Capítulo 5
Origem dos Grandes Grupos de Seres Vivos
e a Biodiversidade
Forma X química
Introdução
É verdade que a vida surgiu
Estudos recentes mostram que a vida
rapidamente no nosso planeta, na forma de
surgiu no nosso planeta há, aproximadamente,
bactérias, que são células procariontes.
3,8 bilhões de anos. Considerando-se que a
Como dito, se analisarmos bactérias
Terra se formou há 4,5 bilhões de anos e que
atuais, verificaremos que muitas delas são
até, aproximadamente, 3,9 bilhões de anos era
muito parecidas com suas antecessoras. É
impossível a manutenção da vida no planeta
interessante notar que as que diferem não o
devido as condições que ele apresentava,
fazem no aspecto morfológico. As células
podemos concluir que a vida surgiu muito
procariontes “adotaram uma postura muito
rapidamente. Portanto, assim que as
conservadora” no que diz respeito a
condições físicas da Terra tornaram possível
modificações na sua forma. As inovações por
o surgimento da vida e sua manutenção, a
elas feitas durante sua evolução se referem
vida floresceu.
basicamente a vias metabólicas, a sua
Parece certo que o primeiro ser vivo era
bioquímica.
uma bactéria, extremamente parecida com
Assim, hoje podemos verificar bactérias
algumas bactérias ainda vivas atualmente.
muito diferentes, cada uma capaz de fazer um
Muitas pessoas pensam que assim que
determinado conjunto de reações químicas,
a vida surge em um planeta, rapidamente ela se
mas todas extremamente parecidas no aspecto
desenvolve formando seres vivos cada vez mais
físico.
complexos. Portanto, para essas pessoas, o
difícil é surgir a vida. Uma vez surgida, seu
Surgimento dos eucariontes e mudanças no
desenvolvimento seria inevitável.
“projeto”.
Na verdade não é isso que os estudos
Como vimos, sempre que submetidos a
recentes demonstram. O fato de a vida na Terra
pressões seletivas os procariontes se
ter surgido imediatamente após o planeta ter
“defenderam” modificando sua natureza
dado condições mínimas para sua ocorrência,
química.
reforça bastante a tese de que o surgimento da
vida não é difícil, podendo inclusive
ser abundante no universo. Boa
parte dos especialistas no assunto
acreditam que deve haver vida em
alguns satélites do nosso sistema
solar.
Além disso, nós já
aprendemos que a evolução não
tem direção. Portanto, é errado
dizer que há uma predisposição
para que a vida se torne cada
vez mais complexa. Se isso fosse
verdade, não existiriam bactérias
vivas tão parecidas com os
primeiros seres vivos, elas já Observe a diferença de complexidade entre uma célula procariota e um
teriam se tornado bem mais eucariota. Fonte: Biochemistry
complexas.
Prof. Dorival Filho
28
O projeto eucarioto é muito diferente. A
estratégia por eles adotada foi o
m o r f o l ó g i c o . O volume de uma célula
eucariótica costuma ser mais de 10.000 vezes
maior que o de uma procarionte.
Além disso, elas desenvolveram um
envoltório em torno do material genético
(envoltório nuclear) e outras organelas
membranosas (retículo, Golgi). Duas dessas
organelas, mitocôndrias e cloroplastos, parecem
ter tido uma origem bastante interessante.
Muitos indícios nos levam a crer que
mitocôndrias e cloroplastos eram bactérias que
viviam independentemente e que foram
incorporadas por células eucarióticas. Elas
então “aprenderam” a viver dentro dessas
outras células, até que ficaram intimamente
ligadas como se formassem um único
organismo.
Esse processo em que um novo ser
surge pela união de dois outros é chamado
de simbiogênese. A autora Lynn Margulis
acredita que a simbiogênese pode ter sido
responsável por esse e muitos outros passos da
história evolutiva do nosso planeta.
série de fatores que os cientistas ainda estão
estudando.
A União de células eucariontes
Uma outra característica muito
importante de células eucariotas foi o
desenvolvimento da capacidade de se
manterem unidas e de se “comunicarem”. O
desenvolvimento da multicelularidade foi
fundamental para o aparecimento de seres
vivos maiores.
Alguns passos são fundamentais para o
desenvolvimento de animais maiores. Podemos
destacar dois:
•
•
Novos métodos de comunicação entre
as células;
Desenvolvimento de um novo tipo de
esqueleto intracelular, o citoesqueleto,
que permitiu que células eucariotos
aumentassem enormemente de tamanho em relação às procariotas.
Até o surgimento dos eucariontes,
vimos que o ritmo da evolução foi bastante lento
(lembre-se de que durante mais de
2 bilhões de anos só havia
procariontes). Mas, quando atingimos 1 bilhão de anos atrás, o
ritmo da evolução começa a
aumentar rapidamente. A capacidade de mudança morfológica dos
eucariotos parece ter sido fundaTudo leva a crer que a mitocôndria era uma célula procariótica que foi
mental para isso.
incorporada por uma célula eucariótica. Fonte: Molecular Biology of the Cell.
Há 1 bilhão de anos já
existiam e foram encontradas em
Talvez você esteja com a impressão de
fósseis, várias espécies eucarióticas. Elas
que essa passagem do procarionte para o
incluem as primeiras algas vermelhas e verdes.
eucarionte tenha sido fácil e tranqüila. Mas não
É interessante notar que, apesar da
foi bem assim.
multicelularidade, nesse período ainda não há
Tudo indica que os primeiros seres
animais grandes o suficiente para serem vistos
vivos foram bactérias e que elas tenham surgido
a olho nu.
há, aproximadamente, 3,8 bilhões de anos
Fósseis de animais macroscópicos
atrás. A primeira aparição comum de eucariotos
aparecem nos fósseis há menos de 600 milhões
aparece no registro fóssil há apenas 1,6 bilhão
de anos.
de anos atrás. É provável que eles tenham
surgido antes, mas que não existissem em
Explosão de vida do Cambriano
quantidade suficiente para ser registrados nos
A explosão de vida do período
fósseis.
Cambriano (veja quadro das eras geológicas) é
Então, durante 2,2 bilhões de anos, a
um dos mais discutidos temas da história da
Terra foi domínio de procariotos. Logo, a
vida na Terra.
passagem de organismos procariontes para
Realmente é impressionante que em
eucariontes não foi tão fácil. Esses dados nos
um período de, no máximo, 60 milhões de anos,
confirmam que não havia uma predisposição
depois de o planeta ter passado bilhões de
para que isso acontecesse, a evolução NÃO
anos sem seres vivos macroscópicos, TODOS
TINHA de seguir esse caminho (lembre, ela não
os grandes filos animais existentes e muitos
tem direção). Isso apenas aconteceu por uma
outros que não existem mais tenham surgido. A
Prof. Dorival Filho
29
esse fenômeno é que damos o nome de
explosão de vida do Cambriano.
Se pudéssemos voltar no tempo e
passear pela Terra há 550 milhões de anos,
teríamos uma visão desoladora. A terra firme
seria estéril, sem vida. Se mergulhássemos nos
mares, não veríamos nenhum peixe, ou
crustáceo, ou estrelas-do-mar. Poderíamos
encontrar alguns vermes ou medusas, mas
nada com um esqueleto (seja ele externo, como
nos artrópodos, ou interno, com em nós).
É claro que esses animais não podem
ter surgido do nada. Desde Darwin que
sabemos que todos os seres vivos descendem
de um ancestral. A fauna do Cambriano não é
uma exceção. O aparecimento “súbito”de vida
vertebrada, há mais de 540 milhões de anos é
simplesmente a primeira aparição de
organismos com esqueletos grandes que
produzem fósseis facilmente observáveis.
Portanto, os cientistas estão localizando
alguns fósseis que foram precursores dessa
nova fauna. Mas não deixa de ser
surpreendente essa imensa aceleração do ritmo
evolucionário.
A grande pergunta que fica é por que
essa diversificação ocorreu apenas há 600
milhões de anos? Que fatores permitiram sua
ocorrência?
Outras Surpresas do Cambriano
Se estudarmos a classificação atual dos seres vivos, verificaremos que há um número imenso
de espécies de animais diferentes (milhões delas) mas que todos estão agrupados em poucos filos
(existem de 28 a 35 filos).
Ora, os filos definem um padrão corporal básico. Assim, quando falamos dos artrópodos
imediatamente nos vêm a cabeça animais com um esqueleto externo e patas articuladas. Quando
falamos de cnidários, também desenhamos mentalmente o aspecto geral de seus corpos. Portanto, os
cientistas se surpreenderam quando se deram conta que uma diversidade tão imensa de
espécies animais estavam agrupadas em poucos filos. Ou, pensando de uma outra maneira, existem
poucos planos corporais básicos para se construir um animal na Terra. Por que isso? Será que o
ambiente físico (gravidade, clima…) limita os planos corporais a apenas essas opções? Será que
sempre foi assim?
Aparentemente, não. O que surpreende no Cambriano é justamente isso. Nesse período
aparecem de vez (se estivermos
interpretando corretamente os fósseis)
praticamente todos os filos animais
existentes. Mas, mais que isso. No
Cambriano parece que o número de filos
chegou a 100!
Ou seja, havia uma maior
diversidade de planos corporais de
animais no Cambriano, do que hoje. A
diferença é que, no Cambriano, cada filo
tinha poucas espécies e, atualmente,
existem poucos filos, mas cada um com
um grande número de espécies. Para
ficar mais claro, imagine que um filo é uma
árvore e as espécies são galhos. No Fóssil de animal do Cambriano datado de cerca de 530 milhões
de anos atrás. Ele não está incluído em nenhum dos filos
Cambriano havia muitas árvores com
atuais. Ele tinha sete pares de espinhos que, possivelmente,
poucos galhos. Hoje, há poucas árvores serviam para proteger. Fonte: Biologia Evolutiva.
com muitos galhos.
Ainda não está claro porque esses filos se extinguiram e poucos restaram. Mas há ainda uma
outra surpresa. Aparentemente, depois do Cambriano, não surgiu nenhum outro filo! Não que não
houvesse oportunidade para o seu surgimento. Veremos adiante que, depois do Cambriano, houve
alguns momentos de extinção em massa, em que a Terra ficou com muitos espaços vazios. Eles
representaram uma ótima oportunidade para experiências evolutivas. Era um momento de baixa
competitividade entre os seres vivos. Mas, ainda assim, não surgiram novos filos, surgiram apenas
níveis taxonômicos inferiores, como famílias, gêneros e espécies.
Prof. Dorival Filho
30
Ainda não conhecemos o porquê disso. Havia algo de diferente no ambiente do Cambriano que
gerou esse marco da nossa história, ou tudo não passou de uma coincidência?
Causas da Explosão Cambriana
Como já foi dito, ainda não estão plenamente resolvidas as questões a respeito da explosão de
vida do Cambriano. Mas algumas hipóteses sobre por que ela aconteceu foram elaboradas. Essas
possíveis causas da explosão de vida podem ser divididas em dois grupos: causas ambientais e causas
biológicas.
•
Causas ambientais.
1. O oxigênio atingiu uma limite crítico.
Esta é a hipótese mais aceita. Durante os primeiros bilhões de anos da Terra, a
nossa atmosfera não possuía oxigênio livre (O2). Isso aconteceu, porque, no início, não
havia organismos fotossintetizantes que liberassem oxigênio e, mesmo depois que eles
surgiram, ainda era preciso que o oxigênio se acumulasse nos mares e na atmosfera. É bom
lembrar que o oxigênio é extremamente reativo, portanto, sua tendência não é de ficar livre,
na forma de O2. Ele tende a reagir com outras substâncias, como o ferro. Enquanto havia
ferro dissolvido nos mares, o oxigênio reagia com ele. Com isso não se acumulava na forma
de O2. Só quando esse estoque de ferro acabou, é que o oxigênio pôde emergir dos mares
e, lentamente, ir-se acumulando na atmosfera.
A presença do oxigênio é fundamental para a construção de seres vivos de maior porte,
porque um corpo maior exige mais energia e, como todos sabemos, o processo respiratório
que faz uso do O2 (respiração aeróbia) é muito mais eficiente na obtenção de energia do
que a respiração sem O2 (respiração anaeróbia).
Além disso, antes do oxigênio se tornar abundante na atmosfera, talvez, já houvesse
esqueletos na forma de colágeno (material proteináceo). Mas, sem O2, os organismos têm
muita dificuldade em precipitar minerais, como estruturas esqueléticas. Isso é válido, tanto
para os nossos ossos, como para conchas calcáreas e silicosas. Portanto, além da maior
eficiência na obtenção de energia, o oxigênio pode ter sido fundamental para o
desenvolvimento de esqueletos que, por sua vez, é essencial na construção de
animais de maior porte.
O gráfico abaixo foi adaptado da prova do ENEM - 2000. Observe que o início do período
Cambriano coincide com o momento em que a concentração de O2 na atmosfera está subindo
rapidamente. Aparentemente, esse aumento do O2 atinge, no Cambriano, um limiar crítico que permite
o surgimento de esqueletos e animais de maior porte.
Prof. Dorival Filho
31
2. Maiores quantidades de nutrientes.
Qualquer ecossistema, especialmente os ecossistemas marinhos, precisam de uma boa
quantidade de nutrientes orgânicos e inorgânicos para florescer. Parece que antes do
Cambriano fosfatos e nitratos (nutrientes inorgânicos importantíssimos) não estavam
disponíveis em quantidades suficientes. Acontece que o fim do Pré-Cambriano foi um
período de intensa atividade de tectônica de placas. Essa movimentação da crosta terrestre
provocou uma alteração nas correntes marinhas. Com isso, águas profundas foram trazidas
para a superfície do mar. Essas águas carregaram com elas esses nutrientes inorgânicos
que estavam depositados no solo oceânico. Ao atingir a superfície do mar, eles puderam ser
utilizados pelos seres vivos, deixando de ser um fator tão limitante para o desenvolvimento
da vida.
•
Causas Biológicas.
1. Esqueletos.
Alguns pesquisadores acreditam que o surgimento dos esqueletos não produziram
apenas um acréscimo nos planos corporais já existentes. Eles simplesmente permitem a
construção de planos corporais novos. Por exemplo, com partes duras é possível construir
patas ou mandíbulas ou suporte do corpo. Isso possibilita comportamentos completamente
novos.
2. Predação.
Há ainda aqueles que acreditam que o desenvolvimento da predação pode ter
impulsionado o desenvolvimento evolutivo. Ao surgir partes duras, novas formas de
predação podem ter aparecido. Por exemplo, com o advento das conchas muitos
organismos começaram a utilizá-la para se alimentar por meio da filtração da água. A
predação, então, teria criado uma pressão seletiva nova que impulsionou o desenvolvimento
de novos corpos.
Biodiversidade
Você já deve ter percebido que o
desenvolvimento da vida na Terra não foi
contínuo. Não houve uma gradual evolução
aumentando o nível de complexidade dos
seres vivos. Observando o registro fóssil, a
impressão que temos é que a vida se
desenvolveu por espasmos.
Durante muito tempo, a Terra foi
dominada por procariotos. Então surgem os
eucariotos. Mas um bom tempo se passa e,
como que repentinamente, surgem praticamente todos os filos animais a um só tempo
(veja a figura ao lado).
Analisando a evolução da biodiversidade na Terra, nós verificamos que a vida
já teve muitos sobressaltos. É sobre isso que
vamos tratar agora. Mas, antes, vamos definir o
que se entende por biodiversidade, que é um
assunto tão falado atualmente.
Muitas pessoas pensam que a biodiversidade é apenas medida pelo número de
espécies diferentes que existem. Mas a
realidade não é essa. Veja a seguir os vários
fatores que definem quão biodiverso é um
ecossistema
Prof. Dorival Filho
32
.
Medidas de Biodiversidade
Diversidade taxonômica:
É uma medida da variedade dos táxons superiores (ou grupos taxonômicos) a que pertencem as
espécies da área estudada . Uma espécie de mosca, uma mariposa e um gafanhoto têm maior
diversidade taxonômica do que três espécies de gafanhotos. Pode-se, além disto, dar peso às espécies
que pertencem a um grupo pequeno, ou que seja considerado especial por outras razões.
Diversidade filogenética:
É parecida com a diversidade taxonômica. Se tivermos conhecimento do parentesco evolutivo entre
diferentes espécies da região que estudamos - ou seja, se existe um esboço da árvore evolutiva do
táxon superior a que as espécies pertencem - podemos medir a variedade evolutiva de um grupo de
espécies. Quanto mais distantes evolutivamente as espécies, maior a diversidade filogenética do
conjunto. Pode-se, ainda, atribuir valor maior a espécies que são evolutivamente isoladas, ou seja,
"especiais". Por exemplo, o Peripatus acacioi é uma espécie de artrópode que tem alto valor filogenético,
por pertencer a um táxon muito pequeno - os OnicóforosI - e que, do ponto de vista evolutivo, é bastante
especial. Como ele está na lista brasileira das espécies ameaçadas de extinção, sua presença em
certas áreas de Minas Gerais é considerada mais importante do que a de outros artrópodes,
pertencentes a táxons maiores e mais comuns.
Diversidade funcional:
Pesquisadores preocupados com o funcionamento de ecossistemas têm questionado se, deste ponto de
vista, todas as espécies têm a mesma importância. Para manter a integridade e o funcionamento dos
ecossistemas, é necessário que haja organismos que cubram todos os processos envolvidos neste
funcionamento. A diversidade funcional pretende avaliar se, em um dado ecossistema, há espécies, cujo
conjunto de atividades e interações garante os processos essenciais para a existência continuada do
ecossistema. Essa preocupação é importante para o conceito de sustentabilidade, mas ainda é bastante
controversa e necessita de muita pesquisa adicional.
Diversidade genética
A diversidade genética geralmente tem sido estudada dentro de espécies, medindo tanto as diferenças
entre indivíduos, quanto as diferenças entre populações naturais, que hoje muitas vezes estão
separadas entre si pela perda e fragmentação dos hábitats naturais.
A diversidade genética é cada vez mais avaliada por métodos moleculares, em que se examina
diferenças na constituição do DNA, RNA ou de determinadas proteínas entre os organismos ou
populações. Esse estudo é essencial para a conservação biológica, porque a perda de diversidade
genética de uma espécie aumenta muito o risco de que ela venha a se extinguir, sendo perdida para
sempre.
Diversidade de ecossistemas
Embora mencionada na maioria das definições atuais, a diversidade de ecossistemas é a mais difícil de
caracterizar. Isso porque os ecossistemas são definidos pelo seu modo de funcionamento e seu
tamanho pode variar, desde uma pequena poça de poucos metros de tamanho, até um tipo de floresta
que se estende por muitos quilômetros, sem limites claros. Embora toda região geográfica contenha
uma mistura de ecossistemas, é difícil, na prática, medir a sua diversidade.
A diversidade de ecossistemas tem sido entendida, geralmente, como a diversidade de tipos de
ambiente, ou hábitats, que existem numa região. Os hábitats aquáticos são frequentemente
caracterizados por características físicas (por exemplo, água corrente ou parada; leito ou substrato de
pedra, areia ou argila). Nos hábitats terrestres, costuma-se dar maior importância à vegetação e sua
fisionomia para caracterizá-los. Assim, é possível avaliar e comparar a estrutura de hábitats e sua
diversidade em uma região.
Texto adaptado deThomas Michael Lewinsohn, professor e doutor em Ecologia no Instituto de Biologia da Unicamp.
I
Onicóforos Invertebrados do filo Arthropoda, com aspecto de pequenos vermes andarilhos.
Prof. Dorival Filho
33
Biodiversidade ao longo do tempo
A biodiversidade
em nosso planeta já foi
afetada por eventos de
extinção em massa
(período relativamente
curto de tempo em que
um grande número de
seres vivos se extinguem). O gráfico ao lado
mostra a evolução no
número de famílias de
invertebrados marinhos
desde o período Cambriano até hoje. As setas
chamam a atenção para
cinco eventos de extinção em massa.
Desde o Cambriano, parece ter ocorrido quinze eventos de
extinção em massa.
Essas cinco representadas no gráfico foram as Fonte: Integrated Principles of Zoology.
mais graves.
Apesar dessas extinções, que
tiveram causas variadas e ainda em
estudo, observe que o número de
famílias tem apenas aumentado,
sendo que os níveis atuais nunca
tinham sido antes alcançados.
Atualmente, a diversidade de
espécies por grupos taxonômicos
superiores está representada no
gráfico ao lado.
Alguns pesquisadores defendem que as atividades humanas estão
nos levando a um novo momento de
extinção em massa. Vários dados
sobre a atual perda de espécies
parecem confirmar isso. O estudo da
evolução da vida no nosso planeta
mostra quantos passos foram
necessários e quanto tempo foi preciso
Fonte: Biodiversidade
até que tivéssemos a Terra tão
exuberante em vida. Eu acredito que quanto mais conhecermos a biologia e, em especial, a evolução,
mais fácil será entendermos a imensa responsabilidade que temos com o nosso planeta.
Prof. Dorival Filho
34
Eras Geológicas
O tempo está em milhões de anos. Os valores entre parêntesis indicam a duração do período.
Cenozóico
Era
PERÍODO
Quaternário
-1,6
Inícia o domínio das angiospermas. Extinção de muitas aves e répteis.
-144 (78)
Jurássico
-208 (64)
Triássico
Permiano
Carbonífero
Paleozóico
Transição dos mamíferos primitivos para os modernos. Evolução humana
durante os útlimos 5-8 milhões de anos.
-66,4 (64,8)
-245 (37)
Precambriano
FATOS
Terciário
Cretáceo
Mesozóico
TEMPO
-286 (41)
-360 (74)
Devoniano
-408 (48)
Siluriano
Ordoviciano
-438 (30)
Cambriano
Proterozóico
-600 (95)
-505 (67)
Aparecem muitas gimnospermas e angiospermas modernas. Há grande
diversidade de répteis e surgem as primeiras aves.
As gimnospermas dominam e aparecem as primeiras angiospermas. Surgem
os precursores dos dinossauros e os primeiros mamíferos verdadeiros
aparecem.
Aparecem répteis semelhantes a mamíferos e muitos anfíbios se extinguem.
Há grandes faunas de artrópodos. Há uma radiação de anfíbios e surgem os
primeiros répteis.
Aparecem as primeiras florestas e insetos alados. Os peixes mandibulados
se espalham e muitos agnatos desaparecem. Aparecem os primeiros
tetrápodos.
Aparecem os primeiros artrópodos terrestres e peixes com mandíbulas.
As algas se tornaram mais complexas, plantas vasculares podem ter estado
presentes e peixes agnatos tinham ampla distribuição.
Explosão de vida. Surgimento dos filos animais.
Aparecimento de organismos multicelulares – algas, fungos e invertebrados.
-2500 (2000)
Arqueano
Prof. Dorival Filho
-4500 (2000)
Formação da Terra e desenvolvimento da litosfera, hidrosfera e da
atmosfera.
Surgimento da vida (procariontes)
35
Supra -Sumo
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
•
A vida surgiu muito rapidamente na Terra. Assim que as condições mínimas para a origem da vida
foram estabelecidas, ela apareceu e se manteve.
Os primeiros seres vivos eram procariotos.
As inovações evolutivas dos procariotos eram bioquímicas, ou seja, eles modificaram muito pouco
sua forma, mas criaram uma grande diversidade de vias metabólicas.
Os eucariotos demoraram muito tempo para surgir.
Ao contrário dos procariotos, os eucariotos inovaram evolutivamente, modificando sua morfologia.
Os eucariotos desenvolveram a multicelularidade.
Os primeiros animais macroscópicos só surgiram há 600 milhões de anos (Cambriano).
Uma das causas mais aceitas da explosão de vida do Cambriano é o aumento da concentração de
oxigênio (O2) na atmosfera.
A biodiversidade é fruto de muitos fatores e não só do número de espécies diferentes.
A Terra já viveu momentos de extinção em massa mas, apesar disso, a diversidade biológica (em
termos de número de espécies) nunca foi tão alta como atualmente.
Para alguns pesquisadores, estamos vivendo mais um momento de extinção em massa.
Prof. Dorival Filho
36
Bibliografia
Alberts e outros. Molecular biology of the cell. 3a ed. Garland. 1994
Behe, Michael. A caixa preta de Darwin. 1a ed. Jorge Zahar Editor. 1996.
Blanc, Marcel. Os herdeiros de darwin. 1a ed. Editora Scritta. 1994.
Darwin, Charles. A origem das espécies. Tradução da 1a ed. Editora Itatiaia. 1859.
Desmond, Adrian & Moore, J. A vida de um evolucionista atormentado – Darwin. 1a ed. Geração
Editorial. 1995.
Fortey, R. Vida: uma biografia não-autorizada. 1a ed. Editora Record. 1997.
Futuyma, Douglas J. Biologia evolutiva. 2a. ed. Sociedade Brasileira de Genética. 1992.
Hickman, Cleveland & Roberts, Larry & Larson, Allan. Integrated Principles of Zoology. 9a ed. WCB.
Krebs, J. R. & Davies, N. B. Introdução à ecologia comportamental. 3a ed. Atheneu Editora. 1996.
Margulis, Lynn. O planeta simbiótico. 1a ed. Editora Rocco. 2001.
Voet & Voet. Biochemistry. 2a ed. Wiley. 1995.
Ward, Peter. O fim da evolução. 1a ed. Editora Campus. 1997.
Ward, Peter & Brownlee, D. Sós no universo?. 1a ed. Editora Campus. 2001.
Wilson, E. O., ORG. Biodiversidade. 1a ed. Editora Nova Fronteira. 1997.
Literatura Recomendada
Todos os livros citados na bibliografia são muito importantes para uma melhor compreensão da
evolução. Mas, para o estudante de ensino médio, talvez alguns deles apresentem alguma
complexidade. Por isso, segue abaixo uma relação de livros que certamente o ajudará a entender
melhor a história da vida na Terra e que você, estudante do ensino médio, terá todas as condições de
compreender.
•
Origem das Espécies.
Escrito pelo próprio Darwin, esse livro lança as bases do evolucionismo. Além disso,
muito se tem falado de Darwin e, para evitar as interpretações incorretas, nada melhor do que
ler o que ele mesmo escreveu.
•
Vida: Uma Biografia não Autorizada.
Livro muito bom de ler porque o autor conta a história evolutiva do planeta de maneira
clara e atraente.
•
O Fim da Evolução.
Descreve muito bem as causas que devem ter levado o planeta a enfrentar as suas
maiores extinções em massa. Muito bom para percebermos o quanto nosso planeta é frágil e o
quanto estamos suscetíveis atualmente de outros eventos como aqueles.
Prof. Dorival Filho
37
•
Sós no universo.
Os autores defendem a tese de que a vida bacteriana deve ser abundante no universo
mas a vida animal complexa raríssima. Independente de você concordar ou não com essa
afirmativa, é um livro muito bom para entender os processos que devem ter levado à origem da
vida e sua evolução. Você vai se surpreender com a numerosa seqüência de “acasos” que foi
necessária para que o nosso planeta se tornasse o que ele é hoje.
•
O Planeta Simbiótico.
Excelente livro que defende a idéia de que a simbiose exerceu um papel muito mais
importante na origem das espécies, do que se tem considerado até agora.
Revistas
•
Revista “Ciência Hoje”.
Seguramente uma excelente revista de divulgação científica do Brasil.
Sites Recomendados
•
Ciência Hoje on-line (www.uol.com.br/cienciahoje/).
Site contendo notícias atualizadas sobre o mundo científico.
•
Com Ciência (www.comciencia.br/).
Site vinculado à SPBC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que traz
várias matérias científicas com uma abordagem aprofundada
•
Folha Online Ciência (www.uol.com.br/folha/ciencia/)
Mais um site com notícias atualizadas sobre ciência.
Espero que você tenha gostado do livro e que meus objetivos mostrados na apresentação
desse volume tenham sido atingidos. Caso você tenha alguma dúvida sobre um dos temas abordados
ou queira enviar alguma crítica ou sugestão, o que será fundamental para a continuidade desse
trabalho, use o email [email protected].
Prof. Dorival Filho
38
Download

Origem dos Grandes Grupos de Seres Vivos e a