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União Europeia mira América Latina e África para resistir à
China
EFE – seg, 7 de abr de 2014
Óscar Tomasi.
Lisboa, 7 abr (EFE).- A construção de um "triângulo estratégico" formado por África, América Latina e Europa é uma
hipótese já defendida por analistas e dirigentes regionais e que, se saísse do papel, permitiria à União Europeia (UE)
resistir à crescente influência da China.
Ex-ministros, diplomatas, responsáveis de organismos internacionais e empresários se reuniram nesta segunda-feira em
Lisboa para debater as possibilidades de intensificar as relações entre estes três blocos; uma aliança não isenta, no entanto,
de desafios e dificuldades.
Um estudo elaborado pela empresa de consultoria Accenture em 2013 e cuja última atualização foi apresentada neste
fórum revela que o potencial do triângulo "deve estar baseado não só em termos de vitalidade econômica", mas também em
questões de índole social e cultural.
Razões de equilíbrio demográfico, de busca de recursos naturais e de proximidade cultural são, de acordo com este
relatório, as principais "vantagens competitivas" que seriam proporcionadas por esta aliança às três regiões, que juntas
representam cerca de 2,3 bilhões de pessoas e 133 países.
O documento ressalta, no entanto, que o papel que a UE ocuparia neste triângulo "tem que ser definido com maior clareza",
já que, enquanto se decide, "continua perdendo terreno em relação à Ásia, tanto em nível de comércio como de
investimento".
A sombra da China é alongada neste cenário porque se transformou no principal investidor direto na África e aumentou
recentemente sua presença na América Latina, enquanto na Europa 70% das exportações é intracomunitário.
O fórum, organizado pelo Instituto Português para a Promoção do Desenvolvimento da América Latina (IPDAL), reuniu
representantes do Mercosul, da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), da Aliança do Pacífico,
da União Africana (UA), da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Comissão Europeia e da Fundação
UE-América Latina e Caribe (UE-ALC).
O triângulo entre os blocos é, segundo o vice-presidente do Real Instituto Elcano da Espanha, Rafael Estrella, um "conceito
geopolítico criado para ser instalado no imaginário coletivo" que pode contribuir, no médio e longo prazo, em um reforço
das relações.
Em declarações à Efe, Estrella lembrou que foram Espanha e Portugal os que "colocaram a América Latina no radar da UE"
e hoje o velho continente é seu principal investidor.
"Com a África, a UE não soube atualizar essa relação paternalista e não soube responder ao dinamismo de sua economia
durante os últimos anos", advertiu.
Como exemplo dos benefícios desta relação citou o fornecimento, já que calcula-se que em 2035 os países "atlânticos" -
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agrupados na África, América e UE - produzirão energia suficiente para cobrir cerca da metade das necessidades mundiais.
A presidente da Fundação UE-ALC, Benita Ferrero-Waldner, fez especial insistência em deixar para trás os objetivos de
curto prazo e olhar além, ressaltando a importância deste tipo de união para temas como a segurança e a luta contra o
narcotráfico.
O ex-presidente de Cabo Verde e enviado especial na Tunísia pela UA em apoio a sua transição, Pedro Pires, elogiou a
pujança de seu continente, o que, em sua opinião, permitiu um crescimento da classe média e uma melhora dos sistemas
educacionais que fazem dele "um espaço econômico atraente", mas que segue sofrendo com um déficit de infraestruturas e
desigualdade social.
Na Comissão Europeia, seu diretor-geral de Desenvolvimento e Cooperação, Fernando Frutuoso de Melo, declarou que o
triângulo estratégico só terá futuro "se existir um apoio mais amplo" no seio da UE e "não se limitar a ser uma iniciativa de
Portugal e Espanha".
O estudo da Accenture destaca a melhora das trocas comerciais entre ambas regiões e a presença de alguns de seus países
nas listas dos que mais verão aumentar seu PIB em 2014 como motivos para o otimismo.
No entanto, "o aumento das exportações latino-americanas à Ásia" e o "excessivo entusiasmo" sobre o crescimento
econômico nos dois blocos - "espera-se que sua contribuição ao crescimento mundial siga representando menos de 10% em
2050" - são apontados como dados a levar em conta sobre as possibilidades de construir um triângulo estratégico antes da
hora. EFE
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