Introdução (Cristo, a lei e o cristão)
O propósito de Jesus em vir ao mundo era para cumprir a lei. Vimos isso na aula
anterior quando ele disse que não veio para revogar ou anular a lei e sim para cumpri-la.
Cristo cumpriu cabalmente toda a lei cerimonial, judicial e moral. Entretanto, Jesus
prossegue e explica no vs.20 qual é a conseqüência do fato dele ter cumprido a lei. Ele
diz: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais podereis
entrar no reino dos céus”. A pergunta é: O que Jesus quis dizer com isso ? Será que a
lei ainda vale para nós ? Antes de entrarmos na nossa lição, temos que fazer
primeiramente uma recordação de dois aspectos da lei.
Primeiro, a lei revela o caráter de Deus como um Deus justo e santo. Segundo,
Calvino diz que a lei funciona como um espelho. O espelho mostra nossas manchas e
defeitos físicos, mas não nos mostra a nossa alma. Esse espelho da alma é encontrado na
lei. A lei revela as nossas fraquezas e iniqüidades e a nossa condição pecaminosa. Paulo
diz que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado. De forma que a lei cumpre a sua
função de nos informar que todos somos transgressores dela (Gl.3:19). E uma vez feito
isso, ela nos condena (Gl.3:10). Mas Cristo, tendo morrido por nós, e tendo cumprido
totalmente a lei, suportou toda a maldição em nosso lugar. Assim, ele não só nos
justifica mas nos livra da maldição e da condenação da lei (Gl.3:13). Portanto, a lei,
agindo como espelho nos revela o nosso pecado, remove o nosso orgulho e agora
cumpre o seu 2º propósito que é o de nos conduzir à Cristo (Gl.3:24). Ou seja, o crente
não está mais debaixo da lei no sentido de que a sua salvação depende da sua
observância à lei, mas ele é justificado pela fé.
Dois problemas surgem então. O primeiro é que muitos agora acham que porque
Cristo cumpriu a lei perfeitamente, a lei perdeu a sua validade e objetivo e é algo que
ficou para trás. Fazem uma análise rápida e superficial de textos como Jo.1:17,
Rm.6:14, 7:6, 10:4, 2Co.3:6 e dizem estar debaixo não mais da lei e sim da graça. E
usam isso para ter uma vida permissiva (antinomianismo). Essa é uma interpretação
errada. A declaração de Pauldêem Rm.10:4 de que "o fim da lei é Cristo", não significa
que agora estamos livres para desobedecê-la, mas justamente o oposto. Esse é o ponto
de Romanos 6. Do outro lado estão aqueles que vão para o outro extremo e correm o
risco de tentar guardar a lei assim como os fariseus e escribas fizeram. Como era isso
????
A religião judaica
Os escribas eram os doutores da lei. Passavam a vida estudando, expondo e
ensinando a lei. Eram a autoridade sobre o assunto da lei. Já os fariseus eram famosos
por sua justiça. O objetivo de vida deles era obedecer todos os 248 mandamentos e as
365 proibições (a idéia é que quanto mais privado de privilégios mais santo você se
tornava). Eles eram tidos como os piedosos. Jejuavam 2 vezes por semana, davam o
dízimo de tudo, eram extremamente meticulosos na observância dos ritos cerimoniais
da lei. E no centro dessas observâncias estava exatamente o sábado.
Mas para um judeu normal era extremamente difícil cumprir tudo isso. Em
Mateus 23:4 Jesus disse que eles atavam ao povo fardos pesados e difíceis de carregar.
O sistema judaico era um sistema duro que requeria tudo do povo (Mc.12:41-44).
Era isso que o sistema exigia do judeu. Tudo e mais um pouco. Mas Jesus não:
Ele disse: “Vinde a mim os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei,
tomai sobre vós o ......(Mt.11:28-30). Mas ao mesmo tempo ele diz que a retidão do
crente deve exceder a dos escribas e fariseus. Parece contraditório.
Como eram a justiça dos escribas e fariseus ? (Mt.23:1-7, 13-17, 23-33)
1)A justiça dos fariseus era uma justiça superficial, externa e formal. Não uma justiça de
coração (Amós 5:21-24, Is.29). Eles davam o dízimo até da hortelã, mas negavam o
amor a Deus e ao próximo. O grande problema dos fariseus é que eles exibiam total
ausência das atitudes delineadas pelas bem aventuranças (mansidão, misericórdia,
humildade de espírito). Se sentiam justos, mas eram orgulhosos e indiferentes em
relação ao povo.
2)A religiosidade dos fariseus era puramente ritualística e baseada em preceitos de
homens. Eles preocupavam mais com aspectos cerimoniais da lei e com a tradição do
que com as realidades morais. Se interessavam mais pelos detalhes do que pelos
princípios básicos. Era um sistema totalmente legalista, cheio de regras (Mc.7:6-9).
Quando olhamos para algumas igrejas petencostais e neo-petencostais, observamos isso
claramente. Regras humanas que no fundo servem apenas para julgar aqueles que são
mais ou menos "espirituais". Crentes se comparando com outros crentes e dizendo: mas
eu não faço isso, isso e isso, então eu sou mais espiritual. Não entendo que esse seja o
nosso problema. Nosso problema é o liberalismo. Pode tudo (crente X católico). João
Batista já anunciara isso aos fariseus em Mt.3:7-10. Não conte com o fato de que ser
judeu irá te salvar. Desde que eu faça a minha profissão de fé e freqüente a igreja
domingo está tudo bem. Mt.7:21 diz que não está.
3)Eles faziam concessões e racionalizavam o próprio pecado, justificando-o por meio de
alguma explicação. Na verdade eles só pensavam neles mesmos e na sua própria glória
(Lc.16:15).
Os judeus entenderam tudo errado. O judaísmo com o passar do tempo se tornou
um sistema onde se buscava alcançar a salvação através de obras, mérito, auto-retidão,
rituais e cerimônias. Era um sistema totalmente opressivo, antibíblico, cheio de
restrições e regras totalmente insuportáveis.
Qual foi a resposta de Jesus a esse sistema religioso ? Mc.13:1-2. O templo era o
centro da religião deles. Segundo John MacArthur, nesse texto Jesus está dizendo que
esse sistema cruel que faz tudo isso (contexto da oferta da viúva pobre) vai cair. O fato é
que eles foram denunciados por Jesus como indivíduos hipócritas e filhos do diabo
(Mateus 23, João 8:44). Jesus queria demonstrar o quão vazio e oco eram o ensino
deles. Nesse texto de Mt.5:20, Jesus está criticando a religião praticada pelos fariseus.
Qual era a justiça então a que Jesus se referiu no versículo em questão ?
A justiça que Deus requer (a religião verdadeira)
Essa justiça é a evidência do novo nascimento, da regeneração. É algo profundo.
A justiça que Deus requer é a justiça interna, de mente e de motivação. Uma justiça de
coração. Deus já havia prometido isso a Jeremias (31:33) e a Ezequiel (36:27). Deus
escreveria a sua lei no coração do seu povo e colocaria o seu Espírito dentro deles. E o
que o Espírito faz ? É exatamente escrever a lei no coração. O Espírito jamais vai contra
a lei. Tem gente que quer o espírito mas não quer a lei. Os dois estão intimamente
relacionados.
Os crentes devem ter zelo pela lei demonstrado numa vida de obediência pois a
lei para o crente é o padrão de vida. Ela serve como um guia. É o que agrada a Deus. A
obediência aos mandamentos da lei é o fruto da justificação. A lei não pode nos
justificar, mas ela nos santifica. Ou seja, a santificação caminha junto com a
justificação. Fomos salvos para cumprir a lei de Deus (Rm.8:4). Uma vez libertado da
maldição da lei, em Cristo, sou capacitado a observá-la e a amá-la (Jo.14:21 Mt.7:21).
Esse foi o propósito da vinda de Jesus. Capacitar-nos a observar a lei e não aboli-la.
Calvino diz que esse é o uso mais apropriadamente conectado com o propósito da lei.
Para o crente a lei se torna um prazer e não uma obrigação (Sl.1:2). Ela traz alegria ao
crente pois ela representa o caminho de Deus no processo de santificação (Sl.19:7,8,10 e
11). A Bíblia nos chama a ser santos, retos, e ser reto é guardar a lei de Deus.
O catecismo maior diz que “a lei moral é a declaração da vontade de Deus à raça
humana” (Catecismo maior, P.93). E qual é essa vontade ? É a vontade de que todos os
homens vivam uma vida de perfeita obediência, santidade e retidão devidas a Deus e ao
próprio homem (Confissão de fé, Cap.XIX, seção V).
Desse texto para frente (Mt.5:21....) Jesus vai dar exemplos dessa justiça,
ilustrando o que ele acabou de dizer. Como é que ele irá fazer isso ?
Conclusão
Cada parágrafo contém um contraste: Ouvistes o que foi dito.......... eu porém vos
digo... Nessa forma de expressão muitos pensam que Jesus está indo contra os
ensinamentos de Moisés. Longe de contradizer, o que Jesus está fazendo é fornecer a
verdadeira interpretação da lei. Jesus rejeita a interpretação superficial da lei, dada pelos
escribas e fornece ele mesmo a verdadeira interpretação. O seu propósito não é mudar a
lei, muito menos anulá-la, mas "revelar toda a profundidade do significado que
pretendia conter". A lei moral está resumida nos 10 mandamentos na sua forma
proposicional. Mas os conceitos morais são bem mais abrangentes do que a forma
proposicional que está em Êxodo.
Na verdade o que eles estavam fazendo era tornar as exigências da lei menos
rigorosas. Eles estavam restringindo os mandamentos e esticando as permissões da lei.
Tornavam as exigências da lei menos exigentes e as permissões da lei mais permissivas.
Exemplo de restrição foi quanto á interpretação da lei do homicídio e exemplo de
permissão foi quanto ao divórcio. Eles estavam rebaixando os padrões da lei para tornálas mais fáceis de obedecer. Jesus restaurou a sua integridade. Jesus explicou o
verdadeiro significado da lei com todas as sua implicações. Ele ampliou o que eles
estavam restringindo e restringiu as permissões que eles estavam alargando. A justiça
do cristão tem que exceder em muito à dos fariseus. É sobre isso que Jesus começa a
tratar a partir do versículo 21 e que veremos a partir da próxima semana.
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Justiça maior que a dos escribas