Pró-Reitoria de Graduação Serviço Social Trabalho de Conclusão de Curso Considerações sobre a interdisciplinaridade na Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS Autora: Nilda de Souza Lopes França Orientadora: Prof.ª MSc. Maria Valéria Duarte de Souza Brasília – DF 2013 1 NILDA DE SOUZA LOPES FRANÇA Considerações sobre a interdisciplinaridade na Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS Artigo apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília-UCB como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Serviço Social. Orientadora: Profª.Msc.MariaValéria Duarte de Souza Brasília 2013 2 Artigo de autoria de Nilda de Souza Lopes França, intitulado, “Considerações sobre a interdisciplinaridade na Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde SUS” apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social da Universidade Católica de Brasília – UCB, em 27/05/2013, defendido e aprovado pela banca examinadora abaixo assinada: _____________________________________________________ Profª. Msc. Maria Valéria Duarte de Souza Orientadora Curso Serviço Social – UCB _____________________________________________________ Prof.ª. Espc. . Erci Ribeiro Curso Serviço Social – UCB _____________________________________________________ Prof.ª. Msc. Késia Miriam Santos de Araújo Curso de Serviço Social - UCB Brasília, 2013. 3 AGRADECIMENTO Agradeço, primeiramente, a Deus, por ter permitido a vitória na minha vida, com a realização deste sonho, a conclusão do meu curso universitário, Serviço Social. A minha mãe, Railda Miranda de Souza Ribeiro (in memoriam) e ao meu pai, João Ribeiro Lopes, aos meus irmãos, em especial à minha cunhada, Maria José, e à minha sogra Maria das Graças, pela ajuda no cuidado com os meus filhos na minha ausência. Ao meu esposo, André França dos Santos Lopes, pelo companheirismo, dedicação, ajuda e compreensão e pelo apoio nesta jornada acadêmica. Aos meus vizinhos da Ceilândia, que me encorajaram nesta caminhada acadêmica. Aos meus queridos (as) filhos (as) Drielly, Francielly, Rafael e Miguel, pela ajuda e pela compreensão que tiveram durante estes quatro anos de estudos e ausência na vida deles. Aos meus amigos e minhas amigas, que acreditaram em mim e me deram força nesta caminhada. À minha professora e orientadora, Maria Valéria, pela dedicação, paciência e generosidade que teve comigo neste período de formulação do trabalho. A todos os professores que, durante a minha caminhada pela universidade, contribuíram para minha formação, em especial quero agradecer à professora Késia e à professora Erci por aceitarem compor a banca de apresentação do artigo. 4 “Foi assim que se construiu a ciência: não pela prudência dos que marcham, mas pela ousadia dos que sonham. Todo o conhecimento nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido em busca da terra sonhada.” (Rubem Alves) 5 RESUMO- O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo analisar a presença de relações interdisciplinares na Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde SUS. A interdisciplinaridade entre as equipes de saúde do SUS está diretamente relacionada com a atuação dos profissionais que compõem a equipe no âmbito institucional. Faz-se necessário observar a prática interdisciplinar na equipe, uma vez que o profissional não abarca todos os conhecimentos e, para tanto, as formas de articulação entre os saberes e práticas são realizadas no âmbito de toda a equipe. A análise deu-se a partir da revisão bibliográfica, tendo como principais referências teóricas os trabalhos de Bravo (2011); Vasconcellos (2004); Martinelli (1995); Costa Neto (2000); e a Constituição Federal, dentre outros documentos como, Projeto de Implantação do Programa de Internação Domiciliar no Distrito Federal, Portaria nº 2527/11 e Portaria nº 1600/1. O trabalho conclui que na equipe de atenção domiciliar do NRAD-Ceilândia, a interdisciplinaridade é uma busca constante, mesmo diante dos desafios para sua efetivação. Palavras chaves: Interdisciplinaridade. Saúde. Assistência domiciliar. SUS. 1. INTRODUÇÃO A política pública de saúde no Brasil é fruto de intensas batalhas. Surgiu dentro de um contexto histórico, no qual se travaram lutas acirradas para garantir e defender os direitos sociais, dentre eles, o direito à saúde. Desde a Criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões – CAPs, em troca de um desconto compulsório em seus salários, os trabalhadores de determinadas empresas poderiam ter acesso à assistência médica, passando pelo modelo implantado pelos Institutos de Aposentadoria e Pensões – IAPs e chegando ao modelo centralizado do Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, instituído pelo regime militar instaurado no Brasil em 1964, o que vigorou foi a concepção contributiva de acesso a serviços médicos, com foco na assistência de caráter curativo e hospitalocêntrica. Com o advento do Movimento Sanitário, originado e fortalecido no bojo das lutas pela redemocratização do país, ao final da década de 70, novos paradigmas passam a compor a pauta de reivindicações da luta pelo direito à saúde, a começar pela expansão da concepção de saúde para além da assistência médica. O Movimento Sanitário, vitorioso na medida em que suas principais propostas são incorporadas na Carta Constitucional aprovada em 1988, consagra a máxima da saúde como “direito de todos e dever do Estado” (CF: artigo 196). O Estado deve prover as condições para a garantia de saúde de toda a população, condições essas que resultam das condições de vida das pessoas, envolvendo o modo como trabalham, moram, alimentam-se, e possui acesso á educação, ao lazer etc. Nessa perspectiva, a construção de uma política de saúde vem colocar a necessidade de novos conhecimentos e novas abordagens para a compreensão do processo saúde-doença, passando também a demandar dos conhecimentos já tradicionalmente identificados como “da saúde”, novas perspectivas, principalmente no que tange à configuração das equipes de saúde. Assim, é no contexto do surgimento de novos paradigmas em saúde que se coloca a questão da interdisciplinaridade como forma compartilhada de produzir saberes e de colocalos em movimento para que, de fato, a atuação dos profissionais da área possa garantir à população usuária o direito à saúde. 6 O presente artigo se propõe a abordar, de forma introdutória, alguns aspectos relativos às relações interdisciplinares nas equipes de saúde voltadas para a atenção domiciliar no âmbito dos Núcleos Regionais de Assistência Domiciliar – NRADs. O incentivo para o desenvolvimento deste tema surgiu durante a experiência de Estágio Supervisionado em Serviço Social realizado no período 19 de março de 2012 a 14 de junho de 2012 (Estágio I) e 31 de agosto de 2012 a 29 de novembro de 2012 (Estágio II), no qual a questão do atendimento realizado junto aos usuários/pacientes do Núcleo Regional de Atenção Domiciliar NRAD, do Hospital Regional de Ceilândia/HRC, cidade do Distrito Federal, pela equipe de saúde me chamou atenção. O Estágio curricular possibilitou a inserção na dinâmica de atendimento do NRAD/HRC, dinâmica esta composta pela participação em reuniões com toda a equipe de saúde, visitas domiciliares, participação em estudos de casos, conferências familiares, ou seja, procedimentos caracterizados por várias formas de interação entre a equipe de saúde. De tal experiência, surgiu a necessidade de pesquisar e analisar como acontece a relação entre os diversos campos de conhecimento que norteiam a equipe de saúde. A equipe de saúde do NRAD/HRC é composta por assistente social, enfermeiros, médicos, fisioterapeuta, motorista, nutricionista, técnico em enfermagem, técnico administrativo e terapeuta ocupacional. Nesse contexto, a atuação do Serviço Social inscrevese no trabalho em equipe e está correlacionado com os demais profissionais. Faz-se necessária essa interação, na perspectiva de um bom desempenho entre os profissionais que compõem a equipe, que, juntos, trabalharão para uma melhor qualidade de vida dos pacientes/usuário atendido pelo NRAD/HRC. A multiplicidade de saberes envolvido, bem como a relação entre eles estabelecida na execução das ações ressaltou a importância de uma abordagem interdisciplinar. No campo da saúde, é importante trabalhar essa articulação de saberes e práticas, onde toda a equipe atua em prol de um objetivo comum: garantir o direito à saúde aos cidadãos e cidadãs que necessitam de atendimento domiciliar. No âmbito da equipe de saúde, pode-se considerar relevante o estudo das relações entre seus componentes, inclusive por ser essa uma das condições para a garantia do direito à saúde, conforme consta no artigo 196 da Constituição Federal – “saúde é um direito de todos e um dever do Estado” seja efetivado. Por impactar sobre os múltiplos fatores que interferem no processo saúde-doença, é importante que a assistência domiciliar esteja pautada em uma equipe multiprofissional, porém com prática interdisciplinar, que pode ser abordada sob vários aspectos e vários pontos de vista. O pensar interdisciplinar parte do principio de que nenhuma forma de conhecimento é em si mesma absoluta. Busca, pois, o diálogo com outros conhecimentos, a articulação entre saberes e não apenas a sua sobreposição, característica de abordagens multidisciplinares. A interdisciplinaridade deve ser pensada enquanto processo de integração reciproca entre várias disciplinas e campos de conhecimento “[...] capaz de recuperar as estruturas de cada uma delas para alcançar uma visão unitária e comum do saber, trabalhando em parceria”, é sem dúvida uma tarefa que demanda de nossa parte, um grande esforço no rompimento de uma série de obstáculos ligados a uma racionalidade extremamente positivista da sociedade industrializada (FAZENDA, 1999, p. 17). De igual modo, considerando os diferentes espaços onde a interdisciplinaridade esteja presente, há múltiplos desenvolvimentos das questões relacionadas ao tema abordado. A articulação entre os saberes profissionais da equipe de saúde do Sistema Único de Saúde possibilita novas perspectivas de melhoria na qualidade de vida dos usuários/pacientes, desde que tal articulação perceba-os como sujeitos de direitos e protagonistas de sua própria 7 vida. Assim, a forma ou as formas como acontecem às trocas e compartilhamento de saberes é o que demonstrará se a equipe de saúde atua em uma perspectiva interdisciplinar ou acontece a partir de uma mera “sobreposição” de conhecimentos. 2. METODOLOGIA Metodologicamente o trabalho foi realizado por meio da obtenção de informações, como fontes referenciais bibliográficas de vários autores, Constituição Federal da República de 1988 e Portarias, dentre outros documentos relevantes para o desenvolvimento do tema. A metodologia, na perspectiva adotada para a realização do presente artigo, consiste no caminho percorrido para elaboração de uma pesquisa, a qual visa analisar, refletir e esclarecer questionamentos referentes à problemática de determinada temática. No caso do presente artigo, falará sobre a relação de interdisciplinaridade na Atenção Domiciliar no Âmbito do Sistema Único de Saúde no Distrito Federal. Para tanto, utilizou-se exclusivamente a pesquisa teórica, com base em referenciais bibliográficos acerca da temática estudada, com destaque para as produções de Bravo (2011), Vasconcellos (2004), Martinelli (1995) e Severino (1995), entre outros. Segundo Gil (1999), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida por meio de material já elaborado, sendo, portanto, utilizados livros, artigos científicos e materiais disponíveis na internet. Neste trabalho, a pesquisa realizada foi de natureza qualitativa, com revisão bibliográfica. Segundo Minayo (2008 p.21), a pesquisa qualitativa: Responde as questões particulares. Ela se ocupa com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes. O que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis. Quanto à pesquisa teórica, Demo (1994) considera que este tipo de pesquisa é dirigido no sentido de reconstruir teorias, quadros de referências, condições explicativas da realidade, polêmicas e discussões pertinentes. A pesquisa teórica não implica na imediata intervenção da realidade, mas nem por isso deixa de ser importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a intervenção. Para o autor, “[...] o conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada, desempenho lógico, argumentação diversificada e capacidade explicativa” (DEMO, 1994, p. 36), O trabalho resultou neste artigo que, além desta introdução e da conclusão, compõe-se de quatro partes: a primeira realiza uma discussão teórica sobre a saúde no Brasil; a segunda aborda a interdisciplinaridade: história e conceito, a terceira e quarta parte tematizam respectivamente a metodologia para a realização deste trabalho e a discussão e análise das questões pertinentes ao tema. 8 3. SAÚDE NO BRASIL A compreensão da assistência domiciliar no Brasil passa necessariamente pela compreensão da saúde como direito. De fato, a assistência domiciliar vincula-se ao longo caminho trilhado pelo processo de constituição do direito à saúde. Para isso é importante que faça um resgaste de toda a história de luta do povo brasileiro pelo direito à saúde. O direito à saúde no Brasil foi fruto de intensas batalhas. Isso porque a noção de saúde como direito é algo relativamente recente na história brasileira. Durante o período do Brasil colônia, as práticas de atendimento a doentes ficavam a cargo de curandeiros, e em casos extremos, das ordens religiosas, que aqui já se haviam estabelecido (GURGEL, 2010). No império, a situação pouco se modificou, embora já houvesse a presença de médicos, filhos das elites oriundos das universidades europeias, ou da Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira do país. Nesse contexto, torna-se prática comum entre as elites recorrer à prática médica liberal, com o atendimento do chamado médica da família, realizado em âmbito domiciliar. Isso, porém, não pode ser considerado como “assistência domiciliar” uma vez que não havia qualquer ingerência do Estado; ou seja, não se tratava de uma prática organizada, voltada para o atendimento da população em geral. Esta, em sua maioria, sem dispor de recursos financeiros, continuava a recorrer, em caso de doença, aos curandeiros e benzedeiras. O advento da República, proclamada em 1889, representou pouca ou nenhuma alteração no quadro da atenção à saúde aos brasileiros. No início do século XX, verifica-se a primeira iniciativa do Estado republicano no campo da saúde, quando das grandes epidemias de febre amarela e cólera que dizimavam as populações das cidades, principalmente do Rio de Janeiro, então capital da República. As preocupações do Governo Federal limitavam-se ao campo das campanhas sanitárias para a erradicação das grandes epidemias. A assistência à saúde dos indivíduos continuava inalterada: os que podiam pagar recorriam à prática médica liberal; ao restante, restava o abandono e a desproteção. A questão da assistência à saúde ganha força no cenário político quando do avanço do movimento sindical. O acesso à assistência médica para o trabalhador e seus familiares passa a fazer parte da pauta de reivindicações e, a partir da segunda década do século XX ganha mais força. Note-se que as reivindicações concentram-se no acesso à assistência médica; ainda não há nos discursos dos trabalhadores a noção de direito à saúde. O acirramento das lutas dos trabalhadores faz com que as elites busquem formas de incorporar algumas das reivindicações, inclusive às relativas à assistência médica. Em 1923, o então deputado Elói Chaves vê transformado um projeto de lei de sua autoria que propõe a criação das Caixas de Aposentadorias e Pensões CAPs. Tratava-se, de fato, de um modelo que se constituiu nos primórdios do sistema previdenciário brasileiro, onde, por meio de uma contribuição compulsória, o trabalhador teria direito a uma aposentadoria e enquanto estivesse contribuindo, teria acesso a assistência médica. A contribuição era vinculada à empresa a qual estivesse ligado o trabalhador. Em 1930, em meio a grandes agitações políticas, Getúlio Vargas toma o poder e passa a governar o país com o apoio da burguesia industrial que, embora já tivesse um considerável patrimônio financeiro, ainda não tinha o controle do Estado que, até 1930 funcionou como espaço de garantia dos interesses dos cafeicultores. O advento da chamada “Era Vargas” mudará radicalmente o cenário político e institucional brasileiro. Uma das alterações mais significativas é a criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões, os IAPs, que substituem as CAPs. Os IAPs, enquanto sistema 9 previdenciário mantém a natureza contributiva das CAPs, mas, passam a atuar por categoria de trabalhadores e não mais por empresa, como no tempo das CAPs. A exemplo destas, os IAPs, além das aposentadorias e pensões oferecem também aos seus filiados e a seus familiares serviços de assistência médica. O modelo dos IAPs, inaugurado em 1933 com a criação dos Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Marítimos, IAPM, duraria até o ano de 1966, já durante a vigência do regime militar instaurado por um golpe de Estado em 1964. O caráter centralizador do governo militar unificou, em um único órgão, o Instituto Nacional da Previdência Social – INPS, toda a estrutura dos IAPs. O INPS, em termos de estrutura previdenciária, manterá a mesma natureza contributiva dos IAPs, bem como a oferta de assistência médica aos seus segurados. Note-se, porém, que, em termos de melhorias nas condições de saúde da população, os avanços foram muito poucos. O restrito acesso à assistência médica era privativo aos trabalhadores do mercado formal urbano (somente muito depois, já na década de 1970 os trabalhadores rurais foram incluídos no sistema previdenciário). Os demais trabalhadores continuavam sem acesso á assistência médica. Quando às demais ações de saúde, tais como controle de endemias, combate a epidemias, etc. continuavam a cargo do Ministério da Saúde, que, com orçamento reduzido, tinham pouco alcance. Segundo Bravo (2011), durante o regime militar, a classe hegemônica tecnoburocrática tinha no cerne da questão a perspectiva de que as deficiências na saúde se caracterizavam pela ausência de um plano eficiente, falta de gerenciamento por parte dos gestores e quase nenhuma participação da iniciativa privada. Segundo a autora, é a partir de tais concepções que a área de saúde passou a assumir uma diferenciação orientada por valores, tais como a lucratividade e o controle da força de trabalho, necessitando assim, assumir as características capitalistas (BRAVO, 2011, p. 62). A Previdência Social, por sua vez, naquele momento histórico, emerge como espaço privilegiado para atender aos interesses privados vinculados ao chamado “complexo médico industrial privatista”. O Estado autoritário servirá como instância de controle e repressão com a tarefa de manter os trabalhadores fora do jogo politico, também no que tange às reivindicações pela melhoria da atenção à saúde. O cerne do modelo adotado pela ditadura no tocante a assistência médica aos trabalhadores vinculados ao INPS era a compra de serviços na rede privada credenciada (hospitais, clínicas e laboratórios). Tal modelo logo deu sinais de insuficiência, sendo incapaz de atender à demanda, além de incorrer em gigantescas fraudes. Em 1977, na tentativa de dar uma resposta ainda que paliativa ao descontentamento popular, foi criado o Sistema SINPAS. Com ele, a assistência médica deixa o INPS e passa a ficar a cargo do INAMPS- Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social. No entanto, esse novo rearranjo institucional tem pouco ou nenhum impacto nas condições de saúde da população. Sob o regime militar, o sistema previdenciário assume uma conotação diferenciada em relação ao modelo anterior dos IAPs. Sua extrema centralização político-administrativa, bem como o aumento da demanda agravada pela crescente precarização das condições de vida da população, provoca, ao final da década de 1970, o colapso do sistema. O desgaste político do regime ditatorial corria a passos largos; os movimentos sociais, silenciados pela força do aparato repressivo por quase uma década começava a ganhar novo fôlego. O esgotamento do modelo de atenção à saúde vinculado à contribuição previdenciária, bem como o enfraquecimento do regime ditatorial instaurado em 1964, enseja uma onda de grandes mobilizações colocando a exigência de um novo modelo de saúde que atendesse a 10 toda a população, bem como a exigência de uma reestruturação e adequação de acordo com as necessidades sociais. Assim, sob a bandeira da Reforma Sanitária, o Movimento Sanitário veio em resposta a todas essas as questões, criando uma ruptura com o velho modelo de saúde, originando o atual Sistema Único de Saúde. Constituindo em um dos mais significativos movimentos sociais da história do país, o Movimento Sanitário, ao mesmo tempo em que colocava no centro de sua pauta a questão do direito á saúde, engrossava as fileiras de outros movimentos que lutavam pelo fim da ditadura militar e o retorno do País ao regime democrático. O fim do regime ditatorial ocorre em 1985 (BRAVO 2011, p. 88). É nesse contexto de acirramento das lutas pela redemocratização do país que o Movimento Sanitário ganha força na luta pela modificação das condições de saúde do povo brasileiro. Com o Movimento Sanitário, coloca-se na pauta política a exigência de um novo modelo de saúde que atendesse a toda a população. A Reforma Sanitária veio em resposta a todas as questões, criando uma ruptura com o velho modelo de saúde, criando as bases do atual Sistema Único de Saúde. Em 1986, após o fim do regime militar o Movimento Sanitário foi fortalecido pela VIII Conferência Nacional de Saúde. A VIII CNS estabeleceu as principais diretrizes que se transformariam na plataforma política de vários parlamentares eleitos para o Congresso Constituinte eleito naquele ano, encarregado de elaborar a nova Constituição brasileira. De fato, a Carta Constitucional aprovada em 1988 materializa uma vitória histórica no campo da saúde. É nela que, pela primeira vez na história do país, fica clara a concepção de saúde como direito. Em seu artigo 196 a Constituição de 1988 explicita: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. É também a Constituição de 1988 que, em seu artigo 198, deixa claro que o direito à saúde deve ser viabilizado pela efetivação de um sistema de saúde: Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos serviços assistenciais; III - participação da comunidade. Deve-se ressaltar que o Sistema Único de Saúde foi fruto de uma ampla mobilização popular, considerado um dos mais completos e abrangentes programas de governo, e que, ao colocar a saúde como um direito, muda diversos paradigmas, inclusive no tocante às formas de atenção à saúde nas quais a abordagem “especializada” dá lugar à interação entre os saberes, e o modelo “hospitalocêntrico é substituído por outras práticas que ampliam o acesso da população aos serviços e ações de saúde, dentre elas, a assistência domiciliar”. 11 4. ASSISTÊNCIA DOMICILIAR NO ÂMBITO DA ATENÇÃO À SAÚDE NO BRASIL Segundo o artigo 4º da Lei Federal nº. 8.080, o Sistema Único de Saúde é o “[...] conjunto de ações e serviços de saúde prestados por Órgãos e Instituições Públicas Federais, Estaduais e Municipais, da Administração Direta e Indireta e das Fundações mantidas pelo Poder Público e complementarmente pela iniciativa privada”. Citando a Carta de Ljubljana da Organização Mundial de Saúde de 1996, Mendes discorre sobre outros impasses: As reformas com a atenção primária à saúde como uma filosofia deveriam assegurar que os serviços de saúde de todos os níveis protejam e promovam a saúde, melhorem a qualidade devida, previnam e tratem as doenças, reabilitem as pessoas e cuidem dos doentes em sofrimento e em estado terminal. Elas deveriam reforçar a decisão conjunta pelo usuário e pelo prestador da atenção e promover a abrangência e continuidade à atenção dentro de seus ambientes culturais específicos (MENDES, 2001, p. 113.) Existem ainda normas e leis para funcionamento do Sistema Único de Saúde, que preconizam o levantamento dos problemas de saúde da população e o planejamento de ações coletivas ou individuais, e exigem assim organização nos diversos níveis de atenção. Dessa forma e com base nos princípios, os gestores do SUS, progressivamente, percebem a necessidade de implementar estratégias como formas de atender ou suprimir os problemas identificados na saúde da população. Em virtude disso e com a organização dos serviços, o atendimento domiciliar à saúde é passo importante a ser dado, pois pode gerar contribuições para a diminuição da sobrecarga existente na rede básica, bem como no atendimento hospitalar e, como consequência, aumento na eficiência e na eficácia do atendimento à saúde da população. É evidente que ainda existem muitos obstáculos para consolidação do SUS, o qual necessita de organização e planejamento que efetivamente contemplem as necessidades da população, com readequação dos recursos, diminuição das desigualdades no atendimento e ampliação da capacidade de atendimento, dentre outros fatores, que o tornam um sistema fragmentado. O atendimento domiciliar à saúde consiste no fornecimento de assistência a pessoas de qualquer idade em sua residência, a partir do diagnóstico de suas necessidades em saúde, considerando os fatores limitantes ou potencializadores, os quais devem contribuir para a prevenção, promoção, reabilitação, bem como para melhor adequação ou adaptação das funções em busca da independência e manutenção da autonomia. O modelo de assistência domiciliar de atendimento a saúde surgiu em GenebraSuíça em 1920, por iniciativa da Cruz Vermelha. Em 1947, nos Estados Unidos da América, surge a primeira unidade de assistência domiciliar do mundo, com o foco principal de descongestionar os hospitais e na perspectiva de proporcionar aos pacientes e familiares uma atenção de qualidade mais humanizada. No Brasil, depois de várias experiências de assistência domiciliar, em 1949, surge o Serviço de Assistência Médica Domiciliar e de Urgência – SAMDU, ligado ao Ministério do Trabalho. Vale destacar que, depois da primeira experiência em domicilio, em 1960 foi criada a Fundação de Serviço Especial de Saúde Pública (FSESP), e extinta em 1990, e que tinha 12 como atividades a oferta organizada de serviços na unidade, no domicilio e na comunidade com abordagem integral da família, incluindo também visitas domiciliares. Ressalta-se que a implantação da Assistência Domiciliar no Brasil, como uma atividade planejada, iniciou-se pelo setor público, com o Serviço de Assistência Domiciliar do Hospital dos Servidores Públicos do Estado de São Paulo (HSPE), expandindo-se posteriormente para o Estado de Minas Gerais, Paraná, Distrito Federal e outros Estados. 4.1. A ASSISTÊNCIA DOMICILIAR EM SAÚDE NO DISTRITO FEDERAL No âmbito do Distrito Federal, a partir da década de 1990, várias discussões acerca da falta de uma estrutura adequada para o atendimento aos pacientes crônicos no Sistema de Saúde do DF passaram a ser implementadas. A partir de tais discussões, surge a necessidade de se criarem alternativas que reduzissem o tempo de internação hospitalar, nascendo assim, na Regional de Saúde da cidade de Sobradinho-DF, no ano de 1994, um Programa de Assistência Domiciliar, com o objetivo de levar acompanhamento em domicilio por uma equipe de multiprofissional, chamado Serviço de Assistência Multiprofissional em Domicilio – SAMED. Esse serviço foi implantado informalmente na Regional de Sobradinho e Planaltina. Só em 25/05/1995, o Serviço de Assistência Médica Domiciliar - SAMED foi criado oficialmente no DF pela Lei nº 867. Note-se que a própria nomenclatura que designa o Serviço enfatiza a questão da assistência médica – e não da saúde, o que nos leva a inferir que, não obstante tratar-se de uma equipe multiprofissional, a centralidade do cuidado estaria na prática médica. Em 2000, o Serviço foi formalizado na Secretaria de Estado de Saúde do DF, como Núcleo de Assistência Médica a Internados em Domicilio – NAMID e a nova equipe multiprofissional, foi implantada em 2002 na Regional do Gama- DF. Em 2003, foi implantada a Equipe Móvel em Sobradinho tendo como finalidade atender os pacientes das Regionais onde não houvesse o Programa implantado. Em abril de 2002, foi sancionada, pelo Ministério da Saúde, a Lei nº. 10.424 que estabelece, no âmbito do SUS, o atendimento e o Programa de Internação Domiciliar. Essa Lei inclui, principalmente, os procedimentos médicos, de enfermagem, fisioterapêuticos, psicológicos e de assistência social, necessários ao cuidado integral dos usuários em seu domicílio. Os Núcleos Regionais estão vinculados administrativamente à Regional de Saúde local, sendo o Hospital Regional de referência o local onde as equipes de saúde multiprofissionais e interdisciplinares específicas se estabelecerão em área física. No ano de 2004, o Ministério da Saúde elaborou um documento preliminar que norteia a organização desses serviços em âmbito nacional sobre as Diretrizes para a Atenção Domiciliar no Sistema Único de Saúde. Em 18 de outubro de 2008, foi lançada a Politica Nacional de Internação Domiciliar, instituída pelo Presidente da Republica e pelo Ministro da Saúde da época, materializando, efetivamente a modalidade de atenção na rede pública de saúde. No Distrito Federal em 14/10 de 2008, com efeito positivo conquistado a adesão total a essa politica e com a aprovação pelo Conselho de Saúde Distrital, cria-se o Projeto de Implantação do Programa de Internação Domiciliar no Distrito Federal, criado em 2009, homologado pelo Secretário de Saúde sob a Resolução nº 56, publicada no DODF nº 225, de 12 de novembro de 2008, com vistas à regulamentação da Assistência Domiciliar no DF. O referido Projeto norteou a Assistência Domiciliar no âmbito do Distrito Federal, na tentativa de buscar respostas para um melhor atendimento a esses pacientes, dando uma 13 ressignificação no conceito de Assistência Domiciliar dentro do Sistema Único de Saúde no DF. De acordo com o Projeto de Implantação, a assistência e a internação domiciliar viabilizam cuidados domiciliares de saúde, que compreendem atos e relações que se realizam em domicilio, envolvendo paciente, familiares e equipe de saúde com a finalidade de promover a inclusão, a melhoria de qualidade de vida, a preservação ou a recuperação de saúde do paciente. Ressalta-se que com a Promulgação da Lei nº. 10.424 de 16/04/2002, que dispõe sobre a regulamentação da Assistência Domiciliar no Sistema Único de Saúde – SUS, a Regional de Sobradinho ficou com a responsabilidade de repassar suas experiências nesse tipo de atenção para viabilizar sua aplicabilidade em todo o Distrito Federal, necessitando assim a criação de uma coordenação que gerenciasse as atividades das equipes multiprofissionais, direcionando suas atenções aos pressupostos e princípios da SES/DF. Essa Coordenação foi criada pelo Decreto nº 23.660, de 14/03/2003 e passou a chamar-se Coordenação de Internação Domiciliar – COIND, mais tarde mudando sua nomenclatura para Gerência de Internação Domiciliar, vinculada à Diretoria de Atenção Primária à Saúde e Estratégia de Saúde da Família, com os Núcleos Regionais de Atenção Domiciliar. Vale ressaltar as iniciativas para regulamentar uma Política Nacional de Atenção Domiciliar no Sistema Público de Saúde brasileiro por parte do Congresso Nacional, Ministério da Saúde, ANVISA, Conselho Federal de Medicina, Conselho Regional de Enfermagem, CIT/CONASS e Secretarias Estaduais de Saúde, a importância do tema a que se refere à Assistência Domiciliar na saúde do país. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), na Consulta Pública nº. 81 de 10 de outubro de 2003, que dispõe sobre o regulamento técnico contendo as Normas de Funcionamento de Serviços que prestam Assistência Domiciliar, esse tipo de assistência inclui: Atenção domiciliar: termo que envolve ações de promoção à saúde, prevenção de doenças e complicações, abrangendo a assistência e reabilitação. A reabilitação no caso da atenção domiciliar refere-se ao paciente, que, por algum motivo, necessita de ajuda de terceiros para realizar alguma tarefa, desde a mais simples até as mais complexas desenvolvidas no domicílio. A assistência domiciliar, por sua vez, pode se dar nas modalidades de atendimento domiciliar e internação domiciliar; ·Assistência domiciliar- termo genérico que representa várias modalidades de atenção à saúde desenvolvidas no domicílio, entre elas o atendimento e a internação domiciliar; Atendimento domiciliar - caracteriza-se pelo conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas por meio de ações preventivas e/ou assistenciais com participação da equipe multiprofissional; e Internação domiciliar - é o conjunto de atividades caracterizadas pela atenção em tempo integral para pacientes com quadros clínicos mais complexos e com necessidade de tecnologia especializada de recursos humanos, equipamentos, materiais, medicamentos, atendimento de urgência/emergência e transporte. Não se pode falar de assistência domiciliar sem que se ressalte a importância da assistência domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde, levando em consideração que, quando da deshospitalização, os pacientes continuarão recebendo apoio e acompanhamento da equipe de profissionais em domicilio, além do cuidado e atenção da família, dentre outros atores que fazem parte da sua vida social. 14 Não obstante, nem todos os usuários da Política de Saúde têm ciência a respeito dos seus direitos, direitos estes garantidos na Constituição Federal; o que se ressalta ainda é que a assistência domiciliar é um direito do usuário do Sistema Único de Saúde – SUS, voltado para as pessoas que necessitam de cuidados especiais, conforme está descrito na Portaria nº. 2527 de 2011, que prevê a atenção domiciliar, independentemente da idade. Segundo a Portaria n. 2527 de 27 de outubro de 2011, a assistência domiciliar foi redefinida no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, no qual foram estabelecidas normas para o cadastro da atenção domiciliar, como também um serviço substitutivo ou complementar à internação hospitalar. De acordo com a referida Portaria, a atenção domiciliar passa a ser uma nova modalidade de atenção à saúde, caracterizando-se por um conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças, bem como reabilitação prestada em domicilio. No seu artigo 3, a atenção domiciliar tem como objetivo a reorganização de processo de trabalho das equipes que prestam cuidado domiciliar, na atenção básica, ambulatorial e hospitalar, visando à redução das demandas por atendimento hospitalar e à redução do tempo de permanência dos usuários internados, na perspectiva da humanização da atenção, da desinstitucionalização e da ampliação da autonomia dos usuários. Vale ressaltar que a referida Portaria traz no seu artigo 5º, uma das diretrizes da atenção domiciliar, bem como a adoção do modelo de atuação centrado no trabalho de equipes multiprofissionais e interdisciplinares. Com o objetivo de ampliar o atendimento em domicilio, o Governo Federal em conjunto com estados e o Distrito Federal, lançou o Programa Melhor em Casa, com o intuito de oferecer um atendimento mais humanizado às pessoas que precisam de cuidados especiais, como é o caso dos pacientes de reabilitação motora, os idosos, paciente crônico e pacientes que estão em situação pós-cirúrgica. O Programa Melhor em Casa visa uma melhor reabilitação, bem como a redução dos riscos de infecções hospitalares, maior contato dos familiares com os pacientes e a redução dos leitos hospitalares. O Artigo 12 da Política Nacional de Atenção às Urgências do Sistema Único de Saúde destaca: Art. 12. O Componente Atenção Domiciliar é compreendido como o conjunto de ações integradas e articuladas de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação, que ocorrem no domicílio, constituindo-se nova modalidade de atenção à saúde que acontece no território e reorganiza o processo de trabalho das equipes, que realizam o cuidado domiciliar na atenção primária, ambulatorial e hospitalar. Dentro do universo da Política de Saúde, no qual as necessidades dos usuários/pacientes são bastante diversificadas, e, por conta disso, coloca-se a necessidade cada vez mais iminente de viabilizar respostas por parte de todo os envolvidos no processo que compõe a saúde. Com o acesso às tecnologias, bem como às redes, foca-se a diminuição do sofrimento, o prolongamento da vida, a percepção de necessidades especiais apresentadas pela singularidade das pessoas, a criação de vínculo e a responsabilidade por parte de profissionais que compõem a equipe de saúde, bem como todos os sujeitos envolvidos no processo de recuperação. Visando à autonomia e à melhoria na qualidade de vida dos usuários/pacientes que são fatores fundamentais e essenciais para que se obtenham respostas precisas e imediatas às suas 15 demandas, os profissionais que atuam na atenção domiciliar, como de resto todos os profissionais de saúde, devem atuar acoplando a teoria à prática, e com a busca incessante de novos conhecimentos, com vistas ao atendimento das necessidades dos sujeitos, usuários/pacientes que fazem parte desse processo. Ao falar em qualidade de vida como um dos objetivos da atenção e assistência à saúde no âmbito domiciliar reportamo-nos à conceituação da Organização Mundial da Saúde – OMS, que define qualidade de vida como sendo a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Para tanto, essa qualidade de vida e essa autonomia dentro da assistência domiciliar dependerão também do contexto em que esse paciente está inserido e da forma com ele percebe a realidade. Assim, tendo como uma das referências esse olhar diferenciado de toda uma equipe interdisciplinar, foi possível propiciar e incorporar a assistência domiciliar como uma nova modalidade assistencial em caráter ampliado, na qual as equipes de trabalho constroem no seu dia a dia, a transversalização entre os saberes próprios dos diversos grupos de trabalhadores, possibilitando a ação interdisciplinar. Visando melhores condições de trabalho e troca de conhecimentos, urge a necessidade de capacitar os profissionais o que é de suma importância para a prática profissional, bem como o aperfeiçoamento do próprio cotidiano dos serviços inerentes à saúde. Vale frisar que o trabalho em equipe traz grandes benefícios, tanto individuais quanto coletivos, no qual a interdisciplinaridade é parte fundamental. De acordo com o Programa de Internação Domiciliar do Distrito Federal, a presença de um responsável que exerça a função de cuidador é de extrema relevância, e esse cuidador será o elo entre a equipe de profissionais e o paciente. A partir do momento que o familiar assume o papel de cuidador, ele vivencia níveis diferentes de ansiedade, em função de algumas características como a modificação de papéis sociais, a adaptação à condição de cuidador, que demanda dedicação, paciência e abnegação. Assim, o acompanhamento e o suporte fornecidos pela equipe de saúde podem contribuir para minimizar as dificuldades demandadas pelo cuidado prestado. 4.2 A NECESSÁRIA INTERDISCIPLINARIDADE NAS EQUIPES DE SAÚDE NO ÂMBITO DA ATENÇÃO DOMICILIAR Para se trabalhar a interdisciplinaridade é necessário aprofundar o conceito e as condições históricas de seu surgimento. A ideia de interdisciplinaridade já vem desde os filósofos gregos com a possibilidade de formar um homem integral, voltando à discussão nos tempos atuais, na década de 1960, com os trabalhos de Gusdorf, Piaget, Bastide, Jantsch, dentre outros, com a possibilidade de unir os conhecimentos que vão se fragmentando nos espaços especializados. A interdisciplinaridade apareceu no século XX, em decorrência da fragmentação de conhecimento, demandando dos sujeitos envolvidos uma articulação e, ao mesmo tempo, troca de saberes, que se denominou de interdisciplinaridade. No campo profissional, assim como no meio acadêmico, a interdisciplinaridade se faz necessária, objetivando olhares diferentes sob pontos de vista distintos. Visando à interação, bem como ao comprometimento dos profissionais, a interdisciplinaridade é entendida como algo essencial no que tange à compreensão da dinâmica das relações entre as diversas áreas de conhecimento, uma vez que cada profissional 16 não abarca todos os saberes, necessitando de mecanismos e estratégias para seu compartilhamento, possibilitando a diversidade de olhares sobre uma mesma realidade. Segundo Vasconcellos (2004): “[...] A valorização da diversidade é um fator preponderante, no que tange a troca de experiências, como também a valorização das ideias e das práticas de participação e democracia” (VASCONCELLOS, 2004, p.43).No entanto, o mesmo autor alerta para o fato de que a interdisciplinaridade não pode ser confundida com a homogeneização do conhecimento, na qual as diferentes perspectivas desaparecem. Isso porque, além das trocas de saberes que abarcam todos os atores envolvidos, a interdisciplinaridade tem o objetivo de comparar, relacionar e integrar todos os conhecimentos pertinentes ao objetivo que se pretende alcançar. Na mesma linha do autor acima citado, Martinelli (1995, p.53) ressalta que o saber é uma construção histórica, e, portanto, essencialmente coletiva: “O saber é resultante de uma construção histórica, realizada por um sujeito coletivo!” Logo, a troca de saberes é algo fundamental dentro da construção do conhecimento. Porém, a construção de conhecimento não está livre das particularidades a particularidades que afetam a condição humana. Segundo Severino (1995), uma das particularidades no qual a sociedade humana é abarcada, denomina-se poder, onde os indivíduos não se sobressaem aos outros em condições de harmônica igualdade, pois existe desde os primórdios da civilização essa correlação de força, essa hierarquização, onde o que detém o poder domina os que não os têm, fazendo com que a sociedade se torne uma sociedade política. Assim, é no contexto das relações políticas que se pode compreender a possibilidade ( ou impossibilidade) de relações interdisciplinares em uma realidade. Não se trata apenas de uma decisão burocrática na qual indivíduo “aplica” determinado princípios passíveis de conduzi-los a essa relação interdisciplinar para a melhor realização de ações visando um objetivo comum, fragmentando o saber, o poder e o fazer em momentos estanques, separados. Tal fragmentação entre saber poder e fazer inviabiliza uma relação de interdisciplinaridade, uma vez que não são estabelecidas as articulações necessárias. Para Severino ( 1995), o saber, o poder e o fazer estão intrinsecamente ligados, um não sobrevive sem o outro, o que se conclui que os três eixos só podem exercer-se interdisciplinarmente. De igual modo, a interdisciplinaridade só é possível quando os três, saber, poder e fazer estão articulados. Assim, para o autor, a palavra central para a compreensão da interdisciplinaridade é compartilhamento. Compartilhamento de saberes, de poderes e de formas de fazer. Aqui reside o seu caráter intrinsecamente político, de modo que, quanto maior a concentração de poderes, maior a dificuldade em compartilhar saberes e em compartilhar formas comuns de realizar determinadas ações. A partir de tais considerações, podemos indagar quais os rebatimentos da perspectiva interdisciplinar quando direcionamos o nosso olhar para as práticas de saúde no âmbito da atenção domiciliar. 5. A INTERDISCIPLINARIDADE NA SAÚDE A interdisciplinaridade na saúde envolve vários aspectos que vão desde o biológico até o social, o individual e o coletivo. A saúde e a doença envolvem condições e razões de natureza sócio-histórica e cultural. 17 Na área da saúde, a necessidade do compartilhamento de saberes é inerente à concepção que define a saúde como uma resultante das condições de vida, envolvendo condições de alimentação, trabalho, moradia, lazer, transporte, educação, etc. tal como aparece no Relatório Final da VII Conferência Nacional de Saúde que, por sua vez, é a concepção que norteou todo o marco legal do Sistema Único de Saúde – SUS. Essa concepção, ao rejeitar a saúde como “ausência de doença” toca diretamente as relações hegemônicas no campo da saúde, uma vez que a produção de conhecimento em saúde passa a incorporar outros saberes para além daqueles voltados especificamente para o corpo doente. Nesse sentido, a construção de novas relações entre os vários saberes envolvidos na garantia do direito à saúde, a perspectiva interdisciplinar deve existir desde o período da formação dos profissionais que atuam na área. A formação profissional é corresponsável pela integração e pela partilha desses vários saberes, objetivando oferecer à população a maior quantidade possível de serviços de saúde com qualidade e efetividade. De acordo com Costa Neto, (2000, p.9): É urgente que se estabeleça uma nova relação entre os profissionais de saúde [...] diferentemente do modelo biomédico tradicional, permitindo maior diversidade das ações e busca permanente do consenso. Tal relação, baseada na interdisciplinaridade e não mais na multidisciplinaridade [...] requer uma abordagem que questione as certezas profissionais e estimule a permanente comunicação horizontal entre os componentes de uma equipe. Tal horizontalidade na comunicação e no compartilhamento de saberes é um dos maiores desafios quando relacionados à Política de Saúde em geral e à atenção domiciliar em particular. Isso porque, mesmo passados mais de vinte anos da criação do Sistema Único de Saúde ainda se fazem presentes concepções que tendem a reproduzir o modelo médicoassistencial hospitalocêntrico. Ou seja, um modelo centrado na assistência médica curativa inserida nas grandes unidades hospitalares. Na atenção domiciliar há uma redefinição desse modelo, pois, mesmo quando se destina à assistência de natureza curativa, a atenção domiciliar envolve necessariamente uma diversidade de conhecimentos, saberes e olhares diferenciados, envolvendo, não apenas profissionais de saúde de diversas áreas, mas também familiares relações de vizinhança, comunitárias, etc. Há também o fato de que, ao serem desenvolvidas no domicílio do paciente/usuário, as ações de saúde excluem o “lugar” legitimador de relações de poder, ou seja, a unidade de saúde como espaço de legitimação de saberes e, consequentemente, como espaço de poder. Desse modo, a atenção domiciliar abre a perspectiva de reinventar no campo da saúde, novas formas de atuação em equipe, pautadas por uma perspectiva interdisciplinar. Mas, também aqui, como em todas as áreas de abrangência da política de saúde, o compartilhamento de saberes passa pela desconstrução de padrões hegemônicos que possibilitem de fato, que as equipes que atuam na atenção domiciliar ultrapassem o âmbito do multiprofissional e do multidisciplinar, ou seja, diversas profissões que comportam distintos campos de saberes, atingindo uma natureza efetivamente interdisciplinar. A dificuldade de tal ultrapassagem reside no fato de que as relações entre os diversos saberes são perpassadas pelas relações de poder. Para Severino (1995, p. 47), o saber tem tudo a ver com o poder e não apenas como o ser e com o fazer. O autor traz na sua fala a complexidade que envolve todo o individuo enquanto ser social e coletivo, considerando que a sociedade humana quando com um saber bastante arraigado, este pode sobrepor o poder. 18 Para o autor, a relevância do saber no âmbito da sociedade humana não pode ser avaliada sem que se faça uma retomada da sua história. Severino (1995) ressalta a importância da busca incessante do conhecimento, seja qual for a área de atuação em um processo em que a prática articula-se à teoria e vice-versa. Mas, no campo da saúde, como nos demais campos da vida social, ao falarmos em “prática” não estamos nos referindo a um conjunto de ações realizadas isoladamente por cada indivíduo, mas à expressão de um sujeito coletivo, ou seja dentro de relações sociais e não isoladamente: A prática produtiva do homem não como trabalho individual, mas vinculada a esta prática ao sujeito coletivo, no qual a espécie humana só é humana na medida em que se efetiva em sociedade, o autor nos traz ainda para a realidade traduzindo a existência humana de forma que todos estejam inseridos dentro das relações sociais, diferindo assim o individuo dos animais, não só pela existência enquanto sujeito coletivo, mas pelo poder que esse sujeito exerce sobre o os demais (SEVERINO, 1995, p.48) Para o autor, todos os indivíduos nas suas práticas têm as suas especificidades, o que os faz ter um olhar diferenciado sobre os objetos e com isso indo além da imediaticidade. Considerando que a prática é prioritária e fundamental no processo de construção do conhecimento, cabe ressaltar que essa prática não é mecânica e passageira, mas intencionalizada segundo aspectos que, de acordo com Severino (1995) remetem ao universo do trabalho, da sociedade e da cultura. Logo, pensar em uma atuação interdisciplinar no âmbito da atenção domiciliar em saúde implica considerar não apenas o plano das práticas multiprofissionais, mas estabelecer mecanismos de construção e compartilhamento de saberes que possibilitem a apropriação do universo social, cultural e simbólico no qual esta modalidade de atenção em saúde se materializa. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A conclusão fundamental a que se chega ao final da presente análise é o grande avanço que representa a atenção domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde. De fato, a atenção domiciliar aprofunda o direito à saúde para além dos limites das unidades, reforçando o seu caráter universal. Isso porque, até períodos muito recentes, anteriores à implementação dos Núcleos Regionais e suas respectivas equipes, essa modalidade de atendimento era realizada exclusivamente em âmbito privado pelas chamadas empresas de Assistência Domiciliar Privada em Saúde (ADPS), também conhecidas pela expressão “Home Care”, cujo altíssimo custo inviabilizava o seu acesso para a maioria da população. Nessa perspectiva, é importante ressaltar que a assistência domiciliar pública no Brasil inscreve-se na luta mais geral pelo direito universal à saúde, luta esta que, por contrariar vários interesses, entre os quais o do mercado privado de serviços de saúde, enfrenta enormes dificuldades para a sua consolidação. Além disso, há também uma ausência de consenso notadamente entre profissionais de saúde sobre a validade desse tipo de atenção, notadamente entre os que ainda defendem o modelo médico assistencial hospitalocêntrico, ou seja, o modelo de atendimento centrado na prática médica realizada em hospitais. Esse modelo, duramente criticado pelo Movimento Sanitário e, do ponto de vista do marco legal que hoje orienta a política pública de saúde, já superado, ainda encontra defensores. 19 Essa visão é responsável pelas dificuldades na efetivação de uma postura interdisciplinar nas equipes de saúde, consequentemente, com impactos negativos na própria efetivação dos princípios norteadores do Sistema Único de Saúde tais como a universalidade, a equidade, a integralidade e a participação. Porém, o que se pode observar na experiência junto ao NRAD-Ceilândia, é que há um esforço concreto na superação de tais concepções, esforço este não isento de contradições, pois, para além das definições teóricas, a interdisciplinaridade repercute diretamente na forma de distribuição do poder e, consequentemente, na relação entre os agentes institucionais representados pelas várias profissões e seus respectivos campos de saber. É, portanto, um processo, uma construção na qual estão implicadas mudanças na relação entre esses diversos campos (de saber). Foi observado na vivência dos Estágios I e II, que as relações de interdisciplinaridade dentro da equipe de saúde que atua no Núcleo Regional de Atenção Domiciliar do Hospital Regional da Ceilândia, mesmo que de uma forma ainda preliminar, está presente no cotidiano da equipe e nos atendimentos aos usuários/pacientes do programa, no que tange a essas relações, a busca interdisciplinaridade, isto é, a busca pelo estabelecimento de um diálogo, ponto do qual parte qualquer relação interdisciplinar. Porém, o que se observa é que essa busca reflete mais um caráter colaborativo do que propriamente uma consciência explícita sobre a importância do compartilhamento e da articulação entre os saberes para a melhoria do atendimento do usuário em seu domicílio. Mesmo sendo considerada de grande importância, o que se percebe é que a interdisciplinaridade é tema pouco discutido na área da saúde em geral, não sendo diferente no âmbito da atenção domiciliar. Há ainda um caminho a ser percorrido, no qual a fundamentação teórica, mas, sobretudo, a mudança de mentalidade política sobre a natureza das próprias práticas em saúde, são elementos fundamentais. Nesse sentido, espera-se que o presente artigo, mesmo considerando-se o seu caráter de um estudo preliminar, possa contribuir para essa reflexão e para a superação de concepções equivocadas, notadamente aquelas que ainda confundem a interdisciplinaridade em saúde com “trabalho em equipe”. Porém, tem-se a clareza de que, sem construção de conhecimento partilhado, não há interdisciplinaridade, apenas justaposição de ações isoladas, que não dão conta de atender às demandas emergentes da saúde, relacionadas às profundas transformações da vida cotidiana das populações e de seu universo social, cultural e simbólico, bem como das relações de trabalho em saúde, que desvelam um cenário complexo, exigindo um novo paradigma do conhecimento. Por último – mas não, em último – cabe ressaltar que a assistência domiciliar e todos os elementos que compõem a atenção domiciliar sejam reforçados como estratégia das mais importantes para a garantia da integralidade enquanto princípio fundamental da política pública de saúde e não somente como uma forma de redução como, infelizmente parece ser a concepção de alguns gestores. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Constituição Federal (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988. Senado Federal, 1988. 20 ______. Distrito Federal. Secretaria de Estado de Saúde. Subsecretaria de Atenção à Saúde. Diretoria de Atenção Primária e Estratégia de Saúde da Família. Gerência de Atenção Domiciliar. Programa de Internação Domiciliar no Distrito Federal, Brasília, 2008a. ______. Distrito Federal. Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal. 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