2° ENCONTRO DOS SERVIDORES DO MINISTÉRIO MEIO AMBIENTE O II Encontro dos Servidores do Ministério do Meio Ambiente teve como objetivo construir o olhar dos servidores sobre os rumos atuais da politica ambiental, em especial sobre a RIO+20 e o processo de enfraquecimento do SISNAMA. Além das discussões, o Encontro teve como um dos produtos a inscrição de uma atividade autogestionada na Cúpula dos Povos, durante a Rio+20, que será coordenada pelos servidores e levará para debate com a sociedade um retrato dos órgãos ambientais no Brasil e suas implicações políticas. Os resultados do Encontro serão apresentados no V Congresso Ordinário dos Servidores da Carreira de Especialistas em Meio Ambiente e PECMA, quando serão discutidos assuntos referentes ao processo de mobilização dos servidores e também será ampliada a discussão sobre a participação na Cúpula dos Povos . Na primeira parte do Encontro, foram feitas duas apresentações sobre a Rio +20, uma sobre a programação oficial do evento, realizada pela Analista Ambiental Cássia Saretta (ASRIO+20/MMA), e a outra sobre a Cúpula dos Povos, pelo representante do Comitê Facilitador, Pedro Ivo. Sobre a programação oficial, foram apresentados todos os diferentes espaços, datas, possibilidades de participação e temas que serão discutidos durante o evento. A apresentação foi bastante esclarecedora, pois foi a primeira vez que muitos servidores tiveram a oportunidade de compreender o evento em si e a forma como o MMA está participando da organização. Nessa apresentação das atividades oficiais da Rio+20, ficou clara a falta de inclusão e debate com os servidores sobre a programação proposta e como se dará a participação do quadro técnico do MMA. De acordo com o representante do Comitê de Organização da Cúpula dos Povos, Pedro Ivo, o objetivo maior do encontro será unificar os movimentos sociais para uma plataforma de luta. A Cúpula pretende denunciar as falsas soluções centradas na priorização da economia verde e avançar no debate sobre a justiça socioambiental. Ele falou que os representantes da Cúpula dos Povos não participarão dos “Diálogos para o Desenvolvimento Sustentável” (DDS) – espaço organizado pelo governo brasileiro, coordenado pelo MRE – pela forma autoritária de escolha dos representantes da sociedade civil nesse espaço. Segundo Pedro Ivo, a proposta dos DDS foi estabelecida de cima para baixo, tendo o governo brasileiro escolhido os temas, os participantes e os facilitadores, indicando de forma inequívoca que os diálogos e seus resultados serão controlados pelo governo. Na parte da tarde, os participantes se dividiram em dois grupos. Tendo como referência textos orientadores, cada grupo debateu e consensuou posicionamentos sobre os temas: “Rio+20 – Economia Verde e Governança” e “Enfraquecimento do SISNAMA”. Após a apresentação dos resultados dos Grupos de Trabalho, foi acordado em plenária que deveríamos utilizar o espaço oferecido pelo Cúpula dos Povos para levar à sociedade a discussão sobre o desmonte dos órgãos ambientais federais e seus reflexos nas políticas de meio ambiente no Brasil. Foi proposta então uma atividade autogestionada na Cúpula, que será de fato um espaço no âmbito da Rio+20 que proporcionará a participação dos servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente de todo o país. Esta atividade será novamente discutida durante o V Congresso Ordinário dos Servidores da Carreira de Especialistas em Meio Ambiente e PECMA, quando poderão surgir contribuições para o detalhamento desta atividade e para o processo de mobilização, para que haja uma participação maciça dos servidores neste evento. Grupo de Trabalho 1: Rio+20 – Economia Verde e Governança 1) Texto orientador: Do Desenvolvimento Sustentável à Economia Verde Vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, pessoas, organizações e governos do mundo inteiro voltam a se reunir para discutir a questão ambiental numa grande Conferência, a Rio+20. Se naquela época o Desenvolvimento Sustentável começava a se firmar como conceito capaz de conciliar desenvolvimento capitalista e conservação ambiental, hoje ele dá nome a Conferência por vir. Por ser propositalmente vago, o conceito pôde ser apropriado por governos, corporações e instituições financeiras internacionais que se valeram da crescente preocupação social a respeito da problemática ambiental para esverdear o sistema sócio-econômico que são beneficiários. Se fazendo de portadores da sustentabilidade, os setores dominantes maquiaram de verde suas práticas para continuarem explorando a natureza. Ao reforçar o mercado como principal agente solucionador da crise ambiental que vivemos, como pode ser percebido pela leitura do Rascunho Zero lançado pela ONU, a Rio+20 já nasce predestinada a abrir terreno para um novo ciclo de acumulação do capital que organiza sua ofensiva a partir da ideologia da Economia Verde. Sob a égide da ecoeficiência, propostas técnicas são defendidas para problemas que só podem ser resolvidos no campo da política e da economia. As principais causas da destruição do meio ambiente, relacionadas ao modo de produção e acumulação capitalista são ocultadas, não sendo apontados os determinantes e os agentes responsáveis pela degradação ambiental e como ela afeta diferentemente os grupos sociais. O Estado, que deveria zelar pelo bem público, assume o discurso dos organismos internacionais e das corporações e passa a propagar a necessidade de implementar uma Economia Verde. Adjetiva-a ainda como “Inclusiva”, de modo a convencer-nos que sua preocupação pelo meio ambiente também orientará os Programas de Combate à Pobreza que o país adotou por recomendação do Banco Mundial e FMI para administrar a instabilidade social de um modelo de desenvolvimento concentrador de riquezas. Os intelectuais ligados à economia de mercado pregam a necessidade de dar valor ao meio ambiente, mas na prática o que se vê é uma série de mecanismos que visam colocar preço em tudo que provém da natureza, financeirizando-a. Esse tipo de engrenagem rege o mercado de créditos de carbono que torna possível que países e empresas poluidoras negociem no mercado e, inclusive, lucrem com os gases do efeito estufa que emitem na atmosfera. Essa direção privatista se tornou hegemônica no Brasil a partir da década de 1990 quando o país adotou o receituário neoliberal. Desde então, a orientação política e econômica dos governos que se sucederam tem levado à privatização do setor público e a perda de direitos sociais, sendo a natureza o mais novo alvo da mercantilização. 2) Problematização: Neste ponto, a proposta foi discutir os itens principais que norteiam a Conferência Rio +20, baseados no documento Rascunho Zero. Economia Verde: O que é? Qual a nossa posição frente ao conceito/ideologia apresentado? Governança ambiental: Qual é a arquitetura proposta? Quem define e executa? Como está estabelecida a participação dos organismos internacionais na governança ambiental brasileira? 3) Reflexão dos servidores: Foi consenso dos servidores que o processo da Rio+20 não é democrático, tampouco a forma como o próprio MMA vem conduzindo o processo internamente. A Rio+20 é um Fórum que irá legitimar um conceito de economia verde que poderá servir para atenuar a crise econômica, mas não os problemas socioambientais. A estratégia central é a mercantilização da natureza, ou seja, a natureza não tem valor como bem comum, mas apenas enquanto um valor de mercado. A discussão sobre a economia verde, além de não tocar em questões como mudança de paradigma, padrões de consumo e cidadania, esvazia o conceito de desenvolvimento sustentável, o que torna ainda mais importante rever o modelo de desenvolvimento e seus indicadores (ex: PIB). Embora o governo use a expressão “Economia Verde Inclusiva”, os servidores concluíram que para que a economia seja de fato inclusiva são necessárias ações estruturantes como: reforma agrária e urbana, acesso à educação e saúde públicas de qualidade, respeito e garantia de território às populações tradicionais, entre outras. Outros aspectos levantados foram a falta de prioridade da área ambiental no governo (vide orçamento do MMA) e o fato de instituições internacionais atuarem como formuladoras de políticas ambientais no Brasil, com a anuência do MMA. Também foi ressaltado o desmonte no MMA da área responsável pela construção da participação cidadã, a exemplo da Conferencia Nacional de Meio Ambiente e da Agenda 21, que está sendo abandonada pela atual direção, sendo a responsabilidade transferida para o setor privado. Há um descompasso entre as políticas para conservação e as demais políticas de governo, o que reflete o baixo protagonismo do MMA dentro das políticas do governo, fazendo com que área ambiental apenas chancele decisões já tomadas. Grupo de Trabalho 2: O enfraquecimento do SISNAMA 1) Texto Orientador: O enfraquecimento da área ambiental Existe um movimento de desregulação e flexibilização da legislação ambiental. O ataque ao marco regulatório conquistado nas últimas décadas tem no Congresso Nacional seu principal lócus de ação, como pode ser visto pela tramitação e aprovação de instrumentos legais como a Lei Complementar 140, PEC 215, Código Florestal, entre outros. A direção do MMA deveria fomentar a discussão dessas pautas entre seus servidores e responder enfaticamente contra qualquer tentativa de enfraquecimento do arcabouço legal ambiental. Entretanto, não vem deixando claro seu posicionamento, tampouco utiliza a força de seus servidores para resistir às mudanças propostas. É nítido que a área ambiental vem perdendo campo dentro do governo e isso se relaciona ao projeto neodesenvolvimentista ora em curso, institucionalizado pelo PAC e que vem produzindo expropriações de todas as ordens. A recusa do governo em atender reivindicações históricas como a reforma agrária e urbana, ao mesmo tempo em que fortalece o agronegócio, o setor de commodities e um processo de industrialização exploratória garante as condições adequadas para o capital se reproduzir em solo tupiniquim. Esse projeto levou o Brasil ao topo do ranking de consumo de agrotóxicos e nos manteve como país com a 2ª maior concentração de terras no globo. As parcerias público-privadas estabelecidas para extrair minérios e outros recursos naturais, para dar peso a um setor agropecuário voltado para exportação e para construção grandes empreendimentos, ditos de Integração Nacional, como Belo Monte e a transposição do Rio São Francisco, maximizam os lucros dos agentes privados e inviabilizam modos de viver historicamente constituídos pelas populações locais. Assim, ao invés de produzir alimentos e outros bens saudáveis para sua gente, o país tem virado o maior produtor de bilionários para o mundo, o que demonstra quem, de fato, é beneficiado com esse modelo de desenvolvimento predatório que demanda quantidades colossais de terra, água e energia, que em geral acabam por ser apropriadas de forma privada. Os conflitos socioambientais se acentuam e as populações que dependem dos ecossistemas para sua sobrevivência vêm seus territórios expropriados, assim como perdem a possibilidade de se reproduzir material e culturalmente. Cada dia aumenta mais a pressão sobre os órgãos e entidades que compõem o SINSAMA para liberarem licenciamentos, diminuírem a fiscalização, esvaziarem espaços de participação e controle social e aprovarem processos que não são de interesse público. A não priorização da área ambiental também é percebida pela distorção salarial de seus funcionários em relação a cargos semelhantes e a negação do governo em repor perdas salariais e reestruturar e fortalecer suas carreiras. Outra estratégia empregada para fragilizar a regulação ambiental estatal é transferir aos estados e municípios responsabilidades das instituições federais. Todo esse processo acaba por colaborar para a consolidação do mercado como principal regulador da vida social e o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado passa a ser letra morta da Constituição Federal. 2) Problematização: O processo político atual tem trazido consequências negativas para os órgãos responsáveis pela implementação da Política Nacional de Meio Ambiente e para a estruturação das carreiras que compõem o quadro técnico e político destes órgãos. Quais são os principais indícios do enfraquecimento dos órgãos ambientais? Quais as consequências na carreira do analista ambiental? 3) Reflexão dos servidores: Os servidores denunciam que nos últimos anos está em curso um processo de enfraquecimento do MMA e de outros órgãos do SISNAMA. Um dos principais problemas identificado neste Encontro é o quadro de instabilidade técnico-institucional que vive o órgão, decorrente da ausência de planejamento, da falta de identidade da instituição, da desvalorização dos seus servidores, da deficiência política de formação e lotação do seu quadro técnico e na baixa capacidade de articulação política e institucional apresentado pelo órgão central do SISNAMA. O MMA vem sendo constantemente alvo de críticas relacionadas à gestão deficiente e inadequada na formulação e implementação de políticas públicas, pela pouca clareza de suas orientações e diretrizes políticas e da sua missão institucional. Esse quadro de instabilidade institucional repercute na precarização do trabalho dos seus servidores, o que acaba por contribuir para o rebaixamento do seu papel frente aos desafios ambientais. Os processos de reestruturação do MMA vêm ocorrendo de forma autoritária, de cima para baixo, resultando no desmantelamento de áreas técnicas e na descontinuidade de políticas, planos e projetos. A ineficiência na comunicação institucional e a falta de transparência sobre as tomadas de decisão do MMA refletem uma gestão baseada no personalismo, em detrimento à melhoria da capacidade institucional e a formação e qualificação do seu quadro técnico para os desafios da agenda ambiental. Outro fator de instabilidade institucional apontado é o baixo orçamento do MMA associado à sua baixa capacidade de execução, o que leva à dependência de recursos externos executados por meio de projetos de cooperação internacional. Em alguns casos, é explícita a interferência desses organismos internacionais na gestão do MMA e no fluxograma dos projetos em desenvolvimento. Isso resulta em ações que, apesar de desenvolvidas pelo MMA, não têm a participação efetiva do seu quadro técnico, somente de consultores externos, refletindo a falta de planejamento e acompanhamento das ações realizadas por esses organismos internacionais. O plano de formação e lotação dos servidores adotado atualmente carece de uma estratégia e de uma política de valorização de seu quadro técnico, sendo ineficiente e que não converge para uma gestão pública de qualidade. Além disso, a alta complexidade dos temas trabalhados pelos servidores, associado à distorção salarial de seus funcionários em relação a cargos semelhantes e a uma carreira mal estruturada, contribuem para um quadro persistente de insatisfação e elevada evasão do seu quadro técnico. Conclusão O Encontro cumpriu com seus objetivos e proporcionou a reflexão e discussão de temas intimamente ligados às atividades dos servidores responsáveis pela formulação das políticas ambientais no Brasil. Diante da necessidade de construção coletiva de novos caminhos, os servidores do MMA aprovaram por unanimidade a proposição de uma atividade autogestionada na Cúpula dos Povos, onde irão expor e debater com a sociedade o desmantelamento dos órgãos e políticas ambientais no país. Alijados dos processos de estruturação e gestão do MMA, os funcionários da casa denunciam a precarização do órgão e dos demais componentes do SISNAMA, bem como a desqualificação e desvalorização do nosso papel enquanto servidores públicos. A percepção é que o MMA precisa estar à altura de sua função como órgão central do SISNAMA em seu papel de formulador de políticas públicas, como ente responsável por cuidar do bem comum e garantir espaços e mecanismos de participação e controle social. Participantes: Alex Bernal Ana Carolina Lopes Ana Carolina Mendes dos Santos Analucia K. S. Bonfim André Carlos Schiessl Antônio Queiroz Lezama Bianca Chaim Mattos Cássia Saretta Claudia R. dos Santos Elenita H. Braga Erico Grassi Felipe L. R. Barbosa Flávia Cabral Gabriela Antunes Guilherme Aranha Henrique Marques R. da Silva Iara Carneiro Jacobson Luiz Rodrigues Jader Alves de Oliveira João Seyffarth José Luis N. Xavier Luciane Rodrigues Lourenço Luciano Koji Shimizu Márcia Oliveira Mariana Alvarenga do Nascimento Mariana Silva Nadja Janke Nayara Maria Moura Rocha Neuza G. S. Vasconcellos Nilo Diniz Raul Xavier de Oliveira Ronaldo Costa Salomar Mafaldo Tânia Maria de Souza Thayssa Luna