Sessão Plenária 1 REMISSÃO ENDOSCÓPICA E HISTOLÓGICA INDUZIDA PELO INFLIXIMAB NA COLITE ULCEROSA MODERADA A GRAVE – ESTUDO HÉRICA Magro F. 1, Lopes S. 1, Lopes J. 1, Rodrigues-Pinto E. 1, Portela F. 2, Silva M. 2, Cotter J. 3, João Moreira M. 3, Lago P. 4, Lopes C. 4, Caetano C. 4, Peixe P. 5, Chagas C. 5, Carvalho L. 5, Lopes S. 2, Rosa B. 3, Albuquerque A. 1, Camila C. 1, Afonso J. 1, Geboes K. 6, Carneiro F. 1 Introdução e objectivos: A correlação entre a actividade histológica, endoscopia e níveis de calprotectina e lactoferrina na Colite Ulcerosa (CU) não estão bem definidos. O infliximab pode induzir remissão na CU, contudo, inflamação microscópica residual pode prever recaída, sendo que a calprotectina podem ser útil nesse sentido. O objectivo primário foi avaliar a remissão histológica induzida pelo infliximab à semana 8 (Geboes <3.0); os objectivos secundários foram avaliar a associação entre remissão histológica, cicatrização da mucosa, calprotectina fecal e lactoferrina fecal. Métodos: Estudo múlti-cêntrico, prospectivo, com 1 ano de follow-up. Foram incluídos 20 doentes com CU moderada/grave (Mayo 6 – 12) com resposta inadequada a corticoesteróides, sem exposição prévia a anti-TNF. Os doentes foram considerados em remissão profunda quando em remissão clínica (Mayo <2), Geboes ?3, calprotectina <100mg/L, lactoferrina ?7.25mg/L e cicatrização endoscópica da mucosa. Resultados: À semana 8, 30 e 52, 15%, 30% e 35% dos doentes estavam, respectivamente, em remissão histológica; 10%, 20% e 10% estavam em remissão profunda. Dos doentes em remissão histológica à semana 8, 66% tiveram remissão persistente à semana 30 e 52; 100% dos doentes em remissão histológica à semana 30 mantiveram remissão posteriormente. Calprotectina >100mg/L à semana 8 foi predictiva de actividade histológica (sensibilidade 76%, especificidade 100%), com valor preditivo positivo (VPP) de 100% e valor preditivo negativo (VPN) de 42%; lactoferrina >7.25mg/L à semana 8 foi predictiva de actividade histológica (sensibilidade 94%, especificidade 66%), com VPP de 94% e VPN de 66%. A probabilidade de remissão histológica tendo cicatrização da mucosa foi de 55% (semanas 30 e 52); a probabilidade de cicatrização da mucosa nos doentes com calprotectina ?100mg/L foi de 100% e 75%, respectivamente, à semanas 30 e 52. Conclusões: O infliximab induz e mantém a remissão histológica na CU. Níveis altos de calprotectina e lactoferrina prevêem actividade histológica persistente. 1 Centro Hospitalar São João; 2 Centro Hospitalar de Coimbra; 3 Centro Hospitalar do Alto Ave; 4 Centro Hospitalar do Porto; 5 Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental; 6 University Hospital KU, Leuven, Belgium 1 2 ADMINISTRAÇÃO DE PROPOFOL POR NÃO ANESTESISTA (NAAP) EM COLONOSCOPIA – ANÁLISE INTERINA DE UM ENSAIO CONTROLADO E ALEATORIZADO Ferreira AO, Torres J, Pinto R, Schuler V, Castanheira C, Neves M, Santos AS, Silva F, Cravo M Introdução: O propofol permite a melhor sedação em endoscopia digestiva. Só existe um ensaio de comparação direta entre NAAP e sedação por anestesista (SPA). Objetivo: Comparar a incidência de eventos adversos (EA), parâmetros de qualidade e satisfação entre sedação NAAP e SPA em colonoscopia eletiva. Apresentamos a análise interina dos primeiros 100 casos. Métodos: Ensaio clínico prospetivo, controlado e aleatorizado com dois grupos paralelos (A-NAAP;B-SPA) e ocultação dos participantes. Endpoint primário: incidência de EA (definidos pela World SIVA International Task Force on Sedation). Endpoints secundários: dose de propofol, satisfação do doente, tempo de recobro e parâmetros de qualidade em colonoscopia. Amostra de 330 casos (1:1) calculada com base em dados preliminares. Recrutados participantes de baixo risco (ASA I-II). Clinicaltrials.gov (NCT02067065). Resultados: 100 colonoscopias (tabela 1). Incidência de EA: 34,3% no grupo A e 42,4% no grupo B (OR-0,709; IC95% 0,3021,668; p=0,43). Não houve eventos sentinela (paragem cardio-respiratória, choque, saturação periférica<75% e apneia>60s). Foi necessária administração de atropina (0 vs 6,1%); permeabilização da via aérea (14,9 vs 9,1%); aumento do débito de O2 (8,9% vs 6,1 %); ajuste da fluidoterapia (4,5% vs 0). Dose média de propofol: grupo A: 222±84mg vs grupo B: 245±118mg (p=0,276). O tempo de recobro foi 62±44 min e 61±22 min (p=0,856). Não houve diferenças na avaliação da dor, satisfação ou parâmetros de qualidade. Conclusões: Na análise interina a NAAP foi equivalente à SPA na incidência de eventos adversos, numa população de baixo risco anestésico. Grupo A(n=67) Grupo B(n=33) p Sexo masculino, n(%) 24(35,8) 14(42,5) n.s. Idade média,anos(dp) 57(14) 51(18) n.s. ASA I/II,n 6/61 7/26 n.s. Patologia cardiovascular,n(%) 10(14,9) 5(15,2) n.s. Fumador,n(%) 15(22,4) 5(15,2) n.s. Hospital Beatriz Ângelo 2 3 SEGUIMENTO A LONGO PRAZO APÓS EXÉRESE POR MUCOSECTOMIA (EMR) OU POR DISSECÇÃO (ESD) DE LESÕES SUPERFICIAIS GÁSTRICAS EM PORTUGAL Pimentel-Nunes P, Mourão F, Veloso N, Afonso LP, Jácome J, Moreira-Dias L, Dinis-Ribeiro M INTRODUÇÃO: A exérese endoscópica de lesões superficiais gástricas é um tratamento de primeira linha em países orientais. Contudo, esta terapêutica ainda não é considerada nas guidelines ocidentais de tratamento de cancro gástrico devido a uma ausência de estudos de seguimento a longo prazo destas técnicas no Ocidente. OBJECTIVO: Descrever pela 1ªvez os resultados de seguimento a longo prazo de doentes submetidos a exérese endoscópica pelas técnicas de mucosectomia (EMR) ou por dissecção (ESD) de neoplasias superficiais gástricas num país ocidental. MÉTODOS: Coorte retrospectiva de 162 doentes consecutivos (195 neoplasias gástricas, 54 removidas por EMR, 141 por ESD) seguidos desde Março 2003 a Abril 2013 (11 anos, mediana de seguimento de 3.2 anos). RESULTADOS: A exérese das lesões foi possível em 97%. As taxas de ressecção em bloco e R0 foram 85% (94% ESD vs 61% EMR, p=0.001) e 81% (91% ESD vs 54% EMR, p=0.001), respectivamente. A taxa de recidiva foi de 7% (15% EMR vs 4% ESD, p=0.02). Numa análise multivariada apenas as ressecções Rx/R1 foram factor de risco independente para recidiva (OR=5.8; IC95% 3.9-8.8). Foi possível uma ressecção curativa em 86% após um e em 91% após dois procedimentos endoscópicos. Foram observadas complicações em 13% dos casos: 8% hemorragia; 2% de perforações (EMR=ESD). Foi efectuada cirurgia em 6% dos doentes: 5% devido a ressecção não curativa e 1% por complicações. A incidência de lesões metácronas foi de 1-1.5% por doente/ano. A taxa de sobrevida especifica por cancro foi de 100%. CONCLUSÃO: Pela 1ºvez num país ocidental os resultados a longo prazo de EMR/ESD de neoplasias gástricas precoces são descritos e são comparáveis aos países orientais. A exérese endoscópica, particularmente por ESD, é um tratamento muito eficaz de neoplasias superficiais gástricas, sem comprometer a sobrevida. A ressecção endoscópica deve ser considerada uma primeira linha de tratamento também no Ocidente. Serviço de Gastrenterologia do IPO-Porto 3 4 MIRNAS DO MÚSCULO ESQUELÉTICO EM DOENTES COM FÍGADO GORDO NÃO ALCOÓLICO E SUA MODULAÇÃO IN VITRO Simão A.L. 1, Ferreira D.M.S. 1, Borralho P.M. 1,2, Machado M.V. 3, Cortez-Pinto H. 3,4, Rodrigues C.M.P. 1,2, Castro R.E. 1,2 A deposição de lípidos intramiocelulares, a resistência à insulina no músculo e o fígado gordo não alcoólico (FGNA) são características comuns em indivíduos com obesidade mórbida. Por sua vez, a severidade do FGNA correlaciona-se com a ativação da via pró-apoptótica do microRNA-34a (miR-34a), sendo este alvo do ácido ursodesoxicólico (UDCA) em hepatócitos primários de rato. O nosso objetivo foi determinar o perfil de expressão global dos miRNAs no músculo esquelético de doentes em diferentes estadios de FGNA e esclarecer o potencial modulador do TUDCA in vitro. Biópsias emparelhadas de músculo e fígado foram obtidas em doentes com obesidade mórbida. O RNA do músculo foi analisado usando arrays. Células de mioblasto de ratinho C2C12 foram incubadas com ácido palmítico, na presença ou na ausência de tauroUDCA (TUDCA). A via de sinalização da insulina foi avaliada por Western blot. Os nossos resultados demonstraram um aumento progressivo e significativo na expressão de 45 miRNAs nas biópsias musculares, desde indivíduos com esteatose até à esteatohepatite não alcoólica mais severa (p<0,05), incluindo miRNAs específicos do músculo, miR-133a e b, assim como o miR-34a, miR-10b, miR-29a e let-7a. A incubação das células C2C12 com ácido palmítico aumentou a expressão de miR-34a, let-7a, assim como a apoptose (p<0,05). Mais, o ácido palmítico induziu resistência à insulina in vitro, evidenciada pela inibição da via de sinalização da insulina (p<0,05). Finalmente, a co-incubação de células C2C12 com TUDCA inibiu a indução do miR-34a, a resistência à insulina e a apoptose (p<0,05). Em conclusão, os miRNAs são diferencialmente modulados no músculo de indivíduos com FGNA, correlacionado-se com alterações no fígado. Em particular, o miR-34a encontra-se aumentado no músculo de doentes com FGNA e é alvo do TUDCA em células C2C12, o qual, por sua vez, inibe a resistência à insulina e a apoptose induzidas por ácidos gordos. (PTDC/SAU-OSM/102099/2008, PTDC/SAU-OSM/100878/2008, PTDC/SAUORG/111930/2009). 1Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa), Lisboa, Portugal; 2Departmento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia; 3Gastrenterologia, Hospital de Santa Maria e 4IMM, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal 4 5 TRATAMENTO ENDOSCÓPICO DE FUGAS BILIARES: DO PLÁSTICO AO METAL DESDE O TRATAMENTO INICIAL ATÉ À NECESSIDADE DE REVISÃO ENDOSCÓPICA NAS FUGAS REFRACTÁRIAS Russo P (3), Canena J (1,2,3,4) , Horta D (1), Coimbra J (3) , Meireles L (2) , Marques I (2) , Ricardo L (1) , Rodrigues C (1) , Capela T (3), Carvalho D (3) , Loureiro R (3) , Dias AM (3), Ramos G (3) , Coutinho AP (2) , Romão C (2) Introdução e objectivos: as fugas biliares têm como tratamento de escolha a abordagem endoscópica. Existe um número de fugas refractárias a esta terapêutica e não é consensual a melhor abordagem. Avaliou-se a eficácia clínica do tratamento endoscópico de fugas biliares pós colecistectomia e a melhor abordagem nas fugas refractárias. Material: estudo retrospectivo multicêntrico de 182 doentes com fuga biliar pós colecistectomia, submetidos a tratamento endoscópico. A análise retrospectiva avaliou a eficácia do tratamento inicial (esfincterotomia+prótese plástica de 10Fr), necessidade, características e eficácia da revisão endoscópica em fugas refractárias, complicações e factores associados ao insucesso terapêutico. Resultados: o sucesso técnico foi possível nos 182 doentes. A maioria das fugas localizava-se no coto cístico (n=126-69.2%). O sucesso clínico foi obtido em 163 doentes (89.6%), mantendo-se a fuga biliar em 19 doentes após o tratamento inicial. Uma análise univariada mostrou que fugas de alto débito estavam associadas (P<0.01) ao insucesso terapêutico inicial. Os 19 doentes com fugas refractárias foram retratados com múltiplas próteses de plástico (MPP). Após um período de tratamento com uma mediana de 3 próteses o sucesso terapêutico foi obtido em 12 doentes (63.2%). Uma análise univariada constatou que o débito, o número de próteses plásticas e o diâmetro destas foram as variáveis significativamente (P<0.05) associadas ao sucesso clínico da colocação de MPP. Os restantes 7 doentes foram retratados com próteses metálicas totalmente cobertas (PMTC) durante um período mediano de 28 dias, sendo o sucesso terapêutico de 100%. Não houve necessidade de recurso à cirurgia e a taxa de complicações foi de 5%. Conclusões: O tratamento endoscópico de fugas com ETE+prótese plástico está associado a alta taxa de sucesso (90%). Contudo em doentes com fugas refractárias o recurso a PMTC deve ser preferido em vez da colocação de múltiplas próteses de plástico, em especial nos doentes com fugas de alto débito. 1-Serviço de Gastrenterologia do H. Amadora-Sintra; 2-Pólo de Gastrenterologia do H. Pulido Valente-CHLC; 3-Serviço de Gastrenterologia do H. dos Capuchos-CHLC; 4-Unidade de Endoscopia do H. Beja-ULSBA 5 6 O IMPACTO DA INFECÇÃO PELO VÍRUS DA HEPATITE C EM DOENTES SUBMETIDOS A TRANSPLANTAÇÃO RENAL Magalhães-Costa P.(1.), Lebre L. (1.), Machado D. (2.), Chagas C. (1.) Introdução e Objectivos: O impacto que a infecção pelo vírus da Hepatite C (VHC) tem no sucesso da transplantação renal (TR) é controverso. Neste estudo analisamos o efeito da infecção VHC na sobrevida do enxerto renal. Material: Estudo de coorte, retrospectivo, observacional e unicêntrico. A partir de uma base de dados de TR (1985-2013), foi seleccionada uma amostra aleatória de doentes sem evidência de infecção VHC e comparada com outro grupo de doentes com infecção VHC. Sumário dos resultados: Identificamos 34 casos de doentes com infecção VHC (2.7% do total da amostra) e seleccionados 80 casos-controlo. O tempo de seguimento médio para ambos os grupos foi de 11 anos. Não se registaram diferenças estatisticamente significativas entre grupos no que diz respeito ao género, etnia, realização prévia de diálise (ou tipo de diálise) ou etiologia da doença renal. Os doentes VHC positivo apresentaram um tempo de espera em diálise superior e eram mais novos aquando da TR. A taxa global de perda de função do enxerto foi superior no grupo VHC positivo (50% vs 20%; p < 0.05). A taxa de sobrevida do enxerto aos 1, 5 e 10 anos foi de 94.1%, 78.1% e 66.9% no grupo VHC positivo e 94.9%, 89.1% e 80.4 no grupo VHC negativo. Usando um modelo de sobrevivência (Kaplan-Meier), apesar da superior durabilidade do enxerto em doentes VHC negativo, esta não foi estatisticamente significativa (p = 0.154). A infecção VHC foi um factor de risco independente para perda da função do enxerto (Hazard Ratio: 1.657; IC95%: 0.8173.364). Conclusões: Os nossos achados sugerem que a infecção VHC no doente submetido a TR, apesar de conferir um efeito negativo sobre a durabilidade e função do enxerto, este efeito não é significativo. Assim, a transplantação renal em doentes com infecção VHC, parece ter resultados equivalentes à população geral. 1.Serviço de Gastrenterologia, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 2.Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal, Hospital Santa Cruz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 6 7 FACTORES DE RISCO PARA FOCOS DE CRIPTAS ABERRANTES NA COLITE ULCEROSA Freire P.*1, Figueiredo P.1, Cardoso R.1, Donato M.M.1, Ferreira M.1, Mendes S.1, Cipriano M.A.2, Silva M.R.2, Ferreira A.M.1, Vasconcelos H.3, Portela F.1, Sofia C.1. Introdução: Os focos de criptas aberrantes (FCA) foram identificados como biomarcadores de cancro colorectal (CCR) esporádico e, mais recentemente, de displasia/CCR associado a colite ulcerosa (CU). Importa, neste contexto, identificar factores de risco para FCA, área que, até à data, apenas foi explorada fora do âmbito da doença inflamatória intestinal. Objectivo: Identificar factores de risco para FCA na CU. Doentes e métodos: Estudo prospectivo que incluiu 76 doentes com CU distal/extensa com > 8 anos de evolução e sem história de colangite esclerosante primária e/ou de neoplasia intra-epitelial. Efectuou-se cromoendoscopia com azul de metileno no recto distal e, de seguida, pesquisaram-se e contabilizaram-se os FCA. Dados clínicos e demográficos foram obtidos pela consulta do processo clínico e através de questionário realizado no momento da inclusão no estudo. Pesquisaram-se associações de diversos factores com a prevalência e o número de FCA, através de análises univariada e multivariada. Resultados: Detectaram-se FCA em 46 doentes (60,5%) com um número médio por doente de 2,4±2,8. A prevalência de FCA foi significativamente superior nos doentes com história familiar de CCR (100% vs 56,5%; p=0,038) verificando-se também uma tendência de associação positiva com o índice de massa corporal (IMC) (p=0,055). Detetou-se um número de FCA significativamente superior nos doentes com idade > 40 anos (2,8 ± 3,0 vs 1,4 ± 2,0; p = 0,032), com história familiar de CCR (4,14 ± 3,6 vs 2,2 ± 2,7; p=0,044) e com IMC mais elevados (0, 1,9±2,6, 2,6±3,1, 3,7±2,5, para IMC <18,5, 18,5–24,9, 25–29,9 e >30, respectivamente; p=0,028). Na análise multivariada apenas a associação com o IMC manteve a significância estatística (p=0,030). Conclusões: Nos doentes com CU de longa evolução sem história de colangite esclerosante primária e/ou de neoplasia intra-epitelial constituem factores de risco para FCA a história familiar de CCR e IMC elevado. 1 - Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 2 - Serviço de Anatomia Patológica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 3 - Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Leiria – Pombal 7 8 UTILIDADE DA ENDOSCOPIA POR CÁPSULA NA ORIENTAÇÃO TERAPÊUTICA DE DOENTES COM DOENÇA DE CROHN Santos-Antunes J, , Cardoso H, , Marques M, , Magro F, , Nunes ACR, , Lopes S, , Macedo G. Introdução e Objectivos: A endoscopia por cápsula (VCE) é um importante meio diagnóstico para avaliar a extensão da Doença de Crohn. As recomendações internacionais referem que métodos imagiológicos (entero-TC ou RMN) são a primeira linha, ficando a VCE reservada para quando a imagiologia é negativa. O seu papel na doença de Crohn confirmada não está bem estabelecido. O objetivo deste trabalho foi avaliar a utilidade da VCE no Crohn, nomeadamente em termos de mudança de estratégia terapêutica. Métodos: Análise das VCE efectuadas em doentes com Crohn entre Janeiro de 2011 e Fevereiro de 2014. Resultados: De 542 VCE, 135 foram efectuadas em doentes com Doença de Crohn, para confirmação diagnóstica (22%), suspeita de envolvimento proximal (54%), avaliação pós-operatória (7%) ou para reavaliação do intestino delgado por agravamento clínico (6%) ou aumento dos biomarcadores (11%). A quase totalidade dos exames foi efectuada após cápsula de patência. A maioria apresentava fenótipo não estenosante/não penetrante (81%). Os doentes eram maioritariamente do género feminino (56%), com idade média de 40±13 anos. A doença foi estadiada como ileal em 70% dos casos, cólica em 9% e ileocólica em 21%; 36% tinha envolvimento do tubo digestivo superior. Excluindo os 29 doentes submetidos para estabelecimento diagnóstico, a VCE determinou alterações terapêuticas em 42 (40%) doentes. Antes da VCE, 43% encontravam-se sob 5ASA, 36% sob imunossupressores e 21% biológicos, enquanto que após VCE apenas 21% se manteve sob 5ASA, estando os restantes sob imunossupressores (54%) e biológicos (25%); globalmente, 56% não estavam imunossuprimidos antes, e apenas 22% mantiveram-se sem imunossupressão após o exame (p<0.001). Doentes que modificaram a terapêutica apresentaram valores medianos de score de Lewis mais elevados (1446 vs 552, p=0.006). Conclusão: A VCE demonstrou ser um exame útil no seguimento de doentes com Crohn, uma vez que levou a uma mudança de atitude terapêutica num elevado número de casos. Serviço de Gatrenterologia, Centro Hospitalar S. João 8 Comunicações Orais - Fígado I 1 OS NOVOS DOENTES COM HEPATITE C: CARACTERIZAÇÃO DEMOGRÁFICA, VIROLÓGICA E ESTÁDIO DE DOENÇA DOS REFERENCIADOS “DE NOVO” A UMA CONSULTA HOSPITALAR Russo P., Costa M.N., Silva M.J., Côrte-Real R., Calinas F. Introdução e Objetivo: Aceita-se que 2/3 dos infetados pelo VHC em Portugal estejam por diagnosticar/estudar. É plausível que estes desconhecidos se possam assemelhar aos presentemente referenciados “de novo” a uma consulta e que sejam distintos da casuística global enviesada pela retenção, ao longo de 2 décadas, de não-tratados ou não-respondedores ao tratamento. Pretendemos caracterizar os novos casos referenciados a uma consulta de Hepatologia. Doentes e Métodos: Doentes referenciados entre 2010-2013 a consulta hospitalar de Hepatologia. Incluídos todos aqueles com estudo para decisão terapêutica concluído. Analisadas características demográficas, virológicas e estádio da doença: genotipagem VHC por VERSANT® HCVGenotype 2.0, LiPA; graduação fibrose (METAVIR) por FibroScan® ou biopsia. Resultados: Avaliados 279 doentes (203 homens - 72,8%) com idade média de 47 anos. Distribuição por genótipos: G1 em 161 doentes (57,7%), dos quais, 1a-105 (37,6%), 1b-52 (18,6%), 1(s/subtipo)-4; G2 em 4 doentes (1,4%); G3 em 68 (24,4%); G4 em 44 (15,8%); G5 e G6 em 1 doente, cada. Distribuição dos graus de fibrose:F0-1: 146 doentes(52,3%), F2: 38 (13,6%), F3: 31 (11,1%), F4: 64 (22,9%). Na tabela, apresenta-se a distribuição proporcional dos graus de fibrose de acordo com genótipo VHC: G1a (n=105) G1b (n=52) G3 (n=68) G4 (n=44) F0-F1 56% 44% 43% 66% F2 13% 19% 9% 16% F3 13% 8% 16% 2% F4 17% 29% 32% 16% Média de idades dos doentes com F0-2 e F3-4 de 44,0 e 51,3 anos, respetivamente. Média de idades dos infetados pelos genótipos 1a, 1b, 3 e 4: 45,9; 52,1; 47,2 e 43,9 anos, respetivamente. Conclusões: Dominio do genótipo 1a vs 1b e incremento do genótipo 4 face a séries anteriores. A doença avançada está presente em cerca de 1/3 dos novos casos, afeta particularmente os infetados pelo genótipo 3 e é diagnosticada em torno dos 50 anos de idade. Serviços de Gastrenterologia e de Patologia Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE 9 2 SÍNDROME HEPATOPULMONAR EM CRIANÇAS CANDIDATAS A TRANSPLANTE HEPÁTICO Joana Amaral, Susana Nobre, Maristela Margatho, Sandra Ferreira, Isabel Gonçalves, Emanuel Furtado INTRODUÇÃO: Síndrome hepatopulmonar (SHP) carateriza-se por hipoxémia progressiva secundária a dilatações vasculares intrapulmonares (DVIP), que surgem no decurso de doença hepática crónica e/ou hipertensão portal. O transplante hepático (TH) é a única opção curativa. Objetivos: determinar prevalência de DVIP/SHP e evolução/complicações pós-transplante numa população pediátrica candidata a TH. MATERIAL/MÉTODOS: Análise retrospetiva dos dados clínicos dos candidatos a TH (2004 a 2014), com menos de 18 anos, submetidos a rastreio de DVIP/SHP (cintigrafia de perfusão pulmonar - CPP - com 99m TcMAA). Determinação das seguintes variáveis: hepatopatia subjacente, cirrose e/ou hipertensão portal, tempo entre diagnóstico da hepatopatia e DVIP/SHP, índice de shunt (IS) pré e pós-TH, complicações pósoperatórias/evolução. RESULTADOS: Nos 10 anos analisados, foram submetidas a rastreio de DVIP/SHP 81 crianças (44 rapazes), a maioria com atrésia das vias biliares extra-hepáticas (40,7%). Dezanove (23,5%) apresentavam CPP positiva (IS>6%), das quais, 9 preenchiam critérios de SHP (PaO2<80mmHg) e 4 de DVIP (PaO2>80mmHg). Nas restantes 6, não havia registo da PaO2. O tempo médio até deteção de CPP positiva foi 4 anos e 9 meses (mínimo 4 meses). Foram transplantadas 51/81 crianças rastreadas, 13 das 19 com CPP positiva (8 com SHP, 3 com DIVP). Demora entre CPP positiva e TH foi 7 meses (mínimo 25 dias).O tempo médio de internamento na UCI foi semelhante nos doentes com CPP normal e positiva, mas os últimos necessitaram de ventilação mecânica (VM) mais prolongada (média de 18 vs 14 horas). Ocorreram mais episódios de trombose vascular em doentes com CPP positiva (7/13 vs 5/38). No pós-transplante, 6/13 com CPP positiva repetiram o exame (média 7,5 meses); 3 normalizaram o IS. CONCLUSÕES: A prevalência de SHP foi elevada (11,1%). Estes doentes necessitaram de mais tempo de VM e apresentaram maior risco de trombose vascular. A profilaxia antitrombótica individualizada deve ser considerada nestes doentes. Unidade de Transplantação Hepática Pediátrica e de Adultos do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E 10 3 EVOLUÇÃO DOS INTERNAMENTOS HOSPITALARES POR CIRROSE HEPÁTICA E SUAS COMPLICAÇÕES EM PORTUGAL ENTRE 2003 E 2012 Silva M.J.(1), Costa M.N.(1), Rosa M.(2), Nogueira P.(2), Esteves J. (1), Calinas F.(1) INTRODUÇÃO: A redução gradual do consumo de álcool e o aumento da severidade da doença hepática associada ao VHC nas últimas décadas podem estar a representar um impacto significativo no peso da cirrose hepática em Portugal, que carece de melhor caracterização. Pretende-se com este trabalho avaliar a tendência evolutiva dos internamentos hospitalares por cirrose hepática (CH) e suas complicações nos últimos anos em Portugal. MATERIAL E MÉTODOS: Analisados os internamentos hospitalares ocorridos entre 2003 e 2012, registados na base de dados dos GDH (ACSS), com: diagnóstico principal de CH; diagnóstico principal de carcinoma hepatocelular (CHC) em doentes com diagnóstico secundário compatível com CH; ou diagnóstico principal de descompensação de CH em doentes com diagnóstico secundário compatível com CH. RESULTADOS: Durante o período analisado, o número de internamentos por todas as causas analisadas (CH, descompensações de CH e CHC) oscilou entre o máximo de 7352 em 2004 e o mínimo de 6268 em 2009. Nos internamentos por CH ou descompensação de CH assistiu-se a um decréscimo de 17% entre 2003 (6917 episódios) e 2009 (5736 episódios), seguido de uma tendência crescente nos últimos três anos analisados (para 6495 episódios em 2012); significando uma redução global de 6,1% entre 2003 e 2012. O número de internamentos por CHC aumentou gradualmente desde 2003 (304 episódios) até 2012 (738 episódios), representando um incremento superior a 140% numa década. CONCLUSÕES: Assistiu-se a uma redução do número de internamentos por CH e suas descompensações entre 2003 e 2009, seguida de aumento até 2012, o que poderá reflectir uma mudança das etiologias de CH. Ao longo dos dez anos analisados é evidente o aumento do impacto do carcinoma hepatocelular como causa de internamento hospitalar. (1) Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE (2) Direcção-Geral da Saúde 11 4 PAPEL DA QUANTIFICAÇÃO DO AGHBS NA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE DE PORTADORES INACTIVOS DO VÍRUS DA HEPATITE B Silva M.J.(1), Costa M.N.(1), Russo P.(1), Côrte-Real R.(2), Calinas F.(1) INTRODUÇÃO e OBJECTIVOS: Na fase de verdadeiro portador inactivo (PI) do vírus da hepatite B (VHB), por convenção definida por transaminases abaixo do limite superior do normal (LSN), carga viral VHB <2.000UI/mL e ausência de actividade histológica, está indicada apenas vigilância. É recomendada atitude semelhante para os doentes com carga viral até 20.000UI/mL, desde que mantenham transaminases normais. Na hepatite B crónica antigénio HBe (AgHBe)-negativa (HBC) está recomendada terapêutica antiviral. Assim, pelas suas implicações prognósticas e terapêuticas, a distinção entre PI e HBC deve ser estabelecida o mais precocemente possível. Pretende-se avaliar o papel da quantificação sérica do AgHBs na identificação de portadores inactivos de VHB. DOENTES E MÉTODOS: Incluídos mono-infectados pelo VHB, AgHBe negativos, sem experiência terapêutica, com determinações em simultâneo de: ALT<LSN, ADN-VHB<20.000UI/mL e quantificação de AgHBs (qAgHBs). Após revisão das restantes avaliações laboratoriais (mínimo 3 no total) classificaram-se os doentes como PI ou HBC e analisou-se o papel do qAgHBs na identificação de PI. RESULTADOS: Identificados 33 doentes, 17 (51,5%) do sexo feminino. A distribuição por genótipos (N=20) foi: genotipo A 45%(n=9), genotipo D 15%(n=3), genotipo E 35%(n=7), genotipo F 5% (n=1). Vinte e seis (78,8%) doentes mantiveram viremias <20.000UI/mL e ALT normal; nestes a mediana de qAgHBs foi 4.652UI/mL [11;34.250]. Nos sete doentes que vieram a ser diagnosticados como HBC, a mediana de qAgHBs foi 8.165UI/mL[4.170;28.560]. Todos os doentes com qAgHBs?2.438UI/mL (n=12; 36,4% do total) mantiveram viremias <20.000UI/mL e ALT normal. Valores de qAgHBs>2.438UI/mL foram observados em doentes PI e com HBC. CONCLUSÕES: Os resultados sugerem que a quantificação do AgHBs permite a identificação de indivíduos com evolução laboratorial compatível com portador inactivo numa avaliação isolada. (1) Serviço de Gastrenterologia e (2) Serviço de Patologia Clínica do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE 12 5 POSTOPERATIVE RESOURCE UTILIZATION AND SURVIVAL AMONG LIVER TRANSPLANT RECIPIENTS WITH A MELD SCORE GREATER THAN OR EQUAL TO 40: A RETROSPECTIVE COHORT STUDY Filipe S. Cardoso, Constantine J. Karvellas, Norman Kneteman, Glenda Meeberg , Pedro Fidalgo , Sean M. Bagshaw Introduction: Cirrhotic patients with Model for End-stage Liver Disease (MELD) score ?40 have high risk of death without liver transplant (LT). This study aimed to evaluate these patients’ outcomes after transplant. Methods: The retrospective cohort included 519 adult cirrhotic patients who underwent LT at one Canadian center between 2002 and 2012. Primary exposure was severity of end-stage liver disease measured by MELD score at transplant (?40 vs. <40). Primary outcome was duration of first intensive care unit (ICU) stay after LT. Secondary outcomes were duration of first hospital stay after LT, rate of ICU readmission, re-transplant rate, and survival rates. Results: On the day of LT, 5% (28/519) of patients had a MELD score ?40. These patients had longer first ICU stay after LT (14 vs. 2 days; p <0.001). MELD score ?40 at transplant was independently associated with first ICU stay after transplant ?10 days (OR, 3.21). These patients had longer first hospital stay after LT (45 vs. 18 days; p <0.001); however, there was no significant difference in the rate of ICU readmission (18% vs. 22%; p = 0.58) or retransplant rate (4% vs. 4%; p = 1.00). Cumulative survival at 1 month, 3 months, 1 year, 3 years, and 5 years was 98%, 96%, 90%, 79%, and 72%, respectively. There was no significant difference in cumulative survival stratified by MELD score ?40 vs. <40 at transplant (p = 0.59). Conclusions: Cirrhotic patients with MELD score ?40 at transplant utilize greater postoperative health resources; however, derive similar long-term survival benefit with LT. References: Shawcross DL, Austin MJ, Abeles RD et al. The impact of organ dysfunction in cirrhosis: survival at a cost? J Hepatol 2012; 56(5):1054-62. Alexopoulos S, Matsuoka L, Cho Y et al. Outcomes after liver transplantation in patients achieving a model for end-stage liver disease score of 40 or higher. Transplantation 2013; 95(3):507-12. Oberkofler CE, Dutkowski P, Stocker R et al. Model of end stage liver disease (MELD) score greater than 23 predicts length of stay in the ICU but not mortality in liver transplant recipients. Crit Care 2010; 14(3):R117. Univeristy of Alberta Hospital, University of Alberta, Edmonton, Alberta, Canada 13 6 TERMOABLAÇÃO POR MICRO-ONDAS OU RADIOFREQUÊNCIA NA ABORDAGEM DAS NEOPLASIAS MALIGNAS HEPÁTICAS? Oliveira A., , Campos S., Giestas S., Almeida N., Casela A., Souto P., Gomes D., Agostinho A. G., Alves F. Sofia C. Introdução: O carcinoma hepatocelular (CHC) e as metástases hepáticas (MH) apresentam uma incidência crescente e existem diversas opções terapêuticas locorregionais. A termoablação por radiofrequência (RF) é a mais frequentemente utilizada mas, a termoablação por micro-ondas (MO) poderá apresentar algumas vantagens. O objetivo deste trabalho é comparar estas duas técnicas em termos de eficácia e complicações. Doentes e Métodos: Estudo retrospetivo de todos os doentes com CHC ou MH submetidos a termoablação no período de Janeiro a Agosto de 2013, com um follow-up mínimo de 6 meses. Todos os doentes apresentavam avaliação ecográfica com contraste imediatamente após o procedimento e por TC ou ecografia ao mês e seis meses. Foram divididos em dois grupos (RF-Grupo A; MO-Grupo B) e comparada eficácia imediata e a médio prazo da terapêutica. Resultados: Incluíram-se 25 doentes (RF-14; MO-11). Predomínio do sexo masculino em ambos os grupos (A-78,6%; B-90,9%), sem diferença na média etária (A-68 anos; B-70 anos). Não houve diferença na etiologia da lesão (Grupo A: CHC-50%; MH-50%; Grupo B: CHC-54,5%; MH-45,5%), na localização da(s) mesma(s) a nível dos segmentos hepáticos ou no recurso a quimioembolização prévia (Grupo A-14%; Grupo B-27%). O número médio de nódulos foi 1,5 em ambos os grupos mas as lesões foram consideravelmente maiores no grupo da RF (Grupo A-24 mm; Grupo B-43 mm; p<0,001). Não se registaram diferenças significativas nas taxas de sucesso imediato (Grupo A-62.5%; Grupo B-60%-p=0,91), ao 1º mês (Grupo A53,8%; Grupo B-44,4%-p=0,67) e aos 6 meses (Grupo A-40%; Grupo B-50%-p=0,81). Também não houve diferença na taxa de complicações, duas em cada técnica: Grupo A-hematoma e infeção; Grupo Bhemorragia e abcesso hepático. Conclusão: Ambas as técnicas de termoablação são eficazes e seguras no tratamento do carcinoma hepatocelular e metástases hepáticas. Contudo, a ablação por micro-ondas permite o tratamento de lesões maiores sem aparente prejuízo da eficácia. Serviços de Gastrenterologia e Imagiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 14 Comunicações Orais - Doença Inflamatória Intestinal 1 MANIFESTAÇÕES OTORRINOLARINGOLÓGICAS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL – ESTUDO PILOTO Oliveira A. (1), Ribeiro J. C. (2), Freire P. (1), Ferreira M. (1), Portela F. (1), Sofia C (1). Introdução: As manifestações extraintestinais são frequentemente reconhecidas na doença inflamatória intestinal (DII) afetando a pele, olhos, articulações e sistemas hepatobiliar e renal. Alguns casos esporádicos de alterações otorrinolaringológicas foram descritos em doentes com DII, no entanto, a real incidência e prevalência das alterações otológicas nestes doentes não se encontram descritas. O objetivo deste trabalho é verificar a prevalência de manifestações otorrinolaringológicas em doentes com DII e avaliar uma eventual correlação com a atividade/evolução da doença. Material e métodos: Estudo prospetivo de doentes com colite ulcerosa ou doença de Crohn, referenciados à consulta de ORL para avaliação clínica estruturada. Excluíram-se os doentes com outras patologias autoimunes sistémicas, patologia auditiva, trauma acústico e história de cirurgia otológica. Foi utilizada a Classificação de Montreal para caracterização da DII e o Índice de Harvey Bradshaw e Montreal para a actividade da doença Crohn e colite ulcerosa, respectivamente. Valores normais de timpanometria entre 0,3-1,4cc. Resultados: Incluíram-se 25 doentes, 14 com colite ulcerosa e 11 com doença de Crohn. Treze do sexo feminino e doze do sexo masculino, com uma média etária de 40±11 anos. Tempo médio de evolução da doença: 10±7 anos. Verificou-se que a compliance do ouvido estava aumentada em 48% dos doentes, com um valor médio de 2,0±2,6cc. Observou-se a presença de acufenos em 7 doentes (28%), ulceras laríngeas em 4 (16%), crostas nasais em 4 (16%) e perfuração septal anterior em 3 (12%). Não se encontrou relação entre os achados e o tipo e atividade da doença, autoanticorpos, outras manifestações extraintestinais e medicação. Conclusão: Há uma alteração significativa da função do ouvido médio assim como um aumento na frequência de acufenos em relação à população geral (14%). Apesar da limitação imposta pelo tamanho da amostra, estes dados preliminares, sugerem que a avaliação auditiva nos doentes com DII deve ser realizada como rotina. Serviços de Gastrenterologia (1) e Otorrinolaringologia (2) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 15 2 ISQUEMIA SILENCIOSA DO MIOCÁRDIO NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Coelho R.1, , Vieira T. 2, Oliveria A.2, Pereira J.2, Magro F.1,3,4, Macedo G.1, Introdução e objectivos: Reportou-se recentemente maior incidência de doença cardiovascular e de eventos cardíacos prematuros nos doentes com doença inflamatória intestinal (DII). O objectivo foi avaliar a prevalência de isquemia silenciosa do miocárdio numa população com DII, através de cintigrafia de perfusão do miocárdio com Tc-99m-tetrafosmina. Material: Incluídos 26 doentes (17 com Doença de Crohn (DC) e 9 com Colite Ulcerosa (CU)) com diagnóstico >3 anos e em remissão clínica >3 meses. Foram analisados alterações de perfusão (summed stress score (sss)), espessamento (summed thickening score (sts)) e motilidade (summed motility score (sms)), e fracção de ejeção em repouso e após stress (administração de adenosina). Calculou-se o índice de massa corporal através da fórmula peso/altura2. Resultados: A maioria dos doentes era do sexo feminino (11/26) e a idade mediana foi de 41,5 (IQR 37-49) anos. A maioria dos doentes (22/26) eram não fumadores e nenhum referia antecedentes de factores de risco cardiovascular. Cálculo do IMC mediano 24,4 (21,38-27,83)kg/m2. A prevalência de defeitos na perfusão (DP) ligeiros a moderados, ie, sss?3 foi de 5/26 (19.23%), um dos doentes apresentando DP moderado (sss?9). Não existiu relação entre a presença de isquemia ligeira a moderada e IMC >25kg/m2. Dos 26 doentes, 11 apresentaram alterações da motilidade (sms?3) e destes 10 tinham alterações de espessamento (sts?3) . A fracção de ejecção em repouso e após stress mediano foi de 69% (IQR 51-75) e 60% (IQR 55-70), respectivamente. Dos doentes com defeitos de perfusão, 4/5 tinham DC (todos com fenótipo penetrante) e o doente com CU apresentava pancolite. Dois dos doentes com DC encontravam-se sob terapêutica combinada com azatioprina e anti-TNF e o doente com pancolite sob messalazina. Conclusões: A prevalência de isquemia do miocárdio nos doentes com DII bem como as alterações da motilidade e espessamento do miocárdio foram elevadas para esta faixa etária. 1– Serviço de Gastroenterologia do Hospital de São João. 2– Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de São João. 3- Departamento de Farmacológia da Faculdade de Medicina do Porto. 4- MedinUP, Center for Drug Discovery and Innovative Medicines. 16 3 FACTORES DE RISCO PARA NEOPLASIA INTRA-EPITELIAL NA COLITE ULCEROSA – ESTUDO TRANSVERSAL Freire P.*1, Figueiredo P.1, Cardoso R.1, Donato M.M.1, Ferreira M.1, Mendes S.1, Cipriano M.A.2, Silva M.R.2, Ferreira A.M.1, Vasconcelos H.3, Portela F.1, Sofia C.1. Introdução: À colite ulcerosa (CU) associa-se risco aumentado de cancro colo-rectal (CCR). A identificação de factores de risco para CCR é importante para aprimorar o rastreio. Os factores de risco identificados resultaram, maioritariamente, de estudos retrospectivos provenientes de centros de referência envolvendo doentes de risco elevado. Objectivo: Identificar factores de risco para NIE em doentes com CU de longa evolução sem história de colangite esclerosante primária (CEP) e/ou neoplasia intra-epitelial (NIE). Doentes e métodos: 150 doentes com CU distal/extensa com > 8anos e sem história de CEP e/ou NIE foram, prospectivamente, rastreados através de colonoscopia com biopsias aleatórias seriadas (n=77) ou endomicroscopia confocal guiada por cromoendoscopia (n=73). No grupo da cromoendoscopia foi realizada pesquisa e contabilização dos focos de criptas aberrantes (FCA) no recto. Resultados: Detectou-se NIE em 10 doentes (6,7%). Os doentes com NIE tinham um número de FCA significativamente superior ao dos doentes sem NIE (4,83±3,13 vs 2,17±2,78, p=0,029). A prevalência de FCA foi de 100% nos doentes com NIE e de 56,7% dos doentes sem NIE (p=0,056). Embora sem atingir significado estatístico, verificou-se uma tendência para associação entre o risco de NIE com idades mais avançadas (57,90±13,52 vs 49,51±14,26, p=0,070) e maior tempo de evolução da doença (22,40±10,26 vs 16,37±7,73, p=0,059). Verificou-se, igualmente, uma tendência para menor prevalência de toma de messalazina oral nos doentes com NIE (70% vs 90%, p= 0,054). A idade de diagnóstico, a extensão da doença, a existência de pseudo-pólipos, os hábitos tabágicos, a história familiar de CCR e o índice de massa corporal não revelaram associação significativa com o risco de NIE. Conclusão: Na CU de longa evolução sem história de CEP e/ou NIE são factores de risco para NIE - a prevalência/número de FCA, a idade avançada, a maior duração da doença e a inexistência de toma de messalazina oral. 1 - Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 2 - Serviço de Anatomia Patológica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 3 - Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Leiria – Pombal 17 4 AVALIAÇÃO DA ACTIVIDADE NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL UTILIZANDO 2 MÉTODOS DE QUANTIFICAÇÃO DA CALPROTECTINA FECAL Fernandes S., Sousa P., Moura M., Beja Manaças M., Alves J., Correia L., Moura Santos P., Valente A., Gonçalves A. , Baldaia C., Proença H., Velosa J. Introdução: O curso clínico dos doentes com Doença de Crohn (DC) e Colite Ulcerosa (CU) é marcado por períodos de remissão e actividade inflamatória. Devido à baixa correlação entre a avaliação clínica e a actividade endoscópica, são necessários marcadores objectivos da inflamação. A calprotectina fecal (CF) é um marcador não invasivo que demonstrou ser útil na avaliação da inflamação intestinal. Objetivos: Avaliar o desempenho da CF na detecção de actividade endoscópica e correlação com os restantes marcadores inflamatórios. Métodos: A CF foi determinada utilizando um “fluorenzimoimunoensaio, ELIA-Calprotectin (ThermoFisher)” (ELIA) e um teste “point-of-care High-range-Quantum-Blue®-Calprotectin (Bühlmann)” (POCT). A actividade foi avaliada utilizando scores clínicos (Harvey-Bradshaw e Mayo), analíticos (proteínaC-reactiva (PCR), velocidade de sedimentação e leucograma) e endoscópicos (SES-CD e Mayo). Resultados: Avaliaram-se 56 doentes (39 DC, 17 CU) e 12 controlos sem doença. A CF ELIA e POCT foi determinada nos controlos (61,1 mg/Kg e 84,7 µg/g), CU em remissão (70,7 mg/Kg e 195,1 µg/g) e DC em remissão (162,8 mg/Kg e 429,8 µg/g). Nos doentes em actividade os valores de CF ELIA e POCT foram superiores - DC (543,1 mg/Kg e 1001,0 µg/g), CU (6906,3 mg/Kg e 2732,2 µg/g). Valores inferiores a 226 mg/Kg (EIA) e 174 µg/g (POCT) predisseram doença inactiva com sensibilidade 82,8% e 80,6% e especificidade 85,0% e 100% respectivamente. A correlação entre os dois métodos foi 0,802 (p<0,01). Verificou-se correlação significativa com os neutrófilos (r=0,419 e r=0,468), PCR (r=0,516 e r=0,543) e score Mayo clínico (r=0,874 e r=0,877) e endoscópico (r=0,788 e r=0,852). A correlação da CF não foi significativa para os scores na DC. Discussão: Independentemente do método utilizado, a CF apresentou boa correlação com os métodos analíticos, com boa capacidade em distinguir doença activa de inactiva. São necessários estudos adicionais para determinar a capacidade em distinguir diferentes subgrupos de actividade endoscópica na DC. Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 18 5 FÍSTULA PERIANAL CRIPTOGLANDULAR OU ASSOCIADA À DOENÇA DE CROHN? CONTRIBUTO DA ULTRASSONOGRAFIA PARA O DIAGNÓSTICO Dias de Castro F.1, Boal Carvalho P.1, Magalhães J.1, Leite S.1, Moreira MJ.1, Cotter J.1,2,3 Introdução e objectivo: A ecografia endoanal apresenta uma boa acuidade diagnóstica para fístulas perianais, nomeadamente fístulas associadas à doença de Crohn (DC). Várias características ultrassonográficas têm sido estudadas para distinguir os diferentes tipos de fístulas (criptoglandulares ou associadas à DC). O objectivo deste trabalho foi identificar características ultrassonográficas que permitam distinguir as fístulas perianais criptoglandulares das associadas à DC. Material e métodos: Estudo retrospectivo que incluiu 58 doentes submetidos a ecografia endoanal 2D entre 2008 e 2013. As variáveis estudadas foram a complexidade das fístulas perianais, a presença de trajectos secundários, o diâmetro transversal e a presença de conteúdo hiperecogénico (debris). Para os doentes com DC foi calculado o índice de actividade da doença perianal adaptado (PDAI excluindo a influência na actividade sexual). A análise estatística foi realizada com o SPSS vs 20.0, um valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Resultados: Incluídos 58 doentes, 48% com DC com PDAI médio de 7,6±3,2. Nos doentes com DC, um PDAI mais elevado associou-se estatisticamente a fístulas complexas (8,5 vs 5,5, p=0,028). 38% dos doentes já tinham sido submetidos a cirurgia para correcção de fístulas perianais. As características ultrassonográficas que se correlacionaram com a presença de fístulas associadas à DC foram a complexidade (OR:5; IC95% 1,615,3; p=0,004), a presença de trajectos secundários (OR:3,2; IC95% 1,1-9,5; p=0,036) e a presença de conteúdo hiperecogénico (OR:5,9; IC95% 1,6-15,3; p=0,002). Não se verificou diferença entre as fístulas criptoglandulares e as fístulas associadas à DC no que diz respeito ao diâmetro transversal (4,1mm vs 4,9mm, p=0,24). Conclusões: Para além da complexidade das fístulas, a presença de debris e de trajectos secundários revelam-se factores preditivos da presença de fístulas associadas à DC. 1 – Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães – Portugal; 2- Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal; 3– Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 19 6 A AMPLITUDE DE DISTRIBUIÇÃO DOS GLÓBULOS VERMELHOS (RDW) PODE SER CONSIDERADO COMO UM MARCADOR DE ATIVIDADE DA DOENÇA DE CROHN? - UM ESTUDO DE BASE POPULACIONAL Oliveira A.M., Sousa Cardoso F., Lourenço L., Branco J., Graça Rodrigues C., Santos L., Martins A., Reis J., Ramos Deus J. Introdução: Recentemente, tem vindo a ser sugerida uma associação entre o valor de RDW e a atividade da doença de Crohn (DC), mas a sua utilização não está ainda implementada na prática clínica diária. Objetivos: Determinar se o RDW pode ser utilizado como marcador de atividade da DC. Métodos: Estudo transversal, em doentes com DC, observados consecutivamente em consulta de Doença Inflamatória Intestinal, entre 1 de Janeiro e 30 de Setembro de 2013. Analisaram-se índices do hemograma, proteína C reativa e velocidade de sedimentação. A gravidade da doença foi avaliada pelo Crohn´s disease activity index (doença activa se CDAI?150). As associações foram estudadas usando a regressão logística (SPSS Statistics V20). Resultados: Incluídos 119 doentes (56% do sexo feminino), com idade média de 47 anos (19-81 anos). Vinte doentes (16,8%) tinham doença ativa. O valor do RDW mediano foi 13,7% (12,8-14,7). Verificou-se uma associação entre RDW e atividade da doença (Odds ratio [OR], 1,18; IC95%, 1,03-1,35; p=0,019). Após ajuste para a idade e o sexo, esta associação manteve-se consistente (OR 1,20; IC 95%; 1,031,39; p=0,019), com uma AUROC (Area under ROC curve) de 0,68 (p = 0,01). Verificou-se ainda que a associação do valor do RDW com a atividade da doença foi independente do valor da velocidade de sedimentação (OR 1,34; IC95% 1,07-1,66; p=0,009), com uma AUROC de 0,73 (p = 0,01). Para um valor de corte de RDW de 16%, a especificidade e o valor preditivo negativo foram de 88% e 86%, respetivamente (p = 0,04). Conclusão: O valor do RDW demonstrou ser um marcador independente e relativamente específico da atividade da doença de Crohn. Estes resultados poderão contribuir para a aplicação deste parâmetro simples, na prática clinica diária, visando auxiliar decisões terapêuticas. Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 20 Instantâneos-Vídeos I 1 ACALÁSIA OPERADA – DESAFIO CLÍNICO E TERAPÊUTICO Costa Santos V., Nunes N., Inoue H., Ikeda H., Ávila F., Massinha P., Rego A.C., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. A miotomia de Heller, o procedimento cirúrgico de primeira linha na terapêutica da acalásia, apresenta uma taxa de insucesso de 3,5 a 15%. Nestes casos, a eficácia da re-intervenção cirúrgica é controversa. A dilatação pneumática, por outro lado, apresenta uma elevada taxa de sucesso, mas o risco de perfuração é considerável. Apresenta-se o caso de uma doente do sexo feminino, 25 anos, com história de acalásia diagnosticada há 5 anos, submetida miotomia de Heller laparoscópica, com fundoplicatura de Dor, que decorreu sem complicações, com resolução total da sintomatologia. Seis meses após, a doente refere reaparecimento da disfagia, inicialmente intermitente e apenas para sólidos. A endoscopia digestiva alta mostrou discreta dificuldade na passagem da transição gastro-esofágica (TGE). Realizou manometria, pHmetria e impedância, que revelaram um esfíncter esofágico inferior com pressão de repouso baixa (4 mmHg) e com relaxamento normal, bem como refluxo não-ácido. Verificou-se agravamento progressivo da disfagia (sólidos e líquidos), bem como perda ponderal e dor retroesternal (score de Eckardt 10). Realizou trânsito esofágico, observando-se um estreitamento do esófago distal, com dilatação sacular a montante (grau II). Excluídas outras causas que justificassem as queixas, a doente foi proposta para miotomia endoscópica da acalásia (POEM). Foi realizada uma abordagem posterior, evitando-se assim o local da anterior cirurgia: efetuou-se incisão às 7 horas, 13 cm acima da TGE, e foi criado um túnel submucoso; seguiu-se uma miotomia seletiva das fibras circulares, 2 cm abaixo da incisão, numa extensão distal de 13 cm. Houve melhoria significativa das queixas. Dez meses após o procedimento, a doente refere apenas disfagia esporádica, para sólidos, negando outras queixas (score de Eckardt 1). Apresenta-se este caso pela dificuldade no diagnóstico e na escolha da terapêutica mais adequada, bem como pelo sucesso da miotomia endoscópica em doente previamente operada, com resolução quase total das queixas e sem complicações. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada 21 2 COLOCAÇÃO DE PRÓTESE BILIAR METÁLICA AUTO-EXPANSÍVEL POR CPRE ASSISTIDA POR ENTEROSCOPIA DE MONO-BALÃO: DESCRIÇÃO DE UMA NOVA TÉCNICA Fernandes C.1, Pinho R.1, Proença L.1, Alberto L.1, Pinto-Pais T.1, Ribeiro I.1, Pereira T.2, Fraga J.1, Carvalho J.1 Mulher, 80 anos, com antecedentes de adenocarcinoma gástrico submetido a gastrectomia parcial em YRoux em 2011. Por recidiva neoplásica condicionando estenose biliar, iniciou quadro de icterícia, prurido e subida dos parâmetros colestáticos. Para uma célere e temporária desobstrução da via biliar principal foi submetida a colangiopancreatografia percutânea com colocação de dreno externo. Após estadiamento tumoral, e por indisponibilidade de radiologia de intervenção nas seguintes semanas, a doente foi referenciada ao nosso serviço para tratamento paliativo definitivo, com colocação de prótese biliar metálica autoexpansível (SEMS). Através da técnica de rendez-vous procedeu-se a realização de CPRE assistida por enteroscopia. Após canulação profunda observa-se colangiograma evidenciando estenose no 2/3 distais da via biliar principal. Esfincterotomia sem intercorrências. Posteriormente, por impossibilidade de colocação da prótese biliar (SEMS) através do canal de trabalho do enteroscópio, procedeu-se à sua aplicação por uma nova técnica. Posicionamento do overtube adjacente a papila e realizada injeção submucosa de contraste. Retirada do enteroscópio permanecendo fio-guia. Progressão da prótese biliar (SEMS) sobre fio-guia e através do overtube e posterior abertura com controlo fluoroscópico (Hanarostent NNN 10x100 mm). Apesar de na topografia correta, aparente abertura inadequada da prótese no seu topo proximal. Procedeu-se a colocação de segunda prótese pela mesma técnica, com sucesso. Procedimento sem intercorrências. Doente permaneceu internada durante 6 dias, com melhoria do quadro clínico e analítico. Manteve-se assintomática durante 12 meses, altura em faleceu por progressão da doença. A não compatibilidade entre as próteses biliares metálicas auto-expansíveis e o canal de trabalho do enteroscópio de mono-balão torna a sua aplicação impossível pela técnica trans-the-scope habitual. Os autores descrevem a sua colocação por uma nova técnica. 1 - Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 2 - Serviço de Radiologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 22 3 DRENAGEM BILIAR GUIADA POR ECOENDOSCOPIA NA NEOPLASIA AVANÇADA DO PÂNCREAS – 2 CASOS CLÍNICOS Sofia Vítor, Samuel Fernandes, Rui Palma, Carlos Noronha Ferreira, Luis Carrilho Ribeiro, José Velosa Introdução: A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) representa o método de eleição para drenagem das vias biliares na neoplasia do pâncreas com invasão da via biliar principal. Contudo, em 10% dos doentes, não é possível a sua realização por alteração da anatomia local. Caso clínico 1: Homem de 79 anos, com adenocarcinoma pancreático irressecável, admitido por icterícia obstrutiva. A ecografia abdominal demonstrava massa na cabeça do pâncreas condicionando dilatação a montante das vias biliares e Wirsung. Realizadas tentativas de entubação da via biliar por CPRE sem sucesso, devido à invasão e estenose cerrada da segunda porção do duodeno. Fez-se punção transbulbar da via biliar principal por ecoendoscopia, seguida de colocação de prótese metálica coberta. Assistiu-se à progressiva resolução da colestase que precedeu a alta hospitalar. Caso clinico 2: Mulher de 51 anos, com diagnóstico inaugural de adenocarcinoma do pâncreas em contexto de icterícia obstrutiva. A ecografia abdominal mostrava dilatação das vias biliares intra e extra-hepáticas, associada à presença de nódulo cefálico do pâncreas. Feitas tentativas de CPRE, não conseguidas por estenose inultrapassável do duodeno pré-ampular. Procedeu-se a punção transbulbar da via biliar principal por ecoendoscopia, seguida de colocação de prótese metálica coberta com extremidade distal no bulbo. Em segundo tempo, realizou-se gastrojejunostomia para resolução de obstrução do esvaziamento gástrico. A doente teve alta a tolerar dieta oral e sem colestase. Discussão: A drenagem da via biliar guiada por ecoendoscopia constitui uma excelente alternativa à drenagem biliar transhepática percutânea em doentes com neoplasia do pâncreas e invasão da via biliar principal. Este procedimento permite aceder à via biliar através da técnica transluminal (via transgástrica ou transduodenal) ou rendez-vous (por canulação anterógrada da papila através de uma via biliar intra ou extra-hepática). A colocação de próteses por esta técnica permite resolver quadros de icterícia obstrutiva paliando eficazmente doentes com neoplasia do pâncreas localmente avançada. Servico de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria 23 4 COLANGIOSCOPIA DIRETA NA ABORDAGEM DA LITÍASE INTRA-HEPÁTICA Massinha P., Nunes N., Ávila F., Santos V.C., Rego A.C., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. A litíase intra-hepática é rara nos países Ocidentais e a maioria dos casos descritos estão associados a cálculos da via biliar extra-hepática e a doenças quísticas hereditárias, como a doença de Caroli. O quadro clínico habitual manifesta-se por episódios de colangite de repetição por vezes complicados por abcesso hepático e sépsis. A abordagem terapêutica da litíase intra-hepática, constitui desde sempre, um desafio de difícil resolução. A terapêutica cirúrgica tem sido a abordagem com maior eficácia, havendo no entanto alguns casos descritos de colangioscopia percutânea com eficácia relativa. Da revisão da literatura, por nós efetuada, não foram identificados casos publicados de tratamento da litíase intra-hepática por colangioscopia direta. Apresentamos um caso de uma mulher de 64 anos, internada por quadro de colangite associada a litíase intra-hepática segmentar, com dilatação da via biliar intra-hepática (VBIH) esquerda. A doente apresentava um internamento recente por colangite secundária a coledocolitíase, tratada por colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE), com remoção completa dos cálculos. Posteriormente foi submetida a colecistectomia laparoscópica. No internamento atual, foi realizada colangiopancreatografia por ressonância magnética (CPRM), que mostrou quatro cálculos de aproximadamente 1 cm na VBIH esquerda, acima do hilo hepático. Fez-se tentativa de resolução do quadro por CPRE, tendo sido possível remover apenas um dos cálculos. No mesmo tempo anestésico, realizou-se colangioscopia direta com o gastroscópio GIF Q 180 da Olympus, que permitiu a extração dos restantes cálculos (dois com balão de remoção, e um com pinça de “dente de rato”, sob visualização direta.) A colangioscopia direta, em casos selecionados, pode ser uma alternativa eficaz à terapêutica cirúrgica para o tratamento de litíase intra-hepática. Neste caso, foi possível a realização de colangioscopia direta, com remoção completa dos cálculos. Apresenta-se iconografia imagiológica e endoscópica em vídeo. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, E.P.E. 24 5 PANCREATITE AGUDA NECROSANTE INFETADA – DRENAGEM E NECROSECTOMIA ENDOSCÓPICA Costa Santos V., Nunes N., Ávila F., Massinha P., Rego A.C., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. Os métodos conservadores e minimamente invasivos são, sempre que possível, a terapêutica de primeira linha quando é necessária uma abordagem das complicações da pancreatite aguda, e têm vindo a substituir a cirurgia, que comporta altas taxas de morbi-mortalidade. Idealmente, a terapêutica endoscópica nos casos de necrose pancreática deve ser realizada pelo menos quatro semanas após o início do quadro, por forma permitir uma organização da necrose. Apresenta-se o caso de um doente do sexo masculino, 52 anos, internado por quadro de pancreatite aguda necrosante, com antecedentes de Hepatite C Crónica e Vírus da Imunodeficiência Humana. Realizou TC à 5ª semana, observando-se organização da necrose (walled-off necrosis), com 12 x 5 cm, com ar no seu interior. O doente manteve-se clinicamente estável, mas com colestase de agravamento progressivo, por compressão biliar. Iniciou antibioterapia e optou-se pela abordagem endoscópica. Sob controlo ecoendoscópico, efetuou-se punção transgástrica com agulha 19 G. Introduziu-se um fio-guia na cavidade e utilizou-se cistótomo 6 Fr para acesso. O trajeto foi dilatado com balão insuflado até 12 mm, verificando-se saída imediata e abundante de material necrótico e pús para o lúmen gástrico, traduzindo uma necrose infetada. Colocaram-se duas próteses duplo pigtail 10 Fr/4 cm na cavidade, bem como uma sonda nasoquística para lavagem e drenagem. Duas semanas após, realizou-se necrosectomia endoscópica sob visualização direta, utilizando-se um endoscópio de visão frontal, lavagem com água oxigenada e extração do material necrótico. Os procedimentos foram efetuados com fonte de CO2, sob sedação profunda e entubação orotraqueal, não se tendo registado complicações. Verificou-se melhoria clínica e laboratorial. A TC abdominal realizada um mês depois mostrou regressão completa da necrose. Este caso demonstra a eficácia e segurança da drenagem e necrosectomia endoscópica em doente imunodeprimido, com necrose infetada, causando compressão biliar. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada 25 6 REMOÇÃO DE PRÓTESE METÁLICA ESOFÁGICA PELA TÉCNICA DA INVAGINAÇÃO/EVERSÃO Vilas-Boas F., Pereira P., Macedo G Descrição: A colocação temporária de próteses metálicas auto-expansíveis (PMAE) no tratamento de estenoses benignas do esófago está raramente indicada. A eficácia da dilatação com balão e os relatos da ocorrência de efeitos adversos resultantes da colocação e remoção de PMAE fazem com que esta estratégia seja utilizada apenas no caso de estenoses refractárias. Apresentamos o caso de uma doente do sexo feminino, 64 anos de idade, com estenose cáustica do esófago refractária à terapêutica com dilatação endoscópica. Foi colocada PMAE totalmente recoberta e 4 meses depois foi solicitada a sua remoção. Verificou-se hiperproliferação tecidular no topo distal da prótese. Com recurso a pinça de corpos estranhos foi possível a mobilização parcial da prótese, tendo-se posteriormente conseguido a sua remoção pela técnica da invaginação/eversão. Motivação: Os objectivos da terapêutica das estenoses benignas do esófago são a melhoria da disfagia e a prevenção da recorrência da estenose. Na maioria dos casos a dilatação é suficiente, contudo em casos de estenoses refractárias a colocação de PMAE está indicada. A remoção das PMAE pode ser conseguida usando a técnica da invaginação/eversão. Apresentamos detalhada iconografia vídeo exemplificando esta técnica. Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 26 7 HEMORRAGIA DIGESTIVA VARICOSA REFRACTÁRIA CONTROLADA COM PRÓTESE METÁLICA AUTOEXPANSÍVEL Vilas-Boas F., Marques M., Coelho R., Pereira P., Cardoso H., Macedo G. Descrição: As terapêuticas endoscópica e vasopressora constituem os tratamentos de escolha na hemorragia varicosa aguda. Nos casos refractários, o tamponamento com balão e o shunt intra-hepático porto-cava transjugular (TIPS) estão indicados. A utilização de próteses metálicas auto-expansíveis (PMAE) surgiu como alternativa ao tamponamento com balão na tentativa de minimizar as desvantagens associadas aquela técnica. Apresentamos o caso de um doente do sexo masculino, 50 anos de idade, com o diagnóstico de cirrose hepática por hepatite B crónica desde há 5 anos, sob terapêutica eficaz com entecavir. Teve primeira descompensação com hemorragia digestiva por rotura de varizes no início de 2013 controlada com laqueação elástica. Duas semanas mais tarde ocorreu segundo episódio de hemorragia com origem em escaras de laqueação prévia com controlo após injecção de cianoacrilato. Uma semana depois ocorre terceira hemorragia com falência da terapêutica endoscópica. Foi realizado tamponamento com sonda de Blakemore tendo o doente sido proposto para TIPS emergente que não foi colocado por anatomia desfavorável. Dado o elevado desconforto associado ao tamponamento, os riscos de aspiração e à impossibilidade do doente se alimentar foi colocada prótese metálica auto-expansível totalmente recoberta (SX-ELLA STENT DANIS) com controlo da hemorragia. Foi conseguida posteriormente colocação de TIPS de forma electiva e a prótese retirada ao 16º dia após colocação sem recidiva hemorrágica e sem complicações. Motivação: Tal como com o tamponamento com balão, a colocação de PMAE permite a hemostase eficaz por compressão da varizes. A colocação de PMAE tem como vantagem a redução da pneumonia de aspiração, a possibilidade do doente se alimentar de imediato e a minimização do risco de remoção ou deslocação do balão no doente agitado. Este caso vem demonstrar que as PMAEs podem permitir o controlo da hemorragia aguda, temporizando a discussão em reunião multidisciplinar das opções terapêuticas (Shunt cirúrgico versus TIPS). Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 27 8 EXTENSA LESÃO ADENOMATOSA DO RETO COM ATINGIMENTO DA LINHA PECTÍNEA RESSECADA POR DISSECÇÃO ENDOSCÓPICA DA SUBMUCOSA Barreiro P., Rodrigues J., Carmo J., Chagas C. Os autores apresentam o caso de um homem de 57 anos, sem co-morbilidades relevantes, que foi referenciado ao nosso centro para excisão de lesão séssil elevada (T0 Is), localizada no reto distal, que se extendia desde a linha pectínea até à primeira haustra retal (dimensão estimada em 50 mm), de aspecto adenomatoso sem sinais endoscópicos suspeitos de lesão invasiva. As biopsias realizadas foram compatíveis com adenoma com displasia de alto grau. Procedeu-se à excisão endoscópica da lesão, em bloco, por técnica de dissecção endoscópica da submucosa (DES) com recurso às facas Dual Knife (Olympus) e It Knife Nano (Olympus). O procedimento durou 190 minutos e foi realizado sob sedação ligeira e anestesia local (injecção de lidocaína 1% no canal anal), utilizando-se insuflação com CO2. O doente manteve-se internado por 24 horas não se registando complicações precoces ou tardias. A avaliação anatomo-patológica confirmou tratar-se de um adenoma tubulo-viloso com displasia de baixo e alto grau (15%), com 55 x 25 mm de dimensão, totalmente ressecado (R0 – margens laterais e verticais livres de lesão). O doente apresenta 4 meses de seguimento sem evidência de recidiva local. A resseção endoscópica de lesões colo-retais pré-malignas/malignas precoces por DES têm apresentado, em centros de referência, elevadas taxas de excisão completa (R0) e em bloco (>75%) permitindo desta forma uma melhor avaliação histológica e menores taxas de recidivas comparativamente à mucosectomia com ansa. O atingimento da linha pectínea por estas lesões acrescenta dificuldades técnicas particulares para o seu tratamento com ansa. Por outro lado, a ressecção cirúrgica transanal (RCT), sendo uma alternativa terapêutica, pode associar-se a elevada morbilidade (33% em algumas séries). Desta forma, a DES tem apresentado aceitação crescente na lesões colo-retais, nomeadamente em lesões do reto distal potencialmente ressecáveis por RCT. Os autores apresentam iconografia e vídeo do procedimento. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 28 9 DRENAGEM ENDOSCÓPICA PROBLEMÁTICA DE PSEUDOQUISTO GIGANTE EM DOENTE COM HIPERTENSÃO PORTAL ESQUERDA Fernandes A.(1), Almeida N.(1), Portela F.(1), Oliveira A.(1), Pereiro T.(1), Casela A.(1), Ferreira A.M.(1), Gomes D.(1), Tomé L.(1), Martins R.(2), Tralhão G.(2), Sofia C.(1) Apresenta-se o caso de um doente de 59 anos, transplantado renal, com diagnóstico de pancreatite crónica idiopática desde 2011, complicada por trombose da veia esplénica e hipertensão portal esquerda manifesta por rotura de varizes gástricas. Foi submetido a embolização da artéria esplénica em Janeiro de 2013 mas, por persistência de exuberantes varicosidades gástricas e anemia ferropénica, foi efetuada esplenectomia e desvascularização da grande curvatura e fundo gástricos em Maio de 2013. Em Dezembro inicia quadro de dor abdominal e febre, tendo sido diagnosticado volumoso pseudoquisto adjacente à cauda do pâncreas e loca esplénica, com 14cm de maior eixo. Apesar da boa resposta à antibioterapia, por persistência das queixas álgicas, em Janeiro de 2014 foi proposto para cistogastrostomia. A ecoendoscopia revelou a persistência de algumas varizes gástricas, pelo que a abordagem apenas foi possível a nível da região subcárdica. Após introdução do fio-guia no pseudoquisto, procedeu-se à incisão com agulha de pré-corte, e dilatação com balão até 6mm. De seguida colocou-se uma prótese metálica auto-expansível totalmente coberta (HanarostentFlap Lasso 40x12mm) com campânulas interna e externa e flaps junto à extremidade gástrica. Três dias após reinicio da alimentação o doente desenvolveu quadro séptico, constatando-se endoscopicamente a presença de detritos no interior da cavidade pelo que se colocou um dreno nasoquístico para lavagens e aspirações ativas. Nas cistografias de controlo observou-se redução significativa e progressiva das dimensões do pseudoquisto, sendo possível reiniciar a dieta. A prótese metálica foi depois substituída por 3 próteses plásticas duplo pigtail. Desde então está clinicamente assintomático e a tolerar dieta. Este caso, documentado iconograficamente, demonstra a utilização de um novo tipo de prótese na drenagem de pseudoquisto e a suma importância da localização do orifício da cistogastrostomia. Também evidencia uma complicação potencial desta terapêutica e as medidas para a sua resolução, poupando o doente a uma reintervenção cirúrgica. Serviço de Gastrenterologia (1) e Cirurgia A (2) do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 29 10 ABORDAGEM TRANSPAPILAR E TRANSGÁSTRICA INCIDENTAL DE COLEÇÃO NECRÓTICA PERIPANCREÁTICA Fernandes A.(1), Almeida N.(1), Portela F.(1), Oliveira A.(1), Alves R. (1), Pereiro T.(1), Casela A.(1), Ferreira A.M.(1), Gomes D.(1), Tomé L.(1), Martins R.(2), Alexandrino H.(2), Tralhão G.(2), Sofia C.(1) Apresenta-se o caso de um doente de 42 anos, com episódio de pancreatite aguda etílica severa em Agosto-2013, identificando-se sinais de cronicidade e desenvolvimento de coleções peripancreáticas nos exames imagiológicos subsequentes. Desde então iniciou quadro de dor abdominal nos quadrantes superiores e saciedade precoce. Em Janeiro-2014 foi internado por nova agudização, constatando-se na TC abdominal uma coleção peripancreática com 6cm de maior eixo, sugestiva de pseudoquisto, a condicionar abaulamento significativo da parede gástrica; era ainda evidente dilatação do ducto pancreático em relação com cálculo intraductal. Optou-se pela tentativa de endoterapia pancreática e eventual drenagem transgástrica da coleção. Na avaliação ecoendoscópica verificou-se que essa coleção apresentava material heterogéneo no seu interior, sendo mais sugestiva de uma colecção necrótica encapsulada. Contudo, não parecia estar sob tensão ou condicionar abaulamento significativo, o que comprometia a sua punção. Dessa forma, com recurso a duodenoscópio, realizou-se esficterotomia pancreática, remoção parcial do cálculo e colocação de uma prótese plástica no Wirsung, não se tendo identificado comunicação do mesmo com a supracitada coleção. No momento da retirada do aparelho, identificou-se uma úlcera sangrante de grandes dimensões na face posterior do corpo gástrico, suspeitando-se de trajeto fistuloso para a coleção necrótica, o que veio a confirmar-se através da exploração com cateter. Efetuada dilatação do trajeto e colocadas três próteses plásticas duplo pigtail. Posteriormente foram realizadas três sessões eletivas de necrosectomia, com remoção de material do interior da coleção, tendo sido posicionado um dreno nasoquístico para lavagens subsequentes. Registaram-se francas melhorias clínicas e imagiológicas, estando o doente assintomático. Este caso, documentado iconograficamente, demonstra um achado peculiar de constituição espontânea de uma fístula para a cavidade gástrica a partir de uma coleção necrótica peripancreática infetada, mas com necessidade de auxílio endoscópico para a sua resolução. Demonstra também a importância da abordagem simultânea das eventuais obstruções pancreáticas. Serviço de Gastrenterologia (1) e Cirurgia A (2) do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 30 Comunicações Orais - Endoscopia Digestiva I 1 ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA NA AVALIAÇÃO DA DOENÇA DE CROHN APÓS CIRURGIA DE RESSECÇÃO INTESTINAL Vilas-Boas F., Cardoso H., Marques M., Velosa M., Rodrigues S., Lopes, S., Magro F. , Macedo G. Introdução: A colonoscopia com ileoscopia (CL) permanece o método de escolha na avaliação da recorrência pós-operatória na Doença de Crohn (DC), contudo a enteroscopia por cápsula (EC) tem sido estudada como alternativa em trabalhos recentes. O score endoscópico de Rutgeerts (SR) é utilizado como preditor do risco de recorrência clínica. Objectivo e Métodos: Caracterizar a utilidade e segurança da EC na avaliação da recorrência endoscópica após cirurgia de ressecção ileo-cólica na DC e sua comparação com a CL. Análise retrospectiva dos doentes com DC e antecedentes de cirurgia submetidos a EC e a CL no pósoperatório. Foi considerada a existência de recorrência endoscópica se o SR>i2. A concordância diagnóstica foi determinada pelo Kappa estatístico. Resultados: Entre Janeiro de 2010 e Dezembro de 2013, 35 doentes com DC (idade média de 44±12 anos, 63% do sexo feminino, 57% com doença penetrante) e antecedentes de cirurgia de ressecção ileo-cólica realizaram EC. A cápsula atingiu o cólon em 32 doentes (91%) e o tempo de trânsito do delgado foi em média 202 minutos (95% CI 147-256). A EC revelou recorrência endoscópica em 14 doentes (40%) e a colonoscopia em 12 doentes (34%). Não ocorreram retenções de cápsula. A concordância diagnóstica entre a EC e a CL foi boa (Kappa=0,55). A EC permitiu diagnosticar lesões proximais ao neo-íleo terminal em 11 doentes (31%) em 8 dos quais não era previamente conhecida e motivou escalada terapêutica em 8 doentes (4 iniciaram azatioprina, 2 iniciaram agentes anti-TNF e em 2 foi intensificada a terapêutica com anti-TNF). Conclusão: Na avaliação da recorrência endoscópica pósoperatória, a EC revela-se um método seguro e com uma concordância boa com a CL. Adicionalmente, a EC permitiu detectar lesões proximais ao neo-íleo terminal não acessíveis à ileocolonoscopia em quase um terço dos doentes, motivando na maioria deles, o ajuste da terapêutica. Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 31 2 ESTADIAMENTO LOCAL DOS TUMORES DO RECTO POR ECOENDOSCOPIA Meireles L., Fernandes S., Freitas L., Marques I., Lagos C., Cruz Martins A., Costa Neves B., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: O correcto estadiamento das neoplasias do recto é indispensável para orientar o planeamento cirúrgico e seleccionar os candidatos à radioterapia ou quimioterapia neoadjuvante. É portanto necessário um conhecimento preciso da profundidade de invasão tumoral (T) e envolvimento dos nódulos linfáticos regionais (N). A ressonância magnética representa o método de eleição, contudo a ecoendoscopia tem um papel na doença localizada. Objectivos: Avaliar a acuidade da ecoendoscopia por mini-sondas no estadiamento local do adenocarcinoma (ADC) do recto (estadio T e N da 7ª edição da American Joint Committee on Cancer). Material e Métodos: Análise retrospectiva de doentes seguidos entre 2008-2013, num único centro, com ADC do recto operável de acordo com a tomografia computadorizada préoperatória. Foi realizado estadiamento local utilizando ecoendoscopia por mini-sondas (10-12Mhz) e comparados os resultados com os achados da peça operatória. A concordância do estadiamento por ecoendoscopia com o estadiamento resultante do estudo anátomo-patológico da peça cirúrgica foi medida pela estatística conhecida como K ponderado (weighted Kappa Kw). Os dados foram tratados com o Stata versão 12.0. Resultados: Foram avaliados 33 doentes (20 sexo masculino; idade média de 70 ± 11 anos). A distância média da margem anal foi 7 ± 3 cm. O tamanho médio das lesões foi de 47 ± 44 mm. Os resultados gerais foram globalmente bons, tendo a ecoendoscopia sido ligeiramente mais eficaz na avaliação do estadio T (Kw 0,775 - boa concordância) do que na avaliação do estadio N (Kw = 0,666 - boa concordância). Houve sobre-estadiamento de T1/T2 para T3/T4 em 15% do tumores. Nenhuma neoplasia foi sub-estadiada por ecoendoscopia. Discussão: Existem poucos estudos avaliando a eficácia da ecoendoscopia por mini-sondas no estadiamento dos ADC do recto. Este método permite a utilização de maiores frequências, é rápido, económico e confiável no estadiamento local de tumores do recto, podendo representar uma alternativa na indisponibilidade de ressonância magnética. Centro Hospitalar Lisboa Norte 32 3 ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA: ACUIDADE DIAGNÓSTICA DO SCORE DE LEWIS NA SUSPEITA DE DOENÇA DE CROHN Monteiro S. (1), Boal Carvalho P. (1), Dias de Castro F. (1), Magalhães J. (1), Firmino Machado J. (2), Moreira M.J. (1), Rosa B. (1), Cotter J. (1) (3) (4) Introdução: A enteroscopia por cápsula (EC) tem assumido importância crescente no diagnóstico da Doença de Crohn (DC). Um dos objetivos do Score de Lewis (SL), amplamente divulgado, é permitir uma uniformização da quantificação da atividade inflamatória detetada. Objetivo: Avaliar a acuidade diagnóstica do SL em doentes com suspeita de DC submetidos a EC. Métodos: Estudo retrospetivo incluindo 95 doentes com suspeita de DC, submetidos a EC, entre Setembro de 2006 e Fevereiro de 2013, com um follow-up mínimo de 12 meses. Os doentes foram divididos em 2 grupos de acordo com os critérios de suspeita de DC definidos pela International Conference on Capsule Endoscopy (ICCE), Grupo 1: 37 doentes sem critérios; Grupo 2: 58 doentes com ? 2 critérios. A atividade inflamatória foi avaliada com a determinação do SL. O diagnóstico de DC durante o follow-up foi estabelecido com base na combinação de elementos clínicos, analíticos, endoscópicos, histológicos e imagiológicos. Resultados: Valores de SL ?135 foram detetados em 46 doentes (48,4%), 7 doentes do grupo 1 (18,9%) e 39 doentes do grupo 2 (67,2%) (p <0,001). O diagnóstico de DC foi estabelecido em 38 doentes (40%): 8 doentes do grupo 1 (21,6%), 30 doentes do grupo 2 (51,7%) (p = 0,003), 34 doentes com SL ?135 (73,9%), 4 doentes com SL <135 (8,2%) (p <0,001). O SL ?135 apresentou uma acuidade diagnóstica global de 83,2%, sensibilidade = 89,5%, especificidade = 78,9%, Valor Preditivo Positivo = 73,9% e Valor Preditivo Negativo = 91,8% para o diagnóstico de DC. Conclusões: A aplicação do SL ?135 como critério de presença de atividade inflamatória significativa em doentes submetidos a EC por suspeita de DC pode contribuir para estabelecer o diagnóstico, sendo ainda mais significativo para o excluir quando o SL <135. (1) – Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave (2)- Médico Interno do Ano Comum, Centro Hospitalar do Alto Ave (3)- Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães (4)– Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães 33 4 DISSECÇÃO ENDOSCÓPICA DA SUBMUCOSA: EXPERIÊNCIA DE 2 ANOS NUM CENTRO HOSPITALAR Barreiro P., Rodrigues J., Marques S., Carvalho L., Chagas C. Introdução e Objetivos: Apesar do benefício clínico demonstrado em várias meta-análises, o tratamento de lesões pré-malignas ou malignas precoces por técnicas de dissecção endoscópica da submucosa (DES) ainda é, nos países ocidentais, limitada a poucos centros. Os autores avaliam a experiência do serviço na utilização desta técnica, após 2 anos da sua implementação no seu centro hospitalar Material: Análise de todas as lesões ressecadas por DES, entre Dezembro de 2011 e Janeiro de 2014, num centro hospital. Todos os procedimentos foram realizados pelo mesmo executante com recurso a Dual Knife e/ou It-Knife (Olympus). Sumário dos Resultados: Um total de 21 lesões gastrointestinais pré-malignas/malignas precoces (gástricas, n=12; rectais, n=9), referentes a 21 doentes (idade média: 70 anos), foram ressecados por DES. A dimensão média das lesões foi de 30 mm [16-55 mm]: lesões gástricas - 22 mm; lesões retais - 41 mm. Obteve-se ressecção completa (R0) em 81% dos casos (n=17) com taxa de ressecção em bloco de 76% (n=16). Dos 5 casos de ressecções em piecemeal, 3 (14%) foram em 2 fragmentos permitindo a reconstrução da peça para avaliação anatomo-patológica. Das 4 ressecções consideradas não-R0 (R1, n=2; Rx, n= 2) somente um doente foi referenciado para cirurgia por ressecção considerada não curativa (adenocarcinoma intramucosa gástrico com ulceração removida em fragmentos). Não se registaram complicações clinicamente significativas, nomeadamente hemorragia “major” ou perfurações. Durante um período médio de vigilância de 10 meses [2-26 meses] registou-se 1 recidiva local em lesão do reto, tratada endoscopicamente com sucesso. Conclusões: Os resultados iniciais desta técnica no nosso centro hospitalar são entusiasmantes, com elevada taxa de sucesso clínico e com ausência de complicações clinicamente significativas. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 34 5 FACTORES PREDITIVOS DE DOR DURANTE A COLONOSCOPIA SEM SEDAÇÃO Leitão C., Santos A., Pinto J., Ribeiro H., Pereira B., Caldeira A., Tristan J., Sousa R., Pereira E., Banhudo A. Introdução e Objectivos: A colonoscopia habitualmente gera ansiedade e pode provocar dor durante o procedimento, por vezes difíceis de prever. Conhecer os factores preditivos de dor durante a colonoscopia permite não só adoptar estratégias para promover maior adesão ao procedimento como seleccionar o subgrupo de doentes que necessitem de sedo-analgesia endovenosa durante o exame endoscópico. Métodos: Estudo prospectivo que incluiu os doentes referenciados para colonoscopia sem sedação endovenosa, em regime de ambulatório, no período compreendido entre Maio a Dezembro de 2013. Aplicação de um inquérito clínico-epidemiológico ao doente e dos aspectos técnicos ao gastrenterologista e avaliação da intensidade da dor abdominal durante a colonoscopia utilizando uma escala numérica (0 a 10). Resultados: Incluíram-se 183 doentes (51,9%sexo masculino; idade média de 64±13anos).Antes do exame, o nível médio de ansiedade do doente foi de 2,51±1,3(0 a 5). Durante o exame, o nível médio de dor referido pelo doente foi de 4,72±2,4, directamente proporcional ao nível médio de dor percepcionado pelo médico (4,74;p<0,0001). Após o exame, 80,9% dos doentes classificaramno como mais fácil ou igual ao que esperavam e 98% voltariam a repeti-lo se fosse necessário. As variáveis género feminino (p<0,002), baixo peso corporal (p<0,0001), nível de ansiedade prévio ao exame elevado (p<0,04), meio urbano (p<0,05) e antecedentes de patologia cardíaca (p<0,034) associaram-se a maior nível de dor durante a colonoscopia. O grau de desconforto do doente durante a colonoscopia foi directamente proporcional ao tempo de entubação (p<0,0001), a maior dificuldade na progressão percepcionada pelo médico (p<0,0001) e realização do exame na última hora da manhã (p<0,045). Conclusão: Para a maioria dos doentes a colonoscopia sem sedação endovenosa foi um exame bem tolerado. A sedação pode estar indicada nas mulheres e/ou baixo peso corporal e/ou nível elevado de ansiedade. Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco 35 6 PROPOSTA DE UMA CLASSIFICAÇÃO SIMPLIFICADA DE PREPARAÇÃO CÓLICA Lage J., Brandão C., Ferraz S., Novais A., Dinis-Ribeiro M., Moreira-Dias L. Introdução: A qualidade da preparação intestinal é fundamental para a deteção de pólipos do cólon. As classificações desenvolvidas têm diferentes vantagens e problemas metodológicos e de implementação, designadamente a reprodutibilidade e relação com decisão clínica. Objetivo: Optimizar uma classificação da preparação intestinal. Métodos: Estudo 1(reprodutibilidade): 25 vídeos de colonoscopia foram observados por 6 médicos e 7 enfermeiros e classificados de forma independente utilizando duas classificações, A e B (A0: fezes duras/moldadas não aspiráveis; A1: fezes semi-sólidas parcialmente aspiráveis; A2: fezes líquidas acastanhadas/semi-sólidas aspiráveis; A3: líquido claro; A4: vazio e limpo. B04, má a excelente). Estudo 2(validade): numa série consecutiva de doentes, médico e enfermeiro por consenso classificaram cada segmento de cólon de acordo com A e B e ainda o esforço de lavagem (C0: sem líquido; C1: líquido sem aspiração; C2: aspiração; C3: lavagem e aspiração; C4: fezes não laváveis). Resultados: Estudo 1: Verificou-se uma concordância de 0.66 e 0.70 para as classificações A e B, respetivamente, maior entre médicos e nos extremos da escala e menor para A1. Estudo 2: A0-1 relacionaram-se (74 a 82%) com B0 e foram associados a mudança nas atitudes clínicas em mais de 30% dos doentes. A3-4 correponderam genericamente a B3, não havendo mais de 10% de alteração de atitudes. Os extremos A0-1vsA3-4 e B0vsB3 associaram-se (50-65% de concordância) igualmente às manobras de lavagem e aspiração (C0-2vsC3-4), que também se relacionaram com a alteração de atitudes. Conclusão: Propomos a seguinte classificação simplificada, destacando a consequente atitude clínica: “Adequada: ausência de líquido ou líquido claro no lúmen facilmente aspirável”, não motivando mudanças das atitudes clínicas; “Razoável: esforço de lavagem sem percepção de completo sucesso”, com ou sem mudança de atitude; “Inadequada: presença de fezes duras/sólidas, não laváveis ou não passíveis de aspirar total ou parcialmente, mesmo após lavagem” , que deverá motivar ajuste do seguimento. Serviço de Gastrenterologia, Instituto Português de Oncologia do Porto 36 Comunicações Orais - Tubo Digestivo I 1 CROMOENDOSCOPIA VIRTUAL E MELHORIA NO DIAGNÓSTICO DA ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA DE CAUSA OBSCURA. Boal Carvalho P (1), Magalhães J (1), Dias de Castro F (1), Cúrdia Gonçalves T (1), Rosa B (1), Moreira MJ (1), Cotter J (1,2,3) Introdução e objectivos A enteroscopia por cápsula (EC) é um exame de primeira linha no estudo da hemorragia digestiva de causa obscura (HDCO). O modo FICE, uma técnica de cromoendoscopia virtual, foi desenvolvida com o objectivo de realçar lesões na endoscopia. O objectivo deste trabalho foi o de comparar o rendimento diagnóstico entre o modo FICE 1 e o modo de visualização convencional na EC. Material Estudo comparativo incluindo 60 doentes submetidos consecutivamente a EC por HDCO. As EC foram observadas independentemente em modo convencional e em modo FICE 1 por quatro investigadores e subsequentemente comparadas por outro investigador independente. O rendimento diagnóstico foi considerado para a presença de lesões de elevado potencial hemorrágico (P2), como angiectasias, úlceras ou pólipos, após exclusão de resultados falsos positivos. A análise estatística foi efectuada com o SPSS v21.0, utilizando o teste McNemar para variáveis categóricas e o teste T de amostras emparelhadas para variáveis contínuas. Resultados O rendimento diagnóstico da EC foi significativamente superior na observação em modo FICE 1 comparativamente ao modo de visualização convencional (58,3 vs 41,7 %, p=0,021). O número de lesões P2 foi também superior quando se utilizou o modo FICE 1 (74 vs 44, p=0,003), em particular angiectasias (54 vs 26, p=0,002). Foi observado um número semelhante de úlceras (17 vs 15, p=0,568) e pólipos (3 vs 3, p=1,000) no modo FICE 1 e em visualização convencional. Conclusões A observação da enteroscopia por cápsula na hemorragia digestiva de causa obscura sob o modo FICE 1 revelou-se significativamente superior ao modo convencional, permitindo um acréscimo de 16% no rendimento diagnóstico. Foi observado um número superior de lesões potencialmente hemorrágicas em modo FICE 1, nomeadamente angiectasias. Os nossos resultados substanciam a utilização sistemática deste método na observação de enteroscopias por cápsula no contexto de hemorragia digestiva de causa obscura. (1) - Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães, Portugal (2) - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal (3)– Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 37 2 PODERÁ A TERAPÊUTICA EMPÍRICA TRIPLA COM LEVOFLOXACINA REPRESENTAR UMA ALTERNATIVA NOS DOENTES COM FALÊNCIA DO ESQUEMA INICIAL DE ERRADICAÇÃO DO HELICOBACTER PYLORI? Almeida N.(1), Romãozinho J.M.(1,2), Donato M.M.(2), Fernandes A.(1), Cardoso O.(3), Luxo C.(3), Cipriano M.A.(4), Marinho C.(4), Sofia C.(1,2) Introdução: A terapêutica empírica tripla com levofloxacina foi estabelecida como uma alternativa válida após falência do primeiro tratamento para eliminar o Helicobacter pylori (Hp). Objetivo: Avaliar a eficácia de uma terapêutica empírica de segunda linha com levofloxacina na erradicação do Hp em indivíduos sem história prévia de consumo de fluoroquinolonas. Adicionalmente estabelecer fatores associados com falência terapêutica. Material e Métodos: Estudo prospetivo que incluiu 51 doentes (sexo feminino-39; média etária-45,2±13,9 anos) com falência terapêutica prévia, sem história de toma de fluoroquinolonas, referenciados para nova tentativa de erradicação por dispepsia e/ou anemia. Realizada EDA com biopsias para estudos histológicos/microbiológicos. Instituído, após a EDA, protocolo de erradicação triplo (Pantoprazol+Amoxicilina+Levofloxacina, 10 dias) com controlo posterior por teste respiratório (UBT). Estudados diversos fatores com potencial influência no sucesso final (idade, sexo, local de residência, antecedentes pessoais e familiares de patologia gástrica, consumo de azeite/álcool/tabaco, IMC, perfis genéticos do Hp, ocorrência de efeitos adversos e adesão à terapêutica). Estabelecida a eficácia terapêutica numa análise de “intention-to-treat” (ITT) e “per-protocol” (PP). Resultados: Ocorreram eventos adversos em 16 casos(31,4%) mas a adesão à terapêutica foi de 96,1%. O UBT foi negativo em 27 doentes com taxas de erradicação de: ITT-52,9%; PP-55,1%. Registada resistência à levofloxacina em 13 isolados do Hp (25,5%) e mutações no gene gyrA em 9 (17,6%). Os fatores associados com falência terapêutica (UBT positivo vs UBT negativo) foram: IMC mais elevado (26,2 ± 4,4 Kg/m2 vs 23,9 ± 3,3 Kg/m2); resistência do Hp à levofloxacina (54,2% vs 0%); presença de mutações no gene gyrA (37,5% vs 0%). Conclusões: A terapêutica empírica tripla de segunda-linha com pantoprazol, amoxicilina e levofloxacina não constituí uma alternativa válida no nosso país o que resulta das elevadas taxas de resistência do Hp às fluoroquinolonas. Após uma primeira falência terapêutica será de ponderar estudo das resistências do Hp através de cultura ou métodos moleculares. Serviços de Gastrenterologia(1) e Anatomia Patológica(4) do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; Centro de Gastrenterologia da Faculdade de Medicina de Coimbra (2) e Laboratório de Microbiologia da Faculdade de Farmácia(3) 38 3 CUSTO-UTILIDADE DA VIGILÂNCIA ENDOSCÓPICA DAS CONDIÇÕES GÁSTRICAS PRÉ-MALIGNAS Areia M. (1,2), Dinis-Ribeiro M. (1,3), Rocha Gonçalves F. (1,3) Introdução: A progressão das condições gástricas pré-malignas como a atrofia ou metaplasia intestinal extensas ao corpo parece justificar programas de vigilância que de acordo com recomendações recentes deve ser efetuado por endoscopia digestiva cada 3 anos. Objetivos: Efetuar um estudo de custo-utilidade da vigilância endoscópica de doentes com condições pré-malignas em relação à não vigilância. Material: Análise económica de custo-utilidade com um modelo de Markov, para a população Portuguesa, do ponto de vista da sociedade. Os dados clínicos foram obtidos por revisão sistemática da literatura, os dados económicos de publicações nacionais oficiais e as utilidades por estudo multicêntrico de base populacional através do inquérito de qualidade de vida EQ-5D-5L (EuroQol), permitindo a obtenção de preferências em “Quality Adjusted Life Years” (QALY). A população inicia vigilância aos 50 anos de idade e por um período de 25 anos. O limiar de aceitação pela sociedade foi fixado em 36 575 € (correspondendo ao limiar internacional de 50 000 dólares). Os resultados principais são apresentados em termos de “Incremental Cost-Effectiveness Ratio” (ICER) entre vigilância endoscópica cada 3 anos versus ausência de vigilância, no cenário base e após análise de sensibilidade. Secundariamente foi calculado o ICER para vigilâncias a cada 5 e 10 anos. Resultados: A vigilância endoscópica a cada 3 anos condiciona um ICER de 18 336 €, abaixo do limiar considerado pela sociedade e domina as estratégias de vigilância a cada 5 ou 10 anos. Em análise de sensibilidade determinística as utilidades e os custos de transporte foram relevantes mas dentro do limite fixado enquanto em análise probabilística o modelo manteve o seu custo-utilidade em 78% das simulações. Conclusões: A vigilância endoscópica a cada 3 anos das condições gástricas pré-malignas extensas como atrofia ou metaplasia intestinal no corpo, mostrou ter custo-utilidade para a população Portuguesa. (1) CINTESIS - Centro de Investigação em Tecnologias e Sistemas de Informação em Saúde; (2) Instituto Português de Oncologia de Coimbra; (3) Instituto Português de Oncologia do Porto 39 4 ATIVAÇÃO DA VIA MEK5-ERK5 AUMENTA A ATIVIDADE DE NF-KB E O POTENCIAL METASTÁTICO DE CÉLULAS DE CANCRO DO CÓLON Simões A.E.S.1,, Pereira D.M.1,, Gomes S.E.1,, Caridade M.1,, Carvalho T.2,, Castro R.E.1,3, , Steer C.J.4, , Thibodeau, S.N.5, , Borralho P.M.1,3, , Rodrigues C.M.P.1,3 ERK5 e o seu ativador direto, MEK5, encontram-se sobre-expressos em alguns tipos de cancro e estão associados a pior prognóstico e maior proliferação tumoral e metastização. Neste estudo, avaliámos a expressão de ERK5 e MEK5 na progressão do cancro do cólon (CC) em 284 amostras humanas de CC, incluindo tecido colónico normal, adenomas e adenocarcinomas (pMMR e dMMR). Produzimos, também, linhas celulares com ativação constitutiva (MEK5-CA) e inibição dominante-negativa (MEK5-DN) de ERK5 e determinámos o papel da ativação diferencial de ERK5 no ciclo celular e na migração in vitro, bem como na metastização in vivo em xenógrafos ortotópicos no cego. Os resultados obtidos demonstram que ERK5 e MEK5 se encontram sobre-expressas em adenomas tubulovilosos (p<0,01) e adenocarcinomas pMMR e dMMR (p<0,05), em comparação com tecido normal. Em paralelo, o NF-kB encontra-se sobre-expresso em adenomas (p<0,001) e adenocarcinomas pMMR (p<0,05) e dMMR (p<0,01), estando sobreativado em adenocarcinomas pMMR (p<0,05) e dMMR (p<0,01). Segundo a classificação TNM, tumores com um fénotipo mais agressivo apresentam niveís de sobre-expressão de ERK5 superiores (p<0,05), sugerindo que ERK5 poderá ser relevante na progressão do CC e na aquisição de potencial invasivo e metastático dos tumores. In vitro, observámos que a ativação de ERK5 acelera a progressão no ciclo celular (p<0,01) e aumenta a migração de células tumorais (p<0,001). Estes processos foram acompanhados de aumento da atividade de NF-kB (p<0,05) e de expressão do marcador mesênquimal Vimentina (p<0,05). Por fim, observámos que seis semanas após injeção ortotópica no cego, os ratinhos injetados com células MEK5-CA, comparativamente com MEK5-DN, apresentavam tumores mais agressivos (T3) (4/4 versus 1/5) e maior incidência de metástases nos gânglios linfáticos (2/4 versus 0/5). Em conclusão, os nossos resultados mostram que a via ERK5/NF-kB poderá constituir um importante novo alvo terapêutico no CC. SPG e FCT (PTDC/SAU-ORG/119842/2010, SFRH/BD/79356/2011 e SFRH/BD/88619/2012). 1 Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal; 2 Instituto de Medicina Molecular, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Portugal; 3 Departamento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal; 4 Universidade do Minnesota, MN, USA; 5Mayo Clinic, Rochester, MN, USA 40 5 MIR-143 E MIR-145 AUMENTAM A RESPOSTA AO CETUXIMAB EM CÉLULAS DE CANCRO DO CÓLON COM KRAS MUTADO OU WILD-TYPE: AVALIAÇÃO DA MODULAÇÃO DA CITOTOXICIDADE CELULAR DEPENDENTE DE ANTICORPO Gomes SE 1, Simões AES 1, Pereira DM 1, Brito H 1, Castro RE 1,2, Borralho PM 1,2, Rodrigues CMP 1,2 O miR-143 e o miR-145 apresentam expressão diminuída em diversos tipos de cancro, incluindo no cancro do cólon (CC). Tumores com KRAS mutado, apresentam resistência ao cetuximab, limitando a sua utilização clínica. Neste estudo, pretendemos avaliar a atividade antitumoral e os efeitos de sensibilização para o cetuximab, decorrentes da modulação do miR-143 e/ou miR-145 em células de CC. Utilizando células de CC humano HCT116 (KRAS mutado) e SW48 (KRAS wild-type), foram produzidas linhas celulares com sobreexpressão estável de miR-143, miR-145 ou miR-143/145 e vetor vazio (controlo). Em HCT116, a sobreexpressão de miR-143 e/ou miR-145 aumenta significativamente o tempo de duplicação celular (p<0,05), reduzindo o IC50 do cetuximab em 40% (p<0,05), avaliado pelo sistema xCELLigence. Mais ainda, a sobreexpressão do miR-143 e miR-143/145 reduz a proteína Bcl-2, sendo a redução maior após exposição ao cetuximab (p<0,05). O silenciamento desta proteína reduz a viabilidade e aumenta a morte celular de células HCT116 após tratamento com cetuximab (p<0,05). O mecanismo de citotoxicidade celular dependente de anticorpo (ADCC) mediado pelo cetuximab foi avaliado no xCELLigence, em células expostas ao cetuximab e/ou a células mononucleares de sangue periférico isoladas de dadores saudáveis (células efetoras). Os resultados demonstram que a ADCC induzida pelo cetuximab está aumentada em células HCT116 que sobre-expressam o miR-143 e -145, sendo acompanhada por um aumento de expressão do receptor de morte Fas (p<0,05). Por outro lado, a sobre-expressão do miR-143 e -145 nas células SW48 aumenta também a sensibilização ao cetuximab, levando a uma diminuição da viabilidade e aumento de morte celular (p<0,05). Em suma, os resultados obtidos sugerem que a sobre-expressão do miR-143 e/ou miR-145 representa uma potencial estratégia terapêutica relevante na re-sensibilização de tumores de CC ao cetuximab. PTDC/SAU-ORG/119842/2010 e SFRH/BD/88619/2012, e Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia. 1 Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa) 2 Departamento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal 41 6 INIBIÇÃO DA VIA DE SINALIZAÇÃO MEK5-ERK5 AUMENTA A APOPTOSE INDUZIDA PELO 5FLUOROURACILO EM CÉLULAS DE CANCRO DO CÓLON Pereira D.M. 1 , Simões A.E.S. 1 , Gomes S.E. 1, Castro R.E. 1,2 , Borralho P.M. 1,2, Rodrigues C.M.P 1,2 A sinalização aberrante via MEK5-ERK5 encontra-se descrita em vários tipos de cancro, tendo sido implicada no processo de carcinogénese e na resistência aos mecanismos de apopotose induzidos pela ação citotóxica de diversos agentes antitumorais. No cancro do cólon (CC), demonstrámos recentemente que MEK5 e ERK5 se encontram sobre?expressas em adenomas e adenocarcinomas do cólon e que o silenciamento in vitro de ERK5 aumenta a resposta ao 5-fluorouracilo (5-FU). No presente estudo foram desenvolvidos dois modelos celulares de CC com ativação diferencial da via MEK5-ERK5, por forma a avaliar a sua contribuição na proliferação celular e na resposta ao 5-FU. Desta forma, utilizando células HCT116 e SW620 de CC, foram produzidas linhas celulares com sobre-expressão estável de MEK5, constitutivamente ativa (CA-MEK5) ou dominante negativa (DN-MEK5), após transdução lentiviral e seleção por citometria de fluxo. Os nossos resultados demonstram que, em células HCT116 e SW620, CA-MEK5 aumenta a proliferação celular (p<0,05) e a expressão de KRAS (p<0,01). Por sua vez, no modelo HCT116, DN-MEK5 aumentou a expressão de p53 (p<0,05) e dos seus alvos transcripcionais, p21 e Puma (p<0,01), assim como a morte celular após exposição ao 5-FU (p<0,05). Esta sensibilização mostrou estar associada a um aumento de atividade das caspases-3/7 e dos níveis de apoptose (p<0,05). Em contrapartida, CA-MEK5 reduziu a citotoxicidade e a apoptose induzida pelo 5-FU (p<0,05). Mais ainda, a exposição ao 5-FU reduziu os níveis endógenos de expressão e ativação de MEK5 e ERK5 (p<0,05). Por fim, o estado de ativação de MEK5 mostrou estar inversamente relacionado com a expressão dos miRNAs supressores de tumores miRNA?143, -145 e -34a (p<0,05). Coletivamente, os nossos resultados sugerem a inibição específica da via MEK5-ERK5 como uma abordagem terapêutica promissora na sensibilização e tratamento do CC. Financiado por SPG e FCT (PTDC/SAU-ORG/119842/2010; SFRH/BD/96517/2013; SFRH/BD/88619/2012; SFRH/BD/79356/2011). 1 Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa); 2 Departamento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal 42 Casos Clínicos Interativos I 1 CAUSA RARA DE ANEMIA FERROPÉNICA Andrade P., Marques M., Amil-Dias J., Pardal J., Macedo G. Introdução: A enterite ulcerativa estenosante multifocal criptogénica (CMUSE) é uma patologia rara que afeta o intestino delgado. A dor abdominal e suboclusão intestinal crónica/recorrente são as manifestações clínicas mais comuns, resultantes da presença de múltiplas estenoses com ulceração superficial ao nível do intestino delgado. A anemia ferropénica é também frequente podendo constituir a sua forma de apresentação. Caso Clínico: Doente do sexo masculino, de 12 anos, referenciado à consulta de Gastrenterologia Pediátrica por anemia microcítica hipocrómica (hemoglobina 8.4g/dL com VGM de 70fL). Sem história de perdas hemáticas visíveis e sem registo de consumo de anti-inflamatórios. Ao exame físico salientava-se palidez das mucosas, sem outras alterações. A pesquisa de sangue oculto nas fezes foi positiva. A pesquisa de divertículo de Meckel foi negativa. Foi submetido a realização de ileocolonoscopia e endoscopia digestiva alta que não evidenciaram alterações. Efetuada enteroscopia por cápsula com retenção da cápsula a nível ileal. Por esse motivo, foi realizada laparatomia exploradora que culminou na enterectomia de segmento ileal com cerca de 20cm. A enteroscopia intra-operatória revelou a presença de segmento ileal com múltiplos anéis membranosos estenóticos com ulceração superficial. O estudo histológico foi compatível com o diagnóstico de CMUSE. Após a cirurgia o doente manteve-se assintomático e sem anemia durante 4 anos, altura em que se verificou recorrência da anemia (hemoglobina 8,1g/dL com microcitose). Repetiu enteroscopia por duplo balão e trânsito intestinal que não apresentaram alterações. Realizou terapêutica com ferro endovenoso com resolução da anemia. Atualmente mantém seguimento na consulta de Gastrenterologia adultos, está assintomático, com hemoglobina de 14,6g/dL, sem necessidade de ferro. Conclusões: A CMUSE é uma entidade rara que constitui um desafio no diagnóstico diferencial de anemia ferropénica, estando apenas descritos cerca de 60 casos na literatura. A recorrência dos sintomas e estenoses é frequente, pelo que deve ser feito um seguimento regular do doente. Serviços de Gastrenterologia, Gastrenterologia Pediátrica e Anatomia Patológica, Centro Hospitalar S.João, Porto. 43 2 UM DESAFIO NUM DOENTE COM COLITE GRAVE Carmo J., Herculano R., Chapim I., Marques S., Costa P., Barreiro P., Bispo M., Matos L., Chagas C. Homem, de 61 anos, com história de diabetes mellitus tipo 2 e colite ulcerosa (CU), com cerca de 1 ano de evolução (colite ulcerosa extensa, previamente medicado com mesalazina oral 3-4,5g/dia, sem internamentos prévios). Internado após suspensão da terapêutica por iniciativa própria, por agudização grave de CU (Mayo clinic score = 10; Mayo endoscopic score=3; excluída intercorrência infecciosa). Foi medicado com corticoterapia e iniciada avaliação pré-terapêutica biológica. Nos dois meses seguintes, dois reinternamentos por urosépsis e diabetes descompensada, mantendo actividade moderada de CU. Repetiu colonoscopia: entre os 10-20cm da margem anal, múltiplas lesões polipóides de cor violácea, algumas de grande dimensões (4-5cm), em mucosa edemaciada e friável. Histologicamente, com achados morfológicos sugestivos de sarcoma de Kaposi, com positividade para HHV-8. A serologia VIH e o estudo de imunodeficiências foram negativos. Após discussão multidisciplinar, optou-se por terapêutica conservadora, com desmame da corticoterapia, mantendo apenas mesalazina. Registou-se melhoria clínica progressiva, com redução gradual das lesões até à sua remissão completa. O sarcoma de Kaposi é uma doença angioproliferativa, associada à infecção pelo HHV-8. Existem quatro formas: clássica, endémica, associada ao VIH e iatrogénica. O sarcoma de Kaposi isolado do cólon, em doentes (não-VIH) com CU submetidos a terapêutica imunossupressora, está descrito na literatura em apenas 4 casos. Além da sua raridade, a relevância do caso clínico prende-se com: 1. A dificuldade do diagnóstico diferencial, com papel determinante da anatomopatologia; 2. Os achados endoscópicos particularmente relevantes, que regrediram na totalidade no follow-up; 3. A dificuladade na decisão terapêutica, dada a gravidade da apresentação clínica e a sua raridade (doença neoproliferativa em simultâneo com agudização de CU; desconhecimento da história natural da doença e do papel da quimioterapia/cirurgia/terapêutica conservadora), implicando uma abordagem multidisciplinar. Hospital Egas Moniz - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 44 3 UM CASO DE DOR ABDOMINAL, VÓMITOS E ASCITE NUM ADULTO JOVEM Lourenço L.C., Oliveira A.M., Rodrigues C.G., Horta D., Reis J., Deus J.R. Caso Clínico: Os autores relatam o caso de um adulto jovem de 26 anos, sexo masculino, caucasiano, com antecedentes de atopia (asma e rinite alérgica) que se apresentou com um quadro clínico de 1 semana de evolução caracterizado por distensão e dor abdominal difusa acompanhada de intolerância alimentar (náuseas e vómitos). À observação, salientava-se a semiologia de ascite moderada, com a presença de líquido puro, ecograficamente. A investigação laboratorial revelou uma contagem alta de eosinófilos periféricos (6200/mm3) e no líquido ascítico (3989/mm3), bem como um nível elevado de imunoglobulina E (154 U/I). Após exclusão de outras causas de eosinofilia, foram pedidas uma vídeo-endoscopia digestiva alta e colonoscopia total com ileoscopia revelando uma mucosa com áreas focais de eritema dispersas (estômago, duodeno e cólon). As biopsias endoscópicas de vários segmentos do tubo digestivo evidenciavam infiltração por eosinófilos (>50/campo de grande ampliação) permitindo confirmar o diagnóstico de gastroenterite eosinofílica (com envolvimento do esófago, intestino delgado e cólon). Foram pesquisados alergénios ambientais e alimentares e o doente iniciou corticoterapia (prednisolona 40mg/dia). Assistiu-se a uma excelente resposta clínica e laboratorial (normalização da contagem de eosinófilos periféricos em 4 dias). À presente data, o doente terminou o esquema de corticoterapia há cerca de 6 meses e encontra-se assintomático. Discussão: A gastroenterite eosinofílica é uma doença rara caracterizada pela infiltração de eosinófilos na parede do tubo digestivo podendo apresentar várias manifestações gastro-intestinais. Até à data, menos de 300 casos estão descritos na literatura. Um alto nível de suspeição aliado à exclusão de outras causas de eosinofilia periférica é essencial para um diagnóstico correcto. Os autores apresentam este caso pela sua raridade e particular riqueza de achados semiológicos, pelo desafio da marcha diagnóstica e curso favorável após instituição terapêutica. Apresenta-se iconografia detalhada para fomentar a discussão clínica. Serviço de Gastrenterologia - Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, E.P.E. 45 Comunicações Orais - Pâncreas e Vias Biliares 1 EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL A RADIAÇÃO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE DURANTE A CPRE Alves A.R.(1), Gomes D.(1), Mendes P.(2), Laranjeiro T.(2), Paulo G.(2), Santos J.(2), Casela A.(1), Perdigoto D.(1), Almeida N.(1), Mendes S.(1), Mesquita R.(1), Camacho E.(1), Portela F.(1), Sofia C.(1), Introdução: Procedimentos endoscópicos com apoio de fluoroscopia têm apresentado um impacto crescente no âmbito da Gastrenterologia, com particular relevância para a Colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE). Estão estabelecidos níveis de exposição ocupacional máximos, sendo recomendada vigilância da eficácia das medidas de proteção utilizadas em cada unidade. Objetivos: Avaliar os níveis de exposição ocupacional a radiação durante a CPRE e o impacto de um sistema de dosimetria individual em tempo real no comportamento dos profissionais de saúde. Doentes e métodos: Estudo prospetivo, dividido em três fases, com utilização de dosímetros de radiação individuais (sistema RaySafe i2) nos profissionais intervenientes: médico, enfermeiro auxiliar, enfermeiro circulante, técnico de radiologia e anestesista. Fase 1 - 25 procedimentos, dosímetro colocado por baixo do avental de proteção a nível torácico. Fase 2 - 18 procedimentos, dosímetro em cima do avental a nível cervical, simulando ausência de proteção. Fase 3 - 12 procedimentos, dosímetro na mesma posição da fase 2, mas com valores de exposição individual em tempo real visíveis num monitor. Níveis de exposição apresentados em ?Sv. Resultados: Na fase 2, verificaram-se os seguintes valores de exposição: médico 6,78±5,99 ?Sv, enfermeiro assistente 7,63±12,88?Sv, técnico de radiologia 6,86±6,27?Sv, anestesista 6,58±11,75?Sv e enfermeiro circulante 4,56±5,45?Sv. Na fase 1, verificou-se que o equipamento de proteção individual permitiu uma redução significativa no valor de dose de exposição: médico 3,37±4,00 ?Sv, enfermeiro assistente 0,09±0,16?Sv, técnico de radiologia 0,70±1,55?Sv, anestesista 0,43±0,95?Sv e enfermeiro circulante 1,15±3,03?Sv (p<0,05). Na fase 3, com a alteração do posicionamento dos profissionais consoante valores em tempo real, observou-se redução média de 44 a 71% dos níveis de exposição, exceto no médico, cuja mudança de posição está limitada pela sua função na CPRE. Conclusão: Os valores de exposição obtidos neste estudo estão de acordo com as recomendações, tendo-se verificado bom funcionamento das medidas de segurança durante a CPRE. 1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Coimbra, Instituto Politécnico de Coimbra 46 2 ACUIDADE DIAGNÓSTICA DA PUNÇÃO GUIADA POR ECOENDOSCOPIA EM TUMORES SÓLIDOS DO PÂNCREAS: COMPARAÇÃO CITOLOGIA VERSUS “CELL-BLOCK” Elvas L., Brito D., Carvalho R., Areia M., Alves S., Saraiva S., Pontes J.M., Cadime A.T. Introdução: A ecoendoscopia (EE) permite obter imagem detalhada do pâncreas, não sendo, contudo, o aspeto ultrassonográfico suficiente para definir se uma lesão é benigna ou maligna. A punção aspirativa por agulha fina guiada por EE (PAAF-EE) veio possibilitar a obtenção de diagnóstico citológico e histológico de lesões sólidas pancreáticas com alta sensibilidade e especificidade. Objetivo: Avaliar a acuidade da PAAF-EE no diagnóstico de tumores sólidos do pâncreas com base nos resultados citológico versus “cellblock”. Material e métodos: Análise retrospetiva de doentes submetidos à PAAF-EE, na investigação de tumores sólidos do pâncreas, entre janeiro 2006 e dezembro 2013, no nosso Serviço. O diagnóstico foi estabelecido por citologia, “cell-block” ou ambas. O diagnóstico definitivo para referência foi baseado na evolução clínica ou peça cirúrgica. Resultados: Efetuadas 86 PAAF-EE em 84 doentes, 45 (53,6%) do sexo masculino, com idade média 63±11 anos. A mediana do tamanho das lesões foi 30 mm (11-103), sendo a cabeça do pâncreas a localização mais frequente (56%). A mediana do número de passagens, por procedimento, com agulha de 22G foi 3 (1-6). Foi possível obter material para citologia e “cell-block” em 75 (87%). A sensibilidade, especificidade e acuidade foi 84%, 62% e 80%, respetivamente, para a citologia isoladamente, de 81%, 100% e 83% para “cell-block” isoladamente e de 90%, 83% e 89% quando se obteve material para ambas as técnicas. A citologia revelou 5 lesões malignas não diagnosticadas pelo “cell-block” e o inverso sucedeu em 7 lesões. A taxa de complicações foi de 3,5% (n=3), sem mortalidade associada à técnica. Conclusão: A PAAF-EE mostrou ser um procedimento com elevada acuidade no diagnóstico de lesões sólidas do pâncreas e seguro. A combinação das duas técnicas apresenta vantagens diagnósticas ao aumentar a acuidade da PAAF-EE, pelo que, sempre que possível, deverá ser também obtido material para “cell-block”. Serviço de Gastrenterologia do IPOCFG, EPE 47 3 PRÓTESES METÁLICAS AUTO-EXPANSÍVEIS NO TRATAMENTO DE COLECÇÕES PANCREÁTICAS ORGANIZADAS Lopes S., Vilas-Boas F., Baldaque-Silva F., Pereira P., Ribeiro A., Macedo G. Introdução: As coleções líquidas pancreáticas (PFC) são complicações importantes da pancreatite aguda. No caso da pancreatite necrotizante, o material necrótico pode organizar-se em áreas bem circunscritas e encapsuladas que podem complicar-se de infecção. A intervenção endoluminal guiada por ecoendoscopia tem ganho aceitação como terapêutica alternativa à cirurgia ao permitir a realização de drenagem, irrigação e necrosectomia directa (DEN). Objectivos e métodos: Reportamos a nossa experiência inicial no uso de próteses metálicas auto-expansíveis (SEMS) no tratamento endoscópico das PFC. Utilizamos uma prótese metálica totalmente recoberta (40x10mm), com flaps em ambas as extremidades para promover a estabilidade e minimizar o risco de migração (Hanarostent® BCF, Diabolo shape). O sucesso técnico foi definido pelo correcto posicionamento da SEMS e o sucesso clínico pela resolução da febre, melhoria dos parâmetros inflamatórios e desaparecimento das colecções, sem cirurgia, na reavaliação imagiológica por tomografia computorizada (TC). Resultados: Sete doentes (com idade compreendida entre 41 e 79 anos, 5 do sexo masculino) com pancreatite aguda complicada por colecções pancreáticas organizadas, foram submetidos a drenagem endoscópica. A punção transgástrica com agulha 19 gauge (EchoTip® Cook Endoscopy) foi guiada por ecoendoscopia e seguida da criação de fístula gastro-cística por dilatação com balão hidrostático TTS (Boston Scientific CRE) até 10mm, para permitir a realização de DEN e a colocação de SEMS. A colocação da SEMS foi bem sucedida nos sete doentes e a drenagem completa ocorreu em 6 doentes 5 a 10 dias após o procedimento inicial, conforme demonstrado pela TC de controlo. Apenas 1 doente necessitou de intervenção cirúrgica após drenagem endoscópica. Conclusão: A nossa experiência preliminar demonstra que o tratamento endoscópico de PFC utilizando SEMS constitui uma alternativa segura e eficaz à cirurgia. Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 48 4 TUMORES QUÍSTICOS DO PÂNCREAS OPERADOS: ACUIDADE DOS CRITÉRIOS REVISTOS DE SENDAI NA AVALIAÇÃO DE MALIGNIDADE Faias S.1, , Pereira da Silva J.1, , Fonseca R.2, , André S.2, , Dias Pereira A. Introdução: Os critérios de Sendai revistos em 2012 estabelecem uma abordagem conservadora para quistos pancreáticos (QP) mesmo com >3cm, desde que não existam na Ecoendoscopia nódulos murais, envolvimento ductal principal, citologia com células atípicas ou icterícia. Naquelas guidelines, considera-se a informação obtida por EUS-FNA investigacional. Objetivo: Aferir a acuidade dos critérios de Sendai revistos na seleção para cirurgica de QP avaliados por Ecoendoscopia na nossa instituição. Material e Métodos: Análise retrospetiva de 32/183 (17%) QP avaliados por Ecoendoscopia entre 2006-2013 ulteriormente operados. Demografia, sintomas, localização/dimensão do quisto, presença de nódulos murais e citologia por EUS-FNA foram avaliados e correlacionados com a peça operatória. Resultados: Avaliados 32 doentes (12H/20M), com idade média=58A (29-80), 20 (60%) assintomáticos. Localização dos quistos na cabeça/corpo/cauda: 14/6/12 com dimensão média=34mm(7-70), 15 com 3cm, dos quais 46% com nódulos murais. EUS-FNA em 31/32 quistos. Citologia obtida: Líquido acelular-12; células benignas/inflamatórias-10, atípicas/malignas-4, TNE-3, tumor sólido pseudopapilar-1, linfocitos-1. Peça operatória: IPMN=13 (4 malignos); cistadenomas mucinosos=7 (1 maligno); adenocarcinoma=1; tumor sólido pseudopapilar=1; TNE=3; pseudoquistos=3; cistadenomas serosos=2; linfangioma=1; quisto de retenção=1. Dos 10 quistos malignos operados, todos tinham > 3cm, exceto 3 TNE (diagnóstico por EUSFNA) e 1 adenocarcinoma (quisto com 3cm. Conclusões: Os critérios de Sendai revistos permitiram seleccionar para cirurgia todos os quistos malignos na nossa série. A realização de EUS-FNA com exame citológico na avaliação pré-operatória de QP permite diagnosticar lesões malignas com 3cm são maioritariamente benignos conforme as guidelines. Serviço de Gastrenterologia1, Anatomia Patológica2 Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil Lisboa 49 5 COLANGIOPANCREATOGRAFIA RETRÓGRADA ENDOSCÓPICA NA SUSPEITA DE COLEDOCOLITÍASE – DAS GUIDELINES À PRÁTICA CLÍNICA Magalhães J. (1), Rosa B. (1), Cotter J. (1,2,3) Introdução: Na suspeita de coledocolitíase, a American Society of Gastrointestinal Endoscopy (ASGE) propõe um algoritmo de abordagem, no qual a realização de CPRE está indicada nos casos de elevado risco de coledocolitíase. Objectivo: avaliar a aplicabilidade prática deste algoritmo. Material e Métodos: Análise retrospectiva de 268 CPREs realizadas por suspeita de coledocolitíase. Foram avaliados fatores preditivos de coledocolitíase: muito fortes [bilirrubina total (BT) >4mg/dl, colangite ou cálculo na VBP], fortes [dilatação da VBP ou BT 1.8-4mg/dl] e moderados [idade >55anos, pancreatite litiásica ou alterações na bioquímica hepática], permitindo classificar os doentes em elevado, intermédio ou baixo risco de coledocolitíase na CPRE. A associação estatística entre os factores preditivos e a presença de coledocolitíase na CPRE foi determinada. Resultados: Entre todos os factores preditivos, apenas a pancreatite litiásica não se associou significativamente com a presença de coledocolitíase na CPRE (BT>4mg/dl, p=0,04, OR:1,79; colangite, p<0,001, OR:6,48; observação ecográfica de cálculo na VBP, p<0,001, OR:11,25; BT 1.8-4mg/dl, p=0,001, OR:3,15; dilatação da VBP, p<0,001, OR:5,06; idade >55anos, p=0,003, OR:2,37; alterações na bioquímica hepática, p=0,015, OR:2,43; pancreatite litiásica, p=0,068, OR:0,59). A maioria dos doentes (193/268, 72%) apresentava um elevado risco de coledocolitíase pré-CPRE, que foi confirmada em 79,8% (154/193) dos casos. Setenta e três doentes considerados de risco intermédio também realizaram CPRE, confirmando-se coledocolítíase em 34,2% (25/73). Dois doentes de baixo risco realizaram CPRE, não se confirmando a presença de coledocolitíase. Verificou-se uma diferença significativa entre os diferentes grupos de risco e a presença de coledocolitíase na CPRE (p<0,001). Conclusão: A realização de CPRE confirmou que a aplicação das guidelines da ASGE permitem identificar com assinalável acuidade os doentes com elevado risco de coledocolítiase. No grupo de risco intermédio confirmou-se a presença de coledocolitíase em aproximadamente um terço dos doentes, sugerindo a necessidade de uma investigação mais detalhada previamente à realização de CPRE. (1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães, Portugal;(2)Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal;(3)Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 50 6 PUNÇÃO ASPIRATIVA DE LESÕES SÓLIDAS DO PÂNCREAS GUIADA POR ECOENDOSCOPIA – IMPACTO NA DECISÃO CLÍNICA Lourenço L.C., Oliveira A.M., Rodrigues C.G., Horta D., Reis J., Pontes J.M., Deus J.R. Introdução: A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada por ecoendoscopia é uma técnica segura e com elevada acuidade diagnóstica para neoplasias sólidas do pâncreas. Contudo, existem poucos estudos que afiram o impacto da técnica na orientação e seguimento destes doentes. Objectivo: Investigar o valor diagnóstico e o impacto da PAAF na abordagem de lesões sólidas do pâncreas. Métodos: Procedeu-se a um estudo prospectivo monocêntrico que incluiu todos os doentes referenciados para realização de ecoendoscopia por lesão sólida do pâncreas, entre 1 de Junho de 2011 e 31 de Dezembro de 2013. Os aspirados foram colhidos para exame citológico e análise histológica. O impacto na decisão clínica foi analisado segundo vários endpoints: indicação para quimio/radioterapia, cirurgia ou vigilância. Resultados: Foram incluídos 45 doentes; 2 procedimentos foram impossibilitados por questões técnicas. Um diagnóstico definitivo foi obtido em 43 doentes. A sensibilidade, especificidade e exactidão da citologia e histologia (combinadas) para o diagnóstico de tumores malignos ou potencialmente malignos foi de 89,2%, 100% e 90,7%, respectivamente. A sensibilidade e exactidão da citologia foram significativamente mais elevadas que as da histologia isoladamente (p <0,05). Não houve diferença estatisticamente significativa no valor diagnóstico da PAAF comparando lesões da cabeça/processo uncinado com lesões do corpo/cauda. O mesmo aconteceu comparando lesões com mais e menos de 30mm de diâmetro. Não se registaram complicações relacionadas com o procedimento. A PAAF influenciou directamente a decisão clínica em 77 % dos casos (n=33 )– 19 doentes realizaram quimio/radioterapia; 8 foram submetidos a cirurgia; 6 entraram em programa de vigilância. Por outro lado, registaram-se 6 óbitos antes do início de terapêutica e encontraram-se 4 falsos negativos. Conclusões: Em doentes com lesões sólidas do pâncreas e suspeita de malignidade, a PAAF poderá possibilitar um diagnóstico correcto em cerca de 90% dos casos e influenciar directamente a abordagem em 3/4 dos doentes. Serviço de Gastrenterologia - Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca E.P.E. 51 Comunicações Orais - Fígado II 1 LESÕES HEPÁTICAS FOCAIS: O CONTRIBUTO DA ULTRASSONOGRAFIA COM CONTRASTE Leitão C., Santos A., Ribeiro H., Pinto J., Caldeira A., Pereira E., Pereira B., Tristan J., Sousa R., Banhudo A. Introdução: O uso de agentes de contraste na ultrassonografia (CEUS) veio oferecer novas perspectivas na investigação imagiológica do fígado. A obtenção de imagens dinâmicas em tempo real e a elevada resolução temporal desta ferramenta possibilitam maior sensibilidade e especificidade na detecção e caracterização das lesões hepáticas focais (LHF). Material e Métodos: Estudo retrospectivo de 50 doentes com LHF examinados por US modo B, Doppler e CEUS (SonoVue® ev, 2*2,4 mL, sonda convexa 3,5-5 MHz, Hitachi® HI VISION Preirus) entre Janeiro de 2012 a Janeiro de 2014. Avaliação do comportamento vascular das LHF segundo as recomendações publicadas em 2012 pelo European Federation of Societes for Ultrasound in Medicine and Biology (EFSUMB) e comparação com outras modalidades imagiológicas, diagnóstico histopatológico e seguimento clínico. Resultados: Dos 50 doentes (58% género feminino; idade média ±56,14 anos) com LHF, 38 (76%) não apresentavam doença hepática de base e 12 (24%) doença hepática crónica.28 doentes mostravam LHF únicas (60%). A CEUS permitiu o diagnóstico definitivo em 36/50 (72%) e distinguiu entre benignidade e malignidade das LHF em 46/50 (92%). O grau de concordância global com a TC e/ou RMN foi de 80%. Não ocorreram efeitos adversos ou intercorrências em nenhum doente. O diagnóstico de benignidade em CEUS ocorreu em 35 LHF (correspondendo a 6 lesões de esteatose focal, 2 HNF, 3 quistos hidáticos complicados, 1 abcesso hepático, 14 hemangiomas e 9 nódulos displásicos/regenerativos). O diagnóstico de malignidade ocorreu em 11 LHF, das quais 7 LHF secundárias e 4 carcinomas hepatocelulares enxertados em fígado com doença hepática crónica (100% concordantes em CEUS e TC e/ou RM). Conclusão: A CEUS constitui um suplemento não invasivo, seguro e valioso da US convencional, que veio melhorar a acuidade diagnóstica das lesões hepáticas focais. Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco 52 2 TERAPÊUTICA TRIPLA NA HEPATITE C CRÓNICA – RESULTADOS PRELIMINARES DA EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO HOSPITALAR Túlio M.1, Chapim I.1,Marques S.1, Carvalho L.1, Herculano R. 1,Costa P.1, Miranda A.2, Aldir I.2, Barreiro P.1, Bispo M.1, Lebre L.1, Bana T.1, Chagas C.1 Introdução: A terapêutica tripla com inibidor da protease (boceprevir ou telaprevir) permite, nos doentes genótipo 1, aumentar a taxa de resposta viral mantida em cerca de 25-30%. Objetivo: Avaliar a eficácia, efeitos adversos e dificuldades da terapêutica tripla na prática clínica real num centro terciário. Metodologia: Estudo observacional incluindo os doentes com hepatite C crónica genótipo 1 que iniciaram terapêutica tripla entre Agosto/2012 e Outubro/2013. Analisados fatores demográficos, preditores de resposta, respostas virais ao tratamento, efeitos adversos (EA) e seu manejo. Resultados: Foram tratados 21 doentes, 14 homens e 7 mulheres, com idade média de 49 anos, Genótipo 1a em 67% (14/21) com polimorfismo IL28B CT/TT em 89% (16/18). 95% dos doentes (20/21) tinha sido submetido a terapêutica dupla (24% recidivantes, 38% respondedores parciais, 33% respondedores nulos) e 71% (15/21) apresentava grau de Fibrose ?3 (F2 29%, F3 52%, F4 19%). Efetuaram terapêutica com telaprevir 57% (12/21) e boceprevir 43% (9/21). Completaram o tratamento 52% (11/21), estão sob tratamentos 4 doentes e descontinuaram tratamento 6 doentes (4 não eficácia, 1 má compliance, 1 efeito adverso grave – rash grau 3). Resposta ao tratamento: RVR 52% (11/21), eRVR 45% (9/20), cRVR 80% (16/20), ETR 91% (10/11), SVR12 86% (6/7). Os EA hematológicos foram os mais frequentes: anemia em 95% dos doentes (48% Hb <10g/dl, redução da dose de ribavirina em 48%, Eritropoietina em 14%); neutropénia em 90,5% (28,6% <1000/µl, 19% com necessidade de filgastrim) e trombocitopénia em 90,5% (24% <75000/µl). Observou-se ainda astenia em 86%, rash em 48% (ligeiro 28,6%. Moderado 14,3%, grave 4,8%) e perturbações psiquiátricas em 24% (5/21) dos doentes. Conclusão: Na nossa prática verificou-se uma melhor resposta virológica nos doentes recidivantes e com menor grau de fibrose hepática, verificando-se EA significativos em cerca de metade dos doentes, o que implica um regular e cuidadoso acompanhamento por equipa multidisciplinar. Serviço de Gastrenterologia1, Serviço de Infeciologia2 do Hospital Egas Moniz – Centro Hospitalar Lisboa Ocidental 53 3 CARACTERIZAÇÃO DA HEPATITE C GENÓTIPO 1 – A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Rodrigues-Pinto E., Cardoso H., Coelho R., Andrade P., Horta e Vale A.M., Sarmento J.A., Pereira P., Lopes S., Marques M., Gonçalves R., Rodrigues S., Araújo F., Macedo G. Introdução e Objectivo: A hepatite C (VHC) é uma das principais causas de doença hepática crónica, sendo o impacto a longo prazo extremamente variável, desde fibrose mínima até cirrose descompensada e carcinoma hepatocelular (CHC). Caracterizar a população de doentes novos com VHC genótipo 1, na prática clínica. Métodos: Estudo transversal de doentes com diagnóstico de novo de VHC genótipo 1, entre 2006 e 2013, seguidos na consulta de hepatologia dum hospital terciário. Resultados: Foram seguidos 274 novos doentes (65% do sexo masculino), com uma idade média de 52 anos, durante um tempo mediano de 24 meses. O método de transmissão foi desconhecido em 54%, associado a drogas intravenosas em 29% e transfusão/iatrogenia em 14%. Apresentavam cirrose ao diagnóstico 36% dos doentes, dos quais 70% eram Child-Pugh A, contudo, 25% destes descompensaram durante o seguimento; 18% desenvolveram varizes esofágicas, 12% apresentaram ascite e 4% encefalopatia hepática. Ao diagnóstico, 5% apresentavam já CHC, e durante o follow-up ocorreram 9 novos casos. A taxa de mortalidade aos 2 anos foi de 6%. Apenas 37% apresentaram condições para iniciar tratamento antivírico, sendo que em 86% dos casos consistiu num tratamento único; 13% participaram em ensaios clínicos. Na análise de regressão logística, associaram-se de forma independente a tratamento a ausência de cirrose (54% vs 18%; OR 3.2), idade inferior (OR 1.04) e abstinência etílica (OR 3.4). No geral, 62% alcançaram resposta virológica sustentada. Os principais motivos de não tratamento foram abandono da consulta (34%), idade avançada/co-morbilidades (22%) e cirrose descompensada/CHC (17%). Conclusões: Demonstrou-se a gravidade da VHC genótipo 1, com 36% de cirrose e 5% de CHC no diagnóstico e 25% de descompensação no seguimento. Apenas 37% dos doentes apresentaram condições para tratamento antivírico, que foi principalmente determinado pela presença de cirrose, idade e etilismo. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 54 4 ESTIMATIVA DO CUSTO DE UM INTERNAMENTO HOSPITALAR POR CIRROSE HEPÁTICA NUM SERVIÇO DE GASTRENTEROLOGIA Silva M.J., Costa M.N., Roque A., Leão R., Calinas F. INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS: O burden da doença hepática em Portugal é desconhecido. As estimativas de impacto económico têm-se socorrido de valores utilizados para financiamento hospitalar (GDH). O conhecimento da despesa real com cirrose hepática (CH) é essencial. Pretende-se estimar o custo médio de um episódio de internamento hospitalar por CH num serviço de Gastrenterologia. MÉTODOS: Revisão dos internamentos num Serviço de Gastrenterologia em 2012. Estimados custos de cada internamento por CH. Para tal, calculadas directamente as despesas com medicamentos, Imagiologia e técnicas; para os restantes elementos da despesa, utilizado o custo diário médio do Serviço a partir dos dados de contabilidade analítica (216,09EUR/dia). RESULTADOS: Analisados 135 episódios de internamento por CH, referentes a 82 doentes, 74,4% (n=61) do sexo masculino, idade mediana 55 anos. A principal causa de CH foi álcool (58,5%), seguida de VHC+álcool (20,7%). A demora média dos internamentos por CH foi 15,3 dias. O custo total médio do internamento por CH foi 3.979,45EUR. Os custos com medicamentos, Imagiologia e técnicas são discriminados na Tabela 1. A demora e custos dos internamentos de doentes com carcinoma hepatocelular (CHC) foram sobreponíveis aos dos restantes doentes com CH. N Custo Custos com Custos com Demora total medicamentos Imagiologia e média médio (A) técnicas (B) (C) TODOS OS 644 8,1 DOENTES DOENTES 135 15,3 CIRRÓTICOS sem CHC 109 15,3 com CHC 26 15,2 228,68 349,57 Tabela 1. Demora (em dias) e custos médios (em EUR) por episódio de internamento. C= A+B+(demora média X 216,09EUR) 2323,78 CONCLUSÕES: O custo do internamento por CH foi largamente 492,67 181,40 3979,45 superior à média da globalidade de internamentos. O custo estimado do 502,89 192,59 4004,24 internamento por CH é 449,84 134,48 3875,24 aproximadamente o dobro do valor correspondente por GDH. Estes custos poderão ser considerados em estimativas do peso económico da CH. Serviço de Gastrenterologia, Serviços Farmacêuticos, e Serviços de Informática do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE 55 5 AVALIAÇÃO DA FIBROSE HEPÁTICA NA HEPATITE B CRÓNICA: ACUIDADE DIAGNÓSTICA DE QUATRO TESTES NÃO INVASIVOS Magalhães J. (1), Dias de Castro F. (1), Boal Carvalho P. (1), Leite S. (1), Moreira MJ. (1) , Cotter J. (1,2,3) Introdução: Nos últimos anos foram desenvolvidos vários testes não invasivos para avaliação de fibrose hepática, nomeadamente scores resultantes da combinação de marcadores serológicos. O objectivo deste estudo foi a avaliação da acuidade diagnóstica de quatro testes não invasivos, índice AST/plaquetas (APRI), ALT/AST ratio (AAR), FibroQ e o FIB-4, em predizer a presença ou ausência de fibrose hepática significativa em doentes com hepatite crónica B (CHB). Métodos: Quarenta doentes com CHB, previamente submetidos a biopsia hepática, foram divididos em 2 grupos (F0-1: fibrose ausente/mínima vs. F2-4: fibrose clinicamente significativa), de acordo com o grau de fibrose da classificação histológica METAVIR. A acuidade diagnóstica de cada teste para fibrose hepática significativa, foi avaliada pela área sob a curva de ROC (AUC). Subsequentemente, de acordo com os valores de cut-off mais frequentemente referidos na literatura, foram determinados os valores de sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo (VPP) e valor preditivo negativo (VPN) para cada teste. Resultados: No nosso estudo, o FIB-4 foi o teste que apresentou melhor acuidade diagnóstica para fibrose hepática significativa (AUC 0,81, 95%IC 0,661-0,963) seguido pelo APRI (AUC 0,80, 95%IC 0,645-0,954) e FibroQ (AUC 0,72, 95%IC 0,504-0,929). O AAR não apresentou uma boa acuidade diagnóstica para fibrose hepática significativa (AUC 0,48). Considerando um valor de cut-off de 1 para o FIB-4, de 0.5 para o APRI e 1,6 para o FibroQ, a ausência de fibrose hepática significativa foi corretamente identificada em 89% (sensibilidade 67%, especificidade 77%, VPP 46%, VPN 89%), 91% (sensibilidade 78%, especificidade 68%, VPP 41%, VPN 91%) e 88% (sensibilidade 67%, especificidade 74%, VPP 43%, VPN 88%) dos doentes com CHB, respectivamente. Conclusão: No nosso estudo, os testes não invasivos FIB-4, APRI e FibroQ demonstraram ser particularmente úteis na exclusão de fibrose hepática significativa (VPN>85%) nos doentes com hepatite B crónica. (1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães, Portugal; (2)Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal; (3)Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 56 6 INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA AGUDA DE CAUSA HIPÓXICA – UMA ENTIDADE FREQUENTEMENTE NEGLIGENCIADA Carvalhana S., Trabulo D., Gonçalves A., Valente A., Palma R., Alexandrino P., Velosa J. Introdução: A hepatopatia hipóxica, anteriormente denominada de hepatite isquémica ou fígado de choque, representa 1% das admissões em Unidades de Cuidados Intensivos (UCI). Na maioria dos casos, esta entidade é subdiagnosticada devido a uma menor consciencialização dos clínicos para a sua complexa etiopatogénese, uma vez que em cerca de 40% dos doentes não se verifica hipotensão arterial associada. Objectivos: Avaliação das causas e prognóstico da insuficiência hepática aguda (IHA) numa Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) com análise particular da etiologia hipóxica. Métodos: análise retrospectiva, no período de 1992-2013, de todos os doentes admitidos na UCI de Gastrenterologia e Hepatologia por IHA; avaliação da etiologia, evolução e outcome (sobrevida, transplante hepático e óbito). Resultados: 90 doentes; idade média 42 anos; 59% homens. Etiologias: viral – 35,6% (VHB+D – 60,0%); tóxica – 33,3% (Amanita phalloides – 30,0%); hipóxica – 16,6%; outras – 11,1%; desconhecida – 3,3%. Dos doentes com IHA hipóxica, as causas subjacentes foram: taquifibrilhação auricular – 6; drepanocitose/talassémia – 2; miocardiopatia – 2; crise epiléptica – 2; enfarte agudo do miocárdio – 1; cor pulmonale - 1; síndrome maligno dos neurolépticos – 1. Verificaram-se, no total, 38,8% de óbitos (35 doentes): 54,3% causa viral; 34,3% causa tóxica; 8,6% causa hipóxica. Foram referenciados para transplante hepático 21 doentes (23,3%), sendo transplantados 17,7% (16 doentes), a maioria por causa tóxica (69%) e nenhum por causa hipóxica. Apesar de 47% dos doentes com IHA de etiologia hipóxica ter tido necessidade de suporte inotrópico, verificou-se boa evolução clínica com rápida normalização analítica (transaminases e LDH). Conclusão: A hipóxia é uma etiologia de IHA, que na nossa série representou um sexto das admissões por IHA, com bom prognóstico quando diagnosticada atempadamente. UCIGEH, Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, HSM, CHLN 57 1 INFLIXIMAB: INDUTOR DO AUMENTO DO NÚMERO DE MONÓCITOS CD16+ CIRCULANTES E MODIFICADOR DA RESPOSTA À INFEÇÃO BACTERIANA Coelho R.1, Nazareth N.2, Appelberg R.3, Gracio D.4,5, Sarmento A.3,2, Magro F.1,4,5,, Macedo G.1 Introdução e objectivos: A Doença de Crohn (DC) foi associado a uma resposta alterada dos macrófagos a microorganismos. Os objectivos foram avaliar os efeitos da terapêutica com infliximab em subpopulações de monócitos circulantes e determinar o perfil de resposta das citocinas após estimução bacteriana. Material: Foram obtidos macrófagos derivados de monócitos do sangue periférico de 91 doentes com DC [69 em tratamento com infliximab (DC-IFX) vs 22 sem terapêutica anti-TNF (DC) e 14 controles (C)]. Os macrófagos foram infectados com estirpes de Escherichia coli, Enterococcus faecalis, Mycobacterium avium subsp. paratuberculosis (MAP) ou Mycobacterium avium subsp avium. Foi realizado doseamento dos níveis de citocinas (TNF e IL-10), estudada a expressão de subpopulações de monócitos (com marcação para CD14 e CD16) e quantificada a secreção de TNF pelos monócitos CD16+ e CD16-. Resultados: O tratamento com infliximab resultou em níveis superiores de produção de TNF e de IL-10 pelos macrófagos em resposta à estimulação bacteriana. Observou-se um aumento dos monócitos CD16+ em circulação associado ao uso de infliximab (particularmente o subconjunto CD14++ CD16+), pré- terapêutica: 4,65% ±0,58% vs após infliximab: 10,68% ±2,23%. Os monócitos CD16+ produziram maior quantidade de TNF em resposta à estimulação pela MAP (infectados: 34,23 ±0,16 pg/2x105 células vs não infectados: 10,96 ±0,28 pg/2x105 células). Após três infusões de infliximab, os doentes apresentaram aumento da frequência de células TNF+ em resposta à infeção pela MAP (pré-tratamento: 1,05%±0,12%; pós- tratamento: 2,02%±0,47%). Conclusão: O tratamento com infliximab aumentou a produção de TNF pelos macrófagos CD 16+ em resposta à estimulação bacteriana, o que parece depender da subpopulação CD14++ CD16+. O tratamento com infliximab resultou num aumento da produção de IL- 10 o que sugere uma mudança induzida pelo infliximab para macrófagos M2 . 1-Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. 2-CEBIMED – Biomedicine Research Center, Health Sciences Faculty, University Fernando Pessoa. 3-IBMC - Institute for Molecular and Cell Biology, University of Porto. 4-Departamento de Farmacologia e Terapêutica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 5-MedInUP - Center for Drug Discovery and Innovative Medicines. 58 2 DESENVOLVIMENTO TUMORAL PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO DE CARCINOMA COLORRETAL EM MODELO ORTOTÓPICO – QUAL O PAPEL DO MICROAMBIENTE TUMORAL? Caetano Oliveira R. 1, Abrantes A.M. 2,3, Tavares-Silva E. 4, Pires A.S. 2,3,5, Mamede A.C. 2,3,6, Gomes M.A. 2, Tralhão J.G. 2,7, Botelho M.F. 2,3 Introdução: O carcinoma colorretal (CCR) contitui um grave problema de saúde pública, revelando uma elevada taxa de incidência e mortalidade. Atualmente sabe-se que o CCR é uma doença heterogénea, causada por alterações em vias patogénicas complexas, bem como moleculares, numa cascata de processos biológicos. Assim, os modelos animais são fundamentais no estudo dos mecanismos moleculares do cancro, devendo para tal mimetizar as características da progressão tumoral. Um dos modelos mais utilizados é o modelo heterotópico, que todavia não evidencia metástases, fator importante e decisivo no prognóstico dos doentes com CCR. O modelo ortotópico (ORT) de tumores humanos em murinos imunodeprimidos provou ser mais adequado, pois além de caracterizar o microambiente, pode evidenciar metastização. A utilização de dois modelos ORT de CCR, um no ceco e outro no cólon distal (onde o CCR é mais frequente), permitirá o estudo local e disseminado de cerca de 60% dos CCR. Métodos: Três diferentes linhas celulares humanas de CCR (LS1034, C2BBe1 e WiDr), de localizações topográficas distintas (cego, cólon descendente e retosigmóide) são injetadas na submucosa cólica (10-14×106 células/animal) em ratos RNU previamente submetidos a colostomias descendentes com fístula mucosa distal e cecostomias, sendo avaliada a progressão tumoral através de medicina nuclear (99mTc-MIBI). Resultados: Registou-se desenvolvimento tumoral quando as linhas celulares foram inoculadas num local homólogo à sua origem, sendo que na linha C2BBe1 se obteve desenvolvimento tumoral secundário. Os estudos imagiológicos demonstraram a captação tumoral e a possível metastização à distância nesse caso. Discussão/Conclusão: Este estudo demonstra o papel crucial desempenhado pelo microambiente tumoral na carcinogénese do CCR, bem como as possibilidades do modelo ORT para o estudo detalhado desta patologia, facultando novas descobertas, tanto a nível de fatores de prognóstico, como de novas possibilidades terapêuticas. 1 Serviço de Anatomia-Patológica, CHUC, Coimbra; 2 Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; 3 IBILI, CIMAGO, FMUC, Coimbra; 4 Serviço de Cirurgia, Cirurgia 3, CHUC, Coimbra; 5 FCTUC, Coimbra; 6 CICS-UBI, UBI, Covilhã; 7 Serviço de Cirurgia, Cirurgia A, CHUC, Coimbra. 59 3 INIBIÇÃO DA EXPRESSÃO DE KRAS MUTADO EM CÉLULAS HUMANAS DE CANCRO DO CÓLON Brito H.1, Lavrado J.1, Moreira R.1, Paulo A.1, Rodrigues C.M.P.1,2, Borralho P.M.1,2 Mutações no KRAS encontram-se presentes em 35-45% de tumores do cólon, sendo um importante alvo no tratamento do cancro, para o qual não existe terapêutica dirigida. O objetivo deste trabalho foi regular negativamente a transcrição deste oncogene e avaliar o efeito dessa estratégia na proliferação e morte de células tumorais de cancro do cólon (CC). Utilizaram-se quatro ligandos de G-Quadruplexos sintetizados no iMed.ULisboa (Grupo de Química Medicinal) e avaliou-se o seu efeito na viabilidade e morte celular através de ensaios de metabolismo de MTS e por Guava ViaCount, em células de CC com KRAS mutado (HCT116 e SW620) e em células com KRAS wild-type (HEK293T). A expressão da proteína KRAS foi avaliada por immunoblotting. Os valores de IC50 determinados situaram-se entre 0,3-3,46 µM, 0.55-4.74 µM e 0,50-6,57 µM, respetivamente, em células HCT116, SW620 e HEK293T. A morte celular foi avaliada após 72 h de exposição a concentrações equitóxicas (IC50) destes ligandos, as quais aumentaram a morte celular geral quase 2 vezes, tendo a apoptose aumentado entre 2 e 5 vezes em células HCT116 e SW620, relativamente ao controlo (p<0,05). Em contraste, a exposição de células HEK293T a concentrações equitóxicas dos ligandos, não resultou em aumento significativo de morte celular por apoptose. Curiosamente, alguns compostos demonstraram ser 2,5 vezes mais eficazes do que o 5-Fluorouracilo no aumento da apoptose. Mais ainda, os ligandos reduziram a expressão proteica de KRAS em todas as linhas celulares. Estes resultados sugerem maior dependência das linhas celulares tumorais da sinalização via KRAS, em particular de células humanas de CC HCT116, indicando que a inibição deste oncogene poderá constituir uma nova abordagem terapêutica promissora no tratamento de tumores com KRAS mutado. Financiado por SPG e FCT (EXPL/QEQ-MED/0502/2012) 1Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa), Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal; 2Departamento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa, Portugal; 60 4 BUTIRATO E IRINOTECANO: UMA NOVA ABORDAGEM PARA O TRATAMENTO DO CANCRO COLORRETAL Encarnação J.C. 1,2, Pires A.S. 1,3,4,5, Gonçalves T.J. 1,2, Casalta-Lopes J.E. 1, Gonçalves AC 5,6, Abrantes A.M. 1,4,5, Sarmento-Ribeiro A.B. 5,6, Botelho M.F. 1,4,5 Introdução: Uma dieta rica em fibras está relacionada com um baixo risco de desenvolvimento do cancro colorretal (CCR). A fermentação de fibras dietéticas pela microflora intestinal resulta na produção de butirato. Este tem sido reportado como um agente quimiopreventivo. O irinotecano é usado como segunda linha de tratamento para o CCR. O uso de compostos naturais capazes de sensibilizar as células resistentes à quimioterapia parece ser uma solução a considerar. O objetivo deste estudo é avaliar o efeito da combinação de butirato com o irinotecano em três linhas celulares de CCR. Material: As células C2BBe1, LS1034 e WiDr foram incubadas com diferentes concentrações de butirato de sódio (1-50mM) e irinotecano (0,1-100 µM), isoladamente e em combinação. Para determinar o IC50 (concentração que inibe a proliferação em 50%) às 48, 72 e 96 horas, a proliferação celular foi avaliada pelo ensaio MTT. Foi realizado o ensaio de citometria de fluxo de modo a avaliar a viabilidade celular e os tipos de morte induzida, apoptose (rácio BAX/BCL-2) e a expressão do glutatião reduzido (GSH). Resultados: O aumento da concentração de butirato resulta no decréscimo da proliferação e viabilidade celular, no aumento do rácio BAX/BCL-2 e no ligeiro aumento da expressão de GSH, relativamente ao controlo, nas três linhas celulares. Quando as células são sujeitas ao tratamento simultâneo com butirato e irinotecano, existe sinergia. Este efeito é mais notável na linha LS1034 e menos notável na linha Widr. Conclusões: Este estudo sugere que a combinação do butirato com o irinotecano tem um efeito antiproliferativo significativo nas três linhas celulares, apesar do seu diferente perfil genético e da sua localização de origem. O uso de compostos naturais como o butirato em combinação com agentes quimioterapêuticos poderá ser uma nova solução para o tratamento do CCR. 1 Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; 2 FFUC, Coimbra; 3 FCTUC, Coimbra; 4 IBILI, FMUC, Coimbra; 5 CIMAGO, FMUC, Coimbra; 6 Clínica Universitária de Hematologia e Unidade de Biologia Molecular Aplicada, FMUC, Coimbra. 61 5 DETERMINAÇÃO DO DANO NO ADN, DANO OXIDATIVO E ÍNDICE DE STRESS OXIDATIVO NOS DOENTES COM DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Coelho R. 1, Pereira C. 2, Magro F. 1,3,4, Macedo G. 1 Introdução e objectivos: Apesar do conhecimento de alguns factores genéticos e ambientais que participam na etiopatogenia da doença inflamatória intestinal (DII), a sua etiologia é desconhecida. O stress oxidativo constitui-se como um factor potencial na génese e perpetuação da inflamação. Objectivo: avaliar o papel stress oxidativo nos doentes com DII. Materiais: Determinação do dano de ADN (DA) e dano oxidativo (DO) em doentes com DII e em indivíduos saudáveis pelo método de comet assay, obtendo-se a média da percentagem de ADN com quebras (DA) ou bases oxidadas (DO) em 100 células por indivíduo. O índice de stress oxidativo (ISO) foi obtido pela razão entre o estado oxidante total (EOT) e a capacidade antioxidante total (CAT) determinados no plasma de cada indivíduo por espectrofotometria. Sumário dos resultados: Foram incluídos 147 doentes [n=101 doença de Crohn (DC), n=46 Colite Ulcerosa (CU)], e 89 indivíduos saudáveis (C). Os valores DO (DII- 4,49vs C- 0,00, p=0.000), DA(DII- 9,29 vs C-7,26, p=0.003), EOT (DII- 6,64 vs C- 2,56, p<0.001) e ISO (DII-1,55 vs C- 0,38, p<0.001) são superiores nos doentes com DII comparativamente aos indivíduos saudáveis. Nos doentes com DII, o valor médo DO foi superior na CU (CU10,18 vs DC-3,84, p=0.01), sendo o DA superior na DC (CU- 6,99 vs DC -10,34, p=0.001). O DO foi superior nos doentes fumadores (7,97 vs 3,24, p<0.001). O atingimentodo do trato digestivo superior apresentou valores de ISO superiores (3,69vs1.68, p=0,045). Doentes medicados com aminossalissilatos vs azatioprina apresentam níveis inferiores de DA (5,01 vs 9,70, p<0.001). O uso de anti-TNF associou-se a níveis superiores de DA (12,44 vs 9,70, p=0.035), EOT (12,48vs3.61, p=0.000) e ISO (3,04vs0,61, p<0.001). Conclusões: Os doentes com DII apresentam DO e DA comparativamente à população saudável. O DA é influenciados pela terapêutica com os aminossalissilatos conferindo um efeito protector e o anti-TNF agravante. 1- Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. 2- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, IP. 3- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 4- MedinUP, Center for drug discovery and innovative medicines 62 6 GRANDES DELECÇÕES GERMINAIS EPCAM-MSH2 EM DOENTES COM SÍNDROMA DE LYNCH: INACTIVAÇÃO SOMÁTICA ASSOCIADA A UM FENÓTIPO AGRESSIVO Francisco I.1, Albuquerque C.1, Filipe B.1, Silva P.1, Lage P.2,3, Claro I.2,3, Ferreira S.2,3, Rosa I.2,3, Fonseca R.4, Rodrigues P.2, Chaves P.4, Dias Pereira A.3 Introdução: O síndroma de Lynch (SL) caracteriza-se pela presença de uma mutação germinal num dos genes de reparação de erros do DNA do tipo mismatch[1], sendo os mais frequentemente mutados o MLH1 e o MSH2, nos quais se identificam mutações em cerca de 50% das famílias suspeitas de SL. Em 2009 foram descritas famílias de SL com grandes delecções germinais no gene EpCAM, que se localiza a montante do gene MSH2. Estas delecções abrangem a região promotora e por vezes alguns exões deste último, verificando-se depois a sua inactivação somática por hipermetilação[2]. Objectivo: Identificar grandes delecções no gene EpCAM em famílias com suspeita de SL. Doentes e Métodos: Desde 2010, foram analisadas grandes delecções germinais nos genes EpCAM e MSH2 por Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification (MLPA) em 258 indivíduos índex de famílias com suspeita de SL, sem mutação pontual nos genes MSH2 e MLH1. Resultados: Foram detectadas grandes delecções germinais no gene MSH2 em 13 famílias e numa foi identificada uma grande delecção germinal compreendendo desde o exão 3 do gene EpCAM ao exão 8 do gene MSH2. Por PCR quantitativo verificou-se que a delecção se estendia ao exão 2 deste gene, compreendendo aproximadamente 72kb. Esta mutação foi identificada em 4/7 indivíduos analisados desta família. Num dos indivíduos foram-lhe diagnosticados três carcinomas: um carcinoma urotelial (65 anos), um adenocarcinoma endometrióide (69 anos) e aos 70 anos um adenocarcinoma pouco diferenciado, mucocelular, em adenoma tubulo-viloso no bulbo duodenal (pT1N2M1-estádio IV). A delecção quase total do EpCAM e o papel da respectiva proteína como molécula de adesão celular sugeria uma eventual relação com o fenótipo metastático precoce. De facto, a delecção foi detectada neste último tumor em homozigotia (germinal+somática), justificando a ausência de hipermetilação do gene MSH2 neste caso, enquanto o tumor do endométrio apresentava a delecção em heterozigotia. Conclusões: Esta análise permitiu identificar a primeira família de SL com delecção EpCAM-MSH2, descrita em Portugal, e aumentar o número de famílias com diagnóstico genético. É de salientar a possível relação entre a delecção homozigótica do EpCAM e a metastização precoce, o que alerta para o risco de doentes com grandes delecções germinais neste gene poderem apresentar um fenótipo metastático precoce por inactivação somática do mesmo. [1] Boland C. R. 2005 Fam Cancer 7, 41-52. [2] Ligtenberg et al., 2009 Nat Genet 2009, 41:112–7. 1 - UIPM ; 2 - Clínica de Risco Familiar; 3 - Serviços de Gastrenterologia e 4 - Anatomia Patológica - IPOLFG, EPE 63 Comunicações Orais - Doença Inflamatória Intestinal/Tubo Digestivo 1 PERTURBAÇÃO DO SONO EM DOENTES COM DOENÇA DE CROHN SOB TERAPÊUTICA ANTI-TNF ALFA: PREVALÊNCIA E SUA RELAÇÃO COM QUESTIONÁRIO IBD-CONTROL Fernandes C., Pais T., Ribeiro I., Silva J., Ponte A., Rodrigues A., Alberto L., Proença L., Silva AP., Pinho R., Carvalho J. Introdução: a perturbação do sono é uma condição frequente na doença inflamatória intestinal, nomeadamente em situações com gravidade moderada/severa. O questionário IBD-control1 foi recentemente desenvolvido e validado para avaliar o controlo da doença pela perspetiva do doente. Nenhuma relação foi ainda estabelecida entre a perturbação do sono e o questionário IBDControl. Objetivo: avaliar a prevalência de perturbação do sono (através do índice de qualidade de sono de Pittsburgh - PSQI)2 em doentes com doença de Crohn sob terapêutica com anti-TNF alfa. Avaliar ainda a correlação entre a qualidade do sono e os subscores do questionário IBD control (IBD-control-8 e IBDcontrol-VAS). Métodos: doentes com doença Crohn sob terapêutica com anti-TNF alfa (infliximab e adalimumab) em 2013 que completaram o questionário IBD-Control e o questionário do PSQI (ambos questionários realizados telefonicamente e por um único operador) . Avaliado: a 1) prevalência de perturbação do sono; e 2) a correlação entre o IBD-control subscores e o PSQI. Resultados: de 43 doentes considerados, 38 aceitaram responder aos questionários (55,3% feminino, idade média 38,3 anos); Valor médio de PSQI de 4,8 [±3,6] pontos; considerando o cut-off original a prevalência de perturbações do sono foi de 39,5%; O valor médio do IBD-control-8: 13.0 [±3,3] pontos; IBD-control-VAS 87.1 [±14.5] pontos; os subscores IBD-control-8 e IBD-control-VAS estão adequadamente correlacionados com o PSQI (-0.66 p<0.01 and -0.81 p<0.01, Spearman’s rho respetivamente). Conclusão: Na nossa amostra: 1) a prevalência de perturbações do sono foi de 39,8% e 2) os subscores do IBD-control revelaram adequada correlação com PSQI. Os subscores do IBD-control parecem ter um papel adicional na predição de perturbações do sono em doentes com doença de Crohn a realizar terapêutica com anti-TNF alfa. 1 – Bodger L, et al. Gut 2013;0:1-11 2 - Buysse, D.J., et al. Journal of Psychiatric Research, 28(2), 193-213. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 64 2 PREVALÊNCIA E FATORES DE RISCO PARA COLITE ULCEROSA COM CURSO AGRESSIVO Cardoso R., Campos S., Freire P., Ferreira M., Mendes S., Ferreira A.M., Andrade P., Portela F., Sofia C. INTRODUÇÃO: A colite ulcerosa (CU) é uma doença heterogénea. Têm sido identificados fatores prognósticos para eventos particulares como a necessidade de colectomia. Recentemente o curso agressivo da CU foi definido pela existência de recidivas frequentes, neoplasia do cólon (NC), manifestações extraintestinais (MEI) ou necessidade colectomia. OBJETIVO: Determinar a prevalência e eventuais fatores de risco para CU com curso agressivo. DOENTES E MÉTODOS: Incluíram-se doentes com CU com pelo menos 8 anos de evolução naturais e/ou residentes no distrito de Coimbra. Recolheram-se dados clínicos e demográficos relativos ao diagnóstico e à evolução clínica. O curso agressivo da CU foi definido de acordo com os critérios mencionados anteriormente. RESULTADOS: Foram incluídos 135 doentes (sexo feminino: 66, 48,9%; média de idades: 38,1±16,4anos) com um tempo médio de seguimento de 168,4±92,7meses. A prevalência de CU agressiva foi de 31,1% (42 doentes): MEI em 20%, recidivas frequentes em 11,1%, colectomia em 3,7% e NC em 2,2%. Detetou-se uma tendência para associação significativa entre colite extensa e curso agressivo da doença (26,2% vs. 12,9%; p=0,057). Verificou-se um maior risco de CU agressiva nos doentes medicados com corticosteroides sistémicos no primeiro ano após o diagnóstico (43,8% vs. 24,5%; p=0,039) e naqueles com internamento por colite grave requerendo corticoterapia endovenosa (54,5% vs. 26,5%; p=0,009). O curso agressivo não revelou associação com a idade de diagnóstico da doença (39,5±16,6 vs. 35,0±15,9anos; p=0,104). Nos doentes com curso agressivo o tratamento com azatioprina (50% vs. 21,5%; p=0,001) e infliximab (16,7% vs. 1,1%; p=0,001) foi significativamente mais frequente. CONCLUSÕES: A CU agressiva tem uma prevalência elevada sobretudo à custa das MEI. A necessidade de corticoides sistémicos no primeiro ano após o diagnóstico ou de corticoterapia endovenosa ao longo da evolução da doença revelaram valor preditivo de curso agressivo da CU. Na nossa série a idade de diagnóstico não mostrou valor prognóstico. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 65 3 VALIDAÇÃO DA VERSÃO PORTUGUESA DE UM QUESTIONÁRIO PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DOS CUIDADOS DE SAÚDE DO PONTO DE VISTA DO UTENTE COM DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL (QUOTEIBD) Fernandes D., Nogueira M., Gonçalves B., Costa S., Machado A., Caetano A., Gonçalves R., Soares J. Introdução: A perspetiva dos doentes sobre os cuidados de saúde que recebem tem ganho importância crescente na avaliação da qualidade desses cuidados, sobretudo em doenças crónicas como a doença inflamatória intestinal (DII). Neste sentido, foi criado o QUOTE-IBD, um questionário para avaliação da qualidade dos cuidados de saúde do ponto de vista do utente com DII, mas que ainda não possui uma versão portuguesa validada. Objetivos: Avaliar a validade, reprodutibilidade e aceitabilidade da versão portuguesa do QUOTE-IBD. Métodos: Estudo observacional longitudinal unicêntrico com 3 fases sequenciais: 1) tradução e adaptação cultural do QUOTE-IBD e avaliação da sua compreensibilidade; 2) avaliação da validade através da correlação entre os resultados do QUOTE-IBD (composto por 23 itens, agrupados em 7 domínios e avaliados segundo o seu desempenho, importância e impacto da qualidade) e escalas analógicas visuais (VAS); 3) avaliação da reprodutibilidade da versão portuguesa do QUOTE-IBD pelo preenchimento do questionário uma segunda vez, após 4 semanas. Resultados: Participaram no estudo 114 utentes com DII (77 com doença de Crohn e 37 com colite ulcerosa). O coeficiente de correlação de Spearman entre o Cuidado Global e a VAS foi positivo e significativo (p<0.001), quer para o Desempenho (rs=0.35), quer para o Impacto da Qualidade (rs=0.33). Trinta e quatro (30%) utentes completaram o questionário pela segunda vez. O coeficiente de correlação de Spearman entre o Cuidado Global do primeiro e segundo questionários foi positivo e significativo, quer para o Desempenho (rs=0.62; p<0.001), quer para o Impacto da Qualidade (rs=0.55; p<0.01). Apenas 3 itens relativos ao Desempenho tiveram percentagens de resposta abaixo, mas muito próximas, dos 90%. Conclusão: A versão portuguesa obtida do QUOTE-IBD é válida, reprodutível e aceitável na avaliação do Desempenho e Impacto da Qualidade do Cuidado Global do ponto de vista do utente com DII. Hospital de Braga 66 4 COLONOSCOPIA POR ROTINA APÓS DIVERTICULITE AGUDA NÃO COMPLICADA - É NECESSÁRIA? Andrade P., Ribeiro A., Macedo G. Introdução: A maioria das guidelines internacionais recomenda a realização por rotina de colonoscopia após tratamento conservador de diverticulite aguda diagnosticada por tomografia computadorizada (TC). O principal objetivo é excluir a presença de uma lesão maligna subjacente. Os dados que suportam estas recomendações são escassos e divergentes. Objetivo: Determinar a prevalência de neoplasia cólica avançada (NCA) detetada por colonoscopia após diagnóstico imagiológico de diverticulite aguda e avaliar a necessidade da sua realização por rotina. Métodos: Analisados retrospetivamente todos os doentes hospitalizados por diverticulite aguda entre julho/2008 e junho/2013. Colhidos dados clínicos, laboratoriais, imagiológicos, endoscópicos e histológicos. Excluídos os doentes com colonoscopia mais de 1ano após a admissão. Definiu-se adenoma avançado (AA) como adenoma ? 10 mm, ? 25% histologia vilosa ou com displasia alto grau (DAG). NCA incluiu os casos de carcinoma colorretal (CCR) e adenoma avançado (AA). Resultados: Dos 364 doentes selecionados, 252 (69%) realizaram colonoscopia até um ano após a admissão (51% mulheres; idade média de 59 ± 13 anos). Sessenta e oito doentes (26.9%) tinham pólipos, 13 (5.1%) tinham AA e 8 (3.2%) CCR; 21 (8.3%) doentes tinham NCA. Os doentes com diverticulite aguda complicada (n=43) apresentaram maior número de NCA (20.9% vs 5.3%, p=0.003) comparativamente aos doentes com diverticulite aguda não complicada (n=209). Na análise multivariada, a idade?50 anos (OR 8.12, p = 0.017) e presença de abcesso na TC (OR 3.15, p = 0.036) foram fatores de risco significativos para NCA. Conclusões: Os doentes com diverticulite aguda complicada de abcesso têm maior risco de NCA na colonoscopia de seguimento. A prevalência de NCA nos doentes com diverticulite aguda não complicada é baixa. Este estudo demonstra que, na ausência de outras indicações, a realização por rotina de colonoscopia nos doentes com diverticulite aguda não complicada pode ser dispensada. Serviço de Gastrenterologia Centro Hospitalar S.João, Porto 67 5 APLICABILIDADE DA QUIMIOTERAPIA PERIOPERATÓRIA NO CANCRO GÁSTRICO: AS DIFICULDADES DA VIDA REAL SÃO SEMELHANTES ÀS DOS ENSAIOS CLÍNICOS Trabulo D.(1), Moleiro J.(1), Ferreira A.(1), Dionísio R.(2), Cardoso C.(3), Pimenta A.(4), Mão de Ferro S.(1), Serrano M.(1), Ferreira S.(1), Freire J.(3), Luís A.(3), Loureiro A.(5), Casaca R.(6), Bettencourt A.(6), Dias Pereira A.(1) Introdução: O benefício da quimioterapia perioperatória(QPO) nos doentes com adenocarcinoma gástrico (CG) ou da junção esófago-gástrica (CJEG) ressecável foi demonstrado no estudo MAGIC, à custa de elevada morbilidade. O objectivo do trabalho consistiu em avaliar a aplicabilidade deste estudo na prática clínica. Métodos: Doentes com CG e CJEG referenciados à Consulta Multidisciplinar entre 2009 e 2013. Estadiamento com TC toraco-abdomino-pélvica, ecoendoscopia se T<3, N0 e laparoscopia se T>2 ou N+. QPO proposta aos estadiados como T>2 ou N+ (3 ciclos pré e pós-operatórios de epirrubicina, cisplatina e 5fluorouracilo, cirurgia com dissecção ganglionar D2). Avaliadas características clínicas, adesão, complicações e sobrevivência. Estatística: chi2, t-Student, Kaplan-Meier. Resultados: 418 doentes, 315 CG, 103 CJEG; 57% homens, idade média 65,4±21-93 anos. QPO proposta em 150 (em 2 com quimioterapia intraperitoneal por citologia positiva na laparoscopia). Quimioterapia pré-operatória em 143 doentes (não realizada por: progressão da doença-5, sintomatologia obstrutiva-1, comorbilidades-1); complicações major-7%, mortalidade–3%. Cirurgia: 134 doentes-94%(não efectuada por: morte durante quimioterapia-4, toxicidade da quimioterapia-1, progressão de doença-1, recusa-2). Cirurgia R0-102 doentes(76,1%), R1-5, R2/irressecável-28; complicações major–16%, mortalidade–3%. Quimioterapia pós-operatória se cirurgia R0: 74/102(72,5%); não realizada por: complicações de quimioterapia/cirurgia-26, progressão de doença-2; complicações major–6%; mortalidade–0%. Assim, 69 doentes (47%) não concluíram o protocolo proposto. Sobrevivência aos 36 meses: a)global-37,4%; b)propostos para QPO-51,2%; c)tratados com intenção curativa-66,5%; d)sobrevivência dos que concluíram o protocolo proposto-70,7%. Conclusão: Um terço dos doentes foram elegíveis para QPO. As taxas de conclusão do tratamento, cirurgias R0 e quimioterapia pósoperatória foram superiores na nossa série, relativamente ao estudo MAGIC. A QPO é exequível e aplicável na prática clínica, mas à semelhança deste estudo, apenas metade dos doentes consegue concluir o protocolo proposto, quer por complicações do tratamento, quer por progressão da doença. 1. Serviço de Gastrenterologia-Instituto Português de Oncologia, Lisboa; 2. Serviço de Oncologia-Hospital de Faro; 3. Serviço de Oncologia-Instituto Português de Oncologia, Lisboa; 4. Serviço de RadioterapiaInstituto Português de Oncologia, Lisboa; 5. Serviço de Radiologia-Instituto Portugês de Oncologia; 6. Serviço de Cirurgia-Instituto Português de Oncologia, Lisboa 68 6 TRATAMENTO ENDOSCÓPICO DE FÍSTULAS EM CIRURGIA BARIÁTRICA Carvalho D., Loureiro R., Russo P., Seves I., Rio-Tinto R. Introdução e objectivos: A cirurgia bariátrica é o tratamento mais eficaz a longo prazo na resolução da obesidade e das suas comorbilidades. A complexidade e o risco cirúrgico nos doentes obesos condicionam significativa morbi-mortalidade. As fístulas em locais de sutura são uma das complicações mais graves não estando definida a melhor abordagem terapêutica. Na literatura há várias descrições de casos e pequenas séries em que se utilizam próteses metálicas auto-expansíveis (PMAE) no tratamento de fístulas, revelandose uma alternativa eficaz e com menos riscos relativamente ao tratamento cirúrgico. Apresentamos um estudo que realça a eficácia e segurança desta opção terapêutica. Métodos: Estudo retrospectivo incluindo doentes submetidos a colocação de PMAE parcial e totalmente cobertas em fístulas pós-cirurgia bariátrica entre 01/01/2010 e 31/12/2013. Resultados: Tratámos 8 doentes (d), 75% mulheres, idade média 40 anos (26-62). 7 casos de sleeve e 1 bypass gastro-jejunal. O intervalo mediano entre a cirurgia e a detecção de fístula foi 29 dias (19-67). Em 5 doentes utilizámos PMAE totalmente cobertas e 3 doentes PMAE parcialmente cobertas. Obteve-se resolução da fístula em 7 doentes (87,5%), tendo sido necessário reposicionar a prótese num caso e colocar segunda prótese noutro. Num doente verificou-se persistência de fistula após 49 dias com necessidade de tratamento cirúrgico. Em média, as próteses permaneceram in-situ durante 69 dias (24-105). No doente submetido a bypass gastro-jejunal constatou-se migração tardia da PMAE com oclusão e posterior remoção por enteroscopia de duplo balão. Nos restantes casos a remoção foi efectuada por tracção (5d) ou por colocação de prótese plástica e remoção em bloco 2 semanas depois (2d). Conclusão: O tratamento endoscópico de fístulas em cirurgia bariátrica com PMAE é uma alternativa eficaz e segura. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central - Hospital Santo António dos Capuchos 69 Comunicações Orais - Endoscopia Digestiva II 1 FATORES PREDITIVOS DE NÃO RECUPERAÇÃO DE PÓLIPOS CÓLICOS RESSECADOS ENDOSCOPICAMENTE Fernandes C., Pinho R., Leite S., Proença L., Rodrigues A., Alberto L., Fernandes S., Silva AP., Freitas T., Pais T., Ribeiro I., Silva J., Ponte A., Carvalho J. Introdução: a colonoscopia permite o diagnóstico, exérese e recuperação de pólipos cólicos. Não se encontram totalmente definidos quais os fatores preditivos para a não recuperação dos pólipos cólicos. Objetivo: avaliar prevalência de pólipos cólicos não recuperados para análise histológica; definir fatores preditivos para a não recuperação endoscópica dos pólipos. Métodos: revisão de todas as colonoscopias realizadas entre setembro de 2011 e dezembro de 2012, com o diagnóstico de “pólipo” e/ou “pólipos” no relatório do exame endoscópico e em que tenha sido realizada polipectomia/mucosectomia com ansa. Considerada uma equipa constituída por 11 especialistas e 3 internos de Gastrenterologia. Dados demográficos e endoscópicos obtidos após análise do relatório do exame endoscópico. Análise estatística (SPSS v.19): Chi-quadrado, t-student. Resultados: consideradas 496 colonoscopias (81,5% colonoscopias totais) a que correspondem 484 doentes (sexo masculino 66,1%; idade média 63,4 anos [±10,2]). De um total de 1111 pólipos cólicos ressecados, não se recuperaram 52 pólipos (4,7%). Preparação cólica deficiente (p=0,0006), antecedentes de cirurgia colo-retal (p=0,008), maior número de pólipos ressecados no mesmo exame (p<0,0001), pólipos ? 5mm (p<0,0001), localização no cólon direito (p=0,0006) e exérese com ansa “a frio” versus ansa diatérmica (p= 0,0007) revelaram-se fatores preditivos de não recuperação dos pólipos ressecados. A realização do exame por interno em formação (p=0,81), sob sedação profunda (p=0,94), a presença de divertículos (p=0,44), a presença de cancro colo-retal concomitante (p=0,34) ou a realização de colonoscopia total versus esquerda (p=0,28) não se associaram com a não recuperação dos pólipos cólicos. Conclusão: A presença de deficiente preparação cólica, antecedentes de cirurgia coloretal, maior número de pólipos ressecados num mesmo exame, pólipos < 5mm, a localização de pólipos no colon direito e a exérese com ansa “a frio” assumiram-se como fatores preditivos de não recuperação de pólipos. A prevalência de não recuperação de pólipos ressecados foi 4,9%. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 70 2 VALIDAÇÃO DO ÍNDICE DE GAY NA SELEÇÃO DA VIA DE ABORDAGEM POR ENTEROSCOPIA DE MONOBALÃO APÓS ACHADOS POSITIVOS EM CÁPSULA ENDOSCÓPICA Fernandes C., Pinho R., Rodrigues A., Pais T., Ribeiro I., Silva J., Ponte A., Carvalho J. Introdução: após achados na cápsula endoscópica, a via de abordagem da enteroscopia assistida por dispositivo nem sempre é evidente. Gay et al, propuseram um índice para predizer a correta via de abordagem da enteroscopia assistida por dispositivo (se tempo de trânsito até lesão >0,75 do tempo orocecal – via anal). Recentemente, Li et al construíram um outro índice (se tempo desde piloro até a lesão> 0,6 do tempo de trânsito de intestino delgado – via anal). Objetivo: avaliar capacidade do índice de Gay em predizer a via de abordagem da enteroscopia de monobalão após achados positivos em cápsula endoscópica; comparar com índice de Li. Materiais: estudo retrospetivo dos doentes submetidos a cápsula endoscópica que tendo em conta os achados foram posteriormente submetidos a enteroscopia de mono-balão entre Janeiro 2010 e Setembro 2013. Via de abordagem de acordo com índice de Gay. Comparação com índice de Li. Resultados: avaliados 49 doentes (feminino 57,1%; idade média 66,7 anos). Angiectasias (n:20) e hemorragia sem identificação da origem (n:17) motivaram frequentemente a realização da enteroscopia de mono-balão. De acordo com índice de Gay, indicada abordagem oral em 69,4% (n:34) dos casos. Não atingido objetivo proposto para enteroscopia mono-balão em 12,2% (n:6) dos casos, dos quais em 5 por motivos não relacionados com a distância ao objetivo (angulação fixa por bridas: 3; falha técnica: 1; estenose de anastomose ileo-cólica: 1). Em apenas um destes casos tentada abordagem por via oposta, sem sucesso. Índice de Gay e índice de Li concordantes em 98% (n:48) dos casos. No caso discordante não atingido o objetivo proposto pela via de abordagem escolhida. Conclusão: Na nossa amostra: 1) o índice de Gay revelou adequada capacidade em predizer a via de abordagem da enteroscopia de mono-balão; 2) o índice de Li tem capacidade de predição semelhante ao índice de Gay. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia 71 3 ACUIDADE DA ECOENDOSCOPIA PARA SELEÇÃO DE TRATAMENTO NEOADJUVANTE NO CANCRO GÁSTRICO Gonçalves BM, Bastos P, Soares JB, Fernandes D, Cunha J*, Couto E*, Rolanda C, Gonçalves R Introdução e objetivos: Estudos recentes revelam que o tratamento neoadjuvante do cancro gástrico localmente avançado aumenta a sobrevida dos doentes. Os autores propuseram-se avaliar a acuidade da ecoendoscopia na seleção dos doentes com cancro gástrico com indicação para terapêutica neoadjuvante. Material: Análise retrospetiva dos doentes com adenocarcinoma gástrico que realizaram ecoendoscopia de estadiamento e foram submetidos a gastrectomia primária entre 2011 e 2013. Determinou-se a concordância (kappa-k) entre a ecoendoscopia e a patologia para o estadiamento TNM e a acuidade (AUROC, sensibilidade e especificidade) da ecoendoscopia na identificação dos doentes com indicação para neoadjuvância (definida como estadios II e III na análise anatomo-patológica da peça operatória). Resultados: Foram realizadas 141 ecoendoscopias de estadiamento, das quais 66 foram excluídas (37 por doentes não submetidos a gastrectomia, 16 por doentes submetidos a neoadjuvância, 7 por serem exames de re-estadiamento e 6 por não serem adenocarcinomas). Dos 75 doentes incluídos, a idade média foi de 66 anos, sendo 65% do género masculino e 60% com adenocarcinoma do tipo intestinal. A distribuição dos doentes segundo o estadiamento ultrassonográfico e patológico foi: 50.7% e 46.6% para o estadio I, 31.1% e 33.3% para o estadio II, 16% e 21.3% para o estadio III. A concordância entre a ecoendoscopia e a patologia para o estadios T, N e TNM foi boa (k=0.61), moderada (k=0.44) e razoável (k=0.36), respectivamente, enquanto que para estadios II+III foi boa (k=0.63). A acuidade da ecoendoscopia para os estadios II+III foi elevada (AUROC-0.82, sensibilidade-78% e especificidade-86%), sobretudo para o adenocarcinoma de tipo intestinal (AUROC 0.84, sensibilidade 86% e especificidade 85%). Conclusões: A ecoendoscopia assume um papel importante no estadiamento do cancro gástrico, revelando um bom desempenho na seleção de doentes para tratamento neoadjuvante, especialmente no adenocarcinoma de tipo intestinal. Departamento de Gastrenterologia, Hospital de Braga * Departamento de Oncologia, Hospital de Braga 72 4 DESNUTRIÇÃO E EVOLUÇÃO CLÍNICA DE 234 DOENTES COM NEOPLASIAS CERVICO-FACIAIS SUBMETIDOS A GASTROSTOMIA ENDOSCÓPICA Fonseca J, Pereira M, Carrapito T, Santos CA Introdução e Objectivos: Doentes com neoplasia cervicofacial (NCF) e gastrostomia endoscópica (PEG) têm alto risco nutricional e dificuldades na expressão verbal, condicionando a avaliação nutricional. Pretendeuse estudar: 1. Evolução clínica. 2. Estado nutricional quando referenciados para PEG, com avaliação dietética, Nutritional Risk Screening (NRS 2002), parâmetros antropométricos e laboratoriais. 3. Associação do estado nutricional com evolução clínica, e 4. Construir um Score de prognóstico nutricional capaz de identificar desnutrição e má evolução clínica. Material e Métodos: Avaliámos adultos com NCF no momento da gastrostomia, usando: NRS 2002, avaliação dietética, Índice de Massa Corporal (IMC), Perímetro do Braço (PB), Prega Cutânea Tricipital (PCT), Circunferência Muscular do Braço (CMB), Albumina, Transferrina e Colesterol. Com IMC, PCT, CMB e parâmetros bioquímicos criamos um Score de prognóstico nutricional variando entre 0-6. Resultados: Doentes: 234 (211 homens) 39-94 anos. Neoplasias estadios III-IV: laringe (79), cavidade oral (72), faringe (43), esófago proximal (26) e outros (14). 149 morreram, 33 seguidos na Consulta de Nutrição Artificial, 36 retomaram ingestão oral. Todos apresentaram NRS 2002 ? 3 e ingestão <50% das necessidades calóricas. IMC entre 12,7-43 e PB, PCT e CMB baixos em 189, 197 e 168 doentes. Resultados semelhantes com albumina, transferrina e colesterol baixos em 91, 155 e 119 doentes. O Score de prognóstico nutricional mostrou que um valor ?3 está associado a menor sobrevivência (p=0,029). Conclusões: Doentes com NCF estão desnutridos quando referenciados para PEG. Todos estavam desnutridos pelo NRS 2002/avaliação dietética e a maioria apresentou desnutrição pelos parâmetros antropométricos e laboratoriais. Doentes com Score de prognóstico nutricional ? 3 tiveram pior evolução clínica, com sobrevivência significativamente baixa, necessitando apoio clínico e nutricional imediato. GENE - Grupo de Estudo de Nutrição Entérica, Serviço de Gastrenterologia, Hospital Garcia de Orta, Av. Professor Torrado da Silva, 2800 Almada, Portugal 73 5 GASTROSTOMIA ENDOSCÓPICA PERCUTÂNEA TRANS-NASAL (PEG-TN) EM DOENTES COM TUMORES DA CABEÇA E PESCOÇO: ABORDAGEM CONJUNTA POR GASTRO E PNEUMOLOGIA Faias S.1, , Duro da Costa2, , Dionísio J.2, , Costa P. 2, , Rosa I.1, , Ferreira S.1 , , Mão de Ferro S.1, , Pereira da Silva J.1, , Dias Pereira A.1 Introdução: A disfagia provocada por tumores da cabeça e pescoço (TCP) e pelos efeitos secundários do tratamento justifica a colocação gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) para suporte nutricional nestes doentes. A obstrução orofaríngea ou trismus impedem a sua colocação por via trans-oral, sendo realizada a colocação por via trans-nasal (tn), com um endoscópio fino. A utilização de broncosópio adaptado neste contexto já foi descrita. Objetivo: Avaliação de PEGs transnasais (PEG-tn) colocadas, num período de 5 anos, pelo método “pull” num procedimento combinado, com Pneumologista no tempo alto e Gastrenterologista no tempo abdominal, utilizando um broncoscópio adaptado. Material e Métodos: Análise retrospetiva de 19/649 (3%) doentes consecutivos com TCP referenciados para colocação de PEG entre 2009-2013. Características demográficas, indicação, sucesso do procedimento, complicações, respectivo tratamento e sobrevida foram registados. Resultados: PEGs-tn, colocadas com sucesso em 18/19 doentes (15H/4M), com idade média=56 anos(26-74) e IMC=19(17-25). Apenas uma falha ténica (ausência de transiluminação). PEGs-tn paliativas em 11/18 e profiláticas em 8/18 doentes. Opção por PEGtn por trismus (17/18) e obstrução orofaríngea (1/18), em doentes com tumores da orofaringe (6), cavidade oral (5), língua (4) e seio maxilar (3). A PEG-tn foi a forma exclusiva de aporte nuctricional em todos os doentes, e após um follow-up médio=269dias (31-1115), 11 doentes faleceram por doença, 2 por outras causas e 5 estão vivos, mantendo a PEG-tn como via entérica exclusiva. Estes 5 doentes vivos sem doença, utilizam a PEG-tn em média há 378 dias(110-730). Ocorreram complicações em 6/18 doentes, todas infecções minor, sem necessidade de internamento, 3 precoces (<=7 dias após colocação) e 3 tardias (>7 dias após colocação). Sem complicações imediatas, major ou mortalidade associada à técnica. Conclusões: A colocação de PEG-tn conjunta, por Gastrenterologista e Pneumologista, utilizando um broncosópio adaptado, em doentes com TCP que impedem a colocação de por via oral, é um procedimento eficaz e seguro. Serviço de Gastrenterologia1 e Pneumologia2 Instituto Português de Oncologia Francisco Gentil - Lisboa 74 6 OS DOENTES COM TUMORES DA CABEÇA E PESCOÇO SUBMETIDOS A QUIMIORADIOTERAPIA DEFINITIVA TÊM DISFAGIA PROLONGADA E NECESSITAM DE PEG PROFILÁTICA Rodrigues R.V., Faias S., Moleiro J., Serrano M., Femenia M, Severiano S., Machado V., Dias Pereira A. Introdução: A disfagia e odinofagia associadas à patologia tumoral e agravadas pela mucosite associada à quimioradioterapia (QRT), justificam a colocação profilática de gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) para suporte nutricional em doentes com tumores de cabeça e pescoço (TCP). Objectivo: Avaliar a utilidade e tempo de utilização de PEGs profiláticas em doentes com TCP submetidos a QRT definitiva, com follow-up >1 ano. Material e Métodos: Análise prospectiva de doentes consecutivos com TCP referenciados para colocação de PEGs profiláticas entre Jul/12-Dez/12. Características demográficas, estádio tumoral, IMC, tempo de utilização de PEG (exclusiva e complementar) e registo ponderal antes, durante e após tratamento foram avaliadas. RESULTADOS: PEGs colocadas em 47 doentes com TCP (41H/6M), idade média=58A (40-76). TNM: T1/2=11, T3/4=36, N0/1=20, N2/3=27. IMC=24(15-33). Das 47 PEGs colocadas, apenas 2 não foram utilizadas. Tempo médio de PEG 7 meses (0,1-20 meses). Dos 45 doentes que utilizaram a PEG, após followup>1 ano: 27 em remissão, 3 persistência doença, 15 falecidos (13 doença; 2 infecção repiratória). Dos 27 em remissão, 22 retiraram a PEG em média após 7 meses (3-15) e 5 ainda a mantém em média após 17 meses (14-20). Dos 15 doentes falecidos apenas 2 retiraram PEG. Tempo médio de utilização exclusiva de PEG: 3 meses (0-18). Utilização de PEG (excusiva/parcial/nula): durante tratamento (15/29/2); após tratamento (6/26/9); seis meses após tratamento (5/7/23). Peso médio (antes/durante/após tratamento): 65/62/60Kg. Verificou-se redução ponderal em 31 doentes durante o tratamento e em 24 após o tratamento, mesmo utilizando a PEG para suporte nutricional. CONCLUSÕES: O suporte nutricional por via entérica é fundamental nos doentes com TCP durante e após QRT definitiva. A PEG profilática permitiu o aporte entérico, mas não impediu redução ponderal. Praticamente todos os doentes necessitaram da PEG durante e após o tratamento. Um quinto dos doentes em remissão necessitaram dela a longo prazo. Serviço de Gastrenterologia Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil 75 Casos Clínicos Interativos II 1 PANCREATITE E HEPATITE: DUAS FACES DA MESMA MOEDA? Palmela C., Torres J., Fidalgo C., Espírito Santo J., Noronha C., Strecht J., Oliveira H., Santos A. A., Cravo M. Apresentamos 2 casos de PAI, tipo 1 e 2, com apresentação clínica típica e iconografia de elevada qualidade. Caso1: Homem, 59A, admitido por epigastralgia, icterícia obstrutiva e perda ponderal. Analiticamente: Bil total/conjugada:5,31/4,38mg/dL, AST:605U/L, ALT:1384U/L, FA:1041U/L, GGT:3362U/L, amilase e lipase normais. Eco abdominal: ectasia difusa das VBIH e VBEH, sem litíase vesicular e com pâncreas globoso e hipoecogénico sugerindo lesão da cabeça do pâncreas. Colangio-RM: globosidade difusa pancreática, ligeiramente heterogénea na fase arterial, dilatação das VBIH e VBEH, com realce parietal do colédoco e afilamento regular e progressivo, compatível com estenose benigna; observada ainda paniculite mesentérica. Do restante estudo: vírus e marcardores tumorais negativos; IgG4 529mg/dL (VR:3,0-201,0mg/dL). Assumido o diagnóstico de PAI com base nos achados imagiológicos típicos e IgG4 elevada, com atingimento das vias biliares e mesentério. Aguarda biópsia hepática. Caso2: Homem, 35A, referenciado por epigastralgia recorrente, com irradiação dorsal, náuseas. Analiticamente destacava-se lipase<3xN. TC abdominal: espessamento e hipodensidade difusa do pâncreas, em provável relação com processo inflamatório, e adenomegálias exuberantes adjacentes ao cego. Colangio-RM: alteração de sinal difuso do pâncreas, com pâncreas em “salsicha”, sem lesões focais, favorecendo eventual PAI; sem dilatação das vias biliares ou pancreáticas, mas com proeminentes adenopatias ileocecais. IgG4 negativa. A ecoendoscopia revelou imagem nodular hipoecogénica, heterogénea de limites mal definidos no corpo do pâncreas sem dilatação do Wirsung; a PAAF revelou infiltração de células inflamatórias mono e polimorfonucleares, sem predomínio de plasmócitos; concluindo-se pelo diagnóstico de PAI2. A colonoscopia revelou edema, erosões e diminuição do padrão vascular de forma contínua até ao cego, aspetos sugestivo de pancolite ulcerosa confirmada histologicamente. Ambos os doentes iniciaram corticoterapia. A PAI é uma forma rara de pancreatite crónica. Apresentamos estes 2 casos típicos demonstrativos das diferenças clínicas, patológicas e das particularidades do diagnóstico da PAI1 e PAI2. Hospital Beatriz Ângelo, Loures 76 2 DOIS CASOS DE DIARREIA CRÓNICA, UM DIAGNÓSTICO EM COMUM Coelho R.1, Albuquerque A.1, Cardoso H.1, Rodrigues-Pinto E.1, Vilas-Boas F.1, Carneiro F.2, Macedo G.1. Caso clínico: Dois doentes, do sexo feminino com 64 anos e do sexo masculino com 77 anos, com antecedentes de hipertensão arterial essencial medicada com olmesartan, iniciaram diarreia aquosa (sem muco ou sangue, com cerca de 5 dejecções diárias), com mais de 6 semanas de evolução e perda ponderal superior a 5% do peso corporal. Analiticamente apresentavam anemia (8.8 e 11.7g/dL, respectivamente), hipoalbuminemia (25.8 e 37g/L, respectivamente), hipomagnesemia e elevação ligeira da proteína Creactiva e velocidade de sedimentação. O estudo microbiológico de fezes foi negativo. Foi realizada colonoscopia com ileoscopia em ambos os doentes que não mostrou lesões na mucosa colo-rectal, tendo sido excluída colite microscópica. A endoscopia digestiva alta não mostrou lesões, as biopsias no bolbo e duodeno revelaram atrofia vilositária de intensidade moderada a grave e infiltrado linfoplasmocitário intraepitelial. A pesquisa de substância amilóide, giardia e de Tropheryma whipplei foi negativa. Foi excluída Doença Celíaca através do doseamento de autoanticorpos IgA anti-transglutaminase (com IgA sérica normal), histologia e pesquisa de HLA DQ2DQ8 negativa. Um dos doentes realizou enteroscopia por cápsula tendo-se observado no jejuno médio áreas focais de mucosa plana. Após suspensão do olmesartan, o trânsito intestinal foi regularizado, com normalização dos valores analíticos em ambos os doentes. As biópsias duodenais foram repetidas, com normalização histológica. Motivação/Justificação: O olmesartan é um anti-hipertensor da classe dos antagonistas dos receptores da aldosterona (ARA), frequentemente usado na prática clínica. A enteropatia spruelike é caracteriza-se por diarreia crónica e atrofia intestinal vilositária. A enteropatia Spruelike associada à toma de ARA (olmesartan) é rara, estando descritos na literatura apenas 23 casos. Os autores descrevem 2 casos, devendo esta etiologia ser equacionada no diagnóstico diferencial de diarreia crónica, associada a atrofia da mucosa duodenal. 1-Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. 2-Serviço de Anatomia Patológica do Centro Hospitalar de São João, Porto. 77 3 ALTERAÇÃO DAS PROVAS HEPÁTICAS EM DOENTE COM INFECÇÃO POR VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA HUMANA – DESAFIO DIAGNÓSTICO Barosa R¹, , Roque Ramos L¹, , Figueiredo P¹,, Meira T¹, , Águas MJ², , Fonseca C¹, , Freitas J¹ Descrevemos o caso de uma doente de sexo feminino, 51 anos, com infecção por VIH (estadio A3), hipertensão arterial, dislipidemia e depressão, medicada desde há 3 anos com valsatran, paroxetina, fluvastatina, efavirenz, emtricitabina e tenofovir. Durante o seguimento, verificou-se subida da contagem de CD4 (877/mm3), a carga viral do VIH tornou-se indetectável e houve subida progressiva e persistente das transaminases (AST 105 UI/L, ALT 137 UI/L), da GGT 206 UI/L e FA 155 UI/L, com bilirrubina total e função hepática normais. Referia artralgias, sem outros sintomas acompanhantes. Negava hábitos etanólicos ou introdução de novos fármacos ou outros xenobióticos. Ao exame objectivo apresentava hepatomegália. A ecografia abdominal superior não apresentava alterações relevantes. O anticorpo e carga viral do VHC e a serologia VHB, CMV, EBV e brucelose foram negativas. As hemoculturas e teste de Mantoux foram negativos. O ANA (1/640), AML e anti f-actina foram positivos e a gama-globulina normal (1.36 g/dL). A biópsia hepática revelou expansão dos espaços porta e fibrose com infiltrado linfoplasmocitário, hepatite de interface, eosinófilos, esteatose e infiltrado inflamatório crónico com degenerescência acidófila, não se identificando agentes patogénicos. Iniciada prednisolona e azatioprina com melhoria das artralgias e normalização das provas hepáticas. O Score International Autoimmune Hepatitis Group pós tratamento foi compatível com hepatite auto-imune (HAI) provável. Este caso permite a discussão de alteração das provas hepáticas no doente VIH, frequentemente associada a co-infecção por VHB e/ou VHC, hepatotoxicidade medicamentosa, infecções oportunistas ou complicações hepatobiliares associadas ao VIH. Existem actualmente 9 casos de HAI em doente com VIH publicados na literatura, ocorrendo a maioria durante a reconstituição imune pelo tratamento antiretroviral. ¹Serviço de Gastrenterologia, Hospital Garcia de Orta ²Serviço de Infecciologia, Hospital Garcia de Orta 78 Comunicações Orais - Tubo Digestivo II 1 AIMS65: AVALIAÇÃO PROSPETIVA DE UMA ESCALA PROGNÓSTICA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA Cardoso R., Leal T., Amaro P., Ferreira M., Portela F., Romãozinho J.M., Sofia C. INTRODUÇÃO: A utilização de escalas prognósticas para estratificação precoce dos doentes com suspeita de hemorragia digestiva alta (HDA) está recomendada, destacando-se neste domínio as de Blatchford e de Rockall. Um novo score, denominado AIMS65 (avaliando a presença dos seguintes: albumina <3,0 g/dL, INR >1,5, alteração do estado de consciência, tensão arterial sistólica <90 mmHg e idade >65 anos) foi proposto como uma alternativa. OBJETIVO: Avaliar o desempenho do AIMS65 na previsão da recidiva e mortalidade, comparando-o igualmente com os scores de Blatchford e de Rockall. DOENTES E MÉTODOS: Inclusão prospetiva de doentes submetidos a endoscopia digestiva alta (EDA) por suspeita de HDA, com registo de múltiplas variáveis clínicas e cálculo dos 3 scores. Consulta dos registos clínicos e contacto telefónico para avaliação dos eventos clínicos em estudo. RESULTADOS: Foram incluídos para análise 84 doentes (sexo masculino: 53, 63,1%; média de idades 69,5±15,1 anos), a maioria com HDA devido a úlcera péptica (40; 47,6%). As taxas de recidiva e mortalidade globais foram de 16,7% e 11,9%, respetivamente. A área sob a curva ROC relativamente à recidiva foi 0,706 (IC:0,573-0,839) para o AIMS65, 0,544 (IC:0,381-0,707) para o Blatchford e 0,523 (IC:0,344-0,702) para o Rockall. Para a mortalidade: 0,737 (IC:0,619-0,856) para o AIMS65, 0,521 (IC:0,353-0,688) para o Blatchford e 0,526 (IC:0,342-0,709) para o Rockall. Uma pontuação ?2 no AIMS65 mostrou sensibilidade de 71,4%, especificidade de 64,3% e valor preditivo negativo (VPN) de 91,8% para recidiva. Para a mortalidade verificou-se sensibilidade 90,0%, especificidade 64,9% e VPN de 98,0% para o mesmo cut-off. CONCLUSÕES: A escala AIMS65 mostrou ter um desempenho razoável na predição da recidiva e mortalidade na HDA, sendo significativamente superior a outros scores habitualmente utilizados. Destacase ainda a sua facilidade de utilização e elevado VPN. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 79 2 PODERÁ O VALOR BASAL DO TESTE RESPIRATÓRIO DA UREIA CONSTITUIR UM FATOR PREDITIVO DO SUCESSO DA ERRADICAÇÃO DO HELICOBACTER PYLORI? Alves A.R.(1), Almeida N.(1), Elvas L.(1), Casela A.(1), Fernandes A.(1), Donato M.M.(2), Calhau C.(2), Romãozinho J.M.(1,2), Sofia C.(1,2) Introdução: O teste respiratório da ureia marcada com carbono 13(UBT) representa o principal método não invasivo da deteção do Helicobacter pylori(Hp). O seu valor basal, expresso em “delta over baseline”(DOB) pode constituir um fator preditivo das taxas de resistência aos antibióticos e do sucesso terapêutico. Objetivo: Avaliar se o DOB pré-tratamento pode predizer o sucesso da terapêutica de erradicação e da resistência do Hp aos antibióticos. Doentes e Métodos: Incluídos consecutivamente 197 doentes (sexo feminino-66,5%; média etária43.9±14.5 anos; residência em meio urbano-44,7%; hábitos alcoólicos-27,9%; hábitos tabágicos-11,2%), sem tratamento prévio para Hp, submetidos a terapêutica tripla (amoxicilina + claritromicina + pantoprazol; 14dias). Para 100 doentes estavam também disponíveis os padrões de resistência do Hp à claritromicina, levofloxacina e metronidazol. Determinada a correlação do valor inicial do UBT com a taxa de erradicação e as taxas de resistência aos antibióticos. Resultados: Conseguida erradicação em 72,6% dos casos apesar de uma adesão terapêutica de 95,9%, a qual não influenciou a eficácia do tratamento. A taxa de sucesso foi superior no sexo masculino (81,8% vs 67,9%; OR=2,13;CI95% 1,03-4,35) sem influência das outras variáveis epidemiológicas. Taxas de resistência aos antibióticos: claritromicina-22%; levofloxacina-27%; metronidazol-30%. Registaram-se valores similares de DOB para os casos de sucesso e insucesso terapêutico (41,2±22,2 vs 44,1±25; p=0,673), resistência ou sensibilidade à claritromicina (44,8±27,6 vs 39,8±22,8;p=0,567) e ao metronidazol (36,7±23,2 vs 42,8±24,1; p=0,266). Contudo, os valores foram significativamente superiores nos casos de resistência do Hp à levofloxacina (48,8±25,6 vs 38±22,7; p=0,043). Estas diferenças mantiveram-se na análise multivariada incluindo a variável sexo. Conclusões: O valor pré-tratamento do UBT não constitui um fator preditivo de sucesso da terapêutica de erradicação do Hp nem da resistência do mesmo à claritromicina e ao metronidazol. Contudo, valores mais elevados podem estar correlacionados com resistência à levofloxacina pelo que podem alertar-nos para a não utilização empírica deste antibiótico. 1) Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Centro de Gastrenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra 80 3 MUTAÇÕES DO GENE NOD2 E INFEÇÃO POR HELICOBACTER PYLORI – INFLUÊNCIA NA PREVALÊNCIA E NO PADRÃO DE RESISTÊNCIA Fernandes A.(1), Almeida N.(1), Freire P.(1), Donato M.M.(2), Calhau C.(2), Cardoso R.(1), Alves R.(1), Casela A.(1), Oliveira A.(1), Romãozinho J.M.(1,2), Sofia C.(1,2) Introdução: As mutações do gene NOD2 podem estar correlacionadas com a infeção pelo Helicobacter pylori (Hp) e contribuir para o desenvolvimento do cancro gástrico. Objetivo: Avaliar se, nos doentes infetados por Hp, há uma maior prevalência de mutações do gene NOD2 e estabelecer se a sua ocorrência está associada a diferentes perfis de resistência da bactéria aos antibióticos. Material e Métodos: Estudo prospetivo que incluiu 69 doentes com infeção por Hp (HpP) documentada através de teste respiratório com ureia marcada com 13C (UBT) e 249 controlos, divididos em dois grupos: dispépticos com UBT recente, negativo (HpN)-47; indivíduos saudáveis, sem estudo do Hp (HpC)-202. Nos grupos HpP e HpN não havia história pessoal ou familiar de Doença Inflamatória Intestinal. Efetuada pesquisa das três principais mutações do NOD2 (3020insC, R702W e G908R) através de técnica de PCR. Em 49 doentes do grupo HpP era conhecido o padrão de resistência do Hp à claritromicina (46,9%), metronidazol (28,6%) e levofloxacina (34,7%). Estabelecida correlação das mutações NOD2 com a presença de infeção e o padrão de resistência aos antibióticos através de teste exato de Fisher. Resultados: Foram identificadas mutações do gene NOD2 em 41 indivíduos(12,9%): HpP-14,5%; HpN-8,5%; HpC-13,4% (p=0,606). Predominou a mutação R702W (8,2%) seguida da G908R (4,4%) e 3020insC (0,9%) sem diferenças entre os grupos. Analisando só os doentes HpP e HpN também não se registaram diferenças quanto à presença/ausência de mutações de forma global (OR=0,55; 95%CI 0,16-1,87), ou para cada uma delas individualmente. A presença de mutações também não divergiu significativamente entre os resistentes e os sensíveis à claritromicina (8,7% vs 19,2%; p=0,424), metronidazol (14,3% vs 14,3%; p=1) e levofloxacina (11,8% vs 15,6%; p=1). Conclusões: As mutações do gene NOD2 não são mais comuns em doentes infetados pelo Hp e a sua presença não parece acarretar maior risco de resistência desta bactéria à claritromicina, metronidazol e levofloxacina. 1) Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Centro de Gastrenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra 81 4 DUPLA DERIVAÇÃO BILIO-DIGESTIVA POR VIA ENDOSCÓPICA: EFICÁCIA CLÍNICA E REVISÃO ENDOSCÓPICA Carvalho D. (1), Canena J. (1,2,3), Coimbra J. (1), Rodrigues C. (2), Silva M.J. (1), Costa M. (1), Horta D. (2), Ricardo L. (2), Dias A.M. (1), Seves I. (1), Ramos G. (1), Coutinho A.P. (3), Romão C. (3) Introdução e Objectivos: As próteses metálicas auto-expansíveis (PMAE) são eficazes na paliação simultânea de estenoses malignas biliares e duodenais. Não são claros os resultados a longo prazo desta abordagem endoscópica, bem como não existem dados sobre a revisão endoscópica. Avaliar a eficácia clínica da colocação combinada de PMAE na obstrução maligna biliar e duodenal bem como a necessidade e eficácia da revisão endoscópica. Material: estudo retrospectivo multicêntrico de 50 doentes consecutivos submetidos à colocação simultânea ou consecutiva de PMAE na paliação de estenoses malignas duodenais e biliares. Analisou-se a eficácia clínica do duplo by-pass, eficácia da revisão endoscópica, patência das próteses, complicações, sobrevida e factores de risco para a patência. Resultados: os sucessos técnico e clínico imediato foram obtidos nos 50 doentes. A estenose duodenal localizava-se antes da papila em 35 doentes (70%), envolvia a papila em 11 doentes (22%) e era distal à papila em 4 doentes (8%). A paliação biliar inicial foi feita endoscópicamente em 42 doentes (84%) e percutâneamente em 8 doentes. Depois do duplo by-pass 30 doentes (60%) mantiveram-se livres de obstrução até à morte. Os restantes 20 foram retratados com sucesso por via endoscópica com novas PMAE: 9 necessitaram de revisão biliar, 3 de revisão duodenal e 8 de revisão biliar e duodenal. A patência mediana estimada biliar e duodenal foi respectivamente de 27 e 34 semanas. A sobrevida mediana após o duplo by-pass foi de 12 semanas. Uma análise multivariada identificou a obstrução duodenal após o duplo by-pass como factor de risco para a obstrução biliar (HR=6.85; IC 95%=1.43-198.98; P=0.025). Conclusões: O duplo by-pass por via endoscópica é eficaz e a maioria dos doentes (60%) não necessitam de reintervenção adicional até à morte. Após obstrução de uma ou ambas as próteses a revisão endoscópica é sempre possível e associada a elevada taxa de sucesso. 1 – Serviço de Gastrenterologia dos H. Capuchos-CHLC; 2-Serviço de Gastrenterologia do H. AmadoraSintra; 3-Pólo de Gastrenterologia do H. Pulido Valente-CHLN 82 5 TRATAMENTO AGUDO DA OCLUSÃO COLORECTAL MALIGNA: PRÓTESE COMO PONTE ATÉ A CIRURGIA OU TRATAMENTO PALIATIVO VERSUS CIRURGIA DE URGÊNCIA Fernandes D., Domingues S., Gonçalves B., Costa S., Soares J., Bastos P., Ferreira A., Gonçalves R., Rolanda C. Introdução: O carcinoma coloretal manifesta-se como oclusão intestinal aguda em 10-40% dos doentes, existindo duas abordagens terapêuticas principais: cirurgia de urgência e prótese endoluminal. A elevada morbimortalidade associada à cirurgia de urgência contribuiu para um maior uso da endoprótese como ponte para cirurgia ou como paliação, embora com resultados controversos. Este estudo teve como objetivo clarificar o risco/benefício das abordagens mencionadas. Métodos: Estudo multicêntrico, retrospetivo longitudinal, que incluiu 189 doentes com oclusão coloretal maligna aguda, diagnosticados entre Janeiro de 2005 e Março de 2013. Foram analisadas características demográficas e clínicas dos doentes, características tumorais e dos procedimentos terapêuticos. Resultados: Globalmente (85 doentes – 35 como ponte para cirurgia e 50 como paliação) a colocação de prótese teve sucesso técnico de 94.4%, sucesso clínico 69.4% e 30.6% de complicações. A oclusão tumoral da prótese (18.8%) foi a complicação mais frequente, seguindo-se a migração (9.4%) e a perfuração intestinal (7.1%). No tratamento curativo, a cirurgia eletiva após colocação de prótese associou-se a uma maior frequência de anastomoses primárias (93.8% vs 76.4%; p=0.038), menor taxa de colostomias (25.7% vs 54.9%; p=0.004) e de mortalidade (31.3% vs 56.7%; p=0.020). Contudo, não houve diferenças significativas nas complicações pós-cirúrgicas. No tratamento paliativo, a endoprótese e a colostomia descompressiva não apresentaram diferenças significativas nas complicações ou mortalidade. Neste subgrupo de próteses, observou-se elevada taxa de reintervenção (40.4% vs 5.0%; p=0.004) e de tempo de internamento (14,9 vs 7,3 dias; p=0.004). Conclusão: A prótese como ponte para cirurgia deve ser considerada no tratamento agudo da oclusão coloretal maligna, pois apresenta vantagens nas taxas de anastomoses primárias, colostomias e mortalidade. Contudo, quanto maior o tempo de permanência da prótese, maior o risco de complicações. Assim, as próteses paliativas apesar de evitarem os efeitos psicológicos de uma colostomia, não apresentam vantagem clínica significativa em comparação à colostomia descompressiva. Hospital de Braga 83 6 PÓLIPOS MALIGNOS DO CÓLON: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Elvas L., Carvalho R., Areia M., Alves S., Brito D., Saraiva S., Cadime A.T. Introdução: Os pólipos do cólon definem-se como malignos quando há invasão de células neoplásicas através da muscularis mucosae, limitada à submucosa (adenocarcinomas com estadio patológico pT1). O tratamento endoscópico pode ser suficiente, mas quando estão presentes critérios de alto risco, o tratamento cirúrgico é recomendado. Objetivo: Conhecer o prognóstico dos doentes com pólipos malignos do cólon tratados na Instituição. Material e métodos: Análise retrospetiva de doentes submetidos a excisão endoscópica de pólipos malignos entre 2003-2013 no nosso Serviço. Analisados parâmetros demográficos, características dos pólipos e seguimento. Pólipos classificados em alto risco se: mal diferenciados, invasão linfovascular, distância à margem de resseção <1mm, Kikuchi 2/3 ou Haggitt 4 ou invasão submucosa >1000µm. Estudo estatístico com teste exato de Fisher e t de student. Resultados: Identificados 70 pólipos malignos em 70 doentes (66% homens, idade 67±9 anos), tendo 38 (54%) sido excisados por via endoscópica e os restantes por cirurgia. Os pólipos excisados endoscopicamente eram predominantemente pediculados (87% vs. 13%, p=0,00), do cólon esquerdo (60% vs. 40%, p=0,05) e mais pequenos (19mm vs. 25mm, p=0,02). Deste grupo, 21 (55%) apresentavam características de alto risco, tendo sido referenciados para cirurgia: 14 aceitaram e 7 preferiram vigilância. Dos operados, 12 (86%) não apresentaram tumor na peça. Após um seguimento médio de 26 meses, a comparação do grupo de baixo risco vs. alto risco (17 vs. 21) mostrou: recidiva local 0% vs. 0%, metastização 2,6% vs. 0% (p=0,45) e mortalidade relacionada com a doença 0% vs. 2,6% (p=0,45) (durante pós-operatório de hemicolectomia direita). Conclusão: Os pólipos malignos excisados por via endoscópica apresentam um bom prognóstico na maioria dos doentes mas, existe uma pequena probabilidade de metastização, mesmo nos pólipos de baixo risco. A vigilância após a polipectomia deve ser sistematizada de forma a diagnosticar e tratar precocemente os casos de recidiva. Serviço de Gastrenterologia do IPOCFG, EPE 84 Instantâneos-Vídeos II 1 SCHOENDRA STENT RETRIEVER NA DRENAGEM DE PSEUDOQUISTO PANCREÁTICO Costa Santos V., Nunes N., Ávila F., Massinha P., Rego A.C., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. Descreve-se o caso de um doente do sexo masculino, 52 anos, referenciado à nossa instituição para drenagem de pseudoquisto por dor abdominal mantida. Realizou-se ecoendoscopia, observando-se dois pseudoquistos, no corpo e cabeça do pâncreas, com diâmetros de 50 x 40 mm e 30 x 20 mm, respetivamente. Por via transgástrica, puncionou-se a primeira lesão com agulha 19 G, passou-se fio-guia, utilizou-se cistótomo 6 Fr para acesso, efetuou-se dilatação com balão até 12 mm e colocou-se prótese metálica lumen-apposing, 30 Fr/4 cm. No segundo pseudoquisto, abordado por via transduodenal, mesmo após passagem do cistótomo, não se conseguiu atravessar a parede do quisto. Optou-se pela utilização do Schoendra stent retriever, que permitiu a entrada na cavidade e a colocação subsequente de uma prótese plástica duplo pigtail 8,5 Fr/4 cm. Os autores apresentam este caso pela raridade da drenagem dupla de pseudoquisto, num só tempo, e para demonstrar a utilidade do Schoendra stent retriever, alargando o seu campo de utilização, não só nas estenoses difíceis da via biliar, mas agora também na ecoendoscopia, na entrada de cavidades quísticas de parede muito dura. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada 85 2 REMOÇÃO ENDOSCÓPICA DE BANDA GÁSTRICA MIGRADA Mocanu I., Pires S., Godinho R., Gonçalves L., Medeiros I. Apresentamos o caso de uma mulher de 46 anos com história prévia de colocação de banda gástrica há 8 anos. Desde há um ano referia aumento de peso, sem outras queixas. A endoscopia revelou banda gástrica migrada para o lúmen em 80% da área, imediatamente abaixo do cárdia. Procedeu-se a sua remoção endoscópica, sob sedação profunda e com endoscópio terapêutico (Olympus GIF-2T-160). Realizou-se o corte da banda com litotritor de emergência de Soehendra (Cook Medical) e fio guia angulado de nitinol (0.35in Boston Scientific). A banda foi removida na sua totalidade com uma ansa. No final do procedimento observou-se fundo gástrico dismórfico, com evidente sulco da erosão, sem pontos hemorrágicos ou perfuração. A doente não apresentou complicações após o procedimento, tendo tido alta ao 3º dia de internamento. A erosão da banda gástrica ocorre em cerca de 3,4% dos casos, com uma média de tempo até ao diagnóstico de 34 meses após a sua colocação. Os sintomas de apresentação são ausência de restrição alimentar, aumento de peso, dor epigástrica, refluxo gastro-esofágico, sensação de obstrução ou inflamação do botão de instilação. Tradicionalmente, a remoção é efectuada por via laparoscópica, embora nos últimos anos as técnicas endoscópicas têm vindo a ganhar terreno, com uma eficácia demonstrada de 92%, sobreponível à opção cirúrgica. Existe no mercado um kit de remoção de banda gástrica (A.M.I Gastric Band Cutter System). No entanto, a técnica de extracção apresentada é de fácil execução e com materiais disponíveis na sala de CPRE, evitando-se assim a aquisição de material endoscópico especial. Dada a utilização frequente da banda gástrica no tratamento da obesidade na década anterior, a sua erosão para o lúmen gástrico será uma complicação cada vez mais encontrada nas salas de endoscopia, pelo que achamos pertinente a apresentação deste procedimento. Hospital Espírito Santo de Évora 86 3 REMOÇÃO ENDOSCÓPICA DE BANDA GÁSTRICA MIGRADA: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO HOSPITALAR Marques S., Rio-Tinto R., Carmo J., Costa P., Bispo M., Alves I., Chagas C. Duas doentes jovens, de 30 e 34 anos, com banda gástrica ajustável (BGA) colocada por via laparoscópica vários anos antes, foram submetidas a endoscopia digestiva alta (EDA), por falência da banda com ganho ponderal e sintomas dispépticos, respetivamente. Em ambos os casos, a EDA mostrou migração intragástrica de BGA, optando-se pela sua remoção endoscópica, utilizando um dispositivo especificamente concebido para este procedimento (A.M.I. Gastric Band Cutter; CJ Medical; Haddenham, UK). Sob sedação anestésica e, após remoção do componente subcutâneo e corte do tubo de ligação, utilizou-se um endoscópio alto para executar esta técnica. Um fio de corte metálico, introduzido através do canal de trabalho, foi passado em torno da porção intragástrica da banda e capturado com pinça de biópsia. As duas pontas do fio guia foram corretamente ajustadas no torniquete do dispositivo e, ao fazê-lo girar, a banda foi seccionada através de um mecanismo de estrangulamento. De seguida, capturou-se a banda com uma ansa de polipectomia e removeu-se em conjunto com o endoscópio. Ambas as doentes tiveram alta no próprio dia e permanecem assintomáticas desde então. A colocação laparoscópica de BGA é uma das mais comuns e eficazes cirurgias para tratamento da obesidade. No entanto, até 7% de todas as bandas pode migrar para o interior do estômago, devendo ser removidas, dado o risco de infeção intra-abdominal e obstrução gástrica. Geralmente, a sua remoção é efetuada por laparoscopia. Contudo, nos últimos anos, foram publicados alguns artigos que apresentam a remoção endoscópica de banda gástrica migrada como uma alternativa eficaz e segura à cirurgia Os autores apresentam dois casos clínicos que traduzem a experiência de um centro hospitalar nesta técnica endoscópica inovadora. São revistos aspetos particulares do procedimento, apresentando-se iconografia endoscópica. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental e Serviço de Gastrenterologia, Hospital Sto. António dos Capuchos, Centro Hospitalar de Lisboa Central 87 4 TERAPÊUTICA HEMOSTÁTICA COM HEMOSPRAY NUM CASO DE HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA Lage J., Silva R., Moreira-Dias L. Homem de 76 anos, submetido a resseção anterior do reto após radioterapia externa por adenocarcinoma do reto, estadiado como ypT3N0M0. Quatro semanas após cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal, foi diagnosticada deiscência de anastomose colorretal. Iniciou alguns dias após retorragias de quantidade e frequência em crescendo, com hemoglobina de 7.6 g/dL à apresentação; tinha necessitado previamente de duas unidades de glóbulos rubros. Efectuou fribrossigmoidoscopia, detectando-se área de deiscência anastomótica com hemorragia ativa lenta. Foi feita tentativa de hemóstase com endoclip mas sem sucesso, pelo que se optou por realizar terapêutica endoscópica com Hemospray® (Cook Medical, Winston-Salem, North Carolina, USA), com verificação de hemóstase. O doente permaneceu sem retorragias, hemodinamicamente estável e sem necessidade de transfusões adicionais de glóbulos rubros num período de seguimento de 40 dias. O Hemospray® é um método novo de hemóstase endoscópica, diferente dos atuais métodos de injeção, térmicos ou mecânicos. Baseia-se na aplicação em spray, through-the-scope de um pó mineral (TC-325), que se postula ter propriedades de tamponamento mecânico e de promoção da formação de trombos. Parece ser promissor para o uso na hemorragia digestiva alta, mas existem menos casos reportados para a hemorragia digestiva baixa. Este é um dos primeiros casos do uso do Hemospray® em hemorragia com origem numa anastomose. Serviço de Gastrenterologia, Instituto Português de Oncologia do Porto 88 5 MIOTOMIA DO CRICOFARÍNGEO COM ENDOSCÓPIO FLEXÍVEL Mocanu I., Pires S., Godinho R., Gonçalves L., Medeiros I. Apresentamos o caso de uma mulher de 39 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, referenciada a consulta de Gastrenterologia por queixas de disfagia e regurgitação alimentar com vários anos de evolução. A radiografia de trânsito esofágico revelou a presença de um divertículo de Zenker ao nível de C6 com cerca de 4 cm de extensão. Procedeu-se a tratamento endoscópico sob sedação profunda com utilização de endoscópio flexível standard (Olympus). Posicionou-se, sob visão directa, o diverticuloscópio (30 cm/22mm, Cook Medical), e procedeu-se ao corte do septo muscular com esfincterótomo de agulha (Cook Medical) até cerca de 1 cm da base. Foram colocados dois clips metálicos grandes (Boston Scientific) na base do corte para prevenção de hemorragia e perfuração. Não se verificaram complicações do procedimento. A doente tolerou dieta líquida no primeiro dia pós procedimento. Tradicionalmente, os divertículos de Zenker sintomáticos eram tratados por via cirúrgica ou com endoscopia rígida. A diverticulotomia por via endoscópica flexível, introduzida em 1995, tornou-se numa opção cada vez mais utilizada, diminuindo o tempo de anestesia, convalescença e o risco de complicações. Os efeitos adversos possíveis são a perfuração, hemorragia ou mediastinite. O sucesso terapêutico é de 90%, sobreponível aos resultados cirúrgicos. O procedimento deve ser realizado por gastrenterologistas com experiência em endoscopia terapêutica e em centros com apoio cirúrgico adequado. O diverticuloscópio é uma alternativa ao cap na protecção da mucosa durante o procedimento, diminuindo o risco de complicações e de necessidade de entubação orotraqueal por proteger a via aérea. Contudo, no nosso caso, verificámos algumas dificuldades na sua adequada passagem pelo esfíncter esofágico superior. Hospital Espírito Santo de Évora 89 6 TUMOR NEUROENDÓCRINO DO RETO EXCISADO POR DISSECÇÃO ENDOSCÓPICA DA SUBMUCOSA Barreiro P., Rodrigues J., Costa P., Chagas C. Os autores apresentam o caso de um homem de 81 anos, autónomo, com história de cardiopatia valvular e fibrilhação auricular crónica, sob anticoagulação oral, que realiza uma colonoscopia onde se detecta, no reto distal, uma lesão séssil, elevada (T0 Is), com 16 mm de maior eixo, de superfície regular, dura ao toque e de limites bem definidos. As biopsias foram compatíveis com tumor neuroendócrino bem diferenciado. O estadiamento com TC de corpo, ecoendoscopia e Octreoscan® revelaram doença localizada (sem invasão ganglionar, da muscular própria ou secundarização à distância). Procedeu-se então à excisão endoscópica da lesão, em bloco, por técnica de dissecção endoscópica da submucosa (DES) com recurso a faca Dual Knife (Olympus) com comprimento de 1,5 mm. O procedimento durou 40 minutos e foi realizado sob sedação ligeira. Não se registaram complicações precoces ou tardias. A avaliação anatomo-patológica da peça confirmou tratar-se de um tumor neuroendócrino bem diferenciado, com baixa taxa mitótica (Ki67 < 2%), sem invasão linfo-vascular, totalmente ressecado (R0 – margens laterais e verticais livres de lesão). A melhor opção terapêutica para os tumores neuroendócrinos retais com dimensões entre os 10 e os 20 mm continua controversa. A ressecção endoscópica destas lesões tem sido considerada válida na ausência de outros factores de mau prognóstico. Neste contexto é essencial a sua excisão completa e em bloco de forma a garantir adequada avaliação histológica e consequente curabilidade. Trabalhos recentes tem demonstrado maiores taxas de ressecção completa quando utilizado a técnica de DES comparativamente às restantes técnicas de mucosectomia, com similares taxas de complicações. Desta forma, quando indicada ressecção endoscópica, a DES deverá ser considerada uma das técnicas endoscópica preferenciais na ressecção destes tumores, nomeadamente em lesões de maiores dimensões (10-20 mm). Os autores apresentam iconografia e vídeo do procedimento. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 90 7 SÍNDROMA DE BOERHAAVE EM IDADE JOVEM - APRESENTAÇÃO INCOMUM, TERAPÊUTICA PROCOCE Fernandes S., Carvalhana S., Noronha Ferreira C. , Paulo Freire J., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Descrição de caso: Jovem de 18 anos com antecedentes de rinite alérgica e alergia ao amendoim. Episódios recorrentes de disfagia desde os 10 anos. Instalação súbita de odinofagia e vómitos após ingestão de comprimido de Ibuprofeno. Posteriormente iniciou hematemeses em grande quantidade que motivou ida ao Serviço de Urgência. A Endoscopia digestiva alta (EDA) revelou esófago com sangue vivo e 2 lacerações profundas com volumoso coágulo aderente no segmento distal. A tomografia computadorizada confirmou pneumomediastino e ar na parede gástrica e fígado. Foi admitido o diagnóstico de Síndroma de Boerhaave. Repetiu-se EDA no bloco operatório tendo-se constatado adicionalmente estenose do esófago terminal e comprimido impactado. Desfez-se o comprimido com pinça e colocou-se prótese metálica Hanarostent parcialmente coberta (60/100 x 20/26 mm) no esófago distal atravessando o cárdia. A prótese excluiu a perfuração confirmado após injecção de constraste. O doente iniciou dieta líquida após 48horas tendo tido alta após 5 dias de internamento. A prótese foi removida após 8 semanas, confirmando-se cicatrização das lacerações e dilatação eficaz do esófago terminal. Discussão: Este caso ilustra uma causa incomum de Síndroma de Boerhaave. Simultaneamente é reforçada a potencial utilidade da utilização de próteses endoscópicas no manejo desta patologia, como alternativa às soluções cirúrgicas, com menor taxa de complicações, mortalidade e morbilidade, recuperação mais rápida da via oral e menor tempo de internamento. Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 91 8 METÁSTASE DE MELANOMA OCULAR DIAGNOSTICADA POR PUNÇÃO DIRIGIDA POR ECOENDOSCOPIA Vilas-Boas F., Lopes S., Lopes J., Macedo G. Descrição: Doente do sexo masculino, 78 anos de idade, com várias comorbilidades e história de melanoma da coróide (enucleação do olho esquerdo há 30 anos) recorreu ao Serviço de Urgência por dor abdominal e enfartamento pós-prandial. Realizou ecografia abdominal que revelou conglomerado adenopático pericelíaco com cerca de 9 cm de maior diâmetro. A tomografia computorizada (TC) confirmou a presença do conglomerado, com embainhamento da artéria gástrica esquerda e aparente invasão do lobo esquerdo do fígado, ascite e sinais de carcinomatose peritoneal. A presença de ascite inviabilizou a realização de biópsia percutânea tendo sido solicitada ecoendoscopia para realização de punção-aspiração com agulha fina (EUSPAAF). O exame citológico foi compatível com o diagnóstico de melanoma (metástase). A avaliação dermatológica excluiu lesão primária cutânea. O doente foi proposto para terapêutica de conforto dada a irresecabilidade da lesão e a presença de comorbilidades que contraindicaram a realização de quimioterapia. Motivação: A PAAF-EUS tem-se revelado uma técnica segura e útil na obtenção de amostras para o diagnóstico etiológico de adenopatias mediastínicas e intra-abdominais. O melanoma é o tumor primitivo ocular mais frequente. A metastização visceral do melanoma ocular ocorre mais frequentemente para o fígado por via hematogénea. O olho é tradicionalmente tido como um órgão desprovido de linfáticos contudo trabalhos recentes têm vindo a pôr em questão este conceito. A disseminação linfática ganglionar do melanoma ocular é extremamente rara e nos raros relatos publicados na literatura os gânglios regionais são os geralmente envolvidos, havendo apenas uma descrição prévia de metástase ganglionar à distância. Serviço de Gastrenterologia; Serviço de Anatomia Patológica - Centro Hospitalar de São João, Porto 92 9 POLIPOSE LINFOMATOSA MÚLTIPLA, VARIANTE BLASTÓIDE, DIAGNOSTICADA POR COLONOSCOPIA VIRTUAL E COLONOSCOPIA Rodrigues-Pinto E., Ribeiro A., Fosenca E., Macedo G. Descrição: Doente do sexo masculino, com 88 anos de idade e antecedentes de fibrilação auricular e insuficiência cardíaca congestiva, iniciou queixas de rectorragias com 1 mês de duração, sem outra sintomatologia associada. Por relutância em realizar colonoscopia total, realizou uma colonoscopia virtual, que evidenciou uma lesão estenosante ao nível do ângulo esplénico e uma segunda lesão, ao nível do cólon sigmóide distal, sugestivas de neoformações cólicas. O doente permitiu a realização posterior de uma colonoscopia total, que evidenciou múltiplas lesões polipóides, de tonalidade amarelada, dispersas ao longo de todo o cólon, a maioria recobertas por mucosa “normal”, sendo que algumas apresentavam erosões. Foram realizadas biópsias em vários segmentos do cólon, sendo que em todas foi evidenciada infiltração extensa da lâmina própria por células linfóides neoplásicas, de médias/grandes dimensões, com núcleos irregulares, cromatina fina e citoplasma escasso. O índice mitótico era moderado e a imunohistoquímica evidenciou imuno-reactividade para CD45, CD20, CD5 e ciclina D1, consistente com o diagnóstico de linfoma do manto, variante blastóide. A tomografia computadorizada mostrou múltiplas adenopatias mesentéricas e esplenomegalia. Motivação/Justificação: A polipose linfomatose múltipla (PLM) é um subtipo extremamente raro de linfoma gastrointestinal primário, caracterizado por múltiplos pólipos formados por células linfóides neoplásicas. A maior parte das PLM têm origem nos linfomas do manto. A variante blastóide caracteriza-se por um citoplasma blastóide, com núcleos grandes, redondos ou ovais, com nucléolos proeminentes, em oposição à variante clássica, muito mais comum, com núcleos pequenos e contornos nucleares irregulares. A maioria dos casos descritos na literatura são referentes à variante clássica, com citologia típica e índice de proliferação baixo. Dada a ausência de sintomas obstrutivos, o doente foi orientado para quimioterapia. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 93 10 ENCERRAMENTO DE FÍSTULA ENTERO-VESICAL COM OVER-THE-SCOPE CLIP (OTSC) Fernandes C., Pinho R., Proença L., Pais T., Ribeiro I., Carvalho J. Os autores relatam um caso dum homem, 63 anos submetido em Fevereiro de 2014 a prostatectomia radical e linfadenectomia iliaco-obturadora bilateral por adenocarcinoma da próstata (Gleason 7, pT 2CN0Mx). Cerca de 3 semanas após recorre ao SU por quadro de fecalúria e pneumatúria. Realizada uretrocistografia retrograda que revela fístula vesico-entérica posterior, na região do neo-colo vesical. TC pélvico com contraste endovesical confirma passagem de contraste da bexiga para o lúmen do sigmóide distal/reto, com aparente trajeto fistuloso a nível do neo-colo vesical e reto. Nesta topografia o reto encontra-se em íntimo contacto com neo-colo vesical. Neste contexto referenciado para ao nosso serviço para avaliar possibilidade de encerramento da referida fístula. Realizada retoscopia onde se observa no reto distal orifício fistuloso com cerca de 10 mm, regular, por onde se observa sonda de algália. Decidido encerramento da fístula com clip OTSC, pelo que foi substituída a sonda de algália por sonda de PVC (para diminuir o risco de entrapment pelo clip). Aplicou-se clip OTSC sobre o orifício fistuloso com encerramento do mesmo. Verificado adequado posicionamento no controlo. No follow-up inicial sem recidiva de pneumatúria e/ou fecaluria. A utilização de OTSCs no encerramento de fístulas do tubo digestivo tem sido descrita com frequência crescente. Neste caso os autores ilustram a sua utilização para o encerramento de fístula entero-vesical no contexto de prostatectomia radical. Os autores expõem iconografia sob a forma de vídeo. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 94 Posters Tubo Digestivo P1 CONTROLO DO REFLUXO ÁCIDO NO ESÓFAGO DE BARRETT EM FUNÇÃO DA MODALIDADE DE TRATAMENTO João Matias, D., Fernández Fernández, N., Aparicio Cabezudo, M., Rodríguez Martin, L., Vivas Alegre, S., Linares Torres, P. Introdução: O esófago Barrett (EB) apresenta íntima relação com o refluxo ácido e é o principal factor de risco para adenocarcinoma esofágico. Isto justifica que o controlo do refluxo seja o principal objetivo do tratamento. Objetivo: Avaliar grau de controlo de refluxo ácido nos doentes EB em função do tratamento realizado. Métodos: Estudo retrospetivo Janeiro 2003 a Dezembro 2013 dos doentes EB diagnosticados por gastroscopia e histologia, submetidos a controlo do refluxo ácido mediante pHmetria 24 horas. Comparámos variáveis epidemiológicas, percentagem de tempo com pH<4 total, em posição ortostática e decúbito e pontuação DeMeester, em função do tratamento realizado: inibidores bomba protões (IBP) ou cirúrgico (fundoplicatura Nissen). Resultados: Incluímos 128 doentes, 97 homens, idade média 49 anos. A maioria apresentava EB curto (68%). Em 41% dos doentes efectuou-se tratamento cirúrgico, 81% homens e 64% EB curto. Segundo a extensão EB, comprovou-se que o tempo pH<4 ortostático e a pontuação DeMeester foi menor nos doentes com EB curto (p<0,05), independentemente do tratamento realizado. A média do pH total, tanto ortostático como decúbito e da pontuação DeMeester foram significativamente menores nos doentes operados (p<0,001). De forma global, 29% dos doentes apresentou mau controlo do refluxo ácido, que foi mais elevado no grupo de tratamento médico (40% vs 5,5%, p<0,001). Em 19/53 doentes operados, realizou-se pHmetria antes e depois da cirurgia. A análise neste subgrupo mostrou diminuição significativa de todos os parâmetros analisados depois da cirurgia (p<0,01). Previamente à cirurgia, somente 37% tinha refluxo ácido controlado, alcançando-se controlo pós-cirúrgico em 95% casos. Mesmo excluindo da análise global estes 19 sujeitos, mantém-se melhor controlo de refluxo ácido a favor do tratamento cirúrgico. Conclusões: Quase 1/3 dos doentes apresenta controlo subóptimo do refluxo ácido. A cirugia anti-refluxo oferece melhor controlo. Deveria optimizar-se tratamento médico, provavelmente utilizando doses mais elevadas de IBP e monitorizando a resposta. Complejo Asistencial Universitario de León 95 P2 ESÓFAGO DE BARRETT: RETRATO CLÍNICO ATUAL Campos S.1, Giestas S.1, Oliveira A.1, Cipriano MA.2, Souto P.1, Amaro P.1, Gregório C.1, Pina Cabral JE.1, Sofia C.1 INTRODUÇÃO: O esófago de Barrett (EB) é um conhecido percursor de adenocarcinoma esofágico. O objetivo deste estudo foi avaliar as características do EB na nossa prática clínica, atendendo à escassez de informação sobre este tema na literatura científica nacional. METODOLOGIA: Estudo retrospetivo, incluindo todos doentes com o diagnóstico de EB em biópsias durante endoscopia digestiva alta (EDA) realizada numa unidade hospitalar, de Janeiro/2005-Janeiro/2014. Avaliação dos dados epidemiológicos, clínicos (sintomas de refluxo gastro-esofágico: pirose/regurgitação ácida), endoscópicos (EB curto/longo: <3cm/?3cm), histológicos (recurso à classificação de Viena), terapêuticos e vigilância seguindo recomendações da American Gastroenterological Association. RESULTADOS: Das 21.992 EDA realizadas, 92 foram em 42 doentes com diagnóstico histológico de EB (taxa deteção histológica BE: 0,4%). Esta população apresentava idade média-60,9 anos; sexo masculino-71,4%; hérnia hiato-57,1%. À altura da EDA, 77,8% estava sob terapêutica anti-refluxo. História de sintomas de refluxo gastroesofágico presente em 73,6%. Padrão de EB curto encontrado em 53,6%. Histologicamente, metaplasia tipo: intestinal 87,5%, cárdica10%, fúndica-2,5%. Apenas 33,3% realizaram follow-up endoscópico de acordo com as recomendações. Na primeira avaliação endoscópica, identificaram-se os seguintes achados histológicos, todos em EB longos: 1displasia baixo grau; 5-carcinomas invasores (CI) – 2 em estadio precoce. Durante o seguimento, identificaram-se: 1-displasia alto grau (DAG); 2-CI – 1 em estadio precoce. O doente com DAG e 2 dos doentes com CI precoce foram submetidos a resseção endoscópica, ambos necessitaram repetir o procedimento. Os restantes CI foram submetidos a cirurgia. Registaram-se duas mortes: 1- doença metastática apesar da terapêutica cirúrgica; 1-evento cardiovascular. Tempo médio de seguimento: 85 meses. CONCLUSÃO: Apesar do longo tempo de follow-up e de o EB ter sido identificado histologicamente em poucos doentes, o número de casos de displasia de alto grau/carcinoma foi significativo. Na maioria das situações não foram, contudo, cumpridas as recomendações de vigilância. 1- Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; 2- Serviço de Anatomia Patológica, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 96 P3 EOSINOFILIA ESOFÁGICA EM DOENTES COM DISFAGIA OU IMPACTO ALIMENTAR: ESTUDO RETROSPECTIVO MULTICÊNTRICO DOS DADOS CLÍNICOS, ENDOSCÓPICOS E HISTOLÓGICOS DE 31 DOENTES Carmo J., Marques S., Carvalho L., Túlio M. A., Rodrigues J., Bispo M., Oliveira P., Catarino A., Monteiro L., Serra D., Chagas C. A esofagite eosinofílica tem sido diagnosticada com uma frequência crescente. No diagnóstico diferencial da eosinofilia esofágica destaca-se a recentemente descrita “eosinofilia esofágica com resposta aos IBPs” (PPI-REE).O objectivo deste estudo foi caracterizar a população de doentes submetida a EDA por disfagia ou impacto alimentar, com evidência de eosinofilia nas biópsias esofágicas. Estudo retrospectivo (Jan.2010Dez.2013), multicêntrico (4 hospitais), em que foram analisados os dados clínicos, endoscópicos e histológicos, de doentes com disfagia ou impacto alimentar, com documentação histológica de eosinofília esofágica (>15eosinófilos/HPF). Subanálise por faixa etária. Incluídos no estudo 31 doentes (idade média, 34anos; limites, 17-55anos; 77% homens), 21 submetidos a EDA electiva por disfagia e 10 a EDA urgente por impacto alimentar. Tempo médio de evolução dos sintomas até ao diagnóstico: 48 meses. Em 45% havia história de atopia, com uma proporção superior nos jovens <ou=25anos (78% versus 32%, p=0,019). Endoscopicamente, o achado mais frequente foi o esófago felino (55%) e a esofagoscopia foi normal em 13%, sem diferenças significativas entre diferentes faixas etárias. Outros achados endoscópicos: estrias longitudinais (23%); ponteado esbranquiçado (19%); friabilidade da mucosa (13%); estenoses (10%). Além de >15eosinófilos/HPF, outros achados histológicos relevantes: congestão papilar (29%); microabcessos eosinofílicos (26%); fibrose subepitelial (13%). A taxa de doentes que não mantiveram seguimento (dropouts) foi elevada (42%). Duração média de seguimento dos restantes 18 doentes: 16 meses. Cinco doentes melhoraram clinicamente durante trial com IBP (apenas um com resolução histológica). Oito doentes realizaram corticoterapia deglutida, 4 com melhoria clínica e 4 dropouts. Este estudo documentou uma maior prevalência de atopia nos doentes jovens (<ou=25 anos) com eosinofília esofágica, sem diferenças significativas nos achados endoscópicos ou histológicos entre diferentes faixas etárias. É fundamental criar protocolos de abordagem da eosinofília esofágica em cada instituição e implementar estratégias que promovam a adesão destes doentes. Hospital Egas Moniz - Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental, Hospital da Luz 97 P4 LESÕES CÁUSTICAS ESÓFAGO-GÁSTRICAS GRAVES: COMPLICAÇÕES E ABORDAGEM Carvalhana S., Trabulo D., Gonçalves A., Valente A., Palma R., Alexandrino P., Velosa J. Introdução: A ingestão de cáusticos pode causar lesões graves no tubo digestivo alto, com sequelas importantes a longo prazo. Existem poucos estudos na literatura que abordem o seu manejo, permanecendo controverso o timing de introdução de alimentação oral e o tratamento das complicações. Objectivos: análise das complicações e abordagem terapêutica das lesões esófago-gástricas (LEG) induzidas por cáusticos. Métodos: Estudo retrospectivo dos doentes que realizaram endoscopia digestiva alta (EDA) por ingestão de cáusticos, entre 2002-2013. Selecção dos doentes com LEG grau IIB/III (score de Zargar). Correlação entre o tipo de substância cáustica e início de dieta com complicações e mortalidade. Resultados: 165 EDA em 135 doentes, destes, 23,7% apresentavam LEG IIB/III. Mulheres 53,1%, idade média 50,5+/-18 anos, ingestão volntária 28% e média de internamento 14 dias. Tipo de cáustico: base 61%, ácido 39%. Tempo médio até EDA 12 horas. Lesões ORL 90% (60% medicados com corticóides). Lesões esofágicas: IIB 43,8%, IIIA 9,4%, IIIB 21,9%. Lesões gástricas: IIB 15,6%, IIIA 21,9%, IIIB 50%. Terapêutica médica: inibidores da bomba de protões e sucralfato 100%, antibioterapia 62,5%. Alimentação: entérica 86,6%, parentérica 6,6%, oral 6,6%. Tempo médio até início de alimentação oral 13,5 dias.Complicações em 61,5% dos doentes: precoce- infecciosas 32%, perfuração 12,5%; tardias- estenose 34,4% (dilatação 4 doentes, cirurgia 6, prótese endoscópica 1). Mortalidade: 2 doentes (6,25 %). A gravidade das LEG correlacionou-se estatisticamente (p<0,05) com: ingestão voluntária de cáustico, existência de complicações precoces/tardias, mortalidade. O tipo de cáustico correlacionou-se com: desenvolvimento de estenose (52,6% base vs. 8,3% ácido, p=0,014), mortalidade (25% acido vs. 0% base, p=0,03). A introdução tardia de alimentação oral associou-se a um pior prognóstico, com maior número de infecções e estenoses. Conclusão:Na nossa série, o desenvolvimento de complicações após a ingestão de cáustico correlacionouse com gravidade das LEG, tipo de cáustico, ingestão voluntária e introdução tardia de alimentação oral. UCIGEH, Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, HSM, CHLN 98 P5 CARCINOMA DO ESÓFAGO: AVALIAÇÃO DE UMA SÉRIE DE 448 DOENTES Moleiro J*, Trabulo D, Cardoso C, Pimenta A, Loureiro A, Mão de Ferro S, Serrano M, Ferreira S, Freire J, Luís A, Bettencourt A, Casaca R, Pereira P, Mirones L, Fernandez G, Dias Pereira A Introdução: o cancro do esófago (CE) é uma doença com mau prognóstico com uma sobrevivência aos 5 anos de 12 a 16%. A sua abordagem é complexa, quer pela agressividade dos tratamentos disponíveis, quer pela patologia associada. Objectivo/métodos: avaliação retrospectiva dos doentes com CE avaliados entre Fev2007 e Julho2013, estadiados de acordo com o protocolo da instituição (TC, broncofibroscopia, observação ORL, ecoendoscopia, PET). Terapêutica proposta de acordo com o estádio inicial e comorbilidades. Resultados: 448 doentes (408 H), média de idades 63 anos (36-90). Tipo histológico: 354 (79%) carcinoma pavimento-celular, 82 (18%) adenocarcinoma. Localização: torácico inferior-190; torácico médio-107, torácico superior-83, cervical-40, JEG I-25. Estadiamento Tis-1; IA/IB-26; IIA/IIB-80; IIIA-122; IIIB-33; IIIC-85 (37 com invasão da traqueia) IV-95. 256 doentes (57%) com comorbilidades significativas e 26 com neoplasias síncronas que condicionaram a terapêutica efectuada. Terapêutica efectuada: cirurgia22; QRT neoadjuvante-80; QT/RT neoadjuvante-1/1; QRT definitiva-133; QT/RT paliativa-31/12; terapêutica endoscópica-3 (2 fotodinâmica, 1 mucosectomia); paliação endoscópica-123; terapêutica sintomática nos restantes. Durante o tratamento: dos doentes submetidos a QRT, 130 (55%) registaram complicações, 48% das quais major, e 19 faleceram (mortalidade por QRT: 7,9%); dos doentes operados 47 (43%) registaram complicações e 13 (2,9%) faleceram por cirurgia (mortalidade cirúrgica: 11,9%) Sobrevivência global aos 12, 24 e 60 meses: 46%, 28% e 13%, respectivamente. A cirurgia e a QRT influenciaram positivamente a probabilidade cumulativa de sobrevivência (p=0,0001). Conclusões: Os doentes com neoplasia do esófago apresentam-se em estádios avançados e têm múltiplas comorbilidades que condicionam a proposta terapêutica e o prognóstico. As modalidades terapêuticas disponíveis têm elevada morbilidade e mortalidade sendo fundamental uma selecção criteriosa de doentes. Apesar do elevado volume de doentes com esta patologia e da equipa dedicada ao seu tratamento o prognóstico é mau, sendo, contudo, sobreponível ao das outras séries. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 99 P6 A OUTRA FACE DO DABIGATRANO Campos S., Perdigoto D., Oliveira A., Gomes D., Sofia C. INTRODUÇÃO: A hemorragia gastrointestinal (HGI) é uma condição médica associada a elevada morbimortalidade e as terapêuticas antitrombóticas recentemente desenvolvidas têm aumentado bastante as taxas de HGI. O dabigatrano, um novo anticoagulante oral (ACO), foi desenvolvido para suplantar as limitações associadas aos clássicos ACO. Porém, permanecem incertezas quanto ao seu perfil de segurança. OBJETIVO: Avaliação do risco de HGI associado ao dabigatrano, comparando com um ACO tradicional – varfarina. MATERIAL&MÉTODOS: Retrospetivo, incluindo todos doentes internados numa unidade hospitalar entre Janeiro2013 - Janeiro2014 por HGI sob dabigatrano-G1 ou varfarina-G2. Avaliação dos dados epidemiológicos, laboratoriais, endoscópicos, terapêuticos, prognóstico. Definição HGI grave: queda 2g hemoglobina nas primeiras 24h, transfusão pelo menos 2 unidades glóbulos vermelhos, episódio fatal. RESULTADOS: Dos 578 doentes internados por HGI: G1-22 (3,8%), G2-46 (7,9%). Em G1: indicação para ACO- em 95% para prevenção embólica na fibrilhação auricular; sexo feminino-59,0%; idade média-81,3 anos; CHADS2 médio-3; HASBLED médio-3; toma concomitante de anti-agregação e/ou anti-inflamatórios18,2%. Quanto ao episódio hemorrágico em G1: 72,7% com HGI baixa – maioritariamente por diverticulose cólica; HGI grave-59%; 4 casos descontinuaram ACO; nenhum recorreu; 1 morte aos 30 dias. Comparando com G2, G1 apresentava: semelhante risco embólico (p=0,907) mas menor risco hemorrágico (p=0,027); sem diferenças relativamente à duração do internamento (p=0,771), gravidade HGI (p=0,15), número transfusões (p=0,569), lesão renal aguda (p=0,762), mortalidade aos 30 dias (p=0,381). Apenas a recorrência se mostrou menor em G1 (p=0,001). CONCLUSÃO: O dabigatrano tem sido prescrito a doentes com elevado risco hemorrágico e a percentagem de HGI não é desprezível. Estes resultados sugerem que a HGI associada ao dabigatrano seja um evento com gravidade semelhante à dos ACO clássicos. Uma seleção criteriosa dos doentes a iniciar dabigatrano deverá ser feita de modo a que o benefício supere os riscos. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 100 P7 E QUANDO A EDA TERAPÊUTICA NÃO É SUFICIENTE? EMBOLIZAÇÃO ARTERIAL COMO ALTERNATIVA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA AGUDA NÃO-VARICOSA Gravito-Soares E.(1), Gravito-Soares M.(1), Lérias C.(1), Donato P.(2), Agostinho A.(2), Carvalheiro V.(2), Sofia C.(1), (1) Serviço de Gastrenterologia, (2) Serviço de Radiologia de intervenção, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. Introdução: A hemorragia digestiva alta aguda não varicosa(HDA-NV) é uma emergência gastrenterológica com elevada morbimortalidade. A terapêutica endoscópica, como 1ªlinha, é efetiva na maioria dos casos, embora 5-10% beneficie de terapêutica alternativa (radiológica/cirúrgica). Os fatores preditivos desta indicação terapêutica não estão totalmente estabelecidos. Objetivo: Determinar os fatores preditivos de HDA-NV com necessidade de embolização arterial. Métodos: Estudo retrospetivo de 1276 doentes internados num serviço de gastrenterologia com HDA-NV, entre 2006-2013; divididos em 2grupos: hemostase endoscópica refratária com necessidade de embolização arterial (Casos-27doentes) e hemostase endoscópica eficaz (Controlos-62doentes, selecionados aleatoriamente). Os fatores avaliados incluíram variáveis pré-endoscópicas (clínica, hemodinâmica, parâmetros laboratoriais e scores prognósticos) e pós-endoscópicas (achados endoscópicos). Resultados: Dos 27 doentes com necessidade de terapêutica radiológica, apenas 4 realizaram esta terapêutica ab initio, por inacessibilidade endoscópica, com identificação do local da hemorragia ativa/recente em 59,2%. Foi terapêutica em 70,4% (empírica em 11,1%), ocorrendo isquémia intestinal em 7,4%. Na análise multivariada, a necessidade de terapêutica radiológica na abordagem pré-endoscópica esteve associada significativamente a doença oncológica ativa(59,1%vs20,9%;OR14,286;p=0,034), cirurgia major recente(57,1%vs25,33%;OR33,333;p=0,042), menor tensão arterial sistólica à admissão(101,0±27,3vs114,3±25,5;OR1,049;p=0,042) e hemorragia maciça(66,7%vs14,5%;OR25,000;p=0,003). Na abordagem pós-endoscópica, obteve-se associação estatística com cirurgia major recente (57,1%vs25,33%;OR6,452;p=0,025), menor ureia sérica à admissão (29,8±21,2vs51,3±27,8;OR1,044;p0,002), hemorragia maciça (66,7%vs14,5%;OR43,478;p<0,001), etiologia ulcerosa(20,7%vs48,4%;OR9,804;p=0,007) e localização bulbar(10,7%vs39,3%;OR5,618;p=0,046) da HDANV. Não se verificou significado estatístico entre a necessidade de embolização arterial e os scores Rockall pré-/pós-endoscópico, Glasgow blatchford e Glasgow blatchford modificado. Os doentes submetidos a terapêutica radiológica apresentaram maior morbimortalidade: maior tempo de internamento(21,4±24,1vs10,1±8,8dias), recidiva hemorrágica(63,0%vs40,3%;p=0,049) e mortalidade(40,7%vs11,3%;p=0,001). Conclusão: A terapêutica endoscópica foi limitada em 2% das HDA-NV. O benefício pré-endoscópico da terapêutica radiológica está relacionado com o status hemodinâmico e história de doença oncológica ativa/cirurgia major recente e não com parâmetros analíticos ou scores prognósticos. Apesar de maior morbimortalidade em relação com doentes mais graves, representa uma terapêutica alternativa válida, eficaz e relativamente segura. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 101 P8 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA NÃO VARICOSA: COMO PREVER A PRESENÇA DE LESÕES COM INDICAÇÃO PARA HEMOSTASE ENDOSCÓPICA? Boal Carvalho P (1), Magalhães J (1), Dias de Castro F (1), Rosa B (1), Cotter J (1,2,3) Introdução e objectivos A hemorragia digestiva alta não varicosa (HDANV) é uma das mais frequentes emergências na gastrenterologia. A endoscopia digestiva alta assume um papel central na sua avaliação e tratamento. O objectivo deste trabalho foi o de identificar variáveis no momento da admissão hospitalar com valor preditivo para a presença de lesões de alto risco na endoscopia digestiva alta (EDA). Material Incluídos doentes submetidos consecutivamente a EDA nas primeiras 24 horas por HDA (definida pela presença de hematemeses ou melenas) durante 1 ano. Excluídos doentes com varizes esofágicas ou gástricas e gastropatia de hipertensão portal severa. Lesões com hemorragia activa assim como úlceras com vaso visível ou coágulo aderente foram definidas como lesões de elevado risco, com necessidade de tratamento endoscópico. A análise estatística foi efectuada com o programa SPSS 21.0, e um valor de p<0,05 foi considerado estatisticamente significativo. Resultados Dos 92 doentes incluídos, a maioria (54,3%; n=50) eram do sexo masculino e a idade média foi de 69 anos (23-93 anos). As lesões mais frequentemente observadas na EDA foram úlceras (53%) e lesões de MalloryWeiss (12%); não foram identificadas alterações potencialmente hemorrágicas em 14% dos exames. Foram observadas lesões de elevado risco na EDA em 30 (32,6%) doentes. Da análise multivariada, a apresentação com hematemeses (p=0,026), a hipotensão arterial sistólica (p=0,022), a leucocitose (p=0,004) e a realização da EDA nas primeiras 12h após o evento hemorrágico (p=0,002) associaram-se significativamente com a presença de lesões de elevado risco. Conclusões Um terço dos doentes submetidos a endoscopia digestiva alta por hemorragia digestiva alta não varicosa apresentaram lesões de elevado risco. Doentes submetidos a endoscopia digestiva alta nas primeiras 12 horas, com presença de hematemeses, hipotensão arterial e leucocitose apresentaram mais frequentemente lesões de elevado risco, devendo estes factores ser tidos em consideração na execução mais precoce da endoscopia urgente. (1) - Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães, Portugal (2) - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal (3) – Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 102 P9 SÍNDROME CORONÁRIO AGUDO NA HEMORRAGIA DIGESTIVA GRAVE Sousa, P. , Ferreira, C.N. , Serejo, F. , Cortez-Pinto, H. , Ribeiro, L.C. , Ramalho, F. , Alexandrino, P. , Velosa, J. Introdução: É intuitivo que, após hemorragia digestiva grave(HDG), possa ocorrer síndrome coronário agudo(SCA) contudo pouco há escrito a esse respeito. Objectivo: Caracterizar os doentes admitidos por HDG e determinar a incidência e implicações clínicas do SCA neste contexto. Métodos: Análise retrospectiva de 184 doentes(65% sexo masculino, idade média 67+17anos) consecutivos admitidos entre 2008 e 2011 com HDG (hematemeses e/ou melenas;hemoglobina inferior a 8g/dL ou queda superior a 4g/dL). SCA foi definido como precordialgia com alterações electrocardiográficas compatíveis e/ou elevação dos biomarcadores cardíacos. Resultados: 86% apresentavam hemorragia digestiva (HD) alta e em 79% foi o primeiro episódio de HD. Na admissão 44% estavam hipotensos, 43% taquicárdicos e com Hb média de 7.4 +1.7 g/dL. 33% foram admitidos em Unidade de Cuidados Intensivos. Comorbilidades mais frequentemente encontradas foram cardiovasculares (66%), metabólicas (38%) e cirrose hepática (22%). 35 % dos doentes estavam sob antiagregação, 13% anti-inflamatórios não esteróides e 9% anti-coagulação. 95% das endoscopias digestivas foram feitas nas primeiras 24 horas após admissão. Achados mais frequentes foram: varizes esofágicas(17%), úlcera péptica(13%) e síndrome de Mallory-Weiss(11%). Em 40% fez-se hemostase endoscópica. SCA foi diagnosticado em 9% dos doentes. Eram indivíduos de idade avançada e maior prevalência de comorbilidades cardiovasculares e metabólicas(p<0.005). Comparativamente aos doentes sem SCA tinham valores mais baixos de Hb(6.3vs7.5, p0.008) e maior necessidade de transfusão sanguínea(4.8vs2.7, p0.003). Verificou-se correlação significativa entre troponina mais elevada e idade mais avançada e patologia cardiovascular(p<0.002). Ocorreu recidiva hemorrágica em 25% - em 81% fez-se segunda hemostase endoscópica e em 9% cirurgia. Verificou-se o óbito em 5% dos doentes. Destes, 70% estiveram relacionados com o episódio de HD (2 SCA e 5 choque hipovolémico). Conclusão: Doentes com HDG têm idade avançada e elevada prevalência de comorbilidades cardiovasculares e metabólicas. SCA é uma complicação relativamente frequente associando-se significativamente a idade mais avançada e comorbilidades cardiovasculares e metabólicas. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa 103 P10 NOVOS DESAFIOS NA “VELHA” HEMORRAGIA DIGESTIVA Silva Fernandes J , Ramos R , Duarte P , Vicente C , Martinez J , Casteleiro Alves C. Introdução: Recentemente assistimos ao lançamento de novos anticoagulantes orais, alguns deles capazes de ameaçar o estatuto alcançado pela “velha” varfarina. Dentro destes novos grupos de fármacos encontramos a família dos inibidores directos da trombina, da qual a molécula Dabigatrano Etexilato (Pradaxa®) é exemplo. Não obstante as suas potencialidades, a molécula apresenta algumas desvantagens, como maior incidência de hemorragias digestivas e ausência de antídoto. Objectivo: Avaliar a eficácia do uso de concentrado de complexo de protrombina activado, de nome comercial de “FEIBA®”, usado no tratamento de hemofílicos, no controle de hemorragias gastrointestinais graves, associadas à toma de Pradaxa®. Material: Análise retrospectiva de 5 casos de hemorragias gastrointestinais associadas ao uso de Pradaxa, tratados com FEIBA®. Para a estratificação de doentes foram usados scores, como, “CHA2DS2-VASc” para atestar a necessidade de anticoagular cada doente, e o “HAS-BLED” para cálculo do risco hemorrágico. Sumário dos Resultados: A amostra apresenta idade média de 80,8 anos, com 2 mulheres e 3 homens, com um score CHA2DS2-VASc médio de 6,2. Apesar de se tratar de uma amostra reduzida, os casos reportam de hemorragias graves, com redução média da hemoglobina de 5,2 g/dL no episódio hemorrágico. Em nenhum doente foi possível a paragem da hemorragia por métodos endoscópicos. Após a administração de FEIBA® documentou-se cessação hemorrágica em todos eles, sem que nenhum tivesse recidivado até à data da alta. Conclusões: Pela nossa experiência, o FEIBA é uma alternativa eficaz para o tratamento de hemorragias digestivas associadas à toma de dabigatrano sem possibilidade de tratamento endoscópico. Centro Hospitalar Cova da Beira (Hospital Pêro da Covilhã) 104 P11 ESTRATÉGIAS DE TRANSFUSÃO EM HEMORRAGIA DIGESTIVA AGUDA POR ÚLCERA PÉPTICA SANGRANTE (UPS) – RESTRITIVOS OU LIBERAIS? Ferreira AO, Moleiro J, Torres J, Barjas E, Cravo M Introdução e Objetivos: Recentemente demonstrou-se que uma abordagem transfusional restritiva na UPS (transfusão apenas se hemoglobina<7,0g/dL) em detrimento de uma estratégia liberal está associada a redução de mortalidade. O nosso objetivo foi avaliar a estratégia de transfusão no nosso centro. Métodos: Estudo restrospetivo de todos os casos de UPS admitidos entre 07/2012 e 02/2014. Registámos dados demográficos, clínicos, analíticos (incluindo valor de hemoglobina inicial e pré-transfusional) e endoscópicos. Avaliámos a utilização de concentrado eritrocitário (CE) em função do valor de hemoglobina (< 7,0 g/dL ou > 6,9 g/dL) e da existência de patologia cardiovascular. Investigámos com análise de regressão logística, variáveis clínicas que pudessem condicionar a decisão de transfusão para valores superiores a 6,9 g/dL na ausência de patologia cardiovascular (idade, frequência cardíaca, pressão arterial média (PAm)<80 mmHg, apresentação clínica, conteúdo da sonda, plaquetas, INR e ureia). Resultados: Analisámos 81 casos de hemorragia digestiva por úlcera: idade média de 69,99±16,42 anos; 61 (75,3%) do sexo masculino. A hemoglobina média à entrada foi 8,75±2,16 g/dL, frequência cardíaca 94±18,77 bpm e PAm 81,14±14,96 mmHg. Um total de 58 (71,6%) doentes foram transfundidos com uma média de 1,71 unidades por doente (entre 0 e 6). Todos aqueles com hemoglobina<7 g/dL foram transfundidos (n=21). Dos 60 com hemoglobina >6,9 g/dL, 37 (62%) foram transfundidos, mas apenas 17 (46%) tinha história de patologia cardiovascular, de forma que em 34% dos casos houve transfusão liberal. Das variáveis analisadas apenas a PAm<80 mmHg teve impacto na decisão de transfusão (Odds Ratio, 6,531; IC95%, 1,968-21,676; p=0,002). Conclusão: O recurso à transfusão foi frequente, mesmo em doentes sem patologia cardiovascular e com hemoglobina igual ou superior a 7 g/dL. A presença de hipotensão aumentou o recurso a CE. Em 34% dos casos poder-se-ia ter evitado transfusão. Serviço de Gastrenterologia Hospital Beatriz Ângelo 105 P12 ÚLCERA PÉPTICA SANGRANTE E ERRADICAÇÃO DO HELICOBACTER PYLORI – ESTAREMOS A ADOTAR A ESTRATÉGIA MAIS ADEQUADA? Casela A.(1), Almeida N.(1), Alves R.(1), Elvas L.(1), Fernandes A.(1), Donato M.M.(2), Romãozinho J.M.(1,2), Sofia C.(1,2) Introdução: Em doentes sem história de toma de AINEs o Helicobacter pylori (Hp) é o principal agente etiológico da úlcera péptica. Esta continua a ser uma das causas mais importantes de hemorragia digestiva alta e, nestes casos, a eliminação do Hp reduz drasticamente a taxa de recidiva. Assim, em países de elevada prevalência da infeção é legítimo instituir empiricamente um tratamento de erradicação. Objetivo: Avaliar, num Hospital Terciário, qual a estratégia atual no que concerne à deteção e tratamento do Hp, em doentes internados por úlcera péptica sangrante. Doentes e Métodos: Incluídos retrospectivamente 181 doentes (Sexo masculino-64,6%; Média etária-70.7±16.4 anos) admitidos num período de 18 meses. Localização da úlcera: duodenal-47,5%, gástrica-45,9%, gástrica+duodenal-5,5%; anastomose gastrojejunal1,1%. Antecedentes de: úlcera péptica prévia-19,3%; cirurgia gástrica-6,1%; infeção Hp-2,8%. Estudadas outras potenciais etiologias, realização de hemostase, pesquisa do Hp ou instituição de terapêutica de erradicação no internamento e destino final. Resultados: Medicação prévia: antiagregantes plaquetares46,4%, AINEs-37%; anticoagulantes-3,9%. Realizada hemostase endoscópica em 65,2% e transfusão de eritrócitos em 71,3%. Efetuadas biopsias gástricas em 33,7% dos casos com pesquisa do Hp em 95,1% da mesmas. Iniciado tratamento empírico do Hp no internamento em 12,7% dos doentes e dada indicação para esse mesmo tratamento no ambulatório em 21%. Registou-se uma taxa de óbitos de 3,9% e a maioria dos doentes foi referenciada para consulta da especialidade (44,8%) para posterior investigação e tratamento, se indicado. Conclusões: Neste momento a pesquisa e o início atempado da terapêutica de erradicação do Hp em doentes internados por úlcera péptica sangrante não constitui uma prioridade, adiando-se esta abordagem para o acompanhamento em ambulatório. Atendendo à elevada prevalência da infeção pelo Hp na população adulta portuguesa tal estratégia não será a mais adequada e a instituição de um esquema de erradicação empírico aquando do reinício da alimentação oral é perfeitamente aceitável. 1) Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Centro de Gastrenterologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra 106 P13 ENDOSCOPIA URGENTE NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA NÃO HIPERTENSIVA: QUAL O IMPACTO DO PERÍODO CIRCADIANO DE APRESENTAÇÃO E DO TEMPO DE ESPERA ATÉ À SUA REALIZAÇÃO? Maia L., Sampaio E., Salgueiro P., Küttner-Magalhães R., Marcos-Pinto R., Dinis-Ribeiro M., Pedroto I. Introdução: A hemorragia digestiva alta (HDA) não hipertensiva é uma emergência comum com elevada morbimortalidade. Apesar de o prognóstico melhorar com a terapêutica endoscópica, não existe evidência que demonstre benefício com a realização precoce de endoscopia (EDA). Objectivo: Avaliar o impacto do período circadiano e do tempo até à endoscopia na eficácia de cuidados na HDA não hipertensiva numa urgência de um hospital central português. Métodos: Coorte retrospectivo em doentes submetidos a EDA de urgência por HDA não hipertensiva entre 1.1.2010 e 30.06.2013. Foram excluídos doentes que iniciaram HDA durante um internamento. O tempo até à EDA bem como o período circadiano (8-20h vs 20-8h), foram analisados para mortalidade, cirurgia urgente e recidiva hemorrágica. Resultados: Foram analisados 453 episódios de HDA não hipertensiva em doentes com idade média de 66 anos (+/-16,5), 64% homens. 55% das EDA foram realizadas entre as 20 e 8h, 34% nas primeiras 6 horas e 36% entre as 6 e 12h após a admissão. A mortalidade global a 30 dias foi de 6,2%. No período diurno, não foi possível definir nenhum parâmetro preditor dos outcomes. No período nocturno, hemoglobina <7g/dL é um fator independente de cirurgia urgente, recidiva hemorrágica e mortalidade intra-hospitalar e a 30 dias. Igualmente, um score de Rockall >7 relacionou-se com a mortalidade; e a história pessoal de neoplasia com a mortalidade a 30 dias. O tempo até à endoscopia não se apresentou de forma independente como preditivo de mortalidade intrahospitalar, a 30 dias ou outros outcomes. Conclusão: A endoscopia nas primeiras 6h não melhorou nenhum dos outcomes medidos. No período nocturno, doentes com apresentação mais grave e com valores de hemoglobina menores poderão beneficiar de cuidados diferenciados. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto, Porto Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Porto Serviço de Gastrenterologia, Instituto Português de Oncologia do Porto, Porto 107 P14 HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA: COMO PREVER A NECESSIDADE DE TERAPÊUTICA ENDOSCÓPICA? Branquinho D., Cardoso R., Gregório C., Sofia C. Introdução: Apesar da endoscopia digestiva alta (EDA) ser imprescindível no diagnóstico de hemorragia digestiva alta (HDA), é por vezes difícil definir o grau de urgência na sua realização e de prever a necessidade de realizar terapêutica endoscópica e o risco de recidiva. Objectivos: Identificar factores preditores de necessidade de terapêutica endoscópica e do risco de recidiva. Métodos: Incluidos retrospectivamente doentes submetidos a EDA por suspeita de HDA durante 4 meses. Recolhidas varíaveis clínicas, analíticas e endoscópicas de 141 doentes e calculados scores endoscópicos (Rockall pré e pós-endoscópico, Glasgow-Blatchford, AIM65). Resultados: Foram incluídos 141 doentes, sendo 92 (65,2%) do sexo masculino e apresentando uma idade média de 68,1±16,3 anos. Foi necessária terapêutica endoscópica em 62 (44,0%), verificando-se recidiva em 16 (10,6%) e morte em 3 (2,1%). A necessidade de terapêutica endoscópica foi mais frequente nos doentes com hematemeses (69,4% vs. 38,6%; p=0,003), doença hepática (62,2% vs. 37,5%; p=0,009), hipoalbuminémia (69,4% vs. 38,6%; p=0,003) e nos com maior elevação do azoto ureico (41,8±24,1 vs. 34,4±26,0mg/dL; p=0,009). Na análise multivariada apenas as hematemeses e o azoto ureico mantiveram valor preditivo. Na análise das curvas ROC apenas o score de Rockall pré-endoscópico mostrou um desempenho aceitável: AUC 0,664 (IC:0,5610,768). Quando à recidiva hemorrágica, as variáveis analisadas que mantiveram significado estatístico na análise multivariada foram apresentação com hematemeses (18,5% vs. 3,9%; p=0,005) e hipoalbuminémia (22,2% vs. 2,9%; p=0,001). A avaliação das curvas ROC mostrou que o score com melhor performance para este evento foi o AIMS65 com uma AUC de 0,783 (IC:0,631-0,936). Conclusões: A ocorrência de hematemeses, uma maior elevação do azoto ureico e o score de Rockall préendoscopico revelaram ser preditores da necessidade de terapêutica endoscópica. Já o score de AIMS65, hipoalbuminemia (<3g/dL) e alteração do estado de consciência mostraram conseguir prever recidiva da hemorragia. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 108 P15 AVALIAÇÃO DO VALOR PREDITIVO DE RECIDIVA HEMORRÁGICA DA CLASSIFICAÇÃO DE FORREST SIMPLIFICADA Moleiro J*, Ferreira AO, Torres J, Barjas E, Cravo M Introdução e objectivos: a classificação de Forrest (CF) foi recentemente simplificada em três níveis (alto risco: Ia; risco aumentado: Ib a IIc; risco baixo: III). Pretende-se avaliar o valor prognóstico desta nova classificação simplificada (CS) na recidiva hemorrágica e compará-la com a CF. Métodos: análise retrospectiva dos casos de úlcera péptica (UP) sangrante admitidos entre 07/2012 a 02/2014. Colhidos dados demográficos, clínicos, analíticos, endoscópicos, intervenções terapêuticas efetuadas e os casos de recidiva hemorrágica e mortalidade aos 30 dias. Avaliámos e comparámos o poder preditivo das CF e da CS utilizando técnicas de regressão logística e curvas ROC. Resultados: 81 doentes realizaram endoscopia digestiva alta por UP sangrante; idade média; 70 ± 16 anos; 61 (75%) do sexo masculino. Clinicamente os doentes apresentaram-se com melenas em 33 casos (41%), hematemeses em 29 (36%), anemia sintomática em 8 (10%), hematoquézias em 7 (9%) e instabilidade hemodinâmica em 4 (5%). A hemoglobina média na admissão foi 8,75 g/dL e a frequência cardíaca 94 bpm. 48% das úlceras localizavam-se no estômago e 52% no duodeno. Efectuada terapêutica endoscópica em 39 (49%), 38 dos quais com eficácia inicial. Um doente (1,2%) necessitou de cirurgia. Aos 30 dias, verificou-se recidiva hemorrágica em 15 doentes (19%) e a taxa de mortalidade foi de 6%. A recidiva ocorreu em 1 de 2 casos com úlcera Forrest Ia (alto risco) e 8 (38%) de Forrest IIa (risco aumentado). Os grupos de risco elevado e risco aumentado têm um odds ratio de 33,00 e 14,30 (p=0,013) para recidiva hemorrágica, respectivamente. A AUROC (para recidiva) da CS foi 0,733 e da CF foi 0,723. Conclusão: Apesar dos avanços terapêuticos no tratamento da UP, a CF mantém valor prognóstico. A proposta de CS mantém a acuidade prognóstica da CF, pelo que é uma alternativa na avaliação do risco de recidiva hemorrágica. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 109 P16 TIMING ENDOSCÓPICO NA HEMORRAGIA DIGESTIVA ALTA AGUDA NÃO-VARICOSA: IMPLICAÇÕES PROGNÓSTICAS? Gravito-Soares E.(1), Gravito-Soares M.(1), Lérias C.(1), Sofia C.(1), (1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E., Introdução: A hemorragia digestiva alta aguda não varicosa(HDA-NV) representa uma emergência médica comum, associada a elevada morbimortalidade. A avaliação endoscópica representa a primeira linha na abordagem diagnóstica/terapêutica, com melhoria prognóstica bem estabelecida. Contudo, o timing ideal para a sua realização permanece por definir. Objetivo: Avaliar a relação entre o timing da endoscopia digestiva alta(EDA) e a morbimortalidade associada. Métodos: Estudo retrospetivo de 121 doentes selecionados aleatoriamente dos 1276 doentes internados num serviço de gastrenterologia com HDA-NV, entre 2006-2013. Os timings endoscópicos considerados incluíram 3, 6, 12 e 24h e o horário 9-24h e 24-9h. O prognóstico foi avaliado em termos de morbilidade (necessidade terapêutica cirúrgica/radiológica, internamento em unidade cuidados intensivos gastrenterológica[UCIGE], tempo de internamento e recidiva hemorrágica) e mortalidade. Resultados: Dos 121 doentes incluídos, o tempo médio até à avaliação endoscópica foi 7,4±5,9h e 11,6% no horário 24-9h. Dos timings endoscópicos avaliados, apenas 3h e 24h mostraram significância estatística quanto ao prognóstico. Nos doentes que realizaram EDA<3h da admissão verificámos maior frequência de terapêutica cirúrgica/radiológica(62,5%vs26,7%;OR4,587;p=0,007) e internamento na UCIGE(75,0%vs46,1%;OR2,941;p=0,046). Após 24h da admissão, a realização de EDA esteve associada a maior necessidade de terapêutica cirúrgica/radiológica(66,7%vs1,7%;OR4,765;p=0,039), internamento prolongado(23,7±10,3vs11,3±14,0dias;OR1,030;p=0,035) e incremento da recidiva hemorrágica(83,3%vs39,1%;OR7,778;p=0,032)(Figura1). Os doentes submetidos a EDA entre 24-9h apresentaram maior mortalidade(35,7%vs12,1%;OR4,017;p=0,028) e necessidade de terapêutica cirúrgica(35,7%vs13,1%;OR1,306;p=0,037). Estratificando a amostra em baixo/alto risco, segundo o cut-off 3,5h no score de Rockall pré-endoscópico(AUROC 0,664;p=0,027;S66,7%/E58,3%), apenas o timing endoscópico <3h mostrou associação estatística. Neste horário, a necessidade terapêutica cirúrgica/radiológica(80,0%vs24,4%;OR12,346;p=0,004), tempo de internamento (18,2±14,7vs11,3±10,0;OR1,049;p=0,035), recidiva hemorrágica (80,0%vs40,0%;OR5,988;p=0,034) e mortalidade(50,0%vs15,6%;OR5,435;p=0,025) foram significativamente superiores. Conclusão: A avaliação endoscópica precoce (<24h) esteve associada a menor morbilidade (necessidade terapêutica cirúrgica/radiológica, tempo de internamento e recidiva hemorrágica), sem, contudo, se associar a menor mortalidade. A EDA efetuada entre 24-9h associou-se a maior morbimortalidade. A EDA emergente (<3h) implicou maior morbimortalidade, em relação provável com maior gravidade à admissão. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 110 P17 LESÃO DE DIEULAFOY: ANÁLISE CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DE UMA CAUSA INFREQUENTE DE HEMORRAGIA DIGESTIVA João Matias, D., Fernández Fernández, N., Monteserin Ron, L., Rodríguez Martín, L., Aparicio Cabezudo, M., Jiménez Palacios, M., Linares Torres, P., Vivas Alegre, S. Introdução: A lesão de Dieulafoy, definida como artéria submucosa tortuosa de calibre aumentado, é uma causa infrequente de hemorragia digestiva com elevada morbimortalidade. Objetivo: Analisar características, factores de risco, tratamento e evolução da lesão de Dieulafoy. Métodos: Estudo retrospetivo de Janeiro de 2000 até Dezembro de 2013 dos doentes diagnosticados endoscopicamente. Avaliámos variáveis epidemiológicas, clínicas, factores de risco, tratamento e evolução. Resultados: Diagnosticámos 77 doentes, idade média 74 anos, 52% homens. A lesão de Dieulafoy constituiu 1,4% dos casos de hemorragia digestiva. As localizações mais frequentes foram gástricas (57%), duodenais (30%) e colónicas (12%). Apresentou-se clinicamente como melenas (38%), hematemese (34%) e rectorragia (10%). A hemoglobina média foi 8,2 g/dl, estadia média 8,4 dias. Os factores de risco mais prevalentes foram HTA (60%), patologia cardíaca (53%), diabetes mellitus (31%) e fibrilhação auricular (26%). Um terço dos doentes consumia antiagregantes, 28% estavam anticoagulados e apenas 46% utilizavam inibidores da bomba de protões. Em 40% dos doentes necessitou-se mais de uma exploração endoscópica diagnóstica. O tratamento mais utilizado foi esclerose mais clip (39%), sendo necessário segundo tratamento em 26%. Em 70% transfundiram-se hemoderivados (média de 3,26 concentrados/doente), com taxa de recidiva hemorrágica de 18%. Faleceram 9/77 doentes (11,7%), todos com lesão no trato digestivo superior. A lesão de Dieulafoy do colon e duodeno foi mais frequente em mulheres, e a gástrica em homens (p<0,05). A lesão colónica associou-se com patologia coronária (p<0,05). As lesões duodenais apresentaram menor hemoglobina (p<0,01), maior necessidade transfusional (p<0,01), maior consumo de hemoderivados por doente (p<0.05) e maior taxa de recidiva hemorrágica (p<0,05). Conclusões: A lesão de Dieulafoy, ainda que de baixa incidência, apresenta importante morbimortalidade, com elevada necessidade transfusional e de terapêutica endoscópica. Associa-se frequentemente com patologia cardiovascular. A localização duodenal apresenta maior repercussão clínica. Apesar dos avanços endoscópicos, continua a representar um desafio diagnóstico e terapêutico. Complejo Asistencial Universitario de León 111 P18 LESÃO DE DIEULAFOY - O DESAFIO DIAGNÓSTICO E TERAPÊUTICO Capela T, Bernardes C, Loureiro R, Carvalho D, Duarte P Introdução e objectivos: A lesão de Dieulafoy (LD) é uma etiologia a considerar na hemorragia digestiva alta (HDA). O diagnóstico afigura-se muitas vezes difícil, sendo o tratamento endoscópico, actualmente considerado eficaz. Pelo exposto pretende-se caracterizar os exames endoscópicos altos em que se diagnosticaram e intervencionaram LD. Métodos: Análise retrospectiva dos exames endoscópicos com HDA em contexto de urgência entre 2010 e 2013 num Hospital Central. Resultados: A LD correspondeu a 7,3% do total de diagnósticos de HDA (72 em 982) relativos a 62 doentes (44 do sexo masculino, idade média 73,3 +/- 16,6 anos). Média de 1,3 +/- 0,61 exames para o diagnóstico. As queixas que motivaram o exame foram hematemeses-H (66,6%) e melenas-M (56,9%). 25% dos doentes tinham H+M. Laboratorialmente, 86,1% tinham anemia. Um total de 87,1% das LD surgiu no estomago proximal. Três doentes apresentaram LD no bulbo duodenal (4,8%), um no esófago e 4 no antro ou corpo distal (6,5%). As opções terapêuticas incluiram injecção de adrenalina e/ou polidocanol, árgon plasma e clips metálicos segundo a opção do endoscopista. A hemostase endoscópica imediata foi conseguida com sucesso em 100% dos doentes. Perdeu-se o follow up de 7 doentes (11,2%). Avaliando a eficácia terapêutica nos restantes 55, verificou-se que a taxa de recidiva hemorrágica foi de 25,5% com uma média de 79,1 dias para recidiva (1-243 dias). Comparando a eficácia em dois grupos, a aplicação de clip metálico vs a ausência do mesmo, constatou-se uma recidiva hemorrágica de 12,5% vs 34,7% (p<0,05). Apenas um doente recidivou mais que uma vez sendo encaminhado para terapêutica cirúrgica. Conclusão: A LD é uma causa importante de HDA, sendo o seu diagnóstico muitas vezes difícil. A terapêutica endoscópica é em geral eficaz, sendo que o clip metálico parece diminuir o risco de recidiva hemorrágica. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António dos Capuchos - Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE 112 P19 EFICÁCIA DA TERAPÊUTICA ENDOSCÓPICA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA POR LESÕES DE DIEULAFOY Lourenço L.C., Oliveira A.M., Cardoso F. S., Branco J., Santos L., Alberto S., Horta D., Martins A., Reis J., Deus J.R Introdução: A lesão de Dieulafoy (LD) consiste num vaso arterial tortuoso e de calibre aumentado, ao nível da submucosa, que erosiona a mucosa dando origem a hemorragia . Trata-se de uma causa rara de hemorragia digestiva (HD), por vezes de difícil controlo. Objectivos: Investigar os aspectos clínicos e endoscópicos relacionados com episódios de HD por LD. Aferir a eficácia imediata e a longo prazo da terapêutica endoscópica (TE). Métodos: Estudo rectrospectivo recorrendo aos processos clínicos dos doentes com HD por LD, admitidos entre 2008-2013 (6 anos). Analisaram-se variáveis demográficas e clínicas, achados endoscópicos, modalidades de terapêutica e outcomes (sucesso hemostático, recidiva hemorrágica, necessidade de cirurgia e taxa de mortalidade). Resultados: Foram encontradas 30 LD distribuídas pelo tubo digestivo: esófago (2), estômago (14), duodeno (8), anastomose gastro-jejunal (1), jejuno (1), cólon (2) e recto (2). Incidência anual de LD como causa de HD <0,5%. Para hemostase primária foram utilizados: adrenalina+clip (15); laqueação elástica (LE) (3), adrenalina+polidocanol (3); clips (2), termocoagulação com árgon-plasma (APC) (2), adrenalina+polidocanol+clip (1); adrenalina+electrocoagulação-bipolar (BICAP) +clip (1); adrenalina+BICAP (1); APC+clip (1); adrenalina+LE (1). A hemorragia foi controlada em 29 casos. Um caso necessitou de abordagem cirúrgica após terapêutica endoscópica sem sucesso. Registaram-se 5 recidivas: 4 precoces ( < 1 semana) e uma tardia (> 4 semanas), que foram manejadas endoscopicamente, à excepção de um caso que foi tratado cirurgicamente. A utilização de métodos mecânicos (clips e laqueação elástica), isoladamente ou em combinação com outros métodos, associou-se a menor necessidade de terapêutica cirúrgica e recidiva hemorrágica (p=0,007). Não se registaram complicações relacionadas com a TE nem mortalidade em contexto de hemorragia. Conclusão: As LD podem ser tratadas endoscopicamente de forma segura e com alta probabilidade de sucesso, quer para hemostase inicial (96,7%), quer em caso de recidiva (80%). A utilização de métodos mecânicos parece ter resultados superiores. Serviço de Gastrenterologia - Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca, E.P.E. 113 P20 BLOQUEADOR BETA E ERRADICAÇÃO DE VARIZES ESOFÁGICAS MELHORAM O PROGNÓSTICO NA PROFILAXIA SECUNDÁRIA COM LAQUEAÇÃO ELÁSTICA Rodrigues-Pinto E. , Cardoso H., Morais R., Santos-Antunes J., Albuquerque A., Vilas-Boas F., Rodrigues S., Velosa M., Ribeiro A., Marques M., Gonçalves R., Macedo G. Introdução e Objectivo: A hemorragia varicosa é uma complicação potencialmente fatal da hipertensão portal, com uma elevada probabilidade de recorrência. Caracterizar a população de doentes que tiveram hemorragia por varizes esofágicas, em programa de profilaxia secundária na prática clínica. Métodos: Estudo transversal de doentes seguidos num centro terciário entre 2011 e 2013 com hipertensão portal e varizes esofágicas em programa de profilaxia secundária com laqueação elástica. Resultados: Foram tratados 100 doentes (81% do sexo masculino) ao longo de 20±15 meses, com uma idade média de 56 anos. A etiologia da hipertensão portal foi cirrose etílica em 54% dos doentes e vírica em 24%, sendo que no início da profilaxia, 37% tinham cirrose compensada. Em 47% dos doentes o factor etiológico da hipertensão portal (ex.: hepatite C não tratada, etilismo persistente) não foi controlado. Fizeram terapêutica combinada com bloqueador beta 57% dos doentes. Foram realizadas, em mediana, 3 sessões de laqueação. Durante o follow-up, 18% apresentaram recidiva hemorrágica (12% hemorragia varicosa e 6% hemorragia por escaras), mais frequente nos doentes sem controlo do factor etiológico (p=0.021); 53% erradicaram as varizes, mais frequente nos doentes com Child-Pugh <10 (58% vs 32%, p=0.038). A sobrevivência média estimada foi de 43 meses e a mortalidade ao primeiro ano de 20%. Na análise de regressão, associaram-se a maior sobrevivência e menor mortalidade a erradicação de varizes (9% vs 35%, p=0.035), a cirrose compensada (3% vs 32%, p=0.006) e os bloqueadores beta (7% vs 34, p<0.001). Também se associaram a maior sobrevivência idades inferiores (p=0.021) e bilirrubina mais baixa (p=0.003). Conclusões: A recidiva hemorrágica associou-se a ausência de controlo do factor etiológico da hipertensão portal. Além da cirrose compensada e da idade, também a erradicação das varizes e a terapêutica combinada com bloqueador beta se associaram a melhor prognóstico. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 114 P21 EFICÁCIA DA LAQUEAÇÃO ELÁSTICA COMO PROFILAXIA PRIMÁRIA DE HEMORRAGIA POR VARIZES ESOFÁGICAS Santos-Antunes J,, Cardoso H, , Rodrigues-Pinto E, , Morais R, , Albuquerque A, , Vilas-Boas F, , Rodrigues R, , Velosa M, , Ribeiro A, , Marques M, , Gonçalves R, , Macedo G Introdução e Objectivo: A laqueação elástica é um procedimento muito eficaz para a terapêutica de varizes esofágicas. O seu uso está recomendado para profilaxia primária como alternativa aos bloqueadores beta, para o tratamento da hemorragia aguda ou para profilaxia secundária. O objectivo deste trabalho foi avaliar a experiência da laqueação elástica na profilaxia primária de hemorragia por varizes esofágicas. Métodos: Análise dos doentes em programa de erradicação de varizes esofágicas como profilaxia primária de hemorragia varicosa, desde Janeiro de 2010 até Fevereiro de 2014. Resultados: Num total de 213 doentes, 93 foram tratados para profilaxia primária, 79% em doentes do género masculino, com idade média de 60±12 anos e com tempo de follow-up mediano de 11.4 meses. A principal etiologia da hipertensão portal foi cirrose alcoólica (54%), seguida da infecção por VHC (20%) e VHB (6%). A maioria apresentava cirrose com estadio A de Child-Pugh (48%), B em 28% e C em 24%. Em 55% dos doentes foi possível constatar erradicação de varizes, com um número mediano de 2 sessões e 12 elásticos. A presença de hepatocarcinoma relacionou-se com a incapacidade para a erradicação das varizes (p=0.001), e o uso concomitante de propranolol não teve influência na eficácia de erradicação (p=0.937). A taxa de mortalidade a um ano foi de 15%. Assistiu-se a hemorragia por varizes esofágicas em 5 doentes (5%). A hemorragia varicosa relacionou-se significativamente com a mortalidade a um ano (p=0.022). Nenhum doente teve hemorragia por escara. Doentes com Child C tiveram maior dificuldade em erradicar varizes do que aqueles com Child A (38% vs 60%, p=0,101), e tiveram maior mortalidade durante o follow-up (24% vs 4%, p=0.036). Conclusão: A laqueação elástica mostrou-se eficaz na prevenção da hemorragia por varizes esofágicas, com uma taxa de sucesso global de 95%. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 115 P22 PREVALÊNCIA E CARACTERIZAÇÃO DE LESÕES POLIPOIDES GÁSTRICAS: PERSPETIVA DE UM HOSPITAL CENTRAL Loureiro R., Capela T., Carvalho D., Bernardes C., Russo P., Costa M., Silva M., Duarte P. INTRODUÇÃO: As lesões polipoides gástricas (LPG) são, frequentemente, achados incidentais na endoscopia digestiva alta (EDA), com prevalência de 2 a 6%. Dependendo do tipo histológico, têm potencial de malignidade, encontrando-se muitas vezes associadas a outras condições pré-malignas. OBJETIVOS: Caracterização das LPG observadas em EDA num Serviço de Gastrenterologia de um Hospital Central. MATERIAL E MÉTODOS: Análise retrospetiva das LPG (Paris Tipo 0-I) detetadas em EDA entre 01/01/2011 e 31/12/2013 num Serviço de Gastrenterologia. Caracterização da população e lesões endoscópicas. Avaliação da técnica de excisão bem como da realização de biópsias da mucosa adjacente e status H. pylori. RESULTADOS: 8422 indivíduos realizaram EDA neste período, identificando-se LPG em 4,7% (n=395; 5,6% mulheres vs 4,1% homens, p=0,003). Idade média da população com LPG 68,1 ± 12,2 anos; 39,2% do sexo masculino. Distribuição das lesões: corpo (27,3%), antro (36,2%). 17,2% dos indivíduos apresentaram lesões em mais de um segmento. 81% das lesões eram sésseis; 40,0% com ?5mm, 34,4% 6-10mm, 14,2% 1120mm e 7,9% >20mm. A principal técnica usada para obtenção de material histológico foi a biópsia com pinça (46,6%). Em 113 indivíduos fez-se polipectomia com ansa a frio ou diatérmica, com taxas de complicações imediatas e tardias de 13,2% e 2,2% respetivamente. Das 354 LPG biopsadas ou excisadas, 28,2% (n=100) eram pólipos hiperplásicos (PH), 13,8% (49) pólipos de glândulas fúndicas (PGF), 3,4% (n=12) adenocarcinomas (ADC), 1,7% (n=6) pólipos fibroides inflamatórios e 1,1% (n=4) pólipos adenomatosos. Não houve diferença estatisticamente significativa entre sexo e tipo histológico, exceto nos PGF (17,3% mulheres vs 8,2% homens, p=0,017). Realizaram-se biópsias da restante mucosa em 46,3% (n=183) dos indivíduos, com identificação de 7 ADC e H. pylori positiva em 12,2%. CONCLUSÕES: Na população estudada observou-se um predomínio de PH relativamente aos PGF. A caracterização histológica da restante mucosa gástrica foi realizada insuficientemente à luz das recomendações atuais. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de Lisboa Central 116 P23 SERÁ A QUIMIOTERAPIA PERIOPERATÓRIA O TRATAMENTO ADEQUADO PARA TODOS OS DOENTES COM CANCRO DO ESTÔMAGO LOCALMENTE AVANÇADO? Moleiro J*, Callé C, Mão de Ferro S, Trabulo D, Ferreira A, Dionísio R, Pimenta A, Cardoso C, Loureiro A, Serrano M, Ferreira S, Fonseca R, Chaves P, Luís A, Freire J, Dias Pereira A Introdução: A quimioterapia perioperatória (QPO) é a terapêutica standard para o carcinoma gástrico localmente avançado, aumentando em 10% a sobrevivência. A regressão tumoral (RT) histológica é um parâmetro objetivo de resposta, havendo estudos que associam a RT ao prognóstico. Contudo, nos doentes com resposta limitada, o atraso da cirurgia pode comprometer uma terapêutica curativa. Objetivos: Avaliar, em doentes propostos para QPO a)progressão de doença (PD) durante a quimioterapia b)RT histológica e correlação com características clínicas. Material e métodos: 148 doentes propostos para QPO e 2 para QPO + quimioterapia intraperitoneal. Peças de gastrectomia revistas por anatomopatologista, RT classificação de Becker (Ia:sem tumor; Ib:tumor<10%; II:tumor 10-50%; III:tumor>50%) e correlação com variáveis clinico-patológicas e sobrevivência. Estatística: chi2, Kaplan-Meier, Logrank (Stata 10). Resultados: Dos 150 doentes, 143 fizeram quimioterapia (5 excluídos por PD). Destes 135 foram operados (não cirurgia: 1-complicações do tratamento; 4-morte por quimioterapia; 2-recusa; 1-PD). Tipo de ressecção: R0-102; R15, R2-11, doença irressecável-17. Assim, durante a quimioterapia observou-se PD em 34 doentes e morte/complicações em 5. Avaliação da RT efectuada nos 118 doentes com cirurgia de ressecção: Ia=11 (9,3%), Ib=9(7,6%), II=30 (25,4%) III=68 (57,6%). Das variáveis analisadas (sexo, idade, grau de diferenciação, tipo histológico, localização tumoral, cT, cN, estádio) apenas o cT (T1/2) se correlacionou com a RT (p=0,008). Todas as ressecções paliativas apresentaram RT II/III. Doentes com RT Ia/Ib apresentaram menos recidivas 1/20 vs 26/87 (p=0,037) e melhor sobrevivência global 88% vs 54% (p=0,041). Conclusão: Não se identificaram fatores preditivos de RT que auxiliem a seleção de doentes para QPO. 39 doentes (26%) ao não serem operados após o diagnóstico podem ter sido prejudicados. Admitimos que o benefício da QPO advém da boa resposta de um sub-grupo de doentes. É necessário identificar novos marcadores de RT que permitam seleccionar os doentes que podem beneficiar da QPO. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 117 P24 FATORES ANATOMO-CLÍNICOS E MOLECULARES PREDITIVOS DA RESPOSTA À QUIMIOTERAPIA NEOADJUVANTE NO ADENOCARCINOMA GÁSTRICO Palmela C., Ferreira A. O., Branco F., Santos M., Casa-Nova M., Oliveira H., Garrido R., Jacinto A., Seruca R., Cravo M. Introdução e objetivos: Desde há alguns anos que a quimioterapia (QT) peri-operatória é utilizada no tratamento dos adenocarcinomas gástricos localmente avançados. A eficácia no downstaging é considerável mas muito heterogénea, bem como a toxicidade/tolerância a esta terapêutica. O objetivo do presente estudo foi identificar fatores anatomo-clínicos e moleculares preditivos da resposta à QT. Métodos: Análise retrospetiva de todos os casos de adenocarcinoma gástrico e da junção gastro-esofágica tratados num centro secundário entre janeiro/2012 e fevereiro/2014. Analisámos características demográficas, clínicas (localização, estadiamento TNM, protocolo de quimioterapia, tolerância, resposta imagiológica e patológica à QT) e moleculares (instabilidade de microssatélites (MSI) e imunoexpressão de E-caderina). Resultados: De 104 casos de adenocarcinoma gástrico selecionámos os 40 casos submetidos a quimioterapia neoadjuvante. Idade média 67,15±10,33 anos; 28 (70%) do sexo masculino. Dezanove (47,5%) localizavam-se no corpo, 17 (42,5%) no antro e 4 (10%) na junção gastro-esofágica. Trinta (75%) eram do tipo intestinal, 9 (22,5%) do tipo difuso e um (2,5%) misto. Observámos que 25/40 doentes (62,5%) responderam favoravelmente à QT neoadjuvante. Verificámos que os doentes respondedores tinham uma tendência para serem do sexo feminino (10/25 vs 2/15; p=0,152), para idade inferior (64,9 vs 70,9 anos; p=0,071), para tratamento com ECF (ou esquema equivalente) vs outros esquemas de QT (22/31 vs 3/9; p=0,057) e para boa tolerância à quimioterapia (21/29 vs 4/11; p=0,065). Sete dos 9 doentes com carcinoma difuso responderam à QT vs 17/30 dos de tipo intestinal (p=0,25). Observámos melhor resposta nos adenocarcinomas sem MSI/MSI baixa vs MSI alta (15/22 vs 3/9; p=0,114). Conclusões: Parece existir uma relação entre a resposta à quimioterapia neoadjuvante e a idade, o sexo, o protocolo utilizado (MAGIC) e a boa tolerância à QT, sendo a presença do fenótipo mutador MSI um fator de não resposta. O tipo histológico intestinal vs difuso não influenciou a resposta. Hospital Beatriz Ângelo, Loures 118 P25 QUIMIOTERAPIA PERIOPERATÓRIA EM DOENTES COM CARCINOMA GÁSTRICO COM MAIS DE 70 ANOS: SIM OU NÃO? Moleiro J*, Trabulo D, Ferreira A, Dionísio R, Cardoso C, Pimenta A, Loureiro A, Mão de Ferro S, Serrano M, Ferreira S, Freire J, Luís A, Bettencourt A, Casaca R, Dias Pereira A Introdução: A quimioterapia perioperatória (QPO) é preconizada para doentes com carcinoma gástrico (CG) ou da junção esófago-gástrica (JEG) ressecáveis. Contudo, a idade avançada e as comorbilidades limitam a sua aplicabilidade. Pretende-se avaliar a adesão, toxicidade e sobrevivência dos doentes propostos para QPO com >70 anos. Métodos: Dos 418 doentes com CG ou da JEG (Fev 2009 - Jun2013) 148 considerados elegíveis para QPO, 54 com >70 anos (GI) e 94 com 80 anos excluídos da QPO. Estatística chi2,t-Student, Kaplan Meier, Logrank (Stata 10). Resultados: GI: 54 doentes (34H, idade média 74 anos, adenocarcinoma tipo intestinal 75,9%, carcinoma de células pouco coesas 24,1%). ICC médio 7 (44 doentes >3 comorbilidades). Dos 54 doentes, 50 iniciaram QT pré-operatória e 9 não a completaram: 6-complicações do tratamento; 1-progressão da doença; 1-recusa; 1-óbito. 45/50 (90%) doentes foram operados (R0-35; R1-2; R2-1; irressecável-7). 23 doentes propostos para QT pós-operatória e 21 completaram 3 ciclos. Comparando os dois grupos, verifica-se conclusão da QPO em 21/54 (39%) de GI e em 51/94 (54%) de GII (p=0,1). No GI registaram-se mais complicações durante a QT pré-operatória (complicações major: 15/54 vs 11/94; p=0,006), menos cirugias (45/54 vs 94/94; p=0,002) e menos QT pós-operatória (22/54 vs 24/94; p=0.036). Contudo, a taxa de recidiva após terapêutica curativa (p=0,16) e a sobrevivência global não foram influenciadas pela idade (p=0,8). Conclusão: A QPO em doentes com > 70 anos associa-se a maiores riscos e dificuldade em cumprir o protocolo. Contudo, a sobrevivência global e livre de doença é semelhante à dos indivíduos com menos de 70 anos, pelo que estes não devem ser excluídos da realização de QPO apenas com base na idade. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 119 P26 LINFOMA GÁSTRICO MALT: ANÁLISE DE UMA SÉRIE CONSECUTIVA DE DOENTES DURANTE 20 ANOS Moleiro J*, Ferreira S, Lage P, Dias Pereira A Introdução/objectivos: O linfoma da zona marginal gástrico do tecido linfóide associado às mucosas, linfoma gástrico MALT (LGM), caracteriza-se por associação a infecção por Helicobacter pylori (HP) e curso indolente. Avaliaram-se características demográficas, clínicas, endoscópicas, status-HP, estádio, opção/resposta à terapêutica e prognóstico a longo prazo. Material e métodos: Analisaram-se registos de 144 doentes com LGM (1993-2013) estadiados pela classificação de Ann Arbor/Musshoff. Estatística: SPSS 20. Resultados: Avaliados 76H:68M, média de idades: 56 anos (13-83), 67% com dispepsia na apresentação. Aspectos endoscópicos e localização mais frequentes: erosões/ úlcera(s) (46%) no antro ou transição corpoantro (57%). Em 71,5% detectou-se HP. Doença localizada em 127 doentes (88%) (IE/IIE: 103/24). 94/103 doentes (92%) em estádio IE efectuaram erradicação do HP. 78 (83%) entraram em remissão (período médio: 7 meses; 1-63) e 67 (86%) encontravam-se livres de doença (período médio de follow-up (fup): 105 meses). Linfomas difusos e do corpo + antro associaram-se a menores repostas à terapêutica de erradicação (p=0,007). Verificou-se recidiva em 11/78 (14%) - período médio: 21 meses. À necessidade de ?2 terapêuticas de erradicação associou-se maior probabilidade de recidiva (p=0,008). A erradicação foi 1ªopção em 17/24 doentes em estádio IIE, com remissão apenas em 5 (30%). Nenhum caso em estádio III e dos 16 em estádio IV, 9 com remissão após quimioterapia±cirurgia e 3/7 sem remissão faleceram por doença. Tempo médio de fup: 109 meses (4-246) - 112 doentes vivos (99 sem doença), 32 falecidos (5 por doença). Probabilidade cumulativa de sobrevivência aos 5/10/15 anos: 91,8% / 82,8% / 66,9%, respectivamente. Conclusões: A maioria dos doentes com LGM apresentou-se em estádio IE e nestes a erradicação do HP foi uma estratégia eficaz com percentagem de remissão elevada. O diagnóstico em estádio precoce evitou, na maioria dos casos, a necessidade de terapêuticas agressivas. O prognóstico global foi favorável com taxas de sobrevivência elevadas a longo prazo. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 120 P27 “MALT OU NÃO MALT, EIS A QUESTÃO” – PAPEL DA ENDOSCOPIA DIGESTIVA ALTA NO DIAGNÓSTICO E FOLLOW-UP DO LINFOMA MALT GÁSTRICO Alves A.R.(1), Giestas S.(1), Casela A.(1), Perdigoto D.(1), Romão Z.(1), Gomes D.(1), Gregório C.(1), Caetano Oliveira R.(2), Cipriano M.A.(2), Gomes M.(3), Ribeiro L.(3), Sofia C.(1) Introdução: O diagnóstico de linfoma gástrico do tecido MALT (mucosa-associated lymphoid tissue) (LGMALT) é frequentemente estabelecido após endoscopia digestiva alta (EDA) com biopsias, no contexto de sintomas gastrointestinais inespecíficos. As alterações endoscópicas descritas para esta neoplasia rara são heterogéneas. Objetivo: Caracterizar alterações endoscópicas do LG-MALT no diagnóstico e no follow-up dos doentes. Doentes e métodos: Estudo retrospetivo de todos os casos de LG-MALT, num único centro, por um período de 13 anos (2000-2013). Recolhidos dados demográficos, clínicos e registadas as alterações na EDA diagnóstica e nas EDA de follow-up. Resultados: Incluídos 16 doentes, com idade média de 60,8±2,7 anos, 9 (56,3%) do sexo masculino. Motivo para realização de EDA: epigastralgias em 8 (57,1%) doentes, enfartamento pós prandial em 6 (26,1%), pirose em 2 (8,7%), astenia em 2 (8,7%), hematemeses em 2 (8,7%), anorexia e emagrecimento em 2 (8,7%) e anemia em 1 (4,3%). Localizações do LG-MALT: corpo em 9 (56,3%), antro em 5 (31,3%) e antro e corpo em 2 (12,4%). Da análise das EDA, classificaram-se as alterações como: erosão de pregas gástricas em 3 (18,8%) doentes, úlcera gástrica em 3 (18,8%), áreas de mucosa irregular em 3 (18,8%), alteração da conformação das pregas gástricas (amputação/convergência) em 2 (12,5%), pregas gástricas hipertrofiadas em 2 (12,5%), mucosa sugestiva de gastropatia crónica em 2 (12,5%) e lesão vegetante num único doente (6,3%). Tempo médio de follow-up de 5,6 ± 0,9 anos (nenhum óbito). Nas EDA de seguimento nos não gastrectomizados, os doentes com úlcera gástrica mantêm apenas área cicatricial, as erosões de pregas desapareceram e as descrições das restantes alterações mantêm-se semelhantes às da EDA diagnóstica. Conclusões: As alterações endoscópicas do LG-MALT são inespecíficas e, na maioria das vezes, aparentemente benignas. Neste contexto, a caracterização histológica destas alterações desempenha um papel preponderante no seu diagnóstico e no follow-up. 1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Serviço de Anatomia Patológica, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 3) Serviço de Hematologia Clínica, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 121 P28 DISTRIBUIÇÃO ANATÓMICA E GRAU DE PROLIFERAÇÃO DOS TUMORES NEUROENDÓCRINOS DIGESTIVOS Costa M.1, Silva M.J.1, Capela T.1, Esteves J.1, Carvalho A.2, Oliveira M.2, David Marques A.1, Barroso E.3 Introdução: A epidemiologia dos tumores neuroendócrinos (TNE) digestivos está pouco caracterizada e a sua distribuição anatómica é variável consoante as séries. O potencial maligno destas neoplasias é extremamente variável, desde tumores benignos a malignos pouco diferenciados. A OMS considera todos os TNE potencialmente malignos e classifica-os segundo diferenciação tumoral e grau de proliferação (G1, G2 e G3). Objectivo: Classificar os TNE digestivos, conforme localização anatómica e actividade proliferativa. Material e Métodos: Revisão da casuística dos doentes com TNE digestivos diagnosticados num centro hospitalar nacional entre Out/2005 e Jan/2014 e dos quais está disponível informação acerca da topografia e actividade proliferativa. Resultados: Identificados 82 TNE em 81 doentes, a maioria mulheres (50,6%), com idade mediana 63 anos [15; 98]. A localização anatómica dos TNE, por ordem decrescente de frequência, foi pâncreas (n=29; 35,4%), estômago (n=20; 24,4%), apêndice (n=9; 11,0%), íleon (n=7; 8,5%), jejuno (n=5; 6,0%), duodeno (n=4; 4,9%, um deles da ampola de Vater), cólon (n=3; 3,7%), recto (n=3; 3,7%) e esófago (n=2; 2,4%). A Tabela 1 apresenta o grau de proliferação tumoral segundo a localização anatómica. Esófago Estômago Duodeno Jejuno Íleon Apêndice Cólon Recto Pâncreas Total G1 0% 70% 75% 80% 100% 100% 67% 33% 66% 72% G2 0% 10% 0% 20% 0% 0% 0% 33% 24% 13% G3 100% 20% 25% 0% 0% 0% 33% 33% 10% 15% Tabela 1 Todos os TNE do apêndice e íleon e a larga maioria dos do jejuno, do estômago e do pâncreas eram G1. Ambos os TNE do esófago eram G3. Conclusão: No nosso estudo os TNE do pâncreas e estômago correspondem a mais de metade dos TNE. Em todas as localizações anatómicas, excepto no esófago e recto, o grau de proliferação predominante é o G1. 1Serviço de Gastrenterologia, 2Serviço de Anatomia Patológica e 3Centro Hepato-bilio-pancreático e de Transplantação – Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E 122 P29 ANÁLISE CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICA DOS TUMORES NEUROENDOCRINOS GASTROINTESTINAIS João Matias, D., Vaquero Ayala, L., Álvarez Cuenllas, B., Fernández Fernández, N., Vivas Alegre, S. INTRODUÇÃO: Os tumores neuroendocrinos gastroenteropancráticos (TNE-GEP) são um grupo de neoplasias raras, representando menos de 2% dos tumores gastrointestinais. No entanto, a sua prevalência aumentou nos últimos 30 anos. OBJETIVOS: Avaliar a incidência e epidemiologia dos TNE-GEO diagnosticados no nosso hospital, comparar o rendimento diagnóstico e concordância das diferentes técnicas de imagem e analisar os fatores prognósticos. MÉTODOS: Seleccionámos os doentes diagnosticados desde Janeiro 2003 até Dezembro 2012. Analisámos sexo, idade, localização, clínica, histologia (OMS 2010), Ki67, presença de metástases, sobrevivência, diagnóstico por técnicas de imagem, tratamento e níveis séricos de cromogranina A e ácido 5hidroxiindolacético (5-HIAA) em urina 24h. RESULTADOS: Incluímos 54 doentes (58.7 anos + 20.5), 53.7% homens. A localização mais frequente foi no intestino delgado (26%), pâncreas (18.5%), estômago (18.5%) e apêndice (16.7%). Em 40.7% casos havia metástases. A clínica mais frequente foi a dor abdominal (40.7%), com 9.3% de assintomáticos. A maioria, 44.4%, eram tumores G1. Operaram-se 63% casos e 75.9% receberam tratamento quimioterápico. Onze doentes faleceram (20.4%). O octreoscan diagnosticou 66.7%, percentagem similar ao TC toracoabdominal (67.3%), com concordância de 83.3% (p<0.001; Kappa=0.694). A RMN diagnosticou 85.8%, concordância com octreoscan de 66.6% (Kappa=0.672; p=0.04) e com TC de 80% (Kappa=0.613; p=0.02). Os falecidos tinham idade mais avançada (67.6 vs 56.4; p=0.04) e frequência incrementada de síndroma general (80% vs 20%; p<0.05). O Ki67 foi superior nos falecidos (35.9 vs 16.4; p=0.04), tal como a cromogranina A, antes (p=0.04) e depois do tratamento (p=0.02) e o 5-HIAA depois do tratamento (p<0.05). CONCLUSÃO: Na última década verificou-se um incremento significativo da incidência dos TNE-GEP. As técnicas de imagem diagnosticam a doença numa grande percentagem de casos com elevada concordância. A idade, Ki67 alto, presença de síndroma general e niveles elevados de cromogranina no diagnóstico e póstratamento são considerados fatores de mau prognóstico. Complejo Asistencial Universitario de León 123 P30 EXPERIÊNCIA NA RESSECÇÃO ENDOSCÓPICA DE LESÕES ADENOMATOSAS DUODENAIS, ESPORÁDICAS, NÃO AMPULARES, MAIORES QUE 10 MM Rodrigues J., Barreiro P., Marques S., Carmo J., Chagas C. Introdução: Os tumores duodenais precoces são infrequentes sendo o seu tratamento um desafio clínico. As características anatómicas duodenais (fina espessura, rica vascularização, lumen estreito) associado ao fenótipo mais frequente das lesões adenomatosas nesta localização, tipicamente planas, fazem com que a sua excisão endoscópica seja tecnicamente laboriosa e associada a maior risco de complicações. Contudo, a literatura disponível, ainda que limitada e a maioria referente a pequenas séries, mostra claros benefícios face à alternativa cirúrgica. Objetivo: Avaliação retrospectiva da eficácia e segurança do tratamento endoscópio de lesões adenomatosas duodenais esporádicas, não ampulares, com dimensões superior ou igual a 10 mm, durante 2013, realizadas num centro hospitalar. Resultados: Foram incluídas 4 lesões (n=4) referentes a 4 doentes: ausência de predomínio de sexo com idades médias de 69 anos [57-88 anos]. Três das lesões localizavam-se em D2 e uma no bulbo. As lesões foram predominantemente planas, com uma dimensão média de 13,8 mm [10-18 mm]. Destaca-se a presença de hipertensão portal (cirrose hepática Child B) num dos doente (lesão com 10 mm; T0 Is). Todas as lesões foram excisadas por mucosectomia com ansa, sob sedo-anestesia, realizadas pelo mesmo executante. Conseguiu-se ressecção completa nos 4 casos, 3 em bloco e 1 em piecemeal. Registou-se uma hemorragia imediata e outra 6H após o procedimento, ambas sem repercussão hemodinâmica ou necessidade de suporte transfusional, controladas endoscopicamente. A avaliação histológica foi concordante com 2 adenomas com displasia de baixo grau, um carcinoma in situ e um caso de adenocarcinoma com invasão mínima da submucosa (este último referenciado para cirurgia que recusou). Com um período médio de 4 meses de seguimento não se registaram recidivas até à data. Conclusões: Apesar do número limitados de doentes, este trabalho apoia o tratamento endoscópico como uma opção eficaz e globalmente segura na abordagem terapêutica minimamente invasiva das lesões superficiais duodenais. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 124 P31 TUMORES NEUROENDOCRINOS DA AMPOLA DE VATER. UMA SÉRIE DE CASOS RAROS. Capela T 1, Costa M 1, Silva MJ 1, Vigia E 2, Esteves J 1, David Marques A 1, Paulino J 2, Barroso E 2 Introdução e objectivo: Os tumores neuroendocrinos (NET) gastrointestinais (gNET) e pancreáticos (pNET) são neoplasias raras, com potencial de malignização e clínica variáveis. A ampola de Vater (AV), pela sua localização anatómica pode ser infiltrada por neuroendocrinos de diferentes origens, existindo apenas relatos ocasionais na literatura. Pretende-se assim caracterizar os neuroendocrinos do confluente duodeno-bilio-pancreático (NET-AV) observados no nosso centro e submetidos a cirurgia. Métodos: Análise retrospectiva dos NET-AV através da avaliação histológica de peça operatória entre 2009 e 2013 no nosso centro. Resultados: Observados 5 doentes com NET –AV (3 do sexo feminino, idade média 69,2 +/- 11,6 anos). A dor abdominal (100%), a anorexia (80%), a anemia e a icterícia (60%) foram os sintomas mais comuns. Ecograficamente 4 pacientes tinham via biliar principal dilatada (média de 10,8mm) e realizaram CPRE pré operatório. Apenas em um doente se obteve diagnóstico de NET por biópsias (1 com diagnóstico de carcinoma pouco diferenciado, 2 com alterações inflamatórias inespecíficas). O tempo médio até à cirurgia desde o início da clínica foi de 65,8 dias. Todos foram submetidos a duodenopancreatectomia cefálica. O tamanho médio do tumor na peça foi de 2,3cm (0,5-4). Da avaliação histológica e imunohistoquimica obtiveram-se 2 pNET, 3 gNET. Dois NET de alto grau (G3), e 3 de baixo grau (G1). Dois produtores (somatostatinomas). Dois doentes com doença em estadio IV, 1 em estadio IIIb, e 2 em estadio IIb. O follow up médio é actualmente de 372 dias (31-732). Registou-se um óbito de causa não relacionada, 3 doentes encontram-se em remissão (1 deles acompanhado sob quimioterapia), e 1 com recidiva tumoral em fase de paliação. Conclusão: Os NET-AV são particularmente raros, e com variabilidade assinalável. O diagnóstico pré-operatório é difícil e a terapêutica cirúrgica aparenta ser eficaz dependendo do grau de malignidade do NET. 1- Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António dos Capuchos- CHLC, EPE; 2- Centro de HepatoBilio-Pancreático e Transplantação, Hospital de Curry Cabral- CHLC, EPE 125 P32 SIMPLIFICANDO O SIGNIFICADO DO ESPESSAMENTO DO INTESTINO DELGADO Campos S., Branquinho D., Oliveira A., Figueiredo P., Sofia C. Introdução: O espessamento da parede do intestino delgado (EID) é um achado imagiológico frequente. Na sua presença, somos frequentemente confrontados com uma longa lista de diagnósticos diferenciais e com a clássica recomendação da “correlação clinico-laboratorial”. O objetivo do presente estudo foi identificar a frequência das várias etiologias para EID, por forma a minimizar a lacuna da literatura radiológica e proporcionar uma melhor estratégia terapêutica a estes doentes. Metodologia: Estudo retrospetivo, incluindo todos os doentes internados para esclarecimento de EID, no período de tempo compreendido entre Janeiro 2010 - Julho 2013. Avaliação de dados epidemiológicos, clínicos, imagiológicos, endoscópicos, histológicos, microbiológicos e diagnóstico final. Resultados: Foram incluídos 119 doentes com EID identificado em ecografia e/ou TC abdominal realizados em contexto de urgência: 63,9% sexo feminino; idade média 46,7 anos (15-85 anos); 87,4% com dor abdominal. Localização mais frequente de EID: íleon em 58,8%. Exames complementares de diagnóstico: colonoscopia total com/sem ileoscopia terminal em 54,6%; enteroscopia em 4 casos; coproculturas em 29,9% dos doentes. Etiologias: 24,3% infecciosa; 20,8% inflamatória primária (1 doença Behçet; restantes – doença Crohn); 5,8% isquémica; 5,8% inflamatória reativa (apendicite aguda); 5,8% neoplásica; 5,0% iatrogénica (5 rádicas; 1 angioedema por IECAs); 1,6% obstrução intestinal (hérnia). Em 31,0% dos casos não foi possível chegar a um diagnóstico final. Noventa e seis doentes realizaram reavaliação imagiológica com enteroTC, 41,6% dos quais já não apresentava quaisquer alterações no controlo. Nos restantes doentes, os achados na enteroTC foram concordantes com os sugeridos à admissão. Conclusão: O EID é uma característica relativamente inespecífica associada a um amplo espectro de condições clínicas, a maioria das quais agudas. A etiologia mais frequente para EID é a infeciosa. Os achados da enteroTC foram concordantes com os da admissão. A informação epidemiológica deste estudo poderá ser utilizada como ferramenta adicional na abordagem do EID e estreitar o seu diagnóstico diferencial. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 126 P33 CONCORDÂNCIA ENTRE ENTEROSCOPIA, CÁPSULA ENDOSCÓPICA E MÉTODOS DE IMAGEM SECCIONAL NO DIAGNÓSTICO DE PATOLOGIA DO INTESTINO DELGADO Marques M, , Santos-Antunes J, , Cardoso H, , Vilas-Boas F, , Ribeiro A, , Velosa M, , Albuquerque A, , Rodrigues S, , Macedo G. Introdução e objectivos:A enteroscopia por cápsula (EC), a enteroscopia assistida por balão (EB) e os métodos de imagem seccional (tomografia computorizada (TC) e ressonância magnética (RMN)) são os procedimentos preferenciais para o estudo do intestino delgado. O objectivo deste estudo foi avaliar a concordânica entre estes três métodos diagnósticos Métodos: Estudo retrospectivo com avaliação do grau de concordância diagnóstica entre a CE, a EB e os métodos seccionais (RMN e TC) realizados entre Janeiro de 2011 e Janeiro 2014. A concordância foi determinada pelo teste estatístico Kappa. Resultados: Foram realizadas 153 enteroscopias de balão (94 por via anterógrada) em 138 doentes (61 mulheres, idade média 52±18 anos). Foram realizadas biopsias endoscópicas em 57 exames (41%) e procedimentos terapêuticos em 28 exames (20%). Como complicação apenas se verificou um episódio de dessaturação durante o procedimento (0.7%). Do total de doentes, 85 tinham realizado recentemente cápsula endoscópica (64%) e 40 outros métodos de imagem (30 TC; 10 RM). As EC e a EB foram totais em 84% e 4% dos casos, respectivamente. Globalmente, os achados diagnósticos da EB foram concordantes com a CE em 61% dos casos (Kappa=0,52 - moderada). A concordância diagnóstica entre os métodos seccionais e a EB foi razoável (Kappa=0,39). Conclusão: A EB revelou-se uma técnica segura e eficaz no tratamento de patologia do intestino delgado. A EB e a EC tiveram concordância moderada na nossa série. A concordância com a TC e a RMN foi razoável. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 127 P34 ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA NA HEMORRAGIA DIGESTIVA OBSCURA MANIFESTA – A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Andrade P., Marques M., Cardoso H., Silva M., Ribeiro A., Macedo G. Introdução: A enteroscopia por cápsula (EC) veio revolucionar a investigação dos doentes com hemorragia digestiva obscura (HDO) permitindo interferir na abordagem e prognóstico dos doentes. A identificação dos fatores associados com achados positivos na EC poderá ser útil para otimizar a seleção de doentes com HDO com indicação para realizar este exame. Objetivo: Determinar a acuidade diagnóstica e o impacto da EC nos doentes com HDO-manifesta (HDO-M) e os possíveis fatores associados com achados positivos. Métodos: Estudo retrospetivo de EC realizadas por HDO entre outubro/2008 e outubro/2013. Foram colhidos dados demográficos, clínicos, laboratoriais e endoscópicos. A HDO-manifesta foi categorizada em passada ou ativa. Impacto positivo da EC na abordagem do doente definiu-se como qualquer investigação ou tratamento para além de suplementação com ferro ou transfusão. Resultados: Foram incluídos 75 doentes, 56% homens, com idade média de 59±21 anos. Identificaram-se achados positivos em 39 (52%) dos doentes (angiodisplasias 56%; úlceras/erosões 26%; tumores 5%; varizes 5%; sangue fresco 8%). Os resultados da EC tiveram um impacto positivo em 24 (61,5%) dos doentes com achados positivos. Dos fatores analisados a presença de HDO-M ativa (p<0,001), a realização do exame até 1 semana após início da hemorragia (p=0,007) e a necessidade de transfusão previamente à realização de EC (p=0,023) associaram-se significativamente a EC com achados positivos. Conclusões: A EC teve 52% de acuidade diagnóstica na HDO-manifesta e interferiu na abordagem/terapêutica de 61,5% dos doentes com achados positivos. A HDO-M ativa, realização de EC 1 semana após início da hemorragia e necessidade de transfusão associaram-se a maior detecção de achados positivos na EC, o que demonstra a importância de realização precoce de EC nestes casos. Serviço de Gastrenterologia Centro Hospitalar S.João, Porto 128 P35 A UTILIDADE DA ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA NA DETECÇÃO E ORIENTAÇÃO DE LESÕES POLIPÓIDES DO INTESTINO DELGADO Santos-Antunes J, , Cardoso H, , Marques M, , Macedo G Introdução: A Enteroscopia por Cápsula (VCE) é um método que pode ser útil na detecção de lesões polipóides ou tumorais. Métodos: Das VCE efectuadas desde Janeiro de 2011 e Fevereiro de 2014, foram analisadas aquelas cuja leitura demonstrou a existência de lesões polipóides. Resultados: Das 542 VCE, foram detectadas lesões polipóides em 47 (9%). Os doentes eram do género masculino em 55% dos casos, com idade média de 56±19 anos. Apenas em 2 exames a cápsula não atingiu o cego. Os principais motivos para a realização do exame foram anemia (40%), controlo de doentes com polipose adenomatosa familiar (17%), Crohn (9%) e hemorragia digestiva de origem obscura (4%). Cinquenta e um por cento das lesões encontradas foram pólipos, seguidos de lesões subepiteliais (28%), neoplasias (11%), angiomas em 6% e xantomas nos restantes 4%. A maior parte das lesões encontravam-se no jejuno proximal (34%) e íleo distal (21%). Em cerca de metade dos casos foi efectuada enteroscopia com balão, tendo sido encontrada a lesão descrita na VCE em 49% dos casos; esta percentagem subiu para 60% quando foram descritas lesões maiores que 10mm. Analisando as neoplasias diagnosticadas em VCE, todas foram biopsiadas por exame endoscópico; foi diagnosticado 1 linfoma não-Hodgkin, 1 linfoma de MALT duodenal, 1 ampuloma, 1 metástase de carcinoma de células renais e 1 verificou-se ser um falso positivo (hiperplasia nodular linfóide). Das lesões descritas como pólipos, 13 em 24 foram submetidas a enteroscopia, tendo sido detectadas 7. Das 10 lesões com menos de 10mm, apenas foram detectadas 2 em enteroscopia, enquanto se encontraram 90% dos pólipos com 10mm ou mais (p=0,005). Conclusão: A VCE é útil para a localização de pólipos do intestino delgado. No entanto, a rentabilidade da enteroscopia de balão em pólipos com menos de 10mm detectados por VCE é baixa. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 129 P36 QUE SEGURANÇA A LONGO PRAZO NOS OFERECE UMA ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA NEGATIVA, EM DOENTES COM HEMORRAGIA DIGESTIVA OBSCURA? Ribeiro I., Pinho R., Rodrigues A., Pinto Pais T., Fernandes C., Silva J., Ponte A., Leite S., Carvalho J. Introdução: Embora a Enteroscopia por Capsula (EC) seja o exame de eleição para a investigação da hemorragia digestiva obscura (HDO), as implicações clínicas de uma capsula negativa continuam a ser contraditórias, sendo os resultados variáveis de acordo com os estudos. Objetivos: comparar a recidiva hemorrágica das EC negativas (grupo 1- G1) com EC positivas (grupo 2-G2); avaliar fatores associados com a recidiva após realização de EC. Material e métodos: Estudo retrospetivo de 173 doentes que realizaram EC por HDO, entre 2005-2013; excluídos doentes com tempo de seguimento <6 meses. EC sem lesões ou com lesões P0(petéquias; congestão) ou P1(erosões isoladas; angiectasias diminutas) consideradas negativas. Recidiva hemorrágica definida como diminuição de hemoglobina> 2g/dl, evidência de melenas/hematoquezias ou necessidade transfusional 30 dias depois do episódio hemorrágico inicial. Avaliadas as características demográficas, tipo de HDO(oculta vs manifesta), medicação, percentagem de recidiva do G1 e G2, tipo de tratamento (endoscópico/cirúrgico) realizado nas EC positivas e influência na recidiva. Testes estatísticos: t-student;χ2 Resultados: 60%-sexo feminino; idade média-61,7 anos; principal motivo do exame: hemorragia digestiva oculta(67,1%); EC negativas-54,3%; tempo médio de seguimento-27 meses(+/-23,4); recidiva hemorrágica global-22,5%. A recidiva hemorrágica do G1 foi significativamente mais baixa que a recidiva do G2(16% vs 30,4%; p=0,024). Os doentes que recidivaram necessitaram de maior número de transfusões de glóbulos rubros(média=6,0) prévias à EC, quando comparados com aqueles que não recidivaram (média=1,2; p<0,001). A idade, sexo, toma de anticoagulantes ou anti-agregantes não influenciaram a recidiva. Cerca de 50% dos doentes do G2 realizaram tratamento endoscópico(56,4% - APC) ou foram submetidos a tratamento cirúrgico(28,2%), apresentando recidiva significativamente mais baixa que os doentes que não realizaram qualquer tratamento(23,1% vs 37,5%, p<0,02). Conclusões: Os doentes com capsulas negativas na HDO apresentaram baixa recidiva hemorrágica a longo prazo, o que poderá ser razoável uma atitude expectante nestes doentes. O tratamento endoscópico/cirúrgico diminui a recidiva nas capsulas positivas. Centro Hospitalar Vila Nova Gaia - Espinho 130 P37 PROBABILIDADE DE RE-SANGRAMENTO APÓS ESTUDO NEGATIVO EM ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA Magalhães-Costa P., Herculano R., Bispo M., Santos S., Couto G., Barreiro P., Matos L., Chagas C. Introdução e objectivos: Segundo a mais recente literatura, após um estudo negativo, a probabilidade de novo evento hemorrágico é baixa. Procuramos caracterizar a população de doentes referenciados por HDO cujo estudo por EVC foi negativo e identificar factores de risco associados a re-sangramento. Métodos: Retrospectivamente foram seleccionados doentes referenciados por HDO com estudo negativo. Foram colhidos dados demográficos, indicação para exame, medicação, comorbilidades, causa de resangramento e tratamento consequente. O estudo de factores de risco para re-sangramento foi realizada através de análise univariada e multivariada. Sumário dos resultados: 113 casos/doentes (18%), a maioria do género feminino e idade > 65 anos. Tempo médio de seguimento: 48±22 meses. A maioria dos casos apresentou-se sob a forma de HDO obscura (70%) e cerca de metade (46%) estavam medicados com fármacos pró-hemorrágicos. Verificou-se evidência de re-sangramento em 39 casos (34.5%). O tempo médio até à sua ocorrência foi de 12 meses. Em metade destes casos não foi encontrada a causa de hemorragia. Nos restantes casos, a lesão mais vezes encontrada foi a angiodisplasia (31%; n=12). Factores de risco independentes para re-sangramento (análise univariada): presença de estenose aórtica e toma de anticoagulantes. Análise multivariada: nenhum dos factores identificados previamente se revelaram com capacidade de predizer futuros eventos hemorrágicos. Em cerca de 1/3 dos casos de re-sangramento foi possível um tratamento intervencional dirigido (cirurgia/hemostase endoscópica), 13% recebeu tratamento conservador dirigido (suspensão de medicação pró-hemorrágica/toma de IBP) e 8% recebeu tratamento conservador inespecífico (ferroterapia, transfusões sanguíneas ou “whatchful waiting”). No final do período de seguimento, 9% (n=10) continuam a ser investigados. Conclusões: Em conclusão, a probabilidade de re-sangramento, em doentes referenciados por HDO cuja EVC inicial foi negativa, parece ser elevada (34.5%). Neste subgrupo de doentes não existem claros factores de risco para re-sangramento e parece prudente oferecer um período de seguimento mínimo de 2 anos. Serviço de Gastrenterologia, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar Lisboa Ocidental 131 P38 SUSPECTED BLOOD INDICATOR NA ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA: UMA FERRAMENTA ÚTIL NO DIAGNÓSTICO DE HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL Boal Carvalho P (1), Magalhães J (1), Dias de Castro F (1), Monteiro S (1), Rosa B (1), Moreira MJ (1), Cotter J (1,2,3) Introdução e objectivos A hemorragia digestiva de causa obscura (HDCO) é uma das principais indicações para a realização da enteroscopia por cápsula (EC). A leitura e interpretação dos resultados da EC é demorada, podendo retardar o diagnóstico. Com a ferramenta "Suspected blood indicator" (SBI), incluida no software da EC, pretende-se a detecção precoce de lesões hemorrágicas e potencialmente hemorrágicas de forma célere. O objectivo do estudo foi o de avaliar a utilidade do SBI nos doentes submetidos a EC por HDCO. Material Estudo unicêntrico retrospectivo incluindo 281 doentes submetidos consecutivamente a EC por HDCO durante 7 anos. Os investigadores registaram a presença de hemorragia ou lesões com elevado potencial hemorrágico na EC (úlceras, angiectasias, neoplasias). Todos os exames foram revistos independentemente por outro investigador utilizando o SBI. Resultados Dos 281 doentes, identificaram-se lesões com elevado potencial hemorrágico em 81 (28,8%) e hemorragia activa em 29 (10,3%). O SBI apresentou uma sensibilidade de 96,6% (28/29) para hemorragia activa do intestino delgado, com um valor preditivo negativo de 99,6%. Foi possivel identificar a origem da hemorragia em cerca de um terço desses doentes (10/28). O SBI apresentou uma sensibilidade para lesões potencialmente hemorrágicas de 38,3% (38,5% para angiectasias, 20,0% para úlceras e 100% para neoplasias ulceradas). Conclusões A observação da enteroscopia por cápsula com recurso ao SBI permitiu uma detecção muito eficaz de hemorragia, validando a grande utilidade do SBI como ferramenta de diagnóstico rápido e com uma elevada sensibilidade em doentes com hemorragia gastrointestinal ativa, principalmente em contexto urgente. (1) - Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães, Portugal (2) - Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal (3) – Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 132 P39 ESTUDO COMPARATIVO DO TEMPO DE TRÂNSITO DE INTESTINO DELGADO ENTRE AS VIDEOCÁPSULAS MIROCAM E GIVEN Ribeiro I., Pinho R., Rodrigues A., Pinto Pais T., Fernandes C., Silva J., Ponte A., Leite S., Carvalho J. , Introdução: Estudos sugerem que a videocapsula MiroCam® apresenta um tempo de trânsito de intestino delgado superior à videocapsula Given®, o que poderá resultar em maior deteção de lesões positivas. Objetivos: Comparar o tempo de trânsito de intestino delgado (TTID), deteção de lesões positivas e percentagem de exame completos entre as videocapsulas Mirocam® e Given® (SB1 e SB2) Métodos: Análise retrospetiva de 429 doentes que realizaram enteroscopia por cápsula (EC) entre 20052013. Lesões consideradas positivas de acordo com a indicação do exame: hemorragia digestiva obscura (HDO)- as erosões múltiplas/úlceras, malformações vasculares tumor/massa e sangue; suspeita/avaliação de extensão de doença de Crohn (DC)-erosões/ulceras e sangue; dor abdominal-tumor/massa, erosões/úlceras e sangue. Testes estatísticos: t-student; qui-quadrado. Resultados: Idade média-54,2 anos; sexo feminino-59,2%. Capsula MiroCam®- 48,7% e Given®-51,3%. Indicações para realização de EC: HGIO-62,5%, suspeita/avaliação de extensão de DC-21,2%, polipose5,1%, dor abdominal-4,4% e outros-6,8%. A média de tempo de trânsito gástrico (TTG) nas capsulas MiroCam® e Given® foi idêntico - 38min e 41 min, respetivamente (p=0,52). A capsula MiroCam® apresentou uma média de TTID superior á capsula Given® - 5h17min e 4h45min, respetivamente (p=0,004). Não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre as duas capsulas no que diz respeito à média de idades (MiroCam®-média 54,9 anos; Given®-53,6 anos; p=0,46), sexo (Mirocam®-sexo feminino 57%; Given®- sexo feminino 61,3%; p=0,35), percentagem de doentes diabéticos (MiroCam®10,1%; Given®-14,5%; p=0,2), percentagem de exames completos (MiroCam®-90%; Given®-89%; p=0,63) e diagnóstico de lesões positivas (MiroCam®-38,2%; Given®-39,5%; p=0,78). Também não se encontraram diferenças entre as indicações para a realização de EC (p=0,051). Conclusões: O estudo sugere-se que o TTID da cápsula MiroCam® é superior à cápsula Given® não condicionando a percentagem de exames completos ou achados positivos. Centro Hospitalar Vila Nova Gaia- Espinho 133 P40 ENTEROSCOPIA POR CÁPSULA: A EXPERIÊNCIA DOS ÚLTIMOS 5 ANOS DE UM SERVIÇO DE GASTRENTEROLOGIA Vaz A.M;, Eusébio M; , Antunes A; , Queirós P; , Velasco F; , Ornelas R; , Guerreiro H. O estudo endoscópico do intestino delgado teve um avanço significativo na última década, vindo a enteroscopia por cápsula a ser cada vez mais utilizada dada a sua comodidade e capacidade diagnóstica. Objectivos: Rever as indicações e rentabilidade diagnóstica da enteroscopia por cápsula no nosso serviço, nos últimos 5 anos. Material/métodos: Recolha retrospectiva dos dados epidemiológicos, indicação principal para exame, resultados e complicações dos doentes submetidos a enteroscopia por cápsula entre 2009 e 2013. Resultados: Foram realizados 208 exames em 196 doentes, sendo 54% do sexo masculino, com uma média de idades de 61±17 anos, a maioria(69%) requisitada por médicos do serviço. As principais indicações para o exame foram hemorragia digestiva obscura oculta(64%) ou manifesta(18%), Doença de Crohn suspeita(6%) ou confirmada (1%), ou outros sintomas como Diarreia(5%) e Dor Abdominal(2%). O registo foi conseguido até ao cólon em 89% dos exames. Na hemorragia digestiva obscura (oculta e manifesta), verificaram-se achados positivos no delgado em 58% dos exames. As angiectasias foram as lesões mais frequentes,45% e 53%, seguidas de úlceras,10% e 11%, erosões,14% e 6%, e pólipos, 14% e 6%, respectivamente na hemorragia oculta e manifesta. Em aproximadamente 13% dos exames encontraram-se lesões potencialmente significativas para o quadro clínico situadas no esófago, estômago, duodeno ou cólon. Na Doença de Crohn,53% dos exames tinham achados patológicos: erosões, edema, eritema ou nodularidade da mucosa (62%) seguidos de aftas e úlceras (n>3), com uma frequência de 19% cada. Não foi documentada nenhuma retenção de cápsula com necessidade de cirurgia. Conclusão: Na nossa experiência, similarmente ao descrito na literatura, a enteroscopia por cápsula constitui um método seguro e com boa rentabilidade diagnóstica. Os nossos resultados na hemorragia digestiva são semelhantes aos descritos por outros autores, nomeadamente em relação à etiologia, registando-se um número significativo de achados ao alcance da endoscopia convencional não objectivados nos respectivos exames. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, Centro Hospitalar do Algarve 134 P41 TERAPÊUTICA FOTODINÂMICA EM CÁPSULAS ENDOSCÓPICAS J. A. Rodrigues, M. J. Oliveira, A. R. Fernandes, M. F. Silva, L. M. Goncalves, B. Rosa*, J. Cotter* e J. H. Correia A cápsula endoscópica (CE) é um dispositivo médico para visualização e diagnóstico do trato gastrointestinal. As imagens adquiridas pela CE permitem realizar o diagnóstico de uma região de tecido lesionado, no entanto não é possível o tratamento in loco dessa região, uma vez que a CE não tem capacidade terapêutica. A integração da terapêutica fotodinâmica (TFD) em CEs é um avanço importante para a nova geração de CEs com terapia. A TFD é um procedimento terapêutico que exerce uma atividade citotóxica seletiva sobre as células lesionadas. Para a realização deste tratamento é necessária a administração de um fármaco fotossensível e a posterior exposição do tecido lesionado à luz com um determinado comprimento de onda. Esta terapia tem sido aplicada a uma variedade de tecidos que são acessíveis à exposição da luz, nomeadamente a pele. Dos fármacos fotossensíveis utilizados na TFD, o Foscan® é o que apresenta vantagens mais atrativas para a realização da TFD utilizando uma fonte de luz presente na CE: dose de luz entre 10-20 J/cm2, reduzindo a duração do tratamento para aproximadamente 3 min; dose de fármaco reduzida (0.1-0.15 mg/kg) e comprimento de onda da luz absorvida (652 nm), permitindo uma penetração mais profunda nos tecidos. Neste trabalho apresentamos a integração da TFD na CE com uma fonte de luz TFD e um sistema de controlo. Uma matriz de mini-LEDs é responsável por fornecer a potência de luz por unidade de área (100 mW/cm2) necessária, em 652 nm, para realizar a TFD. O sistema de controlo é responsável por controlar a dosagem da fonte de luz que estará ligada apenas na presença do campo magnético exterior responsável pelo controlo da locomoção da cápsula endoscópica. Mais, 2 métodos para desligar a TFD são implementados na CE por questões de segurança. Projeto ADI/33914/PhotonicPill suportado pela ADI. Universidade do Minho, Dept. Electrónica Industrial, Campus Azurém, 4800-058 Guimarães – Portugal *Serviço Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães 135 P42 HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA NO SERVIÇO DE URGÊNCIA - HÁ LUGAR PARA A COLONOSCOPIA SEM PREPARAÇÃO EM DOENTES IDOSOS? Alves A.R.(1), Giestas S.(1), Cardoso R.(1), Lopes S.(1), Figueiredo P.(1), Portela F.(1), Sofia C.(1) Introdução: Na hemorragia digestiva baixa (HDB) na urgência, a realização de preparação anterógrada para colonoscopia é fortemente influenciada por fatores logísticos, tolerância do doente e reações adversas, principalmente nos idosos. É frequente o recurso a colonoscopia sem preparação (SP) ou com enema de limpeza (EL). Objetivo: Comparar a acuidade diagnóstica entre colonoscopia SP e com EL na HDB nos idosos. Doentes e métodos: Estudo retrospetivo de doentes com mais de 70 anos, com suspeita de HDB aguda, submetidos a colonoscopia após dois tipos de preparação, SP ou EL (consoante escolha do Gastrenterologista), por um período de 6 meses. Excluídos casos com doença inflamatória ou polipectomia recente. Comparados dados demográficos, clínicos, nível do cólon atingido e diagnósticos. Resultados: Estudados 74 doentes (idade média 81,6±6,6 anos, 54,4% homens). Terapêutica crónica: anti-agregação 50,0%, anti-coagulação 10,8% e anti-inflamatórios 4,1%. Hemoglobina média na admissão de 11,1±2,9g/dl e necessidade transfusional em 24,3%. Colonoscopia SP em 70,3% e após EL em 29,7%. Nível atingido: cego em 5,4%, cólon ascendente em 2,7%, transverso em 12,2%, descendente em 23,0%, sigmóide em 52,7% e reto em 4,1%. Principais diagnósticos: colite isquémica em 29,7%, divertículos em 20,3%, hemorróidas em 10,8% e neoplasia em 6,8%. Sem diferenças estatisticamente significativas no nível atingido nem nos diagnósticos estabelecidos entre as duas preparações (p>0,05). Globalmente, considerando os diagnósticos assumidos como definitivos, a acuidade diagnóstica da colonoscopia sem preparação anterógrada (EL e SP) foi de 56,8%. A necessidade de transfusão na admissão foi um fator de risco independente para ausência de diagnóstico, em ambas as preparações (OR 11,5;p<0,001). Conclusões: Comparando a colonoscopia com EL e SP, não houve diferenças no nível do cólon atingido nem nos diagnósticos estabelecidos. Globalmente, a colonoscopia sem preparação anterógrada apresentou acuidade diagnóstica razoável. Na HDB mais grave (com necessidade transfusional), deverá ser ponderada preparação anterógrada ab initio. 1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 136 P43 FATORES DE RISCO PARA HEMORRAGIA PÓS-POLIPECTOMIA TARDIA ? UM ESTUDO CASO-CONTROLO Cúrdia Gonçalves T., Magalhães J., Boal Carvalho P., Rosa B., Cotter J. Introdução/Objetivo: A colonoscopia com polipectomia é eficaz na diminuição da incidência e mortalidade do cancro do cólon. A hemorragia pós-polipectomia (HPP) é a complicação mais comum, podendo ocorrer vários dias após o procedimento. O objetivo deste estudo foi identificar características dos doentes, dos pólipos ou do método de resseção potencialmente associados a maior risco de HPP. Métodos: Estudo retrospetivo caso-controlo de doentes com HPP tardia entre Outubro/2008 e Setembro/2013. Casos (hematoquézias com início entre as 6 horas e os 30 dias após polipectomia, atribuíveis ao local da polipectomia) e controlos (polipectomias não complicadas) foram selecionados numa razão de 1:3. Foram estudados fatores relacionados com os doentes (idade, género, antiagregação, anticoagulação), com os pólipos (forma, tamanho, localização, histologia) e com o método de resseção (realização ou não de mucosectomia). Para a análise estatística usou-se o SPSSv20.0. Resultados: Dos 2996 doentes submetidos a colonoscopia com polipectomia, 31 apresentaram HPP tardia e 93 foram selecionados como controlos. O tempo médio entre a colonoscopia e a hemorragia foi 5,5±3,7 dias, e 21 doentes (67,7%) necessitaram de internamento com duração média de 4±2 dias. A idade dos doentes com HPP foi significativamente superior (69,0±8,1 vs. 63,8±11,5 anos; p=0.07), sem diferenças entre géneros. Antiagregação e anticoagulação foram mais comuns nos doentes com HPP (p=0.009 e p<0.001, respetivamente). O tamanho médio do maior pólipo removido foi superior nos casos do que nos controlos (17,0±12,6 vs. 9,1±8,3; p=0.002). Achados histológicos de adenoma ou adenocarcinoma foram mais frequentes nos casos (p<0.001). Não houve diferenças quanto à forma e localização dos pólipos. A mucosectomia foi mais frequente nos doentes com HPP (p=0.014). Conclusões: Em doentes mais idosos, antiagregados ou anticoagulados, e em pólipos maiores, especialmente quando removidos por mucosectomia, o risco de HPP revela-se significativamente maior. Nestas circunstâncias, a utilização de hemostase profilática intra-procedimento deverá ser considerada para diminuir o risco de HPP. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães 137 P44 É REALMENTE ÚTIL A COLONOSCOPIA URGENTE NA HEMORRAGIA PÓS-POLIPECTOMIA? Fernandes C., Pinho R., Leite S., Rodrigues A., Proença L., Alberto L., Freitas T., Silva AP., Fernandes S., Pais T., Ribeiro R., Silva J., Ponte A., Carvalho J. Introdução: a hemorragia pós-polipectomia cólica é uma complicação conhecida e onde provavelmente a colonoscopia urgente poderá ter particular utilidade terapêutica. Não são ainda conhecidos os fatores preditivos da necessidade de terapêutica hemostática na hemorragia pós-polipectomia. Objetivo: 1) avaliar a prevalência da necessidade de terapêutica hemostática na hemorragia pós-polipectomia cólica; 2) determinar fatores preditivos para terapêutica hemostática nestes casos; 3) avaliar impacto clínico da colonoscopia urgente. Materiais: estudo dos doentes submetidos a colonoscopia urgente (menos de 24h desde admissão hospitalar) por hemorragia pós-polipectomia cólica no período entre janeiro 2010 e fevereiro 2014. Dados demográficos, clínicos e endoscópicos obtidos pelo processo clínico. Terapêutica hemostática realizada se escara de polipectomia com hemorragia ativa, vaso visível ou coágulo aderente. Análise estatística SPSS v19: chi-quadrado; Mann-Whitney Resultados: 39 doentes (masculino 74,4%; idade média 68,1 anos), a que correspondem 44 colonoscopias por hemorragia pós-polipectomia cólica. Procedeu-se a terapêutica hemostática em escara pós-polipectomia em 75% (33/44) das colonoscopias. Um menor tempo entre a polipectomia e a hemorragia associou-se a maior probabilidade de terapêutica endoscópica (p= 0,008). A morfologia, localização e tamanho do pólipos, a técnica usada para a resseção endoscópica (pinça/ansa diatérmica/ansa ”a frio”/piecemeal), o tipo de preparação cólica (enemas/oral) e o timing da colonoscopia urgente após admissão não se associaram a maior probabilidade de terapêutica endoscópica (p>0,05). A não necessidade de terapêutica hemostática permitiu uma alta hospitalar precoce aos doentes (p=0,009). A realização ou não de terapêutica hemostática não se relacionou com recidiva hemorrágica (p>0,05). Conclusão: o estudo sugere que na hemorragia pós-polipectomia a colonoscopia urgente condiciona terapêutica hemostática na maioria dos doentes e permite uma alta hospitalar precoce aos doentes sem necessidade de terapêutica endoscópica. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 138 P45 PROJETO PILOTO DE SEDAÇÃO COM ADMINISTRAÇÃO DE PROPOFOL POR NÃO ANESTESISTA EM COLONOSCOPIA – AVALIAÇÃO DE SEGURANÇA NA FASE DE TREINO Ferreira AO, Torres J, Pinto R, Schuler V, Castanheira C, Neves M, Santos AA, Silva F, Cravo M Introdução: A administração de propofol por não anestesista (NAAP) é praticada em vários países europeus. Em Portugal não existem programas de treino certificado, não sendo prática habitual. Objetivo: Avaliar a segurança da NAAP durante uma fase de treino com supervisão por um anestesista. Métodos: Estudo prospetivo, em que um gastrenterologista experiente em emergência médica e um anestesista, efetuaram formação teórico-prática de 3 enfermeiros em NAAP. Cada enfermeiro realizou 30 procedimentos eletivos (colonoscopias/endoscopias) em doentes de baixo risco (ASA I-III) sob supervisão. Analisámos apenas as colonoscopias. Os eventos adversos (EA) e terapêuticas efetuadas foram registados de acordo com a World SIVA International Task Force on Sedation. Variáveis avaliadas: características da população, dose de propofol, satisfação do doente, tempo de recobro e parâmetros de qualidade em colonoscopia. Resultados: Realizadas colonoscopias em 56 doentes com idade média 58,56±15,43 anos; sexo masculino em 39,3%; peso médio 71,18±12,76 kg; ASA 1/2/3 (12,5%/78,6%/8,9%). Ocorreram EA minor em 17 casos (31,4%), sendo os mais frequentes a hipoxémia e hipotensão em 16,1%(n=9) e bradicárdia em 8,9%(n=5). Foi necessária pelo menos uma intervenção em 10 casos (atropina:1, permeabilização da via aérea;9, aumento do débito de oxigénio;6, estimulação táctil:3, e ajuste da fluidoterapia:1). Não houve eventos sentinela (paragem cardio-respiratória, choque, saturação periférica<75% e apneia>60s), nem necessidade de suporte ventilatório. A dose média de propofol foi 203(±90) mg. O tempo de recobro foi 57(±22) min. 80% dos doentes tiveram dor 0 (EVA 0-10), 91% apresentava amnésia para o procedimento, 97,7% recomendariam esta sedação a um familiar e todos estavam dispostos a repetir a colonoscopia. 78,6% ficaram totalmente satisfeitos e 21,4% muito satisfeitos. Conclusão: A NAAP, em colonoscopia, parece ser eficaz e segura em doentes de baixo risco. Verificou-se uma elevada incidência de EA minor, sem progressão para eventos críticos, salientando a importância da supervisão na fase inicial da formação. Hospital Beatriz Ângelo 139 P46 FACTORES PREDITIVOS DE MÁ PREPARAÇÃO INTESTINAL - ESTUDO PROSPECTIVO Leitão C., Santos A., Ribeiro H., Pinto J., Pereira B., Caldeira A., Tristan J., Sousa R., Pereira E., Banhudo A. Introdução e Objectivo: A má qualidade da preparação intestinal continua a ser um problema na prática clínica, interferindo não só com a capacidade de realização de exame completo como com a visualização adequada de toda a mucosa. Conhecer os factores que influenciam a qualidade da preparação intestinal, permite eleger o grupo alvo que necessite de maior apoio e ensino personalizado para optimização da limpeza intestinal. Métodos: Estudo prospectivo em doentes submetidos a colonoscopia, em regime de ambulatório, entre Maio a Dezembro de 2013. A eficácia da preparação intestinal foi classificada usando a Escala de Preparação Intestinal de Aronchick e dicotomizada em excelente e boa vs. razoável, má e inadequada. Aplicou-se um inquérito clínico-epidemiológico ao doente e um formulário acerca dos aspectos técnicos ao gastrenterologista. Resultados: Incluíram-se 196 doentes (51,2%sexo masculino; idade média de 64±13anos). Exame incompleto em 10 doentes, dos quais 4 por preparação intestinal inadequada. 44,2% dos doentes efectuaram kleanprep®, 29,3%citrafleet®, 23,8%moviprep® e 2,8%picoprep®. A preparação intestinal foi considerada difícil por 34,0% dos doentes (51,6% kleanprep®;p>0,05). 10,6% dos doentes consideraram ter recebido informação insuficiente acerca da preparação intestinal (45,0% moviprep®;p=0,04). 61,7% dos doentes apresentaram limpezas intestinais excelentes ou boas e 31,8% razoável, má ou inadequadas, não havendo diferenças na qualidade da limpeza intestinal consoante o tipo de preparação intestinal utilizada, a informação fornecida ou a tolerância referida. As variáveis género masculino(p<0,001), idade superior a 65 anos(p<0,014), elevado peso corporal(p<0,019) e a 1ª hora da manhã(p<0,034) associaram-se a preparação intestinal deficiente. Conclusão: Um terço dos doentes considerou a preparação intestinal difícil e não houve diferença estatística na qualidade da limpeza obtida com as diferentes preparações. A optimização da informação fornecida sobre a preparação intestinal pode estar indicada na população masculino e/ou idade superior a 65 anos e/ou elevado peso corporal. Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco 140 P47 CORRELAÇÃO ENTRE A LOCALIZAÇÃO INICIAL E DE RECORRÊNCIA DOS PÓLIPOS DO CÓLON E RETO Oliveira A., , Freire P., Campos S., Giestas S., Mendes S., Amaro P. Souto P., Portela F., Sofia C. Introdução: A vigilância pós-polipectomia por colonoscopia está indicada devido ao risco de lesões síncronas e recorrentes. Foram identificados vários fatores que auxiliam a estratificar a probabilidade de recorrência. No entanto, não há estudos que relacionem o local prévio de polipectomia com o segmento colo-retal de recorrência. Pretende-se verificar se o local de recorrência dos pólipos está relacionado com a localização dos pólipos excisados previamente. Material: Doentes submetidos a duas colonoscopias totais, intervalo mínimo de 1 ano e excisão completa dos pólipos detetados na primeira. Incluíram-se 346 doentes, dos quais excluíram-se 78 por não apresentarem pólipos na segunda colonoscopia. Dividiu-se o intestino: cego, ascendente, transverso, descendente, sigmoide e reto e avaliaram-se as características dos pólipos. Teste de Kolmogorov-Smirnov para determinar normalidade e Kappa para avaliar concordância, além do Chi-quadrado, t-Student ou Mann-Whitney. Resultados: Predomínio do sexo masculino-(64,9%), média etária: 64±10 anos. Número e tamanho dos pólipos na colonoscopia índice e de vigilância: 3±2vs2±1 pólipos e 11±9vs7±5mm, respetivamente. Intervalo médio entre as duas colonoscopias: 37±20 meses. Taxa de concordância geral da localização dos pólipos entre colonoscopias-44%. Probabilidade de recorrência nos vários segmentos: cego 50,0%[OR 6,4-62,4], ascendente 57,0%[OR 2,3-7,2], transverso 46,4%[OR 1,9-6,9], descendente 34,6%[OR 1,3-4,4], sigmoide 57,6%[OR 2,3-6,9], reto 40,4%[OR 1,6-5,1]–p<0,001. Não se encontrou diferença estatisticamente significativa entre as taxas de recidiva na mesma localização, tendo em consideração: forma (séssil-59,8%; pediculado-51,6%), tamanho (11mm), técnica de polipectomia (pinça-64,3%; ansa-54%; mucosectomia70,4%), histologia (displasia baixo grau-54,7%; displasia alto grau-41,7%; hiperplásicos-64,9%), resseção (completa-48,6%; fragmentada-58,3%). Também não se verificou diferença após estratificação em adenoma avançado-(50,5%), adenoma não avançado-(56,8%) e hiperplásico-(64,9%). Conclusão: Parece existir uma correlação significativa entre a localização inicial dos pólipos e o local de recorrência em colonoscopia de vigilância, o que pode ter implicações futuras em termos de execução técnica e acuidade do procedimento, nomeadamente alertando para um melhor escrutínio do segmento com polipectomia prévia. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 141 P48 RASTREIO DO CANCRO COLORRECTAL DE BASE POPULACIONAL REGIONAL Elvas L., Carvalho R., Areia M., Alves S., Brito D., Saraiva S., Cadime A.T. Introdução: O cancro colorretal (CCR) é o 3º mais comum em todo o mundo e constitui um importante problema de saúde pública em Portugal. O rastreio tem como objetivo reduzir a mortalidade através da deteção precoce das lesões malignas e pré-malignas. Objetivo: Avaliar os resultados de um programa de rastreio de base populacional com pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF) seguida de colonoscopia nos casos positivos. Materiais e métodos: Análise prospetiva dos dados do rastreio do CCR entre 2009 e 2013, numa população do centro de Portugal. Identificados os doentes submetidos a PSOF e o respetivo resultado e analisadas as colonoscopias efetuadas, os achados endoscópicos e anatomopatológicos. Resultados: Efetuadas 16 560 PSOF em utentes dos cuidados de saúde primários, das quais 851 (5,1%) foram positivas. Foram referenciados para a realização de colonoscopia 547 utentes (64% das PSOF positivas). Sexo masculino – 267 (49%); idade média – 61±6 anos. Foi atingido o cego em 505 (92%) exames. Foram identificados pólipos em 291 (53%) colonoscopias. Em 10 (1,8%) colonoscopias, identificaram-se adenocarcinomas: estadio I – 3; estadio II – 1; estadio III – 5; estadio IV – 1. Removeram-se endoscopicamente um total de 626 pólipos com tamanho mediano de 5 mm [2-80], sendo 262 (42%) no cólon direito. A taxa de deteção de adenomas foi de 45%, sendo 24% adenomas avançados (?10mm, túbulo-viloso ou viloso ou displasia de alto grau). Considerando apenas lesões acima de 5 mm, a taxa de deteção de adenomas foi de 23,6%. Conclusão: Este programa de rastreio de CCR por PSOF, seguido de colonoscopia nos casos positivos, permitiu a deteção de 10 adenocarcinomas e a remoção de uma elevada percentagem de lesões adenomatosas pré-malignas. Serviço de Gastrenterologia do IPOCFG, EPE; Administração Regional de Saúde do Centro 142 P49 PÓLIPO MALIGNO E RISCO DE OUTCOME ONCOLÓGICO ADVERSO Lage J. 1, Brandão C. 1, Menezes D. 2, Cunha A. 2, Dinis-Ribeiro M. 1, Moreira-Dias L. 1 Introdução: A abordagem de doentes com carcinoma colo-rectal (CCR) em pólipo permanece controversa. Objetivo: Avaliar outcomes oncológicos em doentes com pólipos malignos tratados por ressecção endoscópica ou cirúrgica. Métodos: Estudo retrospetivo em doentes com CCR T1 tratado endoscópica ou cirurgicamente entre janeiro de 2007 e novembro de 2013. Analisadas as proporções de doença residual (Res), recidiva (Rec), metastização ganglionar (N+) e à distância (M+) e mortalidade segundo variáveis clínicas e anátomo-patológicas. Foram excluídos os doentes com CCR síncrono, polipectomias endoscopicamente não completas, doença inflamatória intestinal, síndrome de Lynch e polipose adenomatosa familiar. Resultados: Incluídos 158 doentes, 63% homens, idade mediana de 65 anos. Oitenta e seis (54%) foram submetidos a cirurgia como tratamento primário (a razão mais frequente foi a ulceração) e 72 (46%) a polipectomia, dos quais 40 (56%) foram submetidos secundariamente a cirurgia. A frequência relativa de um outcome adverso (Res, Rec, N+, M+ ou morte por CCR) após polipectomia foi nula naqueles com nenhum critério de mau prognóstico; 8% naqueles com 1 ou 2 critérios e 50% naqueles com 3 ou mais critérios (p=0.005). Ocorreu uma morte por CCR, no grupo cirúrgico. Do grupo submetido a cirurgia secundariamente, 9 tinham doença residual na peça cirúrgica, todos eles previamente com invasão da submucosa >1mm ou margem de polipectomia envolvida ou não avaliável. De igual forma, naqueles com metastização ganglionar, a invasão da submucosa foi sempre > 1mm. As imagens de permeação linfovascular não parecem predizer N+ ou M+. O risco de um outcome adverso de carcinomas pouco diferenciados ou indiferenciados é de 50% (p=0.01). Conclusão: O tratamento endoscópico de um subgrupo de CCR em estadio T1 é seguro: não ocorrem outcomes oncológicos adversos após tratamento de pólipos malignos sem critérios de mau prognóstico. 1 - Serviço de Gastrenterologia, Instituto Português de Oncologia do Porto. 2 - Serviço de Anatomia Patológica, Instituto de Oncologia do Porto. 143 P50 ADESÃO À COLONOSCOPIA E OS SEUS FATORES ASSOCIADOS EM DOENTES COM SÍNDROMA DE LYNCH SEGUIDOS NA CONSULTA DE RISCO ONCOLÓGICO – ESTUDO PILOTO Sousa R., Souto D., Ramos L., Meira T., Nicola PJ., Freitas J. Introdução e objetivos: A Síndroma de Lynch (SL) é uma doença hereditária cujos indivíduos apresentam uma probabilidade de 82% de desenvolverem cancro colorectal (CCR) até aos 70 anos. A colonoscopia de vigilância está associada a uma redução na mortalidade por CCR, contudo a taxa de adesão à colonoscopia é subótima. Os autores propuseram a realização de um estudo nacional para avaliar a adesão à colonoscopia nos doentes com SL e os seus fatores associados. Os objetivos deste estudo são: verificar a exequibilidade do estudo, testar o método de recrutamento e a aplicação do questionário e obter dados preliminares para fundamentar o cálculo do tamanho amostral. Material: Estudo transversal numa coorte de indivíduos com diagnóstico de SL seguidos numa Consulta de Risco Oncológico. Os indivíduos foram identificados a partir da base de dados da consulta e estratificados por diagnóstico genético. Aos indivíduos selecionados foi enviada uma carta de convite à participação. Num posterior contacto telefónico, foi aplicado o questionário por médico da Consulta. Sumário dos resultados: Dos 90 indivíduos identificados com SL, foram incluídos 48. 22 eram inelegíveis, 16 incontactáveis e dos 52 participantes elegíveis e contactáveis, 4 recusaram participar atingindo-se uma taxa de participação de 92%. A elevada proporção de não contactáveis deveu-se, maioritariamente, ao facto do contacto telefónico não estar atualizado. Apenas uma questão do questionário suscitou dúvidas por parte dos participantes. Conclusões: Verificou-se uma elevada taxa de participação e o questionário foi bem compreendido. A aplicação do questionário pelo médico poderá ter contribuído para o reduzido número de recusas, contudo, pode levar a enviesamentos nas respostas. O questionário telefónico permite alcançar todos os doentes com SL, contudo, constituíu uma limitação, pois muitos contactos estavam desatualizados. A elevada proporção de inelegíveis ou não contactáveis não foi considerada no cálculo do tamanho da amostra inicial, pelo que este será recalculado. Serviço de Gastrenterologia, Hospital Garcia da Orta Instituto de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina de Lisboa 144 P51 VALOR DOS CRITÉRIOS DE BETHESDA PARA IDENTIFICAR NEOPLASIAS COLO-RETAIS DA VIA MUTADORA: ENTIDADE CLINICO-PATOLÓGICA DIFERENTE? Palmela C., Ferreira A. O., Cunha A., Oliveira H., Fonseca I., Cravo M. Introdução e objetivos: Os cancros colo-retais (CCR) que seguem a via mutadora por inativação dos genes reparadores do ADN (MLH1, PMS2, MSH2 e MSH6) parecem ter caraterísticas clinico-patológicas, prognósticas e de resposta à terapêutica diferentes. Está proposta a utilização dos critérios de Bethesda para identificação deste grupo de doentes. O objetivo do presente estudo foi testar os critérios de Bethesda na identificação destes doentes. Métodos: Estudo retrospetivo dos registos digitais de 339 casos de CCR diagnosticados num centro secundário entre janeiro/2012 e janeiro/2014. A imunoexpressão dos genes MLH1/PMS2 e MSH2/MSH6 foi avaliada em tissue microarrays no tecido normal e neoplásico. Considerámos 3 grupos: A) Doentes que cumprem os critérios de Bethesda revistos; B) Doentes que não cumprem critérios mas com fenótipo mutador (adenocarcinomas mucinosos ou infiltrado linfoplasmocitário); C) Restante população. Resultados: Grupo A: 58 casos (17%), 29 (50%) do sexo masculino; idade média 57 anos. Grupo B: 64 casos (19%), 28 (44%) do sexo masculino; idade média 73 anos. Grupo C: 217 casos (64%), 137 (63%) do sexo masculino; idade média 70 anos. Comparando os 3 grupos verificámos um predomínio do sexo masculino nos grupos A e C e do sexo feminino no B (p=0,011). Observámos um predomínio do cólon direito no grupo B e do cólon esquerdo no C (p=0,012). Não se observaram diferenças entre os 3 grupos em relação à diferenciação histológica e/ou estadio TNM. Até à data obtiveram-se resultados de imunohistoquímica de 7 casos do grupo A (2 com perda de expressão), 5 casos do grupo B (2 com perda de expressão) e 2 casos do grupo C (1 com perda de expressão), sem diferenças entre grupos dos genes envolvidos e/ou ausência de imunoexpressão em tecido normal. Conclusões: Os critérios de Bethesda revistos não parecem ser uma ferramenta útil na identificação dos CCRs da via mutadora. Hospital Beatriz Ângelo, Loures 145 P52 COLONOSCOPIA INCOMPLETA E COLONOGRAFIA - ACHADOS CONCORDANTES? Eusébio, M., Antunes, A.G., Vaz, A.M., Queirós P., Caldeira P., Inácio, C., Afonso, G., Guerreiro H. Introdução: A realização de uma colonoscopia completa é determinada por diversos fatores incluindo achados anatómicos/patológicos do doente bem como a proficiência do endoscopista. Nos casos de colonoscopia incompleta, a colonografia por tomografia computorizada (TC) tem sido descrita como uma técnica válida para avaliação do restante cólon. Objetivo: Comparar os motivos indicados pelos endoscopistas para colonoscopia incompleta com os achados na colonografia; avaliar os achados adicionais por este método. Métodos: Análise retrospetiva de colonografias por TC realizadas após colonoscopias incompletas nos últimos 2 anos no nosso Hospital. Resultados: Incluídos 95 doentes: 55% do sexo feminino, idade média de 69,54 anos, 15% com antecedente de cirurgia abdominal. Principais indicações para colonoscopia: alteração do trânsito intestinal (33%) e hematoquézia (22%). A introdução do colonoscópio foi limitada ao cólon esquerdo em 80% dos casos. Principais motivos de exame incompleto: neoplasia estenosante (36,8%), formação persistente de ansa (15,8%), angulação marcada (15,8%), estenose não neoplásica (10,5%) e intolerância do doente (10,5%). A colonografia permitiu avaliação completa do cólon em todos os casos e revelou 18,9% de achados cólicos adicionais sendo os mais comuns: divertículos (n=13), neoplasia (n=3) e pólipos (n=1). Além de estadiamento oncológico (37,9%), a colonografia identificou achados extracólicos em 29,5% dos casos(n=28). Com relevância clínica destacou-se uma neoplasia pancreática e uma hérnia diafragmática volumosa. Nos casos de perceção de estenose inultrapassável pelo endoscopista(n=46), a colonografia documentou: estenose do cólon(89%), espasticidade marcada da sigmóide(2%) e não revelou achados em 9%. Nos restantes casos(n=49), a colonografia revelou fatores condicionantes em 78%: dolicocólon(30%), espasticidade marcada da sigmoide(30%) diverticulose(15%) e hérnia da parede abdominal(7,5%). Conclusão: Na maioria dos casos, a perceção do endoscopista relacionou-se com achados anatómicos/patológicos identificados na colonografia, que surgem como fatores condicionantes do seu desempenho. A colonografia permitiu sempre a avaliação do restante cólon, no entanto, não revelou achados adicionais significativos na maioria dos casos. Serviço de Gastrenterologia, Serviço de Radiologia, Centro Hospitalar do Algarve - Hospital de Faro 146 P53 COLONOSCOPIA VIRTUAL COM POLIPECTOMIA - PROTOCOLO DIAGNÓSTICO-TERAPÊUTICO Salazar M., Nogueira A. Introdução: A Colonoscopia Virtual (CV) tem-se afirmado como método alternativo para o estudo de patologia orgânica do cólon. Ao tratar-se de um método de imagem, a deteção de pólipos ou lesões proliferativas implica a realização de Videocolonoscopia (VC) para polipectomia ou biópsia. A possibilidade de realização de dupla colonoscopia no mesmo dia permitiria anular o tempo de espera para confirmação diagnóstica e eventual atuação terapêutica, para além de eliminar a necessidade de nova preparação intestinal. Esta abordagem seria benéfica em termos de qualidade de cuidados prestados, pouparia recursos e reduziria o absentismo por motivos de saúde. Material e Métodos: Estabeleceu-se um protocolo de CV com leitura quase real time e encaminhamento num curto período de tempo para VC de todos os casos com sugestão de achados patológicos relevantes (lesões polipoides ?5mm e/ou lesões estenosantes), permitindo desta forma validar a CV com o método de referência para o estudo do cólon, a VC. Analisa-se a casuística de três anos (2/2011 a 2/2014) de implementação deste protocolo em regime de ambulatório, em meio hospitalar. Resultados: Analisaram-se 706 casos consecutivos de CV, quanto a indicação (rastreio39,23%), achados endoluminais, tolerância à realização de CV (boa tolerância em 99,1%) e da VC, caracterização morfo-funcional do cólon, achados extra-cólicos, correspondência com VC e complicações das técnicas (0%). Identificaram-se 73 casos (10,33%) com sugestão de lesão por CV. 86,3% realizaram VC no mesmo dia, 4 tiveram de protelar por anticoagulação e 6 não realizaram VC. Em 68,49% houve concordância entre os achados dos dois métodos. Não se identificaram por VC falsos negativos. Houve 17,8% de falsos positivos, a maioria associada a conteúdo intestinal (muco, fecalitos). Conclusão: A CV é bem tolerada com razoável acuidade diagnóstica (elevada sensibilidade, menor especificidade). A articulação entre Serviços de Imagiologia e Gastrenterologia permite esta abordagem segura e célere da patologia colorectal. Serviço de Gastrenterologia; Serviço de Imagiologia; Hospital das Forças Armadas; Polo Lisboa 147 P54 IMPLICAÇÃO DO STREPTOCOCCUS BOVIS NA CARCINOGÉNESE COLORETAL Gravito-Soares M.(1), Gravito-Soares E.(1), Lopes S.(1), Silva N.(2), Ribeiro G.(2), Sofia C.(1), (1)Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E., (2)Serviço de Patologia Clínica, Setor Microbiologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E. Introdução: A associação entre bacteriémia a Streptococcus bovis (BSB) e neoplasia coloretal (NCR) tem sido reportada de modo crescente, embora com implicação clínica não totalmente estabelecida. Objetivo: Determinar a prevalência, caraterização clínico-patológica, risco acrescido e relação temporal da NCR associada à BSB. Metodologia: Estudo retrospetivo caso-controle do total de doentes com BSB no registo microbiológico informatizado (casos), entre 2000-2013. Foram selecionados controlos assintomáticos/sintomatologia inespecífica, sem BSB ou história pessoal/familiar de NCR, submetidos a colonoscopia de rastreio, emparelhados por sexo e idade (±3 anos), numa proporção de 1:2. Resultados: Incluídos 57 doentes com BSB (idade média:72,3±13,8vs71,8±13,3anos;p=0,825; sexo masculino:66,7%vs66,7%;p=0,975). Aproximadamente 74%(42/57) dos Streptococcus bovis foram isolados nos últimos 6 anos do estudo(2008-2013). Todos os doentes efetuaram avaliação intestinal imagiológica e/ou endoscópica (ecografia/TAC abdominal:94,7%; colonoscopia:43,9%;clister opaco duplo contraste:1,8%). A prevalência da NCR foi significativamente superior nos casos (35(61,4%)vs4(3,5%);OR43,75;p<0,001): 27(47,4%) adenomas de baixo grau (vs4(3,5%);OR24,75,p<0,001), 1(1,8%) adenoma de alto grau (vs0(0,0%);p=0,156) e 7(12,3%) carcinomas invasivos (vs0(0,0%);OR1,14;p<0,001). Dos casos com adenomas, 70% apresentavam ?2adenomas e localização no cólon direito em 18,5%(vs0,0%;OR1,08;p=0,004). Quanto aos carcinomas invasivos, 71,4% apresentava dor abdominal e anemia microcítica/hipocrómica, 42,9% oclusão intestinal, 71,4% estadio histológico II e 57,1% localização no cólon sigmóide/reto. Um doente faleceu por sépsis no pós-operatório imediato, sem recidiva tumoral nos restantes casos. Quatro casos foram diagnosticados concomitantemente à BSB, 5 casos previamente (3,6±2,3anos) e 5 casos posteriormente (2,4±1,7anos). A prevalência de pólipos hiperplásicos foi significativamente superior nos controlos (3,5%vs29,8%;OR 0,086;p<0,001). Conclusão: A prevalência da BSB tem vindo a aumentar. A frequência de NCR foi significativamente superior nos doentes com BSB, sugerindo um papel major na carcinogénese coloretal e importante indicador de neoplasia oculta (diagnóstico de NCR em 60% casos com BSB prévia/concomitante). Assim, todos os doentes com BSB deverão ser submetidos a avaliação colonoscópica (mesmo na ausência de sintomatologia) e um follow-up mais apertado nos primeiros anos pós-BSB. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E. 148 P55 BACTERIÉMIA A STREPTOCOCCUS BOVIS E PATOLOGIA GASTROINTESTINAL: MUITO ALÉM DA NEOPLASIA COLORETAL Gravito-Soares M.(1), Gravito-Soares E.(1), Lopes S.(1), Silva N.(2), Ribeiro G.(2), Sofia C.(1), (1)Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E., (2)Serviço de Patologia Clínica, Setor Microbiologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E. Introdução: Além da relação consistente com neoplasia coloretal(NCR), estudos recentes têm mostrado associação entre bacteriémia a Streptococcus bovis (BSB) e múltiplas patologias gastrointestinais, com prevalência e grau de associação não totalmente esclarecidos. Objetivo: Avaliar a associação entre BSB e patologias gastrointestinais benignas e malignas, excetuando a NCR, bem como fatores predisponentes de BSB. Metodologia: Estudo retrospetivo caso-controle dos doentes com BSB no registo microbiológico informatizado(casos), entre 2000-2013. Foram selecionados controlos assintomáticos/sintomatologia inespecífica, sem BSB ou história pessoal/familiar de NCR, submetidos a colonoscopia de rastreio, emparelhados por sexo e idade (±3 anos), numa proporção de 1:2. Resultados: Incluídos 57 doentes com BSB (idade média:72,3±13,8vs71,8±13,3anos;p=0,825; predomínio masculino:F19:38MvsF38:76M;p=0,975). Cerca de metade dos casos apresentava ecocardiograma, esofagogastroduodenoscopia e colonoscopia, e 94,7% ecografia/TAC toraco-abdominal. Em 14 doentes(25,6%vs0,0%;OR1,33;p<0,001) foi diagnosticada endocardite, 28,6% prévia e 64,3% concomitante à BSB. Aproximadamente 77,0%(vs57,0%;p=0,010) dos casos apresentava patologias gastrointestinais benignas, sendo ?2 em 45,6%(vs35,1%;p=0,183). Destas, a colelitíase(38,6%vs8,8%;OR6,54;p<0,001), enfarte esplénico(3,5%vs0,0%;OR1,04;p=0,044), hemangioma hepático(7,0%vs0,0%;OR1,08;p=0,004), cirrose hepática(14,0%vs1,8%;OR13,39;p=0,001), varizes esofágicas(8,8%vs1,8%;OR5,39;p=0,029), colite isquémica(3,5%vs0,0%;OR1,04;p=0,044), doença associada ao Clostridium difficile(5,3%vs0,0%;OR1,05;p=0,013) e abcesso perianal(3,5%vs0,0%;OR1,04;p=0,044) foram as mais significativamente associadas à BSB. As neoplasias gastrointestinais (excetuando NCR) ocorreram em 8,8%(vs2,6%;p=0,172), sendo o adenocarcinoma pancreático e carcinoma hepatocelular, aqueles que obtiveram associação significativa(3,5%vs0,0%;OR1,04;p=0,044, em ambas). Após análise multivariada, os fatores significativos na predisposição à BSB foram hipertensão arterial(59,6%vs22,8%;OR4,61;p=0,004), alcoolismo(22,8%vs5,3%;OR10,10;p=0,004), doença cerebrovascular(15,8%vs4,4%;OR4,27;p=0,043), enfarte agudo do miocárdio(12,3%vs1,8%;OR7,25;p=0,042), endocardite(OR1,23;p=0,030), cirrose hepática(OR11,36;p=0,028), diálise renal(17,5%vs2,6%;OR12,99;p=0,038) e osteoartrose(12,3%vs3,5%;OR6,85;p=0,018). A taxa de mortalidade foi 45,6%, com apenas um caso em relação direta com endocardite por S.bovis. Conclusão: À semelhança da literatura, a BSB foi significativamente associada à endocardite e disfunção hepática, embora neste estudo outros fatores também pareçam estar implicados. A incidência aumentada de patologia gastrointestinal benigna/maligna sugere a necessidade de uma investigação diagnóstica mais abrangente na BSB, não se restringindo ao ecocardiograma e colonoscopia. A elevada mortalidade parece estar relacionada com a presença de múltiplas comorbilidades. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário Coimbra, E.P.E. 149 P56 ESTADIAMENTO MAIS PRECOCE DO CANCRO COLORRECTAL – EVOLUÇÃO 2009-2013 Ribeiro S., Martins C., Teixeira C., Trabulo D., Alves A.L., Gamito E., Freire R., Mangualde J., Cardoso C., Oliveira A.P., Cremers I. Introdução: O estadiamento do cancro colorrectal (CCR) reveste-se de importância fulcral, uma vez que o estadio da doença no momento do diagnóstico é um factor preditivo da sobrevida. Apesar de a mortalidade por esta patologia permanecer elevada, nos últimos anos registaram-se grandes progressos na abordagem desta neoplasia, com estadiamentos mais precoces, graças a programas de rastreio do CCR, nomeadamente, na nossa região, da pesquisa de sangue oculto nas fezes (PSOF). Objectivo: Comparar o estadiamento imagiológico e histológico dos casos de CCR nos anos de 2009 e de 2013. Métodos: Avaliação retrospectiva dos resultados anátomo-patológicos e dos processos clínicos de todos os casos de CCR diagnosticados nos anos de 2009 e de 2013, no nosso Hospital. Resultados: Dos 302 indivíduos incluídos, 59,6% eram do sexo masculino, com uma idade média de 71,4 anos. Em 2009, a maioria dos casos (54.9%) foram diagnosticados na sequência da investigação de hematoquézias e de quadros de oclusão intestinal. Nesse ano, 41,5% dos doentes apresentaram-se como estadio IV na altura do diagnóstico, de acordo com a classificação do American Joint Committe on Cancer (AJCC), representando o dobro do número de doentes com o mesmo estadio diagnosticados no ano de 2013. A PSOF foi responsável pela detecção de aproximadamente 24,6% de casos de CCR em 2013. Relativamente à presença de gânglios positivos e de invasão linfovascular dos doentes operados, a percentagem de doentes com positividade para estes parâmetros foi, respectivamente, de 41,1% e 46,1% em 2009 e de 36,1% e 39,8%, em 2013. Conclusão: No nosso estudo, verificou-se uma redução nos critérios de estadiamento quando comparámos os anos de 2009 e de 2013, resultado que se traduz num estadiamento mais precoce do CCR e num melhor prognóstico para o grupo de doentes de 2013. Este resultado pode ser, em parte, devido a utilização de PSOF num número crescente de doentes. Hospital São Bernardo - Setúbal 150 P57 DOENÇA DIVERTICULAR DO CÓLON PERFURADA: FATORES PRÉ-OPERATÓRIOS DE PROGNÓSTICO Gravito-Soares M.(1), Gravito-Soares E.(1), Lopes S.(1), Lérias C.(1), Castro e Sousa F.(2), Sofia C.(1), (1)Serviço Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E., (2)Serviço de Cirurgia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. Introdução: A perfuração na Doença diverticular cólica (DDC) é uma complicação major, potencialmente fatal. Apesar do avanço nas terapêuticas médico-cirúrgicas, a mortalidade mantém-se elevada (15-30%). Objetivo: Determinar os fatores pré-operatórios associados à mortalidade e scores de prognóstico na DDC complicada por perfuração. Material e métodos: Estudo retrospetivo caso-controle de 48 doentes com complicação perfuração, do total de 2429 doentes com DDC, entre 2006-2013. Foram subdivididos em 2 grupos: DDC perfurada fatal (casos:9doentes) e DDC perfurada não fatal (controlos:39doentes). Os scores de prognóstico avaliados foram APACHE II e MPI, determinados a nível pré-operatório. Resultados: A mortalidade associada à DDC perfurada foi 18,8%(9/48), diretamente atribuída a esta em 88,9%(8/9), por choque sético com falência multiorgânica. Os doentes com DDC perfurada fatal apresentaram maior tempo admissão-cirurgia (7,0±16,8vs1,3±2,2horas;p=0,045) e maior necessidade de ventilação mecânica (33,3%vs2,6%;p=0,017). Na análise univariada, a mortalidade associou-se de forma significativa a idade avançada(OR1,066;p=0,049), maior valor de ureia sérica na admissão(OR1,034;p=0,039), menor pH arterial na admissão(OR1,015;p=0,033), presença de foco sético extra-cólico(OR47,5;p<0,001), diabetes mellitus(OR6,88;p=0,020), HTA não controlada(OR19,00;p=0,017),maior score MPI (OR1,176;p=0,005) e maior score APACHE II(OR1,074;p=0,003). Após análise multivariada, a elevação da ureia sérica(OR1,043;p=0,048), diminuição do pH sérico(OR1,034;p=0,045) e presença de foco sético extra-cólico(OR7,934;p=0,003) na admissão, foram estatisticamente associados a maior mortalidade. Ambos os scores MPI e APACHE II apresentaram elevada sensibilidade(88,9%) e especificidade(71,8%) na predição da mortalidade associada a DDC perfurada, para um cut-off de 22,5 pontos no score MPI(AUROC 85,6%;p=0,001) e 10,5 pontos no score APACHEII(AUROC 85,9%;p=0,001). Conclusão: A perfuração na DDC foi associada a mortalidade significativa. Valores mais elevados de ureia sérica, menor pH sérico e presença de sépsis com origem extra-cólica parecem estar relacionados com pior prognóstico na DDC perfurada. Os scores MPI e APACHE II revelaram-se bons preditores de prognóstico. Scores MPI >22,5 e APACHE II >10,5 estiveram associados a uma taxa de mortalidade significativamente aumentada. Serviço Gastrenterologia, Hospitais da Universidade de Coimbra, E.P.E. 151 P58 CIRURGIA DO CANCRO COLORRECTAL – EVOLUÇÃO 2009-2013 NUM HOSPITAL DISTRITAL Ribeiro S., Martins C., Teixeira C., Trabulo D., Alves A.L., Gamito E., Freire R., Mangualde J., Cardoso C., Oliveira A.P., Cremers I. Introdução: O cancro colorrectal (CCR) continua a ser uma das principais causas de morte por cancro em todo o mundo. A detecção de suas fases precursoras ou estadios subclínicos permite um tratamento mais eficaz e com menor morbimortalidade. A cirurgia vídeo-laparoscópica é actualmente vista como uma boa alternativa à cirurgia clássica, com a vantagem da necessidade de menor tempo de internamento. Objectivo: Comparar as modalidades de terapêutica excisional do CCR nos anos de 2009 e de 2013, bem como o tempo de internamento pós-procedimento e a mortalidade no pósoperatório. Métodos: Estudo retrospectivo com base na avaliação dos resultados anátomo-patológicos e dos processos clínicos de todos os casos de CCR diagnosticados nos anos de 2009 e de 2013. Resultados: No total, foram incluídos 302 indivíduos, com uma idade média de 71,4 anos, sendo a maioria (59,6%) do sexo masculino, com uma idade média de 71,4 anos. Em 2009, 16.7% das cirurgias realizadas por CCR foram de carácter urgente, quase o dobro do número de cirurgias urgentes realizadas em 2013. A maioria dos casos de cirurgia urgente foi devida a um quadro de oclusão, sendo a perfuração com peritonite a segunda causa mais frequente. Em 2013, a percentagem de procedimentos menos invasivos (polipectomia, excisão transanal e procedimento vídeo-laparoscópico) foi de 38,2% versus 19,1% registados em 2009. A mortalidade no pós-operatório (<2 meses) foi 3,8 vezes menor em 2013 (p=0.03). O tempo médio de internamento pós-cirurgia em 2013 também foi menor relativamente a 2009, sem contudo ter atingido nível de significância estatística (p=0.74). Conclusão: Na nossa análise, houve uma mudança favorável no tratamento dos doentes com CCR entre os anos de 2009 e de 2013. Este resultado também resultou numa diminuição estatisticamente significativa da mortalidade no pós-operatório, do tempo de internamento e, possivelmente, numa redução dos custos inerentes. Hospital São Bernardo - Setúbal 152 P59 PERFURAÇÃO NA DOENÇA DIVERTICULAR DO CÓLON: PREDIÇÃO DO RISCO DE UMA COMPLICAÇÃO POTENCIALMENTE FATAL Gravito-Soares E.(1), Gravito-Soares M.(1), Lérias C.(1), Lopes S.(1), Castro e Sousa F.(2), Sofia C.(1), (1)Serviço Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E., (2)Serviço de Cirurgia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. Introdução: A prevalência da Doença diverticular do cólon(DDC) está a aumentar. Apesar da maioria dos doentes permanecer assintomático, 15% desenvolvem complicações, sendo a perfuração uma condição potencialmente fatal. Objetivo: Determinar a prevalência, caraterização e fatores de risco da perfuração intestinal, como complicação da DDC. Material e métodos: Estudo retrospetivo caso-controle do total de 2429 doentes com DDC, entre 20062013, subdivididos em 2 grupos: DDC complicada por perfuração (casos:48 doentes) e DDC sem perfuração (controlos:100 doentes selecionados aleatoriamente do total de doentes com DDC). Resultados: A perfuração ocorreu em 1,98%(48/2429) dos casos, com predomínio do sexo feminino(58,3%;28/48) e idade média 67,4±15,5anos. Na DDC perfurada, 93,5%(45/48) apresentavam DDC com atingimento da sigmóide (isoladamente em 68,8%;33/48), seguido do cólon direito(6,3%;3/48) e pancólica em 2,1%(1/48). Quanto à clínica, a maioria apresentou-se com abdómen agudo (70,8%;34/48). Em todos os casos verificou-se associação a um processo de diverticulite, com outras complicações em 95,8%(46/48;58,3%:HincheyIII, 16,7%:HincheyI,12,5%:HincheyIV, 8,3%:HincheyII). A radiografia e TAC abdominais foram os exames complementares mais efetuados, com sensibilidade diagnóstica 74,2% e 88,5%, respetivamente. Etiologicamente, predominaram os bacilos Gram negativos da microbiota intestinal (Bacteroides spp. e E.coli ESBL-negativa). A terapêutica foi mista em 91,7%(44/48): médica (sobretudo Carbapenemes e Metronidazol) e cirúrgica (maioritariamente cirurgia de Hartmann, com ostomia permanente em 57,6%[19/33]). Na análise univariada, obteve-se associação estatística da DDC perfurada com idade mais jovem(OR1,026;p=0,037), sexo masculino <65anos(OR4,95;p=0,004), localização diverticular direita(OR3,86;p=0,018), diverticulite(OR23,00;p<0,001), gravidade da diverticulite(OR4,46;p<0,001), tabagismo(OR7,00;p=0,008), alcoolismo (OR4,80;p=0,008), AINES(OR2,33;p=0,042) e corticoterapia(OR3,13;p=0,038). Após análise multivariada, apenas a corticoterapia(OR28,571;p=0,004), alcoolismo(OR10,101;p=0,041) e gravidade da diverticulite(OR5,179;p<0,001) foram significativamente associados a esta complicação. A perfuração na DDC associou-se a maior mortalidade(OR7,46;p=0,001). Conclusão: A perfuração é uma complicação rara da DDC (aproximadamente 2%), mas com morbimortalidade significativa. O uso crónico de corticoterapia, alcoolismo ativo e gravidade da diverticulite implicam risco acrescido de perfuração, e consequente necessidade de uma abordagem mais precoce e agressiva. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 153 P60 IMPORTÂNCIA DA COLONOSCOPIA APÓS UM EPISÓDIO DE DIVERTICULITE AGUDA Fernandes S., Meireles L., Correia L., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: A diverticulite aguda representa um processo inflamatório com origem num diverticulo do cólon. É geralmente um processo auto-limitado (diverticulite não complicada [DNC]) contudo até 25% pode complicar-se com abcessos, fistulas, obstrução ou perfuração (diverticulite complicada [DC]). As guidelines actuais recomendam a realização de colonoscopia para exclusão de neoplasia do cólon após um episódio de diverticulite aguda, porém, vários trabalhos têm contestado estas recomendações. Objetivos: Determinar a importância da colonoscopia electiva após um episódio de diverticulite aguda. Métodos: Aferidos retrospectivamente os achados endoscópicos e histológicos de doentes com DNC e DC confirmada por tomografia abdominal. Avaliados dados demográficos e achados endoscópicos. A análise estatística foi realizada utilizando o SPSS v20. Resultados: Avaliaram-se 286 doentes, 138 sexo feminino, idade média 43,9±13,6 anos, incluíndo 237 casos de DNC e 48 de DC (14 perfuração, 17 abcesso). O tempo médio entre o episódio de diverticulite aguda e a colonoscopia foi 6,4±7,6 meses. Os achados incluíram pólipos em 79 doentes (27,6%), dos quais 33 hiperplásicos (41,8%), 35 adenomas com displasia de baixo grau (44,2%) e 11 com displasia alto grau (14,0%). Diagnosticaram-se 10 (3,5%) neoplasias colorectais - 6 (2,5%) em DNC versus 4 (8,2%) em DC. A idade média nos doentes com neoplasia foi 74,5±16,8 anos. Para uma prevalência estimada de neoplasia do cólon na população portuguesa de 0,76% o número de exames necessários para diagnosticar uma neoplasia do cólon seria 38 (58 para DNC versus 13 para DC). Discussão: Na nossa série a prevalência de neoplasia foi mais elevada que em outros trabalhos. Contudo, a grande maioria (9 em 10) foi realizado em doentes com idade superior a 50 anos e portanto candidatos a colonoscopia de rastreio. Na nossa opinião, os achados justificam, sobretudo em doentes com DC, uma reavaliação endoscópica. Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 154 P61 PAPEL DO OXIGÉNIO HIPERBÁRICO NA PNEUMATOSE CÓLICA- UMA SERIE DE 3 CASOS Meira T. (1); , Amaro C. (2); Anão A. (2); Guerreiro P, A pneumatose cólica é caracterizada pela presença de quistos gasosos na submucosa ou subserosa da parede intestinal, podendo ser iatrogénica ou associada a várias doenças. Caso 1. Mulher de 70 anos sem antecedentes pessoais relevantes. Apresentava dor abdominal, tipo cólica, com um ano de evolução. Na colonoscopia observou-se extensa lesão nodular revestida por mucosa normal no colon ascendente e cego. A tomografia axial (TC) abdominopélvica revelou múltiplos focos de hipotransparência gasosa no ascendente e cego compatíveis com pneumatose cólica. Após 5 sessões de oxigénio hiperbárico (OHB) (90min a 2.5 atm) houve resolução clinica e endoscópica das lesões. Caso 2. Mulher de 68 anos com antecedentes de hipertensão arterial, diabetes mellitus e hemicolectomia direita há 20 anos por neoplasia. Apresentava diarreia crónica em investigação. Na colonoscopia observou-se lesão vegetante que impedia a progressão aos 20cm da margem anal. A TC mostrou inúmeras bolhas gasosas na sigmoide condicionando franca redução do lúmen. Após 10 sessões de OHB (90min a 2.5 atm) ficou assintomática. Caso 3. Mulher de 65 anos sem antecedentes relevantes, seguida em consulta de gastrenterologia por diarreia crónica. A colonoscopia mostrou lesão polipoide no colon ascendente sugestiva de pneumatose intestinal, confirmada por TC-abdominopélvica. Após 5 sessões de OHB ( 90 min a 2.5 atm) houve resolução clinica e endoscópica da lesão. O tratamento com OHB induz aumento da pressão parcial de oxigénio no sangue, condicionando aumento do gradiente de pressão gasoso no quisto, permitindo a libertação dos gases (hidrogénio, azoto, dióxido carbono) e preenchimento com oxigénio que, posteriormente, será absorvido e metabolizado, reduzindo a dimensão do quisto. Este tratamento deve ser considerado na pneumatose cólica, apresentando elevada taxa de sucesso na resolução clinica e endoscópica, evitando a cirurgia. (1)Centro de Medicina Subaquática e Hiperbárica (2)Centro de Medicina Naval 155 P62 EFICÁCIA A LONGO PRAZO DA TOXINA BOTULÍNICA NO TRATAMENTO DA FISSURA ANAL CRÓNICA – 5 ANOS DE FOLLOW-UP Barbeiro S.,, Martins C., Canhoto M., Gonçalves C., Cotrim I., Arroja B., Silva F. e Vasconcelos H. Introdução: A fissura anal crónica é uma patologia frequente e incapacitante que afeta sobretudo indivíduos jovens. A toxina botulínica (TB) e a esfincterotomia lateral interna são as opções terapêuticas para os casos refratários. A TB é um tratamento minimamente invasivo e seguro face à cirurgia, que apresenta pós-operatório difícil e risco de incontinência fecal. A eficácia a longo prazo da TB é pouco conhecida. Objetivos: Avaliar a eficácia a longo prazo da TB no tratamento da fissura anal crónica. Métodos: Estudo observacional retrospetivo incluindo os doentes tratados com TB entre 2005 e 2009, seguidos por um período de 5 anos de follow-up. Os doentes foram tratados com injeção de 25U de TB no espaço interesfincteriano. Foi avaliado o tipo de resposta ao tratamento (completa (RC), parcial (RP), refratária (RF) e recidiva (RD)). Resultados: Foram tratados 126 doentes, sendo 69,8%(n=88) seguidos num período de 5 anos (52,3%(n=48) mulheres, idade média 48 anos). A maioria apresentava fissura na comissura anal posterior (77,3%, n=68). Após 3 meses, 46,6%(n=41) apresentavam RC, 23,9%(n=21) RP e 29,5%(n=26) mantinham-se RF. A recidiva foi observada em 1,2%(n=1) aos 6 meses, 11,4%(n=10) ao 1 ano e 2,3%(n=2) aos 3 anos, não houve recidiva aos 5 anos. O tratamento com TB apresentou uma eficácia de 64,8% a longo prazo. Não houve diferença entre o grupo com resposta completa e o grupo com recidiva para os fatores género, idade, duração dos sintomas, localização da fissura e obstipação. Todos os doentes toleraram bem o tratamento e não ocorreram complicações. Os doentes sem resposta foram submetidos a segunda injeção com TB ou cirurgia. Destacam-se dois casos de incontinência fecal no grupo submetido a cirurgia. Conclusões: A TB é uma alternativa à cirurgia, segura e eficaz a longo prazo, para o tratamento da fissura anal crónica. Centro Hospitalar de Leiria 156 P63 LONGEVIDADE E SEGURANÇA AOS 4 ANOS DAS PEG-J PARA INFUSÃO CONTÍNUA DE GEL INTESTINAL DE LEVODOPA/CARBIDOPA CR Nunes A,, Santos-Antunes J,, Vilas Boas F,, Rosas MJ,, Macedo G INTRODUÇÃO E OBJECTIVOS: O Estudo Duodopa® avalia a segurança e eficácia do gel intestinal LevodopaCarbidopa em Doença de Parkinson avançada, com contra-indicação cirúrgica. Este tratamento inovador consiste no uso da PEG-J (gastrostomia percutânea endoscópica com prolongamento jejunal) para administração contínua do gel intestinal directamente no jejuno, com aumento significativo da biodisponibilidade. O objectivo deste trabalho é avaliar a duração, complicações e segurança a longo prazo das PEG-J em doentes de Parkinson. MATERIAL: Estudo prospectivo de 6 doentes (4 homens e 2 mulheres) com Doença de Parkinson em que foram colocadas PEG-J. Um deles foi precocemente excluído por demência. Utilizadas PEG’s com calibre de 15 French e prolongamento jejunal de 9 Fr. Foi confirmado correcto posicionamento por endoscopia e radioscopia. De 3-3 meses e depois de 6-6 meses foi avaliado local da ostomia e estado de conservação da PEG-J.RESULTADOS: Idade média=63±3 anos. Todos os doentes após o 1º ano mantinham a PEG e o prolongamento J originais. A duração média da PEG-J inicial foi de 33±6 meses. Um dos casos interrompeu o tratamento com duodopa por aparecimento de neoplasia do cólon com necessidade de cirurgia. Não houve complicações major relacionadas com a técnica. Complicações minor: eritema ocasional no local da ostomia em 2 doentes e apenas nos primeiros 6 meses. Um dos doentes exteriorizou o prolongamento jejunal por queda acidental do device infusor, sendo recolocada nova PEG-J. Houve uma melhoria significativa da qualidade de vida dos doentes, que se tornaram autónomos para a realização das suas actividades diárias, incluindo a locomoção. A exposição média à PEG-J foi de 48±10 meses. CONCLUSÕES: A longevidade das PEG-J excedeu as melhores expectativas. Não houve complicações major e as minor foram desprezíveis. Estes dados sugerem que as PEG-J poderão ser uma opção válida e bem tolerada para casos clínicos seleccionados. Serviços de Gastrenterologia e Neurologia do Centro Hospitalar S. João, Porto 157 P64 GASTROSTOMIA ENDOSCÓPICA PERCUTÂNEA (PEG)- O PROCEDIMENTO, AS COMPLICAÇÕES E A NUTRIÇÃO. Capela T 1, Carvalho D 1, Alves N 2, Leitão L 2, Costa A 2, Saiote J 1, Mendes M 1 INTRODUÇÃO e OBJECTIVOS: A PEG é uma técnica importante para assegurar prolongadamente alimentação entérica. É considerada segura, exigindo no entanto, um acompanhamento regular dos pacientes. Pretende-se assim avaliar o sucesso técnico da colocação de PEG, as complicações mais comuns associadas, bem como a evolução nutricional dos doentes. MÉTODOS: Análise retrospectiva de doentes com colocação de PEG’s entre 2008 e 2013 no nosso centro. RESULTADOS: Dos 94 doentes em que se tentou o procedimento, em 2 não foi conseguido por transiluminação torácica (encaminhamento para gastrostomia cirúrgica). Sucesso terapêutico em 92 doentes (55 homens, idade média 62,4 +/- 17,6 anos). A colocação deveu-se a patologia neurológica em 73,9% dos doentes (dos quais 38,2% com AVC, 16,2% com patologia do neurónio motor) e neoplasia em 21,7% (50% com neoplasia da orofaringe, 30% das vias respiratórias). Perdeu-se o follow up em 8 doentes. Nos restantes 86 follow up médio de 528 dias. As complicações mais comuns foram infecção peri-estoma (um total de 35 em 28 doentes, das quais 8 decorreram na 1ª semana, 3 requereram internamento e 1 motivou retirada de PEG por abcesso), exteriorização espontânea em 16 doentes (em 5 doentes mais do que uma vez) dos quais 3 tiveram que recolocar PEG por encerramento do estoma. Migração de sonda em 5 doentes, leak peri sonda em 2, hemorragia pelo estoma num doente. 56 doentes mantiveram follow up nutricional. Destes, 48,2% (27) tiveram ganho ponderal com a colocação de PEG. Dos 29 sem ganho ponderal, 62,1% apresentavam índice nutricional adequado, 31% apresentavam-se desnutridos e 6,9% (2) desnutrição severa. Dos 11 doentes desnutridos 72,7% apresentavam neoplasia em paliação ou doença neurológica progressiva. CONCLUSÃO: As complicações de PEG são frequentes, geralmente auto-limitadas e de resolução simples. A desnutrição nos doentes com PEG é também comum resultando provavelmente da progressão da doença de base. 1- Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE; 2- Serviço de Dietética e Nutrição, Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE 158 P65 SENSIBILIZAÇÃO TORNA PEG MAIS ACESSÍVEL E SEGURA Salazar M., Cansado P., Tubal V., Costa P., Introdução e Objetivos: A gastrostomia percutânea endoscópica (PEG) tem-se tornado num procedimento endoscópico cada vez mais utilizado, sendo técnica de eleição para alimentação entérica de longa duração. Existe a convicção de que a referenciação não está ajustada à clínica. Pretende-se analisar as indicações, complicações e resultados nutricionais de doentes seguidos numa Unidade Local de Saúde e submetidos a PEG num período de 3 anos, após sensibilização dos profissionais de saúde para esta técnica. Material e Métodos: Criou-se um protocolo de referenciação para colocação de PEG, acompanhamento de complicações e seguimento nutricional que foi apresentado às especialidades hospitalares e à equipe de cuidados paliativos de uma Unidade Local de Saúde (2 hospitais, 13 centros de saúde). Foram registados: motivos de referenciação, dados da endoscopia (EDA), complicações e evolução nutricional por circunferência de braço (CB). Comparou-se com dados anteriores à sensibilização. Resultados: Dados prévios: 3 PEG/ano, sem seguimento. Dados obtidos: 50 doentes referenciados. PEG em 45 (21H: 24M), média de idades 70,6anos (16-94anos), 66,6% institucionalizados, 0% com limitação por EDA. Causas para PEG: 12- oncológica, 33- neurológica (63,6%-pós AVC, 21,2%-demência, 12,1%-pós traumatismo cerebral, 3%-paralisia cerebral). Tempo com SNG pré-PEG: 0 a 132M (média-9M). Em 18 doentes houve complicações minor, por vezes múltiplas (61%-remoção acidental, 55%- inflamação estoma, 11%-obstrução tubuladura), resolvidas no dia, sem internamento. Complicações major em 8 doentes: 2- celulite da parede, 6- burried bumper (75% dos quais com CB >22cm). Não houve necessidade de correção cirúrgica nem óbitos. O follow-up variou entre 1 e 36M, com aferição de recomendações nutricionais de acordo com CB. Removeram PEG por melhoria 17,8% e mantêm PEG 44,4%. Conclusões: A sensibilização quintuplicou a referenciação e permitiu acesso mais precoce a PEG. A articulação com cuidados paliativos agilizou a resolução de complicações. A avaliação periódica permitiu a aferição do suporte nutricional. Unidade de Endoscopias, Comissão de Nutrição; Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, EPE; Hospital José Joaquim Fernandes; Beja 159 P66 MUCOSECTOMIA COM DISPOSITIVO DE LAQUEAÇÃO ELÁSTICA EM LESÕES DO ESÔFAGO, ESTÔMAGO E CÓLON : REVISÃO DE 21 PROCEDIMENTOS. Meireles L., Vitor S., Lopes J., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: A mucosectomia tem mostrado ser útil na remoção de lesões planas, evitando a necessidade de cirurgia. A utilização de kit de laqueação elástica para mucosectomia é relativamente recente. Objectivos: Descrever e avaliar a eficácia e segurança da utilização de kit de laqueação elástica para mucosectomia de lesões planas esofágica, gástrica e colo-retais. Material e Métodos: Análise de 21 doentes consecutivos, de um único centro, submetidos a mucosectomia com kit de laqueação elástica. Foram registadas as características endoscópicas e histológicas, complicações e necessidade cirúrgica. Resultados: 21 doentes (12 do sexo masculino; com idade média de 67 ± 11 anos) foram submetidos a mucosectomia com kit de laqueação elástica. A maioria das lesões localizavam-se no estômago (9), seguido do recto (7). O tamanho médio das lesões era de 18 ± 16 milímetros. Procedemos a elevação submucosa em todos os pacientes e a ressecção completa foi alcançada em todas as lesões (em bloco -13 , em piecemeal -8). A classificação histológica foi: pólipo hiperplásico-2; adenoma-9; tumor neuroendócrino -4; adenocarcinoma-1; metástase de neoplasia da mama-1 , carcinoma de células escamosas-1, esófago de Barrett com displasia-2, tumor células granulares-1. Não ocorreu nenhuma complicação. Obtivemos margens de ressecção histológicas profundas e periféricas sem lesão em 12 doentes, e as margens com lesão em 1 paciente (os casos restantes foram indeterminado devido à ressecção em piecemeal). Dos 9 doentes com margens invadidas ou indeterminados, 2 foram submetidos à cirurgia, 1 descontinuado acompanhamento e 6 pacientes foram submetidos a acompanhamento endoscópico. A recidiva local ocorreu em 2 pacientes (10%) que foram tratados com uma nova EMR. Conclusão: A mucosectomia com kit de laqueação é eficaz e segura no tratamento de lesões planas. É uma opção a considerar em lesões com algum grau de fibrose em que a elevação por outros métodos é difícil. Centro Hospitalar Lisboa Norte 160 P67 MUCOSECTOMIAS DO CÓLON – CARACTERIZAÇÃO DAS LESÕES E AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DA TÉCNICA Sofia Vitor, Patricia Santos, Carlos Noronha Ferreira, João Lopes, Luís Carrilho Ribeiro, José Velosa Objectivos: A mucosectomia é utilizada na remoção de lesões planas e sésseis do cólon. Este estudo pretendeu caracterizar os aspectos clínico-patológicos das lesões removidas e, avaliar a eficácia e segurança da técnica. Método: Estudo retrospectivo incluindo mucosectomias do cólon realizadas em 120 doentes consecutivos, entre 01/01/10 e 31/12/11. A amostra foi selecionada utilizando o programa Progastro®, pesquisando “mucosectomia” e “lesão plana”. Caracterizou-se a amostra em termos demográficos, endoscópicos (Classificação de Paris), anatomo-patológicos e de eficácia da técnica. Avaliaram-se as complicações e achados endoscópicos/histológicos em colonoscopias de seguimento. As diferentes características das lesões e variantes da técnica foram analisadas estatisticamente através do teste Qui-quadrado, SPSS®v22. Resultados: Verificou-se predominância do sexo masculino (60,8%), idade média de 67,8±11,1anos e história de pólipos/neoplasia em 56,6% (n=120). Das 148 mucosectomias, 70,9% foram lesões planas e 29,1% sésseis (n=148), com tamanho médio de 14,7±10,26mm e 12,95±0,54mm, respetivamente. O adenoma tubular foi o resultado histológico mais frequente (49,32%;n=148). Na distribuição da localização, observou-se predominância do cólon direito com 78 lesões (52,7%;n=148). Aspetos técnicos da mucosectomia efetuada: em bloco 57,4% e em piecemeal 42,6% (n=148); aplicação de árgon plasma nas margens em 28 casos (18,91%;n=148). Efetuou-se controlo endoscópico em 88 lesões, 1 a 34 meses pós-mucosectomia (59,4%;n=148). Observou-se recidiva em 23 casos (26%;n=88), com maior risco em lesões planas (p<0,05;OR2,2;IC95%), maiores que 1cm (p<0,005;OR11,7;IC95%), removidas em piecemeal (p<0,05;OR4,0;IC95%) e naquelas em que se aplicou árgon plasma (p<0.005;OR4,5;IC95%). Constataram-se 2 casos de hemorragia como complicações. Conclusão: Verificou-se significativamente maior risco de recidiva nas lesões planas, lesões maiores que 1cm e na mucosectomia em piecemeal. A aplicação de árgon plasma não diminuiu o risco de recidiva. A mucosectomia confirmou ser uma técnica segura. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria 161 P68 DISSECÇÃO ENDOSCÓPICA DA SUBMUCOSA NO TRATAMENTO DE LESÕES RETAIS COM ATINGIMENTO DA LINHA PECTÍNEA Rodrigues J., Barreiro P., Costa P., Chagas C. Introdução e Objetivos: A ressecção endoscópica de lesões do reto distal com atingimento da linha pectínea com recurso a ansa apresenta dificuldades técnicas particulares pela localização das mesmas. Por outro lado, a ressecção cirúrgica transanal, sendo uma alternativa terapêutica, pode associar-se a elevada morbilidade (33% em algumas séries). Recentemente, a dissecção endoscópica da submucosa (DES) tem apresentado vantagens em relação às opções terapêuticas previamente referidas. Os autores propõem-se a avaliar a sua experiência na utilização desta técnica em lesões do reto distal com atingimento da linha pectínea. Material: Análise retrospectiva de todas as lesões localizadas no reto distal e com atingimento da linha pectínea ressecadas por DES, realizadas num centro hospital. Sumário dos Resultados: Removeram-se um total de 4 lesões referentes a 4 doentes: predomínio do sexo masculino (3:1) com uma idade média de 67 anos [57-78 anos]. A dimensão média das lesões foi de 48 mm [35-55 mm] e o tempo médio dos procedimentos foi de 210 minutos [170-260 min]. Obteve-se ressecção em bloco em todos os casos (100%) com taxa de ressecção completa (R0) em 3 casos. O único caso de ressecção considerada não R0, foi por atingimento focal da lesão na margem da peça excisada cujo seguimento não documentou lesão residual/recidiva confirmando-se taxa de ressecção curativa de 100% (n=4). Histologicamente eram um adenoma com displasia de baixo grau, dois de alto grau e um carcinoma in situ. Não se registaram complicações clinicamente relevantes nomeadamente hemorragia moderada/severa ou perfurações. O período de seguimento médio foi de 6 meses [3-13 meses] sem evidência de recidivas até à data. Conclusões: Com as limitações inerentes ao número reduzido de doentes, esta análise sugere que a DES parece ser uma opção eficaz e segura no tratamento de lesões extensas localizadas no reto distal e com atingimento da linha pectínea. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 162 P69 OBSTRUÇÃO MALIGNA DO TRATO DE SAÍDA GASTRODUODENAL – EXPERIÊNCIA COM PRÓTESES METÁLICAS AUTOEXPANSÍVEIS NUM CENTRO DE REFERÊNCIA Freitas C, Meireles L, Sousa P, Lopes J, Noronha Ferreira C, Palma R, Maldonado R, Carrilho Ribeiro L, Velosa J Introdução: A terapêutica endoscópica constitui uma alternativa válida no tratamento de obstruções malignas do trato de saída gastroduodenal, com menor taxa de complicações e internamentos de menor duração, comparativamente ao tratamento cirúrgico. As próteses metálicas autoexpansíveis (PMAE) têm sido cada vez mais utilizadas neste contexto. Objetivo: avaliar retrospetivamente a colocação de PMAE em obstruções gastroduodenais malignas, num único centro de referência, num período de 36 meses. Resultados: foram colocadas PMAE gastroduodenais a 27 doentes [sexo masculino, 14; idade média, 74 (54-99)]. Em todos havia sintomas de estase gástrica. O tumor primário foi adenocarcinoma gástrico em 17 doentes (62.9%), adenocarcinoma do pâncreas em 5 (18.5%), colangiocarcinoma em 2 (7.4%),e adenocarcinoma do duodeno, vesícula biliar e cólon com um doente cada. O tempo médio entre o diagnóstico do tumor primário e a colocação de prótese foi de 187 dias (0-980). Todas as próteses colocadas eram do tipo descobertas, com comprimento médio de 100 mm e diâmetro luminal de 22.4 mm. Como complicações precoces (30 dias) associadas à colocação de PMAE, houve um caso de perfuração, um caso de migração e um caso de choque hipovolémico pós-colocação de prótese. Houve necessidade de reintervenção em 4 casos (2 no mesmo doente) por recidiva sintomática, em média 191 dias (46-324) após colocação da prótese anterior. Vinte e quatro doentes tinham falecido à data da colheita de dados. A sobrevida média destes doentes, após colocação de prótese, foi de 116.5 dias (6-420), sendo inferior a 30 dias em 8 doentes (33.3%). Conclusão: a colocação de PMAE, quando bem-sucedida, é uma terapêutica segura e eficaz na resolução de obstruções gastroduodenais malignas. A percentagem relevante de doentes que morreram menos de um mês após colocação de prótese pode refletir uma sobre-seleção dos doentes que beneficiam desta técnica ou referenciação tardia para este procedimento. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Centro Hospitalar de Lisboa Norte - Hospital de Santa Maria 163 P70 TRATAMENTO DE FÍSTULAS PÓS-CIRÚRGICAS DO TRATO DIGESTIVO SUPERIOR COM PRÓTESES METÁLICAS AUTO-EXPANSÍVEIS DO CÓLON: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Sousa P., Castanheira A., Ministro P., Araújo R., Cancela E., Pinheiro L. F., Simão R., Castro J., Silva A. Introdução: A utilização de próteses auto-expansíveis metálicas (PAEM) no tratamento de fístulas póscirúrgicas do trato digestivo superior (FPCTDS) está já estabelecida. Há, no entanto, uma discrepância entre o calibre relativamente pequeno das próteses esofágicas disponíveis no nosso centro e o diâmetro luminal pós-cirurgia, determinando eventualmente justaposição inadequada. As próteses destinadas ao cólon têm um calibre maior, podendo ser mais adequadas. Alguns autores defendem também um menor risco de migração com próteses de maior calibre. O objectivo deste estudo foi avaliar a eficácia e complicações associadas à utilização de PAEM do cólon no tratamento de FPCTDS em doentes críticos. Métodos: Estudo retrospectivo com inclusão de todos os doentes com FPCTDS tratados com PAEM do cólon (Hanarostent® CCI) entre 2010 e 2013. Resultados: Foram identificados 4 doentes (3 homens, 1 mulher), com idade média de 63 anos. As cirurgias subjacentes foram bypass gástrico, esofagogastrectomia por síndrome de Boerhaave, rafia de fístula esofagopleural por síndrome de Boerhaave e esofagectomia por carcinoma epidermóide do esófago. As deiscências foram detectadas em média 17 dias após a cirurgia inicial, não se conseguindo resolução cirúrgica. Assim, todas as situações eram de difícil abordagem e casos urgentes na unidade de Cuidados intensivos. Ocorreu sucesso técnico e clínico (definido como encerramento da fístula) em todos os doentes. Não houve migração de prótese em nenhum caso. O tempo médio até remoção da prótese foi de 7 semanas, não se verificando complicações na altura da remoção. No follow-up, um dos doentes necessita de dilatações endoscópicas periódicas por estenose da junção esófago-gástrica. Um doente faleceu 15 dias após remoção da prótese devido a choque séptico não relacionado com o procedimento. Conclusão: As PAEM do cólon revelaram-se um tratamento seguro e eficaz no tratamento de FPCTDS. Centro Hospitalar Tondela-Viseu 164 P71 ENDOPRÓTESES ESOFÁGICAS COMO TERAPÊUTICA ENDOSCÓPICA DE FÍSTULAS: ESTUDO RETROSPECTIVO NUM CENTRO TERCIÁRIO Sousa,P., Meireles,L., Freitas,L.C., Lopes,J., Ferreira,C.N., Palma,R., Ribeiro,L.C., Velosa,J. Introdução: As fístulas esofágicas têm importante morbi-mortalidade. Actualmente não está definida qual a melhor abordagem havendo alguns trabalhos que demonstram a utilização de endopróteses para resolução destas situações. Objectivo: Avaliar a eficácia das endopróteses esofágicas como terapêutica de fístulas. Métodos: Análise retrospectiva, num período de 36 meses, de 28 doentes (17 sexo masculino; idade média 63 anos) com colocação de endoprótese esofágica por fístula. Analisaram-se dados demográficos, etiologia da fístula, procedimentos efectuados e tempo até encerramento e a existência de recidiva da fístula. Resultados: 60.7% apresentavam fístulas pós-operatórias (9 pós sleeve gástrico, 5 pós Y de roux e 3 pós esofagectomia subtotal). O tempo médio entre a cirurgia e a detecção da fístula foi de 30 dias( 4-145). Em 20 doentes a colocação de endoprótese foi a escolha terapêutica inicial. Destes em 13 casos não foi feita terapêutica endoscópica adicional. Nos restantes, as terapêuticas endoscópicas associadas foram: colocação de nova endoprótese (8), clip (3), sonda naso-jejunal (9) e OTSC (2) e terapêutica com APC (4). Foram colocadas 5 próteses de plástico e 23 metálicas (5 descobertas, 7 parcialmente cobertas e 11 totalmente cobertas). Observou-se migração da prótese em 9 doentes e hemorragia digestiva em 1, nenhum teve necessidade de cirurgia por complicação da técnica. Em 10 doentes foi necessária drenagem de colecções (6 cirúrgicas e 4 percutâneas), num foi feita rafia e noutro interposição cólica. O tempo médio para encerramento da fístula foi 60.5 dias(13-308). O encerramento foi primário em 8, secundário em 16 e em 4 não se verificou o mesmo. Observou-se recidiva da fístula em 4 doentes em média 149 dias após o encerramento da primeira. Todos os casos foram tratados endoscopicamente e observou-se encerramento em 3 dos casos (em média em 45 dias). Conclusão: A colocação de endopróteses parece ser uma terapêutica segura e eficaz neste tipo de patologia. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa 165 P72 TRATAMENTO ENDOSCÓPICO DA OBSTRUÇÃO GÁSTRICA PRECOCE ASSOCIADA A SLEEVE Costa M., Capela T., Silva M. J., Seves I., Canena J., Rio-Tinto R. Introdução: A obesidade é uma doença complexa, de proporções epidémicas, que obriga a uma abordagem terapêutica multidisciplinar. Nas últimas duas décadas a cirurgia bariátrica adquiriu um papel de destaque sendo o tratamento com melhores resultados a longo prazo, mas está associada também a morbilidade e mortalidade significativas. A obstrução gástrica precoce por um mecanismo de torção em doentes submetidos a gastroplastia vertical (sleeve) é uma raridade, não existindo na literatura registo de casos em que o tratamento foi endoscópico. O mecanismo proposto para a torção gástrica pós-sleeve relaciona este evento com uma justaposição incorrecta das paredes gástricas durante a técnica cirúrgica. Objectivo: Avaliar a eficácia e segurança do tratamento endoscópico utilizando próteses metálicas autoexpansíveis (PMAE) totalmente cobertas no tratamento da torção gástrica pós-sleeve. Material e Métodos: Análise de dois casos referenciados ao Serviço de Gastrenterologia para tratamento endoscópico da torção gástrica pós-sleeve. Utilizaram-se PMAE totalmente cobertas para restabelecer a patência imediata do lúmen. Resultados: Foram identificados dois doentes de 24 (?) e 25 anos (?). A intolerância alimentar surgiu 10 e 24 dias após a cirurgia. As torções gástricas foram documentadas por estudo contrastado e as endoscopias altas mostraram no segmento proximal do estômago lúmen amplo seguido de torção condicionando obstrução. Colocaram-se PMAE totalmente cobertas nos 2 casos restabelecendo-se a permeabilidade luminal com resolução imediata da intolerância alimentar. As próteses foram removidas endoscopicamente 2 e 3 meses depois, sem complicações, e os doentes tiveram alta no dia a seguir ao procedimento. No seguimento até aos 2 anos não houve recidiva das queixas em nenhum dos doentes. Conclusão: A utilização de PMAE totalmente cobertas para tratamento da torção gástrica pós-sleeve é uma técnica eficaz e segura. Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Sto. António dos Capuchos – Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. 166 P73 COLOCAÇÃO DE PRÓTESES ESOFÁGICAS EM DOENTES COM DISFAGIA - EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Meireles L, Sousa P, Freitas L, Lopes J, Ferreira C, Maldonado R , Ribeiro L, Velosa J Introdução: A colocação de próteses é um procedimento minimamente invasivo e relativamente simples que permite o tratamento da disfagia. Objectivos: Analisar retrospectivamente a colocação de próteses no tratamento de doentes com disfagia. Material e Métodos: Análise retrospectiva de 53 doentes consecutivos que colocaram próteses do esófago por disfagia, num período de 36meses, num único centro. Analisaram-se os dados demográficos, indicação, tipo e tamanho das próteses, localização e histologia da lesão, bem como, intervenção cirúrgica e sobrevida dos doentes. Discussão: Dos 53 doentes (46 sexo masculino; idade média de 66 ± 15 anos), 7,5% tinham estenose esofágica benigna e 92,6% tinham estenose esofágica maligna. Dos doentes com estenose maligna: 92,5% apresentavam lesão primaria do esófago ou da transição gastro-esofágica e 7,5% neoplasia do pulmão com envolvimento esofágico. No caso das estenoses malignas, a colocação da prótese decorreu em média 134 ± 222 dias após o diagnóstico de neoplasia. A maioria das lesões eram localizadas esófago distal, sendo o comprimento médio de 40±38mm. Histologicamente as lesões primariamente do esófago correspondiam a: adenocarcinoma (14%) e carcinoma epidermoide (86%). Quase todos os procedimentos foram realizados com intuito paliativo. Em 8 casos a colocação de prótese foi precedida de dilatação com velas de Savary Miller e em 1 caso de dilatação com balão. Foram colocadas próteses descobertas em 9%, parcialmente cobertas em 59% e totalmente cobertas em 32% dos casos, quanto ao material, 3 eram de plástico sendo as restantes metálicas. O comprimento das prótese colocadas variou entre 90 e 150mm, o diâmetro do lúmen entre 15 e 23mm. No respeita as complicações, ocorreu migração em 10,3% e perfuração em 3,8% dos doentes. À data da colheita dos dados, 5 doentes foram submetidos a cirurgia de ressecção tumoral, 2 aguardam cirurgia, e 37 faleceram, sendo a sobrevida mediana após colocação de prótese de 71 dias. Conclusão: A colocação de próteses esofágica é um tratamento eficaz e seguro para disfagia. Centro Hospitalar Lisboa Norte 167 P74 ENDOPRÓTESES NO TRATAMENTO DA OBSTRUÇÃO MALIGNA COLO-RECTAL: AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS NUM ÚNICO CENTRO HOSPITALAR Carvalho D., Russo P., Capela T., Silva M.J., Costa M., Ramos G., Seves I., Mateus Dias A., Canena J., Coimbra J. Introdução e objectivos: A obstrução maligna do cólon é uma emergência cirúrgica, contudo 70% dos doentes apresenta-se em estádio avançado e apenas 50% são candidatos a cirurgia curativa. A colocação endoscópica de próteses metálicas cólicas constitui uma alternativa de baixo risco para desobstrução colorectal. Este estudo pretende avaliar a eficácia deste tratamento endoscópico. Métodos: Estudo retrospectivo de doentes (d) consecutivos submetidos a colocação de prótese cólica por obstrução maligna colo-rectal, num único centro hospitalar entre 01/12/2007 e 31/12/2013. Resultados: Trataram-se 114d, 61,4% homens, com idade mediana de 72 anos (95-43). Obstrução localizava-se na sigmóide (33,3%), recto (24,6%), transição recto-sigmoideia (19,3%), descendente (13,2%), ângulo esplénico (5,3%), transverso (2,6%) e ângulo hepático (1,7%). Todos os doentes encontravam-se em oclusão e 53 tinham metastização à distância. Em 47,4% foi a terapêutica definitiva. Procedimento endoscópico foi concluído em 97,4% (n=111), com eficácia em 96,4% (n=107). Taxa de complicações às 48h foi de 7,2% (4 com migração da prótese – recolocadas de imediato, 3 com perfuração e 1 com tenesmo); 6,3% tiveram complicações tardias (perfuração após 5 dias em 4, migração da prótese em 3). Follow-up completo de 101d (91%). Quarenta foram submetidos a quimioterapia e 19 a radioterapia (neoplasia do recto em 14). Foram operados 47 (46,5%), com intervalo mediano de 19 dias pós-procedimento endoscópico: 40 com intuito curativo (20 com anastomose primária e 20 com estoma, incluindo 8 operações tipo Hartmann e 3 ressecções abdomino-perineais) e em 7 a cirurgia foi paliativa (5 estomas de descompressão e 2 laparotomias exploradoras). Patência média das próteses nos restantes 54d foi 264 dias. Sobrevida média destes doentes (n=54) foi 264 e a global (n=101) de 443 dias (1949-1). Conclusão: A colocação endoscópica de próteses metálicas constitui uma opção viável e segura no tratamento da obstrução maligna colo-rectal, sendo a sobrevida afectada naturalmente pela história natural da doença. Serviço de Gastrenterologia, CHLC – Hospital Santo António dos Capuchos 168 P75 PRÓTESES ENDOSCÓPICAS METÁLICAS AUTO-EXPANSÍVEIS NA SUBOCLUSÃO CÓLICA MALIGNA AGUDA – A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Rodrigues-Pinto E., Pereira P., Peixoto A., Lopes S., Ribeiro A., Macedo G. Introdução e Objectivo: As próteses endoscópicas metálicas auto-expansíveis (PEMS) podem ser utilizadas na suboclusão cólica maligna aguda (SOMA) como alternativa à cirurgia emergente. Caracterizar a população de doentes com SOMA que colocaram PEMS na prática clínica. Métodos: Estudo transversal de doentes com SOMA que colocaram PEMS não recobertas num centro terciário entre 2011 e 2013. Resultados: Foram colocadas PEMS em 47 doentes, com uma idade média de 71 anos (±13). O topo distal da neoplasia localizava-se em 12.8% no cólon descendente, em 61.7% no sigmóide e em 25.5% no recto. Oitenta e um por cento dos doentes tinham invasão ganglionar e 68.1% metástases. A localização da neoplasia não influenciou a presença de invasão ganglionar (p=0.764), metástases (p=0.885) nem a extensão da prótese utilizada (p=0.511). Em 57.4% dos procedimentos houve auxílio de fluoroscopia. Houve necessidade de colocação de uma segunda prótese em 6.4% dos doentes por migração durante a abertura. A taxa de complicações precoces foi 11% e de complicações tardias 4.6%. A utilização de fluoroscopia não influenciou a ocorrência de intercorrências imediatas (p=0.385), complicações precoces (p=0.950) nem complicações tardias (p=0.057). Trinta e três por cento dos doentes foram submetidos a cirurgia num segundo tempo, com terapêutica neo-adjuvante em 17.8%. O tempo de follow-up mediano foi 150 dias (P25-75: 23 – 437), sendo a taxa de mortalidade ao 1º ano 60.6%. O tempo de sobrevida foi significativamente maior nos doentes submetidos posteriormente a terapêutica combinada em relação a quimioterapia, cirurgia ou tratamento sintomático (838.5 dias [±35.0] vs 387.6 dias [±87.7] vs 354.3 dias [±80.2] vs 222.3 dias [±104.6], p<0.001). Conclusão: A maioria dos doentes com SOMA tem doença avançada. As PEMS têm uma elevada taxa de sucesso, com uma taxa de complicações baixa, reduzindo a elevada morbilidade e mortalidade associadas à cirurgia de emergência e criação de um estoma. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 169 P76 OCLUSÃO INTESTINAL - TRATAMENTO ENCOSCÓPICO COM COLOCAÇÃO DE PROTESES METÁLICAS AUTO-EXPANSÍVEIS Meireles L., Sousa P., Freitas L., Lopes J. , Ferreira C., Palma R., Maldonado R., Luis Carrilho Ribeiro, José Velosa Introdução: A colocação de próteses metálicas auto-expansíveis (PMAE) é um procedimento minimamente invasivo e simples. É um tratamento de primeira linha eficaz para o alívio de sintomas obstrutivos servindo tanto como um procedimento de "ponte para a cirurgia", como uma forma de tratamento paliativo. Objetivos: Analisar retrospectivamente a colocação de PMAE no tratamento de doentes com obstrução colo-rectal maligna. Material e Métodos: Análise retrospectiva de 39 doentes consecutivos que colocaram PMAE do cólon ou recto, entre 2010 e 2013, num único centro. Analisaram-se os dados demográficos, indicação, tipo e tamanho das próteses, localização da lesão, bem como sobrevida dos doentes. Resultados: Foram avaliados 39 doentes (21 sexo masculino; idade média de 68 ± 15 anos). A maioria das lesões eram localizadas no recto (69%), 20% no cólon sigmoide, 8% no colon descendente e 2% no cólon transverso. O comprimento médio das lesões era de 53±25mm. Quase todos os procedimentos foram realizados com intuito paliativo, tratando-se de doente com adenocarcinoma em estadio IV (estadio T, N e M da 7ª edição da American Joint Committee on Cancer). Em 2 casos a colocação de próteses foi precedida de dilatação com velas de Savary Miller. Foram colocadas próteses totalmente descobertas em 100% dos casos. O comprimento das próteses colocadas variou entre 80 e 120mm e o diâmetro do lúmen entre 20 e 30mm. No que respeita as complicações imediatas, ocorreu apenas um caso de migração, não se verificou nenhuma perfuração. Dos doentes que colocaram prótese, 21 doentes faleceram até à data da colheita dos dados, sendo o intervalo médio entre a colocação de prótese e o óbito 3±5 meses. Conclusão: Os quadros oclusivos intestinais podem ser tratados com o uso de técnicas endoscópicas, sendo a colocação de PMAE segura e eficaz no tratamento de quadros oclusivos do cólon e recto. Centro Hospitalar Lisboa Norte 170 P77 ENDOSCOPIA PRÉ-OPERATÓRIA EM DOENTES BARIÁTRICOS ASSINTOMÁTICOS – JUSTIFICARÃO OS RESULTADOS A SUA REALIZAÇÃO POR ROTINA ? Fernandes S., Meireles L., Correia L., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: A obesidade representa um problema de saúde pública associando-se a risco aumentado de diabetes, doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e neoplasia. A cirurgia demonstrou ser um tratamento eficaz a longo prazo. A realização de endoscopia digestiva alta (EDA) pré-operatória é recomendada pelas “guidelines” actuais, contudo a evidência suportando esta recomendação em doentes assintomáticos é escassa. Objetivos: Procurámos determinar se os achados endoscópicos justificam a realização de EDA por rotina antes da cirurgia bariátrica. Métodos: Foram aferidos retrospectivamente os achados endoscópicos e histológicos de doentes com obesidade (IMC > 30 kg/m2) ou obesidade mórbida (IMC > 35 kg/m2) submetidos a EDA na nossa instituição e determinado o seu impacto na estratégia operatória. Resultados: Dos 557 doentes (78,3% do sexo feminino, idade média 46,9, desvio padrão 11,5 anos), 43,3% apresentaram EDA normal. Patologia esofágica, gástrica e duodenal estava presente em 22,6%, 44,2% e 11,0% respectivamente. Os achados esofágicos mais frequentes foram hérnias do hiato (17,2%) e esofagite (8,0%; 97,5% classe A e B de Los Angeles). As alterações gástricas incluíram gastrite erosiva (18,3%) e não erosiva (19,7%), polipos (4,8%) e úlceras (1,6%, todas Forrest III). Bulbite (10,4%), úlceras (0,5%) e polipos (0,2%) caracterizaram os achados duodenais mais frequentes. Das 218 biopsias gástricas realizadas 46,3% evidenciaram a presença de bacilos de Helicobacter pylori (Hp). Em 3 doentes foi diagnosticado esofágo de Barrett (sem displasia) e em 2 Linfoma MALT gástrico de baixo grau (que regrediram após tratamento de erradicação do Hp). Discussão: Os achados descritos foram pouco relevantes e não alteraram a estratégia operatória. Dada a elevada prevalência de Hp, factor associado a maior incidência de complicações no pós-operatório, o seu diagnóstico por métodos não invasivos poderá ser uma alternativa menos dispendiosa. Este estudo sugere que a EDA possa ser um exame dispensável na avaliação pré-operatória de doentes bariátricos assintomáticos. Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 171 P78 ESTUDO COMPARATIVO ENTRE MÚLTIPLAS PRÓTESES DE PLÁSTICO E PRÓTESES METÁLICAS TOTALMENTE COBERTAS NO TRATAMENTO DE FUGAS BILIARES REFRACTÁRIAS AO TRATAMENTO ENDOSCÓPICO Meireles L. 1, Canena J. 1,2, Liberato M. 2, Marques I. 1, Coutinho A. 1,2, Romão C. 1, Neves B. 1 Introdução e objectivos: A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) é o tratamento de escolha para fugas biliares pós colecistectomia havendo contudo um número reduzido de doentes que não respondem à terapêutica inicial. Existe controvérsia sobre o melhor tratamento a oferecer nas fugas biliares refractárias (FBR). Este estudo comparou a eficácia clínica da colocação temporária de múltiplas próteses de plástico (MPP) ou de próteses metálicas totalmente cobertas no tratamento de FBR. Material: estudo prospectivo de 2 grupos de 40 doentes consecutivos com fugas biliares refractárias à terapêutica endoscópica convencional (esfincterotomia+prótese plástica de 10Fr). Cada grupo de 20 doentes foi submetido à colocação temporária de MPP ou de PMTC. Avaliaram-se a eficácia clínica de cada tipo de tratamento, necessidade de reintervenções, complicações e factores relacionados com o sucesso terapêutico. Resultados: o sucesso técnico foi possível em todos os casos. As duas populações eram homogéneas e estatisticamente comparáveis. As fugas do coto do cístico foram as predominantes (n=2870%). No final do tratamento houve encerramento da fuga em 13 doentes (65%) tratados com MPP e em todos os doentes tratados com PMTC (?2=8.485; P=0.004). O teste log-rank para o tempo livre de recidiva entre os dois tratamentos foi estatisticamente significativo em favor das PMTC (?2(1)=8.30; P<0.01). Uma análise univariada mostrou que fugas de alto débito (P=0.015), um número menor de próteses plásticas (P=0.024) e um menor diâmetro de drenagem (P=0.006) foram variáveis associadas significativamente ao insucesso da colocação temporária de MPP. Os 7 doentes que não responderam ao tratamento com MPP foram retratados com PMTC obtendo-se encerramento da fuga em todos os casos. Conclusões: a colocação de PMTC é a melhor abordagem para o tratamento de fugas biliares refractárias ao tratamento endoscópico inicial. A estratégia de MPP leva a insucessos terapêuticos e a um número acrescido de exames. 1 – Pólo de Gastrenterologia do H. Pulido Valente, CHLN. 2 – Centro Universitário de Gastrenterologia, H. Cuf Infante Santo. 172 P79 CPRE URGENTE – AVALIAÇÃO DE IMPACTO Ávila F., Santos V.C., Massinha P., Rego A.C., Nunes N., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. Introdução: A colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) permite o estudo e terapêutica da patologia bilio-pancreática e hepática. A principal indicação para a sua realização com carácter de urgência é a colangite aguda obstrutiva. Objetivos: Analisar as CPRE´s realizadas de urgência avaliando o seu impacto no diagnóstico e terapêutica. Adicionalmente avaliar a necessidade de cuidados intensivos pós-CPRE e a taxa de complicações. Métodos: Revisão retrospetiva das CPRE´s realizadas de urgência (primeiras 24 horas) durante o período de Janeiro/2012 a Dezembro/2013. Colhidos dados clínicos e endoscópicos. Resultados: Nos últimos dois anos foram realizadas 445 CPRE´s no nosso serviço. Destas 46 (10%) foram consideradas urgentes. Os diagnósticos obtidos foram coledocolítiase (50%, n=23), estenose maligna das vias biliares (22%, n=10, das quais 3 foram por obstrução de prótese biliar prévia), pancreatite aguda litiásica grave (7%, n=3), fístula biliar iatrogénica pós-colecistectomia (7%, n=3), estenose benigna das vias biliares secundária a pancreatite crónica (4%, n=2), colecistite aguda (4%, n=2) e compressão da via biliar secundária a volumoso divertículo de D2 (2%, n=1). Em 2 exames não foi possível o diagnóstico. Foi realizada terapêutica em 96% dos exames (n=44): esfincterotomia (78%, n=36) precedida de pré-corte em 47% dos casos, colocação de prótese biliar (24%, 5 próteses plásticas e 6 metálicas) e remoção de cálculos com cesto de Dormia ou balão (57%, n=26). Em 24% dos doentes foi necessário internamento em unidade de cuidados intensivos por choque séptico, verificando-se 2 óbitos. Todos os doentes iniciaram antibioterapia prévia, obtendo-se exames culturais positivos em 41% dos doentes. Não se verificou nenhuma complicação associada à técnica. Conclusão: A realização de CPRE de urgência exige disponibilidade técnica e de recursos humanos, nem sempre possível. No nosso centro a existência de CPRE de urgência mostrou ser de manifesta utilidade na terapêutica e provavelmente também na evolução clínica favorável deste grupo de doentes. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada, EPE 173 P80 CPRE EM DOENTES COM BILLROTH II – REVISÃO DE 15 EXAMES Costa Santos V., Ávila F., Massinha P., Nunes N., Rego A.C., Pereira J.R., Paz N., Duarte M.A. Introdução e Objetivos: A CPRE em doentes com gastrectomia parcial e reconstrução tipo Billroth II é tecnicamente mais difícil, estando descritas taxas de sucesso variadas, entre 50 e 90%. No presente trabalho pretende-se efetuar uma análise das CPRE realizadas em doentes com Billroth II, no que respeita aos métodos/técnicas/acessórios utilizados, dificuldades encontradas, taxa de sucesso e complicações. Material e Métodos: Foi realizada uma análise retrospectiva das CPRE realizadas no serviço, entre Janeiro de 2011 e Dezembro de 2013, em doentes com Billroth II. Resultados: Foram incluídos 15 exames, em 12 doentes (nove homens e três mulheres), com uma média de idades de 71 anos. Utilizou-se o duodenoscópio em 12 exames, três dos quais com fio-guia previamente colocado na ansa aferente, o colonoscópio pediátrico em dois exames e o endoscópio num exame. A entubação da ansa aferente foi conseguida em todos os doentes e num doente não se acedeu à papila por estenose duodenal. Em 60% dos casos foi realizado pré-corte para canulação, três dos quais sobre prótese no Wirsung, e em dois realizou-se dilatação da papila sem esfincterotomia prévia para acesso à via biliar. Em nove exames (60%) a CPRE foi bem sucedida num primeiro tempo. Não se conseguiu concluir o exame em seis casos por incapacidade de efetuar canulação seletiva (cinco exames) ou estenose duodenal (um exame). Foi realizado um segundo exame em três doentes, todos bem sucedidos. Obteve-se uma taxa de sucesso global de 80%. Um exame foi interrompido por instabilidade hemodinâmica do doente e noutro registou-se hemorragia auto-limitada após dilatação da papila. Não se registou nenhum caso de perfuração. Conclusões: A CPRE é eficaz e segura em doentes com Billroth II. A escolha da técnica mais apropriada em cada caso parece ser a melhor forma de aumentar a taxa de sucesso nestes doentes e evitar complicações. Hospital do Divino Espírito Santo de Ponta Delgada 174 P81 ECOENDOSCOPIA COM PUNÇÃO ASPIRATIVA NA ABORDAGEM DE MASSAS PANCREÁTICAS – EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Figueiredo P., Meira T., Ramos L., Barosa R., Pinto-Marques P., Brito M.J., Freitas J. Introdução e objectivos: A ecoendoscopia (USE) tem um papel fundamental no diagnóstico de massas pancreáticas, sendo complementada pela realização de punção aspirativa com agulha fina (PAAF) para obtenção de dados citohistológicos. Descrevemos a casuística da abordagem complementar de USE-PAAF num centro terciário, durante um período de 52 meses. Material: Estudo retrospectivo (Janeiro 2009 a Abril 2013) de doentes com massas pancreáticas avaliados por USE-PAAF na nossa instituição. Avaliaram-se: história pessoal de neoplasia extra-pancreática e clínica exibida pelos doentes, resultados e necessidade de repetição da PAAF, bem como complicações decorrentes do procedimento. Resultados: Analisaram-se dados de 172 doentes (88 homens, 84 mulheres; idade 66,6 ± 11,8 anos). Em 14% dos doentes havia antecedentes de neoplasia extra-pancreática. O sintoma principal dos doentes foi a icterícia em 32% e a dor abdominal em 22,7%. Em 45,3% dos casos os doentes estavam assintomáticos. Os diagnósticos de PAAF foram: adenocarcinoma (65,9%), tumor neuroendócrino (8,2%) e outros (8,2%). Em 17,6% dos casos a análise da amostra obtida por PAAF foi inconclusiva. Em 6,5% dos doentes foi repetida a USE para realizar nova PAAF. Verificaram-se 2 pancreatites pós-PAAF (1,2%) neste período. Conclusões: Na nossa instituição a USE-PAAF na avaliação de massas pancreáticas registou uma elevada taxa diagnóstica e uma reduzida taxa de complicações, em concordância com os dados reportados na literatura. Hospital Garcia de Orta 175 P82 ECOENDOSCOPIA E ENDOMETRIOSE PÉLVICA Magalhaes MJ, Castro-Poças F, Araújo T, Ferreira D, Lago P, Moreira T, Pedroto I INTRODUÇÃO: A endometriose é, por vezes, uma causa subdiagnosticada de sintomas gastrointestinais em mulheres e, frequentemente, de difícil diagnóstico. A ecoendoscopia (EE), com ou sem punção aspirativa por agulha fina (PAAF), pode ser utilizada para fazer o diagnóstico e/ou caracterizar o envolvimento da parede intestinal pela endometriose pélvica, bem como excluir outras patologias.OBJECTIVO: Descrever a experiência e o contributo da utilização da EE na suspeita de endometriose pélvica.MÉTODOS: Foi efectuada uma análise retrospectiva às EE realizadas por suspeita de endometriose, entre 2000 e 2013, analisando as características das pacientes, das lesões e, quando possível, comparando os resultados da EE com os da ressonância magnética (RMN).RESULTADOS: No período definido, 42 pacientes com idade média de 36 (±7) anos foram submetidas a EE por suspeita de endometriose pélvica. Destas, 12 tinham colonoscopia prévia com achados anormais: abaulamento da transição rectosigmoide (n=3), abaulamento do recto (n=8) e angulação fixa da transição rectosigmoide (n=1). Nas 42 EE realizadas, 29 tinham resultados anormais, sendo que em 5 casos não havia infiltração da parede digestiva. Nas restantes 24, documentaram-se lesões com envolvimento da parede rectal ou da transição rectosigmoide, com tamanho médio de 28,4x12,3 mm. Destas, 4 eram intrínsecas à parede rectal (muscular própria) e 20 apresentavam componente extraluminal com invasão da parede rectal e/ou da transição rectosigmoide (14 com invasão da camada muscular própria e 6 com invasão da submucosa). Em 8 doentes realizou-se PAAF guiada por EE por dúvidas diagnósticas. Os resultados citológicos permitiram excluir outros diagnósticos. Nas doentes que realizaram simultaneamente EE e RMN houve concordância entre os dois métodos de imagem, à excepção de 6 casos.CONCLUSÃO: A EE permitiu identificar lesões fortemente sugestivas de endometriose na maioria dos exames realizados, bem como excluir outras possibilidades diagnósticas, assumindo assim uma forte relevância no diagnóstico e localização desta patologia. Centro Hospitalar do Porto-Hospital de Santo António 176 P83 ECOENDOSCOPIA E CISTOS DE DUPLICAÇÃO Magalhaes MJ, Castro-Poças F, Araújo T, Lago P, Moreira T, Pedroto I INTRODUÇÃO: Os cistos de duplicação são anomalias congénitas raras, podendo afectar qualquer parte do tracto digestivo. Nos adultos são geralmente achados endoscópicos ou imagiológicos que por vezes constituem desafios diagnósticos e podem cursar com graves complicações. OBJECTIVO: Descrever a experiência dum centro no diagnóstico dos cistos de duplicação através da ecoendoscopia alta (EE). MÉTODOS: Realizou-se uma análise retrospectiva às EE realizadas entre 2000 e 2013, cujo diagnóstico foi cisto de duplicação, caracterizando-se os doentes e os achados endoscópicos/imagiológicos. Analisou-se o contributo diagnóstico da punção aspirativa por agulha fina (PAAF). RESULTADOS: Entre 2000 e 2013, 23 pacientes (16 homens (69,6%)), com idade média de 51,9 ± 15,9 anos, foram submetidos a EE, cujo diagnóstico final foi de cisto de duplicação. Previamente à EE: 19 realizaram endoscopia digestiva alta (EDA), 13 dos quais por sintomas como dispepsia (n=9) e disfagia (n=4). Das 19 EDA, 3 não apresentavam alterações endoscópicas e em 16 havia suspeita de lesão subepitelial (10 esofágicas); Quatro doentes tinham estudo por tomografia axial (TAC), 2 dos quais com suspeita de cistos de duplicação esofágicos. Na EE foram detectadas 16 lesões anecogénicas com critérios ecoendoscópicos de cisto de duplicação no esófago (tamanho médio 24,2x14,2 mm; 7 com material ecogénico no interior) e 7 no estômago (tamanho médio 23,6x14,1 mm; 2 com conteúdo fluído e septos). Por dúvidas diagnósticas, realizaram-se 8 PAAF (5 no esófago), em 75% dos casos através de uma passagem de agulha de 22G. Houve confirmação citopatológica em 3 casos, e excluídas outras entidades em outros 3 casos. Quatro doentes fizeram TAC posteriormente à EE, havendo concordância diagnóstica num caso. Foi feita vigilância por EE anual a 9 doentes, registando-se estabilidade morfodimensional em todos. CONCLUSÕES: A EE desempenha um papel central no diagnóstico, e vigilância, de uma entidade que, apesar de rara, tem riscos e complicações graves descritas. Centro Hospitalar do Porto-Hospital de Santo António 177 P84 PUNÇÃO ASPIRATIVA POR AGULHA FINA DE LESÕES PANCREÁTICAS GUIADA POR ECOENDOSCOPIA – FACTORES PREDITIVOS DE SUCESSO DIAGNÓSTICO Rodrigues-Pinto E., Lopes S., Santos-Antunes J., Vilas-Boas F., Lopes J., Baldaque-Silva F., Peixoto A., Silva M., Macedo G. Introdução e Objectivo: A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada por ecoendocopia é fundamental no diagnóstico de lesões pancreáticas. O rendimento diagnóstico do procedimento é influenciado por múltiplos factores. O objectivo foi avaliar a acuidade diagnóstica e determinar as características da lesão/procedimento associadas a maior rendimento da PAAF. Métodos: Estudo transversal das ecoendoscopias onde se procedeu a PAAF (Cook Medical®) de lesões pancreáticas entre 2011 e 2013. Resultados: Dos 148 doentes avaliados, 45% tinham lesões císticas. Relativamente às lesões císticas, a PAAF obteve material cito/histológico compatível com cisto em 72% dos procedimentos, de forma mais significativa nas lesões maiores (40mm vs 27mm, p=0.006), homogéneas (87% vs 56%, p=0.007, OR 2.1), bem delimitadas (84% vs 48%, p=0.002, OR 2.76); o calibre da agulha (p=0.401), a utilização de ProCore (p=0.346), a realização de exame extemporâneo (p=0.876) e a repetição do procedimento (p=0.167) não influenciaram a acuidade. A PAAF permitiu o diagnóstico definitivo em 48% das lesões sólidas, com acuidade superior nas lesões maiores (39mm vs 31mm, p=0.03), lesões hipoecóicas (p=0.009), nos doentes sem doença pancreática prévia (68% vs 10%, p=0.002, OR 8.4), sem atrofia pancreática (54% vs 21%, p=0.028, OR 3.40). A utilização de agulha ProCore e a realização de exame extemporâneo levou a um ligeiro aumento da acuidade diagnóstica, sem significado estatístico (respectivamente, 52% vs 46%, p=0.631 e 57% vs 45%, p=0.342); a acuidade diagnóstica não foi influenciada pelo calibre da agulha (p=0.741), localização da lesão (p=0.332) nem pela repetição do procedimento (p=0.341). Na analise de regressão logística, o tamanho foi a única variável que se associou a maior acuidade diagnóstica (p=0.038; OR 1.05). Conclusões: Neste grupo de doentes, o tamanho da lesão foi a variável associada a maior acuidade diagnóstica da PAAF, não se observando diferenças significativas com o calibre da agulha ou a realização de exame extemporâneo. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 178 P85 SEGURANÇA EM ECOENDOSCOPIA: EXPERIÊNCIA DE QUASE UMA DÉCADA Sousa P., Ministro P., Portela F., Silva A. Introdução: A ecoendoscopia tornou-se uma técnica com grande impacto, auxiliando no diagnóstico e terapêutica de várias patologias. Com este estudo pretendeu-se avaliar a sua segurança. Métodos: Estudo retrospectivo incluindo os doentes que realizaram ecoendoscopia alta (eco-EDA), baixa (eco-EDB) ou ano-rectal (eco-EDAR) entre 01/03/2005 e 28/02/2014, com ou sem punção aspirativa guiada por agulha fina (PAAF). Todos os exames seguiram um protocolo específico, incluindo recorrer ao hospital em caso de complicação. Resultados: Realizaram-se 1214 ecoendoscopias (817 eco-EDA; 271 eco-EDB; 126 eco-EDAR) em 1004 doentes, com idade média de 63 anos. A principal indicação para eco-EDA foi caracterização de lesões subepiteliais/abaulamentos (35%); para eco-EDB foi estadiamento de neoplasias rectais (82%); e para ecoEDAR foi caracterização de doença perianal (63%). Até 06/08/2013 as eco-EDA foram realizadas sob sedação ligeira com midazolam. A partir dessa data passaram a ser realizadas sob sedação profunda com apoio de anestesista. Nas eco-EDA realizadas sob sedação ligeira o exame foi inconclusivo em 22 doentes por intolerância. Em todos os exames sob sedação profunda foi possível observação adequada. Foram realizadas 139 PAAF (128 eco-EDA, 11 eco-EDB), com sucesso técnico (definido como obtenção de material) em 97% dos casos. Todos os casos de insucesso guiados por eco-EDA foram efectuados sob sedação ligeira. Realizaram-se também 5 bloqueios do plexo celíaco por dor oncológica e 2 drenagens de pseudoquistos pancreáticos. Nas ecoendoscopias, a única complicação de relevo foi uma luxação de mandíbula durante procedimento sob sedação ligeira. Nas ecoendoscopias com PAAF verificaram-se duas complicações (1% dos procedimentos), designadamente uma punção acidental da via biliar principal e uma hemorragia. Ambas ocorreram em punções de lesões sólidas pancreáticas realizadas sob sedação ligeira; nenhuma necessitou de cirurgia. Conclusões: A ecoendoscopia, com ou sem PAAF, é um procedimento seguro. A sua realização sob sedação profunda aumenta a eficácia diagnóstica e diminui os riscos associados. Centro Hospitalar Tondela-Viseu 179 P86 ACUIDADE DIAGNÓSTICA DA PUNÇÃO GUIADA POR ECOENDOSCOPIA DE ADENOPATIAS: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Elvas L., Brito D., Carvalho R., Areia M., Alves S., Saraiva S., Pontes J.M., Cadime A.T. Introdução: A punção aspirativa por agulha fina guiada por ecoendoscopia (PAAF-EE) tem assumido um papel cada vez mais relevante no estudo de adenopatias, contribuindo de forma decisiva para o diagnóstico e estadiamento de doenças malignas. Objetivo: Avaliar a acuidade da PAAF-EE no diagnóstico de adenopatias. Material e métodos: Análise retrospetiva das PAAF-EE realizadas entre 04/2006 e 05/2013 no nosso Serviço. Avaliadas as indicações, características demográficas, aspeto ecográfico e os resultados citológicos/histológicos. O teste de referência foi a peça operatória e/ou seguimento clínico. Estatística com teste do Chi-quadrado. Resultados: Efetuadas 22 PAAF-EE em 22 doentes, idade 60±9,5 anos, 14 (64%) do sexo masculino. Mediana de 3 [1-5] passagens com agulha de 22G por procedimento. Tamanho mediano das lesões 22mm [4-60]. A localização das adenopatias puncionadas foi: Mediastínicas – 6; Abdominais – 12; Pélvicas – 4. Indicações e diagnósticos: investigação de adenopatias de origem desconhecida – 7 (3 linfomas; 2 adenocarcinomas pulmonares; 1 falso positivo; 1 material insuficiente); exclusão de envolvimento neoplásico ganglionar – 15 (exclusão – 5; confirmados – 8; falso negativo para envolvimento ganglionar – 1; material insuficiente – 1). Para o diagnóstico final da PAAF-EE verificou-se uma sensibilidade de 81%, especificidade 83%, valor preditivo positivo 93%, valor preditivo negativo 63% e acuidade 83%. Não se registaram complicações. O estudo estatístico não revelou diferenças significativas entre as punções diagnósticas e não-diagnósticas relativamente ao número de passagens da agulha (?2 vs. >2; 22% vs. 15%; p=1,0), tamanho (?20 vs. >20mm; 18% vs. 18%; p=1,0) ou localização das adenopatias (pélvicas vs. mediastínicas e abdominais; 25% vs. 17%; p=1,0). Conclusão: A PAAF-EE mostrou ser uma técnica relevante e segura no estudo de adenopatias, tanto nas de origem desconhecida como no estadiamento de neoplasia já conhecida, contribuindo para a decisão terapêutica nestes doentes. Não se identificaram fatores que influenciem a eficácia da técnica. Serviço de Gastrenterologia do IPOCFG, EPE 180 P87 ACUIDADE DIAGNÓSTICA DA PUNÇÃO GUIADA POR ECOENDOSCOPIA EM LESÕES SUBEPITELIAIS DO TUBO DIGESTIVO: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Elvas L., Brito D., Carvalho R., Areia M., Alves S., Saraiva S., Pontes J.M., Cadime A.T. Introdução: A ecoendoscopia (EE) é uma técnica de grande importância na caracterização das lesões subepiteliais do tubo digestivo. A punção aspirativa por agulha fina guiada por ecoendoscopia (PAAF-EE) poderá permitir obter um diagnóstico definitivo dessas lesões. Objetivo: Avaliar a acuidade diagnóstica da PAAF-EE no diagnóstico de lesões subepiteliais. Material e métodos: Análise retrospetiva dos resultados das PAAF-EE realizadas entre 2006 e 2013 no nosso serviço. Foram registadas as características demográficas, o aspeto ecográfico e os resultados citológicos/histológicos. Estatística com teste do Chiquadrado. Resultados: Efetuadas 19 PAAF-EE em 19 doentes, 10 (53%) do sexo feminino, com idade média de 59 ± 13 anos. Mediana de 3 [1-5] passagens com agulha fina de 22G por procedimento. Tamanho mediano das lesões 39 mm [7-164]. Localizações das lesões: Esófago – 3; Estômago – 9; Duodeno – 3; Reto – 4. A acuidade da PAAF em relação ao diagnóstico final (dado pela evolução clínica ou peça cirúrgica) foi: GIST – 70% (7/10); Carcinomas – 66,7% (2/3); Leiomiossarcoma – 0% (0/1); Tumor neuroendócrino – 100% (1/1); Adenoma de glândulas de brunner – 100% (1/1); Endometriose – 100% (1/1). Globalmente, em comparação com a peça operatória ou evolução clínica/imagiológica, a PAAF-EE apresentou uma acuidade diagnóstica de 74%. O estudo estatístico não revelou diferenças significativas entre as punções diagnósticas e não-diagnósticas relativamente ao número de passagens da agulha (?2 vs. >2; 100% vs. 64%; p=0,26) ou tamanho (?30 vs. >30mm; 70% vs. 78%; p=1,0). Não se registaram quaisquer complicações. Conclusão: A PAAF-EE mostrou ser uma técnica segura e relevante no estudo de lesões subepiteliais, com uma boa acuidade diagnóstica. Não se identificaram fatores que influenciem a acuidade da técnica. Serviço de Gastrenterologia do IPOCFG, EPE 181 P88 ECOENDOSCOPIA NO ESTADIAMENTO DE ADENOCARCINOMA DO PÂNCREAS RESSECÁVEL Figueiredo P., Meira T., Ramos L., Barosa R., Pinto-Marques P., Brito M.J., Freitas J. Introdução e objectivos: A ecoendoscopia (USE) tem um papel estabelecido no estadiamento do adenocarcinoma pancreático pela determinação do envolvimento ganglionar, invasão vascular e da ressecabilidade cirúrgica. Sendo reconhecido o potencial da USE na avaliação de pequenas lesões pancreáticas pretendeu-se avaliar a acuidade desta na determinação do T nos tumores submetidos a resecção cirúrgica. Material: Estudo retrospectivo (Janeiro 2009 a Abril 2013) de doentes com adenocarcinoma pancreático avaliados por USE na nossa instituição e submetidos a cirurgia. Foram avaliados os registos clínicos, de ecoendoscopia e anatomia patológica. Todas as USE foram realizadas por um único operador experiente. Determinaram-se medidas de acuidade diagnóstica da EUS por comparação com a peça operatória. Resultados: Analisaram-se dados de 22 doentes (11 homens; idade 65.4 ± 10.7 anos). Todos os doentes apresentavam sintomas: icterícia 81.8% e dor abdominal 18.2%. A distribuição do estadiamento T por USE foi: T1 – 13,6%, T2 – 13,6% e T3 – 72.7%. A sensibilidade/especificidade da USE para T1, T2 e T3 foi de 75%/100%, 33.3%/89.5% e 86.7%/57.1%, respectivamente. Os valores preditivo positivo e negativo foram de 100%/94.7%, 33.3%/89.5% e 81.3%/66.7% para T1, T2 e T3. A acuidade diagnóstica para T1, T2 e T3 foi de 95.5%, 81.8% e 77.3%. Conclusões: Os dados demonstram uma maior acuidade da USE para o estadio T1 de adenocarcinoma pancreático, verificando-se uma menor acuidade nos estadios T2 e T3. Hospital Garcia de Orta 182 P89 APLICAÇÃO DA ULTRASSONOGRAFIA TRANSENDOSCÓPICA NA AVALIAÇÃO DE LESÕES SUBEPITELIAIS Santos-Antunes J, , Lopes S, , Baldaque-Silva F, , Macedo G Introdução e Objectivos: A ecoendoscopia é o método de eleição para avaliação das lesões subepiteliais (LSE) do tubo digestivo. O objectivo deste trabalho foi efectuar uma análise descritiva das ecoendoscopias efectuadas para avaliação de LSE. Métodos: Foram analisadas as ecoendoscopias efectuadas para estudo de LSE, de Junho de 2009 até Fevereiro de 2014. Os ecoendoscópios utilizados foram Olympus GF-UE160 (radial) ou GF-UCT140 (linear), e o ecógrafo um Aloka ProSound alfa-5SV. Resultados: Das 3174 ecoendoscopias, foram selecionadas 379 (12%) que corresponderam a procedimentos efectuados para avaliação de LSE; destes, 253 foram realizados como primeira avaliação, sendo os restantes como exame de controlo. Os doentes eram do género feminino em 57% dos casos, com idade média de 60±15 anos. A média do tamanho das lesões foi de 13±7mm. A maioria das lesões (92%) era assintomática, tendo sido detectadas por endoscopia alta em 97% dos casos. Em 96% dos casos foi utilizado ecoendoscópio radial. As lesões situavam-se no estômago em 54% dos casos (a maioria no antro–34%), seguido do esófago em 28%. A maioria das lesões (39%) localizava-se na submucosa (25% destes pâncreas ectópico, 21% lipomas, 11% GIST; 15% sem diagnóstico ecoendoscópio), 25% na muscular própria (63% GIST, 35% leiomiomas) e 24% na muscular da mucosa (61% leiomioma, 30% GIST). Das lesões gástricas situadas nas camadas musculares, 81% tiveram diagnóstico ecoendoscópico de GIST, enquanto que no esófago 79% foram classificadas como leiomiomas. Dos GISTs, 31% mantiveram seguimento por ecoendoscopia, 24% foram ressecados cirurgicamente e 14% foram puncionados para confirmação diagnóstica. Quando obtido material histológico (PAAF ou exérese) das lesões classificadas como GIST, o diagnóstico foi confirmado em 60% dos casos. Conclusão: A maioria das LSE (57%) são classificadas endoscopicamente como leiomiomas ou GIST. Apenas 17% do total das LSE foram ressecadas. No total, houve concordância entre diagnóstico ecoendoscópico e histológico em 70% dos casos. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 183 Fígado P90 VALORES DE CA 19-9 MAIS ELEVADOS ASSOCIAM-SE A USE-PAAF DIAGNÓSTICA DE ADENOCARCINOMA DO PÂNCREAS Barosa R, Roque Ramos L, Figueiredo P , Meira T, Pinto Marques P, Freitas J Introdução e Objectivos: A sensibilidade e acuidade da punção aspirativa com agulha fina (PAAF) por ultrassonografia endoscópica (USE) descritas na literatura é 60-90% e 60-95%, respectivamente. O calibre e tipo de agulha utilizado, o número de passagens e a disponibilidade de anatomo-patologista na sala aumentam a acuidade diagnóstica. O CA 19-9 correlaciona-se positivamente com o estadio do adenocarcinoma pancreático. A relação entre o CA 19-9 e a rentabilidade da PAAF não é conhecida. Métodos: Análise retrospectiva de 293 doentes com lesões nodulares do pâncreas diagnosticadas entre Janeiro de 2009 e Maio de 2013. Seleccionados 87 doentes submetidos a primeira USE-PAAF. Comparada a mediana e analisada como variável dicotómica ( ?1000 ou <1000 U/L) a expressão do CA 19-9 em dois grupos: citologia sugestiva de adenocarcinoma (grupo 1) e citologia inconclusiva (grupo 2). Sumário de Resultados: A PAAF foi sugestiva de adenocarcinoma em 69 doentes (idade média 70 anos, 49% do sexo masculino) e inconclusiva em 18 doentes (idade média 67 anos, 56% do sexo masculino). A sensibilidade da USE-PAAF para adenocarcinoma foi 73,4%. A mediana do CA 19-9 no grupo 1 foi 1000 U/L(0-48462 U/L) e no grupo 2 196 U/L(0-7685U/L), p=0,04. No subgrupo com CA 19-9 ?1000 U/L, 7,9% dos exames foram inconclusivos vs. 30,6% quando CA 19-9 < 1000 U/L (p=0,009). Conclusões: Os doentes com PAAF conclusiva para adenocarcinoma têm valores de CA 19-9 mais elevados. Quando utilizado um cut-off ?1000 U/L a PAAF é com menor frequência inconclusiva. Hospital Garcia de Orta 184 P91 PEARL-III: 12 WEEKS OF ABT-450/R/267+ABT-333 ACHIEVED SVR IN >99% OF 419 NAÏVE HCV GENOTYPE 1B-INFECTED ADULTS WITH OR WITHOUT RIBAVIRIN Ferenci P 1, Nyberg A 2, Enayati P 3, Bernstein D 4, Baruch Y 5, Caruntu FA 6, Chulanov V 7, Janczewska E 8, Younes Z 9, *Marinho R 10, Rizzardini G 11, Gervain J 12, Planas R 13, Moreno C,14 Xie W 15, Collins C 15, Cohen D 15, King M 15, Podsadecki T 15, Reddy KR 16 Background: ABT-450 is an HCV protease inhibitor (dosed with ritonavir 100mg, ABT-450/r) identified by AbbVie and Enanta. ABT-267 is an NS5A inhibitor, and ABT-333 is a nonnucleoside polymerase inhibitor. Genotype 1b(GT1b) infection is the most common subtype globally representing a large unmet need for treatment. In a prior study, 50/50 treatment-naïve subjects with GT1b infection who received this regimen for 12 weeks with or without ribavirin(RBV) achieved SVR. We report findings from a multinational phase 3 trial of co-formulated ABT-450/r/ABT-267 and ABT-333, with and without RBV, in non-cirrhotic treatmentnaïve HCV GT1b-infected adults. Methods: PEARL-III was a double-blind controlled trial. Subjects were randomized (1:1) to 12 weeks of treatment with ABT-450/r/ABT-267(150mg/100mg/25mg QD) and ABT-333(250mg BID), with weight-based RBV(1000mg or 1200mg daily divided BID, Arm A) or placebo for RBV(Arm B). Results: 419 subjects received the regimen. SVR12 rates (intent-to-treat) were 99.5%(Arm A) and 99.0%(Arm B). Baseline characteristics including age, sex, race, IL28B genotype, and fibrosis stage were not associated with lower response with either regimen. 19 subjects in Arm A and 0 in Arm B(P<0.001) had haemoglobin <10g/dL. RBV dose modifications occurred in 19 subjects due to adverse events; all achieved SVR12. The most common adverse events in Arms A and B were headache(24.3% vs. 23.4%) and fatigue(21.4% vs. 23.0%). No subjects discontinued due to adverse events. Conclusions: ABT-450/r/ABT-267 and ABT-333 was highly efficacious and safe with or without RBV for the treatment of HCV GT1b-infected non-cirrhotic treatment-naïve adults. RBV is not needed in this population. 1Universitaetsklinik fuer Innere Medizin III, Vienna, Austria; 2Kaiser Permanente, San Diego, CA, USA; 3California Liver Institute, Los Angeles, CA, USA; 4 North Shore University Hospital, Manhasset, NY, USA and a multicentric group 185 P92 SAPHIRE II: PHASE 3 PLACEBO-CONTROLLED STUDY OF INTERFERON-FREE, 12-WEEK OF ABT450/R/ABT-267, ABT-333, AND RIBAVIRIN IN 394 TREATMENT-EXPERIENCED ADULTS WITH HEPATITIS C GENOTYPE 1 S Zeuzem1, I Jacobson2, T Baykal3 ,*RT Marinho4, F Poordad5, M Bourliere6, M Sulkowski7, H Wedemeyer8, E Tam9, P Desmond10, D Jensen11, AM Di Bisceglie12, P Varunok13, T Hassanein14, J Xiong3, B DaSilva-Tillmann3, L Larsen3, T Podsadecki3 Background and aims: Efficacy in retreatment of HCV-infected patients is associated with treatment history, with the lowest responses occurring among prior peginterferon/ribavirin null-responders. ABT-450 is an HCV NS3/4A protease inhibitor(dosed with ritonavir 100mg, ABT-450/r) identified by AbbVie and Enanta. ABT-267 is an NS5A inhibitor; ABT-333 is an NS5B RNA polymerase inhibitor. The safety and efficacy of ABT450/r/ABT-267+ABT-333+RBV(3D+RBV) was evaluated among non-cirrhotic peginterferon/ribavirinexperienced, HCV genotype(GT)1-infected patients in an interferon-free phase III trial. Methods: In this double-blind, placebo-controlled trial, prior peginterferon/ribavirin relapsers, partial-responders, or nullresponder patients were randomized(3:1) to receive ABT-450/r/ABT-267(150mg/100mg/25mgQD)+ABT333(250mgBID)+weight-based RBV(Arm A) or matching placebos(Arm B) for 12 weeks. Results: 297 patients received 3D+RBV; 97 received matching placebos. The Arm A(3D+RBV active regimen) SVR12 rate was 96.3%(286/297). 2.4% of patients had virologic failure. SVR12 rates in prior peginterferon/ribavirin relapsers, partial-responders, and null-responders were 95.3%, 100%, and 95.2%, respectively. SVR12 rates were comparable among genotype 1a and 1b patients (96.0% and 96.7%, respectively). The most common adverse events(AEs) in Arm A(3D+RBV active regimen) and Arm B(placebo) were headache(36.4% and 35.1%, respectively) and fatigue(33.3% and 22.7%, respectively); the frequency of these events did not differ significantly between arms(P>0.05). No moderate/severe AEs occurred significantly more frequently in Arm A vs. B(P>0.05). Rates of discontinuation due to AEs were 1.0% and 0% in Arm A(3D+RBV active regimen) and Arm B(placebo), respectively. Conclusions: A multi-targeted antiviral approach combining ritonavir-boosted ABT-450, ABT-267, and ABT333 with ribavirin achieves high SVR12 rates with low rates of treatment discontinuation in treatmentexperienced non-cirrhotic HCV genotype 1-infected patients, including prior null-responders. 1:JW Goethe Univ,Frankfurt 2:Weill Cornell Medical College,NY 3:AbbVie Inc,North Chicago 4:CH Lisboa Norte 5:Texas Liver Inst, Univ Texas Health Science Center,San Antonio 6:Hôpital S.Joseph,Marseille 7:Johns Hopkins University,Baltimore 8:Medizinische Hochschule Hann 186 P93 EFECTIVIDADE DO TRATAMENTO COM SOFOSBUVIR NA HEPATITE C CRÓNICA EM PORTUGAL: TRADUÇÃO ECONÓMICA Félix J. 1, Silva M.J. 1, Ferreira D. 1, Vandewalle B. 1, Aldir I. 2, Carvalho A. 3, Macedo G. 4, Marinho R. 5, Pedroto I. 6, Ramalho F. 5 A hepatite C é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um grave problema de saúde pública. Existem várias alternativas terapêuticas para o tratamento da hepatite C crónica (HCC), incluindo regimes contendo sofosbuvir, um inibidor pangenotípico da polimerase NS5B que apresenta taxas de resposta virológica sustentada mais altas do que as restantes terapêuticas aprovadas, com um excelente perfil de segurança. O presente estudo pretende avaliar o custo-efectividade do sofosbuvir no tratamento de adultos com HCC em Portugal. Os custos e a efectividade foram estimados através de um modelo a tempo discreto. Foram incorporadas diferentes subpopulações de doentes, de acordo com o genótipo do VHC, co-infecção pelo VIH e experiência prévia de tratamento. Os regimes contendo sofosbuvir foram comparados com o regime duplo peginterferão+ribavirina (subpopulações elegíveis/tolerantes ao tratamento com interferão) ou com ausência de tratamento (restantes subpopulações). Foram utilizadas ponderações destas subpopulações (baseadas em dados epidemiológicos nacionais) para obter resultados globais, representativos da população portuguesa. No genótipo 1, considerou-se também a comparação com os regimes triplos contendo boceprevir ou telaprevir. Foram assumidas taxas de actualização temporal de 5%/ano. Na comparação com peginterferão+ribavirina/ausência de tratamento, estima-se que a inclusão de regimes contendo sofosbuvir resulte num aumento de 3,50 anos de vida (AV) e de 3,05 anos de vida ajustados pela qualidade (AVAQ). É também expectável que a inclusão destes regimes leve a um aumento nos custos de 53.928€, o que resulta em razões de custo-efectividade incremental (RCEI; quociente entre a diferença de custos e a diferença de efectividade – AV ou AVAQ) de 15.407€/AV e 17.698€/AVAQ. Na comparação com o regime triplo contendo boceprevir, obtiveram-se RCEI de 8.514€/AV e 9.760€/AVAQ e, na comparação com telaprevir, de 14.620€/AV e 16.498€/AVAQ. Perspectiva-se que a inclusão de regimes terapêuticos contendo sofosbuvir no tratamento da HCC seja uma decisão custo-efectiva com impacto significativo na saúde pública. 1 Exigo Consultores, 2 Hospital Egas Moniz, 3 Hospitais da Universidade de Coimbra, 4 Hospital São João, 5 Hospital Santa Maria, 6 Hospital Geral de Santo António 187 P94 A NECROPTOSE CONTRIBUI PARA A PATOGÉNESE DA DOENÇA HEPÁTICA CRÓNICA Afonso M.B. 1, Rodrigues P.M. 1, Caridade M. 1 , Cortez-Pinto H. 3,4 , Castro R.E. 1,2, Rodrigues C.M.P. 1,2 A necrose dos hepatócitos é uma característica patológica transversal à maioria das doenças hepáticas. A necrose regulada ou necroptose é um novo tipo de morte celular programada, independente da ativação das caspases, cuja morfologia é semelhante à da necrose. Este trabalho teve como objetivo avaliar o papel da necroptose em indivíduos com doença hepática crónica. A expressão de RIP3, um mediador essencial da necroptose, foi avaliada por imunohistoquímica em biópsias hepáticas controlo (n=5), bem como em biópsias de doentes com esteatose (n=5), esteatohepatite não alcoólica (EHNA; n=11), esteatohepatite alcoólica (n=5), cirrose biliar primária (n=5), hepatite B (n=5) e hepatite C (n=4). Além disso, marcadores de necrose foram analisados no soro de indivíduos saudáveis (n=5) e no soro de doentes com esteatose (n=29) e com EHNA (n=15). Em estudos in vitro, hepatócitos primários de rato foram expostos ao ácido palmítico, ou ao TNF-alfa/ciclohexamida, na presença ou ausência de um inibidor das caspases. Em algumas experiências, um inibidor da necroptose, a necrostatina-1, foi também incluído no meio de incubação. Os nossos resultados demonstram que a RIP3 estava fortemente expressa no fígado de doentes com patologia hepática crónica, independentemente da etiologia. Mais ainda, marcadores periféricos de necroptose, como as proteínas CK18-M65, HMGB1 e CyP A, para além de enzimas hepáticas, como as transaminases, estavam significativamente aumentadas no soro de doentes em diferentes estadios de fígado gordo não alcoólico, sugerindo necrose hepática. In vitro, o ácido palmítico e o TNF-alfa/cichohexamida induziram necroptose, independente da ativação da caspase-3, bem como produção aumentada de espécies reativas de oxigénio e de RIP3. Estes eventos foram inibidos pela necrostatina-1 e pela depleção genética de RIP3. Em conclusão, a necroptose parece desempenhar um papel ativo na patogénese da doença hepática crónica, devendo por isso ser considerada como um potencial alvo terapêutico. (Financiado por FCT PTDC/SAU-ORG/119842/2010, HMSP-ICT/0018/2011 e SFRH/BD/91119/2012). 1Instituto de Investigação do Medicamento (iMed.ULisboa) e 2Departmento de Bioquímica e Biologia Humana, Faculdade de Farmácia; 3Gastrenterologia, Hospital de Santa Maria e 4IMM, Faculdade de Medicina, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal. 188 P95 A VIA DAS PENTOSES DE FOSFATO NA DISFUNÇÃO HEPÁTICA: SERÃO OS POLIÓIS BIOMARCADORES DE PROGRESSÃO E/OU SEVERIDADE NA DOENÇA HEPÁTICA? R. Ramos1, I. Tavares de Almeida1, H. Cortez-Pinto2 Introdução: A via das pentoses de fosfato (PPP) tem duas funções essenciais: a formação de ribose-5fosfato e a redução de NADPH. As enzimas transcetolase (TKT) e transaldolase (TALDO) são as protagonistas do ramo não oxidativo da PPP. A TKT é uma enzima dependente da tiamina e Ca2+, e a deficiência em tiamina ocorre frequentemente em doentes com historial de dependência de álcool. Recentemente, vários estudos, em ratinhos deficientes Taldo1, demonstraram, uma associação entre o desenvolvimento de esteatohepatite não alcoólica (NAFLD) e a deficiência em TALDO. Objectivos: Avaliar a importância dos metabolitos intermediários da PPP como possíveis biomarcadores de progressão e/ou severidade na doença hepática. Material e métodos: Foram incluidos neste estudo catorze doentes: onze casos diagnosticados com cirrose alcoólica (CA) e três com NAFLD. Os metabolitos intermediários da PPP (açúcares e polióis urinários) foram analisados por cromatografia gasosa (GC-FID), após extração prévia e derivação das amostras. Resultados: De entre os onze doentes do grupo CA, quatro doentes (dois com carcinoma hepatocelular; um em estado de cirrose descompensada e um doente não-abstémico) apresentaram uma excreção generalizadamente aumentada dos metabolios intermediários da PPP, nomeadamente: ribitol, arabitol e eritritol. Os restantes sete doentes (com CA compensada), e os três doentes com NAFLD, não apresentaram alterações no perfil destes metabolitos. Conclusões: O aumento de excreção dos intermediários da PPP foi exclusivamente observado nos doentes em que a doença hepática não estava controlada. Este fato aponta para um importante papel destes metabolitos como biomarcadores preditivos de progressão da doença hepática. Outro estudo, incluindo um maior número de doentes é imperativo para suportar os nossos resultados preliminares. A disrupção dos mecanismos regulatórios da PPP tem de ser tomada em consideração, após a exclusão da possível presença de defciência em vitamina B1. Assim, a análise dos metabolitos intermediários da PPP sugerem ser cruciais para um follow-up da evolução da doença e/ou intervenção terapêutica. 1. Metabolism & Genetics group, iMed.UL, Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa 2. Departamento de Gastrenterologia, Unidade de Nutrição e Metabolismo, IMM, Lisboa 189 P96 PREVALÊNCIA DA DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM DOENTES COM CIRROSE COMPENSADA Giestas S., Campos S., Alves A.R., Oliveira A., Agostinho C., Sofia C. Introdução: a diabetes mellitus tipo 2 (DM) é uma doença crónica em larga expansão em todo o mundo. A sua prevalência é elevada em doentes com doença hepática crónica (DHC) comparativamente à população geral sobretudo nos doentes com DHC descompensada. Vários estudos associam a DM nos doentes com DHC a um aumento do risco de complicações da cirrose. Objetivos: avaliar prevalência de DM em doentes com DHC compensada. Doentes e métodos: estudo prospetivo de doentes seguidos em consulta externa com diagnóstico de DHC compensada. Critérios de diagnóstico (segundo OMS): DM - glicemia em jejum maior ou igual a 126mg/dl; Anomalia da glicémia em jejum (AGJ) - glicemia em jejum entre 110mg/dl e 125mg/dl. Resultados: dos 53 doentes (sexo masculino 81%, idade média 59,7±9,8 anos, etiologia etílica 75,5%, Child-Pugh A 79,2%) incluídos 14 (25,4%) apresentaram critérios de diagnóstico de DM, 11 (20,7%) de AGI e 25 (47,2%) eram euglicemicos. Dos doentes com DM 42,8% desconheciam o diagnóstico. Verificou-se prevalência significativamente (p<0,05) mais elevada de DM nos doentes do sexo masculino e com Child-Pugh B. A prevalência da AGI foi significativamente (p<0,05) mais elevada nos doentes com Child-Pugh A. Não se observaram diferenças significativas (p>0,05) no diagnóstico de DM ou AGJ relativamente etiologia, idade e score de MELD. Detetou-se HgA1c>6,5% em 42,8% dos doentes com DM. Síndrome metabólico presente em 28,3% dos doentes. Conclusão: nesta amostra a prevalência de DM em doentes com DHC foi elevada (estudo PREVADIAB: prevalência na população portuguesa 11,7%). Salientase a elevada percentagem de doentes não diagnosticados alertando para importância do rastreio de DM neste grupo de doentes de modo minimizar o risco de pior prognóstico. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 190 P97 CARACTERIZAÇÃO DE DOENTES COM CIRROSE E DIABETES MELLITUS TIPO 2 Giestas S.¹, Campos S.¹, Alves A.R.¹, Oliveira A.¹, Giestas A.², Agostinho C.¹, Sofia C.¹ Introdução: a diabetes mellitus tipo 2 (DM) é considerada uma pandemia em rápida expansão associada a considerável morbi-mortalidade. A sua prevalência é elevada em doentes com doença hepática crónica (DHC) comparativamente à população geral. Objetivos: avaliar características demográficas, clínicas e analíticas de um grupo de doentes com DHC e comparar com um grupo controlo sem doença hepática. Doentes e métodos: estudo prospetivo, caso-controlo de doentes com diagnóstico de DM seguido em consulta de endocrinologia. Incluídos 90 doentes com DM: grupo de estudo 45 diabéticos com DHC; grupo controlo 55 diabéticos sem patologia hepática. Avaliados dados demográficos, co-morbilidades, tempo diagnóstico, terapêutica antidiabética e grau controlo metabólico. Resultados: não se verificaram alterações significativas nos dados demográficos (sexo masculino 77,8 vs 72,7%; idade média 61,4±10,3 vs 64,2±15,7anos) nem no tempo de diagnóstico (11,4±8,3 vs 13±7,4anos) nos dois grupos (p>0,05). O valor médio plasmático de glucose em jejum (187±35,4 vs 206±14,3mg/dl) e nível médio de Hg A1c (7,1±1,3 vs 7,3±1,7%) não deferiram significaticamente (p>0,05) nos dois grupos. Não se constatou prevalência aumentada de DM com mau controlo metabólico (Hg A1c>7%) nos doentes com DHC (p>0,05%). Também não houve diferença significativa no tipo de medicação antidiabética (antidiabéticos orais: 60% vs 67,2%; insulina: 90,9 vs 85,4%) entre os dois grupos (p>0,05). Porém verificou-se insulinização mais precoce (2±1,9 vs 8±2,4 anos após diagnóstico) nos doentes com DHC comparativamente ao grupo de controlo (p<0,05). A síndrome metabólica foi significativamente mais prevalentes no grupo controlo (p<0,05). Conclusão: os resultados deste trabalho não demostram diferenças significativas nos aspetos demográficos, clínicos, laboratoriais e grau de controlo metabólico nos doentes com coexistência de DM e DHC face ao grupo controlo. Apesar de não se ter verificado diferenças no tipo de terapêutica utilizada constatou-se necessidade de insulinização dos doentes com DHC mais precoce (expectável dado o perfil de efeitos secundários dos antidiabéticos orais). Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra¹, Centro Hospitalar Entre Douro e Vouga² 191 P98 AVALIAÇÃO DA DEFICIÊNCIA DE VITAMINA D NA DOENÇA HEPÁTICA Silva M., Cardoso H., Vilas Boas F., Albuquerque A., Macedo G. Introdução e Objetivos: O fígado é um dos principais órgãos envolvidos no metabolismo da vitamina D. Estudos recentes descrevem uma alta prevalência de deficiência de vitamina D nos indivíduos com diferentes doenças hepáticas e hipertensão portal. Os autores propõem-se a avaliar a deficiência de vitamina D nos indivíduos com patologia hepática e a sua associação com parâmetros clínicos e analíticos relacionados com o metabolismo hepático e fosfo-cálcico. Material: Estudo retrospetivo de doentes seguidos na consulta de Hepatologia. Considerou-se como deficiência de vitamina D níveis <20ng/mL. Resultados: Incluíram-se 200 doentes, 128 homens e 72 mulheres, com uma idade média de 54 (±13) anos, sendo que 37,5% dos doentes apresentavam cirrose hepática. As etiologias mais frequentes foram hepatite B (36,5%), etílica (19,5%) e hepatite C (14,5%). Os níveis médios de vitamina D foram 18 (±11) ng/mL, sendo que 61,5% dos doentes da amostra apresentavam deficiência, 79% nos com cirrose hepática e 51% nos sem cirrose. Os parâmetros que se relacionaram com deficiência de vitamina D foram: cirrose hepática (p<0,001), elastografia hepática mais elevada (p=0,001), níveis de albumina inferiores (p<0,001), níveis de bilirrubina superiores (p=0,029) e níveis de cálcio inferiores (p=0,002). Na regressão logística associaram-se de forma independente com a deficiência de vitamina D: presença de cirrose hepática (OR=2,4) e níveis inferiores de cálcio (OR=4,2). Conclusão: A deficiência de vitamina D é muito frequente na patologia hepática, mesmo sem cirrose. A sua deficiência está principalmente associada ao metabolismo do cálcio e à presença de cirrose, provavelmente relacionada com o grau de hipertensão portal. Serviço de Gastrenterologia – Centro Hospitalar de São João, Porto, Portugal 192 P99 DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM DOENTES COM CIRROSE: PREDICTIVO DE PIOR PROGNÓSTICO? Giestas S., Oliveira A., Alves A.R., Campos S., Agostinho C., Sofia C. Introdução: a diabetes mellitus tipo 2 (DM) é um grave problema de saúde pública. A sua prevalência é elevada em doentes com doença hepática crónica (DHC) comparativamente à população geral. Estudos recentes tem demonstrado que a DM é um fator de risco de maior severidade e número de complicações e/ou descompensações da DHC. Objetivos: determinar se a coexistência de DM e DHC está associada a maior gravidade e/ou pior prognóstico da DHC. Doentes e métodos: análise retrospetiva dos registos clínicos de doentes com diagnóstico DHC internados num serviço de gastrenterologia. Os doentes foram divididos em dois grupos: A – com diagnóstico de DM; B – sem critério de diagnóstico de DM. Os dados demográficos, internamentos prévios por descompensação/complicações DHC, causa de internamento, scores gravidade, tempo de internamento e mortalidade foram comparados nos dois grupos. Excluídos processos com dados clínicos incompletos. Resultados: incluídos 88 doentes (A-33; B-55), sexo masculino 87,2%, idade média 60,8±10,6 anos. Relativamente aos dados demográficos, etiologia e gravidade da DHC não se verificou diferença significativa (p>0,05) entre os dois grupos. Nas principais causas de internamento a infeção e carcinoma hepatocelular foram significativamente (p<0,05) mais prevalentes nos doentes com DM enquanto que a hemorragia digestiva e encefalopatia hepática foram significativamente (p<0,05) mais prevalentes nos doentes sem DM. Não houve diferença significativa (p>0,05) entre os diferentes tipos de infeção nos doentes com e sem DM. Também não se constatou diferença significativa (p>0,05) no numero de dia de internamento, taxa de mortalidade e número de internamentos prévios por descompensação da DHC nos dois grupos. Conclusão: nesta amostra não se verificou maior severidade da DHC, porém a coexistência de DM parece ser fator de risco para infeção e carcinoma hepatocelular em doentes com DHC. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 193 P100 TRATAMENTO DE HEPATITE B CRÓNICA COM TENOFOVIR E ENTECAVIR NA PRÁTICA CLÍNICA Cardoso H., Vilas-Boas F., Coelho R., Rodrigues S., Horta Vale A., Araújo F., Macedo G. Introdução: O entecavir (ETV) e tenofovir (TDF) estão recomendados como primeira-linha no tratamento da hepatite B crónica (HBC). O objetivo foi comparar a eficácia e segurança destes análogos na prática clínica. Métodos: estudo retrospetivo, em centro único, de doentes HBC tratados com ETV ou TDF, com análise das respostas bioquímica e virológica. Utilizou-se MDRD para estimar a taxa de filtração glomerular (eGFR). Para estimativa do tempo para negativação viremia utilizaram-se curvas Kaplan-Meier. A=0,05. Resultados: Foram tratados 203 doentes com idade média 51±14 anos, 68% género masculino, com followup mediano 33,2 meses-tabela. Os doentes eram 34% naïve, em 48% falência prévia e 16% fizeram switch programado. Perda de AgHBe ocorreu em 27%, seroconversão antiHBe em 14% e seroconversão anti-HBs em 1%. Nos doentes naïve, a eficácia de supressão vírica foi semelhante (TDF 87%, ETV 84%). Nos doentes experimentados, TDF obteve maior supressão vírica (TDF 85%, ETV 52%,p=0,001) em menor tempo (TDF 12,6, ETV 27,5 meses, p=0,006) e oito doentes suspenderam ETV por falta de eficácia (p<0,001). Os doentes experimentados ETV tinham maior proporção de ADN-VHB>100.000UI/mL (ETV 39%, TDF 17%,p=0,012). Não ocorreu intolerância ETV, cinco doentes (3%) suspenderam TDF devido a hipersensibilidade e três (2%) por nefrotoxicidade. Detectou-se aumento de eGFR média, emparelhada, com TDF (6,2ml/min,p=0,003) e tendência para aumento com ETV (25,5ml/min,p=0,071), sem alteração significativa do fósforo. Na regressão Cox, AgHBe-positivo (OR=3,9), ADN-VHB>100000UI/mL(OR=2,5) e mutações multiresistência (OR=1,7) associaram-se a maior tempo para negativação ADN-VHB. Conclusões: Na prática clínica, ETV e TDF demonstraram eficácia potente no tratamento HBC, sem efeitos adversos na maioria. Apesar dos fatores virológicos serem os principais determinantes da resposta, TDF foi mais eficaz nos doentes experimentados. Idade(anos) Cirrose(%) ETV(n=53) TDF(n=150) p 53 51 0,11 32 23 0,22 AgHBe negativo(%) 77 82 0,62 Naïve(%) 44 30 0,06 Duração tratamento(meses) 33 29 0,23 eGFR inicial(ml/min) 71 88 <0,001 Serviço de Gastrenterologia e Imunohemoterapia. Centro Hospitalar de São João. Faculdade de Medicina do Porto. 194 P101 TENOFOVIR NO TRATAMENTO DA HEPATITE B CRÓNICA: EXPERIÊNCIA DE VIDA REAL Vilas-Boas F., Cardoso H., Coelho R., Rodrigues S., Horta-Vale A., Lopes S., Sarmento J.A., Gonçalves R., Marques M., Pereira P., Macedo G., Introdução e Objectivos: O tenofovir (TDF) está recomendado como terapêutica de primeira linha na Hepatite B crónica (HBC). Neste estudo avaliamos a eficácia e perfil de segurança do TDF na prática clínica. Métodos: Avaliação retrospectiva de 150 doentes com HBC sob terapêutica com TDF entre Dezembro de 2008 e Dezembro de 2013. As respostas virológica, bioquímica e serológica foram analisadas. O MDRD foi usado na determinação da taxa de filtração glomerular (eGFR). As curvas de Kaplan-Meier foram utilizadas para estimativa do tempo para negativação da viremia. Resultados: No total, 150 doentes (idade média 50±14 anos, 65% género masculino, 80% AgHBe-negativo, 23% com cirrose) foram tratados com TDF. Trinta por cento eram naives, 51% tiveram falência de terapêutica prévia e 17% fizeram “switch” programado para TDF. O follow-up mediano foi de 32 meses. Globalmente, a proporção cumulativa de doentes que atingiram níveis indetectáveis de ADN do VHB foi de 81%, com tempo médio estimado para negativação de 12,6 meses. A perda do AgHBe ocorreu em 29% (7/24) dos doentes, 17% (4/24) teve seroconversão para anti-Hbe, a perda do AgHBs ocorreu em 1,4% (2/142) e um doente fez seroconversão para anti-HBs. Relativamente à função renal, detectamos um aumento na eGFR (6,2 ml/min, p=0,003) entre o início da terapêutica e o final do follow-up, sem variação significativa da fosfatémia no mesmo período. Globalmente 94% dos doentes mantém terapêutica com TDF. Cinco (3%) suspenderam devido a hipersensibilidade e três (2%) por toxicidade renal. Na análise multivariada, a presença AgHBe (28 meses versus 7 meses) e viremia basal>100000 UI/mL (24 meses versus 7 meses) estiveram independentemente associadas a tempos mais longos para a negativação do ADN-VHB (p<0.001) Conclusão: O uso do TDF na prática clínica resulta numa potente e significativa redução da carga vírica nos doentes com HBC, não motivando problemas de segurança significativos. Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 195 P102 HEPATITE B CRÓNICA EM PORTUGAL: CARACTERIZAÇÃO E EVOLUÇÃO DE UMA COORTE DE 493 DOENTES Maia L. , Ribeiro A., Ferreira J.M., Moreira T., Pedroto I. Introdução: A hepatite B crónica tem uma evolução variável consoante as características populacionais e virológicas. O conhecimento destas características deverá melhorar a eficácia de seguimento e tratamento dos vários grupos de doentes. Objectivo: Caracterizar a população de doentes seguidos em consulta externa de um hospital português por hepatite crónica B e a sua evolução temporal. Métodos: Coorte retrospectiva de doentes com consulta entre 2011 e 2014 por hepatite B crónica num hospital central (5245 pessoas-ano). Foram estudadas as características demográficas e virológicas e sua relação com os principais outcomes. Resultados: 493 doentes, 59,4% homens, 6,1% imigrantes com idade média na última consulta de 49 anos, seguidos por uma média de 10,6 anos (0,5-31,5 anos). Genótipo testado em 247 doentes (A 29,2%, B 0,4%, C 1,2%, D 59,5%, E 4,1%, F 5,7%). Na apresentação 14,8% eram AgHBe+, tendo 53% feito seroconversão HBe (4%/ano). Doentes AgHBe+ tinham carga viral (CV) à apresentação significativamente mais elevada. Biopsados 88 doentes: METAVIR F0-F1 60,2%, F2-4 39,8%. 137 doentes encontram-se sob tratamento, dos quais 90 com tenofovir e 38 com entecavir; 82% têm CV <20UI/ml e 0.7% >20.000UI/mL. Co-infecção VHC e VHD de 4,5 e 1,4%, respectivamente. São portadores inactivos 42%. Cirrose em 39 doentes (7,2/1000 pessoas-ano) e hepatocarcinoma (CHC) em 8 (1,5/1000 pessoas-ano). Mortalidade global 2,6/1000 pessoas-ano e atribuível 0,9/1000 pessoas-ano. Seroconversão HBs em 3,3/1000 pessoas-ano. Incidência de CHC em não-cirróticos de 0,4/1000 pessoas-ano e em cirróticos 15,5/1000 pessoas-ano. Preditores independentes de mortalidade global: idade, cirrose, CHC e ALT inicial. A CV inicial >2.000UI/mL não foi preditor independente de mortalidade. Preditores independentes de cirrose: ALT, co-infecção VHD e idade. Conclusões: As características demográficas deste coorte estão de acordo com as reportadas na literatura. Os doentes com níveis superiores de ALT na apresentação podem beneficiar de um seguimento mais apertado e intervenção terapêutica precoce. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António, Centro Hospitalar do Porto Instituto de Ciência Biomédicas Abel Salazar, Porto 196 P103 REACTIVAÇÃO DE HEPATITE B EM DOENTE COM SOROLOGIA DE CURA (ANTI-HBC+/ANTI-HBS+) SOB TRATAMENTO ANTI-TNFALFA PARA DOENÇA DE CROHN Sofia Vitor, Paula Moura dos Santos, Rui Tato Marinho, Beatriz Rodrigues, José Velosa Mulher de 44 anos, com antecedentes de doença de Crohn desde 2004 e hepatite B aguda em 2006, com evolução para a “cura” (AgHBs e ADN VHB negativos; anti-HBc, anti-HBe e antiHBs positivos). Medicada com Azatioprina 150mg/dia e Infliximab 5mg/Kg/4 semanas, com início da terapêutica biológica em Janeiro de 2011. Durante o tratamento com estes fármacos observou-se a perda de anti-HBs e depois da 11ª administração de Infliximab, foi detectada elevação assintomática das aminotransferases (4x), gamaglutamiltransferase (2x) e fosfatase alcalina (2x), sem hiperbilirrubinémia. Da investigação efectuada, destacava-se AgHBs, AgHBe, IgM anti-HBc positivos, anti-HBs negativo e ADN-VHB de 122 000 000UI/mL (log10 8,09), compatível com reactivação da hepatite B. Foi suspensa a terapêutica com Azatioprina e Infliximab e iniciado Entecavir 0,5mg/dia. A evolução, ao longo dos 3 meses seguintes, foi marcada por subida das aminotransferases (12x) e, entre a 8ª e a 10ª semana, observou-se icterícia (bilirrubina total de 10,2mg/dL), sem compromisso da função hepática. Actualmente, constata-se boa evolução clínica e analítica, com último doseamento de ADN-VHB de 146UI/mL (log10 2,16), ALT 81U/L e bilirrubina total de 1,15mg/dL. Os dados da literatura relativos à reactivação da hepatite B durante a terapêutica com anti-TNFalfa em doentes com doença inflamatória intestinal são escassos e controversos. Não é consensual o seguimento dos doentes com infecção passada e dita “curada”, particularmente aqueles anti-HBc e anti-HBs positivos, cujo risco de reactivação pode ser uma realidade. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria 197 P104 SEGURANÇA E EFICÁCIA DO TENOFOVIR NO TRATAMENTO DA HEPATITE B NA PRÁTICA CLÍNICA Rodrigues A, Moreira T, Ferreira JM, Pedroto I Introdução: O tenofovir é um potente análogo nucleotídeo recomendado como terapêutica de primeira linha no tratamento da infecção crónica a vírus da hepatite B (VHB). Objectivo : Determinar a eficácia e segurança do tenofovir em doentes com infecção VHB. Métodos: Avaliação retrospectiva da resposta bioquímica, virológica e serológica e efeitos laterais do tratamento com tenofovir em doentes com infecção VHB seguidos na consulta de Gastrenterologia do nosso hospital. Resultados: Foram incluídos um total de 117 doentes tratados com tenofovir, seguidos durante uma mediana de 21 meses, sendo que 89% teve um seguimento superior a 12 meses. A maioria (65%) eram do sexo masculino, com idade média de 45 anos, transmissão vertical em 26%, 70% AgHBe negativo, 76% com genótipo D e 28% naïves a terapêutica. Apresentavam elevação da alanina aminotranferase (ALT) 53%, carga viral > 6 log10UI/ml 28% e cerca de 10% cirrose. Cerca de 79% dos doentes apresentou normalização da ALT e 86% atingiu DNA <20 UI/ml após um mediana de 5 (min:1 – máx:50) meses de tratamento, esta resposta foi de 95% nos doentes AgHBe negativo e de 66% dos doentes AgHBe positivo. Os doentes com carga viral mais elevada (>6 log10UI/ml) apresentaram uma menor probabilidade de resposta virológica (55% versus 99%, p < 0,001). Observou-se seroconversão AgHBe num doente (2,8%) e perda do AgHBs noutro (0,8%). Um doente apresentou variação significativa da função renal (> 0,5mg/dL) relacionada com progressão da doença renal crónica; foi suspensa a terapêutica em dois doentes por disfunção tubular e náuseas significativas. Conclusões: Os estudos fora do contexto dos ensaios clínicos são importantes e necessários por reflectirem de forma mais adequada a realidade da prática clínica. O nosso estudo, à semelhança de outros, demonstrou elevada eficácia e segurança do tenofovir, confirmando os resultados obtidos nos ensaios clínicos. Centro Hospitalar do Porto - Hospital Geral Santo António 198 P105 RAZÕES PARA A REDUZIDA TAXA DE TRATAMENTO DA HEPATITE C: BARREIRAS ULTRAPASSÁVEIS COM AS NOVAS TERAPÊUTICAS? Russo P., Silva M.J., Costa M.N., Mendes M., Duarte P., Esteves J., Calinas F. Introdução e Objectivos: É consensual que apenas uma magra proporção dos doentes com Hepatite C têm sido submetidos a tratamento. Entre as razões apontadas, é usual salientar contra-indicação, receio de evento adverso grave ou simples intolerância ao Interferão (IFN). Antevendo-se a chegada de novas terapêuticas, em particular livres-IFN, importa conhecer as razões do atual não-tratamento e de que modo estas se apagam com a disponibilidade de novos fármacos. Pretende-se conhecer a taxa de tratamento em mono-infectados pelo VHC,identificar as razões para o nãotratamento, escrutinando as ultrapassáveis numa nova era de fármacos. Métodos: Seleccionados consecutivamente 100mono-infectados pelo VHCcom estudo completo (genótipo viral,FibroScan® ou BH e IL28B),avaliados para decisão terapêutica numa consulta de Hepatologia. Foram caracterizadas: variáveis demográficas, do vírus e da doença hepática; a decisão terapêutica e os motivos da mesma. Resultados: Cinquenta e oito doentes apresentavaminfecção por VHC genótipo 1 (43 com G1a; 15 com G1b), 27 com genótipo 3 e 14 com genótipo 4. A maioria (n=54) apresentava estádio fibroseF0-F1;11 doentes F2;9 doentes F3 e 26 doentes F4 (METAVIR). Cinquenta e três doentes não tinham indicação imediata para tratamento, sobretudo por apresentarem doença ligeira. Dos47 doentes com indicação para terapêutica, 9 (6 dos quais F4) apresentavam contraindicação para os esquemas terapêuticos com IFN: 4 por citopenias, 2 por patologia psiquiátrica, 1 por doença autoimune e 2 por outras comorbilidades. Dos restantes, em 16 houve recusa do tratamento/abandono da consulta. Iniciaram terapêutica com PegIFN+RBV 13 doentes, 3 participaram em ensaios clínicos e 6 aguardam novos fármacos. Conclusões: A ausência de indicação para tratamento foi a principal razão para não-tratamento. Em metade dos doentes com indicação para tratamento, o não-tratamento resultou da não-adesão dos doentes.Não ficou claro que a existência de futuros fármacos pudesse modificar a atitude dos infetados perante a doença. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central 199 P106 TERAPÊUTICA DA HEPATITE C COM INIBIDORES DA PROTEASE DE PRIMEIRA GERAÇÃO – AVALIAÇÃO DO PERFIL DE SEGURANÇA T. Moreira, T. Araújo, J. Mendez, A. Paula Tavares, J. Manuel Ferreira, R. Sarmento e Castro, I. Pedroto Introdução: Os inibidores da protease foram aprovados em 2011 para o tratamento da hepatite C-G1, acrescentando uma eficácia de cerca de 30%, contudo associados a taxas elevadas de efeitos adversos (EA). Objectivos: Avaliação da eficácia e segurança da terapêutica tripla em doentes com Hepatite C-G1, que iniciaram tratamento entre Outubro de 2013 e Fevereiro de 2014. Resultados: 30 doentes iniciaram tratamento (TVR:18; BOC: 12); tempo de tratamento: mediana de 14 semanas (min: 4; máx: 22); 80% do sexo masculino, média de idade: 49 anos; 47% eram F3 e 43% eram F4; subgenótipo 1a:50%; 11 doentes naive, 13 doentes recidivantes, 5 doentes não respondedores prévios; a IL28B CC estava presente em 33%. Analiticamente: valores basais de Hb: 15,3 g/dl; PLQ: 170 000 e ARN: 6,45 log. Observou-se resposta virulógica rápida (RVR) em 94% do grupo TVR e 70% do grupo BOC e resposta virulógica rápida extendida (eRVR) 90% e 87,5% respetivamente; 1 doente sob BOC suspendeu terapêutica à S12 de acordo com a regra de paragem. Os efeitos adversos necessitando de intervenção médica ou redução de dose foram observados em 83% dos doentes, sendo os mais frequentes: toxidermia: 8 (rash moderado: 3); infecções: 7; prurido: 6; sintomas anorrectais: 5; síndrome febril prolongado: 3; anemia: 9 (<8,5 g/dl: 3, 8,5-10,5: 6); neutropenia: 4 (< 500 UI/ml: 2); foi necessário reduzir a dose de ribavirina em metade dos doentes, introduzir eritropoietina em 5 e transfundir CED em 3; em 2 doentes utilizamos G-CSF: 2. Foram internados 4 doentes. Os EA implicaram suspensão da em 3 doentes (10%), um por neutropenia grave sem resposta a G-CSF, um por síndrome febril prolongado e um doente abandonou por náuseas e vómitos. Conclusões: Observamos uma taxa elevada de RVR e eRVR; no entanto a frequência dos EA foi elevada exigindo vigilância clinica e analítica apertadas. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António; Serviço de Infecciologia, Hospital Joaquim Urbano Centro Hospitalar do Porto 200 P107 O APRI É UMA FERRAMENTA ÚTIL NO ESTADIAMENTO E PREVISÃO DAS COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À DOENÇA HEPÁTICA CRÓNICA PELA HEPATITE C GENÓTIPO 1 Rodrigues-Pinto E., Cardoso H., Coelho R., Andrade P., Macedo G. Introdução e Objectivo: São escassos os dados relativos à previsão de sobrevivência a longo prazo pelo APRI na hepatite C (VHC). Avaliar o valor prognóstico do APRI na evolução da VHC e no desenvolvimento de complicações. Métodos: Estudo transversal de doentes com diagnóstico de novo de VHC genótipo 1, seguidos na consulta de hepatologia dum hospital terciário entre 2006 e 2013. Resultados: O APRI mediano dos 274 doentes seguidos foi 0.987. Verificou-se uma correlação positiva entre o Metavir e o APRI (p<0.001), correspondendo ao F0/1 um valor de 0.674 [P25-75: 0.446–1.243], ao F2 um valor de 0.832 [P25-75: 0.571–1.598], ao F3 um valor de 0.987 [P25-75: 0.477–2.126] e ao F4 um valor de 2.135 [P25-75: 1.245–3.619]. O APRI foi mais elevado nos doentes com carcinoma hepatocelular (CHC) (2.060 [P25-75: 1.017–3.636] vs 0.886 [P25-75: 0.510–1.656], p<0.001), com ascite (2.299 [P25-75: 1.584–4.487] vs 0.867 [P25-75: 0.508–1.570], p<0.001), com encefalopatia (2.463 [P25-75: 1.329–4.088] vs 0.907 [P25-75: 0.511– 1.756], p=0.009), com varizes (2.675 [P25-75: 1.633–4.269] vs 0.860 [P25-75: 0.499–1.449], p<0.001) e com hemorragia digestiva (3.174 [P25-75: 1.849–6.615] vs 0.906 [P25-75: 0.512–1.750], p<0.001). APRI superior a 1.336 prediz cirrose com 73% sensibilidade e 80% especificidade (AUC 0.819 [IC95%: 0.764–0.875]); superior a 1.722 prediz CHC com 67% sensibilidade e 73% especificidade (AUC 0.731 [IC95%: 0.621–0.841]) e varizes com 73% sensibilidade e 80% especificidade (AUC 0.823 [IC95%: 0.759–0.887]); superior a 1.839 prediz ascite com 70% sensibilidade e 80% especificidade (AUC 0.812 [IC95%: 0.740–0.883]) e encefalopatia com 70% sensibilidade e 76% especificidade (AUC 0.745 [IC95%: 0.591–0.898]); superior a 1.994 prediz hemorragia digestiva com 73% sensibilidade e 79% especificidade (AUC 0.837 [IC95%: 0.729–0.944]). Conclusão: O APRI tem um forte valor prognóstico no estadiamento e previsão de complicações da VHC. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 201 P108 FACTORES PREDITIVOS DE RESPOSTA SUSTENTADA AO PEGINTERFERÃO ALFA E RIBAVIRINA NA HEPATITE C GENÓTIPO 1 Rodrigues-Pinto E., Cardoso H., Coelho R., Andrade P., Horta e Vale A.M., Araújo F., Macedo G. Introdução e Objectivo: Até ao advento dos inibidores da protease, o peginterferão alfa e a ribavirina (PR) eram o principal tratamento da hepatite C (VHC). Actualmente, questiona-se quais os doentes que poderão beneficiar desta terapêutica em primeira linha. Avaliar os factores preditivos de resposta virológica sustentada (RVS) ao PR nos doentes com VHC genótipo 1. Métodos: Estudo transversal de doentes com diagnóstico de novo de VHC genótipo 1, tratados com PR na consulta de hepatologia entre 2006 e 2013. Resultados: De um coorte de 274 novos doentes, apenas 32% fizeram tratamento com PR. A idade média dos doentes tratados foi 47 anos [±12], sendo 69% do sexo masculino. Ao diagnóstico, 55% eram estadio F0/F1 ou F2 de Metavir, sendo os restantes estadio F3/F4. Alcançaram RVS 57% dos doentes, mais frequente nos com APRI mais baixo (p=0.015; OR 2.2) e com níveis de ALT mais elevados (125±88U/L vs 90±48U/L, p=0.002; OR 1.02), associando-se ambas de forma independente a RVS na regressão logística. Durante o tratamento, a redução de dose de interferão (IFN) associou-se a pior resposta (61.8% vs 28.6%, p=0.026; OR 3.065 [IC95% 1.064 – 8.828]); a RVS não foi influenciada pela redução da dose de ribavirina. Os doentes com RVS negativaram o vírus mais cedo (84 dias [IC95%: 74.2 – 93.7] vs 155 dias [IC95%: 102.5 – 207.4], p=0.005); viremia negativa à 12ª semana foi predictora de RVS (76.9% vs 13.6%, p<0.001; OR 8.785 [IC95% 2.847 – 27.105]). Apenas 8.5% dos doentes tratados seriam elegíveis para 24 semanas de PR. Conclusões: A RVS é semelhante nos cirróticos e não cirróticos, desde que bem seleccionados. Os níveis de ALT e o APRI foram predictores de RVS. Durante o tratamento, deve evitar-se a redução de dose de IFN. Os doentes com viremia positiva à 12ª semana tiveram uma probabilidade reduzida de RVS. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 202 P109 PAPEL DA RIFAXIMINA NO INCREMENTO DAS CONTAGENS CELULARES NA CIRROSE HEPÁTICA Vilas-Boas F., Cardoso H., Albuquerque A., Santos-Antunes J., Rodrigues-Pinto E., Coelho R., Andrade P., Macedo G. Introdução e Objectivos: A trombocitopenia é uma complicação comum da cirrose e hipertensão portal que pode limitar a realização de procedimentos invasivos ou cirurgias. Além disso, tem sido associada à maior gravidade da hemorragia varicosa e à recidiva hemorrágica precoce. A rifaximina está aprovada para a redução do risco de recorrência da encefalopatia hepática (EH) e alguns trabalhos apontam para a possibilidade de contribuir para a melhoria da trombocitopenia e da função renal através da descontaminação intestinal. Neste estudo avaliamos o possível papel da rifaximina na correcção das citopenias e na melhoria da função renal na cirrose hepática. Métodos: Avaliação retrospectiva de doentes com cirrose e trombocitopenia sob terapêutica com rifaximina para prevenção da EH. A função renal foi estimada com base no MDRD (eGFR). O teste T-student para amostras emparelhadas foi utilizado para comparação de médias das variáveis contínuas. Resultados: De Outubro de 2011 a Janeiro 2014, 33 doentes com cirrose e trombocitopenia (idade mediana 69±10 anos, 70% do sexo masculino) iniciaram rifaximina para profilaxia secundária de EH (13 com trombocitopenia ligeira, 11 com trombocitopenia moderada e 9 com trombocitopenia grave). A dose média de rifaximina prescrita foi de 800 mg/dia [4001200]. Observou-se uma elevação significativa dos níveis médios de plaquetas, após um período médio de 7 semanas de rifaximina, de 76772 para 81663x109/L (p=0,045). As contagens de leucócitos, a hemoglobina e a eGFR não tiveram alterações significativas associadas ao tratamento com rifaximina. Conclusão: À semelhança do sugerido em trabalhos recentes, os nossos dados revelam que o uso da rifaximina pode contribuir para a melhoria da trombocitopenia na cirrose hepática e assim reduzir a morbilidade associada a esta complicação. Serviço de Gastrenterologia - Centro Hospitalar de São João, Porto 203 P110 MORTALIDADE, MORTE PREMATURA E CUSTOS DA DOENÇA HEPÁTICA EM PORTUGAL Sofia Vitor, Rui Tato Marinho, José Giria, José Velosa Objectivo: Estudar algumas variáveis relacionadas com mortalidade, admissão hospitalar e custos directos da doença hepática em Portugal, entre 2000 e 2011. Material e Métodos: Estudo descritivo e retrospectivo, utilizando as bases de dados de 97 hospitais portugueses, bem como os dados do Instituto Nacional de Estatística referentes às causas de mortalidade na população portuguesa. A International Classification of Diseases, Ninth and Tenth Revisions foi utilizada para estabelecer os diagnósticos constantes nas bases de dados hospitalares. As variáveis demográficas, tempo de internamento, letalidade e custos directos do internamento e transplante hepático foram descritos para as diferentes causas de doença hepática, utilizando o Excelv2003. A mortalidade absoluta, causas de morte e perda de anos de vida foram descritos e analisados utilizando o mesmo programa informático. Resultados: A doença hepática foi responsável pela média anual de 11503 altas hospitalares, entre 2000 e 2008. O sexo masculino (70,4%) e o grupo etário entre os 20 e os 64 anos (60,7%) constituíram a maioria da população estudada. No grupo de doentes internados com alta hospitalar, a cirrose alcoólica foi o diagnóstico mais frequente (30,0%). A média do tempo de internamento foi de 10 dias e a mortalidade intra-hospitalar de 13%. O custo dos internamentos variou entre 450 e 1163 Euros, consoante a etiologia da doença hepática. Em 2008, os custos com a transplantação hepática ascenderam aos 15 259 275 Euros. Em termos de mortalidade na população portuguesa, a doença hepática revelou-se responsável por 13 mortes/100 000 habitantes e ocupou a 5ª posição no ranking de doenças com maior número de anos de vida perdidos em 2011. Conclusão: A doença hepática crónica acarreta significativo impacto socioeconómico em Portugal. O controlo dos seus factores de risco, nomeadamente o consumo excessivo de álcool, poderá contribuir para importantes ganhos financeiros e sociais. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria 204 P111 FALÊNCIA HEPÁTICA CRÓNICA AGUDIZADA E MORTALIDADE ASSOCIADA – EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO DE REFERÊNCIA. Carvalho L., Carmo J., Rodrigues R., Loureiro R., Bernardes C., Perdigoto R., Barroso E., Marcelino P. Introdução e Objetivos. A deterioração rápida da função hepática, na presença de um fator precipitante, associada a falência de órgão, em contexto cirrose hepática, carateriza a entidade Acute On Chronic liver failure (ACLF). O tratamento passa pelo suporte de órgão e, frequentemente, pelo transplante hepático. A mortalidade associada ronda os 50%, embora existam poucos dados descritos na literatura, pela dificuldade de caraterização desta entidade.Material e Métodos: incluídos os doentes com ACLF admitidos na Unidade de Cuidados Intensivos dedicada à transplantação hepática (UCI) durante um ano, com ênfase para a interpretação da mortalidade. Destacam-se como variáveis as características gerais (sexo e idade); parâmetros da doença hepática crónica (etiologia e Child-Turcotte-Pugh); fator precipitante; admissão (MELD, creatinina e albumina); transplante hepático. Demonstra-se a relação entre a mortalidade e estas variáveis, algumas potencialmente manipuláveis, na tentativa de melhor compreendermos esta entidade.Resultados. 35 doentes, 37 internamentos, com média etária de 53 +/- 12 anos. Diagnósticos principais: etanol 40%; etanol e VHC 20%; auto-imunidade 20%. Dos fatores desencadeantes destacam-se a infeção, 51%, e os tóxicos, 13%. O MELD médio foi de 29 +/- 8. A mortalidade registada foi de 38%, com a falência multiorgânica como principal causa. O transplante hepático mostrou-se como a terapêutica mais eficaz. Na avaliação da mortalidade: média etária 58 +/-12; etiologia da cirrose hepática, etanol, 43%, autoimunidade, 21% e VHC, 21%; Child-Turcotte-Pugh médio 11; precipitante, infeção, 64%; valores médios à admissão, MELD 33 +/-8, creatinina 1,7 +/-0,7, albumina 2,6 +/-0,7; transplante hepático, 21%.Conclusão. A etiologia a etanol associa-se a maior mortalidade, bem como a infeção como fator precipitante. À admissão o MELD avançado confirma o mau prognóstico, bem como a alteração da função renal e valores mais baixos de albumina. Novas abordagens são essências para lidar com esta entidade. Unidade Hepato-Bilio-Pancreática e de Transplantação do Hospital de Curry Cabral. 205 P112 O MODELO DE RISCO 22/11, EM DOENTES COM CIRROSE E PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA, NÃO PERMITIU ESTRATIFICAR A MORTALIDADE AOS 30 DIAS, NUMA REALIDADE HOSPITALAR NACIONAL Oliveira A.M., Branco J., Lourenço L.C., Sousa Cardoso F. , Alberto S.F., Martins A., Ramos Deus J. Introdução: Numa publicação recente, foi identificado, em doentes cirróticos com peritonite bacteriana espontânea (PBE), um modelo de risco para mortalidade, baseado num score MELD (Model for End-Stage liver disease)?22 e leucócitos séricos?11000uL. Este modelo (22/11) permitiu estabelecer 3 grupos de risco (baixo, intermédio e alto), consoante a presença de nenhuma, uma ou ambas as variáveis. Objetivo: Analisar se o modelo 22/11 poderá ter aplicação numa realidade hospitalar nacional. Métodos: Estudo retrospetivo dos doentes cirróticos internados com PBE, entre 2009 e 2013, num Serviço de Gastrenterologia, com um protocolo de atuação clínica instituído, baseado na administração endovenosa de ceftriaxone empírica e de albumina, conforme orientações clínicas internacionais. Foram analisadas, entre outras variáveis, score MELD?22, leucócitos séricos ?11000uL e mortalidade aos 30 dias. Análise estatística segundo o teste do ?2. IBM SPSS Statistics V20. Resultados: Amostra constituída por 45 doentes (40 do sexo masculino, idade média 58 anos), com um score médio MELD de 20,9 (10-46) e um valor médio de leucócitos séricos de 10595uL (2300-29600uL). Oito doentes tinham carcinoma hepatocelular. Treze (28,9%) doentes desenvolveram síndrome hepato-renal. A mortalidade aos 30 dias foi de 35,6%. Analisando a contagem de leucócitos séricos ?11000uL e score MELD?22 com a mortalidade aos 30 dias, os doentes com nenhuma (n=13), uma (n=10) ou ambas as variáveis (n=23) tiveram uma mortalidade aos 30 dias de 30,8%(n=4); 30,4% (n=7) e 50% (n=5), respetivamente (p=ns). Conclusão: O modelo 22/11 não permitiu estratificar a mortalidade aos 30 dias, nos doentes cirróticos com peritonite bacteriana espontânea, na nossa realidade hospitalar, sobretudo por não se ter identificado nenhum grupo de baixo risco. São necessários estudos com maior número de doentes, antes de se poder validar este modelo para aplicação na prática clínica diária. Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 206 P113 ALTERAÇÃO DOS AGENTES ETIOLÓGICOS DA PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA: IMPORTÂNCIA DOS GRAM POSITIVOS Teixeira C., Martins C., Ribeiro S., Trabulo D., Freire R., Mangualde J., Cardoso C., Gamito E., Alves A.L., Oliveira A.P., Cremers I. Introdução: A peritonite bacteriana espontânea (PBE) é uma complicação comum da cirrose, com uma mortalidade elevada, sendo importante o seu reconhecimento e tratamento precoces. Objectivos: Identificação dos agentes envolvidos nas infecções do líquido ascítico (ILA) em doentes cirróticos, da resposta à terapêutica e de factores prognósticos. Métodos: Análise retrospetiva dos doentes com cirrose e ILA internados entre 2007 e 2013, caracterização da infecção, do agente etiológico, da resposta à antibioterapia e o seguimento dos doentes a 1 ano. Análise estatistica efectuada com SPSS 21. Resultados: Identificaram-se 94 episódios de infecção do líquido ascítico (ILA) em 75 doentes cirróticos, com idade média de 60 anos, 60% do sexo masculino, 56.4% Child-Pugh C e 23.4% Child-Pugh B. A etiologia alcoólica foi a mais comum (69.3%), seguida da hepatite C (8%) e da associação de álcool com hepatite viral (14%). Entre as ILA contabilizaram-se 23 episódios de PBE, 67 casos de ascite neutrocítica e 4 de bacteriascite não neutrocítica. Observaram-se 16 doentes com 2 ou mais episódios de ILA. Foi iniciada antibioterapia empírica em todos os doentes com PMN>250 (cefotaxime em 68%), alterando-se posteriormente a antibioterapia em função da microbiologia em 14% dos doentes. Os agentes etiológicos mais identificados foram E.coli (29.6%), Staphylococcus aureus (14.8%), Streptococcus mitis (11.1%). Observou-se um aumento progressivo da prevalência de ILA por Gram positivos ao longo dos 7 anos, sendo estes agentes responsáveis por 50% das ILA neste período. A mortalidade intra-hospitalar foi 17.3% e a mortalidade a 1 ano foi 33.8%. Verificou-se associação, apenas, entre a mortalidade, a classe de Child-Pugh e a disfunção renal (p<0.05). Conclusão: Nesta série, os agentes Gram positivos foram responsáveis por 50% das ILA, sendo progressivamente mais prevalentes, o que sublinha a importância de rever e adequar a terapêutica nos nossos doentes. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de Setúbal 207 P114 CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA NA PRESENÇA DE OUTRAS DOENÇAS AUTO-IMUNES: UMA REALIDADE DIFERENTE? Coelho R. 1, Peixoto A. 1, Silva M. 1, Rodrigues-Pinto E.1, Horta e Vale A. 1, Cardoso H. 1, Lopes S. 1, Gonçalves, R. 1, Pedro P. 1, Sarmento A., Lopes J. 2, Carneiro F. 2, Macedo G. 1 Introdução e objectivos: A Cirrose Biliar Primária (CBP) caracteriza-se por uma agressão imunológica constante dos ductos biliares intra-hepáticos. Existem descritas na literatura algumas associações com outras doenças auto-imunes (DAI). Os objectivos foram avaliar as DAI associadas à CBP e relacionar a presença das mesmas com variáveis clínicas, analíticas e resposta à terapêutica. Material: estudo transversal de doentes com diagnóstico de CBP seguidos na consulta de Hepatologia, num centro de referência terciário. Resultados: Foram incluídos 87 doentes com o diagnóstico de CBP (5 apresentavam diagnóstico de Síndrome de Sobreposição Hepatite auto-imune/CBP, segundo os critérios de Paris). A maioria era do sexo feminino (91%). Trinta e um porcento apresentavam pelo menos outra DAI, sendo que 8.04% tinham o diagnóstico de pelo menos duas DAI. Nesta série as DAI mais frequentemente identificadas foram n=5 CREST (calcinosis, Raynaud phenomenon, esophageal dysmotility, sclerodactyly, telangiectasia), n=7 Hipotiroidismo e n=4 Lupus Eritematoso Sistémico, n=3 Sindrome de Sjörgen, n=2 Psoríase. A mediana de idade ao diagnóstico é inferior nos doentes sem DAI (56 vs 58, p>0,005) e os valores sérios de FA são superiores nos doentes com DAI (300 vs 233 U/L, p>0.05). A data de diagnóstico o doseamento de imunoglobulina M é superior nos doentes com CBP sem DAI concomitante (IgM: CBP+DAI-71 vs CBP411mg/dL,p>0.05). O perfil de auto-imunidade não varia significativamente nas duas populações no que concerne aos anti-nucleares e anticorpo anti-músculo liso, no entanto a positivadade de Anti-ENA relaciona-se com a presença de DAI (p=0.008). Sessenta e oito porcento dos doentes estavam medicados com ácido ursodesoxicólico, sendo a necessidade de iniciar terapêutica cortióide menos provável na ausência de DAI (CBP-44 vs CBP+DAI-11,p=0.008). Conclusão: As DAI associadas à CBP são relativamente frequente nesta serie. A ausência de DAI está associada a menor necessidade de inicar terapêutica corticóide, não parecendo existir outras diferenças significativas entre as duas subpopulações. 1- Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. 2- Serviço de Anatomia Patológica do Centro Hospitalar de São João, Porto. 208 P115 NÍVEIS DE PROTEÍNA C REATIVA SÉRICA NA INFEÇÃO DO LÍQUIDO ASCÍTICO EM DOENTES CIRRÓTICOS – QUAL O SIGNIFICADO CLÍNICO? Oliveira A.M., Branco J., Lourenço L.C., Alberto S.F., Martins A., Ramos Deus J. Introdução e Objetivos: A proteína C reativa (PCR) é uma proteína de fase aguda, cuja produção pode ser afetada pela função hepática, pelo que o seu significado clínico, nas complicações infecciosas da cirrose hepática, não está esclarecido. O objetivo deste estudo foi avaliar quais as implicações clínicas dos níveis de PCR, nos doentes cirróticos com infeção do líquido ascítico (LA). Métodos: Estudo retrospetivo, em doentes cirróticos internados com o diagnóstico de infeção do LA (PBEPeritonite bacteriana espontânea ou bacteriascite), num Serviço de Gastrenterologia, num período de 5 anos (2009-2013). Foram analisadas as seguintes variáveis: valor máximo de PCR sérica nas primeiras 48h, classificação Child-Pugh, score MELD (Model for End-Stage liver disease), presença de carcinoma hepatocelular , tipo de infeção (PBE ou bacteriascite) e agente isolado no LA. Avaliou-se o desenvolvimento de síndrome hepato-renal e mortalidade intra-hospitalar. Análise estatística com IBM SPSS Statistics V20. Resultados: Incluídos 57 doentes: 51 (89,5%) do sexo masculino, idade média 58 anos (34-82 anos), com uma classificação Child-Pugh médio de 9,5 (B) e um score médio MELD de 20,2 (10-46). Nove (15,8%) doentes tinham carcinoma hepatocelular. O valor médio inicial de PCR foi 6,47mg/dL (<0,29-18,9mg/dL). Em 27 (47,4%) doentes, a cultura do LA foi positiva: 18 Gram positivos; 9 Gram negativos. Dezassete (29,8%) doentes desenvolveram síndrome hepato-renal. A mortalidade intra-hospitalar foi de 31,6%. De entre as variáveis estudadas, apenas se verificou associação entre PCR e o tipo de infeção (PBE/bacteriascite) (Odds ratio [OR], 1,405; IC95%, 1,067-1,850; p=0,015). Não foi demonstrada associação com o desenvolvimento de síndrome hepato-renal nem com a mortalidade intra-hospitalar. Conclusão: Neste estudo, o valor de proteína C reativa não demonstrou ser um fator preditivo de prognóstico nos doentes cirróticos com infeção do LA, não permitindo prever o desenvolvimento de síndrome hepato-renal nem a mortalidade intra-hospitalar. Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 209 P116 ART SCORE E FATORES DE PROGNÓSTICO EM DOENTES COM CARCINOMA HEPATOCELULAR TRATADOS POR QUIMIOEMBOLIZAÇÃO ARTERIAL Cardoso H., Vilas-Boas F., Marques M., Soares C., Melo R.B., Pereira P., Horta Vale A., Andrade P., Silva M., Maia C., Madureira M., Morgado P., Macedo G. Introdução: A quimioembolização arterial (TACE) é a principal terapêutica do carcinoma hepatocelular (CHC) em estadio intermédio BCLC. Recentemente foi proposto o ART score para avaliar o prognóstico após TACE. O objetivo do estudo foi avaliar a eficácia, segurança e fatores prognósticos em doentes CHC tratados com TACE na prática clínica. Métodos: estudo retrospetivo de procedimentos TACE realizados entre Junho 2007 e Outubro 2013 num só hospital, a decisão terapêutica foi definida em consulta multidisciplinar CHC. Avaliação de características dos doentes e CHC, resposta a tratamento (critérios mRECIST, um mês após TACE) e efeitos adversos. Para estimativa de sobrevivência utilizaram-se curvas Kaplan-Meier. A=0,05. Resultados: realizadas 93 TACE em 55 doentes, com idade mediana 71 anos (IQR 15), 85% homens e 98% com cirrose. A mediana de TACE por doente foi 2. As principais causas de doença hepática foram hepatites víricas (51%) e etilismo (28%). O estadio intermédio BCLC foi mais frequente (72%). A duração mediana de internamento foram 2 dias, o síndrome pós-embolização ocorreu em 15% mas sem casos de falecimento. A resposta a tratamento foi completa em 23%, parcial em 51%, doença estável em 13% e progressão em 14%. Os doentes com nódulo único (OR=4,9; p=0,01) apresentaram melhor resposta. A sobrevivência mediana estimada foi de 28,8 meses. Nódulo CHC único (p=0,002), Child-Pugh A (p=0,014), nódulo <5 cm (p=0,024), estadio BCLC (p=0,04) e alfa-fetoproteína <50 ng/mL (p=0,049) foram preditivos de sobrevivência. A resposta a TACE (p=0,001), ausência de síndrome pós-embolização (p=0,002) e ART score <2 (p=0,005) associaram-se a maior sobrevivência. Conclusões: Neste estudo demonstrou-se a eficácia e segurança de TACE, cuja resposta que se associou a maior sobrevivência. A presença de único nódulo CHC foi o principal fator preditivo de resposta. Nesta coorte também se validou o valor prognóstico do ART score, que permite equacionar terapêuticas de segunda linha. Serviços de Gastrenterologia, Cirurgia Geral e Imagiologia. Centro Hospitalar de São João. 210 P117 CARCINOMA HEPATOCELULAR INFILTRATIVO EM FÍGADO NÃO CIRRÓTICO Mocanu I., Pires S., Gonçalves L., Godinho R., Medeiros I. Homem de 92 anos, antecedentes irrelevantes, sem hábitos etanólicos e com análises recentes normais. Internado por dor abdominal desde há duas semanas, sem febre, icterícia ou outras queixas. Apresentava hepatomegália indolor, sem estigmas de doença hepática crónica. Laboratorialmente: INR 1.12, Bilirrubina 1.2, albumina 3mg/dl, AST 11 vezes limite superior do normal (LSN), FA 10 LSN, PCR 33mg/dL sem leucocitose e procalcitonina normal. Ecografia revelou fígado difusamente heterogéneo e ascite perihepática. Do estudo etiológico, destaque para padrão de cicatriz de HBV. HCV, HIV e a-fetoproteína negativas, CEA 1.6LSN e CA 19.9 2.3 LSN, serologias auto-imunes negativas. O líquido ascítico era transudado sero-hemático, sem células neoplásicas. A tomografia revelou aumento volumétrico do lobo hepático esquerdo, heterogeneidade estrutural global, sem realce, wash-out, trombose da porta ou dilatação das vias biliares. Perante o aspecto infiltrativo do fígado, consideraram-se as hipóteses de amiloidose, sarcoidose ou tuberculose, não confirmadas pelos estudos realizados. O doente evoluiu com agravamento da retenção hidrossalina, insuficiência renal corrigida com fluidoterapia, parâmetros inflamatórios flutuantes e agravamento das provas hepáticas, com valores máximos de AST 30 LSN e FA 40 LSN. Perante o agravamento do quadro clínico-laboratorial e sem conclusões acerca do diagnóstico, decidiu-se introduzir corticoterapia, com lenta correcção da colestase. O doente acabou por falecer por pneumonia de aspiração. A biópsia pós-mortem revelou extensa infiltração por carcinoma hepatocelular (CHC). A forma difusa corresponde a 13% dos CHC e está associada a infecção pelo vírus B. A identificação por métodos de rastreio habituais é desafiante, já que a imagem heterogénea se confunde com aspectos cirróticos e porque em 20% dos casos a a-feto-proteína é normal. Expomos este caso por se tratar de uma apresentação clínico-laboratorial e imagiológica de CHC rara num doente sem factores de risco conhecidos. A posteriori, colocou-se a hipótese de CHC em hepatite B oculta. Hospital Espírito Santo de Évora 211 P118 SIGNIFICADO CLÍNICO DA DETECÇÃO DE AUTOANTICORPOS ASSOCIADOS À CIRROSE BILIAR PRIMÁRIA EM INDIVÍDUOS NORMAIS Magalhães-Costa P.(1.), Carvalho L.(1.), Fernandes B. I.(2.), Chagas C.(1.) Introdução e Objectivos: Actualmente, o significado clínico e consequente risco de progressão para doença hepática crónica em indivíduos assintomáticos com positividade para autoanticorpos associados à Cirrose Biliar Primária (CBP), é desconhecido. Comparar a evolução clínica e laboratorial da população de doentes com CBP diagnosticada com uma população de indivíduos com detecção ocasional de autoanticorpos comumemente associados à CBP. Material: Estudo retrospectivo, observacional e unicêntrico. Foram registados e comparados dados demográficos, doenças associadas, bioquímica laboratorial, painel de autoanticorpos e evolução clínica. Sumário dos resultados: Foram identificados 28 casos de CBP diagnosticada (G1) e 60 casos de indivíduos com positividade para autoanticorpos associados à CBP (G2). O género feminino predominou em ambos os grupos, no entanto, no primeiro grupo o domínio foi ainda mais notório (93% vs 74%; p < 0.05). Não se observou qualquer diferença inter-grupos no que diz respeito à idade de diagnóstico/detecção. Observamos uma maior prevalência de doenças autoimunes (43% vs 18%; p < 0.05) no grupo G2. Por outro lado, em G1 foi registada uma maior prevalência de doenças endócrinas e metabólicas (61% vs 12%; p < 0.05). Laboratorialmente, G1 apresentou valores de colestase (fosfatase alcalina e gamaglutamil transpeptidase) patológicos e superiores. Não se verificou diferença significativa nos valores de transaminases, albumina e IgM sérica. A prevalência de AMA, AMA-M2, PML e gp-210 foi semelhante entre grupos, no entanto, a detecção de AMA-M2 BPO (3E) foi mais prevalente em G1 (95% vs 59%; p < 0.05). Relativamente à evolução para cirrose hepática, esta foi mais frequentemente detectada em G1 (25% vs 2%; p < 0.05). Conclusões: Os nossos achados sugerem que os indivíduos com detecção ocasional de autoanticorpos associados à CBP tendem a apresentar outras patologias autoimunes (excluíndo a CBP), parâmetros de colestase normais ou minimamente elevados e apresentam baixo risco de progressão para cirrose. 1.Serviço de Gastrenterologia, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 2.Serviço de Imunologia, Hospital Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 212 P119 NÓDULOS HEPÁTICOS: ESTUDO COMPARATIVO ENTRE O DIAGNÓSTICO PATOLÓGICO E RADIOLÓGICO Meira T. (1), , Nunes A.(1), , Palas J.,, Ramalho M.,(2), , Camacho R(2) Introdução e Objectivos O fígado está sujeito a uma grande variedade de lesões malignas ou benignas, sendo a caracterização de lesões hepáticas focais um desafio. A evolução nas técnicas imagiológicas, nomeadamente a introdução da ressonância magnética (RMN), permitiu uma maior acuidade diagnóstica. Este trabalho teve como objetivo:avaliar o grau de concordância entre o diagnóstico radiológico e o diagnóstico anatomopatológico de nódulo hepático. Material e Métodos Estudo retrospetivo de 86 doentes com nódulo(s) hepático(s), sujeitos a estudo radiológico por TC e/ou RMN e diagnóstico histológico (biópsias ou peça de ressecção cirúrgica). Foram avaliados todos os exames anatomopatológicos de nódulo hepático realizados no período de 1 de janeiro de 2009 a 30 de abril de 2012 (n=114). Foram incluídos todos os doentes que realizaram TC ou RMN para diagnóstico das lesões no nosso centro (n=86). Foram avaliadas as seguintes variáveis: sexo, idade, diagnóstico histológico e diagnóstico radiológico. Foram efectuados testes de concordância entre o diagnóstico radiológico e o diagnóstico histológico utilizando a metodologia da estatística SPSS®. Resultados Foram avaliados 86 doentes com nódulo hepático, 54% do sexo masculino e 46% do sexo feminino e com idade média de 61 anos. O material para estudo anatomopatológico foi obtido da seguinte forma: biópsia percutânea guiada por US (n=48), biópsia percutânea guiada por TC (n=12), biópsia intraoperatória (n=1), biópsia percutânea (n=1=, ressecção cirúrgica (n=19). O grau de concordância entre o diagnóstico histológico e a TC foi de 59% e com a RMN foi de 63%. Em 23 casos, verificou-se que o mesmo doente realizou ambos os exames, sendo que o grau de concordância entre o TC e a RMN foi de 65%. Conclusão A RMN permitiu incremento no diagnóstico radiológico de lesões hepáticas focais, no entanto, na maioria dos casos, nomeadamente na patologia neoplásica, é necessário recorrer a biópsia para estabelecer diagnóstico definitivo. (1) Serviço de Gastrenterologia, Hospital Garcia de Orta (2) Serviço de Radiologia, Hospital Garcia de Orta 213 P120 PUNÇÕES GUIADAS POR ECOGRAFIA NUM SERVIÇO DE GASTRENTEROLOGIA – EFICÁCIA E SEGURANÇA Sousa P., Portela F., Ministro P., Silva A. Introdução: Apesar da crescente capacidade diagnóstica dos exames imagiológicos, muitas vezes é necessária a obtenção de material cito-histológico para diagnóstico. Com este estudo pretendeu-se avaliar a segurança e eficácia das punções eco-guiadas. Métodos: Estudo retrospectivo com inclusão de todas as ecografias com o intuito de realização de punção dirigida entre 01/05/2005 e 28/02/2014. Os doentes foram internados no dia do procedimento segundo um protocolo específico; deveriam recorrer ao hospital se suspeita de complicações. O material para citologia foi obtido com agulha aspirativa Chiba (Cook®); para histologia foi utilizado uma agulha cortante acoplada a sistema de disparo (Bard®). A análise focou-se nas complicações e capacidade diagnóstica. Resultados: Foram efectuados 134 exames em 110 doentes (47 mulheres, 63 homens) com idade média de 61 anos. A principal indicação para referenciação foi esclarecimento de lesões focais hepáticas (94%). Por motivos de inacessibilidade ou contra-indicações, apenas foram realizadas 103 punções, com sucesso técnico de 95%. Um diagnóstico final ou contributo para diagnóstico foi obtido em 86% das punções, sendo o hepatocarcinoma o principal diagnóstico. Registaram-se complicações minor em 5% dos procedimentos. Houve complicações major em 2% dos procedimentos, nomeadamente 2 hemoperitoneus. Um dos casos ocorreu numa doente de 62 anos, cuja indicação para punção foi pesquisa de receptores c-ERB-2 em metástases hepáticas de cancro da mama. A complicação foi detectada logo após o procedimento, levando a aumento do tempo de internamento. O segundo caso ocorreu num doente de 70 anos com hepatopatia crónica, referenciado para punção de nódulo hepático. Neste caso a complicação foi detectada apenas alguns dias após o procedimento, levando a re-internamento. Posteriormente foi repetida a punção sem complicações. Ambos os doentes necessitaram de terapêutica transfusional; nenhum necessitou de intervenção cirúrgica. Não se verificou mortalidade relacionada com os procedimentos. Conclusão: A punção eco-guiada é um método seguro e com alta acuidade diagnóstica. Centro Hospitalar Tondela-Viseu 214 P121 ESTUDO PROSPETIVO DA ACUIDADE E VARIABILIDADE INTEROBSERVADOR DA ELASTOGRAFIA EM TEMPO REAL NO ESTADIAMENTO DA DOENÇA HEPÁTICA CRÓNICA Marques S., Túlio M. A., Carmo J., Chapim I., Carvalho L., Rodrigues J., Herculano R., Bispo M., Matos L., Chagas C. Objetivo: A Elastografia em Tempo Real (RTE) é uma técnica ultrassonográfica inovadora, em fase de validação no estadiamento da doença hepática crónica (DHC). O objetivo do estudo foi determinar a acuidade e variabilidade interobservador da RTE na determinação do grau de fibrose hepática, ainda não completamente definidas na literatura. Material: Estudo prospetivo (Nov.2012-Fev.2014), que incluiu 32 doentes (M:F, 18:14; idade média, 48 anos), com DHC (VHC n=26; VHB n=5; hepatite autoimune n=1), referenciados para biópsia hepática (BH). RTE realizada por dois operadores independentes (com diferentes níveis de experiência na técnica), cegos entre si e para o resultado da biópsia. Foi utilizado o ecógrafo Hitachi HI-VISION-Avius, a sonda linear EUPL52 e o software Hitachi RTE para avaliação da elasticidade hepática através do Liver Fibrosis Index (LFI). Análise estatística efetuada em SPSS-20. Resultados: Relativamente à BH (comprimento, 27±10mm; nº espaços porta, 15±7), a distribuição dos doentes segundo o estadio de fibrose (METAVIR) foi F0 n=1; F1 n=15; F2 n=8; F3 n=5; F4 n=3. A duração média da RTE foi 8±3min e conseguiu-se registo do LFI em 27 doentes (84%). Obesidade (IMC>ou=30Kg/m2) e parede abdominal espessa (>ou=23mm) foram variáveis associadas a não obtenção de registo (Teste-T, p<0,001). A variabilidade interobservador da RTE foi baixa (Pearson’s r=0,67; p<0,01). Verificou-se que a RTE foi útil na diferenciação dos doentes com fibrose avançada (F>ou=3) dos restantes (F<ou=2), com um cut-off ótimo do LFI de 2,45. Utilizando este cut-off, a área sob a curva ROC foi 0,78 (p=0,029) e a sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e valor preditivo negativo para F>ou=3 foram 100%, 75%, 58% e 100%, respetivamente. Conclusões: A RTE demonstrou boa acuidade no diagnóstico de fibrose avançada (F>ou=3), destacando-se a sua elevada sensibilidade e valor preditivo negativo. É um exame reprodutível, de fácil execução técnica. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 215 P122 RASTREIO POPULACIONAL DE DOENÇA HEPÁTICA POR ELASTOGRAFIA HEPÁTICA TRANSITÓRIA Gonçalves BM, Malheiro L, Fernandes D, Costa S, Soares JB, Rolanda C, Bastos P, Gonçalves R Introdução e objetivos: A elastografia hepática transitória (EHT), técnica não invasiva de avaliação de fibrose hepática, reúne um conjunto de características favoráveis à sua aplicação no rastreio populacional de doença hepática crónica. Os autores propõem-se avaliar o impacto da EHT no rastreio populacional de doença hepática. Métodos: Estudo prospetivo com 365 indivíduos seguidos em consulta de gastrenterologia geral num hospital central, sem história conhecida de doença hepática, submetidos a EHT para rastreio de doença hepática. Definiu-se rastreio positivo para um valor de elasticidade hepática (EH) igual ou superior a 8kPa. A estes indivíduos foi proposta investigação clínica, analítica e ecográfica adicional para determinação de eventual doença hepática. Resultados: Dos 365 indivíduos avaliados, 89 foram excluídos por EHT inválida (n=47) ou não conseguida (n=42). Na análise multivariada, um índice de massa corporal>30Kg/m² e um perímetro abdominal >102cm nos homens ou >88cm nas mulheres encontraram-se associados ao insucesso das medições (p=0,031 e 0,001, respetivamente). Dos restantes 276 indivíduos, 21 (7,6%) obtiveram um valor de EH?8kPa, sendo que nos restantes participantes com rastreio negativo o valor médio de EH foi de 4,9±1,2kPa. No grupo com rastreio positivo verificou-se que 29,4% os doentes não apresentaram alterações analíticas. Em 17 (80,1%) doentes foi determinada uma causa de doença hepática e em 4 participantes não foi identificada qualquer causa. A doença hepática alcoólica foi a etiologia mais prevalente (n=47%), seguida pelo fígado gordo nãoalcoólico (n=41%). Conclusão: A EHT revelou-se um método útil de rastreio de doença hepática, tendo conduzido ao diagnóstico de um número significativo de doentes. A detecção de um resultado anormal na EHT deve ser motivo para uma investigação mais aprofundada. Departamento de Gastrenterologia, Hospital de Braga 216 P123 DETERMINANTES PROGNÓSTICAS NO DOENTE INTERNADO COM SÍNDROME HEPATO-RENAL TIPO 1 Santos-Antunes J, , Peixoto A, , Silva M, , Cardoso H, , Macedo G. Introdução e Objectivos: A síndrome hepato-renal (SHR) caracteriza-se pelo aparecimento de disfunção renal devido à doença hepática crónica avançada. O objectivo deste trabalho foi avaliar a evolução dos doentes internados que desenvolveram SHR tipo 1. Métodos: Análise retrospectiva dos doentes internados desde Janeiro de 2005 até Fevereiro de 2014 com diagnóstico de SHR. Resultados: Dos 101 doentes codificados como tendo SHR, verificamos pela análise da história clínica que apenas 27 preenchiam os critérios diagnósticos de SHR tipo 1. A maioria dos doentes tinha como etiologia da cirrose o álcool (60%), seguido de infecção por VHC (19%) e VHB (11%). Quinze doentes (56%) eram homens e 20 (77%) tinham cirrose estadio Child C. Dos doentes com SHR, 11 (41%) não tiveram condições clínicas para tratamento com vasopressores; dos restantes, 63% tiveram resposta satisfatória à terlipressina. Dos 6 doentes que não responderam à terlipressina, apenas um doente sobreviveu ao internamento; dos restantes 10 houve 4 mortes. No total, dezassete doentes (63%) morreram durante o internamento. Os níveis de AST, ALT, bilirrubinas e tempo de protrombina à admissão foram significativamente maiores (p<0.05) nos doentes com mau prognóstico, ao contrário dos níveis de creatinina ao diagnóstico. A etiologia da cirrose não teve influência prognóstica, ao contrário da presença de encefalopatia (p=0.04). Conclusão: O SHR tem uma elevada mortalidade durante o episódio de internamento, principalmente se não houver resposta da função renal à terlipressina. Os marcadores hepáticos e a presença de encefalopatia hepática à admissão podem ser indicadores de mau prognóstico no SHR. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 217 P124 PERITONITE BACTERIANA ESPONTÂNEA: PERFIL MICROBIOLÓGICO E MORTALIDADE INTRAHOSPITALAR Rodrigues A, Libânio D, Maia L, Moreira T, Ferreira JM, Salgado M, Pedroto I Introdução: A peritonite bacteriana espontânea (PBE) é uma das infecções mais frequentes nos doentes com Cirrose hepática. Objectivo: 1) Avaliar a taxa de mortalidade intra-hospitalar dos doentes com PBE no nosso hospital e seus factores preditivos; 2) avaliar a taxa e perfil de isolamentos microbiológicos. Métodos: Análise retrospectiva das PBE tratados no nosso hospital, entre 2010 e 2013. Resultados: Registámos 92 episódios de PBE, 15% adquiridas no hospital, 76% dos doentes do sexo masculino, com idade média de 60 ± 11,8 anos. A etiologia mais comum da cirrose foi o consumo de álcool, seguido da hepatite C; 54% dos doentes com classificação de Child-Pugh C, MELD mediano de 20 (min 6, max 40); 22% com hepatocarcinoma, 12% sob profilaxia antibiótica. A contagem mediana de PMNs no liquido ascítico foi 1663/µL e a cultura foi positiva em 48% dos casos; a presença de mais de 500 PMNs no líquido ascítico relacionou-se com o isolamento microbiológico (p=0.035). Os agentes isolados foram em 67% dos casos Gram negativos: Escherichia coli (19), Klebsiella pneumoniae (7), Enterobacter (2) e Serratia marcescens (1), sendo os restante Gram positivos: Staphylococcus aureus (5), Streptococcus (4), Enterococcus (4) e Corynebacterium (1). A maioria dos doentes (65%) foi tratado inicialmente com uma cefalosporina, e 18% com carbapenemos. A duração mediana do internamento foi de 10,5 dias (min 1 , max 45) e registou-se uma mortalidade intra-hospitalar de 30%. Foram factores preditores de mortalidade intrahospitalar a classificação de Child-Pugh C (p=0,007) e MELD superior a 14 (p<0,001); o isolamento microbiológico e a presença de hepatocarcinoma não se relacionaram com maior mortalidade. Conclusões: Registou-se uma mortalidade intra-hospitalar significativa, sendo o MELD um forte preditor. Na nossa amostra observámos um número relativamente reduzido de isolamentos microbiológicos, sendo a Escherichia coli e a Klebsiella pneumoniae, responsáveis por mais de metade dos episódios. Centro Hospitalar do Porto - Hospital Santo António Instituto Português de Oncologia - Porto 218 P125 ESTARÁ O PERFIL DE MICROORGANISMOS ISOLADOS NO LÍQUIDO ASCÍTICO DE DOENTES CIRRÓTICOS RELACIONADO COM O PROGNÓSTICO? Oliveira A.M.1 , Branco J.1 , Lourenço L.1, Alberto S.F.1, Sancho L.2, Martins A.1, Ramos Deus J.1 Introdução: A infeção do líquido ascítico (peritonite bacteriana espontânea (PBE) ou bacteriascite) é uma complicação frequente da cirrose, estando os bacilos Gram-negativos classicamente implicados. A profilaxia antibiótica e a incidência de infeção nosocomial podem levar a alterações do espectro microbiológico, com repercussão no prognóstico, nomeadamente pela emergência de estirpes resistentes aos antibióticos. Objetivos: Caracterizar o espectro microbiológico na infeção de líquido ascítico (LA) em doentes cirróticos. Avaliar possíveis associações de características clinico-laboratoriais com o prognóstico. Métodos: Estudo retrospetivo, em doentes cirróticos com cultura do LA positiva, admitidos numa unidade hospitalar, num período de 5 anos (2009-2013). Foram analisadas: classificação Child-Pugh, score MELD, profilaxia antibiótica prévia, infeção adquirida na comunidade ou nosocomial, contagem de polimorfonucleares e níveis de proteínas no LA; resistência a antibióticos e mortalidade intra-hospitalar. Análise estatística por IBM SPSS Statistics V20. Resultados: Numa amostra de 47 doentes, em 29 foram isolados Gram positivos (Streptococcus viridans, n=11) e, em 18, Gram negativos (Escherichia coli, n=10), sem diferença estatística entre PBE (n=29) ou bacteriascite (n=18). Não se isolaram fungos. A infeção foi adquirida na comunidade em 31 doentes e 8 faziam profilaxia antibiótica. Em 32% dos isolamentos (n=15) verificou-se resistência às quinolonas. As bactérias Gram negativas foram mais prevalentes nos doentes Child-Pugh C (p<0,05). O perfil microbiológico (tipo de microorganismo e resistência às quinolonas) não teve associação com score MELD, contagem de polimorfonucleares e valor de proteínas no LA, profilaxia antibiótica e cenário de ocorrência da infeção (p=ns). A mortalidade intra-hospitalar (32%, n=15) foi superior na PBE relativamente à bacteriascite (p=0,02), mas sem associação com o respetivo perfil microbiológico (p=ns). Conclusão: Neste estudo, apesar de uma maioria de isolamentos de bactérias Gram positivas e cerca de 1/3 de resistência às quinolonas, não se verificou associação entre o perfil de microorganismos isolados no liquido ascítico e o prognóstico dos doentes. 1-Serviço de Gastrenterologia 2-Serviço de Patologia Clínica Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca 219 P126 PREDITORES NÃO-INVASIVOS DE VARIZES ESOFÁGICAS Dias de Castro F.1, Magalhães J.1, Boal Carvalho P.1, Rosa B.1, Leite S.1, Marinho C.1, Cotter J.1,2,3 Introdução e Objectivo: A endoscopia digestiva alta (EDA) é o método mais utilizado para avaliar a existência de varizes esofágicas (VE) em doentes com cirrose hepática (CH). No entanto, têm sido estudados vários marcadores não invasivos com essa mesma finalidade. O objectivo deste trabalho foi definir um modelo não-invasivo que possa predizer VE. Material e métodos: Estudo retrospectivo que incluiu 46 doentes com CH compensada de diferentes etiologias. Foram excluídos os doentes medicados com beta-bloqueadores ou nitratos ou que tivessem sido submetidos a cirurgia prévia por complicações de hipertensão portal. Foram estudadas variáveis clínicas, analíticas, endoscópicas, ecográficas e realizado estudo Doppler. Foi calculado o score APRI (relação entre AST e plaquetas) e o índice de congestão (IC) da veia porta (relação entre a área transversal da veia porta e a sua velocidade). A capacidade dos scores em predizer VE foi calculada pela área abaixo da curva (AUROC). Resultados: Foram incluídos 46 doentes, 65% do género masculino, com uma idade média 59±8,9 anos. Na EDA, 14 doentes (30,4%) não apresentavam VE, 18 doentes (39,1%) tinham VE pequenas e 14 doentes (30,4%) apresentavam VE grandes. O score APRI e o IC foram bons preditores de VE (AUROC 0.777 e 0,681, respectivamente). A combinação do score APRI (marcador de fibrose hepática) e do IC (tradutor de hipertensão portal) resultou numa melhor capacidade preditora da presença de VE (AUROC 0,828) apresentando para um cut-off de 0,076 uma sensibilidade 78%, especificidade 79%, valor preditivo positivo 89% e valor preditivo negativo 61%. Conclusões: O score APRI e o índice de congestão revelaram-se testes não-invasivos com uma boa capacidade de predizer a presença de varizes esofágicas. A combinação dos dois modelos estudados demonstrou ainda maior acuidade diagnóstica, parecendo-nos mais útil nomeadamente como selecção de doentes com CH a serem submetidos a EDA. 1 – Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães – Portugal; 2- Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal; 3– Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 220 P127 ABCESSO PIOGÉNICO DO FÍGADO: UMA PATOLOGIA POUCO FREQUENTE NA ENFERMARIA DE GASTRENTEROLOGIA. Casela A, Gomes D, Perdigoto D, Fernandes A, Alves R, Sofia C Introdução: Os abcessos piogénicos do fígado são raros, ocorrendo geralmente em doentes com factores predisponentes como colangite secundária a cálculos, estenoses ou manipulações endoscópicas, sepsis intra-abdominal, cirurgia, diabetes, neoplasias ou trauma. Frequentemente nenhuma causa infecciosa é detectada (abcesso criptogénico) Contexto e Objectivo: Identificar os factores etiológicos, os agentes patogénicos e a terapêutica efectuada nos casos de abcessos hepáticos internados nos últimos 3 anos num Serviço de Gastrenterologia. Doentes e métodos: Foram avaliados retrospectivamente, todos os casos entre os anos de 2010 a 2013, em que tivesse sido estabelecido o diagnóstico de abcesso hepático. Resultados: Incluidos 13 doentes (7 do sexo feminino), média etária 73 ± 11 anos. A causa principal foi a colangite por coledocolitíase (46,2%) seguida do carcinoma hepatocelular (30,8), diabetes mellitus, cirurgia e endoscopia das vias biliares (7,7% respectivamente). Lesão por abcesso único em 9 dos casos, 5 no lobo direito e bilaterais em 4. 38,5% dos abcessos tinham diâmetro maior que 5 cm. Os principais agentes etiológicos identificados foram E.coli (4), Entrococcus faecium (2), Klebsiela pneumoniane (1) e não identificados em 6 situações. A antibioterapia mais utilizada, foi a associação do Metronidazol com Imipenem (23,1%), a ciprofloxacina (15,4%) e Piperacilina/tazobactam (15,4%), com uma média de tratamento de 4 à 6 semanas. Foram efectuadas punções guiadas por ECO/TAC em 5 doentes. Nesta série com sobrevivência de 100%. Conclusões: Apesar da colangite por litíase ser cada vez mais frequente nos Serviços de Gastrenterologia, não se tem verificado um aumento dos casos de abcessos piogénicos do fígado o que poderá estar em relação com um diagnóstico e terapêuticas médica e endoscópica mais precoce. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 221 Ciência Básica P128 RADIOTERAPIA METABÓLICA NO COLANGIOCARCINOMA: SERÁ ESTA UMA ALTERNATIVA VÁLIDA? Fernandes A.(1,2), Brito A.F.(1,3), Ribeiro A.C.(1), Abrantes A.M.(1,3), Laranjo M. (1,3), Santos K.(1), Gonçalves A.C.(4), Sarmento-Ribeiro A.B.(4), Tralhão J.G.(1,5), Castro-Sousa F.(5), Sofia C.(2), Botelho M.F.(1,3) Introdução: O Colangiocarcinoma (CC) constitui um tumor com opções terapêuticas reduzidas. A bomba de sódio e iodo (NIS) é uma componente fundamental na bem sucedida radioterapia metabólica dos tumores da tiróide. Demonstrou-se recentemente que a expressão de NIS está aumentada no CC, abrindo a possibilidade de uma nova abordagem terapêutica para este tipo de tumor. Assim, o objetivo deste trabalho foi testar a eficácia terapêutica do 131I numa linha celular humana de CC (TFK1). Material e Métodos: Administraram-se às células diversas doses de 131I, determinando-se posteriormente o efeito na sobrevivência celular através do ensaio clonogénico. Por citometria de fluxo avaliou-se o tipo de morte celular induzida, os efeitos ao nível da expressão de BAX, BCL2 e citocromo c, assim como a produção de espécies reativas de oxigénio, defesas anti-oxidantes e o potencial de membrana mitocondrial. Para observar os danos induzidos no ADN, realizou-se o ensaio cometa. Para avaliar a expressão celular de recetores NIS procedeu-se ao estudo imunohistoquímico, com recurso a anticorpo anti-NIS. Resultados: O tratamento com 131I induziu um decréscimo na viabilidade celular dependente da dose. A morte celular predominante foi a apoptose, constatando-se um decréscimo na expressão de BCL2 e um aumento da BAX. Verificou-se simultaneamente libertação do citocromo c e despolarização da membrana mitocondrial. A irradiação com 131I induziu também quebras no ADN. Curiosamente não se verificaram diferenças na produção do radical superóxido, de peróxidos e de GSH. O estudo imunohistoquímico revelou uma expressão acentuada de recetores NIS nesta linha celular, com uma localização predominantemente membranar. Conclusões: O 131I condicionou uma diminuição da sobrevivência na linha celular estudada, induzindo a morte celular por apoptose através da sua via intrínseca. Deste modo, o tratamento com 131I parece ser uma aposta promissora para o CC, considerando a expressão membranar dos receptores NIS e o tipo de morte celular induzida. (1)Unidade de Biofísica e (4)Clínica Universitária de Hematologia e Unidade de Biologia Molecular Aplicada - CIMAGO, Faculdade de Medicina Universidade de Coimbra (FMUC); (2)Serviço de Gastrenterologia e (5)Cirurgia A, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; (3)IBILI-FMUC 222 P129 ALTERAÇÕES NOS GENES MMR, MGMT E APC SUGEREM ENVOLVIMENTO DE ERROS POR STRESS OXIDATIVO NA SUSCEPTIBILIDADE PARA A POLIPOSE SERREADA Silva P.1, Albuquerque C.1, Lage P.2,3, Fonseca R.4, Rodrigues P.2, Ferreira S.2,3, Claro I.2,3, Chaves P.4, Dias Pereira A.3 Introdução: A polipose serreada é caracterizada por múltiplos pólipos serreados (PS) no cólon, predispondo para o desenvolvimento de cancro do cólon e recto (CCR). Em estudo prévio, foi detectada metilação nos genes de reparação de erros no DNA do tipo mismatch (MMR) e MGMT, e mutações no gene APC, em lesões serreadas e tradicionais de doentes com polipose serreada com história familiar de pólipos e/ou CCR, localizados preferencialmente no cólon proximal/todo-o-cólon (PS-HFP/CCR-proximal). Estas alterações genéticas foram detectadas em lesões precoces, sugerindo um papel importante na iniciação tumoral na PS-HFP/CCR-proximal. A reparação de erros originados por stress oxidativo/agentes alquilantes pode envolver em sequência as proteínas MGMT e as codificadas pelos genes MMR, podendo levar a ciclos fúteis de replicação e reparação que resultam em quebras no DNA em dupla cadeia e, posteriormente, em alterações pontuais do número de cópias de vários genes (copy-number variations- CNVs)[1]. Objectivo: Caracterizar molecularmente as lesões de doentes PS-HFP/CCR-proximal, no que diz respeito a CNVs em 6 genes de reparação MMR, nos genes MGMT e APC, e em 24 genes de referência. Material e métodos: Foram analisadas 24 amostras de 7 doentes pertencentes a 6 famílias de PS-HFP/CCR-proximal para a presença de CNVs nos promotores dos referidos genes por Methylation-Specific Multiplex Ligationdependent Probe Amplification (MS-MLPA). Resultados: Foram detectadas CNVs em pelo menos 4/6 genes MMR, em 2/5 mucosas normais (MN), 2/3 adenomas tradicionais (AT), 9/12 PS e 0/3 carcinomas. No MGMT foram detectadas CNVs em 2/5 MN, 2/3 AT, 5/12 PS e 1/3 carcinomas. No APC foram detectados CNVs em 3/5 MN, 3/3 AT, 7/12 PS e 2/4 carcinomas. As CNVs nos genes MMR, MGMT e APC foram mais frequentes do que nos 24 genes de referência, não tendo sido detectadas em nenhuma lesão em mais do que 5/24 destes genes. Conclusões: A elevada frequência de CNVs nos genes de reparação MMR e MGMT e no gene APC sugere um importante papel da deficiência na reparação de erros por stress oxidativo/agentes alquilantes na iniciação tumoral da PS-HFP/CCR-proximal. Estes resultados sugerem ainda que alterações genéticas ao nível de mecanismos envolvidos na promoção/reparação deste tipo de erros poderão estar na base do(s) defeito(s) germinal/germinais que confere(m) susceptibilidade para a PS-HFP/CCR-proximal. [1] Fu et al., Nature Reviews Cancer 2012. 1. Unidade de Investigação em Patobiologia Molecular; 2. Clínica de Risco Familiar; 3. Serviço de Gastrenterologia; 4. Serviço de Anatomia Patológica - Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 223 P130 INIBIÇÃO DO GLUT-1: UMA OPÇÃO TERAPÊUTICA EM CARCINOMA HEPATOCELULAR? Brito A.F.1,2,3*, Abrantes A.M.1,2,3, Laranjo M. 1,2,3 , Gonçalves A.C. 3,4 , Sarmento-Ribeiro A.B. 3,4, Castro-Sousa F. 3,5, Tralhão J.G. 1,3,5, Botelho M.F. 1,2,3 Introdução: A expressão do transportador de glicose 1 (GLUT-1) encontra-se aumentada numa ampla variedade de tumores sólidos conferindo-lhes mau prognóstico. Em linhas celulares de carcinoma hepatocelular (CHC) estudos demonstraram que a inibição genética do GLUT-1 diminui a tumorigénese, sugerindo este transportador como um possível alvo terapêutico para CHC. Assim, o objectivo deste trabalho foi estudar o papel do GLUT-1 na tumorigénese e quimiorresistência do CHC. Material e métodos: Efectuou-se a inibição genética do GLUT-1 numa linha celular humana de CHC, a HuH7, utilizando shRNA. De modo a comprovar a eficiência da transfecção determinou-se a expressão proteica de GLUT-1 nas linhas celulares transfectada e parental por western blot. Posteriormente através do ensaio do MTT determinouse a razão entre a actividade metabólica da linha celular transfectada e da linha celular parental. Avaliou-se também o efeito da doxorrubicina, do 5-FU e do sorafenib na actividade metabólica da nova linha celular, utilizando os valores de IC50 previamente calculados para a linha celular mãe. Também na linha celular transfectada, e utilizando as mesmas concentrações de fármacos avaliou-se o seu efeito na viabilidade celular e os tipos de morte celular induzida através da citometria de fluxo com recurso à dupla marcação com anexina V e iodeto de propídeo. Resultados: A expressão de GLUT-1 é bastante inferior na linha celular transfectada comparativamente às células que lhe deram origem. Também a actividade metabólica é menor nas células transfectadas. O tratamento com os fármacos testados induziu uma inibição da actividade metabólica superior a 50% acompanhada de morte celular por apoptose. Conclusões: Constatou-se que a inibição do GLUT-1 induziu uma diminuição na actividade metabólica. Verificou-se também que a nova linha celular é mais quimiossensível do que aquela que lhe deu origem. Deste modo, os resultados indicam que a inibição do GLUT-1 pode fornecer uma nova abordagem terapêutica para esta neoplasia. 1Unidade de Biofísica,Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 2IBILI, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 3CIMAGO, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 4Grupo de Biologia Molecular Aplicada e Hematologia, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra; 5Departamento de Cirurgia, Cirurgia A, CHUC 224 P131 ESTRATÉGIAS ANTI-BCL-2 NO COMBATE AO COLANGIOCARCINOMA: SERÁ O GOSSIPOL UMA OPÇÃO? Brito A.F. 1,2, Abrantes A.M. 1,2, Gonçalvesc A.C. 3, Sarmento-Ribeiroc A.B. 3, Tralhão J.G.1,4, Botelho M.F. 1,2 Introdução: O Colangiocarcinoma (CC) é o segundo tipo de tumor primário do fígado mais comum, possuindo opções terapêuticas bastante limitadas. A sua resistência à apoptose é devida, em parte, a uma sobre-expressão de BCL-2. O Gossipol é um composto natural que tem demonstrado diversas propriedades anti-cancerígenas, sendo também um inibidor das proteínas anti-apoptóticas da família da BCL-2. Assim, o objectivo deste trabalho foi avaliar o efeito do gossipol numa linha celular humana de CC (TFK-1). Materiais e Métodos: Incubaram-se as células com diferentes concentrações de gossipol, e avaliou-se o seu efeito na proliferação celular, com recurso ao teste do MTT, após 24, 48, 72 e 96 horas. Através do ensaio clonogénico, avaliou-se o efeito deste composto na sobrevivência celular. Com recurso à citometria de fluxo, estudou-se o tipo de morte celular induzida por este composto, assim como o seu efeito no ciclo celular e na expressão de BAX e BCL-2. Resultados: Verificou-se que o gossipol inibe a proliferação celular das células TFK1 de uma maneira dependente do tempo e da concentração. O ensaio clonogénico revelou que este composto induz uma diminuição na sobrevivência celular dependente da dose. O gossipol induz morte celular principalmente por apoptose, acompanhados de um aparecimento de um pico pré-G1 no ciclo celular e uma diminuição da expressão de BCL-2 e aumento da BAX. Conclusões: O gossipol possui um efeito anti-proliferativo na linha celular em estudo, induzindo morte celular por apoptose, acompanhada pelo aparecimento do pico pré-apoptótico no ciclo celular e aumento da razão BAX/BCL-2. Deste modo, este composto pode ser útil na reversão da resistência à apoptose característica do CC, contribuindo para a existência de uma medicina personalizada. 1Unidade de Biofísica, CIMAGO, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra 2IBILI, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra 3Clínica Universitária de Hematologia e Unidade de Biologia Molecular Aplicada, CIMAGO, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra 4Serviço de Cirurgia – Cirurgia A, Centro Hospital e Universitário de Coimbra 225 P132 DOCETAXEL & ADENOCARCINOMA DO PÂNCREAS: MONOTERAPIA E TERAPIA COMBINADA COM 177LU-DOTA-TATE Gradiz R (1,2), Mamede AC (2,3,4,5), Abrantes AM (2,3,5), Brito AF (2,3,5), Guerra S (3), Gonçalves AC (2,6), Sarmento-Ribeiro AB (2,6), Botelho MF (2,3,5), Mota-Pinto A (1,2) Introdução: O docetaxel é um taxano anti-mitótico que suprime a conjugação/desconjugação dos microtúbulos, conduzindo à apoptose celular. O 177Lu-DOTA-TATE é um análogo radiomarcado da somatostatina usado com sucesso na radioterapia metabólica em tumores neuroendócrinos inoperáveis ou metastizados. O objectivo deste trabalho é avaliar o efeito do docetaxel em monoterapia e em terapia combinada com o 177Lu-DOTA-TATE em duas linhas celulares de adenocarcinoma pancreático. Material: Utilizaram-se duas linhas celulares com diferente expressão dos receptores de somatostatina (RS): MIA PaCa-2 (RS++) e PANC-1 (RS+). As células foram incubadas com diferentes concentrações de docetaxel durante diferentes tempos e a actividade metabólica foi avaliada por MTT. Através das curvas de dose-resposta foi determinado o IC50. A viabilidade/morte e ciclo celular foram analisados por citometria de fluxo. As células foram previamente incubadas com docetaxel (0.005µM; 24h) e posteriormente foram efectuados estudos de captação com 177Lu-DOTA-TATE. Resultados: O IC50 calculado na linha celular MIA PaCa-2 às 24, 48, 72 e 96h foi de 126nM, 1nM, 0.8nM e 1.6nM, respectivamente. Por outro lado, na linha celular PANC-1, foi 240nM, 120nM, 40nM e 40nM, respectivamente. O docetaxel induziu 62% de morte celular (principalmente por apoptose) na MIA PaCa2 e 27% na PANC-1 (apoptose e necrose). Na linha celular MIA PaCa2 aumentaram as fases pré-G0 e G2/M e houve um atraso em G0/G1 e S. Na PANC-1 houve um aumento em G2/M e um atraso em GO/G1 e S. A prévia incubação com docetaxel aumentou a captação do 177Lu-DOTATATE na MIA PaCa-2. Conclusões: O docetaxel inibe a proliferação celular em ambas as linhas celulares estudadas de forma dependente da dose, sendo a MIA PaCa2 mais sensível. A prévia incubação do fármaco com a MIA PaCa-2 potencia a captação do 177Lu-DOTA-TATE mas não na PANC-1. Uma diferente expressão de RS deverá ser considerada na estratégia de tratamento com a quimioradioterapia. (1) Laboratório de Patologia Geral, FMUC, Coimbra; (2) CIMAGO, FMUC, Coimbra; (3) Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; (4) CICS-UBI, Covilhã; (5) IBILI, FMUC, Coimbra; (6) Grupo de Hematologia e Biologia Molecular Aplicada, FMUC, Coimbra, Portugal 226 P133 INFLUÊNCIA DA LOCALIZAÇÃO TUMORAL NO PERFIL METABÓLICO DO CANCRO DO CÓLON – ESTUDO IN VITRO Abrantes A.M. 1,2,3, Pires A.S. 1,2,3,4, Tavares L. 5, Mendes C. 6, Grazina M. 6, Albuquerque de Carvalho R. 5, Botelho M.F. 1,2,3 Introdução: Devido à heterogeneidade temporal e espacial da oxigenação que ocorre nos tumores sólidos, a adaptação metabólica das células é uma constante. A hipoxia condiciona a resposta aos diferentes tratamentos disponíveis. Este trabalho tem como objetivo caracterizar e comparar o perfil metabólico de três linhas celulares de cancro de cólon (CC) de localização diferente. Métodos: As linhas celulares de CC (LS1034, WiDr e C2BBe1) foram caracterizadas quanto aos fluxos glicolíticos e oxidativos utilizando a análise de isotopómeros por RMN. A atividade das enzimas citrato sintetase e complexo IV foi também avaliada. Todas as experiências foram realizadas em condições de normóxia e hipoxia com diferentes concentrações de glicose no meio (5 e 25 mM). Resultados/Discussão: 1H-RMN mostrou que em hipoxia é induzido um aumento da produção de lactato a 25 mM de glicose em todas as linhas celulares, sendo a linha celular LS1034 a mais glicolítica. Contudo, para baixas concentrações de glicose verificou-se na linha celular WiDr uma redução da produção de lactato enquanto nas linhas celulares LS1034 e C2BBe1 um aumento. A análise de 13C-RMN revelou razões 13C3-Lac/13C3-Ala e 13C3-Lac/13C4 Glu distintas, indicativo de diferentes estados redox citosólicos. No que se refere à proporção C4Q/C4D45, em hipoxia há uma diminuição nas linhas celulares WiDr e LS1034, mantendo-se esta proporção aproximadamente constante na linha celular C2BBe1, de acordo com o seu caráter oxidativo reduzido. Estes resultados estão de acordo com os obtidos para o complexo IV e CS, em que as LS1034 revelaram a atividade mais elevada. Conclusão: A hipoxia provou ter um efeito distinto nas três linhas celulares de CC. A alteração no microambiente tumoral demonstrou que a linha celular LS1034, quimiorresistente, aumentou o metabolismo anaeróbico para satisfazer as suas necessidades energéticas. As restantes linhas celulares mostraram ser menos dependentes do metabolismo oxidativo e menos suscetíveis à hipoxia. 1 Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; 2 IBILI, FMUC, Coimbra; 3 CIMAGO, FMUC, Coimbra; 4 FCTUC, Coimbra; 5 Departamento de Ciências da Vida, FCTUC, Coimbra; 6 Laboratório de Genética Bioquímica (CNC/UC), FMUC, Coimbra. 227 P134 EFEITO SINÉRGICO ENTRE O ÁCIDO ASCÓRBICO E A QUIMIOTERAPIA CONVENCIONAL NO TRATAMENTO DO CANCRO DO CÓLON Pires A.S. 1,2,3,4, Marques C.R. 1, Encarnação J.C. 1,5, Gonçalves T.J. 1,5, Casalta-Lopes J.E. 1, Gonçalves A.C. 4,6, Abrantes A.M. 1,3,4, Sarmento-Ribeiro A.B. 4,6, Botelho M.F. 1,3,4 Introdução: Mais de um milhão de novos casos de cancro do cólon (CC) são diagnosticados, por ano, em todo o mundo. O ácido ascórbico (AA), em concentrações farmacológicas actua como pró-oxidante, induzindo selectivamente a morte de células tumorais. Em combinação com as terapias convencionais, tem-se verificado que o AA aumenta o efeito inibitório do crescimento tumoral conferido pelas mesmas. Assim, o objectivo deste estudo é avaliar o potencial terapêutico do AA em combinação com 5-fluorouracilo (5FU) em linhas celulares humanas de CC. Métodos: As linhas celulares WiDr, C2BBe1 e LS1034 (quimiorresistente) foram incubadas na ausência e presença de diferentes concentrações de AA e 5FU, isoladamente ou em combinação. Após 48, 72 e 96 horas de incubação, a proliferação celular foi avaliada através do ensaio SRB. O ensaio clonogénico foi realizado para determinar a sobrevivência celular. Para avaliar a viabilidade celular e os tipos de morte celular induzidos recorreu-se à dupla marcação com anexina V e iodeto de propídeo. Resultados: Os resultados obtidos mostraram que o AA exerce um efeito anti-proliferativo de forma dependente da dose nas 3 linhas celulares (r2>0.91). A linha celular mais sensível ao AA foi a C2BBe1 (IC50=819µM). Verificou-se também que à medida que a concentração de AA aumenta, a sobrevivência e viabilidade celular diminui. Em combinação, obteve-se um efeito sinérgico às 96h para todas as linhas celulares, sendo este mais evidente nas células LS1034. Conclusão: Com este estudo verificou-se a existência de sinergismo entre o AA e o 5FU, dados que poderão contribuir para o desenvolvimento de uma terapia promissora para o CC com doses reduzidas de quimioterapia convencional e uma posterior diminuição dos efeitos secundários. 1 Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; 2 FCTUC, Coimbra; 3 IBILI, FMUC, Coimbra; 4 CIMAGO, FMUC, Coimbra; 5 FFUC, Coimbra; 6 Clínica Universitária de Hematologia e Unidade de Biologia Molecular Aplicada, FMUC, Coimbra. 228 P135 PROTEÍNAS DA MEMBRANA AMNIÓTICA COM EFEITO ANTI-CANCERÍGENO: A SÍNTESE PROTEICA E O ADN COMO ALVO NO CARCINOMA HEPATOCELULAR Guerra S (1), Mamede AC (1,2), K Santos (1), Brito AF (1), Laranjo M (1), Carvalho MJ (1,3), Pires AS (1), Moura P (3), Abrantes AM (1), Maia CJ (2), Botelho MF (1) Introdução e objectivos: O carcinoma hepatocelular (CHC) é o mais comum dos cancros hepáticos. O CHC é uma das principais causas de morte principalmente devido à sua capacidade de resistência às terapias convencionais. Na última década foram exploradas as propriedades regenerativas de membrana amniótica (MA), bem como a sua utilidade na terapêutica anti-cancerígena. No entanto, até agora, ainda não existem estudos sobre a aplicação da MA no tratamento do CHC. Desta forma, o objectivo deste estudo é avaliar o efeito de extractos proteicos de MA (EPMA) na síntese proteica e no ADN do CHC. Material: As MA foram obtidas a partir de cesarianas electivas de acordo com a Comissão de Ética do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. As proteínas foram mecanicamente extraídas das MA e quantificadas (Nanodrop®). Para estudar o efeito dos EPMA nas linhas celulares de CHC, foram utilizadas três linhas celulares de CHC (Hep3B2.1-7, HepG2 e HuH7), que foram incubadas com 1µg/µL de EPMA durante 72h. Posteriormente, foi realizado o ensaio da sulforodamina B e ensaio cometa para avaliar a síntese proteica e os danos no ADN, respectivamente. Resultados: Após 72h de tratamento com EPMA, a síntese proteica diminuiu 85% em Hep3B2.1-7, 91% em HepG2 e 89% na linha HuH7. Através do ensaio cometa verificou-se que o tratamento com EPMA triplica os danos no ADN na linha celular Hep3B2.1-7. Na linha celular HepG2 verificou-se um aumento de treze vezes nos danos no ADN quando estas células eram sujeitas a tratamento relativamente a células não tratadas (controlo). Na linha HuH7 não se verificaram diferenças no ADN. Conclusões: O tratamento de CHC com EPMA levou a uma diminuição da síntese proteica e a um aumento nos danos do ADN, o que indica que a MA pode vir a ser uma promissora terapia no tratamento deste tipo de cancro. (1) Unidade de Biofísica, CIMAGO, IBILI, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal; (2) CICS-UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal; (3) Serviço de Obstetrícia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal 229 P136 ALTERAÇÕES INDUZIDAS PELA HIPÓXIA NO METABOLISMO DE TRÊS LINHAS DE CÉLULAS DE CANCRO DO CÓLON Abrantes A.M. 1,2,3, Pires A.S. 1,2,3,4, Laranjo M. 1,2,3, Mamede A.C. 1,2,3,5, Brito A.F. 1,2,3, CasaltaLopes J.E. 1, Gonçalves A.C. 3,6, Sarmento-Ribeiro A.B. 3,6, Botelho M.F. 1,2,3 Introdução: Dados clínicos indicam que a hipoxia tumoral afeta negativamente as diferentes abordagens terapêuticas utilizadas no cancro do cólon. A utilização de diferentes radiofármacos na clínica (18F-FDG e de 18 F-FCHO) fornecem informações distintas relativamente ao metabolismo tumoral. Assim, o principal objetivo deste estudo é determinar o padrão de captação de 18F-FDG e de 18F-FCHO em três linhas de células de cancro do cólon em condições de normoxia e hipoxia, correlacionando com a expressão de GLUT- 1 , -3 p53 e Pgp. Métodos: Foram realizados estudos de captação em três linhas celulares de cancro do cólon (WiDr , C2BBe1 e LS1034 ). As experiências foram realizadas em condições de normoxia (18% O2) e em condições de hipoxia (2% O2). A expressão de GLUT-1/3 e PG-P, assim como da proteína P53 foi avaliada por citometria de fluxo e western blot, respetivamente. Resultados: A captação de ambos radiotraçadores foi superior em hipoxia comparativamente com a condição de normoxia. Relativamente à expressão de GLUT-1 e -3 observou-se que a condição de hipoxia induziu um aumento destes transportadores de glicose. A expressão das proteínas P53 e PG-P condicionou a captação de 18F-FDG. Conclusões: A captação dos radiotraçadores é influenciada pelo microambiente tumoral. No entanto, também o backgroung genético possui um papel fundamental. 1 Unidade de Biofísica, FMUC, Coimbra; 2 IBILI, FMUC, Coimbra; 3 CIMAGO, FMUC, Coimbra; 4 FCTUC, Coimbra; 5 CICS-UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã; 6 Clínica Universitária de Hematologia e Unidade de Biologia Molecular Aplicada, FMUC, Coimbra. 230 P137 PROTEÍNAS DA MEMBRANA AMNIÓTICA COM EFEITO ANTI-CANCERÍGENO: IDENTIFICAÇÃO E TERAPIA COMBINADA NO CARCINOMA HEPATOCELULAR Mamede AC (1,2), Guerra S (1), Brito AF (1), Laranjo M (1), Carvalho MJ (1,3), Pires AS (1), Moura P (3), Abrantes AM (1), Maia CJ (2), Botelho MF(1) Introdução e objectivos: A membrana amniótica (MA) tem aplicação clínica em várias áreas, como na regeneração de feridas/queimaduras ou na Oftalmologia. Recentemente, têm sido realizados estudos com o objectivo de explorar a sua aplicação na fibrose e na cirrose hepática. No entanto, até agora, não foram realizados estudos que visem a aplicação da MA na doença maligna do fígado. O objectivo deste trabalho é identificar as proteínas da MA com potencial efeito anti-cancerígeno no carcinoma hepatocelular (CHC) e estudar o efeito da terapia combinada destas proteínas com fármacos vulgarmente utilizados na terapia deste tipo de cancro. Material: As MA foram obtidas a partir de cesarianas electivas de acordo com a Comissão de Ética do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. As proteínas foram mecanicamente extraídas das MA, posteriormente quantificadas (Nanodrop®) e analisadas através da técnica de electroforese 2D. Para avaliar o efeito das proteínas no CHC quando combinadas com fármacos vulgarmente utilizados no tratamento deste tipo de cancro, foram utilizadas três linhas celulares humanas de CHC: HuH7, HepG2 and Hep3B2.1-7. As células foram incubadas com 1µg/µL de proteínas e com o IC50 (concentração necessária para inibir 50% da actividade metabólica celular) de 5-Fluoracilo, Doxorrubicina, Cisplatina e Sorafenib. Após 72h, foi realizado o ensaio de MTT para avaliar a actividade metabólica das células em estudo. Resultados: Estabelecemos um protocolo de electroforese 2D que nos permitiu analisar o padrão das proteínas mecanicamente isoladas. Através dos nossos resultados, verifica-se que as proteínas potenciam o efeito anti-cancerígeno dos fármacos 5-Fluoracilo, Doxorrubicina, Cisplatina e Sorafenib. Conclusões: No futuro, as proteínas detectadas devem ser correctamente identificadas através da tecnologia de MALDI-TOF e compiladas numa base de dados acessível. O tratamento combinado das proteínas da MA com fármacos convencionais parece potenciar o seu efeito. (1) Unidade de Biofísica, CIMAGO, IBILI, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal; (2) CICS-UBI, Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal; (3) Serviço de Obstetrícia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal 231 P138 SERÁ QUE O BUTIRATO DE SÓDIO AFETA A CAPTAÇÃO DE 18F-FDG POR LINHAS CELULARES DE CANCRO DO CÓLON? Gonçalves T.J. 1,2, Pires A.S. 1,3,4,5, Encarnação J.C. 1,2, Teixo R. 1, Brito A.F. 1,4,5, Abrantes A.M. 1,4,5, Botelho M.F. 1,4,5 Introdução: O butirato é um ácido gordo de cadeia curta produzido pela digestão de fibra dietética no cólon. É preferencialmente utilizado pelas células deste órgão como fonte de energia. Tem sido associado ao cancro do cólon por provocar a apoptose e diferenciação das células tumorais, contrariamente ao que sucede nas células normais. Alguns estudos sugerem que o efeito Warburg pode explicar essa diferença. Assim, com este trabalho, pretendeu-se determinar se o butirato interfere na captação de um análogo da glucose radioactivamente marcado (18F-FDG) e com a hiperativação da glicólise associada ao processo tumoral. Métodos: As linhas celulares foram cultivadas nos meios recomendados com duas concentrações diferentes de glicose (5 mM e 25 mM). Para a realização dos estudos de captação as células foram incubadas com ou sem butirato, 1 ou 4 horas antes da adição do radiofármaco. A diferentes tempos foram recolhidas e centrifugadas amostras de suspensão celular das quais se separou o pellet e o sobrenadante. A radioatividade de ambas as frações foi quantificada e a percentagem de captação de 18F-FDG determinada. Resultados: Quando as células C2BBe1 e WiDr foram cultivadas com a menor concentração de glicose, a presença de butirato induziu uma diminuição da captação do radiofármaco. Com 25 mM de glicose, a atenuação da captação após incubação com o butirato apenas foi notória na linha celular C2BBe1. Relativamente às células LS1034, não se verificaram alterações após a incubação com o butirato, possivelmente devido à sobreexpressão de glicoproteína-P. Conclusão: Os resultados obtidos sugerem que o butirato (obtido da dieta) pode atenuar a captação de 18FFDG e assim interferir com o efeito Warburg, diminuindo a agressividade do tumor. Este facto verifica-se especialmente com níveis baixos de glicose, condição que melhor mimetiza a situação clínica. 1 Unidade de Biofísica, Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), Coimbra; 2 Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra, Coimbra; 3 Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, Coimbra; 4 CIMAGO, FMUC, Coimbra; 5 IBILI, FMUC, Coimbra 232 Doença Inflamatória Intestinal P139 PREVALÊNCIA DE DISLIPIDEMIA NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Fernandes S., Sousa P., Moura M., Correia L., Moura Santos P., Valente A., Rita Gonçalves A., Baldaia C., Velosa J. Introdução: O risco de eventos tromboembólicos venosos na doença inflamatória intestinal (DII) é elevado (risco relativo 2,5). Contudo, a incidência de eventos cardio e cerebrovasculares encontra-se apenas modestamente elevada (risco relativo 1,19). Neste subgrupo, um distúrbio do perfil lipídico mediado por citocinas pró-inflamatórias poderá desencadear um processo aterogénico acelerado. Objetivos: Determinar a prevalência de dislipidémia na DII. Métodos: Caracterizados retrospectivamente doentes com Doença Crohn (DC) e Colite Ulcerosa (CU) aferindo-se o perfil lipídico [colesterol total (CT), triglicéridos (Tg), colesterol-LDL (LDL) e colesterol-HDL (HDL)], actividade endoscópica e comorbilidades [lesão renal crónica (LRC) e alteração metabolismo glicose (AMG)]. Definiu-se dislipidémia por CT>190 mg/dl, Tg>160 mg/dl, LDL>115 mg/dl e HDL<40/45 mg/dl (homem/mulher) e LRC e AMG por 2 avaliações de creatinina>1.0 mg/dl e/ou glucose>100 mg/dl. Utilizaram-se as amostras dos estudos portugueses VALSIM, BECEL e ALTO-MAR (34522 indivíduos) como grupo controlo. Resultados: Avaliaram-se 478 doentes, 282 sexo feminino (59%), idade média 44,0 anos±16,2 anos, com DC (67,6%) e CU (32,4%). A prevalência de LRC e AMG foi 23,4% e 23,7%. Aferiram-se os valores médios CT (176,4±41,8 mg/dl), Tg (111,1±58,0 mg/dl), LDL (97,9±35,3 mg/dl) e HDL (54,6±18,3 mg/dl). Na CU o CT e LDL foram mais elevados e os Tg mais baixos comparativamente à DC (p<0.02). A atividade endoscópica associou-se a Tg mais elevados e LDL mais baixas. Apenas as HDL foram significativamente inferiores comparativamente ao grupo controlo (27,3% versus 12,8%). Discussão: Na nossa série, apesar da prevalência de dislipidémia ser elevada, não atingiu os elevados valores reportados no grupo controlo. Contudo, a prevalência de dislipidémia-HDL foi significativamente mais elevada. Na DII o estado pró-inflamatório associa-se a um aumento de fosfolipase A2 e diminuição da lipoproteina lipase, ambas implicadas na diminuição dos níveis de HDL. Dado o reconhecido papel antiinflamatório e anti-aterogénico das HDL, o seu compromisso poderá ter influência na evolução da DII. Hospital Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 233 P140 NÍVEIS SÉRICOS E ANTICORPOS ANTI-INFLIXIMAB: APLICAÇÃO NA PRÁTICA CLÍNICA Moleiro J*, Fidalgo C, Rosa I, Pereira da Silva J, Dias Pereira A Introdução: A determinação de níveis séricos de infliximab ([IFX]) e de anticorpos contra o fármaco (ATI) mostrou correlação com a resposta clínica, auxiliando as decisões terapêuticas no manejo da doença de Crohn (DC). Objectivo: Correlacionar [IFX] em vale e pico e presença de ATI com a actividade da DC. Material e Métodos: Dados recolhidos: idade, género, data de diagnóstico e classificação da DC, terapêutica. Avaliação da atividade clínica (Harvey-Bradshaw), laboratorial (PCR), endoscópica (SES-CD, Rutgeerts), imagiológica. Determinação de [IFX] e ATI por ELISA. Registaram-se os casos de necessidade de ajuste terapêutico até 6 meses após o doseamento. Resultados: Incluíram-se 29 doentes [11 homens; idade média 43,5±11,2 anos]. Classificação de Montreal: A1-2, A2-23, A3-4; L1-10, L2-4, L3-15; L4-4; B1-8, B2-11, B3-10; p-11. Cirurgia prévia: 11 doentes. Duração média da terapêutica com IFX: 53±41 meses (monoterapia em 13 doentes, combinada em 16). Todos os doentes fizeram hidrocortisona antes da infusão. Não se registaram reações infusionais. [IFX]pico terapêutico nos 29 doentes. Não se encontrou relação com significado estatístico entre a deteção de ATI ou [IFX]vale e a actividade da DC. 11 doentes evidenciavam atividade. Destes, 5 tinham ATI(-)/[IFX]vale terapêutico – 2: optimização da terapêutica com melhoria; 1: cirurgia; 1: manteve terapêutica maximizada; 1: sem DC ativa. Nos restantes 6 - 1 doente com ATI(+)/[IFX]vale baixo: mudança de anti-TNF; 2 doentes com ATI(+)/[IFX]vale terapêutico: adição de imunossupressão-1; em estudo-1; 3 doentes com ATI(-)/[IFX]vale baixo: submetido a incremento de IFX com melhoria-1; incremento previsto-2. Dos 3 doentes com ATI(+), apenas 1 sob imunossupressor. Conclusões: O número reduzido de doentes com ATI(+) e [IFX] infra-terapêutico pode dever-se ao uso de terapêutica combinada e à administração de corticóide antes das infusões. O [IFX]pico não pareceu ter utilidade na prática clínica. O [IFX]vale e determinação de ATI contribuíram para a orientação dos doentes. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil, EPE 234 P141 FENÓTIPO E NECESSIDADE DE TERAPÊUTICA ANTI-TNF COMO DETERMINANTES DE RISCO DE EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO NA DOENÇA DE CROHN Coelho R. 1, Guimarães L. 2, Lopes S. 1, Magro F. 1,3,4, Macedo G. 1 Introdução e objectivos: Os doentes com Doença de Crohn (DC) são frequentemente submetidos a exames radiológicos para diagnóstico, avaliação da actividade e resposta à terapêutica. Os dados epidemiológicos sugerem que um exposição prolongada de dose de 50-100 mSv está associado com o aumento de risco de cancro. Foi efectuado o cálculo da dose de radiação cumulativa (CDRC) nos doentes com diagnóstico de DC e a sua associação com diferentes variáveis. Material: Cohort de 630 doentes com diagnóstico de DC entre Janeiro de 1990 e Dezembro de 2013. Determinação ao longo do tempo de seguimento do número total de exames complementares realizados por doente desde a data de diagnóstico. O CDRC foi determinado para cada doente de acordo com o valor estabelecido em tabela de referência, na unidade millisieverts (mSv). Resultados: Incluídos 630 doentes (314 do sexo masculino) com DC com fenótipo B1: n=263, B2: n=54 e B3: n=313, de acordo com a classificação de Montreal. O CDRC médio foi de 41.45 (0-642,49)mSv. O CDRC médio por doente devido a realização de tomografias computorizadas (TC) abdominais foi de 33,01mSv. Existe uma correlação entre o CDRC e o número de TCs abdominais realizados. O aumento do tempo de evolução da doença não se associa a um maior CDRC. Oitenta e seis doentes (13.7%) foram expostos a um CDRC>50 mSv. Foi encontrada relação entre o CDRC médio e o fenótipo da doença: B1=27,54 mSv; B2= 34,47 mSv; B3=40.66 mSv. Um CDRC>50mSv relacionou-se com um fenótipo penetrante (40,66vs27,54 mSv; p<0.001), necessidade de anti-TNF (52.38vs33.04 mSv; p=0.003), tratamento cirúrgico (49,86vs33,87 mSv; p=0.005) e com curso crónico contínuo ou intermitente da doença vs actividade mínima após o diagnóstico (45,56vs29,9 mSv; p=0.004). Conclusões: Os doentes com necessidade de anti-TNF, antecedentes cirúrgicos e curso crónico da doença foram expostos a maior quantidade cumulativa de radiação, existindo uma relação com o fenótipo mas não com a duração da doença. 1- Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar São João, Porto. 2- Serviço de Radiologia do Centro Hospitalar São João, Porto. 3- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 4- MedinUP, Center for Drug Discovery and Innovative Medicines. 235 P142 CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS E FENÓTIPO DA DOENÇA DE CROHN NOS IDOSOS: EXISTIRÃO DIFERENÇAS RELATIVAMENTE AOS ADULTOS JOVENS? Ribeiro I., Carvalho J., Amaral I., Rodrigues A., Alberto L., Silva J., Pais T., Fernandes C., Ponte A., Proença L., Pinho R., Fernandes S., Freitas T., Silva AP., Leite S. Introdução: Estudos sugerem que a incidência da Doença de Crohn (DC) na população idosa tem vindo a aumentar. No entanto, existem poucos dados no que diz respeito ás características da DC neste grupo etário. Objetivos: Comparar as características clínicas e o fenótipo da DC ao diagnóstico dos doentes idosos (>=60 anos) e dos adultos jovens (20-40 anos). Material e métodos: Estudo retrospetivo de 128 doentes aleatórios com diagnóstico de DC entre 19942012. Os doentes foram divididos em dois grupos: idade ao diagnóstico de DC entre 20-40 anos (grupo jovem–113 doentes–88,3%) e idade ao diagnóstico de DC ? 60 anos (grupo idoso-15 doentes-11,7%). Avaliadas as características demográficas, classificação de Montréal, forma de apresentação, tabagismo, manifestações extra-intestinais, necessidade de terapêutica com imunomoduladores/biologicos, complicações (abcessos, sub-oclusão/oclusão, perfuração) e cirurgia. Testes estatísticos: t-student; quiquadrado; curva de kaplan-meyer Resultados: Grupo jovem: sexo feminino–57,5%, idade média-28,7 anos(±6,2). Grupo idoso: sexo feminino– 60%; idade média-68,7 anos(±6,4). Tempo médio de seguimento: 8,8 anos(±5,6). Na apresentação clínica, as hematoquezias foram mais frequentes no grupo idoso (33,3% vs 5,3%,p<0,001). Nenhum doente do grupo idoso apresentava hábitos tabágicos(0% vs 35,4%, p=0.005). Ao diagnóstico, a doença do colon (L2) foi identificada mais frequentemente nos idosos (53,3% vs 17,7%,p =0,026) e a doença perianal nos adultos jovens (22,1% vs 0%, p=0,043). Não se encontraram diferenças quanto ao comportamento da doença nos jovens e idosos (B1:66,6% vs 61,9%,p=0,72; B2:23% vs 26,6%,p=0,75; B3:16,8% vs 6,6%,p=0,31). Ao final do primeiro ano de apresentação o risco de realizar tratamento cirúrgico é de 17,7% nos jovens e 14% nos idosos. Embora doentes com idade?60 anos apresentem menos complicações(20% vs 36,2%,p=0,41) e necessidade de imunomoduladores(46,7% vs 50%,p=0,79), estas diferenças não são estatisticamente significativas. 21% dos jovens e nenhum doente idoso se encontra sob tratamento biológico(p=0,048). Conclusões: O nosso estudo sugere-se que existem diferenças de fenótipo nos doentes idosos, principalmente no que diz respeito a maior envolvimento do colon, apresentação clínica sob a forma de hematoquezias e menor utilização de agentes biológicos. Centro Hospitalar Vila Nova Gaia - Espinho 236 P143 TERAPÊUTICA BIOLÓGICA NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL: 11 ANOS DE EXPERIÊNCIA Rodrigues A, Lago P, Caetano C, Salgado M, Pedroto I Introdução: Os inibidores do factor de necrose tumoral alfa (anti-TNF?) transformaram a forma de tratar os doentes com doença inflamatória intestinal. Apesar de bem tolerados, exigem monitorização cuidadosa dos efeitos adversos. Propusemo-nos a avaliar as principais intercorrências durante este período. Material/Métodos: Avaliação retrospectiva das principais intercorrências/ efeitos adversos de 192 doentes tratados com fármacos anti-TNF, entre 2003 e 2013. Resultados: Sexo feminino (58%), Doença de Crohn (88%), idade média: 43 anos (20-78). A terapêutica biológica foi iniciada em média 7 anos após o diagnóstico, sendo o infliximab, a escolha inicial em 76% dos doentes. A terapêutica inicial foi suspensa em 32% dos doentes; em 47% dos casos por intercorrências/ efeitos adversos, em 31% por ausência/ perda de resposta, em 11% por remissão sustentada e em 11% por iniciativa própria. Efectuado switch para outro biológico em 39% dos casos. Tempo médio de terapêutica anti-TNF: 42 meses (2-158). Terapêutica imunomoduladora prévia ao fármaco anti-TNF: 84%. Tratamento combinado: 78% dos casos. Reacções infusionais significativas: 13% dos doentes sob Infliximab, reacções no local de administração: 6% dos doentes sob Adalimumab. Intercorrências infecciosas: 22% dos doentes, destacam-se 4 casos tuberculose (miliar, pleural, ganglionar e disseminada), 3 Pneumonias, 1 abcesso hepático, 1 espondilodiscite, 1 celulite (todas com necessidade de internamento). Alterações cutâneas (16 casos de psoríase e lesões tipo-psoriáticas, 2 eczema, 1 rosácea), alterações hematológicas (2 trombocitopenia e 1 leucopenia), alterações neurológicas (síndrome vertiginoso) e 10 neoplasias (2 carcinomas da mama, 1 da próstata, 1 do recto, 1 do canal anal e 1 basocelular, 1 oligodrendroglioma, 1 linfoma de Hodgkin do recto, 1 linfoma B cutâneo, 1 leucemia mielóide crónica). Conclusões: Apesar de seguros, a principal causa de suspensão da terapêutica foi a ocorrência de efeitos adversos, intercorrências infecciosas e neoplasias. Em muitas situações é difícil estabelecer o risco atribuível à terapêutica biológica. Centro Hospitalar do Porto - Hospital Geral Santo António 237 P144 CURVA DE APRENDIZAGEM DA CROMOENDOSCOPIA NO RASTREIO DA COLITE ULCEROSA Freire P.*1, Figueiredo P.1, Cardoso R.1, Donato M.M.1, Ferreira M.1, Mendes S.1, Cipriano M.A.2, Silva M.R.2, Ferreira A.M.1, Vasconcelos H.3, Portela F.1, Sofia C.1. Introdução: À colite ulcerosa associa-se risco aumentado de cancro colo-rectal. As recomendações mais recentes alvitram a cromoendoscopia como método preferencial de rastreio. São escassos os dados sobre a curva de aprendizagem dessa técnica. Objectivo: Caracterizar a curva de aprendizagem da cromoendoscopia no rastreio da colite ulcerosa. Doentes e métodos: 73 doentes com colite ulcerosa distal/extensa com > 8 anos de evolução foram, prospectivamente, rastreados através de colonoscopia com cromoscopia com azul de metileno e endomicroscopia confocal. Os doentes foram divididos em quartis de acordo com a ordem de realização do exame, comparando-se a duração dos procedimentos, o número de biopsias efectuadas, o número de neoplasias intra-epitelais detectadas e a cifra de doentes com neoplasia intra-epitelial. Resultados: Detectaram-se 7 neoplasias intra-epitelais em 6 doentes. A duração média dos exames foi de 61,5 ± 15,5 min e o número médio de biopsias realizadas de 4,7 ± 4,9. A duração média dos exames, nos diferentes quartis, foi 72,2 ± 23,0, 54,2 ± 10,5, 57,5 ± 8,6 e 61,9 ± 10,4 min, respectivamente (p = 0,022). A significância estatística dessa avaliação resultou da diferença existente entre o primeiro quartil e os restantes (72,2 ± 23,0 vs 58,0 ± 10,2, p = 0,020), não se verificando diferenças significativas entre os outros quartis. O número de neoplasias intra-epitelais detectadas (0,1 ± 0,2, 0,2 ± 0,5, 0,1 ± 0,2, 0,1 ± 0,3; p = 0,871), os doentes com neoplasia intra-epitelial (1, 2, 1, 2) e o número de biopsias efectuadas (5,8 ± 5,9, 4,6 ± 5,6, 4,6 ± 4,6, 3,7 ± 3,4; p = 0,873) não foram significativamente diferentes entre os diversos quartis. Conclusão: A curva de aprendizagem da utilização da cromoendoscopia com azul de metileno no rastreio da colite ulcerosa envolve, essencialmente, o tempo despendido na realização do exame e é relativamente rápida (18 exames). 1- Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 2 - Serviço de Anatomia Patológica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 3 - Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar Leiria – Pombal 238 P145 PRÁTICAS DE VIGILÂNCIA DA PELE EM DOENTES COM DOENÇA INFLAMATÓRIA DO INTESTINO (DII) EM PORTUGAL: RESULTADOS DE UM INQUÉRITO NACIONAL Torres J (1), Rosa I. (2), Ferreira A (1,3), Cravo M (1), Cotter J (4), Matos L. (5), Magro F. (6), SPG e GEDII Introdução: Evidência recente aponta para risco aumentado de cancro da pele melanoma (CPM) e não melanoma (CPNM) na DII, sobretudo em relação com determinadas terapêuticas. A ECCO recomenda rastreio dermatológico frequente em doentes sob imunossupressão. Objectivo: avaliar as práticas de vigilância da pele dos gastrenterologistas portugueses. Métodos: inquérito online anónimo (22 questões), enviado através da mailing list do GEDII e da SPG. Resultados: 70 completaram o inquérito: 30%, 34%, 16% e 20% observa <10, 10-30, 30-50 e >50 doentes/mês. Dos questionados, 57% reconheceu um risco aumentado de CPNM independentemente da medicação; os que observam>30 doentes/mês estavam mais conscientes deste risco: 82vs18%, p=0.021. 83% atribuiu risco de CPNM a tiopurinas monoterapia, 40% a antiTNF monoterapia e 82% a terapêutica combinada; apenas 24% identificou correctamente todas as terapêuticas associadas ao CPNM. 60% negou/desconhece risco aumentado de CPM, 26% desconhece a que medicação este risco se associa, e apenas 26% identificou todas as terapêuticas associadas ao CPM (os que observam>30 doentes estavam melhor informados: 94%vs6% p=0.011). Dos questionados, 56% discute o risco de cancro de pele com os doentes, 61% sabe identificar factores de risco(FR), e 76% aconselha medidas de protecção solar. Embora 61% entenda que deve ser o dermatologista a seguir o doente com FR dermatológico, apenas 10% dos GE envia os doentes ao Dermatologista regularmente para avaliação do risco, 44% fá-lo raramente, e apenas 29% examina a pele dos seus doentes periodicamente. O local de trabalho, anos de especialista, número de doentes observados/mês não influenciaram as práticas de vigilância da pele. Conclusão: Dos questionados, 57% e 40% reconheceram o risco de CPNM e CPM, respectivamente. Apenas 24% e 26% identificaram correctamente as medicações que podem aumentar este risco. Os que observam mais doentes estão melhor informados. Medidas preventivas como referenciação à Dermatologia e inspecção periódica da pele devem ser reforçadas. (1) Serviço de Gastrenterologia, Hospital Beatriz Ângelo, Loures (2)Serviço de Gastrenterologia, IPO-Lisboa (3) Serviço de Gastrenterologia CHAlgarve, Portimão (4)Serviço de Gastrenterologia CHAlto Ave (5)Hospital dos Lusíadas, Presidente da SPG (6)Serviço de Gastrenterologia do Hospital S. João, Presidente do GEDII 239 P146 FACTORES PREDITIVOS DE INCAPACIDADE NA DOENÇA DE CROHN Magalhães J. (1), Dias de Castro F. (1), Boal Carvalho P. (1), Leite S. (1), Moreira MJ. (1), Cotter J. (1,2,3) Introdução: A evolução da doença de Crohn (DC) pode apresentar consequências físicas, psicológicas e sociais que frequentemente comprometem a capacidade do doente realizar as suas actividades do quotidiano. Objectivos: Avaliação dos factores preditivos de incapacidade relacionada com a DC. Material e métodos: Um total de 55 doentes com DC, consecutivamente observados numa consulta de Gastrenterologia, preencheram um questionário específico de avaliação de incapacidade na DII “Inflammatory Bowel Disease-Disability Score” (IBD-DS). A actividade da doença foi avaliada usando o índice de Harvey-Bradshaw (HB). Para comparar possíveis diferenças nas médias do IBD-DS para as diferentes variáveis clínicas recorreu-se à análise de variância (one-way ANOVA). A análise estatística foi realizada com o SPSS 21.0, considerando-se significativo um valor de p<0,05. Resultados: Foi observada uma diferença estatisticamente significativa no valor médio do IBD-DS nos doentes com doença inactiva vs. doença activa (93,78±24,09 vs. 117,57±35,37, p=0,016). O estudo das variáveis clínicas revelou scores de incapacidade significativamente superiores nos doentes do género feminino (p=0,023) e com manifestações extraintestinais da DC (p=0,002). Doentes com incapacidade permanente ou temporária para o trabalho por doença também apresentaram scores de incapacidade significativamente superiores (p=0,013). Não foi observada uma diferença estatisticamente significativa entre os valores médios do IBDDS e a idade de diagnóstico (p=0,109), localização (p=0,898) e comportamento da doença (p=0,518), antecedentes de hospitalização (p=0,609) ou cirurgia (p=0,052), bem como a presença de comorbilidades (p=0,406). Conclusão: Doentes com doença activa, do género feminino e com manifestações extraintestinais da doença apresentaram scores de incapacidade significativamente superiores. Estes devem ser atempadamente valorizados para que se possam implementar medidas que possibilitem a redução da incapacidade relacionada com a doença de Crohn. (1)Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave, Guimarães, Portugal;(2)Instituto de Investigação em Ciências da Vida e da Saúde, Universidade do Minho, Braga/Guimarães, Portugal;(3)Laboratório Associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães, Portugal 240 P147 SATISFAÇÃO E CONSIDERAÇÕES SOBRE A TERAPÊUTICA ANTI-TNF ALFA NA DOENÇA DE CROHN: A PERSPETIVA DO DOENTE Fernandes C., Pais T., Ribeiro I., Silva J., Ponte A., Pinho R., Silva AP., Rodrigues A., Proença L., Alberto L., Carvalho J. Introdução: Até a data poucos estudos avaliaram a perspetiva do doente em relação a terapêutica anti-TNF alfa, nomeadamente sobre a importância de uma terapêutica finita. Objetivo: avaliar a satisfação do doente em relação ao esquema de administração da terapêutica anti-TNF alfa e comparar com regime alternativo; avaliar a importância de uma eventual terapêutica finita. Materiais: Indíviduos com doença de Crohn sob terapêutica anti-TNF alfa (infliximab e adalimumab) durante 2013. Questionário telefónico foi realizado por um único operador (CF) e transmitido que o mesmo carecia de qualquer importância individual. Avaliado: 1) efeito da terapêutica anti-TNF alfa na atividade laboral 2) satisfação em relação esquema de administração e comparação com regime alternativo; 3) importância de uma terapêutica finita. Resultados: Considerados 43 doentes, dos quais 38 concordaram em responder (55,3% feminino, idade média 38.3 anos); 1) grupo infliximab: 21 doentes (idade média 40,4 anos, 57,1% masculino); followup médio 21 meses; 57,1% dos doentes com emprego, dos quais 58,3% perdem dias de trabalho para cumprir terapêutica; a perceção do efeito benéfico da terapêutica foi classificada com 8,4 pontos [0-10] e o conforto do esquema de administração em 8,1 [0-10]. No entanto 52,7% dos pacientes prefeririam esquema de administração alternativo; 2) grupo adalimumab: 17 doentes (idade média 35,6 anos, 70,6% feminino); follow-up médio 13,0 meses; 47,1% estavam empregados, não tendo a terapêutica qualquer influencia na atividade laboral; efeito benéfico classificado em 8,6 pontos [0-10] e o conforto da administração em 7,6 [0-10]; 35,3% prefeririam trocar esquema terapêutico; 3) a hipótese duma terapêutica finita foi considerada como altamente desejável na nossa amostra (total 8,3; grupo infliximab 8,3; grupo adalimumab 8,4 [0-10]). 47,3% dos doentes admitem receio em relação a efeitos adversos da terapêutica. Conclusão: Na nossa amostra os doentes estão globalmente satisfeitos com a sua terapêutica anti-TNF alfa e consideram a possibilidade duma terapêutica finita como muito importante. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Vila Nova Gaia/Espinho 241 P148 DILATAÇÃO ENDOSCÓPICA POR BALÃO NA DOENÇA DE CROHN : O IMPACTO REAL NA EVOLUÇÃO CLÍNICA DA DOENÇA Lopes S., Andrade P., Rodrigues-Pinto E., Vilas-Boas F., Magro F., Macedo G. Introdução e objectivos: A recorrência endoscópica após cirurgia na doença de Crohn (DC) é elevada; 50% dos doentes necessitam de segunda cirurgia. A dilatação endoscópica por balão (DEB) é uma alternativa à cirurgia, mas os dados relativos à segurança e eficácia, bem como factores associados à necessidade de dilatação são limitados. Determinar a eficácia e segurança da DEB nos doentes com DC com estenose da anastomose e avaliar os factores associados à necessidade de dilatação. Métodos: Estudo transversal dos doentes com DC submetidos previamente a ilecolectomia (estenose/abcesso) propostos para reavaliação endoscópica e eventual dilatação entre março/2010 e fevereiro/2014. Sucesso da DEB definiu-se como passagem do endoscópio para o íleo após dilatação. Resultados: Avaliação endoscópica de 100 doentes (52% do sexo feminino) com uma idade média de 44±13anos que foram seguidos durante uma mediana de 12 meses. Trinta e oito por cento dos doentes tinham estenose da anastomose, dos quais 34 foram dilatados (taxa de sucesso – 89.5%), não tendo sido registada nenhuma complicação. Trinta e dois doentes tinham um score de Rutgeerts ?2. Vinte doentes necessitaram de segunda dilatação, em mediana 11 meses depois da primeira. O sucesso da dilatação evitou a necessidade de cirurgia após dilatação (3.2% vs 50%, p=0.014; OR 0.094 [IC95% 0.020 - 0.447]). Os doentes com doença perianal, tabagismo activo e com sintomas oclusivos necessitaram de dilatação mais cedo após a primeira cirurgia (p=0.042, p=0.003 e p=0.019, respectivamente). Os doentes sob terapêutica com imunomoduladores tiveram menor necessidade de serem dilatados (23.4% vs 52.8%, p=0.003) e foram dilatados mais tarde (7161±3158 vs 4030±648, p<0.001). Conclusões: A DEB é um procedimento seguro e eficaz, que permite evitar a necessidade de cirurgia na maioria dos doentes. Doença perianal, tabagismo activo, presença de sintomas oclusivos e ausência de terapêutica com imunomoduladores associam-se a necessidade de dilatação mais precoce. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar São João 242 P149 NÍVEIS SÉRICOS E ANTICORPOS ANTI-INFLIXIMAB: SERÃO ÚTEIS NA PRÁTICA CLÍNICA? Patrícia Sousa,P., Fernandes,S., Moura,C.M., Baldaia,C., Gonçalves,A.R., Valente,A., Santos,P.M., Correia,L., Serejo, F., Velosa, J. Introdução: O Infliximab demonstrou ser eficaz na indução e manutenção de resposta na Doença de Crohn (DC) e Colite Ulcerosa (CU). Contudo, nem todos os doentes respondem à terapêutica e alguns respondedores iniciais perdem a resposta ao longo do tempo. A presença de níveis séricos baixos e anticorpos anti-Infliximab foram associados à perda de resposta. Objetivos: Avaliar a utilidade do doseamento de níveis e anticorpos anti-Infliximab na orientação terapêutica de doentes com DC e CU. Métodos: Avaliação retrospectiva do processo clínico de doentes com DC e CU sob terapêutica com Infliximab em seguimento hospitalar. Foram seleccionados doentes com actividade clínica e com doseamento de níveis séricos e de anticorpos anti-Infliximab. Os doseamentos são feitos por ensaios imunoenzimáticos (Lisa-Tracker, Theranostic, Theradiag ®). Resultados: Dos 109 doentes sob infliximab foram incluídos 42 (25 sexo feminino, idade média 44 + 13.2 anos) com DC (N=36) e CU (6). O tempo médio de terapêutica com Infliximab foi de 48 meses. 27 doentes (64,3%) estavam sob terapêutica combinada com azatioprina. 9 doentes já haviam sido submetidos a cirurgia prévia. Foram detectados níveis sub-terapêuticos(0.01-1.5) em 15 doentes (35,7%) e anticorpos (5-240) em 11 (26,2%). Dos 17 doentes (40.5%) com avaliação endoscópica nesta data, 5 mantinham actividade apesar de níveis séricos terapêuticos e ausência de anticorpos. 72.7.% dos doentes em que foram detectados anticorpos anti-infliximab estavam sob terapêutica combinada. A avaliação dos dados levou ao ajuste da posologia de Infliximab em 12 doentes (28,6%), à suspensão em 7 (16.7%) e inicio de metotrexato em 2 (4.8%). Dos que suspenderam foi feito switch para adalimumab em 6 doentes (14,3%) e um iniciou metotrexato. Conclusão: Na nossa série, o doseamento de níveis séricos e anticorpos anti-Infliximab forneceu informação relevante, permitindo um ajuste terapêutico em 50.1% dos doentes. Esta informação poderá permitir, em doentes seleccionados, uma optimização da terapêutica biológica. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa 243 P150 RESULTADOS A LONGO PRAZO DA AZATIOPRINA NA DOENÇA DE CROHN: EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Santos-Antunes J;, Magro F;, Rodrigues-Pinto E;, Vilas-Boas F;, Coelho R;, Ribeiro OS;, Lopes S;, Macedo G Introdução e Objectivos: A Azatioprina é um fármaco de grande importância no tratamento da doença de Crohn. Embora a sua eficácia tenha sido demonstrada em vários estudos, os dados acerca do seu uso na vida real são escassos. O nosso objetivo foi avaliar a evolução dos doentes com doença de Crohn sob azatioprina na prática clínica diária. Métodos: Doentes com doença de Crohn sob azatioprina seguidos na nossa consulta com um follow-up máximo de 21 anos foram incluídos no estudo, sendo alocados num de quatro grupos; dois grupos incluíam doentes sob terapêutica com azatioprina para prevenção de recorrência pós-operatória e por doença corticodependente; um terceiro grupo incluiu pacientes que necessitaram de terapêutica combinada com infliximab e um quarto grupo formado por pacientes que não toleraram azatioprina. Resultados: Um total de 221 pacientes foram incluídos, 180 por corticodependência (64 dos quais necessitam de tratamento adicional com infliximab) e 41 para prevenção da recorrência pósoperatória. A remissão livre de esteróides foi obtida em 48%. A imunossupressão nos corticodependentes diminuiu o número de doentes que necessitaram de internamento (64%vs36% antes e após azatioprina, p<0,001), mas não as taxas de cirurgia. A azatioprina no pós-operatório foi eficaz na diminuição de internamentos. A adição de infliximab diminuiu o número de doentes hospitalizados (p=0,009) e as taxas de hospitalização por pessoa por ano (0.23vs0.07 antes e após infliximab, p<0,001), mas não teve efeito nas taxas de cirurgia por pessoa por ano. Sessenta pacientes (23%) apresentaram efeitos adversos com azatioprina, 39 requerendo descontinuação do fármaco. Conclusões : Neste estudo da vida real, a azatioprina teve um efeito poupador de esteróides a longo prazo e diminuiu as hospitalizações. A sua combinação com infliximab reduziu os internamentos, mas não diminuiu as taxas de cirurgia. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar S. João, Porto 244 P151 COLITE ULCEROSA: IMPACTO DA IDADE NA HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Cúrdia Gonçalves T., Dias de Castro F., Firmino Machado J., Moreira M.J., Rosa B., Cotter J. Introdução/Objetivo: A colite ulcerosa (CU) é uma patologia com uma reconhecida heterogeneidade fenotípica. Alguns estudos têm sugerido que as características e história natural da doença poderão ser influenciadas pela idade no momento do diagnóstico. O objetivo deste trabalho foi comparar as características dos doentes, da doença e do tratamento entre doentes com CU diagnosticada em duas faixas etárias distintas. Material: Estudo retrospetivo que incluiu 310 doentes com CU, divididos em dois grupos: doentes diagnosticados até aos 40 anos de idade e doentes diagnosticados após os 40 anos de idade. Em cada um dos grupos foram analisadas características dos doentes (género, história familiar, tabagismo), da doença (curso clínico, extensão, necessidade de internamento, manifestações extra-intestinais), e do tratamento (aminossalicilatos orais, corticoterapia sistémica ou terapêutica imunomoduladora). Para a análise estatística recorreu-se ao SPSSv20.0. Resultados: Dos doentes analisados, 207 tiveram diagnóstico de CU estabelecido antes dos 40 anos (43,5% do sexo masculino; idade média de diagnóstico 29,4±6,9 anos) e 103 com CU identificada após essa idade (61,2% do sexo masculino; idade média no momento do diagnóstico 51,8±8,1 anos). No grupo em que o diagnóstico foi feito até aos 40 anos foi significativamente mais frequente o sexo feminino (p=0.004), o uso de aminossalicilatos orais (p=0.034), corticoterapia sistémica (p=0.002) e imunomoduladores (p=0.017). Relativamente ao curso clínico da doença, os doentes com diagnóstico antes dos 40 anos apresentaram mais frequentemente sintomas crónicos intermitentes (p=0.004) e necessidade de internamento (p=0.001). Não foram detetadas diferenças entre a extensão da doença, história familiar, tabagismo ou manifestações extra-intestinais entre os dois grupos. Conclusões: A colite ulcerosa, quando diagnosticada em adolescentes ou jovens adultos, tende a apresentar um fenótipo mais agressivo, com uma maior frequência de internamentos e sintomas crónicos intermitentes, bem como uma maior necessidade de corticoterapia sistémica ou terapêutica imunomoduladora. Este facto poderá ter implicações no planeamento precoce de estratégias terapêuticas futuras. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães 245 P152 INFEÇÃO POR CLOSTRIDIUM DIFFICILE EM DOENTES INTERNADOS POR COLITE ULCEROSA AGUDIZADA: INCIDÊNCIA, FATORES DE RISCO E PROGNÓSTICO Alves A.R.(1), Cardoso R.(1), Elvas L.(1), Freire P.(1), Mendes S.(1), Ferreira M.(1), Portela F.(1), Sofia C.(1) Introdução: A Colite Ulcerosa (CU) constitui um fator de risco para infeção por Clostridium difficile (ICD), que pode estar associado a agudização da doença e alterar o prognóstico. Está recomendada a sua exclusão num episódio de agudização de CU. Objetivos: Determinar a incidência, fatores de risco e impacto no prognóstico da ICD em doentes internados por CU agudizada. Doentes e Métodos: Estudo retrospetivo dos internamentos por CU agudizada numa enfermaria de Gastrenterologia num período de 5 anos. Recolhidos dados demográficos, clínicos, analíticos, endoscópicos e seguimento. Resultados: Incluídos 94 doentes, correspondentes a 140 internamentos. Média etária 47,0±17,8 anos, 56,6% homens, 14,0±10,9 dias de internamento. Diagnosticados 14 casos de ICD, representando uma incidência de 10% dos internamentos e 14,9% dos doentes. Terapêutica na admissão: 5-ASA oral em 84,6% dos casos, azatioprina em 35,6%, corticóides em 34,6%, 5-ASA tópico em 29,8%, infliximab em 5,8% e ciclosporina em 1%. Verificada tendência para maior incidência de ICD nos internados sob infliximab (33,3% nos medicados versus 8,2% nos não medicados; p=0,051). Doentes com ICD apresentaram valores mais baixos de albumina na admissão (3,0 versus 3,7g/dl; p=0,018). A taxa de colectomia no internamento foi superior no grupo com ICD (14,3% versus 1,6%; p=0,007). Aos 6 meses de follow-up a taxa de colectomia foi semelhante entre os dois grupos (14,3 versus 13,0%; p=0,786). As taxas de re-internamento e mortalidade aos 6 meses foram semelhantes. Não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre os doentes com e sem ICD na idade, sexo, tempo de internamento, extensão da doença e toma recente de corticóides ou antibióticos. Conclusões: A incidência de ICD nos doentes internados com CU agudizada é significativa. No grupo com ICD, os níveis séricos de albumina foram inferiores, a taxa de colectomia no internamento é mais elevada e tende a haver maior proporção de doentes sob infliximab. 1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 246 P153 RECORRÊNCIA ENDOSCÓPICA APÓS ILEOCOLECTOMIA NA DOENÇA DE CROHN Lopes S., Andrade P., Rodrigues-Pinto E., Vilas-Boas F., Magro F., Macedo G. Introdução e objectivos: A recorrência endoscópica após cirurgia na doença de Crohn (DC) é elevada, com importante valor prognóstico. O objectivo foi avaliar a recorrência endoscópica após ileocolectomia e determinar factores de prognóstico no momento da colonoscopia. Métodos: Estudo transversal dos doentes com DC previamente submetidos a ilecolectomia propostos para reavaliação endoscópica entre março/2010 e fevereiro/2014. Definiu-se recorrência endoscópica como um score Rutgeerts?2. Resultados: Dos 100 doentes propostos para colonoscopia, 32% apresentavam critérios endoscópicos de recorrência (11 diagnosticados após dilatação da anastomose e passagem para o neoíleo), que se associou significativamente a valores mais elevados de calprotectina (410.5±401µg/g vs 78.7±100.4µg/g, p<0.001) e lactoferrina fecais (38.6±43.2µg/g vs 8.3±18.4µg/g, p<0.001), sem correlação com valores de proteína Creactiva (PCR)(p=0.113). Estes doentes intensificaram mais frequentemente a terapêutica após a colonoscopia índex (25% vs 6%, p=0.009) e necessitaram de mais ciclos de corticoterapia (21.9% vs 3%, p=0.003) durante o seguimento (mediana de 12 meses). Dos doentes com recorrência que alteraram a terapêutica, nenhum necessitou de cirurgia (0% vs 4.2%, p=0.444); não houve diferenças na necessidade de corticoterapia (37.5% vs 16.7%, p=0.235) durante o seguimento relativamente aos que não intensificaram a terapêutica. Todos os doentes com recorrência endoscópica na altura da colonoscopia índex encontram-se actualmente em remissão clínica, sendo a albumina actual de 42±4.9g/dL e a PCR mediana de 3.4mg/dL; dezoito (56%) destes doentes estão a fazer terapêutica com biológico. Conclusões: A avaliação endoscópica no pós-operatório permitiu o diagnóstico de recidiva subclínica num terço dos doentes. Valores elevados de calprotectina e a lactoferrina fecais associaram-se de forma significativa a recorrência endoscópica, nao se verificando associação com os valores da PCR. A determinação da recidiva da doença permite optimizar/intensificar a terapêutica e dessa forma tentar influenciar o prognóstico. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar São João 247 P154 ADALIMUMAB NO TRATAMENTO DA DOENÇA DE CROHN ABDOMINAL: EFICÁCIA NA PRÁTICA CLÍNICA Carvalho D., Bernardes C., Russo P., Saiote J., Ramos J. Introdução e objectivos: O Adalimumab (ADA) está aprovado para a indução e manutenção da remissão da DC. Pretende-se avaliar a eficácia na prática clínica do ADA no tratamento da DC abdominal. Métodos: Estudo retrospectivo da evolução da DC durante primeiro ano de tratamento com ADA. Resultados: Tratados 58d, 65,5% mulheres, com idade média 38 anos (19-71), 48,3% fumadores e 29,3% ex-fumadores; doença L1- 19 d, L2-11 d, L3-25 d e L4-3 d (classificação Montreal). Doença perianal (DPA) em 29d, fístulas entero-cutâneas (FEC) em 2d. Treze com manifestações extra-intestinais: 10-patologia osteo-articular, 4eritema nodoso. Tratamento prévio: 34d corticosteroides, 33d azatioprina/6-mercaptopurina e 25d infliximab operados 26 (44,8%). Indicação para tratamento: 27d (46,5%) corticodependência, 24d (41,4%) DPA, 5d (8,7%) corticorresistência, e 2d (3,4%) FEC. Excluíram-se 3d que iniciaram tratamento noutra instituição e 26 por DAP ou FEC como indicação (não aplicabilidade do índice de Harvey-Bradshaw (IHB)). Na semana 0 4/29 d apresentavam IHB menor 5, 14/29 IHB 5-7 e 11/29 IHB 8-16; 19 medicados com azatioprina/6-mercaptopurina e 13 com corticóides.À 4ª semana: resposta em 23/29d;remissão 16/29d; 2 suspenderam tratamento, 1 por cirurgia, 1 por hipersensibilidade. À 8ª semana: resposta em 25/27d; remissão em 20/27d. À 52 ª semana: 17 concluíram o período de tratamento (intensificação da dose em 3); 15 d tinham IHB inferior a 5; 2 entre 5-7. Nenhum estava medicado com corticóide; 9 mantinham azatioprina/6-mercaptopurina. Ocorrerem 3 reações dermatológicas e 1 vasculite leucocitoclástica. Oito interromperam o tratamento antes do período em estudo: 6 por não resposta/perda de resposta (operados -4) ; infecção – 1; vasculite leucocitoclástica-1. Perdeu-se o seguimento de 1 e 1 não ainda perfez 1 ano de tratamento. Conclusão: O ADA foi seguro e eficaz, na indução e manutenção da remissão da DC abdominal, como um taxa de resposta de 86 % à 8ª semana e 58% à 52ª. Serviço de Gastrenterologia, CHLC - Hospital Santo António dos Capuchos 248 P155 ENTERO-TC: UMA FERRAMENTA ÚTIL NA AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE INFLAMATÓRIA DA DOENÇA CROHN Campos S., Oliveira A., Figueiredo P., Portela F., Sofia C. INTRODUÇÃO: Apesar da avaliação da atividade inflamatória ser crucial para a orientação terapêutica dos doentes com Doença Crohn (DC), não existe, até à data, um método preferencial para definir doença ativa, sobretudo a nível do intestino delgado. Nesta localização, a avaliação radiológica por enteroTC/enteroRM assume uma relevância particular. Dada a difícil acessibilidade à RM, a TC mantém-se o exame radiológico mais rotineiramente utilizado. O objetivo deste estudo consistiu em determinar o papel da enteroTC na avaliação da atividade da DC. MATERIAL&METÓDOS: Estudo retrospetivo, incluindo todos os doentes com diagnóstico de DC do intestino delgado seguidos numa unidade hospitalar, submetidos a enteroTC no período de tempo compreendido entre Janeiro 2010 - Julho 2013. Avaliação das características epidemiológicas, clínicas, laboratoriais (hemoglobina, plaquetas, albumina, PCR) e imagiológicas (espessamento e estratificação parietais, alterações mesentéricas, derrame peritoneal e complicações – fístulas, abcessos e estenoses) e correlação entre os parâmetros clinico-laboratoriais e os achados radiológicos na enteroTC. RESULTADOS: No período de tempo estudado, 94 doentes com DC delgado foram submetidos a enteroTC: 60,6% sexo feminino; idade média 38,7 anos (16-78 anos); duração média da doença de 6,5 anos; classificação Montreal – A2-77,3%, B1-59,6%, L1-62,8%, perianal-9,6%. A presença de espessamento da parede do intestino delgado correlacionou-se significativamente com a atividade inflamatória laboratorial medida por PCR (p=0,003), bem como com a presença de sintomatologia (p=0,0029). O sinal do pente correlacionou-se significativamente com a atividade inflamatória laboratorial (p=0,002). Nos doentes com DC ativa, os achados da enteroTC conduziram a uma alteração da terapêutica em 51,3% dos casos. CONCLUSÃO: A enteroTC constitui uma ferramenta imagiológica útil na avaliação da atividade da DC. Achados radiológicos como o espessamento da parede do intestino delgado e/ou o sinal do pente podem ajudar a definir DC em fase ativa e a orientar estes doentes para esquemas terapêuticos mais agressivos. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 249 P156 MONITORIZAÇÃO DE SINAIS VITAIS DURANTE A ADMINISTRAÇÃO DE INFLIXIMAB – QUAL A SUA UTILIDADE? Branquinho D., Freire P., Mendes S., Ferreira A.M., Ferreira M., Portela F., Sofia C. Introdução: A medição seriada dos sinais vitais durante as perfusões de Infliximab está protocolada em quase todos os centros. Apesar de inóquo, este procedimento é moroso e sobrecarrega os profissionais de saúde. Numa era em que cada vez mais doentes são propostos para terapêutica biológica, interessa perceber a capacidade desta prática em prever e identificar a ocorrência de reacções adversas. Objectivos: Avaliar a utilidade da medição repetida de sinais vitais durante as administrações de Infliximab. Métodos: Entre Janeiro e Dezembro de 2013, foram registados os sinais vitais (frequência cardíaca – FC, tensão arterial sistólica – TAS, temperatura, saturação periférica de oxigénio - SpO2) e documentadas as reacções ocorridas durante a administração de Infliximab. Resultados: Administraram-se 593 perfusões a 95 doentes (6,24±1,31 por doente – Idade média: 38,8±14,2 anos; Sexo: feminino – 56, masculino – 39; D. Crohn – 66, Colite Ulcerosa – 29). Ocorreram 13 reacções adversas (2,2%) em 6 doentes, 2 delas graves com broncospasmo e angioedema. Comparando os sinais vitais basais nas perfusões em que houve reacção com as que decorreram sem incidentes, não são evidentes diferenças relevantes (FC: 78 vs 81/min, p= 0,23; TAS: 106 vs 109 mmHg, p=0,12; Temp: 35,9 vs 36,1ºC, p=0,68 ; SpO2: 98% vs 99%, p=0,42). Os sinais vitais medidos previamente às reacções quando comparados com os objectivados durante a reacção foram também semelhantes, excepto durante as duas reacções graves, nas quais houve aumento da FC (67 para 110/min e 86 para 112/min) e queda da SpO2 num deles (97% para 85%), mantendo-se ambos com TAS e temperatura estáveis. Conclusões: A monitorização protocolada dos sinais vitais durante as perfusões de Infliximab não foi capaz de prever a ocorrência ou identificar doentes em maior risco de reacções adversas, desempenhando, no entanto, um papel na avaliação da gravidade das referidas reacções. Serviço de Gastroenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 250 P157 ABCESSOS INTRA-ABDOMINAIS NA DOENÇA DE CROHN: UMA ANÁLISE RETROSPETIVA. Araújo T.*, Lago P.*, Rocha A.**, Salgado M.*, Caetano C.*, Pedroto I.* Introdução: o desenvolvimento de abcessos intra-abdominais espontâneos (AIAE) é uma complicação grave da doença de Crohn (DC). Este trabalho teve como objectivo caracterizar uma série de doentes com DC complicada de AIAE. Métodos: análise retrospetiva de 27 doentes consecutivos internados de 1 de Janeiro de 1998 a 31 de Dezembro de 2013, por DC complicada por AIAE. Resultados: sexo masculino (77,8%), idade média: 38,3 anos; principal localização DC: L1 44,4% e L3 44,4%. Doença perianal presente em 18,5% dos doentes. O abcesso foi manifestação inicial da DC em 11 doentes (40,7 %). Comportamento DC (n=16): B1 (n=1; 6,2%), B2 (n=7; 43,8%), B3 (n=8; 50%). Terapêutica médica DC (n=16): corticoterapia (37,5%), 5-ASA (31,2%), imunossupressores e/ou anti-TNF (18,8%); sem terapêutica (12,5%). Principais localizações do abcesso: fossa íliaca direita 48,1% (n=13), interansas 33,3% (n=9) e psoas 11,1% (n=3). Tamanho médio: 5,42 cm (1,6-11 cm). Antibioterapia isolada - 17 doentes (63%); antibioterapia associada a drenagem percutânea – 10 doentes (37%); necessidade de tratamento cirúrgico durante o internamento (resposta parcial à terapia conservadora): 12 doentes (44,4%) (8 doentes após antibioterapia isolada e 4 após antibioterapia e drenagem percutânea); necessidade de estoma num doente. Média de internamento: 30,7 dias (6-108). Tempo médio de seguimento após internamento: 74 meses (6-192) , com recorrência do abcesso num doente (antibioterapia isolada). No período de seguimento, dos doentes submetidos a tratamento conservador, e sem recidiva do abcesso, nove foram submetidos a cirurgia de resseção ileo-cecal e um a enterectomia. Atualmente onze doentes encontram-se sob terapia anti-TNF, em 3 deles combinada com tiopurina. Conclusão: o abcesso intrabdominal é uma complicação com elevada morbilidade, podendo ser a forma de apresentação da DC. Associa-se a taxa elevada de cirurgia durante o episódio agudo e período de seguimento, bem como necessidade aumentada de terapêutica anti-TNF. * – Serviço de Gastrenterologia, Hospital Santo António, Centro Hospitalar do Porto ** - Serviço de Cirurgia Geral, Unidade 1 - Hospital Santo António, Centro Hospitalar do Porto 251 P158 FÍSTULAS ENTERO-VESICAIS NOS DOENTES COM DOENÇA DE CROHN: O SUCESSO DA ABORDAGEM CIRÚRGICA Coelho R. 1 , Gonçalves A.2, Lopes S.1, Magro F.1,3,4, Macedo G.1 Introdução e objectivos: as fístulas entero-vesicais (FEV) são uma complicação relativamente rara da Doença de Crohn (DC) com uma incidência estimada de cerca de 2% em algumas series. Material: estudo restrospectivo de 630 doentes seguidos na consulta de Doença Inflamatória Intestinal (DII) num centro de referência terciário entre Janeiro de 1997 e Dezembro de 2013, com diagnóstico imagiológico ou cirúrgico de FEV. Resultados: foram identificados 19 doentes com diagnóstico de FEV. A maioria apresentava doença ileal n=11 (58 %) com um valor mediano de idade ao diagnóstico de 29 (P25-75: 20-38) anos. Dos 19 doentes, 13 apresentavam hábitos tabágicos. Os sintomas mais frequentes ao diagnóstico foram os relacionados com infecções do trato urinário de repetição, na presença ou não de pneumatúria. Aquando do diagnóstico de FEV, 10 dos 19 doentes encontravam-se medicados com messalazina e 7 com azatioprina. Em 7/19 doentes o diagnóstico foi realizado por tomografia computorizada abdomino-pélvica, sendo o tempo mediano entre o diagnóstico de DII e FEV de 6 (P25-75: 0,5-48,5) meses. A cirurgia foi o tratamento de eleição em todos os doentes com resseção do segmento afectado, sendo a ilecolectomia direita o procedimento cirúrgico mais frequente (11/19, 58%). O período de tempo mediano entre o diagnóstico e o tratamento cirúrgico foi de 3.0 (p25-p75: 0-8,0) meses. Na série descrita nenhum doente apresentou recorrência de FEV ou de doença. Atualmente, 68,4 % dos doentes encontram-se medicados com azatioprina. Conclusão: As FEV são complicações pouco frequentes, sendo a incidência nesta serie de 3.1%. O tratamento de eleição foi cirúrgico em todos os doentes, sem recorrência imediata ou a longo prazo. 1- Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João, Porto. 2- Serviço de Cirurgia Geral do Centro Hospitalar de São João, Porto. 3- Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. 4- MedinUP, Center for Drug Discovery and Innovative Medicines 252 P159 TERAPÊUTICA ANTI-TNFALFA NA DOENÇA INTESTINAL INFLAMATÓRIA – PERFIL DE SEGURANÇA EM INDIVÍDUOS COM MAIS DE 60 ANOS Bernardes C., Carvalho D., Russo P., Saiote J., Ramos J. Introdução: Infliximab (IFX) e Adalimumab (ADA) são antagonistas do TNFalfa, citocina importante na regulação imunológica e na defesa contra infecções e neoplasias. O envelhecimento poderá estar associado a alterações do sistema imunitário, pelo que indivíduos idosos poderão ter maior susceptibilidade para eventos adversos (EA). São limitados os dados de segurança da terapêutica anti-TNFalfa neste grupo etário. Objectivo: Caracterizar os EA em indivíduos com Doença Intestinal Inflamatória (DII) e idade superior a 60 anos tratados com anti-TNFalfa. Materiais e Métodos: Estudo retrospectivo descritivo dos indivíduos com DII, tratados com anti-TNFalfa entre 2000 e 2013, baseado nos processos clínicos. Resultados: 23 doentes (14 mulheres), 12 com Colite Ulcerosa, 11 com Doença de Crohn, fizeram anti-TNFalfa acima dos 60 anos. 22 doentes fizeram terapêutica com IFX e 7 com Adalimumab (6 após switch de IFX). O período médio de terapêutica foi 5 anos. Ocorreu pelo menos um EA em 21 doentes (91%), tendo-se registado um total 93 EA (0,8 EA/doente/ano): 73 sob terapêutica com IFX e 20 sob ADA. Os eventos mais frequentes foram infecções (n=50, em 16 doentes), episódios de doença do soro-like (n=16; 7 doentes) e reacções infusionais (n=14; 4 doentes). A associação com o anti-TNFalfa foi considerada possível em 26%, provável em 11% e definitiva em 23% dos EA. Apenas 17 dos 94 EA foram graves (14 destes com associação pelo menos possível com o anti-TNFalfa). Em 9 casos o EA obrigou à suspensão definitiva/switch do anti-TNFalfa e 10 eventos motivaram internamento hospitalar. O EA resultou em sequela física/doença evolutiva em apenas 1 caso com associação provável com o anti-TNFalfa. Não se registaram mortes nem tuberculose pulmonar. Conclusão: A taxa anual de EA associados à terapêutica anti-TNFalfa foi baixa nos indivíduos com mais de 60 anos. O espectro e gravidade de eventos foi semelhante aos descritos em indivíduos mais jovens. Hospital de Sto António dos Capuchos, Centro Hospitalar de Lisboa Central 253 P160 VARIAÇÃO DO IMC NOS DOENTES TRATADOS COM INFLIXIMAB Branquinho D., Freire P., Mendes S., Ferreira A.M., Ferreira M., Portela F., Sofia C. Introdução: Alguns doentes com Doença Inflamatória Intestinal (DII) apresentam carências nutricionais e a desnutrição é relativamente frequente. Estão descritas várias formas de avaliar a resposta ao Infliximab (IFX). No entanto, a avaliação do estado nutricional, através do Índice de Massa Corporal (IMC), é raramente utilizada com este fim. Objectivos: Avaliar a relação entre a evolução do IMC e resposta clínica em doentes sob terapêutica com Infliximab. Métodos: Incluiram-se doentes com DII sob terapêutica biológica há pelo menos 1 ano. Avaliado o IMC antes de iniciar IFX, após indução e após 1 e 3 anos de terapêutica. Resposta ao IFX avaliada com base em critérios clínicos e analíticos. Resultados: Acompanhados 62 doentes (idade média: 37,3±13,8 anos; sexo: feminino – 44, masculino – 21; D. Crohn – 45, Colite Ulcerosa – 19) com IMC inicial médio de 21,4±3,07 (10 doentes desnutridos - 16,1%; 8 com excesso de peso - 12,9%). Após a indução, o IMC não variou significativamente, já um ano depois, verificou-se um aumento importante (22,7; p=0,049). Esta tendência acentuou-se com a manutenção da terapêutica por mais dois anos (22,8; p=0,026), sendo que apenas 2 doentes (3,2%) mantiveram IMC<18,5, enquanto que 16 doentes passaram para IMC>25 (25,8%). O IMC dos doentes em remissão prolongada aumentou significativamente, em contraste com aqueles que apresentaram actividade clínica, nos quais houve diminuição (+1,81 vs -0,96, p=0,012). Este aumento foi maior nos com IMC inicial <18,5 (p=0,032), assim como nos do sexo masculino e sem envolvimento do intestino delgado, mas nestes sem significado estatístico. Outros factores como idade, duração da doença ou medicação concomitante não mostraram associação significativa. Conclusões: A terapêutica com Infliximab mostrou estar fortemente associada à melhoria do estado nutricional nos doentes que respondem ao tratamento. Os doentes com IMC inicial mais baixo são aqueles em que a associação é mais evidente. Serviço de Gastroenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 254 Pâncreas e Vias Biliares P161 DOR ABDOMINAL E HEMATOQUÉZIAS – UMA APRESENTAÇÃO INCOMUM DE ILEUS BILIAR Fernandes S., Noronha Ferreira C., Malaquias J., Ramires A., Matos H., Cabral Braga T., Pereira e Silva R., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: O íleus biliar representa uma causa rara de oclusão intestinal (2-3%) resultante da migração de um cálculo biliar através de uma fistula bilio-entérica. O ileon é o local mais frequente de obstrução (síndrome de Bouveret), podendo, raramente, o estômago ou o cólon ser afetados. O tratamento envolve a remoção cirúrgica do cálculo, colecistectomia e correcção do trajecto fistuloso. Caso clínico: Mulher de 61 anos, obesa, admitida por quadro com 3 dias de evolução de náuseas, dor abdominal, tenesmo e hematoquézias. Apresentava dor nos quadrantes superiores do abdómen com empastamento no hipogastro. O toque rectal apresentava sangue vivo no dedo de luva. A tomografia abdominal revelou espessamento da vesícula biliar, litiase vesciular e 2 corpos estranhos na sigmóide, com cerca 3 cm, sugestivos de se tratarem de cálculos biliares, condicionando impactação fecal. Os achados eram compatíveis com fistula bilio-cólica com ileus biliar. Na colangiopancreatografia retrógrada endoscópica verificou-se dilatação da via biliar principal, sem cálculos, e presença de fístula colecisto-cólica. Na colonoscopia observou-se na sigmóide distal um cálculo misto impactado 3.5 cm com ulceração da mucosa circundante. Foi realizada litotrisia mecânica com remoção por cesto dos fragmentos do cálculo. Após 2 semanas realizou-se colecistectomia, resseção segmentar do cólon esquerdo e correção do trajecto fistuloso. Teve alta após 4 semanas de internamento. Discussão: As fistulas bilio-entéricas representam um achado incomum na colecistectomia (0.3%) e raramente causam ileus biliar (0.09%). A apresentação clínica é geralmente inespecífica conduzindo a atrasos no diagnóstico e tratamento, explicando em parte a elevada mortalidade (12-27%). A cirurgia permanece o tratamento de eleição, persistindo a controvérsia em relação ao tempo ideal e extensão do procedimento (enterolitotomia com ou sem colecistectomia). Este caso representa uma apresentação incomum de ileus biliar. Destacamos o papel interventivo da endoscopia na resolução desta complicação. Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 255 P162 PANCREATITE AGUDA GRAVE POR HIPERTRIGLICERIDÉMIA: PREVALÊNCIA E CARACTERÍSTICAS DE UMA ETIOLOGIA RARA Trabulo D., Carvalhana S., Gonçalves A., Valente A., Palma R., Alexandrino, P., Velosa J. Introdução: A hipertrigliceridémia constitui 1-4% das causas de pancreatite aguda, cujo curso clínico é variável. Está geralmente associada a factores de risco metabólicos ou consumo de álcool, podendo existir um defeito genético subjacente. O manejo desta patologia permanece controverso, nomeadamente a utilidade da plasmaferese. Objectivos: Análise das características e curso clínico das pancreatites agudas graves por hipertrigliceridémia (PAGH). Métodos: Estudo retrospectivo dos doentes com PAGH, admitidos na Unidade de Cuidados Intensivos de Gastrenterologia, entre 2002 e 2013; análise de características clínicas, analíticas, critérios de gravidade, terapêutica instituída e outcome; avaliação de factores relacionados com complicações e/ou internamentos mais prolongados (Teste ?2). Resultados: 20 pancreatites por hipertrigliceridémia(7,2%) num total de 278 pancreatites; follow-up médio 3,6 anos; sexo masculino 55%; idade média 40,2±7,1 anos; Diabetes Mellitus 45%; dislipidémia 55%; obesidade (IMC>30kg/m2) 20%; hábitos alcoólicos (>40g/dia) 55%; litíase vesicular 10%; história familiar de hipertrigliceridémia 20%; valor médio de triglicéridos à admissão 3720 mg/dL (910-15720); colesterol total: 689 mg/dL (313-1700); amilasémia: 310 U/L(28-1992); lipasémia: 359U/L(59-1228). Ranson às 0h, 48h e BISAP: 1,6; 3,2 e 1,7, respectivamente. Falência renal 35%; respiratória 70%; choque 10%. Evolução: sobrevivência 100%; necrose pancreática: 60% (infectada em 25%); complicações loco-regionais: 60%. Terapêutica: estatina/fibrato 70%, perfusão insulina 70%, heparina 40%, plasmaferese 15%; valor médio de triglicéridos e colesterol à data de alta: 301 e 195mg/dL, respectivamente. Os factores de risco metabólico e os valores médios de triglicéridos, amilase e lipase à admissão, bem como a não utilização de plasmaferese, não se correlacionaram com um curso clínico mais grave, traduzido por lesão de órgão, complicações loco-regionais, necrose pancreática ou internamentos prolongados (p>0,05). Conclusão: Na nossa série, a hipertrigliceridémia constituiu uma etiologia de PAG superior à descrita na literatura, sem mortalidade associada apesar de alta morbilidade. Não se verificou superioridade da plasmaferese em relação à terapêutica médica convencional. Unidade de Cuidados Intensivos de Gastrenterologia e Hepatologia (UCIGEH); Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte 256 P163 LESÕES PANCREÁTICAS: O PAPEL DA PUNÇÃO GUIADA POR ECOENDOSCOPIA Leitão C., Santos A., Pinto J., Ribeiro H., Caldeira A., Pereira E., Pereira B., Tristan J., Sousa R., Banhudo A. Introdução e Objectivo: A ecoendoscopia (EE) tem vindo assumir um papel fundamental na abordagem da patologia pancreática. Revisão da experiência do nosso serviço na punção aspirativa com agulha fina guiada por ecoendoscopia (PAAF-EE) de lesões pancreáticas. Métodos: Estudo retrospectivo das PAAF-EE de lesões pancreáticas entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2013. Os procedimentos foram realizados por 2 operadores, com ecoendoscópio linear Pentax® EG3870UTK, acoplados ao ecógrafo Hitachi® HI VISION Preirus ou EUB-6000. Análise dos dados dos doentes, lesões, punções e citologias obtidas. Resultados: Das 1420 EE efectuadas, realizaram-se 88 PAAF de lesões pancreáticas (54,5% mulheres; idade média de 64±14 anos). 81,8% dos doentes apresentavam sintomas (epigastralgias-34 %; emagrecimento-23,9%; icterícia23,9%). O tamanho médio das lesões foi de 31,8±12,5mm. Cerca de 67,0% eram sólidas e 51,1% localizavam-se na cabeça. Usaram-se agulhas aspirativas de 19G em 7,1% dos doentes, 22G em 70,6% e 25G em 22,4%, obtendo-se diagnóstico cito-histológico em 58/70 (82,9%) dos casos. Em 18 não foi possível obter informação. Foram utilizadas agulhas Procore em 7 casos (19G-1;22G-1;25G-5) possibilitando diagnóstico em 100% dos casos. O número médio de passagens foi de 2,35±0,97. Os diagnósticos mais frequentes foram adenocarcinoma (62,9%), processos inflamatórios (21%), tumor neuro-endócrino (6,5%), cistoadenoma mucinoso (6,5%) e IPMN (1,6%). Não se registaram complicações. Identificaram-se como factores preditivos de sucesso cito-histológico (p<0,05): dimensão da lesão (Conclusiva-32,6 vs. Não conclusiva-23,6 mm), morfologia (Sólida-90,6% vs. Quística-54,5%) e a localização (Corpo-100% vs. Cabeça86,6% vs. Colo-70,2% vs. Cauda-40%). Não houve diferenças significativas na acuidade diagnóstica consoante o tipo ou tamanho da agulha e número de passagens. Conclusão: A PAAF-EE em lesões pancreáticas constitui uma técnica minimamente invasiva com acuidade diagnóstica significativa, sobretudo em lesões sólidas, de maiores dimensões, localizadas no corpo ou cabeça. Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco 257 P164 PAPEL DA COLANGIOGRAFIA PERCUTÂNEA TRANSHEPÁTICA NA ICTERÍCIA OBSTRUTIVA Giestas S.¹, Oliveira A.¹, Alves A.R.¹, Campos S.¹, Agostinho C.¹, Donato A.², Agostinho A.G.², Carvalheiro V.², Sofia C.¹ Introdução: a colangiografia percutânea transhepática (CPT) no tratamento dos doentes com obstrução das vias biliares (VB) tem diminuído nos últimos anos devido ao avanço técnico da abordagem endoscópica retrógrada (CPRE). Porém, em vários casos, ainda desempenha um papel importante como procedimento terapêutico dada a inacessibilidade da VB e/ou contraindicação anestésica. Objetivos: avaliar taxa sucesso técnico, terapêutico e complicações de doentes submetidos a CPT Doentes e Métodos: estudo retrospetivo dos registos clínicos de doentes que realizaram CPT no período de Janeiro 2011 - Dezembro 2013. Variáveis analisadas: demográficas, causas de obstrução biliar, sucesso técnico (opacificação da VB permitindo diagnóstico ou planificação tratamento), sucesso terapêutico (colocação dreno e/ou prótese promovendo drenagem biliar contínua), necessidade de reintervenção e complicações inerentes ao procedimento. Resultados: incluídos 425 procedimentos, realizados em 261 doentes (sexo masculino 61,7%; média idades 70,3±15,4anos). Reintervenção por CPT: 25,6% dos doentes. CPT por doente reintervencionado:2,5. Abordagem inicial por CPRE sem sucesso em 13% dos casos. Causas principais obstrução VB: colangiocarcinoma (30,3%), metástases hepáticas (23,4%), neoplasia pancreática (22,9%); iatrogénica (17,6%: pós-transplante hepático n=37;cirurgia pancreática-biliar n=9); coledocolitíase (4%). Taxa insucesso técnico: 3%.Realizada drenagem biliar externa 23,4%, drenagem biliar mista 29% e conseguida drenagem interna (stent e/ou prótese) 92% dos doentes. Complicações: 16,5% (sépsis/colangite n=13; hemoperitoneu e/ou hemotórax n=11; choque hipovolémico n=9; Choque séptico n=10). Taxa mortalidade: 5,7%. A taxa de insucesso técnico foi significativamente superior nos doente com obstrução iatrogénica pós-transplante (p0,05). Conclusão: os resultados da amostra (sucesso técnico/ terapêutico)são sobreponível ao descrito na literatura. As taxas elevadas de morbi-mortalidade devem-se idade avançada, comorbilidades e patologia de base dos doentes. Serviço Gastreneterologia², Serviço Imagiologia², Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 258 P165 O PAPEL DA CPT NA DRENAGEM BILIO-DIGESTIVA NA ESTENOSE BILIAR MALIGNA – AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS DE UM SERVIÇO DE GASTRENTEROLOGIA Costa M., Silva M.J., Capela T., Russo P., Carvalho D., Ramos G., Mateus Dias A., Coimbra J. Introdução: Actualmente a CPT e CPRE são técnicas predominantemente terapêuticas. A drenagem biliodigestiva com colocação de prótese metálica autoexpansível (PMAE) por via percutânea na estenose biliar maligna é utilizada nos doentes (d.) inoperáveis e quando a CPRE é tecnicamente impossível. Objectivo: Avaliar a eficácia, segurança e resultados nos d. submetidos a CPT para drenagem bilio-digestiva na estenose biliar maligna. Material/métodos: Estudo retrospectivo dos d. com estenose biliar maligna submetidos a CPT entre Out/2008 e Fev/2014 num Serviço de Gastrenterologia. Resultados: Realizou-se CPT para drenagem bilio-digestiva em 39d., predominantemente homens (56,4%) – idade mediana 67 anos [38-91]. A estenose biliar associava-se maioritariamente a neoplasias gastroduodenais (n=26) e pancreáticas (n=7). A abordagem percutânea deveu-se a alterações anatómicas por cirurgia prévia (n=22) e invasão duodenal (n=17). A drenagem biliar foi efectuada em 35d. (89,7%): bilio-digestiva com colocação de PMAE em 31 (88,6%) e drenagem biliar externa em 4 (10,3%). A bilirrubina total baixou em média 63,2% em 6dias (20,90mg/dl->7,70mg/dl). Houve morbilidade em 4d. (10,3%). Em 5d. ocorreu oclusão da PMAE colocando-se nova PMAE por via percutânea em 3 e por via endoscópica em 2. Após a drenagem bilio-digestiva, 6d. foram submetidos a quimioterapia e 1 a radioquimioterapia. Dos 31d. com drenagem bilio-digestiva, 3 estão vivos: 1d. após 1284 dias (linfoma duodenal sob quimioterapia), 1d. após 327 dias (GIST duodenal medicado com imatinib) e 1d. após 12 dias; dos restantes, 8 (29,6%) sobreviveram <1 mês, 8 (29,6%) entre 1-3 meses, 6 (22,2%) entre 3-6 meses e 5 (18,6%) >6 meses. Não há dados relativos à sobrevida de 1d. A sobrevida mediana dos 4d. com drenagem biliar externa foi 32 dias [159]. Conclusão: A drenagem bilio-digestiva com PMAE colocada por via percutânea é eficaz e segura, alcançando bons resultados na paliação dos d. com obstrução biliar maligna – 41,9% (13/31) sobreviveram mais de 3 meses. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Lisboa Central, EPE 259 P166 CARACTERIZAÇÃO DOS COLANGIOCARCINOMAS NUM CENTRO DE REFERÊNCIA: HAVERÁ UMA INCIDÊNCIA CRESCENTE? Coelho R. 1, Silva M.1, Rodrigues-Pinto E.1, Lopes S. 1, Pereira P. 1, Cardoso H. 1, Vilas-Boas F. 1, SantosAntunes J. 1, Lopes J.2, Carneiro F.2, Morgado P. 3, Maia C. 4, Macedo G.1 Introdução e objectivos: Os colangiocarcinomas constituem 3% das neoplasias malignas gastrointestinais. A incidência dos colangiocarcinomas intra-hepática tem aumentado por razões desconhecidas. O objectivo foi determinar as características clínicas, analíticas, métodos de diagnóstico e terapêuticas dos doentes com colangiocarcinoma de acordo com a localização. Material: Estudo retrospectivo dos doentes consecutivos com colangiocarcinoma entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2013 num centro de referência terciário. Resultados: Foram seguidos 89 doentes (55% do sexo masculino) durante uma mediana de 23 (P25-75: 8-80) semanas. Verificou-se um aumento progressivo do número de diagnósticos de colangiocarcinoma desde o início da coorte (14 diagnósticos "de novo" em 2008-2009, 31 em 2010-2011 e 44 em 2012-2013). A taxa de mortalidade aos 6 meses foi de 40.5%, e a sobrevida mediana de 164 (P25-75: 61-566) dias. A maioria dos doentes (53%) apresentava colangiocarcinoma peri-hilar, 24% extra-hepático e 24% intra-hepático (CCI). A mediana de idades ao diagnóstico foi de 71 anos, sendo inferior no CCI (68 vs 74 anos, p=0,014). O diagnóstico foi obtido por métodos de imagem em 73% dos casos, sendo a tomografia computorizada abdominal o mais comum (45%). Verificou-se uma correlação estatisticamente significativa entre o diagnóstico de CCI e a necessidade de diagnóstico por métodos histológicos (p<0,001). Os níveis de G-GT, fosfatase alcalina e bilirrubina total ao diagnóstico foram inferiores no CCI (p<0,001). Em 36% dos casos havia doença metastática conhecida à data do diagnóstico, sendo a metastização hepática a mais comum (12%). Em 56% dos casos foi decidido tratamento paliativo à data do diagnóstico; 54% dos doentes foram submetidos a cirurgia, sendo a hepatectomia a intervenção mais frequente (20%). Conclusões: O CCI apresenta menos colestase à data de diagnóstico, sendo mais frequente a necessidade de um diagnóstico histológico neste tipo de colangiocarcinoma. Verificou-se um aumento da incidência de colangiocarcinoma nesta coorte. 1-Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de São João, Porto 2-Serviço de Anatomia-Patológica, Centro Hospitalar de São João, Porto. 3-Serviço de Radiologia, Centro Hospitalar de São João, Porto. 4Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar de São João, Porto. 260 P167 RENTABILIDADE DIAGNÓSTICA DA CITOLOGIA COM ESCOVA DURANTE A CPRE NO ESTUDO DE ESTENOSES DA VIA BILIAR E DUCTO PANCREÁTICO Vilas-Boas F., Pereira P., Ribeiro A., Sarmento J.A., Silva M., Peixoto A., Lopes S., Lopes J., Macedo G. Introdução: A citologia com escova realizada durante a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) permanece um instrumento prático na obtenção de amostras de estenoses bilio-pancreáticas, já que estas lesões não são com frequência acessíveis para realização de biópsias. Objectivos e Métodos: Pretendemos avaliar a rentabilidade diagnóstica da citologia com escova no estudo de estenoses biliares e pancreáticas de etiologia indeterminada. Estudo retrospectivo com revisão dos doentes que realizaram citologia das vias biliares e ducto pancreático no período de Janeiro de 2012 a Dezembro de 2013. As amostras foram fixadas em metanol, avaliadas como preparações de citobloco e relatadas como inconclusivas, negativas para malignidade ou malignas. O diagnóstico citológico foi comparado com o diagnóstico final estabelecido pelo estudo histológico (peça cirúrgica ou biópsias de outra natureza) ou pelo curso clínico. Resultados: Foram colhidas amostras para citologia com escova num total de 61 doentes (idade mediana de 66±16 anos; 62% do sexo masculino) e incluídas na análise 51 amostras de estenoses dos ductos biliares e 10 do ducto pancreático. Vinte e sete amostras foram diagnosticadas como benignas, 21 como malignas e 13 como inconclusivas (rentabilidade 34,4%). Globalmente, a sensibilidade foi de 62,5%, a especificidade 96%, o valor preditivo positivo 95% e o valor preditivo negativo 81%. O dignóstico final foi de estenose benigna em 23 doentes e maligna em 33 doentes (19 adenocarcinomas do pâncreas, 8 colangiocarcinomas, 6 carcinomas da ampola de Vater, 1 carcinoma de vesícula biliar e 1 tumor neuroendócrino pancreático). Conclusão: Os nossos dados sugerem que a citologia com escova durante a CPRE é uma técnica fidedigna com especificidade muito elevada mas com sensibilidade modesta no diagnóstico etiológico de lesões bilio-pancreáticas. As dificuldades na interpretação das amostras, com muitas caracterizadas como inconclusivas, constitui uma importante limitação da sua utilização. Serviço de Gastrenterologia e Serviço de Anatomia Patológica- Centro Hospitalar de São João, Porto 261 P168 TUMORES NEUROENDÓCRINOS DO PÂNCREAS – EXPERIÊNCIA ECOENDOSCÓPICA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Roque Ramos L., Barosa, R., Figueiredo P., Meira T., Loureiro R., Pinto Marques P. Introdução e Objectivos: Os tumores neuroendócrinos do pâncreas (NEP) são raros, constituindo 1-5% das neoplasias pancreáticas. O objectivo deste estudo foi rever uma série de NEP identificados num centro terciário de ecoendoscopia (USE). Material: Estudo retrospectivo dos NEP estudados por USE e punção aspirativa com agulha fina (PAAF) e com diagnóstico citológico e/ou histológico comprovado, entre Janeiro de 2009 e Maio de 2013. Colheita de dados demográficos, clínicos e imagiológicos. Sumário dos Resultados: 15 casos de NET com diagnóstico cito-histológico, 10 do sexo feminino e todos casos esporádicos. A idade média de apresentação foi 57 anos (35 – 76). 10 doentes apresentavam sintomas, sendo o mais frequente a dor abdominal (n=5); nos restantes 5 casos foi um achado incidental. Doença metastática em 2 casos (13%). Identificados tumores síncronos em 2 doentes: neoplasia do colo do útero e tumor do estroma gastrintestinal (GIST) gástrico. Na ecoendoscopia a maioria das lesões eram sólidas (n=11, 73%) e unifocais (n=12, 80%) sendo em 3 casos multinodular (3 – 4 nódulos); a dimensão média foi 35 mm (2,5 – 140 mm); e a localização mais frequente o corpo e/ou cauda (n=11). A PAAF foi inconclusiva em apenas um doente (7%). Em 3 doentes, os NET identificados na ecoendoscopia não tinham sido previamente descritos na TC e/ou RM (dimensões 2,5 – 17 mm). Conclusões: A idade de apresentação na 6ª década de vida foi semelhante ao descrito na literatura. A maior prevalência no sexo feminino não está de acordo com o previamente descrito, provavelmente pelo N da amostra. A taxa de tumores síncronos foi 13%, tendo-se identificado a associação rara entre NEP e GIST gástrico num doente sem Neurofibromatose tipo-1. Sublinha-se que a ecoendoscopia detecta lesões até 2,5 mm não observadas por outros métodos imagiológicos, sendo a PAAF um procedimento seguro e com uma rentabilidade que atinge os 93%. Serviço de Gastroenterologia, Hospital Garcia de Orta 262 P169 CARACTERIZAÇÃO DE LESÕES PANCREÁTICAS CÍSTICAS AVALIADAS POR ECOENDOSCOPIA – A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Rodrigues-Pinto E., Lopes S., Santos-Antunes J., Vilas-Boas F., Lopes J., Baldaque-Silva F., Peixoto A., Silva M., Macedo G. Introdução e Objectivo: A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada por ecoendocopia e a quantificação do antigénio carcinogénio embrionário (CEA) das lesões pancreáticas císticas (LPC) são fundamentais no diagnóstico diferencial destas. O objectivo deste trabalho foi caracterizar as LPC submetidas a PAAF por ecoendoscopia. Métodos: Estudo transversal das ecoendoscopias com PAAF (Cook Medical®) de LPC entre 2011 e 2013. Resultados: Foram realizadas PAAF de LPC em 67 doentes (58% do sexo masculino), com idade média de 60±14 anos; 37% das lesões localizavam-se na cabeça, 33% no corpo e 24% na cauda. O tamanho mediano das lesões foi 30mm (11 – 130). A nível ultrassonográfico, 14% dos cistos apresentavam comunicação com o Wirsung, 36% tinham septos no interior; 53% das lesões eram homogéneas, com limites bem definidos em 66%, 3% tinham contacto com estruturas vasculares e 8% tinham adenopatias associadas. Foram usadas agulhas aspirativas de 19G em 29% dos doentes, 22G em 55% e 25G em 16%. O tempo médio de follow-up foi de 496±330 dias. À data actual, sabe-se que 31% das lesões corresponderam a pseudocistos, 25% a IPMNs, 13% a cistoadenomas serosos e 3% a neoplasias mucinosas císticas; 27% ainda não têm diagnóstico definitivo. Vinte e seis por cento dos doentes foram submetidos a cirurgia pancreática e 44% mantêm-se em vigilância. Os níveis de CEA do cisto foram mais elevados nos IPMNs do que nos pseudocistos e cistoadenomas (respectivamente, 543?g/L [P25-75: 50– 781]) vs 27?g/L [P25-75: 6–166]) vs 1.5?g/L [P25-75: 1–9], p=0.005). Níveis de CEA superiores a 40.7?g/L predizem IPMN com 89% de sensibilidade e 67% de especificidade; superiores a 375.2?g/L predizem IPMN com 56% de sensibilidade e 92% de especificidade (AUC 0.787 [IC95% 0.615 – 0.959]). Conclusões: Um quarto dos doentes com LPC tinham IPMNs. Níveis de CEA no cisto tiveram valor preditivo diagnóstico. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 263 P170 CARACTERIZAÇÃO DE LESÕES PANCREÁTICAS SÓLIDAS AVALIADAS POR ECOENDOSCOPIA – A EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO Rodrigues-Pinto E., Lopes S., Santos-Antunes J., Vilas-Boas F., Lopes J., Baldaque-Silva F., Peixoto A., Silva M., Macedo G. Introdução e Objectivo: Embora a maioria das lesões pancreáticas sólidas (LPS) sejam adenocarcinomas, tumores menos agressivos e lesões benignas podem manifestar-se como LPS. A punção aspirativa por agulha fina (PAAF) guiada por ecoendocopia é o método preferido para caracterização das LPS. O objectivo deste trabalho foi caracterizar as LPS submetidas a PAAF por ecoendoscopia. Métodos: Estudo transversal das ecoendoscopias onde se procedeu a PAAF (Cook Medical®) diagnóstica de LPS entre 2011 e 2013. Resultados: Foram realizadas PAAF de LPS em 81 doentes (64% do sexo masculino), com idade média de 59±15 anos; 60% das lesões localizavam-se na cabeça, 24% no corpo e 6% na cauda. O tamanho médio das lesões foi 35±15mm. A nível ultrassonográfico, 17% dos doentes tinham atrofia pancreática, 38% tinham dilatação do Wirsung; a maioria das lesões era heterogénea, hipoecóica, com limites mal definidos; 35% tinham contacto com estruturas vasculares e 32% tinham adenopatias adjacentes. Foram usadas agulhas aspirativas de 19G em 12% dos doentes, 22G em 72% e 25G em 16%. Em 36% dos doentes foram utilizadas agulhas ProCore. O tempo médio de follow-up foi de 331±257 dias. À data actual, sabe-se que 52% das lesões corresponderam a adenocarcinomas, 12% a tumores neuroendócrinos, 9% a pancreatites crónicas, 4% a neoplasias pseudopapilares sólidas, 4% a metástases e 4% a pancreatites auto-imunes; 16% dos doentes ainda não têm diagnóstico definitivo. Vinte e um por cento dos doentes foram operados, 35% fizeram quimioterapia e/ou radioterapia e 29% foram orientados para cuidados paliativos. A taxa de mortalidade no 1º ano foi de 44%. Níveis de Ca19.9 superiores a 21.5U/mL predizem adenocarcinoma pancreático com 88% de sensibilidade e 86% de especificidade (AUC 0.866 [IC95% 0.748 – 0.983]). Conclusões: A maioria das LPS são adenocarcinomas, localizam-se na cabeça do pâncreas, são heterogéneas e mal delimitadas, sendo o tratamento curativo raramente conseguido. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 264 P171 COLANGIOCARCINOMA DE CÉLULAS CLARAS Fernandes S., Baldaia C., Fatela N., Marinho R., Pinto Marques H., Ramalho F., Velosa J. Introdução: Os colangiocarcinomas correspondem a cerca de 15% dos tumores hepáticos primários. O diagnóstico é geralmente realizado numa fase avançada de doença apresentando um prognóstico reservado. O colangiocarcinoma de células claras (CCC) representa um subtipo histológico raro cujo comportamento e prognóstico parecem diferir dos restantes colangiocarcinomas. Caso clínico: Mulher de 51 anos, raça negra, natural de Cabo Verde, com história de Diabetes mellitus tipo 2 e Hipertensão arterial diagnosticados 7 anos antes. Internada para esclarecimento de nódulo hepático detectado em Ecografia de rotina. Apresentava hepatomegália, desconforto à palpação do hipocôndrio direito e elevação da gama-glutamil-transpeptidase e fosfatase alcalina com restante perfil hepático sem alterações. Estudo de auto-imunidade, serologias virais e marcadores tumorais negativos. A Tomografia abdominal demonstrou lesão sólida no lobo direito com 10,5 cm e realce heterogéneo após contraste. A biopsia eco-guiada foi compatível com neoplasia de células claras sendo a imuno-histoquímica sugestiva de origem biliar ou pancreática. Após exclusão de outra origem tumoral primária (endoscopia digestiva alta, cápsula endoscópica, colonoscopia, ecografia mamária e endovaginal, mamografia e PET-scan), a doente foi submetida a hepatectomia direita, ressecção da via biliar principal e da veia porta. A anatomia patológica foi compatível com CCC moderadamente diferenciado. O restante tecido hepático não apresentava alterações. Aos 6 meses de seguimento a doente apresenta-se assintomática. Discussão: Embora escassa, a literatura sugere que os CCC apresentam um prognóstico mais favorável que os restantes colangiocarcinomas com comportamento menos agressivo e sobrevida superior. Este caso destaca-se pelo subtipo histológico raro e pela apresentação incomum de uma lesão sólida de grandes dimensões em doente jovem, sem doença hepática prévia. Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 265 P172 FACTORES PREDITIVOS DE SOBREVIDA NO COLANGIOCARCINOMA: EXPERIÊNCIA DE 5 ANOS Coelho R. 1, Silva M.1, Santos-Antunes J. 1, Rodrigues-Pinto E.1, Lopes S. 1, Pereira P. 1, Cardoso H. 1, VilasBoas F. 1, Lopes J.2, Carneiro F.2, Morgado P. 3, Maia C. 4, Macedo G. 1 Introdução e objectivos: A maioria dos doentes com diagnóstico de colangiocarcinoma apresenta doença irressecável ao diagnóstico e tem uma sobrevida inferior a 12 meses. Registaram-se progressos com o tratamento de resseção cirúrgica mais agressivo, contudo os doentes com doença irressecável mantém prognóstico desfavorável. O objectivo foi avaliar a sobrevida dos indivíduos com colangiocarcinoma e factores clínicos, analíticos e opções terapêuticas associados à mesma. Material: Estudo retrospectivo de doentes com diagnóstico de colangiocarcinoma entre 2008-2013, num centro terciário de referência. Para cálculo de sobrevida utilizaram-se curvas Kaplan-Meier, alfa=0,05. Resultados: Incluíram-se 71 doentes (39 homens) com uma mediana de idades ao diagnóstico de 71 anos. A taxa de mortalidade ao longo no tempo de follow-up foi de 79%, sendo 37, 42 e 51% aos 3, 6 e 12 meses, respectivamente. A mediana de sobrevida foi de 44 (P25-75: 8-90) semanas. Maior sobrevida aos 3, 6 e 12 meses associou-se à realização de quimioterapia (p=0.002, p=0.001, p=0.003, respectivamente), níveis inferiores de CA-19.9 (p=0.001, p=0.009, p=0.013, respectivamente), terapêutica cirúrgica (p<0.001), estadiamento TMN-R0 (p=0.006, p=0.031, p=0.039) e não metastização ao diagnóstico (p<0.001, p=0.006, p=0.002). A sobrevida no primeiro trimestre associou-se a estadiamento TMN-N0 (p=0.022) e a sobrevida ao 1º ano a níveis superiores de albumina (p=0.032), níveis inferiores de fosfatase alcalina (p=0.020), menor idade (p=0.038) e menor número de dias desde inicio de sintomas até ao diagnóstico (p=0.029). Pela análises de curvas de Kaplan-Meier, a sobrevida associou-se a ausência de metastização ao diagnóstico (p<0.001), terapêutica cirúrgica (p<0.001) e realização de quimioterapia (p=0.009). Na regressão logística associaram-se de forma independente a sobrevida aos 3, 6 e 12 meses a terapêutica cirúrgica e a mestatização. Conclusão: Os factores que determinam uma maior sobrevida são: realização de cirurgia e quimioterapia. A nãomestatização ao diagnóstico parece relacionar-se com uma sobrevida a médio prazo. 1-Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar de São João, Porto. 2-Serviço de Anatomia-Patológica, Centro Hospitalar de São João, Porto. 3- Serviço de Radiologia, Centro Hospitalar de São João, Porto.4Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar de São João, Porto. 266 P173 TERAPÊUTICA ENDOSCÓPICA NA FISTULA BILIAR PÓS COLECISTECTOMIA LAPAROSCÓPICA Silva I., Tulio M., Marques S., Carvalho L., Rodrigues J., Carmo J., Barreiro P., Bana e Costa T., Chagas C. Objetivos: Avaliação da eficácia do tratamento endoscópico da fistula biliar num centro terciário Métodos: Estudaram-se retrospetivamente 14 doentes, que entre Janeiro de 2011 e Março de 2014, foram submetidos a colangiopancreatografia retrógrada endoscópica (CPRE) por suspeita confirmada de fistula biliar pós colecistectomia videolaparoscópica (CVL). Analisaram-se os registos clínicos relativos ao tipo e número de tratamentos endoscópicos efetuados, evolução clinica e laboratorial seriada. Registaram-se as complicações associadas. Resultados: No período estudado identificaram-se 14 doentes ( 12 (85,7%) homens , idade média 70,4 anos) com fistula biliar pós CVL documentada por CPRE. Em 5 casos a abordagem cirúrgica laparoscópica foi convertida por difícil abordagem (1), perfuração vesicular séptica (2) e presença de aderências. A suspeita de fistula biliar ocorreu maioritariamente no pós operatório imediato: drenagem biliar abdominal persistente (11 casos), alterações persistentes das aminotransferases (2); 2 casos foram confirmados intra-operatóriamente. O leak foi localizado no couto cístico (12), no ducto hepático direito (2) e no local de inserção do tubo em T (1). Observaram-se 8 fistulas de alto débito/grau. A terapêutica endoscópico utilizada foi a combinação de esfincterotomia (ETE) e colocação de prótese biliar plástica (10Fr, dimensões entre 5 e 9cm) nos 14 doentes. Em 4 doentes foi necessária 2ª colocação de prótese por persistência de fistula às 4 semanas; em dois casos, de fistulas de alto débito, optou-se por colocação de prótese metálica autoexpansível totalmente coberta. Em 13 dos 14 doentes obteve-se sucesso terapêutico (documentado encerramento do leak no colangiograma). Registaram-se dois casos de pancreatite aguda pós CPRE com favorável evolução clinica Conclusão: O tratamento endoscópico através da combinação ETE/prótese biliar é uma opção eficaz e segura, de primeira linha, na resolução da fistulas biliares pós CVL. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 267 Posters (Casos Clínicos) CC1 SÍNDROME DE RAMSAY-HUNT EM DOENTE COM DOENÇA DE CROHN SOB ADALIMUMAB Santos-Antunes J;, CR Nunes A;, Macedo G. Homem de 40 anos com Crohn, sob azatioprina, foi operado em 2007 por fístula perianal e iniciou adalimumab. Por motivos pessoais suspendeu o tratamento em 2010. Teve necessidade de nova cirurgia perianal em Fevereiro de 2012 e o tratamento com adalimumab foi reiniciado em Março de 2012. Quatro meses depois, recorreu ao SU por otalgia e rubor no pavilhão auricular direito. Foram prescritos antibióticos e teve alta com o diagnóstico de pericondrite. Três dias depois, recorreu novamente por febre, vertigens, otalgia direita agravada, rash vesicular no pavilhão auricular e paresia facial ipsilateral (HouseBrackmann grau IV). Foi internado com o diagnóstico de Síndrome de Ramsay-Hunt (SRH). Apesar de estar sob adalimumab, foi tratado de forma semelhante à população em geral com corticóides e aciclovir, e em combinação com fisioterapia assistiu-se a recuperação total da paralisia e lesões cutâneas. O SRH é uma complicação rara da infecção latente pelo vírus varicela-zoster (VZV). O seu mecanismo fisiopatológico é a infecção do gânglio geniculado do sétimo nervo craniano pelo VZV, resultando em rash vesicular do pavilhão auricular ou da boca, paresia facial, vertigem, hipoacusia e otalgia; outras neuropatias cranianas podem estar presentes. A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é um fator de risco para infecções oportunistas. Relativamente ao herpes zoster, a sua incidência global é de 734/100.000 pessoas-ano. No entanto, não existem casos relatados de Síndrome de Ramsey-Hunt em doentes com DII. Este é também o primeiro caso relatado desta complicação da reactivação do VZV em doentes sob anti-TNF-?. Doentes com SRH têm normalmente pior recuperação quando comparados com doentes com paralisia de Bell. Factores de risco para mau prognóstico incluem idade, diabetes, tratamento tardio e score de House-Brackmann superior a IV. Este caso ilustra que diagnóstico e terapêutica precoces podem promover um bom resultado desta patologia rara, mesmo em doentes sob imunomoduladores. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 268 CC 2 LINFOMA DE HOGKIN EM HOMEM COM DOENÇA DE CROHN SOB INFLIXIMAB E TRATAMENTO PRÉVIO COM AZATIOPRINA Carvalho D. (1), Russo P. (1), Bernardes C. (1), Saiote J. (1), Ramos G. (1), Borges N. (2), Ribeiro P. (3), Ramos J. (1) Homem, 41 anos, com doença de Crohn (DC) ileo-cólica diagnosticada aos 28 anos. Aos 32 anos iniciou infliximab por corticodependência e tratamento com azatioprina durante 2 anos. Entrou em remissão livre de corticosteróides. Um ano mais tarde, por pneumonia suspendeu o infliximab e azatioprina. Em 2006, por anemia, reinicia tratamento com infliximab (8-8 semanas). Em 09/2012, fez ecografia abdominal que revelou lesão hipoecogénica de 3,5cm na bifurcação do tronco celíaco, extrínseca ao fígado e pâncreas. Tomografia computorizada (TC) abdomino-pélvica confirmou tratar-se de adenopatia. Em 08/2013, em remissão, repete TC abdomino-pélvica que detectou lesão com 40x75mm de diâmetro entre fígado e a cabeça pancreática; esplenomegalia, adenopatias retro-peritoneais. O hemograma, a electroforese das proteínas e o doseamento das imunoglobulinas não revelaram alterações; PCR 8,9 mg/L. Serologias virais negativas. A reavaliação mostrou DC em remissão clínica e endoscópica. Suspendeu tratamento com infliximab. A ecoendoscopia (EUS) revelou lesão hipoecóide heterogénea, de 43,7x31mm, limites bem definidos, adjacente ao istmo pancreático e confluente portal. Procedeu-se a punção aspirativa com agulha fina (FNA). O estudo citológico (EC) revelou população linfóide monomórfica CD20+, alguns macrófagos, células gigantes e granulomas. Nova EUS com FNA e citometria de fluxo. O EC revelou granulomas não necrotizantes, e raras células grandes do tipo Hodgkin num background de células CD20+, favorecendo o diagnóstico de linfoma Hodgkin. Citometria de fluxo sem monoclonalidade. Por necessidade efetuou biópsia laparoscópica: o exame histológico confirmou o diagnóstico de linfoma de Hodking, com imunohistoquímica positiva para vírus Epstein-Barr (EBV). Repetiu-se serologia para EBV: VCA IgG positivo; EBNA - IgG positivo. Em Março/2014 iniciou quimioterapia. Motivação: Este caso, de raridade excepcional, acrescenta dificuldades na decisão de terapêutica e monitorização de doentes com infecção latente a EBV tratados com anti-TNF, os quais correspondem a maioria dos doentes em tratamento de manutenção. Apresenta-se iconografia pormenorizada, incluindo vídeo da laparoscopia. 1 - Serviço de Gastrenterologia, CHLC – Hospital Santo António dos Capuchos; 2 – Serviço de Cirurgia Geral, CHLC – Hospital Santo António dos Capuchos; 3 – Serviço de Hematologia, CHLC – Hospital Santo António dos Capuchos 269 CC 3 FEBRE ESCARONODULAR EM DOENTE COM DOENÇA DE CROHN SOB ADALIMUMAB Santos-Antunes J;, CR Nunes A;, Macedo G Homem de 49 anos com Crohn, em remissão clínica sob adalimumab quinzenal, desenvolveu rash maculopapular, pruriginoso, no abdomen, tórax e membros (incluindo palmas e plantas). Simultaneamente apresentava cefaleias, mialgias e febre alta (39,5ºC). Recorreu ao Serviço de Urgência cinco dias após o início da sintomatologia, apresentando-se febril (39.2ºC), sem outros achados além do rash e de uma lesão tipo “framboesa” no ombro esquerdo. O estudo analítico demonstrou elevação da PCR (60,4 mg/L). O doente morava num apartamento urbano, mas tinha estado duas semanas no campo, com contato com galinhas, cães e cavalos. A lesão no ombro esquerdo era consistente com mordedura de carraça. Foi tratado com doxiciclina, com excelente resposta, tendo tido alta ao quinto dia sem febre ou prurido, com a lesão no ombro praticamente resolvida. A febre escaronodular é causada pela Rickettsia conorii. Embora a mortalidade seja baixa, o atraso no diagnóstico ou tratamento inadequado podem aumentar a morbimortalidade. A serologia é muitas vezes negativa à apresentação, mas no nosso caso foi positiva. Além disso, dado o contexto epidemiológico e a tríade de rash envolvendo palmas e plantas, escara e febre, este diagnóstico deve ser assumido. Pouco se sabe sobre esta infecção em termos de pior prognóstico e implicações terapêuticas em doentes com DII, uma vez que não existem casos descritos. Além disso, o curso clínico e a evolução desta patologia em doentes sob anti-TNF é desconhecida. O TNF é fulcral na defesa contra agentes intracelulares, como a Rickettsia conorii, e portanto poder-se-á prever um curso clínico mais grave. Numa era em que imunossupressores e biológicos são a base da terapêutica da doença de Crohn, espera-se que estes fármacos sejam cada vez mais prescritos em doentes que vivem em áreas rurais. As zoonoses em doentes sob anti-TNF podem-se tornar mais frequentes, tornando-se fundamental saber como as tratar. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 270 CC 4 O IMPACTO DA INFECÇÃO POR CMV NA DOENÇA DE CROHN Santos-Antunes J, , Magro F, , Macedo G A doença por CMV é frequentemente associada à DII, particularmente à Colite Ulcerosa, uma vez que está relacionada com casos de corticorresistência e a uma maior taxa de colectomia; além disso, o diagnóstico diferencial entre agudização de colite ulcerosa e colite por CMV é difícil. Por outro lado, a sua ligação à doença de Crohn é muito menos descrita e, apesar da importância da doença cólica por CMV ser cada vez mais reconhecida, o impacto da doença extracólica por CMV não está descrito. Os autores reportam um caso de uma doente de 30 anos com Doença de Crohn com 10 anos de evolução, que recorreu ao SU por febre com 9 dias de evolução. Estava sob azatioprina há vários anos e adalimumab semanal desde há 1 ano. Analiticamente apresentava linfopenia, trombocitopenia, aumento das transamínases (ALT158U/L, AST139U/L) e da Proteína C-Reactiva (60.5 mg/L). A ecografia abdominal demonstrou esplenomegalia. O teste Monospot (anticorpos heterófilos) foi positivo. A doente foi internada e os imunossupressores foram suspensos. A serologia para CMV foi IgG- e IgM+, com antigenemia e DNA positivos no sangue para CMV. Foi prescrito ganciclovir, assistindo-se a rápida melhoria. Foi excluído envolvimento ocular por CMV, e nenhum outro foco foi identificado além da hepatite. A doente teve alta com valganciclovir (para completar 21 dias de antivírico). A azatioprina tem sido associada a um risco maior de CMV, por induzir disfunção linfocítica. Embora o TNF esteja envolvido no controlo da replicação por CMV in vitro, o risco da terapêutica anti-TNF para a doença por CMV não está estabelecido. É fundamental ter presente o maior risco de infecções víricas nestes doentes e ter em conta o risco de apresentações atípicas, como o caso da mononucleose por CMV que aqui se descreve, uma vez que o tratamento precoce pode ser fundamental para uma boa evolução clínica. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar S. João, Porto 271 CC 5 LESÕES CUTÂNEAS NA DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Sousa, P.(1), Santos, P.M.(1), Cravo, M. (2), Tavares, L. (1), Velosa, J. (1) O desafio na terapêutica da doença inflamatória intestinal (DII) prende-se não só com a variabilidade da resposta que se observa mas também com os efeitos secundários que decorrem da mesma. Doente de 30 anos, leucodérmica, sexo feminino, não fumadora, com doença de Crohn ileo-cólica com envolvimento perianal, diagnosticada em 2004. Inicia terapêutica com azatioprina com escalada rápida para infliximab (5mg/Kg, 8/8 semanas) por quadro perianal exuberante. Por leucopénia é suspensa azatioprina. Por manutenção de drenagem das fístulas perianais é encurtado intervalo entre as infusões, com melhoria. Três anos depois, novo aumento da drenagem das fístulas pelo que é aumentada a dose para 10mg/Kg, com melhoria clínica. Cinco anos após inicio de terapêutica com infliximab observa-se aparecimento de lesões descamativas, com flictenas nas regiões palmo-plantares. Após avaliação dermatológica é colocado o diagnóstico de Psoríase e alterada terapêutica para adalimumab associando-se terapêutica tópica. Há agravamento das lesões com formação de pústulas pelo que se suspende terapêutica com anti-TNF-?, inicia fototerapia e reinicia azatioprina. Com estas medidas observa-se resolução do quadro cutâneo contudo há novo agravamento do quadro perianal pelo que se decide reiniciar infliximab numa dose inferior (3mg/Kg). Com terapêutica combinada observa-se melhoria progressiva com encerramento dos trajectos fistulosos. 12 meses após reinicio da terapêutica combinada a doente está assintomática, com encerramento das fístulas tendo contudo actividade endoscópica. São medidos os níveis séricos de infliximab que são infra-terapêuticos sendo escalada a dose para 5mg/Kg sem que se tenha observado recidiva do quadro cutâneo. Começam a ser mais frequentemente reportados casos de inflamação paradoxal associada à terapêutica com anti-TNF ? contudo ainda pouco se sabe sobre o manejo destas situações. Este caso reflecte a problemática do manejo da DII com anti-TNF ? e dos fenómenos de inflamação paradoxal que podem ocorrer. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia do Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa (1) Serviço de Gastrenterologia do Hospital Beatriz Ângelo, Loures (2) 272 CC 6 LIDANDO COM AS COMPLICAÇÕES DO INTESTINO CURTO NA DOENÇA DE CROHN Meireles L, Fernandes S, Sousa P, Moura M, Correia L, Santos P, Vieira C, Fatela N, Antunes T, Cortez Pinto H, Serejo F, Velosa J Introdução: A síndrome do intestino curto (SIC) representa uma complicação de ressecções extensas do intestino delgado, caracterizando-se pela insuficiência do restante órgão em manter a digestão e absorção de água e nutrientes. Conduz irremediavelmente a um estado de malnutrição com importante perda de qualidade de vida. Caso clínico: Mulher de 65 anos com DC ileocólica com comportamento fistulizante diagnosticada aos 43 anos após cirurgia de ressecção (90 cm de íleon e hemicolectomia direita) e necessidade de ressecções adicionais do delgado entre os 60 e os 63 anos por fístulas entero-entéricas. Era intolerante à azatioprina e havia recusado terapêutica anti-TNF. Internada por quadro de caquexia, desidratação e prostração. Analiticamente com lesão renal, acidemia metabólica, anemia (défice folato, cobalamina, ferro) e hipoproteinémia. Diarreia (2-3 dejecções/dia) de grande volume (7501000cc/dejecção), por vezes condicionando quadros hipotensivos. A endoscopia revelou extensa ulceração em D2/D3 e a colonoscopia ulceração na anastomose (transverso esquerdo). Biopsias compatíveis com DC activa. A entero-ressonância evidenciou intestino curto. Foi instituída corticoterapia, terapêutica anti-TNF (Infliximab) e alimentação parentérica (suplementação hipercalórica, hiperproteica, hídrica (cloreto de sódio 0.9% 2000cc/dia) e bicarbonato de sódio e loperamida orais). Ao longo de um internamento de 9 meses assistiu-se a melhoria ponderal gradual e estabilização dos défices hidroelectrolíticos, mantendo-se o esquema terapêutico em ambulatório. Nos 2 anos seguintes foi internada apenas 2 vezes por quadros infecciosos associados ao Implantofix®. Ao fim deste período foi tentado desmame da alimentação parentérica, sem sucesso. Discussão: O caso clínico ilustra o potencial comportamento destrutivo da DC não controlada. A morbilidade e custos poderiam ter sido moderados com a introdução precoce de antiTNF. O manejo do SIC é paradigmático sendo necessário o envolvimento de diferentes especialidades. O transplante intestinal e mais recentemente o análogo do glucagon-like-peptide teduglutide poderão ser opções viáveis em casos seleccionados, acarretando contudo, importantes riscos e custos. Centro Hospitalar Lisboa Norte 273 CC 7 UM DESAFIO CLÍNICO E TERAPÊUTICO Túlio, M.1, Chapim I.1, Moneti V.2, Nascimento C.3, Bana T.1, Chagas C.1 Homem de 38anos, história de Fistulectomia anal (1999) e diarreia intermitente com 14anos de evolução, estudo inconclusivo (2004 e 2011). Em 2012 diagnóstico de Doença de Crohn (A2, L3+L4, B2p) com envolvimento duodenal, ileocólico e perianal (endoscopia alta/baixa com biópsia, TC abdominal e EnteroRM). Inicia corticoterapia por quadro suboclusivo recorrente e Adalimumab a 01/02/2014, com boa resposta clínica. Recorre pela primeira vez à nossa instituição dois meses após início de Anti-TNF, por febre vespertina com 3 semanas de evolução, suores nocturnos, emagrecimento e anemia. Da investigação exaustiva efetuada salienta-se: Hb 7,9g/dl, VS 66mm/h, PCR 27mg/dl, VIH negativo, exame microbiológico, micobacteriologócio e micológico negativos no sangue periférico, urina e lavado broncoalvelolar, TC Tóraco-abdómino-pélvico sem alterações pulmonares, espessamento segmentar do delgado, adenopatias mesentéricas, sem coleções, Mantoux anérgico, Rectosimoidoscopia orifício externo de fistula sem drenagem, RM pélvica trajeto fistuloso transfincteriano com 62mm, sem coleções. Efectuada punção medular, com análise PCR do Mycobacterium tuberculosis no sangue medular positiva permitindo o diagnóstico de Tuberculose disseminada. Iniciada terapêutica com anti-bacilares (HZRE), com boa resposta. Paragem do anti TNF e desmame lento da corticoterapia após início de azatioprina. Após três semanas abcesso perianal, sendo submetido com sucesso a drenagem cirúrgica, colocação de sedenho e antibioterapia. Ao 4º mês de terapêutica antibacilar, novo quadro suboclusivo agora com aparecimento de fístula enterocutânea e abcesso (ecografia/RM) submetido a remoção de ansas de íleon e de trajecto fistuloso, com anastomose primária. Histologia compatível com Doença de Crohn em atividade (granulomas mas PCR Mycobacterium negativa). Após completar 9 meses de anti-bacilares reiniciou Anti-TNF encontrando-se atualmente em remissão clinica. Conclusão: Um elevado índice de suspeição e investigação exaustiva permitiram o diagnóstico de tuberculose após início de TNF. Uma abordagem multidisciplinar foi fundamental no diagnostico e manejo clinico com sucesso duma associação de doenças complexas e graves. Apresenta-se iconografia seriada imagiológica, endoscópica e histológica. Serviço de Gastrenterologia1, Serviço de Infeciologia2, Serviço de Cirurgia3 do Hospital Egas Moniz – Centro Hospital Lisboa Ocidental 274 CC 8 ANEMIA FERROPÉNICA: COMPLICAÇÃO RARA DO DIVERTÍCULO DE MECKEL Campos S.1, Giestas S. 1, Cardoso R. 1, Martins R.2, Freire P.1, Almeida N.1, Figueiredo P.1, Portela F.1, Leite J.2, Sofia C.1 Doente do sexo masculino, 20 anos, referenciado à consulta de Gastrenterologia por anemia ferropénica grave desde os 12 anos (Hb 7g/dL; Ferro 9ug/dL; Ferritina 21ng/mL; CTFF 418ug/dL) com necessidade transfusional recorrente e pesquisa sangue oculto nas fezes positiva, sem causa evidenciada para as perdas hemáticas. Trata-se de um doente sem sintomatologia associada, nomeadamente dor abdominal, noção de perdas hemáticas ou alteração do trânsito intestinal. Sem medicação habitual, nomeadamente AINE’s. Sem antecedentes familiares relevantes. Do estudo etiológico efetuado, destaque para: análises sem outros défices; endoscopia digestiva alta com biópsias gástricas e duodenais e colonoscopia sem alterações; cintigrafia abdominal com mCi Tc99m negativa para divertículo Meckel (iconografia1); vídeocápsula endoscópica com evidência, em localização imprecisa, de zona ulcerada a condicionar ligeira estenose do lúmen (iconografia2); enteroclise por TC com duas áreas de aparente espessamento parietal - a nível do jejuno proximal numa extensão de cerca de 10 cm e no íleo numa extensão de cerca de 4cm (sem estratificação parietal, captação anómala de contraste ou aumento da vascularização) (iconografia3); enteroscopia por duplo balão com observação de região ulcerada a nível do íleon, a condicionar ligeiro estreitamento do lúmen - biopsada (resultado histopatológico - ileíte com eosinófilos) (iconografia4). Optou-se por submeter o doente a laparotomia exploradora (iconografia5), com documentação de lesão ulcerada do íleon adjacente a divertículo de Meckel revestido por mucosa ileal (iconografia6). Foi efetuada resseção segmentar do delgado a incluir as lesões observadas, e desde então o doente evoluiu favoravelmente, recuperando os valores de hemoglobina e cinética do ferro. O divertículo de Meckel é a anomalia congénita mais frequente do trato gastrointestinal. Encontra-se em cerca de 2% da população, sendo geralmente assintomático. Os autores pretendem com este caso alertar para uma complicação rara mas real do divertículo de Meckel e sugerir que o mesmo seja considerado no diagnóstico diferencial da anemia ferropénica. 1-Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; 2- Serviço de Cirurgia Geral, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 275 CC 9 PORTADORA SINTOMÁTICO DE DOENÇA GRANULOMATOSA CRÓNICA OU TUBERCULOSE INTESTINAL? Coelho R. 1, Sarmento A. 2, Magro F. 1, Macedo G. 1, Caso clínico: Sexo feminino, 40 anos de idade, referenciada à consulta de Gastrenterologia por episódios de diarreia (~5 dejeções/dia, com muco, sem sangue) há cerca de 3 anos e emagrecimento de 15 Kg nos últimos 3 meses. Do estudo analítico de salientou-se anemia (10.3g/dL) microcítica e hipocrómica e PCR=3.9 mg/L. Doseamento de autoanticorpos IgA anti-transglutaminase e estudo microbiológico de fezes negativo. Realizou colonoscopia que evidenciou mucosa rectal com múltiplas úlceras, de margens bem definidas. Estenose franqueável pelo endoscópio no canal anal. Exame histológico com lesões inflamatórias ligeiras e presença de granulomas epitelióides com células gigantes multinucleadas no reto. Nos estudos histoquímico (PAS, Ziehl-Neelsen) e imuno-histoquímico para citomegalovirus (CMV) não se identificam microorganismos. PCR de CMV, Herpes simplex 1 e 2 e Mycobacterium tuberculosis negativas. Realizou tomografia computorizada toraco-abdómino-pélvica que mostrou captação parietal circunferencial do recto com início na junção ano-rectal e com extensão de 12 cm e espessura máxima de 8 mm, com espessamento e densificação da gordura pré-sagrada. Não se observaram lesões pulmonares. Após revisão dos antecedentes pessoais da doente a mesma referiu morte do filho aos 9 anos de idade por complicação séptica por doença granulomatosa crónica (DGC). O estudo de imunidade celular e o estudo de explosão oxidativa dos granulócitos realizado evidenciou défice acentuado na produção de metabolitos oxidantes em 35% destes, sendo possível afirmar que o caso em discussão se trata de uma portadora de DGC ligada ao X. Quarenta dois dias após inoculação de biopsias cólicas pelo método de Löwenstein-Jensen, este revelou-se positivo. A doente iniciou terapêutica com anti-tuberculosos. Justificação: A DGC é uma imunodeficiência primária rara causada por um defeito numa das subunidades da NADPH oxídase que condiciona, entre outras, maior susceptibilidade às infecções micobacterianas. O caso em discussão tratase de uma doente portadora sintomática de DGC (diarrreia) com diagnóstico recente de tuberculose intestinal. 1-Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de São João,Porto 2-Serviço de Doenças Infeciosas do Centro Hospitalar de São João, Porto 276 CC 10 ENTERITE EOSINOFÍLICA - UMA CAUSA INVULGAR DE DOR ABDOMINAL Leitão C., Santos A., Pinto J., Ribeiro H., Pereira B., Caldeira A., Pereira E., Tristan J., Sousa R., Banhudo A., Caso Clínico: Homem, de 38 anos, com antecedentes pessoais de eczema atópico na infância, referenciado ao Serviço de Urgência por desconforto epigástrico, sem relação com a ingestão alimentar, com um mês de evolução. Objectivamente sem alterações relevantes. Analiticamente destacava-se leucocitose com eosinofilia. A ecografia abdominal mostrou espessamento parietal de ansas do intestino delgado (jejuno) e líquido peritoneal peri-ansas. A TC abdominal confirmou as alterações descritas. Os testes parasitológicos de fezes e serológicos foram negativos. A endoscopia digestiva alta não revelou alterações macroscópicas da mucosa. A enteroscopia efectuada com colonoscópio, com progressão até ao jejuno proximal, mostrou segmentos com mucosa edemaciada, com ponteado esbranquiçado e máculas de eritema, condicionando diminuição do calibre do lúmen digestivo. O estudo histológico das biópsias do jejuno proximal confirmaram reforço de infiltrado inflamatório, predominantemente à custa de eosinófilos, compatíveis com o diagnóstico de enterite eosinofílica. O nível sérico da IgE encontrava-se aumentado e os vários testes cutâneos de alergia, assim como, os anticorpos antinucleares foram negativos. Os doseamentos séricos de imunocomplexos circulantes e complemento foram normais. As serologias para VIH 1 e 2 foram negativas. Estabeleceu-se o diagnóstico de enterite eosinofílica com envolvimento de pelo menos, a mucosa e a muscular. Efectuou corticoterapia durante 2 meses, tendo ocorrido melhoria sintomática franca, encontrando-se após 6 meses de evolução, assintomático. Discussão: A Gastroententerite Eosinofílica é uma entidade rara, de etiopatogénese desconhecida, que se caracteriza por infiltrado inflamatório eosinofílico de pelo menos um segmento do tracto digestivo. O espectro clínico varia consoante a profundidade, extensão e localização atingida e o prognóstico é globalmente favorável. Apresentamos este caso clínico não só pelo desafio diagnóstico no contexto de uma dor abdominal incaracterística mas também para alertar para a necessidade de elevada suspeição diagnóstica desta patologia, tão heterogénea na apresentação clínica como inespecífica na imagiologia. Serviço de Gastrenterologia da Unidade Local de Saúde de Castelo Branco 277 CC 11 ATINGIMENTO INTESTINAL DA PÚRPURA HENOCH-SCHÖNLEIN NUM ADULTO Campos S.1, Gouveia M.2, Gregório C.1, Gomes D.1, Sofia C.1 Doente do sexo masculino, 63 anos, internado por diarreia sanguinolenta e cólicas abdominais com 2 dias de evolução. Referência a lesões purpúricas nos membros inferiores (iconografia1) e poliartralgias simétricas a anteceder o quadro gastrointestinal. Sem febre. Sem episódios prévios semelhantes. Relacionava início da sintomatologia após toma de amoxicilina-ácido clavulânico. Analiticamente com aumento dos parâmetros inflamatórios (10,8x10^9/L leucócitos, 70,8% neutrófilos; PCR 10.54mg/dl), lesão renal aguda (azoto ureico 36,3mg/dl e creatinina 0,97mg/dl); sem alteração das plaquetas ou coagulação; IgA sérica aumentada (5,05g/L); fator reumatóide, anticorpo antinuclear, anticorpo antineutrofílico citoplasmático, antiestreptolisina-O, complemento C3 e C4, eletroforese sérica proteínas, VDRL e serologias para hepatites A, B e C negativas. Coproculturas negativas. Sumária de urina a evidenciar proteinúria ligeira. Ecografia abdominal evidenciou longo segmento de ansa intestinal de parede difusamente espessada, hiperreflectividade da gordura envolvente e pequena quantidade de derrame peritoneal livre (iconografia2). Colonoscopia a documentar áreas de mucosa edemaciada, eritematosa e erosionada ao longo de todo o cólon (histopatologia: colite aguda autolimitada). Biópsia cutânea de lesão purpúrica mostrou aspetos típicos de vasculite leucocitoclásica, com deposição granulosa da parede dos vasos da derme superficial IgA+ e C3+ (iconografia3). Admitiu-se o diagnóstico de Púrpura Henoch-Schönlein (PHS). Ao longo do internamento, observou-se uma melhoria gradual e espontânea com tratamento de suporte. À data atual, o doente encontra-se estável, clinica e laboratorialmente. A presença de dor abdominal e diarreia sanguinolenta associada a alterações articulares, renais e púrpura palpável deve levantar a hipótese de PHS. Ainda que maioritariamente encontrada em crianças e jovens adultos, a PHS pode também acometer adultos, estando esta faixa etária sujeita a mais complicações. Os autores descrevem este caso com o intuito de alertar para uma entidade que, ainda que rara, deve ser contemplada no diagnóstico diferencial de diarreia aguda no adulto, por forma a obviar o pior prognóstico a que ela se associa. 1- Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; 2- Serviço de Dermatologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 278 CC 12 INVAGINAÇÃO INTESTINAL - UMA MANIFESTAÇÃO DA DOENÇA CELÍACA? Gouveia C., Castro L., Gomes F.P., Borges M.J., Gonçalves R. Introdução: As invaginações intestinais são comuns na idade pediátrica, habitualmente de causa idiopática, mas raramente constituem a primeira manifestação da doença celíaca. No entanto, podem ser cerca de 10 vezes mais frequentes em crianças com doença celíaca do que na restante população pediátrica. Caso clinico: Criança de 5 anos de idade, sexo masculino, recorre ao serviço de urgência por dor abdominal intensa periumbilical, tipo cólica com 4 dias de evolução. No primeiro dia do quadro clínico apresentou três dejeções diarreicas, sem sangue ou muco, seguido de obstipação nos restantes dias. Ao exame clínico apresentava o abdómen doloroso, sem outros sinais patológicos. A ecografia abdominal revelava a existência de invaginação cólica. Nos dias seguintes verificou-se recorrência das invaginações intestinais, confirmadas ecograficamente, em diferentes localizações e com resolução espontânea. Por persistência da sintomatologia efectua tomografia computorizada que revela múltiplas adenopatias na raiz do mesentério. Da investigação salienta-se níveis de IgA antitransglutaminase superior a 10 vezes ao normal e resultado histológico concordante com doença celíaca (marsh-oberhuber 3c). Após instituição da dieta sem glúten a criança teve uma evolução clínica favorável com melhoria gradual dos sintomas abdominais. Conclusão: A apresentação clínica da doença celíaca têm-se alterado ao longo do tempo com novas formas de apresentação. Este caso clínico reforça a necessidade de ponderar a hipótese de doença celíaca em crianças com invaginações intestinais recorrentes, mesmo na ausência de outra sintomatologia característica desta patologia. Serviço de Pediatria do Hospital Central do Funchal 279 CC 13 SÍNDROME DE HEYDE: ENTIDADE FREQUENTEMENTE ESQUECIDA NA HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL Gravito-Soares E.(1), Gravito-Soares M.(1), Campos S.(1), Giestas S.(1), Agostinho C.(1), Souto P.(1), Camacho E.(1), Cabral J.(1), Sofia C.(1), (1)Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. Introdução: A Síndrome Heyde é uma causa rara mas importante nos idosos, caraterizada pela associação entre hemorragia por angiodisplasias gastrointestinais e estenose valvular aórtica. As angiodisplasias são frequentemente localizadas no cólon. Por vezes, a hemorragia pode ser grave, com necessidade frequente de múltiplas transfusões sanguíneas. Apesar da cauterização das angiodisplasias com árgon-plasma (APC), a recidiva hemorrágica é frequente. Nos casos severos, a substituição valvular aórtica deve ser considerada. Os autores reportam um caso de Síndrome de Heyde com desfecho fatal. Caso Clínico: Mulher de 69 anos com antecedentes relevantes de hipertensão arterial, estenose aórtica grave (área valvular 1cm2), portadora de prótese mecânica mitral e biológica tricúspide, fibrilhação auricular, hipocoagulação com varfine e insuficiência cardíaca. Múltiplos internamentos nos quatro anos anteriores por anemia e melenas com avaliação endoscópica mostrando múltiplas angiodisplasias do intestino delgado (duodeno e jejuno proximal) sangrantes, submetida a sucessivas APC. Transferida de outra instituição hospitalar por melenas com instabilidade hemodinâmica, onde esteve internada por Insuficiência cardíaca descompensada, tendo apresentado dois episódios de queda de 4g/dL de hemoglobina com necessidade transfusional marcada. Durante o internamento manteve valores estáveis de hemoglobina, tendo sido repetida EDA sem alterações e agendada enteroscopia para APC e consulta de cardiologia para decisão de cirurgia valvular aórtica. Ao décimo dia de internamento, a doente apresentou Inusficiência cardíaca descompensada por Infeção urinária a Klebsiella pneumoniae. Posteriormente, agravamento progressivo com desenvolvimento de falência multiorgânica por hipoperfusão, secundária a hipocinésia ventricular esquerda e estenose aórtica grave, documentadas por ecocardiograma transtorácico, acabando por falecer. Conclusão: Reporta-se este caso pela raridade da etiologia e localização das angiodisplasias na hemorragia gastrointestinal, e gravidade do quadro de Síndrome de Heyde, sendo importante considerar a associação entre angiodisplasias gastrointestinais e estenose aórtica, bem como a possibilidade de cura cirúrgica por substituição valvular aórtica de forma precoce. Documenta-se iconografia por videocápsula endoscópica. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 280 CC 14 ILEÍTE TERMINAL NÃO É SINÓNIMO DE DOENÇA DE CROHN Campos S., Oliveira A., Lérias C., Pina Cabral JE., Sofia C. Doente do sexo masculino, 43 anos, internado para estudo de quadro com 3 semanas de evolução de diarreia profusa, sem sangue ou muco, com atingimento noturno. Concomitantemente com queixas de anorexia, perda ponderal não quantificada e poliartralgias difusas, sob terapêutica com anti-inflamatórios não esteróides. Sem outra medicação habitual, sem antecedentes familiares de doença inflamatória intestinal conhecidos e sem episódios prévios semelhantes. Analiticamente, destaque para: hemoglobina 13,6g/dL; leucócitos 12,8X10^9/céls com predomínio de polimorfonucleares; PCR 8,22mg/dL. Ecograficamente com evidência de espessamento parietal difuso do cego e íleon terminal, com alguma hiperreflectividade da gordura envolvente. Efetuada colonoscopia total, com ileoscopia terminal, observando-se, em todo o trajeto cólico, múltiplas erosões aftóides, circundadas de mucosa de aparência normal; válvula ileo-cecal congestiva; íleon terminal com mucosa congestiva pseudo-polipóide e diversas úlceras profundas. Exame parasitológico das fazes e pesquisa de toxina para Clostridium Difficille negativos. Foi medicado empiricamente com ciprofloxacina. A histopatologia veio posteriormente a revelar ileocolite não granulomatosa ligeira, sem aspetos de especificidade e o exame bacteriológico para Yersinia enterocolitica veio positivo. O doente teve uma evolução favorável. A reavaliação endoscópica não mostrou quaisquer alterações, e mantém-se até à data sem recidiva clínica. A Ileíte terminal aguda tem sido, ao longo dos anos, associada persistentemente à doença de Crohn, embora muitos destes doentes não venham a revelar uma doença crónica durante o seu seguimento. Os autores apresentam um caso de ileíte terminal por Yersinia enterocolitica com o intuito de alertar para outra etiologia possível para esta condição clínica, possivelmente mais frequente. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 281 CC 15 RETIRADO A PEDIDO DO AUTOR 282 CC 16 DESCONEXÃO NEURO-INTESTINAL: PROCESSO IMUNOMEDIADO? Silva Fernandes J., Ramos R. , Fernandes D., Duarte P. , Vicente C., Gomes M. , Casteleiro Alves C. , Cruto C. A pseudo-obstrução intestinal crónica (POIC) é um distúrbio raro, caracterizado pela ausência parcial ou mesmo total de propulsão gastrointestinal, sendo imperativo excluir a existência de obstrução mecânica. Esta entidade pode ser idiopática ou secundária quando causada por conectivites, doenças endocrinológicas, amiloidoses, radioterapia, exposição a tóxicos, infecções ou neoplasias. Relativamente aos síndromes paraneoplásicos, destaca-se uma entidade designada síndrome anti-Hu, mediada por autoanticorpos com o mesmo nome que, sensibilizados por antigénios apresentados por células neoplásicas reagem contra proteínas neuronais. No caso da POIC pensa-se que estes autoanticorpos atacam o plexo mientérico e submucoso do trato digestivo, podendo causar uma aganglionose secundária. Apresentamos o caso de um homem de 33 anos que desenvolveu um quadro de dor abdominal, associado a obstipação, sensação de enfartamento, distensão abdominal e vómitos pós-prandiais precoces. Foi submetido a laparoscopia exploradora que descartou a hipótese de íleus mecânico. A endoscopia digestiva alta e colonoscopia revelaram gastroparesia, marcada dilatação e ausência de motilidade do cólon. Cerca de um mês depois desenvolveu um sindrome miasténico predominantemente ocular, pelo que realizou TCtorácico que revelou um volumoso timoma. Verificou-se ainda que o doente era seronegativo para os anticorpos que estão associados à miastenia gravis, mas positivo para um anticorpo anti-neuronal, antiHU. Após timectomia, tratamento colinérgico e imunomodulador, apresentou discreta melhoria do síndrome miasténico, mas não houve melhoria do quadro gastro-intestinal. Transcorridos 100 dias, continua sem dejecções e necessidade de alimentação parentérica. Iniciou eritromicina oral em baixas doses e iniciará plasmaférese. Pondera-se radioterapia torácica. Coexistem, neste caso, condições que clássicamente não ocorrem em simultâneo. A génese comum será uma perturbação imunológica que condiciona lesão dos plexos nervosos intestinais e perturbação da transmissão da placa motora. É um caso clínico raro, de tratamento difícil, com necessidade de acompanhamento multidisciplinar e cujo prognóstico é difícil de estabelecer. Centro Hospitalar Cova da Beira (Hospital Pêro da Covilhã) 283 CC 17 TRATAMENTO COM SIROLIMUS DE UM DOENTE COM SÍNDROME DE BEAN Cardoso H., Amil J., Silva M., Vilas Boas F., Trindade E., Tavares M., Macedo G. Introdução: O Síndrome de Bean ou “Blue Rubber Bleb Nevus” (BRBN) é uma doença rara, caracterizada pela presença de múltiplas malformações vasculares cutâneas e do tubo digestivo, associando-se a hemorragia intestinal e anemia ferripriva, de difícil controlo. Outros orgãos também podem estar envolvidos. Não existem opções terapêuticas que tenham demonstrado um controlo adequado da doença, além de dois casos descritos de melhoria após tratamento com sirolimus. Caso clínico: Doente do sexo masculino, 18 anos de idade, com BRBN diagnosticado há 15 anos, com múltiplas lesões vasculares viscerais, musculares e subcutâneas, complicado de hemorragia digestiva crónica. O doente inicialmente foi tratado por ablação endoscópica (árgon-plasma) e cirurgia de ressecção intestinal das lesões maiores, com melhoria clínica. Por dependência recorrente de transfusões de glóbulos rubros (74 transfusões desde o diagnóstico), apesar de terapêutica com ferro oral e intra-venoso (hidróxido de ferro, ferro-hidróxido dextrano e carboximaltase férrica), iniciou propanolol e foi submetido a vários tratamentos endoscópicos (ablação térmica e esclerose) com melhoria transitória. A terapêutica mais recente (propanolol e carboximaltase férrica) proporcionou melhoria sintomática, mas sem melhoria significativa da anemia e perdas hemáticas. A utilização de fármacos anti-angiogénicos foi protelada devido a possíveis efeitos adversos em fase de crescimento rápido. Aos 18 anos, com atingimento da estatura adulta, foi proposto tratamento com sirolimus. Um mês após o início da terapêutica anti-angiogénica o doente apresentou melhoria da astenia e da sensibilidade das lesões subcutâneas/musculares e resolução da anemia (recuperação 3g/dL num mês), sem recorrência de perdas hemáticas. Motivação: Considera-se pertinente a apresentação e discussão do caso devido à raridade da Síndrome (200 casos publicados), gravidade da evolução clínica, desafio clínico das opções terapêuticas, utilização de tratamento inovador com boa resposta (apenas 2 casos publicados) e pela iconografia acompanhante. Serviço de Gastrenterologia e Pediatria – Centro hospitalar de São João, Porto, Portugal 284 CC 18 DÉFICE CONGÉNITO DE SACARASE-ISOMALTASE: RELATO DE UM CASO Rita Santos Silva, Marta Tavares, Eunice Trindade, Jorge Amil Dias Introdução: O défice congénito de sacarase-isomaltase é uma doença autossómica recessiva caraterizada por uma ausência da atividade da sacarase e uma diminuição variável da atividade da isomaltase. Relato de caso: Lactente de 6 meses, do sexo masculino, internado para estudo de diarreia crónica profusa e má evolução ponderal coincidentes com o início da diversificação alimentar. Após exclusão de alguns diagnósticos diferenciais, a investigação mostrou tratar-se de um caso de deficiência congénita de sacaraseisomaltase (resolução da diarreia com o jejum, ausência de diarreia durante a prova de tolerância à glicose e reinício da diarreia com a exposição à sacarose). Discussão: O diagnóstico desta patologia dispensa exames auxiliares de diagnóstico complexos, mas exige elevado índice de suspeição. A hipótese diagnóstica deve ser suscitada nos casos de diarreia osmótica fermentativa e má evolução ponderal com início após a introdução de hidratos de carbono além da lactose na dieta. Os autores propõem uma abordagem diagnóstica simples para esta patologia e discutem as limitações do Clinitest®. A coexistência do défice enzimático e alergia alimentar colocou desafios terapêuticos adicionais. Unidade de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital Pediátrico Integrado do Centro Hospitalar de S. João 285 CC 19 LESÃO SUBEPITELIAL DUODENAL EM DOENTE JOVEM: UM RESULTADO INESPERADO! Marques S., Carmo J., Bispo M., Pinto-Marques P., Serra D. Mulher, de 39 anos, recorreu ao serviço de urgência por dor epigástrica intensa, tipo cólica, com 3 dias de evolução. Analiticamente, apresentava elevação ligeira e isolada da PCR (1,9mg/dL), com provas hepáticas e lipase normais e com ecografia hepatobiliar sem alterações. Foi realizada TC, que documentou lesão duodenal endofítica (D2/D3), polipoide, com 2,6cm, com densidade heterogénea; via biliar e pâncreas sem alterações. Foi então submetida a EDA/duodenoscopia, que mostrou, imediatamente a jusante da papila (D2), volumosa lesão subepitelial, com 30mm, de base larga e topo ulcerado, sugestiva de GIST. Por ecoendoscopia, documentou-se lesão duodenal subepitelial polipoide, com 25-30mm (transition zone/camada de origem indefinida), extensamente calcificada, com vias biliares normais. Após discussão multidisciplinar e revisão da iconografia, colocou-se a hipótese de cálculo biliar impactado na parede duodenal em fístula bilioentérica, tendo-se repetido duodenoscopia. No mesmo local da lesão, existia agora volumoso orifício, sugestivo de fístula peripapilar, em fundo-de-saco (loca com cerca de 40mm após injeção de contraste e exploração com fio-guia). Assistiu-se a resolução espontânea e completa da dor abdominal e a CPRM realizada 3 meses depois foi normal. As fístulas bilioentéricas constituem a forma mais comum de fistulização biliar e estão geralmente associadas a litíase biliar. Quando terminam na proximidade da papila duodenal são designadas de fístulas peripapilares. Os autores descrevem um caso raro de cálculo biliar impactado na parede duodenal em provável fístula bilioduodenal peripapilar, com apresentação endoscópica de uma volumosa lesão subepitelial ulcerada peripapilar. Salienta-se que existem somente dois casos semelhantes descritos na literatura. Além da sua raridade, a relevância do caso clínico prende-se com o diagnóstico diferencial com lesões subepiteliais duodenais calcificadas, cuja abordagem terapêutica é distinta, designadamente cirúrgica e associada a considerável morbilidade. Destaca-se o papel da discussão multidisciplinar e da revisão da iconografia, fundamentais para o correto diagnóstico e tratamento neste caso. Serviço de Gastrenterologia, Hospital da Luz e Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Egas Moniz, Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental 286 CC 20 SÍNDROME DE KLIPPEL-TRENAUNAY-WEBER: UMA CAUSA RARA DE HEMATOQUÉZIAS Rodrigues J., Chapim I., Túlio M., Barreiro P., Chagas C. Introdução: A síndrome de Klippel-Trenaunay-Weber (SKTW) é uma condição congénita rara que inclui a tríade de malformações capilares cutâneas, anomalias venosas ou linfáticas e hipertrofia óssea ou tecidos moles. O atingimento intestinal nestes casos pode ser potencialmente grave e a sua abordagem terapêutica um desafio clínico. Caso Clínico: Os autores apresentam o caso de um homem de 37 anos, encaminhado à consulta de gastrenterologia por hematoquézias de baixo débito auto-limitadas mas recorrentes, associadas a dor abdominal tipo cólica. Ao exame objectivo destacava-se marcada palidez das conjuntivas, dor abdominal ligeira à palpação profunda de forma difusa, sendo evidente uma assimetria dimensional dos membros inferiores associado a extensos hemangiomas cutâneos e varicosidades. Analiticamente destacava-se hemoglobina de 7,6g/dl (VGM – 67 fl) com ferritina baixa (4 mcg/L). Foi realizada retosigmoidoscopia flexível até aos 30 cm da margem do ânus que mostrou extensos cordões varicosos e hemangiomas aos longo dos segmentos observados, não se progredindo por risco de complicações hemorrágicas. Fez TC abdomino-pélvica onde se confirmou extenso envolvimento de hemangiomatose pericólica e retal assim como extensos hemangiomas hepáticos. Perante o quadro clínico estabeleceu-se o diagnóstico de SKTW. Optou-se por atitude conservadora com terapêutica marcial endovenosa e analgésica on demand com boa resposta clínica e analítica. Conclusão: Apesar do envolvimento gastrointestinal ocorrer em somente 20% dos doentes com SKTW, geralmente não condicionando manifestações clínicas, a hemorragia digestiva baixa pode ser uma complicação potencialmente grave, maioritariamente descrita em indivíduos em idade pediátrica e adultos jovens. Desta forma esta síndrome deverá ser reconhecida, independentemente da idade, como uma potencial forma de hemorragia digestiva, facilmente suspeita pelos achados clínicos ao exame objectivo. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 287 CC 21 SCHWANNOMA CÓLICO – A PROPÓSITO DE UM CASO Costa M.N.1, Figueiredo J.2, Silva M.J.1, Pascoalinho J.A.2, Oliveira M.3, Saiote J.1 Descrição: Apresenta-se o caso de um doente de 24 anos, que recorreu ao Serviço de Urgência por dor tipo cólica nos quadrantes inferiores do abdómen, associada a náuseas e vómitos, paragem da emissão de fezes e rectorragias, com um dia de evolução. O abdómen apresentava-se mole e depressível, doloroso à palpação do hipogastro, sem defesa ou sinais de irritação peritoneal. Como antecedentes havia a salientar abdominoplastia um ano e meio antes por perda intencional de 35 kg de peso. Não fazia qualquer medicação habitualmente. O estudo laboratorial mostrou leucocitose com neutrofilia, desidrogenase láctica de 324U/L e proteína C reactiva de 0,8 mg/L. A TC abdomino-pélvica mostrou alteração da morfologia da sigmóide, com ansa dentro de ansa, sugestiva de invaginação intestinal. Na cabeça da invaginação observava-se uma lesão ocupando espaço com cerca de 3,5cm, condicionando dilatação a montante. A colonoscopia identificou, aos 40 cm, lesão ovalada, bem circunscrita, com mucosa íntegra mas de aspecto marcadamente congestionado, que ocupava a totalidade da superfície luminal. Após mobilização do doente, foi possível a progressão a montante, identificando-se uma lesão polipóide que prolapsava, com mucosa adjacente edemaciada e hiperemiada, condicionando redução do calibre luminal. A montante observaram-se fezes castanhas líquidas, sem sangue, em abundante quantidade. O doente foi submetido a sigmoidectomia com anastomose primária. O estudo anatomo-patológico revelou tumor nodular na submucosa, com 3,5cm de diâmetro, que ocupava dois terços da circunferência do órgão. O exame microscópico e imunohistoquímico fez o diagnóstico de Schwannoma cólico. Motivação: Os Schwannomas do tracto gastrointestinal são raros, observando-se mais frequentemente no estômago. O envolvimento do cólon é incomum sendo uma causa extremamente rara de obstrução intestinal. Apresenta-se o caso pela sua originalidade com documentação radiológica, endoscópica, cirúrgica e histológica. 1Serviço de Gastrenterologia; 2Serviço de Cirurgia Geral; 3Serviço de Anatomia Patológica – Centro Hospitalar de Lisboa Central, E.P.E. 288 CC 22 HEMATOMA ESPONTÂNEO DO ÂNGULO ESPLÉNICO – UMA CAUSA INVULGAR DE HEMORRAGIA DIGESTIVA Fernandes S, Gonçalves A., Correia L., Carrilho Ribeiro L., Velosa J. Introdução: Os hematomas gastrointestinais são entidades clínicas raras cuja prevalência parece estar a aumentar. Podem ocorrer espontaneamente em doentes anticoagulados, com discrasias, vasculites, neoplasias ou após traumatismo abdominal ou procedimentos endoscópicos. Mais frequentemente afectam o intestino delgado (85-94%), contudo o envolvimento do cólon e recto encontra-se descrito. Caso clínico: Homem de 73 anos admitido por dor abdominal e hematoquézias com 24 horas de evolução. Encontrava-se medicado com varfarina e ácido acetilsalicílico por doença cardiaca isquémica e valvular (stents coronários e próteses mecânicas aórtica e mitral). Na admissão encontrava-se hemodinamicamente estável com dor à palpação dos quadrantes esquerdos do abdómen. O toque rectal demonstrava vestígios de sangue vivo no dedo de luva. Apresentava anemia (10.8 g/dl), trombocitopenia (135.000x10^9U/L) e INR terapêutico (2.53). A colonoscopia demonstrou torção do cólon no ângulo esplénico em torno de um volumoso hematoma da parede (6.5x3cm) com hemorragia de baixo débito nos bordos, achados confirmados na tomografia abdominal. Dada a estabilidade clínica optou-se por terapêutica conservadora. Perante o elevado risco trombótico reiniciou-se anticoagulação ao 3º dia após demonstração ecográfica de redução das dimensões do hematoma. O doente teve alta após 1 semana de internamento. A reavaliação por colonoscopia ao final de 1 mês demonstrou completa reabsorção do hematoma, com mucosa do colon sem alterações. Discussão: A utilização crescente da terapêutica anti-coagulante, sobretudo em doentes de idade avançada, explica a elevada taxa de eventos hemorrágicos (1/13 doentes). Contudo, mesmo nesta população os hematomas gastrointestinais são raros (1/250.000). O diagnóstico baseia-se nos achados característicos na ecografia ou tomografia abdominal. A maioria pode ser abordada conservadoramente ficando a cirurgia reservada perante a persistência, agravamento clínico ou suspeita de abdómen agudo. Hospital Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 289 CC 23 O DIAGNÓSTICO SEGUNDO CÁPSULA ENDOSCÓPICA Capela T, Silva MJ, Costa M, Carvalho D, Russo P, Saiote J, Bentes T Os autores apresentam o caso de um homem, 51 anos, com história de patologia coronária submetida a angioplastia e sob anti-agregação dupla, internado em serviço de Medicina em Setembro de 2013 por enfarte do miocárdio e anemia microcítica com necessidade de suporte transfusional. Tem endoscopia alta (EDA) e colonoscopia do ano anterior sem alterações relevantes. À data da alta com encaminhamento para Gastreterologia. Quinze dias mais tarde recorre à urgência por astenia progressiva com anemia microcitica (Hb- 7,3g/dL, VGM 61fL) e melenas. Realizada EDA, colonoscopia e entero-TC sem alterações relevantes. Após discussão clínica executada cápsula endoscópica que mostra tumor polipoide, volumoso, revestido de mucosa de aspecto semelhante à envolvente, com área ulcerada. Repetida entero-TC com esboço de lesão ocupando espaço, próximo do ângulo de Treitz com projecção luminal, com cerca de 3cm. Realizada nova EDA com colonoscópio e sob sedação anestésica onde foi observada a lesão descrita, com aspecto submucoso. Realizadas biópsias (tecido inflamatório inespecífico). Encaminhado para cirurgia com enterectomia segmentar e anastomose primária- tumor do jejuno proximal a 15cm do ângulo de Treitz. Histologia da peça com tumor de estroma gastrintestinal (GIST) de baixo grau (grupo 2 de prognóstico, estadio I- TNM). Seguido em oncologia, sem terapêutica. Quatro meses após procedimento com tomografia de positrões sem alterações, Hb de 12,3g/dL. Motivações: Os GIST representam lesões neoplásicas subepitelias heterogéneas com agressividade e apresentação clínica variáveis. Os GIST do delgado representam menos de 20% do total. Apresenta-se este caso pela sua raridade bem como dificuldade diagnóstica com suporte iconográfico e vídeo da lesão. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Santo António dos Capuchos- Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE 290 CC 24 UM CASO DE DOR ABDOMINAL Costa S., Soares J.B., Gonçalves B., Fernandes D., Peixoto P., Gonçalves R. Os autores apresentam o caso de uma mulher de 34 anos de idade, com antecedentes de cefaleias de tensão e dismenorreia, referenciada à consulta de Cirurgia Geral por nódulo umbilical, dor peri-umbilical e perda hemática umbilical no período catamenial, com um ano de evolução. A histologia do nódulo umbilical que se excisou revelou tratar-se de um implante endometrial. O anticoncepcional oral minigeste® havia sido suspenso há um ano no contexto das cefaleias. Por orientação ginecológica retomou ACO continua, melhorou relativamente à dismenorreia, mas surgiram dor tipo cólica no quadrante abdominal inferior esquerdo e tenesmo. Na consulta de Gastrenterologia conjecturou-se um síndrome do intestino irritável mas uma ecografia pélvica endovaginal revelou na região anexial esquerda, formação nodular, de contornos irregulares, heterogénea, aderente à parede intestinal, com 32,3 x 21,0 mm. Na rectosigmoidoscopia observou-se procidência rectal com 30 mm aos 15 cm da MA podendo corresponder a compressão extrinseca ou a lesão subepitelial, pelo que fez eco-endoscopia. Nesta visualizou-se, aos 15 cm da margem anal, uma lesão subepitelial de 18x8 mm, oval, que afectava a camada submucosa e muscular própria, sugestiva de nódulo de endometriose. Por manutenção das queixas álgicas decidiu-se pela sanção cirúrgica - histerectomia total com anexectomia bilateral, omentectomia parcial, ressecção de nódulo de endometriose da parede anterior do recto e electrofulguração de focos de endometriose pélvica. A histologia revelou endometriose a envolver a serosa uterina, epiploon e parede rectal. Houve franca melhoria das queixas após a intervenção. Os autores pretendem sensibilizar para uma condição clínica que apesar de ser relativamente frequente é poucas vezes tida em conta no diagnóstico diferencial de dor abdominal, propondo a sua exclusão em toda a mulher jovem com sintomatologia gastro-intestinal, principalmente quando a esta se associam dismenorreia, dispareunia e/ou infertilidade. É apresentada diversa iconografia. Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga 291 CC 25 UMA CAUSA INESPERADA DE HEMORRAGIA DIGESTIVA BAIXA Lourenço L.C., Oliveira A.M., Cardoso F.S., Branco J., Horta D., Reis J., Deus J.R. Apresenta-se iconografia detalhada de um caso respeitante a um doente de 72 anos, com múltiplos factores de risco cardiovasculares internado no Serviço de Cuidados Intensivos por um quadro de choque séptico e múltiplas complicações infecciosas, nomeadamente colite pseudomembranosa (com diagnóstico endoscópico). Catorze dias após o início da terapêutica dirigida ao Clostridium difficile, apresenta hematoquézias de sangue vivo persistentes com descida significativa de hemoglobina (sonda nasogástrica com drenagem de conteúdo bilioso) realizando-se uma rectosigmoidoscopia de urgência. Observam-se alguns resíduos hemáticos (coágulos) no recto e, entre os 20 e os 10 cm da margem anal, úlcera com diâmetro superior a 5 cm, com fundo nacarado e friável, cujos bordos se biopsaram e que se interpretou como a provável causa de hemorragia (isquémia). Cerca de 48h depois, assiste-se a novo episódio de hematoquézias e realiza-se uma colonoscopia total de urgência com presença de fezes líquidas acastanhadas ao longo de todo o trajecto que se aspiraram; no recto, coágulo fresco de grandes dimensões que se remove e na mucosa subjacente observa-se úlcera previamente descrita, sem sinais de hemorragia recente. À retirada do aparelho, cerca dos 5cm da margem anal, observa-se ponto acuminado vascular que se lava, com hemorragia de baixo débito associada – lesão de Dieulafoy. Procede-se a laqueação elástica, com colocação de 1 elástico envolvendo a lesão e controlo da hemorragia. As biopsias da úlcera revelaram mucosa com zona de ulceração inespecifica, sem evidência de causa infecciosa. Não se assistiu a recidiva hemorrágica. Os autores reportam um caso de hemorragia digestiva baixa com um diagnóstico difícil e desfecho inesperado. Apresenta-se iconografia detalhada das lesões descritas bem como da terapêutica endoscópica realizada, que foi eficaz. Serviço de Gastrenterologia - Hospital Prof. Dr. Fernando Fonseca E.P.E 292 CC 26 DOR ABDOMINAL RECORRENTE EM DOENTE JOVEM – UM RARO CASO DE ENDOMETRIOSE INTESTINAL ISOLADA Rodrigues J., Carvalho L. , Santos S., Barreiro P., Pinto Marques P., Chagas C. Introdução: Entre 3.8 % a 37% das mulheres com diagnóstico de endometriose apresentam atingimento intestinal, contudo o afecção intestinal isolada é uma raridade (< 1% das doentes com endometriose intestinal). Os sintomas, principalmente evidentes em doentes com infiltração da camada muscular, mimetizam muitas vezes a síndrome do intestino irritável, o que condiciona dificuldades no diagnóstico diferencial e de decisão terapêutica. Caso clínico: Mulher de 38 anos, sem antecedentes pessoais relevantes, é referenciada à consulta de gastrenterologia por dor abdominal na fossa ilíaca direita, recorrente, com predomínio no período mestrual, sem alterações do trânsito intestinal, perdas hemáticas ou queixas sistémicas associadas. Entre os exames complementares de diagnóstico efetuados destaca-se a colonoscopia que identificou, na transição reto-sigmoideia, lesão de aspecto subepitelial com mucosa subjacente íntegra, com cerca de 30mm, não estenosante, cujas biopsias em túnel foram inconclusivas. A ecoendoscopia realizada confirmou tratar-se de uma lesão hipoecóide heterogénea, de limites mal definidos, com aparente atingimento de todas as camadas não sendo possível a caracterização da sua camada de origem. A punção ecoguiada com agulha 22G revelou presença de tecido endometrial. A ressonância magnética pélvica e a ecografia endovaginal não identificaram outras lesões compatíveis com endometriose. Pela vontade da doente e dúvidas face ao benefício clínico da excisão da lesão optou-se por terapêutica hormonal. A doente apresenta atualmente 3 anos de seguimento, sem crescimento da lesão previamente descrita e com controlo adequado da dor com analgesia pontual. Apresenta-se iconografia. Conclusão: A endometriose intestinal como apresentação isolada de endometriose é rara, e o seu significado clínico é muitas vezes de difícil interpretação. Torna-se essencial a comunicação interdisciplinar e com o doente para uma adequada atitude terapêutica. Hospital de Egas Moniz, CHLO, Lisboa 293 CC 27 UMA CAUSA POUCO FREQUENTE DE HEMORRAGIA DIGESTIVA OBSCURA NUM ADULTO JOVEM COM MÚLTIPLAS PATOLOGIAS GASTROINTESTINAIS Ribeiro I., Pinho R., Rodrigues A., Pinto Pais T., Silva J., Ponte A., Alberto L., LeiteS., Carvalho J. Homem, 42 anos. Antecedentes pessoais de doença renal e hepática poliquística autossómica dominante, doença hepática crónica, doença de Crohn (DC) ileocólica e hemicolectomia direita. Medicado com azatioprina e hipocoagulado por trombose parcial da veia porta. Recorreu ao SU por melenas com estabilidade hemodinâmica. Verificada pancitopenia (Hb=10,9g/dl; leucócitos=1,43x10E3/uL; plaquetas=43x10E3/uL). EDA: varizes esofágicas pequenas sem estigmas hemorrágicos; colonoscopia sem vestígios hemáticos e estenose anastomose ileocolica. Iniciou terapêutica com terlipressina e ciprofloxacina. Manteve perdas hemáticas e necessidade transfusional diária. Repetiu EDA: sem alterações de novo. Realizou TC abdominal que colocou em hipótese a existência de variz no intestino delgado na topografia da cicatriz cirúrgica. Realizou enteroscopia por monobalão por via anal: anastomose e parte distal do neo-íleon terminal ulceradas, com estenose ulcerada no íleon a 3cm da anastomose; mucosa ileal proximal sem evidência de varizes ou sangue. Hemorragia interpretada em contexto de agudização de DC. Posteriormente manteve estabilidade clínica e analítica. Um mês depois regressa ao SU por hematoquézias. Repetiu EDA que não evidenciou causa hemorrágica e realizou enteroscopia por cápsula: sangue vermelho vivo no íleon, identificando-se variz do íleon com ponto de rutura, sem hemorragia ativa. Repetiu enteroscopia por monobalão por via anal: progressão no ileon cerca de 40 cm, não se conseguindo maior progressão por o overtube não ultrapassar a estenose. De seguida fez-se introdução do enteroscópio por via oral, não se conseguindo atingir a variz. Decidiu-se colocação de TIPS, após o qual o doente se manteve assintomático, sem necessidade de suporte transfusional e com níveis estáveis de hemoglobina. Principais pontos a discutir: investigação etiológica e diferentes formas de tratamento de uma hemorragia digestiva obscura num doente com múltiplas comorbilidades gastrointestinais que condicionam os diagnósticos diferenciais e abordagem terapêutica. Os autores destacam o caso pela associação de múltiplas patologias de difícil controlo e raridade etiológica da hemorragia digestiva. Centro Hospitalar Vila Nova Gaia - Espinho 294 CC 28 UM CASO DE DISFAGIA E IMPACTAÇÃO ALIMENTAR RECORRENTE Costa S., Peixoto P., Gonçalves B., Fernandes D., Gonçalves R. Um homem, com 31 anos de idade, recorreu ao serviço de urgência por impactamento alimentar. No ultimo mês havia tido vários episódios que resolveram espontaneamente. O primeiro episódio de impactamento alimentar, motivador de vinda ao serviço de urgência, tinha ocorrido há 18 meses. Nessa altura a endocopia digestiva alta (EDA) havia mostrado impactamento de carne no esófago médio e estreitamento luminal; sem esofagite mas com aparente alteração da motilidade. Foi removido o impactamento e teve alta medicado medicado com IBP. O doente não tinha antecedentes patológicos, nomeadamente dermatite atópica, rinite/sinusite atópica, asma ou alergias alimentares. Negava pirose, dor torácica ou perda ponderal. No entanto, na última vinda ao Serviço de Urgência (SU) a endoscopia digestiva alta revelou um achado característico: esófago com aspecto traqueiforme. Foram efectuadas biópsias esofágicas que revelaram infiltrado eosinofílico (>20 eosinófilos por campo de grande ampliação) e microabcessos eosinofílicos. O aspecto endoscópico, o infiltrado eosinofílico, a ausência de resposta ao tratamento com IBP e a melhoria após a introdução do corticóide tópico (fluticasona deglutida) confirmaram o diagnóstico de esofagite eosinofílica. Os autores, com este caso, pretendem sensibilizar para a necessidade de se considerar o diagnóstico de esofagite eosinofílica em doentes jovens com impactação alimentar mesmo na ausência de aspectos endoscópicos sugestivos. O atraso no diagnóstico pode conduzir a estenoses esofágicas e necessidade de tratamento com dilatação, a qual, apesar de não ser tão perigosa como se pensava inicialmente neste grupo de doentes, acarreta um risco não negligenciável de perfuração e dor torácica pós procedimento. Apresenta-se diversa iconografia (endoscopia com impactamento e aspectos endoscópicos característicos da esofagite eosinófilica; histologia). Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga 295 CC 29 DISFAGIA POR CÁUSTICO- PARA LÁ DA PERSISTÊNCIA DA TÉCNICA Capela T, Russo P, Carvalho D, Costa M, Silva MJ, Bettencourt MJ, Seves I, Canena J Os autores apresentam o caso de uma mulher, 73 anos, admitida no Serviço de Urgência (SU) por disfagia total após ingestão acidental de agente corrosivo. Decorreram 19 dias entre a ingestão e a ida ao SU, destacando-se neste período agravamento progressivo da disfagia apesar do tratamento conservador (dieta e omeprazol). A avaliação endoscópica no SU observou estenose esofágica circunferencial, inultrapassável, aos 25cm da arcada dentária, com mucosa de aspecto nacarado e friável. Trânsito esofágico e TC torácica confirmam estenose esofágica longa (12cm de extensão e 5mm de diâmetro) e espessamento transmural sem evidência de perfuração. Após discussão clínica e devido à ausência de repercussões sistémicas optou-se por iniciar sessões bi-semanais de dilatação com balão hidrostático de dilatação progressiva. Realizadas um total de 10 sessões conseguindo-se progredir até aos 9-10mm de diâmetro esofágico e passando a doente a tolerar dieta pastosa à data da alta. Em avaliação posterior verificou-se refractariedade da estenose com diminuição do calibre luminal e disfagia para sólidos, optando-se por colocação de prótese metálica totalmente coberta, com 18mm de diâmetro e 15cm de extensão. A prótese foi tolerada com discreta dor retrosternal. Nesta fase a paciente manteve dieta geral sem intercorrências. A prótese foi retirada 3 meses depois. A doente permaneceu sem disfagia, tendo recidiva sintomática ao fim de 15 dias. Após nova EDA verificou-se apenas um segmento estenosado com cerca de 3cm na porção distal do esófago, com cerca de 11-12mm de diâmetro, tendo iniciado novo programa de dilatações. Actualmente, cerca de 10 meses após ingestão sob dieta geral e com dilatações pontuais. Motivações: A ingestão de caústicos é uma etiologia importante de estenose esofágica benigna, cujo timing para o diagnóstico e tipo de tratamento são alvo de controvérsia. Apresenta-se o caso com o respectivo suporte visual (endoscópico, fluoroscópico e imagiológico). Serviço de Gastrenterologia- Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE 296 CC 30 ESOFAGITE IATROGÉNICA DO TIPO REACÇÃO DE CORPO ESTRANHO Peixoto, A., Andrade A.P., Silva M., Ramalho R., Macedo G. Caso Clínico: Os autores apresentam o caso de uma mulher, 79 anos de idade, com antecedentes de HTA essencial, dislipidemia e obesidade. Internada no nosso hospital por enfarte agudo do miocárdio (EAM) e oclusão intestinal por adenocarcinoma do cólon transverso, foi submetida a hemicolectomia direita, entretanto complicada por instabilidade hemodinâmica persistente e deiscência da anastomose com necessidade de confecção de colostomia e ileostomia. Ao nono dia de internamento registaram-se hematemeses e perdas hemáticas pelo orifício da ileostomia, sendo requisitada uma endoscopia digestiva alta diagnóstica. No esófago médio, observou-se ulceração extensa da mucosa estendendo-se até à junção esófago-gástrica, tendo sido efectuadas biopsias. Dada a inespecificidade dos achados endoscópicos, a doente foi medicada empiricamente com inibidor da bomba de protões e sucralfato. O exame histológico revelou abundante tecido necrótico, exsudado fibrino-leucocitário e tecido de granulação, frequentemente a envolver material exógeno acastanhado, refringente e cristalino, achado compatível com reacção de tipo corpo estranho, mais provavelmente por ingestão medicamentosa. Nova endoscopia uma semana depois mostrou cicatrização significativa da mucosa. Comentário: Observando o contexto clínico da doente, as lesões observadas foram inicialmente interpretadas como secundárias a patologia infecciosa ou isquémica. No entanto, o exame histológico veio sugerir como provável causa uma reacção do tipo corpo estranho, achado não descrito na literatura. A esofagite medicamentosa é consequência da irritação química da mucosa esofágica na presença de determinadas medicações, especialmente quando estas são deglutidas com pequenas quantidades de líquidos, apresentando-se habitualmente como uma úlcera esofágica localizada. Revendo a medicação da doente e a evolução das lesões, verificou-se que a descontinuação do ácido acetilsalicílico (introduzido no contexto do EAM) devido às perdas hemáticas coincidiu com a sua melhoria, facto que poderá explicar a boa progressão observada. Este caso torna-se relevante pela baixa frequência de situações clínicas semelhantes e pela iconografia dos achados endoscópicos e histológicos únicos. Centro Hospitalar de São João, Serviço de Gastrenterologia 297 CC 31 SÍNDROME DE BOUVERET - RESOLUÇÃO ENDOSCÓPICA Costa S., Costa Dias V., Gonçalves B., Fernandes D., Machado A., Peixoto P., Gonçalves R. Os autores apresentam o caso de um homem de 85 anos, trazido ao serviço de urgência por dor/distensão abdominal, náuseas e vómitos incoercíveis com três dias evolução. Antecedentes patológicos: internamento recente (uma semana antes) por colecistite aguda, tratada medicamente; hipertensão arterial; dislipidemia e carcinoma da bexiga. Realizou RX, ecografia e TC abdominais que revelaram distensão gástrica com líquido/ar até à 2ª porção do duodeno, provável “ileus biliar” com cálculo obstrutivo de 3 cm na segunda porção do duodenal. Vesícula biliar colapsada, sem cálculos, com gás interior. Foi submetido a uma endoscopia digestiva alta que revelou estase alimentar gástrica e volumoso cálculo impactado no bolbo duodenal (cerca de 3cm), impossibilitando a passagem do endoscópio. Tentou-se remover o cálculo com litotritor Trapezoid sem sucesso. Após sucessivas tentativas com recurso a ansa, tripé e pinça conseguiu-se a sua fragmentação e passagem espontânea para D3/D4. A mucosa bolbar encontrava-se ulcerada, identificando-se um orifício de fístula na face posterior. Após o tratamento endoscópico ocorreu resolução dos sintomas e o doente foi transferido para o hospital da área de residência, mantendo inibidor bomba de protões e antibioterapia. No follow-up de 1 mês não se verificou nova impactação duodenal nem ocorrência de ileus biliar. A maioria dos doentes com síndrome de Bouveret têm idade avançada e múltiplas co-morbilidades. Ileus biliar é responsável, nos doentes com mais de 65 anos, por 25% dos casos de obstrução mecânica do intestino delgado. Uma percentagem significativa dos doentes é submetida a terapêutica cirúrgica sem que se tenha tentado terapêutica endoscópica prévia. Com este caso clínico, apresentando diversa iconografia, os autores pretendem sensibilizar para a possibilidade de sucesso do tratamento endoscópico. Apesar da baixa taxa de sucesso (cerca de 10%), o tratamento endoscópico permite reduzir significativamente a morbilidade e mortalidade inerentes ao tratamento cirúrgico. Serviço de Gastrenterologia do Hospital de Braga 298 CC 32 PNEUMATOSE CÓLICA - A PROPÓSITO DE UM CASO Costa M., Silva M.J., Capela T., Russo P., Carvalho D., Morgado C., Andrade D., Coimbra J. Apresenta-se o caso de uma doente de 59 anos, observada em consulta de Gastrenterologia por enfartamento, distensão abdominal e hematoquézia ocasional nos últimos seis meses. Realizou colonoscopia observando-se múltiplas elevações nodulares subepiteliais de superfície lisa, cobertas por mucosa de aspecto normal, desde a sigmoide ao cego. As lesões colapsavam quando se biopsiava, surgindo ar. A histologia confirmou a pneumatose quística intestinal. A TC abdomino-pélvica evidenciou lesão ocupando espaço, sólida, na área anexial direita, medindo cerca de 10x7,5cm e, no cólon ascendente e transverso, imagens quísticas intramurais; contudo sem sinais de perfuração intestinal. A doente foi submetida a histerectomia total com anexectomia bilateral e apendicectomia. O estudo anatomopatológico identificou teratoma do ovário direito, benigno. Após a cirurgia manteve distensão abdominal. Realizou TC abdomino-pélvica que documentou manutenção de pequenas imagens quísticas na parede do ângulo esplénico do cólon. Iniciou terapêutica com metronidazol e oxigenoterapia hiperbárica. A reavaliação endoscópica mostrou, no ascendente e cólon transverso, áreas de mucosa esbranquiçada. O exame histológico evidenciou fibrose ligeira do córion. A reavaliação imagiológica não identificou sinais de pneumatose cólica. A pneumatose intestinal está associada a múltiplas patologias tendo um largo espectro de apresentação, desde formas assintomáticas até quadros graves potencialmente fatais, o que impõe atenção para o diagnóstico endoscópico desta entidade. O caso apresentado expõe a marcha diagnóstica e terapêutica nesta doente e inclui a iconografia dos exames complementares e breve revisão bibliográfica. Serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar de Lisboa central, EPE 299 CC 33 LESÕES FOCAIS HEPÁTICAS – DIAGNÓSTICO INESPERADO Vilas-Boas F., Cardoso H., Cristino H., Lopes J., Carneiro F., Macedo G. Introdução: O diagnóstico diferencial no caso das lesões focais hepáticas é vasto, mas geralmente possível sem que exista necessidade de recorrer a métodos invasivos. Em alguns casos contudo, o exame anatomopatológico é fundamental. Caso clínico: Doente do sexo feminino, 37 anos de idade, foi enviada à consulta em Junho de 2011 por lesões focais hepáticas diagnosticadas em ecografia abdominal de rotina. Não tinha antecedentes patológicos conhecidos nem factores de risco para doença hepática crónica. Estava medicada com contraceptivo oral combinado. O estudo analítico não revelou alterações e a ressonância magnética nuclear (RMN) com contraste hepato-específico confirmou os achados da ecografia, revelando lesões do lobo direito compatíveis com hemangiomas e 3 lesões hipervasculares nos segmentos III e IV, a maior com 45x30 mm, com características compatíveis com o diagnóstico mais provável de adenomas. Foi decidida suspensão do contraceptivo oral e vigilância imagiológica após discussão em reunião multidisciplinar. Em Maio de 2013 verificou-se crescimento significativo do nódulo do segmento IV, com área de hemorragia intralesional. Perante esta evolução, a doente foi proposta para hepatectomia esquerda. A ecografia intraoperatória confirmou a presença de 3 lesões no lobo esquerdo, a maior no segmento IV com cerca de 4 cm, a cerca de 1,5 cm da veia supra-hepática média. Realizou hepatectomia esquerda laparoscópica sem intercorrências. O exame histológico e imuno-histoquímico permitiu concluir pelo diagnóstico de tumores de células epitelióides perivasculares (PEComas). A doente completou estadiamento e investigação de diagnósticos diferenciais na consulta de Hepatologia, na qual mantém vigilância sem evidência de recorrência de PEComa. Conclusão: Existem várias causas de lesão focal sólidas hepática, benignas e malignas. A avaliação imagiológica permite com frequência estabelecer um diagnóstico de certeza, contudo se esta avaliação falhar, a avaliação histológica pode estar indicada. Serviço de Gastrenterologia, Cirurgia e Anatomia Patológica - Centro Hospitalar de São João, Porto 300 CC 34 HEPATOPATIA GLICOGÉNICA: UM DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DE HEPATITE AGUDA NA DIABETES MELLITUS Silva M., Cardoso H. , Rodrigues S., Lopes J., Oliveira J., Macedo G. Introdução: A hepatite aguda constitui sempre um desafio diagnóstico. No estudo etiológico de um adulto jovem com Diabetes Mellitus tipo 1 (DM1) consideram-se doenças hepáticas autoimunes e metabólicas, como hemocromatose, doença de Wilson e défice de a1-antitripsina. A biópsia hepática (BH), excetuando causas evidentes, tem um papel fundamental no diagnóstico. Caso clínico: Doente do sexo feminino, 29 anos de idade, que recorre à urgência por dor epigástrica, astenia e edema generalizado com 2 meses de evolução. Tinha diagnóstico de DM1 há 25 anos, mal controlada (HbA1c=11%). Negava consumo de tóxicos, excetuando inalação de tabaco de origem indiana há 3 meses. Ao exame objetivo apresentava hepatomegalia, edema periférico exuberante, sem icterícia ou alteração de consciência. No estudo analítico destacava-se AST 991U/L, ALT 461U/L, GGT 219U/L, FA 172U/L, LDH 1076U/L, albumina 28g/L, tendo ficado internada. A ecografia confirmou hepatomegalia, sem lesões vasculares ou sinais de hipertensão portal. O estudo etiológico foi negativo para marcadores víricos, autoimunidade, cinética do ferro e manifestações de doença de Wilson. Realizou-se BH, tendo o exame histológico detetado fígado de arquitetura trabecular com aspetos de hiperglicogenização citoplasmática e nuclear (tipicamente observadas na Síndrome de Mauriac). Durante o internamento, verificou-se melhoria clínica com resolução do edema e normalização bioquímica progressiva. Esta evolução associou-se a controle glicémico após adesão a esquema nutricional e insulinoterapia. A Hepatopatia Glicogénica é uma causa rara de elevação das transaminases na DM1, sendo mais frequente em doentes com mau controlo glicémico. Uma condição semelhante foi descrita por Mauriac, caracterizando-se por atraso no crescimento e puberdade, hepatomegalia e aspeto cushingóide. Motivação: A Hepatopatia Glicogénica é uma entidade rara, mas pode ser grave como ilustra este caso. A hepatite aguda na DM1 e nos adultos jovens representa um desafio clínico diagnóstico. Discutir o papel da BH no diagnóstico diferencial de hepatite aguda. Serviço de Gastrenterologia, Anatomia-Patológica e Endocrinologia – Centro Hospitalar de São João, Porto, Portugal 301 CC 35 ASCITE EM DOENTE VHC POSITIVO. UM DIAGNÓSTICO RARO. Freitas, C, Sousa Andrade, C, Costa Neves, M, Fernandes, J, Capelinha, AF, Teixeira,R Caso clínico: Homem, 33 anos, construtor civil, VHC positivo (diagnóstico há 3 anos, carga viral negativa), que recorre ao SU por aumento do volume abdominal desde há 3 semanas. Sob Ciprofloxacina até uma semana antes, em internamento noutro hospital. À observação, sinais vitais normais, apirético, abdómen globoso com onda líquida positiva. Analiticamente, leucocitose (13400/uL) com 87% de neutrófilos, trombocitose (545000/uL), PCR 227.12 mg/L, Albumina 27.8 g/L, provas hepáticas normais. Líquido ascítico (LA) com 1800 células/mm3 com 58% de neutrófilos, Proteínas 41.2 g/L, LDH 299 U/L. Internado com o diagnóstico de Peritonite Bacteriana Espontânea (PBE), iniciando Piperacilina/ Tazobactam. Sem melhoria clínica às 72h, com incontáveis células, predominantemente PMN, no LA. A TC abdominal revelou: derrame pleural; fígado sem sinais de hepatopatia crónica ou lesões focais; ascite; densificação do grande epíplon por provável omental cake; pequeno nódulo na superfície peritoneal diafragmática; adenopatias prédiafragmáticas (20x7 mm). Sujeito a várias paracenteses no internamento, com culturas do LA negativas e exame citológico com células mesoteliais reativas e células inflamatórias, predominantemente PMN. Excluídas tuberculose peritoneal e neoplasia digestiva. Submetido a biópsia cirúrgica do grande epíplon, cuja histopatologia revelou neoplasia de células epitelóides com citoplasma eosinófilo abundante e núcleos vesiculosos com nucléolos proeminentes. Imunohistoquímica sugestiva de Mesotelioma maligno epitelóide. Foi colocado cateter peritoneal de drenagem e o doente foi orientado para centro de referência. Discussão: O Mesotelioma maligno é raro, com prognóstico sombrio. Em 50% dos casos há história de exposição ao asbesto, embora o tempo médio entre a exposição e o aparecimento de doença seja 30 anos. O diagnóstico implica habitualmente biópsia peritoneal, uma vez que a citologia do LA é inespecífica. Inicialmente, pressupôs-se hepatopatia crónica a vírus C complicada de PBE, o que não se confirmou. Os autores propõem este caso pela raridade e também como exemplo da importância em avaliar corretamente um episódio inaugural de ascite. Serviço de Gastrenterologia, Serviço de Cirurgia, Serviço de Anatomia Patológica - SESARAM EPE, Hospital Dr. Nélio Mendonça 302 CC 36 AMINOTRANSFERASES PERSISTENTEMENTE ELEVADAS – PENSAR PARA ALÉM DO FIGADO Rodrigues-Pinto E., Pereira P., Macedo G. Descrição: Doente do sexo masculino, 39 anos de idade, com alterações das provas hepáticas com 13 anos de evolução, sem antecedentes pessoais de relevo, nem medicação habitual. Assintomático, mas apresentava aminotransferases elevadas 2 vezes o limite superior do normal [LSN] (alanina aminotransferase > aspartato aminotransferase) e gama-glutamil transpeptidade 3 vezes o LSN, com restante bioquímica e função de síntese hepática preservada. Apresentava marcadores víricos negativos, com cinética de ferro, ceruloplasmina, alfa-1 antitripsina, imunoglobulinas e auto-anticorpos normais. Ecografia abdominal sem alterações, realizou biópsia hepática que mostrou preservação da arquitectura trabecular, equilíbrio das relações porto-centrolobulares, sem alterações inflamatórias portais ou intralobulares, com esteatose discreta sem localização electiva. Foi posteriormente documentado em estudo analítico valores de creatinina fosfoquinase (CK) e aldolase elevados, pelo que realizou biópsia muscular, que documentou fibras atrofiadas de ambos os tipos, de contornos arredondados/poliédricos e ocasionais fibras hipertrofiadas, com moderado predomínio de fibras do tipo 1. O estudo imunohistoquímico das fracções Dys1 e Dys2 da distrofina foi normal, contudo com expressão irregular e ténue da fracção Dys3 no sarcolema de frequentes fibras, a favor de Distrofia Muscular de Becker (DMB). Realizou electromiografia, sem alterações, nomeadamente miopatia ou desnervação. Motivação/Justificação: Aminotransferases elevadas são geralmente indicadores bioquímicos de lesão hepatocelular, contudo, também podem estar associadas a doença muscular. A DMB é causada por mutações no gene DMD, caracterizando-se por fenótipos com diferentes graus de gravidade. Nos fenótipos mais ligeiros, a apresentação pode ser subclínica, caracterizando-se por aminotransferases persistentemente elevadas de etiologia não esclarecida, com CK elevada. Na ausência de evidência de doença hepática, aminotransferares elevadas podem ser um sinal precoce de distrofia muscular oculta, devendo ser avaliados os níveis de CK nestes doentes no sentido de excluir o músculo como causa para a transaminite. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar São João, Porto 303 CC 37 OSTEOARTROPATIA HIPERTRÓFICA EM GÉMEOS COM COLESTASE INTRAHEPÁTICA FAMILIAR DO TIPO 1 Gonçalves C (1), Ferreira S (2) , Ferreira S (2) , Estanqueiro P (3) , Lopes AI (1), Gonçalves I (2) Introdução: A Doença Hepática Crónica (DHC) associa-se, por vezes, a doença óssea de etiologia multifactorial, incluindo deficiências nutricionais e interferência com o normal turnover ósseo. A Osteoartropatia Hipertrófica (OH) é uma doença rara caracterizada pela associação de artrite, inflamação do periósteo e baqueteamento digital. A sua patogénese é desconhecida, mas os mediadores inflamatórios parecem estar envolvidos. A associação com a DHC, particularmente nas crianças, foi escassamente reportada, podendo a transplantação hepática (TRH) levar à sua melhoria. Os autores descrevem os casos de dois gémeos com Colestase Intrahepática Familiar Progressiva do Tipo 1 (PFIC-1) e OH. Caso Clínico: Apresenta-se o caso de 2 irmãos gémeos monozigóticos com o diagnóstico de PFIC-1 estabelecido pela investigação de colestase neonatal. O estudo genético revelou uma nova mutação no gene ATP8B1 (missence c.697 Gly233Arg). Apresentavam manifestações sistémicas exuberantes, nomeadamente prurido grave, diarreia aquosa e desnutrição. Ambos foram submetidos a cirurgia de diversão biliar aos 2 anos. Dada a cirrose progressiva, bem como a hipertensão portal e a desnutrição, forma propostos para TRH aos 4 anos. Seis meses depois desenvolveram quadro de poliartrite dom edema dos cotovelos e joelhos, com deformidade em flexo. Um dos doentes apresentava também envolvimento dos tornezelos, dedos das mãos e punhos. As radiografias mostraram reacção perióstea grave, incluindo na diáfise dos ossos longos. A velocidade de sedimentação era de 86 e 78 mm. Os marcardores de turnover ósseo (PTH, cálcio, fosfato e magnésio) estavam normais. Feita exclusão de Síndrome hepato-pulmonar. Dois meses depois foram submetidos a TRH com melhoria das lesões ósseas. Conclusões: A raraidade desta associação (PFIC e OH) bem como o envolvimento ósseo coincidente no tempo nos 2 irmãos gémeos foi um importante desafio diagnóstico. Apesar da fisiopatologia desta entidade permanecer por esclarecer, realça-se o facto de ter melhorado com a TRH. (1) Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, HSM-CHLN, CAML (2) Unidade de Transplantação Hepática, HPC-CHUC (3) Unidade de Reumatologia Pediátrica, HPC-CHUC 304 CC 38 DOENÇA DE WILSON EM CRIANÇA COM EPILEPSIA: QUE TERAPÊUTICA? Oliveira G., Robalo C., Pereira C., Garcia P. , Nobre S. , Ferreira S., Gonçalves I., Diogo L. Rapaz de 6 anos, com diagnóstico de epilepsia de ausências desde os 3 anos. Medicado com Valproato de Sódio (VPA) com fraco controlo dos episódios críticos. Transaminases elevadas, com valores de amónia e CDT normais foram detetados aos 4 anos, e persistiram mais de 6 meses, apesar de suspensão de VPA e substituição por levetiracetam/lamotrigina. As transamínases mantiveram perfil ascendente [AST:263IU/L (v.r. 5-45); ALT:434 (v.r.10-25)], o que motivou investigação de doença hepática. A história familiar era positiva para epilepsia e cirrose sem diagnóstico. O exame físico era normal exceto eritema palmar discreto. A ecografia hepática revelou um fígado globoso e heterogéneo. Analiticamente, ceruloplasmina muito baixa (0.042g/L v.r 0.2 -0.6), cobre hepático (972µg/g) e score de eurowilson de 11. A RMN cerebral era normal. A hipótese de doença de Wilson (DW) foi confirmada com a identificação de duas mutações no gene ATP7B: a c.1934T>G e c.1005delG (variante não descrita previamente). Em M3 de seguimento, medicado com lamotrigina, clobazam, d-penicilamina e piridoxina, assiste-se a uma melhoria discreta das transaminases e agravamento progressivo do número de crises epiléticas. Comentário/Motivação: A epilepsia como uma manifestação neurológica de DW não está claramente demonstrada, mas episódios críticos ocorrem em 8% dos doentes. A RMN-CE normal afasta a hipótese de epilepsia associada a depósitos de cobre neste caso. A raridade do caso associada a uma nova mutação, mas sobretudo as dificuldades na monitorização terapêutica das duas entidades, levou-nos a apresentar este caso. Serviço do Centro de Desenvolvimento da Criança/Unidade de Hepatologia/Departamento Pediátrico, Centro Hospitalar Universitário de Coimbra 305 CC 39 COLANGIOCARCINOMA SARCOMATÓIDE INTRAHEPÁTICO Sintra SN, Abrantes C, Costa R, Correia L, Saraiva N, Filipe C, Simão A, Carvalho A, Silva MR, Cipriano MA O colangiocarcinoma sarcomatóide intrahepático é uma variante rara e agressiva de colangiocarcinoma, com grande potencial de infiltração secundária e, consequentemente, de prognóstico reservado. Apresenta-se o caso de um doente do sexo masculino, de 69 anos, que recorreu ao Serviço de Urgência (SU), após queda da própria altura com consequente traumatismo crânio-encefálico. Realizou tomografia computorizada (TC) crânio-encefálica que revelou volumosa lesão expansiva parietoccipital esquerda com cerca de 35mm de maior diâmetro, rodeada por abundante edema vasogénico em relação com localização secundária. Trata-se de um doente com antecedentes de hemangiomas hepáticos descritos em TC abdominal com contraste (2 nódulos hepáticos no lobo direito, o maior de 9.1cm sugestivo de hemangioma cavernoso, adenopatias no tronco celíaco e 6 nódulos pulmonares) alguns dias antes da sua vinda ao SU. Foi internado para estudo. Sem queixas prévias ou sintomas constitucionais. Analiticamente destaca-se alfafetoproteína de 1753ng/mL; sem alterações da função hepática. Serologias: HBV imune; HIV e HCV negativos. Face a estes dados, optou-se por realizar estudo histológico do nódulo hepático de maiores dimensões, que revelou tratar-se de um carcinoma sarcomatóide com origem colangiocelular. No estudo de estadiamento foram evidenciadas em TC toraco-abdomino-pélvica múltiplas formações nodulares pulmonares e uma volumosa massa hepática(10x8x9cm), heterogénea, ocupando quase a totalidade dos segmentos VII e VIII, com bordos que realçam em fase arterial, sem evidente realce nas fases subsequentes. Em PET com 18FDG confirmou-se a presença de volumosa lesão neoplásica maligna de alto grau metabólico do lobo direito do fígado com metastização pulmonar bilateral, pleural e ganglionar bronco-hilar à direita e cerebral. O doente apresenta um estadiamento anatamopatológico IVB (T2bN1M1), pelo que foi proposto para tratamento paliativo, o qual não chegou a realizar. Faleceu 45 dias após o diagnóstico. Concluindo, o carcinoma sarcomatóide hepático é uma lesão maligna muito rara, de difícil diagnóstico apenas com base nas manifestações clínicas e imagiológicas. Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Serviço de Medicina Interna Enfermaria A 306 CC 40 MASSA HEPÁTICA DE CARACTERÍSTICAS ATÍPICAS – UM DESAFIO DIAGNÓSTICO Queirós P., Eliseu L., Brito J., Mega R., Ribeiro V., Lázaro A., Figueiredo A., Eusébio M., Antunes A.G., Vaz A.M., Contente L., Guerreiro H. O diagnóstico diferencial das lesões focais hepáticas é abrangente. A integração dos dados clínicos, avaliação laboratorial e estudos imagiológicos, eventualmente complementados pelo exame histológico, permite habitualmente um diagnóstico definitivo. Contudo existem casos cujo manejo diagnóstico e terapêutico se revela particularmente desafiante. Os autores apresentam o caso de doente do sexo feminino, com 64 anos, sem antecedentes de hepatopatia crónica ou outras patologias relevantes, referenciada à consulta de Gastrenterologia por epigastralgias, saciedade precoce e perda de peso significativa. Ao exame objetivo apresentava hepatomegália palpável cerca de 8 cm abaixo do rebordo costal. Era portadora de análises com elevação das enzimas hepáticas (AST 132 U/L, ALT 33 U/L, FA 228 U/L e GGT 412 U/L) e de ecografia abdominal mostrando hepatomegália heterogénea à custa de múltiplos nódulos sólidos hipo e hiperecogénicos, sugestivos de lesões secundárias. Da investigação laboratorial complementar salienta-se alfafetoproteína de 10,8 ng/mL (limite de referência 10 ng/mL) e negatividade das serologias para vírus hepatotrópicos. Realizou tomografia computorizada que revelou lesão nodular heterogénea de 20x14 cm ocupando o lobo hepático direito, com áreas sólidas e quísticas, marcadamente vascularizada, com captação heterogénea de contraste. Prosseguiu o estudo com ressonância magnética que evidenciou tratar-se de lesão com importante componente lipomatoso, sugestiva de adenoma versus angiomiolipoma. Optou-se pela realização de biópsia hepática ecoguiada, cuja histologia foi compatível com adenoma hepático. A doente foi referenciada a centro terciário e submetida a ressecção cirúrgica. O estudo histológico da peça operatória estabeleceu o diagnóstico definitivo de hepatocarcinoma de padrão sólido-trabecular. Após a intervenção verificou-se recuperação ponderal e melhoria sintomática franca, encontrando-se em remissão aos 9 meses de seguimento. O presente caso clínico ilustra as dificuldades diagnósticas perante uma massa hepática solitária de características imagiológicas atípicas, em doente sem hepatopatia subjacente. O seu interesse reside no desafio diagnóstico e desfecho surpreendente e na peculiaridade da iconografia imagiológica apresentada. Centro Hospitalar do Algarve - Unidade de Portimão 307 CC 41 ICTERÍCIA Meireles L., Sousa P., Vitor S., Santos P., Serejo F., Velosa J. Mulher de 38 anos, com antecedentes pessoais de perturbação bipolar e litíase vesicular, medicada com valproato de sódio há mais de 10 anos, aparentemente assintomática até há 1 mês, altura em que é medicada com etoricoxib, ciclobenzaprina e paracetamol, durante cerca de 4 dias, por entorse do tornozelo. Cerca de 1 semana depois, inicia quadro de diarreia e febre com 3 dias de duração (4 dejecções/dia de fezes pastosas, sem sangue, muco ou pus), sem náuseas, vómitos ou dor abdominal que resolveu após toma de loperamida. Uma semana depois, a doente recorre ao serviço de urgência por icterícia da pele e escleróticas. Negava prurido, náuseas ou vómitos, dor abdominal, colúria e acolia. Negava contacto com animais, viagens recentes, ingestão de cogumelos ou queijo fresco, transfusões, hábitos alcoólicos ou toxicofílicos. À observação apresentava-se com encefalopatia hepática de grau I, febril (38ºC), hipotensa, ictérica, com rash cutâneo eritematoso no tronco e abdómen e lesões pupúricas violáceas nos membros inferiores, o abdómen era distendido e timpanizado, sem ascite, com figado palpável e indolor (3cm abaixo do rebordo costal direito). Analiticamente salientava-se: Hb 12,7 g/dL, plaquetas 72.000x109/L, PCR 4,66mg/dL, INR 1,9; AST 904U/L, ALT 818U/L, GGT 150U/L, bilirrubina total 22,9mg/dL, bilirubina directa 20,2mg/dL, creatinina 1,2mg/dL, com níveis de valproato sub-terapêuticos e de acetaminofeno < 2. A ecografia abdominal revelou hepatomegália heterogénea de contornos regulares, sem dilatação das vias biliares. Dado o quadro de insuficiência hepática aguda procedeu-se ao estudo etiológico sendo excluída a etiologia infecciosa, metabólica, e auto- imune. Realizou biopsia das lesões cutâneas que foi compatível com toxidermia purpúrica e biopsia hepática que revelou hepatite de células gigantes. Foram instituídas medidas de suporte com melhoria gradual clínica e analítica. A hepatite de células gigantes é rara em adultos, e caracteriza-se por hepatócitos grandes multinucleados. A principal manifestação é icterícia, e a curso pode ser insidioso ou fulminante. a etiologia mais comum é autoimune existindo no entanto, alguns casos descritos por associação a fármacos ou infecções virais. Centro Hospitalar Lisboa Norte 308 CC 42 VARIZES ECTÓPICAS EM DOENTE CRÍTICO- A FUSÃO DA CIÊNCIA COM A ARTE Capela T, Costa M, Silva MJ, Carvalho D, Russo P, Barbosa J, David Marques, A Os autores apresentam o caso de um homem de 51 anos, caucasiano, admitido no Serviço de Urgência após ser encontrado caído na via pública. À observação pouco reactivo, desidratado, hipotenso, com taquicardia sinusal. Destacam-se ainda hematoquézias abundantes. Laboratorialmente com Hb de 3,5g/dL, 105.000 plaquetas, INR 1,3. Transaminases ligeiramente elevadas com predomínio de AST (2:1). Após suporte transfusional, realiza colonoscopia com sangue abundante parcialmente digerido e endoscopia alta sem sangue ou estigmas de hemorragia nas cavidades exploradas. Em D2, visualiza-se uma “onda” de sangue vivo proveniente de intestino distal. Realiza nesta fase laparotomia exploradora que revela fígado pequeno de aspecto nodular. Ascite em pequeno volume de aspecto amarelo citrino e ansas de intestino delgado preenchidas por conteúdo hemático, não se objectivando local de hemorragia. A endoscopia intraoperatória mostrou protrusão mucosa no jejuno proximal ocupando cerca de 50% do lúmen com depressão central. Por transiluminação endoscópica localizada variz na serosa jejunal junto ao angulo de Treitz realizando-se laqueação manual. Não se verificou recidiva de hemorragia. 10 dias após episódio agudo de com Hb 12,3g/dL. Da história clínica colhida nesta fase destacam-se hábitos etanólicos marcados (120g/dia) bem como o uso de drogas injectáveis no passado. Laboratorialmente com anticorpos anti-VHC positivos com carga viral de 5log. O doente veio a falecer 25 dias depois do episódio na sequência de infecção cirurgica e pneumonia associada a serviços de saúde. Motivações: As varizes ectópicas associadas a hipertensão portal, são raras e correspondem a menos de 5% das etiologias de hemorragia variceal. Face à sua raridade e localização não existem normas orientadoras quanto ao seu diagnóstico e tratamento. Apresenta-se este caso, pela ausência de história pregressa, urgência na intervenção clínica e raridade do diagnóstico. Associa-se a respectiva iconografia. Serviço de Gastrenterologia- Hospital de Santo António dos Capuchos, Centro Hospitalar Lisboa Central, EPE 309 CC 43 DOR ABDOMINAL NO DOENTE COM CIRROSE HEPÁTICA: UM DESAFIO DIAGNÓSTICO Ferreira AO, Nunes J, Sousa M, Duarte S Homem de 66 anos de idade com antecedentes de acidente vascular cerebral em 2011, sem sequelas, e de cirrose hepática alcoólica (Child-Pugh B, MELD 14), diagnosticada em 2003 na sequência de episódio de rotura de varizes esofágicas. Em abstinência desde então, sem outros episódios de descompensação da doença hepática. Recorreu ao serviço de urgência por quadro de febre, vómitos e dor abdominal de intensidade moderada difusa. À entrada encontrava-se febril, estável hemodinamicamente, ictérico, sem sinais de encefalopatia e sem semiologia de ascite. O abdómen estava mole e depressivel, sendo doloroso à palpação do hipogastro e fossa íliaca direita mas sem defesa. Analiticamente destacava-se leucopénia (2800/mL), trombocitopenia de 74000/mL, PCR 2,5 mg/dL e bilirrubina total de 2,4 mg/dL. Realizadas ecografia e TC abdominal de urgência que revelaram espessamento parietal do cego e segmento ascendente do cólon, com densificação difusa da gordura mesentérica. Documentou-se ainda espessamento parietal do tronco porta, confluente esplenomesaraico e veia mesentérica, com heterogeneidade endoluminal de alguns ramos distais nos quadrantes direitos, traduzindo pequenos trombos endoluminais. O quadro foi interpretado como colite isquémica secundária a trombose venosa do território da mesentérica superior, não se podendo excluir atipia do cólon. Foi iniciada terapêutica de suporte, antibioterapia de largo espetro após colheita de hemoculturas e anticoagulação, inicialmente com enoxaparina e posteriormente com varfarina. Verificou-se uma evolução clinica e analítica favorável, com resolução da dor, apirexia e descida dos parâmetros ao fim de 48 horas e alta ao 6º dia. Realizada colonoscopia após 2 semanas, em ambulatório, que não revelou alterações significativas. Estudo de trombofilias protelado para realização após a fase aguda. O presente caso ilustra por um lado o diagnóstico diferencial de dor abdominal no doente com cirrose hepática, e por outro o paradigma do equilibrio anti/pro-coagulação na cirrose hepática. Hospital Beatriz Ângelo 310 CC 44 UMA CAUSA IMPROVÁVEL DE ASCITE: QUANDO A LAPAROSCOPIA É O ÚNICO CAMINHO Alves A.R.(1), Cardoso R.(1), Giestas S.(1), Agostinho C.(1), Souto P.(1), Camacho E.(1), Caetano Oliveira R.(2), Cipriano M.A.(2), Campos J.C.(3), Sofia C.(1) Os autores apresentam o caso de um homem de 56 anos, com antecedentes de hipertensão arterial e alcoolismo crónico (cerca de 100 gramas/dia), abstinente há 7 meses. Referenciado à consulta de Gastrenterologia para estudo de ascite volumosa em ecografia abdominal, realizada em contexto de aumento de volume abdominal com 2 meses de evolução. Negava outros sintomas. Análise do líquido ascítico revelou gradiente sero-ascítico de albumina de 1g/dl, 1600 células/uL (17% neutrófilos e 17% linfócitos), ausência de células neoplásicas e estudo microbiológico negativo. Estudo analítico sanguíneo: anemia normocítica (12,5g/dl), trombocitose (512x10^9/L) e aumento de proteína C reativa (5,96mg/dl). Provas hepáticas normais e marcadores víricos negativos. Sem alterações na autoimunidade hepática, cobre, ceruloplasmina, alfa 1 antitripsina, eletroforese de proteínas e função tirodeia. Ecografia abdominal com doppler e endoscopia digestiva alta normais. Polymerase chain reaction para Mycobacterium tuberculosis no líquido ascítico negativa. Realizada tomografia computadorizada abdominal e pélvica, que também não revelou alterações relevantes. Perante a ausência de etiologia da ascite, mesmo após estudo analítico e imagiológico exaustivo, foi proposta laparoscopia exploradora, onde se observaram múltiplos implantes peritoneais brancos dispersos, principalmente no grande omento, sem sinais de especificidade. O diagnóstico das lesões foi apenas possível com a análise histológica, compatível com Mesotelioma Peritoneal Maligno. O doente foi orientado para um centro de referência, sendo submetido a cirurgia com quimioterapia intraperitoneal. O Mesotelioma Peritoneal Maligno é um tumor raro, com apresentação inespecífica, cujo diagnóstico definitivo implica, habitualmente, realização de biopsia peritoneal por laparoscopia/laparotomia. Destacamos, neste caso, a inexistência de qualquer alteração analítica ou imagiológica suspeita, com a laparoscopia exploradora a revelar-se imprescindível para o diagnóstico definitivo. Não se apurou contexto epidemiológico óbvio. 1) Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 2) Serviço de Anatomia Patológica, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra; 3) Serviço de Cirurgia A, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 311 CC 45 ASCITE EM DOENTES NÃO CIRRÓTICOS: ATENÇÃO À GRANDE IMITADORA Rodrigues R.V., Faias S., Ramalho M., Videira Z., Dias Pereira A. Caso Clínico: Mulher de 43 anos, melanodérmica, natural de Cabo Verde, residente em Portugal há 14 anos, obesa (IMC=33), que se apresenta com queixas de dor e distensão abdominal, náuseas, astenia e perda ponderal significativa (14% peso corporal) no último mês. Sem história pregressa de consumo de álcool, doença hepática, cardíaca, renal, oncológica ou tuberculose. Ao exame objectivo apresentava-se apirética, sem estigmas de DHC, ingurgitamento jugular ou alterações na auscultação cardíaca. Abdómen sem circulação colateral visível, com ascite moderada, sem hepatoesplenomegália ou massas. Sem edemas periféricos. Analiticamente apresentava anemia microcítica hipocrómica (Hb 10,7g/dL, VGM 72), função tiroideia, renal, PFH normais, serologias VIH, VHB e VHC negativas. A ecografia abdominal revelou líquido ascítico abundante. Procedeu-se a paracentese diagnóstica com obtenção de 50mL de líquido amarelo citrino. O exame citológico revelou um predomínio de linfócitos (3990 células; 92.3% linfócitos), com gradiente de albumina sero-ascítico (GASA) de 0,47g/dL. Citologia negativa para células neoplásicas; crescimento microbiológico em meio BD BactecTM Myco/F Lytic, exame directo (Ziehl-Neelsen): Bacilos Ácido-Álcool Resistentes, teste imunocromatográfico para a detecção do complexo antigénico MPT64 Mycobacterium tuberculosis e cultura em meio Löwenstein positivos. Radiografia do tórax sem alterações e teste de Mantoux negativo. A doente iniciou terapêutica antibacilar clássica. Discussão: Apenas 15% dos casos de ascite têm causa não hepática. A Tuberculose peritoneal (TP) é uma forma de apresentação rara de infecção extrapulmonar; manifesta-se por ascite (93%), dor abdominal (73%) e febre (58%) e deve ser considerada na ascite com predomínio linfocitário e GASA <1.1g/dL. O diagnóstico definitivo requer o isolamento do agente etiológico. A doença é curável, sendo o diagnóstico precoce essencial. Apresentamos este caso pela importância da sistematização da abordagem diagnóstica da ascite em doentes não cirróticos. A ascite, um dos sinais mais frequentes no doente hepático, tem causas raras não hepáticas que devem ser prontamente diagnosticadas e tratadas. Serviços de Gastrenterologia e Microbiologia Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil 312 CC 46 DOENÇA DE WEIL, UM CASO CLÍNICO Carvalho J.R., Patita M., Canhoto M., Silva F., Barbeiro S., Atalaia C., Vasconcelos H. A leptospirose é uma zoonose que se manifesta mais frequentemente na forma não ictérica e, em apenas 10% dos casos, na forma mais grave – doença de Weil. Através deste caso clínico, pretende-se realçar a necessidade de um elevado índice de suspeição para o diagnóstico de leptospirose, face à inespecificidade da clínica, bem como ilustrar a sua forma rara de apresentação. Trata-se de um doente de 61 anos, do sexo masculino, agricultor, com antecedentes de doença hepática crónica etanólica (DHC) e diabetes mellitus tipo II. Recorre ao serviço de urgência por febre, mialgias, diarreia, náusea, icterícia e colúria, com cinco dias de evolução. Objetivamente, consciente e orientado, sem encefalopatia, ictérico, hipotenso, taquicárdico, febril e com ascite ligeira. Analiticamente, com elevação dos parâmetros inflamatórios, creatinina e transaminases, trombocitopenia, hiponatrémia e hiperbilirrubinémia mista. Em ecografia abdominal, fígado compatível com DHC e esplenomegália volumosa. É internado com o diagnóstico de sépsis e inicia ceftriaxone empiricamente. Verifica-se agravamento da icterícia, com eritema conjuntival, petéquias e necessidade de transfusão de plaquetas. Pesquisa de Leptospira na urina negativa e serologia (IgM) positiva. Após sete dias de internamento, desenvolveu peritonite bacteriana espontânea (BPE) e síndrome hepato-renal tipo I, iniciando meropenem, albumina e terlipressina, sem resposta. Faleceu ao oitavo dia de internamento. Este caso demonstra a importância do diagnóstico e terapêutica precoces nesta entidade. Alerta ainda para uma das principais causas de deterioração clínica súbita num doente com DHC – a PBE – que mantêm uma elevada mortalidade e cujo diagnóstico passa por simples paracentese. Centro Hospitalar de Leiria (CHL) 313 CC 47 HIPERTENSÃO PORTAL ASSOCIADA A DOENÇA MIELOPROLIFERATIVA Ribeiro S., Freire R., Mangualde J., Cardoso C., Alves A.L., Cremers I., Oliveira A.P. As doenças mieloproliferativas constituem um grupo de patologias, com origem numa célula progenitora hematopoiética, caracterizado pela produção excessiva de um ou mais dos elementos sanguíneos e por um risco acrescido de fenómenos tromboembólicos. Reportamos o caso de uma doente de 32 anos, aparentemente saudável, grávida de 17 semanas, seguida em consulta de gravidez de risco desde o início da gravidez actual, por história de 3 abortos espontâneos, 2 dos quais no segundo trimestre, que foi admitida no SU por hematemeses de sangue vivo. O exame objectivo à admissão evidenciava pele e mucosas descoradas e abdómen gravídico; as análises mostravam anemia (Hb:6g/dL) normocítica e normocrómica, trombocitose (520.000/µL) e ureia elevada (56mg/dL). A endoscopia digestiva alta revelou varizes esofágicas grandes nos 2/3 inferiores, com hemorragia em jacto num dos cordões, tendo-se colocado elástico sobre o ponto de rotura com paragem da hemorragia. A doente recebeu suporte transfusional e perfusão de octreótido durante 5 dias. A avaliação obstétrica concluiu que o feto não apresentava sinais de sofrimento. A ecografia abdominal com estudo por doppler revelou transformação cavernomatosa da porta e parênquima hepático sem alterações. Durante o internamento, houve evolução favorável e o estudo de trombofilias foi normal. Contudo, a pesquisa de mutação JAK2 revelou-se positiva. A trombose venosa da porta é uma patologia potencialmente fatal, podendo complicar-se por hemorragia gastrointestinal. O seu diagnóstico atempado permanece um desafio devido à baixa especificidade dos seus principais sintomas. Desta forma, é de crucial importância o reconhecimento dos seus principais factores de risco, no sentido de evitar complicações graves. A pesquisa de mutação JAK2 é um importante recurso para o diagnóstico das doenças mieloproliferativas, sobretudo nos doentes com hipertensão portal e especificamente neste caso, em que o estado de hemodiluição característico da gravidez mascarou as alterações no sangue periférico típicas desta entidade. Hospital São Bernardo - Setúbal 314 CC 48 DOR TORÁCICA INESPECÍFICA – IMPACTO DO ATRASO NO DIAGNÓSTICO Barbeiro S., Martins C., Canhoto M., Gonçalves C., Cotrim I., Arroja B., Silva F. e Vasconcelos H. INTRODUÇÃO: A dor torácica é causa comum de ida ao serviço de urgência (SU). A anamnese é fundamental, devendo ser ponderadas as etiologias mais raras quando a evolução é atípica. O atraso do diagnóstico e do tratamento destas pode ser fatal. CASO CLÍNICO: Homem, 61 anos, sem seguimento médico, sem medicação habitual, com hábitos tabágicos e alcoólicos. Recorre ao SU por dor torácica retroesternal inespecífica com uma semana de evolução. É excluída patologia cardíaca aguda e fica em vigilância com antibioterapia empírica por febre e elevação dos parâmetros inflamatórios. No dia seguinte, verifica-se agravamento do quadro com prostração, alterações auscultatórias, radiológicas (infiltrado pulmonar esquerdo extenso) e insuficiência respiratória com necessidade de suporte ventilatório, assumindo-se o diagnóstico de pneumonia severa adquirida na comunidade. A tomografia computorizada torácica revelou derrame pleural bilateral, pneumomediastino e imagem sugestiva de material linear denso adjacente à sonda nasogástrica. Perante os achados, foi colocado dreno torácico à esquerda, com drenagem abundante de pús. A endoscopia digestiva identificou corpo estranho (osso) no esófago médio, removido com pinça, observando-se em seguida dois orifícios com drenagem de conteúdo purulento. Optou-se pela colocação de prótese esofágica metálica autoexpansível totalmente coberta. Verificou-se melhoria clínica e analítica mas agravamento imagiológico, observando-se paquipleurite, múltiplas coleções arejadas em locas dispersas pelo mediastino e derrame pleural bilateral extenso e loculado. Foi submetido a descorticação pulmonar e drenagem mediastínica por toracotomia esquerda com boa evolução. CONCLUSÃO: Os autores apresentam um caso raro de mediastinite pós-laceração esofágica por corpo estranho. A colocação de próteses esofágicas é uma alternativa minimamente invasiva à cirurgia. Contudo, como se verificou neste caso, se após colocação da prótese esofágica em combinação com drenagem e antibioterapia não se verificar melhoria, o doente deve ser submetido a cirurgia. O timing da colocação da prótese condiciona a sua eficácia; neste caso a colocação foi tardia. Centro Hospitalar de Leiria 315 CC 49 DISFAGIA COM INICIO EM IDADE PEDIÁTRICA: UM MANEJO DESAFIANTE Sousa,P., Moura,C.M., Santos,P.M., Lopes,J., Palma,R., Serejo,F., Velosa, J. Doente do sexo feminino que aos 12 anos inicia quadro de vómitos pós-prandiais, imediatos, epigastralgias e emagrecimento (10 Kg/3meses). Na altura admitida no S. Pediatria e teve alta com o diagnóstico de perturbação do comportamento alimentar. Um mês depois foi readmitida pelas mesmas queixas e fez trânsito EG que foi compatível com acalásia. Neste contexto fez EDA com dilatação com balão Rigiflex. Após terapêutica endoscópica houve desaparecimento de toda a sintomatologia. Durante quatro anos a doente apresentou recidiva das queixas aproximadamente a cada 6 meses tendo feito neste período 3 dilatações endoscópicas com alívio das queixas e com boa progressão estaturo-ponderal nos períodos inter-críticos. Em 2012 houve recidiva sintomática, com intervalos progressivamente menores e foi feita nova dilatação endoscópica. Contudo, 3 semanas depois houve recidiva do quadro com disfagia para sólidos, sensação de impacto frequente, regurgitação e emagrecimento. Foi então submetida, por via laparoscópica, a cardiomiotomia de Heller com fundoaplicatura anterior. Manteve-se assintomática até cerca de um ano pós-operatório altura em que houve recidiva do quadro de disfagia progressiva (sólidos e líquidos), com emagrecimento. Foi internada no nosso serviço e fez EDA que foi normal e trânsito EG que mostrou redução do calibre do 1/3 distal do esófago com distensão a montante. Por não tolerar sonda naso-gástrica iniciou alimentação parentérica total por cateter venoso central. Fez manometria com achados compatíveis com acalásia. Fez ecoendoscopia que mostrou entre os 38 e os 40cm disrupção da camada muscular própria na face anterior até à adventícia; limite inferior do EEI aos 40cm; achados compatíveis com a miotomia realizada. Após discussão multidisciplinar e consultadoria com expert foi feita nova EDA com dilatação à jovem. Após 6 meses a doente manteve-se assintomática, tendo já recuperado peso. Este caso para além do desafio no manejo da doente realça também a importância da abordagem multidisciplinar. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa 316 CC 50 ESOFAGITE EOSINOFÍLICA E DOENÇA CELÍACA: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO Vaz A.M; , Eusébio M; , Antunes A; , Queirós P; , Sousa A.L; , Sousa D;, Ornelas R; , Guerreiro H. Os autores apresentam o caso de um doente do sexo masculino,25 anos, enviado à consulta de Gastrenterologia por disfagia para sólidos de agravamento progressivo desde os 17 anos. Sem queixas de refluxo gastroesofágico ou sinais de alarme. Encontrava-se medicado com inibidor da bomba de protões.Nos antecedentes pessoais destacavam-se: Síndrome de Klinefelter e rinite alérgica. No estudo analítico salientava-se apenas eosinofilia periférica.Realizou endoscopia digestiva alta que evidenciou presença de estrias longitudinais nos 2/3 inferiores do esófago, bem como estenose concêntrica no seu terço inferior, com mucosa de aspecto nacarado, franqueável pelo endoscópio. As biópsias revelaram alterações compatíveis com o diagnóstico presumido de Esofagite Eosinofílica. Instituiu-se terapêutica com Fluticasona deglutida, com pouca melhoria clínica. Assim, optou-se por iniciar terapêutica com Prednisolona oral, com melhoria progressiva total da disfagia. A endoscopia de controlo mostrou desaparecimento da estenose distal do esófago. Após suspensão gradual da Prednisolona, permaneceu assintomático apenas com Fluticasona deglutida. Dois anos depois, surgiu com epigastralgia e anemia ferropénica discreta. Efectuou EDA que não evidenciou estenose esofágica, mas destacando-se a nível duodenal a presença de múltiplas pápulas, cuja histologia revelou uma duodenite aguda e crónica com atrofia vilositária, sugestiva de Doença Celíaca. No estudo analítico subsequente, os anticorpos anti-transglutaminase revelaram-se positivos (119UA/mL).Instituiu-se dieta sem glúten, estando o doente actualmente assintomático. Não é ainda claro se existe uma associação entre Doença Celíaca e Esofagite Eosinofílica. Aparentemente, tratar-se-ão de patologias distintas: a primeira mediada por células Th1 e desencadeada pela ingesta de glúten; a segunda mediada por células Th2, despoletada em muitos casos pela exposição a alergénios alimentares. No entanto, é possível que, em certos casos, o aumento da permeabilidade da mucosa intestinal secundário à Doença Celíaca possa permitir a exposição do sistema imune a determinadas macromoléculas, desencadeando reacções de hipersensibilidade, fazendo da Esofagite Eosinofílica nestes doentes uma expressão menos comum da enteropatia glúten-dependente. Serviço de Gastrenterologia, Hospital de Faro, Centro Hospitalar do Algarve 317 CC 51 OBSTIPAÇÃO INTRATÁVEL: RELATO DE UM CASO Sousa P., Ministro P. , Portela F. , Araújo R., Cancela E. , Castanheira A. , Silva A. Relata-se o caso de uma doente de 47 anos, com antecedentes de histerectomia com anexectomia, hipotiroidismo, diabetes mellitus tipo 2, obesidade mórbida (índice de massa corporal de 52) e depressão, estando polimedicada. Foi referenciada à consulta de Gastrenterologia por obstipação marcada associada a rectorragias. Durante o estudo etiológico realizou colonoscopia onde se observou elevação lobulada de aspecto subepitelial no recto distal, com cerca de 8 mm de diâmetro; as biopsias da mucosa não tinham alterações de relevo. A ressonância magnética pélvica mostrou estrutura quística multiloculada com cerca de 45x20x30 mm localizada à parede anterolateral esquerda do reto, com hipersinal em T2. No estudo ecoendoscópico foram observadas várias formações quísticas intra e extra-parietais; efectuou-se punção de uma delas, sendo a citologia compatível com linfangioma quístico, uma malformação vascular de natureza benigna que raramente tem localização rectal, podendo ser responsável por rectorragias recorrentes. Prosseguiu-se no estudo etiológico da obstipação, com a realização de videodefecografia e tempo de trânsito cólico que demonstraram rectocelo com cerca de 3 cm de diâmetro anteroposterior e obstipação terminal associada a inércia cólica. Para além do aconselhamento de mudanças de estilo de vida e emagrecimento, foram tentadas diversas terapêuticas farmacológicas, sem sucesso. A doente foi referenciada à consulta de Cirurgia Geral, mas as várias comorbilidades tornam um eventual tratamento cirúrgico num procedimento de risco elevado. A importância deste caso reside não apenas no facto de se ter diagnosticado uma patologia rara durante o estudo etiológico de obstipação, mas também por se tratar de um desafio terapêutico. As possibilidades de tratamento médico da obstipação foram esgotadas e o tratamento cirúrgico não se afigura como opção viável dado o elevado risco. Assim trata-se de um verdadeiro caso de obstipação intratável. Centro Hospitalar Tondela-Viseu 318 CC 52 UM DIAGNÓSTICO RARO DE MASSA ABDOMINAL Martins C., Ribeiro S., Teixeira C., Trabulo D., Cardoso C., Freire R., Gamito E., Oliveira A.P. As doenças inflamatórias e fibróticas do mesentério são entidades raras, de natureza idiopática e evoluem em 3 estadios: a lipodistrofia mesentérica, a paniculite mesentérica e a mesenterite esclerosante. O quadro clínico é inespecífico e o seu diagnóstico exige elevado grau de suspeição podendo ser presumido pela imagiologia que revela massas abdominais mimetizadoras de processos neoplásicos. Os autores apresentam o caso de um homem de 63 anos, leucodérmico, sem antecedentes relevantes, internado em Fevereiro de 2010 por quadro clínico sugestivo de oclusão intestinal. Ao exame objetivo constatou-se marcada distensão abdominal, com dor à palpação da fossa ilíaca esquerda, esboço de reação peritoneal, timpanismo à percussão e auscultação de ruídos hidroaéreos metálicos. O estudo analítico revelou hemoglobina de 14 g/dL, leucócitos 6400/uL, PCR de 16.44 mg/dL, ALT 197 U/L e AST 142 U/L. A radiografia simples do abdómen mostrou níveis hidroaéreos com marcada distensão das ansas do delgado e a TC abdominal evidenciou “encapsulamento” e densificação do mesentério, com imagens nodulares dispersas sugestivas de adenopatias. Submetido a laparotomia exploratória confirmando extensa massa mesentérica desde a sua raiz, cujas biópsias revelaram tratar-se de paniculite mesentérica. Foi iniciada corticoterapia com boa resposta clínica, analítica e imagiológica. Destaca-se o presente caso pela sua raridade apresentando-se iconografia imagiológica e histológica. Pretende-se ainda alertar para o contraste entre a aparente malignidade radiológica e a benignidade desta patologia reforçando a sua inclusão no diagnóstico diferencial das massas abdominais. Centro Hospitalar de Setúbal - Hospital de São Bernardo 319 CC 53 TUBERCULOSE PERITONEAL EM DOENTE HIV Chapim I. , Manuel G. , Tavares V. , Freitas A. , Andrade N., Abreu A., Neto M., Barata F. Caso clinico: Homem, 47 anos, melanodérmico, com diagnostico de VIH 3 da CDC (CD4 180) há 1 ano, com seguimento regular e terapêutica retroviral. Internado por quadro de dor abdominal difusa com 3 semanas de evolução, de agravamento progressivo, associado ao aumento do volume abdominal, perda ponderal (>10% sc) e febre. Do ponto de vista abdominal, ascite de moderado volume, dolorosa a palpação, com sinais de irritação peritoneal. Analiticamente destacava-se o aumento dos parâmetros inflamatórios (leucocitose de 14000; N 80%; Pcr 10). Tc adominal mostrou a presença de liquido interansas e ligeiro espessamento peritoneal. Colheita de liquido ascítico, turvo, compatível com exsudado, predomínio de linfócitos, GASA< 1,1g/dl; ADA positivo. O exame cultural e pesquisa de BAAR foram negativos. Referenciado a cirurgia para laparoscopia exploradora, mostrou o peritónio recoberto por numerosos nódulos esbranquiçados. O estudo histopatológico revelou formações granulomatosas com necrose caseosa e bacilos ácido-álcool resistentes, compatíveis com TB peritoneal. Conclusão: A tuberculose (TB) peritoneal é um problema de saúde mundial, as formas gastrintestinal e peritoneal permanecem comuns em países subdesenvolvidos. É uma entidade rara, com elevada morbi-mortalidade e o prognóstico dos pacientes depende do diagnóstico precoce. Os sintomas mimetizam outras doenças abdominais, o que torna o diagnóstico difícil. A patologia deve ser sempre lembrada como um diagnóstico diferencial, em paciente jovem, com quadro arrastado de ascite inexplicável, dor abdominal e sintomatologia inespecífica, e que casos não diagnosticados e tratados precocemente podem evoluir com abdômen agudo. Serviço de Gastrenterologia; Medicina e Cirurgia da Clinica Sagrada Esperança, Angola/Luanda 320 CC 54 RETIRADO A PEDIDO DO AUTOR 321 CC 55 CARCINOMA GÁSTRICO TIPO HEPATÓIDE - UM CASO MUITO RARO E DESAFIANTE Martins D., Pinho J., Sousa P., Araújo R., Cancela E., Castanheira A., Ministro P., Silva A. Os autores relatam o caso de um homem, 76 anos de idade, com antecedentes irrelevantes, que recorreu ao Serviço de Urgência por quadro de dor dorso-lombar, com 18 meses de evolução e agravamento progressivo. Foi realizado exame seccional da coluna dorso-lombar que mostrou volumoso tumor espinhal, compatível com neurinoma gigante. Submetido a exérese tumoral cirúrgica. À posteriori, realizou: ecografia abdominal, que revelou espessamento da grande curvatura gástrica; Endoscopia digestiva alta que confirmou lesão ulcerada no corpo gástrico distal; TC toraco-abdominal revelou pequenos nódulos pulmonares e hepáticos. Analiticamente com ligeira elevação do CEA e CA125. Histologicamente as biópsias da lesão gástrica foram compatíveis com adenocarcinoma pouco diferenciado. O exame histológico da peça cirúrgica espinhal foi compatível com metástase de carcinoma com imunofenótipo hepatocelular. Em primeira fase, após discussão multidisciplinar, foi colocada a hipótese de se tratar de hepatocarcinoma primário metastizado, embora com reservas por diminuta sustentação clínica ou imagiológica. Neste contexto foram revistos fragmentos gástricos, feito estudo imunohistoquímico com HepPar (positivo) e alfa-fetoproteína (negativo). Doseamento sérico da alfa-fetoproteína normal. Conclui-se então tratar-se de um adenocarcinoma gástrico com diferenciação hepatóide e metastização hepática, pulmonar e óssea. Iniciou quimioterapia paliativa. Veio a falecer na sequência de infeção respiratória. O adenocarcinoma hepatóide, é um raro, mas singular, subtipo de adenocarcinoma extra-hepático com apresentação clinico-patológica que mimetiza um hepatocarcinoma. O diagnóstico célere e correto deste subtipo de neoplasia permanece um desafio. Exame imuno-histoquimico positivo para alfa-fetoproteína e negativo para HepPar é encontrado na maioria destas neoplasias. A forma de apresentação atípica e o diagnóstico diferencial desafiante, quer em termos histológicos, quer imunohistoquímicos, tornam este caso particularmente raro, exigindo uma abordagem multidisciplinar do doente. Salienta-se a iconografia, singular e exuberante, recolhida neste processo. Centro Hospitalar Tondela - Viseu 322 CC 56 ISQUEMIA GÁSTRICA – A PONTA DO ICEBERG TROMBÓTICO EM DOENTE COM NEOPLASIA DO RETO SOB QUIMIOTERAPIA Martins D., Pinho J., Sousa P., Araújo R., Cancela E., Castanheira A., Ministro P., Silva A. Os autores apresentam o caso de um homem, 61 anos, com antecedente de fibrilhação auricular, hipocoagulado com varfarina, sob amiodarona, que recorre ao Serviço de Urgência por claudicação intermitente e anorexia com 2 meses de evolução. Trazia exames realizados em regime de ambulatório, análises com elevação de marcadores tumorais (CEA, CA19.9), pesquisa de sangue oculto nas fezes positiva, Endoscopia Digestiva Alta (EDA) sem alterações relevantes; Ecografia abdominal com nódulos hepáticos e adenopatias para-aórticas. A Ecografia-Doppler dos membros inferiores no SU revelou obstrução parcial da artéria poplítea direita. Internado para investigação. No internamento realizou colonoscopia total que identificou neoplasia retal, ocupando ¾ do lúmen; TC toraco-abdomino-pelvico com neoplasia rectal, nódulos hepáticos bilobares compatíveis com metástases e adenopatias abdomino-pelvicas. Exame histológico compatível com adenocarcinoma. Teve alta, medicado com Enoxaparina e analgesia. Proposto, por decisão de grupo, para quimioterapia. Alguns dias após o início da quimioterapia, recorreu ao SU, com quadro de dor abdominal, náuseas e vómitos, com cerca de uma semana de evolução, e hematemeses nesse dia. Objetivamente com abdómen tenso, doloroso à palpação. Estudo analítico com lactacidemia, colestase e citólise, elevação DHL e PCR. A EDA de urgência revelou, difusamente no corpo gástrico, mucosa violácea, friável, com focos hemorrágicos, de aspeto necrótico. Alterações compatíveis com isquemia gástrica. Na angio-TC abdominal mantinha aparente permeabilidade da artéria mesentérica superior e tronco celíaco, embora com enfarte esplénico parcial. Assumida lesão de vasos distais ou do território venoso, internado para tratamento de suporte. A isquemia gástrica é uma condição rara, tem como etiologia hipotensão sistémica, vasculite ou tromboembolismo disseminado. Associa-se a mau prognóstico. Salientamos e alertamos com este caso, a grande actividade pró-trombótica em doentes com neoplasias isoladamente e\ou sob quimioterapia, mesmo que hipocoagulados. Realça-se a iconografia exuberante e ilustrativa recolhida. Centro Hospitalar Tondela - Viseu 323 CC 57 DIAGNÓSTICO INCIDENTAL DE LINFOMA DO MANTO NA RETOSSIGMOIDOSCOPIA Lage J. 1, Pimentel-Nunes P. 1, Menezes D. 2, Luís A. 2, Brandão C. 1, Moreira-Dias L. 1 Homem de 82 anos, seguido na nossa instituição após tratamento cirúrgico de carcinoma da próstata, medicado cronicamente com goserelina e olmesartan para hipertensão arterial. Por ortopneia de recente instalação, efectuou uma telerradiografia torácica, que revelou uma massa hilar direita, caracterizada posteriormente como linfadenomegalias hilares e mediastínicas direitas à tomografia computadorizada. A broncoscopia com biopsias brônquicas, citologia e estudo microbiológico não revelaram sinais de malignidade ou infeção. Dado os seus antecedentes, e também por revelar dor lombar à revisão da anamnese, o exame considerado mais indicado neste caso foi a tomografia de emissão de positrões, que além de confirmar hipermetabolismo nas adenomagalias já conhecidas, revelou também um foco nodular de hiperfixação na junção retossigmoideia. Efectuou-se retossigmoidoscopia, que mostrou duas lesões subepiteliais aos 10 e aos 18 cm da margem anal, tendo sido efectuadas biopsias (“bite-on-bite”). O exame histológico com perfil imuno-histoquímico foi compatível com a diagnóstico de linfoma de células do manto (expressão de antigénios pan-células B e sobrexpressão de ciclina D1), com a particularidade de existir também envolvimento do epitélio. O doente foi referenciado para o departamento de onco-hematologia para iniciar tratamento adequado. Apesar do envolvimento secundário do tubo digestivo por linfomas do manto ser frequente (apresentandose usualmente sob a forma de polipose linfomatosa múltipla), este caso revela um percurso diferente até ao diagnóstico definitivo, já que o material obtido para exame anámoto-patológico proveio de um foco de doença extra-nodal após a obtenção de uma amostra adequada. 1 - Serviço de Gastrenterologia, Instituto Português de Oncologia do Porto. 2 - Serviço de Anatomia Patológica, Instituto Português de Oncologia do Porto. 324 CC 58 LINFOMA PRIMÁRIO DO RECTO - UM CASO CLÍNICO Antunes A.G., Eusébio M., Vaz A.M., Queirós P., Cadillá J., Peixe B., Guerreiro H. Os autores reportam o caso de uma doente de 84 anos de idade, com queixas de hematoquézias associadas às dejecções, falsas vontades, disquézia e emagrecimento com 1 mês de evolução. Ao exame objectivo apresentava-se hemodinamicamente estável, mucosas coradas e ao toque rectal palpava-se volumosa massa, de consistência fibroelástica, ocupando praticamente toda a ampola rectal. Analiticamente: Hb: 14.0 g/L; VGM: 86.5 f/L; L: 6900x109/L; P: 273 000x109/L. Na colonoscopia observou-se aos 6 cm da margem do ânus, uma lesão polipóide, que ocupava todo o lúmen do recto, coberta de mucosa normal e com ulceração central (biopsou-se), restante mucosa do cólon sem alterações. A TC-Abdómino-pélvica mostrou volumosa lesão vegetante endoluminal, arredondada, de contornos regulares, medindo 66 mm de maior eixo, com densificação da fáscia perirectal associada a conglomerado adenopático. A anatomia patológica revelou infiltrado difuso por linfócitos com positividade para CD20, CD5 e Ciclina D1, aspectos compatíveis com Linfoma de Células do Manto. Foi referenciada a Hematologia, realizando Biópsia Óssea que não evidenciou células anormais e pesquisa da t(14;18) e T(11;14) que foram ambas negativas. Pelos critérios de Dawson firmou-se o diagnóstico definitivo de Linfoma Primário do Recto, com estadio de Lugano II1. O trato gastrointestinal é a principal localização extra-nodal dos linfomas (30-50%), contudo os linfomas primários gastrointestinais são raros, correspondendo a cerca de 1-4% de todas as neoplasias gastrointestinais. Os linfomas colorectais primários são extremamente raros, correspondendo a menos de 1% de todas as neoplasias colorectais. O subtipo mais frequente é o Difuso de Grandes Células B (60%), já o Linfoma do Manto representa apenas 5% de todos os linfomas primários colorectais. Destacamos a extrema raridade desta entidade, e a importância da interdisciplinaridade no que concerne o tratamento desta patologia primária do Aparelho Digestivo. Serviço de Gastrenterologia, do Centro Hospitalar do Algarve, Hospital de Faro 325 CC 59 APRESENTAÇÃO ATÍPICA DE CARCINOMA PAVIMENTOCELULAR DO CANAL ANAL Martins C., Ribeiro S., Teixeira C., Mangualde J., Gamito E., Oliveira A.P., Os tumores do canal anal são raros representando 1-4% das neoplasias digestivas. O carcinoma pavimentocelular é o tipo histológico mais frequente e a infeção ao HPV o fator de risco mais amplamente reconhecido, sendo este agente detetado em cerca de 90% dos casos. Os autores apresentam o caso de uma mulher de 37 anos, leucodérmica, sem antecedentes relevantes, avaliada em consulta de proctologia por queixas com 6 meses de evolução de proctalgia intensa, supuração anal e perda ponderal significativa. Afirmava estomatite aftosa mas negava anorexia, diarreia, hematoquézias, alterações cutâneas ou oftalmológicas. Negava hábitos tabágicos, comportamentos sexuais de risco, coito anal e antecedentes de verrugas/condilomas genitais/anais. Ao exame proctológico constatada úlcera dolorosa e infetada do canal anal com intensa supuração por orifício central. Foi inicialmente submetida a curso de antibioterapia dupla com ciprofloxacina e metronidazol mas sem melhoria. Do estudo etiológico realizado destaca-se: analiticamente com Hb 14.8 g/dL, VS 3 mm/1h, PCR 0.91 mg/dL, marcadores tumorais (CEA, CA 19.9 e SCC) negativos, serologias para vírus Herpes simplex tipo 1 e 2, C. trachomatis, VIH e sífilis igualmente negativas. A histologia inicial da úlcera revelou aspetos hiperplásicos epiteliais do tipo regenerativo e a pesquisa do DNA do HPV foi negativa. Efetuou RM pélvica que revelou volumosa lesão expansiva perianal mediana e posterior, com origem na parede posterior do canal anal e com deformação dos planos musculares dos esfíncteres interno e externo. Procedeu-se a biópsia cirúrgica da referida lesão que revelou carcinoma pavimentocelular. Destaca-se o presente caso pela singularidade do mesmo no que concerne à apresentação clínica e ausência aparente de fatores de risco para a patologia em questão. Os autores pretendem ainda alertar para a importância do diagnóstico diferencial das úlceras anais. Centro Hospitalar de Setúbal - Hospital de São Bernardo 326 CC 60 TUMOR GIGANTE Silva Fernandes J., Ramos R. , Fernandes D., Duarte P. , Vicente C. , Silveira A., Casteleiro Alves C. Os sarcomas retroperitoneais são tumores raros, com uma incidência a rondar os 2,5 casos por milhão de habitantes. Dentro destes, os liposarcomas representam cerca de 20% dos casos. Habitualmente são tumores de crescimento lento, oligosintomáticos, pelo que atingem grandes proporções aquando do diagnóstico. Por isto, e pela relação com estruturas vitais também albergadas no espaço retroperitoneal, representam um desafio na abordagem terapêutica dos mesmo. Apresentamos um caso de um homem de 69 anos de idade, com hábitos alcoólicos e tabágicos marcados que recorre ao nosso Serviço de Urgência por aumento progressivo do perímetro abdominal desde há 1 ano, sensação de saciedade precoce, sem anorexia, mas com perda ponderal de 12 Kg durante esse período. Apresentava um abdómen globoso sendo possível palpar uma volumosa massa que ocupava os quadrantes direitos. Fez ecografia abdominal que não foi esclarecedora e por isso realizou TC abdominal que revelou volumosa massa heterogénea com dimensões de 24x18x21 cm, que ocupava a quase totalidade da cavidade abdominal embora com predomínio direito, condicionando desvio das estruturas abdominais para a esquerda. A RMN relatou a mesma massa, com bons planos de clivagem com as estruturas adjacentes e a aparente localização retroperitoneal da lesão. O estudo complementar não evidenciou existência de lesões secundárias. Foi submetido a cirurgia para exérese do tumor retroperitoneal e apendicectomia complementar por adesão dessa mesma estrutura. A peça principal pesava 5,220 Kg e a gordura retroperitoneal envolvente cerca de 1,360 Kg. O pós-operatório decorreu sem intercorrências. O estudo anatomo-patológico da peça mostrou tratar-se de uma neoplasia constituída predominantemente por células adipociticas com atipias nucleares e abundantes septos conjuntivos, compatível com um liposarcoma bem diferenciado. Actualmente encontra-se a realizar tratamento com Radioterapia. Apresenta-se iconografia da cirurgia. Centro Hospitalar Cova da Beira (Hospital Pêro da Covilhã) 327 CC 61 LESÃO SUBEPITELIAL DO CANAL ANAL – A PROPÓSITO DE UM CASO Eusébio, M., Antunes, A.G., Vaz, A.M., Queirós P., Caldeira P., Peixe B., Vieira A., Guerreiro H. Descreve-se o caso de um doente do sexo masculino, 58 anos, com diagnóstico de Colite Ulcerosa esquerda com 17 anos de evolução, sob terapêutica com messalazina com adequado controlo, que referia sensação de tumefação anal e dor ocasional à defecação. Ao exame proctológico detetou-se uma massa com cerca de 3 cm, ao toque retal, logo acima do canal anal, bem delimitada, de consistência elástica e aparentemente extrínseca. A colonoscopia revelou doença inflamatória intestinal quiescente não se identificando expressão endoscópica da referida massa. A ecoendoscopia demonstrou lesão predominantemente hipoecogénica, heterogénea, com áreas hipo/anecogénicas, vascularizada, desde a transição anorretal até ao canal anal médio, inclusivé, com cerca de 39,5mm, na dependência da 4ª camada e em contato íntimo com a vertente posterior do esfínter anal interno a nível do canal anal médio. A ressonância magnética pélvica complementar mostrou formação nodular expansiva, de contornos bem definidos, com sinal heterogéneo, predominantemente hiperintenso em T2 e reduzido em T1, localizada posteriormente à transição anorretal, sem plano de clivagem definido e em íntima relação com o músculo elevador do anús. Optou-se por realizar punção guiada da lesão tendo-se obtido material constituído por fragmentos de tecido muscular liso, actina e desmina positivos, sem caraterísticas de malignidade. Decidiu-se efetuar excisão cirúrgica por via posterior que decorreu sem complicações. O exame anatomopatológico confirmou tratar-se de leiomioma (actina e desmina positivo e CD117 negativo). Os leiomiomas da região perianal são tumores de origem mesenquimatosa, raros, que podem mimetizar outras lesões subepiteliais com diferente potencial de malignidade como, por exemplo, o tumor do estroma gastrintestinal GIST. A ecoendoscopia surge como um método de diagnóstico essencial na caraterização deste tipo de lesões. Apresenta-se este caso pela sua raridade e para discussão dos diagnósticos diferenciais deste tipo de lesões. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar do Algarve - Hospital de Faro 328 CC 62 GROOVE PANCREATITIS Meireles L., Freire S., Barreira J., Coutinho A., Velhinho E., Neves B. Os autores descrevem o caso de um doente de 33 anos, caucasóide, com antecedentes pessoais irrelevantes. Medicado com Omeprazol e Pancreatina por quadro de dor epigástrica, agravada pela ingesta de alimentos, com irradiação para o flanco esquerdo, com cerca de 3 meses de evolução. O doente negava febre, icterícia, perdas hemáticas ou alterações do trânsito intestinal. Ao exame objectivo apresentava-se apirético e anictérico com mucosas coradas. O abdómen apresentava ruidos hidroaéreos mantidos, era mole e depressível, doloroso à palpação dos quadrantes superiores, sem reação peritoneal. Laboratorialmente salientava-se um discreto aumento do nível da amilase e bilirubina total. A ecografia do abdómen evidenciava sinais de aerobilia da vesicula e imagem sugestiva de gás no Wirsung. Realizou endoscopia digestiva alta objetivando-se no duodeno, hiperemia e edema da mucosa, com pregas espessadas condicionando estenose concêntrica inultrapassável. Foram feitas biopsias que evidenciaram acentuado componente inflamatório ao nível da lâmina própria. Para esclarecimento do quadro, efetuou-se uma tomografia computorizada abdominal que documentou um espessamento concêntrico da parede da 2ª porção do duodeno com redução do calibre luminal; espessamento da papila de Vater; dilatação do colédoco e discreta ectasia multifocal do Wirsung no seu trajeto cefálico e sobretudo no corpo pancreático. De acordo com este resultado imagiológico, assumiu-se o diagnóstico de Groove Pancreatitis. O Groove pancreatitis é uma forma distinta de pancreatite crônica, caracterizada por inflamação e formação de tecido fibroso, que afeta a área de sulco entre a cabeça do pâncreas, o duodeno e o colédoco. Manifesta-se frequentemente imagiologicamente como por uma espessamento da parede duodenal podendo observar-se formações cística. A etiologia permanece obscura e as manifestações clínicas são inespecíficas. Centro Hospitalar Lisboa Norte - Hospital Pulido Valente 329 CC 63 PANCREATITE AGUDA RECORRENTE EM MULHER JOVEM Moleiro J*, Faias S, Piteira Barros F, Dias Pereira A Mulher de 41 anos com múltiplos episódios de pancreatite aguda (PA) com início aos 33 anos (7 episódios em 6 anos), todos eles com gravidade ligeira e resposta favorável com pausa alimentar, hidratação e analgesia. Sem hábitos tabágicos ou etílicos e sem história familiar de patologia pancreática. Sempre sem alteração das transaminases e sem colestase. Na investigação clínica foi excluída a etiologia litiásica, alcoólica, farmacológica e infecciosa (HBV, HCV, HIV). Laboratorialmente sem evidência de hipertrigliceridémia, hipercalcémia, estudo de autoimunidade e IgG4 normal. A fibrose quística foi igualmente excluída com prova de suor normal. Para avaliação de causas estruturais realizou ecoendoscopia que revelou vesícula biliar sem litíase; sem coledocolitíase; parênquima pancreático sem massas, lesões quísticas ou critérios de pancreatite crónica; ducto pancreático não dilatado com paredes hiperecóicas no corpo, sem evidência de ductos secundários; sem evidência de pâncreas divisum. Complementou-se o estudo com CPRM que excluiu coledocolitíase e alterações do parênquima pancreático mostrando, no entanto, ducto pancreático principal não ectasiado, não parecendo convergir na ampola de Vater mas na papila minor, sugerindo variante anatómica (pâncreas divisum). Realizou CPRE para terapêutica endoscópica, esfincterotomia da papila minor, mas não foi possível a sua visualização, mesmo num 2º procedimento com terapêutica com secretina. Pedida CPRE a um 2ª executante, que não identificando a minor, optou por canular a papila major e colocar uma prótese no Wirsung, assumindo um possível divisum incompleto. Perante a impossibilidade de terapêutica endoscópica e o oitavo episódio de PA optou-se por cirurgia, tendo a doente sido submetida a pancreatectomia caudal com pancreatogastrostomia. Dezoito meses após a cirurgia, a doente encontra-se clinicamente bem e não se registaram novos episódios de pancreatite. A importância do caso clínico assenta na possibilidade de discussão do organigrama diagnóstico da PA recorrente, na avaliação diagnóstica e na abordagem terapêutica, quer endoscópica quer cirúrgica, no pâncreas divisum. Serviço de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil 330 CC 64 PANCREATITE AGUDA POR DUAS ETIOLOGIAS RARAS: HIPERCALCÉMIA E REATIVAÇÃO DE CITOMEGALOVÍRUS EM DOENTE SOB IMUNOSSUPRESSÃO Gravito-Soares M.(1,2), Gravito-Soares E.(1,2), Aragão A.(2), Porto J.(2), Santos F.(2), (1)Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E., (2)Serviço de Medicina Interna, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. Introdução: As etiologias infeciosa e metabólica de pancreatite aguda são raras (1,5-7%). A causa infeciosa por Citomegalovírus(CMV) é mais frequente em doentes imunocomprometidos. Os casos reportados na literatura por ambas as causas isoladas são raros e em associação, nenhum caso foi descrito. Os autores reportam um caso de pancreatite aguda associada a duas etiologias raras, infeciosa e metabólica. Caso Clínico: Mulher, 79anos, sem história pessoal/familiar de pancreatite, alcoolismo ou alteração medicamentosa recente. Colecistectomizada há 9anos e hiperparatiroidismo primário há 1ano, tendo efetuado ecografia/cintigrama com Sestamibi da tiróide e paratiróides e RMN cervical com nódulo tiroideu esquerdo hiperfuncionante e nódulo adjacente sugestivo de adenoma paratiroideu inferior esquerdo. Foram excluídos síndromes de neoplasia endócrina múltipla e proposta cirurgia, que a doente recusou. Imunossupressão por Leucemia mielomonocítica crónica(LMMC) e corticoterapia sistémica recente(Prednisolona 20mgid). Internada no serviço de Medicina Interna por febre, náuseas/vómitos e epigastralgias, com 48h de evolução. Estudo analítico com elevação dos parâmetros inflamatórios, colestase hepática, hiperamilasémia(157U/L;N:28-100) e hiperlipasémia(1246U/L;N<67). Do estudo etiológico da pancreatite aguda, verificou-se hipercalcémia(11,5mg/dL;N:8,8-10,6), PTH 227pg/mL(N:9-72), 25-OH-vitamina D 40ng/mL(N:30-68) e IgM/IgG CMV positivas(IgM=1,09,N<0,7;IgG>250,N<6). Apresentava serologia citomegalovírica prévia com IgM negativa e IgG positiva. Ecografia abdominal com VBP 10mm em relação com colecistectomia prévia, pâncreas mal visualizado por interposição gasosa. Ranson e APACHE II na admissão/48h 2/3 e 8/8, respetivamente, BISAP 1 e score Marshal modificado 0. Efetuada terapêutica de suporte com fluidoterapia agressiva e analgesia, com evolução clínico-analítica favorável. Reavaliação a 1 e 5 meses com normalização da função hepática, amilasémia/lipasémia, IgM CMV 1,18 e 0,96, respetivamente. Teste de avidez IgG para CMV aos 5 meses forte(0,85(N<0,4)), em relação com infeção superior a 3 meses. Conclusão: Apresenta-se este caso clínico pela dupla raridade etiológica subjacente a um caso de pancreatite aguda a hiperparatiroidismo primário e reativação citomegalovírica em doente sob imunossupressão, com evolução favorável, sem complicações. Documentação iconográfica imagiológica. Serviço de Gastrenterologia, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, E.P.E. 331 CC 65 PANCREATITE AGUDA ALITÍASICA: UM MANEJO INFREQUENTE Sousa,P., Vieira, C.L., Nunes,J., Serejo,F., Velosa, J. A pancreatite aguda é uma causa relativamente frequente de internamento num Serviço de Gastrenterologia, as etiologias mais comuns são a litiásica e a alcoólica. Trata-se do caso de uma doente do sexo feminino, 52 anos com antecedentes pessoais de dislipidémia familiar tipo IV , diabetes mellitus tipo 2, hipotiroidismo primário, hipertensão arterial e hiperuricémia. Recorre ao Serviço de urgência por quadro de epigastralgia com irradiação em cinturão, náuseas e vómitos. Refere episódio semelhante 7 anos antes. À observação taquicárdica e com abdómen difusamente doloroso à palpação profunda (mais acentuado no epigastro). Laboratorialmente sem leucocitose ou neutrofilia, elevação da PCR, hiperglicémia (426), hiponatrémia, bilirrubina total 1.6, GGT 119, amilasémia 884; AST e ALT não mensuráveis por soro lipémico. A ecografia abdominal mostrou esteatose hepática e pâncreas globoso e hipoecogéneo. Internada no Serviço de Gastrenterologia com o diagnóstico de pancreatite aguda alitiásica sem critérios de gravidade. Na avaliação analítica feita subsequentemente verifica-se elevação do colesterol total (1748) e triglicéridos (6610). Assumiu-se o diagnóstico de pancreatite aguda associada a hipertrigliceridémia. Apesar de medidas de suporte e analgesia adequada a doente mantinha-se sintomática pelo que após discussão multidisciplinar foi decidido iniciar plasmaferese. Fez no total 3 sessões com franca melhoria laboratorial (colesterol 166 e triglicéridos 697) e clínica. Perante evolução clínica a doente teve alta mantendo seguimento com na consulta de dislipidémia do nosso hospital. Apesar da hipertrigliceridémia ser a terceira causa mais frequente de pancreatite aguda no nosso dia-a-dia é incomum sermos confrontados com necessidade de recorrer à plasmaferese como opção terapêutica neste grupo de doentes. Serviço de Gastrenterologia e Hepatologia, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar Lisboa Norte, Lisboa 332 Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica Comunicações Orais I 1 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL DE INÍCIO MUITO PRECOCE E DÉFICE DE IL-10 Pinho L.(1), Silva G.(1), Lima R.(2), Marques L.(1), Mansilha H.(1), Ruemmele F.(3), Pereira F.(2) A doença inflamatória intestinal corresponde a um contínuo patofisiológico, desde formas graves, causadas por mutações inactivadoras e de início muito precoce até polimorfismos genéticos de um ou vários genes que diminuam a acção de mecanismos imunoreguladores chave. A via de sinalização da IL10 é fundamental na manutenção do equilíbrio da resposta imunológica da mucosa intestinal (imuno-tolerância). Caso clínico Criança com 3 anos, filho de casal jovem não consanguíneo, sem antecedentes perinatais ou familiares relevantes, que ainda no primeiro mês de vida inicia quadro de diarreia grave sanguinolenta associada a inflamação perineal exuberante e eczema com resposta parcial à fórmula de aminoácidos. Analiticamente com anemia microcítica e elevação dos marcadores inflamatórios séricos. Durante o primeiro ano de vida teve episódios recorrentes de diarreia sanguinolenta e fissuras perianais associados a eczema, que condicionou má evolução ponderal. A elevação da calprotectina fecal, a presença de ulcerações da mucosa no recto-sigmóide cujo exame histopatológico revelou infiltrado inflamatório de predomínio linfoplasmocitário e abcessos crípticos permitiu o diagnóstico de colite indeterminada. No estudo efectuado excluiu-se causa infecciosa, imunológica e auto-imune. Esteve sob nutrição parentérica, terapêutica imunosupressora com prednisolona e posteriormente azatioprina, que aliviou a resposta inflamatória de modo transitório. Aos 20 meses foi submetido a ileostomia. O estudo funcional revelou um défice de actividade da IL-10 e o estudo genético identificou a mutação c.229 T.G; p.W100G em homozigotia para o receptor ß da IL-10. Foi proposto para transplante de células progenitoras hematopoiéticas que decorreu aos 2 de idade, mantendo-se assintomático do ponto de vista gastrointestinal. O défice da IL-10 é uma causa rara de doença inflamatória intestinal que deve ser equacionado em situações de colite de início muito precoce refractária à terapêutica convencional. As opções terapêuticas são limitadas, mas dada a natureza do defeito molecular o transplante de células progenitoras hematopoiéticas constitui uma opção potencialmente curativa. 1-Serviço de Pediatria, Centro Hospitalar do Porto 2-Serviço de Gastroenterologia Pediátrica, Centro Hospitalar do Porto 3-Assistance Publique-Hôpitaux de Paris, Hôpital Necker-Enfants Malades, Service de Gastroentérologie Pédiatrique, Paris 333 2 TROMBOCITOPENIA IMUNE E COLITE ULCEROSA EM IDADE PEDIÁTRICA: CONTRIBUIÇÃO DA TERAPÊUTICA BIOLÓGICA? Sara Azevedo*, Helena Loreto, Ana Isabel Lopes, , Introdução: A trombocitopénia imune (TI) é uma manifestação extra-digestiva rara da Doença Inflamatória Intestinal (DII), podendo preceder, acompanhar ou manifestar-se posteriormente ao diagnóstico. Na colite ulcerosa (CU) estima-se uma prevalência < 1%, tendo sido reportados em idade pediátrica <10 casos. A resposta da TI à terapêutica convencional, em associação ao controlo da DII, tem sido heterogénea, estando ainda por definir qual a melhor opção terapêutica. Apresenta-se um caso pediátrico de CU com TI ilustrativo da dificuldade de abordagem desta associação.Caso clínico: Menino 8 anos, antecedentes familiares e pessoais irrelevantes, com diagnóstico de CU desde os 3 anos. Remissão inicial com prednisolona seguindo-se terapêutica de manutenção com messalazina. Aos 4 anos constatada corticodependência, e instituída terapêutica com azatioprina, mantendo-se sempre necessidade de corticoides.Nesta altura (após incio de azatioprina) estabeleceu-se o diagnóstico de TI (plaq<20000). A investigação etiológica,[biopsia osteo-medular (sem alterações), anticorpos anti-plaquetários (positivos) e a exclusão com probabilidade de causa secundária à terapêutica (tiopurinametiltransferase normal)], permitiu estabelecer o diagnóstico de TI associada à CU.A evolução clínica subsequente (>6,5A) caracterizou-se por várias agudizações da CU, requerendo aumento de dose de corticóide,verificando-se sempre concomitantemente agravamento da trombocitopénia (valores>50000<100000) sobretudo associado a redução da dose de corticóide e na sequência de intercorrências infecciosas agudas. Aos 9 anos foi instituída terapêutica com infliximab, constando-se após 6 meses, remissão relativamente tardia da CU, mas precoce da TI (após 1ª administração plaq>100000 e actualmente normal).Conclusão:A utilização de agentes biológicos na associação CU/TI deverá ser considerada, embora tenha sido apenas reportada em 2 casos no adulto.O seu mecanismo de acção não está ainda totalmente elucidado, admitindo-se, entre outras possibilidades, uma inibição directa da formação de anticorpos anti-plaquetários e/ou mediada indirectamente pela inactivação de TNF a. Permanece ainda por elucidar a verdadeira contribuição desta terapêutica para uma remissão duradoura da TI. Unidade de Gastrenterologia Pediátrica - Departamento de Pediatra HSM-CHLN 334 3 EXPRESSÃO CLÍNICA E ALERGOLÓGICA DA ESOFAGITE EOSINOFÍLICA EM IDADE PEDIÁTRICA - EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Gomes C. (1), Alegria S. (1), Loreto H. (1), Palha A. (2), Mourato P. (1), Azevedo S. (1), Lopes A. (1) Introdução e objectivos: A Esofagite Eosinofílica (EoE) é uma entidade imuno-inflamatória crónica caracterizada por infiltração eosinofílica limitada à mucosa esofágica, cuja etiopatogénese permanece por elucidar. Admite-se componente imuno-alergológico subjacente (resposta Th2), com eventual contribuição de factores genéticos/ambientais, bem como evidência de associação com atopia. Objectivo: caracterizar o perfil clínico/alergológico dos doentes com o diagnóstico de EoE seguidos num centro terciário. Material: Estudo observacional retrospectivo; revisão de processos clínicos, relatórios endoscópicos e anatomopatológicos; diagnóstico de EoE (desde 2007) estabelecido de acordo com critérios padrão. Sumário dos Resultados: Incluídas 55 crianças , 45 (82%) do género masculino, mediana de idades na altura do diagnóstico 12 anos (0,9-18 anos). Verificou-se uma tendência crescente no número de casos diagnosticados (>50% nos últimos 3 anos). Os sintomas mais frequentes na apresentação foram disfagia (28/52, 54%) e impactação (30/52, 58%). Na avaliação endoscópica inicial os achados mais frequentemente registados a nível da mucosa esofágica foram estriação longitudinal (33/55, 60%) e pápulas/placas de exsudado branco (29/55, 53%). Histologicamente, a mediana do número de eosinófilos foi 35/CGA (mínimo 15, máximo 175) em 47 amostras (não reportado em 8 casos, embora em todos >15/CGA). Em 41/55 (75%) dos doentes identificou-se evidência de atopia, sobretudo rinite alérgica. Da investigação alergológica realizada destaca-se: eosinofilia periférica em 39/54 (72%); sensibilização IgE-mediada (IgE séricas específicas e/ou testes cutâneos por picada) a pneumoalergénios em 31/50 (62%) e a alergénios alimentares em 18/50 (36%); sensibilização alimentar não IgE-mediada (testes epicutâneos) em 8/16 (50%). Conclusões: Os resultados da presente série são concordantes com a literatura, evidenciando incidência crescente de EoE, predomínio do género masculino e frequente associação a atopia e sensibilização a alergénios alimentares e/ou pneumoalergénios. Salienta-se a relevância de uma abordagem integrada no plano imunoalergológico, integrando um painel de testes representativos, com potencial impacto para a decisão terapêutica. 1 - Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, Hospital de Santa Maria – CHLN, Centro Académico de Medicina de Lisboa. 2 - Serviço de Anatomia Patológica, Hospital de Santa Maria – CHLN, Centro Académico de Medicina de Lisboa 335 4 DETERMINANTES GENÉTICOS DE GASTRITE AUTOIMUNE NA CRIANÇA Lima R., Oliveira J., Amaral B., Costa E., Miguel N., Costa F., Vizcaína J. R., Barbot J., Santos R., Pereira F. Introdução e Objectivos: O HLA DRB1*04 e o DQB1*03 foram os haplótipos mais frequentemente encontrados em séries de doentes adultos com Gastrite Autoimune (GAI). O objectivo deste trabalho foi determinar variações dos genes imunoreguladores, como HLA (HLA-A, B, DRB1 e DQB1) e polimorfismos do gene CTLA4 que possam estar associadas à presença de gastrite auto-imune em crianças. Métodos: Foram incluídos 11 doentes com GAI, 9 do sexo feminino, mediana de idade 12.5 anos (G. A) e um grupo controle de 11 doentes com gastrite a Helicobacter pylori, sem doença auto-imune, 5 do sexo feminino, mediana de idade 11.5 anos (G. B). Colhidas amostras de sangue periférico para doseamento de anticorpos anti-célula parietal gástrica (ACPG) e anti-factor intrínseco (AFI), pepsinogénio I e II, gastrina e estudo genético. Foi feita extracção de DNA de sangue periférico para genotipagem dos locus HLA-A, B, DRB1 e DQB1 e para dois polimorfismos do gene CTLA4 (c.49A>G e c.*1384G>A). Foi efectuado estudo comparativo da prevalência dos genótipos de HLA entre os 2 grupos e com a população portuguesa baseado em dados publicados. Para análise estatística foi aplicado o teste de Fisher. Resultados: No G. A todos os doentes tinham ACPG positivos (mediana: 147 U/mL), gastrinemia em jejum de 547 pg/ml e níveis de pepsinogénio I de 42.2 ?g/L. O estudo genético foi efectuado a 8 doentes do G.A, 75% (n=6) eram portadores do alelo DQB1*03 que tem uma freqência alélica de 29% na população portuguesa (P=0.01) também detectado em 45% dos doentes do G.B (P> 0.05). DRB1*07 foi o alelo mais frequente do G.A (50%) representando apenas 17% dos alelos DRB1 da população (P=0.03). No entanto, o DRB1*07 também se encontra em quase metade dos doentes do G.B. Não se verificou diferença nos polimorfismos do gene CTLA4 nos dois grupos. Conclusões: O alelo HLA DQB1*03 está associado à GAI em crianças. Centro Hospitalar do Porto 336 5 PAPEL DOS ANTICORPOS IGA ANTI-ENDOMÍSIO NO DIAGNÓSTICO DE DOENÇA CELÍACA NUMA AMOSTRA PEDIÁTRICA – NOVO MÉTODO DE QUANTIFICAÇÃO DE RESULTADOS Guedes, P., Corujeira, S., Tavares, M., Trindade, E., Carneiro, F., Jorge Amil Introdução e objetivos: Há evidência sobre a importância dos anticorpos específicos no diagnóstico de Doença Celíaca. As novas recomendações adicionam a pesquisa de anticorpos anti-endomísio (anti-EMA), cuja leitura é dependente do observador, introduzindo assim novos desafios no diagnóstico. Neste trabalho estudamos o valor do teste anti-EMA no diagnóstico e investigamos um novo método para avaliação dos resultados de forma mais objetiva através de quantificação de imunofluorescência. Materiais: Estudo prospetivo em crianças com elevado grau de suspeição de Doença Celíaca e um teste positivo para anticorpos específicos. Todos os doentes foram submetidos a biópsia duodenal e realizaram teste anti-EMA. A intensidade da imunofluorescência foi analisada com o programa ImageJ®. Sumário Resultados: Vinte e cinco doentes foram selecionados tendo o diagnóstico sido confirmado em 20. O principal motivo para o rastreio foi a sintomatologia clínica (59%). Encontrou-se uma correlação positiva entre títulos elevados de transglutaminase e maior positividade no teste anti-EMA (p=0.019). Todos os doentes com teste anti-EMA positivo tinham atrofia vilositária (Marsh 3). A quantificação da imunofluorescência revelou diferenças significativas entre as crianças com Doença Celíaca e controlos (p<0.001). Doentes com valores de transglutaminase 10 vezes acima do valor de referência apresentaram valores superiores em relação a doentes com aumento ligeiro da transglutaminase (p=0.004), sendo os valores deste grupo também superiores aos controlos (p=0.001). Conclusões: Os resultados mostraram uma correlação positiva entre os níveis de transglutaminase e atrofia vilositária. O método de leitura automática mostrou diferenças entre doentes com valores altos de transglutaminase como também entre entre doentes com aumentos ligeiros em relação aos controlos. Os resultados preliminares são promissores sobre a possibilidade de quantificar os resultados anti-EMA de forma automatizada. A aplicabilidade das novas recomendações diagnósticas deve ser monitorizada cuidadosamente. Centro Hospitalar de São João (CHSJ), Porto, Portugal 337 6 DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL PEDIÁTRICA NO MINHO Machado C.A., Martinho I., Laranjeira C., Figueiredo M., Carvalho C., Reis A., Pereira F., Trindade E., Antunes H. Introdução: A doença inflamatória intestinal (DII) inclui doença de Crohn (DC), colite ulcerosa (CU) e a DII indeterminada (DIII). Embora afete essencialmente os adultos, o diagnóstico de cerca de 25% a 30% dos indivíduos é em idade pediátrica, sendo a DC mais frequente. Os estudos reportam um aumento da incidência da DC, mas uma incidência de CU estável. Um estudo no Minho, relativo a 2010, refere uma incidência de 6,4/100000 (DC:66%; CU:34%). Objetivos: Caracterizar os doentes com diagnóstico de DII dos 0 aos 17 anos e 365 dias, desde 2002, residentes no Minho (distritos de Braga e Viana do Castelo), calcular a sua incidência para o intervalo 20022013 e avaliar a qualidade de vida relacionada com a doença. Metodologia: Realizou-se um estudo retrospetivo, através da recolha de informação do processo clínico. Foi também realizado um estudo transversal aplicando o questionário IMPACT-III©, que avalia a qualidade de vida dos pacientes pediátricos com DII a partir dos 9 anos. Resultados: Foram encontrados 137 indivíduos. A incidência em 2002-2013 foi de 5,0/100000 crianças-ano (DC:66%; CU:32%; DIII:2%), aumentando de 2,4/100000 (DC:65%; CU:35%) no primeiro triénio para 8,8/100000 (DC:75%; CU:23%; DIII:2%) no último (p<0,0001). A dor abdominal foi o sintoma mais frequente na DC e a hematoquézia na CU. No IMPACT-III© (n=32) a pontuação média foi de 136,5±19,2, tendo um alfa de Cronbach=0,91. Conclusão: Houve um aumento significativo da incidência de DII, principalmente devido à DC. A sintomatologia tende a indicar o tipo de DII, sendo em série pediátrica, mais uma vez, a dor abdominal mais prevalente que a diarreia na apresentação da DC. A qualidade de vida parece ser semelhante à encontrada noutros estudos, mostrando-se ainda a boa consistência interna do IMPACT-III©. Hospital de Braga, Centro Hospitalar do Alto Ave, Centro Hospitalar do Médio Ave, Hospital de Santa Maria Maior – Barcelos, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa, Centro Hospitalar do Porto e Centro Hospitalar de São João 338 7 CONTRIBUIÇÃO DA IMAGIOLOGIA PARA A CARACTERIZAÇÃO DA DOENÇA DE CROHN EM IDADE PEDIÁTRICA Póvoas M* (1), Brito S (1), Loreto H (1), Azevedo S (1), Mourato P (1), Lobo L (2), Lopes AI (1) Introdução: O estudo imagiológico do intestino delgado (ID) na doença de Crohn (DC) é fundamental para a caracterização fenotípica (extensão, localização) e avaliação da atividade da doença em idade pediátrica. Objetivo: Avaliar a contribuição da imagiologia do ID para a caracterização e classificação da DC ao diagnóstico. Métodos: Estudo retrospetivo (registo de processos clínicos), relativo a DC diagnosticada entre 1/1/2000 e 31/12/2013. Variáveis: demográficas, clínicas, relatórios de exames imagiológicos, endoscópicos e histológicos. Utilizou-se a classificação de Paris para estadiamento e PCDAI para avaliar a atividade da doença. Análise estatística: PASW Statistics 18 ®. Resultados: Foram incluídos 46 doentes (56,5% do sexo masculino), com idade média ao diagnóstico 12,0±3,1 anos; 17,4% com menos de 10 anos (A1a). A maioria tinha doença B1 (30/46), com atingimento L3 (17/46) e L4 (15/46). Apenas 4/46 tinham doença perianal e 2/46 atraso de crescimento. O PCDAI médio ao diagnóstico foi 31,3±11,3. Adicionalmente à endoscopia, todos os doentes realizaram ecografia abdominal no momento do diagnóstico, compatíveis com DC em 39/46 e 24/46, respetivamente. O envolvimento do ID foi comprovado por estudo radiológico contrastado em 8/10 doentes e por enteroRM em 20/33 doentes. Foi realizada ileoscopia com biopsias em 27/46, confirmando atingimento do ID em 20/27, resultado que foi concordante com ecografia em 55% (11/20), com o estudo contrastado em 2/2 e com a enteroRM em 58,8% (10/17). Nas 7 crianças sem evidência histológica de ileíte, a ecografia foi reveladora em 28,5% (2/7), o estudo contrastado em 14,3% (1/7) e a enteroRM em 28,5% (2/7). Comentários: A enteroRM e a ecografia contribuíram para o diagnóstico da doença em mais de metade dos casos em que foram realizadas, apresentando ambas uma boa concordância com a histologia. Salienta-se o contributo específico da enteroRM para o estadiamento e caracterização do atingimento no ID. 1 Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, Departamento de Pediatria; 2 Serviço de Imagiologia Central. Hospital de Santa Maria, Centro Académico de Medicina de Lisboa 339 8 ESOFAGITE EOSINOFÍLICA Amaral B, Lavrador V., Lima R., Silva E., Rocha H., Pereira F. A incidência da esofagite eosinofílica (EE) tem aumentado significativamente e o seu espectro clínico temse alargado. Os autores pretendem caraterizar os doentes com EE observados na consulta de Gastrenterologia Pediátrica entre Janeiro de 2007 e Janeiro de 2014. Foi efetuado um estudo transversal de uma amostra de 18 doentes. O critério de diagnóstico foi a presença de > 20 eosinófilos por campo de grande ampliação. Dezasseis doentes (78 %) eram do sexo masculino. A idade média de apresentação foi 7,8 anos. As queixas tiveram uma duração média de 2,2 anos. As mais frequentes foram: vómitos (7), impacto alimentar (7), epigastralgia/dor retrosternal com a alimentação (6), disfagia (5) e má evolução ponderal (3). Catorze doentes (78%) tinham doença alérgica (rinite alérgica, asma e alergia alimentar). O diagnóstico foi efetuado na primeira endoscopia digestiva alta (EDA) em 16 doentes (89%): 9 apresentaram alterações macroscópicas sugestivas, 1 não tinha alterações e os restantes apresentaram alterações inespecíficas. Em 12 doentes foi instituída terapêutica com fluticasona deglutida, em 2 doentes a evicção dos alergénios alimentares identificados, em 1 doente associou-se evicção alimentar à fluticasona deglutida e 3 doentes não fizeram tratamento. O tempo de seguimento médio foi 38 meses. A reavaliação endoscópica foi efetuada em 11 doentes (em média 12,7 meses depois). Seis doentes mantinham alterações macroscópicas. À data do fim da nossa análise 9 mantêm a terapêutica instituída. A EE é um diagnóstico a considerar nos doentes com dispepsia, principalmente na refratária ao inibidor da bomba de protões, com impacto alimentar ou disfagia ou nos lactentes com má evolução ponderal e dificuldades alimentares. A biópsia esofágica deve ser efetuada mesmo na ausência de achados macroscópicos. A associação com patologia do foro alergológico foi significativa. A sua presença deve aumentar a suspeita clínica de EE. A resposta ao tratamento foi favorável na maioria dos doentes. Serviço de Gastrenterologia Pediatrica do Centro Hospitalar do Porto 340 Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica Casos Endoscópicos 1 COLITE ISQUÉMICA PÓS-TRAUMÁTICA EM SÍNDROME DO CINTO DE SEGURANÇA Lopes MF*, Coutinho S, Coelho P, Maia C, Amaral J, Pina R, Almeida S A colite isquémica pós-traumática em síndrome do cinto de segurança (SCS) é uma complicação rara e com morbilidade severa, sendo importante o alerta para eventuais complicações posteriores. Os autores apresentam o caso clínico de adolescente de 16 anos vítima de acidente de viação, com cinto de segurança, do qual resultou politrauma toracoabdominal caracterizado por (1) manifestação imagiológica tardia de perfurações intestinais e (2) morbilidade prolongada no pós-operatório por colite isquémica. À entrada no serviço de urgência foi avaliada por equipa multidisciplinar, observando-se escoriações e equimose na região torácica e abdominal, com a distribuição do cinto de segurança, e dor à palpação abdominal. Diagnosticou-se politrauma característico do SCS - fratura da coluna vertebral do tipo Chance e lesões de parede com a distribuição do cinto de segurança. O pneumoperitoneu foi evidenciado apenas às 30 horas após o acidente, na terceira TAC de uma série de exames imagiológicos. Na laparotomia de emergência encontraram-se duas perfurações do jejuno proximal com derrame peritoneal fecal e avulsão extensa do mesentério do cólon esquerdo com desnudamento e isquemia de mucosa da sigmoide. Procedeu-se a resseção e anastomose primária das perfurações jejunais e a invaginação da mucosa da sigmoide em anastomose primária da seromuscular. O pós-operatório, sob antibioterapia endovenosa múltipla e nutrição parentérica total prolongadas, apresentou morbilidade importante por infeção e por evolução inflamatória e necrose hemorrágica do cólon esquerdo. Às duas semanas de pós-operatório ocorreram manifestações da colite isquémica – hematoquézia com duração autolimitada associada a anemia aguda com necessidade de transfusão de eritrócitos, que foi seguida de trânsito intestinal mantido e ausência de sinais radiológicos de oclusão, mas com evolução clínica dominada por dor abdominal, febre e intolerância alimentar persistentes. O exame endoscópico, efetuado no decurso da doença (aos 34 dias de pósoperatório), evidenciou erosão circunferencial, grande friabilidade, edema e necrose da mucosa de um segmento do cólon esquerdo. A resseção e anastomose primária do cólon necrosado determinou a evolução favorável registada após a reoperação, com alta para o domicílio aos 50 dias de internamento. Este caso ilustra a necessidade de manter elevado nível de vigilância nos casos de SCS, tendo em vista a deteção atempada de associação de lesões intestinais e do mesentério com indicação potencial para intervenção cirúrgica, e apresenta a colite isquémica pós-traumática como uma sequela eventual do traumatismo abdominal fechado, por desaceleração em acidentes de viação com uso de cinto de segurança. O mecanismo da lesão no caso clínico apresentado implicou laceração dos mesos intestinais, por estiramento dos mesmos aquando do impacto, e compromisso isquémico posterior após exploração cirúrgica. A colonoscopia, ao revelar edema, erosão e necrose, é gold standard do diagnóstico, permitindo evidenciar as várias fases de evolução da doença, definir a severidade do processo inflamatório e indicar a necessidade de intervenção cirúrgica. Cirurgia Pediátrica. Hospital Pediátrico – Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 341 2 ESTENOSE ESOFÁGICA CONGÉNITA Castro L., Freitas F., Pilar C., Alves F., Afonso I., Gonçalves R., Introdução: A estenose esofágica causada por remanescentes traqueobrônquicos é uma malformação rara, cujo diagnóstico é efectuado habitualmente na infância, na presença de sintomas de obstrução esofágica. Os autores apresentam um caso de estenose esofágica congénita devido a coriostoma composto por remanescentes traqueobrônquicos. Caso clínico: Criança do sexo feminino, 2 anos de idade, com antecedentes pessoais de hipotiroidismo congénito. Aos seis meses de vida inicia quadro de vómitos alimentares persistentes, associados a má progressão ponderal, pelo que foi referenciada a consulta de gastroenterologia. Foi submetida a estudo complementar, destacando-se: avaliação analítica e pHmetria inconclusivas; trânsito esofagogastroduodenal com diminuição do calibre do lúmen esofágico no terço distal; endoscopia digestiva alta com estenose na transição esofagogástrica, sem resposta a dilatação com velas de Savari e biópsias inconclusivas. Colocada a hipótese diagnóstica de estenose fibromuscular/coriostoma do esófago, é transferida para hospital terciário para estudo, que não se revelou conclusivo. Por manter sintomatologia e suspeita diagnóstica, é submetida a ressecção do segmento estenosado e cirurgia anti-refluxo aos 32 meses de vida, no hospital de origem. O estudo anátomo-patológico confirmou presença de cartilagem hialina e epitélio do tipo respiratório, compatíveis com coriostoma do esófago. O período pós-operatório decorreu sem intercorrências, tendo alta a tolerar a dieta geral. Verificaram-se posteriormente episódios de impossibilidade em eructar, que cederam com domperidona. Conclusão: Perante um caso de vómitos persistentes, coincidentes com a introdução de sólidos na alimentação, foram consideradas inicialmente causas como intolerância alimentar ou refluxo gastroesofágico que foram excluídas e obrigaram à realização de exames mais invasivos. A existência de estenose esofágica não dilatável colocou em evidência a hipótese de coriostoma esofágico, cuja impossibilidade de dilatação por meio endoscópico impõe como tratamento definitivo a excisão cirúrgica do segmento estenosado. No entanto, as complicações da cirurgia poderão surgir, pelo que deverá ser mantida vigilância a longo prazo. Centro Hospitalar do Funchal 342 3 CORPOS ESTRANHOS INTRA-GÁSTRICOS: UMA HISTÓRIA PICANTE E RECIDIVANTE Ana Isabel Lopes 1, Sara Azevedo 1*,Lucília Freitas 2, Ima Figueiredo 2, João Lopes 3 Introdução: A ingestão voluntária de corpos estranhos (CE) na adolescência é rara, associando-se habitualmente a patologia do neurodesenvolvimento ou do foro psiquiátrico. Apresenta-se um caso clínico ilustrativo desta co-morbilidade. Caso clínico: Adolescente, 17A, com antecedentes pessoais de perturbação do comportamento alimentar, transtorno da personalidade e depressão com seguimento em consulta de pedopsquiatria e sob terapêutica,com história de tentativa de suicídio ( ingestão medicamentosa voluntária). Recorreu à urgência pediátrica em Dezembro de 2012 por dor abdominal difusa “tipo picada” com 6 dias de evolução, associada a náuseas e mal-estar geral, negando vómitos, febre, diarreia ou outra sintomatologia. EO na admissão: abdómen doloroso à palpação nos quadrantes esquerdos, sem outras alterações. Cicatrizes de queimaduras múltiplas, na região lombar, auto-infligidas. Efectuou radiografia simples de abdomén que evidênciou a presença de CE (formato de agulha) na região abdominal média.Confrontada com a hipótese diagnóstica colocada, a adolescente acabou por referir ingestão deliberada de agulha de costura 10 dias antes. A ecografia abdominal realizada na tentativa de precisar a localização do CE foi inconclusiva. Foi realizada EDA com identificação e remoção morosa de 3 agulhas de costura de 5cm de comprimento intra-gástricas (2 parcialmente introduzidas na mucosa gástrica) com pinça aligator. Cerca de 2 semanas depois recorreu novamente à urgência pediátrica referindo nova ingestão voluntária de agulhas. Efectuou EDA com remoção, com pinça aligator de 2 agulhas de costura de características semelhantes às anteriormente removidas, localizadas a nível gástrico.Subsequentemente a doente foi internada para continuação de cuidados e re-observação pela pedopsiquiatria. Foram enfatizados, à jovem e à mãe, todos os riscos inerentes à eventual repetição dos episódios comportamentais ocorridos previamente.Conclusão: Salienta-se a ingestão de CE de risco como componente de um comportamento de auto-mutilação numa jovem com patologia psiquiátrica grave e as complicações potencialmente graves inerentes ao CE e à sua remoção endoscópica. 1-Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, 2-Unidade de técnicas de Pediatria - Departamento de Pediatra, 3- Serviço de Gastrenterologia-HSM/CHLN 343 4 PILHAS ALCALINAS NO ESÓFAGO EM IDADE PEDIÁTRICA – NECESSIDADE DE ABORDAGEM URGENTE Coimbra D , Coutinho S , Conceição V , Piedade C , Ferreira R , Lopes MF Objetivo: descrever um caso de impactação esofágica por corpo estranho corrosivo e alertar para a emergência da atuação terapêutica. Caso clínico: Criança de 1 ano de idade, do sexo masculino, previamente saudável, que foi transferida de um hospital distrital por impactação de corpo estranho (CE) radiopaco no esófago cervical, com evolução de 6 horas. No primeiro hospital, onde se apresentara por vómitos de início súbito e sialorreia, uma radiografia cervicotorácica revelou corpo estranho radiopaco que confirmou a suspeita de ingestão acidental, não presenciada, de pilha do comando de televisão. No nosso SU a criança estava assintomática e o exame objetivo era normal. A intervenção endoscópica sob anestesia geral, realizada onze horas após a impactação, foi ineficaz na extração, seguindo-se abordagem cirúrgica do esófago por incisão cervical direita. Observou-se perfuração da parede posterior do esófago e pilha parcialmente exteriorizada; após a remoção do CE e excisão dos bordos necrosados, procedeu-se a rafia da perfuração esofágica com fio reabsorvível 5-0. Sem complicações operatórias, sob nutrição parenteral total, teve alta para o domicílio após 32 dias de internamento. Quinze dias após a alta foi submetida a dilatação endoscópica de estenose esofágica ligeira. Atualmente, com 7 meses de pós-operatório, mantém seguimento em consulta, estando assintomática. Conclusão: A ingestão de CE na criança nem sempre é presenciada, pelo que é necessário elevado grau de alerta relativamente às manifestações clínicas resultantes da sua impactação. A ingestão de pilhas é rara, correspondendo a cerca de 2% de todos os casos de ingestão de CE em idade pediátrica e os sintomas muitas vezes são inespecíficos ou frustres. Porém, a impactação esofágica por pilha corrosiva (alcalina) requer remoção endoscópica urgente, pelo potencial de queimadura esofágica grave num curto espaço de tempo (em menos de 2 horas). A necrose ocorre pelo estabelecimento de correntes elétricas, corrosão e extravasamento do conteúdo da pilha e pressão direta pelo CE. O atraso na intervenção endoscópica pode conduzir a morbilidade precoce ou tardia potencialmente evitável. Hospital Pediátrico - Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra 344 5 ÚLCERA SOLITÁRIA DO RECTO Lima R, Coelho A*, Pereira F Introdução: O sindroma da úlcera solitária do recto (USR) é uma entidade benigna rara que pode ocorrer na criança e afecta de forma semelhante os dois sexos. Dor hipogástrica ou perineal, esforço defecatório prolongado, sensação de defecação incompleta, obstipação e mais raramente prolapso rectal, associados à presença de sangue e muco nas fezes são os sintomas mais frequentes. O seu diagnóstico implica elevado grau de suspeição e cuidadosa pesquisa das alterações histológicas. Descrição do caso: Rapaz de 13 anos observado na consulta por dor hipogástrica intermitente e múltiplas dejecções diarreicas diárias, diurnas e nocturnas com presença de pequena quantidade de sangue vivo e muco, com duração de cerca de um ano. Sem outros sintomas ou antecedentes patológicos relevantes. Adolescente com normal desenvolvimento e com exame objectivo normal, incluindo a região anal e perianal, com ligeira hipertonicidade do esfíncter anal. O estudo analítico, hemograma, função renal e hepática, PCR e VSG, ASCA e ANCA e imunoglobulinas eram normais e não foram identificados parasitas. A colonoscopia com ileoscopia revelou hiperplasia nodular do ileum que a histologia confirmou. Manteve-se em observação e 6 meses depois, por persistência das queixas repetiu colonoscopia que mostrou uma lesão na parede posterior do recto acima do canal anal, com 2cm, arredondada, ligeiramente elevada, de bordos irregulares e ulceração central. Na histologia da mucosa rectal havia infiltrado inflamatório, fibrose do corion, alterações regenerativas do epitélio e tecido de granulação de bordo de úlcera. Tratado com messalazina 250mg um supositório ao deitar ficou bem. A colonoscopia um mês depois mostrou cicatrização da lesão ulcerosa e as biopsias revelaram aspectos compatíveis com úlcera solitária do recto. Efectuou posteriormente videodefecografia que mostrou ausência de relaxamento do puborectal e do esfíncter anal sugerindo dissinergia. Conclusão: Adolescente com USR diagnosticada ao fim de um ano de inicio dos sintomas com resposta à messalazina. Centro Hospitalar do Porto; *Serviço de Anatomia Patológica. Serviço de Gastroenterologia Pediátrica 345 6 LESÃO ESOFÁGICA AGUDA EM DOIS IRMÃOS: UM CULPADO IMPROVÁVEL Sara Azevedo 1*, Gabriela A. Sá 2, Ana Isabel Lopes 1 Introdução: Os corpos estranhos (CE) intra-esofágicos poderão ter potencial risco traumático quer pelas suas caracteristicas, quer pela duração da sua permanência. Descrevem-se dois casos clínicos de ulceração esofágica traumática secundária a ingestão de suplementos vitamínicos ocorrendo em simultâneo em 2 irmãos, sem patologia esofágica prévia.Casos clínicos: 2 irmãos (10 e 13 anos), sem antecedentes pessoais ou familiares relevantes, previamente saudáveis, observados na urgência de pediatria por início súbito de queixas de disfagia alta, dor retroesternal e dorsal, sem sialorreia com 24h de evolução e sem outra sintomatologia associada. O exame físico era normal e a radiografia cervical e torácica não evidenciou alterações. Foram submetidos a EDA que documentou a presença de lesões ulcerosas dispersas no esófago proximal e médio. Exame anatomo-patológico sem alterações.Na tentativa de esclarecimento etiológico, foi negada história de ingestão de CE, associação de quadro com ingestão de alimento específico acabando, no entanto, por ser referido início, por iniciativa parental e cerca de 3 dias antes do quadro sintomático, de suplementos vitamínicos adquiridos fora do mercado nacional (1 comprimido de polivitamínico e 1 cápsula de L-arginina ingeridos 1Xdia). Neste contexto constatou-se ainda que uma irmã (6 anos e assintomática) tinha apenas ingerido o comprimido de polivitamínico no mesmo período. Quando inquiridos, os doentes referiram ter tido dificuldade na ingestão da cápsula de L-arginina, o que permitiu inferir causalidade provável. Tiveram alta com medidas sintomáticas e terapêuticas com melhoria clínica subsequente.Conclusão: Tanto quanto é do nosso conhecimento, não foi reportado nenhum caso de lesão esofágica aguda associada à ingestão do suplemento de L-arginina mencionado, o qual não está registado pelas entidades reguladoras, tratando-se de um produto de venda livre e acessível na internet. Discutem-se os aspectos associados à livre comercialização de suplementos alimentares desta natureza com potencial risco em idade pediátrica. 1-Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, 2-Urgência Pediátrica - Departamento de Pediatria HSM/CHLN 346 7 IATROGENIC PER-POLYP HEMATOMA MIMICKING ARTERIOVENOUS MALFORMATION Moreira Silva H, Varma S, Stephenne X, Sokal E We report the case of a 8-year old child, previously healthy, who underwent endoscopic evaluation for rectal bleeding since 2 months. Colonoscopy was performed with progression to the last ileal loop with no polyp seen while progressing. During the procedure, when ileum was being visualised the patient had selflimited rectal bleeding, with stable vital signs. On withdrawl in the sigmoid colon, 22 cm from the anal margin, we observed a big area of bluish mucosa, non pulsatile, with no clots or signs of active bleeding and not bleeding of being probed by a forceps. There was enhancement by NBI – narrow band imaging and was surrounding a big polyp (>20mm), with a long pedicle. The appearance of the bluish mucosa prompted an assessment for arteriovenous malformation, the Doppler ultrasonography was not suggestive. Consequently, the polyp was excised and a hemostatic clip put in place. The anatomopathological examination was suggestive of a juvenile polyp. Conclusion: The diagnosis of vascular malformation was initially evocated, however, our finding was probably a submucous haematoma originating from the shear stress on the polyp, probably exerted by the progression of the endoscope. The appearance of a bluish hematoma like lesion which is isolated and seen on withdrawl of the colonoscope but not while progressing inwards should raise the possibility of an iatrogenic hematoma. Pediatrics Gastroenterology and Hepatology Service. Cliniques Universitaires Saint Luc. Brussels, Belgium. 347 Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica Comunicações Orais II 1 ELASTOGRAFIA HEPÁTICA EM IDADE PEDIÁTRICA - EXPERIÊNCIA PRELIMINAR DE UM CENTRO TERCIÁRIO Gonçalves C (1) , Serejo F (2), Lopes AI (1), Machado MC (3), Velosa J (2) Introdução: A detecção/estadiamento da fibrose hepática são indispensáveis para predição do prognóstico, monitorização e decisão terapêutica, na criança e adulto com doença hepática crónica (DHC). A elastografia hepática transitória (EH) é uma técnica não invasiva com bom desempenho na estimativa da fibrose hepática, recentemente validada em idade pediátrica, não existindo ainda experiência na sua utilização em pediatria a nível nacional. Material e Métodos: Análise preliminar descritiva relativa aos exames de EH (Fibroscan, Echosens, Paris) realizados no período de Setembro 2013 a Janeiro 2014 em crianças/ jovens (idade ? 18 anos) com DHC em seguimento num centro terciário. Critérios de inclusão: Perímetro torácico > 45cm e idade >3 anos e Resultados: 40 doentes, mediana idades 13 anos (8-18 anos); 52% sexo masculino. Foram utilizadas as seguintes sondas: M (48%), S2 (37%) e XL (15%). Obteve-se uma mediana de medições válidas/exame de 10 (6-10); mediana de taxa de sucesso/exame de 100% (60-100%); mediana EH: 5,7 (3,1-27,1)kPa, mediana IQR: 1,1 (0.3-13,1)kPa. As principais etiologias da DH foram esteatohepatite não alcoólica (EHNA) (n=10), infecção VHC (n=7), infecção VHB (n=5) e hepatite autoimune (n=5). Os valores de EH mais elevados registaram-se nos doentes com Fibrose Quística [n=2; EH=11,8 (4,1-19,4)], hepatite auto-imune [n=5; EH=9,9 (5,3-17,0)] e sob metotrexato [n=2; E=9,8 (3,1-13,6)]; valores mais baixos identificados em: infecção VHB [n=5; E=4,6 (3,5-5,9)], défice ?1-antitripsina (n=1; E=4,9) e colangite esclerosante primária [n=2; E=5,5 (5,3-5,7)]. Conclusões: Os resultados reportados são consistentes com evidência recente da contribuição da EH em idade pediátrica, requerendo observadores experientes e utilização de sondas adequadas. Na presente série (tanto quanto sabemos a primeira a nível nacional), as principais etiologias de DH para a realização de EH foram EHNA e infecção VHC, nas quais o seu contributo poderá ser muito relevante. (1) Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, HSM - CHLN, CAML (2) Serviço de Gastrenterologia, HSM CHLN, CAML (3) Departamento de Pediatria, HSM - CHLN, CAML 348 2 LAQUEAÇÃO ELÁSTICA PROFILÁTICA DE VARIZES ESOFÁGICAS EM PEDIATRIA - EXPERIÊNCIA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Lopes, AI (1,2), Gonçalves C (1), Figueiredo I (2), Lopes J (3) Introdução: A experiência pediátrica relativamente à abordagem profiláctica de varizes esofágicas secundárias a hipertensão portal(HP) é ainda limitada. A laqueação elástica (LEV) é actualmente reconhecida como a opção electiva, sendo relevante avaliar sua eficácia neste grupo etário em diversos contextos clínicos. Material e Métodos: análise retrospectiva; dados clínicos prospectivamente registados relativos a LEV profilática no período de 2011-2014 (3 anos). Incluidos idade à data da primeira laqueação, género, etiologia, valores laboratoriais (1ª sessão),características das varizes (esofágicas/ gástricas, presença de gastroduodenopatia hipertensiva), duração do follow-up, número de sessões, eficácia, tolerância e eventuais complicações associadas. Resultados: Foram efectuadas 20 sessões de LEV em 6 doentes com mediana de 3,5 sessões/ doente (2-5), 4 do sexo masculino; mediana idade à data da primeira laqueação 12 anos (3-16 anos). LEV no contexto de profilaxia secundária (episódios prévios de hemorragia digestiva alta) em 2 doentes e de profilaxia primária (varizes médias/grandes) nos restantes. O programa de laqueação incluiu sessões com periodicidade inicial de 4/4 semanas até regressão das varizes e subsequentemente de 6/6 meses. A etiologia da HP foi extra-hepática (cavernoma veia porta) em 2 casos e intra-hepática nos restantes: Fibrose quística (n=2), doença renal poliquística (n=1), hepatite auto-imune (n=1). Cinco doentes apresentavam varizes gástricas, nenhum com duodenopatia hipertensiva; classificação das varizes esofágicas: grandes (n= 2), médias (n=4). O procedimento foi bem tolerado em todos os casos, sem complicações no período de seguimento [18,5 meses (6-36 meses)], tendo-se documentado a diminuição/ ausência dos cordões varicosos em todos os doentes, sem progressão/ aparecimento de gastroduodenopatia hipertensiva. Conclusões: A presente série reflecte a experiência previamente reportada relativamente à eficácia, tolerância e ausência de complicações associadas à LEV profilática no grupo pediátrico, independentemente da etiologia. Salienta-se a contribuição actual desta técnica e a importância da avaliação da sua eficácia a longo termo. (1) Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, Departamento de Pediatria, HSM-CHLN, CAML (2) Unidade de Técnicas de Pediatria, Departamento de Pediatria, HSM-CHLN, CAML (3) Serviço de Gastrenterologia, HSMCHLN, CAML 349 3 OBSTIPAÇÃO FUNCIONAL EM IDADE PEDIÁTRICA - EXPERIÊNCIA DE UMA CONSULTA INTEGRADA DE UM CENTRO TERCIÁRIO Sara Azevedo 1*,Cátia Pereira 2,Inês Asseiceira 3,Catarina Maltez 1, Ana Isabel Lopes 1, , Introdução e objectivos:As recomendações internacionais têm contribuido para uma abordagem uniformizada da obstipação funcional em pediatria, a qual constitui um problema extremamente comum em todos os níveis de cuidados, com impacto na qualidade de vida e com custos associados. Pretendeu-se caracterizar o perfil de uma consulta de referência de uma Unidade de Gastrenterologia Pediátrica.Material e métodos:Estudo retrospectivo descritivo de Julho2011-Julho2013; consulta de processos clínicos de obstipação(excluída obstipação orgânica), analisadas variáveis demográficas, referenciação, caracterização da obstipação, terapêutica instituída e resposta, taxa de abandono, taxa de altas e tempo de seguimento até resolução. Análise estatística descritiva simples (excel for Windows®).Resultados:106 doentes [Masc. 65(61,3%)],idade média na 1ªconsulta 6,9A(mediana 5,5A, max17,9A,min.0,8A).Proveniência: urgência 34%, Cuidados primários 16%, outras consultas de pediatria 18.9%, restantes 31,1%. Motivo de consulta:obstipação crónica 68/106(64,2%), incontinência fecal(IF) 32/106(30,1%),fissuras/rectorragias isoladas 6/106(5,7%), Antecedentes familiares de obstipação 40/106(41,5%), co-morbilidades: patologia do neurodesenvolvimento/psicológica 12/106(11,3%), patologia urinária 4/106(3,7%) obesidade 9/106 (8,5%). Idade média de início da obstipação (identificada em 73/10668,8%):30,9 meses (mediana18, min.0-máx 366,6).Manifestações clínicas associadas em 52/106(49.1%):dor abdominal 23/52(44,2%), rectorragias 30/52(57,6%),>1manifestação 11/52(21,1%). Tratamento previo com laxantes 49/106(46,2%). Na1ª consulta, exame fisíco positivo 71/106 (66.9%): corda colica 47/71(66,2%),alt.períneo 36/71(50,7)%, fecaloma 4/71(5,6%), >1 achado 19/71 (26,8%). Terapêutica: PEG 96,2%, necessidade de desimpactação em 21,7%. Resposta após 1º consulta 65/73(89.1%), abandono 33/106 (30,2%), [13/33(39,3%) após 1º consulta]. Altas 14/73(19,1%), nº de consultas até resolução/alta de obstipação: média 2,3/3,8 mediana 2/3 (mín1/2-máx.7/8) Tempo médio de seguimento até resolução/alta (meses):media 5,6/8,6, (mín.1/2-máx12/17).Grupo IF:32 casos (Masc.71,9%) idade(anos) mediana na 1º consulta 8(mim.4-máx17), em 13/32(42,4%) desconhecida duração de obstipação, nº de anos de obstipação prévia: mediana 12(mín1-máx16).Conclusão:A presente série é representativa da expressão clínica da obstipação funcional em idade pediátrica, salientando-se o nº de caso de IF. Apesar da elevada taxa de resposta à terapêutica com PEG, reconhece-se a necessidade de seguimento até total resolução. 1-Unidade de Gastrenterologia Pediátrica, 2-Serviço de Pediatria - Departamento de Pediatra, 3- Serviço de Dietética e Nutrição,HSM/CHLN 350 4 HEPATOMEGALIA E HIPERCOLESTEROLEMIA – EXPRESSÃO DE UMA PATOLOGIA METABÓLICA RARA OU SUBDIAGNOSTICADA Moreira Silva H, Labandeiro L, Ramon Vizcaíno J, Santos Silva E Introdução: A doença de acúmulo dos ésteres de colesterol (DAEC) é uma patologia metabólica rara, causada por um défice de lipase ácida (LA), resultando na acumulação de ésteres de colesterol (EC) predominantemente no fígado, baço, medula e macrófagos. É uma entidade com espectro clínico amplo. Na criança a apresentação é habitualmente mais grave, indolente, com evolução para cirrose hepática. Contudo, muitos casos permanecem subdiagnosticados até início da idade adulta, quando surgem complicações ateroscleróticas. Caso clínico: Criança do sexo feminino, previamente saudável e eutrófica, admitida aos 5 anos de idade por hepatomegalia (6cm, consistência mole) na ausência de esplenomegalia ou outros estigmas de doença hepática crónica. O pai era obeso, tinha hipercolesterolemia e elevação das enzimas hepáticas. Analiticamente a criança apresentava elevação das transaminases (AST:66 UI/L, ALT:109 UI/L), GGT:14Ul/L, hipercolesterolemia (266 mg/dl) e triglicerídeos normais. Ecograficamente o fígado tinha hiperecogenecidade difusa. Da investigação complementar: CK, glicose, bicarbonatos, lactato e ácido úrico normais; alfa-1-antitripsina, ceruloplasmina e cobre séricos normais. O doseamento das enzimas amilo-1,6glucosidase e fosforilase b kinase excluiu as glicogenoses tipo III, VI e IX. A atividade da LA nos leucócitos revelou-se diminuída, evocando o diagnóstico de DAEC. A evolução clínica foi no sentido da resolução da hepatomegalia, mantendo-se um padrão de esteatohepatite (ALT 2.5-4xN) e colesterol elevado(280-330 mg/dl). A histologia hepática aos 9 anos apresentava esteatose macro e micronodular, excluindo presença de fibrose. Aos 10 anos, a terapêutica com sinvastatina (10mg/d) foi adicionada ao programa de exercício físico, resultando numa normalização do perfil lipídico. Recentemente, confirmou-se a mutação em homozigotia no gene LIPA [c.894G>A(p.S275_Q298del)]. Conclusão: Apresentamos o caso clínico de uma criança com DAEC com envolvimento predominantemente hepático e evolução clínica favorável. O diagnóstico precoce é de crucial importância e, neste caso, permitiu uma correta abordagem da dislipidemia; nos fenótipos mais graves poderá permitir a instituição atempada do tratamento de substituição enzimática. Serviço de Gastrenterologia Pediátrica, Departamento da Criança e do Adolescente, Centro Hospitalar do Porto, Portugal. 351 5 AVALIAÇÃO DA INGESTÃO ALIMENTAR EM CRIANÇAS E JOVENS HOSPITALIZADOS Silva F., Asseiceira I., Mexia S., Patrício Z., Nunes P.A., Lopes A.I. Introdução e objetivo: A principal causa de desnutrição hospitalar relaciona-se com o aumento das necessidades energéticas associado à diminuição da ingestão alimentar durante o internamento. Vários estudos em adultos hospitalizados demonstraram que a ingestão alimentar real é inferior ao recomendado, sendo escassos os estudos sobre a avaliação da ingestão alimentar em crianças e jovens hospitalizados. Desde modo, o nosso objetivo foi avaliar em contexto de hospitalização a ingestão alimentar das crianças e jovens. Material e Métodos: Foi avaliada a ingestão alimentar nas 3 refeições principais diárias, através da pesagem de cada alimento constituinte da refeição antes e após a mesma, bem como as razões de uma ingestão alimentar inadequada durante um período de 3 dias consecutivos, em crianças e jovens internados num hospital terciário. Sumário dos Resultados: Durante os 3 dias do estudo, foram analisadas no total 128 refeições hospitalares e foi fornecido 74,264 kg de comida, da qual 29,601 kg (40%) foi desperdiçada. As 3 refeições principais forneceram uma média de 1576 ± 530 kcal, 96 ± 46 g de proteínas e 199 ± 68 g de glícidos por dia, no entanto apenas uma média de 987 ± 597 kcal, 61 ± 46 g de proteínas e 124 ± 71 g de glícidos foi consumido por dia. Para além disso, a principal razão reportada pelos doentes para uma ingestão alimentar inadequada relaciona-se com fatores associados à própria refeição hospitalar. Conclusões: As crianças e jovens hospitalizados têm uma ingestão alimentar inferior ao prescrito, devido não só a aspetos clínicos da doença, como também a fatores exógenos. Estes dados preliminares enfatizam a necessidade de mais evidência científica, em crianças e jovens hospitalizados, com um potencial impacto na abordagem e otimização do seu aporte nutricional. Serviço de Dietética e Nutrição do Hospital de Santa Maria - Centro Hospitalar Lisboa Norte 352 6 PROTEÍNA C-REATIVA ULTRASSENSÍVEL E OBESIDADE: CARACTERIZAÇÃO EM IDADE PEDIÁTRICA Silva, Sandra, Antunes, Henedina Introdução:A elevação crónica dos níveis de marcadores inflamatórios pode ser o mecanismo que liga a adiposidade aumentada, característica da obesidade, ao desenvolvimento de co-morbilidades, nomeadamente a resistência à insulina, diabetes mellitus tipo 2 e doenças cardiovasculares, como a aterosclerose. Dos marcadores inflamatórios envolvidos nesta associação, a Proteína C-reativa Ultrassensível (PCR-US), é o mais estável e é, também, o marcador independente e preditivo com maior associação com o risco cardiovascular. Objetivo:Estudar a associação entre PCR-US e o perfil antropométrico e metabólico de crianças seguidas por excesso de peso/obesidade numa consulta de Gastroenterologia. Métodos: A amostra inclui crianças das primeiras consultas para as quais havia resultado de PCR-US; realizadas entre 2 de fevereiro de 2011 e 11 de março de 2013. Foi critério de exclusão PCR-US >10mg/L por indicar uma possível inflamação. Resultados: As 103 crianças selecionadas tinham idades compreendidas entre os 3 e os 17 anos (mediana de 10 anos), sendo 53,4% do sexo feminino. Os níveis de PCR-US encontraram-se elevados em 28,2%. Encontrou-se uma correlação positiva entre PCR-US e o percentil de Índice de Massa Corporal (IMC) (p=0,021); a Razão Perímetro da Cintura Altura (RPCA) (p=0,009); a hemoglobina glicada (HbA1c) (p=0,047) e o HOMA-IR (HOmeostasis Model Assessment for Insulin Resistance) (p=0,006). Verificou-se uma associação inversa entre a PCR-US e o exercício físico (p=0,047). Não se encontraram diferenças estatisticamente significativas entre PCR-US e o colesterol total (p=0,245) nem LDL (p=0,473). Conclusão:A elevação da PCR-US nesta população de risco demostra que a inflamação e o consequente risco cardiovascular podem estar presentes e de forma independente de outros fatores, nomeadamente o colesterol, mesmo em idade pediátrica. Encontraram-se diferenças estatisticamente significativas com a elevação do IMC, a RPCA, a insulinorresistência e valores elevados de HbA1c. O aumento da frequência da prática de exercício físico mostrou ser fator protetor. Unidade de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, Hospital de Braga. 353 7 ALERGIA ÀS PROTEÍNAS DO LEITE DE VACA – PROVA DE PROVOCAÇÃO ORAL ANTES DOS 12 MESES DE IDADE? Patraquim, C., Neiva, F., Antunes, H. Objetivos: Caracterizar os casos de Alergia às proteínas do leite de vaca (APLV) seguidos na consulta de Gastroenterologia Pediátrica e determinar quanto os pais podem poupar em leite extensamente hidrolisado (LEH) quando a prova de provocação oral (PPO) é efetuada <12meses (M). Material: Estudo retrospetivo dos doentes observados na consulta entre outubro/2010-outubro/2013, segundo o protocolo da consulta: PPO >6M, exceto a pedido dos pais. Cálculos: custo de cada embalagem, LEH 20€/102 doses e fórmula para lactentes (FL) 10€/181 doses, conforme necessidades nutricionais de cada lactente. Análise estatística: teste Mann-Whitney. Sumário dos Resultados: Foram incluídas no estudo 64 crianças (59% sexo feminino). A mediana de idade de aparecimento dos sintomas foi de 3M (0,43-12M). Os sintomas mais frequentes foram cutâneos (n=37) e gastrointestinais (n=27). A FL foi o produto lácteo que desencadeou a clínica em 64% (FL hipoalergénica em 22%). Antecedentes familiares de atopia em parentes de 1ºgrau em 63%; 54% das crianças apresentaram doença atópica, nomeadamente dermatite atópica (82%). Foi efetuado doseamento da imunoglobulina E específica para PLV em 33 casos, 24 positivos. Quinze dos 20 casos com informação relativa à toma de FL na maternidade fizeram a 1ª toma de PLV nessa altura. A 1ª PPO foi positiva em 45% dos casos, tendo sido realizada a uma mediana de idade de 10M (3-39M). Quarenta crianças efetuaram a PPO <12M; em 25 casos negativa. Ao realizar a PPO <12M, cada lactente com resultado negativo poupou 326€ em LEH. A tolerância foi adquirida a uma mediana de idade de 12M (3-84M). Crianças com diarreia sanguinolenta adquiriram tolerância mais precocemente, mediana de idade de 8M (5-23M), do que grupo com sintomas cutâneos, mediana de idade de 14M (4-84M) (p=0,005). Conclusão: É seguro e pode ser proveitoso para as crianças e os pais fazer a PPO entre os 6 e 12M. Patraquim, C.1, Neiva, F.1, Antunes, H.1,2 1-Unidade de Gastroenterologia Pediátrica, Serviço de Pediatria, Hospital de Braga 2-Instituto de Ciências da Vida e da Saúde (ICVS), Escola de Ciências da Saúde da Universidade do Minho e Laboratório associado ICVS/3B’s, Braga/Guimarães 354 8 GASTROSTOMIA ENDOSCÓPICA PERCUTÂNEA: QUAL A INFLUÊNCIA NA QUALIDADE DE VIDA DE DOENTES E CUIDADORES Margarida F. Pimentel 1,Henedina Antunes 1 2, Conceição Antunes 3, 1Unidade de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica, Hospital de Braga,, 2Instituto de Ciências da Vida e da Saúde(ICVS), Universidade do Minho,, 3Departamento de cirurgia, Hospital de Braga. Introdução: A Gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) é o método ideal para alimentação entérica de longa duração para doentes com aporte oral insuficiente. Objetivos: Avaliar o impacto na qualidade de vida e na evolução ponderal da colocação da PEG, e registar a ocorrência de complicações para comparação com população padrão, que tenha efetuado antibioterapia e Nissen profilático. Material e Métodos: Análise retrospectiva dos processos clínicos de doentes em idade pediátrica submetidos a PEG, aos quais foi possível aceder à totalidade dos dados relativos a antropometria antes e durante os 3 anos subsequentes à PEG, uso de suplementos e complicações associadas. Para o estudo da qualidade de vida foi efetuado um inquérito telefónico ao cuidador principal. Resultados: Amostra de 23 doentes com uma mediana de idade de colocação da PEG de 7 anos (mínimo 0; máximo 16 anos) sendo 69,6% do sexo feminino. Possuíam doença neurológica 95,6%, dos quais 9 doentes apresentavam paralisia cerebral. Registaram-se complicações major em 2 doentes, contudo houve uma redução no número de internamentos, idas à urgência e de infeções respiratórias. Verificou-se ainda uma redução no tempo de duração das refeições com significado estatístico (p<0,001). A taxa de mortalidade associada a este procedimento foi de 0%. Conclusão: A PEG tornou-se um método alternativo de alimentação entérica viável e com boa aceitabilidade, dado que 18 dos 19 cuidadores inquiridos voltariam a tomar a mesma decisão. Não houve um aumento de complicações pelo não uso de antibioterapia ou Nissen profilático e registou-se ainda uma redução na morbilidade destes doentes. Palavras-Chave: Gastrostomia endoscópica percutânea (PEG); idade pediátrica; qualidade de vida; doentes; cuidadores. Hospital de Braga 355 Reunião Anual da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica Posters 1 INFLIXIMAB, ADENOFLEIMÃO ABDOMINAL, MICROABCESSOS ESPLÉNICOS E…SURPRESA ! Cancelinha, C., Maia, C., Almeida, S., Ferreira, R. Ao Infliximab está associado aumento do risco infeccioso, particularmente a reactivação de tuberculose latente. Caso clínico: adolescente com Doença de Crohn corticorresistente que iniciou infliximab no esquema clássico, um ano após o diagnóstico. Previamente teste IGRA (interferon gamma realease assay) negativo e Rx tórax normal. Sem contacto com tuberculose. Seis meses após infliximab surgiu febre, dor e empastamento na fossa ilíaca direita e aumento dos marcadores de infecção. A eco abdominal sugeriu adenofleimão no íleon terminal. Iniciou ciprofloxacina e metronidazol ev, com melhoria, mas agravamento clínico uma semana depois. A eco mostrou redução das dimensões do adenofleimão, sem ascite, mas revelou imagens sugestivas de microabcessos esplenénicos. Foi alargado espectro antibiótico (vancomicina, meropenem, fluconazol e metronidazol),com melhoria gradual ficando apirético em 2 semanas. Hemoculturas, coproculturas e serologias persistentemente negativas. Ecocardiografia: sem endocardite. Melhoria gradual das lesões esplénicas e resolução do adenofleimão em ecografia e entero-RM. A gravidade do quadro e o contexto de imunossupressão motivaram a realização de prova tuberculínica, que foi positiva e o teste IGRA também foi positivo. Rx tórax normal, pesquisa de BK no suco gástrico por biologia molecular negativa. A pesquisa de BK na mucosa do ileon terminal também foi negativa por biologia molecular. Cultura de BK em curso. O doente iniciou isoniazida e rifampicina. Neste caso clinico parecem coexistir duas complicações do tratamento com infliximab, pois não parece poder atribuir-se ao BK a etiologia do adenofleimão nem da metastização esplénica, uma vez que tudo resolveu sem terapêutica anti-BK. Considerando a incidencia de tuberculose no nosso pais e a dificuldade em excluir infecção latente após o início de imunossupressão, é importante a exclusão de tuberculose não apenas ao diagnóstico de doença inflamatória intestinal e antes do início de infliximab, mas porventura também durante o tratamento imunossupressor. Hospital Pediatrico Coimbra - CHUC EPE 356 2 SÍNDROME DE CAROLI - UMA CAUSA RARA DE HEPATOMEGALIA. Rangel MA, Santos H, Almeida T, Pinto Pais I, Costa C. Introdução: A doença de Caroli é uma malformação caracterizada pela presença de dilatações segmentares múltiplas da árvore biliar intra-hepática. Quando associada a fibrose hepática congénita, denomina-se síndrome de Caroli. O prognóstico depende de múltiplos fatores, como idade de início, frequência das complicações infecciosas e envolvimento renal. Caso Clínico: Criança de 6 anos, sexo masculino, antecedentes de prematuridade. Referenciada à consulta por quadro de distensão abdominal com 1 ano de evolução associada intermitentemente a fezes descoradas. Sem colúria, prurido ou abdominalgia. Ausência de consumo regular de eventuais tóxicos (fármacos ou chás). História familiar irrelevante. Evolução ponderal no P25, estatura <P5, (estatura genética P10) e adequado desenvolvimento psicomotor. Ao exame físico, fácies incaracterística, dedos curtos. Anictérico. Abdómen com hepatoesplenomegalia marcada, dura, e alguma circulação colateral. Restante exame normal. Analiticamente destacava-se: trombocitopenia (82000/uL); discreta elevação dos enzimas hepáticos (TGO 79U/L, TGP 55U/L, GGT 89U/L, FA e BT normais); normal síntese hepática. Ecografia abdominal revelou hepatomegalia de ecoestrutura difusamente heterogénea, individualizando-se 2 nódulos sólidos e hipoecogénicos e coleção fluida de conteúdo sonolucente, sugestiva de lesão quística intra-hepática; vias biliares intra-hepáticas ligeiramente proeminentes; esplenomegalia homogénea. Excluíram-se as principais causas infecciosas, auto-imunes, metabólicas e linfoproliferativas. No sentido de melhor caracterização das lesões ecográficas, realizou colangiorresonância apresentando sinais de hepatopatia crónica, dilatação das vias biliares e imagens quísticas intra-hepáticas com "central dot sign", associada a indícios de hipertensão portal secundária, sendo o quadro sugestivo de síndrome de Caroli. Rins sem apreciáveis alterações, excepto pequeno quisto renal esquerdo. Endoscopia digestiva alta subsequente revelou varizes esofágicas grandes, tortuosas, com prolongamento à pequena curvatura (GOV1), com lesões tipo “red spot” e neovasos. Dado risco hemorrágico iniciou profilaxia primária com beta-bloqueador. Discussão: Os autores apresentam um caso de síndrome de Caroli, diagnosticado em idade precoce, com complicações graves de hepatopatia crónica. A raridade da patologia torna a abordagem deste caso desafiante. Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia e Espinho 357 3 SÍNDROME ENTEROCOLITE INDUZIDA POR PROTEÍNAS ALIMENTARES, A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO. Ribeiro A., Moreira D., Pinto Pais I. , Costa C. INTRODUÇÃO A Síndrome Enterocolite Induzida por Proteínas Alimentares (SEIPA) é uma resposta sistémica grave a proteínas alimentares, não IgE-mediada, provocada habitualmente pelas proteínas de leite de vaca (PLV) e, mais raramente, por outras proteínas alimentares. CASO CLINICO Recém-nascido de termo, internamento às 15 horas de vida por hipoglicemia sintomática transitória, sem etiologia identificada. Aos 2 meses, iniciou quadro recorrente de febre, hiporreactividade, coloração azulada da pele, associada a vómitos e posteriormente dejeções diarreicas; laboratorialmente apresentava acidose metabólica, elevação dos parâmetros inflamatórios agudos, sem isolamento de agente. Fez aleitamento misto até à 2ª semana de vida e fórmula para lactentes até aos 3 meses, altura em que, durante um internamento, face à exuberância das manifestações gastrointestinais, iniciou fórmula extensamente hidrolisada (feH). IgEs específicas para PLV negativas. Prova de provocação oral com PLV, realizada aos 4meses, com reação duas horas após a ingestão da totalidade do aporte, motivo pelo qual permaneceu internado, tendo-se introduzido farinha não láctea 1 semana depois. Dois dias após o seu início, episódio de taquicardia, hipotensão e mau aspeto geral que reverteu após bólus de soro fisiológico, adrenalina e metilprednisolona; posteriormente registou-se pico isolado de febre, associado a vómitos e dejeções diarreicas. Após 48 horas de pausa alimentar reiniciou feH e, 3 dias depois, desenvolveu quadro semelhante. Neste sentido, e após exclusão de doença infecciosa, imunodeficiência e doença metabólica, colocou-se como principal hipótese de diagnóstico SEIPA, tendo como possíveis fatores desencadeantes as PLV e cereais. Realizou exames endoscópicos, sugestivos de enterocolite alérgica, e iniciou dieta elementar exclusiva, permanecendo assintomático. DISCUSSÃO Sendo uma síndrome de difícil diagnóstico pela sua raridade e ausência de achados clinico-laboratoriais específicos, torna-se um desafio clinico. Os autores pretendem assim, alertar para a sua possibilidade diagnóstica de modo a delinear uma estratégia racional para a detecção e orientação desta patologia. Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/Espinho 358 X Encontro da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Endoscopia e Gastrenterologia Comunicações Livres 1 ESTUDO RETROSPECTIVO DAS COMPLICAÇÕES ASSOCIADAS À COLOCAÇÃO DE PEG Pires, F., Rocha, M., Delsaut, M., Martins, N. A colocação de gastrostomia percutânea por via endoscópica tornou-se uma técnica largamente aceite para a manutenção de nutrição entérica em pessoas que são incapazes de satisfazer as suas necessidades dietéticas por via oral. Permanecendo, no entanto, com o trato gastro-intestinal intacto. Este método de inserção é rápido, requer um menor tempo de hospitalização e é menos dispendioso comparado com a colocação por via cirúrgica, contudo não é isento de complicações. As complicações associadas à colocação de gastrostomias percutâneas por via endoscópica podem ser minores (infecção da pele, hemorragia minor, formação de tecido de granulação, saída de conteúdo perisonda) ou major (fasceíte necrotizante, formação fistula colocutânea). O conhecimento prévio destas complicações e da sua frequência ajudam a equipa a prever e prestar cuidados mais específicos antes, durante e após a sua colocação. O objectivo deste estudo foi investigar a frequência das complicações observadas após a colocação de gastrostomia endoscópica percutânea (PEG) na instituição onde prestamos cuidados. Trata-se de um estudo retrospectivo e descritivo do universo de clientes submetidos a colocação de PEG no período de Janeiro de 2012 a Março de 2014. As principais complicações observadas foram: formação de tecido de granulação, infecção da pele periestoma, presença de eritema peri-estoma, exteriorização acidental e perda de conteúdo gástrico pelo estoma. Das várias complicações observadas após a colocação de PEG a formação de tecido de granulação foi a mais frequente (42%). Estas complicações podem não ser passíveis de prevenção, no entanto o conhecimento das mesmas associado à atenção com as características individuais de cada pessoa, ajudam a definir estratégias e desenvolver protocolos de cuidados visando a prevenção e controlo dessas complicações, melhorando assim a qualidade de vida dos clientes submetidos à colocação de PEG. Hospital Beatriz Angelo 359 2 ABORDAGEM AO UTENTE COM PAPILOMA VÍRUS HUMANO- CONSULTA DE ENFERMAGEM NA PROTOLOGIA Freire, A;, Rodrigues, E;, Gonçalves,N;, Mena,C;, Cunha,I;, Lima, J;, Silva, B;, Rodrigues,M;, Ferreira, S;, Carvalho,A;, Pedregal,S;, Serrano,A;, Barros, S. O Papiloma Vírus Humano (HPV), entre as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) é a infecção sexual com maior frequência na consulta de Protologia. As suas sequelas, modos de transmissão e comprometimento na qualidade de vida dos utentes/parceiros sexuais, tem importantes implicações na saúde da população envolvida, assim como, um enorme impacto social e económico, exigindo dos profissionais de saúde uma abordagem multifatorial. Sentimos por isso, a necessidade de refletir e intervir sobre a nossa prática, no sentido de atualizar procedimentos e conseguir implementar uma consulta de enfermagem em protologia nos doentes com HPV, que objetiva instruir/ensinar o utente acerca: das doenças sexualmente transmissíveis (HPV), sua prevenção, tratamento, complicações, e ainda, envolver a família/cônjuge no intuito de minimizar o estigma relativo à doença e modificar comportamentos de risco. As intervenções de enfermagem mais relevantes, assentam essencialmente nas diferentes abordagens terapêuticas, na promoção de estratégias de redução de risco, bem como, na capacitação do utente para gerir a sua doença. Com o desenvolvimento de vacinas anti-HPV, torna-se relevante compreender a incidência e duração das infecções no homem no sentido de desenvolver abordagens de prevenção com boa relação custo/eficácia, tendo o enfermeiro um papel fulcral nas mudanças que desejamos introduzir. A implementação da consulta de enfermagem é facilitadora para o estabelecimento de uma relação de confiança entre o utente/enfermeiro, permitindo a implementação das intervenções de enfermagem nas diferentes dimensões: física, psicológica, familiar e social do utente com HPV. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 360 3 INSUFLAÇÃO COM DIÓXIDO DE CARBONO: LUXO OU NECESSIDADE NA ENDOSCOPIA DIGESTIVA? Sousa C., Bré R., Teixeira V. Introdução: A insuflação com dióxido de carbono (CO2) tem sido proposta como uma alternativa à insuflação com ar ambiente, na endoscopia digestiva. Na nossa Unidade começamos recentemente a utilizar a insuflação com CO2. Objectivos: Rever as vantagens, eficácia e segurança da insuflação com CO2 nos procedimentos endoscópicos. Material: Pesquisados artigos dos últimos 5 anos sobre a temática da insuflação com CO2 na endoscopia digestiva. Em 2009 Dellon ES, et al concluíram que na colonoscopia, CPRE e enteroscopia a insuflação com CO2 é segura, não se verificando eventos pulmonares adversos; há menor incidência de dor pós-procedimento, menor distensão abdominal e menor flatulência nos grupos de utentes com insuflação com CO2. Na colonoscopia é consistente que a insuflação com CO2 está associada a menor dor e distensão abdominal, sem reacções adversas (Wu J, HU B., 2012 e Cleland A et al, 2013). A insuflação com CO2 durante a enteroscopia provoca menor dor pós-procedimento, principalmente em utentes com história de cirurgia abdominal prévia (Lenz P et al, 2014). Na ressecção de lesões grandes do cólon é também aconselhada a insuflação com CO2, porque reduz a dor e distensão pós-exame, reduzindo a taxa de admissão pós-procedimento (Bassan MS et al, 2013). Na CPRE os últimos estudos assumem que a insuflação com CO2 além de segura, reduz a dor e desconforto pós-CPRE (Cheng Y, et al, 2012). Resultados: A insuflação com CO2 é segura e eficaz. Diminui a dor, flatulência e distensão abdominal pósprocedimento, quando comparada com a insuflação com ar ambiente. Contribui para um maior conforto do utente e consequentemente um menor tempo de recobro, o que confirmamos numa avaliação precoce nos nossos utentes. Conclusões: Embora a nossa experiência com insuflação com CO2 seja reduzida as impressões iniciais são positivas, levando-nos a considerar que a sua utilização deveria ser alargada na nossa prática diária. Centro Hospitalar do Alto Ave E.P.E. - Unidade Guimarães Serviço Gastrenterologia - Unidade de Endoscopia Digestiva 361 4 EMERGÊNCIA DO CUIDAR NA RUPTURA DE VARIZES COM RECURSO A PRÓTESE METÁLICA Cunha,I;, Lima,J;, Carvalho, A;, Pedregal,S;, Gonçalves,N;, Mena,C;, Freire,A;, Silva,B;, Rodrigues,E;, Ferreira,S;, Rodrigues,M;, Serrano,A;, Barros,S., , As varizes esofágicas são uma das principais causas de urgência por hemorragia digestiva alta. Este tipo de hemorragias está associada a uma alta taxa de mortalidade. Para o seu tratamento podem ser utilizados métodos mecânicos e terapia por injecção de fármacos, contudo o sucesso de tratamento destes utentes depende de um rápido controlo da hemorragia. Assim, a colocação de próteses metálicas auto-expansíveis totalmente recobertas para o tratamento de varizes esofágicas sangrantes é uma técnica inovadora que deve ser usada em situações de emergência e em utentes de alto risco. Este procedimento não envolve grandes riscos e conduz a uma imediata hemostase. As intervenções de enfermagem no procedimento são focadas no controlo do ambiente, na redução da ansiedade e na prevenção do choque. Objectivo: Descrever a técnica e intervenções de enfermagem no controle da hemorragia por varizes esofágicas com a colocação de prótese metálica auto-expansível totalmente recoberta. Metodologia: Estudo de caso de utente do sexo masculino, 50 anos, com diagnóstico de cirrose hepática por hepatite B crónica desde à 5 anos resultando numa hipertensão portal e no surgimento de varizes esofágicas. Em contexto de urgência, na medida em que apresentava hemorragia activa e o utente já se encontrava em programa de tratamento para erradicação de varizes esofágicas, foi aplicada a prótese de forma a estabilizar hemodinamicamente o utente. Conclusão: A utilização de próteses metálicas auto-expansíveis totalmente recobertas para controlo de hemorragia digestiva alta provocada por varizes esofágicas mostrou ser uma alternativa terapêutica segura e eficaz a considerar, o que exige da equipa de enfermagem uma constante actualização dos seus conhecimentos de forma a prestar cuidados responsáveis visando a optimização, segurança e qualidade em endoscopia digestiva. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 362 5 SEDAÇÃO EM COLONOSCOPIA POR NÃO ANESTESISTAS Ana Sofia Dias, Sónia Pereira INTRODUÇÃO: Estudos anteriores na Europa demostraram que a administração de propofol por não anestesistas podia ter a mesma qualidade, com benefícios ao nível da satisfação do utente e do endoscopista, diminuindo o tempo de recobro, sem nunca comprometer a segurança do utente. Foram criadas guidelines para administração de propofol por não anestesistas para endoscopias gastrointestinais (NAAP), pela Sociedade Europeia de Endoscopia Gastrointestinal (ESGE) e pela Sociedade Europeia de Enfermeiros de Endoscopia Gastrointestinal (ESGENA). OBJECTIVOS: Avaliar o grau de satisfação dos utentes após o exame com sedação por um NAAP; avaliar o tempo de recobro; verificar a incidência de eventos adversos ou sentinela e descrever os cuidados prestados por enfermeiro que faz sedação com propofol em colonoscopia. MATERIAL E MÉTODOS: Foi feito um treino com 60 indivíduos, escolhidos aleatoriamente, que foram propostos para realização de colonoscopia. Foram realizados registos de monitorização pré-definidos. RESULTADOS: Foram realizadas 56 colonoscopias, tendo havido efeitos adversos minor em 31,4%. Os mais frequentes são a hipoxemia e hipotensão com incidência de 16,1% e bradicárdia em 8,9%. Não houve eventos sentinela. O tempo médio de recobro foi 57 min; 80% dos utentes tiveram dor 0 (escala da dor 0-10); 91% apresentava amnésia para o procedimento; 97,7% recomendariam esta sedação a um familiar e todos estavam dispostos a repetir a colonoscopia. 78,6% ficaram totalmente satisfeitos e 21,4% muito satisfeitos. CONCLUSÕES: A sedação por NAAP em colonoscopia é eficaz e segura, tendo em conta a baixa incidência de eventos adversos minor e pela não ocorrência de eventos sentinela. Com a aplicação deste procedimento contribuímos para melhorar o conforto dos utentes, diminuindo o tempo de recobro, mantendo a segurança e a qualidade dos exames efetuados. Conseguimos também, prestar cuidados de enfermagem de excelência, com um seguimento de todo o percurso do utente durante o seu exame. Serviço de Gastroenterologia do Hospital Beatriz Ângelo 363 6 CONSULTA DE ENFERMAGEM A UTENTES COM PEG: ESTUDO RETROSPECTIVO SOBRE PREVENÇÃO E GESTÃO DE COMPLICAÇÕES A CURTO-MÉDIO PRAZO Femenia M., Machado V., Severiano S., Sousa L. Introdução: Os utentes oncológicos com ostomias de alimentação constituem um grupo com particular risco de vulnerabilidade, inerente ao procedimento endoscópico, aos cuidados com o estoma e com a alimentação, assim como possíveis complicações. A intervenção de Enfermagem tem início na fase précolocação de gastrostomia, na triagem e preparação dos utentes propostos; durante o procedimento endoscópico; e posteriormente, com consultas periódicas até à remoção da PEG e encerramento do estoma. Objectivos: Caracterizar os utentes inscritos na consulta de Enfermagem de PEG, complicações a curto-médio prazo e intervenções, de modo a identificar focos de intervenção, com vista à excelência do Cuidar. Metodologia: Estudo descritivo e retrospectivo, com dois momentos de avaliação de complicações e intervenções de Enfermagem: 7 e 37 após o procedimento. Resultados: A população de utentes com PEG é constituída por 155 indivíduos, a maioria do sexo masculino (87%), com idades entre os 30 e os 86 anos (média de 58 anos). Os diagnósticos são principalmente do foro da Otorrinolaringologia (97%). O principal motivo de colocação é a profilaxia da desnutrição associada aos efeitos adversos da QRT. Em relação às complicações, no primeiro momento de avaliação (7 dias), cerca de 70% dos utentes não apresentaram complicações. Dos restantes, a complicação mais relevante foi a presença de sinais inflamatórios (22%). Após um mês, esta percentagem manteve-se (21%), surgindo os granulomas (13%) como importante intercorrência. A intervenção de Enfermagem focou-se na capacitação do utente para o auto-cuidado, com concomitante intervenção específica nas complicações, como desinfecção de estomas com sinais inflamatórios ou cauterização de granulomas. Conclusões: A Enfermagem de Endoscopia Digestiva desempenha um papel fulcral na preparação do utente, na sua adaptação à PEG, na capacitação para o auto-cuidado e na gestão de complicações decorrentes. Unidade de Técnicas Endoscópicas de Gastrentologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E. 364 7 INTERVENÇÃO DA ENFERMAGEM ATRAVÉS DE UMA CONSULTA NA MELHORIA DOS INDICADORES DE QUALIDADE NA COLONOSCOPIA Santos, I., Almeida, A., Martins, M., Santos, S., Teixeira, C., Nunes, P. Introdução: A consulta de Enfermagem visa a prestação de informação ao cliente acerca do exame endoscópico (colonoscopia), com vista a colmatar as dúvidas do mesmo e aumentar a sua satisfação. Assim, o enfermeiro assume um papel preponderante na educação e promoção da saúde, através de uma consulta telefónica ou presencial, sendo os registos fundamentais para a prestação de cuidados com qualidade. Objetivos: Melhorar a experiência do cliente; Melhorar a qualidade da preparação intestinal, com vista a aumentar a qualidade dos resultados; Diminuir potenciais riscos, associados a erros alimentares ou terapêuticos; Aumentar a taxa de adesão e diminuir o número de desmarcações por dificuldades com a preparação. Material: Análise prospectiva das colonoscopias realizadas em 4 meses (11-2013 a 02-2014). Avaliação da preparação intestinal, pela escala de Boston, comparando clientes que foram ou não submetidos a consulta. Avaliação do grau de satisfação dos clientes com a consulta de enfermagem através de inquérito. Sumário dos resultados: Nos 4 meses analisados foram realizadas: 652 – Colonoscopias; 476 – Colonoscopias com avaliação da escala de preparação intestinal; 363 – Colonoscopias após consulta de enfermagem; Média dos resultados da preparação (Escala de Boston): Clientes com consulta realizadas: 7,63 Clientes sem consultas realizadas: 7.25; p< 0.016; 93% dos clientes referem nível Muito Bom ou Excelente como grau de avaliação da consulta de enfermagem; Conclusão: Clientes sujeitos a consulta de enfermagem apresentam um valor médio para preparação intestinal superior 7,63 vs 7,25 (com p estatisticamente significativo); 93% dos clientes avaliam como Muito Boa ou Excelente a satisfação relativamente à consulta de enfermagem; A média de todas as preparações avaliadas sugere que a preparação intestinal é adequada; Unidade de Exames Especiais - Hospital CUF Porto 365 8 HIGIENIZAÇÃO DE UMA UNIDADE DE ENDOSCOPIA DIGESTIVA - COMO MONITORIZAR Bré R.,Sousa C.,Teixeira V. Introdução: As Unidades de Endoscopia Digestiva (UED) são áreas de cuidados semi-críticas/críticas, exigindo uma rigorosa monitorização dos procedimentos de limpeza e desinfecção de forma a reduzir o risco de infecção.Objectivos: Rever e actualizar conceitos e conhecimentos relacionados com a higienização de uma UED e reconstruir protocolos para uniformizar e monitorizar a actuação nos procedimentos de limpeza e desinfecção.Material: Realizada uma acção de formação em serviço direccionada aos assistentes operacionais responsáveis pelas tarefas de higienização, e aos enfermeiros responsáveis pela supervisão da actuação dos assistentes operacionais. Esta acção de formação baseou-se nas recomendações preconizadas pela Direcção Geral de Saúde e validadas pela Joint Comission International. Na acção de formação foram implementados novos protocolos de actividades de limpeza e desinfecção, tendo em conta as características e especificidades das diferentes áreas da UED: hospital dia; vestiários; recobro; salas de exame; sala de reprocessamento; sala de sujos. Respeitando os protocolos foram criados calendários para as actividades de limpeza e desinfecção, quer sejam diárias, semanais, mensais e semestrais. De forma a monitorizar eficazmente a realização correcta destas actividades foram elaboradas folhas de registo específicas, colocadas em cada uma das áreas a higienizar.Resultados: Na sequência da actualização de conhecimentos e revisão de conceitos importantes relativos às actividades de higienização de uma UED, verificou-se maior responsabilização e cumprimento por quem executa as tarefas de higienização mas também por quem supervisiona. Constatou-se diminuição do erro com aumento do rigor e uma uniformização na actuação dos procedimentos implementados.Conclusões: A equipa de enfermagem tem um papel fundamental na manutenção de Unidades de Cuidados limpas e desinfectadas, contribuindo para a diminuição do risco de infecção. Constata-se que a existência de protocolos, calendarização e folhas de registo contribuem para o cumprimento das actividades de limpeza e desinfecção e para uma correcta e rigorosa monitorização das mesmas. Unidade de Endoscopia Digestiva do Centro Hospitalar do Alto Ave - Guimarães 366 9 O PAPEL DOS ENFERMEIROS NOS ENSAIOS CLÍNICOS: A NOSSA REALIDADE! Marlene Andrade*, Rui Carneiro, Paula Lago, Marta Salgado Introdução: Um ensaio clínico é um processo de investigação científica que tem como objetivo obter ou aprofundar conhecimentos sobre fármacos, procedimentos ou métodos de diagnóstico, entre outro. As equipas de investigação são multidisciplinares e o Enfermeiro tem um papel muito importante nesta equipa, através da sua função assistencial e do seu papel na operacionalização do protocolo. Objetivos: Contribuir para uma reflexão sustentada nas nossas experiências enquanto investigadores de um ensaio clínico. Material e Métodos: A propósito de dois ensaios clínicos realizados no serviço num determinado período descrevendo de forma detalhada todo o procedimento. Resultados: O enfermeiro que atua em ensaios clínicos possui diversas funções durante a condução do protocolo de estudo, nomeadamente: acolhimento do doente; avaliações físicas; recepção de fármacos para o doente; administração de fármacos; colheita de sangue para avaliações laboratoriais de rotina para laboratório local; acondicionamento e armazenamento do material biológico às temperaturas adequadas; envio dos produtos biológicos e documentos de registo do doente pela equipa de transporte para a unidade de análise de dados; colaboração em exames endoscópicos. Conclusão: A realização de ensaios clínicos é fundamental para gerar informação de segurança e eficácia nos cuidados de saúde. Para que haja sucesso o Enfermeiro Investigador deve conhecer detalhadamente o protocolo de estudo e os seus objetivos por forma a não ocorrerem erros, sendo um elemento importante na relação com os outros investigadores, nomeadamente com o Investigador principal do projeto. Centro Hospitalar do Porto- Hospital de Santo António ( Centro de Endoscopia Digestiva) 367 10 NÃO CONFORMIDADES NA COMUNICAÇÃO – SINAIS DE ALERTA Silva,B;, Serrano,A;, Mesquita,S;, Nunes,T;, Gonçalves,N;, Cunha,I;, Lima,J;, Carvalho, A;, Pedregal,S;, Mena,C;, Freire,A;, Rodrigues,E;, Ferreira,S;, Rodrigues,M;, Barros,S., O Centro de Endoscopia Digestiva é um Serviço com características complexas específicas e especiais de dinâmica e funcionamento, dando resposta a solicitações internas e externas. O grande volume de informação, a envolvência de uma equipa multidisciplinar, a diversidade de cuidados fazem com que exista uma constante necessidade de actualização e troca de informações entre utentes, familiares e profissionais de saúde. A existência de processos de comunicação dinâmicos e eficazes permitem uma prestação de cuidados de qualidade e segurança. Este trabalho surge da necessidade detectada pela equipa de enfermagem na perspetiva de ultrapassar lacunas existentes na dimensão da comunicação. Pretende-se avaliar a percepção da dimensão da comunicação nos cuidados pela equipa, no momento de Pré, Intra e Pós procedimento endoscópico; identificar situações com risco de ocorrência para falhas no processo de comunicação; Identificar estratégias para efectuar a troca de informações relevantes para assegurar a continuidade e a segurança dos cuidados. Trata-se de um estudo quali-quantitativo tipo exploratório, com recurso a formulário electrónico (8 perguntas fechadas, 1 pergunta aberta). Os dados foram tratados recorrendo à estatística descritiva e análise de conteúdo. A amostra foi constituída por 18 Enfermeiros. Neste estudo 94%(N=17) considera que o instrumento de registos existente, permite uma sistematização e continuidade de cuidados; 89%(N=16) considera que a informação transmitida pelo Enfermeiro da Sala do Procedimento e do Recobro, é efectuada de forma clara e objectiva, sempre e às vezes. Em relação às estratégias sugeridas, emergiram da análise de conteúdo 4 categorias (Organização; Recursos; Sensibilização e Orientações), 12 unidades de Registo (Agendamento, Espaço Fisico, Materiais, Humanos, Comunicação interdisciplinar, uso de instrumento de registos de enfermagem, ambiente, momento de alta clinica, cuidados no domicilio, cuidados no recobro, fluxo de informação relevante, definição de regras) de 44 Unidades de Enumeração. Em síntese, este trabalho é um instrumento de análise e reflexão dos sinais de alerta na área da comunicação, traduzindo-se num fio condutor de mudanças de estratégias para a melhoria da comunicação e cuidados no Centro de Endoscopia. Permitiu-nos também abrir campos de abordagem, para caminhos futuros na área da Formação em Serviço. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 368 11 ABORDAGEM ENDOSCÓPICA TRANSMURAL NA NECROSECTOMIA PANCREÁTICA – DA EVIDÊNCIA Á EXCELÊNCIA Mena,C;, Freire,A;, Gonçalves,N;, Cunha,I;, Lima,J;, Silva,B;, Rodrigues,E;, Ferreira,S;, Rodrigues,M;, Carvalho, A;, Pedregal,S;, Serrano,A;, Barros,S., A pancreatite aguda necrosante é uma patologia severa de múltiplas etiologias, que pode em algumas circunstâncias evoluir com a formação de coleções peri-pancreáticas e o desenvolvimento de necrose. A ocorrência de infecção da necrose é um evento sério e constitui uma indicação para se realizar Necrosectomia. Tradicionalmente este procedimento era realizado cirurgicamente, estando associado a elevada morbilidade e mortalidade. Na última década, surgiram alternativas como drenagem percutânea e endoscópica, minimamente invasivas e com elevadas taxas de sucesso e baixa mortalidade. Uma das opções endoscópicas para a drenagem da necrose pancreática é a drenagem transmural (gástrica ou duodenal) sob controlo ultrassonográfico(NET). Esta constitui uma técnica terapêutica de drenagem, irrigação e remoção do material necrótico encapsulado, sendo realizado sob controlo endoscópico direto através de orifícios criados transluminalmente. Com este trabalho pretendemos expor um caso prático da NET, com utilização de prótese biliar metálica com flap autoexpansível as intervenções de enfermagem inerente ao procedimento. Abordaremos também, o guia de orientação com o intuito de uniformizar os cuidados de enfermagem. A implementação de intervenções de enfermagem na NET devem ser eficazes e eficientes, de forma, a dar resposta às necessidades do utente, bem como minimizar os riscos relacionados com o procedimento. Reconhecemos que guias de orientação das intervenções de enfermagem (interdependentes e autónomas) assentam na evidência científica, potenciando a excelência dos cuidados de enfermagem. Este trabalho objectiva a descrição de um conjunto de intervenções atualizadas, devidamente sistematizadas e metódicas, que anuam numa visão multidimensional da prática de enfermagem. A drenagem da transmural sob controlo ultrassonográfico da NET com colocação de prótese metálica com flap autoexpansível, revela-se um procedimento eficaz, exigindo uma coordenação entre equipa médica e de enfermagem sendo importante a sistematização das intervenções, proporcionando cuidados de saúde de excelência. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 369 X Encontro da Associação Portuguesa de Enfermeiros de Endoscopia e Gastrenterologia Posters 1 PROGRAMA DE VIGILÂNCIA APÓS TRATAMENTO DO CANCRO DO CÓLON E RETO Pampulha M., Pereira N., Soares C. Segundo as estimativas da Organização Mundial de Saúde (2012), o cancro do cólon e reto (CCR) é a maior causa de morte oncológica em Portugal. A vigilância intensiva do CCR após tratamento de intenção curativa tem permitido detetar em fase assintomática, a recorrência da doença. Para tal, foi implementado um programa de vigilância, que se desenvolve ao longo de cinco anos, de acordo com um protocolo instituído. Objetivos: Descrever a população de utentes inseridos no programa de vigilância intensivo após tratamento de CCR, num centro oncológico, no período de 03/2008 a 03/2013. Metodologia: Estudo descritivo, prospetivo e retrospetivo, com uma abordagem quantitativa, através da análise da base de dados dos utentes inseridos no programa de vigilância, sendo utilizada a escala TNM (National Comprehensive Cancer Network, 2010) para a classificação do estadiamento do CCR. Resultados: A amostra total foi de 312 utentes, 61.2 % do sexo masculino e 38.8 % do sexo feminino, com uma média de idade de 64.14 anos, dos quais 14.1 % terminaram o programa de vigilância sem qualquer intercorrência. A localização do tumor primitivo foi 51.9 % no Cólon e 48.1 % no Reto e Junção Retosigmoideia, sendo o estadio predominante o IIA (48.4%) e o IIIB (36.5%). Foram diagnosticadas 32 recidivas (10,3 %), ocorrendo predominantemente no primeiro (28.1 %) e no segundo ano (59.4%) de vigilância, sendo detetadas através de CEA (40.6 %), CA19.9 (6.3 %), CEA e CA19.9 (12.5 %), TAC (34.4 %) e Colonoscopia (6.3 %). Conclusões: Este estudo permitiu caracterizar 312 utentes inseridos no programa de vigilância, predominando os do sexo masculino e os grupos etários acima dos 57 anos. Relativamente às recidivas predominaram as metástases hepáticas e pulmonares, havendo maior incidência no 2º ano de vigilância, sendo os métodos de diagnóstico mais relevantes o marcador tumoral CEA e a TAC. Unidade de Técnicas Endoscópicas de Gastrenterologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa Francisco Gentil EPE 370 2 UTILIZAÇÃO DE CLOROHEXIDINA NA DESINFECÇÃO DE ESTOMAS DE PEG COM EXSUDADO: INDICADORES DE RESULTADO DO ANO 2013 Femenia M., Machado V., Severiano S., Sousa L. Introdução: Os utentes oncológicos submetidos a Gastrostomia Percutânea Endoscópica podem apresentar complicações relacionadas com o procedimento endoscópico ou com a manutenção da ostomia de alimentação. Uma das principais complicações é a infecção do estoma. A Enfermagem ocupa uma posição privilegiada na prevenção primária e secundária, através de intervenções autónomas, como a promoção do auto-cuidado e capacitação do utente para identificação e gestão de sinais inflamatórios, supervisionadas em consultas periódicas, mas também intervenções interdependentes, em caso de exames culturais positivos e necessidade de antibioterapia. Objectivos: Descrever os resultados da utilização da clorohexidina na desinfecção de estomas de PEG com exsudado. Metodologia: Estudo descritivo e retrospectivo da aplicação de clorohexidina a utentes com sinais inflamatórios no estoma da PEG, com identificação de agentes microbianos através da colheita de exsudado com zaragatoa. Resultados: No ano de 2013, na consulta de Enfermagem a utentes com PEG, foram identificados 84 utentes com presença de exsudado passível de colheita para zaragatoa, em 127 situações. O exame cultural apresentou-se negativo em 29 zaragatoas. Nas restantes, foram identificados 27 agentes, com 174 ocorrências, dos quais os mais comuns foram Staphylococcus aureus (29) e Pseudomonas aeruginosa (21). Dos agentes fúngicos, o mais comum foi a Candida albicans (15). A desinfecção diária do estoma com clorohexidina foi transversal a todos os utentes. Em 62 situações, não foi necessário o tratamento com antibiótico, por diminuição dos sinais inflamatórios. Destas 62 situações, 12 tiveram exame cultural negativo, o que sugere que, em 50 ocorrências de infecção com identificação de agente microbiano, a desinfecção com clorohexidina foi suficiente para debelar a infecção. Conclusões: Na Consulta de Enfermagem a Utentes com PEG, a clorohexidina tem-se revelado como um importante agente no controlo das infecções do estoma. Unidade de Técnicas Endoscópicas de Gastrentologia do Instituto Português de Oncologia de Lisboa, Francisco Gentil, E.P.E. 371 3 CONSULTA DE ENFERMAGEM EM PROTOLOGIA – UM FUTURO Freire,A, Rodrigues,E., Gonçalves,N., Mena,C., Lima,J., Cunha,I., Silva,B., Ferreira,S., Rodrigues,M., Carvalho, A;, Pedregal,S;, Serrano,A;, Barros,S. A procura da excelência no nosso agir profissional visa contribuir para aprofundar cada vez mais a natureza dos cuidados de enfermagem. Sentimos por isso, a necessidade de reflectir e intervir sobre a nossa prática, enquanto agentes de mudança na construção de um modelo de cuidados de excelência na área da Protologia. O papel do enfermeiro nesta consulta passa por esclarecer, implicar e envolver os utentes na gestão da doença hemorroidária e minimizar o impacto que esta tem na sua vida quotidiana. As intervenções de enfermagem visam implementar mudanças no estilo de vida do utente, ensinar acerca de medidas higieno-dietéticas, medidas não farmacologias do controlo da dor e gestão do regime medicamentoso, especialmente no seguimento da laqueação elástica. Actualmente a busca da eficácia e eficiência nos cuidados de saúde implica o envolvimento e motivação de todos os seus agentes, bem como, a optimização de recursos, traduzindo-se em ganhos para todos aqueles que deles beneficiam. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 372 4 IMPORTÂNCIA DO \"REAL-TIME\" E DA RE-COLOCAÇÃO ENDOSCÓPICA DA CÁPSULA EM DOENTES COM ANTECEDENTES CIRÚRGICOS Almeida A., Martins M., Santos I., Santos S., Teixeira C. , Pinho R. Introdução:A Enteroscopia por cápsula ou videocápsula é um método de diagnóstico que consiste na utilização de uma pequena cápsula com uma câmara incorporada que vai captando imagens do tubo digestivo durante a vida útil da bateria, idealmente desde que é deglutida até atingir o cólon. Em algumas situações como o caso de doentes com antecedentes cirúrgicos, poderá ocorrer retenção prolongada da cápsula no esófago ou estômago.A observação das imagens da cápsula em tempo real (designado “real time”) permite detetar precocemente estas situações. Nestes casos, poderá realizar-se uma endoscopia digestiva alta para colocação da cápsula no duodeno em tempo útil de modo a maximizar a duração da bateria para capturar imagens do intestino delgado. Objetivo:Demonstrar dificuldade ou intercorrências frequentes na realização da cápsula endoscópica e formas de resolução. Material e Método:Torre videoendoscopia;Cápsula endoscópica;Ansa polipectomia; Sumário dos Resultados:Cliente de 49 anos, sexo masculino que vem realizar enteroscopia por cápsula por hemorragia digestiva obscura. Tem antecedentes de esofagectomia distal com esófago-coloplastia por interposição de cólon transverso entre o coto esofágico e o estômago, com piloroplastia. No “real-time” detectou-se precocemente retenção da cápsula no neo-esófago. Realiza-se então endoscopia, onde se verificou presença da vídeo cápsula no segmento de interposição cólica. Através da utilização de uma ansa de polipectomia, a cápsula foi transportada através do segmento de interposição cólica, estômago e piloro, até ao duodeno. Conclusão: Exame realizado com sucesso e com importante contributo do enfermeiro, que desempenha um papel crucial junto do cliente e na realização da técnica. Unidade de Exames Especais - Hospital CUF Porto 373 5 REPROCESSAMENTO EM ENDOSCOPIA DIGESTIVA - ELABORAÇÃO DE MANUAL Teixeira C., Comenda E., Costa L., Fernandes F. Introdução: Segundo a DGS 2012, a desinfeção apropriada de material e equipamentos utilizados em endoscopia digestiva é fulcral nos programas de segurança e qualidade das instituições de saúde. Logo, o serviço dá enfase à formação da equipa, de modo a desenvolver práticas que conduzam à excelência. Objetivos Promoção de boas práticas, com vista à segurança e qualidade no reprocessamento em endoscopia digestiva; Desenvolver um manual com as recomendações de todos os passos, para a correta desinfeção dos endoscópios. Material: Pesquisa bibliográfica e fundamentação na Orientação DGS 008 de 2012, com posterior elaboração de manual e póster que foi colocado na sala de desinfeção. Sumário dos resultados: Sensibilização de todos os profissionais envolvidos na desinfeção, assim como, na integração de novos elementos na equipa. Realização de formações interna assim como auditorias aos profissionais da equipa envolvidos na desinfeção e reprocessamento de equipamentos endoscópicos. Conclusões: Na Unidade de Endoscopia Digestiva, todos os elementos da equipa envolvidos no reprocessamento endoscópico regem-se pelas normas nacionais e estão despertos para a importância da mesma para a qualidade e segurança do serviço. Unidade de Exames Especiais - Hospital CUF Porto 374 6 INTERVENÇÃO NO UTENTE COM HEPATITE C EM REGIME DE RECLUSÃO- DESAFIOS Gonçalves,N;, Fidalgo, I;, Cunha,I;, Lima,J;, Carvalho, A;, Pedregal,S;, Mena,C;, Freire,A;, Silva,B;, Rodrigues,E;, Ferreira,S;, Rodrigues,M;, Serrano,A;, Barros,S., Os reclusos independentemente da natureza da sua agressão mantêm o direito a usufruir do acesso aos cuidados de saúde. A população prisional tem problemas graves de saúde, tais como a toxicodependência, alcoolismo, doenças infecto-contagiosas, entre outras, a hepatite C. Os Enfermeiros dos Estabelecimentos Prisionais/ Centros Hospitalares, em parceria, deverão centrar os seus cuidados, de acordo com as necessidades do utente com hepatite C em contexto de prisão. No tratamento da hepatite C o foco de atenção é a adesão terapêutica, promoção e educação para a saúde, sendo o momento da reclusão uma oportunidade para a participação ativa do recluso no seu plano terapêutico e projeto de saúde. A organização e o plano dos cuidados de enfermagem ao recluso com hepatite C reporta-se à: articulação entre enfermeiros dos estabelecimentos prisionais/ centros hospitalares; autocapacitação do utente recluso; educação para a saúde, ensino sobre a patologia e transmissão, os efeitos colaterais do tratamento; estratégias de adesão terapêutica, que incluem disponibilizar informação clara, completa e oportuna; promoção da saúde visando alterações de comportamentos de risco, incentivando a comportamentos saudáveis. Pretende-se descrever o plano de atuação dos enfermeiros hospitalares no tratamento do recluso com hepatite C. A experiência de uma unidade de ambulatório de gastrenterologia, que englobe a parceria com o estabelecimento prisional, educação e promoção para a saúde, revela-se eficaz no tratamento do utente recluso com hepatite C. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 375 7 ENDOSCOPIA DIGESTIVA NO TRATAMENTO DE FÍSTULAS PÓS CIRURGIA BARIÁTRICA Teixeira V., Sousa C., Bré R. Introdução: A cirurgia bariátrica está indicada no tratamento da obesidade mórbida. Umas das principais complicações desta cirurgia são as fístulas pós-cirúrgicas. A colocação de próteses endoscópicas permite o encerramento conservador das fístulas, diminuindo os riscos de uma re-intervenção cirúrgica.Objectivos: Pretende-se com a apresentação do caso clínico de uma utente que colocou uma prótese endoscópica, no contexto de fístula pós-cirurgia bariátrica, demonstrar não só a importância da endoscopia na resolução destas fístulas, como também a importância do enfermeiro como elemento da equipa multidisciplinar.Material: Mulher de 42 anos, com o diagnóstico de obesidade mórbida (índice massa corporal - 48) submetida a bypass gástrico. Referenciada à Unidade por fístula na anastomose gastrojejunal. Realizou endoscopia digestiva alta, sob sedação e com controlo fluroscópico, verificando-se orifício fistuloso. Colocada prótese metálica coberta TAEWOONG Niti-S, Beta 2. No final do procedimento prótese posicionada e expandida, sem evidência de fuga de contraste no controlo fluroscópico. Sem intercorrências. Três dias após, constatou-se migração da prótese para o jejuno, realizou-se enteroscopia de impulsão tendo-se reposicionado a prótese com sucesso. Durante o período de permanência da prótese, utente sem queixas relevantes tendo-se alimentando oralmente. Após três semanas a prótese foi removida, sem evidência de trajecto fistuloso, confirmada endoscopicamente e radiologicamente com injecção de produto de contraste. Sem complicações.Resultados: Verificou-se o sucesso técnico e clínico do procedimento. Apesar da migração da prótese, esta foi resolvida endoscopicamente, tendo o orifício fistuloso encerrado posteriormente. O conhecimento prévio da técnica endoscópica e das características da prótese, por parte do enfermeiro foi determinante para uma colaboração eficiente junto do gastrenterologista.Conclusão: A colocação de próteses endoscópicas assume-se como uma terapêutica menos invasiva, eficaz e segura no encerramento de fístulas pós-cirurgia bariátrica. Reconhece-se a importância de uma actualização contínua de conhecimentos e competências de enfermagem numa área tão específica, como a endoscopia digestiva terapêutica. Centro Hospitalar do Alto Ave E.P.E. - Unidade Guimarães Serviço de Gastrenterologia - Unidade de Endoscopia Digestiva 376 8 ECOENDOSCOPIA COM PUNÇÃO - PAPEL DO ENFERMEIRO Esteves,S.;Caldas,P.; Moreira,H. Introdução: A Ecoendoscopia digestiva é um exame que combina endoscopia e ecografia de alta resolução e tem implicações importantes na abordagem diagnóstica e terapêutica de variadas situações clínicas. A possibilidade de realizar punção aspirativa ecoguiada permite a avaliação citológica e/ou histológica de variadas lesões da parede digestiva e peri-digestiva com consequente aumento da acuidade diagnóstica deste exame. O enfermeiro de endoscopia tem um papel importante nesta avaliação colaborando ativamente em todo o procedimento. Objectivos: Partilhar conhecimentos sobre o material específico de ecoendoscopia e punção aspirativa, bem como da colaboração que um enfermeiro presta na execução da técnica. Material e Métodos: Na sequência de exames realizados semanalmente no serviço, pretendemos mostrar o material específico de ecoendoscopia e descrever o papel do enfermeiro no procedimento. Resultados: O enfermeiro que colabora na execução da técnica tem um papel importante no antes, durante e após procedimento. O sucesso da execução da técnica depende de vários passos: o primeiro consiste no acolhimento do doente, com realização de uma avaliação que inclui antecedentes patológicos, hábitos medicamentosos e preenchimento do processo de enfermagem; no segundo, que decorre durante o exame, o enfermeiro necessita de estar atento a todo o procedimento, fornecendo material específico solicitado pelo médico, vigiando o doente de forma a minimizar complicações, bem como diminuir ao máximo o risco de danos sobre os diferentes equipamentos utilizados; ainda durante o exame colabora ativamente com o médico na realização da punção aspirativa; em terceiro lugar, o passo final, consiste na continuidade de cuidados após o procedimento que passa entre outras acções, pela monitorização clínica do doente. Conclusão: A realização de ecoendoscopia com punção aspirativa é um exame de primeira linha na investigação de algumas lesões da parede digestiva e espaço peri-digestivo. Para o sucesso da técnica é necessário um enfermeiro diferenciado em endoscopia digestiva com o conhecimento da importância do procedimento, do material, riscos e possíveis complicações. Deve possuir capacidades técnicas para o auxílio da execução do procedimento Centro Hospitalar do Porto, H.S.A. - Centro de Endoscopia Digestiva 377 9 LÂMINA 24 Carvalho,A;, Pedregal,S;, Gonçalves,N;, Mena,C;, Freire,A;, Cunha,I;, Lima,J;, Silva,B;, Rodrigues,E;, Ferreira,S;, Rodrigues,M;, Serrano,A;, Barros,S., A ingestão de corpo estranho é algo comum em adultos com doença psiquiátrica. Na maioria dos casos o corpo estranho passa através do trato gastrointestinal sem intercorrências graves, podendo apenas causar algum desconforto. No entanto, as complicações decorrentes da sua ingestão dependem do tipo de corpo estranho ingerido, localização e duração, sendo os objetos maiores, e cortantes, os que poderão provocar perfurações. As intervenções de enfermagem visam responder adequada e eficazmente a estas situações de emergência. Como tal, uma metódica aplicação das intervenções de Enfermagem – reforçando a importância da gestão do ambiente seguro em utentes com alterações comportamentais – e a coordenação com a equipa de trabalho asseguram o sucesso do procedimento e controlo dos riscos. Com este trabalho pretendemos demonstrar técnicas e adequação dos instrumentos que emergiram da nossa experiência, de forma a estruturar intervenções de enfermagem, contribuindo para a melhoria dos cuidados praticados num centro de endoscopia; descrever os cuidados de enfermagem, de forma a sistematizar as intervenções de enfermagem na remoção de corpos estranhos (lâminas de bisturi e tesoura de pesca). Estudo retrospetivo, de utente com 41 anos, sexo masculino, solteiro sem filhos, reformado por invalidez psiquiátrica, vive com mãe e pai, ambos 61 anos e desempregados, um irmão de 27 anos também desempregado. O utente passa os dias na pesca. Utente com história de 3 episódios de urgência numa semana, por ingestão voluntária de corpos estranhos cortantes (lâminas de bisturi hospitalar e tesoura de pesca). Nestes episódios recorreu-se a acessórios de endoscopia tais como overtube, ansas diatérmicas e pinças de corpos estranhos. Este caso evidenciou a relevância dos cuidados de enfermagem na diminuição dos riscos e eficácia do procedimento. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 378 10 TECNOLOGIA EDUCACIONAL EM CONTEXTO DE FORMAÇÃO EM SERVIÇO – DA OBSERVAÇÃO À INTERVENÇÃO Rodrigues,M;, Ferreira,S;, Regufe,V;, Serrano,A;, Mena,C;, Freire,A;, Gonçalves,N;, Cunha,I;, Lima,J;, Silva,B;, Rodrigues,E;, Carvalho, A;, Pedregal,S;, Barros,S., Na área da Enfermagem a qualidade dos cuidados depende de bons níveis de conhecimentos e desempenho, demonstrados pelas competências dos profissionais. É no campo profissional onde mais se vivenciam as tensões provocadas pela inovação e pela adaptação às novas tecnologias. A variedade de dispositivos, de fabricantes, de especificações técnicas e do funcionamento de cada equipamento confere complexidade ao ambiente dos cuidados em saúde exigindo do utilizador um grande leque de conhecimentos e atenção no seu manuseamento. Tendo em conta o importante papel que a formação em serviço deverá desempenhar, utilizou-se um vídeo instrutivo de preparação e funcionamento do novo equipamento, elaborado com base na pesquisa bibliográfica e observação da prática clínica para apresentar à equipe de enfermagem, definir regras básicas de preparação e utilização e abranger o maior número de elementos da equipe em simultâneo. Realizado estudo descritivo com abordagem quantitativa sendo os dados obtidos mediante a aplicação de questionário e tratados com análise estatística simples, pela análise de frequência e percentagem, dando resposta a algumas questões: Qual o contributo dos meios audiovisuais na formação em serviço para o desenvolvimento de competências nos Enfermeiros de Gastrenterologia? O uso de audiovisuais tem influência no processo de formação? Consideram os Enfermeiros eficaz este método de formação? A enfermagem é uma profissão dinâmica, que está sujeita a mudanças rápidas na prestação de cuidados, daí a necessidade de programas de formação em serviço. O recurso a vídeos permite a uniformização e padronização dos passos a realizar nos pré-procedimentos e procedimentos e visa a optimização, segurança e qualidade dos cuidados. Centro Hospitalar de São João, E.P.E. Serviço de Gastrenterologia Centro de Endoscopia Digestiva 379