1715 Do pré-urbano ao urbano: A primeira fase das Missões na Província do Tape X Salão de Iniciação Científica PUCRS Gabriele Rodrigues de Moura1, Arno Alvarez Kern (orientador)2 Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Departamento de História, PUCRS Resumo O presente projeto pretende prever ações para a produção em torno do tema relativo à primeira fase das missões jesuíticas na região do Tape, através das representações encontradas no livro Conquista Espiritual, escrito em 1639, na cidade de Madrid. Este livro foi escrito com a finalidade de descrever o trabalho missional dos jesuítas, a construção das reduções nas áreas de fronteira entres os impérios luso-espanhol, que até então encontravam-se unidas através da dinastia Filipina até 1640. Além disso, o livro tratava dos problemas enfrentados devido a não aceitação do evangelho por alguns caciques e pajés, o que levou a morte de missionários, como Roque González de Santa Cruz e Cristóvão de Mendoza, dentre outros. Da mesma forma, que o livro trata sobre as invasões bandeirantes, que viam nos Guarani uma excelente mão-de-obra para os engenhos de cana-de-açúcar, e tiveram como consequência a fuga dos indígenas para a região mesopotâmica argentina (entre os rios Paraná e Uruguai). Tais episódios tratados no livro ocorreram entre os anos de 1626 até 1638, sendo, consequentemente, escrito através da memória do autor, Pe. Antônio Ruiz de Montoya. Assim, a obra apresenta anacronismos, parcialidades e maniqueísmos, no decorrer do discurso. O papel desses jesuítas seriam a princípio, o de catequizar, cristianizar e seguir as Leis das Índias, porém, com o desenrolar dos acontecimentos que tiveram como uma das 1 Graduanda em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e pesquisadora júnior no Programa de Pesquisas Interdisciplinares da Região Platina Oriental. Bolsista de Iniciação Científica pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Pesquisa (PIBIC/CNPq). 2 Arqueólogo e Historiador. Professor dos Cursos de Pós-Graduação em História da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil. Pesquisador 1A no CNPq. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1716 consequências a semi-escravidão indígena pelos colonos espanhóis, estes jesuítas optaram por defender seus indígenas, seus catecúmenos que junto a eles estavam sozinhos enfrentando duas frentes de colonização. Esta defesa torna-se mais forte a partir do momento em que as Missões do Guairá são destruídas, e em meio ao caos os jesuítas assumem um papel importante de defesa e proteção, tornando-se os “novos pais”, ou os “pajés”, destes Guarani. Os objetivos da seguinte pesquisa buscam apresentar um histórico sobre as primeiras Missões no Tape e a formação destas, os primeiros contatos com os indígenas (Guarani e Charruas), a fim de mostrar as mudanças que surgiram depois da implantação do cristianismo, com a aceitação ou repulsa da “nova religião” pelos indígenas. Tendo como objetivos específicos a análise dos fatos através da história das idéias e das representações, e a utilização de fontes bibliográficas sobre o assunto. O corpus documental se apóia no livro Conquista Espiritual, e abrange o período entre os anos de 1626 (surgimento das primeiras reduções do Tape) até 1641 (ano da batalha de M’bororé). A partir de uma contribuição teórico-metodológica que trate da questão da definição da noção/conceito para produzir um conhecimento histórico através do campo da representação e da escrita da história através de um livro de cunho antropológico, religioso e apologético aos trabalhos jesuíticos na região do Tape. Para tanto, foi feito um levantamento bibliográfico sobre as primeiras Missões, visando ressaltar o porquê o Conquista Espiritual foi escrito em 1639, em Madrid. Este levantamento teve como base o “Ensaio bibliográfico sobre as Missões Jesuítico-Guaranis Platinas” do arqueólogo e historiador Arno Alvarez Kern (1990), que tratava sobre as Missões como um todo, ou seja,os famosos Trinta Povos das Missões Jesuítico - Guarani. Inserem-se dentro deste panorama como fundamentais, Conquista Espiritual (1997), de Antônio Ruiz de Montoya (obra principal do presente estudo já referenciada na introdução). No que condiz ao campo da historiografia, para aprofundar o assunto, foram utilizadas as obras de Arno Alvarez Kern, Missões: uma utopia política (1982); Jurandir Coronado Aguilar, Conquista espiritual: a história da evangelização na Província Guairá na obra de Antônio Ruiz de Montoya, S. I. (1585-1652) (2002); Gullermo Furlong, Misiones y sus pueblos de guaranies (1962), dentre outros. No campo teórico, colaboraram também para analisar a obra e as representações nela existentes, os autores Michel de Certeau, A escrita da história (2000); e Roger Chartier, História Cultural: Entre práticas e representações (1990). Os resultados até agora encontrados foram que os primeiros jesuítas iam para aquelas aldeias, num ambiente “selvático” e desconhecido, como enfatizaria o Pe. Antônio Ruiz de Montoya X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 1717 na introdução de sua Conquista Espiritual, acreditando que, ao converterem os Guarani ao cristianismo, estariam os tornando seres humanos melhores visto que eles tinham uma alma pura mas, na visão dos padres jesuítas, estavam permanentemente tentados pelo demônio. Estas tentativas de conversão ao cristianismo nem sempre deram certas, pois encontraram adversários durante todo o processo, tais com os pajés, os bandeirantes e os encomenderos espanhóis. Concluindo com o que foi pesquisado até então, os que realmente aceitaram a conversão dos jesuítas foram os Guarani3. Estes personagens históricos, junto aos jesuítas, vão passar por diversas mudanças dentro das Missões. Pois, enquanto estes jesuítas estavam “europeizando” os seus neófitos, estes os estavam “guaranizando”. A Missão tornou-se algo que iria muito além da simples conversão ou da “civilização”, porém uma idéia de que a civilidade os salvaria da violência a qual estavam expostos desde a chegada dos conquistadores na América. Referências AGUILAR, Jurandir Coronado. Conquista espiritual: a história da evangelização na Província Guairá na obra de Antônio Ruiz de Montoya, S. I. (1585-1652). Roma: Editrice Pontificia Università Gregoriana, 2002. CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2000. CHARTIER, Roger. História Cultural: Entre práticas e representações. Rio de Janeiro/RJ: Bertrand, 1990. FURLONG, Guillermo. Misiones y sus pueblos de guaranies. Buenos Aires/Argentina: Impre. Balmes, 1962. KERN, Arno Alvarez. Missões: uma utopia política. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982. ________. Levantamento bibliográfico sobre o tema "Missões". Porto Alegre : PUCRS, 1990. 3 Quando se diz Guarani a pesquisa não se detém apenas a estes indígenas propriamente ditos, como também aqueles que sofreram um processo de guaranização. Visando, desta maneira, salientar que esta etnia constituíu grande maioria nas Missões, o que não quer dizer que outros indígenas não tenham participado do processo missional ocorrido na bacia do Rio da Prata. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009