Tipos de audiência segundo a autonomia sociocultural e sua utilidade em programas de divulgação 1 Carlos Coimbra, Sibele Cazelli, Douglas Falcão e Maria Esther Valente Pesquisadores do Museu de Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCTI ([email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]) 1. Introdução Os estudos sobre audiência têm mostrado desde o início do século passado uma tendência crescente de considerar a diversidade dos indivíduos que a compõe. De uma massa uniforme de pessoas, as audiências passaram, cada vez mais, a serem vistas com as características singulares e heterogêneas de que eram compostas. Este artigo pretende apresentar uma tipologia de audiência que facilita a compreensão do papel social dos mais diversos programas veiculados pelas mais diversas mídias. Esta tipologia, tendo surgido no contexto de programas de visitação a museus, um ambiente multimídia por excelência, mostra generalidade suficiente para ser útil nos mais diversos contextos. O surgimento da comunicação de massas como a imprensa, o rádio e a televisão, produziu e produz até hoje a noção de que estudar a audiência é simplesmente verificar o seu lado quantitativo. Assim, um programa pode ter grande ou pequena audiência e todos os esforços se dirigem na direção de calcular numericamente essa audiência. O sucesso do programa fica assim avaliado. Esta noção, de uma audiência homogênea, cujo único interesse seria seu tamanho influenciou todas as primeiras teorias de comunicação de massas e hoje ainda exerce forte influência. Nos primeiros modelos, onde a audiência era vista como massa e os indivíduos como átomos isolados, a comunicação se dava de forma direta, com o indivíduo recebendo passivamente a mensagem, do texto de mídia para a consciência sem mediação e sem influência das histórias pessoais. Foi por volta da Primeira Guerra quando a crença no poder da propaganda e a preocupação com a industrialização da cultura (Horkheimer e Adorno, 1944) pareciam estar no auge. Os fatores sociais passaram a ser incorporados aos modelos de comunicação quando Lazarsfeld e seus colegas (1944), em estudo pioneiro, demonstraram que as audiências não se comportavam de maneira homogênea, que certos indivíduos dentro 1 COIMBRA, Carlos; CAZELLI, Sibele; FALCÃO, Douglas; VALENTE, Maria Esther. Tipos de audiência segundo a autonomia sociocultural e sua utilidade em programas de divulgação. Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, jan./mar., n. 188, p. 113-124, 2012. 1 delas exerciam o papel fundamental de intermediários ou mediadores na formação da opinião. Fatores psicológicos entram em cena quando Blumler e Katz (1974) propuseram a teoria dos usos e gratificações: os indivíduos fazem uso de textos de mídia por vários motivos, por diversão ou entretenimento, para o estabelecimento de relações interpessoais, para o fortalecimento da identidade pessoal e para a obtenção de informação e segurança. O final do século passado viu crescer ainda mais a fragmentação temática dos estudos de audiência na direção da especialização e da segmentação. Questões de gênero, classe, etnia, idade e nível social e cultural passaram a ser rotineiramente discutidas. A mensagem também deixava de ser homogênea e podia ser decodificada ou percebida das mais diversas maneiras (Hall, 1973). A publicidade expande seu alcance, empregando métodos etnográficos (Moore, 1993) e explorando a audiência como um produto (Gauntlet, 2007). A distinção das audiências proposta neste artigo envolve o aspecto de autonomia social dos indivíduos em relação ao evento de mídia ao qual ele se expõe. Assim, podese distinguir a audiência espontânea, com o maior grau de autonomia, afinal ela está exposta ao evento por livre e espontânea vontade; a audiência programada, que assumiu certo compromisso com o evento; e a audiência estimulada, que participa do evento com pouco ou nenhum grau de autonomia. Essa classificação teve origem em estudos sobre o público de um Museu de Ciência, o Museu de Astronomia e Ciências Afins, MAST/MCTI. A partir de 2004, pesquisadores da Coordenação de Educação em Ciências começaram a buscar instrumentos e métodos para avaliar a eficácia das atividades educacionais em contexto não formal, levando em consideração as especificidades de cada tipo de público. Dentro da abordagem de uma sociologia educacional aplicada, as pesquisas envolveram a obtenção de informação sobre o público em suas várias dimensões, sociais, culturais, demográficas e individuais a fim de produzir subsídios para a tomada de decisões na organização das atividades museais em seus aspectos teóricos e práticos. 2. Sobre museus e suas audiências A audiência esperada pelos museus mudou nos últimos 200 anos, mas desde a segunda metade do século XX uma relação mais próxima entre museus e sociedade vem sendo estimulada. Dialogar com seus diferentes públicos, ampliando as representações sociais e culturais no seu espaço, é uma tendência importante. 2 Os públicos de museus, de modo geral, são vistos como um grupo em construção, podendo ser composto por segmentos sociais diferentes, segundo um dado período. A visita ao museu é percebida como uma experiência resultante de contextos pessoal, social e físico, ancorada em regras e referências mais ou menos compartilhadas entre visitantes, curadores, cientistas e diferentes segmentos da sociedade, passíveis de negociação durante a situação observada. O significado desta prática não resulta apenas de atributos do sujeito, mas se constrói na relação complexa entre diversos fatores. Atualmente, museus compartilham financiamento público e privado com outras instituições (embora de forma particular segundo o tipo de museu) e encontram-se inseridos em duas lógicas diferentes e nem sempre complementares: uma lógica de mercado, da indústria cultural, e uma lógica de legitimidade social. A segunda dentre estas, se pauta no alargamento da missão dos museus que afirmam, por meio de investimentos em ações voltadas para a educação e a mediação cultural, o compromisso com a popularização de ciências e de distintas expressões da cultura humana. Os museus buscam promover um espaço de discussão sobre conhecimentos, saberes, fazeres, ideias e valores, de geração a geração e entre variados segmentos sociais, coexistindo em um dado momento histórico. Estas instituições almejam contribuir para o desenvolvimento humano e social das comunidades nas quais se inserem, além da missão precípua de assegurar a preservação e a transmissão de aspectos da cultura (Köptche, Cazelli e Lima, 2008). Os estudos de audiência de museus vêm emergindo como um campo de grande interesse para diretores e profissionais destas instituições. Inúmeras pesquisas passaram a recolher dados relativos às experiências do visitante nas diferentes atividades do museu, em lugar de medir unicamente o êxito da exposição. Os resultados deste tipo de investigação geraram um tipo de conhecimento capaz de subsidiar tanto as decisões cotidianas de gestão institucional como a compreensão dos processos de apropriação social da cultura e a elaboração de políticas públicas para o setor. Além disso, a partir do momento em que o foco se volta para diferentes públicos: famílias, adultos, estudantes, públicos especiais (terceira idade, portadores de necessidades especiais), públicos potenciais fora do museu e grupos de comunidades específicas, passa-se a conhecer não só o comportamento do visitante, mas como determinados públicos vêem o museu e o que esperam dele e dos assuntos nele veiculados, registrando as reações e perguntas dos visitantes (Studart, Almeida e Valente, 2003). 3 A contínua afirmação do papel social dos museus tem fomentado estudos sobre esta instituição sob diferentes perspectivas – antropológicas, sociológicas, educacionais, comunicacionais, entre outras. O desenvolvimento de novas audiências vem sendo considerado como uma importante estratégia cultural para os museus e tem estimulado uma reflexão constante sobre como melhor promover o acesso físico e intelectual de camadas sempre mais amplas da sociedade. A relação entre acesso à cultura e a posição social de indivíduos e grupos constituem objetos da produção científica com base em estudos estatísticos. Investigações deste tipo foram desenvolvidas na Europa e nos Estados Unidos a partir da década de 1960. A minuciosa pesquisa realizada por Bourdieu e Darbel (1969) possui um caráter pioneiro: o de colocar em evidência a dimensão eminentemente social dos meios de apropriação dos bens culturais dos museus. Os autores desvendam as condições socioculturais de acesso às práticas cultivadas e destacam que a relação que o visitante de um museu pode estabelecer com a instituição varia também em função da proximidade entre este visitante e o campo de referência, como por exemplo, as artes plásticas para o museu de artes, as ciências ou ainda a tecnologia para os museus de ciência, etc. Não obstante a construção do consenso social e político sobre a importância de democratizar o acesso aos bens da cultura cultivada, os dados de outros estudos sobre visitas a museus (Donnat e Gogneau, 1990; Lopes, 2000; Mironer, 2003) reafirmam que o acesso a estas instituições permanece restrito. 2.1 Audiência espontânea Esta é a audiência considerada como natural. É usualmente estudada mesmo que sua característica de participação espontânea não seja explicitamente mencionada. É a audiência com maior nível de autonomia sociocultural, visto que decide por ela mesma participar ou não do evento. Assim, pode-se dizer que a origem ou lócus do gerenciamento está na própria audiência, mesmo que nem todos os membros tenham poder e capacidade de empregar este gerenciamento. Para a audiência espontânea se dirigem todas as pesquisas tradicionais. Isto é evidente particularmente no caso de museus. O público que vai ao museu espontaneamente é o alvo da maioria das pesquisas. Procura-se conhecer seu perfil demográfico (sob todos os recortes de gênero, classe, etnia, idade, etc.), social, cultural e econômico, seus hábitos, antecedentes e opiniões. 4 No Brasil, observa-se uma carência desse tipo de estudo. A análise preliminar dos Anuários Estatísticos do Brasil (IBGE) realizada por Köptcke e Pereira (2002) revela a existência de dados relativos à cultura e à visita a museus e instituições afins desde o primeiro exemplar que cobria o período de 1908 a 1912. A atenção reclamada por pesquisadores e profissionais do campo da cultura e, particularmente, dos museus sobre a importância das pesquisas estatísticas para a obternção de dados que orientem decisões sobre investimentos e políticas públicas provocaram um movimento de estruturação deste campo. No contexto dessa estruturação, em maio de 2005, o Ministério da Cultura assinou um acordo de cooperação técnica com o Ministério da Saúde, dando origem ao Observatório de Museus e Centros Culturais, OMCC, que se destinava justamente a conhecer o público de visitação espontânea. Os resultados da pesquisa Perfil-Opinião 2005 não contrariam os dos estudos desenvolvidos desde o final da década de 1960 que vinham identificando o uso do museu por grupos majoritariamente educados, economicamente ativos e com renda acima da média de sua população de referência. A predominância é de visitas de grupos com laços familiares, residentes em bairros próximos ao do museu e com prática de visita frequente. A falta de informação ampla sobre a instituição e sua programação é o fator mais citado entre as dificuldades de acesso (Köptche, Cazelli e Lima, 2008). O público de visitação espontânea é o que recebe a maior atenção e para ele são dirigidas a grande maioria das iniciativas culturais e estratégias mercadológicas (Kotler, Kotler e Kotler, 2008). 2.2 Audiência programada Este é um tipo de audiência considerado importante para museus. Compreende escolas (professores e estudantes) que agendam visitas, grupos turísticos que procuram visitas guiadas e os mais diversos grupos especiais que programam sua participação no evento junto à instituição organizadora. A audiência programada tipicamente possui um grau de autonomia sociocultural intermediário. O lócus de gerenciamento é compartilhado; parte pela própria audiência, ou por certos membros dela, e parte pela instituição envolvida. As pesquisas nesse caso são menos comuns. Os grupos programados são, em geral, bastante homogêneos no que diz respeito às variáveis demográficas, socioculturais e econômicas. Para se avaliar os eventos realizados para esta audiência, 5 deve-se começar pelo reconhecimento do papel importante que museus desempenham no desenvolvimento da cultura junto à sociedade. Este papel ganha mais importância quando estas instituições são reconhecidas como promotoras de motivação para o aprendizado, por exemplo. A visitação de grupos programados, em particular, de turmas de escolas, deve ser uma experiência lúdica e prazerosa, deve ser dirigida a despertar emoções positivas como o interesse, a curiosidade, a surpresa e o desafio. A literatura educacional destaca como notável a perda de motivação e de interesse ao longo dos primeiros anos de escolaridade, principalmente no ensino de ciência e de matemática. Esta perda vem acompanhada de um crescente desinteresse e de um pior desempenho nestas disciplinas. Este fato diz respeito às relações que ocorrem nas escolas e nas salas de aula, entre alunos e professores. Neste contexto, os métodos da educação não formal podem ser usados como contraponto à educação formal das escolas. Dando ênfase ao lúdico e ao prazer obtido na própria atividade, a educação não formal se apresenta de modo a contribuir no desenvolvimento da motivação intrínseca para o aprendizado da ciência e da matemática (Cazelli e Coimbra, 2010). 2.3 Audiência estimulada Este é o tipo de audiência raramente considerado nas pesquisas. No entanto, a importância da audiência estimulada para todas as iniciativas de divulgação de ciência e da cultura em geral, deve ser enfatizada. Esta é a audiência com o menor grau de autonomia sociocultural. O lócus de gerenciamento da situação está inteiramente fora dela, ou se encontra com uma instituição organizadora e com alguma organização comunitária local. O foco no público de visitação estimulada surgiu com a preocupação de pesquisadores do MAST com a questão da inclusão social (Falcão, Coimbra e Cazelli, 2010). Neste caso, a instituição busca o visitante com um perfil distinto daquele que já vai ao museu, seja na condição de visitação espontânea ou programada. O museu se coloca como uma ferramenta para a promoção da inclusão social na medida em que promove condições para que o público desacostumado ou impossibilitado de frequentálo (por falta de condições econômicas, sociais ou culturais) possa fazê-lo. Este é o caso quando, por exemplo, instituições disponibilizam ônibus gratuitamente para grupos advindos de regiões onde se imagina que os hábitos de consumo cultural podem ser enriquecidos pela visita ao museu. 6 É importante pensar ainda a audiência estimulada no contexto de eventos ou ações de divulgação de ciência que levam atividades usualmente desenvolvidas em museus para fora da instituição. Este é o caso dos vários projetos de ciência móvel ou itinerante, que se dirigem às regiões da própria cidade distantes de equipamentos culturais, ou que percorrem muitas vezes centenas de quilômetros para alcançar cidades carentes de contato com a cultura e com a ciência. Nestes eventos todos os tipos de audiência podem estar presentes, porém é na participação estimulada que deve residir o foco das ações de inclusão social. 3. Conclusão O reconhecimento da diversidade das audiências e de como ela se apropria do texto de mídia se deu de maneira gradual. Neste trabalho foi descrito o reconhecimento da audiência de museus pela diversidade de sua autonomia sociocultural. Adiantou-se, ainda, que esta estratificação é também importante para o estudo de audiências em geral, em particular para o estudo das audiências alvo de programas de divulgação da ciência e da cultura. A audiência espontânea é a mais conhecida, é o alvo permanente das pesquisas, seu comportamento é o melhor conhecido. Bourdieu e Darbel (1969) mostraram que o visitante espontâneo de um museu procura a “distinção” pela acumulação das diversas formas de capital, econômico, social e cultural. A audiência programada, aquela cujo lócus gerencial é compartilhado, ainda recebe alguma atenção, principalmente por causa da relevância da visitação escolar a museus. Esta audiência é importante também para todo programa de divulgação de ciência e de cultura, mesmo assim, nunca está explicitado seu baixo grau de autonomia sociocultural. Nestes casos as pesquisas devem se dirigir ao impacto das ações em variáveis não cognitivas, afinal nas ações de divulgação não importa a apreensão de conteúdo, mas sim as variáveis como interesse despertado, motivação para o aprendizado e curiosidade. A audiência estimulada é a grande desconhecida e deve ser a grande atenção. Pesquisas para estas audiências são ainda mais raras. Devem ter objetivo de avaliar a abrangência e a eficácia da inclusão social; o grau de apropriação que o participante faz da atividade e o perfil de empoderamento provocado pelo evento. Por isto são fundamentais para as políticas públicas de inclusão social. 7 As atividades realizadas nos museus, notadamente nos de ciência e tecnologia, tal como é hoje, pensada para o público de visitação espontânea e programada, estão a meio caminho de promover o empoderamento pleno de audiências oriundas de comunidades de baixo poder aquisitivo e/ou baixo capital cultural. Os aspectos cognitivos associados à visita são bastante valorizados, mas há uma percepção por parte dessa audiência de que as experiências vivenciadas nas instituições museológicas estão um tanto quanto distantes de suas práticas de lazer e de cultura. Neste sentido, vale ressaltar o fato de que nas atividades museológicas realizadas com esses visitantes, os mediadores têm um papel fundamental. A transposição do conhecimento científico acontece com a preocupação de comunicar e compensar possíveis dificuldades por parte desse tipo de público em entender os códigos inerentes à ciência. Essas questões sugerem que a ampliação do público dos museus deve implicar alguns questionamentos, pelo menos naquelas instituições interessadas em promover experiências significativas para esse novo público. Estariam estas instituições preparadas e dispostas a empreender mudanças para receber essa nova audiência? Os processos de mediação utilizados contemplam as suas especificidades? Certamente haverá aqueles que defendem o caráter universal das experiências proporcionadas pelos museus. No entanto, a diferença entre o perfil demográfico (sob todos os recortes de gênero, classe, etnia, idade, etc.), social, cultural e econômico, hábitos, antecedentes e opiniões da audiência espontânea e o da audiência estimulada sugere que atividades e exposições museológicas devem buscar estratégias para contemplar as especificidades dessa “nova” parcela da população. Se por um lado, faz-se necessário a adoção de projetos que tragam essa audiência para os museus, a realização de pesquisas voltadas a avaliar a percepção e os significados por ela atribuídos à visita deve acontecer a fim de subsidiar adaptações e reformulações nas instituições museológicas (Falcão, Coimbra e Cazelli, 2010). Desse modo, a dimensão da inclusão social se materializa como uma política institucional do museu. É importante destacar que conhecer a distribuição do público visitante de um museu entre os três tipos de audiência proposto neste artigo é bastante revelador sobre a relação do museu com a sociedade. O caso de museus é paradigmático. Necessita sempre forte investimento em capital real e simbólico, envolve o patrimônio, a história e a identidade nacional. Na trajetória desta instituição o Louvre, planejado nas últimas décadas do reinado de Luís 8 XVI, é exemplar, visto que atraía grande atenção pelas promessas que fazia a seu futuro público. Jacques-Henri Meister, diretor da revista Correspondance Littéraire à época, imaginou até que a inauguração do Louvre a tempo talvez pudesse ter evitado a Revolução: “Quem sabe se o museu, completado à perfeição, não pudesse ter salvado a monarquia, por apresentar uma ideia mais afirmativa de seu poder e visão, por acalmar os espíritos ansiosos, e por dramatizar os benefícios do Antigo Regime” (citado em McClellan, 1994, p.8). E, de fato, a abertura do Louvre em 1793 foi extraordinária, por estar ligada ao nascimento de uma nação e por transformar inteiramente a ideia de “público ideal” de museus. Sob o lema de Liberdade, Igualdade e Fraternidade todos os cidadãos eram encorajados a participar da experiência de posse comum de todos aqueles objetos expostos (McClellan, 1994). Estender a todos os cidadãos o acesso aos bens públicos, compartilhar a propriedade pública com todos, inclusive com aqueles que nem sabem que as possuem, é um desafio. O primeiro passo é reconhecer a existência desses cidadãos, criar programas para incluí-los e divisar maneiras de avaliar corretamente estes programas. Referências BLUMLER, J.; KATZ, E. The Uses of Mass Communications. Beverly Hills, CA: Sage Publications, 1974. BOURDIEU, P.; DARBEL, A. L’amour de l’art: les musées d’art européens et leur public. Paris: Lés Éditions de Minuit, 1969. CAZELLI, Sibele; COIMBRA, Carlos Alberto Quadros. Avaliar as ações educativas em museus: como, para quê e por quê? In: ENCONTRO NACIONAL DA REDE DE EDUCADORES EM MUSEUS E CENTROS CULTURAIS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, 1., 2007, set.17-18: Rio de Janeiro, RJ. 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