MINISTÉRIO DA SAÚDE FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca Exposições a substâncias químicas e câncer de cérebro em adultos Gina Torres Rego Monteiro Introdução • Incidência e mortalidade por câncer de cérebro têm aumentado nos países desenvolvidos – em países da Europa as taxas de incidência e mortalidade cresceram entre 1950 e 1990, principalmente nos grupos mais idosos (Inskip et al., 1995) • No Brasil, a mortalidade aumentou 50% entre 1980 e 1998 (Monteiro & Koifman, 2003): – de 2,24 para 3,35 óbitos por cem mil habitantes (ajustadas pela população mundial) – aumento foi maior em: idosos = 6% ao ano (174% no período) e em mulheres (56%) • Coeficiente de incidência ajustado por idade pela população mundial, segundo estimativa da IARC, para o ano 2000: Países mais desenvolvidos 5,85/100.000 homens 4,06/100.000 mulheres Países menos desenvolvidos 2,83/100.000 homens 2,03/100.000 mulheres Brasil 6,00/100.000 homens 4,64/100.000 mulheres Dados do Brasil – RCBP Taxas de incidência de tumores SNC, ajustadas pela população mundial, por cem mil habitantes 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 São Paulo (1997/1998) Porto Alegre (1993/1997) Goiânia (1996/2000) Recife (1995/1998) Belém (1996/1998) Homens Mulheres Possíveis explicações • Aumento real: • exposição a novo carcinógeno • diminuição da exposição a um fator de proteção • reação tardia à exposição crescente em tenra idade a carcinógeno com latência prolongada • Artificial: • melhoria dos meios diagnósticos: TCC, RM, histologia mais precisa • mudança na CID • mudança de atitude no cuidado à saúde dos idosos • Mais provável: • Que o aumento seja em parte real e em parte artificial • efeito combinado da disponibilidade de – meios diagnósticos mais sofisticados e não invasivos e – mudança de atitude para com os idosos • e da exposição mais intensa a um conjunto de fatores ambientais que interagem entre si, implicados no processo de iniciação e na promoção dos tumores cerebrais • mesmo porque, a tendência ao aumento da incidência já era observada antes da maior disponibilidade desses meios diagnósticos Fatores de risco apontados na literatura • Agregação familiar e fatores genéticos: – história familiar de câncer e síndromes hereditárias • Fatores hormonais e reprodutivos • Exposições ambientais: – pessoais: radiação ionizante e eletromagnética, dieta (compostos N-nitrosos), traumatismo craniano, epilepsia, viroses e outras infecções, exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas, contato com animais e agrotóxicos, cosméticos para cabelos (tintura, henê) – ocupacionais: campos eletromagnéticos, agroquímicos, produção de borracha, derivados do petróleo, produção de vidros, solda, pintura, indústria de cosméticos, indústria de alimentos, bebidas e tabaco, profissionais de saúde Na literatura: exposição ambiental a produtos químicos • exposição domiciliar a pesticidas e inseticidas • contato com animais e agrotóxicos • exposições ocupacionais: – – – – – – – – produção de borracha derivados do petróleo produção de vidros solda pintura indústria de cosméticos indústria de alimentos, bebidas e tabaco profissionais de saúde cosméticos para cabelos (tintura, henê) Residência em Fazenda e Exposição a Animais crianças Estudos Caso-controle Grupo estudado Lugar Estimativa Autor, ano de risco OR = 0,9 McCredie et al, 1994 OR = 0,9 OR = 0,6 Comentários Tumor cérebro New South Wales Tumor cérebro Maryland OR = 4,0* OR = 4,5 Gold et al, 1979 Morou em fazenda e teve exposição a animais Exposição animais de estimação doente Tumor cérebro Los Angeles OR = 0,8 Preston-Martin et al, 1980 Morou em fazenda * estatisticamente significativo Mãe morava em fazenda durante a gravidez Gato em casa durante a gravidez Criança na fazenda com menos 1 mês de idade Exposição a Pesticidas ou Inseticidas - crianças Estudos Caso-controle Grupo estudado Lugar Tumor cérebro Tumor cérebro New South Wales Missouri Estimativa de risco OR = 2,0 Autor, ano Comentários McCredie et al, 1994 Davis et al, 1993 Uso de pesticida na casa durante gravidez Exposição em três períodos: pré-natal, 0-6 meses e mais 7 meses Pesticidas em pragas Tratamento contra cupim Xampu contra larvas de piolho Exposição a pesticidas para animais domésticos Exposição a coleira de pulgas, animais domésticos Exposição a xampu para animais domésticos Pesticida para jardim/pomar Preston-Martin et al, 1982 Exposição pré-natal a pesticidas Exposição a pesticida na infância OR = 1,8-3,4* OR = 2,9* OR = 4,6* OR = 0,6-4,8 OR = 0,9-5,5* OR = 0,5-4,2 OR = 4,6* Tumor cérebro Los Angeles OR =1,5 OR = 0,1 * estatisticamente significativo Trabalho em Agricultura - adultos Ocupação / Indústria Instituto de pesquisa agrícola; pesquisa em solo e fábrica Trabalhadores agrícolas - trabalho com gado de leite - trabalho com ovelhas - trabalho em granja - administração fazenda Fazendeiros (mortalidade por glioblastoma) Fazendeiros com permissão para usar pesticidas Indústria florestal - todos tumores - astrocitomas Indústria agrícola Estimativa de Risco SMR = 469* Período de Local estudo 1960/80 Irlanda Autor, ano Daly et al, 1994 1948/88 Nova Zelândia Preston-Martin et al, 1993 OR = 1,9 1971/87 Canadá Morrison et al, 1992 SMR = 169 1974/87 Norte da Itália Alberghini et al, 1991 1969/78 Washington State Demers et al, 1991 OR = 3,4* OR = 2,7* OR = 3,8* OR = 3,2* OR = 4,6 OR = 8,5* OR = 1,1 * estatisticamente significativo Trabalho em Agricultura – adultos (continuação) Ocupação / Indústria Fazendeiros - trabalho em granja - trabalho com gado de leite - trabalho em pomar, vinha - trabalho geral em fazenda - trabalho em colheita Fazendeiros Por uso de produtos químicos: - não usa - usa produtos químicos - usa inseticidas / fungicidas - usa herbicidas - usa fertilizantes Estimativa de Risco OR = 1,33 OR = 2,59* OR = 1,61 OR = 1,29 OR = 1,11 OR = 1,08 OR = 1,6* Período de Local estudo 1980/84 Nova Zelândia Autor, ano Reif et al, 1989 1983/84 Milão, Itália Musicco et al, 1988 OR = 1,2 OR = 1,6* OR = 2,0* OR = 1,6 OR = 1,4 Fazendeiros, pescadores e caçadores SIR = 110 1961/79 Suécia McLaughlin et al, 1987 Fazendeiros OR = 5,0* 1979/80 Milão, Itália Musicco et al, 1982 * estatisticamente significativo Trabalhadores da Indústria de Borracha Ocupação / Indústria Fábrica de borracha (trabalho 10 anos ou +) Estimativa de Risco SIR = 500* Operários da indústria de borracha SMR = 88 Indústria de borracha e plásticos Gliomas Meningiomas Período de Local estudo 1979/88 Moscou Autor, ano Solionova & Smulevich, 1993 1946/85 Reino Unido Sorahan et al, 1989 1974/85 Los Angeles Preston-Martin, 1989 PIR = 145 PIR = 368* Já trabalhou no processamento de borracha OR = 6,0 1980/84 Los Angeles Preston-Martin, 1989 Já trabalhou na indústria de borracha OR = 9,0* 1979/82 Toronto Burch et al, 1987 Linha de montagem em pneus SMR = 400* 1940/76 Ohio Monson & Fine, 1976 Fabricação de pneus SMR = 190 1940/73 Ohio Monson & Nakano, 1976 Fabricação de borracha aposentados de 40 a 64 anos SMR = 92 SMR = 323* 1964/73 Ohio Andjelkovic et al, 1976 * estatisticamente significativo Trabalhadores em Petroquímica Ocupação / Indústria Trabalhadores refinaria petróleo Estimativa de Risco OR = 8,8* Trabalhadores de usina petroquímica SMR = 147 1941/78 Estados Unidos Teta et al, 1991 Refinaria de petróleo e usina petroquímica refinaria há mais de 30 anos SMR = 76 SMR = 211 1948/83 Texas Marsh et al, 1991 1950/83 Texas Teta et al, 1991 1980/84 Los Angeles Preston-Martin et al, 1989 1972/85 Los Angeles Preston-Martin et al, 1989 Empregados por hora em petroquímica câncer de cérebro tumores de cérebro benignos ou sem especificação Trabalhou com produto de petróleo (gasolina, querosene) Período de Local estudo 1969/78 Washington State Autor, ano Demers et al, 1991 SMR = 181* SMR = 280* OR = 3,6* Petróleo e indústria de produção de carvão gliomas meningiomas PIR = 113 PIR = 252 Carvão e refinaria de petróleo refinaria de petróleo indústria de carvão e outros SIR = 180 SIR = 120 SIR = 260* 1961/79 Suécia McLanghlin et al, 1987 Carvão e produtos de petróleo OR = 3,5* 1959/63 Inglaterra Magnami et al, 1987 Refinaria de petróleo OR = 1,7 1978/80 Filadélfia Thomas et al, 1987 Refinaria de petróleo SMR = 126 1950/80 Califórnia Wong et al, 1986 * estatisticamente significativo Soldadores e Trabalhadores de Eletrônica Ocupação / Indústria Soldadores - todos - glioblastoma Fabricação e conserto de rádio e TV - todos - glioblastoma Estimativa de Risco Período de Local estudo 1961/79 Suécia SIR = 130 SIR = 150* SIR = 290* SIR = 340* * estatisticamente significativo Autor, ano Tornquist et al, 1991 Profissionais de Saúde Ocupação / Indústria Patologistas Estimativa De Risco SMR = 240 Período de Local estudo 1974/87 Reino Unido Médicos, dentistas, profissionais afins Enfermeiras PIR = 152* PIR = 278* 1972/85 Los Angeles Preston-Martin, 1989 Médicas Dentistas (homens) Mulheres empregadas em indústria de cuidado de saúde Indústria de cuidado de saúde, meningiomas em homens SIR = 370* SIR = 210* SIR = 120* SIR = 170 1961/79 Suécia McLanghlin et al, 1987 Dentistas e auxiliares de dentistas - Glioblastoma - Glioma - Meningioma 1961/79 Suécia Ahlbom et al, 1986 SIR = 213* SIR = 182 SIR = 131 Ocupações em diagnóstico em saúde OR = 6,8* 1978/81 Filadélfia Thomas et al, 1986 Patologistas SMR = 300* 1974/80 Reino Unido Harrington & Oakes, 1984 Veterinários PMR = 261* 1966/77 Estados Unidos Blair & Hayes, 1980 * estatisticamente significativo Autor, ano Hall et al, 1991 Tintura e Spray para Cabelos Estudos Caso-controle Grupo estudado Lugar Estimativa Autor, ano de risco OR = 0,8 McCredie et al, 1994 Tumor cérebro, crianças New South Wales Astrocitomas, crianças Delaware Valley OR = 0,9 Kuijten et al, 1990 Mãe usou tintura durante gravidez Tumor cérebro, adultos Toronto OR = 2,0* Burch et al, 1987 Já usou tintura de cabelo ou spray Meningiomas, murlheres Los Angeles OR = 1,0 Preston-Martin et al, 1980 Já usou tintura de cabelo ou spray * estatisticamente significativo Comentários Mãe usou tintura durante gravidez Objetivos do estudo desenvolvido no Rio de Janeiro • Geral: Descrever o padrão da associação entre exposições selecionadas e o desenvolvimento de neoplasias intracranianas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. • Objetivo específico: estimar a magnitude da associação entre a exposição a produtos químicos selecionados (solventes, derivados do petróleo, pesticidas de uso doméstico, cosméticos) e os tumores de cérebro em adultos Variáveis analisadas • exposição a produtos químicos: – armazenagem domiciliar de tintas, solventes, inseticidas, etc. (F1) – hábito de dedetização da casa (G1) – exposição ocupacional a tintas, cosméticos, solventes (H2, H3) – contato com agrotóxicos (J1) – uso de tinturas de cabelo e demais cosméticos: início, freqüência, duração (T2, T4) Metodologia • Estudo caso-controle de base hospitalar • casos incidentes de tumores primários intracranianos: – com idade ao diagnóstico entre 30 e 65 anos – residentes na Região Metropolitana do Rio de Janeiro – internados em hospitais selecionados • controles: – pareados por freqüência de sexo e idade (± 3 anos) – internados nos mesmos hospitais – portadores de nosologias selecionadas • Coleta dos dados: de abril de 1999 a dezembro de 2002 • tamanho amostral: – previsto: 225 casos e 225 controles – realizado: 240 casos e 268 controles • instrumento: entrevista estruturada utilizando protocolo de investigação desenvolvido pela IARC, adaptado à nossa realidade • análise estatística: univariada, bivariada e multivariada • razão de chances brutas e ajustadas e os respectivos intervalos de confiança, utilizando regressão logística não condicional Variáveis estudadas • • • • Dados sociodemográficos características do local de residência história ocupacional história de exposição a poluentes ambientais no local de trabalho e à radiação ionizante • hábitos de vida em geral: uso de cosméticos, tabaco e álcool, além de práticas de lazer, contato com animais • história médica: uso de medicamentos selecionados, história familiar de câncer, antecedentes de traumatismo craniano Resultados Distribuição de casos por diagnóstico histopatológico Diagnóstico histopatológico Meningiomas Gliomas Glioblastoma multiforme Astrocitoma Oligodendroglioma Glioma misto Ependimoma Outros Adenoma de hipófise Neurinoma Hemangioblastoma Tumores embrionários Craniofaringioma Tumores da pineal Total N (%) 85 (44,3) 67 (34,9) 29 (15,1) 24 (12,5) 7 (3,6) 5 (2,6) 2 (1,0) 40 (20,8) 15 (7,8) 8 (4,2) 7 (3,6) 6 (3,1) 2 (1,0) 2 (1,0) 192 (100,0) Distribuição dos controles por diagnóstico Diagnóstico Traumas Miomas Doenças infecciosas Doenças aparelho gênito-urinário Hérnias abdominais Hérnias de disco Doenças aparelho circulatório Doenças endócrinas Artrose Apendicite Queimadura Demais Total Nº 100 25 22 21 21 16 12 11 8 7 7 18 268 % 37,3 9,3 8,2 7,8 7,8 6 4,5 4,1 3 2,6 2,6 6,7 100 Distribuição de variáveis selecionadas Variável Sexo Estratos Masculino Feminino Faixa etária <35 35-39 40-44 45-49 50-54 55-59 60 e + Escolaridade Nenhuma Até a 4ª série De 5ª a 7ª série Completou 1º grau Completou 2º grau Completou 3º grau Casos (%) Controles (%) p-valor 102 (42,5) 106 (39,6) 0,50 138 (57,5) 162 (60,4) 28 (11,7) 27 (11,3) 40 (16,7) 38 (15,8) 44 (18,3) 28 (11,7) 35 (14,6) 35 (13,1) 35 (13,1) 38 (14,2) 58 (21,6) 40 (14,9) 29 (10,8) 33 (12,3) 0,57 11 (4,6) 101 (42,1) 25 (10,4) 45 (18,8) 46 (19,2) 12 (5,0) 16 (6,0) 102 (38,1) 35 (13,1) 52 (19,7) 48 (17,9) 15 (5,6) 0,86 Exposição a pesticidas • Desinsetização – relatado em 10,4% da amostra, sendo de 7,9% nos casos (n = 19) e 12,7% nos controles (n = 34): OR = 0,60 [95% IC: 0,33 – 1,08] • Pesticidas de uso domiciliar – referido por 70,3% da amostra, sendo 163 casos (67,5%) e 192 controles (71,6%): OR = 0,86 [95% IC: 0,59 – 1,26] – 2 casos relataram ter guardado inseticida na residência, mas nenhum controle – todos negaram o armazenamento de agrotóxicos ou outros pesticidas dentro de casa Exposição peridomiciliar • A derivados do petróleo – estimada por relato de residir em rua de tráfego intenso, próximo a posto de gasolina, a refinaria de petróleo, ou a qualquer uma dessas três variáveis, não revelou associação estatisticamente significativa aos tumores intracranianos • A indústrias – residência próxima a uma indústria foi mencionada por 18,7% da amostra analisada, sendo 49 casos e 46 controles (OR = 1,25 [95% IC: 0,80 – 1,96]) – foram relacionadas fábricas de diversos produtos, sendo mais citadas: • ramo farmacêutico (6 casos e 4 controles) e • têxtil (4 casos e 10 controles) Distribuição de freqüências de produtos selecionados armazenados no domicílio, casos de neoplasias intracranianas e controles, Rio de Janeiro, 1999-2002 Produto Casos (%) Controles (%) OR bruta (95% IC) OR ajustada* (95% IC) Solventes 13 (5,4) 2 (0,7) 7,62 (1,70 - 34,11) 7,69 (1,70 - 34,74) Bateria de automóvel 4 (1,7) 1 (0,4) 4,53 (0,50 - 40,77) 4,42 (0,49 - 39,98) Tintas 14 (5,9) 7 (2,6) 2,32 (0,92 - 5,85) 2,33 (0,92 - 5,92) Metais 5 (2,1) 3 (1,1) 1,88 (0,44 - 7,95) 1,77 (0,41 - 7,59) Pneus / borracha 4 (1,7) 5 (1,9) 0,89 (0,24 - 3,36) 0,87 (0,23 - 3,28) Tecido 5 (2,1) 7 (2,6) 0,79 (0,24 - 2,80) 0,82 (0,26 - 2,64) Plástico 1 (0,4) 5 (1,9) 0,22 (0,03 - 1,90) 0,21 (0,02 - 1,84) * OR ajustada por sexo e idade Armazenamento domiciliar de produtos selecionados • a amostra analisada apresentou percentuais bastante reduzidos de contato com outros produtos químicos, sendo o uso estimado por armazenamento domiciliar: – tintas (4,3%), solventes (2,9%), tecidos (2,4%), pneus (1,8%), metais (1,4%), plásticos (1,2%) e baterias de automóveis (0,8%) – armazenamento de solventes (querosene, gasolina, outros) associação positiva e significativa : OR = 7,62 [95% IC: 1,70 – 34,11] – os outros produtos: razão de chances elevadas, sem significância estatística • Restringindo a análise aos gliomas: – aumento da associação com solventes (n = 7 casos e 2 controles; OR = 15,52 [95% IC: 3,14 – 76,57]) – e com tintas (n = 7 casos e 7 controles; OR = 4,42 [95% IC: 1,50 – 13,09]) que se tornou estatisticamente significante Exposição a tinturas e alisantes de cabelos • relato de ter usado algum produto para pintar os cabelos: 47,8% da amostra • freqüência do uso desigual entre os sexos: – H: 26 casos (25,5%) e 20 controles (18,9%) – M: 109 casos (79,0%) e 140 controles (86,4%) • análise por produtos químicos presentes nas fórmulas: – associação positiva entre derivados de cobre (cloreto e sulfato cúpricos) e neoplasias intracranianas, estatisticamente significativa ao ser ajustada por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51]) – erva hené e o peróxido de hidrogênio também apresentaram associação direta, embora sem significância estatística – cabe notar que os derivados de cobre estão presentes apenas em fórmulas de alisantes e henés, não nas tinturas de cabelo Associações positivas Variável Exposição a solventes Dormir com luz acesa História familiar câncer Uso de anticonvulsivantes Traumatismo craniano Contato com coelho Contato com morcego Fumante passivo Casos / Controles 13 / 2 42 / 26 102 / 89 17 / 7 117 / 104 32 / 19 41 / 27 118 / 94 OR (95% IC) 7,62 (1,70 - 34,11) 1,97 (1,17 - 3,33) 1,51 (1,05 - 2,18) 2,85 (1,16 - 6,99) 1,50 (1,06 - 2,14) 2,03 (1,12 - 3,68) 1,84 (1,09 - 3,10) 1,53 (1,02 - 2,30) Discussão Exposição a solventes • Associação positiva de maior magnitude: – OR = 7,35 (95% IC: 1,62 – 33,25) ajustada pela exposição à luminosidade noturna e à história familiar de câncer • a associação mostrou-se restrita aos gliomas: – OR bruta = 15,52 (95% IC: 3,14 – 76,57) • dificuldade nos estudos epidemiológicos: geralmente os indivíduos estiveram expostos a produtos com misturas de solventes, não sendo possível incriminar um agente específico • A literatura revela resultados controversos: • estudos em trabalhadores nos EUA, Suécia e China apresentaram riscos aproximadamente duas vezes maiores em expostos (Brownson et al., 1990; Heineman et al., 1994; Rodvall et al., 1996; Heineman et al., 1995) • metanálise com 55 estudos de coorte relativos à mortalidade de trabalhadores expostos a solventes orgânicos, não revelou excesso de risco para esses tumores (Chen & Seaton, 1996) • O benzeno é largamente utilizado como matériaprima em indústrias químicas e como solvente, embora seja classificado como carcinogênico para seres humanos, estando associado a vários tipos de leucemias (IARC, 1990) – vários solventes freqüentemente utilizados contêm pequenas quantidades de benzeno como impureza, não sendo desprezível a exposição a este agente (Rêgo, 1998) • a exposição ocupacional é mais importante do que a associada a lazer (pintura de vidros, porcelana, etc) – mas esta pode ser elevada se executada em ambientes fechados com diferentes tintas e solventes (Rêgo, 1998) Tinturas para cabelos • As tinturas para cabelos foram incluídas no estudo devido a: – presença de substâncias mutagênicas em sua composição – disseminação do hábito de pintar os cabelos em idade cada vez mais precoce – observação de aumento da mortalidade por tumores cerebrais no Brasil, notadamente no sexo feminino • embora não existam evidências suficientes de carcinogenicidade no uso pessoal das tinturas para cabelos, ela é considerada uma exposição de risco ocupacional para cabeleireiros e barbeiros (IARC, 1993; Holly et al., 2002) • preocupação com o potencial carcinogênico das tinturas para cabelos remonta à década de 70 quando o produto 2,4-diamino-tolueno foi retirado de sua fórmula por ser carcinógeno para ratos (Ames et al., 1975; Bracher et al., 1990) • a exposição atual difere da passada, pois muitas substâncias consideradas mutagênicas ou carcinogênicas foram tiradas de uso nos Estados Unidos e Europa – mas algumas tinturas disponíveis no comércio ainda contem diversos compostos potencialmente carcinogênicos, como os compostos N-nitrosos (especialmente aminas aromáticas), as soluções com base de amônia, o peróxido de hidrogênio e o acetato de chumbo (Lamba e colaboradores, 2001; Holly et al., 2002) • 47,8% dos participantes utilizaram algum tipo de tintura de cabelo – homens: 25,5% dos casos e 18,9% dos controles – mulheres: 79,0% dos casos e 86,4% dos controles • A análise dos produtos presentes nas fórmulas das tinturas e alisantes revelou: – associação positiva entre produtos que continham erva hené (OR = 1,55) e derivados de cobre (OR = 1,79) – a última, estatisticamente significativa ao ser ajustada por idade (OR = 1,88 [95% IC: 1,01 – 3,51]) – essas associações foram mais fortes para meningiomas: • erva hené (OR = 2,51 [95% IC: 1,14 – 5,51]) e • derivados de cobre (OR = 3,14 [95% IC: 1,49 – 6,61]) Análise multivariada Variáveis Contato com solventes Dormir com luz acesa História familiar de câncer beta OR (95% IC) 1,9948 0,6593 0,4220 7,35 (1,63 – 33,25) 1,93 (1,13 – 3,30) 1,52 (1,05 – 2,21) -2 log da verossimilhança 662,836 • O modelo acima foi o que melhor demonstrou o efeito da exposição a fatores ambientais selecionados no desenvolvimento de tumores intracranianos • o antecedente de traumatismos cranianos apresentou uma associação positiva, com significância estatística limítrofe Limites do estudo • O estudo apresenta algumas limitações: – tamanho da amostra: reduzido número para análises estratificadas (sexo, idade, histologia) – problemas potenciais na acurácia da resposta de pacientes com doença grave ou de seus familiares – potencial viés de memória (delineamento caso-controle) – não terem sido coletados dados primários das exposições – realização de comparações múltiplas • são similares às apontadas em outros estudos casocontrole de tumores cerebrais Pontos fortes do estudo • Elevado percentual de participação (94,4%) • confirmação histopatológica de 80% dos casos – segunda leitura em 90% destas • utilização de instrumento validado e empregado em outros estudos, permitindo comparações • treinamento cuidadoso das entrevistadoras e revisão dos questionários Conclusão • A análise da associação entre variáveis ambientais diversas e neoplasias intracranianas permitiu observar que os fatores mais fortemente associados às referidas neoplasias foram: – – – – – a exposição a solventes e a luminosidade noturna a história familiar de câncer os antecedentes de traumatismos cranianos o tratamento com anticonvulsivantes e o uso de produtos para cabelos que incluíam cobre em sua composição • Segundo tipo histológico, essas variáveis foram mais importante para: – Meningiomas: dormir com luz acesa e o uso de alisantes nos cabelos – Gliomas: exposição a solventes, uso de drogas anticonvulsivantes – Ambos: história familiar de câncer e os antecedentes de traumatismos cranianos • os resultados permitem sugerir novos estudos que avaliem com mais profundidade algumas das associações observadas