Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios Ulysses Rondina Duarte*, João Batista Rosolem, Murilo Araujo Romero** Este trabalho apresenta uma descrição das tecnologias e de topologias para rede óptica de acesso de futura geração, conhecida como NG-PON (Next Generation of Passive Optical Network), baseada em WDM. Essas são soluções que proveem largura de banda ilimitada aos usuários. São analisadas, neste trabalho, as topologias e os dispositivos ópticos e eletro-ópticos necessários para viabilizar redes do tipo WDM-PON. São, também, relatadas as pesquisas nessa área, que estão em desenvolvimento no Projeto 100 GETH. Palavras-chave: Redes ópticas de acesso. WDM-PON. NG-PON. R-SOA. Introdução A demanda de largura de banda exigida pelos usuários, sejam eles residenciais ou empresas, vem aumentando rapidamente nos últimos anos. Estima-se que velocidades de transmissão da ordem de algumas dezenas de Megabits por segundo por assinante logo serão requisitadas em grande volume, em virtude da disponibilização de vários serviços oferecidos pelas operadoras de telecomunicações. Dessa forma, soluções de altas taxas de transmissão para o acesso vêm sendo abordadas a fim de atender a essa crescente requisição por banda larga. Atualmente, com o emprego de fibras ópticas em redes de acesso como meio físico de transmissão de dados, vídeo e áudio (serviços triple play) em uma única estrutura de conexão banda larga do tipo PON (Passive Optical Network), é possível oferecer aos usuários, situados a algumas dezenas de quilômetros das estações telefônicas (Central Office – CO), uma gama de serviços que requerem taxa de transmissão elevada, como, por exemplo, Internet banda larga, jogos interativos, sinais de vídeo de alta qualidade – como o HDTV (High Definition Television) –, etc. A tecnologia preferencial para implantação dessa primeira geração de sistemas é conhecida como redes do tipo TDM-PON (Time Division Multiplexing Passive Optical Network) (NOWAK; MURPHY, 2005). Nesse tipo de arquitetura passiva, um único comprimento de onda é compartilhado entre os diversos usuários da rede em cada sentido de tráfego – downstream (da central para o usuário) e upstream (do usuário para a central) – por meio da utilização em cascata de divisores/combinadores ópticos (splitters) localizados no nó remoto (Remote Node – RN) do sistema. Adicionalmente, protocolos de acesso ao meio (Medium Access Control – MAC) fazem-se necessários em decorrência da operação em modo rajada (burst) dos transmissores upstream, a fim de evitar a colisão/perda de pacotes enviados pelos terminais dos usuários. Dessa forma, a capacidade de banda larga oferecida pelo sistema é dividida entre os vários assinantes da rede passiva, excluindo a necessidade de dispositivos complexos que poderiam encarecer a manutenção de sua infraestrutura. Com a tecnologia corrente, GPON (Gigabit Passive Optical Network) (ITU-T, 2008), a qual possui uma capacidade de 2,5 Gb/s, é possível permitir taxas superiores a 40/80 Mb/s por assinante em sistemas segmentados de 64/32 usuários, em distâncias de até 20 quilômetros. A segunda geração de tecnologia TDM-PON é denominada X-GPON (EFFENBERG, 2011), uma evolução dos sistemas GPON. Essa segunda geração é capaz de permitir taxas de 10 Gb/s de downstream e 1,25 Gb/s de upstream para o XG-PON I, e taxas 10 Gb/s simétricos para o XG-PON II, compartilhadas em sistemas constituídos por, no mínimo, 128 usuários. Nota-se que tais tecnologias são capazes de aumentar a densidade de usuários em uma única infraestrutura passiva. Entretanto, não há aumento significativo do ponto de vista de largura de banda por usuário. Embora as tecnologias mencionadas se destaquem como soluções vigentes para o provimento de altas taxas de transmissão a diversos usuários finais, tais sistemas podem não permitir o grau de ampliação e escalabilidade desejados pelas operadoras de telecomunicações, por estarem limitados em termos de capacidade. Isso ocorre devido a sua *Autor a quem a correspondência deve ser dirigida: [email protected]. ** Departamento de Engenharia Elétrica – Universidade de São Paulo (USP-São Carlos). Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios estrutura de compartilhamento, que limita a quantidade de banda disponível por usuário. Então, em um cenário futuro, no qual taxas superiores a 100 e 200 Mb/s por assinante serão requisitadas, em decorrência de novos serviços oferecidos, tais tecnologias de acesso serão insuficientes para atender a essa demanda. Dessa forma, o estudo e o desenvolvimento de soluções de acesso óptico capazes de prover taxas superiores a 10 Gb/s tornam-se necessários. Nesse contexto, soluções conhecidas como redes WDM-PON (Wavelength Division Multiplexing Passive Optical Network) são capazes de oferecer banda larga “ilimitada” a diversos assinantes, quando comparadas às redes do tipo TDM. Em redes WDM, empregam-se múltiplas frequências ópticas, sendo que os usuários possuem canais independentes entre si para se comunicarem com a central, o que faz com que a banda por assinante seja ampla. Ademais, essa configuração permite uma ampliação gradativa na capacidade da rede, em decorrência da eliminação da estrutura de compartilhamento de banda. Entretanto, a principal limitação para a implantação de redes WDM-PON é o elevado custo das unidades de transmissão e recepção dos usuários. Tendo em vista o panorama descrito, este trabalho apresenta uma descrição das tecnologias e de topologias para rede óptica de acesso de futura geração, conhecida como NG-PON (Next Generation of Passive Optical Network), baseadas em WDM. Essas são soluções que proveem largura de banda ilimitada aos usuários. São analisadas, neste trabalho, as topologias e os dispositivos ópticos e eletro-ópticos necessários para viabilizar as redes do tipo WDM-PON de curta e longa distâncias. São, também, relatadas as pesquisas em rede óptica de acesso do tipo WDM-PON, que estão em desenvolvimento no Projeto 100 GETH. 1 Redes de acesso WDM-PON A Figura 1 ilustra esquematicamente uma topologia WDM-PON convencional conectando N usuários (BANERJEE et al., 2005). Essa rede de acesso é composta pelo terminal de linha óptica (Optical Line Terminal – OLT), uma fibra alimentadora e várias terminações de rede ópticas (Optical Network Terminal – ONT), localizadas a diferentes distâncias do OLT e conectadas a ele através de um RN (Remote Node). O RN é totalmente passivo, sendo composto apenas de multiplexadores/demultiplexadores ópticos, uma vez que não é necessário o uso de equipamentos e sistemas de alimentação elétricos fora da planta da central de serviço, o que torna essa implementação atrativa para as provedoras de telecomunicações. No lado da central de serviço, estão localizados os N transmissores com diferentes comprimentos de onda e receptores ópticos (Receiver – Rx) para a Figura 1 Ilustração esquemática de uma rede WDM-PON convencional 126 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios transmissão e recepção dos tráfegos downstream e upstream, respectivamente. Um AWG (Arrayed Waveguide Grating) com funcionalidade bidirecional, ou qualquer outra forma eficiente de realizar a multiplexação/demultiplexação, é utilizado comumente como roteador de comprimento de onda, de forma a combinar e separar os sinais de descida e subida dos N usuários. Devido à propriedade cíclica do AWG, utiliza-se ainda um filtro WDM de bandas em cada uma de suas portas de saída, de forma a separar ambos os tráfegos. Atualmente, pode-se encontrar comercialmente Athermal AWGs, que não necessitam de controle térmico, com capacidade de 44/88 canais na grade de 100/50 GHz, e filtros dos tipos wideband e gaussiano. É possível encontrar, também, AWGs com 128 canais na grade de 25 GHz com controle de temperatura. Em cada ONT do sistema, existe um transmissor óptico, com comprimento de onda distinto do transmissor da central, e um Rx para transmissão e recepção dos tráfegos upstream e downstream, respectivamente. Um segundo AWG, localizado no RN, conecta esses assinantes à central de serviço em uma única fibra óptica, chamada fibra alimentadora. A escolha das bandas de transmissão pode ser feita nas bandas S, C ou L. Em redes WDM-PON, cada usuário possui um único par de comprimento de onda dedicado, permanente e distinto em ambos os sentidos de tráfego para se comunicar com a central de serviço. Cada ONT pode enviar e receber dados do OLT em qualquer instante de tempo, independentemente da condição dos outros usuários na rede. Ademais, os problemas de gerenciamento, segurança e operação em modo rajada dos transmissores ONT em sistemas GPON ou XG-PON, ocasionados pelo compartilhamento de um único canal óptico, são eliminados. Nessa configuração, cada assinante dispõe de um canal óptico ponto a ponto virtual com o OLT, apesar de a arquitetura física da rede ser do tipo ponto-multiponto. Outra vantagem é a utilização de um roteador AWG, em vez do emprego de divisores de potência em cascata na ONT. Dessa forma, a perda de inserção é muito menor que a perda apresentada pelos splitters e independe do número de usuários. Além disso, como a largura de banda de cada receptor nas ONTs é igual à largura de banda dedicada do canal, não há deterioração adicional da relação óptica sinal-ruído (Optical Signal-to-Noise Ratio – OSNR), relacionada ao número de usuários. O fato de a OSNR ser independente do número de assinantes torna as redes WDM-PON flexíveis e altamente escaláveis. Os fatores citados permitem que a operação da rede WDM-PON seja bastante simples e sua capacidade, elevada. Entretanto, ainda com a análise da Figura 1, pode-se dizer que um dos maiores desafios para a implantação de WDM-PON em redes de acesso é a disponibilização dos inúmeros comprimentos de onda distintos requisitados pelo sistema. Essa configuração convencional eleva o custo de manutenção e de gerenciamento da rede, não somente pelo custo de cada fonte, mas também pela necessidade de manter milhares de placas distintas em estoque. Nesse contexto, soluções conhecidas como fontes ópticas colorless (ou color-free), isto é, soluções para transmissores que possam operar em uma ampla faixa de comprimentos de onda, têm sido propostas na literatura técnica, por permitirem a utilização de um único tipo de fonte óptica no transmissor óptico em cada usuário ONT da rede WDM-PON. A seguir, serão apresentados alguns tipos de fonte óptica colorless destacados na literatura. 1.1 Transmissores colorless 1.1.1 Fatiamento espectral de fontes de banda larga A maneira mais elementar de se obter a requerida fonte óptica colorless seria por meio da utilização de lasers sintonizáveis em cada ONT do sistema (AKULOVA et al., 2002; COLDREN et al., 2004). Entretanto, essa opção elevaria demasiadamente o preço de instalação e de gerenciamento da rede óptica, em decorrência do tipo de transmissor utilizado. Uma alternativa à utilização de lasers sintonizáveis é o emprego da técnica de fatiamento espectral de uma fonte óptica de banda larga BLS (Broadband Light Source), como o espectro de um LED (LightEmitting Diode) ou o ruído de ASE (Amplified Spontaneous Emission) de um EDFA (ErbiumDoped Fiber Amplifier) ou de um SOA (Semiconductor Optical Amplifier), conforme Figura 2. Cada fatia da BLS, após ser demultiplexada pelo AWG, ou por qualquer tipo de demultiplexador, localizado no RN, é encaminhada às diferentes ONTs do sistema. O LED é uma fonte óptica de baixo custo, se comparado aos amplificadores ópticos citados. Entretanto, a utilização dessa fonte requer o uso de modulação externa. Ademais, a baixa densidade espectral do dispositivo semicondutor é insuficiente para alocar vários canais (JUNG et al., 2001), o que acabaria sacrificando o orçamento de potência do sistema e exigindo o uso de amplificação óptica, transformando a rede óptica passiva em ativa. O espectro de ASE, Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 127 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios gerado por um dos amplificadores citados, possui densidade espectral de potência e largura de banda superiores às dos LEDs. Entretanto, a utilização de ASE também requer o uso de moduladores externos, além de ainda sacrificar o orçamento de potência da rede em decorrência das altas perdas ocasionadas pelo fatiamento espectral, encarecendo a instalação e a manutenção desse tipo de sistema. Alternativamente, o fatiamento espectral de diodos laser de Fabry-Pérot (FP-LD) pode ser utilizado como fonte óptica colorless, uma vez que possui mais coerência e maior densidade de potência, se comparado ao LED e aos espectros de ASE. Entretanto, FP-LDs convencionais, devido ao seu comprimento de cavidade (∼ 250 µm) e a sua alta refletividade nas faces (∼ 30%), não possuem largura de banda suficiente para disponibilizar muitos comprimentos de onda para o sistema (WOODWARD et al., 1998). Em 2008, foi proposto o uso do fatiamento espectral de um FP-LD como fonte óptica colorless em uma rede de acesso WDM-PON de baixo custo, com capacidade total de 2,5 Gb/s (16 × 155 Mb/s), para prover o sinal upstream (LEE, H. K.; LEE, J. H.; LEE, C. H., 2008). A diferença notável na construção desse dispositivo, em relação aos convencionais, é a baixa refletividade (na ordem de 0,1%) utilizada em uma das faces e o estreito espaçamento entre canais (de 0,6 nm), em decorrência do uso de uma cavidade longa (∼ 550 µm), o que permite uma equalização de potência entre os vários modos no dispositivo e a redução do ruído inerente. Apesar de permitir uma implementação de fonte óptica colorless, viabilizando a implantação de sistemas do tipo FTTH (Fiber-tothe-Home), a rede era limitada a 16 canais com taxas de 155 Mb/s e a distâncias de 20 km entre o OLT e a ONT. 1.1.2 Bombeio óptico provindo do fatiamento espectral de fontes de banda larga As limitações encontradas nas propostas das fontes ópticas colorless mencionadas podem ser superadas utilizando a técnica de injeção de sinal óptico de banda estreita. Nesse esquema, o bombeio óptico, provindo do fatiamento espectral de uma BLS, é injetado no transmissor óptico, o qual passa a operar com a frequência central do sinal injetado. Utilizando um AWG para realizar o fatiamento espectral de uma BLS do tipo ASE, a frequência de operação dos transmissores será definida pela porta de saída desse filtro. Essa é a forma de obter o controle espectral e selecionar em frequência a operação da fonte óptica colorless. Na literatura técnica, são encontradas basicamente duas vertentes sobre o tipo de bombeio óptico empregado nesses sistemas: a) utilização de fontes ópticas monomodo, como o laser DFB; e b) fatiamento espectral de uma fonte ASE de banda larga. De fato, a opção a elevaria demasiadamente o custo de manutenção e de gerenciamento da rede, uma vez que seria necessário um estoque de lasers específicos para gerar o bombeio óptico. A opção b é a que mais se destaca na literatura, se comparada à opção a, sendo que uma única fonte BLS é capaz de prover o bombeio óptico para 40 dispositivos simultaneamente. Logo, será dado maior enfoque à segunda opção. Podem ser citados dois dispositivos semicondutores que operam nas condições previamente citadas: a) FP-LD; e b) RSOA (Reflexive Semiconductor Optical Amplifier). Figura 2 Fonte BLS e técnica de fatiamento espectral 128 Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios Figura 3 Fontes ópticas refletivas A Figura 3 ilustra a técnica de bombeio óptico em ambos os dispositivos. FP-LDs são projetados de forma a se comportarem como cavidades ópticas ressonantes, exibindo comportamento multimodo (ou a coexistência de vários modos ressonantes) em decorrência da existência de faces clivadas e da condição de oscilação no dispositivo semicondutor. Entretanto, FP-LDs convencionais não possuem largura de banda suficiente para disponibilizar muitos comprimentos de onda para o sistema, devido ao seu típico comprimento de cavidade (250 µm) e a sua alta refletividade nas faces (30%). Ademais, o ruído inerente existente no dispositivo decorrente de seu comportamento multimodo limita sua operação a baixas taxas de modulação direta, em torno de 155 Mb/s, o que o torna inapropriado para sistemas de alta capacidade. Quando a técnica de bombeio óptico em FP-LD é utilizada, o processo recebe o nome de injection locking (LEE et al., 2007). A frequência do sinal óptico externo, uma vez próxima de um dos modos ressonantes do diodo laser, força o dispositivo a oscilar praticamente em modo único, como um laser DFB. Injetando diferentes fatias do espectro da BLS, é possível selecionar, de acordo com a frequência, os modos de operação do FP-LD. Diferentemente dos diodos lasers hoje disponibilizados comercialmente, os FP-LDs utilizados para injection locking possuem características particulares para propiciar o travamento óptico: elevado comprimento da região ativa, permitindo a equalização em potência em uma larga faixa de comprimento de onda; faces com refletividades assimétricas, sendo que as faces de entrada e saída possuem camadas antirreflexivas (Anti-Reflection – AR) e altamente reflexivas (High Reflection – HR) com valores de 1% e 80%, respectivamente, de forma a requisitar uma baixa potência de bombeio óptico, garantindo um travamento eficaz. Essa técnica vem sendo pesquisada desde 2000 (KIM; KANG; LEE, 2000) e, atualmente, existe uma rede WDM-PON com essa configuração operando na Coreia do Sul (LEE et al., 2007). Recentemente, um trabalho experimental utilizando FP-LD em regime de tratamento óptico mostrou ser possível implementar uma rede WDMA com capacidade de 80 Gb/s (32 x 2,5 Gb/s) a uma distância de 20 km entre o OLT e a ONT (LEE, H. K. et al., 2010). Quando comparados aos RSOAs, os FP-LDs em regime de travamento óptico podem facilmente ser modulados diretamente a taxas de 2,5 Gb/s, sem a necessidade de equalização eletrônica, utilizando-se um equalizador de realimentação por decisão (Decision Feedback Equilizer – DFE). Apesar das vantagens que a fonte óptica colorless proporciona, a disponibilização comercial desse dispositivo próprio para utilização da técnica de injection locking é muito restrita. Apesar do avanço significativo na vertente de travamento óptico de FP-LD, transmissores do tipo RSOA vêm chamando a atenção de pesquisadores, recentemente, pela implementação satisfatória de redes híbridas WDM/TBM baseada em tais transmissores (LEE, J.H. et al., 2010b). A face frontal reflexiva do amplificador óptico semicondutor é revestida com uma camada AR e apresenta uma perda de inserção relativamente baixa (menor que 0,5 dB), sendo utilizada simultaneamente como porta de entrada do bombeio óptico e saída do sinal óptico modulado, enquanto a outra face possui um revestimento HR, de modo que grande fração da luz injetada seja enviada de volta à face AR. Dessa forma, o bombeio óptico nesse dispositivo é injetado pela Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 129 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios face AR, modulada em amplitude por meio da aplicação de polarização alternada, refletida pela face HR, amplificada novamente e enviada de volta para a face AR com o mesmo comprimento de onda central da semente óptica injetada. Valores de ganho óptico e largura espectral de ganho óptico de 3 dB para esse dispositivo estão compreendidos entre 10 e 30 dB e 30 e 32 nm, respectivamente. Dessa forma, um único RSOA é capaz de operar em uma ampla faixa de comprimento de onda (~ 30 nm), além de amplificar o sinal óptico de entrada, sendo, portanto, uma fonte óptica atrativa para utilização em sistemas WDM (40 canais) e/ou DWDM (80 canais). De acordo com trabalhos encontrados na literatura (CHO, K. Y. et al., 2008; CHO, K. Y.; TAKUSHIMA; CHUNG, 2008; CHO, S. H. et al., 2010a, 2010c; CHO, S. H.; JEON et al., 2008; LEE; SHIN, 2010; LEE, J. H. et al., 2010a; SEOL; JUNG; LEE, 2010), a máxima taxa de modulação direta utilizada desses dispositivos, sem a necessidade de técnicas sofisticadas de equalização eletrônica, está compreendida entre 1,25 e 2,5 Gb/s. Entretanto, estão disponíveis, comercialmente, apenas RSOAs capazes de suportar taxas de modulação direta de, no máximo, 1,5 GHz, possuindo largura de banda suficiente para permitir 1,25 Gb/s por usuário. Existem dois tipos de RSOAs disponíveis comercialmente, no que se refere à dependência de polarização do bombeio óptico injetada no dispositivo: RSOA com alto PDG (Polarization Dependency Gain), com valores de PDG superiores a 20 dB, e RSOA com baixo PDG, inferior a 1,5 dB. De fato, a escolha de BLSs provindas de fontes incoerentes, como o ruído ASE, é reforçada pelas características de operação do RSOA em relação ao PDG, uma vez que o fato de essas BLSs não possuírem polarização determinada não influencia no tipo de RSOA a ser utilizado no sistema, o que permite mais flexibilidade na escolha dos transmissores colorless. Quando são empregados lasers coerentes como fontes BLS, como, por exemplo, o DFB, poderiam ser utilizados apenas RSOAs com baixo PDG, uma vez que o uso de controladores de polarização acoplados ao transmissor colorless seria necessário, a fim de ajustar o estado de polarização da luz “semente” injetada e otimizar o desempenho do dispositivo, o que é inviável, do ponto de vista prático, para a produção em massa. Ademais, RSOAs com alto PDG possuem valores de ganho óptico superiores aos de baixo PDG, sendo, portanto, uma escolha atrativa para esses sistemas ópticos. Outra característica notável em RSOAs é o seu 130 desempenho de operação estável em uma ampla região de temperatura, compreendida entre 0 e 60ºC. Dessa forma, RSOAs podem ser considerados dispositivos uncooled, uma vez que não necessitam de controle térmico. Apesar das inúmeras vantagens que essa fonte colorless oferece, poucas empresas comercializam o dispositivo. A seguir, serão apresentadas algumas topologias WDM-PON empregando RSOAs como transmissores colorless. 1.1.3 Compartilhamento da banda C Uma solução atrativa para sistemas de acesso WDM-PON, denominada C-band splitting (PAYOUX; CHANCLOU; BRENOT, 2006), pode ser alcançada com o compartilhamento de uma única banda óptica, nesse caso a banda C, para os sinais downstream e upstream, em vez da utilização de bandas ópticas independentes (LEE, C. H. et al., 2007; LEE, S. M. et al., 2005). De fato, o uso de uma única banda para ambos os sentidos de tráfego possibilitaria uma redução de custo na manutenção e no gerenciamento de componentes optoeletrônicos e aumentaria o orçamento de potência do sistema, em decorrência das baixas perdas por atenuação na região de 1.550 nm. Além disso, uma vez que a maioria dos dispositivos fotônicos e optoeletrônicos para redes de acesso e de longa distância tem sido desenvolvida para operação na banda C, essa topologia permitiria uma gama de cenários a serem investigados/implementados. A Figura 5 mostra uma representação esquemática da topologia C-band splitting para sistemas de acesso. Nessa configuração, uma única BLS gera o bombeio óptico para ambos os RSOAs da ONT e do OLT. Um isolador óptico é utilizado entre a fonte BLS e o filtro azul/vermelho, impedindo o retroespalhamento para a fonte BLS. O filtro azul/vermelho tem a função de separar simetricamente o espectro óptico da banda C em duas partes: a parte vermelha e a parte azul. A parte vermelha corresponde aos comprimentos de onda utilizados para o tráfego upstream, localizados na parte superior da banda C (1.547-1.561 nm), enquanto a parte azul corresponde aos comprimentos de onda dos sinais downstream, localizados na parte inferior da banda C (1.530-1.543 nm). Um acoplador óptico 2x2 é utilizado para encaminhar os sinais azul e vermelho para os lados opostos da fibra alimentadora. Ambos os espectros ópticos são fatiados pelos AWGs localizados no OLT, para os sinais downstream, e no RN, para os sinais upstream. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios Figura 4 Esquema C-band splitting para redes de acesso As portadoras de downstream são geradas por meio de modulação direta dos RSOAs no OLT, após a injeção dos sinais fatiados da banda azul nesses RSOAs. A portadora de downstream é enviada às ONTs e detectada pelo Rx, após propagar pelo AWG, pelo acoplador óptico 2x2, pelo circulador óptico, por um trecho de fibra monomodo padrão, pelo AWG no RN e pelo filtro azul/vermelho da ONT, o qual combina/separa o sinal downstream e a semente óptica do upstream. Nas ONTs, o sinal fatiado da parte vermelha, gerado no OLT, é injetado nos RSOAs, amplificado, refletido e enviado de volta ao Rx do OLT em um esquema denominado loopback. Deve-se notar que a geração do sinal upstream em ONTs refletivas difere-se do esquema de WDM-PON convencional. Em sistemas loopback, a portadora de upstream é gerada na ONT; entretanto, o transmissor colorless localizado na ONT é alimentado remotamente a partir do bombeio óptico localizado na CO. Dessa forma, a maioria dos aparatos para transmissão encontra-se na CO, mantendo a simplicidade de operação dos usuários ONTs. Em consequência, o alcance dessas redes de acesso acaba sendo limitado pelo desempenho do tráfego upstream, uma vez que é necessário um nível mínimo de potência de bombeio nos RSOAs da ONT, a fim de se garantir um desempenho de transmissão satisfatório. Apesar de a topologia C-band splitting oferecer uma solução atrativa para sistemas de acesso WDM, o número de usuários é limitado a menos do que a metade do número de canais AWG, uma vez que o filtro azul/vermelho separa a banda C simetricamente. Atualmente, com o desenvolvimento de filtros de bandas azul e vermelha com um espaçamento reduzido entre as bandas ópticas (azul: 1.525-1.545 nm; vermelha: 1.547-1.563 nm) e Athermal AWGs com 88 portas (1.529-1.563 nm), é possível desenvolver uma rede WDM-PON com capacidade de 50 Gb/s (40 x 1,25 Gb/s). 1.1.4 Esquemas de remodulação na ONT Uma possível solução proposta pela literatura técnica para a superação das limitações de capacidade da rede descrita na Seção 1.1.3 baseia-se na remodulação da portadora óptica do downstream para geração do tráfego upstream, e denomina-se C-band remodulation. Essa técnica foi proposta por Frigo e outros autores (1994) visando eliminar a necessidade de fontes específicas nas ONTs. Nessa primeira proposta, não existe fonte óptica na ONT. Parte do sinal dowstream é modulado na ONT e enviado de volta para o OLT como sinal upstream, em esquema de loopback. A modulação, nesse caso, pode ser realizada numa parte específica do quadro de transmissão do sinal downstream por um modulador externo. Na proposta original, empregam-se duas fibras ópticas e um esquema de divisão de tempo para os canais upstream e downstream. Nota-se que essa técnica permite uma redução pela metade do número de comprimentos de onda utilizados em WDM-PON convencionais. Recentemente, essa técnica foi aplicada em arquiteturas empregando transmissores RSOA em ONTs/OLTs do sistema e tráfego bidirecional na fibra alimentadora, de forma a eliminar a necessidade de duas fibras e moduladores externos, conforme descrito por Frigo e outros autores (1994). A Figura 5 ilustra essa rede. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 131 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios Figura 5 Esquema de remodulação da banda C Após a geração da portadora de downstream, pela injeção do sinal da BLS fatiada pelo AWG no OLT, os dados de downstream são inseridos por meio de modulação direta nos RSOAs. Esse sinal downstream é enviado às ONTs do sistema após propagar pelo enlace de fibra óptica e ser selecionado por uma das portas do AWG do RN. Nas ONTs do sistema, está presente um splitter de potência 1x2, que divide o sinal de downstream igualmente entre as duas portas, sendo uma fração deste destinada ao Rx para detecção dos dados de descida e a restante, encaminhada ao RSOA. O sinal de upstream é, então, gerado a partir da remodulação da portadora de downstream e enviado de volta ao OLT do sistema. Apesar de a técnica de remodulação propiciar o benefício de uma redução na quantidade de comprimentos de onda empregados no sistema, ela pode gerar ruídos excessivos na portadora de upstream em decorrência da reutilização do sinal downstream, quando é utilizado o mesmo formato de modulação em ambos os sentidos. Nesse contexto, a fim de se garantir uma remodulação eficaz na ONT a partir do sinal gerado no OLT, a literatura técnica reporta o uso de formatos independentes de modulação para os tráfegos upstream e downstream, como, por exemplo, PSK (Phase Shift Keying), DPSK (Diferential Phase Shift Keying) (LIU, 2010; WANG et al., 2009), SCM (Subcarrier Modulation) (JANG et al., 2007) e OOK (On-Off Keying). Dessa forma, poder-se-ia utilizar um formato coerente para a descida e remodular em amplitude o sinal de upstream, ou o oposto, eliminando o ruído residual do formato utilizado na portadora de downstream com o emprego de um formato ortogonal do sentido upstream. Entretanto, para topologias de redes de acesso, 132 o uso de formatos complexos de modulação encarece a implantação do sistema. É, portanto, preferível que se utilize apenas formatos do tipo OOK em ambos os tráfegos, pela sua simplicidade de geração e detecção. É possível, ainda, empregar o esquema de remodulação fazendo uso de formatos OOK nos dois sentidos de tráfego com o emprego de valores distintos de razão de extinção para a descida e a subida (CHO et al., 2010c). Nesse esquema, os dados de downstream são modulados em formato OOK com uma razão de extinção menor que a portadora de upstream, uma vez que o sinal de subida sofre maiores perdas e efeitos de degradação devido à roundtrip OLT-ONT-OLT. A desvantagem dessa técnica é a degradação do sinal de downstream em decorrência do baixo valor de razão de extinção utilizado. Trabalhos atuais mostram uma simulação experimental de uma rede WDMA com capacidade de 100 Gb/s – 40 x 2,5 Gb/s (CHO et al., 2010c) e 80 x 1,25 Gb/s (CHO et al., 2010b) – empregando essa técnica. Entretanto, devido ao ruído de batimento ASE-ASE somado aos efeitos de degradação do sinal upstream, decorrente do emprego de remodulação óptica da portadora de downstream, é necessário o uso de receptores com ajuste de decisão de nível de limiar (Decision Threshold Limiar Adjustment – DTLA) em ambas as ONTs e nos OLTs no sistema. Logo, embora a configuração descrita permita o dobro da capacidade em comparação à Seção 1.1.3, é necessária a utilização de 160 receptores não usuais nessa topologia, o que poderia aumentar seu custo de manutenção e de gerenciamento. 2 Redes WDM-PON estendidas A consolidação das redes de acesso e Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios metropolitanas, denominadas redes de metroacesso, tem despertado o interesse de vários pesquisadores na área de redes de acesso estendidas. De fato, a extensão das redes de acesso do tipo PON permite o acréscimo da área de cobertura das provedoras de telecomunicações, mantendo as características de um sistema de baixo consumo (green system) em decorrência da exclusão de amplificadores/regenadores ópticos no trecho de transmissão do sistema e/ou novas centrais de acesso. Aliado a esse interesse, o emprego de ONTs refletivas (colorless) nesse sistema colabora na redução dos custos OPEX e CAPEX, favorecendo a implementação da tecnologia. Um dos desafios enfrentados em redes de metroacesso é a questão relativa ao alto orçamento de potência demandado em função do aumento do link óptico/número de usuários no sistema. Enquanto uma rede de acesso do tipo WDM-PON requer um orçamento de potência em torno de 26 dB, em esquemas de acesso estendido tal orçamento pode atingir valores superiores a 60 dB, devido à operação de loopback do tráfego upstream. Nesse contexto, podem ser destacadas duas vertentes na literatura técnica para a possível solução dessa limitação: a) emprego de formatos avançados de modulação PSK e/ou QPSK para o upstream (JUNG; TAKUSHIMA; CHUNG, 2010, 2011); e b) utilização de amplificadores ópticos no RN alimentados remotamente (HONG et al., 2011; SCHRENK et al., 2011). Trabalhos recentes abordando a opção a relatam o emprego de RSOAs nas ONTs do sistema operando a taxas de transmissão de 1,25 Gb/s (JUNG; TAKUSHIMA; CHUNG, 2010) e 5 Gb/s (JUNG; TAKUSHIMA; CHUNG, 2011) por usuário a distâncias superiores a 100 km da CO, excluindo a necessidade de amplificação óptica. De fato, a utilização de formatos de modulação em fases permite um aumento significativo na sensibilidade dos receptores ópticos. Entretanto, fazem-se necessárias técnicas de detecção não convencionais para cada usuário agregado ao sistema, em relação ao acesso convencional, além da utilização de fontes ópticas de bombeio do tipo DFB, aumentando demasiadamente o custo do sistema. A opção b é a que apresenta a melhor relação custo/benefício, uma vez que os amplificadores ópticos no RN, assim como os lasers de bombeio localizados na CO, podem ser compartilhados entre os N usuários da rede. Entretanto, nessas soluções, usa-se ainda bombeio do tipo DFB, recaindo na limitação de custo. Poderia ser interessante, em uma rede WDM-PON estendida, o emprego de fontes BLS do tipo ASE, com formatos de modulação OOK, RSOAs nas ONTs/OLT do sistema, receptores convencionais e esquemas de amplificação óptica localizados na CO do sistema. Essa solução vem sendo pesquisada recentemente no CPqD, e será abordada na próxima seção. 3 Desenvolvimento WDM-PON da plataforma 3.1 Plataforma de acesso WDM-PON Acompanhando a evolução em redes de acesso de futura geração, o subprojeto Sistemas de Acesso e Agregação, vinculado ao Projeto 100 GETH, apresenta como meta o desenvolvimento e a prototipagem de uma rede de acesso do tipo WDM-PON capaz de prover 50 Gb/s simétricos de capacidade (40 x 1,25 Gb/s), consolidando uma rede de 100 Gb/s. A plataforma em desenvolvimento, em uma primeira fase, foi baseada na topologia C-band splitting (conforme descrito na Seção 1.1.3), a qual permite flexibilidade, compactação e redução de custos para as empresas operadoras de telecomunicações devido ao emprego dos transmissores colorless do tipo RSOA e de dispositivos na banda C, excluindo receptores complexos para detecção. A Figura 6 apresenta alguns resultados obtidos no WDM-PON, que vem sendo pesquisado e desenvolvido no CPqD, no âmbito do Projeto 100 GETH. Apesar de o projeto estar em sua fase inicial, alguns resultados importantes já foram alcançados, como o domínio na transmissão 1,25 Gb/s bidirecional empregando ASE como fonte de bombeio óptico na grade de 100 GHz e com alcance de 20 km. Para que essa configuração seja possível, uma fibra compensadora de dispersão é utilizada na CO, de forma a reduzir simultaneamente os efeitos degradantes dos tráfegos upstream e downstream decorrentes da presença de dispersão cromática. Essa dispersão limita drasticamente o desempenho dos tráfegos em redes WDM-PON, devido à elevada largura de banda espectral dos canais ópticos proporcionada pela técnica de fatiamento espectral. Nota-se, nas Figuras 6 (a) e 6 (b), que é possível obter uma transmissão livre de erros em todo o espectro da banda C, em ambos os sentidos de tráfego, com apenas 1 dB de penalidade para transmissão em 1,25 Gb/s, usando formatos de modulação OOK. Essa solução permite a agregação de 16 usuários, totalizando uma rede de 20 Gb/s (16 x 1,25 Gb/s). Os próximos passos consistem em Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 133 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios testes de validação na grade de 50 GHz, Figura 6 Projeto WDM-PON desenvolvido no CPqD: (a) Desempenho do sentido downstream; (b) Desempenho do sentido upstream permitindo o aumento da capacidade de 20 para 50 Gb/s, extensão do alcance de link óptico de 20 para 40 km, assim como a transmissão e detecção de um sinal real no padrão Gigabit Ethernet. 3.2 Plataforma de acesso WDM-PON estendida Em paralelo ao desenvolvimento das redes de acesso WDM-PON, outra aplicação que vem sendo pesquisada no CPqD é a extensão do link de acesso óptico empregando esquemas de amplificação na CO para a topologia C-band splitting. De fato, a inserção de amplificadores ópticos na rede WDM-PON proporcionaria um aumento significativo da rede, excluindo a necessidade de outras centrais de acesso, a fim de disponibilizar serviços para usuários mais afastados dessas centrais. Uma vantagem adicional dessa solução seria a disposição de tais amplificadores ópticos na CO, o que não altera significativamente a infraestrutura de uma rede WDM-PON do tipo C-band splitting e torna ainda mais atraente o desenvolvimento dessas tecnologias. Nessa configuração, utiliza-se a amplificação híbrida Raman/EDFA bidirecional como forma de aumentar ambas as potências do bombeio óptico para os RSOAs localizados nas ONTs – respectivamente, os sinais de upstream e downstream. Em virtude da utilização da técnica de fatiamento espectral e bombeio óptico, os canais modulados possuem largura de banda espectral da ordem da largura da filtragem óptica realizada pelo AWG (0,6 nm para um AWG na grade de 100 GHz). Consequentemente, tais sinais ópticos não são afetados por efeitos não lineares no sistema em decorrência do emprego 134 de altos níveis de potência, o que permite a utilização combinada de amplificadores EDFA e amplificação Raman. No lado da central, utiliza-se um conjunto de EDFAs em esquema de amplificação de potência para os sinais de downstream e upstream e pré-amplificação para o upstream. Um único laser Raman, localizado na CO, com potência média de 25,5 dBm provê a amplificação Raman copropagante (para o downstream e o bombeio do upstream) distribuída e contrapropagante distribuída (somente para o upstream) em um trecho de 70 km de SMF. Dessa forma, essa configuração é capaz de garantir os níveis mínimos de potência de bombeio óptico para um desempenho satisfatório dos RSOAs nas ONTs, uma vez que esse é um dos maiores desafios em redes de acesso estendido. Para efeitos de comparação, utilizando apenas EDFAs como amplificadores ópticos é possível estender o alcance em, no máximo, 45 km. Entretanto, ao se utilizar amplificação Raman/EDFA, o aumento do link de acesso pode ser estendido até 70 km, mantendo-se ainda uma configuração totalmente passiva, em decorrência da localização de amplificadores na central, e um custo relativamente baixo, em decorrência do emprego de ASE como fonte BLS e de receptores convencionais do tipo PIN. A Figura 7 apresenta alguns desses resultados para ambos os sentidos de tráfego – downstream e upstream –, validando a proposta de acesso estendido. Foi possível obter uma taxa livre de erro com uma penalidade de, no máximo, 3 dB para os sinais de subida e 0,5 dB para os sinais de descida. O próximo passo desta pesquisa será o desenvolvimento de uma plataforma WDM-PON estendida com alcance de 100 km, na grade de 100 GHz, e 70 km, na Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 Sistemas de acesso WDM-PON com taxas de 1,25 Gb/s por usuário: vantagens e desafios grade de 50 GHz. Figura 7 Avaliação do esquema de amplificação híbrido Raman/EDFA na CO com 70 km de alcance: (a) Desempenho do downstream; (b) Desempenho do upstream Conclusão Projetos (FINEP). Este trabalho apresentou uma descrição das futuras topologias e tecnologias de rede óptica de acesso do tipo WDM-PON, as quais permitirão o oferecimento de largura de banda ilimitada aos usuários. Analisaram-se as topologias e os dispositivos ópticos e eletro-ópticos necessários para viabilizar redes do tipo WDM-PON e WDM-PON estendidas. Alguns resultados iniciais de pesquisas em andamento no Projeto 100 GETH, relacionadas a essa área de estudos, foram, também, relatados. Entre esses resultados, destacam-se os obtidos em pesquisas inovadoras em sistemas acesso WDM-PON e sistemas de amplificação híbrida Raman/EDFA na CO para extensão das redes WDM-PON. Tais resultados apontam para um ganho de flexibilidade, compactação, consolidação das redes metropolitanas e de acesso, assim como a redução de custos para as empresas operadoras de telecomunicações. Os próximos passos da pesquisa consistem no desenvolvimento da plataforma WDM-PON 50 Gb/s e na sua extensão em 100 km, com o emprego de esquemas de amplificação óptica. Referências AKULOVA, Y. A. et al. Widely tunable electroabsorption-modulated sampled-grating DBR laser transmitter. IEEE Journal of Selected Topics in Quantum Electronics, v. 8, n. 6, p. 1349-1357, 2002. BANERJEE, A. et al. Wavelength-divisionmultiplexed passive optical network (WDM-PON) technologies for broadband access: a review (invited). Journal of Optical Networking, v. 4, n. 11, p. 737-758, 2005. CHO, K. Y. et al. 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Abstract This paper presents a description of technologies and topologies for optical network access known as NG-PON (Next Generation of Passive Optical Network), based on WDM. These are solutions to provide unlimited bandwidth to final subscribers. The topologies and the optical and electro-optical devices needed to enable WDM-PON are analyzed. Also, the results of the research in this area that were developed under the 100 GETH Project are reported. Key words: Access networks. WDM-PON. NG-PON. RSOA. Cad. CPqD Tecnologia, Campinas, v. 7, n. 2, p. 125-138, jul./dez. 2011 137