Estratégias de Irrigação Suplementar em Cultivo Protegido e Convencional de Vinhedos no RS Prof. Dr. Leonardo Cury Bento Gonçalves, 4 de Novembro de 2015. Irrigação Suplementar em Cultivo Protegido 2 Água x Cultivo Protegido da Videira Atualmente dispõem-se de alguns resultados promissores, relacionados ao incremento de qualidade dos cachos e à produção vitícola em função do uso do cultivo protegido na Serra Gaúcha; Chavarria et al. (2008) constataram que a velocidade do vento é atenuada em 90,04% junto ao dossel vegetativo de videiras cultivadas sob cobertura plástica; A redução na turbulência favorece a condutância estomática e a assimilação de carbono aumentando a eficiência no uso da água; Cardoso et al. (2008) verificaram que a evapotranspiração estimada em áreas com viticultura protegida é 35% menor daquela observada no ambiente externo. 3 Água x Cultivo Protegido da Videira Chavarria (2008) Chavarria (2008) 4 Problemas na Viticultura Coberta Não existem indicadores ecofisiológicos relacionados à condição hídrica do vinhedo sob cultivo protegido os quais favoreçam a EUA e a qualidade do fruto; Os critérios de irrigação no cultivo protegido ainda são baseados na viticultura convencional e não consideram as mudanças na ecofisiologia da planta alterada no cultivo protegido; Quando e quanto irrigar? Para que as características de qualidade sejam mantidas ou melhoradas utilizando os recursos hídricos de forma sustentável. 5 Problemas na Viticultura Coberta Para o esclarecimento destes questionamentos é necessário considerar uma série de fatores tais como: Características do solo como retenção de água, aeração e profundidade; Características do cultivo como estádio fenológico e desenvolvimento radical; Condições microclimáticas sob cobertura plástica (DPV e evapotranspiração); 6 Problemas na Viticultura Coberta 7 Problemas na Viticultura Coberta - Sem Irrigação 8 Problemas na Viticultura Coberta - Sem Irrigação 9 Problemas na Viticultura Coberta - Sem Irrigação 10 Problemas na Viticultura Coberta - Com Irrigação 11 Estratégias de Irrigação baseadas na CAD Na vitivinicultura convencional preconiza-se manter a disponibilidade hídrica do solo sob capacidade de campo: -33 KPa (Solos argilosos); -10 a -15 KPa (Solos arenosos). 12 Estratégias de Irrigação baseadas na CAD Contudo, Silva et al (2011) constataram que manter um limite de potencial da água no solo em -42 KPa (21% menor que CC -33KPa), antes de iniciar a irrigação, não alterou a qualidade do fruto; Silva et al (2011) levaram em consideração a maturação, a restrição de crescimento vegetativo, a manutenção da função foliar e o uso racional de água. -33KPa -42KPa -76KPa 13 -94KPa Estratégias de Irrigação baseadas na ET Duas estratégias de irrigação complementar foram propostas por Silva et al (2011) em cultivo protegido da videira; A primeira estratégia é a utilização do Kc (calculado experimentalmente) baseando-se: Evapotranspiração de referência (ETo) calculada; Evapotranspiração da cultura (ETc) (estimada experimentalmente lisímetro de compensação). A segunda estratégia é a utilização do mini-tanque evaporimétrico (SM) como estimativa da evapotranspiração (Costa, 2004) para a estimativa do Kp(SM); Evaporação da lâmina de água do mini-tanque (verificada in loco); Evapotranspiração da cultura (ETc) (estimada experimentalmente - lisímetro de compensação). h 14 Estratégias de Irrigação baseadas na ET 5,4 m2 15 Estratégia de Irrigação - Coeficiente de Cultura Kc h Tendo posse os valores estimados experimentalmente da Evapotranspiração da Cultura (Etc), pode-se calcular o Coeficiente de Cultura (Kc): ETc = ETo . Kc Entretanto, há a necessidade do cálculo da Evapotranspiração de referência (ETo) Penman-Monteith (FAO), modificado por ALLEN et al. (1998); Para o cálculo da ETo é necessário a estimativa de algumas variáveis climáticas: Temperatura; Umidade relativa do ar; Velocidade do vento; Radiação solar incidente. Esse método é limitado ao produtor devido ao grande número de variáveis, necessidade de estação meteorológica e cálculos (planilhas) avançadas. 16 Estratégias de Irrigação baseadas na ET Saldo de radiação (Bergamaschi et al., 2003) para superfície gramada Termo aerodinâmico Rn = -18,81 +0,69 * Rg (Radiação solar global (cal cm-2 dia-1)) Pressão de saturação (es) Pressão real de vapor (e) Déficit de saturação (es – e) Velocidade do vento 17 Estratégia de Irrigação - Coeficiente de Cultura Kc h Sabendo-se o Coeficiente de Cultura (Kc) e calculando a (ETo) pode-se estimar a evapotranspiração da cultura (ETc); ETc = ETo . Kc A ETc representa a quantidade de água evapotranspirada (mm) pela videira sob cultivo protegido, e consequentemente a necessidade real de reposição via irrigação ou chuva. 18 Estratégia de Irrigação - Coeficiente de Cultura Kc ETc = Eto . Kc 19 Estratégia de Irrigação - Coeficiente de Cultura Kc 20 Eichern & Lorenz (1977) e Lorenz et al. (1995) Ex: - Gema em Ponta Verde (EF05); - ETo diária calculada = 2,54 mm - Kc (Tabelado) = 0,04 ETc = ETo x Kc ETc = 2,54 x 0,04 ETc referente ao dia em EF05 = 0,1 mm 01/00 - Dormência hibernal; 02 – Gema inchada; 03/05 – Gema cotonosa; 05 – Gema em ponta verde; 06 – Brotação verde (rosada). 21 Estratégia de Irrigação - Coeficiente de Cultura Kc 22 Eichern & Lorenz (1977) e Lorenz et al. (1995) Ex: - Bagas 4-6 mm (chumbinho) (EF73); - ETo diária calculada = 2,54 mm - Kc (Tabelado) = 0,86 ETc = ETo x Kc ETc = 2,54 x 0,86 ETc referente ao dia em EF73 = 2,18 mm 29/73 – Bagas com 4-6 mm, cachos começam a descer; 23 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque h O método do mini-tanque evaporimétrico baseia-se na evaporação da lâmina de água do mini-tanque em um período pré-determinado (mínimo 3 dias) (Costa, 2004); A evaporação da lâmina de água é correlacionada à evapotranspiração da cultura (estimada experimentalmente - Lisímetro de compensação); Calibrando segundo as condições de cultivo protegido; O objetivo dessa correlação é a obtenção do coeficiente do tanque Kp(SM) para cada estádio fenológico da videira sob cultivo protegido (soma térmica). ETc = E(SM) . Kp(SM) 24 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 25 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque Dia 1: 0,0 mm ESM = 0,9 mm Dia 3: 0,9 mm 26 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 27 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 28 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 29 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque ETc = E(SM) . Kp(SM) 30 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque h Sabendo-se da Evapotranspiração da Cultura (Etc), estimados experimentalmente e medindo a evaporação do mini-tanque (E(SM)) pode-se estimar Coeficiente do mini-tanque evaporimétrico (KpSM); ETc = E(SM) . Kp(SM) A ETc representa a quantidade de água evapotranspirada (mm) pela videira sob cultivo protegido, e consequentemente a necessidade real de reposição via irrigação ou chuva. 31 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 32 Eichern & Lorenz (1977) e Lorenz et al. (1995) Ex: - Gema em Ponta Verde (EF05); - ESM medida intervalo 3 dias = 7,5 mm - Kp(SM) (Tabelado) = 0,03 ETc = ESM x Kp(SM) ETc = 7,5 x 0,03 ETc referente ao intervalo em EF05 = 0,22 mm 01/00 - Dormência hibernal; 02 – Gema inchada; 03/05 – Gema cotonosa; 05 – Gema em ponta verde; 06 – Brotação verde (rosada). 33 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 34 Estratégia de Irrigação - Mini-tanque 35 Eichern & Lorenz (1977) e Lorenz et al. (1995) Ex: - Bagas 4-6 mm (chumbinho) (EF73); - ESM medida intervalo 3 dias = 7,5 mm - Kp(SM) (Tabelado) = 1,29 ETc = ESM x Kp(SM) ETc = 7,5 x 1,29 ETc referente ao intervalo em EF73 = 9,68 mm 29/73 – Bagas com 4-6 mm, cachos começam a descer; 36 Irrigação Suplementar em Cultivo Convencional 37 Água x Cultivo Convencional da Videira Chavarria (2008) Chavarria (2008) 38 Água x Cultivo Convencional da Videira A água, ainda que seja um recurso abundante na maioria das regiões do Rio Grande do Sul, pode não estar disponível em determinadas épocas do ano; Essa indisponibilidade hídrica momentânea pode ser decorrente da estiagem e/ou das características dos solos (textura, profundidade e impedimentos físicos) e do sistema de cultivo adotado; Esses períodos de déficit hídrico, em alguns ciclos, podem coincidir com os períodos fenológicos de maior necessidade hídrica para a cultura da uva; De maneira empírica, o produtor constata a ocorrência de déficit hídrico no vinhedo quando o rendimento acaba sendo inferior à estimativa programada para a safra. 39 Água x Cultivo Convencional da Videira A região da Campanha apresenta um histórico climático com elevadas temperaturas e restrição pluviométrica durante alguns períodos do ciclo, ao comparar a outras regiões vitivinícolas brasileiras; Em anos de restrições pluviométricas severa (déficit hídrico primavera-verão), comprometem o desenvolvimento, a produção e a qualidade enológica da uva; Em função disso, muitos produtores desta região investem em sistemas de irrigação, buscando garantias de produção e qualidade; 40 Água x Cultivo Convencional da Videira Considerando a carência de informações técnicas para o manejo hídrico em vinhedos da Campanha, os trabalhos realizados até o presente momento tiveram como objetivos principais: Analisar a relação da água no sistema solo-planta-atmosfera nas condições Edafoclimáticas do Pampa sob distintos manejos hídricos: Estimativa do potencial da água: No solo (curva de retenção de água no solo, capacidade de armazenamento de água e disponibilidade hídrica); Na planta (estimativa do potencial da água na folha e nos sarmentos, assim como a transpiração direta); Na atmosfera (estimativa da evapotranspiração de referência (Eto), evapotranspiração da cultura (Etc) e coeficiente de cultura (Kc) balanço hídrico. Analisar das funções fisiológicas da videira. 41 Água x Cultivo Convencional da Videira 42 Água x Cultivo Convencional da Videira 43 Água x Cultivo Convencional da Videira 44 Água x Cultivo Convencional da Videira 45 Água x Cultivo Convencional da Videira 46 Água x Cultivo Convencional da Videira 47 Água x Cultivo Convencional da Videira 48 Água x Cultivo Convencional da Videira 49 Água x Cultivo Convencional da Videira 50 Água x Cultivo Convencional da Videira 51 Água x Cultivo Convencional da Videira 52 Água x Cultivo Convencional da Videira 53 Água x Cultivo Convencional da Videira 54 Água x Cultivo Convencional da Videira 55 Água x Cultivo Convencional da Videira 56 Déficit Hídrico no Cultivo Convencional da Videira O estudo conduzido no ciclo 2013/14 em seis vinhedos de ‘Cabernet Sauvignon’, enxertadas sobre SO4: no 1 e 2 em Santana do Livramento, 3 e 4 em Dom Pedrito, 5 em Bagé e 6 em Candiota, todos sem irrigação; Cálculo do balanço hídrico ao longo do ciclo vegetativo:produtivo foi realizado: Estimativa da Evapotranspiração de referência (Eto); Precipitações diárias; Capacidade de armazenamento de água no solo (CAD) com medições de umidade volumétrica do solo sensor tipo Profile Probe (modelo PR2). Ao fim da maturação, as uvas foram microvinificadas de forma padronizada e os vinhos estabilizados e engarrafados; Quando o vinho alcançou um ano de estabilização redutiva, aplicou-se a análise descritiva quantitativa (ADQ), técnica que avalia o perfil das amostras a partir de atributos visuais, olfativos e gustativos. 57 A 60 CAD (%) 50 y = -4,5317x + 60,439 R² = 0,93377 40 30 20 10 0 Vinhedo 6Vinhedo 1Vinhedo 3Vinhedo 5Vinhedo 2Vinhedo 4 Défic t Hídrico Acumulado (mm) Déficit Hídrico no Cultivo Convencional da Videira 350 300 y = 19,304x + 203,38 R² = 0,86211 250 211 200 268 278 295 325 B 248 150 100 50 0 Vinhedo 6 Vinhedo 1 Vinhedo 3 Vinhedo 5 Vinhedo 2 Vinhedo 4 FIGURA 1. Capacidade de água disponível no solo (%CAD) (A) e déficit hídrico acumulado (B) durante o ciclo vegetativo:produtivo 2013/14 em seis vinhedos localizados na metade sul do RS. 58 2,5 Déficit Hídrico no Cultivo Convencional da Videira 2 Vinhedo 1 1,5 Vinhedo 6 1 Aroma indesejável 0,5 CP II (15,33%) Vinhedo(5( Aroma vegetal Adstringência Aroma alcóolico Persistência Intensidade de cor Tonalidade vermelho-rubi Corpo Intensidade aromática Aroma frutas vermelhas Acidez Aroma especiarias Aroma herbáceo 0 Vinhedo(2( Harmonia olfato-gustativa -0,5 Vinhedo(3( Aroma frutas secas Adocicado Vinhedo(4( -1 -1,5 -2 -2,5 -2 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 CP I ( 55,81%) FIGURA 3. Análise de componentes principais das características sensoriais dos vinhos elaborados com uvas do ciclo vegetativo:produtivo 2013/14 proveniente de seis vinhedos localizados na metade sul do59 RS. Considerações Finais - Cultivo Protegido h Não há a necessidade de manter a condição hídrica do solo na capacidade de campo sob cultivo protegido; Manter o potencial da água no solo em -42 KPa (21% menor que CC -33KPa) foi a condição mais adequada no cultivo protegido da uva ‘Itália’ melhorando a maturação e preconizando o uso racional de água; A utilização do Kc (Tabelado) para o cálculo da ETc, apesar de necessitar de um cálculo prévio da ETo (variáveis meteorológicas) é uma importante ferramenta para o manejo hídrico; O Kp(SM) facilita o cálculo da exigência hídrica do vinhedo coberto proporcionando ao viticultor uma ferramenta prática e eficiente para a decisão de quando e quanto irrigar. 60 Considerações Finais - Cultivo Convencional h Ainda não se dispõem de muita informação para uma recomendação efetiva de irrigação em cultivos convencionais de videiras nas condições edafoclimáticas do Pampa; Entretanto, percebe-se que sob condição de déficit hídrico, a qualidade enológica das uvas é alterada; O próximo passo é estabelecer déficits hídricos que reduzam o crescimento vegetativo sem alterar a capacidade fotossintética das folhas e o metabolismo da maturação. 61 62 OBRIGADO PELA ATENÇÃO ? 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