07-07-2015 Revista de Imprensa 07-07-2015 1. (PT) - Jornal de Notícias, 07/07/2015, Mais consultas e cirurgias em 2015 1 2. (PT) - Negócios, 07/07/2015, Medicamentos contratualizados por objectivos 2 3. (PT) - Negócios, 07/07/2015, Quatro anos a premiar a sustentabilidade na saúde 4 4. (PT) - Diário de Notícias, 07/07/2015, "Um diretor nos hospitais não tem margem de manobra, faz psicoterapia" - entrevista a António Correia de Campos 6 5. (PT) - Diário do Minho, 06/07/2015, Aumento de impostos na saúde: o dito por não dito 7 6. (PT) - Correio da Manhã, 07/07/2015, Calor -Morrem mais 101 em junho 8 7. (PT) - Jornal de Notícias, 07/07/2015, Sedentarismo cresce entre crianças pobres 11 8. (PT) - Jornal de Notícias, 07/07/2015, Premiado projeto para crianças 13 9. (PT) - Público, 07/07/2015, Erros na divisão explicam resistência de células cancerosas às terapias 14 10. (PT) - i, 07/07/2015, Suporte básico de vida. Como salvar a vida de uma criança 16 11. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Seleção prática de antieméticos em ambulatório 19 12. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Que modalidades de medicina complementar e alternativa devem ser consideradas? 24 13. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Prevenção das cáries dentárias em crianças desde o nascimento até aos cinco anos 31 14. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Editorial - Dia Mundial do Médico de Família 37 15. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Como ajudar a tratar a enurese 39 16. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Avaliação e tratamento da obstipação em crianças e adolescentes 42 17. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Atrasos na fala, linguagem e problemas de audição: quando intervir precocemente? 54 18. (PT) - Postgraduate Medicine, 01/06/2015, Abordagem diagnóstica e terapêutica da enurese em crianças 63 A1 ID: 60044799 07-07-2015 Tiragem: 76650 Pág: 10 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 16,12 x 22,26 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Página 1 A2 ID: 60044757 07-07-2015 Tiragem: 12985 Pág: 26 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 32,00 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 Página 2 ID: 60044757 07-07-2015 Tiragem: 12985 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 24,13 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Página 3 A4 ID: 60044592 07-07-2015 Tiragem: 12985 Pág: 34 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 32,00 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 1 de 2 Página 4 ID: 60044592 07-07-2015 Tiragem: 12985 Pág: 35 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 32,00 cm² Âmbito: Economia, Negócios e. Corte: 2 de 2 Página 5 A6 ID: 60044795 07-07-2015 Tiragem: 29010 Pág: 18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,50 x 30,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Página 6 A7 ID: 60029984 06-07-2015 Aumento de impostos na saúde: o dito por não dito ALBINO GONÇALVES ministro da Saúde levantou o véu sobre novas formas de financiamento do Serviço Nacional de Saúde, invocando mesmo a necessidade de aumentar os impostos para garantir a sua sustentabilidade. Agora, inexplicavelmente, deu o dito por não dito, agindo como “sapador a tempo e horas” num O fogo posto e deveras inflamável para os seus adversários políticos, arrefecendo-lhes os ânimos ao afirmar que “não está previsto no programa da maioria, e pelo que percebemos também não está no da oposição, haver um aumento da carga fiscal para financiar a saúde. Não está nem naquilo que está publicado nem nas intenções e, portanto, nesse sentido excluímos a possibilidade de aumento de impostos”. O Serviço Nacional de Saúde é um bem essencial para os cidadãos e tem como garante a Constituição Portuguesa – que define com clareza os mecanismos de acessibilidade e funcionamento deste me- canismo de interesse público junto da população. Paulatinamente, o SNS tem sido minado com a hipocrisia daqueles que alegadamente o defendem ficticiamente e branqueiam com atitudes ofensivas às necessidades básicas do seu público-alvo, ou seja, o universo dos utentes abrangidos pelo SNS. Nas “mentes brilhantes” dos governantes, paira a “patologia” da política da contenção e a entrega embaratecida do serviço público ao setor privado. Não tarda uma OPA (oferta pública de aquisição) ao Serviço Nacional de Saúde, e para que isso aconteça há uma dentadinha na maçã podre e do peca- Tiragem: 8500 Pág: 18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 26,00 x 13,95 cm² Âmbito: Regional Corte: 1 de 1 do mortal, na mudança de alguns articulados constitucionais sobre o assunto em apreço. É percetível a intencionalidade de reduzir a despesa orçamental, o que merece um debate sério e responsável para tornar mais atrativo um serviço de saúde pública vital para os portugueses. Há ferramentas de trabalho num observatório mais eficaz e regulador, como por exemplo responsabilizar os gestores dos hospitais EPE nos casos de negligência ou de gestão danosa quando ultrapassam os limites na dotação orçamental. Se estamos perante um cenário economicista nas Instituições de Saúde Pública, dada a fumaça de subutilização ou mesmo má utilização, incapacidade, inoperacionalidade de um plano de produção organizada, conferente ao êxito imperativo da sustentabilidade individual ou coletiva da saúde financeira, devem ser tomadas medidas rápidas de auditoria, com isenção, transparência e rigor para suprimir erros sistemáticos. Vivemos um período manifestamente insuficiente de médicos de saúde familiar, enfermeiros, fármacos incomportáveis, longas filas de espera na morosidade das consultas externas e intervenções cirúrgicas, sessões de atos clínicos de medicina física e reabilitação, realização de meios complementares de diagnóstico, acompanhamento ambulatório, etc. Os contribuintes e utentes do SNS jamais podem ser cobaias ou “bodes expiatórios” do passivo financeiro do Serviço Na- cional de Saúde, quando estão identificados os focos fomentadores dos custos da saúde suportados pelo erário público. Não é com medidas administrativas cegas que se pode criar um melhor SNS. Importa auditar minuciosamente, fazendo um levantamento das ineficiências que originam a má gestão neste setor, corrigindo assimetrias que debilitam os cofres do tesouro nacional. A sociedade portuguesa, pela via do regime geral da Segurança Social, já paga taxas moderadoras excessivas para usufruírem de atos clínicos. Podemos solucionar o financiamento dos custos do Serviço Nacional de Saúde sem castigar ainda mais os cidadãos – pois estes, ao contrário do que parece ocorrer com o Estado, têm os “cofres vazios”… Página 7 A8 ID: 60045485 07-07-2015 Tiragem: 148641 Pág: 26 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 32,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Página 8 ID: 60045485 07-07-2015 Tiragem: 148641 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 31,43 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 Página 9 ID: 60045485 07-07-2015 Tiragem: 148641 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 3,16 x 2,96 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Página 10 A11 ID: 60044790 07-07-2015 Tiragem: 76650 Pág: 8 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,50 x 30,00 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Página 11 ID: 60044790 07-07-2015 Tiragem: 76650 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 4,83 x 3,04 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 Página 12 A13 ID: 60044833 07-07-2015 Tiragem: 76650 Pág: 12 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 4,90 x 8,57 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 1 Página 13 A14 ID: 60044652 07-07-2015 Tiragem: 33425 Pág: 22 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 25,70 x 30,54 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Erros na divisão explicam resistência de células cancerosas às terapias O vídeo do estudo liderado por investigadora portuguesa mostra uma célula humana em divisão irregular e foi destacado como a Imagem Biomédica do Dia pelo Imperial College de Londres IBMC Biomedicina Catarina Rocha Os erros na distribuição dos cromossomas durante a divisão celular são comuns nas células cancerosas. A acumulação sucessiva de anomalias ao longo das divisões pode estar na origem de uma adaptação e resistência cada vez maiores à quimioterapia das células que têm um cromossoma extra. É precisamente isto que acontece para células com trissomia do cromossoma 13 e 7, como se descobriu num estudo liderado por Elsa Logarinho e que reúne cientistas portugueses do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) e do Hospital de São João, ambos no Porto, e do Instituto de Tecnologia da Virgínia, nos Estados Unidos. Um dos vídeos resultantes do estudo foi destacado como Imagem Biomédica do Dia, a 16 de Junho, pelo site do Imperial College de Londres, que não esteve envolvido na investigação. No vídeo vemos uma célula humana embrionária, com trissomia 13 — um cromossoma 13 a mais —, a dividir-se de forma anómala. Cada célula normal deve ter apenas um núcleo, onde se localiza o material genético empacotado em 46 cromossomas. Na etapa da divisão em que os cromossomas migram para os pólos da célula (a anáfase), no vídeo vê-se que um deles fica atrasado, acabando por dar origem a um micronúcleo extra que vai integrar uma das células resultantes da divisão. Assim, uma célula-mãe aneuplóide — com um número anormal de cromossomas — gerou duas células-filhas que acumulam alterações adicionais no seu número de cromossomas. “O que vemos no vídeo é que a aneuploidia gera mais aneuploidia”, explica ao PÚBLICO Elsa Logarinho, do IBMC e líder do estudo publicado na revista científica eLife. Além de células com um número normal de cromossomas — euplóides —, os investigadores usaram outras células com trissomia 13 e trissomia 7 do cancro colo-rectal, uma vez que estas anomalias cromossómicas estão presentes neste cancro, o mais frequente e o que mais mata em Portugal. Recolheram ainda células do líquido amniótico, tanto normais como com trissomia 13, que, tal como a trissomia 7, são causas comuns de Divisão de uma célula normal (à esquerda) e de outra com trissomia 13 (à direita), com um micronúcleo extra anormal assinalado pela seta “A instabilidade do genoma de células com trissomias pode potenciar as etapas iniciais de carcinogénese e contribuir para a resistência a drogas usadas em quimioterapia”, diz Elsa Logarinho abortos quando ocorrem em células reprodutivas. As células com trissomias apresentam uma maior instabilidade cromossómica, potenciando-se assim a acumulação de mais alterações nas células-filhas. Para as células com trissomia do cromossoma 13, verificou-se ainda que cerca de 10 a 12% não conseguia terminar a divisão, resultando numa única célula com o número de cromossomas duplicado. Esta falha na etapa final da divisão celular (a citocinese) deve-se à presença de altos níveis de uma proteína chamada espartina, identificada agora pela equipa de Elsa Logarinho como responsável por impedir a divisão final de uma célula-mãe em duas células-filhas. “A instabilidade do genoma de células com trissomias pode potenciar as etapas iniciais de carcinogénese e contribuir para a adaptação das células cancerosas na aquisição de resistência a drogas usadas em quimioterapia”, explica ainda Elsa Logarinho. Duas correntes Afinal, por que é que as células aneuplóides se dividem, sucessivamente, de forma anómala? Neste assunto, tem havido uma falta de consenso dentro da comunidade científica. Uma grande parte dos investigadores defende que uma célula se divide de forma anómala devido a algum pequeno erro molecular ou bioquímico, que consequentemente a faz acumular muitos erros ao longo das várias divisões. Essa acumulação de erros pode levar uma célula a caminhar para a sua autodestruição, um processo que acaba por ser benéfico para o organismo. Esta tem sido, aliás, uma das vias terapêuticas mais abordadas, procurando-se induzir este mecanismo de autodestruição em células cancerosas, e que funciona na maior parte das situações. Há, porém, algumas células que, em vez de se autodestruírem, adquirem uma resistência cada vez maior aos tratamentos da quimioterapia. Em relação a estas células, um grupo menor de investigadores considera, sem que nunca se tivesse conseguido provar até agora, que um erro cromossómico — uma aneuploidia — poderia estar na origem do desastre, que é a acumulação de muitos erros mas sem que a célula morra. É neste último grupo que se inclui a equipa de Elsa Logarinho, que agora confirmou experimentalmente esta hipótese para as células com trissomia 7 e 13, comuns no cancro colo-rectal. “Este grupo de investigadores conseguiu provar, pela primeira vez, que uma trissomia pode, por si, causar o desastre, pois activa um mecanismo que a perpetua”, diz ao PÚBLICO Júlio Borlido Santos, biólogo e chefe do Departamento de Comunicação do IBMC. “Como é que erros cromossómicos conseguem dar a volta e evitar o colapso da célula?”, acrescenta Júlio Borlido Santos em relação à abordagem que se segue na investigação. Compreender como impedir ou travar este processo poderá vir a permitir avanços nos tratamentos dirigidos especificamente a células cancerosas com este tipo de trissomias. “Isto pode ser útil no desenvolvimento de terapias contra células cancerosas com aneuploidias”, sublinha a investigadora, citada num comunicado do IBMC. A partir destes resultados, os cientistas enfrentam agora o desafio de determinar como diferentes alterações no número de cromossomas, para além das trissomias, podem afectar a estabilidade cromossómica de uma célula durante a sua divisão. Texto editado por Teresa Firmino Página 14 ID: 60044652 07-07-2015 Tiragem: 33425 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 10,63 x 4,61 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 BIOMEDICINA ELSA LOGARINHO NHO LIDERA ESTUDO QUE EXPLICAA RESISTÊNCIA DE CÉLULAS CANCEROSAS ÀS TERAPIAS Ciência, 22 Página 15 A16 ID: 60044903 07-07-2015 Tiragem: 16000 Pág: 24 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 22,60 x 31,50 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 3 Página 16 ID: 60044903 07-07-2015 Tiragem: 16000 Pág: 25 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 22,60 x 31,50 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 3 Página 17 ID: 60044903 07-07-2015 Tiragem: 16000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 4,80 x 7,35 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 3 de 3 Página 18 Postgraduate Medicine A19 ID: 60015017 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 56 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,09 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 5 Seleção prática de antieméticos em ambulatório Zachary A. Flake, MD* Becky S. Linn, PharmD, BCPS** Jaime R. Hornecker, PharmD, BCPS*** NOTA PRÉVIA As náuseas e vómitos são principalmente mediados por três vias de neurotransmissores: a estimulação visceral liberta dopamina e serotonina; a ativação do sistema nervoso central e vestibular liberta histamina e acetilcolina; e a ativação da zona trigger dos quimiorrecetores liberta dopamina e serotonina. Os clínicos podem melhorar a eficácia e a relação custo-efetividade dos tratamentos selecionando-os de acordo com as vias adequadas. Os anti-histamínicos e os anticolinérgicos são mais efetivos nos doentes com náuseas mediadas por mecanismo vestibular secundárias a vertigens. Os antagonistas de serotonina bloqueiam a serotonina no intestino e na zona trigger dos quimiorrecetores e são mais efetivos no tratamento da gastrenterite. Os antagonistas da dopamina bloqueiam a dopamina no intestino e na zona trigger dos quimiorrecetores; as indicações para estes agentes são semelhantes às dos antagonistas da serotonina. Para tratar as náuseas ligeiras induzidas pela gravidez, a piridoxina, com ou sem doxilamina, está indicada e o gengibre pode ser igualmente eficaz. Em doentes com enxaqueca com náuseas associadas, a metoclopramida melhora a resposta aos fármacos antimigranosos por via oral. O ondansetron reduz as náuseas e os vómitos em crianças com gastrenterite aguda e nas mulheres com hiperemesis gravidarum. tipos de náuseas, permite aos médicos melhorar a efetividade e os custo-efetividade dos tratamentos sintomáticos (quadro 1). Existem três principais vias fisiopatológicas que estimulam o centro fisiológico do vómito na medula que medeia as náuseas e os vómitos (figura 1). Este centro pode ser estimulado por fibras vestibulares, fibras viscerais aferentes e estímulos a partir da zona trigger dos quimiorrecetores na base do quarto ventrículo. Os neurotransmissores histamina, acetilcolina, serotonina e dopamina estão frequentemente implicados nestas vias e são os alvos da maioria dos tratamentos. Classes de medicação Anti-histamínicos e anticolinérgicos s náuseas e os vómitos são complicações frequentes de várias situações patológicas, procedimentos e terapêuticas, afetando negativamente a qualidade de vida a milhões de doentes anualmente. As náuseas induzidas A *Médico de Família no Banner Medical Group em Loveland, Colorado **Professora Assistente de Farmácia na University of Wyoming School of Pharmacy e Fort Collins (Colorado) Family Medicine Residency Program. ***Professor Assistente de Farmácia na University of Wyoming School of Pharmacy em Casper. pela gravidez só por si são responsáveis por perdas de cerca de 8,5 milhões de dias de trabalho e acarretam custos de quase 2 mil milhões de dólares anualmente.1 A gastrenterite aguda é o motivo de 1,5 milhões de consultas de cuidados de saúde primários e é responsável por 10% de todos os internamentos nos Estados Unidos.2 O tratamento das náuseas e dos vómitos deve idealmente ser orientado para a causa do problema. Os conhecimentos dos neurotransmissores envolvidos nos diferentes Os anti-histamínicos e os anticolinérgicos limitam a estimulação do centro do vómito através da inibição dos recetores H1 da histamina e acetilcolina, respetivamente. Os anti-histamínicos, como a meclizina e a escopolamina, são especialmente benéficos nas náuseas de causa vestibular. Os efeitos adversos comuns a ambas as classes de fármacos são a sedação, a obstipação, a secura de boca e a retenção urinária.4 Os anti-histamínicos e os anticolinérgicos são baratos, com a maior parte das opções a terem Página 19 Postgraduate Medicine ID: 60015017 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 57 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,40 x 25,41 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 5 SELEÇÃO PRÁTICA DE ANTIEMÉTICOS EM AMBULATÓRIO, CONTINUAÇÃO QUADRO 1. Seleção de antieméticos em função da situação clínica Situação clínica Neurotransmissores associados Antiemético recomendado Náusea vestibular/enjoo de movimento Histamina, acetilcolina Meclizina, escopolamina Náuseas associadas com enxaqueca Dopamina Metoclopramida, proclorperazina, prometazina Gastroenterite Dopamina, serotonina Prometazina, antagonistas da serotonina Náuseas induzidas pela gravidez Desconhecido Ligeiras: gengibre, piridoxina com ou sem doxilamina Hiperemese: corticosteroides,* ondansetron *—Evitar utilização antes das 10 semanas de gestação devido ao risco aumentado de fenda palatina custos inferiores a 1 dólar por dose5 (quadro 2). Antagonistas da dopamina Os antagonistas da dopamina incluem a metoclopramida, a prometazina e a proclorperazina. Bloqueiam a estimulação da dopamina na zona trigger dos quimiorrecetores limitando dessa forma o estímulo emético para o centro medular do vómito. Os antagonistas da dopamina são baratos, mas têm efeitos anti-histamínicos fortes podendo causar sedação significativa. A metoclopramida pode causar efeitos extrapiramidais, incluindo discinesia tardia irreversível, embora a incidência deste problema seja rara (menos de 1%).6 Dado que o risco pode ser maior em adultos frágeis e mais velhos, independentemente dos diagnósticos, a American Geriatrics Society recomenda fortemente que se evite a utilização da metoclopramida no tratamento das náuseas nesta população.7 De igual forma, a metoclopramida também não deve ser utilizada em doentes medicados com antipsicóticos ou outros antagonistas da dopamina. tagonistas seletivos da serotonina podem causar prolongamento do QT assintomático autolimitado e alargamento do QRS.8,9 Nos doentes com prolongamento do QT existente previamente ou que tomem outros medicamentos que possam ter este efeito, devem ser consideradas outras alternativas ou ser dada a dose mínima possível. Antagonistas seletivos da serotonina Os antagonistas seletivos da serotonina inibem a serotonina nos recetores 5-HT3 no intestino delgado, nervo vago e zona trigger dos quimiorrecetores. São geralmente efetivos e têm substituído em grande medida os antagonistas da dopamina na maior parte das situações clínicas. Os efeitos adversos são raros, mas podem incluir cefaleias, diarreia e fadiga; eles surgem independentemente da dose e da via de administração. Todos os an- Terapêuticas alternativas e complementares O gengibre tem sido utilizado na Tratamento das Náuseas e Vómitos Estimulação visceral Libertação de dopamina e serotonina Zona trigger de quimiorrecetores Libertação de dopamina e serotonina Antagonistas da dopamina e serotonina Estimulação vestibular Libertação de histamina e acetilcolina Antagonistas da dopamina e serotonina Anti-histamínicos e anticolinérgicos Estimulação do centro medular do vómito Náuseas e vómitos FIGURA 1. Neurotransmissores envolvidos nas náuseas e nos vómitos e medicações utilizadas para mitigar os seus efeitos. ➣ Página 20 Postgraduate Medicine ID: 60015017 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 58 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,45 x 25,09 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 5 SELEÇÃO PRÁTICA DE ANTIEMÉTICOS EM AMBULATÓRIO, CONTINUAÇÃO QUADRO 2. Antieméticos utilizados frequentemente em ambulatório Medicamento Posologia Custo aproximado por dose (entre Efeitos adversos frequentes parênteses são os de marca)* Anti-histamínicos e anticolinérgicos Difenidramina 25 mg cada 6 horas $0,20 Meclizina 25 mg cada 6 horas $0,40 ($1,60) Escopolamina (transdérmica) 1 sistema cada 3 dias ($18) Visão turva, agravamento de glaucoma de ângulo estreito (especialmente em adultos idosos) sedação, retenção urinária Antagonistas da dopamina Metoclopramida 10 mg cada 4 horas $0,20 ($2,30) Proclorperazina 5 a 10 mg cada 6 horas $0,35 Prometazina 12,5 a 25 mg cada 6 horas $0,50 2 mg por via oral ou endovenosa Endovenoso: $4 (8$26) Metilprednisolona 40 mg endovenoso $9 ($11) Dexametasona 4 a 8 mg endovenoso $4 Gengibre 250 mg cada 6 horas $0,10 Doxilamina/piridoxina 2 a 4 comprimidos por dia $6 Piridoxina 10 a 25 mg cada 8 horas $0,05 Efeitos extrapiramidais, hipotensão arterial, prolongamento do QT, sedação Antagonistas da serotonina Ondansetron Oral: $1,40 ($22) Reações de hipersensibilidade (raras), alargamento do QRS, prolongamento do QT Outros agentes Corticosteroides: exacerbação de hipertensão arterial, retenção de líquidos, hiperglicemia, alterações psiquiátricas *—Preço de retalho nos EUA calculado com base na informação recolhida em http://www.goodrx.com e http://www.drugstore.com (consultado em 2 de dezembro de 2014) medicina tradicional indiana e chinesa como antiemético. Se bem que o seu mecanismo de ação não esteja completamente esclarecido, pensa-se que possa antagonizar os recetores 5-HT3 e os recetores colinérgicos podendo ter uma atividade direta no tubo digestivo. Embora o gengibre possa causar refluxo e azia e potenciar hemorragia devido aos seus efeitos anticoagulantes, em doses até 2 g por dia, fracionadas de 250 mg, parece ser seguro, mesmo em mulheres grávidas.10,11 A piridoxina (vitamina B6), com ou sem doxilamina, tem sido recomendada no tratamento das náuseas e vómitos na gravidez. A dose habitual é de 10 a 25 mg cada oito horas para que se obtenha o mínimo possível de efeitos adversos12; no entanto, há pouca evidência a apoiar a utilização de piridoxina no tratamento das náuseas e dos vómitos de outras causas. Situações clínicas Náuseas vestibulares/enjoo de movimento em viagens Ao contrário de outras formas de náuseas, que tendem a ser mediadas pela dopamina e serotonina, as náuseas induzidas pelo sistema vestibular são mediadas principalmente por histamina e acetilcolina. Consequentemente, a American Gastroenterological Association recomenda a utilização de anti-histamínicos e anticolinérgicos nas náuseas secundárias às vertigens e ao enjoo de movimento nas viagens.13 Os anti-histamínicos são os fármacos mais frequentemente utilizados no tratamento do enjoo das viagens com origem vestibular.14 No entanto, a utilização dos anti-histamínicos tem limitações devido aos seus efeitos adversos sedativos. A escopolamina transdérmica é preferível aos anti-histamínicos na prevenção do enjoo das viagens em doentes que se querem manter acordados enquanto viajam.15 Pode ser utilizada durante 72 horas por dose, começando a atuar cerca de seis a oito horas depois da aplicação na mastoideia.16 O gengibre também alivia as náuseas associadas com com o enjoo das viagens e Página 21 Postgraduate Medicine ID: 60015017 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 59 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,57 x 24,81 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 5 SELEÇÃO PRÁTICA DE ANTIEMÉTICOS EM AMBULATÓRIO, CONTINUAÇÃO metoclopramida aumenta a motilidade gástrica e a resposta às medicações orais anti-enxaqueca.18 Uma revisão Cochrane concluiu que nos doentes com enxaqueca aguda, a associação de metoclopramida e aspirina melhora as náuseas e os vómitos com menos efeitos adversos comparativamente ao sumatriptano.19 visceral principalmente mediada pela serotonina, os antagonistas 5HT3 são um tratamento eficaz.13 Uma revisão Cochrane de vários estudos aleatorizados, controlados com placebo concluiu que uma dose oral única de ondansetron controla os vómitos e reduz os internamentos e a necessidade de administração de líquidos endovenosos em crianças e adolescentes.20 No entanto, o ondansetron pode aumentar os episódios de diarreia nesta população. Se bem que o custo do ondansetron seja maior que o da prometazina, a diminuição das necessidades de líquidos endovenosos torna-o uma opção custo-efetiva.21 Gastroenterite Náuseas induzidas pela gravidez A solução de reidratação oral é fortemente recomendada como tratamento de primeira linha da gastrenterite aguda com desidratação ligeira a moderada.2 Quando a administração é limitada por múltiplos episódios de vómitos, os antieméticos podem ser úteis. Dado que as náuseas na gastroenterite são consequência de estimulação Mais de metade das gravidezes são acompanhadas por náuseas e vómitos.10,12 Apesar da patogenia das náuseas e vómitos na gravidez não estar completamente compreendida, pensa-se ser multifatorial, tendo as alterações hormonais um papel chave.12,22 Vários fármacos antieméticos têm sido utilizados no tratamento, mas há pouca evidência MELHORES PRÁTICAS EM GASTROENTEROLOGIA – RECOMENDAÇÕES DA CHOOSING WISELY CAMPAIGN Recomendação Organização que patrocina Não utilizar lorazepam tópico, difenidramina ou haloperidol em gel nas náuseas American Academy of Hospice and Palliative Medicine FONTE: Para informação adicional sobre Choosing Wisely Campaign, ver http://www.choosingwisely.org. Para citações de apoio e pesquisa sobre recomendações Choosing Wisely relevantes para cuidados de saúde primários, consultar http://www.aafp.org/afp/recommendations/search.htm. é mais efetivo nos doentes que acreditam nos seus efeitos.15 Náusea associada à enxaqueca As cefaleias tipo enxaqueca são muitas vezes associadas com sintomas gastrointestinais. Cerca de 60% dos doentes com enxaquecas têm náuseas e vómitos durante a crise aguda.17 As náuseas e os vómitos associados com as enxaquecas são provocados por processos centrais sendo o mediador primário a dopamina; assim, antagonistas da dopamina como a metoclopramida, proclorperazina e clorpromazima são escolhas lógicas para tratamento. Se bem que os triptanos abortem o processo central que contribui para a náusea, têm uma biodisponibilidade oral inferior durante a crise aguda devido à alteração da motilidade gástrica.18 A RECOMENDAÇÕES CHAVE PARA A PRÁTICA CLÍNICA Recomendação clínica Grau de evidência Referências Os anti-histamínicos e os anticolinérgicos são os tratamentos preferidos para o enjoo do movimento C 13 Quando combinada com aspirina, a metoclopramida reduz as náuseas associadas com as cefaleias tipo enxaqueca B 19 O ondansetron reduz significativamente a necessidade de reidratação endovenosa em crianças com gastroenterite B 20 A piridoxina com ou sem doxilamina está indicada nas náuseas e vómitos induzidos pela gravidez C 12 A = evidência de boa qualidade orientada para o doente; B = evidência inconsistente ou de qualidade limitada orientada para o doente; C= consenso, prática habitual, opinião de especialista, séries de casos, orientados para a doença. Para informação sobre o sistema de classificação, ir a http://www.aafp.org/afpsort.xml Página 22 Postgraduate Medicine ID: 60015017 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 60 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 24,86 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 5 SELEÇÃO PRÁTICA DE ANTIEMÉTICOS EM AMBULATÓRIO, CONTINUAÇÃO sobre as consequências nos fetos. O American College of Obstetricians and Gynecologists recomenda a utilização de piridoxina com ou sem doxilamina como farmacoterapia de primeira linha para as náuseas e vómitos nas mulheres grávidas.12 Um preparado de libertação prolongada de 10 mg de doxilamina e 10 mg de piridoxina está disponível nos Estados Unidos. Nos casos mais graves em que há desidratação ou hiperemesis gravidarum, pode ser necessário fazer reidratação por via endovenosa, que pode ser utilizada em associação com antieméticos. O ondansetron tem uma eficácia semelhante à dos antieméticos mais antigos, como a prometazina e causa menos sedação.23 Os corticosteroides podem utilizar-se em casos mais graves, persistentes, mas não estão indicados antes da 10.a semana de gestação devido ao aumento de risco de fenda palatina.12 As medicinas alternativas e complementares são frequentemente utilizadas por mulheres grávidas que pretendem evitar terapêuticas farmacológicas. Duas metanálises recentes verificaram que, em comparação com placebo, o gengibre melhora as náuseas e os vómitos se tomado durante pelo menos quatro dias.10,24 Fontes de Dados: Foram pesquisados a Essential Evidence Plus, a Pub-Med, a Cochrane database, e a National Guideline Clearinghouse usando os termos-chave: nausea and vomiting, migraine headaches, motion sickness, gastroenteritis, ondansetron, e metoclopramide. A pesquisa incluiu ensaios aleatorizados controlados, ensaios clínicos, e revisões. Data da pesquisa: Agosto de 2014. 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Página 23 Postgraduate Medicine A24 ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 49 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,36 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 7 Que modalidades de medicina complementar e alternativa devem ser consideradas? Revisão baseada na evidência das oito modalidades mais utilizadas Roger Zoorob, MD, MPH, FAAFP* Sangita Chakrabarty, MD, MSPH, FACOEM** Heather O’Hara, MD, MSPH;** Courtney Kihlberg, MD, MSPH, FACPM** CASO CLÍNICO Bob F, de 54 anos, vem ao médico por dor lombar crónica. Os tratamentos conservadores que lhe tinham sido prescritos, incluindo fisioterapia, exercício físico regular e anti-inflamatórios não esteroides de venda livre, apenas conseguiram um alívio muito discreto da dor. O doente tem alguma relutância a tomar medicação para a dor e mostrou interesse em experimentar terapêutica com medicina complementar e alternativa (MCA), tal como acupunctura ou ioga. Que lhe diria? uase 40% dos americanos utilizam modalidades de MCA para tratarem problemas específicos ou de bem-estar global,1 e estas práticas de cuidados de saúde estão a ser cada vez mais frequentes na terapêutica instituída pelos médicos a certos problemas de saúde. Isto é evidenciado pela existência de cerca de 50 centros em todo o país que englobam programas de cuidados de saúde integrados, que combinam modalidades de MCA com medicina convencional.2 A evidência Q *Departamento de Medicina Familiar e Comunitária, Baylor College of Medicine, Houston, Tex. **Departamento de Medicina Familiar e Comunitária, Meharry Medical College, Nashville, Tenn. emergente sugere que várias práticas integradoras podem oferecer benefícios para a saúde e os médicos dos cuidados de saúde primários devem ter conhecimentos destas modalidades de tratamento para poderem informar dos benefícios possíveis e efeitos adversos potenciais. Neste artigo, apresentamos a evidência encontrada em revisões Cochrane e noutros estudos de 8 terapêuticas de MCA utilizadas frequentemente, incluindo intervenções dietéticas, uma modalidade psicoterapêutica e outros tratamentos (quadro).1,3-30 E embora a entrevista motivacional não seja tecnicamente uma forma de MCA, revemos também esta modalidade, que mostrou ter benefícios no tratamento de doentes com problemas de abuso de substâncias. (ver «Entrevista motivacional para abuso de substâncias» na página 50). 16511 participantes verificou que os suplementos do ácido gordo livre ómega 3 (óleo de peixe) reduziu de forma significativa os níveis de triglicéridos em comparação com placebo.7 A American Heart Association recomenda a ingestão de 2 a 4 g/dia de ácido eicosapentaenóico (EPA) mais ácido docosahexaenóico (DHA) para reduzir os níveis de triglicéridos.8 A maioria dos estudos verificou que os suplementos de óleo de peixe estão associados com poucos efeitos adversos; as queixas gastrintestinais são as mais frequentes. No entanto, estes suplementos devem ser suspensos depois de um episódio hemorrágico agudo, tais como um acidente vascular cerebral hemorrágico, devido às suas propriedades anticoagulantes9. Há alguma evidência a sugerir que o risco de cancro da próstata pode estar aumentado nos homens que têm níveis elevados de ácidos gordos ómega 3.10 Óleo de peixe na hipertrigliceridemia Glucosamina na osteoartrose Níveis altos de triglicéridos são um fator de risco de doença cardiovascular e um componente da síndrome metabólica.8 Uma revisão de 2008 de 47 estudos aleatorizados e controlados (EACs) que incluiu A glucosamina é um açúcar aminado que é um bloco de construção dos proteoglicanos da cartilagem. Se bem que existam naturalmente no organismo, os glucosaminoglicanos utilizados em ➣ VOL 43 / N o 6 / JUNHO 2015 / POSTGRADUATE MEDICINE / QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS? 47 Página 24 Postgraduate Medicine ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 50 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,03 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 7 QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS?, CONTINUAÇÃO RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS ❖ Considerar a referenciação para imaginação orientada para reduzir a ansiedade ou a dor. A ❖ Recomendar uma prova terapêutica com glucosamina 1500 mg/dia durante 3 meses nos doentes com osteoartrose. B no entanto as alergias ao marisco surgem devido a proteínas na carne e não da casca da qual a glucosamina é obtida. A glucosamina pode aumentar os níveis de glucose e os efeitos da varfarina.13 ❖ Considerar a acupunctura como opção de tratamento nos doentes com dor crónica. B ❖ Utilizar probióticos para prevenir a diarreia associada aos antibióticos nos doentes pediátricos, exceto nos que são imunodeprimidos ou têm um dispositivo médico colocado. B FORÇA DE RECOMENDAÇÃO (FR) A Evidência de boa qualidade orientada para o doente B Evidência inconsistente ou de qualidade limitada orientada para o doente C Consenso, prática habitual, opinião, séries de casos, orientados para a doença suplementos são tipicamente copode reduzir a dor da osteoartrose lhidos a partir das cascas do maris(OA) e melhorar funcionalmente, co. A glucosamina estimula o mesem muitos efeitos adversos.11 Um tabolismo das células sinoviais e EAC de dois anos em dupla oculdos condrocitos na cartilagem arti- tação comparou os efeitos de hicular e pode atrasar a degeneração drocloreto de glucosamina 500 mg da articulação.31,32 tid, sulfato de condroitina 400 mg A glucosamina é largamente tid, glucosamina mais condroitina, utilizada nos Estados Unidos A AHA recomenda 2 a 4 g/d de EPA mais DHA como suplemento alimentar, para baixar os níveis de triglicéridos. mais frequentemente na forma de sulfato, mas também como ncelecoxib 200 mg/d ou placebo em acetil-glucosamina e hidrocloreto 662 doentes com OA do joelho.12 de glucosamina, se bem que haja Embora todos os grupos tenham pouca evidência da efetividade tido alívio sintomático precoce e destes últimos preparados.33 mantido, a probabilidade de se ter A maior parte dos estudos avauma redução de dor superior a 20% liaram os efeitos do sulfato de glue melhoria funcional foram maiocosamina oral, 500 mg tomados 3 res com celocoxib e glucosamina. vezes por dia durante 30 a 90 dias. O sulfato de glucosamina pode Também foi utilizada a dose de causar efeitos adversos gastrointes1500 mg uma vez por dia. tinais ligeiros, mas a sonolência, Uma revisão Cochrane de 25 es- reações cutâneas e cefaleias tamtudos com 4963 doentes concluiu bém têm sido referidas. A alergia que o sulfato de glucosamina oral ao marisco é outra preocupação; Probióticos para prevenir a diarreia associada aos antibióticos A diarreia associada aos antibióticos (DAA) é um problema frequente.21 Os probióticos – microrganismos encontrados em suplementos orais, iogurte e outros alimentos – são frequentemente utilizados para ajudar a manter o equilíbrio da flora intestinal.34 Uma revisão Cochrane recente de 16 EACs que incluiu aproximadamente 3400 doentes concluiu que os probióticos podem prevenir a DAA.22 Uma revisão sistemática de 2012 e uma metanálise de 63 EACs com mais de 11.000 participantes concluiu que os probióticos diminuíram o risco relativo de aparecimento de diarreia em comparação ao encontrado em grupos controlo.35 A American Academy of Pediatrics apoia a utilização de probióticos, citando os resultados de uma metanálise que verificou que os probióticos reduziram o risco de aparecimento de diarreia de 28,8% para 11,9% em comparação com placebo.36 As doses exatas de probióticos ainda não foram estabelecidas e as recomendações variam desde 5 mil milhões a 40 mil milhões de unidades formadoras de colónias /d.22 Os probióticos usados com mais frequência são os do género Lactoba- Página 25 Postgraduate Medicine ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 51 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,36 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 7 QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS?, CONTINUAÇÃO QUADRO. Oito modalidades de MCA: Indicações e efeitos adversos Modalidade Indicação Efeitos adversos e contraindicações possíveis FR* Óleo de peixe Hipertrigliceridemia Queixas GI. Pode ter interações com medicação anticoagulante. Pode aumentar o risco de cancro da próstata B Glucosamina11-13 Osteoartrose Efeitos GI ligeiros, sonolência, reações cutâneas, cefaleias. Deve ser utilizado B com prudência em doentes com alergia ao marisco. Pode aumentar os efeitos anticoagulantes da varfarina Probióticos21-23 Prevenção da diarreia associada Flatulência, vómitos, exantema, dor torácica, aumento de expectoração. aos antibióticos Contraindicado nos doentes imunodeprimidos ou que tenham dispositivos médicos colocados Soja24,25 Hiperlipidemia Efeitos GI/reações alérgicas raras. Pode aumentar o risco de hiperplasia do C endométrio. Utilizar com prudência em doentes com disfunção da tiróide ou cancro hormonossensível Hipericão26,27 Depressão Fotossensibilidade, efeitos GI, fadiga, aumento do risco de cataratas. Não indicado em mulheres grávidas ou a amamentar. Pode interagir com antidepressivos, contracetivos orais, ciclosporina digoxina, indinavir, fenitoina, fenobarbtal, varfarina e outros. B 7-10 Imaginação orientada14-20 Humor, dor, ansiedade B Não se conhecem A Acupunctura1,3-6 Dor lombar, cervical e do ombro; osteoartrose; cefaleias Infeção, irritação cutânea, hematoma, pneumotótrax, migração espontânea de agulhas B Ioga28-30 Lombalgia Não se conhecem C MCA, medicina complementar e alternativa; GI, gastrointestinais; FR, força de recomendações. * Para uma explicação dos níveis e FR, ver página 48. cillus e Saccharomyces; há pouca evidência a apoiar outros géneros.21,22,35,36 Os probióticos são considerados relativamente seguros, mas não estão indicados em doentes imunodeprimidos ou que tenham dispositivos médicos colocados.23 Os efeitos adversos são raros, mas podem incluir flatulência, vómitos, rash, dor torácica e aumento de expetoração.21 Soja na hiperlipidemia A soja é uma espécie de legumes que contém quantidades significativas de proteínas, fibra, potássio e ferro. Se bem que a soja tenha sido utilizada para prevenir ou tratar o cancro, osteoporose e sintomas de menopausa, a evidência atualmente disponível é desfavorável ou é inconclusiva nestas indicações. Alguns EACs mostraram efeitos reduzidos, mas favoráveis, nos níveis de colesterol das lipoproteínas de baixa densidade e no colesterol total,24 enquanto outros estudos mostraram melhorias discretas nos níveis de triglicéridos sem melhorias significativas nos níveis de outros lípidos.25 Uma metanálise de 2011 de 10 EACs que incluiu 268 participantes verificou que uma dieta rica em produtos não soja, como alfaalfa, lentilhas e outras leguminosas, também melhora os níveis dos lípidos.37 Uma revisão de 136 estudos que descreveram 22 intervenções dietéticas concluiu que, entre ou- tras intervenções úteis para controlar a hiperlipidemia, a soja na diea – que contém fibras e gorduras polinsaturadas – é melhor que a suplementação isolada com proteína de soja.38 Deve ser-se cauteloso ao aconselhar a proteína de soja a doentes com disfunção tiroideia ou cancros hormonossensíveis porque há alguma evidência que possa interferir com a absorção de levotiroxina e aumentar o risco de sintomas clínicos de hipotiroidismo.39 A soja contém também fitoestrogénios e a utilização prolongada de suplementos de soja pode aumentar o risco de hiperplasia do endométrio.24 Esse risco tem sido documentado apenas com a utiliza- ➣ Página 26 Postgraduate Medicine ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 52 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,24 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 7 QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS?, CONTINUAÇÃO Entrevista motivacional no abuso de substâncias A entrevista motivacional (EM) é uma abordagem alternativa na comunicação tradicional médico-doente que inclui a utilização de questões abertas, escuta crítica, afirmação e avaliação da disposição para a mudança.1 Os facilitadores da EM têm por objetivo determinar uma mudança e ajudar os doentes a formar um plano de autogestão específico, mensurável, atingível, realista e com tempos determinados.1,3 A EM pode ser implementada efetivamente em vários contextos e por vários mediadores treinados.3-5 Por exemplo, o Brief Negotiation Interview exige apenas 7 minutos por doente nos serviços de urgência e melhora efetivamente os resultados a longo prazo no que respeita ao abuso de substâncias.4 Um estudo aleatorizado e controlado que incluiu 135 doentes internados num serviço de urgência psiquiátrica por abuso de substâncias mostrou que os que tiveram 2 sessões de EM tinham usado significativamente menos substâncias de abuso que os controlos nos 2 anos a seguir à intervenção.3 É fundamental o treino dos prestadores porque uma má utilização da EM pode ser contraproducente.5 Instrumentos como a escala Motivational Interviewing Treatment Integrity e a entrevista Client Evaluation of Motivational Interviewing podem ser utilizadas para assegurar a competência dos prestadores.4,6 Referências bibliográficas 1. 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As perturbações GI e reações alérgicas são raras, mas têm também sido referidas.24 Hipericão para a depressão O Hipericum perforatum (mosto de São João), uma erva perene, tem sido utilizada para o tratamento de doenças do humor e outras afeções há mais de 2000 anos.40,41 Os preparados comerciais habitualmente são extratos alcoólicos com uma relação erva/extrato de 4:1 a 8:1.26 A dose normal varia de 900 a 1500 mg/dia divididas em 2 a 3 doses do extrato de álcool padronizado a 0,3% de hipericina e/ou 3% a 5% de hiperforina. O hipericão tem sido avaliado extensamente para tratamento das doenças depressivas. Um EAC em dupla ocultação feito em 2001 em 11 centros académicos e clínicas comunitárias dos EUA entre 1998 e 2000, que inclui 200 doentes, mostrou que o hipericão não era efetivo nas depressões major moderadamente graves; mas havia uma tendência para um efeito positivo em ambos os grupos.26 No entanto, uma revisão Cochrane de 2009 que avaliou 29 estudos internacionais (5489 doentes) concluiu que o hipericão pode ser melhor que o placebo e tão efetivo quanto os antidepressivos nas depressões major ligeiras a moderadas,27 e pareceu ter menos efeitos adversos do que os antidepressivos. Esta revisão, efetuada em países de língua alemã, onde os profissionais há muito prescrevem hipericão, mostrou mais resultados positivos do que as efetuadas noutros países. O hipericão interage com vários medicamentos, incluindo antidepressivos, contracetivos orais, ciclosporina, digoxina, indinavir, fenitoína, fenobarbital, varfarina e outros. Induz as enzimas do citocromo P450 /CYP450 e assim pode po- Página 27 Postgraduate Medicine ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 53 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,56 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 7 QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS?, CONTINUAÇÃO tencialmente reduzir a eficácia de qualquer medicamento que seja metabolizado pelas enzimas do citocromo CYP450. Quando utilizado em doses altas em associação com antidepressivos, o hipericão pode causar síndrome serotonínica. Outros efeitos adversos são a fotossensibilidade, queixas GI, fadiga e aumento do risco de cataratas. Dada a falta de dados clínicos, o hipericão está contraindicado em mulheres grávidas ou a amamentar.42 Imaginação orientada para a ansiedade e dor A imaginação orientada é uma técnica de relaxamento que envolve a visualização de resultados positivos para diminuir a reação individual às experiências que provocam ansiedade ou dor.43 Pode ser praticada independentemente ou sob a orientação de um instrutor. UM EAC de 96 mulheres com cancro da mama diagnosticado de novo mostrou que a adição de relaxamento e imaginação orientada aos protocolos habituais de tratamento do cancro da mama afetou de forma positiva o humor e a qualidade de vida.14 Ainda que este estudo não tenha mostrado alterações nas respostas patológicas à quimioterapia,14 um EAC mais recente concluiu que são possíveis algumas vantagens bioquímicas.44 A imaginação orientada tem sido ligada a diminuição da ansiedade em diversos estudos em estudantes, mulheres em trabalho de parto, indivíduos que têm pesadelos e no contexto profissional como no treino de pilotos e cirurgiões.15-18 Uma revisão de 9 EACs de imaginação orientada para reduzir a dor musculoesquelética envolvendo 201 doentes, em 8 estudos, mostrou resultados positivos, embora a qualidade metodológica desses estudos seja baixa.19 Dos 6 estudos de boa qualidade incluídos numa revisão sistemática de 2012, 5 apoiam a significativamente as pontuações de dor. Os autores desta metanálise concluíram que a acupunctura tem um benefício pequeno, embora significativo, relativamente à acupunctura fantasma e concluíram que os benefícios da acupunctura não eram devidos a efeito placebo. Em 2007, o American College of Physicians (ACP) e a American Pain Society (APS) emitiram Uma posição da ACP/APS indica que a uma posição conjunta indiacupunctura deve ser considerada nos cando que a acudoentes com dor lombar crónica que não punctura deve respondem às terapêuticas convencionais. ser considerada nos doentes com lombalgia crónica que não respondem às terapêuutilização da imaginação orientada ticas convencionais.4 A North para a dores do pós-operatório, abdominais e outras dores não muscu- American Spine Sociey também loesqueléticas.20 Esta evidência ini- apoiou a acupunctura, referindo que garante «…melhor alívio da cial é promissora, mas é necessária mais investigação com boa qualida- dor a curto prazo e melhoria funcional comparada com não tratade metodológica para validar a mento e que a adição da acupuncimaginação orientada como teratura a outras modalidades de tratapêutica na ansiedade e na dor. mento é superior a estes tratamentos utilizados isoladamente.»5 Acupunctura para a dor Provas adicionais apoiam a ideia de que a acupunctura na dor lomEntre 2002 e 2007, a utilização da bar crónica melhora a função e seracupunctura aumentou significativamente nos Estados Unidos, espe- ve como terapêutica adjuvante.6 Os efeitos adversos referidos da cialmente para o tratamento da 1 acupunctura incluem – mas não se dor. Uma metanálise feita em 2012 em 29 EACs que incluiu qua- limitam a – infeção, irritação da pele, hematoma, pneumotórax e se 18.000 participantes avaliou a migração espontânea de agulhas.1,3-6 utilidade da acupunctura na dor lombar, cervical e do ombro, na Ioga para a lombalgia OA e nas cefaleias.3 Comparativamente a não se fazer tratamento, A lombalgia é principal causa que quer a acupunctura quer a aculeva os doentes a quererem modapunctura fantasma, melhoraram ➣ Página 28 Postgraduate Medicine ID: 60015000 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 54 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,57 x 25,09 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 6 de 7 QUE MODALIDADES DE MCA DEVEM SER CONSIDERADAS?, CONTINUAÇÃO lidades de terapêuticas de MCA.1 Uma revisão sistemática de 10 EACs que incluiu 967 participantes com lombalgia crónica encontrou fortes provas de efetividade a curto prazo e provas moderadas de efetividade a longo prazo com o ioga.28 Uma revisão de 17 estudos que incluiu 1626 doentes concluiu que o ioga melhorou tanto a dor como a funcionalidade; esta revisão não recomendou um tipo especial de ioga.29 Num estudo recente de 95 adultos minoritários com lombalgia crónica moderada a grave, a prática de ioga uma a duas vezes por semana, durante 12 semanas, foi igualmente efetivo para reduzir a dor e melhorar a função.30 As normas de orientação do ACP e do APS recomendaram o ioga como parte de um programa intensivo de reabilitação interdisciplinar para doentes com lombalgia subaguda ou crónica que não melhoram utilizando outros cuidados.4 Esta recomendação é especificamente para o Viniioga, uma modalidade em que o instrutor recomenda modificações de posição corporal para cada indivíduo com base nas lesões passadas e na condição física global (para mais informações sobre utilizações terapêuticas do ioga, ver «Ioga como terapêutica: quando é útil?» em http://bit.ly/yoga-as-therapy.). Correspondência Roger Zoorob, MD, MPH, FAAFP; Department of Family and Community Medicine, Baylor College of Medicine, 3701 Kirby Drive, Suite 600, Houston, TX 77098; [email protected] Referências bibliográficas 1. Barnes PM, Bloom B, Nahin RL. Comple- mentary and alternative medicine use among CD002946. adults and children: United States, 2007. Natl 12. Sawitzke AD, Shi H, Finco MF, et al. Clini- Health Stat Report. 2008;10:1-23. cal efficacy and safety of glucosamine, chondroitin 2. American Holistic Medicine Association. Inte- sulphate, their combination, celecoxib or placebo grative medicine centers. American Holistic Me- taken to treat osteoarthritis of the knee: 2-year re- dicine Association Web site. Available at: http:// sults from GAIT. Ann Rheum Dis. 2010;69:1459- www.holisticmedicine.org/content.asp?pl=30&sl= 1464. 2&contentid=74. Accessed September 8, 2014. 13. Dostrovsky NR, Towheed TE, Hudson RW, 3. Vickers AJ, Cronin AM, Maschino AC, et al; et al. 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Página 30 Postgraduate Medicine A31 ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 42 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,24 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 6 SIMPÓSIO SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE NAS CRIANÇAS Prevenção das cáries dentárias em crianças desde o nascimento até aos cinco anos U.S. Preventive Services Task Force Resumo das recomendações e da evidência de saúde não dentista (por ex., médico, enfermeiro). A Fundamentação US preventive Services Task Force (USPSTF) recomenda que os médicos dos cuidados de saúde primários prescrevam suplementação com flúor oral desde os seis meses de idade nas crianças que vivam em zonas em que a quantidade de flúor na água seja deficiente (quadro 1). Recomendação B. A USPSTF recomenda que os clínicos dos cuidados de saúde primários façam aplicação de verniz de flúor na dentição primária de todos os lactentes e crianças desde a erupção dos primeiros dentes. Recomendação B. Ver a secção de Considerações Clínicas para informação adicional sobre estas intervenções de prevenção. A USPSTF conclui que a evidência disponível é insuficiente para avaliar o equilíbrio entre os benefícios e os danos de exames de rastreio de rotina para pesquisa de cáries dentárias realizados por médicos de cuidados de saúde primários em crianças entre o nascimento e os cinco anos de idade. Declaração I Ver Considerações Clínicas para sugestões para a prática acerca da Declaração I. O público alvo das recomendações da USPSTF são os médicos dos cuidados de saúde primários, que fornecem um amplo conjunto de cuidados médicos aos indivíduos. Se bem que os dentistas possam ser considerados prestadores de cuidados primários de saúde oral, no que diz respeito às recomendações deste grupo, o médico de cuidados primários ou o prestador de cuidados primários é definido como um profissional de cuidados Importância As cáries dentárias são as doenças crónicas mais frequentes nas crianças dos Estados Unidos.1 De acordo com o National Health and Nutritian Examination Survey de 19992004, cerca de 42% das crianças entre 2 e 11 anos de idade têm cáries dentárias na sua primeira dentição. Depois de ter havido um decréscimo desde o início dos anos 70 até metade dos anos 90, a prevalência de cáries dentárias tem vindo a subir, especialmente entre as crianças dos dois aos cinco anos de idade.2 Reconhecer o estado de risco Os instrumentos de avaliação de risco geralmente avaliam o risco com base em fatores como risco demográfico, história de saúde oral pessoal e familiar, hábitos dietéticos, exposição ao flúor e práticas de higiene oral. A informação a partir da avaliação clínica tem igualmente sido proposta, quer como uma medida quantitativa quer qualitativa da sobrecarga bacteriana oral. A USPSTF não encontrou estudos que avaliassem a precisão dos instrumentos de avaliação do risco de futuras cáries dentárias no contexto dos cuidados de saúde primários. Benefícios das intervenções preventivas e da deteção precoce Intervenções preventivas. A USPSTF encontrou evidência adequada de que a suplementação com flúor por Página 31 Postgraduate Medicine ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 43 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,46 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 6 PREVENÇÃO DAS CÁRIES DENTÁRIAS EM CRIANÇAS, continuação QUADRO 1. Prevenção das cáries dentárias em crianças desde o nascimento até aos cinco anos de idade: resumo clínico da recomendação da USPSTF População Crianças com ≤5 anos Recomendação Prescrever suplementos de flúor oral desde os seis meses nas crianças com fontes de água com deficiência em flúor Aplicar verniz de flúor na dentição primária de todas as crianças e lactentes começando na altura da erupção dos primeiros dentes. Grau: B Grau: B Rastreios orais de rotina: não recomendado Grau: Declaração I Avaliação do risco Todas as crianças têm um risco potencial de cáries dentárias; as que bebem água deficiente em flúor (definido como <0,6 partes por milhão) têm um risco especial. Embora não haja instrumentos de rastreio multivariados validados para determinar quais as crianças em maior risco de cáries dentárias, existem vários fatores individuais que elevam o risco, tais como a baixa condição socioeconómica, pertencer a uma minoria étnica, exposição frequente a açúcar ou snacks, alimentação a biberão inadequada, defeitos de desenvolvimento do esmalte dentário, boca seca, história prévia de cáries (na criança, num irmão ou na mãe), falta de acesso a cuidados dentários e medidas de prevenção inadequadas (tais como não utilizar dentífricos com flúor) Medidas preventivas Suplementos de flúor oral previnem cáries dentárias em crianças com ingestão de água inadequadamente fluoretada. Todas as crianças depois de terem erupções dentárias beneficiam com a aplicação periódica de verniz de flúor, independentemente dos níveis de flúor existentes na água. Balanço de benefícios e danos Existe um benefício global moderado de Há um benefício global moderado de A evidência de fazer uma observação fazer suplementação com flúor oral aplicar verniz de flúor em todas as oral de rotina para rastreio de cáries nas doses recomendadas em crianças crianças desde a altura da erupção dos dentárias em crianças desde o com mais de seis meses que vivem dentes da primeira dentição até aos nascimento até aos cinco anos é em comunidades com quantidades de cinco anos. insuficiente, e o balanço dos flúor na água inadequadas. benefícios e danos não pode ser determinada. NOTA: Para um resumo da evidência revista sistematicamente que fundamenta esta recomendação, a declaração com a recomendação completa e os documentos de apoio, deve consultar-se http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/. via oral, também chamada suplementação dietética com flúor, nas crianças que têm baixos níveis de flúor na água e a aplicação de flúor na dentição primária pode dar um benefício moderado na prevenção das cáries dentárias. A USPSTF detetou evidência insuficiente para os benefícios da educação pelo prestador aos pais acerca da higiene oral na prevenção de cáries dentárias nas crianças. Rastreio. A USPSTF não encontrou estudos que avaliassem o efeito direto dos exames de rastreio oral realizados por médicos dos cuidados de saúde primários na melhoria dos resultados em crianças com menos de cinco anos. Riscos das intervenções preventivas e deteção precoce Intervenções preventivas. A USPSTF encontrou evidência adequada ligando a exposição precoce das crian- ças ao flúor sistémico e a fluorose do esmalte, uma alteração visível no aspeto do esmalte por alteração da mineralização. A fluorose pode variar desde ligeira (pequenas manchas brancas ou estrias) a grave (descoloração, pontos de corrosão ou esmalte áspero), dependendo da exposição sistémica global ao flúor, ao longo do tempo. Não há estudos que tenham avaliado especificamente o risco de fluorose com a aplicação de verniz de flúor; no entanto, comparativamente com outras aplicações tópicas de flúor, a exposição sistémica ao flúor é reduzida após aplicação de verniz.3,4 É importante considerar a exposição sistémica global da criança ao flúor proveniente de várias origens (por ex., fluoretação da água, pasta de dentes, suplementos, verniz), mas nos Estados Unidos a fluorose do esmalte apresenta-se com alterações cosméticas ligeiras em mais de 99% dos casos.5 ➣ Página 32 Postgraduate Medicine ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 44 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 24,97 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 6 PREVENÇÃO DAS CÁRIES DENTÁRIAS EM CRIANÇAS, continuação A USPSTF conclui que existe evidência limitada de danos associados ao verniz de flúor ou outras medidas preventivas das cáries dentárias, mas que esses riscos serão provavelmente ligeiros. Rastreio. A USPSTF não encontrou estudos avaliando a magnitude dos danos do rastreio em crianças desde o nascimento até aos cinco anos de idade para as cáries dentárias ou risco futuro de cáries no contexto dos cuidados de saúde primários. Avaliação da USPSTF A USPSTF concluiu com moderada certeza que há um benefício global moderado de prevenção de futuras cáries dentárias com a suplementação com flúor oral em doses recomendadas em crianças acima dos seis meses que residam em comunidades onde exista défice de flúor na água. A USPSTF concluiu com moderada certeza que haverá um benefício global moderado na prevenção de futuras cáries dentárias com a aplicação de verniz de flúor em todas as crianças começando na altura da erupção dos dentes até aos cinco anos. A USPSTF conclui que a evidência resultante de fazer exames orais de rastreio de rotina para as cáries dentárias em crianças desde o nascimento até aos cinco anos é insuficiente e o balanço entre benefícios e danos do rastreio não pode ser determinado. Considerações clínicas População de doentes Esta recomendação é aplicável a crianças com menos de 5 anos. A USPSTF limitou a consideração ao rastreio e prevenção das cáries pelos médicos dos cuidados de saúde primários a lactentes e crianças em idade pré-escolar. A fundamentação desta decisão foi que, nesta altura, os médicos dos cuidados de saúde primários não dentistas têm possivelmente, nos Estados Unidos, mais contacto com as crianças com menos de 5 anos do que os dentistas6,7; esta situação muda à medida que as crianças chegam à idade escolar e ultrapassam essa fase. Também, à medida que as crianças crescem, os dentistas utilizam selantes em vez de verniz de flúor e, assim, a USPSTF limitou a sua revisão da evidência de intervenções preventivas para as cáries den- tárias a este grupo etário. Esta recomendação não deve ser interpretada como implicando que as intervenções preventivas nas cáries dentárias devam cessar aos 5 anos. Avaliação do risco Todas as crianças têm risco potencial de cáries dentárias; as que ingerem água com deficiência de flúor (definida como contendo menos de 0,6 partes por milhão) têm um risco especial. Embora não exista nenhum instrumento de rastreio multivariado validado para determinar quais as crianças de alto risco de cáries dentárias, há um número de fatores individuais que amentam o risco. A maior prevalência e gravidade das cáries dentárias encontra-se nas crianças originárias das minorias e de menores rendimentos económicos. Outros fatores de risco de cáries em crianças incluem a exposição ao açúcar, alimentação com biberão inadequada, defeitos do desenvolvimento do esmalte dos dentes, boca seca e história anterior de cáries. Fatores maternos e familiares podem também aumentar o risco das crianças. Estes fatores incluem a má higiene oral, baixo nível socioeconómico, cáries recentes na mãe, cáries em irmãos e ingestão frequente de pequenas refeições (snacks). Fatores adicionais associados com cáries dentárias em crianças novas incluem a falta de aceso a cuidados dentários, medidas preventivas inadequadas, tais como não utilização de pastas dentífricas com flúor e falta de conhecimentos dos pais sobre saúde oral.8,9 Algumas organizações têm preconizado a restrição da utilização de verniz com flúor em crianças. Embora existam vários instrumentos de avaliação do risco de cáries, nenhum foi validado no âmbito dos cuidados de saúde primários, nem existem estudos demonstrando que estes instrumentos, quando utilizados em cuidados primários, possam estabelecer diferenças entre crianças que vão ou não desenvolver cáries dentárias.8,9 Uma abordagem baseada no risco à aplicação do verniz com flúor perde as oportunidades de fornecer uma intervenção efetivamente protetora das cáries dentárias em crianças que dela possam beneficiar, em especial porque, atualmente, nos Estados Unidos, os lactentes e as crianças em idade pré-escolar têm maior probabilidade de visitarem em consulta regular os médicos dos cuidados de saúde primários do que os prestadores de cuidados dentários.6,7 Página 33 Postgraduate Medicine ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 45 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,24 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 6 PREVENÇÃO DAS CÁRIES DENTÁRIAS EM CRIANÇAS, continuação Intervenções para prevenir as cáries dentárias Conforme foi referido anteriormente, a suplementação com flúor oral previne as cáries dentárias em crianças que vivem em zonas em que a água não está convenientemente fluoretada. Todas as crianças após erupção dentária podem potencialmente beneficiar da aplicação periódica de verniz de flúor, independentemente dos níveis de flúor na água. Embora os dados que apoiam a aplicação de verniz tenha sido obtida em populações de alto risco, aplicar verniz de flúor a todas as crianças é razoável dada a prevalência elevada de fatores de risco nos EUA, o número necessário a tratar ser baixo e os danos da intervenção serem pequenos ou nenhuns. A USPSTF não reviu a evidência sobre eficácia de escovar os dentes, mas lavar os dentes com frequência com dentífrico com flúor é muito importante na prevenção das cáries dentárias.10 Altura e dose das intervenções preventivas Nenhum estudo abordou especificamente a dose e a altura da suplementação com flúor oral em crianças com água inadequadamente fluoretada. As recomendações de dose e idade de início da suplementação oral com flúor da American Dental Association tomaram em linha de conta a quantidade de flúor existente na água que as crianças ingerem.11 Esta recomendação da dose foi também referenciada pela American Academy of Pediatrics.12 Nenhum estudo avaliou diretamente a idade mais adequada para início e final da aplicação de flúor em verniz. Ensaios disponíveis de aplicação de verniz de flúor envolveram crianças dos três aos cinco anos; no entanto, dados os mecenismos de ação desta intervenção, os benefícios poderão ser maiores se a aplicação começar a ser feita na altura da erupção dos primeiros dentes. Evidência limitada mostrou não haver uma diferença clara no incremento das cáries entre fazer a aplicação do verniz de flúor uma vez por ano vs de seis em seis meses13 ou entre uma única aplicação cada seis meses vs múltiplas aplicações uma vez por ano ou cada seis meses.14,15 Sugestões para a prática acerca da Declaração I Para se decidir fazer exames de rastreio de cáries dentárias, por rotina em crianças desde que nascem até aos cinco anos de idade, os médicos devem ter em conta o seguinte. Potencial morbilidade prevenível. As cáries dentárias são as doenças crónicas mais comuns nas crianças nos Estados Unidos. São quatro vezes mais frequentes do que a asma infantil e sete vezes mais do que a febre dos fenos. De acordo com o National Health and Nutrition Examination Survey, a prevalência de cáries dentárias aumentou de 24% para 28% entre 1988-1994 e 19992004.2 Aproximadamente 20% das crianças inquiridas com cáries não tinham feito tratamento. As cáries dentárias sintomáticas nas crianças associam-se com dor, perda de peças dentárias, atraso de crescimento e diminuição do peso e pode afetar o aspeto da criança, a autoestima, a linguagem e o desempenho escolar. Preocupações relacionadas com os dentes levam a perda de mais de 54 milhões de horas de escola por ano.16 Danos potenciais. Nenhum estudo avaliou os danos de se fazerem rastreios em cuidados de saúde primários pesquisando cáries dentárias desde o nascimento até aos cinco anos.8,9 No entanto, dada a natureza não invasiva de um exame oral, admite-se que os danos se existirem serão mínimos. Prática habitual. Num estudo, apenas metade dos pediatras referia examinar os dentes de metade dos seus doentes do nascimento até aos três anos de idade.17 Outras abordagens de prevenção Em abril de 2013, a Community Preventive Services Task Force recomendou a fluoretação das origens da água na comunidade com base em evidência forte da efetividade desta medida na redução das cáries.18 Também recomendou programas de fornecimento de selantes dentários nas escolas para se prevenirem as cáries. O xilitol pode ser um método promissor adicional para se reduzir o risco de cáries dentárias. O xilitol está classificado pela US Food and Drug Administration como suplemento dietético (Nota do editor: em Portugal encontra-se em venda livre sob a forma de pastilhas elásticas e drops). Um ensaio pequeno, de qualidade razoável avaliou a sua utilização em crianças dos 6 aos 35 meses e encontrou uma redução relativa de 91% das cáries, das perdas ou da mineralização.19 No entanto, quatro outros estudos não mostraram melhoria das cáries com o uso de xilitol em crianças com menos de cinco anos.20-23 Por ➣ Página 34 Postgraduate Medicine ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 46 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,45 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 6 PREVENÇÃO DAS CÁRIES DENTÁRIAS EM CRIANÇAS, continuação isso, nesta altura, não há evidência suficiente para recomendar o uso de xilitol nas medidas de rotina de prevenção das cáries. Esta recomendação foi inicialmente publicada na revista "Pediatrics. 2014;133(6):1102-1111". As secções “Other Considerations,” “Discussion,” “Update of Previous Recommendation,” e “Recommendations of Others” desta Recomendação estão disponíveis em http://www.uspreventiveservicestaskforce.org/Page/Topic/recommendation-summary/dental-cariesin-childrenfrom-birth-through-age-5-years-screening As recomendações da USPSTF são independentes do governo norteamericano e não representam linhas de orientação da "Agency for Healthcare Research and Quality", do "U.S. Department of Health and Human Services", ou do "U.S. Public Health Service". Referências bibliográficas 1. National Center for Health Statistics. Healthy people 2010 final review. Hyattsville, Md.: National Center for Health Statistics; 2012. http://www.cdc.gov/nchs/healthy_people/hp2010/hp2010_final_revie w.htm. Accessed January 28, 2014. 2. Dye BA, Tan S, Smith V, et al. Trends in oral health status: United States, 1988-1994 and 1999-2004. Vital Health Stat 11. 2007;(248):1-92. 3. Ekstrand J, Koch G, Lindgren LE, Petersson LG. Pharmacokinetics of fluoride gels in children and adults. Caries Res. 1981;15(3):213-220. 4. Ekstrand J, Koch G, Petersson LG. Plasma fluoride concentration and urinary fluoride excretion in children following application of the fluoride-containing varnish Duraphat. Caries Res. 1980;14(4):185189. 5. Beltran-Aguilar D, Barker LK, Dye BA. Prevalence and severity of dental fluorosis in the United States, 1999-2004. National Center for Health Statistics Data Brief. Hyattsville, Md.; 2010. 6. American Academy of Pediatrics. Profile of pediatric visits: annualized estimates 2000-2004. Elk Grove Village, Ill.: American Academy of Pediatrics; 2007. 7. Edelstein BL, Chinn CH. Update on disparities in oral health and access to dental care for America’s children. Acad Pediatr. 2009;9(6):415-419. 8. Chou R, Cantor A, Zakher B, Mitchell JP, Pappas M. Preventing dental caries in children <5 years: systematic review updating USPSTF recommendation. Pediatrics. 2013;132(2):332-350. 9. Chou R, Cantor A, Zakher B, Mitchell J, Pappas M. Prevention of dental caries in children younger than age 5 years: systematic review to update the U.S. Preventive Services Task Force recommendation. Evidence synthesis no. 104. AHRQ publication no. 12-05170-EF-1. Rockville, Md.: Agency for Healthcare Research and Quality; 2014. 10. Marinho VC, Higgins JP, Sheiham A, Logan S. Fluoride toothpastes for preventing dental caries in children and adolescents. Cochrane Database Syst Rev. 2003;(1):CD002278. 11. Rozier RG, Adair S, Graham F, et al. Evidence-based clinical recommendations on the prescription of dietary fluoride supplements for caries prevention: a report of the American Dental Association Council on Scientific Affairs. J Am Dent Assoc. 2010;141(12):1480-1489. 12. American Academy of Pediatrics. Oral health practice tools. Elk Grove Village, Ill.: American Academy of Pediatrics; 2013. http://www2.aap.org/oralhealth/PracticeTools.html. 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Acad Pediatr. 2009;9(6):457-461. 18. Community Preventive Services Task Force. Preventing dental caries: community water fluoridation. Atlanta, Ga.: Community Preventive Services Task Force; 2013. http://www.thecommunityguide. org/oral/fluoridation.html. Accessed January 28, 2014. 19. Zhan L, Cheng J, Chang P, et al. Effects of xylitol wipes on cariogenic bacteria and caries in young children. J Dent Res. 2012;91(7 suppl):85S-90S. 20. Kovari H, Pienihäkkinen K, Alanen P. Use of xylitol chewing gum in daycare centers: a follow-up study in Savonlinna, Finland. Acta Odontol Scand. 2003;61(6):367-370. 21. Oscarson P, Lif Holgerson P, Sjöström I, Twetman S, StecksénBlicks C. Influence of a low xylitol-dose on mutans streptococci colonisation and caries development in preschool children. Eur Arch Paediatr Dent. 2006;7(3):142-147. 22. Seki M, Karakama F, Kawato T, Tanaka H, Saeki Y, Yamashita Y. 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Página 35 Postgraduate Medicine ID: 60014977 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 16,73 x 20,99 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 6 de 6 Simpósio: Problemas de saúde nas crianças • Prevenção da cárie dentária em crianças até aos cinco anos Página 36 Postgraduate Medicine A37 ID: 60014916 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 3 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 11,31 x 24,86 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 2 EDITORIAL Dia Mundial do Médico de Família Edmundo Bragança de Sá O dia 19 de maio é o Dia Mundial do Médico de Família, declarado pela primeira vez em 2010 pela World Organization of Family Doctors (WONCA) como forma de salientar o papel e a contribuição dos Médicos de Família nos Sistemas de Saúde em todo o mundo. Como dizia a Professora Bárbara Starfield (falecida em 2011) “existem boas evidências, de uma grande variedade de estudos, que bons cuidados de saúde primários estão associados a melhores resultados, menores custos e maior equidade em saúde”. Nunca é demais salientar as características da disciplina de Medicina Geral e Familiar conforme definidas pela WONCA Europa em 2002: a) É o primeiro ponto de contacto médico com o sistema de saúde, proporcionando um acesso aberto e ilimitado aos seus utentes e lidando com todos os problemas de saúde, independentemente da idade, sexo, ou qualquer outra característica da pessoa em questão. b) Utiliza eficientemente os recursos da Saúde, coordenando a prestação de cuidados, trabalhando com outros profissionais no contexto dos cuidados primários e gerindo a interface com outras especialidades, assumindo o papel de provedor do utente sempre que necessário. c) Desenvolve uma abordagem centrada na pessoa, orientada para o indivíduo no contexto da sua família, comunidade e cultura, e respeitando sempre a sua autonomia. d) Tem um processo de Consulta singular em que se estabelece uma relação ao longo do tempo, através de uma comunicação médico-utente efetiva. e) É responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente consoante as necessidades do utente. f) Possui um processo de tomada de decisão determinado pela prevalência e incidência de doença na comunidade. g) Gere simultaneamente os problemas, tanto agudos como crónicos, dos indivíduos. h) Gere a doença que se apresenta de forma indiferenciada, numa fase precoce da sua história natural, e que pode necessitar de intervenção urgente. i) Promove a saúde e bem-estar através de intervenções tanto apropriadas como efetivas. j) Tem uma responsabilidade específica pela saúde da comunidade. k) Lida com os problemas de saúde em todas as suas dimensões física, psicológica, social, cultural e existencial. (continua na página 28) Página 37 Postgraduate Medicine ID: 60014916 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 30 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 7,31 x 25,03 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 2 EDITORIAL, CONTINUAÇÃO (continuação da página 1) Os médicos de família devem responsabilizar-se pelo desenvolvimento e manutenção das suas aptidões, equilíbrio e valores pessoais, como base para a prestação segura e efetiva de cuidados de saúde aos utentes. Nesse sentido não posso deixar de referir o brilhante doutoramento do Dr. Bruno Heleno no dia 8 de junho em Copenhaga, na Dinamarca, perante um júri internacional do mais elevado nivel: Professor Peter Gøtzsche, do Departmento de Clinical Medicine,University of Copenhagen (Presidente); Professor Carl Heneghan, do Centre for EvidenceBased Medicine, Oxford – Inglaterra; e o Professor Signe Flottorp, do Norwegian Knowledge Centre for the Health Services, Oslo – Noruega. A sua tese de doutoramento foi sobre os malefícios associados aos rastreios de cancro. Um dos trabalhos mostrou que nos ensaios clínicos sobre rastreios oncológicos são descritos os potenciais benefícios, mas os malefícios raramente são avaliados. Outro dos trabalhos mostrou que a sensibilidade e a especificidade não são medidas válidas quando procuramos avaliar os testes de rastreios, devido ao sobrediagnóstico. Finalmente o Dr. Bruno Heleno demonstrou que os falso-positivos numa mamografia de rastreio levam a ansiedade, e que essa ansiedade não está restrita às mulheres que precisam de biópsia, mas que também afeta mulheres que apenas necessitam de mamografia clínica para excluir cancro. A Edição Portuguesa da Postgraduate Medicine felicita o Dr. Bruno Heleno pelo seu doutoramento e congratula-se por mais este enriquecimento da MGF em Portugal. Página 38 Postgraduate Medicine A39 ID: 60015044 01-06-2015 Como ajudar a tratar a enurese Tiragem: 7000 Pág: 61 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 18,70 x 26,00 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 3 Conselhos aos Doentes: O que é enurese noturna? Enurese noturna é o termo médico designando que a criança urinou na cama durante o sono. Esta situação – que é mais comum nos rapazes – é bastante frequente em crianças pequenas e muitas vezes é apenas uma etapa do seu desenvolvimento. Muitas delas crescem sem que haja necessidade de qualquer intervenção e, geralmente, esta só surge quando começa a haver preocupação pelo facto de a criança continuar a urinar na cama após os cinco anos de idade. Quando é pode ser considerado que existe enurese? Para que se possa estabelecer corretamente o diagnóstico de enurese, a criança deve continuar a urinar na cama, pelo menos duas vezes por semana, durante um período de três meses consecutivos após os cinco anos. A enurese nas crianças deve-se à falta de controlo sobre a micção ou a uma perda urinária involuntária durante o sono. Quais são as causas da enurese? A enurese não é um problema mental nem comportamental e não acontece porque a criança é muito preguiçosa para sair da cama e ir ao quarto de banho. Ela deve-se à falta de controlo sobre a micção ou a uma perda urinária involuntária durante o sono. Por isso, as crianças não devem ser punidas por urinar na cama. Existem muitos problemas de saúde que podem causar a enurese, embora a causa nem sempre seja óbvia. O médico pode pedir alguns exames se pensar que a sua criança possa ter alguns destes problemas de saúde: • Prisão de ventre • Diabetes • Infeção das vias urinárias • Problemas nos esfíncteres uretrais em rapazes ou nos ureteres nas raparigas e nos rapazes (os esfíncteres uretrais controlam a saída da urina da bexiga; os ureteres são tubos que conduzem a urina dos rins para a bexiga) • Problemas na espinal-medula Quando é que a maioria das crianças aprende a controlar a bexiga? As crianças aprendem a controlar a sua bexiga em alturas diferentes da sua vida. Depois dos cinco anos a maioria das crianças já não urina na cama. No entanto, a enurese em crianças com mais de cinco anos é bastante comum e embora possa ser bastante frustrante para os pais deve ser encarada como uma situação que tem resolução. As crianças não devem ser punidas por urinar na cama. Que ajuda médica pode ser dada? Embora a maioria das crianças com enurese seja saudável, o médico pode tentar descobrir se o urinar na cama é causado por algum problema orgânico. Em primeiro lugar, irá perguntar sobre os hábitos de utilização da casa de banho, noturnos e diurnos. De seguida, pedirá exames à urina para verificar a existência de infecção ou de diabetes. Para além disso, certamente vai inquirir sobre o comportamento da criança em casa e na escola e poderá ainda indagar sobre se houve alterações recentes na sua vida familiar, nomeadamente mudança de residência, porque essa pode ser a origem do problema. Entre os tratamentos comportamentais mais importantes destaca-se a necessidade de limitar fortemente a ingestão de líquidos antes de deitar. Enurese Que tratamentos existem para a enurese? A maioria das crianças supera a enurese sem tratamento. No entanto, se os pais e o médico decidirem que é chegado o momento de se proceder a um tratamento para resolver o problema, podem optar por dois tipos de tratamento: a terapia comportamental e/ou a medicamentosa. A terapia comportamental vai levar a que processem alterações nos hábitos e comportamentos da criança e que ela cesse de urinar na cama. Os tratamentos comportamentais incluem: • Limitar ingestão de líquidos antes de deitar • Evitar bebidas com cafeína, como chá e colas • Fazer com que a criança use o quarto de banho com intervalos regulares, durante o dia. • Garantir uma rotina tranquila na altura de ir para a cama, ou seja, levar a criança ao quarto de banho ao chegar a hora de deitar e depois, imediatamente antes de ela adormecer. • Utilizar um sistema de alarme que toca quando a criança começa a urinar e que ensina a criança a responder à bexiga cheia durante a noite Página 39 Postgraduate Medicine ID: 60015044 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 62 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 26,00 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 3 Conselhos aos Como ajudar a tratar a enurese, continuação Doentes: • Pedir à criança que ajude a mudar os lençóis da cama quando os molha • Criar um sistema de recompensa quando ela passa uma noite sem molhar a cama e que será melhorado se isso suceder em 2 ou mais noites consecutivas • Treinar a criança a reter a urina num espaço de tempo cada vez maior de forma a que se processe uma dilatação da bexiga e a premência em urinar seja cada vez mais reduzida. O alarme de cama é o melhor tratamento para a enurese, mas pode demorar algum tempo a ter efeito. Treinar a criança a reter a urina num espaço de tempo cada vez maior de forma a que se processe uma dilatação da bexiga Enurese O acesso até ao quarto de banho deve estar facilitado com uma boa iluminação para que a criança possa fácil e rapidamente encontrar o caminho. O que deve saber sobre o alarme de cama? O alarme de cama é o melhor tratamento para a enurese, mas pode demorar algum tempo a ter efeito. É colocado no pijama da criança e tem integrado um sensor que emite um alarme sonoro para que a criança desperte logo que seja detetada a presença de urina. Então a criança é instruída para reter a urina e ir fazer o seu esvaziamento no bacio ou na casa de banho. Progressivamente, a criança vai aprendendo a reconhecer os sinais fisiológicos da bexiga cheia e através do treino começa a controlar adequadamente os esfíncteres urinários. O alarme é uma solução segura porque não dá choque nem existem contraindicações. Para além disso, o som não é agressivo para que não provoque sustos nem traumas. Antes de iniciar a terapia com o alarme, deve ser acordado entre os pais e os filhos como deve ser articulada a sua utilização. Idealmente, a criança deve acordar com o alarme, desligálo, ir à casa de banho urinar, voltar para a cama e voltar a ligar o alarme. No entanto, inicialmente pode ser necessário ajudar a criança a acordar quando o alarme toca porque algumas crianças podem não acordar com o alarme (ou até podem desligá-lo durante o sono). A terapia de alarme não é fácil para todas as famílias porque representa um grande compromisso, já que os pais têm de estar preparados para que ele toque todas as noites e tenham de monitorizar a situação pelo menos durante três meses. Que tipos de medicamentos são usados para tratar a enurese? Se depois de a criança ter mais de sete anos se verificar que a terapia comportamental não surtiu efeito ou funcionou de forma incompleta, o médico pode receitar um medicamento apropriado para a enurese. Os medicamentos não curam, mas reduzem os sintomas, à medida que a criança cresce e se desenvolve até um ponto em que o problema desaparece. O medicamento mais frequentemente usado é a desmopressina, devendo ser dado um comprimido cerca de uma hora antes da criança ir dormir. Pode ser tomado todas as noites ou apenas para noites de eventos importantes, tais como quando a criança dorme fora de casa ou nas colónias de férias. Nas noites em que a criança toma desmopressina, deve limitar a ingestão de líquidos ao máximo de 175 ml após o final da tarde e não ingerir bebidas desde uma hora antes da toma da desmopressina até à manhã seguinte, ou seja, aproximadamente durante 8 horas. Se não houver evolução positiva após algumas semanas de tratamento, poderá ser aumentada a dose. Por outro lado, a desmopressina pode ser utilizada ao longo de vários meses até que se verifique interesse em parar o tratamento. Se a criança voltar a urinar na cama, o medicamento pode ser reiniciado Como pode ajudar o seu filho a lidar com o problema da enurese Antes de mais, há necessidade que a criança assuma que urinar na cama é inadequado e que tem de fazer o possível por alterar a situação e uma das formas de a levar a sentir essa necessidade é obrigá-la a dar uma ajuda na lavagem da roupa da cama. No entanto, é importante não a fazer sentir-se culpada e muito menos puni-la porque ela não tem culpa da disfunção e a punição não vai resolver o problema. Para além disso, pode ser útil para a criança saber que ninguém conhece a causa exata da enurese e que até pode ser um problema familiar. Outra ajuda que pode ser dada é facilitar o acesso até ao quarto de banho com uma boa iluminação para que a criança possa fácil e rapidamente encontrar o caminho. Poderá também cobrir o colchão com um resguardo plástico para evitar que ele se estrague e permaneça sempre seco. Esta informação não substitui a consulta do seu médico Página 40 Postgraduate Medicine ID: 60015044 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 5 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,35 x 5,05 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 3 SECÇÕES CONSELHOS AOS DOENTES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Como ajudar a tratar a enurese Página 41 Postgraduate Medicine A42 ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 9 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,52 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 12 SIMPÓSIO SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE NAS CRIANÇAS Avaliação e tratamento da obstipação em crianças e adolescentes Samuel Nurko, MD* Lori A. Zimmerman, MD** NOTA PRÉVIA A obstipação na infância é frequente e quase sempre funcional não tendo uma causa orgânica. A retenção de fezes pode levar a incontinência fecal nalguns casos. Frequentemente, a história médica e o exame objetivo são suficientes para diagnosticar a obstipação funcional. Avaliação adicional para doença de Hirschprung, anomalias medulares ou doenças metabólicas podem ser necessárias em crianças que apresentem outros sinais de alerta, tais como início do problema antes de um mês de idade, atraso na eliminação de mecónio depois de nascer, dificuldades de crescimento, fezes explosivas e distensão abdominal grave. A terapêutica bem sucedida implica prevenção e tratamento dos fecalomas, com laxantes orais ou terapêuticas retais. Soluções à base de polietilenoglicol tornaram-se as terapêuticas principais, embora outras opções como laxantes osmóticos ou estimulantes estejam também acessíveis. Aumentar o conteúdo de fibra na dieta pode aumentar a probabilidade de os laxantes poderem ser suspensos no futuro. É importante educar os doentes, tanto como tratá-los medicamente, e isso inclui aconselhamento aos familiares para reconhecerem comportamentos de retenção; utilização de intervenções comportamentais, tais como ir à casa de banho de forma programada e regular e sistemas de recompensa; e esperarem uma evolução crónica, com terapêutica prolongada, recidivas frequentes e necessidade de vigilância apertada. O envio a um subespecialista tem indicação apenas quando se suspeita de uma causa orgânica ou quando a obstipação se mantém, apesar de estar a ser feita uma terapêutica adequada. A obstipação é um dos problemas crónicos mais frequentes na infância, atingindo 1% a 30% das crianças em todo o mundo.1 A obstipação é responsável por 3% das consultas a crianças em cuidados primários e 10% a 25% das consultas de gastroenterologia pediátrica. 2 As crianças com obstipação custam três vezes mais aos sistemas de cuidados de saúde comparativamente às crianças sem obstipação,3 e os efeitos negativos na qualidade de vida persistem frequentemente na idade adulta.4 *Diretor do Motility and Gastrointestinal Disorders Center em Boston (Mass.) Children’s Hospital, Professor Associado do Departamento de Medicina. **Especialista de Gastroenterologia e Nutrição do Departamento de Medicina do Boston Children’s Hospital. Definição Os critérios de Roma III são os mais aceites para diagnosticar a obstipação na infância (quadro 1)5,6 No entanto, não é necessário considerar a duração de tempo total para se iniciar a terapêutica porque existem resultados que provam que o início mais precoce do tratamento afeta favoravelmente os resultados.2 Padrões de defecação normal Os pais queixam-se muitas vezes de os seus filhos terem dejeções pouco frequentes. O número de dejeções que uma criança tem por dia diminui com a idade e atinge a frequência dos adultos nos anos pré-escolares.7,8 Um lactente tem, em média, três a quatro deje- ➣ Página 42 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 10 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,40 x 25,14 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 1. Critérios de diagnóstico Roma III para o diagnóstico da obstipação funcional em crianças Pelo menos dois dos seguintes numa criança com idade de desenvolvimento com menos de quatro anos*: Dejeções em número inferior ou igual a duas por semana Pelo menos um episódio de incontinência por semana depois de ter adquirido controlo dos esfíncteres História de retenção excessiva de fezes História de dejeções dolorosas ou com fezes duras Presença de grandes quantidades de fezes no reto História de fezes com diâmetro aumentado que podem obstruir as sanitas Pelo menos dois dos seguintes numa criança com idade de desenvolvimento de quatro anos ou mais, com critérios insuficientes de síndrome do cólon irritável†: Duas ou menos dejeções por semana Pelo menos um episódio de incontinência fecal por semana História de postura de retenção ou de excessiva retenção voluntária de fezes História de dejeções dolorosas ou fezes duras Presença de volume aumentado de fezes no reto é geralmente funcional (i.e., não há evidência de uma situação orgânica).2,10 A obstipação funcional é na maioria das vezes causada por movimentos intestinais dolorosos que levam a criança a voluntariamente tentar reter as fezes. Para evitar a dejeção que causa dor, a criança contrai o esfíncter anal ou os músculos glúteos endurecendo o corpo, escondendo-se num canto, balançando-se para a frente e para trás ou mexendo-se de cada vez que sente necessidade de defecar. Os pais frequentemente confundem os comportamentos de retenção como esforços de defecação. Suspender a dejeção pode levar a uma estase fecal prolongada no cólon com reabsorção de fluidos, o que torna as fezes mais duras, de maior volume e mais dolorosas à passagem. À medida que o tempo passa, o reto distende para acumular as fezes retidas, a sensibilidade do reto diminui e pode surgir incontinência fecal. Este ciclo coincide geralmente com o treino de controlo dos esfíncteres, mudanças de dieta, eventos geradores de stresse, doenças, dificuldade de acesso a casas de banho ou numa criança muito ativa que adia os momentos de defecar. História de fezes de grande diâmetro que podem obstruir a sanita *—Os critérios devem estar presentes pelo menos durante um mês. Os sintomas acompanhantes podem incluir irritabilidade, diminuição do apetite e/ou saciedade precoce e podem desaparecer imediatamente depois da eliminação de fezes em grande volume. †—Os critérios devem estar presentes pelo menos uma vez por semana durante pelo menos dois meses. Adaptado com autorização de Rasquin A, Di Lorenzo C, Forbes D, et al. Childhood functional gastrointestinal disorders: child/adolescent. Gastroenterology. 2006;130(5):1533, e Hyman PE, Milla PJ, Benninga MA, Davidson GP, Fleisher DF, Taminiau J. Childhood functional gastrointestinal disorders: neonate/toddler. Gastroenterology. 2006;130(5):1524 ções por dia na primeira semana de vida, duas por dia no final da infância e nas crianças pequenas e uma vez por dia ou em dias alternados depois dos anos pré-escolares.9 Muitos lactentes saudáveis amamentados ao peito podem estar vários dias sem emissão de fezes.2 Assim, os padrões de menor emissão de fezes podem ser normais e devem ser classificados de acordo com o calibre das fezes, sintomas associados e achados do exame objetivo. Etiologia e fisiopatologia Exceto no período neonatal, a obstipação nas crianças Incontinência fecal A incontinência fecal é a eliminação de fezes, voluntária ou involuntária, na roupa interior ou em locais socialmente inadequados numa criança com idade de desenvolvimento acima dos 4 anos. Acontece em 1% a 4% das crianças em idade escolar e está quase sempre associada com obstipação subjacente.11 A incontinência fecal pode também estar associada a incontinência urinária. A fisiopatologia da incontinência fecal está mal compreendida. Uma interacção entre factores comportamentais e fisiológicos pode estar na base de obstipação funcional de longa duração com incontinência por transbordamento.12 Os familiares podem por vezes interpretar mal e confundir incontinência fecal por diarreia ou falta de atenção. A incontinência fecal geramente melhora quando se trata a retenção de fezes.13 Diagnóstico clínico A história e o exame objetivo são geralmente suficientes para se distinguir a obstipação funcional da obstipação causada por uma situação orgânica.2,10 A história médica Página 43 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 11 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,51 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 2. Componentes da história médica na avaliação da obstipação na infância Componentes Significado clínico Frequência, consistência e tamanho das fezes Fezes duras, com diâmetro aumentado podem ser sinais de retenção; frequência normal de dejeções associadas com sintomas pode ser indicação de síndrome do cólon irritável Idade de início Lactentes com menos de um mês com obstipação têm uma probabilidade de uma causa orgânica relativamente maior Dor ou hemorragia com a eliminação das fezes Pode sugerir a existência de fezes suficientemente duras para causarem fissuras ou que estão associadas com alergia Dor abdominal É importante ver se a dor é aliviada ou afetada pela defecação (pode sugerir síndrome do cólon irritável); excluir outras causas porque a dor abdominal é frequentemente mal diagnosticada como estando relacionada com obstipação Momento da primeira passagem de fezes depois de nascer Ausência de dejeção nas primeiras 48 horas sugere doença de Hirschsprung Incontinência fecal Sugere fecaloma Comportamento de retenção Contribuinte importante para obstipação em crianças jovens; podem ser úteis intervenções comportamentais. Sintomas sistémicos (por ex., febre, vómitos, perda de peso, diminuição de apetite) Podem indicar uma causa orgânica, como doença de Hirschsprung História social, incluindo treino dos esfíncteres, fatores de stresse Podem estar associados com o início de obstipação Revisão das terapêutica atuais e no passado incluindo dieta, comportamentos e medicações É importante saber-se como o doente foi tratado anteriormente e se a utilização da medicação foi adequada Avaliação da aderência e efetividade aos tratamentos anteriores e atuais É importante compreender os fatores que podem influenciar o tratamento Informação da referência 2. deve incluir a definição de obstipação da família e uma revisão cuidadosa da frequência, consistência e tamanho das fezes; idade de início dos sintomas; momento da eliminação do mecónio após o parto; stressores recentes; terapêuticas prévias e ativas; presença de comportamentos de retenção; dor ou hemorragia com as dejecções; dor abdominal; incontinência fecal e sintomas sistémicos (quadro 2).2 A existência de comportamentos de retenção apoia a o diagnóstico de obstipação funcional. Pode justificar-se avaliação adicional em crianças com sinais de alerta de etiologia orgânica (quadro 3).2 O exame objectivo deve incluir a revisão dos parâmetros de crescimento, o exame do abdómen, o exame do exterior do períneo e região perianal, a avaliação da tiróide e da coluna vertebral e avaliação neurológica dos reflexos apropriados (cremasterianos, anal e rotuliano). O toque retal está indicado para avaliar a sensibilidade perianal, tónus anal, dimensão do reto, contração do esfíncter e quantidade e consistência das fezes no reto. No entanto, nas crianças com evoluções neonatais normais ou comportamentos de retenção claros ou se houver história de traumatismo, o exame do reto pode ser deferido. Deve fazer-se um teste de pesquisa de sangue oculto nas fezes em todos os lactentes com obstipação e em todas as crianças com obstipação que tenham dor, dificuldade de crescimento, diarreia ou história familiar de cancro do cólon ou pólipos. A presença de uma massa dura na porção inferior do abdómen associada com dilatação do reto preenchida com fezes duras indica a existência de fecaloma. A radiografia do abdómen tem pouco valor diagnóstico na obstipação crónica porque depende da fiabilidade e de precisão interobservador.2,14,15 Deve reservar-se para circunstâncias clínicas específicas nas quais o exame retal não é razoável (por ex., numa criança com evidência de trauma) ou se o diagnóstico é incerto. ➣ Página 44 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 12 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,52 x 25,14 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 3. Sinais de alerta de obstipação de causa orgânica nas crianças Sinais de alerta Suspeita de diagnóstico Início antes de um mês de idade Malformação congénita anorretal ou da coluna, doença de Hirschsprung, alergia, situações endócrino-metabólicas Atraso na eliminação de mecónio (mais de 48 horas depois do nascimento) Doença de Hirschsprung, fibrose quística, malformações congénitas anorretais ou da coluna Problemas de desenvolvimento Doença de Hirschsprung, má absorção, fibrose quística, doença metabólica Distensão abdominal Doença de Hirschsprung, fecaloma, problema neuroentérico (por ex., pseudo obstrução) Diarreia intermitente e fezes explosivas Doença de Hirschsprung Reto vazio Doença de Hirschsprung Esfíncter anal apertado Doença de Hirschsprung, malformações anorretais Fosseta pilonidal coberta por um tufo piloso Anomalia dos cordões da medula Anomalias pigmentares da linha média ou da porção inferior da coluna Anomalia dos cordões da medula Exame neurológico anormal (ausência de reflexo anal, ausência de reflexo cremasteriano, diminuição dos reflexos e /ou do tono dos membros inferiores Anomalia dos cordões da medula Sangue oculto nas fezes Doença de Hirschsprung, alergia Sintomas extraintestinais (vómitos, febre, aspeto doentio) Doença de Hirschsprung, problema neuroentérico Existência de fezes no toque retal Doença de Hirschsprung Sem história de retenção ou conspurcação Doença de Hirschsprung, problema neuroentérico, anomalia dos cordões medulares Sem resposta ao tratamento convencional Doença de Hirschsprung, problema neuroentérico, anomalia dos cordões medulares Informação da referência 2. Diagnóstico diferencial O quadro 4 resume o diagnóstico diferencial da obstipação em crianças e os estudos de diagnóstico recomendados.2 A idade do doente deve ser tida em consideração. Crianças mais novas A probabilidade de uma etiologia orgânica para a obstipação é relativamente maior em lactentes com menos de seis meses e em especial nos que têm menos de três meses. A doença de Hirschsprung deve ser considerada em lactentes com atraso de passagem de mecónio (mais de 48 horas após o nascimento) ou outros sinais de alerta, mesmo quando os achados do clister opaco são normais. A doença de Hirschsprung é a causa mais frequente de obstrução intestinal baixa em recém- -nascidos. O diagnóstico diferido pode resultar em enterocolite, uma complicação potencialmente fatal que causa febre, distensão abdominal e diarreia explosiva e sanguinolenta.16 Doentes com suspeita de doença de Hirschsprung devem ser orientados para um centro médico com gastroenterologista pediátrico e cirurgião para testes confirmatórios com biopsia retal por sucção. Se a doença de Hirschsprung for excluída num lactente com atraso de eliminação do mecónio, a fibrose quística e outras malformações anatómicas devem ser consideradas. O exame físico de um lactente jovem deve ser avaliado relativamente à posição e permeabilidade do ânus e inclui o exame neurológico para avaliar anomalias congénitas do ânus e da medula (por ex., ânus deslocado para a frente, estenose anal, ânus imperfurado, espinha bífida e medula ancorada). Os lactentes alimentados ao peito exigem uma consideração especial porque na ausência de si- Página 45 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 13 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,40 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 4. Diagnóstico diferencial da obstipação nas crianças Problemas Avaliação diagnóstica recomendada Obstipação funcional História e exame objetivo; sem exames Malformações anatómicas do cólon e do reto Ânus imperfurado, estenose anal ou do cólon, ânus deslocado anteriormente Exame objetivo, clister opaco Anomalias dos cordões da medula Meningomielocelo, tumor ou traumatismos dos Ressonância magnética da medula; manometria anorretal, avaliação cordões da medula, medula ancorada urodinâmica Doenças metabólicas Hipotiroidismo Função tiroideia Hipercalcemia, hipercaliemia Cálcio sérico e níveis de potássio Diabetes mellitus Glicemia em jejum Diabetes insípida Osmolaridade no soro e urina Doenças gastrintestinais neuropáticas Doença de Hirschsprung, acalasia do esfíncter anal interno Manometria anorretal, biopsia retal por sucção Neuropatia ou miopatia visceral Manometria do cólon Exposição a fármacos/toxinas História, níveis de drogas Opiáceos, fenobarbital, anticolinérgicos e fármacos utilizados na perturbação de hiperatividade e défice de atenção, antiácidos e sucralfato, antidepressivos, anti-hipertensivos Intoxicação pelo chumbo Nível do chumbo Outras doenças sistémicas Doença celíaca Transglutaminase tecidular, IgA, igA total, endoscopia Fibrose quística Teste do suor Intolerância às proteínas do leite de vaca Suspensão do leite de vaca Doenças do tecido conetivo, doenças mitocondriais Exames especiais Doenças psiquiátricas Avaliação psicológica e psiquiátrica a doença tiroideia, outras doenças metabólicas, doença celíaca ou intoxicação por chumbo. Estudos de motilidade (por ex., manometria anorretal) podem avaliar anomalias do esfíncter, tais como a doença de Hirschsprung ou não relaxamento do esfíncter anal interno. A imagiologia por ressonância magnética da coluna pode ser necessária para avaliar a existência de uma medula ancorada, tumor da medula ou agenésia do sacro.17 Uma prova terapêutica com dieta sem leite de vaca pode também ser feita porque a obstipação pode ser provocada por intolerância ao leite de vaca, especialmente em crianças jovens com fissuras anais.2,18 Tratamento O tratamento da obstipação funcional necessita educação dos pais, intervenções comportamentais, medidas para garantir dejecções com intervalos normais com boa evacuação, seguimento apertado e ajustamentos da medicação, assim como de avaliação, conforme as necessidades. Algoritmos para avaliação e tratamento da obstipação em lactentes e crianças mais velhas são apresentados nas figuras 1 e 2.2,10,19 Educação e modificação comportamental IgA = imunoglobulina A Informação da referência 2. nais de alerta ou outras questões médicas, não necessitam de avaliação adicional por dejecções pouco frequentes. Crianças mais velhas Avaliação adicional está indicada em crianças mais velhas com sinais de alerta ou com obstipação intratável apesar de adesão estrita à terapêutica. Estudos laboratoriais podem ser feitos para avaliar doenças sistémicas, tais como A educação é o primeiro passo do tratamento. Materiais educacionais para pais, relacionados com obstipação e conspurcação da roupa com fezes estão disponíveis em http://www.gikids.org. É importante explicar que a incontinência fecal surge por transbordamento involuntário das fezes e não por teimosia voluntária. A modificação comportamental com idas regulares à casa de banho (durante cinco a 10 minutos) após as refeições associada a um sistema de recompensas é frequentemente útil. Os pais devem ser incentivados a manter uma atitude de apoio positiva durante o tratamento e esperarem uma melhoria gradual com recidivas ocasionais. ➣ Página 46 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 14 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,30 x 25,14 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 6 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação Obstipação em Lactentes com Menos de Seis Meses Obstipação História, exame objetivo e pesquisa de sangue oculto nas fezes Se bem que a modificação comportamental e a educação sejam importantes, a terapêutica comportamental intensiva não parece adicionar alguma coisa ao sucesso da terapêutica, exceto em casos raros nos quais o doente tem problemas comportamentais subjacentes.20 O biofeedback não tem mostrado ser efetivo em crianças com obstipação funcional.2,21 Atraso na eliminação de mecónio (mais de 48 horas após o nascimento) Modificações dietéticas Modificações dietéticas são frequentemente recomendadas em crianças com obstipação.21 Aumentar a ingestão de líquidos e hidratos de carbono absorvíveis e não absorvíveis (por ex., sorbitol no sumo de ameixa, pera e maçã) podem ajudar a amolecer as fezes, especialmente em lactentes. A dose recomendada de sumo de ameixa para lactentes é de 2 onças por dia (cerca de 55 mL). Pode ser diluído com 2 onças de água para ser mais agradável ao paladar. Estudos têm mostrado que as crianças com obstipação têm menor ingestão de fibras em relação a outras crianças. Aumentar a ingestão de fibra dietética pode melhorar a probabilidade de uma criança ser capaz de suspender a terapêutica com laxantes.22 A adição de um probiótico (por ex., Lactobacillus GG) pode ajudar nalgumas crianças com obstipação funcional, se bem que os estudos sejam preliminares.23 Não Sim Sinais de alerta? (quadro 3) Sim Não Enviar para avaliação de possíveis etiologias orgânicas (por ex., doenças de Hischprung, fibrose quística) Alimentação ao peito exclusiva (com mais de duas semanas?) Sim Não Obstipação funcional Maioria provavelmente normal Tratamento: educação e modificação da dieta (por ex., sumos de fruta, tais como sumo de ameixa, aumento da ingestão de líquidos, verificação dos preparados alimentares) Efetivo? Sim Não Terapêutica de manutenção Medicação: lactulose, sorbitol, soluções de polietilenoglicol, por vezes supositórios de glicerina Remoção de fecalomas Efetivo? Sim Terapêutica de manutenção Não Se a terapêutica falha apesar de boa aderência e educação, deve orientar-se o doente para observação especializada FIGURA 1. Algoritmo de avaliação e gestão da obstipação em lactentes com menos de seis meses. Informação das referências 2, 10 e 19. Quando existe um fecaloma, pode ser necessário retirar o fecaloma com medicação oral ou retal antes de se iniciar terapêutica de manutenção. Os medicamentos orais são menos invasivos mas exigem maior cooperação dos doentes e o alívio sintomático pode ser mais lento. Existem vários tratamentos disponíveis (quadro 5).2,24-26 O aparecimento das soluções à base de polietilenoglicol tem mudado a abordagem inicial à obstipação em crianças porque é muito efetivo, fácil de administrar, não-invasivo e bem tolerado.27 As terapêuticas retais e o polietilenoglicol são igualmente efetivos no tratamento dos fecalomas nas crianças.28Ainda que haja alguma Página 47 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 15 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,62 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 7 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 5. Terapêuticas para resolução de fecalomas em crianças Obstipação em Crianças de Mais de Seis Meses Terapêutica Obstipação Posologia Oral Osmóticos História, exame objetivo Sinais de alerta? (quadro 3) Polietilenoglicol 3350 1,5 g por kg por dia Solução de polietilenoglicol 25 mL por kg por hora via tubo nasogástrico Citrato de magnésio <6 anos:2 a 4 mL por kg por dia 6-12 anos: 100 a 150 mL por dia Sim Não Enviar para avaliação adicional Obstipação funcional >12 anos: 150 a 300 mL por dia Estimulantes Sene Fecaloma Sim 2-6 anos:2,5 a 7,5 mL (8,8 mg por 5 mL); 1/2 a 1comp e ½ (8,6 mg por cp) por dia 6 a 12 anos: 5 a 15 mL; 1 a 2 comprimidos por dia Não Iniciar medicação oral ou retal para resolver Bisacodil ≥ 2 anos: 5 a 15 mg (1 a 3 comprimidos) por dia em dose única Lubrificantes Efetiva? Óleo mineral 15 a 30 mL por ano de idade por dia Fármacos retais Não Enviar para avaliação adicional Sim Clisteres (um por dia) Obstipação funcional sem fecaloma Salino 5 a 10 ml por kg Óleo mineral 15 a 30 mL por ano de idade até 240 mL Fosfato de sódio 2 a 12 anos: clister de 66 mL (não deve ser utilizado em crianças com < 2 anos devido ao risco de alterações eletrolíticas) Tratamento: educação, modificação comportamental, medicação oral, observação apertada Supositório (um por dia) Efetiva após duas semanas? Sim Terapêutica de manutenção Não Reavaliação, reeducação, monitorizar aderência ao tratamento, alteração de medicação Terapêutica de manutenção Não Orientar para avaliação adicional FIGURA 2. Algoritmo de avaliação e tratamento da obstipação em crianças com mais de seis meses de idade. Informação das referências 2, 10 e 19 ≥ 2 anos: 5 a 10 mg (½ a 1 supositório) Glicerina* ½ a 1 supositório infantil; supositórios de adulto nas crianças com mais de 6 anos Outros – Manual (raramente utilizado; necessidade de anestesia geral) Efetivo? Sim Bisacodil * Pode utilizar-se em crianças com < 1 ano. Informação das referências 2 e 24 até 26. evidência a apoiar o polietilenoglicol como tratamento de primeira linha, os resultados globalmente não mostram uma superioridade clara de um dos laxantes.29 ➣ Página 48 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 16 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,57 x 25,36 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 8 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação QUADRO 6. Terapêuticas de manutenção em crianças com obstipação Terapêutica Posologia Efeitos adversos Polietilenoglicol 3350*† 0,5 a 0,8 g por kg até 17 g por dia Anafilaxia, flatulência Lactulose† 1 mL por kg por dia uma a duas vezes por dia, dose única ou em duas doses separadas < 2 anos: 0,5 mL por kg por dia Cólicas abdominais, flatulência Hidróxido de magnésio 2 a 5 anos: 5 a 15 mL por dia 6-11 anos: 15 a 30 ml por dia ≥ 12 anos: 30 a 60 mL por dia A dose deve ser dada à noite ou em doses fracionadas Os lactentes são suscetíveis a terem overdose de magnésio (hipermagnesiemia, hiperfosfatemia, hipocalcemia) Osmótica Sorbitol (por ex., sumo de ameixa) 1 a 3 mL por kg uma ou duas vezes por dia em lactentes Semelhantes aos da lactulose Estimulantes Sene† 1 mês a 2 anos: 1,25 a 2,5 mL (2,2 a 4,4 mg) ao deitar (< 5 mL por dia); 8,8 mg por dia 2 a 6 anos: 2,5 a 3,75 mL (4,4 a 6,6 mg) ou ½ comprimido (4,3 mg) ao deitar (< 7,5 mL ou 1 comprimido por dia) 6 a 12 anos: 5 a 7,5 mL (8,8 a 13,2 mg) ou 1 comprimido (8,6 mg) ao deitar (< 15 mL ou 2 comprimidos por dia) > 12 anos: 10 a 15 mL (26,4 mg) ou 2 comprimidos (17,2 mg) ao deitar (< 30 mL ou 4 comprimidos por dia) Hepatite idiossincrática, melanose cólica, osteoartropatia hipertrofica, nefropatia de analgésicos Bisacodil > 2 anos: 5 a 15 mg (1 a 3 comprimidos) uma vez por dia Cólicas abdominais, diarreia, hipocaliemia, mucosa retal anormal, proctite (rara), litíase das vias urinárias (casos publicados) Crianças: 5 a 15 mL por dia Adolescentes: 15 a 45 mL por dia Pneumonia lipóide se aspirado, interferência teórica com absorção de substâncias lipossolúveis, reação de corpo estranho no intestino Lubrificantes Óleo mineral * Terapêutica de primeira linha †— Pode utilizar-se em crianças com menos de um ano Informação a partir das referências 2 e 24 a 26. Terapêutica de manutenção O objectivo da terapêutica de manutenção é evitar a reacumulação de fezes mantendo dejeções de fezes não duras preferencialmente uma vez por dia. Dado haver uma resposta robusta ao placebo, não há evidência suficiente a apoiar a efectividade da terapêutica com laxantes sobre o placebo no tratamento da obstipação da infância.30 No entanto, os estudos mostram que a adição de laxantes é geralmente necessária e mais efectiva do que apenas a modificação comportamental.31 Se bem que a utilização de clisteres tenha sido preconizada no passado, estudos recentes têm mostrado que a adição de clisteres aos laxan- tes orais não melhora os resultados em crianças com obstipação grave.32 O quadro 6 resume as terapêuticas de manutenção.2,24-26 Globalmente, o polietilenoglicol dá um sucesso terapêutico igual ou superior a outros laxantes, como a lactulose ou o leite de magnésio,30,33,34 se bem que possa associar-se a mais episódios de incontinência fecal.27 A dose de polietilenoglicol pode ser ajustada de acordo com a resposta terapêutica. As doses de manutenção dos medicamentos necessitam ser mantidas durante várias semanas a meses depois de ter sido conseguido um ritmo regular de emissão de fezes. As crian- Página 49 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 17 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,46 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 9 de 12 AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO, continuação RECOMENDAÇÕES CHAVE PARA A PRÁTICA CLÍNICA Recomendação clínica Grau de evidência Referências A história e o exame objetivo são geralmente suficientes para diferenciar a obstipação funcional da causada por problemas orgânicos C 2, 10 A radiografia do abdómen tem pouco valor no diagnóstico da obstipação crónica porque há variações de interpretação e precisão entre observadores C 2, 14, 15 As soluções de polietilenoglicol são efetivas, fáceis de administrar, não invasivas e bem toleradas pelas crianças com obstipação A 27, 30, 34 A adição de laxantes é mais efetiva do que a modificação comportamental isolada em crianças com obstipação B 30, 31 A adição de clisteres aos esquemas com laxantes por via oral não melhora os resultados nas crianças com obstipação grave B 32 A maior parte das crianças com obstipação funcional necessita de tratamento prolongado C 19, 35 A = evidência de boa qualidade orientada para o doente; B = evidência inconsistente ou de qualidade limitada orientada para o doente; C = consenso, prática habitual, opinião de especialista, séries de casos, orientados para a doença. Para informação sobre o sistema de classificação, ir a http://www.aafp.org/afpsort.xml ças que estão a fazer treino de esfíncteres devem continuar com laxantes até o treino estar concluído. Laxantes estimulantes (por ex., bisacodil, tipo senne) podem ser necessários nalgumas crianças, se bem que os resultados da sua utilização em crianças sejam escassos. A falta de preparados líquidos limita a utilização de laxantes estimulantes nas crianças mais jovens. No âmbito dos cuidados de saúde primários, os laxantes estimulantes devem ser reservados para terapêutica de resgate quando os laxantes osmóticos são ineficazes. Os doentes que exigem administração constante de laxantes estimulantes devem ter avaliação adicional. a obstipação não responde à terapêutica adequada. Os subespecialistas podem tentar novas terapêuticas médicas, tais como a lubiprostone, que atua nos canais de cloro do intestino,36 ou a onabotulinotoxina A injetada num esfíncter que não relaxa.37 As terapêuticas cirúrgicas, tais como os clisteres anterógrados, têm mostrado melhorar a continência em crianças com obstipação não tratável.38 Os testes de motilidade frequentemente ajudam a guiar a terapêutica das crianças com obstipação difícil de tratar.19,39 Se bem que a maioria das crianças tenha obstipação funcional, é importante reavaliar as que não têm uma evolução esperada. Prognóstico a longo prazo Fontes dos Dados: Foi feita uma pesquisa na PubMed utilizando as palavraschave: constipation, child, pediatric, functional constipation, e incontinence. Também foram feitas pesquisas na Cochrane database, Essential Evidence Plus, e nas guidelines da North American Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology, and Nutrition e do National Institute for Health and Care Excellence. As datas da pesquisa foram: 24 de fevereiro 2012 e Outubro 2013. A maioria das crianças com obstipação funcional exige tratamento prolongado e tem recidivas frequentes.19 Estudos têm mostrado que apenas 60% das crianças com obstipação conseguem sucesso terapêutico após um ano de tratamento. As crianças com incontinência fecal ou as que têm menos de quatro anos no início da obstipação estão especialmente em risco de maus resultados a longo prazo.35 Referenciação A referenciação para um pediatra gastroenterologista pode ser necessária quando uma criança com obstipação tem sinais de alerta de doença orgânica ou quando Correspondência Samuel Nurko, MD, Boston Children’s Hospital, 300 Longwood Ave., Boston, MA 02115 (e-mail: [email protected]). Referências bibliográficas 1. van den Berg MM, Benninga MA, Di Lorenzo C. Epidemiology of childhood constipation: a systematic review. Am J Gastroenterol. 2006; 101(10):2401-2409. 2. Tabbers MM, Dilorenzo C, Berger MY, et al. 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Página 51 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 5 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,67 x 12,70 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 11 de 12 SIMPÓSIO: PROBLEMAS DE SAÚDE NAS CRIANÇAS AVALIAÇÃO E TRATAMENTO DA OBSTIPAÇÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES . . . . 7 A obstipação na infância é quase sempre funcional e a sua causa geralmente pode ser diagnosticada através da história médica e exame objetivo. Avaliação adicional é necessária em crianças que apresentem outros sinais de alerta. O tratamento da obstipação funcional deve incidir na educação parental, ações comportamentais, alterações na dieta e medicação para normalizar os movimentos intestinais. Samuel Nurko, MD, Lori A. Zimmerman, MD Capa: Jorge Santos Página 52 Postgraduate Medicine ID: 60014888 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 16,73 x 20,83 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 12 de 12 Simpósio: Problemas de saúde nas crianças • Avaliação e tratamento da obstipação em crianças e adolescentes Página 53 Postgraduate Medicine A54 ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 33 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,46 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 9 SIMPÓSIO SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE NAS CRIANÇAS Atrasos na fala, linguagem e problemas de audição: quando intervir precocemente? Uma abordagem expectante pode não ser a melhor atitude numa criança com atraso de desenvolvimento Christopher Mulrine, EdD; Betty Kollia, PhD* William Paterson University, Wayne, NJ* U ma mãe jovem vem a uma consulta de rotina com o seu filho de 2 anos. Refere que, embora a criança utilize algumas palavras isoladas para indicar fome e outras necessidades, a irmã na mesma idade tinha já começado a usar múltiplas palavras para fazer perguntas e expressar as suas vontades. Está preocupada por não saber se o comportamento do seu filho é normal. Quando começa a observar a criança, nota que ela apenas responde depois de repetir o seu nome várias vezes. Estas observações são indicativas de um atraso típico do desenvolvimento, ou são pistas para o diagnóstico de um problema de saúde ou uma incapacidade de comunicação? Dada a ausência de um problema de saúde ou de uma incapacidade física ou intelectual evidente, como procederia neste caso e que conselho daria à mãe? O rastreio de desenvolvimento minimiza os efeitos adversos a longo prazo Atrasos na fala, linguagem e problemas auditivos das crianças podem levar a problemas de aprendizagem e de socialização que podem persistir até à idade adulta. Os prestadores de cuidados de saúde que monitorizam *William Paterson University, Wayne, NJ. o desenvolvimento da fala, da linguagem e da audição podem orientar os pais, consoante as necessidades, para os serviços adequados para avaliação complementar ou tratamento1 e, dirigi-los para programas de apoio, que, no caso dos EUA, é o Center for Parent Information and Resources (anteriormente designado por National Dissemination Center for Children witn Disabilities).2 Uma ferramenta útil nas consultas de saúde infantil é o Denver II, um teste de avaliação do desenvolvimento rápido que ajuda a identificar vários problemas de inteligência, linguagem, saúde mental e capacidades motoras e de autoajuda.3 Uma suspeita de atraso de desenvolvimento não obviamente devido a um problema médico ou anomalia congénita, que implique o exame da criança por um otorrinolaringologista, deve levar a criança a ser referenciada atempadamente para intervenção precoce (IP). Distúrbios da comunicação e suas manifestações clínicas A comunicação – a capacidade de receber, processar, compreender e transmitir informação – é essencial para uma vida com sucesso.4 As limitações na fala, na linguagem e na audição afetam a capacidade da criança para enviar (falar, escrever ou gesticular) e receber (ouvir, interpretar ou decifrar) mensagens. ➣ Página 54 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 34 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,41 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS ❖ Na avaliação do desenvolvimento das crianças deve considerar-se a utilização de marcos de desenvolvimento específicos para a idade, tais como os que se encontram online no sítio da American Speech-Language-Hearing Association. C ❖ Consultar a Equipa de intervenção precoce do seu Cen- tro de Saúde para orientação e avaliação complementar e possível tratamento. C FORÇA DE RECOMENDAÇÃO (FR) A Evidência de boa qualidade orientada para o doente B Evidência inconsistente ou de qualidade limitada orientada para o doente C Consenso, prática habitual, opinião, séries de casos, orientados para a doença Atrasos na fala Começando no nascimento, nós desenvolvemos de forma sistemática sons da fala e uma capacidade para utilizar estes sons na formação de palavras e na utilização de uma linguagem com significado.5 Os especialistas da fala e da linguagem fazem uma distinção entre atrasos da fala e da linguagem.6 Os atrasos na fala incluem problemas na articulação, fluência, voz ou ressonância. Cerca de 8% a 9% das crianças em idade pré-escolar têm problemas da fala e cerca de 5% de crianças em idade escolar têm atrasos da fala ou da linguagem.7 ❙ Problemas de articulação são detetados em circunstâncias em que um som é substituído por outro (por ex., «uapis» em vez de «lápis») ou na distorção ou omissão de sílabas ou sons («tata» em vez de «batata»). Considerando que a articulação verbal envolve a coordenação precisa de cerca de 70 músculos (língua, lábios, véu do palato, cordas vocais, etc) o desenvolvimento desta capacidade de forma normal evolui por fases de produção inadequada de sons. As preocupações surgem quando estas fases persistem ou são atípicas. ❙ Fluência da fala/gaguez é o bloqueio incontrolável da fala, prolongamento do som («áaaaagua») ou repetição do som, sílaba ou palavra durante a fala (bo-bobo-neca»). ❙ Problemas da voz incluem sintomas como disfonia, voz muito fraca ou uma voz que é excessivamente alta ou demasiado baixa, ou com ressonância anormal, (hiper ou hiponasalidade dando a sensação de que a criança fala «pelo nariz» ou que tem o nariz constantemente congestionado). ❙ Utilização de marcos de desenvolvimento como pontos de referência. A American Speech-Language-Hearing Association (ASHA)8 enumera os marcos de desenvolvimento do desenvolvimento da fala (em inglês e em espanhol) em http://www.asha.org/public/ speech/development/chart.htm. Por exemplo, entre os 12 e os 24 meses de idade, a criança deve aprender vocabulário («cão», «boneca»), combinar 2 palavras (carro mamã), fazer perguntas com duas palavras («onde papá?) e produzir uma série de sons. Estes marcos representam uma média e algumas crianças podem não dominar todos os itens de uma categoria antes de atingirem o limite mais avançado da variação da idade (quadro 1).8 Roth e colaboradores9 mostraram que a intervenção beneficia as crianças em idade pré-escolar com incapacidades de fala e linguagem quando aplicada mais precocemente do que era geralmente apontado. Por outras palavras, deve evitar-se o «esperar para ver». Busari e Weggelaar,10 estudando recomendações de referenciação para crianças que são «lentas a falar», concluíram que a IP pode diminuir consequências adicionais mais tarde na vida da criança. A ASHA criou uma campanha para aumentar o reconhecimento das dificuldades de comunicação durante a vida e incentivam a sua identificação precoce (http://identifythesigns.org/).11 O sítio tem listas de sinaisbásicos de dificuldades da fala e da linguagem e perda de audição em crianças desde o nascimento até aos 4 anos de idade. Este período da vida da criança é «uma fase importante na deteção precoce de doenças de comunicação». Atrasos de linguagem Os atrasos da linguagem afetam 3 domínios da linguagem: a forma (gramática/sintaxe), conteúdo ou utilização. Estes domínios são governados por regras específicas da linguagem falada em casa. O atraso da linguagem pode interferir com a compreensão e a formulação das mensagens. Cerca de 2% a 3% das crianças em idade pré-ecolar têm distúrbios da linguagem.12 Página 55 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 35 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,41 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação QUADRO 1. Marcos de desenvolvimento da audição, compreensão e linguagem: do nascimento até aos 5 anos8 No primeiro ano de vida O que deve o meu filho ser capaz de fazer? Ouvir e compreender Falar Nascimento-3 meses • Palra • Assusta-se com sons intensos • Chora de forma diferente consoante as necessidades • Acalma-se ou sorri quando se fala com ele • Sorri em resposta à vossa presença • Parece reconhecer a voz dos pais e acalma-se se estiver a chorar • Aumenta ou diminui a sucção em resposta a sons 4-6 meses • Olha na direção dos sons • Palra e balbucia de forma semelhante a uma conversa, com muitos sons diferentes, incluindo sons de letras p, b e m • Responde a alterações de tom da voz dos pais • Ri-se e tem risinhos • Olha para objetos que produzem som • Verbaliza excitação e aborrecimento • Dá atenção à música • Emite sons guturais quando é deixado sozinho e quando brincam com ele 7 meses-1 ano • Balbucia agora grupos longos e curtos de sons como “tata dadada rerrerre” • Gosta de brincadeiras como brincar ao esconde-esconde e lengalengas • Vira-se e olha na direção dos sons • Ouve com atenção quando falam com ele • Reconhece o nome de objetos habituais como “biberão”, “pé” ou “leite” • Começa a responder a pedidos (por ex. “vem cá” ou “queres mais?” • Usa a “fala” ou sons que não o choro para ter e manter a atenção • Usa gestos para comunicar (acena adeus, dá as mãos para ir para o colo ou para o levantarem) • Imita vários sons de conversa • Diz uma ou duas palavras (dada, mama, papa, bola), embora possam não ser percetíveis 1 a 2 anos O que deve o meu filho conseguir fazer? Ouvir e compreender Falar • A pedido, aponta algumas partes do corpo • Todos os meses aprende palavras novas • Realiza algumas tarefas simples quando se lhe pede e compreende perguntas simples (“onde está o sapato?”, “dá um beijinho”, “atira a bola”) • Usa 1- ou 2-palavras frase (“dá bola,” “vai embora,” “quer pápa”) • Associa duas palavras (“mais bolo,” “bola mano,” bebé colo”) • Usa vários sons de consoantes diferentes no início das palavras • Ouve com atenção histórias, canções e rimas simples • Aponta imagens num livro quando estas são nomeadas Os atrasos de linguagem podem observar-se num ou mais componentes da linguagem, incluindo a fonologia (governa os sons da linguagem), léxico (vocabulário), morfologia (marcadores das palavras – por ex., «s» final para fazer plural de «gato»), sintaxe (ordem das palavas) e pragmatismo (discurso socialmente aceitável, gesticulação, contacto visual e utilização da linguagem). Embora haja uma grande variabilidade no desenvolvimento habitual, o desenvolvimento atípico da linguagem pode ser uma característica secundária de outros problemas físicos ou de desenvolvimento atribuídos a outros problemas como os distúrbios do Espetro do Autismo (DEA), paralisia cerebral, apraxia do discurso na infância, disartria, limitação intelectual ou mutismo seletivo.13 ❙ Dificuldades de comunicação verbal podem surgir na linguagem expressiva e recetiva.14 A linguagem recetiva é a capacidade de compreender a linguagem comunicada por outra pessoa.6 As capacidades de linguagem recetiva (processamento) podem ser demonstradas da seguinte forma: se perguntarmos a uma criança, «Gostas de gatos?» ela tem primeiro que decidir para quem está a ser dirigida a pergunta (para ela ou para qualquer outra pessoa). Terá depois que procurar na sua ➣ Página 56 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 36 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,19 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação QUADRO 1. (continuação) 2-3 Anos O que deve o meu filho ser capaz de fazer? Ouvir e compreender Falar • Compreende significados diferentes (“anda-pára,” “dentro-fora,” “acima-abaixo”) • Nomeia quase tudo • Utiliza 2 ou 3 palavras para falar e fazer perguntas • Obedece a 2 pedidos (“vai buscar o livro e põe na mesa”) • Vocaliza nas palavras o som de várias consoantes (d, m, p, b) • Está atento e gosta de ouvir histórias por períodos de tempo maiores • A família percebe o que ele diz na maior parte das vezes • Pede ou chama a atenção para objetos utilizando o nome dos mesmos • Pergunta porquê • Pode gaguejar algumas palavras ou sons 3-4 Anos O que deve o meu filho ser capaz de fazer? Ouvir e compreender Falar • Ouve quando o chama de outra divisão • Fala sobre atividades na escola ou em casa dos amigos • Ouve televisão ou rádio no mesmo volume que outros membros da família • Fala sobre os acontecimentos do dia. Usa aproximadamente 4 frases de cada vez • Compreende o nome de algumas cores, como vermelho, azul e verde • Pessoas fora da família geralmente compreendem o discurso da criança • Compreende o nome de algumas formas como círculo e quadrado • Percebe palavras relativas a familiares como irmão, avó e tia • Responde a perguntas simples com “quem,” “o quê,” e “onde” • Faz perguntas com “quando” e “como” • Diz palavras que rimam como gato-to-to • Usa pronomes como eu, tu, nós e eles • Usa algumas palavras no plural como brinquedos, pássaros e autocarros • Usa várias frases com 4 palavras ou mais • Geralmente fala facilmente sem repetir silabas nem palavras 4-5 Anos O que deve o meu filho ser capaz de fazer? Ouvir e compreender Falar • Compreende palavras relativas a ordem como primeiro, próximo e último • Diz todos os sons das palavras. Pode dar erros em sons mais difíceis de dizer, como l, s, r, v, z, ch • Compreende palavras sobre tempo, como ontem, hoje e amanhã • Responde quando se pergunta «O que disseste?» • Segue ordens mais longas como, “Veste o pijama, lava os dentes e depois vai buscar um livro” • Fala quase sempre sem repetir sons ou palavras • Segue as ordens na escola como, “Desenha um círculo no teu papel à volta de algo que tenhas comido” • Usa frases com mais do que uma palavra com significado de ação, tais como salta, corre, obtém. Pode dar alguns erros tais como «Zach conseguiu dois jogos de vídeo, mas eu consegui um». • Ouve e percebe quase tudo o que se diz em casa e na escola • Nomeia letras e números • Conta pequenas histórias • Mantém uma conversa • Fala de forma diferente tendo em conta o ouvinte e o local. Pode utilizar pequenas frases com crianças mais jovens ou falar mais alto fora de casa do que em casa. Reproduzido com autorização de “How does my child Hear and Talk?” Disponível em http://www.asha.org/public/speech/development/chart.htm. © 2015. American Speech-language-Hearing Association. Reservados todos os direitos. Página 57 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 37 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação memória de longo prazo a palavra/conceito «gato» Limitações da audição (comparado com cão, um conceito semelhante; ou com mato, uma palavra com som semelhante) e de procesMoeller e colaboradores16 inquiriram 1968 médicos de sar a palavra «gosto» (comparada com «não gosto»). Só cuidados de saúde primários sobre as suas atitudes, práentão a criança compreende a pergunta e pode decidir ticas e conhecimentos de rastreio auditivo nos recéma sua resposta. -nascidos. Verificaram haver limitações no reconheciA linguagem expressiva é a capacidade da criança de mento das opções de IP para lactentes com perda de aufalar; o processo mental utilizado para produzir fala e dição: os tempos adequados e os locais para onde oriencomunicar uma mensagem. 6 tar, modalidades de comuniPara responder, «Sim, gosto de cação disponíveis, possibilidaUm estudo mostrou que os médicos de de candidatura a implante gatos» a criança obtém o conceito de «gato» na memória de cuidados de saúde primários estão coclear e profissionais nos seus (cognição e semântica: o signilocais com especialização em pouco à vontade para fornecer aos ficado das palavras, sua relação perda de audição. Estas falhas familiares fontes de informação sobre de conhecimentos envolveram e utilização), encontra as palaIntervenção Precoce. vras adequadas (vocabulário), vários aspetos médicos, tais coloca-as pela ordem certa (sincomo perda de audição genétitaxe), usa o tempo verbal adeca e perda de audição de início quado (gramática/morfologia), compõe os sons adetardio em lactentes e crianças. Também verificaram quados por ordem, inicia os atos neuromotores (fonoque os médicos não estavam à vontade para fornecer logia/produção da fala) e comunica que compreende o informação às famílias sobre a forma de atuar com a IP que são gatos e que ela gosta deles (pragmatismo; rese discutir as necessidades de intervenção e os recursos posta adequada socialmente/contextualmente). disponíveis. ❙ Recursos no desenvolvimento da linguagem. O de❙ Efeitos adversos da perda de audição. A perda de senvolvimento típico da linguagem, a dimensão da sua audição pode ser unilateral ou bilateral, de condução variabilidade nas crianças, deve ser praticado num amou neurossensorial e pode variar na gravidade desde libiente linguístico bastante rico. Algumas crianças são geira a profunda. De acordo com o National Institute on aventureiras com a linguagem. Balbuciam, falam e coDeafness and Communication Disorders (NIDCD), uma municam de uma forma descuidada. Outras são prudenem cada 350 crianças nasce com um problema signifites. Podem esperar até terem a certeza de que têm as cacativo de perda de audição e outras ficam surdas por pacidades antes de pronunciarem uma palavra nova. Gedoenças ou traumatismos.17 De acordo com a ASHA,18 ralmente, a preocupação acerca do desenvolvimento da a perda de audição pode afetar as crianças de quatro mafala e da linguagem de uma criança surge quando não neiras diferentes:19 atrasos no desenvolvimentos das caexiste fala, se a fala não é clara ou se a fala e a linguagem pacidades de comunicação recetiva (compreensão) e são diferentes do que se encontra nos pares. expressiva; défices de linguagem que causam problemas O Centers for Disease Control and Prevention na sua de aprendizagem e reduzem o êxito escolar; problemas campanha «Aprender os sinais. Agir precocemente» de comunicação que levam a isolamento social e defi(www.cdc.gov/actearly), publicou listas de marcos de ciente autoconceito; e impacto nas escolhas e opções desenvolvimento dos 2 meses aos 5 anos sobre capaciprofissionais.20 O NIDCD apresenta uma lista de veridades sociais, de comunicação, cognitivas e motoras. Os ficação para determinar o estado de audição das crianprestadores de cuidados de saúde que informam os pais ças em http://www.nidcd.nih.gov/health/hearing/sisobre se a comunicação das crianças se está a desenlence.asp.17 volver normalmente podem encontrar a informação e ❙ O momento de intervir é importante. A IP é funmateriais disponíveis em http://www.cdc.gov/ncbddamental para minorar os efeitos deletérios da perda de dd/actearly/hcp/index.html.15 audição e otimizar o desenvolvimento da fala e da lin- ➣ Página 58 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 38 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,09 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 6 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação QUADRO 2. Recursos para identificação e intervenção precoce em problemas de comunicação nos EUA Recurso Informação American Speech-language-Hearing Association (ASHA) www.asha.org/public/ Capacidades de comunicação, marcos, doenças e fontes de tratamento ao longo da vida; para pais e profissionais Campanha dos CDC’s “learn the signs. Act early” www.cdc.gov/actearly/milestones/index.html Marcos de desenvolvimento das crianças desde os 2 meses aos 5 anos; listas de verificação para pais http://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/hcp/index.html Marcos de desenvolvimento para crianças e intervenção precoce para prestadores de Cuidados de Saúde National Institute on Deafness and Other Communication Disorders http://www.nidcd.nih.gov/health/voice/pages/speechandlanguage.aspx Listas de verificação do desenvolvimento da fala e linguagem National Institute on Deafness and Other Communication Disorders http://www.nidcd.nih.gov/health/hearing/pages/silence.aspx Perda de audição e suas consequências na comunicação; identificação e opções de tratamento. Center for Parent Information and Resources http://www.parentcenterhub.org/repository/IP-overview/ Intervenção precoce: visão global e processo National Institute of Mental Health http://www.nimh.nih.gov/health/publications/a-parents-guide-toautismspectrum-disorder/what-are-the-symptoms-of-dea.shtml Distúrbios do espetro do autismo; guia para os pais First Signs, inc http://www.firstsigns.org/ Sinais de alerta precoces dos distúrbios do espetro do autismo; para pais e profissionais The Autism Screening Test https://m-chat.org/about.php Teste de rastreio do autismo para identificar crianças dos 16-30 meses que devem receber uma avaliação mais abrangente de possíveis sinais precoces dos distúrbios do espetro do autismo ou atrasos de desenvolvimento. CDC, Centers for Disease Control and Prevention guagem. A gravidade da perda de audição influencia o resultado da IP e as opções de tratamento dependem da perda de audição ter surgido antes do desenvolvimento da linguagem (pré-linguagem) ou depois (pós-linguagem). A intervenção precoce na perda de audição pode melhorar a linguagem, especialmente nas crianças com perda de audição grave ou profunda.21 Dispositivos e métodos que promovem o desenvolvimento da comunicação para estudantes que são surdos ou que têm um défice profundo de audição incluem a utilização de dispositivos que amplificam a audição residual para abordagens auditivo-orais; a abordagem manual realçando a linguagem gestual (Linguagem Gestual americana ou Inglês Gestual) ou a Comunicação Total utilizando os métodos de linguagem oral e de linguagem gestual. Num lactente, a suspeita de um problema auditivo deve determinar o envio a um otorrinolaringologista ou a um audiologista para uma avaliação completa. Na Nova Jérsia, uma referenciação para IP tipicamente de- sencadeia o envio a um destes especialistas. O quadro 2 enumera os recursos que nos EUA estão disponíveis para identificação e intervenção precoce nos distúrbios da comunicação. Distúrbios do espetro do autismo A quinta edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM-5)22 da American Psychiatric Association reviu os códigos de diagnóstico para DEA. Uma análise aprofundada dos novos diagnósticos vai além do objetivo deste artigo, mas serão feitos alguns comentários. O diagnóstico revisto dos DEA confirmou os diagnósticos anteriores de autismo, a doença de Asperger, a perturbação desintegradora da infância/ou as perturbações de desenvolvimento não especificadas de outra forma.22-24 De acordo com o DSM-5, um indivíduo com DEA devia ter: 1) défice persistente de comunicação Página 59 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 39 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,56 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 7 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação ser consultada no site do Sistema Nacional de Intervenção social e interação social; 2) padrões de comportamenPrecoce na Infância acima referido. to, interesses ou atividades repetitivos e restritivos; 3) presença de sintomas na infância precoce (mas que se Eficácia do tratamento não manifestam de forma completa até ao momento em A prevalência de perturbações específicas da comunique as exigências sociais excedem as capacidades dicação varia grandemente, assim como o prognóstico, minuídas); e 4) sintomas que limitam e diminuem a atipossivelmente devido à variedade de causas subjacenvidade quotidiana.23,24 O início da doença deve ser evidente antes dos 6 anos tes (físicas/biológicas/médicas ou ambientais/educaciopara uma criança ser elegível para IP. As crianças que nais).27 Também como já foi antes descrito, «as perturbações de comunicação» são um não se qualificam para um diag«saco» onde são incluídas pernóstico de DEA sob a nova definição DSM-5 podem ser inO tratamento precoce das perdas de turbações tão diversas como ressonância (por ex., hipernasalicluídas na nova categoria chaaudição pode melhorar a linguagem, dade devido a uma fenda palatimada perturbações da comuniespecialmente nas crianças com perdas na), atraso grave da linguagem cação social (PCS) dentro das (por ex., devido à síndrome de «Perturbações de Comunicade audição profundas ou graves. Down) ou sigmatismo (dificulção» no DSM-5. As PCS defidade de articular o som «s»). nem-se como diminuição no Há alguma terapêutica efetiva? Os especialistas da pragmatismo que impede o desenvolvimento de relafala e da linguagem utilizam o National Outcomes Meações sociais e a compreensão das conversas sociais. As surement System (NOMS) como índice dos resultados DEA devem ser excluídas antes de ser feito o diagnósdo tratamento na comunicação funcional em 6 escalas. tico de PCS.23,24 Os tipos mais frequentes de problemas de comunicação Serviços de intervenção precoce em Portugal* vistos nos NOMS antes da idade pré-escolar eram «articulação» (75% das crianças), «produção de linguagem O Estado oferece serviços de IP às famílias para facilitar a falada» (61%) e «compreensão da linguagem falada» deteção dos atrasos de desenvolvimento em crianças e para (42%). Os problemas nas restantes 3 escalas («pragdisponibilizar um sistema abrangente de apoio designado matismo», «orientação cognitiva» e «deglutição») fopara reduzir os efeitos das incapacidades (ou para evitar proram detetados em menos de 15% das crianças em idablemas de desenvolvimento e de aprendizagem mais tarde de pré-escolar.28 A terapêutica da “articulação” permite melhoria em na vida).5 O fundamento para IP é que quanto mais cedo se iniciam as intervenções, menos intervenções mais tardias 69,3% dos casos, a terapêutica da compreensão da linserão necessárias.25 Os serviços de IP são fornecidos às guagem falada em 65,3% e a terapêutica da produção crianças desde que nascem até aos 6 anos de idade. da linguagem falada em 65,2%. 28 Estes resultados Para ter acesso ao Sistema Nacional de Intervenção Preapoiam o rastreio regular do desenvolvimento comucoce na infância(https://www.dgs.pt/sistema-nacional-denicacional das crianças e, de acordo com as necessidaintervenção-precoce-na-infancia.aspx) as famílias devem des, a sua referenciação à Equipa de I.P. contactar as Equipas Locais de Intervenção (ELI) que são Correspondência equipas multidisciplinares que integram todos os serviços que Christopher Mulrine, EdD; William Paterson University, 1600 Valley são chamados a intervir (Educação, Saúde e Acção Social). Road 3003 Wayne, NJ 07474-0920; [email protected] A rede nacional de Equipas Locais de Intervenção pode *Nota do editor: Dado que existem características específicas da situação portuguesa, achou-se que seria vantajoso fazer a sua adaptação à realidade nacional. Referências bibliográficas 1. Wankoff LS. Warning signs in the development of speech, language, and communication: when to refer to a speechlanguage pathologist. J Child Adolesc Psychiatr Nurs. 2011;24:175-184. ➣ Página 60 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 40 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,14 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 8 de 9 ATRASOS NA FALA, LINGUAGEM E PROBLEMAS DE AUDIÇÃO, continuação 2. Center for Parent Information and Resources. Disabilities. Center for Parent Information and Resources Web site. Available at: http://www.parentcenterhub.org/repository/disability-landing/. Updated June 2014. Accessed January 24, 2015. 3. 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Quadrant HealthCom Inc. and all copyright and other rights to this document reside with Quadrant HealthCom Inc. Quadrant HealthCom Inc. played no role in the reproduction of this publication and are not responsible for any errors, omissions, or other possible defects in the reproduction of the reprint. Página 61 Postgraduate Medicine ID: 60014941 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 1 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 16,73 x 20,94 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 9 de 9 Simpósio: Problemas de saúde nas crianças • Intervenção precoce nos atrasos da fala, linguagem e audição Página 62 Postgraduate Medicine A63 ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 20 País: Portugal Cores: Preto e Branco Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,24 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 1 de 12 SIMPÓSIO SOBRE PROBLEMAS DE SAÚDE NAS CRIANÇAS Abordagem diagnóstica e terapêutica da enurese em crianças Drew C. Baird, MD* Dean A. Seehusen, MD, MPH** David V. Bode, MD*** NOTA PRÉVIA A enurese define-se como incontinência urinária intermitente durante o sono numa criança com, pelo menos, cinco anos de idade. Aproximadamente 5% a 10% das crianças com sete anos têm enurese e calcula-se que nos Estados Unidos haja 5 a 7 milhões de crianças com enurese. A fisiopatologia da enurese noturna primária envolve a incapacidade de acordar durante o sono em resposta à sensação de bexiga cheia, conjuntamente com um aumento de produção noturna de urina ou uma diminuição da capacidade funcional da bexiga. A avaliação inicial deve incluir a história, exame objetivo e a análise de urina. Várias situações, tais como a obstipação, apneia do sono obstrutiva, diabetes mellitus, diabetes insípida, doença renal crónica e doenças psiquiátricas estão associadas com enurese. Se identificadas, estes patologias devem ser avaliadas e tratadas. O tratamento da enurese monossintomática primária (ie., o único sintoma é urinar na cama durante a noite numa criança que nunca deixou de o fazer) começa com aconselhamento da criança e dos pais sobre adequadas e eficazes modificações dos comportamentos. Os tratamentos de primeira linha da enurese incluem terapêutica com alarmes na cama e desmopressina. A escolha da terapêutica é baseada na idade e nos padrões de esvaziamento noturno e na vontade da criança e dos familiares. A orientação para uma consulta de urologia pediátrica está indicada nas crianças com enurese primária, refratária à terapêutica padrão e terapêuticas combinadas, e nas crianças com algumas causas secundárias de enurese, incluindo malformações das vias urinárias, infeção recorrente das vias urinárias e perturbações neurológicas. E nurese, ou enurese noturna, define-se como incontinência urinária durante o sono numa criança com mais de cinco anos.1 Atinge 5% a 10% de todas as crianças com sete anos e calcula-se que afete 5 a 7 milhões de crianças nos Estados Unidos, sendo mais frequente no sexo masculino.2-5 Há uma taxa de cura espontânea anual de 15%, se bem que 2% a 3% mantenham sintomas na idade adulta.6 Este artigo, baseado num caso clínico, mostra uma abordagem à avaliação e tratamento da enurese monossintomática em crianças. Definições A enurese divide-se em primária vs secundária ou monossintomática vs não-monossintomática. A enurese primária diz respeito a crianças que nunca tiveram mais de seis meses de noites continuadas sem urinar na cama. A enurese secundária refere-se a crianças que anteriormente conseguiram estar pelo menos seis meses sem urinar na cama, mas que voltaram a fazê-lo. A enurese secundária está mais ligada a novos fatores psicossociais de stresse ou a situações médicas ou comportamentais subjacentes.3 Na enurese monossintomática, o único sintoma é urinar na cama durante a noite. A enurese é frequentemente primária e monossintomática.7 A enurese não monossintomática envolve sintomas diurnos das vias urinárias baixas (por ex., urgência, polaquiúria, gotejamento urinário após a micção, esvaziamento vesical incompleto) ou incontinência urinária diurna, disúria ou manobras para reter a urina (por ex., Página 63 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 21 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 2 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação ficar em bicos de pés, cruzar as pernas, pressionar o períneo com as mãos ou o calcanhar) durante o dia.6,8 Este tipo de enurese pode sugerir uma bexiga hiperativa, esvaziamento disfuncional ou uma patologia mais grave. As crianças com enurese monossintomática, infeções urinárias recorrentes, malformações urinárias, cirurgias pélvicas anteriores ou doenças neurológicas devem ser considerados para referenciação a um subespecialista.9,10 Caso ilustrativo: enurese noturna A mãe de um rapaz de cinco anos está preocupada porque ele continua a urinar na cama à noite. Nunca houve um período consistente de controlo completo durante a noite. Durante o dia não precisa de fraldas e nega qualquer disúria ou sensação de urgência miccional. Que informação adicional é necessária para se fazer o diagnóstico? Avaliar a enurese A fisiopatologia da enurese primária envolve a incapacidade de acordar durante o sono quando há um estímulo vesical para urinar (ie., bexiga cheia), associada a uma produção excessiva de urina durante a noite ou diminuição da capacidade funcional da bexiga.6 Quando se avalia uma criança com enurese, os médicos devem fazer perguntas sobre a frequência, o momento e o volume urinado durante a noite. Devem também perguntar se há sintomas das vias urinárias inferiores durante o dia, porque podem não ser espontaneamente referidos pela criança nem pelos pais que estão mais preocupados com o facto de a criança molhar a cama à noite. Deve ser avaliado o sentimento de preocupação das crianças e dos pais com o “fazer-se chichi na cama”, assim como a motivação e o desejo que têm de ser feito tratamento. O quadro 1 apresenta uma lista de perguntas e as respostas clínicas a essas perguntas.2,6,8,11-13 Um diário vesical pode ser utilizado para avaliar os padrões de micções noturnas, débito *Diretor Assistente de Programa e Diretor de Investigação do Family Medicine Residency Program no Carl R. Darnall Army Medical Center, Fort Hood, Tex. **Chefe do Department of Family and Community Medicine no Eisenhower Army Medical Center, Fort Gordon, Ga. Na altura em que este artigo foi escrito era Diretor de Programa do Family Medicine Residency Program, Fort Belvoir (Va.) Community Hospital. ***É Médico da Equipa de Medicina de Adolescência do Medicine Residency Program no Eisenhower Army Medical Center. urinário e hábitos de ingestão de líquidos durante o dia. A informação sobre o diário vesical pode ajudar na seleção do tratamento e na avaliação da resposta. Um exemplo de diário vesical pode ser consultado em http://www. geisinger.org/services/jwch/specialties/nephrology/pdf/ 3_day_voiding_diary.pdf. Os fatores de risco de enurese são a idade mais jovem, sexo masculino, raça negra, história de infeção das vias urinárias e história familiar de enurese.14,15 A obesidade é, provavelmente, também um fator de risco.16 A baixa condição socioeconómica não se associa de forma consistente com enurese. Muitas situações podem apresentar-se com enurese, quer como causas quer como patologias associadas e podem influenciar o tratamento e o prognóstico. O quadro 2 enumera as patologias associadas mais frequentes e o diagnóstico diferencial.6-8,11,14,15,17-22 Outras situações que se podem apresentar com este problema são a doença renal crónica, a diabetes mellitus, a diabetes insípida, a bexiga neurogénica, a anorexia ou outras perturbações comportamentais, a drepanocitose e o hipertiroidismo.11,17 O exame objetivo deve focar-se na identificação das causas da enurese secundária (não-monossintomática) porque os achados são caracteristicamente normais na enurese primária. O exame genital e retal pode ajudar a identificar malformações genitourinárias ou obstipação. Estes exames devem efetuar-se se forem aceitáveis por parte das crianças e seus familiares e se houver preocupações relativamente à possibilidade de enurese secundária. O exame neurológico deve incluir a inspeção da coluna lombo-sagrada para detetar sinais de anomalias ocultas (por ex., fossetas, lipomas, hipertricose, agenesia do sacro), ou sinais de disfunção da medula, tais como medula ancorada ou dedos em martelo ou em garra. Deve igualmente fazer-se avaliação da postura através da marcha sob stresse ou imitação de movimentos no espelho para avaliar anomalias do sistema nervoso central.6 O quadro 3 resume os elementos chave do exame objetivo numa criança com enurese.2,6,8,11-13 Estudos diagnósticos A abordagem ao diagnóstico e tratamento da enurese nas crianças é apresentada na figura 1.1-3,6,10,11,13,23,24 Nos casos de enurese monossintomática, a urina tipo II é suficiente na avaliação laboratorial inicial. Glicosúria ou ➣ Página 64 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 22 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,45 x 25,46 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 3 de 12 QUADRO 1. Perguntas chave na história de crianças com enurese Pergunta Significado e resposta clínica História geral Qual a idade da criança? As crianças mais pequenas têm uma probabilidade mais elevada de resolução espontânea sem terapêutica; as crianças entre 5 e 7 anos podem ser tratadas com tratamento não farmacológico se estiverem suficientemente motivadas. A criança está incomodada com a enurese? Se não, considerar diferir o tratamento até estar motivada ou ter pelo menos 7 anos Houve anteriormente algum período de seis meses em que não tenha urinado na cama? É sugestivo de enurese noturna secundária; devem-se avaliar fatores de stresse psicológico e outras patologias associadas Já foram utilizados alguns tratamentos anteriormente? A falência da terapêutica com alarme é geralmente devida a uma adesão insuficiente e pode justificar uma segunda tentativa com aconselhamento adequado ou mudança para desmopressina Considerar envio a um subespecialista se a enurese não responder a uma prova terapêutica adequada com alarme e desmopressina Fazer um diário vesical se ainda não tiver sido feito Características da enurese Qual a frequência da enurese (dias por semana e episódios por noite)? A enurese que surge todas as noites e com episódios múltiplos por noite tem pior prognóstico Quando surge a enurese durante a noite? Uma micção abundante nas primeiras horas de sono é típica da enurese primária monossintomática As cuecas e fraldas usadas de noite são molhadas? É sugestivo de poliúria noturna; a criança pode ser uma boa candidata para terapêutica com desmopressina A criança tem uma primeira micção da manhã volumosa apesar da enurese? É sugestivo de poliúria noturna; a criança pode ser boa candidata para terapêutica com desmopressina Quais são os hábitos da criança de ingestão de líquidos durante o dia, especialmente durante a tarde e à noite? Melhorar os hábitos com modificação do comportamento; polidipsia pode ser um sintoma de diabetes mellitus e deve ser excluída essa possibilidade; polidipsia psicogénica é uma contraindicação para a desmopressina Patologias associadas e fatores de complicação A criança tem sintomas durante o dia (por ex., incontinência, polaquiúria, urgência miccional, gotejamento, esvaziamento incompleto, dificuldade em urinar, jacto fraco, perdas involuntárias manobras para suspender a micção, micções <4 ou >7 por dia? É sugestivo de enurese não monossintomática e possivelmente bexiga hiperativa, esvaziamento disfuncional, bexiga neurogénica ou malformações anatómicas A criança tem disúria? Sugere a possibilidade de haver infeção das vias urinárias; fazer urocultura A criança tem história de infeção das vias urinárias? Sugere disfunção ou malformação das vias urinárias inferiores; ou bexiga neurogénica; considerar orientar para subespecialista A criança tem obstipação (<4 dejeções por semana, fezes duras ou incontinência fecal)? Pode diminuir a capacidade de armazenamento vesical; tratar primeiro a obstipação porque isso pode levar ao desaparecimento da enurese A criança tem problemas comportamentais? Pode ser mais resistente ao tratamento; considerar avaliação psicológica adicional se houver suspeita Os pais ou a criança devem fazer um diário vesical completo. Os sintomas diurnos devem ser avaliados e tratados em primeiro lugar; considerar o envio a um subespecialista nos casos mais graves Se houver suspeita de uma doença comportamental, deve tratar-se em simultâneo com a enurese; considerar enviar a subespecialista A criança tem polidipsia, poliúria ou perda de peso? Considerar a possibilidade de diabetes ou doença renal A criança ressona ou tem sonolência durante o dia? É sugestivo de apneia do sono obstrutiva; considerar polissonografia A criança tem história de dificuldades motoras ou de aprendizagem ou atraso de desenvolvimento? Não é contraindicação para terapêutica com alarme ou com desmopressina; considerar envio a um subespecialista se houver alguma sugestão de uma perturbação do sistema nervoso central subjacente Há problemas psicossociais? Explorar a possibilidade de fatores de stresse associados; ter presente sinais e sintomas de maus tratos Avaliar a dinâmica familiar e se a família apoia o tratamento Evitar utilização de terapêutica com alarme se houver suspeitas de punição e reforço negativo por parte dos familiares Página 65 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 23 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,67 x 25,29 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 4 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação QUADRO 2. Patologias frequentemente associadas e diagnóstico diferencial da enurese nas crianças Diagnóstico Prevalência Manifestações clínicas Obstipação* 33% a 75% Encoprese, fezes duras, dejeções raras Infeção das vias urinárias 18% a 60% Febre, polaquiúria e/ou urgência miccional, nitritos na urina ou leucócitúria Apneia do sono obstrutiva 10% a 54% Hipertrofia dos adenóides, ressonar, sonolência diurna Bexiga hiperativa ou esvaziamento Até 41% disfuncional Sintomas durante o dia incluindo polaquiúria, gotejamento, esvaziamento vesical incompleto, esforço para urinar, jacto urinário fraco, adiamento das micções ou frequência (i.e., <4 ou >7 micções por dia), e manobras para conter a urina (por ex., ficar em bicos de pés, cruzar as pernas pressionar o períneo com as mãos ou os calcanhares) Perturbação de hiperatividade e défice de atenção* Desatenção, hiperatividade, impulsividade 12% a 17% *— Associado com resistência ao tratamento. Informação das referências 6 até 8, 11, 14, 15, e 17 até 22. QUADRO 3. Achados chave no exame objetivo em crianças com enurese Achado Significado e resposta clínica Altura e peso Atraso ou suspensão do crescimento pode ser sugestiva de uma patologia subjacente, incluindo doença renal crónica ou diabetes mellitus; está indicado avaliar mais estes problemas. Cabeça, olhos, ouvidos, nariz e garganta Aumento dos adenoides e das amígdalas Considerar apneia do sono obstrutiva se houver roncopatia e /ou sonolência diurna; considerar tratar primeiro a apneia do sono Abdómen Rins ou bexiga aumentados É sugestivo de malformações anatómicas; considerar envio a subespecialista Fezes duras no abdómen Sugestivo de obstipação Genitais Anomalias físicas: hipospádias, estenose do meato, fimose, aderências dos lábios Sugestivo de malformações das vias urinárias; considerar envio a subespecialista Sinais de abuso sexual Escoriações perianais e perineais e vulvovaginite levantam a possibilidade de abuso sexual e justificam avaliação adicional Reto Evidência de conspurcação na roupa interior Sugere incontinência fecal e obstipação Mau tónus do esfíncter anal Sugere bexiga neurogénica; considerar envio a subespecialista Fossetas, tufos de cabelo, lipomas ou outros achados Sugere disrafismo medular e bexiga neurogénica, considerar avaliação complementar e na fenda glútea envio a subespecialista Sistema nervoso (movimentos, força, sensibilidade, reflexos, marcha) Anomalias da marcha, défice sensitivo, reflexos anormais nos membros inferiores, tendões de Aquiles estreitos, dedos em martelo ou em garra Sugere doença neurológica; considerar avaliação complementar e envio a subespecialista Informação das referências 2, 6, 8, e 11 até 13. proteinúria são sugestivas de diabetes mellitus ou de doença renal crónica e justificam avaliação adicional com determinação da glicemia, níveis de ureia e crea- tinina. Se houver bactérias ou leucócitos na urina deve ser pedida uma urocultura.3,9,23 Estudos adicionais de diagnóstico podem estar indi- ➣ Página 66 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 24 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,03 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 5 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação cados em casos selecionados com sinais e sintomas que sugiram enurese não monossintomática ou uma situação médica subjacente. A ecografia renal pode detetar doença renal ou malformações anatómicas, enquanto a ecografia da bexiga pode avaliar malformações das vias urinárias baixas, a capacidade vesical, a espessura da parede da bexiga e o volume residual pós-miccional. Para além disso, a ecografia vesical é útil para medir o diâmetro do reto na investigação da obstipação. A ressonância magnética nuclear está indicada se houver preocupação com disrafismo oculto da medula ou outras doenças do sistema nervoso central. A cistouretrografia de esvaziamento e os estudos urodinâmicos são estudos diagnósticos mais invasivos que raramente estão indicados na enurese primária. Estão reservados geralmente para casos mais complicados e devem ser realizados por subespecialistas em enurese.3,11 Caso ilustrativo: enurese noturna primária monossintomática Há cerca de um ano, foi diagnosticada enurese primária numa menina de seis anos. Nessa altura, não estava preocupada por urinar na cama. Depois de se conversar com os pais, decidiu diferir-se o tratamento até ela manifestar interesse em deixar de urinar na cama. Agora, os pais referem que ela está relutante em utilizar fraldas e resguardos por urinar na cama e está cada vez mais interessada em resolver este seu problema. Que tratamentos iniciais estão indicados nesta doente? Quando deve ser adequado orientar a doente para uma consulta especializada? Tratamento sugerido Os pais devem ser informados e tranquilizados relativamente à enurese primária noturna monossintomática , ficando a saber que se trata de uma condição frequente que desaparece de forma espontânea na maior parte das crianças. Assim, os pais de crianças mais novas podem preferir atrasar o tratamento até se esgotarem as intervenções comportamentais e o médico deve apoiar essa decisão. Deve ser feito aconselhamento e reforço positivo.23 Situações patológicas associadas que podem causar ou contribuir para a enurese devem ser identificadas e tratadas, porque a resposta dos doentes pode ser limitada se as outras patologias não forem tratadas. A obs- tipação deve ser tratada porque a enurese pode resolver-se espontaneamente depois de resolvido este problema. A apneia obstrutiva do sono em crianças é geralmente associada com hipertrofia das amígdalas e dos adenoides. Diagnostica-se por polissonografia e o tratamento primário é a amigdalectomia e adenoidectomia. Perturbações comportamentais ou psiquiátricas devem ser tratadas simultaneamente com o tratamento da enurese. Estudos sugerem que o tratamento do défice de atenção e hiperatividade pode beneficiar as crianças que têm enurese associada, se bem que sejam necessários estudos adicionais.3,9,24-26 Intervenções comportamentais Intervenções comportamentais simples podem utilizar-se no início. Limitar a ingestão de líquidos nas horas antes de ir para a cama é muitas vezes sugerido, mas é uma atitude que não foi avaliada de forma sistemática. Acordar a criança durante a noite para urinar; levantar a criança adormecida e levá-la à casa de banho para urinar; treino vesical (por ex., aumentar a capacidade da bexiga atrasando as micções por períodos longos, exercícios de controlo dos músculos do pavimento pélvico e controlo dos esfíncteres); e instituir sistemas de recompensa como gráficos com estrelas, são tudo intervenções razoáveis que parecem ser mais eficazes do que não fazer qualquer tratamento, mas menos eficazes que sistemas de alarme na cama.27 No entanto, a eficácia destas intervenções a longo prazo continua a não estar esclarecida.28 Intervenções comportamentais mais complexas são mais efetivas. O treino para deixar de urinar na cama envolve um programa de acordar periodicamente a criança para ir urinar, «treino de limpeza» (fazer com que a criança mude a roupa da cama quando há um acidente) e uso de um alarme na cama. A terapêutica de largo espetro é uma abordagem mais abrangente que inclui alarme na cama, treino de limpeza, treino vesical e sobreaprendizagem, que consiste em fazer a criança beber mais à noite depois de ter havido 14 noites consecutivas sem urinar na cama. Estas intervenções são mais efetivas quando utilizadas em associação com um alarme na cama, o que sugere que a maior parte do benefício está relacionada com o alarme.29 Devem se evitadas consequências negativas por se urinar na cama.30 Página 67 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 25 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,62 x 25,46 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 6 de 12 Abordagem Diagnóstica e Terapêutica da Enurese em Crianças Criança ≥5 anos que se apresenta com enurese História do doente (quadro 1) A enurese é o único sintoma? Sim Exame objetivo (quadro 3) e urina II Não Sim Há alguns achados sugestivos de uma alteração comportamental subjacente ou de um problema médico? Não Enurese monossintomática Fazer aconselhamento aos pais e à criança e tranquilizar relativamente ao problema; ensinar intervenções comportamentais; considerar pedir um diário vesical A criança quer ser tratada? Sim Obstipação: tratar e reavaliar Infeção das vias urinárias: Tratar com antibióticos adequados História de Infeção das vias urinárias: considerar exames de imagem e envio a subespecialista Perturbação psiquiátrica: se houver suspeita e complicações da enurese, considerar tratamento concomitante; enviar para especialista de problemas do comportamento, se indicado Exame objetivo (quadro 3) e urina II Há alguns achados sugestivos de uma alteração comportamental subjacente ou de um problema médico? Não Enurese não monossintomática Esvaziamento disfuncional ou malformação das vias urinárias: considerar estudo com imagem e enviar a subespecialista Obter diário vesical se ainda não tiver sido feito; considerar exames laboratoriais e de imagem adicionais, se justificados; enviar a subespecialista Doença neurológica: considerar ressonância magnética nuclear da coluna lombar e enviar a subespecialista Diabetes mellitus, doença renal crónica ou outros problemas médicos subjacentes: considerar determinação da glicemia, exames bioquímicos e outros estudos laboratoriais; equacionar envio a subespecialista Apneia do sono obstrutiva: Considerar envio para polissonografia Não Sim Reforçar intervenções comportamentais e seguir se houver motivação da criança para fazer tratamento Selecionar a terapêutica de primeira linha adequada Considerar terapêutica com alarme na cama Considerações para terapêutica com desmopressina Primeira linha de terapêutica em crianças com <7 anos Preferência deste tratamento por parte dos pais, havendo necessidade de melhoria rápida Requer motivação da criança e dos pais relativamente a disponibilidade de tempo e esforço Os pais podem necessitar de acordar os filhos quando o alarme toca; pode haver necessidade de dormirem no mesmo quarto Tratamento contínuo se necessário Não excluir crianças com problemas de aprendizagem ou limitações auditivas (existem alarmes vibratórios) Ideal para crianças com poliúria noturna Pode haver necessidade de titulação da dose até ao efeito pretendido Considerar nas crianças em que a enurese não melhorou com a terapêutica com alarme Razões para considerar terapêuticas alternativas: Razões para considerar terapêuticas alternativas: Os pais manifestam sinais de culpabilizar os filhos; preocupação de reforço negativo Não é eficaz em crianças com débito urinário noturno baixo ou quando há confirmação de capacidade vesical reduzida Preocupações de adesão deficiente com a restrição de fluidos durante a noite Enurese pouco frequente (<1 a 2 noites por semana) Reavaliar com intervalos de um mês Confirmação de enurese monossintomática Continuar tratamento se houver sinais de resposta evidentes e sem efeitos adversos Sinais de resposta (pequenas micções, urina na cama menos frequente; se for usado o alarme, a criança acorda com o alarme e este é cada vez menos usado) Para a terapêutica com alarme, considerar a sua suspensão depois de 14 noites seguidas sem haver urina na cama Para a desmopressina Adesão Efeitos adversos Satisfação com o tratamento Considerar aumentar a dose se a resposta for insuficiente Se não houver episódios durante 3 meses, considerar a suspensão do tratamento para ver se a criança tem continência noturna; se não, continuar o tratamento Considerar terapêutica de associação quando resposta inadequada em 6 a 8 semanas Considerar envio a subespecialista se a enurese não responde a uma das terapêuticas ou se houver evidência de novo de patologia médica subjacente ou enurese noturna não monossintomática FIGURA 1. Abordagem diagnóstica e terapêutica da enurese em crianças Informação das referências 1 a 3,6,10,11,13 e 24. ➣ Página 68 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 26 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,45 x 25,03 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 7 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação Terapêutica com alarme na cama Os alarmes na cama são atualmente considerados o tratamento mais eficaz de que se dispõe e esta é considerada a terapêutica de primeira linha na enurese monossintomática.3,9,13,24,30 Existem vários tipos de alarmes, não tendo nenhum deles mostrado ser melhor que os outros. Os alarmes de cama incluem sensores de humidade, colocados na roupa interior das crianças ou como tapetes por baixo da criança, ligados por fio ou sem fios a um alarme que emite um estímulo acústico, ruidoso quando é detetada humidade. O objetivo é acordar a criança no início do episódio de enurese, parar a micção temporariamente, desligar o alarme, ir à casa de banho e acabar de urinar. Os alarmes que dão um pequeno choque elétrico não são geralmente bem aceites pelas crianças e pelos pais. Os níveis de motivação dos pais e das crianças devem ser avaliados, porque os alarmes são processos exigentes em termos de tempo e não são bem aceites por todos.28 As famílias que escolhem tentar um alarme na cama devem aceitar fazer um ensaio com duração mínima de três meses. O alarme é geralmente uma despesa não comparticipada, e muitas seguradoras não cobrem os custos. Depois de se iniciar um alarme na cama, deve ser feita uma consulta de acompanhamento ao fim de 4 semanas para avaliar a resposta e a aderência, problemas de funcionamento por dificuldades técnicas e responder a dúvidas. Se houver sinais de resposta evidentes (por ex., diminuição da quantidade de urina na cama, menos noites com o problema, a criança acordar com o alarme, o alarme tocar mais tarde e menos vezes) em um a três meses de utilização, a terapêutica deve ser continuada até se atingirem 14 noites consecutivas sem urina na cama.13 Uma revisão Cochrane de 13 estudos com 576 doentes comparou a terapêutica com alarme na cama com ausência de intervenção ou placebo e verificou que a probabilidade de falência do tratamento era muito mais baixa com a terapêutica com alarme do que com a terapêutica com controlo (risco relativo=0,38; Intervalo de confiança [IC] a 95%, 0,33 a 0,45). Cerca de metade dos doentes continuavam a não urinar na cama depois da suspensão dos alarmes em comparação com praticamente nenhum no grupo controlo (recidiva ocorreu em 45 de 81 no grupo com tratamento vs 80 de 81 no grupo controlo). A sobreaprendizagem é uma adi- ção benéfica ao treino com alarme (rr=1,92 para evitar recidiva; IC a 95%, 1,27 a 2,92).30 Farmacoterapia A farmacoterapia deve ser apenas utilizada em crianças com sete ou mais anos, e só deve ser utilizada se as medidas de terapêutica não farmacológica não tiverem êxito ou se os familiares preferirem medicação como terapêutica inicial. Os medicamentos são mais práticos do que a terapêutica comportamental ou com alarme, mas os sintomas geralmente reaparecem depois de suspensa. Os medicamentos utilizados mais frequentemente são a desmopressina, os antidepressivos tricíclicos (por ex., imipramina) e os anticolinérgicos. A desmopressina é um análogo da hormona antidiurética. É a terapêutica de primeira linha e o medicamento de eleição, especialmente nas crianças com poliúria noturna e capacidade vesical normal.9,13 A desmopressina tem uma taxa de sucesso de cerca de 70%,23 que é semelhante à da terapêutica com alarme, mas os riscos de recidiva depois da suspensão do fármaco são maiores com a desmopressina. Numa revisão Cochrane de dois estudos com 119 doentes, o risco relativo da enurese recidivar depois da suspensão da desmopressina foi de 1,42 (IC a 95%, 1,05 a 1,91) em comparação com a terapêutica com alarme. Os doentes tratados com desmopressina têm em média mais 1,21 noites sem urinar na cama por semana (IC a 95%, 0,95 a 1,49) comparados com o placebo.31 A desmopressina está disponível em comprimidos por via oral e é geralmente bem tolerada; a forma intranasal já não tem indicação em crianças devido aos riscos de intoxicação hídrica, hiponatremia e convulsões, se houver aplicação de doses excessivas ou ingestão excessiva de água durante a noite.1,3 O seguimento deve ser feito duas a quatro semanas depois para avaliar a resposta e a existência de efeitos colaterais. Se não houver resposta com a dose inicial de 0,2 mg, a dose pode ser aumentada até 0,6 mg para se conseguir atingir o objetivo da criança deixar de urinar na cama. A desmopressina deve ser suspensa periodicamente durante algum tempo, cada três meses, para avaliar se já há continência noturna.2,6 Pode igualmente ser utilizada em SOS em situações em que a criança dorme fora de casa ou acampa depois de se ter encontrado uma dose eficaz. Página 69 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 27 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 25,41 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 8 de 12 QUADRO 4. Efetividade dos tratamentos da enurese comparados com a terapêutica de controlo Terapêutica Probabilidade de falência terapêutica*; RR (IC a 95%) Probabilidade de recidiva; RR (IC a 95%) Alarme de cama30 0,39 (0,33 a 0,45) 0,57 (0,47 a 0,70) em 14 estudos com em 5 estudos com 576 doentes 162 doentes Comentários A ausência de alarme de cama foi superior, se bem que os alarmes que acordam a criança (vs pais) imediatamente (vs com atraso) tenham sido mais eficazes As crianças preferiram os alarmes utilizados junto do corpo em relação aos que se colocam na cama Os alarmes com choques elétricos tiveram efeitos adversos significativos Os resultados dos estudos favorecem a terapêutica com alarme relativamente à terapêutica comportamental, embora a evidência seja escassa e os estudos de má qualidade. A terapêutica com alarme tende a ter menos insucesso e mais baixas taxas de recidiva do que com a desmopressina e os antidepressivos tricíclicos Desmopressina (0,2 mg)31 0,84 (0,78 a 0,91) em 4 estudos com 288 doentes Insucesso Doses de 0,1 mg, 0,4 mg, e 0,6 mg mostraram ser efetivas terapêutico ou Desmopressina foi mais efetiva do que a imipramina durante o recidiva em todos tratamento, mas não houve comparação de resultados na recidiva os 34 doentes num Não há resultados suficientes para se perceber se a desmopressina é dos estudos melhor que a oxibutinina As taxas de recidiva após o uso de desmopressina são maiores que as verificadas com os alarmes de cama Treino de cama seca 0,03 (0,00 a 0,42) (alarme de cama num estudo de mais pais como 40 doentes terapeutas em casa)29 0,22 (0,10 a 0,50) num estudo de 40 doentes Estudos de intervenções comportamentais complexas, tais como o treino para manter a cama enxuta e treino doméstico de largo espetro, sem alarme de cama não mostraram benefícios significativos Imipramina (Dose variável)33 0,98 (0,94 a 1,03) em 5 estudos com 416 doentes Com a dose de 25-mg à noite houve menos noites com urina na cama por semana do que com a dose de 10 mg (2.83 vs. 3.69) 0,77 (0,72 a 0,83) em 11 estudos com 813 doentes A imipramina tendeu a ser menos efetiva do que a terapêutica com alarme de cama e a desmopressina em vários pequenos estudos de qualidade má É possível haver toxicidade cardíaca significativa Pode causar efeitos adversos anticolinérgicos (por ex., boca seca, obstipação) Oxibutinina (5 mg, três vezes por dia)34 0,80 (0,52 a 1,24) num estudo de 39 doentes 1,13 (0,79 a 1,62) num estudo com 23 doentes A adição de oxibutinina não parece melhorar o efeito da desmopressina, se bem que um subgrupo de doentes com capacidade vesical diminuída possa beneficiar com esta associação.40 A terapêutica de associação com oxibutinina e imipramina foi mais efetiva e teve menos recidivas do que a utilização de qualquer delas isoladamente São frequentes os efeitos adversos anticollinérgicos (por ex., secura de boca, obstipação) Sistemas de recompensas27 0,84 (0,73 a 0,95) em 2 estudos de 325 doentes Não existem resultados Os sistemas de recompensa foram variáveis nos vários estudos e não existem resultados de comparação para se defenir que um é melhor que outro Os sistemas de recompensa combinados com estimulação foram também efetivos em comparação com controlos NOTA: terapêutica de controlo: na terapêutica com alarme na cama – tratamento zero, um alarme confundente ou placebo; para o treino de obtenção de cama enxuta – tratamento zero; para sistemas de recompensas – controlos de listas de espera; para medicamentos – placebo IC = intervalo de confiança; RR = risco relativo. *—Não conseguir chegar a 14 noites consecutivas sem urinar na cama; riscos relativos mais baixos são melhores Informação das referências 27, 29 a 31,33,34 e 40. ➣ Página 70 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 28 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,70 x 24,81 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 9 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação RECOMENDAÇÕES CHAVE PARA A PRÁTICA CLÍNICA Recomendação clínica Grau de evidência Referências A avaliação laboratorial inicial numa criança com enurese monossintomática deve ser limitada à urina tipo II C 3, 9, 23 Sintomas durante o dia e obstipação devem ser identificados e tratados antes de se começar a terapêutica da enurese em crianças. As causas secundárias e os fatores contribuintes para a enurese devem também ser identificados e tratados de forma adequada. C 3, 9, 24 A terapêutica com alarme de cama é efetiva no tratamento da enurese monossintomática nas crianças. A 3, 9, 13, 24, 30 A desmopressina é efetiva no tratamento da enurese monossintomática em crianças A 9, 13, 23, 31 O envio para subespecialista deve ser considerado em crianças com enurese primária monossintomática quando os sintomas não respondem à terapêutica com alarme de cama ou desmopressina; nas crianças que têm sintomas e sinais de enurese não monossintomática ou uma situação médica subjacente; ou em crianças com suspeita de patologia psiquiátrica associada. C 2, 3, 6, 10, 11, 13, 23, 24 A = evidência de boa qualidade orientada para o doente; B = evidência inconsistente ou de qualidade limitada orientada para o doente; C = consenso, prática habitual, opinião de especialista, séries de casos, orientados para a doença. Para informação sobre o sistema de classificação, ir a http://www.aafp.org/afpsort.xml Uma nova formulação em comprimidos de desmopressina desintegráveis (DDAVP Melt) está disponível no Canadá e na Europa, mas ainda não nos Estados Unidos. É mais cara do que o comprimido de desmopressina que se engole, mas pode ser mais eficaz e melhor tolerada pelos doentes. A dose inicial é um comprimido de 0,120 mg desintegrável equivalente a uma dose de 0,20 mg do comprimido para engolir.32 Os antidepressivos tricíclicos são considerados terapêutica farmacológica de segunda linha para a enurese. Embora tenham uma eficácia semelhante à da desmopressina, têm um perfil de efeitos colaterais menos desejável, incluindo a possibilidade de toxicidade cardíaca se for tomada uma dose excessiva. A maioria das crianças tem recidiva depois da suspensão dos antidepressivos tricíclicos.33 Outros medicamentos têm sido também avaliados em estudos pequenos. O diclofenac e a indometacina melhoram a enurese, embora não sejam tão eficazes como a desmopressina.34 Os anticolinérgicos têm sido utilizados em terapêutica isolada ou em associação com a desmopressina na enurese que não responde aos tratamentos iniciais, mas associa-se com efeitos adversos significativos. São geralmente reservados para os casos em que há suspeita de redução do volume vesical.23 Existem várias terapêuticas de medicinas complementares e alternativas que foram avaliadas em pequenos estudos. Uma revisão Cochrane estabeleceu que não existe atualmente evidência suficiente para recomendar qualquer destes produtos na terapêutica da enurese.35 Terapêutica de associação A terapêutica de associação deve ser equacionada quando há falência da terapêutica. São escassas as terapêuticas de associação que foram objeto de estudo sistemático. A terapêutica com alarme mais o treino comportamental é melhor do que cada uma das terapêuticas utilizadas de forma isolada.29 Uma revisão Cochrane mostrou que a evidência da terapêutica com alarme mais farmacoterapia deu resultados mistos,30 embora as recomendações dos especialistas sugiram que se a enurese não melhora ou melhora apenas parcialmente com a terapêutica com alarme após alguns meses, a desmopressina pode ser associada à terapêutica com alarme.3,13 Quase metade dos doentes em que a enurese não responde à desmopressina ficam sem urinar na cama quando se adiciona tratamento com a tolterodina de longa ação, 4 mg à noite.36 Existe alguma evidência de que a pseudoefedrina seja eficaz em associação com ibuprofeno ou imipramina.37,38 Os exercícios do pavimento pélvico não parecem melhorar a terapêutica de largo espetro.39 O quadro 4 compara várias formas de tratamento da enurese.27,29-31,33,34,40 A orientação para um urologista pediátrico está indicada nas crianças com enurese primária monossintomática ou não-monossintomática cujos sintomas não Página 71 Postgraduate Medicine ID: 60014910 01-06-2015 Tiragem: 7000 Pág: 29 País: Portugal Cores: Cor Period.: Mensal Área: 18,25 x 24,54 cm² Âmbito: Saúde e Educação Corte: 10 de 12 ENURESE EM CRIANÇAS, continuação melhoram com as terapêuticas padronizadas ou que têm evidência de malformações das vias urinárias ou infeção recorrente das vias urinárias. A enurese secundária é geralmente causada por problemas psicológicos ou malformações das vias urinárias e deve ser objeto de uma avaliação abrangente.2,3,6,11,13,23,24 Correspondência Drew C. Baird, MD, Carl R. Darnall Army Medical Center, 713 End O Trail, Harker Heights, TX 76548 (e-mail: [email protected]). Referências bibliográficas 1. Nevéus T, von Gontard A, Hoebeke P, et al. The standardization of terminology of lower urinary tract function in children and adolescents: report from the Standardisation Committee of the International Children’s Continence Society. J Urol. 2006;176(1):314-324. 2. Nevéus T. Nocturnal enuresis-theoretic background and practical guidelines. Pediatr Nephrol. 2011;26(8):1207-1214. 3. Tekgul S, Nijman RJ, Hoebeke P, Canning D, Bower W, von Gontard A. Diagnosis and management of urinary incontinence in childhood. 4th International Consultation on Incontinence, Committee 9. 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