COMUNICADO DE IMPRENSA LPN APOIA “APELO À REAVALIAÇÃO DOS GRANDES INVESTIMENTOS PÚBLICOS” REAVALIAÇÕES DEVEM CONSIDERAR ELEVADOS CUSTOS ASSOCIADOS À CONVERSÃO IRREVERSÍVEL DE CAPITAL NATURAL E À PERDA DE BENS E SERVIÇOS DOS ECOSSISTEMAS A LPN – Liga para a Protecção da Natureza – apoia publicamente o “Apelo à Reavaliação dos Grandes Investimentos Públicos” que 28 economistas portugueses lançaram recentemente. Nos últimos anos, a LPN - Liga para a Protecção da Natureza, procurou sempre salientar junto das entidades competentes, a necessidade de reavaliar alguns dos projectos, programas e planos públicos cuja dimensão considerável, potencial de impacte ambiental e social, e risco económico (face a uma elevada imprevisibilidade económica) nunca poderiam exigir senão o maior rigor, a maior transparência, a mais justa concertação social e a mais abrangente e sólida fundamentação técnica e científica, possíveis. Neste contexto, a LPN toma sempre em consideração os aspectos relacionados com a viabilidade económica dos projectos, os impactes sociais que poderão advir da execução destes e é claro, o impacte ambiental directo e indirecto associado, cuja expressão em termos de custos de oportunidade e perda irreversível de bens e serviços dos ecossistemas, jamais pode ser descartada no quadro de um desenvolvimento que se pretende verdadeiramente sustentável. Não obstante todo este esforço, é relativamente comum a dificuldade sentida pelas Organizações Não Governamentais, entre as quais a LPN se inclui, em serem escutadas de forma efectiva e terem dessa forma a sua opinião integrada naquele que devia ser o pensamento estratégico de quem governa. Foi portanto com particular apreço que a LPN tomou conhecimento da iniciativa levada a cabo por 28 economistas portugueses – o “Apelo à Reavaliação dos Grandes Investimentos Públicos” – veiculada pela Comunicação Social nos últimos dias, com o objectivo de promover a necessidade em reavaliar alguns dos projectos previstos pelo actual Governo, com destaque para o sector dos transportes. A LPN vem desta forma, publicamente apoiar esta iniciativa. Não obstante este facto, a LPN aproveita para avançar com alguns comentários ao texto do Manifesto, disponível em “www.reavaliarinvpublicos.com”: 1) No preâmbulo que resume o desempenho da Economia portuguesa nos últimos dez anos, onde se salienta o atraso em alcançar os níveis de bem-estar económico e social dos países europeus mais desenvolvidos, consideramos importante destacar a necessidade de incluir a referência ao bem-estar ambiental. O desenvolvimento que interessa a Portugal é aquele que contribui para um verdadeiro aumento do bem-estar enquanto conceito agregador e abrangente, impossível de assegurar sem boa qualidade ambiental. 2) No mesmo preâmbulo, valerá também a pena incluir uma referência à elevada intensidade energética nacional, que continua ainda significativamente acima da média europeia, não obstante a inversão observada nos últimos dois anos, bem como a elevada intensidade carbónica nacional, que persiste. Investimentos que visem melhorar estes índices são essenciais para a sustentabilidade económica do país e criadores de emprego a curto prazo. 3) No quarto ponto, onde é referido que a melhoria da competitividade externa e a criação sustentada de emprego dependem, de entre outras coisas, da melhoria contínua da inovação e da diferenciação, é importante salientar que a inovação e diferenciação que Portugal pode mais facilmente promover são aquelas que resultam naturalmente das características únicas do ambiente, paisagem e cultura portuguesas. Os valores naturais, em particular, por serem a expressão de uma evolução biológica e geológica única, que tomou forma ao longo de milhões de anos, são particularmente inimitáveis e constituem aspectos de diferenciação com valor a curto, médio e longo prazo, podendo gerar empregos de grande estabilidade, e como tal, são inestimáveis para a economia nacional. 4) No quinto ponto, onde são descritos alguns critérios para a escolha dos investimentos públicos estruturantes, vale a pena salientar o que vem referido na alínea (ii), ou seja, que os impactos previsíveis no rendimento nacional não se resumam à sua expressão no PIB. Em relação a este aspecto vale a pena realçar a necessidade da utilização de indicadores com maior abrangência, dos quais é exemplo o Indicador de Bem-Estar Económico Sustentável (ISEW). 5) Ainda no quinto ponto, onde é referido um conjunto de áreas onde o investimento público pode ser reforçado a curto prazo, faz sentido sublinhar a referência ao ambiente, à água e à energia, sendo que no que concerne à energia, existem também opções governamentais que merecem destacada reavaliação. 6) No sexto ponto, onde são abordados em particular os projectos previstos para o sector dos transportes, consideramos muito pertinente a referência aos custos de oportunidade que estes projectos poderão implicar, custos esses que sempre que envolvem a conversão de capital natural, adquirem um valor elevadíssimo dada a irreversibilidade da acção. 7) Ainda neste ponto, a alínea (a) refere as auto-estradas e a ausência de sentido estratégico do programa projectado (ou em curso) de investimentos, na ausência de uma procura que os justifique. Subscrevemos este ponto de vista, salientando a necessidade de se evitar mais fragmentação territorial (sobretudo quando as novas vias atravessam zonas naturais) e de se apostar na requalificação das vias mais utilizadas. O investimento ao nível da reconfiguração das linhas ferroviárias e na melhoria dos transportes urbanos e interurbanos não só contribuem mais rapidamente para melhorar os níveis de desemprego e da economia das pequenas e médias empresas, como aportam factores diminuidores da factura de carbono. 8) No mesmo ponto, a alínea (b) aborda os Projectos da Rede Ferroviária de Alta Velocidade (TGV). Destacamos os elevados custos de oportunidade que a concretização dos três projectos implica, sendo que é de adicionar que estes custos mais uma vez incluem a conversão de capital natural, conversão essa irreversível. 9) No mesmo ponto, a alínea (c) aborda o Novo Aeroporto de Lisboa, projecto esse relativamente ao qual a LPN e as ONGA nacionais por diversas vezes manifestaram a sua opinião. Não querendo aqui revisitar toda a problemática associada a algumas das propostas relativas a este projecto, decorrentes por exemplo da sua eventual localização, queremos apenas salientar que falta acrescentar cenários que integrem o facto do sector da aviação vir a ter que pagar, no futuro próximo, as emissões de CO2 que produz, o que irá levar a um aumento generalizado das tarifas e a uma necessária optimização deste meio de transporte. Por outro lado, faltam ainda considerar cenários que incluam as alterações climáticas estimadas que irão alterar a viabilidade de algumas rotas e destinos, bem como integrar cenários que incluam o aumento dos preços dos combustíveis fósseis. 10) No oitavo e último ponto, salienta-se a lógica em recorrer ao apoio consultivo de um painel de economistas, engenheiros e gestores, nacionais e estrangeiros, de reconhecida competência e independência do poder político e dos interesses económicos em discussão. Consideramos que, o melhoramento do bem-estar económico e social é indissociável da utilização sustentável dos recursos naturais e deve ser tida em conta no modelo financeiro do futuro, pelo que será importante incluir também neste painel, especialistas das áreas das ciências ambientais, biológicas e sociais. 11) Ainda no último ponto, sublinhamos a referência que é feita à necessidade de um largo consenso nacional, apenas possível através de uma ponderada e integrativa discussão pública. A LPN aproveita ainda para recordar que o Programa Nacional de Barragens com Elevado Potencial Hidroeléctrico deveria também ser alvo de uma reavaliação, tomando em consideração a sua avultada dimensão em termos económicos, baixo valor gerador de emprego (temporário) e elevadíssimo custo em termos de conversão irreversível de valores naturais. Todos os estes factores foram claramente sub-avaliados até ao momento. Por fim, alguns projectos PIN, entre os quais se incluem vários apontados para a costa sudoeste, merecem também uma reavaliação conjunta. Para mais informações: Alexandra Cunha – 919862639 Carlos MGL Teixeira – 914121770 / 969123210 Liga para a Protecção da Natureza | Estrada do Calhariz de Benfica, n.º 187 1500-124 Lisboa; www.lpn.pt 217 780 097 | 217 740 155 | 217 740 176 Lisboa, 22 de Junho de 2009 A Direcção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza A Liga para a Protecção da Natureza (LPN), fundada em 1948, é uma Organização Não Governamental de Ambiente (ONGA) de âmbito nacional. É uma Associação sem fins lucrativos com estatuto de Utilidade Pública. A LPN é membro da IUCN (The World Conservation Union), do EEB (European Environmental Bureau), do CIDN (Conselho Ibérico para a Defesa da Natureza), do MIO-ECSDE (Mediterranean Information Office for Environmental Culture and Sustainable Development) e do SAR (Seas at Risk).