PRODUÇÃO DE MUDAS DE VIDEIRA ‘NIAGARA ROSADA’ (Vitis labrusca) ENXERTADAS SOBRE O PORTA-ENXERTO ’43-43’ (V. vinifera x V. rotundifolia) Resumo O experimento foi realizado no interior de casa de vegetação, com sistema de nebulização. Propagação vegetativa da videira cv. ‘Niagara Rosada’ enxertada sobre o porta-enxerto ’43-43’. Delineamento experimental inteiramente casualizado, esquema fatorial 5 x 2 (épocas de enxertia x métodos). A enxertia foi realizada em três épocas diferentes: setembro de 2006 (enxertia de inverno), dezembro e março de 2007 (enxertia de verão). Introdução O uso da enxertia teve início quando do aparecimento da filoxera no ano de 1850, na Califórnia e na Europa. Com a disseminação da praga tornou-se impraticável a produção direta da videira. Atualmente um dos fatores mais limitantes na produção de uvas, principalmente na região sul do Brasil, é a ocorrência da praga de solo pérola-da-terra, também conhecida como margarodes (Eurhizococus brasiliensis Hempel) (SIMÃO, 1998). O porta-enxerto de videira ‘43-43’ é um híbrido entre V. vinifera e V. rotundifolia, recentemente introduzido no Brasil. Apresenta como principal característica herdada de V. rotundifolia uma quase imunidade a alguns nematóides como Xiphinema index, e elevada resistência a filoxera e à pérola-daterra (POMMER et al, 1997: PAPA & BOTTON, 2001). O objetivo principal foi o desenvolvimento de uma metodologia para propagação vegetativa da videira cv. ‘Niagara Rosada’ enxertada sobre porta enxerto ’43-43’. Materiais e Métodos O experimento foi realizado, no Centro Politécnico (CEDETEG), pertencente à Universidade Estadual do Centro-Oeste - UNICENTRO, localizada no município de Guarapuava-PR. As mudas foram propagadas no interior de casa de vegetação, com sistema de nebulização. Utilizou-se estacas do porta-enxerto ’43-43’, com três gemas cada (15 a 20cm), após o devido preparo, foram colocadas em sacos de polietileno preto, preenchidos com substrato plantimax® e areia na proporção de 1:1. Para a realização da enxertia foram utilizados, garfos da videira ‘niagara rosada’ retirados momentos antes da enxertia. Para todos os tratamentos os garfos foram de diâmetro compatível ao do porta-enxerto e continham apenas uma gema. Os tratamentos (épocas) foram os seguintes: T1– Estacas herbáceas enraizadas em janeiro de 2006 e enxertadas em setembro de 2006, (enxertia de inverno). T2– Estacas lenhosas enraizadas e enxertadas em setembro de 2006, (enxertia de mesa – inverno). T3– Estacas herbáceas enraizadas em janeiro de 2006 e enxertadas em dezembro de 2006, (enxertia de verão). T4– Estacas semilenhosas, retiradas da parte basal dos ramos em março de 2007, (enxertia de mesa – verão). T5– Estacas herbáceas retiradas das extremidades dos ramos em março de 2007, (enxertia de mesa – verde). Foram utilizadas para cada tratamento, 50 mudas enxertadas pela técnica de fenda cheia e 50 mudas enxertadas pela técnica de inglês complicado. Após 90 dias da enxertia foram avaliadas as seguintes variáveis: Porcentagem de enxertos pegos, número de folhas, comprimento médio da brotação do enxerto a partir da base da brotação, diâmetro médio da base da brotação do enxerto. Resultados e Discussão O T2 e T4 foram excluídos das análises estatísticas por apresentarem para todos os métodos tanto, inglês complicado quanto fenda cheia, resultado igual a zero, isto é, não ocorreu nenhum pegamento de enxertia. A videira muscadínea (Vitis rotundifolia Michx) é considerada uma planta difícil de enraizar. Em relação à porcentagem de pegamento, não houve interação entre os métodos de enxertia e as épocas. O T1 foi significativamente superior em relação aos demais tratamentos (Figura 1). Referente ao método de enxertia os tratamentos não apresentaram diferenças significativas. 50 45 a Pegamento (% ) 40 35 30 b 25 20 15 b 10 5 0 Época 1 Época 3 Época 5 Figura 1 – Porcentagem de pegamento em relação às épocas de enxertia. As médias seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade. Com relação ao comprimento da brotação do enxerto, houve interação. Em relação ao método de enxertia, no T1 e T3 o método fenda cheia foi significativamente superior, obtendo maior comprimento da brotação do que o método inglês complicado, no entanto não houve diferenças para o T5. Em relação ao fator época, observa-se que para o método fenda cheia no T1 e T3 foram significativamente superiores ao T5. Para o método inglês complicado o T3 foi superior, diferindo-se apenas do T5. Em relação à variável número de folhas, os resultados obtidos foram semelhantes ao comprimento da brotação, pois essas variáveis são diretamente proporcionais. Em relação à variável diâmetro da brotação do enxerto não houve interação. Referente à época de enxertia, o T1 foi significativamente superior. Em relação aos métodos de enxertia o método de fenda cheia obteve melhores resultados. A avaliação da porcentagem de pegamento no T3, estacas herbáceas enraizadas em janeiro e enxertadas em dezembro, foi relativamente baixa. Estes resultados podem ser atribuídos também a baixa quantidade de substâncias de reservas nos tecidos do enxerto e porta-enxerto. Segundo Regina citado por REZENDE & PEREIRA (2001), para a formação do calo e soldadura na região da enxertia, é necessário que, tanto no porta-enxerto quanto no enxerto, os tecidos sejam ricos em amido e outras substâncias de reservas. Novas pesquisas em relação ao diâmetro e ao tamanho dos materiais de propagação deveram ser conduzidos para a viabilização do processo. Entre os T4 e T5 houve uma visível diferença, pois segundo Ono & Rodrigues citado por BOTELHO et al. (2005), tal fato pode ser atribuído ao maior grau de lignificação das estacas da base que parece estar correlacionado diretamente à presença de enzimas tais como as peroxidases, que estão envolvidas tanto na síntese de lignina como na degradação de auxina. As estacas herbáceas que foram colocadas para enraizar em janeiro de 2006, obtiveram o enraizamento de 91,7 %. De forma semelhante BOTELHO et al. (2005), para a propagação vegetativa do porta-enxerto de videira ’43-43’ foram verificados para o uso de estacas herbáceas não tratadas com reguladores vegetais, que apresentaram alta porcentagem de enraizamento (92,0%) e brotação (84,0%). Conclusões Referente à época de enxertia, o melhor resultado foi obtido no T1, enraizamento em janeiro e enxertia em setembro, para a variável porcentagem de pegamento e o diâmetro da base da brotação. O T3, estacas herbáceas enraizadas em janeiro e enxertadas em dezembro, pelo método fenda cheia foi significativamente superior, para as variáveis número de folhas e comprimento médio da brotação do enxerto. Em relação aos métodos de enxertia, o método que se destacou foi à enxertia de fenda cheia, referente às variáveis, número de folhas, comprimento e diâmetro da brotação. Em relação à variável porcentagem de pegamento, não obtive diferenças significativas entre os métodos de enxertia. Referências R. V. Botelho et al. Efeitos de reguladores vegetais na propagação vegetativa do porta-enxerto de videira '43-43' (Vitis vinifera x V. rotundifolia). Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, v. 27, n. 1, 2005 L. P. Rerende.; F. M. Pereira. Produção de mudas de videira 'rubi' pelo método de enxertia de mesa em estacas herbáceas dos porta-enxertos iac 313 'tropical' e iac 766 'campinas'. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, v. 23, n. 3, 2001 S. Simão. Tratado de Fruticultura. Ed.: FEALQ Piracicaba 1998; 760 p. G. Papa; M. Botton. Pragas da videira. In: A. C. Boliani.; L. S. Corrêa. Cultura de uvas de mesa: do plantio á comercialização. Ed.: Algraf, Piracicaba, 2001; p.201202 C. V. Pommer; I. R. S. Passos; M. M. Terra; E. J. P. Pires. Variedades de videira para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico, 1997. 59p. (Boletim técnico, 166)