Não esquecer que a captura também pode ser governamental! Quais interesses movem a aprovação da regulação? De acordo com a teoria da captura, os interesses iniciais são legítimos, mas a sua aplicação acaba capturada (a distorção se dá a posteriori) Qual a novidade do texto de Stigler? Teoria da regulação econômica George Stigler Stigler Estado: Fonte de recursos => pode Beneficiar/Prejudicar indústrias Poder de coerção Teoria da Regulação Econômica - objetivos: justificar quem receberá benefícios da regulação quem arcará com os ônus da regulação formas de regulação efeitos da regulação sobre a alocação de recursos Stigler Regulação: buscada, perseguida pela indústria OU imposta à indústria? Segundo Stigler, a regulação é adquirida pela indústria, concebida e operada em seu benefício Que benefícios o Estado pode proporcionar a uma indústria? “O Estado pode determinar a movimentação física de recursos e as decisões econômicas tanto de domicílios como de empresas, sem o consentimento destas ou daqueles. Esses poderes criam as possibilidades de uma indústria utilizar o Estado para aumentar sua lucratividade” Stigler Políticas Regulatórias que uma indústria pode obter do Estado: 1. Subsídios - inconveniente: se a lista de beneficiários é ampla, o benefício se dissipará entre os rivais) 2. Controle sobre a entrada de novos concorrentes no mercado - Tarifas protetivas, políticas de preço - Benefícios são dissipados pela entrada de novos produtores domésticos 3. Políticas que afetam produtos substitutos/complementares. Dificultar a entrada ou estabilização de produtos similares ou equivalentes no mercado 4. Fixação/controle de preços - Realizado por agência reguladora dotada de poderes de coerção => Possibilita melhores taxas de retorno Stigler Limitações sobre benefícios políticos Influência de um agente econômico pode não guardar relação direta com a parcela total de produção (a dinâmica política inclui outros fatores, como proteção à pequena indústria, p.ex.) Obter regulação custa, e pode ser caro (burocracia estatal) Processo político pode ter que levar em conta interesses sociais “não eficientes” => Agentes precisam levar isso em consideração antes de decidirem “requerer” regulação Stigler Processo decisório político ≠ Processo decisório econômico Decisão política: Simultânea representantes com grandes poderes decisão coercitiva Universal (abrange, inclusive, os desinteressados – não admite a participação de cada um na proporção de seu interesse e conhecimento – cidadãos e representantes votam igual independentemente do seu interesse no tema /da quantidade de vezes que usam o serviço a ser regulado) Partidos Políticos: representantes responsáveis por identificar e realizar desejos de seus eleitores manutenção no Poder – organizar Stigler “Se votar contra uma política econômica que prejudicaria a sociedade pudesse garantir a reeleição, com certeza o representante votaria sempre nesse sentido. Infelizmente, à virtude nem sempre é atribuído um preço muito alto. Se o representante nega subsídios em dinheiro ou poder governamental a dez grandes indústrias, elas dedicar-se-ão à eleição de um sucessor mais complacente: os interesses são o que importa” “Isso não significa que toda grande indústria pode obter o que quiser ou tudo o que quiser: significa que o representante e seu partido devem buscar uma coalizão de interesses mais duráveis dos eleitores do que uma postura antiindústria em relação a toda proposta da indústria” Stigler Indústria procura Poder Político para obter regulação de seu interesse através dos Partidos Políticos Partido Político atende à indústria com a pretensão de se manter no Poder Indústria deverá arcar com aquilo que o Partido Político necessita Votos + Recursos financeiros = Regulação” “Custos de Stigler Custos de regulação são proporcionais ao tamanho da indústria que os solicita (as maiores indústrias buscam programas que custam mais à sociedade, consequentemente geram maior rejeição por uma parcela da comunidade. Contudo, o custo de regulação aumenta menos rapidamente do que o tamanho da indústria indústrias pequenas estão impedidas de participar desse mercado regulatório) Quanto mais concentrada a indústria, mais recursos ela pode investir na demanda por regulação Grupos que se organizam melhor obtêm mais regulação Stigler Licenciamento profissional Uso do processo político para melhorar as condições de um determinado grupo Fatores que influenciam a obtenção de poder político por uma categoria profissional: Tamanho da profissão Renda per capita da profissão Concentração da profissão nos grandes centros oposição coesa ao licenciamento Stigler - Conclusão A demanda por regulação e sua obtenção funcionam de modo muito similar a um mercado qualquer, em função da lógica política em que os representantes partidários, para se manterem no poder, “vendem”serviços regulatórios, sendo “remunerados”por meio de apoio político. O Estado, no exercício da atividade regulatória, funciona como suporte aos grupos industriais bem organizados e financeiramente privilegiados. Algumas ponderações/ críticas à TER Críticas e ponderações: Posner A própria tese da captura merece ser repensada: Não há evidências empíricas de que o regulador tenha menos incentivo a trabalhar honestamente do que qualquer empregado privado – pode querer promoção, gozar de boa reputação com colegas etc. Diretor da agência presta contas ao Legislativo e ao Executivo – e as agências reguladoras precisam brigar por orçamento no Congresso (“mercado” por recursos públicos) Mas... crescente delegação de trabalho do Congresso às agências e inexistência de uma efetiva supervisão – prioridades e custos de transação na passagem de legislação É mais razoável considerar a regulação como um processo de negociação entre agência reguladora e agentes econômicos do que um mera conquista Críticas e ponderações Pela visão da TER, os agentes regulados funcionariam como um cartel na busca por regulação => as dificuldades relacionadas à implementação de cartéis se aplicam: Obtenção de consenso: quanto menor o número de agentes, mais fácil (custos de transação) Pode também haver free rider => um agente pode não ter incentivo para contribuir para a regulação favorável, já que, uma vez implantada, beneficiará a todos Depende de haver ou não incentivo para que os demais deixem de cooperar na busca por regulação Críticas e ponderações Porém... Verifica-se mais regulação em mercados não propensos à cartelização (profissões liberais, agricultura) => onde não é possível a cartelização privada, busca-se a regulação (pq. não é viável o acordo privado) Se houver muita assimetria de informação entre os agentes, todos buscarão participar da regulação => evitar ser menos beneficiado do que os demais Pode ser mais barato buscar regulação pública do que cartelização privada Mas a teoria não diz a partir de quantos membros a regulação será preferível à cartelização; portanto, não esclarece quais são os mercado propensos à regulação Críticas e ponderações A TER é consistente com qualquer teoria de grupos de interesse. Não comprova por que um grupo e não outro (por exemplo, os consumidores organizados) é beneficiado pela regulação, i.e., quais as características e circunstâncias que tornam um grupo propenso a receber regulação (e outros não) Existe razoável quantidade de regulação destinada a associações de pequenas empresas, aos trabalhadores (especialmente os sindicalizados) e aos consumidores A pesquisa empírica que a suportaria não é sistemática => o estudioso seleciona casos que, em uma primeira visão, sustentam a teoria, e a partir daí os estuda. A escolha dos mercados a serem analisados à luz da legislação econômica não é aleatória Críticas e ponderações Consumidores e outros grupos também podem oferecer votos e dinheiro aos políticos (e poder haver diferentes grupos de consumidores) A TER exclui a possibilidade de que a sociedade, preocupada com a habilidade dos grupos de interesse em manipular o processo político, estabeleça instituições de tutela do interesse público para influenciar a adoção de políticas públicas (ex. Judiciário independente) A TER também não explica como se comporta o regulador que regula mercados concorrentes (p.ex., a ICC regulava transporte rodoviário e ferroviário) Críticas e ponderações A TER desconsidera que, por vezes, pode haver interesse público nas políticas regulatórias (no caso das quotas de importação de petróleo, p.ex., a diminuição da dependência americana com relação aos árabes) Efeitos da regulação econômica são difíceis de rastrear (ex. um imposto sobre gasolina pode ajudar o setor de transporte ferroviário) => é difícil muitas vezes identificar quais mercados se beneficiam e quais se prejudicam com a regulação Críticas e ponderações: Peltzman TER não considera problemas derivados da estabilidade e da existência de equilíbrios na modelação política Políticos maximizadores das suas utilidades alocam benefícios entre grupos de maneira ótima => como os consumidores também podem oferecer dinheiro e voto, a estratégia dominante dificilmente será de prestigiar apenas o poder econômico Exemplos: competição na telefonia de longa distância A síntese de Peltzman Grupos compactos e bem organizados tendem a se beneficiar mais da regulação (por isso a regulação pende favoravelmente aos produtores, mas será sensível aos consumidores, de modo a formar uma coalizão dominante) Política regulatória buscará preservar uma distribuição politicamente ótima de recursos (inclusive com subsídios cruzados) O processo regulatório é sensível a perdas de bem-estar Bibliografia BECKER, Gary. A theory of competition among pressure groups for political influence. The Quarterly Journal of Economics, v. 98, n. 3, ago 1983, pp. 371-400. JORDAN, William. Producer Protection, Prior Market Structure and the Effects of Government Regulation. Journal of Law and Economics, Vol. 15, No. 1 (Apr., 1972), pp. 151-176. PELTZMAN, S. A teria econômica da regulação depois de uma década de desregulação. In: MATTOS, Paulo (coord.). Regulação econômica e democracia: o debate norte-americano. São Paulo: 34, 2004. Bibliografia POSNER, Richard. Teorias da regulação econômica. In: MATTOS, Paulo (coord.). Regulação econômica e democracia: o debate norte-americano. São Paulo: 34, 2004. SALOMÃO FILHO, Calixto. Regulação da atividade econômica (princípios e fundamentos jurídicos). 2ª ed. São Paulo: Malheiros, 2008. STIGLER, George. Theory of economic regulation. Bell Journal of Economics and Management Science, v. 1, primavera de 1971, pp. 321.