Universidade Federal do Triângulo Mineiro Guilherme Ribeiro Juliano Análise dos Mastócitos e Fibrose Miocárdica em Indivíduos Autopsiados com Cardiopatia Hipertensiva Uberaba 2015 Guilherme Ribeiro Juliano Análise dos Mastócitos e Fibrose Miocárdica em Indivíduos Autopsiados com Cardiopatia Hipertensiva Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, área de Concentração Patologia Básica e Experimental, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Mara Lúcia da Fonseca Ferraz Coorientador: Prof. Dr. Vicente de Paula Antunes Teixeira Uberaba 2015 Guilherme Ribeiro Juliano Análise dos Mastócitos e Fibrose Miocárdica em Indivíduos Autopsiados com Cardiopatia Hipertensiva Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, área de Concentração Patologia Básica e Experimental, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde. Uberaba-MG, 27 de fevereiro de 2015. Banca Examinadora: _____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Mara Lúcia da Fonseca Ferraz Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM Orientadora _____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Renata Beatriz Silva Universidade de Goiás - UFG _____________________________________________ Prof.ª Dr.ª Ana Paula Espindula Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM Aos meus pais, André e Célia, por me guiarem sempre na direção da verdade para atingir meus objetivos. À minha esposa Laura pelo total companheirismo e dedicação, com amor. AGRADECIMENTO À minha orientadora Dr.ª Mara Lúcia da Fonseca Ferraz, pela amizade e carinho. Agradeço sempre por todas as oportunidades que me foram dadas. APOIO FINANCEIRO O presente trabalho foi realizado com os recursos financeiros da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), da Fundação de Ensino e Pesquisa de Uberaba (FUNEPU), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). RESUMO Os processos de deposição de colágeno e progressão da fibrose com a participação de mastócitos cardíacos ainda não estão completamente elucidados. O objetivo foi analisar a porcentagem de fibras colágenas e a densidade mastocitária no miocárdico ventricular esquerdo de indivíduos autopsiados com cardiopatia hipertensiva e sem cardiopatia. Foram coletados trinta fragmentos do miocárdio ventricular esquerdo de indivíduos autopsiados no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) no período de 1984 a 2014, agrupados em indivíduos com cardiopatia hipertensiva (CH) e sem cardiopatia (SC) e avaliados de acordo com fatores constitucionais como gênero, cor (branco e não branco) e idade. A quantificação das fibras colágenas foi feita por meio de morfometria computadorizada e a densidade mastocitária avaliada por meido de métodos imunohistoquímicos. Houve um aumento das fibras colágenas no ventrículo esquerdo no grupo CH em comparação ao grupo SC, porém sem diferença significativa (p=0,957). Em relação à densidade mastocitária, houve um aumento no ventrículo esquerdo dos indivíduos com CH imunomarcados por anti-quimase (p=0,278) e com diferença significativa nos imunomarcados por anti-triptase (p=0,012). Portanto, os mastócitos estão envolvidos no desenvolvimento da cardiopatia hipertensiva, contribuindo para o remodelamento de fibras colágenas nesta doença. Palavras - chave: Autopsia. Cardiopatia Hipertensiva. Mastócitos. ABSTRACT The process of collagen deposition and fibrosis progression involving cardiac mast cells are not completely elucidated. The aim was to analyze the percentage of collagen fibers and mast cell density in the left ventricular myocardium in autopsied patients with hypertensive heart disease and without heart disease. Thirty fragments were collected from the left ventricular myocardium in autopsied patients at Clinical Hospital, Triângulo Mineiro Federal University (UFTM) in the period 1984-2014, grouped in subjects with hypertensive heart disease and without heart disease and evaluated according to constitutional factors such as gender, color (white and nonwhite), and age. Quantification of collagen fibers was made by computerized morphometry and mast cell density assessed by immunohistochemical methods. There was an increase of collagen fibers in the left ventricle in the hypertensive heart disease group compared to the without heart disease group, but without significant difference (p=0.957). In relation to the mast cell density, an increase in the left ventricle of subjects with hypertensive heart disease immunomarked by anti-chymase (p=0.278) and a significant difference immunomarked by anti-tryptase (p=0.012). Thus, mast cells are involved in the development of hypertensive heart disease, contributing to the remodeling of collagen fibers in this disease. Keywords: Autopsy. Hypertensive Heart Disease. Mast Cells. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Micrografias do miocárdio ventricular esquerdo....................................... 24 Figura 2 - A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre indivíduos dos grupos CH e SC. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre indivíduos dos grupos CH e SC autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014........................................................................................................................... 27 Figura 3 - A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre homens e mulheres do grupo CH. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre homens e mulheres do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014........................................................................................................................... 28 Figura 4 - A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre brancos e não brancos do grupo CH. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre brancos e não brancos do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014........................................................................................................................... 29 Figura 5 - A. Gráfico da correlação entre a porcentagem de fibras colágenas e a idade dos indivíduos do grupo CH. B. Gráfico da correlação entre a densidade mastocitária (triptase) e a idade dos indivíduos do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014...................................................................... 30 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Características demográficas dos indivíduos autopsiados com cardiopatia hipertensiva (CH) e sem cardiopatia (SC)................................................................. 26 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS B Grupo de indivíduos brancos CH Cardiopatia Hipertensiva CXC Receptor de quimiocinas DAB Substrato cromógeno HAS Hipertensão Arterial Sistêmica HC/UFTM Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro HVE Hipertrofia Ventricular Esquerda IC Insuficiência Cardíaca ICC Insuficiência Cardíaca Congestiva Ig Imunoglobulina IL Interleucina MMP Metaloproteinase de Matriz n Número de indivíduos NB Grupo de indivíduos não brancos NOS Óxido Nítrico Sintase ONU Organização das Nações Unidas p Nível de significância PAR2 Receptor Tipo 2 Ativado por Protease PICP Pró-Peptídeo Carboxi-Terminal do Pró-Colágeno Tipo I PBS Tampão fosfato PS Picrosírius r Coeficiente de Pearson rS Coeficiente de Spearman SC Sem Cardiopatia SCF Fator de célula-tronco t t de Student T Mann-Whitney TGF Fator de Crescimento Transformador TNF Fator de Necrose Tumoral LISTA DE SÍMBOLOS g grama % Porcentagem ® Registrado µm micrômetro H2O2 Peróxido de hidrogênio ºC grau Celsius v volume mm² milímetros quadrados µl microlitro SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO..................................................................................................... 15 1.1. O CORAÇÃO................................................................................................. 15 1.2. EPIDEMIOLOGIA E HIPERTENSÃO............................................................ 15 1.3. ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA CARDIOPATIA HIPERTENSIVA......... 16 1.4. MASTÓCITOS............................................................................................... 18 1.5. HIPÓTESE.................................................................................................... 21 1.6. OBJETIVO GERAL........................................................................................ 21 1.7. OBJETIVOS ESPECÍFICOS......................................................................... 21 2. MATERIAIS E MÉTODOS................................................................................... 22 2.1. OBTENÇÃO DA AMOSTRA.......................................................................... 22 2.2. PREPARAÇÃO DO MATERIAL.................................................................... 23 2.3. ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS FIBRAS COLÁGENAS........................... 23 2.4. ANÁLISE IMUNOHISTOQUÍMICA................................................................ 23 2.5. ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................... 25 2.6. ASPECTOS ÉTICOS..................................................................................... 25 2.7. NORMAS PARA CONFECÇÃO DO MANUSCRITO.................................... 25 3. RESULTADOS.................................................................................................... 26 3.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS DA AMOSTRA............................................. 26 3.2. CARDIOPATIA HIPERTENSIVA (CH) E SEM CARDIOPATIA (SC).............. 26 3.3. GÊNERO....................................................................................................... 27 3.4. COR............................................................................................................... 28 3.5. IDADE............................................................................................................ 30 4. DISCUSSÃO........................................................................................................ 31 5. CONCLUSÃO...................................................................................................... 38 REFERÊNCIAS................................................................................................... 39 ANEXO A – Folha de aprovação CEP............................................................... 47 15 1 INTRODUÇÃO 1.1 O CORAÇÃO O coração e os vasos sanguíneos fazem parte do sistema de condução do sangue, proporcionando aos tecidos um suprimento constante de nutrientes vitais e facilitando a excreção de produtos residuais. O peso cardíaco médio em um adulto é de 250g a 300g nas mulheres e de 300g a 350g nos homens, sendo aproximadamente 0,5% do peso corporal. O coração humano bombeia o sangue de forma eficiente devido ao músculo cardíaco, o miocárdio, ser composto principalmente por células musculares especializadas chamadas de cardiomiócitos (SCHOEN e MITCHELL, 2010). As células cardíacas são notórias pela sua incapacidade de proliferação frente a diferentes processos de lesão cardíaca ou de falência durante as doenças crônicas. Para atender essa demanda energética, os cardiomiócitos contam quase que exclusivamente com a fosforilação oxidativa, que demanda muito oxigênio, demonstrado a importância do suprimento constante de sangue oxigenado não só para os tecidos periféricos, mas também para o tecido cardíaco (SAFFITZ, 2006). Esse tecido comumente é órgão-alvo em diversos processos patológicos tais como a hipertensão arterial, que aumentam o trabalho mecânico devido à sobrecarga de pressão ou volume, levando ao aumento do tamanho dos cardiomiócitos, consequentemente provocando o aumento no tamanho e peso do coração (OLIVETTI et al., 1995; SCHOEN e MITCHELL, 2010). 1.2 EPIDEMIOLOGIA E HIPERTENSÃO Os transtornos cardiovasculares são responsáveis por mais morbidade e mortalidade do que qualquer outra categoria de doença humana. Nos países em desenvolvimento, o crescimento da população idosa e o aumento da longevidade, associados a mudanças nos padrões alimentares e no estilo de vida, têm forte repercussão sobre o padrão de morbidade. No Brasil são responsáveis por cerca de 20% de todas as mortes em indivíduos acima de 30 anos (MANSUR e FAVARATO, 2012) e projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) demonstram que a mediana da idade populacional passará de 25,4 anos em 2000 para 38,2 anos em 16 2050 (PASSOS et al., 2006; ALVES, 2014). Tal como ocorreu anteriormente na Europa, o declínio do coeficiente de mortalidade geral não é o único aspecto notável no Brasil nos últimos 60 anos, o aumento da expectativa de vida da população e a modificação do seu perfil epidemiológico foram observados (PRATA, 1992; BARRETO et al., 2009). Este processo, descrito como transição epidemiológica, caracteriza-se pela evolução progressiva de um perfil de alta mortalidade por doenças infecciosas para outro onde predominam os óbitos por doenças cardiovasculares, neoplasias, causas externas e outras doenças crônico- degenerativas, como por exemplo, a hipertensão arterial (OMRAN, 1971; CHAIMOWICZ, 1997; SCHRAMM et al., 2004; SANTOSA et al., 2014). A hipertensão arterial se transformou em um dos mais graves problemas de saúde global, tomando proporções de epidemia (SHAHBAZ et al., 2010; DRAZNER, 2011), atingindo os adultos, em especial os idosos, sendo definida como a elevação crônica da pressão arterial sistólica e/ou pressão arterial diastólica (CARVALHO et al., 1998; DÍEZ, 2009). Vários fatores predispõem a pessoa à hipertensão arterial, como a aterosclerose, a obesidade, a idade avançada, o gênero, a etnia, o sedentarismo, a dieta inadequada, o tabagismo, o estresse, os hormônios, o diabetes e os fatores genéticos, cada qual contribuindo de maneira discreta, porém não menos importante (KIZER et al., 2004; DRAZNER et al., 2005; DICKSON e SIGMUND, 2006, FRAZER et al., 2009, LOVIC et al., 2014). Aproximadamente um em cada quatro adultos no mundo ocidental apresenta hipertensão arterial. Uma taxa elevada de 48% dos pacientes com hipertensão arterial evolui para a hipertrofia do ventrículo esquerdo (LOVIC et al., 2014). 1.3 ASPECTOS MORFOLÓGICOS DA CARDIOPATIA HIPERTENSIVA Uma das consequências da hipertensão arterial sistêmica (HAS) não tratada, que induz o dano cardíaco e hipertrofia do ventrículo esquerdo, é a chamada cardiopatia hipertensiva. Tem sido descrito um novo aspecto patogênico relacionado com a cardiopatia hipertensiva: a apoptose dos cardiomiócitos e alterações de síntese e degradação do colágeno, que podem desempenhar um papel importante na evolução da hipertrofia do ventrículo esquerdo e lesão miocárdica (GRADMAN et al., 2006; ANGUITA et al., 2008). 17 Processos fisiopatológicos na cardiopatia hipertensiva são controlados por complexas interações entre os cardiomiócitos, matriz extracelular e outras células presentes no tecido cardíaco. A cardiopatia hipertensiva é caracterizada por uma constelação de mudanças na estrutura do miocárdio (crescimento, apoptoses, neoformação de fibras colágenas intersticiais) que induzem o remodelamento do miocárdio, ocasionando uma disfunção e hipertrofia do ventrículo esquerdo, facilitando a falência cardíaca (DRAZNER, 2011). A partir das alterações iniciais do remodelamento cardíaco, ocorre progressivo acúmulo de fibras colágenas (fibrose) no tecido, causando também anormalidades na vasculatura intramiocárdica (fibrose perivascular) (SCHWARTZKOPFF et al., 1993), desencadeando um desbalanço no suprimento energético dos cardiomiócitos (MUJUMDAR e TYAGI, 1999). O exagerado acúmulo de fibras colágenas, especialmente as do tipo I, no interstício, miocárdico e circundante nas artérias e arteríolas tem sido constantemente encontrado em corações de humanos autopsiados e em biópsias do miocárdio em pacientes com cardiopatia hipertensiva (GONZÁLES et al., 2009). A hipertrofia do ventrículo esquerdo é uma adaptação do coração a HAS, e quando é induzida por sobrecarga de pressão apresenta um desproporcional acúmulo de colágeno no compartimento intersticial, conferindo aspecto característico (ROSSI, 1998; VAKILI e DEVEREUX, 2001). Estudo experimental sugere que o aumento da massa do ventrículo esquerdo não é necessariamente sinônimo de hipertrofia da célula miocárdica, havendo, nesse modelo, forte correlação com aumento na ativação das células intersticiais, volume intersticial, e conteúdo de colágeno (fibrose) (GOMES et al., 2010). O aumento do colágeno fibrilar intersticial altera progressivamente a rigidez da diástole e a força de ejeção do ventrículo, isto porque o colágeno fibrilar que aumenta no interstício é o colágeno do tipo I, muito resistente à tração, ao contrário do colágeno do tipo II, mais passível de sofrer distensão. Portanto a elasticidade e a rigidez do estroma do miocárdio estão alteradas quando há acúmulo de colágeno tipo I, ocorrendo aumento de rigidez e provavelmente a força de contração sistólica torna-se menos eficaz, levando o ventrículo à insuficiência cardíaca (IC). (PEREIRA, 1993, SHAHBAZ et al., 2010). Outro aspecto que tem sido discutido na literatura é o aumento do número de mastócitos em transtornos cardiovasculares como na cardiopatia hipertensiva. Estudo recente mostrou que a sobrecarga crônica do ventrículo esquerdo eleva a 18 densidade dos mastócitos cardíacos. Estes, por sua vez, estão envolvidos na remodelação fibrótica do coração. No entanto, pouco se sabe sobre os mecanismos envolvidos na fisiopatologia da fibrose relacionada à presença de mastócitos cardíacos. A degranulação dessas células parece ter papel fundamental no remodelamento fibrótico do coração (LEVICK et al., 2011). 1.4 MASTÓCITOS A presença de mastócitos foi documentada no coração de anfíbios, roedores, caninos e seres humanos. O primeiro pesquisador a descrever morfologicamente os mastócitos foi Ehrlich em 1878, demonstrando que seu citoplasma era preenchido com grânulos metacromáticos densos que se coravam de vermelho ou violeta quando tratados com corantes básicos à base de anilina. Observou também que os mastócitos geralmente residem no espaço intersticial e muitas vezes são justapostos aos nervos e entre vasos sanguíneos. Esas observações contribuíram para que Ehrlich recebesse o prêmio Nobel de Medicina em 1908 (BOT et al., 2008; METCALFE, 2008). São distribuídos em todos os órgãos e tecidos vascularizados do corpo, como pele, trato gastrointestinal, vias aéreas, peritônio, vasos sistêmicos e coração. Essa diversidade de distribuição é associada à heterogeneidade dos mastócitos (KINET, 2007). Os mastócitos são derivados de uma célula precursora da medula óssea e sua maturação sofre especial influência do ligante c-kit, fator de célula-tronco. Circulam no sangue periférico como leucócitos mononucleares sem grânulos e expressam os marcadores de superfície CD13, CD33, CD38 e CD34. Seu fenótipo final depende do microambiente residente. São células capazes de produzir uma gama de fatores de crescimento, citocinas IL-1, IL-4, IL-5, IL-10, histamina, cininas, fosfolipases e endopeptidases (OKAYAMA e KAWAKAMI, 2006; THEOHARIDES et al., 2007). Mastócitos cardíacos ativados liberam uma série de potentes mediadores da inflamação e pró-fibróticos, citocinas, quimiocinas, além de algumas proteases. Podem ser ativados por meio de IgE, por fatores e histamina liberados por macrófagos ou linfócitos T vizinhos ou por componentes do sistema complemento (C3a,C5a). Quando ativados iniciam a degranulação que é o processo de exocitose dos componentes dos seus grânulos (PATELLA et al., 1998; LESKINEN et al., 19 2003). Os fatores que ativam os mastócitos cardíacos não foram totalmente elucidados, porém endotelina-1, espécies reativas do oxigênio, substância P e IL-33 parecem estar envolvidos neste processo (CALDERÓN-GARCIDUENAS et al., 2001; MURRAY et al., 2004, MORGAN et al., 2008; LEVICK et al., 2011). As proteínas mais abundantes armazenadas nos grânulos de secreção dos mastócitos são as endopeptidases, dentre elas, as mais importantes são a triptase e quimase. Ambas são serinopeptidades, porém são diferentes na atividade e em padrões de expressão (DOGGRELL et al., 2004; TSURUDA et al., 2006). Mastócitos maturando em microambientes de tecidos diferentes podem variar no tipo e na quantidade de triptase e quimase expressas. O papel fisiológico da triptase e da quimase ainda é incerto e suas atividades não são observadas em tecidos normais e sim em tecidos com lesão. A triptase é a enzima predominante nos grânulos (METCALFE et al., 1997) e mastócitos humanos que contém triptase em seus grânulos expressam receptor tipo 2 ativado por protease (PAR2), e estudos em vitro demonstraram que o pré-tratamento dessas células com peptídeo ativador de PAR2 promove o aumento de IL-8/CXC8 (CARVALHO et al., 2010). A incubação de triptase em culturas de células endoteliais induz migração de neutrófilos in vitro que é dependente da IL-8 (COMPTON et al., 2000). Outro estudo demonstrou que a incubação de fibroblastos cardíacos com triptase levou à proliferação e síntese de colágeno (LEVICK et al., 2009). Já foi demonstrado que a quimase possui a capacidade de ativar a angiotensina I em angiotensina II (REILLY et al., 1982) e que provavelmente está envolvida no remodelamento estrutural associado às doenças do sistema cardiovascular (DOGGRELL et al., 2004). É claro que os mastócitos desempenham um papel relevante em várias cardiopatias, porém devido à complexa composição de grânulos secretórios e à plasticidade do seu fenótipo, sua contribuição precisa ser elucidada (REID et al., 2011). Estudos recentes envolvendo técnicas moleculares têm sido propostos na tentativa de caracterizar o gene-chave na modulação destes processos patológicos, porém ainda se encontram em estágios inicias, e seus achados ainda não são capazes de serem transportados para a prática clínica (POST et al., 1997; ARNETT et al., 2002; KAPUKU et al., 2006; PETRETTO et al., 2008, VASAN et al., 2009). Pelo fato dos mastócitos poderem expressar algumas peptidases em níveis elevados, imunohistoquímica e imunoensaios usando anticorpos dirigidos contra 20 estas enzimas são úteis experimentalmente para avaliar o número de mastócitos, locais de ativação e doenças associadas (CAUGHEY, 2007). Portanto o presente estudo pretende avaliar a relação dos mastócitos na cardiopatia hipertensiva, contribuindo para melhor compreensão dos processos patológicos envolvidos e servindo de base para novos estudos. 21 1.5 HIPÓTESE Há um aumento das fibras colágenas e da densidade mastocitária no ventrículo esquerdo em indivíduos com cardiopatia hipertensiva. 1.6 OBJETIVO GERAL Analisar, por meio de estudos morfométricos e imunohistoquímicos, as fibras colágenas e densidade mastocitária no ventrículo esquerdo de indivíduos autopsiados com cardiopatia hipertensiva. 1.7 OBJETIVOS ESPECÍFICOS I. Comparar a porcentagem de fibras colágenas e a densidade mastocitária no ventrículo esquerdo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva e sem cardiopatia; II. Relacionar a porcentagem de fibras colágenas e a densidade mastocitária no ventrículo esquerdo com o gênero e cor nos indivíduos com cardiopatia hipertensiva; III. Correlacionar a porcentagem de fibras colágenas e a densidade mastócitaria no ventrículo esquerdo com a idade nos indivíduos com cardiopatia hipertensiva. 22 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 OBTENÇÃO DA AMOSTRA Foram utilizados fragmentos do terço médio da parede livre do ventrículo esquerdo de 30 indivíduos autopsiados no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC/UFTM), Uberaba-MG, no período de 1984 a 2014. Os protocolos de autópsias foram analisados para a obtenção dos dados como a idade, o gênero, a cor, o peso cardíaco e o peso corporal. Foram selecionados indivíduos com a idade igual ou superior a 18 anos, os quais foram divididos em dois grupos: (1) indivíduos com cardiopatia hipertensiva (CH) (n=15) e (2) indivíduos sem cardiopatia (SC) (n=15). Foram excluídos deste estudo os casos em que o laudo de autópsia estava incompleto, os casos em que os indivíduos apresentavam doença de Chagas ou qualquer tipo de cardiopatia. A relação do peso cardíaco(g)/peso corporal(g) x 100, utilizada na definição de hipertrofia cardíaca, foi calculada em todos os casos. (ALMEIDA et al., 1979). 2.2 PREPARAÇÃO DO MATERIAL Os 30 fragmentos do ventrículo esquerdo de indivíduos autopsiados foram recuperados no arquivo de peças da Disciplina de Patologia Geral – UFTM. Os fragmentos do ventrículo esquerdo já estavam fixados em formaldeído a 3,7%. Inicialmente, foram desidratados em álcoois com concentrações crescentes (70 a 100%), diafanizados em xilol e emblocados em parafina A seguir, foram realizados cortes seriados de 4 µm de espessura. Foram confeccionadas três lâminas, sendo que a lâmina 1 foi corada pelo Picrosírius (PS) (solução aquosa saturada de ácido pícrico adicionada de 0,1g% de vermelho da Síria F3B - Sirius red F3B-Bayer®) com contra coloração pela hematoxilina (JUNQUEIRA et al, 1979). 2.3 ANÁLISE MORFOMÉTRICA DAS FIBRAS COLÁGENAS O número de campos para avaliação e quantificação das fibras colágenas do ventrículo esquerdo foi definido pelo teste da média acumulada (WILLIAMS, 1977). Dividimos em quatro quadrantes o corte histológico e digitalizamos quarenta campos 23 de cada fragmento. A área de fibras colágenas sob a luz polarizada apresentava um aspecto birrefringente, variando de amarelo esverdeado a laranja avermelhada (FIG. 1A e 1B). As fibras colágenas foram marcadas pelo observador para obter-se o percentual de colágeno por campo analisado. Dessa forma, a imagem do campo quantificado foi digitalizada por meio de uma câmera acoplada ao microscópio. A morfometria foi realizada com o sistema analisador de imagem KS300® (Carl Zeiss®), com aumento final de 800x. 2.4 ANÁLISE IMUNOHISTOQUÍMICA As Lâminas 2 e 3 foram utilizadas para a análise imunohistoquímica. Foi realizada para a identificação da positividade para anti-quimase 1:2000 (Diagnostic BioSystems®) (FIG. 1C e 1D) e anti-triptase 1:500 (Diagnostic BioSystems®) (Figura 1E e 1F) para a marcação dos mastócitos. Foi utilizado o xilol para retirar a parafina da lâmina e, posteriormente, hidratada em álcoois decrescentes até água destilada. Em uma panela a vapor a 97ºC as lâminas foram embebidas em solução de tampão citrato por 30 minutos e, logo após, resfriadas em temperatura ambiente de 25ºC por mais 30 minutos. O material foi lavado em água destilada rapidamente. A peroxidase endógena foi inibida com H2O2 0,03v, três vezes por 5 minutos, em temperatura ambiente e no escuro. Então foi feita a lavagem em água rapidamente e depois em solução de PBS 5 minutos. Os anticorpos primários foram reconstituídos e diluídos em solução de PBS juntamente com albumina, incubados em câmara úmida e escura e deixados overnight a 8ºC. Posteriormente lavou-se novamente em água destilada rapidamente e depois em solução de PBS 5 minutos. Os anticorpos secundários foram incubados por 1 hora à temperatura ambiente em câmara úmida. Em seguida foi lavado em solução de PBS e depois colocado em PBS por 5 minutos. Incubou-se em peroxidase por 1 hora à temperatura ambiente em câmara úmida. Lavou-se em solução de PBS 5 minutos. As lâminas foram incubadas com DAB Chromogen_Substrate System (Dako®) por 10 minutos à temperatura ambiente e câmara úmida (100 µl DAB + 15 µl de H2O2). As lâminas foram lavadas com água destilada para inativar o DAB, contra corados com Hematoxilina de Harris e montadas com lamínula e Entellan®. A quantificação dos mastócitos foi feita em microscópio de luz comum com o aumento final de 500x em campo microscópio de 0,1520mm². Os fragmentos foram 24 divididos em quatro quadrantes e em cada quadrante foram quantificados dez campos de forma aleatória. A densidade de mastócitos de cada fragmento foi determinada dividindo-se o número total de mastócitos quantificados nos quarenta campos pela área total dos campos, expressa em mastócitos/mm². Figura 1 – Micrografias de fragmentos do miocárdio ventricular esquerdo examinado sob luz comum (A) e examinado sob luz polarizada (B), onde podemos observar as fibras colágenas birrefringentes (setas) (Picrosírius – 200x). C e D – Mastócitos (setas) imunomarcados por anti-quimase (Imunohistoquímica 200x e 400x). E e F – Mastócitos (setas) imunomarcados por anti-triptase (Imunohistoquímica 200x e 400x). Fonte: PATGE (2015). 25 2.5 ANÁLISE ESTATÍSTICA Para a análise estatística foi elaborada uma planilha do programa Microsoft Excel®. As informações foram analisadas utilizando-se o programa eletrônico GraphPad Prism® 6.05. Para verificar o tipo de distribuição das variáveis foi aplicado o teste estatístico de Kolmogorov-Smirnov. Quando a distribuição foi normal utilizamos o teste t de Student (t) para a comparação de dois grupos. Quando a distribuição foi não normal, utilizamos o teste de Mann-Whitney (T) para a comparação de dois grupos. Para correlação, foi empregado o coeficiente de correlação de Pearson (r) para distribuição normal e o de Spearman (rS) para distribuição não-normal. As diferenças foram consideradas estatisticamente significantes quando p foi menor que 5% (p<0,05). 2.6 ASPECTOS ÉTICOS A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFTM por meio do protocolo nº 1373 (Anexo A). 2.7 NORMAS PARA CONFECÇÃO DO MANUSCRITO Para a elaboração da escrita do trabalho foram consultadas as normas ABNTNBR 6027:2012, e as recomendações da PGCS/UFTM (Curso de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da UFTM). 26 3 RESULTADOS 3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA AMOSTRA A média de idade dos indivíduos no grupo com cardiopatia hipertensiva foi de 53,3, variando de 34 a 81 anos e no grupo sem cardiopatia foi de 55,3 anos, variando de 45 a 80 anos. De acordo com o gênero, 14 (46,6%) indivíduos eram do gênero masculino e 16 (53,3%) indivíduos eram do gênero feminino. Em relação à cor, 21 (70%) indivíduos eram brancos e 9 (30%) indivíduos eram não brancos. (TAB. 1). Tabela 1 – Características demográficas dos indivíduos autopsiados com cardiopatia hipertensiva (CH) e sem cardiopatia (SC) Características Grupo CH Grupo SC Demográficas (n=15) (n=15) 53,3(34-81) 55,3(45-80) Masculino 33,3 (5) 60 (9) Feminino 66,6 (10) 40 (6) Branca 66,6 (10) 73,3 (11) Não Branca 33,3 (5) 26,6 (4) Idade méd. (min-máx.) Gênero % (n) Cor % (n) méd = média; min= mínimo; máx = máximo; n= número total 3.2 CARDIOPATIA HIPERTENSIVA (CH) E SEM CARDIOPATIA (SC) Comparando os grupos, houve um aumento das fibras colágenas no ventrículo esquerdo no grupo CH em comparação ao grupo SC, porém sem diferença significativa (p=0,957) (FIG. 2A). Em relação à densidade mastocitária, houve um aumento no ventrículo esquerdo dos indivíduos com CH imunomarcados por anti-quimase (p=0,278) e com diferença significativa na densidade de mastócitos no ventrículo esquerdo nos imunomarcados por anti-triptase (p=0,012*) (FIG. 2B). 27 Figura 2 – A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre indivíduos dos grupos CH e SC. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre indivíduos dos grupos CH e SC autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014 3.3 GÊNERO Analisando o grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva (CH), indivíduos do gênero masculino apresentaram aumento de fibras colágenas no ventrículo esquerdo em relação aos indivíduos do gênero feminino no grupo com CH, porém sem diferença significativa (p=0,315) (FIG. 3A). Em relação à densidade mastocitária, houve um aumento no ventrículo esquerdo nos indivíduos do gênero 28 masculino em relação ao gênero feminino imunomarcados por anti-quimase (p=0,089) e imunomarcados por anti-triptase (p=0,439) (FIG. 3B), porém sem diferença significativa. Figura 3 – A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre homens e mulheres do grupo CH. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre homens e mulheres do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014 3.4 COR Analisando o grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva (CH), a porcentagem de fibras colágenas no ventrículo esquerdo apresentou-se mais 29 acentuada nos indivíduos não brancos em relação aos indivíduos brancos, sem diferença significativa (p=0,591) (FIG. 4A). Em relação à densidade mastocitária, houve um aumento no ventrículo esquerdo nos indivíduos não brancos imunomarcados por anti-quimase (p=0,537) e com diferença significativa na densidade de mastócitos no ventrículo esquerdo imuno-marcado por anti-triptase (p= 0,012*) (FIG. 4B). Figura 4 – A. Gráfico da comparação da porcentagem de fibras colágenas do ventrículo esquerdo entre brancos e não brancos do grupo CH. B. Gráfico da comparação da densidade mastocitária (triptase) do ventrículo esquerdo entre brancos e não brancos do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014. 30 3.5 IDADE Analisando o grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva (CH), houve correlação positiva e não significativa entre a porcentagem de fibras colágenas no ventrículo esquerdo e a idade (p=0,892) (FIG. 5A), entre a densidade de mastócitos no ventrículo esquerdo imunomarcados por anti-quimase e a idade (p=0,138) e entre a densidade de mastócitos no ventrículo esquerdo imunomarcados por anti-triptase e a idade (p=0,872) (FIG. 5B). Figura 5 – A. Gráfico da correlação entre a porcentagem de fibras colágenas e a idade dos indivíduos do grupo CH. B. Gráfico da correlação entre a densidade mastocitária (triptase) e a idade dos indivíduos do grupo CH autopsiados no HC/UFTM no período de 1984 a 2014. 31 4 DISCUSSÃO No coração, a HAS pode ser considerada um fator responsável por alterações estruturais e funcionais (DIAMOND e PHILLIPS, 2005) Promove arritmogênese por condução anisotrópica prejudicada e geração subsequente de circuitos de reentrada e taquiarritimias ventriculares, principalmente pelo acúmulo de fibrose, desencadeando manifestações clínicas características da HAS não tratada (KHAN, 2006). No presente estudo encontramos um aumento de fibras colágenas no ventrículo esquerdo do grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva em comparação ao grupo de indivíduos sem cardiopatia. Estes achados, apesar de não significativos, corroboram com a literatura, onde relata que dentre as alterações morfológicas da cardiopatia hipertensiva, a fibrose é uma das modificações mais encontradas nos pacientes hipertensos, caracterizada por excesso ou acúmulo difuso de fibras colágenas, consequentemente aumentando a rigidez miocárdica, progredindo para a disfunção do ventrículo esquerdo e culminando com a IC (JIMÉNEZ-NAVARRO et al, 2005). Essa fibrose reacional é característica de processos patológicos que desencadeiam a hipertrofia miocárdica (BERK et al., 2007; SPINALE, 2007). Os mecanismos responsáveis pela progressão da HVE incluem não só uma resposta para o estresse mecânico, mas também as influências de neuro-hormônios, fatores de crescimento e citocinas, demonstrando que o estroma tem papel crucial no remodelamento cardíaco (HILL e OLSON, 2008; DÍEZ, 2010; DRAZNER, 2011). É possível que esse aumento não significativo das fibras colágenas em indivíduos com cardiopatia hipertensiva decorra do número de casos avaliados. Infelizmente não conseguimos aumentar nosso número de casos devido à dificuldade em se obter indivíduos apenas com lesões típicas de HAS, como HVE, que tivessem sido submetidos à autópsia. Um estudo realizado na quantificação do colágeno em corações autopsiados de indivíduos hipertensos e não hipertensos, demonstrou um discreto aumento de colágeno nos indivíduos hipertensos com HVE (JORGE et al., 2004). Outro estudo demonstrou que tanto em humanos quanto em ratos cardiopatas hipertensos, o metabolismo do colágeno tipo I está aumentado (LÓPEZ et al., 2001). Trabalhos relataram a estreita relação entre o diagnóstico histológico não invasivo de fibrose 32 miocárdica em animais e pacientes hipertensos, utilizando marcadores bioquímicos como pró-peptídeo carboxi-terminal do pró-colágeno tipo I (PICP) (JIMÉNEZNAVARRO et al, 2005) e dosagens séricas deste pró-peptídeo demonstraram uma elevada concentração nos indivíduos com cardiopatia hipertensiva em relação aos indivíduos sem cardiopatia (GONZÁLES et al., 2009), evidenciando que os precursores da síntese do colágeno estão aumentados nos indivíduos acometidos pela cardiopatia hipertensiva. Já foi também demonstrado que a razão sérica entre metaloproteinases de matriz-1 (MMP-1) e seu inibidor tecidual estão alteradas nos pacientes com cardiopatia hipertensiva e que pacientes que apresentavam falência na fração de ejeção decorrente da dilação da câmara ventricular esquerda apresentavam alterações na distribuição de fibras colágenas, sobretudo perivascular e cicatricial e aumento considerável de MMP-1 (LÓPEZ et al., 2001). Estes relatos da literatura fazem conexão com achados do presente trabalho, pois estas enzimas são as principais mediadoras do remodelamento miocárdico, que ocorre via ativação de MMPs principalmente pela liberação de triptase, que cliva o precursor pro-MMP-3, ativando MMP-3 que então ativa MMP-1 e pela liberação de quimase, ativando MMP-2 e MMP-9 (GRUBER.et al., 1989; LEES et al., 1994; SUZUKI et al., 1995; TCHOUGOUNOVA et al., 2005; HEIKKILA et al., 2008). Esse remodelamento parece ser crítico para a progressão da HVE, provavelmente resultado da inflamação crônica presente na cardiopatia hipertensiva. Um estudo demonstrou o aumento da densidade mastocitária nas coronárias de pacientes acometidos pela doença arterial coronariana e que níveis séricos de triptase, principal biomarcador da elevação dos números de mastócitos, podem ser usados como teste de screenning para avalição dessa condição em pacientes que ainda não apresentam manifestações clínicas (DELIARGYRIS et al., 2005). Estudos experimentais relatam que os mastócitos cardíacos estão envolvidos no desenvolvimento da fibrose miocárdica. Os primeiros a descrever esta associação foram OLIVETTI et al., 1989 quando observaram o aumento dos mastócitos cardíacos no ventrículo direito em ratos com estenose da artéria pulmonar, apesar de não indicarem se os mastócitos estavam associados com a fibrose. Já PANIZO et al., 1995 foram os primeiros a investigar os mastócitos no ventrículo esquerdo na HAS, e notaram a forte correlação do aumento da densidade mastocitária e aumento do colágeno. 33 No presente estudo, encontramos um aumento significativo na densidade de mastócitos imunomarcados com anti-triptase no ventrículo esquerdo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva. Estudos experimentais que explicam nosso resultado demonstraram o aumento da densidade mastocitária em condições de sobrecarga ventricular esquerda e remodelamento do miocárdio. Os produtos da degranulação dos mastócitos são de natureza pró-inflamatória, pró-fibrogênicos e hipertróficos, e dentre estes, destacam o fator de crescimento transformador β (TGF-β), histamina, triptase, quimase, interleucina-4 (IL-4), fator de necrose tumoral α (TNF-α) (MATSUMOTO et al., 2003; PALANIYANDI et al., 2007). Dados da literartura demonstram que as principais citocinas que participam do desenvolvimento da fibrose no tecido miocárdico são o TGF-β, IL-13 e IL-4 (BHOGAL et al., 2008; TEEKAKIRIKUL et al., 2010), esta demonstrando ser altamente eficaz para estimular a biossíntese de colágeno em fibroblastos humanos (KANELLAKIS, 2012). Outros estudos experimentais demonstraram que a presença de mastócitos cardíacos era fundamental para o desenvolvimento da insuficiência cardíaca congestiva (ICC) e que estavam envolvidos na transição da hipertrofia compensatória para a hipertrofia descompensada e, consequentemente, culminando com a falência cardíaca (HARA et al., 2002). Quando estimulados, os mastócitos migram para o local da lesão inflamatória, sendo que a quimiocina responsável por essa migração é o stem cell factor (SCF), produzido por células mesenquimais do tecido, como os fibroblastos. Este fator foi detectado em células endotelias e musculares lisas da íntima das artérias humanas sugerindo ser responsável pela migração de mastócitos para os tecidos lesionados (KOVANEN, 2007). Um estudo experimental com ratos hipertensos demonstrou que a densidade mastocitária elevou significativamente no tecido cardiaco e também a liberação de citocinas, como TGF-β e TNF-α. Demonstraram também que taxa de expressão do mRNA do gene codificador do SCF estava significativamente elevada nos ratos hipertensos já durante o período neonatal (SHIOTA ET AL., 2003). Esses achados da literatura corroboram com os dados encontrados neste trabalho, visto que no grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva, a densidade de mastócitos imunomarcados tanto com anti-quimase quanto por anti-triptase encontrou-se aumentada. Optamos por utilizar duas proteases específicas dos mastócitos para evitar qualquer tipo de marcação cruzada e também destacar o papel destas na remodelação cardíaca e progressão da fibrose no ventrículo esquerdo dos 34 indivíduos com cardiopatia hipertensiva. No presente trabalho encontramos um aumento não significativo das fibras colágenas e densidade mastocitária no ventrículo esquerdo em homens com cardiopatia hipertensiva, porém também era um resultado esperado, sendo que na literatura relata que a prevalência da pré-hipertensão e hipertensão é menor nas mulheres em comparação aos homens (TOPRAK et al., 2009). Aparentemente o gênero feminino sofre menos os efeitos da hipertensão em relação aos homens, devido, entre outros fatores, os efeitos protetores do estrogênio endógeno (ZHOU et al., 2008), levando em consideração a média de idade de 53,3 anos das mulheres analisadas, de acordo com estudo que relata que a hipertrofia cardíaca é maior em mulheres climatérias, em consequência da redução dos hormônios sexuais femininos que agem como protetores cardíacos (BATLOUNI et al., 1995), que também suprime a ação das MMPs por meio da repressão de citocinas como o TNFα (HARNISH et al., 2004), controlando a ativação dos mastócitos. Já é sabido que o estrogênio afeta a função cardiovascular seja pela diminuição da pressão arterial ou modificando a produção de fatores derivados do endotélio vascular. Um estudo recente em humanos demonstrou que níveis circulantes do peptídeo natriurético atrial apresentam-se elevado nas mulheres antes da menopausa em relação aos homens. Este peptídeo atua na enzima óxido nítrico sintase (NOS), que produz efeitos anti-inflamatórios, anti-apoptóticos e antifibróticos, mediados pela produção de óxido nítrico (ROMERO et al., 2013). O desbalanço entre a produção de radicais livres e os mecanismos de defesa antioxidantes eleva a produção de espécies reativas do oxigênio, que estão associadas ao desenvolvimento e progressão da hipertensão. Estudos experimentais demonstraram que a deleção do gene do receptor de estrógeno beta resultou em hipertensão em ratos, tanto em machos quanto em fêmeas (ZHU et al., 2002) e também na disfunção endotelial e aumento do estresse oxidativo (WASSMAN et al., 2001). Um dos produtos do estresse oxidativo, o H2O2, eleva a expressão de IL-4, bem como a atividade do promotor de IL-4 nas células mastocitárias (WU, 2001), destacando o ciclo existente entre ativação dos mastócitos, inflamação e hipertensão arterial e os possíveis mecanismos protetores presente nas mulheres. Com relação à cor, apesar de os indivíduos não brancos apresentarem um aumento da porcentagem de fibras colágenas, a relação entre cardiopatia 35 hipertensiva e a cor da pele é controversa. A miscigenação do brasileiro torna a raça um critério de menor validade para avaliação do risco de desenvolver doença cardíaca (LATADO et al., 2009). Em estudo com pacientes autopsiados observou que não houve predomínio de hipertrofia do ventrículo esquerdo em indivíduos negros (LESSA et al., 1994), porém utilizou como critério de exclusão a ausência de hipertensão, diferente dos nossos achados que os indivíduos eram hipertensos. Outros estudos têm demonstrado existir relação devido à gravidade, duração da hipertensão (LEE et al., 1992) e sugerindo que o controle genético da massa ventricular pode ser diferente dependendo do grupo étnico (ARNETT et al., 2002). Estudos anteriores já demonstram dados que sugerem que a HVE contribuiu para a alta frequência de morte súbita, especialmente entre os negros (ONWUANYI et al., 1998). A HAS é uma das principais causas de disparidades na taxa de mortalidade entre negros e brancos na América, devido às diferenças de prevalência e controle. Alguns sugerem que cuidados primários e contextos sociais e ambientais reforçam essa disparidade na prevalência de hipertensão grave entre negros e brancos (HARNISH et al., 2004; NOBLAT et al., 2004; SATCHER et al., 2008). Apesar da divergência da literatura, no presente estudo o mais interessante é sem dúvida a demonstração de que o ventrículo esquerdo dos indivíduos não brancos é muito mais rico em mastócitos em comparação com os indivíduos brancos. Não encontramos na literatura nenhum estudo comparativo entre indivíduos com cardiopatia hipertensiva e sem cardiopatia com relação aos mastócitos. Isso demonstra novamente a participação dos mastócitos no remodelamento cardíaco na cardiopatia hipertensiva, especialmente entre os indivíduos não brancos. Nesta pesquisa houve um aumento não significativo da porcentagem de fibras colágenas e da densidade mastocitária com a idade no grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva. O Brasil possuirá, em 2020, a sexta população mundial de idosos. É necessário, portanto, que os estudos evidenciem cada vez mais as modificações estruturais, funcionais e hemodinâmicas relacionadas ao envelhecimento, a fim de melhor conduzir as pesquisas e consequentemente o possível tratamento destes idosos. Constitui um grupo de maior risco para o aparecimento das doenças degenerativas, em geral, e cardiovasculares em particular, além de apresentar maior número de comorbidades (KITZMAN e EDWARDS, 1990; CARVALHO, 2003; VERAS, 2009). O envelhecimento produz 36 progressivas mudanças cardíacas estruturais já bem estabelecidas. Em nível celular e subcelular, observam-se fibrose cardíaca, redução do número de cardiomiócitos e aumento compensatório do tamanho e capacitância dos cardiomiócitos remanescentes (ROCHA et al., 2010). A perda celular associa-se com formação aumentada de tecido conectivo, deposição de colágeno e proteína amilóide entre as células da parede ventricular. Essas alterações tornam o músculo cardíaco mais rígido e mais resistente às alterações da forma, requerendo mais energia para o coração dilatar-se. O aumento da impedância à ejeção ventricular esquerda resulta em hipertrofia miocárdica e fibrose intersticial (YU, 1997). O termo inflammaging foi introduzido recentemente para definir o estado de inflamação crônica que ocorre com o envelhecimento. Esse processo inflamatório é caracterizado por ser de pequena intensidade, sistêmico, crônico e subclínico (GIUNTA et al., 2008). A inflamação crônica decorrente do envelhecimento, ou inflammaging, manifesta-se como um aumento em até quatro vezes nos níveis circulantes de citocinas inflamatórias. Vários estudos relataram aumento nos níveis de IL-3, IL-6, IL-8, IL-10, IL-15 e TNF-α com o aumento da idade. (MALAGUARNERA et al., 2001; BRUUNSGAARD et al., 2003). O desequilíbrio na produção e na liberação de citocinas e a manutenção de um estado pró-inflamatório contribuem para maior predisposição a doenças infecciosas e para o aparecimento e/ou agravamento de doenças crônicas, como hipertensão arterial, diabetes e doenças reumatológicas, condições comuns no indivíduo idoso. Assim, o inflammaging parece estar associado ao aumento da morbidade e da mortalidade em idosos. Os efeitos dos mediadores inflamatórios são independentes de morbidades preexistentes e de outros fatores de risco de morte tradicionais como tabagismo, hipertensão arterial, sedentarismo, hipercolesterolemia, entre outros, sugerindo a existência de atividades biológicas específicas para as citocinas. Entretanto, apesar de nocivas, as mudanças que contribuem para o inflammaging são parte do processo normal do envelhecimento (HUNT et al., 2010; ROCHA et al., 2010). Apesar dos achados não significativos, tais resultados podem acontecer devido à intensidade da HAS, o número de indivíduos analisados e a faixa etária dos indivíduos analisados no estudo, visto que a média de idade de foi 53,3 anos no grupo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva, talvez ainda não apresentando 37 acúmulo de fibras colágenas de forma evidente, como acontece em indivíduos idosos (WEBER et al., 2000). 38 5 CONCLUSÃO Nos indivíduos com cardiopatia hipertensiva, ocorre um aumento das fibras colágenas no ventrículo esquerdo. Essa fibrose reacional é um processo fundamental para desencadear a hipertrófica miocárdica. O aumento na densidade de mastócitos no ventrículo esquerdo de indivíduos com cardiopatia hipertensiva observada no estudo nos permitiu concluir que os mastócitos possuem um papel relevante no remodelamento do miocárdio na cardiopatia hipertensiva, e estudos adicionais poderão colaborar para a completa elucidação dos mecanismos de turnover do colágeno, a fim de que novos alvos terapêuticos possam ser determinados com o objetivo de regular as ações das principais proteases liberadas na ativação dos mastócitos. 39 REFERÊNCIAS ALMEIDA, H. O., TEIXEIRA, V. P. A., ARAÚJO, W. F. Comportamento do peso do coração e do corpo em chagásicos crônicos com e sem “megas”. Rev Soc Bras Med Trop, v. 13, p. 85-89, 1979. ALVES, J. E. D. Transição demográfica, transição da estrutura etária e envelhecimento. Revista Portal de Divulgação, n. 40, p. 8-15, 2014. ANGUITA, M. et al. Hipertensíon arterial, cardiopatía hipertensiva e insuficiência cardíaca. Papel de los diuréticos de asa. 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