ID: 36993356 15-08-2011 Tiragem: 51975 Pág: 18 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 29,03 x 33,71 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 1 de 2 Especial Algarve Formação na Escola de Turismo em Faro com procura crescente Oitenta por cento dos alunos de Hotelaria têm oferta garantida de emprego Há casos de sucesso profissional e quem esteja a estagiar nos melhores restaurantes do mundo. Também há licenciados que falharam carreiras e que se viram para a gastronomia Carlos Filipe a Até a Matemática é necessária para alcançar um lugar de chefia intermédia na indústria hoteleira e de restauração. Mas até a “diabólica” ciência não tem comprometido o sucesso dos formandos da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve (EHTA), com mais de dois mil alunos em cada ciclo de ensino. A verdade é que 80 por cento dos finalistas com aproveitamento têm oferta garantida de emprego, por vezes até mais do que uma. É a possibilidade de saída profissional quase imediata que tem seduzido um grande número de alunos até às instalações da escola em Faro (sede), que tem pólos formadores em Vila Real de Santo António e Portimão. Para as formações de base é requerido o 9º ano de escolaridade, enquanto os níveis superiores pressupõem já o 12º ano completo, concorrendo 500 alunos. Em maioria estão profissionais, que ali vão melhorar as suas competências, ou requerem formação tecnológica avançada. A escola acolhe 1500 alunos. “Trabalhamos para formação, nos pólos, nas vertentes de ensino e profissional. Na sede temos cursos de especialização tecnológica, sempre direccionados para a formação de especialistas, para futuras chefias intermédias, dirigidos a quem já obteve o 12º ano, cursos com a duração de um ano e meio, que lhes garantem competências específicas. Conferem créditos do ensino superior, mas não são cursos superiores”, diz João Fernandes, director da escola, uma das 16 que o Turismo de Portugal tem no país. É quase garantida a saída profissional? João Fernandes confirma-o: “Sou suspeito, mas a verdade é que sou solicitado todo o ano com pedidos de colocação de alunos em postos de trabalho. Mas reporto-me ao inquérito que fazemos aos alunos, seis meses após a conclusão do curso. [No Algarve] mesmo havendo baixa sazonalidade no período de Inverno, a nossa taxa de actividade de alunos diz que 80 por cento deles estão empregados.” O que não quer dizer que fora da época alta não sejam despedidos. “É verdade que no Inverno há um elevado turnover dos quadros de pessoal, mas os inquéritos demonstram que os alunos têm contrato a termo, o que é raro para um aluno que acaba de ingressar no mercado de trabalho”, justifica João Fernandes. “Dificuldade CARLOS NORONHA Quem tem boas notas pode estagiar nas melhores casas do mundo Hotel e restaurante aberto ao público Convento, quartel e secretaria de Estado A sede da escola está instalada num edifício recuperado com projecto de adaptação do arquitecto Carrilho da Graça. O Convento de São Francisco foi construído pelos frades capuchos, em 1529. O imóvel, reconstruído após o terramoto de 1755, serviu fins militares (Regimento de Infantaria). No Governo de Pedro Santana Lopes foi para ali descentralizada a Secretaria de Estado do Turismo. A instituição está certificada pela Escola Hoteleira de Lausana. Já ali foi preparado e servido pelos alunos um almoço para as cerimónias do 10 de Junho. Além dos 11 quartos de hotel, tem 33 quartos duplos para alunos. Entre os formandos estão os futuros profissionais e formadores de hotelaria de Timor. de emprego os nossos alunos não têm. E reporto-me a 2010, ano difícil para a hotelaria. Mas ainda antes de acabar o ano lectivo já sabemos que eles têm mais do que uma oportunidade de colocação para trabalho”, diz ainda o director da escola, agora deserta. O ano lectivo e cursos específicos recomeçam em Setembro. Estágios de luxo “Desde Junho até Setembro estão a praticar em unidades hoteleiras e de restauração, no Algarve e no estrangeiro. Temos alunos em países africanos de língua oficial portuguesa, na Dinamarca, no Noma [considerado o melhor restaurante do mundo], onde está uma aluna nossa premiada, que também ganhou estágio no El Bulli [Barcelona], estamos em Londres, na casa do chef Mendes. Felizmente, temos ganho vários prémios internacionais, o que abre al- gumas portas”, diz João Fernandes. Os estágios são atribuídos em função de um ranking que tem por base as notas. “O Turismo de Portugal vai apoiar esses alunos que, de forma autónoma, conseguem esses lugares de estágio. O mérito dá direito ao apoio do Turismo, através de uma bolsa, que não remunera, apenas apoia os custos do aluno durante o estágio, que variam entre um e três meses, consoante os locais de colocação”, conclui o responsável pela EHTA. A escola de Faro tem restaurante e hotel abertos ao público. Ali aplicam os alunos os seus conhecimentos, a uma clientela suficiente para gerar anualmente receitas na ordem dos 500 mil euros. “São valências de exploração hoteleira que em 2010 garantiu 35 por cento de taxa de cobertura de despesas”, explica o director, acrescentando que essas verbas vão “para o Ministério das Finanças”. ID: 36993356 15-08-2011 Tiragem: 51975 Pág: 19 País: Portugal Cores: Cor Period.: Diária Área: 11,41 x 31,36 cm² Âmbito: Informação Geral Corte: 2 de 2 Henrique Leandro O chef formador da escola de Faro ainda se surpreende a Foi aprender para as cozinhas da escola francesa, correu a Europa e a América do Sul durante 20 anos nas principais cadeias de hotéis. Henrique Leandro, presença assídua na televisão, é há dez anos o chef formador da Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve (EHTA). “Ainda achei que era altura de transmitir para a juventude o que aprendi. É um ramo duro e difícil, especialmente para os mais novos”, explica Henrique Leandro, também presidente da Associação de Cozinheiros e Pasteleiros do Algarve. “O aluno frequenta todas as áreas da hotelaria e depois faz a escolha de que gosta mais. Isso tem muitas vantagens e diversas vezes fico surpreendido com o que aqui se faz. Até por pessoas licenciadas. Há gente que não teve grande sucesso a nível profissional nas suas áreas e que se dedicaram à cozinha, e tem sido uma grande surpresa”, diz Henrique Leandro. O que foi que as chamou para a cozinha? A televisão? “Sem dúvida”, responde o chef. E concretiza: “Há 40 anos isso já existia no estrangeiro. Há muita procura a nível de cursos um pouco mais iniciáticos, peixe, carne, empratamento, asiática, de fusão. São cursos de pequena duração, de 15 ou 30 horas, gente que quer cozinhar em casa. E sentem muito prazer. Vão à praça e vêm para a escola confeccionar. É uma festa para eles.” O programa de ensino é mais exigente: “Fazem cozinha criativa, de fusão, de banquetes, buffet, cocktail. Eles fazem a pesquisa e nós orientamos e corrigimos. O mais comum, e que não deve acontecer, são as repetições de matérias-primas. Damos uma hora de teoria para os preparar para a próxima produção. Não intervimos, para que possa acontecer um erro, e para que possamos corrigir. Eles tra- balham sob pressão, fazem entrada, prato e sobremesa em duas horas, como nos programas de televisão.” Gastronomia do litoral, barrocal e serrana, no âmbito do curso, aprendem tudo sobre os pratos regionais, mas também as confecções nacionais e a cozinha internacional. “Têm que estar preparados para as cadeias de hotéis, onde é obrigatório”, adverte o chef. E depois explica as sensibilidades da comida algarvia: “Peixe e mariscos é o que temos de melhor, fresco e saudável. Mas atrás está muita coisa. Nasci no barrocal, onde se faziam petiscozitos para os caçadores com batata-doce, o milho – o xarém. Mas também a criação de aves de pena, o coelho e vária caça. O porco preto é mais serra, tal como os enchidos. Todavia, esses produtos comunicam agora melhor, começa a haver fusão com litoral.” 20 anos foi o tempo que o chef Henrique Leandro passou nas principais cadeias de hotéis da Europa e da América do Sul Henrique Leandro não recomenda aos gastrónomos que passem férias no Algarve entre 20 de Julho e 20 de Agosto. Motivo? O chef da EHTA considera que, no período da confusão, “vale tudo”, pela falta de pessoal nas cozinhas. “Trabalha-se bem no resto do ano, mas falta criatividade, alguma técnica, o saber na conjugação dos produtos. O prato não pode só ficar bonito, é preciso que ele tenha sabor e que o produto seja fresco.” Mas acredita que alguns dos seus alunos irão longe, talvez às estrelas [Michelin], “só têm é que dar mais atenção às bases da gastronomia”, avisa. C.F. CARLOS NORONHA Os pratos devem ficar bonitos, mas precisam de sabor, diz o chef