ATUALIZAÇÃO
Origem, Crescimento, Degeneração
e Maturação In Vitro do Oócito
Origin, Growth, Degeneration and In Vitro Maturation
of the Oocyte
Nilo Frantz*
Adriana Bos-Mikich*
Marcelo Oliveira Ferreira*/**
Gerta Noeli Frantz*
Norma Pagnoncelli de Oliveira*
*Centro de Pesquisa e Reprodução Humana Nilo Frantz
**Centro de Reprodução Humana Gestare, Novo Hamburgo (RS)
Resumo
Introdução
Técnicas de reprodução assistida, tais como a fertilização in vitro, a injeção intracitoplasmática de
espermatozóides e a transferência de embriões têm
tido seu avanço limitado inúmeras vezes devido a
uma escassez de oócitos para fertilização. A estimulação artificial, a partir do uso de gonadotrofinas
exógenas, aumenta o número de gametas prestes a
ovular, mas a resposta aos tratamentos é bastante
variável. A maturação in vitro de oócitos imaturos
é uma alternativa que vem despertando maior interesse dos pesquisadores e clínicos da reprodução
assistida nos últimos anos. Entretanto, um fator
limitante ao desenvolvimento e aprimoramento
dos métodos de cultivo in vitro de oócitos imaturos
é o desconhecimento dos fatores envolvidos desde
a origem, o crescimento e a maturação in vivo dos
oócitos. Este artigo procurou fazer uma ampla
revisão do que é sabido e compreendido desde o surgimento das primeiras células germinativas no feto
feminino, até seu desaparecimento na menopausa.
Finalmente, fizemos uma breve exposição sobre o
estado de arte da maturação in vitro como uma
alternativa ou um acréscimo às tecnologias atualmente empregadas em reprodução assistida.
O conhecimento limitado sobre os fatores
envolvidos na regulação do crescimento oocitário e
folicular constitui um dos maiores obstáculos para
o estabelecimento de condições de cultivo que permitam o crescimento, a diferenciação e a maturação
oocitária capazes de gerar nascidos vivos, a partir
de oócitos coletados de folículos imaturos, tanto em
humanos como nas espécies domésticas.
Também é bastante escassa a informação
sobre genes e fatores que regulam a formação e o
crescimento dos oócitos, a partir das células germinativas primordiais (CGP), a formação e o transporte
das CGPs e a organização dos oócitos em folículos
primordiais (van den Hurk & Zhao, 2005), assim
como sua degeneração e gradativa exaustão com o
avanço da idade. A ação destes elementos reguladores provavelmente afeta a qualidade e a quantidade
de oócitos durante a vida reprodutiva, bem como a
extensão da vida reprodutiva do indivíduo.
PALAVRAS-CHAVE: Oogênese. Maturação in vitro.
Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
Oogênese
Oogênese é a história da formação e maturação da célula germinativa feminina. Este processo
537
Origem, Crescimento, Degeneração e Maturação In Vitro do Oócito
tem início na vida embrionária, continua após o
nascimento e atinge seu clímax no momento da
ovulação. A alteração mais importante que a célula germinativa feminina sofre é a meiose, a qual
pode ser considerada a antítese da fertilização, pois
divide pela metade o número de cromossomos,
enquanto que a fertilização restabelece o complemento diplóide.
As células germinativas primordiais humanas, tanto femininas como masculinas, aparecem
pela primeira vez na parede do saco vitelínico,
próximo ao final da terceira semana de desenvolvimento. Membros da família do fator transformador
do crescimento B (TGF B) foram identificados como
os responsáveis pela regulação da diferenciação
das células germinativas primordiais, a partir do
epiblasto. Estas células migram por movimentos
amebóides do saco vitelínico em direção aos primórdios gonadais, onde elas chegam ao final da
quarta, início da quinta semana. Nos embriões do
sexo feminino, as células germinativas primordiais
povoam o primórdio gonadal e se diferenciam em
oogônias. Estas células germinativas possuem
uma elevada freqüência de divisões mitóticas e
uma alta atividade transcripcional. Em torno do
terceiro mês, formam-se agregados de células
germinativas circundados por células epiteliódes
achatadas, as células foliculares, originárias tanto
do epitélio superficial ovariano, como derivadas
do mesonéfron. Subseqüentemente, cada célula
germinativa fica circundada por uma camada única
de células foliculares, constituindo o folículo primordial (Baker, 1982).
Em humanos, as oogônias entram em meiose
simultaneamente com o início da diferenciação gonadal, fenômeno denominado “meiose imediata”.
O início da meiose é estimulado pela secreção de
substâncias indutoras da meiose, MIS, pelos ovários
primitivos, no mesmo momento em que ocorre um
decréscimo acentuado na esteroidogênese (Byskov
& Hoyer, 1988). Em torno do quinto mês de desenvolvimento, o número de células germinativas femininas, oogônias em diferentes estágios da prófase
meiótica, atinge seu máximo estimado em 7 x 106
gametas. A partir deste ponto, inicia-se o processo
de morte celular característico dos ovários (Baker,
1963), que será discutido mais adiante.
Próximo ao nascimento, todas as células germinativas femininas estão em prófase da primeira
divisão meiótica, mas, em vez de prosseguirem à
metáfase, ficam bloqueadas no diploteno, especificamente chamado de estágio de dictióteno ou
de vesícula germinativa. Esta etapa da meiose
feminina é usualmente tratada como um período
de repouso do gameta. Entretanto, durante este estágio em que a cromatina nuclear está amplamente
538
dispersa formando finas alças de DNA, os oócitos
apresentam considerável crescimento, e a presença
de grande quantidade de organelas citoplasmáticas
relacionadas com a síntese e secreção de proteínas
e mucopolissacarídeos demonstram um metabolismo e atividade sintética bastante acentuada.
Os oócitos podem permanecer bloqueados no
estágio de dictióteno por décadas, até serem estimulados à maturação e ao crescimento. A retomada
meiótica só ocorre em ocócitos que completaram o
crescimento e estão meioticamente competentes no
folículo pré-ovulatório (dominante). A maturação
pré-ovulatória do oócito é um passo fundamental
do desenvolvimento gamético, pois irá determinar
o sucesso da fertilização e crescimento embrionário
e fetal subseqüentes.
O início da maturação pré-ovulatória é
marcado por um aumento súbito e dramático na
liberação de gonadotrofinas pela hipófise, especialmente do hormônio luteinizante, o dito “pico
do LH”. Pouco antes do pico do LH, existe também
um aumento acentuado no nível de estrógenos, e
este incremento é tido como o estímulo para que
ocorra o pico (Baker, 1982).
Durante o período entre o pico de LH e a
ovulação, o oócito sofre uma série de alterações
marcantes, tanto nucleares como citoplasmáticas,
num processo chamado de maturação oocitária.
A maturação nuclear envolve diversas etapas, que
incluem duas divisões meióticas consecutivas e
em ausência da replicação do DNA. A maturação
do ooplasma é necessária para que haja o bloqueio
à poliespermia no momento da fertilização, a descondensação da cromatina do espermatozóide e
para a formação dos pronúcleos.
Ela inclui a redistribuição das organelas
celulares, a migração das mitocôndrias para uma
posição peri-nuclear e o acúmulo de grânulos ao
longo do oolema (van den Hurk & Zhao, 2005).
Está bem estabelecido que uma complexa cascata
de eventos de fosforilação e desfosforilação está
envolvida na regulação da retomada meiótica.
Estes processos têm início com a ativação do fator
promotor da maturação (MPF), concomitante com
a quebra da vesícula germinativa. Outros fatores
envolvidos no processo incluem as quinases da
proteína mitógena-ativada (MAPKs), os níveis de
adenosina monofosfato (AMP) cíclico no oócito e
o esterol ativador mitogênico derivado do fluido
folicular (Grondahl et al., 2003). Sabe-se ainda
que um certo nível de atividade MAPK é também
necessário para o bloqueio em metáfase II após a
emissão do segundo corpúsculo polar em humanos, uma atividade exercida em conjunto com
o fator citostático indutor do bloqueio meiótico
(CSF) (Fan & Sun, 2004).
Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
Origem, Crescimento, Degeneração e Maturação In Vitro do Oócito
Uma estrutura característica dos oócitos é a
zona pelúcida. Ela se forma quando cada gameta
se encontra circundado por uma camada de células foliculares cubóides, constituindo um folículo
primário. Ela é formada por glicoproteínas, ZP1,
ZP2 e ZP3, a partir da deposição pelo oócito e pelas
células foliculares de um material fibrilar, que acaba formando um envoltório de aspecto gelatinoso
que circunda completamente o oócito. As células
foliculares formam junções comunicantes entre
si e processos que atravessam a zona pelúcida até
o oócito, ambos relacionados com a transferência
de material protéico ao gameta. Estas células foliculares que subseqüentemente se transformam
em células do cumulus oophorus são claramente
essenciais para a nutrição do oócito, uma vez que
a zona pelúcida está formada. Por outro lado, a
formação da zona pelúcida é essencial para o desenvolvimento folicular (Baker, 1982).
Crescimento Folicular
A formação dos primeiros folículos primordiais é coincidente com o início da meiose. Estas estruturas caracterizam-se por um oócito circundado
por uma única camada de células pavimentosas, as
células da pré-granulosa. Este conjunto de folículos
primordiais permanece relativamente dormente
até próximo à puberdade, quando o ovário se torna
apto a responder ao estímulo das gonadotrofinas
(Eichenlaub-Ritter & Peschke, 2002). Neste momento, eles são recrutados para a população de
folículos em crescimento. Diariamente, um grupo
de folículos primordiais é recrutado, e a ordem
com que eles iniciam seu desenvolvimento parece
ser a mesma em que foram formados. Os folículos
passam a se chamar folículos primários, quando a
monocamada de células da granulosa circundando
o oócito torna-se cubóide. Esta transição de folículo
primordial para primário é um processo lento, principalmente de maturação, visto que o diâmetro do
oócito basicamente não muda. É nesta transição,
entretanto, que ocorre o comprometimento ao desenvolvimento folicular subseqüente.
O ovário é uma estrutura dinâmica, na qual
folículos vesiculares formados por diversas camadas de células foliculares estão constantemente
se desenvolvendo, a partir de folículos primários.
Quando duas ou mais camadas de células foliculares se formam em torno do oócito, temos um folículo secundário ou pré-antral. Neste estágio, o oócito
entra em sua fase de crescimento mais extenso, as
células da granulosa proliferam ativamente e uma
camada de células da teca se desenvolve a partir
Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
das células do estroma intersticial (van den Hurk
& Zhao, 2005). Enquanto aumenta de volume, o
oócito sofre também uma complexa reorganização
citoplasmática, dependente tanto da produção de
novos produtos gênicos e de novas organelas, como
da modificação e redistribuição dos pré-existentes.
Dá-se um enorme aumento na síntese de RNA e
proteínas, no número de ribossomos, mitocôndrias
e outras organelas citoplasmáticas (EichenlaubRitter & Peschke, 2002).
Fatores sinalizadores intercambiados entre
o oócito e suas células da granulosa são essenciais
para induzir e regular a diferenciação folicular de
um determinado estágio ao próximo e, assim, proporcionar o desenvolvimento de um oócito capaz
de ser fertilizado e comportar o desenvolvimento
embrionário (Eppig, 2001).
Atualmente, é amplamente aceito que o oócito desempenha um papel muito ativo em promover
não apenas o crescimento folicular e direcionar a
diferenciação das células da granulosa, mas também seu próprio crescimento (Matzuk et al., 2002).
Os oócitos exercem estas tarefas, em parte liberando fatores de crescimento parácrinos que atuam
nas células da granulosa imediatamente vizinhas,
as quais por sua vez, modulam a síntese protéica
e os níveis de fosforilação no oócito (Trounson
et al., 2001). Su e colaboradores, 2002, demonstraram ainda a influência das células foliculares somáticas nas quinases do ciclo celular do oócito, sendo
a MAPK essencial para a retomada meiótica.
O oócito é também responsável pelo estabelecimento e manutenção das diferentes linhagens de
células da granulosa e esta interação, em geral, inibe a sua luteinização por promover o crescimento,
regular a esteroidogênese e a síntese de inibinas, e
por inibir a expressão dos receptores do hormônio
luteinizante. As células da granulosa das paredes
foliculares que não mantêm qualquer contato
com o gameta e recebem uma concentração mais
diluída dos fatores secretados pelo oócito, seguem
um caminho de diferenciação fenotípica diferente
(Gilchrist et al., 2004).
A formação de uma cavidade cheia de fluido,
o antro, dentro de uma granulosa de múltiplas camadas, caracteriza o folículo antral. O fluido antral
pode servir como uma importante fonte de elementos regulatórios ou moduladores derivados do sangue ou secreções das células foliculares, tais como
gonadotrofinas, esteróides, fatores de crescimento,
enzimas, proteoglicanas e lipoproteínas. O oócito
no interior de um folículo antral pode atingir um
diâmetro de 120 μm em humanos, adquirindo então
competência para retomar a meiose (van den Huck
& Zhao, 2005). Folículos em crescimento e alguns
vesiculares são observáveis já antes do nascimento
539
Origem, Crescimento, Degeneração e Maturação In Vitro do Oócito
nas gônadas fetais femininas. Mas, apenas com o
estabelecimento do equilíbrio hormonal adequado
e com o início dos ciclos reprodutivos na puberdade
é que o processo de crescimento folicular culmina
com a ovulação.
A grande maioria dos folículos vesiculares
que são produzidos após a puberdade (e todos antes
dela) sofre degeneração em algum momento de seu
crescimento. O número de folículos que chega à
ovulação é mais ou menos fixo para as diferentes
espécies pelos níveis de gonadotrofinas circulantes.
A cada ciclo reprodutivo, como uma conseqüência
direta da liberação de FSH, um grupo de folículos
em desenvolvimento é estimulado a continuar o
crescimento e a maturação. Em humanos, somente
um folículo, em geral, sofre ovulação a cada mês; os
demais, cerca de vinte, degeneram em diferentes
estágios do crescimento (Baker, 1982).
A injeção de gonadotrofinas exógenas nos
tratamentos de Reprodução Assistida resgata
os múltiplos folículos destinados a degenerar, e
faz com que eles atinjam o ponto pré-ovulatório,
quando são coletados e aproveitados para alguma
técnica de fertilização in vitro.
O pico do LH induz a última onda de multiplicação das células do cumulus. A quantidade de
fluido no folículo antral aumenta e o folículo cresce
muito, atingindo o diâmetro final de 2,5 cm próximo
ao momento da sua ruptura, a ovulação.
Durante a maturação gamética e folicular
final, as células foliculares imediatamente adjacentes ao oócito, que constituem o cumulus
oophorus, se desprendem das demais células da
granulosa, ficando, eventualmente, unidos apenas por um pedículo. No folículo prestes a ovular,
fatores secretados pelos oócitos também exercem
papéis fundamentais na expansão das células do
cumulus, e na regulação da estabilidade da matriz
extracelular, facilitando assim a ovulação (Gilchrist
et al, 2004).
Degeneração Gamética e Menopausa
Como mencionado anteriormente, a maioria
dos oócitos contidos nos ovários degenera, antes da
ovulação por um processo chamado de atresia. A
grande perda de células germinativas ocorre já antes
do nascimento, afetando as oogônias, nas primeiras
divisões mitóticas e durante as primeiras etapas da
prófase. Em humanos, cerca de 5 x 106 oogônias e
oócitos são eliminados dos ovários entre o quinto
mês de gestação e o nascimento. A atresia continua
a eliminar grande parte da população gamética rapidamente após o nascimento e em uma taxa menos
540
acentuada ao longo da vida até a menopausa, quando poucos oócitos podem ser detectados em cortes
histológicos dos ovários (Baker, 1963).
Do total de aproximadamente 7 x 106 oócitos presentes ao nascimento, apenas 400-500
serão ovulados durante a vida reprodutiva, o que
parece ser um processo muito desperdiçador em
reprodução (Baker, 1982). Esta conclusão fica
ainda mais óbvia quando consideramos a mulher
moderna, a qual deixa em geral um descendente
e raramente mais de três. Entretanto, este desperdício tem razão de ser se levarmos em conta
os fatores limitantes ao número de descendentes,
ao momento da concepção e do nascimento, na
conjuntura social atual.
Os fatores que levam a tamanho desperdício
pela degeneração celular não foram totalmente
esclarecidos, sabendo-se, entretanto, que fatores
genéticos e metabólicos contribuem para que ela
ocorra. Um exemplo de fator genético que afeta a
sobrevivência das células germinativas femininas
é encontrado nas mulheres portadoras da Síndrome de Turner. Nesta condição, temos apenas um
cromossomo X em todas as células do organismo
e estas mulheres não apresentam qualquer célula
germinativa após o nascimento. Seus ovários fetais,
entretanto, são inicialmente normais, mas as células germinativas são eliminadas gradativamente
antes das meninas atingirem a puberdade.
Acredita-se que a morte celular programada,
apoptose, desempenha um papel proeminente no
desenvolvimento do ovário fetal e no ciclo ovariano pós-natal. A perda de oócitos, tanto de forma
direta por morte das células germinativas como
indiretamente por atresia folicular, é um evento
fundamental, associado com a definição do período
de reprodução normal ou senescência prematura
das fêmeas mamíferas. O destino da maioria dos
folículos é a degeneração atrésica. Em humanos,
este processo culmina na quase exaustão total da
reserva oocitária aproximadamente na 5ª década de
vida, levando à menopausa. Sabe-se que a apoptose
folicular está associada a decréscimos substanciais
do RNA mensageiro para receptores de FSH e LH
nos folículos atrésicos, consistente com a sua diminuída capacidade de resposta às gonadotrofinas
(Tilly et al., 1996).
Como é também o caso com outros órgãos ou
sistemas, um conjunto de genes e rotas sinalizadoras conservados evolutivamente tem sido relacionado com o mecanismo de apoptose ou “suicídio
celular” no ovário, por mais de uma década. Sabe-se
da existência de genes especificamente envolvidos
com a sobrevivência ou morte das células germinativas ou somáticas ovarianas. A expressão do
gene repressor da morte bcl-2 é fundamental para
Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
Origem, Crescimento, Degeneração e Maturação In Vitro do Oócito
a manutenção do complemento normal de células
germinativas e folículos primordiais nos ovários
de mamíferos. Animais transgênicos homozigotos
para ausência deste gene apresentaram um número
total de folículos primordiais significativamente
reduzido, quando comparado com o tipo selvagem
ou heterozigoto para o alelo (Ratts et al., 1995). Por
outro lado, estudos sobre a expressão do gene Bax,
demonstrou que a ausência de seu produto em fêmeas de idade avançada leva a uma reserva oocitária
e função ovariana compatíveis com fêmeas jovens
(Perez et al., 1999). Existem também indícios de que
a aceleração do processo de apoptose observada
com o avanço da idade está associada à função das
células do cumulus. Na ausência de células do cumulus, oócitos obtidos de camundongos fêmeas de
idade avançada e mantidos in vitro, apresentaram
a mesma taxa de apoptose que oócitos de fêmeas
jovens (Perez & Tilly, 1997). Por fim, acredita-se
que a apoptose das células germinativas possa ser
regulada pelos seus próprios níveis de MPF e MAPK
(Fissore et al., 2002).
Um estudo de grande impacto no conhecimento sobre a reserva folicular ovariana foi publicado, em 2004, por Bukovsky e colaboradores.
Baseados em dados histológicos e imunohistoquímicos, estes autores sugerem a existência de
um processo de formação seqüencial e de novo
de folículos primordiais, a partir de células mesenquimais progenitoras, encontradas na túnica
albugínea ovariana. A formação de novos folículos
primordiais ao longo de todo o período reprodutivo
compensaria pela atresia observada em grande
parte do pool folicular e garantiria a preservação
de um número relativamente constante de folículos
iniciais encontrados nos ovários de mulheres entre
18 e 38 anos de idade. Além disto, o conhecimento
dos mecanismos regulatórios deste processo de
formação de novas células germinativas e folículos
primordiais em mulheres adultas levaria a aplicações clínicas relevantes relacionadas à expansão
terapêutica da reserva folicular, como maneira de
retardar a falha ovariana prematura ou normal
(van den Hurk & Zhao, 2005).
Um ponto importante a ser ainda mencionado, é a extrema vulnerabilidade das células
germinativas femininas a uma série de insultos patológicos, tais como as terapias anti-câncer, as quais
eventualmente levam à falha ovariana precoce e à
infertilidade, devido à morte acelerada dos oócitos.
O entendimento sobre o papel que os membros da
família bcl-2 desempenham na regulação da apoptose nas gônadas femininas, assim como a função
da ceramida e do fosfato-1-sphingosina (S1P) como
uma mediadora e um supressor, respectivamente,
da apoptose nos oócitos induzida por agentes de
Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
terapia anti-câncer, pode, eventualmente, permitir
o desenvolvimento de novas estratégias, baseadas
no uso de lipídios para evitar a infertilidade e a
menopausa prematura em pacientes oncológicas
jovens (Tilly & Kolesnick, 2002).
A Maturação Oocitária In Vitro
A base para a maturação in vitro (IVM) é a
maturação em condições artificiais de um oócito do
estágio de vesícula germinativa até a metáfase II.
Basicamente, todos os tratamentos de Reprodução
Assistida envolvem a estimulação ovariana, na qual
a mulher recebe gonadotrofinas exógenas, a fim de
induzir um grande número de folículos ao crescimento e à maturação, para que sejam produzidos
muitos oócitos aptos à fertilização. Estes tratamentos, entretanto, são bastante dispendiosos e podem
acarretar efeitos colaterais não desejáveis, tal como
a síndrome da hiperestimulação ovariana. Uma alternativa que vem sendo amplamente investigada
é a maturação in vitro (IVM) de oócitos coletados
sem qualquer estímulo gonadotrófico.
A IVM é um procedimento de rotina nos laboratórios de melhoramento animal bovino, sendo
a maior parte dos embriões para transferência
obtidos a partir de oócitos imaturos coletados de
ovários de matadouro. Em humanos, esta metodologia apenas recentemente tem recebido maior
atenção, apesar de o primeiro relato de IVM e fertilização de oócitos humanos ter sido já na década
de 60 (Edwards, 1965). Trounson e colegas (1994)
foram os primeiros a relatar uma gestação, a partir
da coleta de oócitos imaturos de uma paciente com
ovários policísticos. Desde então, diversos grupos
têm relatado casos de nascimentos após IVM de
oócitos obtidos a partir de ciclos não induzidos por
gonadotrofinas.
Mulheres com ovário policisticos constituem
a população ideal para este tipo de tratamento,
visto sua enorme sensibilidade à estimulação
ovariana, desenvolvendo freqüentemente a síndrome da hiperestimulação. O segundo grupo de
mulheres com forte indicação para IVM é daquelas
pacientes com ciclos regulares e ovários normais,
as quais são encaminhadas à reprodução assistida
por severo fator masculino. Recentemente, casos
de gestações e nascimentos foram relatados, nos
quais os embriões foram obtidos por IVM e injeção
intracitoplasmática de espermatozóides obtidos a
partir de aspiração testicular (Yun et al., 2005).
O aprimoramento da técnica de coleta de
oócitos imaturos combinada com novas técnicas
de maturação in vitro tem possibilitado índices
541
Origem, Crescimento, Degeneração e Maturação In Vitro do Oócito
gestacionais entre 20 e 24% por aspiração folicular
(Mikkelsen, 2005; Lê Du et al., 2005). Agulhas de
aspiração de calibre bastante fino, baixa pressão
de aspiração e capacidade do ultra-sonografista em
selecionar os folículos adequados para aspiração,
parecem ser os principais componentes do sucesso
deste procedimento. Sabe-se que o diâmetro mínimo do folículo do qual o oócito humano matura in
vitro é de 5 mm e que o tamanho mínimo do oócito
para que ele possa reassumir meiose em cultura
é de q 110 μm, pois apenas com este diâmetro ou
maior, as células germinativas tornam-se meioticamente competentes (Combelles et al., 2005).
O tratamento de IVM acoplado à fertilização
por injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) em ciclos não estimulados passou a ser
considerado um tratamento viável, não apenas para
pacientes com ovários policísticos, mas também
para uma ampla população de casais inférteis que
procuram os serviços de Reprodução Assistida. O refinamento da técnica com o conhecimento adquirido
a partir dos trabalhos pioneiros certamente levará
a índices gestacionais superiores aos atuais, com
custos significativamente mais reduzidos do que nas
metodologias atuais de Reprodução Assistida.
Abstract
Assisted reproduction technologies such as in vitro
fertilization, intracytoplasmic sperm injection
and embryo transfer have had a limited progress
mainly because of a lack of oocytes for fertilization. Artificial stimulation with exogenous gonadotropins increases the number of pre-ovulatory
oocytes, but individual response to the treatment
is very variable. In vitro maturation of immature oocytes has obtained increased research and
clinical interest in human assisted reproduction
in the last few years. However, a limiting factor
to the developement and improvement of in vitro
culture methods for immature oocytes is the lack
of knowledge of the in vivo maturation factors
involved as origen, growth and in vivo maturation
of the female gamet. The present article aimed to
do a broad review on what is already known and
understood since the generation of the first germ
cells in the female fetus, until their disappearance
when women reach menopause. Finally, we present a brief state of the art of in vitro maturation
in humans as an alternative to the currently used
technologies in assisted reproduction.
KEYWORDS: Oogenesis. In vitro maturation.
542
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12 a 15 de abril de 2007
XIII Congresso de G&O
da Região Sudeste da FEBRASGO
XXXI Congresso Estadual de G&O
Local: Hotel Sofitel Rio de Janeiro
Realização: SGORJ
Tel.: 55(21)2265-1525
Fax: 55(21)2285-0892
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Femina - Agosto 2006 vol. 34 nº 8
da SGORJ
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