Universidade do Estado do Rio de Janeiro Centro de Tecnologia e Ciências Instituto de Física Armando Dias Tavares Sandra da Silva Pedro Propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais Cs2 N aAlF6 dopados com cromo trivalente Rio de Janeiro 2011 Sandra da Silva Pedro Propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais Cs2 N aAlF6 dopados com cromo trivalente Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Física, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Orientadora: Profª. Drª. Lilian Pantoja Sosman Coorientadora: Profª. Drª. Heloisa Nunes Bordallo Rio de Janeiro 2011 CATALOGAÇÃO NA FONTE UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CTC/D P372 Pedro, Sandra da Silva. Propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais Cs2 NaAlF6 dopados com cromo trivalente / Sandra da Silva Pedro. - 2011. 193f.: il. Orientadora: Lilian Pantoja Sosman. Coorientadora: Heloisa Nunes Bordallo. Tese (Doutorado) - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Física Armando Dias Tavares. 1. Luminescência - Teses. 2. Cristais - Propriedades magnéticas - Teses. I. Sosman, Lilian Pantoja. II. Bordallo, Heloisa Nunes. III. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Instituto de Física Armando Dias Tavares. III. Título. CDU 535.37 Autorizo, apenas para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta tese. Assinatura Data Sandra da Silva Pedro Propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais Cs2 N aAlF6 dopados com cromo trivalente Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Física da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Aprovada em 09 de Agosto de 2011. Banca Examinadora: Profª. Drª. Lilian Pantoja Sosman (Orientadora) Instituto de Física Armando Dias Tavares - UERJ Profª. Drª. Heloisa Nunes Bordallo (Coorientadora) University of Copenhagen Prof. Dr. Fernando Iikawa Universidade Estadual de Campinas Dr. Fabiano Yokaichiya Laboratório Nacional de Luz Síncrotron Prof. Dr. Ricardo Borges Barthem Universidade Federal do Rio de Janeiro Prof. Dr. Raul José da Silva Câmara Mauricio da Fonseca Instituto de Física Armando Dias Tavares - UERJ Prof. Dr. Pedro Jorge von Ranke Perlingeiro Instituto de Física Armando Dias Tavares - UERJ Profª. Drª. Ada Petronila López Giménez Instituto de Física Armando Dias Tavares - UERJ Rio de Janeiro 2011 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Antonio e Maria da Paz AGRADECIMENTOS Aos meus pais, que me apoiaram ao longo desta grande e interessante jornada. À minha orientadora, Profa. Dra. Lilian Pantoja Sosman por todos os anos de orientação, desde a época que eu era um "Jovem Talento"até os dias de hoje, pela grande amizade e confiança no meu desenvolvimento como pessoa e como cientista. À minha co-orientadora, Profa. Dra. Heloisa Nunes Bordallo pela orientação, pelo apoio durante a estadia na Alemanha e pelos conselhos de como me tornar uma pesquisadora independente e decidida. Aos professores do Instituto de Física, por todo o aprendizado adquirido ao longo deste tempo. Ao Prof. Dr. Ricardo Barthem do Instituto de Física da UFRJ, por possibilitar a realização de parte das medidas de luminescência na temperatura ambiente. Ao prof. Dr. Fernando Iikawa do IFGW-UNICAMP pelo auxílio nas medidas de luminescência na temperatura ambiente, baixas temperaturas e luminescência resolvida no tempo. Ao Dr. Fabiano Yokaichyia do LNLS, pela ajuda com o tratamento de dados e com a realização das medidas na Alemanha. Aos pesquisadores do Helmholtz Zentrum Berlin für Materialen und Energie, Dr. Konrad Siemensmeyer e Dr. Manfred Reehuis pelo auxílio nas medidas de calor específico, susceptibilidade magnética e difração de nêutrons. À Sub-reitoria de Pós Graduação e Pesquisa da UERJ (SR-2), em especial à sub-reitora Monica da Costa Pereira Lavalle Heilbron por tornar possível a viagem para Alemanha, para realização de parte do trabalho contido nesta tese. Ao secretário da Pós Graduação Rogério pela enorme ajuda em diversos momentos. À todos os colegas, em especial Greice Kelly, Raimundo e Marcello, pelas longas conversas, risos e momentos de descontração. À Capes e a FAPERJ pelo apoio financeiro. RESUMO PEDRO, Sandra da Silva. Propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais Cs2 N aAlF6 dopados com cromo trivalente. 2011. 193 f. Tese (Doutorado em Física) - Instituto de Física Armando Dias Tavares, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2011. Este trabalho teve por objetivo a realização do estudo das propriedades ópticas, magnéticas e estruturais do cristal elpasolita Cs2 N aAlF6 dopado com as concentrações de 0,1%, 1,0%, 3,0%, 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ . O interesse no estudo deste sistema reside na existência de uma larga e intensa banda de luminescência na temperatura ambiente, que se estende do visível ao infravermelho próximo, podendo então ser utilizado como fonte de radiação sintonizável em dispositivos ópticos, optoeletrônicos e detectores, entre outros. Para a investigação das propriedades ópticas foram feitas medidas de luminescência, excitação e luminescência resolvida no tempo, na temperatura ambiente e a baixas temperaturas. Os resultados obtidos mostram largas bandas de luminescência atribuídas aos íons de Cr3+ , ocupando dois sítios octaédricos não equivalentes. Os resultados também mostram que a intensidade integrada da luminescência, o baricentro da banda de emissão e o tempo de vida do estado luminescente variam com a concentração de impureza residente no sistema. Foram realizadas medidas de calor específico em função do campo magnético em uma larga faixa de temperatura, cujos resultados mostram o aparecimento do efeito Schottky a baixas temperaturas. Medidas de susceptibilidade magnética em funcão da temperatura também foram realizadas, e mostram um comportamento paramagnético, típico do íon impureza Cr3+ , com um ordenamento magnético de curto alcance. Para a determinação das propriedades estruturais foram realizadas medidas de difração de nêutrons na temperatura ambiente. Palavras-chave: Monocristais. Luminescência. Cr3+ . ABSTRACT This work is devoted to study the optical, magnetic and structural properties of the elpasolite crystal Cs2 N aAlF6 with 0.1, 1.0, 3.0, 10.0, 30.0 and 50.0% of Cr3+ ions. The interest on this material lies on the fact that such system presents a broad, intense band in the visible and infrared regions at room temperature and therefore can be used as a tunable radiation source in optical, optoelectronic devices and detectors, among others. To investigate the optical properties luminescence, excitation and time-resolved luminescence measurements at room and low temperatures were realized. The results show broad bands attributed to the Cr3+ ions in two non-equivalent sites, both of them with octahedral coordination. The results also show that the luminescence integrated intensity, emission baricenter and luminescence lifetime change with the change of impurity doping. Specific heat measurements were performed as a function of magnetic field in a wide temperature range, whose results show the appearance of the Schottky effect at very low temperatures. The magnetic susceptibility measurements show a paramagnetic behavior, typical of the dopant ion Cr3+ , with a short-range magnetic ordering. To determine the structural properties, neutron diffraction measurements were realized at room temperature. Keywords: Single crystals. Luminescence. Cr3+ . LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Figura 2 Figura 3 Figura 4 - Simetria cúbica. Fonte: UC Davis Chemwiki [41]. . . . . . . . . . . . . . . . Simetrias (a) tetraédrica e (b) octaédrica. Fonte: wikipedia.org [42] e [43]. . . Orbitais d. Fonte: wikipedia.org [44]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Desdobramento dos níveis de energia do íon livre na presença de campo cristalino (a) Simetria octaédrica; (b) Simetria tetraédrica. . . . . . . . . . . . . . Figura 5 - Diagrama de níveis de energia de Tanabe-Sugano para a configuração eletrônica d3 . O eixo horizontal está em termos de ∆/B, onde ∆ = 10Dq e B é o parâmetro de Racah. O eixo vertical está em termos de E/B, onde E é a energia da transição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 6 - Diagrama de coordenadas configuracionais, mostrando parábolas representando os níveis de energia fundamental (a) e excitado (b) e seus respectivos estados vibracionais (linhas pontilhadas). O eixo horizontal está em termos das coordenadas configuracionais Q, onde Q0 é o valor de equilíbrio. . . . . . Figura 7 - O espectro eletromagnético. Adaptado de wikipedia.org [51]. . . . . . . . . . Figura 8 - Esquema da transição entre dois estados. (a) Absorção de luz, levando o sistema para um estado excitado; e (b) Decaimento para o estado fundamental, não radiativamente (setas pontilhadas) e radiativamente, por emissão de luz (seta cheia). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 9 - Diagrama de Tanabe-Sugano simplificado para a configuração d3 , mostrando apenas o estado fundamental e os dois primeiros níveis excitados. O eixo horizontal está em termos de ∆/B, onde ∆ = 10Dq e B é o parâmetro de Racah. O eixo vertical está em termos de E/B, onde E é a energia da transição. A linha pontilhada marca o cruzamento dos dois primeiros níveis excitados e depende do parâmetro de Racah C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 10 - Modos de vibração do complexo octaédrico [CrF6 ]3− . . . . . . . . . . . . . Figura 11 - Capacidade térmica adimensional em função da temperatura de acordo com os modelos de Dulong-Petit (linha pontilhada horizontal), Einstein e Debye. O eixo horizontal é a temperatura absoluta dividida pela temperatura T0 (onde T0 é a temperatura de Einstein ou Debye, dependendo do modelo considerado). Fonte: wikipedia.org [60]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 12 - (a) Material paramagnético na temperatura ambiente sem aplicação de campo. (b) Material paramagnético na temperatura ambiente com campo magnético fraco. (c) Material paramagnético na temperatura ambiente com campo magnético forte. Fonte: wikipedia.org [72]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24 25 25 26 30 32 35 38 43 45 49 56 Figura 13 - (a) Ferromagnetismo. (b) Antiferromagnetismo. (c) Ferrimagnetismo. Todas as figuras referem-se à temperatura ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 14 - Eixos e ângulos cristalográficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 15 - Arranjo vetorial mostrando o vetor de onda do nêutron incidente ⃗ki , do nêu⃗ . . . . . . . . . . . . . . . . . . tron espalhado ⃗kf e o vetor espalhamento Q. Figura 16 - Cristais de Cs2 N aAlF6 mostrando as respectivas porcentagens do dopante Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 17 - Esquema do equipamento usado para as medidas de luminescência. . . . . . . Figura 18 - Esquema do equipamento usado para as medidas de excitação. . . . . . . . . Figura 19 - (a) Amostra colocada na espátula; (b) Sistema espátula + cola + amostra com as partes da cápsula nas extremidades da espátula. . . . . . . . . . . . . . . . Figura 20 - Amostra inserida no porta-amostra pronta para a realização das medidas magnéticas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 21 - Detalhes do interior do magnetômetro MPMS-5T. Fonte: MPMS Quantum design [92] e McElfresh [93]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 22 - Imagem ampliada da amostra aderida à plataforma. . . . . . . . . . . . . . . Figura 23 - Esquema do interior do equipamento PPMS. Em (b), temos os detalhes dos componentes presentes na região destacada em (a). Fonte: PPMS - Quantum design [95]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 24 - Detalhe do interior da câmara do equipamento PPMS. Fonte: PPMS - Quantum design [95]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 25 - Esquema de um difratômetro de 4 ciclos destacando a orientação dos ângulos. Fonte: ILL website [97]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 26 - Esquema da amostra posicionada no difratômetro. (1) monocromador; (2) colimador; (3) ciclo fechado; (4) amostra; (5) detector 2D. Fonte: E5 Four-cicle Diffractometer [96]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 27 - Estrutura do sistema Cs2 N aAlF6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 28 - Esquema dos dois sítios octaédricos presentes no sistema Cs2 N aAlF6 . . . . . Figura 29 - Espectro de fotoluminescência do sistema Cs2 N aAlF6 para diversas concentrações (0,1%; 1,0%; 3,0%; 10,0%; 30,0% e 50,0% de Cr3+ ) obtido na temperatura ambiente com fonte de excitação com comprimento de onda de 632,8 nm. Os valores em comprimento de onda vistos na figura indicam a posição em que o sinal foi maximizado para obtenção do espectro. . . . . . . . . . . Figura 30 - Variação da intensidade integrada com a concentração de impureza no sistema Cs2 N aAlF6 : Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 31 - Variação do comprimento de onda onde ocorre o máximo da banda com a concentração de impureza no sistema Cs2 N aAlF6 : Cr3+ . . . . . . . . . . . 58 65 66 76 78 80 83 83 84 85 87 87 88 89 92 92 93 95 95 Figura 32 - Espectro de luminescência obtido na temperatura ambiente para a amostra contendo 0,1% de Cr3+ . A curva preta mostra a luminescência com uma fase que maximiza o sinal em 774 nm, a curva em vermelho foi obtida com uma fase que minimiza o sinal em 825 nm (obtendo uma banda com baricentro em 719 nm) e a curva azulada com um fase que minimiza o sinal em 715 nm (obtendo uma banda com baricentro em 779 nm). Os valores entre parênteses mostram o tenmpo de vida das respectivas bandas. . . . . . . . . . . . . . . . Figura 33 - Etapas para obtenção do tempo de vida da luminescência através da técnica de luminescência resolvida no tempo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 34 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 0,1% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 710-730 nm; em (b), intervalo 770790 nm; e em (c), intervalo 830-850 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 35 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 1,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 710-730 nm; em (b), intervalo 770790 nm; e em (c), intervalo 830-850 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 36 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 3,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 725-745 nm; em (b), intervalo 785805 nm; e em (c), intervalo 845-870 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 37 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 10,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 730-750 nm; em (b), intervalo 790810 nm; e em (c), intervalo 850-875 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 38 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 30,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 730-750 nm; em (b), intervalo 790810 nm; e em (c), intervalo 850-875 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 39 - Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 50,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 735-755 nm; em (b), intervalo 795815 nm; e em (c), intervalo 855-880 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 40 - Espectros de excitação na temperatura ambiente da emissão em 714 nm. . . . Figura 41 - Espectros de excitação na temperatura ambiente da emissão em 780 nm. . . . Figura 42 - Excitação em 714 nm na temperatura ambiente da amostra de 0,1%. . . . . . Figura 43 - Excitação em 780 nm na temperatura ambiente da amostra de 0,1%. . . . . . Figura 44 - Excitação em 714 nm na temperatura ambiente da amostra de 1,0%. . . . . . Figura 45 - Excitação em 780 nm na temperatura ambiente da amostra de 1,0%. . . . . . 97 98 101 102 103 104 105 106 109 109 110 111 113 114 Figura 46 - Espectros de emissão da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura de 4,4 K. Na parte superior (a), temos o espectro obtido com uma fase que maximiza o sinal em 672 nm e na parte inferior (b) o espectro obtido com a fase que zera o sinal em 672 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Figura 47 - Espectro de emissão da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ na temperatura de 4,1 K. Na parte superior (a), temos o espectro obtido com uma fase que maximiza o sinal em 672 nm e na parte inferior (b) o espectro obtido com a fase que zera o sinal em 672 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118 Figura 48 - Espectro de emissão da amostra dopada com 3,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 706 nm na temperatura de 5,4 K. . . . . . . . . . . 119 Figura 49 - Espectro de emissão da amostra dopada com 10,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 706 nm na temperatura de 5,4 K. . . . . . . . . . . 119 Figura 50 - Espectro de emissão da amostra dopada com 30,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 708 nm na temperatura de 5,4 K. . . . . . . . . . . 120 Figura 51 - Espectro de emissão da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 708 nm na temperatura de 5,4 K. . . . . . . . . . . 120 Figura 52 - Espectro de excitação a 5,6 K das amostras dopadas com 3,0%, 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ . Para todos os espectros, vemos a excitação da emissão em 708 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Figura 53 - Excitação a 5,6 K da amostra Cs2 N aAlF6 : Cr3+ (0,1%) em 702 nm. . . . . 126 Figura 54 - Excitação a 5,6 K da amostra Cs2 N aAlF6 : Cr3+ (1,0%) em 702 nm. . . . . 127 Figura 55 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. . 130 Figura 56 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ . . 130 Figura 57 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 3,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. . 131 Figura 58 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 131 Figura 59 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 132 Figura 60 - Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 132 Figura 61 - Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 50 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. . . . . . 133 Figura 62 - Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 Figura 63 - Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 100 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. . . . . . Figura 64 - Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 65 - Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 100 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. . . . . . Figura 66 - Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 67 - Calor específico em função da temperatura para as amostras dopadas com 1,0% e 30,0% de Cr3+ a campo nulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 68 - Calor específico em função da temperatura e campo magnético para amostra dopada com 1,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 69 - Calor específico em função da temperatura e campo magnético para amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 70 - Calor específico da amostra de 1,0% sem campo magnético com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). . . . . . . . . . . . . . . Figura 71 - Calor específico da amostra de 1,0% com campo de 5 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). . . . . . . . . . Figura 72 - Calor específico da amostra de 1,0% com campo de 10 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). . . . . . . . . . Figura 73 - Calor específico da amostra de 30,0% sem campo magnético com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). . . . . . . . . . . . . . . Figura 74 - Calor específico da amostra de 30,0% com campo de 5 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). . . . . . . . . . Figura 75 - Calor específico da amostra de 30,0% com campo de 10 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). . . . . . 134 134 135 135 137 138 138 140 141 141 142 143 143 Figura 76 - Espectro de luminescência maximizado em 672 nm na temperatura de 4,4 K da amostra de 0,1%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 Figura 77 - Espectro de luminescência com o sinal zerado em 672 nm na temperatura de 4,9 K da amostra de 0,1%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Figura 78 - Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 672 nm na temperatura de 4,1 K da amostra de 1,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175 Figura 79 - Espectro de luminescência com o sinal zerado em 672 nm na temperatura de 4,1 K da amostra de 1,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 80 - Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 706 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 3,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 81 - Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 706 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 10,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 82 - Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 708 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 30,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 83 - Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 708 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 50,0%. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 84 - Exemplos de imagens de reflexões consideradas boas para serem utilizadas no refino. Abaixo de cada imagem temos o valor de (hkl) correspondente à respectiva reflexão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 85 - Exemplos de imagens de reflexões consideradas ruins para serem utilizadas no refino. Abaixo de cada imagem temos o valor de (hkl) correspondente à respectiva reflexão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 86 - Barra de ferramentas do Fullprof. As setas indicam os programas usados no processo de refinamento. (1) Gui Datared; (2) EditPCR; (3) Fullprof e (4) WinPLOTR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 87 - Interface do programa Gui Datared. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 88 - Interface do programa EditPCR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Figura 89 - Interface do programa WinPLOTR. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 179 181 183 185 188 189 190 191 192 192 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Números quânticos, configuração eletrônica e termos do íon Cr3+ . . . . . . . Tabela 2 - Termos de energia para a configuração d3 em termos dos parâmetros de Racah A, B e C e seus desdobramentos em campo octaédrico, de acordo com Henderson e Imbusch [37]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 3 - Técnicas espectroscópicas mais conhecidas com suas respectivas fontes de excitação e faixas de energia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 4 - Faixas em energia e comprimentos de onda aproximados do espectro visível, segundo Jaque [50]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 5 - Diferentes formas de luminescência em materiais a partir das suas fontes de excitação [50]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 6 - Intervalo possível da distância em energia das transições vibracionais (em relação à linha zero fônon) para o complexo octaédrico [CrF6 ]3− [11, 12, 19, 21, 24, 25]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 29 35 36 39 46 Tabela 7 - Diversos tipos de comportamento magnético em função da susceptibilidade do material [71]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 Tabela 8 - Classificação dos nêutrons de acordo com sua energia E [74]. . . . . . . . . . 64 Tabela 9 - Especificações do difratômetro E5 (Fonte: E5 Four-cicle Diffractometer [96]). 90 Tabela 10 -Tempos de vida obtidos através do método de deslocamento de fase (terceira coluna - τDF ) e os tempos obtidos através da fotoluminescência resolvida no tempo (quarta coluna - τRT ). O comprimento de onda (λ) na segunda coluna refere-se ao comprimento de onda onde o tempo de vida foi calculado pelo deslocamento de fase. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 11 -Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 714 nm. . . . . . . . . . . . . . Tabela 12 -Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 780 nm. . . . . . . . . . . . . . Tabela 13 -Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 1,0% com emissão em 714 nm. . . . . . . . . . . . . . 100 110 112 113 Tabela 14 -Comprimento de onda das transições e parâmetros espectroscópicos calculados para a amostra de 0,1% a partir do estado inicial 4 A2 (4 F ) pela excitação das emissões em 714 e 780 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 15 -Comprimento de onda das transições e parâmetros espectroscópicos calculados para a amostra de 1,0% a partir do estado inicial 4 A2 (4 F ) pela excitação das emissões em 714 e 780 nm. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 16 -Deslocamento de Stokes (ES ), parâmetro de Huang-Rhys (S), energia do fônon (~ω) e largura a meia altura da banda (Wcalc ) calculados de acordo com a referência [108] a partir das transições entre os estados 4 T2 (4 F ) e 4 A2 (4 F ) para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura ambiente. Wexp é a largura a meia altura da banda de luminescência obtida experimentalmente. Na última coluna, temos a diferença entre Wcalc e Wexp . . . . . . . . . . . . . Tabela 17 -Modos de vibração (em cm−1 ) para o sistema Cs2 N aAlF6 com as diversas concentrações de Cr3+ analisadas, obtidos a baixas temperaturas (em torno de 5 K) para o sítio S1. Para as amostras com dopagem igual ou superior a 3,0%, os modos para o sítio S1 não foram identificados. . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 18 -Modos de vibração (em cm−1 ) para o sistema Cs2 N aAlF6 com as diversas concentrações de Cr3+ analisadas, obtidos a baixas temperaturas (em aproximadamente 5 K) para o sítio S2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 19 -Tempos de vida (τLT ) obtidos através do método de deslocamento de fase para as medidas de luminescência a baixas temperaturas. O comprimento de onda (λ) na segunda coluna refere-se ao comprimento de onda onde o tempo de vida foi calculado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 20 -Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 702 nm a 5,6 K. . . . . . . . . . Tabela 21 -Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 1,0% com emissão em 702 nm a 5,6 K. . . . . . . . . . Tabela 22 -Parâmetros da medida de difração de nêutrons na temperatura ambiente para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Tabela 23 -Posições atômicas e ocupação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 115 117 122 122 124 127 128 145 146 Tabela 24 -Atribuição das transições do sítio S1 - Amostra 0,1% maximizada em 672 nm. 172 Tabela 25 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 0,1% zerado em 672 nm. . . . 174 Tabela 26 -Atribuição das transições do sítio S1 - Amostra 1,0% maximizada em 672 nm. 176 Tabela 27 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 1,0% zerada em 672 nm. . . . 178 Tabela 28 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 3,0% maximizada em 706 nm. 180 Tabela 29 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 10,0% maximizada em 706 nm.182 Tabela 30 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 30,0% maximizada em 708 nm.184 Tabela 31 -Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 50,0% maximizada em 708 nm.186 SUMÁRIO 1 1.1 1.2 1.3 1.4 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.5 2.6 3 3.1 3.2 3.2.1 3.2.2 3.2.3 3.2.4 3.2.5 3.3 3.3.1 3.3.2 3.3.3 3.3.4 3.3.5 3.3.6 4 4.1 4.2 4.3 4.4 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . TEORIA DE CAMPO CRISTALINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Hamiltoniano de campo cristalino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Efeitos do campo cristalino em íons de metais de transição . . . . . . . . . . . Teoria de Tanabe-Sugano para sistemas d3 e propriedades do íon Cr3+ . . . . ESPECTROSCOPIA DE MATERIAIS DOPADOS COM METAIS DE TRANSIÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Regras de seleção para as transições ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Espectroscopia de absorção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Luminescência e excitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Espectroscopia em sistemas com Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Transições vibracionais do complexo octaédrico [CrF6 ]3− . . . . . . . . . . . PROPRIEDADES TERMO-MAGNÉTICAS EM SÓLIDOS . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Propriedades térmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Calor específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Comportamento do calor específico em sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Modelo de Einstein para o calor específico em sólidos . . . . . . . . . . . . . . . Modelo de Debye para o calor específico em sólidos . . . . . . . . . . . . . . . . Anomalia no calor específico: efeito Schottky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Propriedades magnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Susceptibilidade magnética e magnetização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Diamagnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Paramagnetismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Paramagnetismo em isolantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Ferromagnetismo, antiferromagnetismo e ferrimagnetismo . . . . . . . . . . . . Efeito do campo cristalino nas propriedades magnéticas . . . . . . . . . . . . . . TEORIA DA DIFRAÇÃO DE NÊUTRONS EM MONOCRISTAIS E MÉTODO DE RIETVELD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O nêutron: características gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Difração de nêutrons em monocristais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Método de Rietveld . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 20 20 21 23 27 34 34 36 37 38 42 44 47 47 47 47 48 50 50 52 53 53 54 55 56 57 59 61 61 62 64 69 4.4.1 4.4.2 5 5.1 5.2 5.3 5.3.1 5.3.2 5.3.3 5.3.4 5.4 5.5 5.6 6 6.1 6.2 6.3 6.3.1 6.3.2 6.3.3 6.3.4 6.4 6.4.1 6.4.2 6.5 7 Modelo Teórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fatores de concordância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . O TRABALHO EXPERIMENTAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Descrição das amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas Ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de luminescência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de excitação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de tempo de vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de luminescência resolvida no tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de susceptibilidade e histerese magnética . . . . . . . . . . . . . . . Medidas de capacidade térmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Difração de nêutrons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Descrição da estrutura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas Ópticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Fotoluminescência na temperatura ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Excitação na temperatura ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Luminescência a baixas temperaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Excitação a baixas temperaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Medidas magnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Susceptibilidade e histerese magnéticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Calor específico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Difração de nêutrons . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . CONCLUSÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . APÊNDICE A - CÁLCULOS DAS TRANSIÇÕES E PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cálculo das transições e parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Cálculos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . Cálculos para a amostra dopada com 1,0% de Cr3+ . . . . . . . . . . . . . . APÊNDICE B - CÁLCULOS DO PARÂMETRO DE HUANG-RHYS S E ENERGIA DO FÔNON DE ACORDO COM LUO E HUANG . . . . . . . . APÊNDICE C - ATRIBUIÇÃO DAS TRANSIÇÕES VIBRACIONAIS DOS ESPECTROS DE LUMINESCÊNCIA A BAIXAS TEMPERATURAS . . . . Amostra com 0,1% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 672 nm . . . Amostra com 0,1% de Cr3+ com a fase que zera o sinal em 672 nm . . . . . . Amostra com 1,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 672 nm . . . 69 71 75 75 75 76 76 79 80 81 82 85 88 91 91 91 92 93 107 117 124 128 128 136 144 147 151 161 161 162 165 168 171 171 173 175 Amostra com 1,0% de Cr3+ com a fase que zera o sinal em 672 nm . . . . . . Amostra com 3,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 706 nm . . . Amostra com 10,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 706 nm . . Amostra com 30,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 708 nm . . Amostra com 50,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 708 nm . . APÊNDICE D - ROTEIRO PARA O REFINO DE MONOCRISTAL POR DIFRAÇÃO DE NÊUTRONS UTILIZANDO O SOFTWARE FULLPROF . Seleção das reflexões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Preparação do arquivo de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Preparação do arquivo de instruções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Arquivos para análise do refino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177 179 181 183 185 187 187 190 191 191 18 INTRODUÇÃO Ao longo dos anos, o estudo de sistemas dopados com metais de transição vem sendo realizado com a finalidade de se descobrir e desenvolver novos materiais, que apresentem propriedades ópticas interessantes do ponto de vista econômico e tecnológico [1]. Em vista disso, tem havido um renovado interesse em materiais dopados com íons de metais de transição com a camada 3d incompleta. Esta camada possui um grande número de níveis de energia entre os quais as transições ópticas podem ocorrer e consequentemente gerar luminescência. Os espectros ópticos destes materiais exibem propriedades interessantes, apresentando luminescência numa larga faixa espectral entre o visível e o infravermelho próximo, com longos tempos de vida no estado luminescente. Estas características permitem o uso de tais materiais como fontes de radiação sintonizável. Esses materiais, por exibirem tais propriedades, podem ser utilizados para diversas aplicações tecnológicas, como por exemplo: transmissão de sinais [2], construção de displays [3] e lasers de estado sólido sintonizáveis na temperatura ambiente [1], sensores ópticos [4], dispositivos eletroluminescentes [5] e termoluminescentes [6], amplificadores de banda larga [7], detectores de radiação [8], fontes de luz com emissão branca [9, 10], e entre outros dispositivos, nas mais diversas áreas como medicina, metrologia, comunicações e pesquisa, apenas para destacar algumas [11]-[18]. A largura das bandas de emissão se deve ao acoplamento elétron-fônon, que ocorre entre os elétrons do metal de transição e as transições vibracionais da rede cristalina do sistema hospedeiro. Entretanto, este acoplamento tende a aumentar os mecanismos de decaimento não radiativo, levando a uma potencial diminuição do tempo de vida da luminescência. Por este motivo, torna-se importante a procura e o estudo de novos sistemas com energias de fônon pequenas, minimizando os efeitos de origem não radiativa. Alguns fluoretos dopados com metais de transição possuem as propriedades ópticas mencionadas com longos tempos de vida no estado excitado, sendo, por isso, materiais com grande potencial para as aplicações tecnológicas descritas. Vários trabalhos foram relatados na literatura sobre as propriedades ópticas de compostos fluoretos dopados com metais de transição [19]-[28]. Esta tese tem por objetivo dar uma contribuição no entendimento destes materiais, realizando um profundo estudo sobre as propriedades ópticas, magnéticas e estruturais de monocristais fluoretos Cs2 N aAlF6 dopados com diversas concentrações do metal de transição cromo trivalente (Cr3+ ). Dentre as propriedades que motivaram o estudo deste sistema estão as largas e intensas bandas observadas na região do visível e infravermelho próximo, com longos tempos de vida do estado luminescente, baixa energia do fônon, que atenua os efeitos de origem não radiativa e alta eficiência quântica. Tais características fazem deste um material eficiente para utilização 19 de algumas das aplicações mencionadas anteriormente. Além disso, este sistema apresenta um curioso efeito relacionado às suas propriedades magnéticas: o efeito Schottky, caracterizado por um crescimento anômalo do calor específico a temperaturas muito baixas, quando o íon se encontra imerso em um campo cristalino [29]. O sistema fluoreto Cs2 N aAlF6 possui estrutura hexagonal do tipo perovskita com parâmetros de rede a= b = 6,192 Å e c = 29,839 Å [30], onde os cátions de Na+ e Al3+ se encontram ordenados e envoltos octaedricamente por ânions de F− . Comparando os valores de raios iônicos, e a valência do íon dopante dos cátions da estrutura (Na+ e Al3+ ), acreditamos que haja uma maior probabilidade de que o Cr3+ substitua o Al3+ ao ser inserido na rede hospedeira, devido à maior proximidade entre os raios iônicos e a mesma valência dos íons mencionados. Além disso, este sistema possui dois sítios não equivalentes que podem ser ocupados pela impureza inserida no sistema. Diversos trabalhos sobre este sistema já foram publicados, além do já citado trabalho de Bordallo e colaboradores [30], que analisa a estrutura cristalográfica deste sistema, os artigos de Fonseca, Sosman e colaboradores [12] e [31], além do trabalho de Torchia [32] analisam as propriedades ópticas deste material dopado com 0,5% de Cr3+ . Por fim, o trabalho de Sosman [33], apresenta medidas de espectroscopia Raman e analisa algumas propriedades magnéticas do sistema em estudo. No Capítulo 1 desta tese é mostrada uma breve introdução da teoria de campo cristalino e particularmente os seus efeitos em sistemas dopados com Cr3+ . O Capítulo 2 é dedicado à espectroscopia de sistemas dopados com metais de transição, com destaque para a teoria de luminescência e excitação e a análise das transições ópticas. O Capítulo 3 é dedicado à abordagem das propriedades térmicas e magnéticas de sólidos. No Capítulo 4 é apresentada a teoria da difração de nêutrons em monocristais e a técnica de refinamento de Rietveld com ênfase no refinamento de amostras monocristalinas. No Capítulo 5 são detalhadas as técnicas experimentais utilizadas ao longo do trabalho. Por fim, no Capítulo 6 e nas Conclusões os resultados obtidos são apresentados e discutidos. 1 TEORIA DE CAMPO CRISTALINO 1.1 Introdução Neste capítulo faremos uma breve introdução da teoria de campo cristalino e particularmente dos seus efeitos em sistemas dopados com Cr3+ . Será abordado o hamiltoniano de um íon imerso em uma rede com os seus principais termos e a influência de cada um destes termos sobre o sistema estudado. Também serão vistos os tipos de simetria de campo cristalino mais comuns, e a Teoria de Tanabe-Sugano para sistemas d3 [34, 35], além dos parâmetros de campo cristalino Dq, que mede a intensidade da interação eletrostática gerada pelos íons ligantes que é sentida pelo íon doapnte e os parâmetros de Racah B e C, que medem a intensidade da repulsão intereletrônica. Finalmente, será feita uma análise sobre o desdobramento dos termos do íon Cr3+ por efeito do campo cristalino e as consequências desta interação. O comportamento dos íons em cristais é um fenômeno que pode ser explicado através de diversas teorias, dependendo dos aspectos enfatizados em cada um destes fenômenos. Entre estas teorias podemos destacar a teoria do orbital molecular, a teoria de bandas de energia e a teoria do campo cristalino [36]. As duas primeiras estudam basicamente os materiais através de propriedades eletrônicas governadas pelas ligações químicas. A teoria do orbital molecular considera que todos os elétrons de valência possuem alguma influência na estabilidade molecular, onde os orbitais atômicos de diversos átomos são sobrepostos para formar os orbitais moleculares. Na teoria de bandas, as propriedades de um material são descritas através de modelos de bandas de valência, bandas de condução e bandas proibidas. Em cristais iônicos, os íons possuem propriedades particulares dependendo do tipo, quantidade e arranjo dos mesmos. A partir do arranjo, destacamos no sistema um íon (de metal de transição, com carga positiva) em uma posição central, e diretamente ligado a ele estão os íons de carga negativa, localizados nos vértices de um poliedro. Tais íons de carga negativa são denominados ligantes e o íon central é chamado de íon dopante (ou íon impureza). A natureza dos íons ligantes e as distâncias entre os ligantes e o íon dopante determinam a intensidade do campo cristalino. A teoria de campo cristalino, que será a escolhida para analisar o comportamento dos íons em materiais ao longo desta tese, considera os ligantes como possuindo cargas pontuais que geram um potencial eletrostático, sentido pelo íon dopante. Este potencial eletrostático é denominado campo cristalino, responsável pelo desdobramento dos níveis de energia do íon livre quando imerso em uma rede cristalina. O tipo de íon ligante e as distâncias entre o íon dopante e os ligantes dão a intensidade do campo cristalino [36]. 21 Segundo Henderson e Imbusch [37], a teoria de campo cristalino nasce com o trabalho clássico de Bethe publicado em 1929, que considerou o campo eletrostático da rede hospedeira como uma perturbação estática para os íons livres, e classificou os novos níveis de energia como representações do grupo de simetria do campo cristalino. Já que apenas os íons com camada incompleta (particularmente as camadas d e f , que correspondem aos metais de transição e terras-raras) apresentam desdobramento em seus níveis de energia, pode-se dizer que a teoria de campo cristalino é a teoria que descreve o comportamento dos íons de metais de transição e terras-raras em cristais e moléculas em geral [36]. 1.2 Hamiltoniano de campo cristalino Um sistema atômico constituído por um íon livre, sem sofrer interferências externas pode ser descrito por um operador hamiltoniano H, que possui autoestados |ψ⟩, com autovalores de energia dados por Eψ . O hamiltoniano do íon livre, com n elétrons na camada incompleta pode ser escrito como [38]: H= n [ ∑ i=1 ] n }2 2 1 Ze2 1 ∑ e2 ⃗ − ∇i − + ξ(ri )li .⃗si + 2m (4πε0 )ri 2 i̸=j=1 (4πε0 ) |⃗ri − ⃗rj | (1) onde na equação acima temos: • a energia cinética do i-ésimo elétron (m é a massa do elétron) representada pelo primeiro termo; • a interação do i-ésimo elétron com o núcleo do íon, no segundo termo (onde Z é o número atômico do íon dopante, e é a carga do életron, ε0 a permissividade elétrica no vácuo, e ri a distância entre o elétron e o núcleo); • a interação spin-órbita no terceiro termo, que representa o acoplamento magnético entre o spin do elétron e o campo magnético originado do movimento orbital relativo entre o núcleo e o elétron (⃗li é o momento angular orbital, ⃗si é o spin e ξ(⃗ri ) é o parâmetro de acoplamento spin-órbita). • a interação entre o i-ésimo elétron e os demais n − 1 elétrons que pertencem à camada incompleta no quarto termo (|⃗ri − ⃗rj | é a distância entre o i-ésimo e o j-ésimo elétron); De forma simplificada podemos escrever a equação (1) como: 22 H = H0 + Hee + HLS (2) onde H0 engloba a energia cinética e a interação eletrostática dos elétrons com o núcleo (as duas primeiras parcelas); HLS representa a interação spin-órbita (terceira parcela) e Hee representa a interação intereletrônica (quarta parcela) [36]. O operador hamiltoniano visto acima descreve os centros eletrônicos cujas transições envolvem apenas mudanças dos elétrons mais exteriores da camada incompleta; os elétrons internos que ocupam camadas fechadas não são afetados por estas transições. Como já mencionado, a descrição mais simples do modelo de campo cristalino considera os íons ligantes causadores do campo cristalino eletrostático que atua no íon dopante como cargas pontuais. Este modelo despreza a extensão espacial das cargas dos ligantes e a sobreposição das funções de onda dos elétrons e dos ligantes, e reflete a simetria da distribuição dos ligantes [37]. Desta forma, quando o íon dopante é imerso em uma rede cristalina, fica envolvido pelos íons ligantes que constituem esta rede. Assim, o hamiltoniano descrito na equação (2) é acrescido de um novo termo HCF , que descreve o campo cristalino experimentado pelos elétrons do íon dopante: H = H0 + Hee + HLS + HCF (3) onde o efeito de campo cristalino é representado pelo seguinte potencial eletrostático, que satisfaz a equação de Laplace [37]: HCF ∑ = (−e)Φ(⃗ri ) = i 1 ∑ ∑ Zl e2 ⃗ l − ⃗ri | 4πε0 i l |R (4) ⃗ l − ⃗ri | é a distância entre o onde na equação acima Zl e é a carga do íon ligante, e |R ligante e os elétrons da camada incompleta do dopante. Utilizando coordenadas esféricas, podemos adequar o resultado acima de forma a obter um potencial eletrostático com simetria esférica [37, 39]: HCF = eΦ(r, θ, ϕ) = e ∞ ∑ l ∑ l m Am l r Yl (θ, ϕ) (5) l=0 m=−l Com as soluções obtidas através dos harmônicos esféricos. A intensidade do parâmetro de campo cristalino Dq é determinada pela carga efetiva dos ligantes Q (ou seja, a carga sentida pela impureza), pelo raio médio r do orbital d e pela distância metal-ligante R de acordo com a expressão [36]: 23 Dq = K Q⟨r4 ⟩ R5 (6) onde K é uma constante. Dependendo de sua intensidade em relação aos demais termos do hamiltoniano na equação (4), o campo cristalino pode ser classificado em [36, 37, 38]: • Campo cristalino fraco - HCF < HLS < Hee : neste caso a intensidade do campo cristalino é muito mais fraca que os demais termos constituintes do hamiltoniano, e HCF pode ser estudado através de considerações da teoria da perturbação [37]. Este caso se aplica principalmente aos íons de terras-raras 4f , pois os elétrons opticamente ativos desta camada encontram-se parcialmente "blindados"pelas subcamadas mais externas 5s2 5p6 . • Campo cristalino intermediário - HLS < HCF < Hee : neste caso o efeito campo cristalino ainda é menor que a interação intereletrônica, mas já é maior que a interação spinórbita, já que os elétrons d estão diretamente expostos ao campo cristalino. A este caso pertencem os íons de metais de transição do grupo do ferro (3d). • Campo cristalino forte - HLS < Hee . HCF : nesta configuração o campo cristalino possui a mesma ordem de grandeza da interação intereletrônica, e a interação spin-órbita é tratada como uma perturbação. Isso ocorre para íons 4d e 5d (grupo do paládio e da platina). 1.3 Efeitos do campo cristalino em íons de metais de transição Os metais de transição são os elementos cujos átomos possuem um subnível d incompleto ou que possam vir a formar cátions com um subnível d incompleto, e são representados na tabela periódica pelo bloco d (grupos 3 ao 12). Os elementos pertencentes a este bloco possuem configuração fundamental com camadas nd abertas, onde n é o número quântico principal igual a 3 para metais de transição do grupo do ferro, 4 para o grupo do paládio e 5 para o grupo da platina. Os três grupos acima são essencialmente similares, exceto pelo fato de que a intensidade da interação spin-órbita cresce rapidamente com o aumento de n [38]. Em íons de metais de transição a interação intereletrônica e o campo cristalino possuem energias comparáveis. Então podemos tratar íons deste tipo como casos de campo cristalino de intermediário a forte. O campo cristalino atuante no íon reflete a simetria de arranjo dos ligantes nas vizinhanças da impureza e é classificado de acordo com esta simetria. Além disso, por estarem acoplados aos íons ligantes, os íons de metais de transição são mais afetados pelas distorções estáticas da rede cristalina e pelas vibrações da rede que os íons de terras-raras. Considerando os oito íons negativos (ligantes) de uma rede que possui o arranjo espacial como mostrado na figura 1 com o íon de metal de transição (impureza) ocupando a posição 24 no centro do cubo, o campo cristalino criado por estes é dito possuir simetria cúbica e o íon inserido nesta rede ocupa um sítio cúbico. Nesta configuração, cada ligante da rede com carga −Ze contribui para a geração do campo cristalino. Se temos quatro ligantes formando o arranjo estrutural da figura 2(a), o campo cristalino gerado por essa configuração possui simetria tetraédrica. Neste arranjo, o campo cristalino é gerado por quatro cargas de magnitude −Ze localizados nos vértices de um tetraedro, com a impureza localizada no centro deste tetraedro. O arranjo de seis íons dispostos de acordo com a figura 2(b) possui simetria octaédrica. Portanto dizemos que o íon localizado na posição central ocupa um sítio de simetria octaédrica. Nesta configuração, as seis cargas de magnitude −Ze cada uma, encontram-se posicionadas nos vértices de um octaedro. De acordo com Henderson [37], íons de metais de transição tendem a ocupar preferencialmente sítios com simetrias próximas à octaédrica em cristais. Entretanto, os octaedros apresentam distorções, indicando que o campo cristalino apresenta uma diminuição em sua simetria. Desta forma, o campo cristalino deve ser tratado como possuindo dois componentes, um forte componente de simetria octaédrica e um outro componente com menor simetria, que pode ser considerado através da teoria de perturbação [37, 38, 40]. A partir do tipo de simetria do campo cristalino, os níveis de energia dos íons impureza podem ser calculados em termos dos parâmetros de campo cristalino. Figura 1: Simetria cúbica. Fonte: UC Davis Chemwiki [41]. Os cinco orbitais d (com quatro lóbulos cada) de um átomo livre com simetria esférica são equivalentes, e seu número é determinado pela quantidade de estados possíveis do elétron com o número quântico orbital l = 2 (orbitais d), com ml = +2, +1, 0, −1, −2 (orbitais dxy , dxz , dyz , dx2 −y2 e dz2 ). Para a simetria octaédrica, os três primeiros orbitais dxy , dxz e dyz possuem seus lóbulos apontando para uma direção entre os íons negativamente carregados, e todos estes orbitais serão afetados da mesma forma pelo campo cristalino. Os demais orbitais dx2 −y2 e dz2 possuem 25 Figura 2: Simetrias (a) tetraédrica e (b) octaédrica. Fonte: wikipedia.org [42] e [43]. lóbulos apontando em direção aos íons negativamente carregados, resultando em uma maior energia para estes orbitais do que os três anteriores (figura 3). Figura 3: Orbitais d. Fonte: wikipedia.org [44]. Quando o íon dopante encontra-se envolvido por ligantes em simetria octaédrica, os cinco orbitais d (que possuem a mesma energia no íon livre - são degenerados) desdobram-se em dois subníveis: um nível triplamente degenerado ocupado pelos orbitais dxy , dyz e dxz ; e um nível duplamente degenerado contendo os orbitais dx2 −y2 e dz2 . No caso de três elétrons (configuração d3 ), apenas os orbitais dxy , dxz e dyz são ocupados em coordenação octaédrica. O nível inferior ao original por uma quantidade 4Dq é triplamente degenerado e o nível duplamente degenerado é superior ao original por uma quantidade 6Dq, onde Dq é o parâmetro 26 de campo cristalino, obtido a partir do termo HCF do íon impureza na rede cristalina (equação 3). Este parâmetro descreve a energia do campo cristalino [36, 37] e estes novos conjuntos de orbitais são identificados agora por diferentes denominações: o nível triplamente degenerado é conhecido como t2g e o nível duplamente degenerado é o nível eg (figura 4(a)). No caso de um campo de simetria tetraédrica, onde quatro ligantes ocupam as posições dos vértices de um tetraedro, os orbitais d se desdobram no mesmo conjunto que o do campo octaédrico, porém há uma diferença em relação ao desdobramento dos níveis de energia do caso anterior: agora os orbitais triplamente degenerados t2 encontram-se em uma posição energeticamente desfavorável (pois seu nível de energia localiza-se acima do nível original por uma quantidade 4Dq) e os orbitais e encontram-se abaixo do nível original por uma quantidade 6Dq, em uma posição considerada energeticamente estável (figura 4(b)). Figura 4: Desdobramento dos níveis de energia do íon livre na presença de campo cristalino (a) Simetria octaédrica; (b) Simetria tetraédrica. A diferença de energia entre os orbitais t2g e eg (ou entre t2 e e) é denominada △ ou 10Dq. Valores característicos de 10Dq encontram-se na faixa entre 10000 e 20000 cm−1 para complexos octaédricos de metais de transição do grupo do ferro e aumentam em cerca de 1/3 da metade deste valor para cada série de transição subsequente [38]. O valor de Dq pode depender de diversos fatores, entre eles o número de elétrons d, o estado de ionização do metal de transição, a carga e a distância dos ligantes, além da própria natureza dos ligantes. A intensidade do campo cristalino pode variar com diferentes compostos e é uma característica espectroscópica importante do cristal para determinação do seu espectro de absorção óptica. Além disso, as distorções (muito comuns) das simetrias octaédrica e tetraédrica levam a um maior desdobramento dos níveis de energia. Porém,vale lembrar que Dqtetr = 4/9Dqoct , e além disso a diferença de energia entre os níveis e e t2 para simetria tetraédrica é menor que a diferença entre os níveis eg e t2g para simetria octaédrica1 . Na seção 1.4, o parâmetro Dq será discutido com maiores detalhes. 1 O subscrito g dos orbitais com simetria octaédrica indica que o campo cristalino para este orbital possui centro 27 1.4 Teoria de Tanabe-Sugano para sistemas d3 e propriedades do íon Cr3+ O estado dos íons em um cristal depende principalmente de dois fatores: do número de elétrons presentes no íon e da simetria do campo cristalino no qual o íon encontra-se imerso. Dada sua configuração eletrônica, podemos derivar os estados de energia fundamental e excitados de determinado íon. A configuração eletrônica para os íons dos metais de transição (grupo do ferro) é dada por: [1s2 − 2s2 − 2p6 − 3s2 − 3p6 ] − 3dn − 4s(1ou2) (7) onde o orbital d pode acomodar, no máximo, 10 elétrons. Íons com camadas 3d incompletas possuem um grande número de níveis de energia entre os quais as transições ópticas tem alguma probabilidade de ocorrer. Como os elétrons 3d opticamente ativos não encontram-se blindados por camadas eletrônicas mais externas, eles conseguem interagir com os campos elétricos gerados por íons em suas vizinhanças. Por este motivo, os efeitos de campo cristalino experimentados por estes elétrons são mais fortes dos que os experimentados por íons de terras-raras. Nesta tese trataremos particularmente do sistema d3 , no qual se encontra o íon Cr3+ . A configuração eletrônica do íon Cr3+ é dada por: 1s2 − 2s2 − 2p6 − 3s2 − 3p6 − 3d3 (8) Numa boa aproximação, o hamiltoniano de um átomo ou íon comuta com o spin eletrônico S e o momento angular total L, assim como também comuta com o momento angular eletrônico total, J = L + S. Dessa forma, os estados do íon podem ser descritos pelos números quânticos L, Lz , S, Sz , J e Jz , indicando que eles são auto-estados dos operadores L2 , Lz , S 2 , Sz , J 2 e Jz , respectivamente. Desde que camadas preenchidas possuem spin total e momento angular orbital total iguais a zero, estes números quânticos descrevem a configuração eletrônica das camadas parcialmente preenchidas, assim como o íon quando considerado como um todo [45]. Abaixo são enunciadas as Regras de Hund, de acordo com Kittel [46]: 1. O valor máximo do spin total S deve ser compatível com o princípio de exclusão de Pauli; 2. O valor máximo do momento angular orbital L deve ser consistente com o valor S do spin total; de simetria. Ele é ausente para os orbitais em simetria tetraédrica porque o tetraedro não possui centro de simetria [36]. 28 3. O valor do momento total J é igual a |L − S| se a camada estiver preenchida a um valor menor que a metade, e igual a |L + S| se a camada estiver preenchida com mais da metade do número total de elétrons. Se a camada tiver exatamente metade preenchida, então L = 0, e consequentemente J = S. Como um exemplo da aplicação das regras de Hund, vamos considerar o íon Cr3+ , que é o dopante das amostras estudadas neste trabalho. O cromo é um metal de transição do grupo do ferro e seu íon trivalente possui 3 elétrons na última camada (configuração d3 ). Estes são os elétrons que sofrem os efeitos do campo cristalino. Em simetria octaédrica os três elétrons ocupam os orbitais t2g , de menor energia. O número quântico orbital para este átomo ∑ é L = | ml | = |(−2) + (−1) + 0| = 3 (estado F ). Com os três elétrons desemparelhados, o spin total é S = 1/2 + 1/2 + 1/2 = 3/2, e a multiplicidade de spin é igual a 2S + 1 = 2.(3/2) + 1 = 4. Portanto, o termo fundamental do íon Cr3+ livre é o 4 F . O valor de J, que fornece o acoplamento spin-órbita, pode assumir os valores de J = (L + S) = (3 + 3/2) = 9/2 a J = (L − S) = (3 − 3/2) = 3/2, ou seja, J = 9/2, 7/2, 5/2 e 3/2. Logo, os níveis multipletos para a configuração d3 são dados por: 4 F9/2 , 4 F7/2 , 4 F5/2 e 4 F3/2 . Como a camada d está preenchida até menos da metade, de acordo com a terceira regra de Hund o valor do momento total J para o íon Cr3+ é dado por |L − S| = 3 − 3/2 = 3/2. Este resultado será utilizado em análises posteriores. Um resumo das principais informações sobre o íon Cr3+ pode ser visto na Tabela 1. Tabela 1: Números quânticos, configuração eletrônica e termos do íon Cr3+ . Configuração eletrônica Elétrons dn Número quântico orbital (L) Número quântico de Spin (S) Número quântico total (J) Multiplicidade de Spin (2S + 1) Termo do estado fundamental 3d3 3 3 3/2 9/2, 7/2, 5/2, 3/2 4 4 F3/2 Quando imerso em um campo cristalino de simetria octaédrica, o estado fundamental do Cr3+ desdobra-se em três estados: 4 A2 (t32g ), fundamental e independente de Dq e nos estados 4 T2 (t22g eg ) e 4 T1 (t22g eg ), que dependem fortemente da intensidade do campo cristalino, aumentando (em energia) com o aumento de Dq. O primeiro estado excitado do íon livre, 4 P , transforma-se no estado 4 T1 (t2g e2g ), e o segundo estado excitado, 2 G, dedobra-se nos termos 2 E(t32g ), 2 T1 (t32g ), 2 T2 (t32g ), que possuem fraca dependência com Dq, além do estado 2 A1g (t22g eg ), onde este último depende fortemente de Dq. Os desdobramentos descritos acima podem ser vistos no diagrama de níveis de energia de Tanabe-Sugano [34, 35] para sistemas d3 (figura 5). Tais diagramas mostram os desdobra- 29 mentos e a dependência dos termos de energia do íon livre na presença do campo cristalino, as posições dos níveis e as variações em energia em termos da intensidade do campo cristalino. No eixo vertical temos os termos de energia do íon livre e no eixo horizontal temos a intensidade do campo cristalino. O diagrama para uma configuração dn em coordenação octaédrica é análogo ao diagrama d10−n em coordenação tetraédrica [34, 35, 36, 37, 38]. Os símbolos que denotam os estados são utilizados para classificá-los de acordo com a simetria das funções de onda em um campo cristalino octaédrico, e são obtidos da teoria de grupos [36, 37, 38]. As transições do estado fundamental para estados excitados permitidas por spin possuem estados inicial e final com mesma multiplicidade de spin. Tais transições geram bandas intensas nos espectros ópticos. Por outro lado, as transições proibidas por spin ocorrem entre estados com diferentes multiplicidades, e são caracterizadas por bandas fracas nos espectros. O número de transições entre níveis originados de um termo na presença do campo cristalino (com mesma multiplicidade e portanto gerando transições permitidas por spin) determina o número de bandas no espectro de absorção óptica. Os estados F (caso do íon Cr3+ ) dão origem a duas transições (portanto duas bandas no espectro) permitidas por spin para simetria octaédrica: 4 A2 →4 T2 e 4 A2 →4 T1 . Os termos de energia para as configurações d3 foram derivados por Racah em 1942, e por este motivo tais parâmetros são conhecidos como parâmetros de Racah [34, 35, 38, 47]. Na Tabela 2 são listados os termos de energia para a configuração d3 [37, 38] e os seus respectivos desdobramentos para campo cristalino de simetria octaédrica. Como podemos ver das equações, todas elas possuem a mesma dependência do parâmetro A, e podemos desprezá-lo na realização de cálculos práticos, de forma que ele não contribui para a separação dos termos de energia. Já os valores de B e C podem ser obtidos de forma indireta através de medidas ópticas, e fornecem um valor para a intensidade da repulsão intereletrônica. Os valores empíricos dos parâmetros B e C, assim como o de Dq, dependem fortemente do íon e do meio ao qual ele é inserido. Tabela 2: Termos de energia para a configuração d3 em termos dos parâmetros de Racah A, B e C e seus desdobramentos em campo octaédrico, de acordo com Henderson e Imbusch [37]. Termo de energia E(4 F ) = 3A − 15B E(4 P ) = 3A E(2 G) = 3A − 11B + 3C E(2 F ) = 3A + 9B + 3C Desdobramento em campo octaédrico 4 A2 +4 T1 +4 T2 4 T1 2 2 A1 + E +2 T1 +2 T2 2 A2 +2 T1 +2 T2 Para elétrons d é esperado que a razão entre os valores dos parâmetros C e B seja em torno de 4,0 a 4,5, e que seja independente do número atômico e da quantidade de elétrons da última camada [37, 38]. Além disso, valores típicos da razão Dq/B encontram-se na faixa entre 30 Figura 5: Diagrama de níveis de energia de Tanabe-Sugano para a configuração eletrônica d3 . O eixo horizontal está em termos de ∆/B, onde ∆ = 10Dq e B é o parâmetro de Racah. O eixo vertical está em termos de E/B, onde E é a energia da transição. 1,5 e 3,0 (ou ∆/B entre 15 e 30). Porém, quando esta razão possui um valor até em torno de 2,3 (ou ∆/B em torno de 23), o estado 4 T2 é o primeiro estado excitado; já para valores maiores do que esta razão, observa-se que o primeiro estado excitado passa a ser o 2 E. A razão Dq/B em torno de 2,3 (ou ∆/B em torno de 23) é útil para distinguir íons Cr3+ localizados em campos fracos, onde o estado 4 T2 é o primeiro nível excitado, dos íons Cr3+ em campos fortes, onde o nível 2 E é o nível excitado mais inferior. Os valores de B e C para íons em cristais são sempre menores do que os valores obtidos para o íon livre. Enquanto que para o íon livre os valores de B e C dão a intensidade da repulsão intereletrônica, em cristais estes parâmetros representam uma medida da covalência da ligação entre o íon impureza e os ligantes. Quanto menor o valor do parâmetro B em relação ao valor para o íon livre, mais covalente é o caráter desta ligação. Portanto, o parâmetro de Racah B tem o seu valor diminuído em relação ao íon livre quando o íon de metal de transição é inserido em um cristal. Porém, a razão C/B é aproximadamente constante. Empiricamente, para um dado íon de metal de transição a covalência da ligação depende dos ligantes, de forma que os valores de B para o íon livre podem variar de acordo com a 31 seguinte ordem [36] (série nefeulaxética2 ): F < O2− < Cl− < Br− < S 2− < I − < Se2− (9) Já o parâmetro Dq varia com a rede onde o íon Cr3+ encontra-se imerso, com a ordem de Dq dada por [37]: I − < Br− < Cl− < F − < H2 O < O2− < S 2− (10) As séries acima podem ser guias qualitativos da natureza dos parâmetros, mas devem ser usadas cautelosamente, pois em algumas situações físicas a ordem esperada pode não ser aquela observada. Os valores do parâmetro de campo cristalino Dq e dos parâmetros de Racah B e C para o íon Cr3+ podem ser obtidos através das energias dos estados 4 T2 e 4 T1 em relação ao estado 4 A2 por [37, 38]: E(4 T2 ) = 10Dq (11) (∆E/Dq)2 − 10(∆E/Dq) B= .Dq 15(∆E/Dq − 8) (12) onde as energias mencionadas acima são determinadas através de dados de espectroscopia de absorção ou excitação, e o valor ∆E é a diferença entre a energia dos níveis 4 T1 e 4 T2 . A determinação de C requer o valor em energia do nível 2 E (E(2 E)). Para os intervalos 1, 5 < Dq/B < 3, 5 e 3, 0 < C/B < 5, 0, o valor de C pode ser calculado como sendo aproximadamente igual a [37]: C B E(2 E) ≃ 3, 05 + 7, 90 − 1, 80 B B Dq (13) O valor de Dq/B onde ocorre o cruzamento dos níveis 2 E e 4 T2 depende levemente do valor do parâmetro C [37], embora esta dependência seja menos significativa do que a dependência entre Dq e B. Podemos também estimar as energias das transições 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) e 4 A2 (4 F ) → 2 T1 (2 G) através das seguintes equações [36, 38]: E(4 T1 (4 P )) = E(4 T1 (4 F ) + 2 √ (9B − 10Dq)2 + 144B 2 Palavra de origem grega que significa ”expansão da nuvem” [48]. (14) 32 E(2 T1 (2 G)) = 9B + 3C − 9B 2 9B 2 12B 2 − − 10Dq + 6B 10Dq 20Dq + 4B (15) A diminuição de simetria do campo cristalino leva a desdobramentos dos níveis de energia, o que consequentemente acarreta o aparecimento de bandas adicionais ou o alargamento não homogêneo das bandas nos espectros ópticos. Ao mesmo tempo, as bandas de absorção causadas pela redução da simetria podem ser mais intensas quando a nova transição é permitida, sobrepondo-se à banda original e "escondendo"aquela banda. Porém, se o desdobramento é pequeno, então as orientações intermediárias das duas bandas podem sobrepor-se e observamos um deslocamento da banda de absorção, que é na verdade a superposição de duas bandas mudando em intensidade relativa, mas não em posição. Além destes aspectos, o sistema ao qual o íon encontra-se inserido exerce uma forte influência nas propriedades espectroscópicas do sistema em estudo. Quando um sistema físico vai para um estado excitado, a mudança na distribuição eletrônica gera uma reorganização dos íons ligantes, pois estes sofrem uma variação devido à mudança na densidade de carga dos elétrons da última camada do íon impureza. Assim, após a excitação, o sistema perde uma quantidade de energia igual a S~ω, onde S é um número e ~ω é a distância (em energia) entre dois níveis vibracionais. Figura 6: Diagrama de coordenadas configuracionais, mostrando parábolas representando os níveis de energia fundamental (a) e excitado (b) e seus respectivos estados vibracionais (linhas pontilhadas). O eixo horizontal está em termos das coordenadas configuracionais Q, onde Q0 é o valor de equilíbrio. 33 O íon impureza, inicialmente no estado vibracional mais baixo do estado eletrônico fundamental, absorve um fóton. Este fóton absorvido leva a impureza para um estado vibracional superior dentro de um estado eletrônico excitado (dependendo da energia do fóton absorvido), de acordo com o ponto 1 na figura 6. Porém, esta situação é instável. Então o íon decai não radiativamente para um estado eletrônico vibracional inferior ainda dentro do estado eletrônico excitado (ponto 2 na figura 6). A partir daí o íon decai para o estado fundamental, emitindo luz (ponto 3 na mesma figura). A diferença em energia entre o estado vibracional para o qual o íon é excitado e o estado vibracional fundamental do estado eletrônico excitado é um múltiplo da energia vibracional mínima ~ω, onde o múltiplo inteiro é a constante adimensional S. As transições observadas nos espectros ópticos são denominadas transições vibrônicas, ou seja, são transições de natureza eletrônica assistidas por fônons. O parâmetro S dá uma ideia da intensidade da interação entre o elétron e a rede e é conhecido como parâmetro de Huang-Rhys [37, 38, 49]. Se S < 1, o acoplamento é considerado fraco; se 1 < S < 5, estamos num regime de acoplamento intermediário e para S > 5 o acoplamento é considerado forte [49]. Além disso, este fator pode ser determinante para atribuição do primeiro estado excitado do sistema. Se o acoplamento elétron-rede é fraco, então o estado emissor será o 2 E(2 G); por outro lado, se o acoplamento é de intermediário a forte, o primeiro estado excitado e responsável pela emissão será o 4 T2 (4 F ). 2 ESPECTROSCOPIA DE MATERIAIS DOPADOS COM METAIS DE TRANSIÇÃO 2.1 Introdução Este capítulo é dedicado à teoria da espectroscopia de sistemas dopados com metais de transição, em especial àqueles dopados com cromo trivalente. Inicialmente teremos uma visão geral da teoria da espectroscopia em sólidos e as suas diversas modalidades. A seguir, serão apresentados alguns dos mecanismos de interação da luz com a matéria, como a absorção e luminescência. Na seção seguinte, falamos dos diversos tipos de luminescência, com ênfase na fotoluminescência. Abordaremos as transições radiativas e não radiativas, eficiência quântica, dependência da luminescência com a temperatura e excitação. Por fim, é apresentada uma visão geral da espectroscopia em sistemas dopados com Cr3+ , e falaremos brevemente das transições vibracionais em sistemas octaédricos. A espectroscopia é o ramo da Física que trata do estudo da radiação absorvida, refletida, emitida ou espalhada por uma substância. Ela se subdivide em diversas áreas, que dependem do tipo de radiação utilizada, e do estado da matéria em estudo. Contudo, os diferentes ramos desta técnica se baseiam em fenômenos físicos simples em uma faixa delimitada de frequências e sob condições específicas. A perturbação que dá origem às transições ópticas nos centros atômicos é a interação entre o centro óptico absorvedor e a radiação eletromagnética incidente [37]. A espectroscopia de materiais sólidos pode ser considerada uma das técnicas mais completas e diretas para obtenção de informações sobre as propriedades dos átomos em compostos, ordenados ou não. Com a espectroscopia óptica é possível identificar os centros ópticos ativos e também a estrutura cristalográfica nas vizinhanças desses centros. A espectroscopia de sólidos surgiu como consequência da descoberta de novos fenômenos e o desenvolvimento das teorias de bandas, campo cristalino e orbital molecular. Diferentemente de líquidos e gases, os sistemas sólidos constituem-se de unidades periodicamente arranjadas de forma ordenada (cristais) ou desordenada (vidros). Este aspecto confere características peculiares às técnicas espectroscópicas utilizadas para a análise de sólidos, e é conhecida como a espectroscopia de estado sólido [50]. O espectro eletromagnético é dividido em sete regiões (em ordem crescente de energia): ondas de rádio, microondas, infravermelho, visível, ultravioleta, raios-X e raios-gama (figura 7). Na Tabela 3 são apresentadas as principais técnicas espectroscópicas usadas atualmente em função da fonte de excitação e correspondente faixa de energia no espectro eletromagnético. São elas: AEFS, do inglês Absorption Edge Fine Structure; EXAFS, do inglês, Extended Xray Absorption Fine Structure; XRF, do inglês, X-Ray Fluorescence; EPR, do inglês Electron 35 Figura 7: O espectro eletromagnético. Adaptado de wikipedia.org [51]. Paramagnetic Resonance; NMR, do inglês Nuclear Magnetic Resonance. Detalhes sobre essas técnicas podem ser encontrados nas referências [36] e [50]. Tabela 3: Técnicas espectroscópicas mais conhecidas com suas respectivas fontes de excitação e faixas de energia. Fonte de excitação Núcleo atômico Elétrons internos Elétrons externos Vibrações moleculares Rotações moleculares Spin do elétron Spin Nuclear Tipo de Espectroscopia Faixa de energia usada Mössbauer Raios-gama AEFS, EXAFS, XRF Raios-X Óptica Ultravioleta-visível Raman, Ultravioleta-visívelInfravermelho Infravermelho próximo Infravermelho Infravermelho EPR Microondas NMR Microondas Nesta tese trabalhamos particularmente com a espectroscopia óptica, que estuda o comportamento das transições de elétrons de valência que se encontram na região ultravioletavisível do espectro eletromagnético. Os elétrons de valência podem ser excitados com radiação na faixa de comprimentos de onda compreendidos entre 200 a 3000 nm [50]. Esta faixa de comprimentos de onda é conhecida como óptica e dá origem à espectroscopia óptica. As transições ópticas dos elétrons de valência são responsáveis por um grande número de propriedades físicas e químicas dos materiais. A espectroscopia óptica é responsável pelo estudo das radiações emitidas por um material em função da frequência e intensidade do feixe incidente neste material, e também é capaz de prover informações sobre centros emissores e absorvedores de uma determinada estrutura. Na Tabela 4 vemos as faixas espectrais correspondentes às diversas cores do espectro visível. 36 Tabela 4: Faixas em energia e comprimentos de onda aproximados do espectro visível, segundo Jaque [50]. Cor Comprimento Frequência Energia de onda (nm) (X1014 Hz) (eV) Violeta 390-455 7,69-6,59 3,18-2,73 Azul 455-492 6,59-6,10 2,73-2,52 Verde 492-577 6,10-5,20 2,52-2,15 Amarelo 577-597 5,20-5,03 2,15-2,08 Laranja 597-622 5,03-4,82 2,08-1,99 Vermelho 622-780 4,82-3,84 1,99-1,59 2.2 Regras de seleção para as transições ópticas Transições ópticas são governadas por diversas regras de seleção. Tais regras comparam as características dos estados eletrônicos pelo número quântico orbital dos elétrons, pelo seu spin ou pelo estado orbital do íon no quando imerso no cristal. Dependendo do tipo de simetria cristalina ao qual o íon encontra-se imerso, tais regras podem ser enfraquecidas. Abaixo são relacionadas as regras de seleção mais importante no que se refere a transições ópticas [36, 52]. • Regra de seleção de paridade (Regra de Laporte): Transições entre estados de mesma paridade são proibidas e transições entre estados de paridades opostas são permitidas. Isto corresponde à regra de seleção onde transições são permitidas se ∆l = ±1, onde l é o número quântico orbital. No caso dos orbitais d (l = 2) a função de onda é sempre par, independente da quantidade de elétrons d. Porém, esta regra de seleção pode ser enfraquecida em consequência de diversos fatores, tais como a ausência de centros de simetria no sítio onde o íon encontra-se inserido, sobreposição das funções de onda dos orbitais d do íon impureza com os orbitais p dos íons ligantes (que possuem paridade ímpar) e interação entre as funções de onda d e funções de onda vibracionais de paridade ímpar. • Regra de seleção por multiplicidade de spin: O spin do íon no campo cristalino possui o mesmo valor que o do íon live, o mesmo ocorrendo para sua multiplicidade (2S + 1). Logo, a regra de seleção por multiplicidade de spin é a mesma, estando o íon livre ou em um campo cristalino. Esta regra diz que transições são permitidas entre estados com mesma multiplicidade de spin (∆S = 0), enquanto transições entre estados de diferentes multiplicidade são proibidas. Em espectros ópticos transições proibidas por esta regra podem ocorrer, entretanto elas são de baixa intensidade, gerando fracas linhas nos espectros ópticos. • Regra de seleção do número de elétrons envolvidos na transição (configuração eletrôni- 37 ca): transições envolvendo apenas um elétron são permitidas, enquanto transições eletrônicas envolvendo mais de um elétron são proibidas. A banda espectral observada para uma transição permitida por esta regra é uma banda larga e intensa, enquanto transições que violam esta regra geram bandas fracas e estreitas nos espectros ópticos. • Regra de seleção por simetria: Os termos de energia do íon livre quando quando imersos em um campo cristalino sofrem desdobramentos dependendo da simetria deste campo. As transições ópticas são representadas por operadores podem então ser descritos nos termos de representação irredutível. Se o produto entre a representação do estado inicial e a representação do operador transição contém a representação do estado final, então a transição é permitida; caso contrário, a transição é proibida. 2.3 Espectroscopia de absorção Quando o comprimento de onda de uma fonte de luz monocromática que atravessa um cristal corresponde à diferença entre os níveis de energia de um íon imerso neste cristal, pode ocorrer absorção de luz, resultando no aparecimento de bandas de absorção no espectro óptico do cristal. Estes níveis de energia são os níveis do íon que se desdobram pela presença do campo cristalino. A diferença de energia é a separação entre o nível de estado fundamental Egr e um dos níveis dos estados excitados Eexc . A condição de absorção é satisfeita quando: hν = Eexc − Egr (16) onde ν é a frequência da radiação incidente. Para analisar com mais clareza o processo de absorção, considere um simples sistema quântico com diversos níveis de energia onde o primeiro nível é o estado fundamental e os demais são estados excitados. Quando o sistema absorve radiação que corresponde à diferença em energia entre os dois estados, este é promovido para um estado excitado (figura 8(a)), e obtemos o espectro de absorção de uma linha, em um comprimento de onda bem definido. Entretanto, devido a diversos mecanismos, o espectro de absorção no sólido não consiste de apenas uma linha bem definida, mas sim de uma larga banda, devido principalmente a mecanismos de acoplamento entre transições eletrônicas e fônons (vibrações) na rede hospedeira [11, 12, 37, 50]. Na espectroscopia de absorção óptica, a radiação eletromagnética nas faixas do ultravioleta próximo, vísivel ou infravermelho próximo é utilizada para excitar as transições entre diferentes estados eletrônicos. Os resultados são apresentados como gráficos da intensidade da radição absorvida em função do comprimento de onda (λ) da radiação incidente. 38 Figura 8: Esquema da transição entre dois estados. (a) Absorção de luz, levando o sistema para um estado excitado; e (b) Decaimento para o estado fundamental, não radiativamente (setas pontilhadas) e radiativamente, por emissão de luz (seta cheia). Os íons de metais de transição possuem a propriedade de alguns de seus elétrons ocuparem uma camada incompleta. Esta configuração pode possuir vários estados de energia muito próximos e a diferença em energia entre o estado fundamental e alguns estados excitados equivale à energia de fótons pouco energéticos, resultando em absorção e emissão na região do visível. 2.4 Luminescência e excitação Considere o sistema de níveis de energia descrito na seção anterior (figura 8). Se este sistema está no estado excitado através dos mecanismos descritos anteriormente, ele pode decair para o estado fundamental radiativa e não radiativamente. Se o sistema retorna ao estado fundamental de forma radiativa, ele emite radiação. Este processo de emissão de radiação por um material é conhecido como luminescência. A técnica de espectroscopia de luminescência é uma poderosa ferramenta que pode ser utilizada para obtenção de informações sobre um sistema físico em um determinado estado eletrônico excitado [53]. Essas informações vão da estrutura dos níveis de energia até as características geométricas do meio em torno do centro óptico. A luminescência de sistemas moleculares difere da observada para sistemas atômicos. No caso da emissão atômica, os comprimentos de onda de excitação e emissão são iguais. Entretanto, para sistemas moleculares a excitação normalmente resulta em uma emissão em maior comprimento de onda (ou seja, em menor energia) que a da luz incidente [53], devido principalmente à perda de energia por vibrações da rede. A ocorrência de luminescência em sistemas excitados pode ser obtida através dos mais diversos mecanismos (Tabela 5). Nesta tese tratatemos particularmente dos aspectos da fotoluminescência, que ocorre quando um material emite radiação ao ser excitado por luz. O fenônemo da fotoluminescência em um material ocorre quando a radiação de excitação com um comprimento de onda fixo atinge a amostra, e a luz emitida pela amostra é medida 39 Tabela 5: Diferentes formas de luminescência em materiais a partir das suas fontes de excitação [50]. Tipo Fotoluminescência Catodoluminescência Radioluminescência Termoluminescência Eletroluminescência Triboluminescência Sonoluminescência Quimiluminescência Bioluminescência Fonte de excitação Luz Feixe de elétrons Raios-X, alfa, beta ou gama Aquecimento Campos elétricos Energia mecânica Ondas sonoras em líquidos Reações químicas Reações químicas em organismos em intervalo de comprimentos de onda. O comprimento de onda de excitação é normalmente fixado em um valor onde a amostra apresenta uma absorção significativa. Considere um sistema no estado A que ao absorver luz atinge um estado excitado A∗ . Se houver apenas uma forma de decaimento (radiativo) que leve o sistema ao estado original podemos dizer que ele obedece a seguinte equação [53]: A + hν −→ A∗ (17) Este é um processo de primeira ordem cuja taxa pode ser dada por: − d[A∗ ] = kR [A∗ ] dt (18) onde kR é a constante de decaimento. O inverso deste valor é conhecido como tempo de vida da luminescência τR . Integrando a equação acima, obtemos: [A∗ ] = [A∗ ]0 exp(−t/τR ) (19) Experimentalmente, as medidas de tempo de vida podem ser realizadas com uma fonte de luz pulsada, ou com luz contínua modulada em amplitude. A luz pulsada leva o sistema para um estado excitado, seguido pela emissão de luz por A∗ , com um perfil temporal de acordo com a equação acima. A taxa de decaimento total é obtida pela combinação do decaimento de origem radiativa com uma parcela de origem não radiativa, que considera as vibrações da rede cristalina. O tempo de decaimento total τ pode então ser escrita como [1]: 40 1 1 1 = + τ τR τN R (20) onde τR é o tempo que representa a parcela radiativa do decaimento, e τN R é o tempo de decaimento não radiativo. Em geral, o termo não radiativo decresce com a diminuição da temperatura, de forma que a medida que a temperatura se aproxima do zero absoluto, o decaimento para o estado fundamental se torna puramente radiativo. A luminescência normalmente se refere à emissão de luz por um sistema associado com uma transição radiativa de um estado eletrônico excitado que possui a mesma multiplicidade de spin que o estado eletrônico fundamental, com tempos de vida da ordem de microssegundos. Contudo, esta regra de seleção pode ser relaxada através de outros mecanismos, como acoplamento spin-órbita, por exemplo [53]. Como as transições proibidas por spin tem menor probabilidade de acontecer, quando elas existem ocorrem de forma mais lenta que as transições permitidas, com tempos de vida que podem variar de microssegundos a alguns segundos. Numa primeira aproximação, o rendimento quântico da luminescência (η) pode ser obtido pela razão entre a quantidade de fótons emitidos (ou seja, a emissão da amostra) em função da quantidade de fótons absorvidos pela amostra [53] e está diretamente relacionada ao tempo de vida. Teoricamente o valor máximo a ser observado para um sistema perfeito seria que o valor de sua eficiência quântica fosse igual a unidade. Porém, na prática isso não ocorre. Uma eficiência quântica menor do que a unidade indica que uma fração da energia absorvida pelo sistema é perdida por processos não radiativos. Também podemos expressar matematicamente a eficiência quântica ηr de um sistema em termos dos tempos de vida total e puramente radiativo como [53]: ηr = τ τR (21) onde τ e τR são os mesmos da equação 20. Com a diminuição da temperatura, as transições não radiativas tendem a se reduzir. Logo, uma forma alternativa de se calcular a eficiência quântica da luminescência é dada por: η= τRT τLT (22) onde τRT é o tempo de vida do sistema obtido na temperatura ambiente e τLT é o tempo de vida de uma transição no sistema a temperaturas muito baixas (da ordem de 4 K). Devido à sensibilidade dos íons de metais de transição a variações da rede cristalina, as transições ópticas são influenciadas, em maior ou menor grau, pelas vibrações da rede. Este 41 comportamento leva ao alargamento das transições ópticas e à ocorrência de processos de relaxação não-radiativos dos estados excitados. Tais processos também podem causar a redução da eficiência da luminescência [40]. Os espectros de luminescência em algumas situações são de difícil interpretação. Os principais motivos dessa dificuldade são transições com baixa probabilidade de ocorrência, que dão lugar a bandas fracas, e a existência de impurezas espúrias, que podem ocultar as bandas do íon estudado e também transições originadas de diferentes centros luminescentes, que podem se sobrepor no espectro. Medidas resolvidas no tempo podem esclarecer os resultados obtidos, considerando o fato de que transições com diferentes tempos de vida sugerem fortemente a existência de diferentes centros luminescentes. Tal comportamento ocorre porque a luminescência de um íon de metal de transição normalmente origina-se de um único estado excitado, e todas as transições originadas deste estado possuem o mesmo tempo de vida. Logo, tempos de vida distintos indicam diferentes estados excitados, que caracterizam distintos centros luminescentes [54]. Se o espectro de luminescência apresenta uma sobreposição de bandas oriundas de diferentes centros luminescentes, podemos determinar a intensidade da emissão luminescente de cada um desses centros em função do comprimento de onda da luz incidente, através da técnica de espectroscopia de excitação. Esta técnica tem uma vantagem em relação à espectroscopia de absorção, pois é possível obter o espectro de um centro luminescente em particular, mesmo com a presença de outros centros no sistema. Já com a técnica de absorção, obtemos um espectro que contém as contribuições de todos os centros ópticos presentes na amostra. A excitação também é capaz de detectar a ocorrência de transferência de energia entre os centros opticamente ativos [1, 54]. O espectro de excitação é obtido variando o comprimento de onda da luz incidente, e mantendo-se o comprimento de onda de emissão fixo, normalmente no comprimento de onda do baricentro da banda de luminescência da amostra. Contudo, este procedimento pode ser feito apenas se sabemos que existe apenas um único centro óptico presente na amostra. Se existirem dois ou mais centros ópticos, devemos repetir este procedimento nas regiões mais próximas às extremidades da banda de luminescência. Os espectros obtidos são gráficos da intensidade da luminescência de um centro luminescente em função do comprimento de onda da radiação incidente (energia de excitação) no material. Emissões intensas de um centro de luminescência excitado por um comprimento de onda em particular indicam que a luminescência é especialmente favorecida quando a amostra é excitada. É importante destacar, contudo, que a espectroscopia de excitação pode ser empregada apenas se o centro a ser analisado emite luminescência. As técnicas de excitação e absorção podem ser consideradas como complementares. Entretanto, existem algumas vantagens ao se utilizar a espectroscopia de excitação, como, por 42 exemplo, maior sensibilidade e facilidade na obtenção de informações sobre centros luminescentes em particular e processos de estados excitados como transferência de energia [53]. Quando um íon opticamente ativo encontra-se em um estado excitado, ambos os processos de transições radiadivas e não radiativas são prováveis de ocorrer. Em uma transição não radiativa de dois níveis, a energia pode ser emitida em forma de fônons (modos de vibração da rede cristalina), tantos quantos forem necessários para levar o íon para o estado de mais baixa energia. Este processo envolve uma relaxação entre dois estados eletrônicos muito próximos |b⟩ e |a⟩ cuja separação em energia encontra-se dentro da faixa das energias dos fônons da rede. A transição do estado |b⟩ para o |a⟩ libera um fônon, cuja energia é dada por ~ωk = Eb − Ea . Quanto maior for o número de fônons envolvidos na transição, menor será a probabilidade de ocorrência de transições não-radiativas [40]. Dessa forma, a probabilidade de um decaimento não-radiativo ocorrer diminui gradativamente com o aumento da separação entre os níveis envolvidos. Entretanto, a probabilidade de uma transição radiativa tende a aumentar com o aumento da separação entre os níveis de energia. Desta forma, quando um íon encontra-se em um estado excitado com energia um pouco acima do estado fundamental, este tem maior probabilidade de decair não radiativamente, enquanto que se a separação entre as energias aumenta, a transição radiativa é a mais provável de acontecer. As transições não radiativas podem introduzir mecanismos de perda indesejáveis em materiais com aplicações para fabricação de lasers e outros dispositivos, pelo simples fato de que essas transições podem competir com as transições radiativas [38]. Porém, na temperatura ambiente, a relaxação não radiativa pode ser considerada uma regra, seguindo as emissões ópticas. Em situações favoráveis, a observação da luminescência com redução da intensidade pode fornecer informações detalhadas sobre os processos não radiativos. É importante destacar que, apesar da desvantagem de existir uma competição entre as transições radiativas e não radiativas, as transições eletrônicas em cristais sempre são assistidas por fônons, por isso são chamadas transições vibrônicas, ou transições elétron-fônon, como mencionado no capítulo anterior. Ou seja, as transições só são possíveis porque os íons excitados decaem não radiativamente para estados intermediários meta-estáveis, a partir dos quais decaem radiativamente, emitindo luz. 2.5 Espectroscopia em sistemas com Cr3+ O comportamento geral dos espectros de absorção e de excitação de materiais dopados com Cr3+ em sítios de simetria octaédrica caracteriza-se pela presença de duas bandas intensas e largas na região visível do espectro eletromagnético. Tais bandas surgem das transições entre os termos do nível 4 F do íon livre que se desdobram com o campo cristalino (figura 5): são as 43 transições 4 A2 (t32g ) →4 T2 (t22g eg ) e 4 A2 (t32g ) →4 T1 (t22g eg ). Além dessas, existe uma terceira transição que dá origem a uma banda na região do ultravioleta, 4 A2 (t32g ) →4 T1 (4 P )(t2g e2g ), porém menos intensa, pois corresponde a uma transição de dois elétrons, e de difícil observação, pela grande diferença em energia entre os dois níveis em questão. Todas as transições mencionadas acima ocorrem entre estados com a mesma multiplicidade de spin, logo são permitidas por spin e apresentam forte intensidade (com exceção da transição 4 A2 (t32g ) →4 T1 (4 P )(t2g e2g )). Porém o espectro também pode apresentar uma série de linhas fracas originadas de transições entre estados de diferentes multiplicidades (como a transição 4 A2 (t32g ) →2 E(t32g )), proibidas por spin. Pelo fato de encontrarem-se muito próximos (figura 9), a relaxação não radiativa entre os níveis 4 T2 e 2 E é bem rápida em todos os sistemas que contém o Cr3+ . Dessa forma, a população do íon nestes níveis termaliza em um intervalo de tempo mais curto que o tempo de decaimento para o estado fundamental. Para íons imersos em campo cristalino intenso (Dq/B > 2, 3), apenas o nível 2 E pode ser capaz de manter uma população em equilíbrio a baixas temperaturas e a luminescência ocorre apenas deste nível. Com o aumento da temperatura, o nível 4 T2 se torna crescentemente populado e então a luminescência também pode ocorrer deste nível. Figura 9: Diagrama de Tanabe-Sugano simplificado para a configuração d3 , mostrando apenas o estado fundamental e os dois primeiros níveis excitados. O eixo horizontal está em termos de ∆/B, onde ∆ = 10Dq e B é o parâmetro de Racah. O eixo vertical está em termos de E/B, onde E é a energia da transição. A linha pontilhada marca o cruzamento dos dois primeiros níveis excitados e depende do parâmetro de Racah C. As bandas de absorção largas e intensas na região do visível dão origem às cores características dos compostos com Cr3+ . Por sua vez, as bandas de luminescência podem ser estreitas ou largas, com alta eficiência quântica, de forma que traços de Cr3+ podem ser facilmente detectados e identificados em diversos sólidos. A baixas temperaturas, há uma tendência de não ocorrer emissão do estado 4 T2 [37]. 44 Os íons que foram excitados opticamente para este estado tendem a decair para o estado 2 E de forma não radiativa, e decair para o estado fundamental a partir daí. Devido ao rápido decaimento entre os estados 4 T2 e 2 E, ocorre uma termalização dos íons excitados entre os vários níveis eletrônicos e vibracionais dos estados mencionados. Se a temperatura é alta o suficiente (ambiente) isso leva a um equilíbrio populacional do estado 4 T2 de forma que o decaimento radiativo possa ocorrer diretamente a partir deste estado. O espectro de absorção do íon Cr3+ é constituído de duas largas bandas parcialmente sobrepostas que varrem grande parte da região visível do espectro eletromagnético. Transições proibidas por multiplicidade de spin podem se tornar permitidas via interação spin-órbita e aparecem neste espectro como bandas fracas e estreitas, difíceis de serem identificadas. As energias dos baricentros das bandas largas dependem fortemente do parâmetro de campo cristalino Dq, enquanto as bandas estreitas e fracas, por sofrerem pouca influência do campo cristalino, permanecem em posições fixas de energia. Assim como na absorção, o espectro de emissão do Cr3+ em coordenação octaédrica também depende fortemente do parâmetro de campo cristalino, já que as emissões ópticas podem se originar dos estados 2 E ou 4 T2 . O cruzamento entre os níveis 2 E e 4 T2 (figura 9) próximo à região Dq/B ≃ 2, 3 (ou ∆/B ≃ 23, 0 na figura 9) é útil para caracterizar os complexos emissores de acordo com a intensidade de Dq. Valores de Dq/B abaixo de 2,3 caracterizam complexos de campos fracos, que geram uma larga banda de luminescência atribuída à transição 4 T2 →4 A2 com tempos de vida da ordem de microssegundos. Já campos que possuem essa relação com valores maiores que 2,3 geram uma banda fraca e estreita correspondente à transição 2 E →4 A2 com tempo de vida radiativo da ordem de milisegundos. O valor da razão Dq/B depende da razão C/B [38], porém a obtenção desses parâmetros depende da localização do baricentro das bandas de absorção. 2.6 Transições vibracionais do complexo octaédrico [CrF6 ]3− Um centro óptico, ao absorver a luz incidente, interfere no movimento vibracional dos íons vizinhos. Ao mesmo tempo, essas vibrações causam efeitos consideráveis nas propriedades deste centro, com reflexo nos espectros ópticos. Como os elétrons da camada 3d encontram-se nas camadas mais externas dos íons, então as propriedades espectroscópicas dos íons Cr3+ são fortemente influenciadas pela dinâmica do sistema no qual este íon está inserido. Um parte da radiação absorvida por tais centros é convertida em energia vibracional, e não é contabilizada na energia emitida pelo sistema após a absorção, o que explica a menor energia (e o aumento no comprimento de onda) da radiação emitida por estes centros. O sistema cristalino em estudo é constituído por um complexo de simetria octaédrica onde o íon central (cátion) encontra-se envolvido por seis ânions equidistantes ao longo das 45 direções ±x, ±y e ±z [37]. A interação do íon central com os ligantes é representada pelas funções de onda do cátion impureza interagindo com as funções de onda dos ânions ligantes. No complexo octaédrico [CrF6 ]3− as funções de onda do íon impureza Cr3+ tendem a se sobrepor às funções de onda dos seis ânions F − que são seus vizinhos mais próximos. A sobreposição dá origem à função de onda que forma o orbital molecular para o complexo octaédrico [CrF6 ]3− . Este orbital molecular é constituído pelos orbitais atômicos 3d(t2g , eg ), 4s(a1g ) e 4p(t1u ) pertencentes ao metal de transição Cr3+ e pelos orbitais ligantes F − , 2pσ (a1g , t1u , eg ) e 2pπ (t1u , t2g , t2u , t1g ) [12, 52]. Na teoria de grupo, estes orbitais são representados pela notação: Γvib = a1g + eg + t2g + 2t1u + t2u (23) Os modos de vibração possíveis para o sistema em estudo são mostrados na figura 10 e são descritos resumidamente a seguir: Figura 10: Modos de vibração do complexo octaédrico [CrF6 ]3− . Os modos t2g (π) surgem da torção dos íons F − localizados no plano xy em relação ao centro do octaedro; os modos eg (σ) se originam a partir do estiramento ou compressão dos íons F − nos vértices inferior e superior do octaedro; os modos a1g (σ) são causados pelo estiramento simétrico dos íons F − no plano xy do octaedro; já os modos t1u (σ) surgem do estiramento e compressão assimétricos dos íons ligantes no plano xy do octaedro, e finalmente os modos t2u (π) e t1u (π) originam-se dos modos de torção simétrico e assimétrico, respectivamente, dos íons ligantes na direção perpendicular ao plano xy do octaedro. Como podemos ver, para este complexo temos dois tipos de orbitais moleculares: os orbitais σ, e os orbitais π. Os modos σ estão relacionados aos modos de vibração do tipo stretching (estiramento) e os modos π estão relacionados aos modos de vibração do tipo bending 46 (torção). As vibrações de estiramento σ possuem energias menores que as vibrações de torção π, e as vibrações de estiramento assimétrico possuem energias menores que as de estiramento simétrico [55]. Como temos 2 modos t1u diferindo apenas pelo tipo de orbital, espera-se que a energia do modo de vibração t1u (π) seja maior que a do modo t1u (σ). E como o modo t2g (π) é um modo de torção ele deve ter energia maior que o modo eg (σ) (de estiramento), que por sua vez possui mais energia que o modo a1g (σ). Em resumo, as vibrações de torção π possuem energias maiores que as vibrações de estiramento σ. Logo, a ordem das transições vibracionais únicas é dada por (em ordem decrescente de diferença de energia em relação à linha zero fônon): t2u (π), t2g (π) e t1u (π) (modos de torção), eg (σ), a1g (σ) e t1u (σ) (modos de estiramento). As transições em que não há mudança no estado vibracional da rede são chamadas de transições zero fônon, e podem ser vistas no espectro vibracional como a linha que ocorre na maior posição em energia; esta linha representa uma transição de origem puramente eletrônica [56]. Tabela 6: Intervalo possível da distância em energia das transições vibracionais (em relação à linha zero fônon) para o complexo octaédrico [CrF6 ]3− [11, 12, 19, 21, 24, 25]. Modo de vibração t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) Distância em energia com relação à linha zero fônon (cm−1 ) 160-244 234-285 300-335 405-495 506-575 523-596 A energia dos modos vibracionais pode variar em relação à linha zero fônon com o sistema cristalino ao qual o íon impureza encontra-se imerso, porém, em geral, as energias possuem um valor dentro de um intervalo determinado. Na Tabela 6 temos as faixas de energia onde podem ocorrer as transições vibracionais do complexo octaédrico [CrF6 ]3− [11, 12, 19, 21, 24, 25]. Os valores na Tabela são as distâncias em energia com relação à linha zero fônon, ou seja, quanto menor o valor na Tabela, mais próxima a transição vibracional se encontra da linha zero fônon. A ocorrência destas transições vibracionais é difícil de ser observada na temperatura ambiente; de fato, na temperatura ambiente todos os fônons (ou modos de vibração) são ativados e desta forma o que vemos é um espectro que contém uma (ou várias) bandas contínuas. Entretanto, a medida que a temperatura diminui, alguns modos de vibração são aniquilados e temos um espectro apresentando diversas linhas estreitas sobrepostas à banda de emissão; essas linhas representam os modos vibracionais "sobreviventes". 3 PROPRIEDADES TERMO-MAGNÉTICAS EM SÓLIDOS 3.1 Introdução Neste capítulo serão abordadas algumas propriedades térmicas e magnéticas de sólidos. Dentre as propriedades térmicas a serem destacadas incluem-se o calor específico e suas diversas contribuições, originadas da rede cristalina, eletrônica e magnética. Em especial será destacado o efeito Schottky, que é uma anomalia que causa o aumento do calor específico no sistema devido ao campo cristalino na região de baixas temperaturas. As propriedades magnéticas estudadas são a susceptibilidade e a magnetização, com destaque para os materiais diamagnéticos, paramagnéticos, ferromagnéticos e anti-ferromagnéticos.. 3.2 Propriedades térmicas 3.2.1 Calor específico O calor específico é uma quantidade termodinâmica que relaciona a temperatura de um sistema com sua energia interna, o que depende das propriedades microscópicas do material. Sabemos da Primeira Lei da Termodinâmica [57] que a variação da energia interna de um sistema (dU ) é igual à diferença entre o calor absorvido por esse sistema (dQ) e o trabalho realizado por ele (dW ), ou seja: dU = dQ − dW (24) Vamos considerar um sistema homogêneo no qual o volume V seja o único parâmetro importante. Desta forma, podemos considerar que o trabalho pode ser descrito como: dW = pdV (25) onde p é a pressão do sistema. Se temos um sistema magnético em estudo, o trabalho realizado sobre a amostra magnética pode ser escrito como dWmag = BdM (26) onde B = µ0 H é a indução magnética, µ0 é a permeabilidade magnética no vácuo e H0 é o campo magnético externo aplicado sobre a amostra; M é o momento de dipolo magnético total da amostra [58]. 48 Usando a (25) em (24) e dividindo ambos os lados por dT (onde dT é a variação de temperatura do sistema), temos: dU dQ dV = −p dT dT dT (27) Considerando um processo onde o sistema permaneça a volume constante (ou seja, fazendo dV = 0), temos: ( dU dT ) ( = V dQ dT ) = CV (28) V A quantidade CV definida na equação 28 é denominada capacidade calorífica (ou capacidade térmica) de um sistema a volume constante. A quantidade de calor dQ necessária para produzir uma dada mudança de temperatura dT em um sistema deve ser proporcional à quantidade de matéria contida nele. Então é útil definir uma quantidade, denominada calor específico, que depende apenas da natureza da substância considerada, e não da quantidade de matéria em si [57]. Logo, define-se o calor específico de um corpo como a capacidade térmica por unidade de massa como cV = CV ∴ CV = mcV m (29) onde m é a massa contida no sistema. 3.2.2 Comportamento do calor específico em sólidos De acordo com a teoria clássica e o teorema da equipartição de energia [57, 59], a energia interna de um sistema é dada por 3N kB T , onde N é o número de átomos (ou moléculas) do sistema, kB é a constante de Boltzmann e T é a temperatura absoluta do sistema. Cada átomo (ou molécula) em um sólido pode ser tratado como um oscilador harmônico, possuindo três graus de liberdade, onde cada grau contribui com uma energia de (1/2)kB T para o sistema. Como cada átomo possui energia cinética (Ecin ) e potencial (Epot ), a contribuição para a energia total (U ) é [59]: 1 1 U = Ecin + Epot = 3 kB T + 3 kB T = 3kB T 2 2 (30) Como existem N átomos no sólido, então a energia interna total é 3N kB T . Utilizando a equação 28, podemos determinar a capacidade térmica (ou calor específico por unidade de matéria) como: 49 ( cV = dU dT ) = V d (3N kB T ) = 3N kB dT (31) Portanto, de acordo com o resultado acima, o calor específico de um sólido depende apenas da quantidade de átomos existentes no sistema e não depende da temperatura. Este resultado é conhecido como a Lei de Dulong e Petit (figura 11)e concorda bem com dados experimentais obtidos na temperatura ambiente para cristais compostos de apenas um elemento [59]. Figura 11: Capacidade térmica adimensional em função da temperatura de acordo com os modelos de Dulong-Petit (linha pontilhada horizontal), Einstein e Debye. O eixo horizontal é a temperatura absoluta dividida pela temperatura T0 (onde T0 é a temperatura de Einstein ou Debye, dependendo do modelo considerado). Fonte: wikipedia.org [60]. Porém na região de baixas temperaturas (onde T /T0 é menor que 1,2 na figura 11) o comportamento do calor específico apresenta forte dependência com a temperatura, caindo de forma rápida e se aproximando de zero com T 3 para isolantes e com T para metais. Além disso, em sistemas magnéticos é esperada uma contribuição para o calor específico em torno da temperatura de transição de fase magnética. De forma a analisar o comportamento do calor específico a baixas temperaturas, examinaremos alguns modelos de calor específico baseados na teoria quântica. Vamos destacar no presente trabalho o modelo de Einstein, o modelo de Debye e a anomalia Schottky, sendo este último especialmente aplicado para descrever o comportamento do calor específico em materiais magnéticos. 50 3.2.3 Modelo de Einstein para o calor específico em sólidos O modelo de Einstein (1907) foi a primeira tentativa de explicar o comportamento do calor específico a baixas temperaturas a partir de considerações da mecânica quântica [57, 59]. Neste modelo, Einstein considerava cada átomo de um sistema com N átomos como um conjunto de 3N osciladores harmônicos quânticos unidimensionais (3 graus de liberdade para cada oscilador), que oscilam com a mesma frequência ωi = ω. Logo, a energia de cada um dos osciladores é a bem conhecida energia do oscilador harmônico quântico com frequência ω [61], ( ) 1 εi = ni + ~ω 2 (32) O calor específico de Einstein a volume constante é descrito pela seguinte relação: [46, 59, 61]: ( cE = 3N kB Onde o termo ~ω kB ~ω kB T )2 e ( k~ωT ) B ( k~ωT ) [e B − 1]2 (33) = θE é a temperatura de Einstein, e substituindo na equação 33, temos: ( cE = 3N kB θE T )2 e(θE /T ) [e(θE /T ) − 1]2 (34) Para baixas temperaturas (T → 0), o calor específico decresce até cE = 0; para altas temperaturas (T → ∞), o calor específico tende ao valor de Dulong e Petit, 3N kB . Na figura 11, observamos uma comparação entre o calor específico de Dulong e Petit, Einstein e Debye. O modelo de Einstein, apesar de confirmar os resultados de Dulong e Petit para altas temperaturas, possui algumas limitações. A principal delas é que, em um sólido real, as vibrações elásticas dos átomos não possuem a mesma frequência, como este modelo supõe [46]. Nesta teoria, temos uma explicação direta de como o calor específico vai a zero quando a temperatura tende a zero. Contudo, o modelo falha na faixa de temperaturas intermediárias, e não obedece a lei de potência do calor específico proporcional ao cubo da temperatura, como observado experimentalmente [46, 62]. A solução para o problema da lei de potência é explicada de acordo com o modelo de Debye, descrito a seguir. 3.2.4 Modelo de Debye para o calor específico em sólidos Como mencionado anteriormente, uma das principais limitações do modelo de Einstein para o calor específico dos sólidos é considerar que todas as frequências de vibração são iguais e que os osciladores são independentes. Entretanto, um modelo mais realista iria considerar que 51 os osciladores seriam fortemente acoplados e possuiriam um espectro contínuo de frequências vibracionais [61]. A partir destas suposições, Debye desenvolveu seu modelo para o calor específico (1912), levando em conta a diversidade dos modos normais de vibração em um sólido [62]. As oscilações dos átomos criam ondas elásticas no sólido (também chamadas de fônons), e segundo Debye, todas as ondas se encontram num determinado intervalo de frequências, 0 < ω < ωD (onde ωD é a frequência de Debye), e poderiam se propagar ao longo do sólido [59]. O calor específico de Debye pode ser então dado por [46, 59, 61, 62, 63]: ( cD = 9N kB T θD )3 ∫ 0 x x4 ex dx [ex − 1]2 (35) onde x= ~ω kB T (36) θD = ~ωD kB (37) e é a temperatura de Debye. Para baixas temperaturas (considerando x na equação 35 tendendo a infinito), a integral possui um valor analítico, π 4 /15, e a equação 35 se torna [61]: 12 cD = N k B π 4 5 ( T θD )3 ∝ T3 (38) onde obtemos o calor específico cD proporcional ao cubo da temperatura, o que concorda com os resultados experimentais a baixas temperaturas (veja figura 11). Segundo Johnston [61], no intervalo de baixas temperaturas o modelo de Debye funciona melhor, pois apenas a baixas frequências os fônons de maior comprimento de onda são excitados, e exatamente nos longos comprimentos de onda que a aproximação contínuo-elástico apresenta maior validade. Já de acordo com Kittel [46], numa rede verdadeira, a faixa de temperaturas onde o calor específico possui dependência com T 3 em geral ocorre a temperaturas muito baixas. A temperatura deve estar abaixo de θD /50 para se observar um comportamento proporcional a T 3 . Porém, quando nos aproximamos da região de altas temperaturas, incluindo a faixa da temperatura ambiente, a equação 38 concorda com a Lei de Dulong-Petit já mencionada. 52 3.2.5 Anomalia no calor específico: efeito Schottky Para materiais magnéticos a baixas temperaturas o calor específico pode se tornar elevado. Neste intervalo os momentos magnéticos tendem a se ordenar, causando variação na entropia e consequentemente gerando uma nova contribuição para o calor específico [46]. Esse efeito que afeta o comportamento do calor específico a baixas temperaturas é denominado anomalia Schottky. Esta anomalia ocorre predominantemente em regiões de baixas temperaturas, pois é nessas regiões que se observa o desdobramento dos níveis de energia eletrônicos pela presença do campo cristalino [64], afetando os níveis de energia de íons do grupo dos metais, terras raras e metais de transição [46]. Quando os estados de mais baixa energia de um íon imerso em um cristal são formados por multipletos suficientemente próximos uns dos outros, e longe dos demais (de tal forma que seja possível que os níveis superiores no multipleto sejam populados através de excitações térmicas), temos um cenário favorável para a ocorrência do efeito Schottky [61]. No modelo proposto por Schottky em 1922, na ausência de campos magnéticos, a degenerescência do estado eletrônico fundamental aumenta quando o íon se encontra imerso em um campo cristalino. Essa dependência pode fornecer informações importantes sobre os estados magnéticos do sistema em estudo [65]. Quando os dois níveis mais inferiores resultantes do desdobramento pelo campo cristalino estão suficientemente distantes dos demais níveis, o sistema pode ser considerado de dois níveis, no intervalo de temperatura apropriado [66]. Então, se temos um sistema de dois níveis, e assumirmos que a distribuição de Boltzmann descreve a população dos níveis eletrônicos, a expressão para a contribuição ao calor específico pelo efeito Schottky é descrita por [65]: g0 cS = R g1 ( T0 T ) e(T0 /T ) [1 + gg01 e(T0 /T ) ]2 (39) onde R = NA kB 1 , g0 e g1 são as degenerescências do estado fundamental e primeiro estado excitado, respectivamente, e kB T0 é o intervalo (gap) de energia entre os dois estados. Se o sistema possui mais de dois níveis (estado multipleto), a expressão toma a forma [65, 67, 68]: cS = R ( 1 kB T )2 ∑ i [∑ ] ∑ (−εi /kB T ) 2 −ε2i e(−εi /kB T ) i e(−εi /kB T ) − i εi e ∑ 2 [ i −εi e(−εi /kB T ) ] (40) onde εi é a energia do i-ésimo nível. 1 R = 8, 314J.mol−1 .K −1 é a constante dos gases e NA = 6, 022.1023 mol−1 é a constante de Avogadro. 53 De forma geral, podemos dizer que o calor específico total de um sólido é formado pelas contribuições da rede, eletrônica e magnética (Schottky). Então, podemos expressá-lo como [65, 29]: cV = clatt + cel + cS (41) O primeiro termo da expressão acima é o calor específico gerado pelas vibrações da rede cristalina e engloba as contribuições de Debye (equação 35), responsável pelos ramos acústicos do modelo de vibração da rede, e Einstein (Equações 33 e 34), que engloba os ramos ópticos [65]; o segundo termo é a contribuição de Schottky e o último termo refere-se à contribuição eletrônica. Em um metal a baixas temperaturas, a contribuição eletrônica ao calor específico pode ser escrita como [62]: cel = γT (42) onde γ é uma constante. A contribuição eletrônica para isolantes é muito pequena, tornando mais significativa para o caso dos materiais metálicos, com muitos elétrons livres. A aplicação de um campo magnético externo em sistemas que apresentam o efeito Schottky origina um desdobramento do tipo Zeeman nos níveis de energia, deslocando a região de ocorrência do efeito [65, 68]. Além disso, segundo Lopez [69] é provável que a existência deste efeito anômalo esteja ligada ao teorema de Kramers. Este teorema, de acordo com Ashcroft e Mermim [45], enuncia que "não importa quão assimétrico seja o campo cristalino, se um íon possui um número ímpar de elétrons ele deve ter um estado fundamental que seja ao menos duplamente degenerado, mesmo na presença de campo cristalino e interações spin-órbita". Este fato pode levar à queda de população de origem térmica que produz o efeito Schottky. 3.3 Propriedades magnéticas 3.3.1 Susceptibilidade magnética e magnetização Um átomo livre possui um momento magnético total composto de diversas contribuições cujas origens principais são: o spin do elétron, o momento angular orbital em torno do núcleo atômico e a diferença de momento orbital induzida pela existência de um campo magnético aplicado. As duas primeiras origens mencionadas trazem contribuições paramagnéticas para a magnetização total e a terceira fornece uma contribuição diamagnética [46]. Podemos definir a susceptibilidade magnética χ como a grandeza que caracteriza um determinado material de acordo com sua resposta a um campo magnético aplicado [46], 54 χ= M µ0 B (43) onde M é a magnetização, e B é a intensidade do campo magnético aplicado no material. A susceptibilidade magnética é uma grandeza adimensional. A magnetização é uma grandeza que representa o estado magnético de um material, e é definida como o momento de dipolo magnético por unidade de volume [70], M= 1 ∑ µi V i (44) onde µi é o i-ésimo momento de dipolo magnético e o somatório na equação acima deve ser feito sobre todos os pontos nos quais existem dipolos magnéticos em um volume arbitrário V. De acordo com a resposta de um material ao campo aplicado (e consequentemente sua susceptibilidade), podemos ter diversos comportamentos magnéticos. Os principais são vistos na Tabela 7 [71]. Tabela 7: Diversos tipos de comportamento magnético em função da susceptibilidade do material [71]. Comportamento Susceptibilidade (χ) Ferromagnético >> 0 Ferrimagnético >> 0 Antiferromagnético >0 Diamagnético <0 Paramagnético >0 A seguir serão discutidos com maiores detalhes alguns dos diversos tipos de comportamentos magnéticos existenstes na natureza: o diamagnetismo, paramagnetismo, ferromagnetismo, antiferromagnetismo e ferrimagnetismo. 3.3.2 Diamagnetismo Os materiais com cargas em movimento apresentam diamagnetismo quando estão submetidos a um campo magnético externo, e a origem deste diamagnetismo reside na variação do momento angular orbital dos elétrons, induzida pela variação do campo externo. De acordo com o Teorema de Larmor citado por Kittel [46], o movimento dos elétrons em torno de um núcleo central, quando submetidos a um campo magnético, é igual ao movimento possível na ausência desse campo. A exceção ocorre quando há uma superposição criada por uma precessão dos elétrons com frequência angular dada por: 55 ω= eH 2m (45) A precessão de Larmor para Z elétrons equivale a uma corrente elétrica de intensidade I dada pela equação 46: ( I = (−Ze) 1 eH . 2π 2m ) (46) Sabemos da Lei de Lenz que, quando surge uma variação de fluxo magnético em um circuito, uma corrente induzida é criada com um sentido onde o novo fluxo induzido tende a se opor à variação do fluxo inicial. O resultado clássico de Langevin, encontrado em detalhes nas referências [45] e [46], mostra a susceptibilidade magnética por unidade de volume: χ= µ0 N µ µ0 N Ze2 2 =− ⟨r ⟩ H 6m (47) e foi obtido a partir da Lei de Lenz ao movimento orbital atômico. Na equação 47, µ0 é a permeabilidade magnética no vácuo, N é o número de átomos por unidade de volume, Z dá a quantidade de elétrons, ⟨r2 ⟩ é a distância quadrática média entre o elétron e o núcleo, e as contantes e e m dão a carga e a massa do elétron, respectivamente. O diamagnetismo está ligado à tendência das cargas externas em blindarem o interior de um corpo contra a ação de um campo magnético aplicado, e se caracteriza por uma susceptibilidade magnética pequena, negativa e independente da temperatura [71]. Nestes materiais a magnetização que aparece devido a um campo magnético externo torna-se contrária e proporcional a esse campo. Materiais diamagnéticos são aqueles que não possuem dipolos magnéticos permanentes, e são formados por átomos com camadas eletrônicas totalmente preenchidas. Entre estes materiais podemos destacar os gases nobres e os sólidos formados por ligação iônica [70]. Em geral o diamagnetismo é uma propriedade que se manifesta muito fracamente nos materiais, e materiais diamagnéticos apresentam uma susceptibilidade magnética da ordem de 10−15 . 3.3.3 Paramagnetismo Os materiais paramagnéticos são caracterizados por apresentarem uma susceptibilidade positiva e pequena, da ordem de 10−5 a 10−3 podendo ter uma forte dependência com a temperatura. Este fenômeno tem ocorrência em materiais com momentos magnéticos permanentes, mas isolados que podem alterar sua direção livremente. A simples presença de um campo externo cria uma magnetização na direção deste campo (figuras 12(a)-12(c)). 56 Figura 12: (a) Material paramagnético na temperatura ambiente sem aplicação de campo. (b) Material paramagnético na temperatura ambiente com campo magnético fraco. (c) Material paramagnético na temperatura ambiente com campo magnético forte. Fonte: wikipedia.org [72]. O paramagnetismo ocorre principalmente em metais de elementos não magnéticos (metais alcalino-terrosos, como sódio e magnésio), e isolantes dopados com elementos do grupo do ferro, terras raras e actinídeos, além dos metais [70]. Dois tipos de paramagnetismo devem ser destacados: o paramagnetismo de Pauli, que ocorre nos metais, e o de Van Vleck, presente nos isolantes. Para uma boa compreensão dos fenômenos paramagnéticos em metais e isolantes é importante conhecer as Regras de Hund (seção 1.4), que descrevem o estado fundamental dos íons com camadas parcialmente preenchidas. A seguir falaremos brevemente sobre o magnetismo em materiais isolantes. 3.3.4 Paramagnetismo em isolantes Em materiais isolantes, temos o paramagnetismo de Van Vleck, que existe devido à mistura do estado fundamental com níveis excitados pelo campo cristalino próximos ao nível fundamental. Em geral este comportamento não depende da temperatura. Os níveis de energia de um sistema submetido a aplicação de um campo magnético externo com 2J + 1 estados degenerados são dados por [46]: ⃗ = mJ gµB B U = −⃗µ.B (48) 57 onde mJ é o número quântico azimutal, µB é o magneton de Bohr, B é o campo magnético aplicado e g é o fator de Landé, dado por [70]: g =1+ J(J + 1) + S(S + 1) − L(L + 1) 2J(J + 1) (49) A magnetização deste sistema é dada por [46]: M = N gJµB BJ (x) (50) onde o valor de x é escrito como: x= gJµB H kB T (51) e BJ é chamada de função de Brillouin, definida por [46]: 2J + 1 BJ (x) = coth 2J ( (2J + 1)x 2J ) − (x) 1 coth 2J 2J (52) Para o estudo desta função dois limites são importantes: • Caso x >> 1: Para campos altos e/ou baixas temperaturas, o valor da magnetização tende a um resultado constante, M = N µB gJ. Neste caso temos todos os dipolos alinhados com o campo magnético e a magnetização adquire um valor de saturação Msat [70]. • Caso x << 1: Para baixos campos e/ou altas temperaturas a susceptibilidade varia com o inverso da temperatura onde M N J(J + 1)g 2 µ2B N p2 µ2B C = = = H 3kB T 3kB T T (53) com o valor C dado por: C= N p2 µ2B 3kB (54) O resultado acima é a famosa Lei de Curie da susceptibilidade magnética, onde C é a constante de Curie. 3.3.5 Ferromagnetismo, antiferromagnetismo e ferrimagnetismo Os materiais ferromagnéticos (figura 13(a)) possuem a característica de apresentar uma ordem magnética espontânea (mesmo sem a aplicação de um campo magnético externo) abaixo 58 Figura 13: (a) Ferromagnetismo. (b) Antiferromagnetismo. (c) Ferrimagnetismo. Todas as figuras referem-se à temperatura ambiente. de uma determinada temperatura Tc e uma dependência linear do inverso da susceptibilidade magnética com a temperatura para temperaturas acima da temperatura Tc . A temperatura Tc é a temperatura de Curie que delimita a ordem magnética espôntanea do sistema. Para temperaturas abaixo de Tc , os materiais ferromagnéticos exibem uma magnetização espontânea (fase ferromagnética ordenada); para temperaturas acima da temperatura de Curie, a ordem magnética é destruída e o material apresenta uma fase paramagnética desordenada. Na fase paramagnética a magnetização é dada por [46]: µ0 M = χp (Ba + BE ) (55) onde χp é a susceptibilidade na fase paramagnética, Ba é o campo magnético externo aplicado no sistema e BE = λM é o campo de troca, que consiste em uma interação interna que tende a alinhar os momentos magnéticos internos do sistema, criando domínios magnéticos (λ é uma constante). Substituindo o valor do campo de troca na equação 55 encontramos uma relação para a susceptibilidade magnética: χ= M C = Ba T − Cλ (56) Na equação acima fizemos uso da relação 43 e da Lei de Curie para a susceptibilidade paramagnética (equação 53). Na equação 56 podemos observar a existência de uma singularidade no ponto onde a temperatura é igual a Cλ. A relação acima é conhecida como Lei de Curie-Weiss, onde Tc = Cλ. Logo podemos escrever: χ= C T − Tc (57) Em materiais ferromagnéticos na temperatura nula, a magnetização tem o valor da magnetização de saturação, devido ao alinhamento dos momentos magnéticos. Com o aumento da temperatura, a agitação térmica faz com que os momentos magnéticos se desalinhem, com a consequente diminuição da magnetização. Assim, para temperaturas maiores que Tc o movimento de agitação térmica é predominante sobre e energia de ordenamento, de forma que o 59 material adquire comportamento paramagnético. Desta forma, a expressão na equação 57 descreve a susceptibilidade na região paramagnética para temperaturas acima de Tc [46, 70]. Vários elementos do grupo de metais de transição do ferro como o ferro, níquel e cobalto (puros ou combinados em ligas com outros elementos) apresentam propriedades ferromagnéticas [70]. Os materiais antiferromagnéticos (figura 13(b)) apresentam seus momentos magnéticos antiparalelamente alinhados. Consequentemente, a magnetização resultante para estes sistema é nula para temperaturas inferiores à temperatura de ordenação, ou temperatura de Néel (TN ). Para estes materiais, a susceptibilidade na região paramagnética é dada por: χ= 2C T + TN (58) Em sistemas antiferromagnéticos a temperaturas abaixo da temperatura de Néel os momentos magnéticos possuem orientações antiparalelas, e a susceptibilidade atinge seu valor máximo quando T = TN . Acima de TN , o sistema apresenta um comportamento semelhante a uma fase paramagnética, com susceptibilidade dada pela equação 58. Alguns dos materiais com propriedades antiferromagnéticas são o M nO, M nF2 , F eF2 , e o N iO, entre muitos outros [46]. Os materiais ferrimagnéticos (figura 12(c)) também apresentam momentos magnéticos alinhados de forma paralela. Porém, diferentemente do antiferromagnetismo, a magnetização resultante não é nula, pois os momentos magnéticos vizinhos possuem diferentes valores, de forma que a magnetização resultante seja diferente de zero. Dentre os materiais que exibem propriedades ferrimagnéticas podemos citar as ferritas, que são óxidos com fórmula geral M O · F e2 O3 , onde M é um cátion divalente, geralmente dos elementos Zn, Cd, F e, N i, Cu, Co ou M g [46]. 3.3.6 Efeito do campo cristalino nas propriedades magnéticas Para os íons que pertencem ao grupo do ferro, como o Cr3+ , a camada 3d é a mais externa e será responsável pelo fenômeno do paramagnetismo nestes materiais. Esta camada sofre uma ação intensa do campo eletrostático produzido pelos íons vizinhos pertencentes aos átomos ligantes da rede cristalina (campo cristalino). A interação dos íons magnéticos com o campo cristalino apresenta duas principais consequências [46]: o acoplamento entre o momento angular orbital L e o spin S é violado, de forma que os estados não sejam mais determinados pelos valores de J; e os 2L + 1 subníveis que pertencem a certo L, que são degenerados para o íon livre, podem ser agora desdobrados pelo campo cristalino. A ocorrência deste desdobramento diminui a contribuição dos momentos magnéticos para o movimento orbital. Os elétrons nas camadas d parcialmente preenchidas estão sujeitos a campos eletrostáticos não desprezíveis que não possuem a simetria do sítio cristalino onde o íon é imerso. Como 60 resultado, as regras de Hund (vistas na seção 1.4) se tornam parcialmente inválidas [45]. Como se pode ver, as duas primeiras regras de Hund podem não ser obedecidas, até mesmo no ambiente de campo cristalino. O campo cristalino deve ser, contudo, introduzido como uma perturbação nos (2S + 1)(2L + 1) conjuntos de estados determinados pelas duas regras. Esta perturbação atua em adição ao acoplamento spin-órbita. Portanto, a terceira regra de Hund tem de ser modificada. Para o caso dos íons de metais de transição do grupo do ferro (como o Cr3+ estudado neste trabalho), a interação de campo cristalino é muito maior que o acoplamento spin-órbita, então para uma primeira aproximação uma nova versão da terceira regra de Hund pode ser construída, de forma que o acoplamento spin-órbita seja desprezado, em favor da perturbação de campo cristalino. A perturbação do campo cristalino não desdobra a degenerescência de spin, desde que o campo cristalino dependa apenas de variáveis espaciais (como todo potencial eletrostático) e comute com S. Porém, se a perturbação do campo cristalino for suficientemente assimétrica, ela pode levantar a degenerescência do multipleto orbital L. O resultado será um multipleto no estado fundamental em que o valor médio de cada componente de L se anula (embora L2 ainda tenha o valor médio de L(L + 1)). Pode-se interpretar isto classicamente, como um aumento vindo da precessão do momento orbital angular no campo cristalino, de modo que, embora sua magnitude permaneça inalterada, todos os seus componentes tenham média igual a zero [45]. 4 TEORIA DA DIFRAÇÃO DE NÊUTRONS EM MONOCRISTAIS E MÉTODO DE RIETVELD 4.1 Introdução Neste capítulo discutiremos sobre a difração de nêutrons aplicada a monocristais. Veremos uma breve exposição das características que fazem do nêutron uma das partículas ideais para estudos de difração em materiais. A seguir será mostrada a teoria básica necessária para o entendimento do fenômeno da difração de nêutrons em monocristais e serão destacados alguns conceitos cristalográficos importantes. Por fim, será apresentada de forma breve a técnica de refinamento de Rietveld com ênfase no refinamento de amostras monocristalinas. Um sólido cristalino possui um arranjo tridimensional periódico e regular, e essa regularidade pode ser examinada através da forma com que esse arranjo é capaz de espalhar uma radiação incidente. A difração de nêutrons é uma poderosa técnica para o estudo de estruturas cristalinas. A simetria da estrutura atômica de uma amostra cristalina dá origem a estreitos picos de Bragg no padrão de difração dessa amostra. As posições dos picos dependem claramente da simetria da rede cristalina, enquanto que suas intensidades dependem das posições dos átomos na célula unitária. Portanto, um experimento de difração de nêutrons em uma amostra monocristalina é capaz de fornecer informações detalhadas sobre a simetria da rede e suas células unitárias constituintes. A difração de nêutrons também é uma ferramenta muito útil no estudo de estruturas magnéticas e materiais não cristalinos, tais como líquidos e materiais amorfos [73]. Embora possam ser consideradas técnicas similares, existem grandes diferenças entre a difração de nêutrons e a difração de raios-X. A principal diferença reside no fato de que raios-X e nêutrons interagem com a matéria de formas distintas. Os raios-X interagem através de fótons (radiação eletromagnética) com os elétrons das camadas que orbitam próximo ao núcleo atômico, enquanto que os nêutrons interagem com os próprios núcleos atômicos e com os momentos magnéticos desses núcleos. Ou seja, na difração de raios-X o elemento fundamental de espalhamento é o elétron, que interage com a radiação devido à sua carga elétrica. Na difração de nêutrons, o objeto fundamental para a ocorrência de espalhamento é o núcleo atômico. Desta forma, a difração de nêutrons reflete a densidade de espalhamento nuclear em um cristal, enquanto a difração raios-X reflete a distribuição da densidade de elétrons. Uma outra diferença muito importante está relacionada às dimensões do aparato experimental para ambas as técnicas. Enquanto que para a realização de um experimento de difração de raios-X o equipamento é relativamente simples e pode ocupar o espaço de uma pequena sala (ou de apenas uma mesa), os experimentos de difração de nêutrons ocupam espaços maiores, 62 pois é necessário a construção de blindagens de radiação volumosas e pesadas em torno da fonte de nêutrons, pois os mesmos possuem grande poder de penetração na matéria [74]. A difração de nêutrons, diferentemente do espalhamento inelástico, implica no fato de que não há um esforço em determinar a mudança na energia do nêutron quando ele é espalhado. Muitas das características que fazem da difração de nêutrons uma técnica ideal para determinação de estruturas cristalinas e magnéticas tem origem no uso das propriedades singulares do nêutron, que são descritas na seção a seguir. 4.2 O nêutron: características gerais O nêutron foi descoberto no início da década de 1930, quando se começou a estudar a radiação gama fortemente penetrante emitida por alvos de lítio e berílio quando atingido por partículas alfa. Tais experimentos foram inicialmente conduzidos por Walther Bothe e Herbert Becker e depois reproduzidos por Iréne Curie e Jean Fréderic Joliot, que também realizaram os mesmos experimentos em alvos de parafina. Em 1932, James Chadwick repetiu os experimentos anteriores em diferentes alvos e mediu a energia das partículas espalhadas. Os resultados de Chadwick mostravam o aparecimento de uma nova partícula com massa comparável a do próton e altamente penetrante, indicando que a mesma não deveria possuir carga elétrica [74]. O nêutron possui massa inercial de 1, 675.10−27 kg (ou 939, 56563M eV /c2 ) o que equivale a aproximadamente a massa do próton, sendo apenas 0,1% mais pesado que este. Ele possui uma carga elétrica muito pequena (podendo ser desprezada), mas apresenta um momento de dipolo magnético de −1, 913µB 1 , além de possuir spin de valor 1/2. O nêutron também possui comportamento ondulatório. Se um nêutron viaja a uma velocidade v ele possui um comprimento de onda de de Broglie λ associado, dado por: λ= h mn v (56) onde mn é a massa do nêutron e h é a constante de Planck. O nêutron possui também um vetor de onda ⃗k com módulo dado por: 2π |⃗k| = λ (57) h2 1 Ec = mv 2 = 2 2mλ2 (58) e energia cinética Ec 1 µB = 9, 27.10−24 A.m2 é o magneton de Bohr. 63 Os nêutrons por si só não são estáveis; eles existem apenas ligados a núcleos atômicos e sua produção para realização de experimentos de difração ocorre através de reações nucleares. Quando livre, possui uma meia-vida de aproximadamente 10 minutos, decaindo em seguida em um próton, um elétron e um antineutrino. O nêutron pode ser considerado uma partícula com características singulares a partir dos mais diversos pontos de vista. Ele apresenta grande insensibilidade a interações coulombianas, pelo simples fato de não possuir carga elétrica considerável, o que faz com que ele interaja com a matéria exclusivamente através da interação com os núcleos atômicos. Além disso, eles podem atravessar diversas camadas eletrônicas sem praticamenente qualquer interação e não são afetados pela barreira coulombiana quando se aproximam de núcleos atômicos. Pelas características apresentadas acima, podemos dizer que o nêutron é uma excelente ferramenta para o estudo das interações nucleares e da posição de núcleos em arranjos cristalinos sem a interferência dos elétrons da rede. O fato de interagirem diretamente com núcleos atômicos mostra que eles também possuem alto poder de penetração na matéria, sendo maior que outros tipos de radiação. Além disso, o nêutron também é capaz de distinguir diferentes isótopos constituintes de uma mesma amostra, já que diferentes isótopos de um mesmo elemento químico apresentam diferentes coeficientes de absorção. Existem diversos mecanismos de interação dos nêutrons com a matéria, mas o principal deles é o espalhamento. Se uma amostra é atingida por um feixe de nêutrons, duas interações são responsáveis pelo fenômeno de espalhamento. A primeira delas é a força nuclear forte, existente entre os nêutrons e os núcleos constituintes da amostra. A segunda é de origem magnética e ocorre entre os momentos magnéticos dos nêutrons e os elétrons desemparelhados dos íons magnéticos existentes na amostra [73]. Porém, tal interação acontece apenas no caso de a amostra ser constituída de íons com életrons desemparelhados, pois apenas estes irão sentir o momento magnético dos nêutrons. Estas interações são decritas em termos de amplitude de espalhamento, ou seção de choque de espalhamento. A amplitude de espalhamento para raiosX é fortemente dependente do número atômico e do ângulo de espalhamento. Em contraste, a mesma grandeza para os nêutrons praticamente não se altera, independentemente do número atômico e do ângulo de espalhamento [75]. No espalhamento elástico, após a colisão o núcleo mantém sua composição e energia interna inalterados. A energia do nêutron também não se altera. Já no caso de um espalhamento inelástico, o núcleo é deixado em um estado excitado, devido a uma transferência de energia do nêutron durante a colisão. As reações de absorção ocorrem de acordo com a energia do nêutron incidente e do produto final, podendo acontecer reações de captura radioativa, entre partículas carregadas e nêutrons de alta energia. Por fim, ainda temos as reações de fissão, onde o nêutron colide com núcleos pesados originando fragmentos e liberando grande quantidade de energia [74]. Nêutrons podem ser produzidos de diversas formas. A mais usada delas é a produção 64 em reatores nucleares, onde pelo processo de fissão nuclear o nêutron é produzido [73, 74]. Os nêutrons também podem ser criados a partir de aceleradores de partículas por reações indiretas. Nesse caso, elétrons acelerados produzem radiação do tipo bremsstrahlung2 em um alvo primário, onde os fótons deste alvo atingem um alvo secundário e produzem nêutrons através da reação (γ, n) [73, 74]. Tabela 8: Classificação dos nêutrons de acordo com sua energia E [74]. Nome Lentos Frios Térmicos Epitérmicos Ressonância Rápidos Ultra-rápidos Intervalo de energia (eV) 0 < E < 10−3 E < 0, 01 0, 01 < E < 0, 05 0, 5 < E < 104 1 < E < 100 3 10 < E < 20.106 E > 20.106 Uma classificação dos nêutrons de acordo com sua energia E em eV é visto na Tabela 8. Para experimentos de difração é necessário que sejam usados nêutrons cujo comprimento de onda tenha uma ordem de grandeza similar às distâncias interatômicas, da ordem de ângstrons (1 Å= 10−10 m). Nêutrons com tal comprimento de onda encaixam-se na faixa dos térmicos, com energias da ordem de 25 meV, menores que as energias típicas usadas para difração de raios-X [73]. Segundo Bacon [75], "pode-se dizer que é uma feliz coincidência que os nêutrons com energias suficientes para o estudo de estruturas atômicas sejam exatamente os mesmos que podem ser obtidos de forma mais conveniente por um reator". 4.3 Difração de nêutrons em monocristais Quando um feixe de nêutrons atinge uma amostra, diversos fenômenos podem ocorrer. Os nêutrons podem ser absorvidos, espalhados em uma nova direção com ou sem mudança em sua energia inicial, ou ainda podem atravessar diretamente a amostra, sem nenhuma interação com esta. Os nêutrons que mudam sua direção ao incidir na amostra são chamados de nêutrons espalhados, e o estudo dos materiais através da medida desses nêutrons é conhecido como espalhamento de nêutrons. Por outro lado, a difração de nêutrons geralmente implica que não há como determinar a mudança de energia do nêutron quando ele é espalhado. A absorção de nêutrons a princípio pode parecer um problema. Na verdade na maioria dos casos, esta absorção é muito pequena quando comparada à absorção de raios-X, e pode ser desprezada em uma primeira aproximação [76]. 2 Radiação de frenamento. 65 Figura 14: Eixos e ângulos cristalográficos. A difração de nêutrons é utilizada para estudos em monocristais com o propósito de medir as intensidades das reflexões de Bragg (obtidas através de espalhamento elástico e coerente) para a determinação de sua estrutura, dimensões da célula unitária e grupo espacial, além das posições dos átomos constituintes do cristal e suas respectivas ocupâncias. Um monocristal é uma distribuição atômica com ordem de longo alcance. Ou seja, o arranjo atômico é regular em toda a extensão do cristal. Uma amostra policristalina possui vários cristais orientados em diferentes direções de forma aleatória. Uma amostra em pó possui diversos microcristais com uma distribuição uniforme de orientações. O padrão de difração de um monocristal depende fortemente de sua orientação em relação ao feixe de nêutrons, o que não ocorre para uma amostra em pó. Como o cristal possui estrutura atômica ordenada, pode ser descrito em termos de repetições tridimensionais infinitas de sua célula unitária. Uma célula unitária é gerada pelos três vetores da rede ⃗a, ⃗b e ⃗c, formando os ângulos α, β e γ, de acordo com a figura 14. A interação entre um nêutron e uma amostra pode ser representada pelo pseudo potencial de Fermi V [73, 76]: N 2π~2 ∑ ⃗ j) bj δ(⃗r − R (59) V (⃗r) = mn j=1 onde mn é a massa do nêutron, a soma é feita sobre todos os núcleos da amostra estu⃗ j e bj são o vetor posição e o comprimento de espalhamento do j-ésimo núcleo, respecdada, R tivamente. Considere um nêutron com energia inicial Ei e vetor de onda ⃗ki , que ao incidir em uma amostra cristalina é espalhado com energia Ef e respectivo vetor de onda ⃗kf . A energia transferida para a amostra pelo nêutron espalhado é ~ω = Ei − Ef . O vetor de espalhamento (figura 15) é dado por ⃗ = ⃗ki − ⃗kf Q (60) 66 Figura 15: Arranjo vetorial mostrando o vetor de onda do nêutron incidente ⃗ki , do nêutron ⃗ espalhado ⃗kf e o vetor espalhamento Q. Se aplicarmos a regra do cosseno ao triângulo da figura 15, teremos que [77]: Q2 = ki2 + kf2 − 2ki kf cos(2θ) (61) onde 2θ é o ângulo entre as direções do feixe incidente e espalhado. Se temos um espalhamento elástico (onde a energia do nêutron não se altera), estamos trabalhando com a aproximação estática [73] e podemos assumir que a energia do nêutron incidente é grande quando comparada com as energias de excitação da amostra. Desta forma, ~ω ≈ 0, os vetores de onda incidente e espalhado podem ser considerados como aproximadamente iguais em módulo (|⃗ki | ≈ |⃗kf |) de tal forma que o vetor espalhamento tem o valor: ⃗ = 2ki sin θ = Q = |Q| 4π sin θ λi (62) onde λi é o comprimento de onda do feixe de nêutrons incidente. Para um monocristal a contribuição elástica coerente da seção de choque diferencial é [73]: (2π)3 ∑ ⃗ dσ ⃗ 2 = δ(Q − ⃗τhkl )|F (Q)| dΩ V τ (63) Se não existem interações magnéticas entre o nêutron e o núcleo, este pode ser considerado como um espalhador pontual, pois o alcance da interação é muito pequeno e a amplitude de espalhamento é isotrópica e independente do comprimento de onda [76]. Na equação 63, V é o volume da célula unitária dado por: V = ⃗a · (⃗b × ⃗c) onde ⃗a, ⃗b e ⃗c são os vetores da rede cristalina. (64) 67 ⃗τhkl é o vetor da rede recíproca, na forma ⃗τhkl = h⃗a∗ + k⃗b∗ + l⃗c∗ (65) onde ⃗a∗ , ⃗b∗ e ⃗c∗ são os vetores da rede recíproca, definidos abaixo: 2π⃗ b × ⃗c V (66) ⃗b∗ = 2π ⃗c × ⃗a V (67) 2π ⃗a × ⃗b V (68) ⃗a∗ = ⃗c∗ = ⃗ é o fator de estrutura que dá a amplitude do feixe de nêutrons difratado O termo F (Q) pelo plano (h, k, l) e é dado por: ⃗ = F (Q) ∑ ⃗ R ⃗ d )exp(−W ) bd exp(iQ. (69) d onde a soma d é feita sobre todos os átomos da célula unitária, bd é o comprimento de espalhamento (ou amplitude de espalhamento, dá uma medida da intensidade da interação ⃗ d é o vetor posição de equilíbrio do d-ésimo átomo entre a radiação incidente e o átomo) e R na célula unitária. W é o fator de Debye-Weller, um termo que depende dos deslocamentos atômicos originados de movimentos térmicos [73, 75, 78]. Em um cristal, a periodicidade da rede faz com que o fator de estrutura seja nulo exceto em valores especiais de Q, valores estes ⃗ ⃗ que fazem os fatores de fase eiQ.R interferirem de forma construtiva. A função delta na equação 63 nos diz que o espalhamento elástico coerente só ocorre quando a seguinte condição é obedecida: ⃗ = ⃗τhkl Q (70) Ou seja, picos são observados nos dados de difração quando o vetor espalhamento (também chamado vetor transferência de momento) é igual ao vetor da rede recíproca. Tais picos são conhecidos como picos de Bragg, e a equação 70 é a Lei de Bragg para difração em monocristais. Cada pico de Bragg pode ser identificado por uma combinação única de índices de Miller (h, k, l). O espalhamento coerente ocorre quando uma onda de nêutrons incidentes interage com os núcleos atômicos de forma coordenada. Neste caso as ondas espalhadas de todos os núcleos 68 que sofreram interação possuem fases relativas e bem definidas e podem então interferir umas com as outras. Já o espalhamento incoerente surge quando o feixe de nêutrons incidente interage separadamente com cada núcleo; dessa forma as ondas espalhadas de diversos núcleos possuem fases relativas aleatórias e indeterminadas e não podem interferir umas com as outras. A densidade de espalhamento nuclear ρ em um cristal fornece a densidade de probabilidade atômica em função da amplitude de espalhamento do nêutron e é dada por [78]: ρ(x, y, z) = ∑ F (h, k, l)exp[−2πi(hx + ky + lz)] (71) Cada isótopo possui uma única amplitude de espalhamento, mas todos os valores desta amplitude para todos os isótopos apresentam a mesma ordem de magnitude ao longo de toda a tabela periódica [75, 78]. Adicionalmente, esta técnica nos dá uma estimativa mais confiável e precisa sobre a localização dos núcleos. A análise de estruturas cristalinas por nêutrons em geral faz uso da teoria de difração cinemática padrão. De acordo com tal teoria, a intensidade de cada reflexão de Bragg é [78]: I(h, k, l) = kλ2 Vc |Fhkl |2 V2 (72) onde k é um fator de escala proporcional à intensidade do feixe de nêutrons; Vc é o volume total do cristal, V é o volume da célula unitária e o fator de estrutura |Fhkl |2 pode ser escrito explicitamente como: )]2 [ ( ∑ ky lz hx −2W |Fhkl |2 = br exp 2πi + + e a b c r (73) Na expressão acima x, y e z são as coordenadas do núcleo, h, k e l os índices de Miller do respectivo plano refletor, a, b e c são as dimensões da célula unitária (parâmetros de rede) e W é o fator de Debye-Weller. Das equações apresentadas acima, pode-se inferir que a intensidade da difração cai a medida que o volume da célula unitária aumenta. De forma a se obter intensidades de difração suficiente para alcançar bons resultados é necessário que se tenha cristais grandes para materiais com células unitárias grandes. O padrão de difração de um monocristal contém informações no espaço recíproco tridimensional e se um número suficiente de picos de Bragg é observado, a descrição completa da estrutura pode ser determinada. As posições dos picos de Bragg no espaço recíproco dependem dos parâmetros a, b, c, α, β e γ, conforme visto na figura 14. Consequentemente, as dimensões da célula unitária podem ser determinadas a partir das posições dos picos de Bragg. A intensidade de cada pico (equação 72) depende do fator de estrutura (equação 73), que por sua vez 69 depende das posições dos átomos na célula unitária. Dessa forma, a célula unitária pode ser determinada a partir das intensidades integradas dos picos observados. 4.4 Método de Rietveld O método de Rietveld (1967) é uma ferramenta utilizada para o refino de estruturas cristalinas a partir de dados de difração de raios-X ou nêutrons de amostras em pó ou na forma de cristais. A técnica consiste basicamente no ajuste teórico do padrão de difração da amostra fazendo uso de um modelo matemático onde são levados em consideração fatores de ordem estrutural e instrumental. Ela se baseia no método dos mínimos quadrados até que o melhor ajuste entre o padrão de difração observado e o calculado seja alcançado [79]. Os parâmetros fornecidos no início do refino se alteram, procurando ajustar o perfil teórico ao perfil observado. O perfil teórico (ou calculado) é ajustado de forma iterativa, até que a condição de convergência entre o modelo calculado e o observado seja alcançada [80]. As exigências necessárias para a realização de um bom refino incluem dados de difração de alta qualidade, com boa resolução instrumental, um modelo estrutural com significado físico e funções que descrevam o background (ruído instrumental) e o formato dos picos de difração de forma adequada e coerente. Os parâmetros ligados à estrutura cristalina são: o grupo espacial, parâmetros de rede, posições atômicas, ocupações e parâmetros térmicos atômicos (isotrópicos e anisotrópicos). Os demais parâmetros a serem considerados em um refino são os parâmetros instrumentais, tais como background, a função perfil (que modela o formato dos picos), intensidade, extinção, e orientação preferencial, entre outros. Este método também é altamente indicado para análise quantitativa de fases, sendo possível a identificação de diversas fases presentes em uma única amostra. Atualmente existem diversos programas desenvolvidos para auxiliar na utilização do método de Rietveld. Tais programas realizam os cálculos necessários para se alcançar a convergência a partir dos parâmetros de entrada. Entre os programas mais populares e distribuídos de forma livre podemos destacar o FullProf [81], o DBWS [82], o GSAS [83] e o Rietan [84]. 4.4.1 Modelo Teórico A quantidade a ser minimizada pelo método dos míninos quadrados é a função resíduo Sy , definida como [79]: Sy = ∑ i wi (yi (obs) − yci (calc))2 (74) 70 onde: • yi (obs) é a intensidade observada (obtida experimentalmente) do i-ésimo passo; • yci (calc) é a intensidade calculada do i-ésimo passo; • wi = 1/yi (obs) e a soma deve ser feita sobre todos os pontos da coleção de dados. Segundo Young [79], um conjunto de dados de difração para um determinado material cristalino consiste basicamente em uma coleção de perfis de reflexão individuais onde para cada perfil há um pico de difração caracterizado por sua intensidade, posição, largura e intensidade integrada, sendo esta última proporcional à intensidade da reflexão de Bragg IK , onde o subscrito K se refere aos índices de Miller h, k e l. A intensidade da reflexão de Bragg é diretamente proporcional ao fator de estrutura (equação 72). As intensidades calculadas yci são obtidas dos fatores de estrutura calculados a partir de um modelo estrutural somando-se todas as contribuições das reflexões de Bragg da vizinhança e o background, de acordo com a equação abaixo [79]: yci (calc) = s ∑ LK |FK |2 ϕ(2θi − 2θK )PK A + ybi (75) K A seguir temos uma breve descrição de cada termo que aparece em (75) [79, 80]: • s é o fator de escala, que depende da área da amostra irradiada e da intensidade da radiação incidente; • K se refere aos índices de Miller da i-ésima reflexão de Bragg (hkl); • LK engloba os fatores de Lorentz, polarização e multiplicidade; • FK é o fator de estrutura (equação 73); • ϕ é a função perfil, que descreve o perfil da reflexão; • PK é o fator que descreve a orientação preferencial, que normalmente surge quando existe uma tendência do cristal em se orientar em uma determinada direção (ou um conjunto de direções) em detrimento às demais; • A é o fator de absorção, que depende da espessura da amostra e da geometria do equipamento; • ybi é a função que representa o background, ou radiação de fundo. 71 O procedimento de minimização basicamente leva o conjunto de parâmetros refináveis de origem estrutural e instrumental representado pelo vetor P = {p1 , p2 , ..., pn } (onde cada pi é um parâmetro refinável) a uma rotina de minimização que calcula o melhor conjunto de parâmetros P’ = {p′1 , p′2 , ..., p′n } que faça o resíduo Sy ter o menor valor possível. Este procedimento produz um conjunto de equações que envolvem as derivadas de todas as intensidades calculadas relativas a cada parâmetro ajustável e resolvidas pela inversão da matriz com elementos Mjk (conhecida como matriz singular [79]) dados por: Mjk = − ∑ i [ ∂ 2 yci 2wi (yi − yci ) − ∂xj ∂xk ( ∂yci ∂xj )( ∂yci ∂xk )] (76) onde os parâmetros xj e xk formam o conjunto de parâmetros refináveis e os yi e yci são definidos na equação 74. É importante enfatizar que o modelo estrutural inicial deve ser bem próximo ao modelo real que representa os dados observados ou todo o procedimento de ajuste pelos mínimos quadrados corre o risco de não alcançar o mínimo global. Uma análise detalhada dos fatores presentes na equação 75 considerados para o cálculo da intensidade teórica pode ser encontrada nos textos de Young [79] e McCusker [85]. 4.4.2 Fatores de concordância Sabemos que um refinamento chegou a seu final quando os parâmetros não variam mais e o valor do resíduo Sy atingiu o seu valor mínimo (isto é, atingiu a convergência) [86]. Os fatores de concordância são fatores que acompanham a convergência do refinamento ao final de cada ciclo e ajudam o usuário a julgar a validade do refino, para tomar a decisão de continuar, interromper ou finalizar o trabalho. Abaixo, temos uma breve descrição dos fatores de concordância a serem analisados ao final de cada ciclo de refino. O fator de perfil Rp (profile factor) é definido como: ∑ Rp = 100 |yi i∑ − yci | i yi (77) O fator Rwp (weighted profile fator), conhecido como fator R ponderado [86] é o índice utilizado para verificar se o refinamento está convergindo. Ao final de um refino ele não deve variar mais, indicando que o mínimo do resíduo foi alcançado. O fator Rwp é dado por: √∑ Rwp = 100 − yci )2 2 i wi yi (yi i∑ (78) 72 O índice S (goodness of fit indicator) dá uma medida de quão bem os valores calculados se ajustam aos valores observados. Ele é definido como: S= Rwp Rexp (79) O valor de S deve estar próximo a 1,0 ao final do refinamento, indicando que nada mais pode ser otimizado, pois o fator Rwp já atingiu seu limite. Entretanto, segundo Young [79], um valor de S próximo a 1,3 (ou menor), já pode ser considerado satisfatório. Alguns autores e programas, como o FullProf [81] utilizam o fator χ2 (reduced chisquare), que é apenas o valor de S elevado ao quadrado: [ Rwp χ = Rexp ]2 2 = S2 (80) A quantidade que aparece no denominador das equações acima, Rexp (expected weighted profile factor) é o valor estatisticamente esperado para Rwp , dado por: √ Rexp = 100 n−p ∑ 2 i wi yi (81) onde n é o número de pontos sendo efetivamente usados no refino e p é a quantidade de parâmetros refinados. A diferença (n − p) também pode ser definida como o número de graus de liberdade [81]. Este fator estima o melhor valor de Rwp para um conjunto de dados. O fator de Bragg RB é utilizado para avaliar a qualidade do modelo estrutural obtido durante o refino, que pode ser descrito como uma função das intensidades integradas dos picos [86]: ∑ RB = 100 hkl |Ihkl (obs) − Ihkl (calc)| ∑ hkl |Ikhl (obs)| (82) onde Ihkl (obs) é o valor da intensidade integrada observada para a reflexão hkl e Ihkl (calc) é o valor da intensidade integrada calculada para a mesma reflexão. No caso de refinamento de amostras monocristalinas, as quantidades acima são definidas em termos dos fatores de estrutura, em vez das intensidades, e a função a ser minimizada também leva em conta os fatores de estrutura. A função resíduo a ser otimizada quando se trabalha com intensidades integradas ou em amostras monocristalinas é definida como [81]: M= ∑ n 2 − wn (Fobs,n ∑ k 2 )2 Fcalc,k (83) 73 onde o índice n cobre todas as observações e o índice k corre sobre todas as reflexões que contribuem para a observação n. F 2 é o valor quadrado do fator de estrutura. A partir do valor do resíduo acima, os fatores de confiança são definidos de acordo com as seguintes equações [81]: Fator RF 2 : ∑ RF 2 = 100 ∑ 2 |] − k Fcalc,k ∑ 2 n Fobs,n (84) ∑ 2 2 )2 wn (Fobs,n − k Fcalc,k ∑ 2 n wn Fobs,n (85) 2 n [|Fobs,n Fator RF 2 w: √∑ n RF 2 w = 100 Fator RF : ∑ RF = 100 √∑ 2 [|F − obs,n n k Fcalc,k |] ∑ n Fobs,n (86) onde Fobs,n = √ 2 Fobs,n (87) Fator χ2 : χ2 (I) = M nobs − p (88) Segundo McCusker [85], os critérios mais importantes que devem ser observados durante o julgamento de um refino são o ajuste do padrão calculado aos dados experimentais e se o modelo estrutural possui significado físico. O ajuste entre os perfis calculado e observado pode ser avaliado com base no gráfico que mostra o difratograma observado junto ao calculado, e a diferença entre ambos os perfis (para amostras em pó). Quanto menor a diferença entre os prefis calculado e observado, melhor a qualidade do ajuste. Para refino de intensidades integradas a partir de dados de amostras monocristalinas uma forma comum de comparar este ajuste é 2 observar o gráfico do quadrado do fator de estrutura calculado (Fcalc ) em função do quadrado 2 do fator de estrutura observado (Fobs ). Quanto mais próximos estiverem os valores calculados dos observados, melhor será o refino. Já a verificação do significado físico do modelo estrutural obtido deve levar em consideração um exame criterioso e cuidadoso dos parâmetros 74 cristalográficos encontrados, ou seja dos parâmetros de rede, ângulos e posições atômicas. Esses parâmetros devem ser condizentes com o grupo espacial atribuído no refino, e os fatores de confiança (fatores R) devem ser pequenos, o que indica que o refino está convergindo. 5 O TRABALHO EXPERIMENTAL 5.1 Introdução Neste capítulo serão descritos as amostras usadas para estudo neste trabalho, os principais procedimentos e técnicas experimentais utilizados, assim como o equipamento e a metodologia de trabalho. Dentre as técnicas utilizadas, trataremos inicialmente das medidas de luminescência, excitação, tempo de vida da luminescência e luminescência resolvida no tempo, seguida das medidas de susceptibilidade magnética em função da temperatura, magnétização em função do campo magnético e capacidade térmica, também em função do campo magnético. Por fim, será abordado o equipamento e o procedimento realizado para as medidas de difração de nêutrons. Antes faremos uma breve análise das amostras utilizadas e do seu método de obtenção. 5.2 Descrição das amostras As amostras selecionadas para os experimentos são do fluoreto elpasolita Cs2 N aAlF6 , dopado com as concentrações de 0,1; 1,0; 3,0; 10,0; 30,0 e 50,0% de Cr3+ . Elas foram preparadas através do método hidrotérmico no Institute of General and Inorganic Chemistry em Moscou, Rússia por N. M. Khaidukov. Em linhas gerais o método hidrotérmico consiste na cristalização de substâncias a partir de soluções aquosas aquecidas e submetidas a altas pressões. O crescimento do cristal ocorre em autoclaves1 , onde a solução aquosa é colocada. A autoclave sofre uma diferença de temperatura de forma que a temperatura interna na metade inferior da autoclave (câmara de dissolução) onde se encontra a solução aquosa seja maior que a temperatura na metade superior (câmara de crescimento) onde ocorre o crescimento do cristal. Com o aumento da temperatura a substância se dissolve e é transportada para a região superior da autoclave por mecanismos de convecção. Neste ponto, a solução é supersaturada devido à diminuição de temperatura e então ocorre o crescimento do cristal [88]. Os fluoretos foram obtidos através do método de gradiente de temperatura como resultado da reação entre as soluções aquosas de CsF (30-35 mol %) e N aF . A razão entre os moles de CsF /N aF foi alterada de 4,8 para 5,2 com a mistura apropriada dos óxidos Al2 O3 e Cr2 O3 (com 99,995% de pureza) na temperatura de 750 K, com um gradiente de temperatura de aproximadamente 2 K/cm e pressões de 100-150 MPa. Para os experimentos pelo método hidrotérmico foram utilizadas autoclaves com revestimento de cobre de volume aproximado de 1 Autoclaves são compartimentos onde elevadas pressão e temperatura são empregadas no processamento de materiais. 76 40 cm3 . Sob tais condições, cristais de aproximadamente 0,5 cm3 foram crescidos na região superior da autoclave [31, 87]. É importante salientar que a obtenção destas amostras pelo método hidrotérmico é muito difícil, pois este método exige altas pressão e temperatura para o processamento das amostras, além de um gradiente de temperatura que varia muito lentamente. Figura 16: Cristais de Cs2 N aAlF6 mostrando as respectivas porcentagens do dopante Cr3+ . Na figura 16 vemos as amostras usadas nas medidas. Elas exibem um tom esverdeado que varia do quase transparente (amostra de 0,1%) ao verde escuro praticamente opaco (amostra de 50,0%), onde o tom de verde da amostra escurece gradativamente com o aumento da concentração do íon impureza. Todas as amostras têm uma aparência semelhante a vidro colorido e devem ser manuseadas com muito cuidado, pois são extremamente frágeis e pequenas, podendo ser quebradas com muita facilidade. 5.3 Medidas Ópticas As medidas ópticas descritas a seguir compreendem as medidas de luminescência, excitação e tempo de vida na temperatura ambiente (300 K) e a baixas temperaturas (≃ 5 K), além da luminescência resolvida no tempo na temperatura ambiente. As medidas ópticas foram feitas no Laboratório de Óptica dos Sólidos do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), no Laboratório de Fotoluminescência e Excitação (PLE) e no Laboratório de Fotoluminescência Resolvida no Tempo, os dois últimos pertencentes ao Grupo de Propriedades Ópticas (GPO) do Instituto de Física Gleb Wataghin da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). 5.3.1 Medidas de luminescência As medidas de luminescência foram realizadas na temperatura ambiente e a baixas temperaturas nas amostras Cs2 N aAlF6 dopadas com as concentrações de 0,1; 1,0; 3,0; 10,0; 30,0 e 50,0% de Cr3+ , em substituição ao Al3+ . 77 Nos experimentos de luminescência realizados na UFRJ foram utilizados uma lâmpada branca de tungstênio de 50 W (comprimento de onda de 420 nm) e um laser de He-Ne (comprimento de onda de 632,8 nm, potência 14 mW) como fontes de excitação. O comprimento de onda de excitação utilizando-se luz branca foi selecionado com a ajuda de um monocromador AM505F ARC, com varredura em nm. A radiação de excitação foi modulada em amplitude por um chopper PAR 191, com frequência de 100 Hz. Para a varredura do espectro de emissão foi usado um espectrômetro 2061 McPherson. O sinal óptico foi detectado com uma fotomultiplicadora RCA 31034. Um lock-in (EG&G PAR Instrumentation modelo 5209) e um osciloscópio digital (Tektronix modelo TDS 350) foram utilizados para aquisição e processamento do sinal de emissão. Nas medidas ópticas realizadas na UNICAMP o equipamento utilizado consistia em duas fontes de excitação: uma lâmpada de Xe de 1000 W acoplada a um sistema de ventilação (para dissipar o gás ozônio tóxico criado durante seu uso) e um laser de He-Ne (comprimento de onda 632,8 nm e potência de 14 mW DC); um chopper de velocidade variável SR-540 com frequência de 100 Hz; um espectrômetro duplo SPEX com rede de difração de 1200 linhas/mm, com varredura em cm−1 ; um lock-in EG&G 5210 e um tubo fotomultiplicador Hamamatsu R943-02 com Peltier. O mecanismo para obtenção do espectro de luminescência de uma amostra sólida consiste no procedimento descrito no parágrafo a seguir. Uma fonte de luz é usada para excitar a amostra. Para esse fim podemos utilizar um laser ou uma fonte de luz branca. No caso da utilização da fonte de luz branca, a luz deve passar por um monocromador (ou filtros), que permitem a seleção do comprimento de onda desejado. A luz de excitação atravessa um modulador eletromecânico (chopper) de velocidade ajustável, que tem a função de modular a amplitude da radiação incidente na amostra. Este chopper é conectado a um amplificador retificador eletrônico sensível à fase (lock-in), de forma que apenas os sinais que possuem a frequência de referência fornecida pelo chopper sejam interpretados como radiação emitida pela amostra e serão amplificados e retificados. A seguir, a radiação modulada em amplitude com comprimento de onda conhecido atinge a amostra. A amostra emite radiação em um comprimento de onda característico diferente da radiação incidente. A emissão da amostra é direcionada para a fenda de entrada de um espectrômetro, em cuja fenda de saída encontra-se posicionado um tubo fotomultiplicador. O espectrômetro varre o intervalo de comprimentos de onda de emissão da amostra, e esta emissão é captada pelo tubo fotomultiplicador que tem a função de amplificar o sinal registrado. O sinal amplificado é enviado para o lock-in e posteriormente para o computador, onde é então analisado. O resultado obtido é um gráfico do sinal de luminescência da amostra em função do comprimento de onda da luz emitida. Na figura 17 vemos um esquema do aparato experimental utilizado nas medidas de luminescência. 78 Figura 17: Esquema do equipamento usado para as medidas de luminescência. Durante a montagem do sistema para a aquisição dos dados, deve-se fazer um alinhamento entre os componentes ópticos do sistema de forma que o sinal obtido seja o maior e menos ruidoso possível. Para este fim podemos usar lentes, colimadores de feixe, controlar a espessura da fenda de entrada da radiação emitida no espectrômetro e utilizar filtros no sistema de detecção. Esses filtros tem a função de bloquear luz ambiente ou luz refletida dentro da cavidade óptica. Também devemos tomar cuidado com relação à luz incidente no espectrômetro que atinge fotomultiplicadora. A fotomultiplicadora, por ser um equipamento muito sensível, pode queimar facilmente se receber uma quantidade de luz muito intensa durante muito tempo, enquanto estiver sendo alimentada pela fonte de alta tensão. As medidas foram realizadas em uma sala escura (com portas e janelas fechadas) de forma que nenhuma ou muito pouca radiação externa seja captada como sinal de fundo e influencie a obtenção das medidas. Antes de iniciar cada medida devemos especificar suas condições tais como comprimento de onda de excitação, intervalo de varredura, frequência do chopper, sensibilidade do detector, fase do sinal, uso de filtro e tamanho da fenda de entrada da radiação de excitação. Essas informações são fornecidas ao computador interfaceado ao sistema de aquisição de dados, para registro. Nas medidas de luminescência e excitação a baixas temperaturas, a amostra a ser analisada pode ser resfriada a temperaturas criogênicas em um ambiente selado, a vácuo e então é exposta à radiação. Medidas a temperaturas criogênicas podem fornecer informações valiosas 79 sobre estados de baixa energia que podem ser ocultados por efeitos de origem térmica quando estas mesmas medidas são realizadas na temperatura ambiente. Para as medidas a baixas temperaturas além de todo o aparato descrito anteriormente, utilizamos um criostato de hélio de fluxo contínuo. O criostato opera em uma extensa faixa de temperatura e possui proteção para o compartimento a vácuo, quatro janelas de quartzo para a entrada e saída da radiação e um compartimento para a amostra. A entrada do fluido criogênico no sistema (neste caso hélio líquido) é feita através de uma conexão a uma linha de transferência de hélio, utilizada para resfriamento do sistema [89]. Através do controle da temperatura do vapor de hélio que entra no compartimento onde a amostra é inserida, a amostra e o compartimento onde a amostra se encontra são resfriados simultaneamente para a mesma temperatura. Este controle automático de temperatura também permite o monitoramento e fornece a temperatura do sistema. Para as medidas a baixas temperaturas (também realizadas na UNICAMP) foi usado além do equipamento anteriormente descrito um criostato óptico de fluxo contínuo Janis STVP100, que opera na faixa de temperatura compreendida entre 1,5 a 325 K [89]. Todos os espectros adquiridos foram corrigidos pela resposta do sistema experimental. 5.3.2 Medidas de excitação O aparato experimental para realização das medidas de excitação de uma amostra sólida é basicamente o mesmo utilizado nas medidas de luminescência descrito na seção anterior, assim como os cuidados e precauções na realização das medidas. A grande diferença é que, para medidas de excitação a fonte de luz é branca, geralmente uma lâmpada espectral, como visto na figura 18. A luz dessa lâmpada passa inicialmente por um monocromador, com o qual selecionamos o comprimento de onda desejado para a excitação da amostra. Existem também algumas diferenças no processo de aquisição de dados em relação ao experimento de luminescência. A radiação emitida pela lâmpada é varrida por um monocromador que faz com que a amostra seja atingida por um comprimento de onda por vez. O sinal emitido pela amostra é então enviado para o espectrômetro que se encontra posicionado em um comprimento de onda específico. Após esse procedimento, o sinal é amplificado pela fotomultiplicadora e enviado ao computador para posterior análise e construção dos espectros. Se a amostra possui diversos centros emissores, o procedimento acima deve ser repetido para os comprimentos de onda correspondentes a cada centro emissor. O resultado obtido é um gráfico da intensidade da radiação absorvida pelo centro emissor no comprimento de onda de emissão selecionado em função do comprimento de onda da excitação que atinge a amostra. As medidas de excitação foram realizadas na UNICAMP com o mesmo equipamento descrito na seção anterior. Nas medidas a temperatura ambiente e a baixas temperaturas a 80 Figura 18: Esquema do equipamento usado para as medidas de excitação. lâmpada de 1000 W foi usada, com varredura em comprimento de onda no intervalo entre 400 e 700 nm, nos comprimentos de onda onde se localizam os baricentros das bandas de emissão. 5.3.3 Medidas de tempo de vida As medidas de tempo de vida da luminescência são realizadas para determinação do tempo de duração da luminescência de um sistema. Nossas medidas se baseiam no método de deslocamento de fase, como descrito em [90], e o equipamento utilizado é exatamente o mesmo das medidas de luminescência realizadas na UNICAMP. Este método pode ser rapidamente descrito da seguinte forma: inicialmente identificamos o comprimento de onda onde ocorre o máximo da banda de luminescência cujo tempo de vida desejamos verificar. Em seguida verificamos no amplificador lock-in sensível a fase o ângulo de fase (φ′ ) que maximiza o sinal do baricentro desta banda de luminescência. Também temos que verificar o ângulo de fase (φ0 ) da luz direta (luz espalhada), colocando-se os dois monocromadores do sistema (o que varre a radiação de excitação e o que recebe a emissão da amostra) na mesma posição (mesmo comprimento de onda). Se utilizamos um laser como fonte de excitação, devemos posicionar o espectrômetro que recebe a emissão da amostra no comprimento de onda do laser. Com o valor dos ângulos de fase e a frequência de modulação em amplitude da radiação de excitação, podemos determinar o tempo de vida do decaimento radiativo através da equação abaixo: 81 τ= tg(φ′ − φ0 ) 2πν (89) Onde: τ é o tempo de vida; e ν é a frequência de modulação do sinal (frequência do chopper). O método de determinação do tempo de vida do estado luminescente mostra-se extremamente útil para a identificação e separação de bandas de luminescência que encontram-se sobrepostas no espectro mas que possuem tempos de vida diferentes, o que caracterizaria a presença de diferentes centros luminescentes no mesmo sistema. 5.3.4 Medidas de luminescência resolvida no tempo A principal diferença da luminescência convencional (já descrita anteriormente) da técnica de luminescência resolvida no tempo é o uso de uma fonte de excitação pulsada, em vez de uma fonte de excitação contínua. A fonte de excitação pulsada atinge a amostra, onde a frequência do pulso deve ser alterada de acordo com o tempo de decaimento da amostra, de forma que a duração do pulso acomode pelo menos um intervalo completo de decaimento. O laser pulsado tem a função de excitar os elétrons da amostra causando a luminescência. Como a luz que atinge a amostra é pulsada, durante o intervalo de tempo em que a amostra não recebe luz os elétrons excitados decaem de volta para seu estado fundamental, permitindo então que seja possível determinar o tempo de vida do estado excitado. Desta forma, esta técnica faz com que centros excitados decaiam para o estado fundamental através de processos radiativos e não radiativos, onde podemos obter um sinal cuja intensidade depende diretamente do tempo. Assim, o processo de volta ao estado fundamental pode ser experimentalmente observado através da análise da forma do decaimento da luz emitida, e o tempo de vida do decaimento pode ser determinado [50]. O equipamento utilizado nesta técnica é muito similar ao usado na luminescência convencional, com algumas diferenças: o detector do sinal da amostra deve ser ligado a um sistema de detecção com sensibilidade temporal, e uma streak camera, um sistema moderno de detecção de luz resolvida no tempo. Na streak camera o pulso de luz atravessa a fenda de entrada e atinge um fotocátodo (de GaAs), gerando a emissão de elétrons. A quantidade de elétrons emitidos é diretamente proporcional à quantidade de luz que atinge o fotocátodo. Os elétrons atravessam um conjunto de microcanais onde eles são multiplicados (assim como num tubo fotomultiplicador). Em seguida, tais elétrons são desviados por uma tensão sincronizada em uma direção (vertical) e atingem uma tela fosforecente. As posições espaciais nesta direção fornecem o tempo de atraso com relação ao pulso do laser; a direção horizontal temos o eixo relacionado ao comprimento de onda. Atrás da tela encontra-se um detector CCD que fornece a 82 imagem da fotoluminescência. O brilho em um determinado ponto da imagem formada na tela é proporcional à intensidade da luz incidente no tempo correspondente. Dessa forma, o perfil temporal do pulso incidente é obtido [50]. Com esta técnica também é possível adquirir espectros de emissão a diferentes intervalos de tempo após a absorção do pulso de luz. A ideia básica consiste em fazer uma aquisição de um espectro em um determinado intervalo de tempo após a amostra receber o pulso de excitação (delay time) dentro de uma janela temporal (ou intervalo temporal ∆t). Fazendo diversas medidas mantendo uma janela temporal fixa mas com diferentes delays é possível detectar luminescência de diferentes centros emissores e elementos com concentrações muito baixas, quando presentes em uma determinada amostra [50]. Nas medidas de luminescência resolvida no tempo feitas na temperatura ambiente foram utilizados um laser pulsado de diodo com comprimento de onda de 635 nm, uma streak-camera com fotocatodo de GaAs (Hamamatsu C4334) e um monocromador (Brucker), com 150 linhas/mm. 5.4 Medidas de susceptibilidade e histerese magnética Medidas de susceptibilidade magnética em função da temperatura e medidas de histerese magnética foram feitas nas amostras Cs2 N aAlF6 dopadas com 0,1%, 1,0%, 3,0%, 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ . Elas foram realizadas no Laboratory for Magnetic Measurements (LAMM) localizado no HZB, Berlim, Alemanha. O processo de preparação para as medidas magnéticas consiste na medida da massa de cada amostra e na sua montagem no porta-amostra. Cada massa é medida e tem seu valor registrado. Em seguida, as massas de uma cápsula, uma espátula e de um canudo (todos de plástico) também são medidas e registradas. Esses materiais serão utilizados na confecção do porta-amostra e montagem da amostra para ser inserida no equipamento. O porta-amostra consiste basicamente da espátula de plástico onde a amostra é colada com uma cola especial, (Vanish Glue inserida na cápsula. A plataforma, a cápsula e a amostra têm suas massas medidas separadamente antes da montagem, e depois, com todo o porta-amostra montado. Na figura 19 vemos a amostra colada à plataforma (a) e já inserida na cápsula (b). A seguir introduzimos em um canudo de plástico o sistema cápsula + espátula + amostra. Para isso deve-se fazer alguns cortes no canudo e tentar colocar o sistema numa posição de forma que a amostra esteja localizada um pouco acima do meio do comprimento do canudo, e não se desloque desta posição (ou se desloque o mínimo possível). Deve-se fazer um furo adicional na parte superior do canudo com a finalidade de manter a pressão homogênea em seu interior, pois no interior do equipamento tem-se vácuo. Finalmente, a massa desta configuração é medida. Na figura 20 vemos o sistema montado pronto para a realização da medida. 83 Figura 19: (a) Amostra colocada na espátula; (b) Sistema espátula + cola + amostra com as partes da cápsula nas extremidades da espátula. Figura 20: Amostra inserida no porta-amostra pronta para a realização das medidas magnéticas. É importante salientar que a preparação da amostra deve ser feita em ambiente limpo, de forma a evitar a sua contaminação. Assim, para minimizar os efeitos de agentes espúrios todos os instrumentos utilizados para manusear a amostra foram limpos com álcool ultra-puro. Também vale destacar que a preparação e a realização das medidas (também considerando as medidas de capacidade térmica, a serem descritas na seção 5.5) constituem um processo não destrutivo para as amostras, que podem ser reutilizadas em novos experimentos. Os experimentos de susceptibilidade magnética com variação de temperatura e os experimentos de histerese magnética foram feitos com o magnetômetro SQUID MPMS-5T (Magnetic Properties Measurement System), da fabricante Quantum Design. SQUIDs são utilizados para medição de campos magnéticos extremamente pequenos. Este magnetômetro opera no intervalo de temperatura entre 2 K e 400 K, com campo magnético máximo de 5T e pode ser utilizado para medidas de magnetização, momento magnético e histerese magnética [91]. O magnetômetro faz a medida de susceptibilidade de uma amostra movendo-a através de uma bobina supercondutora, resfriada a gás hélio. A câmara onde se localizada a amostra é selada, onde a troca do gás hélio estabelece um contato térmico com a amostra a fim de minimizar erros sistemáticos resultantes do deslocamento do gás hélio quando a amostra se move através das bobinas [92]. O MPMS integra um sistema de detecção SQUID, uma unidade de controle de tempe- 84 Figura 21: Detalhes do interior do magnetômetro MPMS-5T. Fonte: MPMS Quantum design [92] e McElfresh [93]. ratura, e um sistema computadorizado. O sistema computadorizado permite inserir as especificações da medida a ser realizada. Na figura 21 vemos um esquema mostrando a posição da amostra no interior do magnetômetro. A amostra é montada em um porta-amostra (canudo) que é ligado ao final de uma vareta. Esta vareta (vareta de transporte) é utilizada para inserção da amostra no magnetômetro. O topo da vareta de transporte da amostra é ligado a uma plataforma de passo controlada por um motor, que é usada para conduzir a amostra através da bobina de detecção em uma série de passos discretos. Após inserir a amostra no equipamento, deve-se fazer a centralização entre as bobinas. A centralização é feita da seguinte forma: no computador ligado ao equipamento selecionamos um campo magnético para a centralização. Em seguida, no computador selecionamos a opção para fazer a centralização da amostra. Este procedimento deve sempre ser feito antes de uma medida, pois variações no campo magnético e temperatura fazem a amostra se deslocar da posição ideal para a medição. O tamanho e formato da amostra também requerem atenção especial. Se uma amostra é muito longa, se estendendo além da bobina durante uma medida, seu movimento não será percebido, pois não há mudança do fluxo na bobina de detecção. Por outro lado, quando a amostra é muito pequena, diferentes quantidades de fluxo existem em cada loop da bobina de 85 detecção [93]. Felizmente, todas as amostras estudadas tinham o tamanho adequado para a realização das medidas de susceptibilidade e histerese magnéticas. O procedimento seguinte é a construção de uma macro para a realização da medida em si. A macro é uma sequência de comandos informando as especificações da medida a ser realizada, que é interpretada pelo computador interfaceado ao equipamento, que executa tais comandos. Nessa sequência informamos ao computador as condições desejadas para a realização do experimento, tais como intervalo de temperatura e intensidade (e variação, se necessário) de campo magnético e informações necessárias para posterior identificação dos dados, como nome do arquivo onde guardar os dados obtidos e informações sobre a amostra (massa, fórmula molecular, etc). Após a construção da macro, solicita-se através do computador a realização da medida e os dados são adquiridos e armazenados. 5.5 Medidas de capacidade térmica Foram feitas medidas de capacidade térmica com variação de campo magnético nas amostras Cs2 N aAlF6 dopadas com 1,0% e 30,0% de Cr3+ , no Laboratory for Magnetic Measurements localizado no HZB (Helmholtz Zentrum Berlin für Materialen und Energie), em Berlim, Alemanha. Antes da realização das medidas as amostras foram analisadas e preparadas, passando por um processo inicial de triagem, selecionando apenas as amostras com as dimensões adequadas ao equipamento utilizado. Para a realização das medidas a amostra deve ser colada em uma pequena plataforma metálica, de forma que pouca ou nenhuma parte da amostra fique fora de contato com a plataforma. Figura 22: Imagem ampliada da amostra aderida à plataforma. Dentre todas as amostras utilizadas neste estudo, apenas as de concentrações de 1,0% e 30,0% de Cr3+ atenderam a esse requisito. Após a seleção, as amostras passaram por um processo de preparação. Cada amostra é colada com uma graxa especial (com propriedades criogênicas) na plataforma que será inserida no equipamento para a medida de capacidade térmica. 86 A plataforma onde se monta a amostra na verdade é um microcalorímetro, suspensa por oito finos fios que servem como contatos elétricos para um aquecedor incorporado a um termômetro. Na figura 22 vemos uma imagem ampliada da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ (cristal com tonalidade verde clara no centro da figura) já aderida à plataforma e preparada para a realização das medidas de capacidade térmica. Note que as dimensões da amostra são aproximadamente iguais às dimensões da plataforma, a fim de evitar efeitos indesejáveis. A preparação para as medidas com a amostra de 30,0% foi realizada de forma equivalente. As medidas de capacidade térmica com variação de temperatura e campo magnético foram realizadas no equipamento PPMS-14T (Physical Properties Measurements System), da fabricante Quantum Design. Este equipamento pode realizar medidas de magnetização, constante dielétrica, resistividade elétrica e capacidade térmica. As medidas de capacidade térmica podem ser efetuadas na faixa de temperatura de 1,8 a 400 K com campo magnético de até 14 T [94]. O equipamento foi refrigerado com hélio e nitrogênio líquidos. Para evitar que haja perda de calor por troca de gás, o equipamento possui um sistema à vácuo controlado por computador. Seguindo um procedimento simples de montagem, a amostra é inserida na câmara do PPMS e o controle dos parâmetros iniciais para realização da medida são fornecidos ao equipamento através de uma interface computadorizada, que também permite o acompanhamento em tempo real da medida enquanto ela ocorre. O sistema realiza todos os ajustes necessários para temperatura, campo magnético e sistema de vácuo. A amostra (já fixa na plataforma) é introduzida dentro da câmara com a ajuda de uma espécie de "vareta"(PPMS application insert) com um imã em uma das extremidades. O compartimento ao qual é inserido a plataforma (puck) é magnético e esse compartimento é unido à vareta e então inserido no interior da câmara (figura 23). Uma medida da capacidade térmica consiste de várias fases. Primeiro, as temperaturas da plataforma e do puck são estabilizadas em uma temperatura inicial. Então uma potência é aplicada ao aquecedor da plataforma por um período determinado de tempo, fazendo com que a temperatura da plataforma suba. Quando a potência é desligada, a energia térmica da plataforma relaxa em direção ao puck. A temperatura da plataforma é monitorada durante todo o aquecimento e refrigeração, oferecendo (com os dados de energia do aquecedor) os dados brutos para o cálculo da capacidade calorífica. Com a ajuda de um programa complementar é possível subtrair um sinal de background oriundo da plataforma e da graxa utilizada na fixação da amostra, onde sinal de background foi obtido realizando-se uma medida de capacidade térmica do compartimento sem amostra, contendo apenas a cola utilizada para a adesão da amostra à plataforma. Na figura 24 é mostrado em detalhes o interior da câmara já com a amostra inserida. Antes de iniciar cada medida, devemos escrever uma macro, como descrito na seção anterior. O arquivo de saída é um arquivo .dat com diversas colunas que informam as condições de 87 Figura 23: Esquema do interior do equipamento PPMS. Em (b), temos os detalhes dos componentes presentes na região destacada em (a). Fonte: PPMS - Quantum design [95]. Figura 24: Detalhe do interior da câmara do equipamento PPMS. Fonte: PPMS - Quantum design [95]. medida especificadas e os dados colhidos. Entre todas as informações contidas neste arquivo, apenas quatro (quatro colunas) são relevantes para a nossa análise de dados: a temperatura da amostra (em K), a capacidade térmica da amostra (em µJ/K), o erro da capacidade térmica (também em µJ/K) e o campo magnético aplicado (em unidades Oersted, onde o campo magnético foi mantido constante para cada medida). Com essas informações foi possível realizar o procedimento para o ajuste dos dados experimentais através das teorias de calor específico de Debye e Einstein. Por fim, para o cálculo do calor específico é necessário o conhecimento da massa das amostras. A amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 1,0% de Cr3+ possui massa de 0,0364 g e a amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 30,0% de Cr3+ possui massa de 0,0148 g. 88 Figura 25: Esquema de um difratômetro de 4 ciclos destacando a orientação dos ângulos. Fonte: ILL website [97]. 5.6 Difração de nêutrons As medidas de difração de nêutrons foram realizadas na amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 50,0% de Cr3+ . Tais medidas foram realizadas no difratômetro E5 localizado no HZB (Helmholtz Zentrum Berlin für Materialen und Energie), na cidade de Berlim, Alemanha. Basicamente um difratômetro de nêutrons funciona da seguinte forma: nêutrons originados do núcleo do reator atravessam um colimador criando um feixe com energias que se distribuem dentro do espectro de energias do reator. Um monocristal é então colocado no caminho do feixe, de modo que uma de suas famílias de planos cristalinos forme um ângulo θ com essa direção do feixe. Assim, é obtido um feixe difratado, com direção simétrica a anterior, em relação à normal dos planos cristalográficos, ou seja, o cristal funciona como um monocromador, selecionando o comprimento de onda necessário para o experimento. O feixe de nêutrons monocromáticos obedece a lei de Bragg da difração (nλ = 2d sin θm ), onde λ é o comprimento de onda do feixe de nêutrons selecionado pelo monocromador; d é a distância entre os planos cristalográficos; θm é o ângulo de monocromatização e n é a ordem da reflexão. Os nêutrons cruzam um segundo colimador e então incidem na amostra. O espalhamento coerente (absorção e re-emissão da radiação numa direção diferente da direção de incidência) da amostra é analisado por um detector de nêutrons, localizado sobre um braço que gira em torno da amostra e forma um ângulo com seus planos cristalinos. Tais planos difratam de acordo com a lei de Bragg, já aplicada no caso do monocromador. A família de planos do monocromador, assim como o ângulo de monocromatização são escolhidos de forma que o comprimento de onda da reflexão de primeira ordem corresponda a uma energia próxima do máximo do espectro de nêutrons térmicos do reator. Com isso pretende-se obter uma boa intensidade do feixe [74]. O E5 [96] é um difratômetro de quatro ciclos convencional localizado no tubo do feixe R3, com um monocristal de cobre funcionando como monocromador. Os quatro ciclos se refe- 89 Figura 26: Esquema da amostra posicionada no difratômetro. (1) monocromador; (2) colimador; (3) ciclo fechado; (4) amostra; (5) detector 2D. Fonte: E5 Four-cicle Diffractometer [96]. rem aos quatros ângulos (2θ, χ, φ e Ω) que definem a relação entre a rede cristalina e o detector. A orientação destes ângulos pode ser vista na figura 25. O instrumento também é equipado com um detector bidimensional de 3 He com área de 90 X 90 mm2 (32 X 32 pixels). A eficiência da detecção é de 85% em 0,1 nm. O ângulo de partida do monocromador é fixo em 42°, o que causa uma resolução grosseira a ângulos de espalhamento maiores, onde geralmente a maior parte dos dados é adquirida. Um filtro de ressonância de érbio está disponível para suprimir contribuições de λ/2. As medidas foram feitas usando o comprimento de onda de 0,89 Å. O software MAD é usado para controle do instrumento. Na Tabela 9 vemos as especificações do equipamento E5. O E5 é usado normalmente para a determinação de padrões cristalográficos, mas experimentos de difração em monocristais oferecem suporte para investigação de transições de fase magnéticas e determinação de estruturas magnéticas, especialmente em casos onde os momentos magnéticos dos átomos são relativamente fracos. Na figura 26 vemos um esquema da posição da amostra no difratômetro. Amostras usadas em difração de monocristais devem ser cristais de boa qualidade óptica e sem trincas ou fraturas. Além disso, devem ter as dimensões adequadas ao tamanho do compartimento onde serão posicionadas. A amostra é então fixada no difratômetro e centralizada. Uma vez que o cristal é centralizado, uma imagem preliminar é adquirida para atestar a qualidade do cristal e para identificar outros parâmetros que serão usados em passos posteriores. Uma rotina de aquisição de dados é realizada para adquirir parâmetros para determinação da célula unitária. As reflexões verificadas são indexadas para selecionar a célula primitiva re- 90 Tabela 9: Especificações do difratômetro E5 (Fonte: E5 Four-cicle Diffractometer [96]). Tubo do feixe Monocromador Fluxo de nêutrons na posição da amostra Ângulo de espalhamento do monocromador Ângulo de espalhamento da amostra Tamanho máximo da amostra Temperatura da amostra no sistema R3 Cu 220 em reflexão, λ = 0, 89 Å PG 002, λ = 2, 4 Å 6 1, 2.10 n/cm2 s (Cu 220 sem filtro) 3.106 n/cm2 s (PG 002 com filtro de grafite) 2θM = 42°(fixo) 10°< 2θ <110° 7 mm de diâmetro 12-800K (refrigerador de ciclo fechado) 300-600 K (forno de fluxo de ar) 600-1200 K (forno fechado) duzida e realizar o cálculo da matriz orientação. A matriz orientação relaciona a célula unitária à posição do cristal que é atingido pelo feixe de nêutrons. A célula unitária é então refinada e convertida ao sistema cristalino apropriado. Esta nova célula unitária também é refinada para determinação da matriz orientação final da amostra. Após a determinação da célula unitária e da matriz orientação correspondente, os dados de intensidade de cada reflexão estão prontos para serem coletados [98]. A medida de uma reflexão de Bragg em monocristal normalmente leva alguns minutos, e a obtenção de um conjunto completo de dados pode levar alguns dias. Se o cristal é estudado em função da temperatura a medida pode levar até uma semana para ser finalizada. 6 RESULTADOS 6.1 Introdução Neste capítulo serão apresentados os resultados das medidas realizadas, bem como a discussão referentes aos dados obtidos. Abordaremos os resultados relativos às medidas ópticas (luminescência e excitação na temperatura ambiente (300 K) e a baixas temperaturas (≃ 5 K) e luminescência resolvida no tempo), às medidas magnéticas (susceptibilidade e histerese magnéticas, calor específico) e por fim às medidas de difração de nêutrons. Inicialmente, é apresentada uma breve descrição da estrutura do sistema cristalográfico estudado. 6.2 Descrição da estrutura O sistema Cs2 N aAlF6 possui estrutura hexagonal do tipo perovskita (figura 27) com parâmetros de rede a = b = 6,192 Å e c = 29,839 Å [30], onde os cátions de Na+ e Al3+ se encontram ordenados e envoltos octaedricamente por ânions de F− . Considerando a valência e o raio iônico do íon dopante Cr3+ (0,64 Å) e dos cátions pertencentes à estrutura, Na+ (0,98 Å) e Al3+ (0,57 Å), acreditamos que haja uma maior probabilidade de que o Cr3+ substitua o Al3+ ao ser inserido na rede hospedeira, devido à maior proximidade entre os raios iônicos e a mesma valência dos íons, evitando assim efeitos de compensação de carga. Baseado em dados de difração de nêutrons [30] e fotoluminescência para este mesmo sistema dopado com 0,5% de Cr3+ [11, 12, 31], também acredita-se que existam dois sítios não equivalentes para possível ocupação do Cr3+ . Como podemos ver na figura 28, um destes sítios, que denominaremos S1, é composto por uma unidade de AlF6 ligada pelas faces a duas unidades de N aF6 . Ou seja, temos um octaedro com um íon de Al3+ no centro que compartilha duas de suas faces com outros dois octaedros contendo íons de Na+ em seu centro. O outro sítio, denominado S2, é formado por uma unidade AlF6 ligada a duas unidades de N aF6 pelos vértices. Neste sítio o octaedro contendo o íon de Al3+ em seu centro compartilha dois de seus vértices com dois outros octaedros contendo íons de Na+ em seu centro (figura 28). A técnica de difração de nêutrons (veja seção 6.5), aliada à fotoluminescência e excitação na temperatura ambiente e a baixas temperaturas permite verificar como o sistema evolui com o aumento da concentração do Cr3+ e que efeitos ocorrem na rede cristalina e nos estados de energia. 92 Figura 27: Estrutura do sistema Cs2 N aAlF6 . Figura 28: Esquema dos dois sítios octaédricos presentes no sistema Cs2 N aAlF6 . 6.3 Medidas Ópticas As medidas ópticas descritas a seguir compreendem as medidas de fotoluminescência e excitação na temperatura ambiente e a baixas temperaturas, além da fotoluminescência resolvida no tempo na temperatura ambiente. 93 6.3.1 Fotoluminescência na temperatura ambiente Na figura 29 vemos os espectros de fotoluminescência obtidos na temperatura ambiente do sistema fluoreto Cs2 N aAlF6 dopado com as concentrações de 0,1%; 1,0%; 3,0%; 10,0%; 30,0% e 50,0% do íon Cr3+ . Tais espectros foram obtidos com um laser de He-Ne (comprimento de onda de 632,8 nm) como fonte de excitação, com fases distintas que maximizam o sinal para cada concentração em particular, no intervalo compreendido entre 639 a 909 nm (15650 a 11000 cm−1 ) e com a luz modulada em amplitude por um chopper a 102 Hz. 0,1% (740 nm) 1,0% (754 nm) 0,1% 3,0% (762 nm) 10,0% (767 nm) 30,0% (767 nm) Intensidade (u.a.) 50,0% (771 nm) 1,0% 3,0% 10,0% 30,0% 50,0% 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 29: Espectro de fotoluminescência do sistema Cs2 N aAlF6 para diversas concentrações (0,1%; 1,0%; 3,0%; 10,0%; 30,0% e 50,0% de Cr3+ ) obtido na temperatura ambiente com fonte de excitação com comprimento de onda de 632,8 nm. Os valores em comprimento de onda vistos na figura indicam a posição em que o sinal foi maximizado para obtenção do espectro. As bandas obtidas são intensas e largas (com um alargamento levemente não homogêneo) e ocorrem na região do vermelho-infravermelho próximo. Pelo formato, intensidade e largura das bandas podemos inferir a que transição elas pertencem. Sabemos que transições entre estados com mesma multiplicidade de spin geram bandas intensas, enquanto que transições entre estados com diferentes multiplicidades geram bandas fracas, como descrito no Capítulo 1. Além disso, transições entre estados com diferentes configurações eletrônicas geram bandas largas, e transições entre estados com mesma configuração eletrônica geram bandas estreitas [36, 99]. De acordo com o diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 [34, 35], o estado fundamental é o 4 A2 (4 F ), e os primeiros estados excitados são o 4 T2 (4 F ) e o 2 E(2 G). A ordem 94 de ocorrência dos estados depende da intensidade do parâmetro de campo cristalino, como já discutido no Capítulo 2. Analisando as características do estado fundamental e dos estados excitados e comparando estas características com a intensidade e formato das bandas obtidas nas medidas de luminescência, atribuímos às bandas observadas para todas as concentrações a transição permitida por spin 4 T2 (4 F ) → 4 A2 (4 F ). Como esta é uma transição entre estados de mesma multiplicidade de spin, é esperada uma banda intensa. E também, como os estados envolvidos apresentam configurações eletrônicas diferentes (o estado 4 T2 (4 F ) possui configuração eletrônica t22g eg e o estado 4 A2 (4 F ) tem configuração t32g ), a transição origina portanto uma banda larga. A partir dos espectros foi possível obter informações importantes de como a concentração de impureza exerce influência na luminescência do sistema e a partir daí foi feito um estudo da intensidade integrada, baricentro da banda e tempo de vida da luminescência, em termos da variação da concentração. A intensidade integrada de uma banda de luminescência pode ser definida como a área abaixo da curva do espectro de emissão. Na figura 30 apresentamos a variação da intensidade integrada da banda de luminescência com o aumento da concentração de íon dopante Cr3+ . Podemos observar que a intensidade integrada tende a diminuir com o aumento da concentração do íon dopante. No que se refere à intensidade da luminescência nota-se que as amostras de baixa concentração (ou seja, abaixo de 10,0%) parecem ser as mais interessantes para uma possível aplicação em dispositivos luminescentes, pois as mesmas apresentaram as maiores intensidades do sinal dentre as amostras estudadas, sendo que a amostra que apresenta o maior valor de intensidade integrada é a dopada com 0,1% de Cr3+ . Observamos um forte quenching (diminuição) da luminescência em função do aumento da concentração, de forma que a intensidade integrada da luminescência da amostra com 50,0% de Cr3+ é de apenas 7% da intensidade integrada da amostra de 0,1%. Este efeito de quenching já é bastante acentudado no intervalo 0,1% - 10,0%, pois a intensidade integrada da amostra de 10,0% é de apenas 15% da intensidade integrada da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ . A diminuição ou extinção da luminescência é um dos efeitos resultantes do aumento da concentração, e é possivelmente causada pela absorção de fótons emitidos pelos íons dopantes por outros dopantes primeiros vizinhos, um fenômeno conhecido como transferência de energia. À medida que a concentração do íon impureza aumenta, existe a possibilidade de que os íons se encontrem suficientemente próximos, de forma que haja alguma interação entre eles. Tal interação pode ser considerada fraca para apresentar um efeito considerável que afete os níveis de energia dos íons individuais de modo que cada um dos íons preserva sua identidade, mas ao mesmo tempo pode ser suficientemente forte para tornar possível que a excitação seja transferida entre os íons, afetando significativamente as propriedades luminescentes do material em questão [37]. 95 Figura 30: Variação da intensidade integrada com a concentração de impureza no sistema Cs2 N aAlF6 : Cr3+ . Figura 31: Variação do comprimento de onda onde ocorre o máximo da banda com a concentração de impureza no sistema Cs2 N aAlF6 : Cr3+ . Na figura 31 vemos como o máximo de intensidade da banda se desloca com a variação da concentração. Observe que o máximo de cada banda tende a se deslocar para regiões de menor energia (maior comprimento de onda) a medida que a concentração aumenta, mas para altas concentrações (acima de 10,0%) este efeito começa a apresentar uma certa saturação, com 96 pouca variação no comprimento de onda do baricentro da banda. Um efeito análogo foi observado no sistema monocristalino ZnAl2(1−x) Cr2x S4 [100]. Neste sistema, os autores relataram que para concentrações acima de 3,0% do dopante Cr3+ , a banda localizada na região de menor energia se tornava mais intensa, e tal efeito foi atribuído à existência de sítios não equivalentes para possível ocupação do íon Cr3+ . Como sabemos previamente da existência de dois sítios octaédricos não equivalentes em nosso sistema para provável ocupação do Cr3+ [12, 31] acreditamos que o deslocamento do baricentro da banda seja uma evidência de que, a medida que a concentração aumenta, haja uma tendência do íon impureza ocupar um dos sítios em detrimento ao outro. Além disso, o aumento da concentração de impureza gera distorções, levando a uma diminuição de simetria dos sítios, embora este efeito seja diferenciado para cada um dos sítios. De acordo com o diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 [34, 35], quando o valor de Dq diminui, a energia do estado 4 T2 (4 F ) diminui proporcionalmente (figura 5). Logo, o deslocamento da banda de luminescência para regiões com menor energia conforme a concentração de Cr3+ aumenta é um forte indício da ocupação da impureza em sítios de menor campo cristalino Dq. Sabemos que na amostra existem dois sítios octaédricos não equivalentes, com diferentes valores do campo cristalino e também que o sítio com menor valor de Dq será associado à transições com menor energia. Assim, se a quantidade de impurezas Cr3+ no sítio com campo cristalino mais fraco (menor Dq) é maior do que no sítio com campo com maior Dq, então o máximo da banda de emissão tende a se deslocar para menores energias. Para confirmar a existência de dois sítios não equivalentes e tentar resolver o alargamento levemente não homogêneo das bandas de luminescência, foram realizadas novas medidas de fotoluminescência na temperatura ambiente, tentando zerar o sinal em determinado comprimento de onda (através da manipulação da fase deste sinal) e observando o espectro resultante. O procedimento pode ser melhor descrito da seguinte forma: obtivemos o espectro de luminescência da amostra de 0,1% com o sinal maximizado em 774 nm, que consiste de uma larga banda, como visto na figura 32 (curva contínua). Em seguida o espectrômetro foi posicionado no comprimento de onda de 825 nm, e a fase foi alterada no lock-in de modo a tentar zerar o sinal completamente nesta posição. O sinal não foi zerado completamente, mas foi minimizado de forma que obtivemos o espectro representado pela linha tracejada na figura 32, com intensidade máxima do sinal no comprimento de onda de 719 nm. O mesmo procedimento (de zerar o sinal pelo lock-in) foi realizado na posição de comprimento de onda de 715 nm, e o resultado obtido é o espectro visto em linha pontilhada na mesma figura, com baricentro em 779 nm. Atribuímos à banda com baricentro em 719 nm a emissão do sítio que chamamos de S1 e a banda com baricentro em 779 nm a emissão do sítio que denominamos S2. As bandas não foram completamente zeradas, indicando a ocorrência de uma forte sobreposição. Entretanto, apesar da sobreposição, os resultados de fotoluminescência vistos na 97 0,1% exc sinal maximizado em 774 nm = 632,8 nm sinal minimizado em 825 nm sinal minimizado em 715 nm Intensidade (u.a.) T_ambiente 719 nm (382 s) 779 nm (329 650 700 750 800 s) 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 32: Espectro de luminescência obtido na temperatura ambiente para a amostra contendo 0,1% de Cr3+ . A curva preta mostra a luminescência com uma fase que maximiza o sinal em 774 nm, a curva em vermelho foi obtida com uma fase que minimiza o sinal em 825 nm (obtendo uma banda com baricentro em 719 nm) e a curva azulada com um fase que minimiza o sinal em 715 nm (obtendo uma banda com baricentro em 779 nm). Os valores entre parênteses mostram o tenmpo de vida das respectivas bandas. figura 32 fornecem mais uma forte evidência sobre a presença de dois sítios octaédricos não equivalentes presentes neste sistema. A emissão em maior energia está relacionada a um valor maior de Dq, o que caracteriza que o sítio responsável por esta emissão (S1) possui um grau maior de distorção (menor simetria) que o outro sítio (S2). Portanto, acreditamos que, quando a concentração aumenta, os íons de Cr3+ ocupam preferencialmente o sítio S2 com campo cristalino mais fraco (figura 31), e com menor grau de distorção [31]. O mesmo procedimento foi realizado para concentrações maiores, mas os resultados mostraram que a forte sobreposição impede de visualizá-las separadamente como observado para a amostra de 0,1%. O próximo parâmetro a ser analisado é a dependência do tempo de vida da luminescência com a concentração de Cr3+ . Com este objetivo, utilizamos as técnicas de fotoluminescência resolvida no tempo e deslocamento de fase. A luminescência resolvida no tempo é uma ferramenta poderosa para detecção de diferentes centros luminescentes em um determinado sistema. Isto ocorre porque cada centro apresenta um tempo de decaimento específico [50, 101]. As medidas foram realizadas com um laser pulsado de diodo, com comprimento de onda de 635 98 nm como fonte de excitação, com uma janela temporal de 5 ms e tempo de atraso relativo, de forma que o sinal da luminescência ficasse completamente dentro da janela temporal. Na figura 33 podem ser vistas as diversas etapas em que consistem a extração de dados e posterior análise para a técnica de luminescência resolvida no tempo. Na figura 33 (a) temos o resultado de uma medida de luminescência resolvida no tempo realizada na temperatura ambiente. No eixo horizontal temos o intervalo em comprimento de onda, e no eixo vertical temos o intervalo da janela temporal, ou seja, o intervalo de tempo de duração do pulso de excitação (que neste caso, foi de 5 milissegundos). Pode-se observar nesta figura que quanto maior a densidade de pontos (ou, seja, quanto maior a contagem de fótons) maior a intensidade da luminescência. Utilizando um software apropriado, foi possível extrair dados numéricos desta imagem para posterior análise. Isto é o que foi feito na figura 33 (b), onde vemos uma tabela que consiste de duas colunas, cujos dados foram extraídos da figura em (a), no intervalo de comprimento de onda entre 785 a 805 nm. Nesta tabela, a primeira coluna contém o tempo em que a amostra é submetida ao pulso de luz (em milissegundos), e na segunda coluna temos a contagem de fótons correspondente a cada tempo. Com esta tabela, é possível montar um gráfico da intensidade da luminescência (ou contagem dos fótons) em função do tempo de excitação da amostra. Este gráfico é visto na figura 33 (c). Finalmente, seleciona-se um intervalo completo de decaimento neste gráfico e realiza-se o ajuste apropriado dos dados para obtenção do tempo de vida da luminescência, como visto na figura 33 (d). Figura 33: Etapas para obtenção do tempo de vida da luminescência através da técnica de luminescência resolvida no tempo. Nas figuras 34 a 39 apresentamos o decaimento da intensidade da luminescência com o tempo, onde as curvas claras (em cinza) representam os dados experimentais e as curvas mais 99 escuras (de cor preta) representam as curvas obtidas através do ajuste dos dados. Os dados foram ajustados de acordo com a função ExpDec1 no Origin que tem a forma da equação abaixo: y = Ae−t/τ + y0 (90) onde y é o sinal da luminescência, t é o tempo, τ e y0 são parâmetros obtidos através do ajuste dos dados. Através do ajuste das curvas foram obtidos os respectivos tempos de vida, representados pelo parâmetro τ . Para cada amostra foram feitas medidas de luminescência resolvida no tempo na temperatura ambiente em diversos intervalos de comprimento de onda, onde são mostradas nas figuras as medidas correspondentes a três regiões no espectro de luminescência: a primeira numa região de maior energia (no intervalo onde a banda começa a sua subida), a segunda numa região intermediária (no alto da banda) e a terceira numa região de menor energia (região de descida da banda). Pelas figuras podemos observar que, para todas as concentrações, o decaimento da luminescência apresenta um comportamento tipicamente exponencial. O caráter exponencial do perfil do decaimento da intensidade das curvas de luminescência é característico dos espectros de luminescência de impurezas isoladas. Também deve-se observar como o tempo de vida varia com o intervalo em comprimento de onda, dependendo da amostra analisada. Para a amostra de 0,1%, o tempo de vida encontrado através do ajuste para o intervalo 710-730 nm é de 267 µs, para o intervalo 770-790 nm é de 318 µs e para o intervalo 830-855 nm é de 289 µs. Esta diferença entre os tempos de vida para diferentes intervalos de comprimento de onda é mais um forte indicativo da existência de dois sítios não equivalentes presentes na amostra, com emissão em diferentes posições. O mesmo fenômeno ocorre para as demais amostras, porém a diferença entre os tempos de vida diminui com o aumento da concentração. Para a amostra de 1,0% temos os seguintes tempos: 292 µs (intervalo 710-730 nm); 313 µs (intervalo 770-790 nm) e 337 µs (intervalo 830-855 nm). Para a amostra de 3,0% temos os seguintes tempos: 271 µs (intervalo 725-745 nm); 265 µs (intervalo 785-805 nm) e 253 µs (intervalo 845-870 nm). Para a amostra de 10,0% temos: 289 µs (intervalo 730-750 nm); 287 µs (intervalo 790-810 nm) e 301 µs (intervalo 850-875 nm). Para a amostra de 30,0%: 118 µs (intervalo 730-750 nm); 115 µs (intervalo 790-810 nm) e 123 µs (intervalo 850-875 nm), e finalmente, para a amostra de 50,0%: 181 µs (intervalo 735-755 nm); 184 µs (intervalo 795-815 nm) e 171 µs (intervalo 855-880 nm). No método de deslocamento de fase, o tempo de vida da luminescência é obtido de acordo com a descrição feita na seção 5.3.3. Este método apresenta um erro da ordem de 10 % [90]. Na Tabela 10 são apresentados os valores do tempos de vida para cada amostra calculados através deste método e os valores obtidos através da luminescência resolvida no tempo, com suas respectivas incertezas. Os valores obtidos por luminescência resolvida no tempo usados para comparação são 100 os que se encontram mais próximos do ponto onde foi obtida a medida por deslocamento de fase. Tabela 10: Tempos de vida obtidos através do método de deslocamento de fase (terceira coluna - τDF ) e os tempos obtidos através da fotoluminescência resolvida no tempo (quarta coluna τRT ). O comprimento de onda (λ) na segunda coluna refere-se ao comprimento de onda onde o tempo de vida foi calculado pelo deslocamento de fase. Concentração (%) 0,1 1,0 3,0 10,0 30,0 50,0 λ (nm) 740 754 762 767 767 771 τDF (µs) τRT (µs) 281 ± 28 259 ± 10 312 ± 31 310 ± 8 262 ± 26 272 ± 5 323 ± 32 299 ± 4 156 ± 16 111 ± 1 104 ± 10 181 ± 4 Observe que os valores obtidos para ambas as técnicas encontram-se próximos para amostras com baixas concentrações de Cr3+ , mas apresentam grande diferença para amostras com altas concentrações. Comparando os intervalos com os valores da coluna τRT na Tabela 10, verificamos que, dentro do erro esperado, os valores obtidos pelo método de deslocamento de fase (τDF ) concordam com aqueles obtidos pelo método de luminescência resolvida no tempo, exceto para as amostras de 30,0% e 50% de Cr3+ . Isto mostra que, embora o método de deslocamento de fase seja um método um tanto grosseiro, ainda assim pode fornecer a ordem de grandeza correta dos tempos de vida. Este fato é importante, visto que o tempo de vida pode indicar o estado excitado mais provável no processo de luminescência. Pelos resultados podemos afirmar que o tempo de vida da luminescência tende a diminuir com o aumento da quantidade de impureza no sistema. Em especial, as amostras com concentrações até 10,0% apresentam mais que o dobro do tempo de vida das amostras com maior concentração. Também é importante ressaltar que, para as amostras dopadas com 0,1% e 1,0% de Cr3+ os tempos de decaimento na região 710-730 nm (correspondente ao sítio S1) são menores do que os da região 830-855 nm (correspondente ao sítio S2). Menor tempo de vida está relacionado a maior probabilidade de transição. E maior probabilidade de transição está relacionado a menor simetria. Ou seja, quanto mais distorcido é o sítio, maior a probabilidade de transição e menor o tempo de decaimento. Já para as amostras com concentração igual ou maior a 3,0%, os tempos de decaimento são muito próximos, indicando fortemente a predominância de um tipo de ocupação. 101 0,1%_710-730 nm (a) 100 0,1%_770-790 nm (b) = 318 s Intensidade (u.a.) s Intensidade (u.a.) = 267 10 10 -1 0 1 2 3 4 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 4 tempo (ms) 100 0,1%_830-855 nm (c) s Intensidade (u.a.) = 289 10 -1 0 1 2 3 4 tempo (ms) Figura 34: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 0,1% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 710-730 nm; em (b), intervalo 770-790 nm; e em (c), intervalo 830-850 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 102 1,0%_770-790 nm 1,0%_710-730 nm (a) = 292 (b) s = 313 s Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) 100 10 10 -1 0 1 2 3 4 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 4 Tempo (ms) 1,0%_830-855 nm (c) = 337 s Intensidade (u.a.) 100 10 -1 0 1 2 3 4 Tempo (ms) Figura 35: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 1,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 710-730 nm; em (b), intervalo 770-790 nm; e em (c), intervalo 830-850 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 103 3,0%_725-745 nm (a) = 271 3,0%_785-805 nm (b) s = 265 s Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) 100 100 10 10 -1 0 1 2 3 4 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 4 Tempo (ms) 3,0%_845-870 nm (c) s Intensidade (u.a.) = 253 100 -1 0 1 2 3 4 Tempo (ms) Figura 36: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 3,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 725-745 nm; em (b), intervalo 785-805 nm; e em (c), intervalo 845-870 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 104 (a) 10,0%_730-750 nm = 289 10,0%_790-810 nm (b) s = 287 s Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) 100 100 10 10 -1 0 1 2 3 4 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 4 Tempo (ms) 10,0%_850-875 nm (c) s Intensidade (u.a.) = 301 100 10 -1 0 1 2 3 4 Tempo (ms) Figura 37: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 10,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 730-750 nm; em (b), intervalo 790-810 nm; e em (c), intervalo 850-875 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 105 30,0%_730-750 nm (a) = 118 30,0%_790-810 nm (b) s = 115 s Intensidade (u.a) Intensidade (u.a.) 100 100 10 10 -1 0 1 2 3 4 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 4 Tempo (ms) 30,0%_850-875 nm (c) = 123 s Intensidade (u.a.) 100 10 -1 0 1 2 3 4 Tempo (ms) Figura 38: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 30,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 730-750 nm; em (b), intervalo 790-810 nm; e em (c), intervalo 850-875 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 106 50,0%_735-755 nm (a) = 181 50,0%_795-815 nm (b) s = 184 s Intensidade (u.a.) Intensidade (u.a.) 100 100 10 10 -2 -1 0 1 2 3 -2 -1 0 Tempo (ms) 1 2 3 Tempo (ms) 50,0%_855-880 nm (c) s Intensidade (u.a.) = 171 100 10 -2 -1 0 1 2 3 Tempo (ms) Figura 39: Perfis de decaimento da emissão da amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 50,0% de Cr3+ . Em (a), integrado no intervalo 735-755 nm; em (b), intervalo 795-815 nm; e em (c), intervalo 855-880 nm. O tempo de vida obtido para cada intervalo é mostrado no alto dos gráficos. 107 Baseado nos resultados obtidos, vemos que as amostras com maior concentração são as que possuem os menores tempos de vida, o que indica que o aumento da quantidade de impureza diminui a simetria da rede e consequentemente favorece a ocorrência de transições ópticas. Outra possibilidade pode ser considerada a partir do seguinte ponto de vista: sabemos que o tempo de vida total (τ ) possui duas componentes, uma de origem radiativa e outra de origem não radiativa (equação 20 do Capítulo 3). Se ocorre um aumento grande da taxa de transições não radiativas - o que é esperado para altas concentrações do dopante - e como τN R (o tempo de vida não radiativo) é sempre extremamente curto, o tempo de decaimento do estado luminescente tende a se encurtar, já que 1/τN R >> 1/τR . Assim, 1/τ ≃ 1/τN R . Quando o sistema é dopado com pequenas concentrações do íon impureza, a distribuição do dopante pela rede hospedeira impede que a interação entre os íons de Cr3+ seja considerada significativa, devido à distância entre eles. Contudo, para maiores concentrações, as distâncias entre os íons diminuem e estes se encontram mais próximos, fazendo com que as interações, antes consideradas desprezíveis, passem a ser significativas, com reflexos na intensidade da luminescência e no tempo de vida [102]. A variação do tempo de vida com a concentração também costuma ocorrer devido a fenômenos de transferência de energia, ou decaimento por fônons. As transições não radiativas se tornam mais competitivas a maiores concentrações e consequentemente a intensidade da luminescência diminui e o tempo de vida no estado excitado é reduzido. Como uma tentativa de separar as emissões dos dois sítios foram realizadas medidas de espectroscopia de excitação nas regiões de maior e menor energias. Os resultados podem ser vistos na seção a seguir. 6.3.2 Excitação na temperatura ambiente A espectroscopia de excitação da luminescência é uma das técnicas utilizadas para a determinação dos estados eletrônicos excitados de um íon. Existem outras técnicas, como a espectroscopia de refletância, transmitância e fotoacústica. Porém, dentre as técnicas citadas, a única que permite verificar o quanto um fóton absorvido pelo sistema é eficaz em provocar a emissão de luz é a excitação. Além disso, a excitação muitas vezes permite a separação das emissões de sítios não equivalentes. Uma das aplicações mais importantes é na utilização das bandas de energia para o cálculo dos parâmetros de energia do íon impureza. Um breve fundamento teórico sobre a espectroscopia de excitação já foi visto na seção 2.4 e o aparato experimental para a realização deste tipo de medida foi descrito na seção 5.3.2. Foram realizadas medidas de excitação à temperatura ambiente e a 5,6 K, com a finalidade de se obter os valores dos parâmetros espectroscópicos Dq, B e C através da Teoria de Tanabe-Sugano [34, 35] e tentar separar as emissões luminescentes dos dois sítios de ocupação do Cr3+ . Nesta seção serão descritos os resultados das medidas realizadas na temperatura 108 ambiente. As medidas feitas a baixas temperaturas podem ser vistas na seção 6.3.4. É importante destacar que a teoria de Tanabe-Sugano foi desenvolvida para o estudo de transições que ocorrem em linhas, e não em bandas. Isto quer dizer que utilizando esta teoria e trabalhando com bandas não é possível determinar com completa acurácia e precisão a posição de uma transição. O que se faz neste caso é utilizar a teoria considerando que as transições ocorram no baricentro das bandas. Assim, os resultados obtidos em espectroscopia óptica são aproximações consideradas satisfatórias. Os resultados das medidas de espectroscopia de excitação em todas as amostras na temperatura ambiente podem ser vistos nas figuras 40 e 41. Na figura 40 temos o espectro de excitação da emissão em 714 nm e na figura 41 a excitação na emissão em 780 nm, ambas no intervalo de 400 a 700 nm. Os valores de 714 nm e 780 nm foram escolhidos por serem próximos às posições dos máximos de intensidade das bandas separadas de luminescência (figura 32). Todos os espectros apresentam o mesmo formato, com duas largas bandas e algumas estruturas sobrepostas. A banda em maior energia (menor comprimento de onda) é associda à transição eletrônica permitida por spin 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 F ), enquanto que a banda em menor energia é atribuída à transição 4 A2 (4 F ) →4 T2 (4 F ). O formato dos espectros evidencia que o íon Cr3+ foi incorporado com sucesso na rede hospedeira em sítio de simetria octaédrica [25, 37, 31]. Apesar de todos os espectros apresentarem um formato característico da presença do Cr em sítio de coordenação octaédrica, os espectros das amostras com concentração igual ou superior a 3,0% possuem intensidade muito menor que os espectros das amostras de 0,1 e 1,0%. Por este motivo, faremos aqui um estudo detalhado com obtenção dos parâmetros espectroscópicos relevantes apenas para os dados referentes a estas duas amostras. 3+ Na figura 42 vemos o espectro de excitação da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ , posicionada na emissão em 714 nm, na temperatura ambiente. O espectro apresenta duas bandas largas com algumas estruturas sobrepostas a estas bandas. Foram ajustadas duas gaussianas para as duas largas bandas observadas no espectro de excitação. O valor em energia dos baricentros dessas gaussianas foram considerados como as transições permitidas por spin 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 F ) e 4 A2 (4 F ) →4 T2 (4 F ). De acordo com o ajuste temos os valores em energia das transições: E(4 A2 →4 T1 ) = 22727 cm−1 (440 nm) E(4 A2 →4 T2 ) = 15699 cm−1 (637 nm) A partir dos valores acima e usando as matrizes de energia de Tanabe-Sugano para sistemas d3 (equações 11 e 12, Capítulo 1) , os parâmetros de campo cristalino Dq e B foram calculados (veja Apêndice A) como Dq = 1570 cm−1 ; B = 735 cm−1 e Dq/B = 2,14. Observamos uma estreita linha sobreposta à banda em maior energia e uma estrutura 109 Figura 40: Espectros de excitação na temperatura ambiente da emissão em 714 nm. Figura 41: Espectros de excitação na temperatura ambiente da emissão em 780 nm. sobreposta à banda de menor energia. Supondo que tais estruturas correspondam a transições do Cr3+ , através da posição em energia das mesmas e com a ajuda do diagrama de TanabeSugano para sistemas d3 em Dq/B = 2,14 tais estruturas foram identificadas como as transições proibidas por spin 4 A2 (4 F ) →2 T2 (2 G) na posição de 423 nm (23640 cm−1 em energia) e 4 A2 (4 F ) →2 E(2 G) em 654 nm (15290 cm−1 ). 110 714nm 0,1% 2 4 2 4 T ( F) T ( G) 2 2 (637 nm) (423 nm) RT 4 2 4 2 E( G) T ( F) 1 (654 nm) Intensidade (u.a.) (440 nm) 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 42: Excitação em 714 nm na temperatura ambiente da amostra de 0,1%. Tabela 11: Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de TanabeSugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 714 nm. Razão T2 /4 T1 2 T2 /4 T2 2 E/4 T1 2 E/4 T2 4 T1 /4 T2 2 De acordo com o diagrama 1,02 1,45 0,69 0,98 1,42 De acordo com o espectro 1,04 1,50 0,67 0,97 1,45 Diferença (%) 1,9 3,3 3,0 1,0 2,1 A fim de confirmar a posição destas transições, na Tabela 11 fazemos uma comparação das razões entre as energias das transições em Dq/B = 2,14 de acordo com o diagrama TanabeSugano com as razões obtidas das energias a partir das atribuições no espectro de excitação. Como podemos verificar na Tabela 11, as atribuições das transições observadas estão de acordo com a previsão do diagrama para sistemas d3 , em Dq/B=2,14, uma vez que os valores são muito próximos, confirmando portanto que as atribuições feitas estão corretas. Porém, é importante ressaltar que, como esta é uma região de cruzamento de níveis, é sempre difícil determinar quais são os estados envolvidos nas transições. Além disso, com os valores dos parâmetros Dq e B, além da energia da transição 2 E (identificada em 654 nm), obtivemos o valor do parâmetro de Racah C (cujos cálculos encontram-se no Apêndice A). O valor de C 111 encontrado foi de 3312 cm−1 . Assim, a razão C/B é aproximadamente 4,5, o que é coerente com a teoria de Tanabe-Sugano. Vale lembrar que a equação usada para o cálculo de C é válida apenas para valores onde 1, 5 ≤ Dq/B ≤ 3, 5 e 3, 0 ≤ C/B ≤ 5, 0 [37]. Com os parâmetros espectroscópicos Dq, B e C encontrados e as atribuições em energias das transições já realizadas, estimamos as posições das transições 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) e 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G). De acordo com os cálculos (Apêndice A) encontramos para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) o valor em energia aproximado de 35386 cm−1 (283 nm), um valor muito além de nossa capacidade instrumental. Para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G) encontramos o valor de 15811 cm−1 (632 nm). Ambos os valores concordam com aqueles esperados de acordo com o diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 e são coerentes com muitos encontrados na literatura [25, 36, 38, 103]. Na figura 43 vemos o espectro de excitação da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ , agora com a emissão posicionada em 780 nm, na temperatura ambiente. O espectro apresenta duas bandas largas com algumas estruturas sobrepostas a estas bandas, porém a fina estrutura que aparece no espectro relativo à emissão em 714 nm não é mais detectada. 780 nm 4 RT 4 T ( F) 2 0,1 % (641 nm) 4 4 T ( F) 2 1 2 E( G) (445 nm) Intensidade (u.a.) (657 nm) 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 43: Excitação em 780 nm na temperatura ambiente da amostra de 0,1%. Seguindo o mesmo procedimento de ajuste de bandas descrito anteriormente, foram identificadas as transições: E(4 A2 →4 T1 ) = 445 nm (22472 cm−1 ) E(4 A2 →4 T2 ) = 641 nm (15601 cm−1 ) 112 A partir dos valores acima os parâmetros calculados foram Dq = 1560 cm−1 , B = 713 cm−1 e Dq/B = 2,19. Com o diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 em Dq/B = 2,19, e com o espectro de excitação obtido, a estrutura sobreposta à banda de menor energia foi identificada como sendo a transição 4 A2 (4 F ) →2 E(2 G) na posição de 657 nm (15221 cm−1 ). Tabela 12: Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de TanabeSugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 780 nm. Razão E/4 T1 2 E/4 T2 4 T1 /4 T2 2 De acordo com o diagrama 0,67 0,97 1,43 De acordo com o espectro 0,68 0,97 1,44 Diferença (%) 1,5 0,0 0,7 Na Tabela 12 comparamos as razões entre as transições em Dq/B = 2,19 de acordo com o diagrama Tanabe-Sugano, com as razões obtidas a partir das atribuições das transições. De acordo com esta Tabela, os valores obtidos para as transições estão próximos aos do diagrama de Tanabe-Sugano. Além disso, o parâmetro C calculado foi de 3336 cm−1 , e a razão C/B fica em torno de 4,7, um resultado também condizente com a teoria de Tanabe-Sugano. A transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) foi estimada em aproximadamente 35026 cm−1 (285 nm) e a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G) em 15704 cm−1 (637 nm), de acordo com o calculado no Apêndice A. Na figura 44 temos o espectro de excitação da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ , com a emissão posicionada em 714 nm. Esse espectro guarda algumas semelhanças ao da figura 42 (referente à amostra de 0,1%, no mesmo comprimento de onda de emissão), com duas bandas largas e algumas estruturas sobrepostas a elas. Neste espectro de acordo com o ajuste de duas gaussianas, como anteriormente realizado, identificamos as seguintes transições: E(4 A2 →4 T1 ) = 22678 cm−1 (441 nm) E(4 A2 →4 T2 ) = 15898 cm−1 (629 nm) A partir dos valores acima os parâmetros calculados foram Dq = 1590 cm−1 , B = 694 cm−1 e Dq/B = 2,29 (Apêndice A). Neste espectro novamente observamos uma estreita linha sobreposta à banda em maior energia e uma estrutura sobreposta à banda de menor energia. Da mesma forma, supomos que essas estruturas correspondem a transições do Cr3+ , através da posição em energia das mesmas e do diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 em Dq/B = 2,29. Tais estruturas foram identificadas como as transições proibidas por spin 4 A2 (4 F ) →2 T2 (2 G) na posição de 423 nm 113 714 nm 1,0% 4 2 4 T ( F) 2 T ( G) 2 2 (629 nm) (423 nm) RT 4 2 2 E( G) (652 nm) 4 T ( F) 1 Intensidade (u.a.) (441 nm) 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 44: Excitação em 714 nm na temperatura ambiente da amostra de 1,0%. Tabela 13: Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de TanabeSugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 1,0% com emissão em 714 nm. Razão T2 /4 T1 2 T2 /4 T2 2 E/4 T1 2 E/4 T2 4 T1 /4 T2 2 De acordo com o diagrama 0,99 1,39 0,65 0,92 1,40 De acordo com o espectro 1,04 1,48 0,68 0,96 1,43 Diferença (%) 4,8 6,1 4,4 4,2 2,1 (23640 cm−1 ) e 4 A2 (4 F ) →2 E(2 G) em 652 nm (15337 cm−1 ). Os valores são similares aos atribuídos para o espectro da amostra de 0,1%. Na Tabela 13 novamente comparamos as razões entre as transições em Dq/B = 2,29 de acordo com o diagrama Tanabe-Sugano, com as razões obtidas a partir das atribuições das transições observadas no espectro de excitação. A pequena discrepância entre os valores obtidos de acordo com o diagrama de Tanabe-Sugano e os valores a partir do espectro confirma que as atribuições feitas estão corretas, apesar de um pouco maiores que os resultados da amostra de 0,1%. O parâmetro C foi estimado em 3409 cm−1 , com razão C/B em torno de 4,9. Este resultado, como os demais, é coerente com a teoria de Tanabe-Sugano para sistemas d3 . A tran- 114 sição 4 A2 (4 F →4 T1 (4 P ) tem energia igual a 35460 cm−1 (282 nm) e a transição 4 A2 (4 F ) → 2 T1 (2 G), energia de 15818 cm−1 (632 nm). 780 nm 1,0 % RT 4 4 T ( F) 1 (441 nm) 4 4 T ( F) 2 Intensidade (u.a.) (630 nm) 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 45: Excitação em 780 nm na temperatura ambiente da amostra de 1,0%. Por fim, temos o espectro de excitação da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ , agora com a emissão em 780 nm, visto na figura 45. Observamos duas bandas largas que, através do ajuste, foram atribuídas às transições 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 F ), com baricentro em 441 nm (22676 cm−1 ) e 4 A2 (4 F ) →4 T2 (4 F ), com baricentro em 630 nm (15873 cm−1 ). A partir destes os parâmetros calculados foram: Dq = 1587 cm−1 , B = 698 cm−1 e Dq/B = 2,28. Neste espectro, pelo fato das estruturas não serem tão evidentes como as observadas nos espectros anteriores, evitamos fazer a atribuição de outras transições. Desta forma, não calculamos o parâmetro de Racah C. Porém, as razões entre as transições 4 T1 e 4 T2 obtidas através do diagrama de Tanabe-Sugano e também obtidas a partir do espectro, são iguais a 1,43, mostrando que a atribuição das transições está de acordo o com previsto pelo diagrama de Tanabe-Sugano para Dq/B = 2,28. A transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) foi estimada em 35460 cm−1 (282 nm) (Apêndice A). Nas Tabelas 14 e 15 vemos uma comparação das posições em energia das transições observadas e dos parâmetros espectroscópicos calculados para cada uma das amostras analisadas. Podemos notar nas Tabelas que os valores das transições variam ligeiramente se mudamos o comprimento de onda de emissão de 714 para 780 nm, entretanto todos os valores encontrados são compatíveis com valores de sistemas fluoretos dopados com Cr3+ [25, 37, 38, 103]. 115 Tabela 14: Comprimento de onda das transições e parâmetros espectroscópicos calculados para a amostra de 0,1% a partir do estado inicial 4 A2 (4 F ) pela excitação das emissões em 714 e 780 nm. 4 4 λ( T1 ( P )) (nm) λ(2 T2 (2 G)) (nm) λ(4 T1 (4 F )) (nm) λ(4 T2 (4 F )) (nm) λ(2 T1 (2 G)) (nm) λ(2 E(2 G)) (nm) Dq (cm−1 ) B (cm−1 ) Dq/B C (cm−1 ) C/B 714 nm 283 423 440 637 632 654 1570 735 2,14 3312 4,5 780 nm 285 445 641 637 657 1560 713 2,19 3336 4,7 Tabela 15: Comprimento de onda das transições e parâmetros espectroscópicos calculados para a amostra de 1,0% a partir do estado inicial 4 A2 (4 F ) pela excitação das emissões em 714 e 780 nm. 4 4 λ( T1 ( P )) (nm) λ(2 T2 (2 G)) (nm) λ(4 T1 (4 F )) (nm) λ(4 T2 (4 F )) (nm) λ(2 T1 (2 G)) (nm) λ(2 E(2 G)) (nm) Dq (cm−1 ) B (cm−1 ) Dq/B C (cm−1 ) C/B 714 nm 282 423 441 629 632 652 1590 694 2,29 3409 4,9 780 nm 282 441 641 1587 698 2,28 - Os resultados acima comprovam as suspeitas das emissões de ambos os sítios estarem fortemente soprepostas. O valor do parâmetro de campo cristalino, por ser maior para a emissão de 714 nm em ambas as amostras, indica que os íons de Cr3+ encontram-se mais comprimidos no sítio S1, pois um maior valor de Dq indica uma menor simetria deste sítio em relação ao sítio S2 [31]. De acordo com a definição de Dq (equação 6, Capítulo 1), o sítio que exibir a menor distância dopante-ligante R (ou seja, o que tem o íon dopante mais comprimido) será o responsável pela emissão em maior energia e consequentemente, o sítio que exibe a maior distância R (menor Dq) será o responsável pela emissão em menor energia. Baseados nesta teoria e de 116 acordo com os valores de Dq obtidos, podemos presumir que o sítio S2, por possuir o menor valor de Dq entre os dois sítios é o responsável pela emissão em 779 nm. Por outro lado, o sítio S1 possui maior valor de Dq entre os dois, sendo o responsável pela emissão com baricentro em 719 nm [31]. Por este motivo, os íons estão mais comprimidos no sítio S1 do que no sítio S2, e que o sítio S1, por exibir o maior valor de Dq, possui um maior grau de distorção, implicando na diminuição da simetria deste sítio. Da mesma forma, comparando os valores de Dq entre as amostras de 0,1% e 1,0%, podemos notar um aumento de Dq com o aumento da concentração do dopante. Este resultado nos faz acreditar que o aumento da concentração resulta em uma maior distorção da rede hospedeira, o que também se confirma pelos resultados de luminescência. A atribuição das transições foi bastante difícil, pois cada espectro de excitação apesar de ter sido adquirido em diferentes comprimentos de onda, possui uma forte contribuição dos dois sítios, em ambas as emissões. Portanto, os espectros de fato mostram uma sobreposição das transições dos dois sítios existentes na amostra, talvez uma delas apresentando maior contribuição do sítio S1 do que o S2 e vice-versa. Isto quer dizer que podemos considerar a excitação em 714 nm como sendo originada do sítio S1, mas ainda existe alguma contribuição do sítio S2 nesta posição de comprimento de onda. O mesmo pode ser dito com relação à excitação em 780 nm, que atribuímos ao sítio S2. Os valores dos parâmetros de Racah B e C estão abaixo dos valores para o íon livre (918 cm−1 e 4133 cm−1 , respectivamente, de acordo com [103, 104]), e possuem valores muito próximos a de outros sistemas dopados com Cr3+ [20, 25, 105, 106, 107], o que caracteriza que a ligação entre o dopante Cr3+ e os ligantes F− possui um caráter covalente. O deslocamento de Stokes é definido como a diferença em energia entre os baricentros da banda de excitação e da banda de emissão de uma respectiva transição. A porção de energia absorvida pelo estado excitado que não é relaxada como luminescência, é injetada na rede na forma de energia vibracional ou relaxada por outros processos não radiativos. Foi calculado o deslocamento de Stokes da banda 4 T2 para a amostra de 0,1% (veja Apêndice B). O deslocamento de Stokes foi calculado em 1790 cm−1 (em 714 nm) e 2764 cm−1 (em 780 nm). Verificamos que os íons do sítio S2 transferem mais energia para a rede por processos não radiativos do que os íons do sítio S1, uma vez que o deslocamento de Stokes do sítio S2 é maior que o do sítio S1. O sítio S1 é mais distorcido do que o sítio S2, e, pelas regras de seleção de simetria, quanto mais distorcido o sítio, maior a probabilidade de transição radiativa. Então poderíamos esperar que pouca energia fosse perdida de forma não radiativa pelos íons de Cr3+ em S1, e assim, que o deslocamento de Stokes fosse menor para o sítio S1 do que para S2, o que efetivamente se verifica dos resultados experimentais. De acordo com o método descrito por L. Zundu e H. Yidong [108], é possível calcular de forma direta o parâmetro de Huang-Rhys S e a energia efetiva do fônon ~ω (ou seja, a diferença de energia entre dois níveis vibracionais) a partir dos picos de emissão e absorção das transições 117 entre os estados 4 T2 (4 F ) e 4 A2 (4 F ). O método e os cálculos podem ser vistos no Apêndice B. Os resultados calculados através deste método podem ser vistos em resumo na Tabela 16. Tabela 16: Deslocamento de Stokes (ES ), parâmetro de Huang-Rhys (S), energia do fônon (~ω) e largura a meia altura da banda (Wcalc ) calculados de acordo com a referência [108] a partir das transições entre os estados 4 T2 (4 F ) e 4 A2 (4 F ) para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura ambiente. Wexp é a largura a meia altura da banda de luminescência obtida experimentalmente. Na última coluna, temos a diferença entre Wcalc e Wexp . Emissão em (nm) 714 780 ES (cm−1 ) 1790 2764 S 1,99 3,84 ~ω (cm−1 ) 450 360 Wcalc Wexp −1 (cm ) (cm−1 ) 1679 1433 1769 1631 Diferença (%) 14,6% 7,8% Podemos ver da Tabela acima que os valores concordam com os resultados obtidos para sistemas fluoretos na temperatura ambiente [108, 109]. Informações importantes podem ser extraídas a partir do formato das bandas de emissão. O importante para uma banda de emissão larga e sintonizável é a sua largura a meia altura (ou seja, seu intervalo de sintonia) e sua intensidade integrada (ligada à quantidade de fótons emitidos). A diferença entre a largura a meia altura experimental e a calculada já é esperada, pois as bandas obtidas experimentalmente não são completamente simétricas, possuindo um alargamento não homogêneo. Já os valores calculados supõem a existência de uma banda simétrica. Os valores maiores que 1 encontrados para o parâmetro de Huang-Rhys S mostram que o acoplamento elétron-rede tem um caráter de intermediário a forte [49] e que o primeiro estado excitado é o 4 T2 (4 F ) na temperatura ambiente, um resultado que comprova as atribuições feitas anteriormente. Como uma nova tentativa de separar e resolver a atribuição dos dois sítios, foram feitas medidas de luminescência a baixas temperaturas, analisadas na seção a seguir. 6.3.3 Luminescência a baixas temperaturas Os espectros a baixas temperaturas foram obtidos com comprimento de onda 632,8 nm do laser de He-Ne modulado a uma frequência de 102 Hz no intervalo de número de onda entre 15650 a 11000 cm−1 (639 a 909 nm), entre as temperaturas de 4,1 e 5,4 K. Os espectros de luminescência a baixas temperaturas exibem para todas as amostras uma larga banda superposta a intensas linhas vibrônicas. Para cada amostra foram adquiridos dois espectros, o primeiro foi obtido com uma fase que maximiza a linha zero fônon de cada espectro e o segundo foi adquirido com uma fase que zera o sinal da linha zero fônon do espectro. 118 Intensidade (u.a.) 0,1% (a) max 672 nm (b) zer 672 nm 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 46: Espectros de emissão da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura de 4,4 K. Na parte superior (a), temos o espectro obtido com uma fase que maximiza o sinal em 672 nm e na parte inferior (b) o espectro obtido com a fase que zera o sinal em 672 nm. Intensidade (u.a.) 1,0% (a) max 672 nm (b) zer 672 nm 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 47: Espectro de emissão da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ na temperatura de 4,1 K. Na parte superior (a), temos o espectro obtido com uma fase que maximiza o sinal em 672 nm e na parte inferior (b) o espectro obtido com a fase que zera o sinal em 672 nm. 119 3,0% Intensidade (u.a.) 0,006 0,003 max 706 nm 0,000 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 48: Espectro de emissão da amostra dopada com 3,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 706 nm na temperatura de 5,4 K. 10,0% Intensidade (u.a.) 0,008 0,004 max 706 nm 0,000 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 49: Espectro de emissão da amostra dopada com 10,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 706 nm na temperatura de 5,4 K. 120 30,0% Intensidade (u.a.) 0,006 0,003 max 708 nm 0,000 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 50: Espectro de emissão da amostra dopada com 30,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 708 nm na temperatura de 5,4 K. 0,006 Intensidade (u.a.) 50,0% 0,003 max 708 nm 0,000 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 51: Espectro de emissão da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ obtido com a fase que maximiza o sinal em 708 nm na temperatura de 5,4 K. 121 Os espectros obtidos com as fases que zeram o sinal são de intensidade muito baixa, porém nos gráficos apresentados eles foram multiplicados por um fator (que depende da intensidade dos espectros), de forma que fosse possível comparar as linhas vibracionais destes com os espectros obtidos por fases que maximizam o sinal. Todos os espectros a baixas temperaturas podem ser vistos nas figuras 46-51. Na figura 46 observamos o espectro de emissão da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ . O espectro localizado na parte superior da figura 46 (a) foi obtido a 4,4 K, com uma fase que maximiza o sinal da linha zero fônon em 14870 cm−1 (672 nm); já o espectro na parte inferior (figura 46 (b)) foi adquirido na mesma temperatura, mas com uma fase que zera o sinal da linha em 672 nm, causando o aparecimento de uma nova linha zero fônon, deslocada para menor energia, localizada em 14250 cm−1 (701 nm). Para a amostra de 1,0% o procedimento seguido foi o mesmo. O espectro superior da figura 47 (a) foi obtido a 4,1 K, com uma fase que maximiza o sinal da linha zero fônon também em 14870 cm−1 (672 nm) e o espectro inferior na mesma figura 47 (b) foi adquirido na mesma temperatura com uma fase que zera o sinal da linha em 672 nm, causando o aparecimento de uma nova linha zero fônon deslocada para menor energia, localizada em 14230 cm−1 (703 nm). Os espectros de 3,0% e 10,0% foram obtidos a 5,4 K com uma fase que maximiza o sinal da linha zero fônon em 706 nm e os de 30,0% e 50,0% com a fase que maximiza o sinal em 708 nm, na mesma temperatura. A primeira observação a ser feita relativamente aos espectros a baixas temperaturas está relacionada ao fato de que para as amostras de 0,1% e 1,0% ao se zerar o sinal da linha zero fônon através da mudança na fase, foram obtidos espectros diferentes, com a linha zero fônon deslocada para região de menor energia (maior comprimento de onda), como visto nas figuras 46 e 47. Entretanto, o mesmo comportamento não foi observado para as amostras com concentração maior ou igual a 3,0% de Cr3+ . O aparecimento das linhas zero fônon em diferentes posições é um claro indício da existência de dois sítios não equivalentes presentes neste sistema, onde o sítio S1 é o responsável pelo aparecimento da linha zero fônon em maior energia e o sítio S2 pela linha em menor energia quando as linhas vibracionais do sítio S1 são eliminadas. O mesmo comportamento foi observado para este sistema quando dopado com 0,5% de Cr3+ [12]. Para as demais concentrações, é possível que o aumento da dopagem tenda a saturar a ocupação no sítio S2 pelos íons impureza, tornando este o sítio de ocupação preferencial, o que explicaria o aparecimento da linha zero fônon na região de menor energia, em detrimento da ocupação do sítio S1. Contudo, uma hipótese mais provável neste caso está relacionada ao fato de uma parte região de absorção se superpor à uma parte da região de emissão, então para altas concentrações grande parte da emissão tende a ser reabsorvida pelos íons mais próximos, já que para altas concentrações os íons da impureza se encontram mais próximos uns dos outros, fazendo com que haja transferência de energia entre os íons vizinhos [37]. Também nota-se que a linha zero fônon para as emissões atribuídas ao sítio S2 sofrem um deslocamento para meno- 122 res energias (maiores comprimentos de onda) com o aumento da concentração do dopante. Tal deslocamento pode ser atribuído à existência de pequenas variações na intensidade do campo cristalino com o aumento da concentração de Cr3+ no sistema. A emissão destes espectros foi atribuída à transição proibida por spin 2 E(2 G) → 4 A2 (4 F ) [12] e a rica estrutura vibracional observada foi analisada de acordo com os modos normais de vibração do complexo octaédrico [CrF6 ]3− . A atribuição das transições pode ser vista em detalhes no apêndice C. Dependendo da intensidade do campo cristalino, os estados 4 T2 (4 F ) e 2 E(2 G) podem estar muito próximos e a diferença de energia entre ambos os estados pode ser muito pequena. Entretanto, com a diminuição da temperatura, os estados excitados tendem a decair de forma não radiativa do nível 4 T2 (4 F ) para o 2 E(2 G), e por este motivo, a emissão observada nos espectros a baixas temperaturas é atribuída à transição 2 E(2 G) →4 A2 (4 F ) [37]. Tabela 17: Modos de vibração (em cm−1 ) para o sistema Cs2 N aAlF6 com as diversas concentrações de Cr3+ analisadas, obtidos a baixas temperaturas (em torno de 5 K) para o sítio S1. Para as amostras com dopagem igual ou superior a 3,0%, os modos para o sítio S1 não foram identificados. Modos t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) 0,1% 220 240 300 440 520 580 Sítio S1 1,0% 3,0% 10,0% 200 240 300 440 520 580 - 30,0% 50,0% - Tabela 18: Modos de vibração (em cm−1 ) para o sistema Cs2 N aAlF6 com as diversas concentrações de Cr3+ analisadas, obtidos a baixas temperaturas (em aproximadamente 5 K) para o sítio S2 . Modos t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) 0,1% 220 240 320 460 540 560 Sítio S2 1,0% 3,0% 10,0% 200 200 200 240 240 240 300 300 300 440 440 440 500 520 520 540 540 540 30,0% 50,0% 200 200 260 240 300 300 440 440 520 520 540 540 A atribuição dos modos de vibração é feita a partir da transição correspondente à linha 123 zero fônon e os modos de vibração aparecem na seguinte ordem: t2u (π), t2g (π), t1u (π), eg (σ), a1g (σ) e t1u (σ), de acordo com o que foi visto na seção 2.6, no Capítulo 2. A atribuição dos modos vibracionais às linhas observadas no espectro pode ser difícil de ser realizada, especialmente quando a resolução utilizada no sistema de detecção para a realização das medidas oculta a visualização de algumas linhas importantes, ocasionando uma aparente ausência das mesmas. Para todos os espectros de emissão o modo de vibração com maior posição em energia (mais próxima da linha zero fônon) corresponde ao nível t2u (π) e origina linhas com distâncias entre 200 e 220 cm−1 da linha zero fônon. A seguir, temos o modo t2g (π), entre 240 e 260 cm−1 . Segundo [12], para complexos hexafluoretos o valor em energia do modo de vibração t2g (π) é muito próximo ao do modo vizinho e além disso sua intensidade é muito pequena, o que pode tornar difícil sua identificação no espectro vibracional. O modo t1u (π) foi identificado entre 300 e 320 cm−1 , seguido dos modos eg (σ) (entre 440 e 460 cm−1 ), a1g (σ) (entre 500 e 540 cm−1 ) e t1u (σ) (entre 540 e 580 cm−1 ). A atribuição das estruturas vibracionais está em concordânica com os intervalos em energia para os modos de vibração em diversos sistemas que contém o complexo octaédrico [CrF6 ]3− [19, 20, 21, 24, 25, 110]. Segundo a referência [12], os autores consideraram para o sistema Cs2 N aAlF6 dopado com 0,5% de Cr3+ que o modo de vibração t1u (π) (em 304 cm−1 ) se localizava mais próximo da linha zero fônon que o modo t2g (π) (em 334 cm−1 ). Consideramos a atribuição incorreta e, nesta tese, o modo t2g (π) encontra-se sempre mais próximo em energia da linha zero fônon que o modo t1u (π). Nas Tabelas 17 e 18 são resumidos os modos de vibração observados nos espectros a baixas temperaturas. As diferenças entre os valores dos modos de vibração entre os diversos sistemas hospedeiros pode ser explicada pelos distintos valores entre as distâncias impureza-ligante (R) [110]. Nem todos os picos puderam ser explicados em termos dos modos de vibração do complexo [CrF6 ]3− . As transições próximas da linha zero fônon não identificadas em termos do complexo [CrF6 ]3− foram atribuídas aos modos de vibração da rede hospedeira e a uma distorção do modo t2u (π) pela perturbação do grupo de simetria C3v . Uma análise mais detalhada das Tabelas 17 e 18, com atribuição dos modos de vibração mostra que o deslocamento em energia dos modos de vibração para um mesmo modo apresenta pouca varição entre os sítios S1 e S2. Podemos observar também que, para a amostra de 3,0% o espectro só apresenta linhas associadas ao sítio S2. O mesmo ocorre para as concentrações maiores que 3,0%. Ou seja, nas amostras com maior teor de Cr3+ toda a emissão relacionada ao sítio S1 desaparece, como resultado de um concentration quenching1 , possivelmente ocasionado por fenômenos de transferência de energia entre íons vizinhos [37]. Os tempos de vida para as medidas a baixas temperaturas obtidos através do método de 1 Extinção da luminescência resultante do aumento da concentração. 124 Tabela 19: Tempos de vida (τLT ) obtidos através do método de deslocamento de fase para as medidas de luminescência a baixas temperaturas. O comprimento de onda (λ) na segunda coluna refere-se ao comprimento de onda onde o tempo de vida foi calculado. Concentração (%) 0,1 1,0 3,0 10,0 30,0 50,0 λ (nm) 671 754 762 763 745 747 τLT (µs) 312 397 267 354 394 489 deslocamento de fase são vistos na Tabela 19. Os valores encontrados são maiores que os obtidos para as medidas na temperatura ambiente, principalmente entre as amostras com maiores concentrações de Cr3+ . Entretanto, é necessário ressaltar que na temperatura ambiente as transições estão mais sobrepostas do que a baixas temperaturas. Este resultado indica que o aumento da quantidade de impureza altera de forma significativa as propriedades do sistema na temperatura ambiente, e que os processos não radiativos são mais representativos nestas amostras na temperatura ambiente. O fato dos processos não radiativos serem competitivos para amostras com grandes concentrações do dopante representa uma séria perda para o sistema quando se analisa a intensidade da luminescência, embora seja claro que as transições eletrônicas sejam assistidas por fônons. Porém, no Cs2 N aAlF6 : Cr3+ , as amostras de baixa concentração (até 1,0%) são mais indicadas para a utilização em dispositivos ópticos, pois neste caso os processos não radiativos não são tão influentes no decaimento. Foram realizados cálculos para a eficiência quântica de uma amostra de pequena concentração do dopante (1,0%) e de alta concentração (50,0%). Usando a equação 22 do Capítulo 2, obtivemos a eficiência quântica da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ igual a 0,7. Já para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ , a eficiência quântica calculada foi de apenas 0,2. Este resultado fornece mais uma evidência da predominância dos processos não radiativos em detrimento aos processos de origem radiativa com o aumento da concentração do dopante. 6.3.4 Excitação a baixas temperaturas As medidas de espectroscopia de excitação a baixas temperaturas foram realizadas em todas as amostras. Os espectros obtidos mostram bandas largas e bastante intensas, uma na região do azul e outra na região do vermelho, características do Cr3+ em sítio de coordenação octaédrica assim como observado na temperatura ambiente. Na figura 52 vemos os espectros de excitação das amostras dopadas com 3,0%, 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ . Por questões relacionadas ao alinhamento do sistema experimental os 125 espectros não estão em ordem de intensidade de emissão. Tais espectros foram adquiridos pela excitação da emissão em 708 nm a uma temperatura de 5,6 K. Todos os espectros apresentam o mesmo formato, com duas largas bandas. Porém, devido ao formato excessivamente largo das bandas, não foi possível fazer nenhum ajuste gaussiano. Essa largura pode ser mais uma evidência da forte sobreposição existente entre os dois sítios de ocupação do Cr3+ existentes nas amostras. 3,0% 10,0% 30,0% Luminescência (u.a.) 50,0% 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 52: Espectro de excitação a 5,6 K das amostras dopadas com 3,0%, 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ . Para todos os espectros, vemos a excitação da emissão em 708 nm. Felizmente, para as amostras com as concentrações de 0,1% e 1,0% de Cr3+ foi possível fazer o ajuste gaussiano dos espectros e calcular os parâmetros espectroscópicos de interesse, Dq, B e C. Na figura 53 podemos observar o espectro de excitação da amostra dopada com 0,1% de Cr com emissão posicionada em 702 nm, na temperatura de 5,6 K. Nota-se no espectro a presença de duas bandas largas com diversas estruturas sobrepostas. 3+ O procedimento de ajuste para obtenção das transições é idêntico ao realizado para a temperatura ambiente. Logo, de acordo com o ajuste realizado temos os seguintes valores atribuídos às transições: E(4 A2 →4 T1 ) = 22988 cm−1 (435 nm) E(4 A2 →4 T2 ) = 15798 cm−1 (637 nm) A partir dos valores acima e usando as matrizes de energia de Tanabe-Sugano para sistemas d3 , os parâmetros de campo cristalino Dq e B foram calculados (veja Apêndice A), com 126 2 0,1% 2 T ( G) 702 nm 2 (416 nm) 4 5,6 K 4 T ( F) 1 4 Intensidade (u.a.) (435 nm) 2 (607 nm) 400 450 500 550 4 T ( F) 2 E( G) 600 2 (637 nm) 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 53: Excitação a 5,6 K da amostra Cs2 N aAlF6 : Cr3+ (0,1%) em 702 nm. Dq = 1580 cm−1 ; B = 757 cm−1 e Dq/B = 2,09. Neste espectro, observamos uma estreita linha sobreposta à banda em maior energia e uma estrutura sobreposta à banda de menor energia, assim como na temperatura ambiente. Supondo que tais estruturas correspondam a transições do Cr3+ , através da posição em energia das mesmas e com a ajuda do diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 em Dq/B = 2,09 tais estruturas foram identificadas como as transições proibidas por spin 4 A2 (4 F ) →2 T2 (2 G) na posição de 416 nm (24038 cm−1 em energia) e 4 A2 (4 F ) →2 E(2 G) em 607 nm (16474 cm−1 ). Na Tabela 20 a seguir comparamos as razões entre as transições em Dq/B = 2,09 de acordo com o diagrama Tanabe-Sugano, com as razões obtidas a partir das atribuições das transições no espectro de excitação, e a diferença entre ambos. O parâmetro C foi estimado em 3654 cm−1 , com razão C/B em torno de 4,8. Este resultado, como os de temperatura ambiente, é coerente com a teoria de Tanabe-Sugano para sistemas d3 . A transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) foi estimada em 35766 cm−1 (279 nm) e a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G) em 16996 cm−1 (588 nm). Na figura 54 temos o espectro de excitação da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ , com emissão posicionada também em 702 nm, na temperatura de 5,6 K. O espectro guarda algumas semelhanças com o da figura anterior, com a diferença que a transição 4 A2 (4 F ) →2 T2 (2 G) não é mais observada. De acordo com o ajuste gaussiano realizado, temos no espectro as transições: 127 Tabela 20: Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de TanabeSugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 0,1% com emissão em 702 nm a 5,6 K. Razão T2 /4 T1 2 T2 /4 T2 2 E/4 T1 2 E/4 T2 4 T1 /4 T2 2 De acordo com o diagrama 1,04 1,53 0,71 1,03 1,46 De acordo com o espectro 1,05 1,51 0,67 0,98 1,43 Diferença (%) 1,0 1,3 5,6 4,8 2,0 E(4 A2 →4 T1 ) = 22727 cm−1 (435 nm) E(4 A2 →4 T2 ) = 15873 cm−1 (637 nm) A partir dos valores acima e usando as matrizes de energia de Tanabe-Sugano para sistemas d3 , os parâmetros de campo cristalino Dq e B foram calculados (veja Apêndice A) como Dq = 1587 cm−1 ; B = 705 cm−1 e Dq/B = 2,25. Pela posição em energia das estruturas e com a ajuda do diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 em Dq/B = 2,25 identificamos a transição proibida por spin 4 A2 (4 F ) → 2 E(2 G) em 651 nm (15361 cm−1 ). 1,0% 4 4 T ( F) 4 1 702 nm 4 T ( F) 5,6 K 2 (435 nm) (637 nm) 2 2 E( G) Intensidade (u.a.) (651 nm) 400 450 500 550 600 650 700 Comprimento de onda (nm) Figura 54: Excitação a 5,6 K da amostra Cs2 N aAlF6 : Cr3+ (1,0%) em 702 nm. O parâmetro C foi estimado em 3395 cm−1 , com razão C/B em torno de 4,8. A tran- 128 sição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) tem energia de 35466 cm−1 (282 nm) e a transição 4 A2 (4 F ) → 2 T1 (2 G) foi identificada com energia igual a 15853 cm−1 (631 nm). Finalmente, comparamos as razões entre as transições em Dq/B = 2,25 de acordo com o diagrama Tanabe-Sugano, com as razões obtidas a partir das atribuições das transições no espectro de excitação, e a diferença entre ambos. Tabela 21: Comparação das razões entre as transições obtidas através do diagrama de TanabeSugano com as obtidas a partir do espectro e suas respectivas diferenças, para a amostra de 1,0% com emissão em 702 nm a 5,6 K. Razão E/4 T1 2 E/4 T2 4 T1 /4 T2 2 De acordo com o diagrama 0,67 0,95 1,43 De acordo com o espectro 0,67 0,97 1,43 Diferença (%) 0,0 2,1 0,0 Os resultados obtidos são característicos de sistemas octaédricos dopados com Cr3+ e concordam com os calculados para a temperatura ambiente, mostrando que a diminuição de temperatura não afetou significativamente a intensidade do campo cristalino para este sistema. Comparando-se os resultados das duas amostras a baixas temperaturas, podemos perceber o sutil aumento de Dq com a concentração do dopante, confirmando o fenômeno que também ocorre na temperatura ambiente. Com relação à variação de Dq com a temperatura, era esperado que Dq aumentasse com a diminuição da temperatura, pois o valor de Dq varia com o inverso da distância impureza-ligante R. Com a diminuição da temperatura, esta distância tende a diminuir, o que faz então com que a intensidade do campo cristalino aumente. Supondo que a excitação em 702 nm corresponda ao sítio S1, para a amostra de 0,1% este comportamento de Dq é claramente observado (o valor de Dq aumenta de 1570 cm−1 na temperatura ambiente para 1580 cm−1 a 5,6 K para o sítio S2). Entretanto, para a amostra de 1,0% o mesmo não ocorre para o sítio S1 (o valor de Dq não na temperatura ambiente é de 1590 cm−1 na temperatura ambiente e a 5,6 K). 6.4 Medidas magnéticas 6.4.1 Susceptibilidade e histerese magnéticas Conforme mencionado na seção 6.3.1, é possível que a interação entre os íons de Cr3+ se torne muito importante com o aumento da concentração, o que poderia levar à observação de um ordenamento magnético. Para verificar se este ordenamento magnético realmente ocorre, medidas de susceptibilidade magnética em função da temperatura a campo magnético constante foram realizadas nas amostras dopadas com 0,1; 1,0; 3,0; 10,0; 30,0 e 50,0% de Cr3+ no intervalo de temperatura de 2 a 300 K. 129 O campo magnético aplicado foi de 0,1 T. Tais medidas podem ser vistas nas figuras 55 a 60, com seus respectivos gráficos de histerese magnética (inseridos nas figuras). Conforme definido no Capítulo 3, seção 3.3.1, a susceptibilidade magnética é uma resposta da magnetização do material a um campo magnético aplicado. As medidas de histerese magnética foram feitas com campo magnético variando entre -5 e 5 T, a uma temperatura de 4,5 K. Quase todas as amostras apresentam curvas de susceptibilidade com formato semelhante, típicas de materiais com comportamento paramagnético, exceto as curvas correspondentes às amostras de 0,1% (figura 55), 1,0% (figura 56) e 3,0% (figura 57), que apresentaram susceptibilidade magnética negativa para maiores temperaturas. Uma das possíveis causas desta susceptibilidade magnética negativa pode estar relacionada ao fato de existir uma contribuição diamagnética (caracterizada por uma susceptibilidade magnética negativa) da rede hospedeira [33] e uma outra contribuição (também diamagnética) externa que acreditamos ser oriunda do porta-amostra utilizado. Esta contribuição anômala compete diretamente com o comportamento paramagnético (caracterizado por uma susceptibilidade positiva, mas pequena) do íon dopante, de forma que para baixas concentrações a fase diamagnética torna-se majoritária à fase paramagnética originada pelo dopante. Desta forma, ao eliminarmos a contribuição à susceptibilidade do porta-amostra vazio das medidas com amostra, poderíamos obter o comportamento paramagnético esperado. Mas podemos perceber que, a medida que a concentração do Cr3+ aumenta, o comportamento diamagnético diminui, sendo vencido pelo paramagnetismo do dopante. Este comportamento pode ser observado para as amostras com concentração igual ou superior a 10,0% de Cr3+ . O procedimento para determinação do comportamento magnético efetivo da amostra consiste na realização de uma medida da susceptibilidade magnética do porta-amostra e sua posterior subtração das medidas de susceptiblidade realizadas com as amostras. Adicionalmente a este fato, acreditamos que o comportamento diamagnético não tem origem apenas da rede e do porta-amostra; durante o experimento a amostra pode se deslocar de sua posição por ter uma contribuição magnética pequena, deixando sua posição central. Dessa forma, a subtração para se obter a susceptibilidade apenas da amostra se torna difícil. Porém, o fato da susceptibilidade magnética se tornar positiva a partir da concentração de 10,0% indica que a amostra passa a ser mais paramagnética, assim sendo mais fácil de ser orientada pelo campo. Quanto às curvas de histerese, também quase todas (exceto a de 0,1%) apresentaram comportamento reversível. A curva de histerese para a amostra de 0,1% mostrou comportamento irreversível, com campos magnéticos superiores a 2 T [33], como pode ser visto na curva de histerese magnética inserida na figura 55. De acordo com o trabalho de Sosman e colaboradores [33], as amostras deste sistema dopadas com 10,0% e 50,0% de Cr3+ seguem de forma clara a Lei de Curie-Weiss χ = (C/T − θ), com uma dependência linear do inverso da susceptibilidade magnética com a temperatura. 130 0,0012 0,1%_0,1 T Momento magnético (emu/mol) 30 0,0010 0,0008 0,0006 0.1%_4.5 K 20 10 0 -10 -20 /mol -30 -6 0,0004 -4 -2 0 2 4 6 m Campo magnético (T) 0,0002 0,0000 -0,0002 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 55: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 0,1% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 1,0%_0,1 T 0,010 0,008 m /mol 0,006 0,004 0,002 0,000 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 56: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 1,0% de Cr3+ . 131 0,015 3,0%_1,0 T Momento magnético (emu/mol) 200 0,012 0,009 3,0%_4,5 K 150 100 50 0 -50 -100 /mol -150 -200 -6 m 0,006 -4 -2 0 2 4 6 Campo Magnético (T) 0,003 0,000 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 57: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 3,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 0,08 10,0%_0,1 T 10,0%_4,5K Momento magnético (emu/mol) 1000 0,06 0,04 500 0 -500 /mol -1000 -6 -4 -2 0 2 4 6 m Campo magnético (T) 0,02 0,00 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 58: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 132 20000 30,0%_1,0 T 30,0%_4,5K 0,6 Momento magnético (emu/mol) 15000 0,5 /mol 0,4 0,3 10000 5000 0 -5000 -10000 -15000 -20000 -6 -4 -2 0 2 4 6 m Campo magnético (T) 0,2 0,1 0,0 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 59: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 6000 0,30 50,0%_0,1 T 50,0%_2,0K Momento Magnético (emu/mol) 4000 0,25 0,15 0 -2000 -4000 -6000 -6 -4 -2 0 2 4 6 Campo Magnético (T) m /mol 0,20 2000 0,10 0,05 0,00 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 60: Susceptibilidade magnética por mol da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . O gráfico inserido contém os dados de histerese magnética da referida amostra. 133 Neste mesmo trabalho o valor do momento magnético efetivo por íon de cromo presente no sistema dopado com 50,0% foi calculado em 0, 59µB , resultando no valor de spin S = 1/2 para o estado paramagnético. Cálculos para obtenção dos momentos magnéticos das demais amostras podem dizer qual é a concentração que maximiza os efeitos magnéticos deste sistema [33]. 400 Cs NaAlF :Cr 2 eff 3+ 6 = 1,75 (10,0%) B 200 1/ m 300 100 0 0 10 20 30 40 50 Temperatura (K) Figura 61: Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 50 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. Cs NaAlF :Cr 0,15 2 6 3+ (10,0%) 0,14 m -1 T (emu.mol .K) 0,13 0,12 0,11 0,10 0,09 0,08 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 62: Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 10,0% de Cr3+ . 134 Cs NaAlF :Cr 80 2 eff 3+ 6 = 1,76 (30,0%) B 1/ m 60 40 20 0 0 20 40 60 80 100 Temperatura (K) Figura 63: Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 100 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. 1,28 Cs NaAlF :Cr 2 6 3+ (30,0%) 1,26 -1 T (emu.mol .K) 1,24 1,22 m 1,20 1,18 1,16 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 64: Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . 135 200 Cs NaAlF :Cr 2 eff 3+ 6 = 0,68 (50,0%) B 160 1/ m 120 80 40 0 0 20 40 60 80 100 Temperatura (K) Figura 65: Inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . Para intervalos de temperatura até 100 K, observa-se uma relação linear, de acordo com a Lei de Curie-Weiss. 0,53 Cs NaAlF :Cr 2 6 3+ (50,0%) 0,51 -1 T (emu.mol .K) 0,52 m 0,50 0,49 0,48 0 50 100 150 200 250 300 Temperatura (K) Figura 66: Susceptibilidade magnética vezes a temperatura em função da temperatura para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . Analisando o comportamento do inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura, verifica-se que apenas para as amostras com altas concentrações do íon impureza (amostras de 10,0%, 30,0% e 50,0% de Cr3+ ) esta relação é linear, obedecendo a Lei de CurieWeiss para o intervalo de temperaturas até 50 K para a amostra dopada com 10,0% e até 100 K para as de 30,0% e 50,0% [33]. Este comportamento pode ser visto nas figuras 61, 63 e 65. 136 A partir de um ajuste linear dos dados destes gráficos foi possível estimar o valor do momento magnético efetivo, que para a amostra dopada com 10,0% é de aproximadamente 1, 75µB , para a amostra de 30,0% é 1, 76µB e para a amostra de 50,0% é de aproximadamente 0, 68µB . Entretanto, é importante destacar que tais valores foram estimados desconsiderando a influência do campo cristalino, que interfere fortemente na determinação desta grandeza já que para o íon de Cr3+ livre este valor é aproximadamente 3, 87µB [111]. Na figura 66 vemos o gráfico do produto da susceptibilidade magnética com a temperatura em função da temperatura para a amostra de 50,0%. Nesta figura podemos observar que existem algumas flutuações magnéticas no sistema, o que nos leva a acreditar que os íons de Cr3+ não se encontram magneticamente isolados a altas concentrações, porém a ordem magnética observada parece ser de curtíssimo alcance, e possivelmente a formação de aglomerados de íons de Cr3+ possa ser a responsável por este tipo de interação. Assim, se alguma interação magnética ocorre neste sistema, isso acontece entre um número bem limitado de íons magnéticos. 6.4.2 Calor específico Baseado nos dados de susceptibilidade magnética, foram realizados experimentos de capacidade térmica em função da temperatura com variação de campo magnético nas amostras dopadas com 1,0 e 30,0% de Cr3+ e a partir destes resultados os respectivos calores específicos foram calculados. Lembramos que o calor específico de um material é obtido pela divisão entre a sua capacidade térmica e a respectiva massa [46], de forma que o sistema físico absorve energia a medida que a temperatura aumenta. Esta taxa de absorção é medida pelo calor específico. A diminuição do calor específico significa que o sistema físico não é mais capaz de absorver energia além de um limite máximo. Foram feitas medidas com variações de temperatura (no intervalo 2-50 K) e de campo magnético (entre 0 e 10 T). Na figura 67, vemos a variação da capacidade térmica por unidade de massa (ou calor específico) com a temperatura para estas amostras, sem aplicação de campo magnético. Pode-se observar que para maiores temperaturas (acima de 10 K) o calor específico apresenta o mesmo comportamento, independente da amostra, com a amostra de 30,0% apresentando valores levemente maiores que os da amostra de 1,0%. Entretanto, para temperaturas abaixo de 10 K, vemos um aumento no calor específico da amostra com 30,0% em relação à amostra com 1,0%. Este resultado mostra que o calor específico aumenta com o aumento da quantidade do dopante. Nas figuras 68 e 69 vemos o calor específico em função da temperatura (até 50 K - região de baixas temperaturas) e com variação de campo magnético (0, 5 e 10 T) para as amostras dopadas com 1,0% e 30,0% de Cr3+ . Para a amostra de 1,0% observamos que há variação do calor específico a pressão constante com a mudança de campo na região de temperaturas abaixo 137 Cs NaAlF :Cr 100 2 Cs NaAlF :Cr Calor especifico (J/mol.K) 2 3+ 6 6 3+ (1,0%) (30,0%) 10 1 0,1 0,01 1 10 100 Temperatura (K) Figura 67: Calor específico em função da temperatura para as amostras dopadas com 1,0% e 30,0% de Cr3+ a campo nulo. de 10 K. Essa variação foi atribuída ao aparecimento do efeito Schottky [65, 29, 69] um efeito raramente observado em materiais dopados com metais de transição, que se caracteriza por um aumento anômalo do calor específico na região de temperaturas muito baixas (menores que 20 K), e uma descrição do efeito é vista em mais detalhes no Capítulo 3. Para os dados de 30,0% (figura 69) também observamos uma variação do calor específico com a mudança de campo na região de temperaturas abaixo de 20 K, para ambas as amostras. Novamente acreditamos que essa alteração a baixas temperaturas seja atribuída ao efeito Schottky. Pelo formato das curvas, podemos observar que o calor específico aumenta quando o campo varia de 0 T a 5 T, porém a curva de 10 T se localiza entre as curvas de 0 T e 5 T. Este comportamento é observado apenas no limite de temperaturas inferiores a 20 K. Acima desse limiar, o calor específico não varia com a presença ou ausência do campo magnético aplicado. No que se refere à efeitos de concentração, a diferença entre os calores específicos sem e com campo é mais acentuada para a amostra de 30,0% de Cr3+ . Porém existem algumas diferenças entre os calores específicos para ambas as amostras, entre elas o formato das curvas experimentais e um aumento no valor do calor específico com o aumento da quantidade de impureza, na região do efeito Schottky. Este aumento também ocasiona uma alteração no desdobramento dos níveis de energia do Cr3+ relacionado ao aumento da concentração de impureza [112]. Considerando um material isolante, já foi visto (no Capítulo 3) que o seu calor específico total possui duas contribuições importantes: a contribuição originada da rede (obtida através 138 0T Cs NaAlF :Cr 2 100 3+ 6 (1,0%) 5T Calor especifico (J/mol.K) 10T 10 1 0,1 0,01 1 10 100 Temperatura (K) Figura 68: Calor específico em função da temperatura e campo magnético para amostra dopada com 1,0% de Cr3+ . 0T 100 Calor especifico (J/mol.K) Cs NaAlF :Cr 2 5T 6 3+ (30,0%) 10T 10 1 0,1 1 10 100 Temperatura (K) Figura 69: Calor específico em função da temperatura e campo magnético para amostra dopada com 30,0% de Cr3+ . do modelos de Debye e Einstein) e uma contribuição magnética, com origem no íon impureza imerso na rede cristalina [29, 64, 65]. Para o material em estudo não foi levada em consideração a contribuição eletrônica, que para materiais isolantes é muito pequena, devido à ausência de 139 elétrons livres neste tipo de material (ao contrário dos metais, que possuem muitos elétrons livres, fazendo com que a contribuição eletrônica se torne relevante). Amostras dopadas com íons de terras raras apresentam anomalia Schottky no calor específico a baixas temperaturas. Ela surge devido ao desdobramento dos níveis de energia do íon de terra-rara [29, 64, 65, 69, 113, 114]. Em um material dopado com íon de metal de transição (Cr3+ ) este efeito também pode ser observado, embora em menor proporção do que ocorreria se estivesse dopado com um íon de terra rara. A explicação para a dificuldade de se observar este efeito em sistemas dopados com metais de transição está relacionada ao campo cristalino. O campo cristalino exerce pouca influência nas propriedades de íons de elementos de terras-raras, pois sua camada parcialmente preenchida (4f ) encontra-se “blindada” por camadas mais externas. Por outro lado, para íons de metais de transição, a camada incompleta (3d) também é a camada mais externa, sendo portanto bem mais sensível aos efeitos do campo cristalino. Desta forma, os efeitos magnéticos que são facilmente observados em íons de terras raras são bem mais sutis em materiais dopados com metais de transição [45]. Essa dificuldade se constituiu numa das principais motivações para o estudo deste material. Segundo Lázaro [115], a anomalia Schottky mostrando um ordenamento de curto alcance (em um pequeno intervalo de temperatura) pode ser explicada pela população térmica dos dubletos S = ±3/2 e S = ±1/2 onde o estado eletrônico fundamental 4 A2 (4 F ) se desdobra devido à anisotropia do campo cristalino. Com a aplicação do campo magnético é possível observar, em adição, a transição entre estados com ms = ±1/2. Além disso, o valor do momento angular total é o responsável pela anisotropia do íon, de acordo com Tristan [113]. Para L = 0 o íon é isotrópico e quanto maior o valor de L, maior o grau de anisotropia do íon. Em consequência disso, quanto maior a anisotropia, mais evidente se torna a anomalia Schottky no calor específico do sistema. Para o íon Cr3+ , o valor do momento angular total é L = 3, o que explica o aparecimento da anomalia Schottky neste sistema. Outro ponto importante é que, dependendo das propriedades magnéticas do material, são esperadas fortes anomalias correspondentes a transições de ordenamento magnético próximas a temperaturas onde ocorre a anomalia Schottky. Assim, é possível que, dessa forma, o efeito Schottky seja encoberto pelas anomalias de ordem magnética. Isso significa que, se há um ordenamento magnético no sistema, a anomalia Schottky é menos evidente, já que ambos os efeitos tendem a ocorrer na mesma faixa de temperatura [113]. Logo, se o efeito Shottky é perceptível, então o sistema possui pouco ou nenhum ordenamento magnético a campo nulo, o que concorda com os resultados de susceptibilidade magnética apresentados na seção anterior. Com o objetivo de separar a contribuição magnética ao calor específico da contribuição originada pela rede, um procedimento de ajuste de dados foi realizado, seguindo o procedimento densenvolvido por Köhler e colaboradores [29]. Foi desenvolvido um programa em idl2 com o 2 Linguagem de programação para análise de dados. 140 objetivo de construir uma curva de calor específico em função da temperatura a partir dos dados experimentais obtidos para as medidas a campo nulo. Como consideramos a contribuição da rede formada por dois termos, foram construídos dois programas: um para resolução do calor específico pelo modelo de Einstein (a partir da equação 33 no Capítulo 3), que gerava uma curva correspondente ao calor específico de acordo com o modelo de Einstein (ee) e outro considerando o calor específico a partir do modelo de Debye (por resolução numérica da integral na equação 35, Capítulo 3), gerando uma curva considerando apenas o modelo de Debye (db). Apesar do modelo de Debye parecer mais realista que o de Einstein, o modelo de Einstein também foi utilizado pelo fato dele fazer uma melhor aproximação dos modos ópticos, enquanto que o modelo de Debye considera apenas os modos de fônons acústicos [29]. Assim, para cada amostra foram construídas inicialmente duas curvas de ajuste a partir dos dados de calor específico a campo nulo. Entretanto, essas curvas foram somadas, com cada uma das curvas obtendo um determinado fator de peso, de forma que esta nova curva (fit) constituída pela duas contribuições, se ajuste da melhor forma possível aos dados experimentais obtidos a campo nulo. Esta curva obtida pelo ajuste dos dados contém então toda a informação sobre a contribuição da rede ao calor específico. Assim, para obtenção da contribuição magnética ao calor específico subtraímos as curvas de dados experimentais para cada campo da curva obtida através do ajuste (fit). 0T Calor especifico (J/mol.K) 100 fit=0.65*db+0.35*ee (a) fit_1% 10 1 0,1 0,01 1 10 100 Temperatura (K) Figura 70: Calor específico da amostra de 1,0% sem campo magnético com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). Na figura 70 podemos ver o calor específico para a amostra dopada com 1,0% de Cr3+ obtido sem a aplicação de campo magnético (curva pontilhada) (0 T) e a respectiva curva de 141 fit=0.65*db+0.35*ee (b) 5T 100 10 1 0,17 5T 0,16 (J/mol.K) 0,15 mag 0,1 c Calor especifico (J/mol.K) fit_1% 0,14 0,13 0,12 0,11 5 0,01 10 15 20 Temperatura (K) 1 10 100 Temperatura (K) Figura 71: Calor específico da amostra de 1,0% com campo de 5 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). fit=0.65*db+0.35*ee (c) 10T 100 10 1 10T 0,5 (J/mol.K) 0,4 mag 0,1 0,3 0,2 c Calor especifico (J/mol.K) fit_1% 0,1 0,0 5 0,01 10 15 20 Temperatura (K) 1 10 100 Temperatura (K) Figura 72: Calor específico da amostra de 1,0% com campo de 10 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). 142 ajuste (fit_1%, curva contínua). A curva fit_1%, possui equação f it = 0, 65 · db + 0, 35 · ee, e consiste na curva de Debye (db), multiplicada por um fator de 0,65, mais a curva de Einstein (ee), multiplicada por um fator de 0,35. O mesmo procedimento foi realizado para os dados da amostra de 30,0%, obtendo-se a curva de ajuste (fit_30%) igual a f it = 0, 49·db+0, 51·ee, como visto na figura 73. Os fatores de peso utilizados foram os que melhor se ajustaram às curvas experimentais. Note das figuras 70-75 os seguintes efeitos importantes: o calor específico total permanece o mesmo para altas temperaturas em ambas as amostras, mas seu comportamento é alterado a baixas temperaturas a medida que o campo magnético é aplicado. fit=0.49*db+0.51*ee (a) 0T Calor especifico (J/mol.K) 100 fit_30% 10 1 0,1 1 10 100 Temperatura (K) Figura 73: Calor específico da amostra de 30,0% sem campo magnético com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). Nas figuras 71 e 72 vemos os calores específicos obtidos com campos magnéticos de 5 T e 10 T (curvas pontilhadas), com seus respectivos ajustes (curvas contínuas) para a amostra com 1,0% de Cr3+ . Nas figuras 73 a 75 observa-se o calor específico para a amostra dopada com 30,0% de Cr3+ , e suas respectivas contribuições da rede (linhas contínuas) e magnética (nos gráficos inseridos). A contribuição magnética ao calor específico é mostrada nos gráficos inseridos nas Figuras 71, 72, 74 e 75 e foi extraída subtraindo-se a curva de ajuste (fit) dos dados experimentais do calor específico a campos não nulos [29, 113]. Este procedimento foi realizado assumindose que a curva de ajuste adquirida com os dados a 0 T contém apenas a contribuição da rede. Logo, ao se subtrair a curva de ajuste dos dados experimentais, o que pretendemos obter é a contribuição de origem exclusivamente magnética ao calor específico. A contribuição magnética não foi extraída para o calor específico a campo magnético 143 5T fit=0.49*db+0.51*ee (b) fit_30% 10 5 c_mag_5T 4 mag (J/mol.K) 1 3 c Calor especifico (J/mol.K) 100 2 5 10 15 20 Temperatura (K) 1 10 100 Temperatura (K) Figura 74: Calor específico da amostra de 30,0% com campo de 5 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). 10T fit=0.49*db+0.51*ee (c) fit_30% 10 5 c_mag_10T 4 1 2 mag (J/mol.K) 3 c Calor especifico (J/mol.K) 100 1 0 5 0,1 10 15 Temperature (K) 1 10 100 Temperatura (K) Figura 75: Calor específico da amostra de 30,0% com campo de 10 T com a curva de ajuste (contínua) e os dados experimentais (pontos). O gráfico inserido se refere à diferença entre a curva experimental e a curva de ajuste (fit). 144 nulo por considerarmos a mesma muito pequena, podendo ser desprezada se comparada à contribuição da rede. É importante observar que para maiores temperaturas o campo magnético exerce pouca influência no calor específico total e que os efeitos magnéticos parecem ser consideráveis apenas em temperaturas muito baixas. De acordo com a subtração feita entre os dados experimentais e a curva de ajuste, a temperatura onde o máximo do calor específico magnético ocorre para a dopagem de 1,0% a campo de 5 T (gráfico inserido na figura 71) é 6,14 K, sendo menor do que para o campo de 10 T (gráfico inserido na figura 71), de 10,17 K. O mesmo ocorre para a amostra de 30,0% com uma temperatura máxima em 3,92 K para campo de 5 T (gráfico inserido na figura 74) e 8,16 K para campo de 10 T (gráfico inserido na figura 75). O máximo da temperatura tende a se deslocar para maiores valores com o aumento do campo aplicado e para menores valores com o aumento da concentração. Logo, além do campo magnético aplicado, a dopagem também exerce forte influência na contribuição magnética ao calor específico. Na etapa de obtenção das curvas teóricas de calor específico, o valor das temperaturas de Debye e Einstein para este sistema foram obtidas, dadas por θD = 230 K e θE = 73 K para a amostra de 1,0% e θD = 241 K e θE = 80 K para a amostra de 30,0%. Os valores próximos de θD e θE para ambas as concentrações indicam que a concentração do íon dopante não exerce grande influência nos modos de vibração da rede [29]. Tal resultado é corroborado pelos valores dos modos de vibração obtidos através das medidas de luminescência a baixas temperaturas, que também mostrou que a quantidade de impureza não alterou de forma significativa as posições dos modos de vibração da rede em relação a linha zero fônon (Tabelas 17 e 18). Apesar do aumento da concentração da impureza Cr3+ no sistema não afetar significativamente os modos de vibração da rede e não causar ordem magnética de longo alcance (como visto na seção anterior), ela causa profundas mudanças nas propriedades ópticas do sistema e no calor específico a baixas temperaturas. As propriedades ópticas são afetadas no sentido em que os íons tendem a ocupar preferencialmente um sítio em detrimento ao outro (neste caso, o sítio S2 de menor energia) refletindo no deslocamento das bandas de luminescência e causando a extinção da luminescência. Já no calor específico a baixas temperaturas, esta alteração faz com que a anomalia Schottky se desloque para diferentes temperaturas. Assim, acreditamos que a anomalia Schottky seja causada principalmente pelos íons de Cr3+ que ocupam preferencialmente o sítio S2, já que os íons de Al3+ que ocupam o sítio S1 não contribuem com o efeito, pelo simples fato de que tais íons não possuem momento magnético. 6.5 Difração de nêutrons Medidas de difração de nêutrons na temperatura ambiente foram realizadas na amostra do sistema fluoreto Cs2 N aAlF6 dopado com 50,0% de Cr3+ . Esta amostra foi a escolhida para difração de nêutrons entre todas as estudadas por dois motivos: o primeiro, de ordem puramente 145 técnica, vem do fato desta amostra possuir o tamanho mais adequado para a realização do experimento; o segundo motivo é que desejamos investigar se, com a concentração de 50,0% de Cr3+ a estrutura sofre alterações em relação à estrutura da amostra dopada com 0,5% de Cr3+ [30]. As medidas de difração de nêutrons foram feitas no HZB em um difratômetro de nêutrons de 4 ciclos [96], onde o feixe de nêutrons foi monocromatizado com comprimento de onda de 0,89 Å por um monocristal de Cobre (Cu). Os dados foram obtidos na temperatura ambiente usando um detector de 3 He. Um total de 1028 reflexões foi coletado. Imagens mostrando o perfil de algumas das reflexões coletadas e o procedimento para seleção das reflexões que farão parte do processo de refino podem ser vistas no Apêndice D. Tabela 22: Parâmetros da medida de difração de nêutrons na temperatura ambiente para a amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . Temperatura 300 K Grupo espacial (?) R3m (Número 166) a; b; c (Å)(?) 6,192; 6,192; 29,839 α; β; γ 90°; 90°; 120° Radiação Nêutrons, 0,89 Å Parâmetro de extinção 13,87 Número de reflexões 1028 fator RF2 63,8 fator RF2w 1,54 fator RF 56,9 Houve uma tentativa de se fazer o refinamento da estrutura cristalina do composto através do método de Rietveld, a partir dos dados de difração de nêutrons na temperatura ambiente da amostra Cs2 N aAlF6 : Cr3+ (0,5%) [30] usando o software FullProf [81]. O procedimento para manipulação dos dados para realização do refino de Rietveld através do FullProf pode ser visto no Apêndice D. Os resultados preliminares indicam que a estrutura cristalina não pertence ao grupo espacial R3m como prevíamos, ou que os parâmetros de rede parecem ser bem diferentes daqueles da amostra de 0,5% usados para o refino. Nesta primeira tentativa, foram refinados apenas o primeiro fator de escala e o primeiro parâmetro de extinção, resultando nos fatores RF=56,9 e RF-2w=1,54, indicando que o refino não convergiu. Ou seja, usando como ponto de partida os dados cristalográficos da amostra com 0,5% de Cr3+ não foi possível determinar a estrutura da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ . Na Tabela 22 podemos ver os parâmetros obtidos para a medida, e na Tabela 23, temos as respectivas posições atômicas. Este resultado inconclusivo pode estar associado à uma maior distorção do sítio pela presença do grande número de íons Cr3+ , com a consequente mudança de grupo espacial. Tal resultado indica que o aumento da 146 Tabela 23: Posições atômicas e ocupação. Simetria 3a(3m) - D3d 3a(3m) - D3d 3b(3m) - D3d 3b(3m) - D3d 6c(3m) - C3v 18h(m) - Cs 18h(m) - Cs 6c(3m) - C3v 6c(3m) - C3v Átomo Al(1) Cr(1) Al(2) Cr(2) Na(2) F(1) F(2) Cs(1) Cs(2) x (Å) 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,13627 0,19289 0,00000 0,00000 y (Å) 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 0,00000 -0,13627 -0,19289 0,00000 0,00000 z (Å) 0,00000 0,00000 0,50000 0,50000 0,09844 0,96371 0,13181 0,77992 0,62811 Ocupação 0,04170 0,04170 0,04170 0,04170 0,16666 0,50000 0,50000 0,16666 0,16666 dopagem causa mudanças drásticas na estrutura, aumentando o grau de distorção do sistema. Uma hipótese que possa explicar o insucesso do refino pode ser a existência de duas fases presentes na amostra. Como a amostra utilizada contém uma alta concentração do dopante, é possível que tenha havido a formação de clusters do sistema Cs2 N aCrF6 , em adição à fase Cs2 N aAlF6 , sendo que este primeiro não foi considerada na realização preliminar do refino. Uma outra possibilidade é que o cristal utilizado na medida exiba uma espécie de defeito estrutural conhecido como twinning. Basicamente o twinning consiste de dois ou mais monocristais da mesma espécie em uma mesma amostra, porém com diferentes orientações [116]. Eles crescem na amostra de tal forma que pelo menos uma de suas direções sejam paralelas. A existência do twinning no sistema torna muito difícil a resolução da estrutura cristalina pelo método de Rietveld. De qualquer forma, para o esclarecimento da estrutura cristalina da amostra dopada com 50,0% de Cr3+ serão necessários medidas adicionais de difração de nêutrons (e de raios-X) que poderão ser realizadas dando continuidade ao trabalho desenvolvido nesta tese. 7 CONCLUSÃO Nesta tese foi feito um estudo de algumas propriedades ópticas, termo-magnéticas e estruturais do sistema Cs2 N aAlF6 dopado com diversas concentrações de Cr3+ como impureza substitucional. Os resultados de luminescência na temperatura ambiente mostraram bandas largas e intensas na região do infravermelho próximo, características da ocupação do Cr3+ em sítio de coordenação octaédrica. A banda na temperatura ambiente vista no espectro de fotoluminescência para todas as amostras foi atribuída à transição permitida por spin 4 T2 (4 F ) → 4 A2 (4 F ). A variação da intensidade integrada e do baricentro da banda de emissão com a concentração mostrou que a luminescência tende a se extinguir com o aumento da concentração do dopante dando lugar a processos de natureza não-radiativa e, mais provavelmente, a fenômenos de transferência de energia. O tempo de vida da luminescência foi investigado na temperatura ambiente pelos métodos de deslocamento de fase e luminescência resolvida no tempo. As medidas mostraram que o tempo de vida diminui com o aumento da concentração, confirmando o efeito dos processos não radiativos com o aumento da quantidade de impureza. Medidas adicionais de luminescência na temperatura ambiente foram feitas com o objetivo de verificar a presença de diferentes sítios ou impurezas espúrias nas amostras. Contudo, somente na amostra com 0,1% de Cr3+ resolvemos a emissão luminescente proveniente de dois sítios octaédricos não equivalentes. A dificuldade na separação do espectro ocorre devido à forte sobreposição das emissões dos dois sítios. Na amostra de 0,1%, identificamos duas bandas, uma com baricentro em 719 nm (atribuída à emissão do sítio que denominamos S1, que é um sítio octaédrico mais distorcido que o segundo sítio) e outra banda com emissão em 779 nm (atribuída à emissão do sítio S2). As medidas de luminescência resolvida no tempo também apontam para a existência de dois sítios não equivalentes, ao mostrar tempos de vida distintos para diferentes comprimentos de onda de emissão, sendo este comportamento evidente para as amostras com pouca concentração do dopante. Os espectros de excitação na temperatura ambiente são característicos de sistemas dopados com Cr3+ , com bandas largas e diversas estruturas. Nas medidas de excitação das amostras dopadas com 0,1 e 1,0% de Cr3+ foram observadas as transições permitidas por spin 4 A2 (4 F ) → 4 T1 (4 F ), 4 A2 (4 F ) → 4 T2 (4 F ) e as proibidas por spin 4 A2 (4 F ) → 2 E(2 G) e 4 A2 (4 F ) → 2 T2 (2 G). As transições foram identificadas de acordo com o diagrama de Tanabe-Sugano para sistemas d3 e os parâmetros espectroscópicos Dq, B e C foram calculados quando possível. Com os parâmetros de energia estimamos as posições das transições 4 A2 (4 F ) → 4 T1 (4 P ) e 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G). A energia do fônon e o parâmetro de Huang-Rhys também foram estimados através do método de Luo e Huang, que mostrou que o acoplamento elétron-rede possui um caráter intermediário. 148 Os espectros de luminescência a baixas temperaturas mostraram bandas largas e intensas sobrepostas a diversas estruturas vibrônicas, e a tais bandas foram atribuídas a transição proibida por spin 2 E(2 G) → 4 A2 (4 F ). As transições vibracionais foram identificadas de acordo com os modos de vibração do complexo octaédrico [CrF6 ]3− . A presença de dois sítios octaédricos não equivalentes ficou clara para as amostras de 0,1% e 1,0%, evidenciada pela existência de duas linhas zero fônon em distintas posições em energia, uma na região de 672 nm, atribuída ao sítio S1 e outra na região entre 702 e 703 nm, atribuída ao sítio S2. Para as demais concentrações apenas a linha zero fônon em menor energia (e os fônons associados) foram identificados (na região entre 705 e 707 nmn). As medidas de susceptibilidade magnética mostraram que a contribuição paramagnética do íon dopante Cr3+ se torna mais importante à medida que a concentração do dopante aumenta, e que tal comportamento ocorre a diferentes temperaturas. As medidas de histerese magnética nos dizem que este sistema não sofre alterações com o aumento da concentração de Cr3+ , exceto para a amostra de 0,1%, onde é observada um pequeno fenômeno de histerese. Os gráficos do inverso da susceptibilidade magnética em função da temperatura para as amostras com concentração igual ou superior a 10,0% mostram uma dependência linear do inverso da susceptibilidade magnética com a temperatura, característico de sistemas que obedecem a Lei de Curie-Weiss. A partir do ajuste destes gráficos foi possível determinar o momento magnético efetivo do íon de cromo imerso na rede cristalina, e este momento sofre forte influência do campo cristalino. Por fim, as medidas magnéticas mostraram que a ordem magnética observada neste sistema parece ser de curto alcance. Experimentos de calor específico foram realizados nas amostras dopadas com 1,0% e 30,0% de Cr3+ com campos magnéticos de 0 T, 5 T e 10 T. A baixas temperaturas observamos a ocorrência do efeito Schottky, ocasionado pelo desdobramento dos níveis de energia em decorrência da presença do campo cristalino. Para o sistema estudado, a contribuição da rede ao calor específico a pressão constante é dominante a altas temperaturas. Entretanto, a anomalia Schottky é observável a baixas temperaturas, através de um aumento no calor específico a temperaturas inferiores a 10 K. A contribuição magnética (representada pelo efeito Schottky) foi estimada através da subtração da contribuição da rede ao calor específico (constituída por dois termos: um termo considerando o calor específico de Debye e outro levando em conta o calor específico de Einstein). Os resultados mostram que o calor específico total permanece o mesmo a altas temperaturas, mas seu comportamento é alterado a medida que um campo magnético atua no sistema. Por fim, os valores das temperaturas de Einstein e Debye estimadas através do ajuste dos dados de calor específico não mudaram de forma significativa com a aumento da concentração de 10,0% para 30,0% de cromo, mostrando que as vibrações da rede não sofrem alterações com o aumento da quantidade do dopante, um resultado também observado pelas medidas de luminescência a baixas temperaturas. Também foram feitas medidas de difração de nêutrons da amostra dopada com 50,0% 149 de Cr3+ na temperatura ambiente, e com a finalidade de se obter uma resolução da estrutura cristalina do sistema, os dados de difração foram refinados através do método de Rietveld. Entretanto, os fatores de confiança obtidos após uma série de tentantivas de refino (RF=56,9 e RF-2w=1,54) não foram satisfatórios e a solução da estrutura cristalina teve um resultado inconclusivo. Diversos fatores podem ser atribuídos a este fato, entre eles o uso de parâmetros iniciais diferentes dos reais durante o refino, a possível existência de fases adicionais devido à grande concentração do dopante e a possibilidade do defeito estrutural conhecido como twinning estar presente na amostra. Além disso, a presença do dopante em grandes quantidades pode criar defeitos estruturais na amostra, dificultando a realização das medidas de difraccão de nêutrons. É importante destacar que as propriedades ópticas para as amostras com altas concentrações (a partir de 3,0% de Cr3+ ) são visivelmente distintas das observadas para as amostras com pequenas concentrações do dopante (menores ou iguais a 1,0% de Cr3+ ). Tal resultado pode indicar que alguma mudança na estrutura do sistema pode estar ocorrendo com o aumento da concentração do dopante, talvez causando distorções extras nos dois sítios existentes. Esta foi uma das razões para realização da difração de nêutrons, como uma forma de determinar a estrutura do sistema, comparar com dados da literatura (amostra de 0,5% de Cr3+ [30]) e determinar as mudanças ocorridas com o aumento da dopagem. Entretanto, como a resolução da estrutura não teve um resultado conclusivo, não foi possível verificar que mudanças ocorreram na estrutura. Porém, tal resultado permitiu concluir com certeza que tais mudanças ocorrem, confirmando o que foi observado nos resultados obtidos através dos dados de espectroscopia óptica. Do ponto de vista das propriedades ópticas, as amostras que apresentaram os resultados de intensidade integrada e tempo de vida radiativo mais promissores e que podem inclusive ser utilizadas em dispositivos ópticos no futuro são as amostras dopadas com 0,1% e 1,0% de Cr3+ . Diversos fatores contribuíram para estes resultados, entre eles a diminuição da luminescência para altas concentrações. Devido ao aumento da concentração ocorre uma intensificação dos processos de transferência de energia, com a emissão de um íon sendo absorvido pelos primeiros vizinhos, posto que as bandas de emissão e absorção são sobrepostas na região entre 600 e 700 nm, (fenômeno conhecido como quenching da luminescência). Além disso, a grande quantidade de íon impureza ocasiona processos não radiativos que se tornam competitivos nestas altas concentrações. As medidas de eficiência quântica das amostras de 1,0% e de 50,0% de Cr3+ deram como resultado os valores de 0,7 e 0,2, respectivamente. Estes valores indicam que a amostra de 1,0% é altamente promissora para uso em dispositivos luminescentes, enquanto que a amostra de maior concentração, como era de se esperar, apresenta baixa eficiência quântica. Como perspectivas futuras para a continuidade deste trabalho temos a investigação minuciosa das propriedades estruturais através de técnicas de difração (raios X e nêutrons) e refinamento de Rietveld para a completa solução da estrutura, além da realização de medidas 150 adicionais de luminescência resolvida no tempo a baixas temperaturas, para uma determinação mais acurada da eficiência quântica do sistema. REFERÊNCIAS [1] KÜ CK, S. Laser-related spectroscopy of ion-doped crystals for tunable solid-state lasers. Applied Physics B, v. 72, p. 515-562, 2001. [2] DENG, D. et al. Broadband infrared luminescence of N i2+ -doped silicate glassceramics containing lithium aluminate spinel nanocrystals. Journal of Non-Crystalline Solids, v. 357, p. 1426-1429, 2011. [3] YASODA, B. 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A APÊNDICE A - CÁLCULOS DAS TRANSIÇÕES E PARÂMETROS ESPECTROSCÓPICOS Neste apêndice serão apresentadas as equações para sistemas d3 e a forma como elas foram usadas para os cálculos das transições do Cr3+ e dos parâmetros de campo cristalino Dq e de Racah B e C no sistema Cs2 N aAlF6 dopado com 0,1% e 1,0% de cromo trivalente. A.1 Cálculo das transições e parâmetros A partir do espectro de excitação foi possível identificar duas transições do Cr3+ . Após esta identificação, duas curvas gaussianas foram ajustadas. O valor em energia dos baricentros destas curvas foram marcados como as transições 4 A2 (4 F ) → 4 T1 (4 F ) (banda observada na região de maior energia) e 4 A2 (4 F ) → 4 T2 (4 F ) (banda na região de menor energia). Com o valor em energia da transição 4 A2 (4 F ) →4 T2 (4 F ) (E(4 T2 )), o valor do parâmetro de campo cristalino Dq foi calculado, de acordo com a equação abaixo [37, 38]: E(4 T2 ) Dq = 10 (91) O parâmetro de Racah B deve ser calculado através da equação [37, 38]: B= (∆E/Dq)2 − 10(∆E/Dq) Dq 15(∆E/Dq − 8) (92) onde ∆E é definido como a diferença de energia entre os estados 4 T1 (E(4 T1 )) e 4 T2 (E(4 T2 )), em cm−1 : ∆E = E(4 T1 ) − E(4 T2 ) (93) Para os espectros em que foi possível a identificação da transição 4 A2 (4 F ) → 2 E(2 G), foi possível estimar também o parâmetro de Racah C, substituindo os valores de Dq, B e a energia da transição 2 E na equação seguinte: [37] E(2 E) C B ≃ 3, 05 + 7, 90 − 1, 80 B B Dq (94) Rearrumando os termos de forma a isolar o parâmetro C: [ 2 ] B B E( E) − 7, 90 + 1, 80 C≃ 3, 05 B Dq (95) Por fim, podemos estimar também a energia da transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) usando Dq, B e a energia da transição 4 T1 (4 F ) de acordo com a equação abaixo [36]: E(4 T1 (4 P ) = E(4 T1 (4 F ) + √ (9B − 10Dq)2 + 144B 2 (96) e a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), é calculada através da equação seguinte usando os parâmetros Dq, B e C [38]: E(2 T1 (2 G)) = 9B + 3C − 9B 2 9B 2 12B 2 − − 10Dq + 6B 10Dq 20Dq + 4B (97) Na seção seguinte serão mostrados os cálculos realizados. A.2 Cálculos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ Começamos nossos cálculos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ a partir do espectro de excitação em 714 nm na temperatura ambiente. Neste espectro temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): E(4 T1 ) = 22727 cm−1 E(4 T2 ) = 15699 cm−1 E(2 E) = 15290 cm−1 Calculando Dq: Dq = 15699 ≃ 1570cm−1 10 (98) Calculando B: ∆E = 22727 − 15699 = 7028cm−1 B= (7028/1570)2 − 10(7028/1570) × 1570 ≃ 735cm−1 15((7028/1570) − 8) (99) (100) Calculando C: [ ] 735 735 15290 − 7, 90 + 1, 80 C= ≃ 3312cm−1 3, 05 735 1570 Para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) calculamos: (101) 163 E(4 T1 (4 P ) = 22727 + √ (9 × 735 − 10 × 1570)2 + 144 × 7352 = 35386cm−1 (102) E para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), obtemos: E(2 T1 (2 G) = 9 × 735 + 3 × 3312 − 9 × 7352 12 × 7352 9 × 7352 − − 10 × 1570 + 6 × 735 10 × 1570 20 × 1570 + 4 × 735 (103) E(2 T1 (2 G) ≃ 15811cm−1 (104) Aqui são calculados os parâmetros para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ a partir do espectro de excitação em 780 nm na temperatura ambiente. Neste espectro temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): E(4 T1 ) = 22472 cm−1 E(4 T2 ) = 15601 cm−1 E(2 E) = 15221 cm−1 Calculando Dq: Dq = 15601 ≃ 1560cm−1 10 (105) Calculando B: ∆E = 22472 − 15601 = 6871cm−1 B= (6871/1560)2 − 10(6871/1560) × 1560 ≃ 713cm−1 15((6871/1560) − 8) (106) (107) Calculando C: [ ] 713 713 15221 − 7, 90 + 1, 80 C= ≃ 3336cm−1 3, 05 713 1560 (108) Para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) calculamos: E(4 T1 (4 P ) = 22472 + √ (9 × 713 − 10 × 1560)2 + 144 × 7132 = 35026cm−1 (109) 164 E para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), obtemos: E(2 T1 (2 G) = 9 × 713 + 3 × 3336 − 9 × 7132 9 × 7132 12 × 7132 − − 10 × 1560 + 6 × 713 10 × 1560 20 × 1560 + 4 × 713 (110) E(2 T1 (2 G) ≃ 15704cm−1 (111) A seguir fazemos os cálculos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ a partir do espectro de excitação em 702 nm a baixas temperaturas (5,6 K). Neste espectro temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): E(4 T1 ) = 22988 cm−1 E(4 T2 ) = 15798 cm−1 E(2 E) = 16474 cm−1 Calculando Dq: Dq = 15798 ≃ 1580cm−1 10 (112) Calculando B: ∆E = 22988 − 15798 = 7190cm−1 B= (7190/1580)2 − 10(7190/1580) × 1580 ≃ 757cm−1 15((7190/1580) − 8) (113) (114) Calculando C: [ ] 757 757 16474 − 7, 90 + 1, 80 C= ≃ 3654cm−1 3, 05 757 1580 (115) Para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) calculamos: E(4 T1 (4 P ) = 22988 + √ (9 × 757 − 10 × 1580)2 + 144 × 7572 = 35766cm−1 E para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), obtemos: (116) 165 9 × 7572 9 × 7572 12 × 7572 E( T1 ( G) = 9×757+3×3654− − − (10 × 1580) + (6 × 757) 10 × 1580 20 × 1580 + 4 × 757 (117) 2 2 E(2 T1 (2 G) ≃ 16996cm−1 (118) A.3 Cálculos para a amostra dopada com 1,0% de Cr3+ Apresentamos agora os cálculos dos parâmetros para a amostra dopada com 1,0% de Cr a partir do espectro de excitação em 714 nm na temperatura ambiente. Neste espectro temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): 3+ E(4 T1 ) = 22678 cm−1 E(4 T2 ) = 15898 cm−1 E(2 E) = 15337 cm−1 Calculando Dq: Dq = 15898 ≃ 1590cm−1 10 (119) Calculando B: ∆E = 22678 − 15898 = 6780cm−1 B= (6780/1590)2 − 10(6780/1590) × 1590 ≃ 694cm−1 15((6780/1590) − 8) (120) (121) Calculando C: [ ] 694 694 15337 − 7, 90 + 1, 80 C= ≃ 3409cm−1 3, 05 694 1590 (122) Para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) calculamos: E(4 T1 (4 P ) = 22678 + √ (9 × 694 − 10 × 1590)2 + 144 × 6942 = 35460cm−1 E para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), obtemos: (123) 166 9 × 6942 9 × 6942 12 × 6942 E( T1 ( G) = 9 × 694 + 3 × 3409 − − − 10 × 1590 + 6 × 694 10 × 1590 20 × 1590 + 4 × 694 (124) 2 2 E(2 T1 (2 G) ≃ 15818cm−1 (125) Para a amostra dopada com 1,0% de Cr3+ a partir do espectro de excitação em 780 nm na temperatura ambiente, temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): E(4 T1 ) = 22676 cm−1 E(4 T2 ) = 15873 cm−1 Calculando Dq: Dq = 15873 ≃ 1587cm−1 10 (126) Calculando B: ∆E = 22676 − 15873 = 6803cm−1 B= (6803/1587)2 − 10(6803/1587) × 1587 ≃ 698cm−1 15((6803/1587) − 8) (127) (128) O parâmetro de Racah C e as energias das transições 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) e 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G) não puderam ser calculados, pois não conseguimos fazer a atribuição da transição 4 A2 (4 F ) →2 E(2 G) para este espectro. Finalmente temos os cálculos para a amostra dopada com 1,0% de Cr3+ a partir do espectro de excitação em 702 nm a baixas temperaturas (5,6 K). Neste espectro temos os seguintes valores em energia das transições a partir do estado fundamental 4 A2 (4 F ): E(4 T1 ) = 22727 cm−1 E(4 T2 ) = 15873 cm−1 E(2 E) = 15361 cm−1 Calculando Dq: Dq = Calculando B: 15873 ≃ 1587cm−1 10 (129) 167 ∆E = 22727 − 15873 = 6854cm−1 B= (6854/1587)2 − 10(6854/1587) × 1587 ≃ 705cm−1 15((6854/1587) − 8) (130) (131) Calculando C: [ ] 705 15361 705 ≃ 3395cm−1 C= − 7, 90 + 1, 80 3, 05 705 1587 (132) Para a transição 4 A2 (4 F ) →4 T1 (4 P ) calculamos: E(4 T1 (4 P ) = 22727 + √ (9 × 705 − 10 × 1587)2 + 144 × 7052 = 35466cm−1 (133) E para a transição 4 A2 (4 F ) →2 T1 (2 G), obtemos: E(2 T1 (2 G) = 9 × 705 + 3 × 3395 − 9 × 7052 12 × 7052 9 × 7052 − − 10 × 1587 + 6 × 705 10 × 1587 20 × 1587 + 4 × 705 (134) E(2 T1 (2 G) ≃ 15853cm−1 (135) B APÊNDICE B - CÁLCULOS DO PARÂMETRO DE HUANG-RHYS S E ENERGIA DO FÔNON DE ACORDO COM LUO E HUANG Neste apêndice serão mostrados como foram calculados o parâmetro de Huang-Rhys S, a energia do fônon ~ω e a largura da banda de luminescência usando as energias entre as transições 4 T2 (4 F ) e 4 A2 (4 F ) na temperatura ambiente usando o método descrito por Luo Hundu e Huang Yidong. Segundo Luo e Huang [108], inicialmente devemos calcular o deslocamento de Stokes, dado pela diferença entre as energias dos baricentros da banda de absorção e luminescência entre as transições 4 T2 (4 F ) e 4 A2 (4 F ): ES = Ea − Ee (136) onde Ea é a energia da transição 4 A2 (4 F ) →4 T2 (4 F ) (obtida do espectro de excitação) e Ee é a energia da transição 4 T2 (4 F ) →4 A2 (4 F ) (obtida do espectro de emissão). A energia do fônon ~ω é estimada através da relação: √ ~ω ≃ 2, 25Ea 0, 2910 (Ea − Ee ) (137) A relação acima é válida apenas para compostos fluoretos. Com o valor do deslocamento de Stokes e da energia do fônon, calculamos o parâmetro de Huang-Rhys através de: S= Es 2~ω (138) Além disso, ainda segundo Luo e Huang [108], podemos estimar o valor da largura a meia altura (FWHM) da banda de emissão Wcalc de acordo com a equação: [ Wcalc = 2, 7725(Ea − Es )~ωcoth ( ~ω 2kT )]1/2 (139) Onde k = 0, 695cm−1 K −1 é a constante de Boltzman e T é a temperatura absoluta. O valor calculado acima é então comparado com o obtido experimentalmente a fim de se testar a validade do método. Mostramos agora os cálculos feitos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura ambiente (300 K) na excitação em 714 nm. 169 Ea = 15698cm−1 ; Ee = 13908cm−1 (140) Deslocamento de Stokes: ES = 15698 − 13908 = 1790cm−1 (141) Energia do fônon: √ 0, 2910 ≃ 450cm−1 (1790) ~ω ≃ 2, 25 × 15698 × (142) Parâmetro de Huang-Rhys: S= 1790 ≃ 1, 99 2 × 450, 35 (143) Largura da banda de emissão: Usando valor da constante de Boltzmann visto acima e T = 300K, temos que 2kT = 417cm−1 e [ ( Wcalc = 2, 7725 × 1790 × 450, 35 × coth 450, 35 417 )]1/2 = 1678cm−1 (144) Comparando com o valor experimental de 1433 cm−1 , temos uma diferença de 14,6%. Cálculos feitos para a amostra dopada com 0,1% de Cr3+ na temperatura ambiente na excitação em 780 nm. Ea = 15601cm−1 ; Ee = 12837cm−1 (145) Deslocamento de Stokes: ES = 15601 − 12837 = 2764cm−1 (146) Energia do fônon: √ ~ω ≃ 2, 25 × 15601 × Parâmetro de Huang-Rhys: 0, 2910 ≃ 360cm−1 (2764) (147) 170 S= 2764 ≃ 3, 84 2 × 360, 17 (148) Largura da banda de emissão: [ Wcalc = 2, 7725 × 2764 × 360, 17 × coth ( 360, 17 417 )]1/2 = 1769cm−1 (149) Comparando com o valor experimental de 1631 cm−1 , temos uma diferença de 7,8%. Vale lembrar que os valores obtidos experimentalmente foram extraídos das bandas de emissão que não possuem um formato perfeitamente gaussiano. Tais bandas (como podem ser vistas no Capítulo 6) apresentam um alargamento não homogêneo e este aspecto pode contribuir para o aumento da diferença entre os valores experimentais e os calculados através do método de Luo e Huang, que fo densenvolvido para o estudo de bandas perfeitamente gaussianas. C APÊNDICE C - ATRIBUIÇÃO DAS TRANSIÇÕES VIBRACIONAIS DOS ESPECTROS DE LUMINESCÊNCIA A BAIXAS TEMPERATURAS A seguir são vistos os espectros de emissão a baixas temperaturas e suas respectivas tabelas com a atribuição das transições vibracionais. Na primeira coluna de cada tabela temos a identificação da transição vibracional, na segunda coluna o comprimento de onda onde ocorre a transição, na terceira coluna o valor em energia onde ocorre a transição, na quarta coluna ∆E é a diferença em energia entre a linha zero fônon e o modo vibracional (quanto menor ∆E, maior é a energia do fônon), e na quinta coluna vemos a atribuição da transição vibracional. C.1 Amostra com 0,1% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 672 nm 12 11 Intensidade (u.a.) 10 8 9 7 14 13 16 17 15 4 5 3 6 1 2 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 76: Espectro de luminescência maximizado em 672 nm na temperatura de 4,4 K da amostra de 0,1%. 172 Tabela 24: Atribuição das transições do sítio S1 - Amostra 0,1% maximizada em 672 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 λ (nm) 672 676 682 683 686 693 697 700 705 707 709 712 724 736 750 755 764 Energia (cm−1 ) 14870 14790 14650 14630 14570 14430 14350 14290 14190 14150 14110 14050 13810 13590 13330 13250 13090 ∆E (cm−1 ) 0 80 220 240 300 440 520 580 680 720 760 820 1060 1280 1540 1620 1780 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2g (π) + eg (σ) t2g (σ) + eg (σ) + 40 t2g (π) + a1g (σ) t1u (π) + a1g (σ) t1u (σ) + a1g (σ) a1g (σ) + t1u (π) + eg (σ) t1u (σ) + a1g (σ) + eg (σ) 2a1g (σ) + t1u (σ) 2a1g (σ) + eg (σ) + t1u (π) 173 C.2 Amostra com 0,1% de Cr3+ com a fase que zera o sinal em 672 nm 11 9 5 4 8 6 1 12 7 Intensidade (u.a.) 10 13 14 15 16 17 18 3 19 20 2 21 22 23 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 77: Espectro de luminescência com o sinal zerado em 672 nm na temperatura de 4,9 K da amostra de 0,1%. 174 Tabela 25: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 0,1% zerado em 672 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 λ (nm) 702 705 709 713 714 718 725 729 730 736 741 747 749 755 760 767 772 778 781 787 793 799 807 Energia (cm−1 ) 14250 14190 14110 14030 14010 13930 13790 13710 13690 13590 13490 13390 13350 13250 13150 13030 12950 12850 12810 12710 12610 12510 12390 ∆E (cm−1 ) 0 60 140 220 240 320 460 540 560 660 760 860 900 1000 1100 1220 1300 1400 1440 1540 1640 1740 1860 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π)+ distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (π) + a1g (σ) t1u (π) + t1u (σ) eg (σ) + a1g (σ) 2eg (σ) + t2u (π) eg (σ) + a1g (σ) + t2u (π) eg (σ) + a1g (σ) + t1u (π) 2a1g (σ) + t1u (π) 2t1u (σ) + t1u (π) 2a1g (σ) + eg (σ) 2a1g (σ) + t1u (σ) t1u (π) + 3eg (σ) 2a1g (σ) + eg (σ) + t1u (π) 175 C.3 Amostra com 1,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 672 nm 27 12 14 13 11 15 8 Intensidade (u.a.) 16 7 10 17 4 5 3 1 6 9 2 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 78: Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 672 nm na temperatura de 4,1 K da amostra de 1,0%. 176 Tabela 26: Atribuição das transições do sítio S1 - Amostra 1,0% maximizada em 672 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 λ (nm) 672 676 682 683 686 693 697 700 704 707 709 713 725 736 749 755 764 Energia (cm−1 ) 14870 14790 14670 14630 14570 14430 14350 14290 14210 14150 14110 14030 13790 13590 13350 13250 13090 ∆E (cm−1 ) 0 80 200 240 300 440 520 580 660 720 760 840 1080 1280 1520 1620 1780 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) a1g (σ) + t2u (π) t2g (π) + a1g (σ) t1u (π) + a1g (σ) t1u (σ) + a1g (σ) a1g (σ) + t1u (π) + eg (σ) t1u (σ) + a1g (π) + eg (σ) t1u (σ) + 2a1g (σ) 2a1g (σ) + eg (σ) + t1u (π) 177 C.4 Amostra com 1,0% de Cr3+ com a fase que zera o sinal em 672 nm 11 4 7 5 12 Intensidade (u.a.) 6 8 13 15 910 16 14 18 17 1 19 20 21 22 3 23 2 650 700 24 25 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 79: Espectro de luminescência com o sinal zerado em 672 nm na temperatura de 4,1 K da amostra de 1,0%. 178 Tabela 27: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 1,0% zerada em 672 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 λ (nm) 703 706 710 713 715 718 725 728 730 736 741 743 747 749 755 759 760 767 772 774 779 787 794 801 806 Energia (cm−1 ) 14230 14170 14090 14030 13990 13930 13790 13730 13690 13590 13490 13450 13390 13350 13250 13170 13150 13030 12950 12910 12830 12710 12590 12490 12410 ∆E (cm−1 ) 0 60 140 200 240 300 440 500 540 640 740 780 840 880 980 1060 1080 1200 1280 1320 1400 1520 1640 1740 1820 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) - distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (π) + a1g (σ) t1u (π) + t1u (σ) 2eg (σ) t1u (σ) + eg (σ) a1g (σ) + t1u (σ) 2eg (σ) + t2u (π) 2eg (σ) + t1u (π) 2a1g (σ) + t2g (π) t2g (π) + 2t1u (σ) t2g (π) + 2t1u (σ) 2t1u (σ) + eg (σ) 3eg (σ) + t1u (π) 2a1g (σ) + eg (σ) + t1u (π) 3a1g (σ) + t1u (π) + 20 179 C.5 Amostra com 3,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 706 nm 11 8 4 9 13 5 1 7 Intensidade (u.a.) 6 10 12 14 16 15 17 3 2 18 19 20 21 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 80: Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 706 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 3,0%. 180 Tabela 28: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 3,0% maximizada em 706 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 λ (nm) Energia (cm−1 ) ∆E (cm−1 ) 706 14170 0 708 14130 40 712 14050 120 716 13970 200 719 13930 240 721 13870 300 728 13730 440 733 13650 520 734 13630 540 739 13530 640 745 13430 740 750 13330 840 752 13290 880 758 13190 980 764 13090 1080 770 12990 1180 776 12890 1280 783 12770 1400 789 12670 1500 797 12550 1620 803 12450 1720 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) - distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (σ) + t1u (π) 2eg (σ) eg (σ) + t1u (σ) 2t1u (σ) 2eg (σ) + t1u (π) 2t1u (σ) + t2u (π) 2eg (σ) + a1g (σ) 2t1u (σ) + eg (σ) 3eg (σ) + t1u (π) 2eg (σ) + t1u (π) + t1u (σ) 181 C.6 Amostra com 10,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 706 nm 11 4 5 9 6 7 10 Intensidade (u.a.) 8 12 13 15 1 14 16 3 17 2 18 19 20 21 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 81: Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 706 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 10,0%. 182 Tabela 29: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 10,0% maximizada em 706 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 λ (nm) Energia (cm−1 ) ∆E (cm−1 ) 706 14170 0 708 14130 40 711 14070 100 716 13970 200 718 13930 240 721 13870 300 728 13730 440 733 13650 520 734 13630 540 739 13530 640 745 13430 740 750 13330 840 758 13190 980 764 13090 1080 770 12990 1180 776 12890 1280 782 12790 1380 789 12670 1500 797 12550 1620 803 12450 1720 810 12350 1820 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) - distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (π) + t1u (σ) eg (σ) + t1u (σ) a1g (σ) + t1u (σ) 2eg (σ) + t1u (π) 2t1u (σ) + t2u (π) 2t1u (σ) + t1u (π) eg (σ) + a1g (σ) + t1u (σ) 2eg (σ) + t2u (π) + t1u (σ) 2eg (σ) + t1u (π) + t1u (σ) 3t1u (σ) + t2u (π) 183 C.7 Amostra com 30,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 708 nm 11 8 9 4 1 Intensidade (u.a.) 5 6 7 10 12 13 14 15 16 3 17 2 18 19 20 21 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 82: Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 708 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 30,0%. 184 Tabela 30: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 30,0% maximizada em 708 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 λ (nm) Energia (cm−1 ) ∆E (cm−1 ) 708 14130 0 711 14070 60 714 14010 120 718 13930 200 721 13870 260 723 13830 300 730 13690 440 735 13610 520 736 13590 540 741 13490 640 747 13390 740 752 13290 840 760 13150 980 766 13050 1080 772 12950 1180 778 12850 1280 784 12750 1380 792 12630 1500 799 12510 1620 806 12410 1720 812 12310 1820 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) - distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (σ) + t1u (π) t1u (σ) + eg (σ) 2t1u (σ) 2eg (σ) + t2u (π) 2t1u (σ) + t2u (π) 2t1u (σ) + t1u (π) t1u (σ) + a1g (σ) + eg (σ) 2eg (σ) + t2u (π) + t1u (σ) 2eg (σ) + t1u (π) + t1u (σ) 3t1u (σ) + t2u (π) 185 C.8 Amostra com 50,0% de Cr3+ com a fase que maximiza o sinal em 708 nm 0,006 11 9 0,005 4 5 1 12 8 7 13 10 6 0,004 Intensidade (u.a.) 14 15 16 17 0,003 20 3 18 2 0,002 19 20 21 22 0,001 0,000 650 700 750 800 850 900 Comprimento de onda (nm) Figura 83: Espectro de luminescência com o sinal maximizado em 708 nm na temperatura de 5,4 K da amostra de 50,0%. 186 Tabela 31: Atribuição das transições do sítio S2 - Amostra 50,0% maximizada em 708 nm. Linha 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 λ (nm) Energia (cm−1 ) ∆E (cm−1 ) 708 14130 0 711 14070 60 714 14010 120 718 13930 200 720 13890 240 723 13830 300 730 13690 440 735 13610 520 736 13590 540 741 13490 640 747 13390 740 752 13290 840 755 13250 880 760 13150 980 766 13050 1080 772 12950 1180 778 12850 1280 784 12750 1380 792 12630 1500 799 12510 1620 806 12410 1720 812 12310 1820 Transição linha zero fônon vibração da rede t2u (π) - distorção C3v t2u (π) t2g (π) t1u (π) eg (σ) a1g (σ) t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) t1u (π) + eg (σ) t1u (σ) + t1u (π) 2eg (σ) t1u (σ) + eg (σ) 2t1u (σ) t2u (π) + eg (σ) + t1u (σ) t1u (π) + eg (σ) + t1u (σ) 2eg (σ) + a1g (σ) 2t1u (σ) + t1u (/pi) 3t1u (σ) 2eg (σ) + t1u (π) + t1u (σ) 3t1u (σ) + t2u (π) D APÊNDICE D - ROTEIRO PARA O REFINO DE MONOCRISTAL POR DIFRAÇÃO DE NÊUTRONS UTILIZANDO O SOFTWARE FULLPROF Este roteiro tem a finalidade de mostrar um resumo da metodologia para o refinamento de dados de difração de nêutrons de um material monocristalino usando o software Fullprof. Serão abordados a seleção das reflexões a serem utilizadas no refinamento, a preparação dos arquivos de dados, do arquivo de instruções, e como analisar os dados obtidos após cada ciclo de refino. D.1 Seleção das reflexões Diferentemente da difração de amostras em pó onde os dados saem na forma de um difratograma (que é um gráfico da intensidade da radiação em função do ângulo de difração 2θ), os dados de uma medida de difração de monocristal podem sair na forma de figuras de Laue ou em uma imagem da intensidade dos picos para cada uma das reflexões medidas, dependendo do equipamento utilizado para a coleta de dados. Nas medidas de difração de nêutrons realizadas com a amostra Cs2 N aAlF6 dopada com 50,0% de Cr3+ foi utilizado um detector de área bidimensional, que registra a intensidade das reflexões observadas. Um programa faz a integração dos dados das imagens e dos dados extraídos desta integração (área integrada dos picos e sua respectiva largura a meia-altura), a análise da estrutura pode ser realizada. A partir da qualidade das imagens geradas por cada reflexão, a reflexão pode ou não ser selecionada para o refinamento de Rietveld. Esta seleção é feita através de uma análise visual das figuras geradas para cada reflexão. As reflexões consideradas boas tem os seus dados utilizados no refinamento e as reflexões consideradas ruins não são consideradas no refino. Reflexões considerada boas (como as vistas na figura 84) aparecem como spots centralizados e bem definidos na janela de scan; já as reflexões ruins mostram imagens descentralizadas, com baixa definição e espalhadas pela janela de scan, como podem ser vistas na figura 85. Após a seleção e escolha das reflexões para o refino, o próximo passo é a preparação do arquivo de dados. 188 Figura 84: Exemplos de imagens de reflexões consideradas boas para serem utilizadas no refino. Abaixo de cada imagem temos o valor de (hkl) correspondente à respectiva reflexão. 189 Figura 85: Exemplos de imagens de reflexões consideradas ruins para serem utilizadas no refino. Abaixo de cada imagem temos o valor de (hkl) correspondente à respectiva reflexão. 190 D.2 Preparação do arquivo de dados Na Figura 86, vemos a barra de ferramentas do Fullprof, onde os programas em destaque são usados antes, durante e após o refino. Figura 86: Barra de ferramentas do Fullprof. As setas indicam os programas usados no processo de refinamento. (1) Gui Datared; (2) EditPCR; (3) Fullprof e (4) WinPLOTR. O primeiro passo na realização do refino é a preparação do arquivo de dados. No presente trabalho, o arquivo de saída do equipamento tem a extensão .col, que não é legível pelo Fullprof. Entretanto, na barra de ferramentas do Fullprof há um programa que realiza a conversão do arquivo .col em um formato que torna possível a realização do refino. Este programa é o Gui Datared (indicado pelo número 1 na Figura 86) e devemos entrar com dois arquivos para realizar a conversão: o arquivo de dados original (de extensão .col) e o arquivo de instruções .red, que será descrito a seguir. Antes de usar o programa, devemos nos certificar de que o arquivo de dados esteja formatado corretamente, com os espaços entre as colunas bem definidos e os pontos decimais alinhados. Se este espaçamento e formatação não forem respeitados, o programa de conversão não irá funcionar corretamente. O passo seguinte é a preparação do arquivo .red. Este arquivo contém as instruções sobre como deve ser feita a conversão de dados. Consiste em um arquivo ASCII simples de 7 linhas, onde são especificados o título (linha TITLE), o nome do arquivo de entrada com extensão .col (linha INPFIL), o nome dos arquivos saída (linha OUTFIL), o comprimento de onda usado nas obtenção dos dados (linha WAVE), os parâmetros de rede a, b, c, α, β e γ (linha CELL) e um código especial, que especifica o formato que o arquivo de entrada possui (linha HKL_T). Após a preparação dos arquivos e de colocá-los juntos em um mesmo diretório, deve-se clicar no ícone correpondente ao programa Gui Datared (indicado por (1), na barra de ferramentas do Fullprof ). A interface do programa é vista na figura 87. O arquivo com extensão .red deve ser aberto no Gui Datared. Após abrir o arquivo, todos os parâmetros especificados aparecerão na tela. A seguir, deve-se clicar em RUN e, se não houverem erros, serão criados diversos arquivos, entre eles um com extensão .int, que é o arquivo de dados usado para se fazer os refinos no Fullprof. 191 Figura 87: Interface do programa Gui Datared. D.3 Preparação do arquivo de instruções O arquivo de instruções (com extensão .pcr) é o arquivo onde são colocados os parâmetros iniciais de refino e a indicação de quais destes parâmetros devem variar a cada ciclo de refino, incluindo os parâmetros estruturais e instrumentais. A partir do arquivo .pcr e com os dados obtidos através da medida (contidos no arquivo .int), o refino será realizado. A preparação deste arquivo é semelhante a um arquivo .pcr para amostras em pó, porém deve-se observar os códigos específicos para trabalhos em monocristais e difração de nêutrons. Para verificar e alterar os dados contidos no arquivo de instruções .pcr, pode ser utilizado o programa EditPCR, cuja interface principal pode ser vista na Figura 88. Na referência [81] é possível obter mais detalhes sobre a construção do arquivo .pcr. D.4 Arquivos para análise do refino Após cada ciclo de refino, diversos arquivos são gerados. Um dos mais importantes é o arquivo de saída com extensão .out, pois ele mostra de que forma os parâmetros refináveis foram alterados e também apresenta os fatores de convergência ao final de cada ciclo de refino. 192 Figura 88: Interface do programa EditPCR. Figura 89: Interface do programa WinPLOTR. Entretanto, para examinar de forma gráfica o progresso do refino devemos examinar o arquivo de saída com extensão .prf utilizando o programa WinPLOTR, cuja interface vemos na Figura 89. Para ver o gráfico do fator de estrutura calculado em função do fator de estrutura observado, abra o arquivo .prf no WinPLOTR marcando a opção “F2calc=F2obs”.