Estudo da Qualidade de Vida dos Moradores das Áreas de Favelas de Anápolis Um Estudo das Ocupações das Áreas Privadas BERNARDES, Genilda D’arc1 TAVARES, Giovana Galvão2 SOUZA, Glória Regina Black Ramon de3 Palavras-Chaves: qualidade de vida, investigação, segregação, observação etnográfica. 1 Introdução Este trabalho é resultado do subprojeto “Estudo da Qualidade de Vida dos Moradores das Áreas de Favelas de Anápolis – um estudo das ocupações das áreas privadas”, parte do projeto “Questão Urbano/Ambiental: uma proposta de investigação das favelas localizadas nas áreas de riscos urbanos da cidade de Anápolis/GO” desenvolvido no período de novembro de 2005 a setembro de 2006, tendo o apoio técnico da Pró-Reitoria de Pós-Graduação, Pesquisa, Extensão e Ação Comunitária - ProPPE do Centro Universitário UniEvangélica. Os estudos urbanos que versam sobre as condições de vida na cidade encontram-se cada vez mais presentes nos debates acadêmicos. Isto se deve ao fato de que o rápido crescimento das cidades não está sendo acompanhado de uma infra-estrutura (rede de água tratada, de coleta e tratamento de esgoto, de pavimentação de ruas, de galerias de águas pluviais, de áreas de lazer, de áreas verdes, de núcleos de formação educacional e profissional e de núcleos de atendimento médico-sanitário, entre outros), que ofereça qualidade de vida às suas populações. A relevância de nossa pesquisa deve-se a não existência de estudos sobre assentamentos subnormais da cidade de Anápolis (Goiás) e centra-se na investigação da segregação sócio-espacial presente neste espaço urbano, especialmente nas áreas subnormais privadas, e para investigá-las utilizou-se da concepção de Herculano (1998) acerca da mensuração da qualidade de vida (IQV) da população residente na cidade. A pesquisa teve como objetivo estudar a qualidade de vida dos moradores das favelas localizadas em áreas privadas, na qual buscou identificar se estas caracterizam como 1 Professora Doutora - Curso de Ciências Sociais (Coordenadora). Professora Mestre - Curso de Geografia (Pesquisadora) 3 Bolsista do PBIC - Curso de Pedagogia. 2 áreas de risco, levantando os problemas sócio-ambientais decorrentes desse tipo de ocupação. Investiga, ainda, a origem destes moradores através do mapeamento do itinerário do fluxo migratório. 2 Metodologia A reflexão teórica baseou-se em estudos de geógrafos, sociólogos e historiadores sobre os temas: urbanização, favela, espaço social, política habitacional, qualidade de vida. A definição de favela embasou-se em autores como Scarlato (2003), que a define com o perfil de ser constituída por operários e trabalhadores em serviços menos qualificados, que buscam espaço para a autoconstrução em áreas públicas e/ou privadas, desconhecendo a legislação sobre o código de obras; em Lago (2003) que a define como uma denominação dada a uma área que contenha um agrupamento de residência, sem nenhuma ou com mínimas condições de habitabilidade, ou seja, sem qualquer infra-estrutura e se originando de situação fundiária ilegal; e em Maricato (2001), que a caracteriza a partir do intenso processo de ocupação da cidade que gera necessidades como trabalho, transporte, saúde, abastecimento, energia, água, etc, em detrimento de haver ou não estruturas para suprir tais necessidades. Para a pesquisa de campo delimitaram-se três locais de atuação, conforme dados da Secretaria de Planejamento do Município – SEPLAN/2002: Jardim Esperança, Novo Paraíso e Leito da Antiga Ferroviária, cujas áreas, contam com mais de 1800 moradias ao todo, o que equivale a 50% de moradias instaladas em assentamentos subnormais. Partindo de uma metodologia quantitativa e qualitativa aplicou-se um questionário junto aos moradores, entrevistando-os in loco sobre a sua qualidade de vida (Herculano/1998). No questionário utilizou-se os indicadores sugeridos por Herculano (1998) como: qualidade habitacional, educacional, de saúde, condições de trabalho, tipos de moradias e equipamentos públicos. As informações foram acrescidas das observações etnográficas dos aspectos culturais ali presentes. 3 Resultados e Discussão O embasamento teórico norteou este trabalho no sentido de identificar o perfil sócioeconômico e a origem dos moradores das áreas subnormais de Anápolis. A observação etnográfica buscou registrar a cultura dos atores em questão, os quais demonstraram, no primeiro momento, desconfiança, sendo que depois dispensaram hospitalidade, respondendo com interesse os nossos questionamentos. Em uma análise holística da cultura material observa-se que a paisagem das regiões visitadas configura construções de pequenas casas, improvisadas, muitas delas sem manutenção, em lotes de pequeno tamanho, com ruas sem pavimentação e local de pouca movimentação de pessoas, crianças e mulheres trajando roupas maltrapilhas. A cultura lingüística é expressiva com o regionalismo bem acentuado. A cultura social consiste em um relacionamento onde é priorizada tanto a família, como a vizinhança. Registra-se, ainda que a nossa presença como entrevistador de algum modo influenciou o ambiente de pesquisa. 4 Conclusão O crescimento urbano exclui socialmente parcelas da população da cidade. Essa em sua maioria encontra-se desempregada ou dedica-se ao mercado informal, lócus de subsistência do trabalhador. Constatou-se que os locais mais violentos são aqueles onde há baixa renda, baixa taxa de escolaridade e maior taxa de desemprego. Esse ambiente configura-se em “bombas” que desorganiza famílias. Seguem também: concentração territorial homogeneamente pobre com ociosidade, com ausência de atividades culturais e esportivas, com ausência de regulação social e ambiental, com precariedade urbanística, com mobilidade restrita do bairro, e desemprego constante. O controle social de alguns assentamentos subnormais está diretamente ligado com o crime organizado, com o tráfico de drogas e armas e, em se pensando em promover uma qualidade de vida como direito de todo cidadão, cabe implementar políticas públicas que possam gerar: extensão da rede publica de água, campanha de vacinação, atendimentos às gestantes (pré-natal), educação e socialização de informações, acesso a saúde integral. E o que dizer da continuidade deste trabalho? Dizemos ser importante visto que estudos sobre a qualidade de vida dos moradores de assentamentos subnormais são instrumentos valiosos por propiciar a construção do perfil sócio-espacial de seus moradores, da identificação dos problemas sócio-ambientais existentes, além de oferecer uma atualização do mapeamento das favelas da cidade. 5 Referências Bibliográficas HERCULANO, Selene. A qualidade de vida e seus indicadores. Ambiente e Sociedade. Ano I n.02, p.77-100, 1º semestre de 1998. LACERDA, Homero et. all. Riscos Geológicos e uso da terra em Anápolis – GO. Revista Sociedade e Educação (prelo). LAGO, Luciana Corrêa do. Favela-loteamento: re-conceituando os termos da ilegalidade e da segregação urbana. Site: www.ippur.br/observatório/download/anpur 2003 - lago.pdf __________________ Avaliação crítica dos trabalhos sobre a segregação residencial urbano de São Paulo e Rio de Janeiro. Site: www.ippur.br/observatório/download/anpur 2003 - lago.pdf. LAGO, Luciana Corrêa do, RIBEIRO, Luiz César de Queiroz. A divisão favela-bairro no espaço social do Rio de Janeiro. Site: www.ippur.br/observatório/dowload/anpocs2000 lago.pdf. MARICATO, Ermínia. Brasil, cidade: alternativas para a crise urbana. Petrópolis, RJ: ed Vozes, 2001. SCARLATO, Francisco Capuano. Geografia do Brasil. In: População e urbanização brasileira. 4ª ed. 1ª reimpr. São Paulo: Editora da USP, 2003.