CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, KM 71, nª 1.040, Bairro Benedito Cx. Postal 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 EDUCAÇÃO Desenvolvimento SESPECIAL ustentável 2 Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Revista UNIASSELVI-PÓS: Educação Especial - Centro Universitário Leonardo da Vinci (Grupo UNIASSELVI). – Indaial: UNIASSELVI, 2014. 47p. : il. col. Periodicidade: Semestral. ISSN: 2317-5966 1. Ensino superior. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI. II. Programa de Pós-Graduação EAD. CDD 378.005 3 APRESENTAÇÃO EDITORIAL Reitor do Centro Universitário Leonardo da Vinci Prof. Dieter Sargeli Sardeli de Paiva Diretor da Uniasselvi-pós Prof. Carlos Fabiano Fistarol Editor-Chefe Prof. Evandro André de Souza Presidente do Conselho editorial Prof. Norberto Siegel Membros do Conselho Editorial Prof. Anaor Junior Cardoso de Aguiar Profª. Célia Regina Appio Profª. Cláudia Regina Pinto Michelli Profª. Clotilde Giliam Rostovcev Krause Prof. Edinan Cardoso Dourado Profª. Ivan Tesck Profª. Joanara G. P. Matuszaki Profª Kelly Luana Molinari Prof. Raphael A. Pereira da Costa Profª. Sorinéia Goede Profª Tathyane Lucas Simão Revisão Editorial: Profª. Bruna Alexandra Franzen Profª. Patrícia Cesário Pereira Offial Projeto Gráfico: Raphael Povoas Nesta 3ª edição, o Programa de Pós-Graduação à Distância da Uniasselvi tem por objetivo divulgar as produções acadêmicas de professores e alunos. O conjunto de artigos e resenha registram discussões acerca da Educação Especial, um tema atual que vem motivando debates não só na educação, mas também em outras áreas, trazendo em questão a inclusão e a acessibilidade. Discussões pertinentes à inclusão nasceram após a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, realizada em Salamanca (1994), Espanha. A partir dessa conferência, o Brasil, entre outros países, se comprometeu em reformular seu sistema de ensino, para assegurar a inclusão, por meio do acesso de pessoas com necessidades educativas especiais no ambiente escolar, como também o direito de todos à educação de qualidade, a diversidade, seja ela racial, cultural, de gênero, etc. Mas, será que esse compromisso está realmente ocorrendo? Diante desse questionamento, consideramos relevante apresentar os debates acerca do tema em questão. Esta edição apresentará quatro artigos e uma resenha. O primeiro artigo intitulado “O psicopedagogo e sua ação profissional: promovendo a prevenção e o desenvolvimento educacional no ambiente escolar”, autoria de Carolina Lemos Silveira, trata de uma reflexão e análise sobre as funções do psicopedagogo e os principais papéis que ele desempenha no ambiente escolar. Na realização desse estudo foi executada uma pesquisa que ocorreu por meio de um questionário, aplicado a profissionais que trabalham no ambiente escolar, como pedagogos, psicopedagogos e assistente sociais. O segundo artigo, “O significado do projeto político pedagógico para os professores na inclusão escolar de pessoas com deficiência na escola Nelson Pessoa”, autoria de Daniel Bruno Anunciação Nobre e Thiago Pires Santana, discorre sobre a acepção do PPP no processo da Inclusão Escolar de pessoas com deficiência, identificando os elementos que favorecem ou não a realização dessa inclusão. O terceiro artigo, da autora Luciana Martins Vieira, cujo título “Você tem medo de quê? Você tem fome de quê? O desafio da formação de professores para a escola inclusiva”, aborda o desafio da formação de professores para a escola inclusiva, a remoção de barreiras físicas, arquitetônicas e atitudinais, no processo de escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular. O quarto e último artigo, das autoras Sandra Bernardes Puff e Ariane Kuhnen, intitulado como “A colaboração de ambientes restauradores nas escolas e em educandos com TDAH”, apresenta-se sob a estética dos ambientes restauradores, uma vertente dos estudos da Psicologia Ambiental (PA), cujo principal objetivo é compreender como os sujeitos percebem ambientes que podem ser restauradores ou nocivos para os educadores e educandos. Por fim, a resenha intitulada “A inclusão: entre a ação e o discurso”, da autora Patrícia Cesário Pereira Offial, propõe reflexões sobre o atual sistema educacional frente o processo de inclusão. Apresenta, ainda, discussões acerca das ações no cotidiano escolar que podem colaborar ou não para tornar possível a inclusão. Desejamos que os trabalhos aqui publicados se tornem relevantes para você que busca uma educação de qualidade. Agradecemos a todos que participaram da 3ª edição da revista Uniasselvi-Pós, colaborando com seus trabalhos e publicações. 4 ÍNDICE O psicopedagogo e sua ação profissional: promovendo a prevenção e o desenvolvimento educacional no ambiente escolar. Carolina Lemos Silveira O significado do projeto político pedagógico para os professores na inclusão escolar de pessoas com deficiência na escola Nelson Pessoa Daniel Bruno Anunciação Nobre Thiago Pires Santana Você tem medo de quê? Você tem fome de quê? O desafio da formação de professores para a escola inclusiva Luciana Martins Vieira A colaboração de ambientes restauradores nas escolas e em educandos com TDAH Sandra Bernardes Puff Ariane Kuhnen Resenha: Inclusão: entre a ação e o discurso Patrícia Cesário Pereira Offial 5 ARTIGO O PSICOPEDAGOGO E SUA AÇÃO PROFISSIONAL: PROMOVENDO A PREVENÇÃO E O DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL NO AMBIENTE ESCOLAR Carolina Lemos Silveira Pedagoga – PUC RS Especialista em Psicopedagogia Educacional – ULBRA RS Pós-graduanda em Educação a Distância Gestão e Tutoria – IERGS Uniasselvi. Contato: [email protected] RESUMO Palavras-chave: Psicopedagogo. Funções. Este trabalho busca tratar sobre as principais Aprendizagem. funções do psicopedagogo no ambiente escolar, que vão além de executar um tratamento aos edu1 INTRODUÇÃO candos que apresentam dificuldades de aprendizagem, como também de prevenir, mediar as Percebemos, cada vez mais, pais e professoaprendizagens e seus caminhos. Na realização res preocupados com o processo de aprendizadeste estudo foi executada uma pesquisa, a qual gem de seus filhos e alunos. Com isso a função se deu através de um questionário, aplicado a do psicopedagogo, de auxiliar perante as dificulprofissionais que trabalham no ambiente escolar, dades de aprendizagens, torna-se cada vez mais como pedagogos, psicopedagogos e assistente procurada e popularizada entre o meio escolar. sociais. Neste instrumento de pesquisa foi quesPortanto, a temática escolhida para a realização tionado sobre a importância do psicopedagogo deste trabalho foi delimitada visando a destacar nas instituições escolares, seus papéis principais as principais ações do Psicopedagogo no ambiene a visão do grupo perante esse profissional. Os te escolar, suas atribuições e relevâncias para o resultados obtidos foram analisados, tabelados e processo de aprendizagem. Para tanto, foram comentados, traçando paralelos das opiniões obelencadas opiniões de profissionais envolvidos tidas com a função do psicopedagogo. Este trabano processo educacional (pedagolho mostrou que ainda percebe-se O psicopedagogo tem função de prevenir, gos e psicopedagogos) através da a visão do psicopedagogo como além de intervir e auxiliar no processo pesquisa de campo, pontuando se especialista em que seu foco é educacional, percebendo e possibilitando no cotidiano escolar as funções do o tratamento das dificuldades de mudanças perante as necessidades de psicopedagogo são respeitadas e aprendizagem, porém também foi cada indivíduo. executadas satisfatoriamente. exposto sobre a importância do papel desse especialista na prevenção e observação Neste estudo, abordaremos sobre a imporna rotina escolar, traçando estratégias e saídas tância das ações do psicopedagogo no processo que resultem no bem-estar do aprendente, sendo educacional, na prevenção e superação das dificuleste o principal objetivo do psicopedagogo. 6 dades de aprendizagem das crianças em processo escolar. O psicopedagogo tem função de prevenir, além de intervir e auxiliar no processo educacional, percebendo e possibilitando mudanças perante as necessidades de cada indivíduo. Cabe também ao profissional detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca. (SOARES; SENA, 2012, p.2). ta uma característica exploratória tendo apoio e ênfase em estudos bibliográficos, lidos e estudados sobre a temática a ser apresentada e discutida. Porém, também mostra-se com um caráter descritivo, através da elaboração e da aplicação de um instrumento de pesquisa, caracterizado como questionário, que visa a perceber e a analisar pontos de vista em relação ao Psicopedagogo e suas funções e importância. Essa ferramenta de pesquisa foi realizada com profissionais que estão intimamente relacionados ao psicopedagogo no ambiente escolar, como os pedagogos, psicopedagogos e assistentes sociais. Para embasar esta problemática serão utilizadas referências, além de ser realizada uma pesquisa de campo, em que será aplicado um questionário, aos profissionais da área da educação, sendo eles pedagogos e psicopedagogos, para analisar- 2 AS PRINCIPAIS AÇÕES DO PSICOPEDAGOmos se no cotidiano escolar, as ações do psicope- GO NO CONTEXTO ESCOLAR dagogo são realmente executadas e reconhecidas no processo educativo a ser desenvolvido no amO Psicopedagogo nos dias atuais tem suas biente escolar. funções em maiores evidências, dessa forma destaca-se as principais devido a maior conscientização A metodologia utilizada neste ações de um Psicopedagogo, sendo elas: a da população e dos familiares das análise, a intervenção na rotina escolar, o trabalho se deu através da realizacrianças perante as dificuldades de acompanhamento e o tratamento. ção de uma pesquisa de campo, aprendizagens no ambiente escopor meio de questionários, que foram aplicados lar, o que acarreta, por conseguinte um maior reaos profissionais (pedagogos e psicopedagogos) conhecimento da importância do acompanhameninseridos no ambiente escolar, usufruindo, para a to das dificuldades apresentadas na rotina escolar, realização deste estudo, da utilização e do apoio havendo, assim, uma maior valorização do papel de bibliografias conceituadas sobre a temática. do Psicopedagogo. Dessa forma, destaca-se as Caracterizando-se uma pesquisa qualitativa, a qual principais ações de um Psicopedagogo, sendo representa ser mais adequada ao caráter de inves- elas: a análise, a intervenção na rotina escolar, o tigação do estudo, que tem por fim perceber a im- acompanhamento e o tratamento. portância do real papel do psicopedagogo perante o grupo educacional que o cerca e se realmente De acordo com Fischer e Maia (2008, p. 32), estes papéis são executados em nossa rotina educacional. A intervenção Psicopedagógica no ensino funPara tanto cito Demo, que refere-se às pesquisas qualitativas pontuando que: A pesquisa qualitativa quer fazer jus à complexidade da realidade, curvando-se diante dela, não ao contrário, como ocorre com a ditadura do método ou a demissão teórica que imagina dados evidentes. (DEMO, 2009, p. 152). A pesquisa empregada neste estudo apresen- damental deverá priorizar um trabalho visando a aprendizagem, a interdisciplinaridade, o atendimento das necessidades apresentadas pela instituição e alunos, assim como resgata o aspecto lúdico do desenvolvimento, retomando o prazer de aprender e de ensinar em um conjunto de situações as quais estimulem a promoção da aprendizagem. A citação acima faz-nos perceber a funcionalidade de se ter os psicopedagogos cada vez mais integrados na rotina escolar, analisando e mediando, perante as dificuldades de aprendizagens, 7 propondo um trabalho conjunto e integrado com observar a reação da família, do corpo docente e os demais envolvidos no processo de aprendizado grupo escolar em que a criança se encontra, gem, sendo estes, o pedagogo encarregado pela a vida social e suas práticas extraescolares para, turma, familiares e, indispensavelmente, o eduentão, traçar um olhar crítico e ciente das melhocando. Visando a melhores soluções educacionais res possibilidades de tratamento para a criança e que incentivem o discente a superar seus desafios a dificuldade de aprendizagem que apresenta no educacionais, com segurança, auxílio e amparo. momento. Após essa fase inicial de observação, Fica, assim, a cargo do profissional especialista o especialista em psicopedagogia encaminhará na área de psicopedagogia estruturar uma melhor para o tratamento mais indicado cada criança em forma de intervir, iniciando um tratamento que caacompanhamento, de acordo com suas necessiminhe para minimizar e, até mesmo, solucionar as dades e ambiente. dificuldades de aprendizagens dos alunos em acompanhamento psico- Percebemos, desse modo, como as as Também devemos perceber ações do psicopedagogo auxilia o aluno pedagógico. que o psicopedagogo além de traa transpor seus limites, obtendo uma balhar de forma ativa e efetiva com aprendizagem sadia e indispensável para Percebemos, desse modo, os alunos que apresentam necesseu pleno desenvolvimento. como as ações do psicopedagosidades individuais, atua igualmengo auxilia o aluno a transpor seus limites, obtente na questão da prevenção das dificuldades de do uma aprendizagem sadia e indispensável para aprendizagens. Conforme Bassedas, (1996, p.40): seu pleno desenvolvimento. Para as crianças em Podemos resumir que a finalidade básica tratamento, a aceitação da família perante a situado nosso trabalho consiste em ajudar a ção é válida para que elas tenham um bom desenpromover mudanças, tanto quanto intervimos volvimento em sua aprendizagem. Os especialisdiante de problemas que a escola nos coloca tas em psicopedagogia devem estar atentos para (individuais, de grupo ou metodológicos), como também quando colaboramos para essa postura da família, desde o primeiro contato, melhorar as condições, os recursos e o ensino, traçando olhares cuidadosos perante o incentivo e realizando a tarefa preventiva que leve a uma a visão que a família tem da criança e da sua vida diminuição dos problemas que enfrentamos, escolar, conforme retrata Paín (2008, p.40), tanto na escola como nós mesmos. O significado do sintoma para a família será, então, a imagem que os pais têm das causas e dos motivos que geram o problema e os mecanismos colocados a serviço da defesa contra a desvalorização social que isto acarreta. Tal citação confirma que devemos conversar e esclarecer com a família sobre a situação vivida e as melhores formas de intervenção para o momento. Pontuando, ainda, que a ação familiar e seu apoio possuem grande importância para um bom andamento do tratamento psicopedagógico e para o pleno desenvolvimento dessa criança. Percebemos, com isso, que a análise feita pelo psicopedagogo é um passo fundamental para indicar melhores formas de intervir perante as dificuldades, as quais as crianças em atendimento estão inseridas, devendo este profissional 8 Além de trabalhar para o tratamento efetivo das dificuldades de aprendizagens apresentadas, o psicopedagogo atua de forma a prevenir as dificuldades de ensino e aprendizagem no ambiente escolar, para que os educandos possam ter um pleno desenvolvimento, descobrindo e aprendendo sempre mais. A partir da metodologia desenvolvida, analisamos o ponto de vista de profissionais atuantes sobre as funções dos psicopedagogos e sua funcionalidade real nas escolas. Compreendemos, assim, as ações atuais do psicopedagogo no ambiente escolar, tendo suas principais funções de executar observações atentas, realizando uma ação preventiva nas escolas, mediando o processo educativo, traçando estratégias de tratamento a fim de melhorar ou até mesmo transpor as difi- culdades apresentadas dos educandos. Tudo isso com a finalidade de executar, de forma satisfatória e objetiva, seu papel como profissional qualificado, capaz de analisar, encaminhar, organizar e estruturar ações e estratégias para uma boa aprendizagem. 3 O PSICOPEDAGOGO, A IMPORTÂNCIA DA SUA AÇÃO PREVENTIVA E O TRATAMENTO NA ROTINA ESCOLAR O psicopedagogo tem funções fundamentais e de grande relevância para um bom desenvolvimento da aprendizagem escolar. Sendo válida sua presença constante na instituição escolar, procurando auxiliar o professor na organização e no planejamento de suas práticas pedagógicas, a fim de prevenir e captar possíveis dificuldades de aprendizagens. Segundo Scoz (1994, p.154), Um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando os educadores a aprofundarem seus conhecimentos sobre as teorias de ensino/aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, redefinindo-as e sintetizandoas numa ação educativa. Este trabalho levaria o educador a olhar-se como ‘aprendente’ e como ‘ensinante’. A autora Scoz (1990) pontua, ainda, sobre a ação preventiva desse profissional, afirmando que cabe ao psicopedagogo atuar esclarecendo e auxiliando nas condições de aprendizagens de acordo com a capacidade dos alunos. Com isso, percebemos que a função do psicopedagogo de prevenção na instituição escolar deve se dar através do trabalho conjunto com os professores, coordenadores, transversalmente à observação dos alunos, instigando o grupo docente a sempre observar e perceber sobre as particularidades de cada discente. Estimulando e criando estratégias de aprendizagens para que os alunos possam sempre aprender melhor. Além disso, a ação preventiva está intimamente ligada ao fato de o psicopedagogo conversar, estimular e refletir com os pais e familiares, para que estes observem, aceitem e trabalhem a partir das particularidades de seus filhos, auxiliando-o sempre, pois a função do psicopedagogo, da instituição e dos pais é promover, instigar e possibilitar um bom desenvolvimento, com estímulo, segurança, desafios e superações. Com os posicionamentos expostos neste trabalho referente à prevenção, compreendemos que esse papel a ser desempenhado pelos profissionais da psicopedagogia é marcante para um bom ensino-aprendizagem e para a observação e tratamento de possíveis dificuldades de aprendiFica a cargo desse profissional investigar zagem. Para Scoz (1994, p.155), “A psicopedasobre as realidades em que os educando estão gogia transformou-se, nos últimos inseridos, seus potenciais e dificulFica a cargo desse profissional investigar dades. Sempre com o auxilio dos sobre as realidades em que os educando anos, em um campo de estudos demais profissionais da educação estão inseridos, seus potenciais e dos fenômenos relativos ao processo de aprendizagem do indivíduo e e da área da saúde, inclusive para dificuldades. das dificuldades que podem surgir realização de um possível diagnósno decorrer deste processo”. tico e do tratamento dos problemas de aprendizagem. Realizando seus pareceres sempre considerando a opinião dos pedagogos, professores e médicos especialistas que serão consultados, como neurologistas, psicólogos, entre outros que diagnosticarão e contribuirão para o tratamento das dificuldades de aprendizagem apresentados por nossos jovens e crianças. O psicopedagogo deverá, dessa forma, executar uma ação preventiva no ambiente escolar, buscando sempre o melhor para o desenvolvimento dos alunos. Por meio desse estudo, nos parágrafos anteriores, percebemos a relação do psicopedagogo com a prevenção no ambiente escolar, não somente focalizando para o tratamento das dificuldades de aprendizagem que alguns aprendentes poderão apresentar. Porém, não podemos deixar de citar também a função do psicopedagogo de percepção perante estas dificuldades, através de observações, acompanhamentos, testagens, en- 9 caminhando os discentes e demais profissionais, principalmente da área da saúde, como médicos, fonoaudiólogos, entre outros. Traçando estratégias e mecanismos para o tratamento dessas dificuldades de aprendizagens apresentadas, pois é função deste profissional, habilitado em psicopedagogia, observar e tratar as dificuldades que prejudiquem um bom desenvolvimento escolar e pessoal de nossas crianças e jovens. Para Brenelli (2001, p. 94), ra pergunta foi: Para você, quais são as principais ações do psicopedagogo no ambiente escolar? Figura 1: Pergunta 1 – questionário – pesquisa de campo O diagnóstico psicopedagógico é em si uma investigação, é uma pesquisa do que não vai bem com o sujeito em relação a uma conduta esperada. Será, portanto o esclarecimento de uma queixa, do próprio sujeito, da família e, na maioria das vezes, da escola. A autora confirma a importância do diagnóstico do psicopedagogo perante as dificuldades apresentadas, durante o desenvolvimento escolar, por crianças e jovens. Tal ação possibilita um tratamento que busque uma amenização das problemáticas apresentadas, permitindo ao aprendente realizar um bom e satisfatório processo escolar, dentre suas possibilidades.Portanto, percebemos que as funções do profissional da área de psicopedagogia são importantes para um bom funcionamento do ensino e da aprendizagem, devendo traçar uma ação preventiva nas instituições educacionais, buscando instigar os educadores para a criação e execução de planos de trabalho que envolva e estimule todo seu grupo de alunos, sempre observando os educandos, suas limitações e problemas, traçando olhares e estratégias que possam tratar e até transpor essas dificuldades de aprendizagem. Pois todas as funções desse profissional ocorrem e tem por resultado maior, a aprendizagem e o bem estar do aprendente. 4 RESULTADOS O instrumento de pesquisa, construído e aplicado, foi um questionário com perguntas referentes à temática estudada neste escrito, sobre os principais papéis do psicopedagogo na rotina escola atual. Todas as pessoas que responderam ao questionário são do sexo feminino, com idade entre 23 e 47 anos, atuantes em instituições de ensino particular. A primei- 10 Fonte:A autora. Torna-se claro que ainda há uma percepção dentro do grupo escolar de que o psicopedagogo é responsável apenas para o tratamento das dificuldades de aprendizagem. Sendo que este profissional tem por função o tratamento das dificuldades dos alunos, porém seu papel não se restringe a esta problemática, pois este especialista deve estar atento a todo processo educacional que ocorre diariamente nas instituições de ensino, necessitando realizar uma ação preventiva, juntamente com o grupo docente, para melhor criar estratégias de ensino e observação diante das necessidades individuais dos discentes, buscando sempre o melhor processo de ensino e aprendizado. Para Serra (2006, p.14) “o papel da psicopedagogia no planejamento escolar é refletir sobre as ações pedagógicas e suas interferências no processo de aprendizagem do aluno”. Diante disso, percebe-se que a função de prevenção e observação do psicopedagogo são fundamentais para evitar e detectar as dificuldades de aprendizagem das crianças e jovens. Porém, podemos observar na análise da questão de número um (1), que a maior parte dos profissionais da área da educação questionados já perce- bem a diversidade de papéis do psicopedagogo e a importância da prevenção, da observação e do reconhecimento das problemáticas individuais de cada aluno, encaminhando e executando tratamentos quando necessário, para sempre buscar os melhores caminhos para cada um aprender e se desenvolver de forma mais plena possível. Na segunda pergunta realizada, é questionado se o profissional pesquisado percebe o psicopedagogo realizando satisfatoriamente suas funções. Nessa interrogação surgiram outras questões referentes ao empecilho da realização satisfatória das funções do psicopedagogo nas instituições de ensino, como a questão do apoio e aceitação da família dos envolvidos, a qual é vital para a realização de um tratamento adequado. Foi, também, citado sobre a falta de estrutura de algumas instituições, que não sabem como utilizar as funções do psicopedagogo em sua plenitude. Figura 2: Pergunta 2 – questionário – pesquisa de campo consideração indivíduo, como ser único, que recebe informações diferentemente de outro. (LOMONICO, 2005, p. 29) A autora relata sobre a importância da função preventiva dentro da instituição educacional. Isso nos indica que o papel preventivo é fundamental para que o psicopedagogo execute um bom andamento nos processos educacionais. Proposta esta que a maioria das questionadas percebe como uma das maiores falhas existentes nas instituições, além da ausência ainda encontrada por grande parte dos familiares, que não apoiam os diagnósticos e os tratamentos necessários. Por fim, percebem, ainda, a ausência de estruturação das instituições para melhor execução e desempenho dos papéis fundamentais que o profissional da psicopedagogia deveria desempenhar na rotina escolar. A última questão é a seguinte: você compreende o psicopedagogo como dispensável ou indispensável ao processo educativo? Figura 3: Pergunta 3 – questionário – pesquisa de campo Fonte:A autora. Fonte:A autora. As profissionais questionadas relataram, mais uma vez, sobre a importância da ação preventiva que se encontra ausente na maioria das escolas. Assim, Os resultados obtidos nessa questão foram de 100% para a resposta de que o psicopedagogo é indispensável no processo educativo. As justificativas foram variadas, porém todas afirmam ser, o psicopedagogo e suas atribuições, de suma importância para o processo de ensino-. Apresentando maior destaque às opiniões de que o profissional da área de psicopedagogia é fundamental para o bom desenvolvimento escolar, pois é através de seus conhecimentos diante das particularidades Dentro do enfoque preventivo, deve atingir a escola, a família e a comunidade em geral, esclarecendo sobre as etapas de desenvolvimento, processos de aprendizagem e condições determinantes de dificuldades de aprendizagem, a fim de que essas sejam esclarecidas, levando-se em 11 dos alunos, suas observações, intervenções com as famílias e instituição que é possível diagnosticar, tratar e buscar o bem-estar do discente, que vai além de um bom desenvolvimento na sala de aula, deve ser levado em consideração seus fatores afetivos, sociais etc. A nova concepção de psicopedagogia resgata não só a desejável unidade entre psicologia e pedagogia, como também uma visão global e socialmente contextualizada da multiplicidade de aspectos que o ser humano apresenta ao se relacionar com o objeto do conhecimento. (SCOZ, 1994, p.156). Com isso, este trabalho discorre sobre algumas dificuldades que a profissão do psicopedagogo ainda enfrenta nos dias atuais, nas instituições educacionais. Outro aspecto exposto foi referente aos papeis do psicopedagogo na aprendizagem escolar, ressaltando a importância de sua atuação preventiva nas escolas, com o corpo docente, com o grupo familiar e com os aprendentes. Percebemos, assim, que o psicopedagogo, como agente educacional, capacitado e especialista no processo de aprendizagem, é o profissional que busca auxiliar os educadores para a obA autora lembra sobre a importância da percepção tenção de melhores condições e estratégias de do psicopedagogo acerca das necessidades, das ensino-aprendizagem, informar as famílias e os vivências e das emoções que cercam o aprendenaprendentes sobre instrumentos e tratamentos rete em sua rotina escolar diária. Assim sendo, com lacionados com o processo do desenvolvimento a análise dos dados pesquisados Entendendo os aprendentes como sujeitos escolar e de suas aprendizagens. por meio do questionário, percebecapazes, com necessidades e particula- Observando, intervindo, analisanmos de forma mais clara a impor- ridades únicas, que devem ser atendidas do, executando e encaminhando tância efetiva do psicopedagogo na e direcionadas, caminhando sempre para tratamentos adequados às necesinstituição escolar, que se destaca o alcance da melhor aprendizagem, pois sidades de cada indivíduo. Entenatravés de sua ação preventiva com conclui-se que este profissional tem por dendo os aprendentes como sua escola, família e alunos, de ob- função principal buscar e promover melhojeitos capazes, com necessidades servação, diagnóstico e tratamento, res formas de aprendizagem, que atinjam e particularidades únicas, que detendo em vista as peculiaridades e a todos, com suas características individuvem ser atendidas e direcionadas, necessidades individuais de cada ais, peculiaridades e necessidades. caminhando sempre para o alcanaprendente. No entanto, vimos tamce da melhor aprendizagem, pois bém as dificuldades que, na rotina escolar, impeconclui-se que este profissional tem por função dem a execução efetiva dessas tarefas pelo psiprincipal buscar e promover melhores formas de copedagogo, como a resistência da família e das aprendizagem, que atinjam a todos, com suas cainstituições de ensino perante a importância de racterísticas individuais, peculiaridades e necessiatendimentos diferenciados, atendendo cada aludades. no com suas individualidades. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo buscou perceber as principais funções do psicopedagogo, como agente educacional nas instituições escolares. Pontuando, assim, suas atribuições para um bom desenvolvimento do ensino e da aprendizagem, dando destaque para sua ação preventiva e a importância no processo educacional, como também relatando sobre o valor de sua análise, tratamento de nossas crianças e jovens. 12 REFERÊNCIAS BASSEDAS, Eulália e colaboradores. Intervenção educativa e diagnóstico psicopedagógico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. BRENELLI, P. Rosely e colaboradores. Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 2001. DEMO, Pedro. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2009. LOMONICO, Circe Ferreira. Psicopedagogia: teoria e prática. São Paulo: EDICON, 2005. MAIA, Christiane M. E; FISCHER, Viviane T. Intervenção Psicopedagógica Institucional. Canoas: Ed. ULBRA, 2008. PAÍN, Sara. Diagnóstico e tratamentos dos problemas de aprendizagem. Porto Alegre, Artmed, 1985, reimpressão 2008. SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994. _____. Psicopedagogia: o caráter interdisciplinar na formação e na atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987 - reimpressão - 1990. SERRA, Dayse Carla Gênero. Teorias e práticas da psicopedagogia institucional. Curitiba: IESDE, 2006. SOARES, M.; SENA, C. C. B. A contribuição do psicopedagogo no contexto escolar. 2012. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/ artigos/126.pdf.>. Acesso em: jun. 2013. 13 ARTIGO O Significado do Projeto Político Pedagógico Para os Professores na Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiência na Escola Nelson Pessoa Daniel Bruno Anunciação Nobre Pedagogo (UEFS), especialista em Psicopedagogia (FACCEBA). Contato: [email protected] Thiago Pires Santana Licenciado em Matemática (UEFS), mestre em Ciências da Educação (UMA). Contato: [email protected] 1 INTRODUÇÃO Diante do panorama nacional da política de inclusão, buscou-se perceber a situação da inclusão escolar de pessoas com deficiência na realidade de São Gonçalo dos Campos. Assim, este estudo propõe a investigação do significado do Projeto Político Pedagógico (PPP) para os professores da Nelson Pessoa no processo de inclusão escolar. A Escola Municipal Professor Nelson Pessoa é uma escola de ensino fundamental da rede pública municipal de São Gonçalo dos Campos, na Bahia. 14 Nas escolas públicas da rede municipal de São Gonçalo dos Campos, tem-se constatado, através de visitas, um número crescente de crianças com deficiência buscando matrículas na rede regular de ensino. Dentro desse quadro se encontra uma diversidade de fatores que corroboram para essa situação, dentre elas a política de inclusão. Sabendo-se da importância do Projeto Político Pedagógico como marco de identidade e de planejamento das ações da escola, deve nele estar contido o modo como a escola lidará com a inclu- são. No entanto, nem sempre essa realidade legal tem sido respeitada. Considerando os professores como os principais agentes, por lidar diretamente com o público e ser voz ativa na escola, é que se apresenta o interesse em entender como eles percebem a Inclusão e suas consequências no planejamento. Diante dessa situação, há a necessidade de se refletir sobre o seguinte questionamento: qual é o significado do Projeto Político Pedagógico para os professores na inclusão escolar de pessoas com deficiência na Nelson Pessoa? Dessa maneira, a fim de contribuir para uma reflexão acerca desse significado, buscou-se a identificação dos elementos que favorecem ou não a realização dessa inclusão, através do olhar dos docentes acerca dos planos e ações inclusivos na escola. Nesse sentido, se torna ainda mais relevante a realização deste trabalho, principalmente para os professores que desconhecem a política de inclusão, já que esta medida legal é um direito que vem sendo negado aos alunos. Assim, este estudo serve como base para uma reflexão sobre o processo de inclusão de pessoas com deficiência nas escolas da rede pública do município de São Gonçalo dos Campos, além de material de estudo para a comunidade local e meio de rever os PPPs e a política de Inclusão da Secretaria de Educação municipal. mente formuladas, buscando perceber os valores, as atividades e as opiniões dos sujeitos entrevistados, configurando-se em uma conversa a dois em propósitos bem definidos (MINAYO, 1994). A população de amostra investigada é de 08 professores de ensino fundamental que lecionam na Escola Municipal Professor Nelson Pessoa na rede municipal de São Gonçalo dos Campos. A escola funciona em dois turnos, contemplando um total de aproximadamente 500 alunos, divididos entre 18 turmas do 2° ao 5° ano do Ensino Fundamental. São 16 professores ao total, sendo 14 docentes pertencentes ao regime de trabalho de vinte horas e dois de quarenta. Seis possuem o curso de Magistério e os demais contam com o nível superior e especialização em educação. A escola fica situada na zona urbana, mas recebe um grande contingente de alunos da zona rural. Se tornou referência no município pela sua localização e os bons resultados alcançados com o trabalho realizado, bem como a aderência a projetos governamentais como o “mais educação”1 . 2 A INCLUSÃO ESCOLAR A educação de pessoas com deficiência foi conceituada como especial pela exclusividade do seu público. No entanto, essa exclusividade durante a história se apresentou com a face da exclusão em quase sua totalidade. Segundo Sassaki (1997), podemos notar quatro grandes fases Este estudo priorizou a abordagem qualitativa da Educação Especial: a exclusão, a segregação, com análise de conteúdo, com o uso de categoa integração e, por fim, a inclusão. Na primeira, rias (MINAYO,1994). Esse tipo de pesquisa teve a fase da exclusão, as pessoas com deficiência como pretensão a análise de um contexto espeeram desassistidas socialmente já que o conceito cífico, por meio do estudo de caso (FIORENTINI; de deficiência estava mitologicamente e religiosaLORENZATO, 2006). Dessa forma, justifica-se a mente sendo interpretados e assoescolha pela pesquisa qualitativa, Diante dessa situação, há a necessidade de pois se faz necessário reduzir a se refletir sobre o seguinte questionamento: ciados à ideia de pecado, de mal e distância entre a teoria e os dados, qual é o significado do Projeto Político de erro. Assim, não havia lugar na compreendendo o fenômeno pela Pedagógico para os professores na inclusão sociedade para estes desiguais. A sua “descrição e interpretação” escolar de pessoas com deficiência na segunda fase foi um grande avanço, já que pela institucionalização da (TEIXEIRA, 2006, p. 137). No fazer Nelson Pessoa? deficiência, a partir do século XIX, metodológico, utilizou-se, para a as pessoas com deficiência eram encaminhadas a obtenção dos dados, entrevistas semiestruturadas espaços segregados da sociedade, com exclusivicom os professores, em que foram abordados a dade para eles, todavia, essa ação serviu para “liinclusão e o PPP, obedecendo a perguntas previa- 15 15 vrar” sociedade da convivência com os diferentes. A partir de 1978, principalmente com a Comissão de Warnock em Londres, houve uma tentativa de evitar a exclusão através da integração que foi demarcada em nível situacional, social e funcional. No entanto, o modelo ainda previa a adequação da pessoa com deficiência aos espaços das pessoas ditas “normais”, os inserindo em escolas, porém em turmas segregadas (RELATORIO DE WARNOCK, 1978). Por fim, a última fase: a inclusão. Essa é a mudança de paradigma, em que se passa da exclusão para uma real inclusão da pessoa com deficiência no contexto escolar. Com vistas à inclusão da pessoa com deficiência nas escolas regulares, um importante instrumento impulsionador desse processo foi a Declaração de Salamanca em 1994. Em 1996 o Brasil assume o compromisso com a Declaração de Salamanca e, nesse mesmo ano, lança a sua Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, nº 9.394/96, altamente contagiada pelo paradigma da Inclusão. siva: Direito à Diversidade”. E, em 2004, lança o documento “O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e Classes Comuns na Rede Regular” (BRASIL, 2004). No entanto, apesar de se alcançar um patamar legal e doutrinário na fase da inclusão, ainda falta um caminho histórico, político e prático para passar do nível do saber Conhecer e implementar o nível dos saberes Fazer, Conviver e Ser. Para se adequar ao novo paradigma as escolas precisam receber seu público devidamente e os estudantes precisam ter suas necessidades assistidas para que se desenvolvam em um contexto inclusivo. Estas são questões herdadas de um passado baseado numa filosofia de exclusão e integração. Em que as escolas especiais deveriam agir de forma a substituir a escola regular, a diferença marcante entre elas estava no público atendido: uns eram vistos como normais e os outros como especiais, no sentido de exclusão. Para conhecer a Educação Especial no Bra Para Mantoan (2003, p.24) “a inclusão implisil é preciso entender que ela perpassa por todos ca em uma mudança de perspectiva No ano de 2001 o Brasil dá outro passo os níveis de ensino, da educação educacional, pois não atinge ape- importante e torna-se signatário das básica ao nível superior, nas monas alunos com deficiência e os que decisões da “Convenção Interamericana dalidades de Jovens e adultos, já apresentam dificuldades em apren- para Eliminação de Todas as Formas de que não é substituta a esse ensino. der, mas todos os demais, para que Discriminação contra a Pessoa Portadora Na filosofia da inclusão a Educação obtenham sucesso na corrente edu- de Deficiência”. Em 2003, cria o “Programa Especial toma uma nova abrancativa geral”. Há, assim, a todos a Educação Inclusiva: Direito à Diversidade”. gência. Ela é regida pela Política possibilidade de participar do convívio social com a segurança de terem seus direitos respeitados, moldando a sociedade e a escola para atender as diferenças dos seus membros, dos seus cidadãos. Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (SEESP/ MEC, 2008). Assim, para suplementar/complementar o ensino regular existe o Atendimento Educacional Especializado (AEE), como descrito na Constituição (BRASIL, 1988) e reafirmado na No ano de 2001 o Brasil dá outro passo imResolução nº4 (CNE, 2009). Assim, os alunos deportante e torna-se signatário das decisões da vem também ser assistidos pelo AEE para com“Convenção Interamericana para A partir de 1978, principalmente com a plementar/suplementar o ensino Eliminação de Todas as Formas de Comissão de Warnock em Londres, houve das escolas regulares e não substiDiscriminação contra a Pessoa Por- uma tentativa de evitar a exclusão através tuí-las (MANTOAN, 2003), rompentadora de Deficiência”. Em 2003, da integração que foi demarcada em nível do, na medida das possibilidades, cria o “Programa Educação Inclu- situacional, social e funcional as barreiras ao desenvolvimento dos educandos. 1 O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Interministerial Seguindo a Política Nacional de Educação Esnº 17/2007 e regulamentado pelo Decreto 7.083/10, constitui-se como estratégia do Ministério da Educação para induzir a ampliação pecial na Perspectiva da Educação Inclusiva da jornada escolar e a organização curricular na perspectiva da Educação Integral. (MEC/BRASIL, 2009b). (SEESP/ MEC, 2008), o AEE deverá ocorrer nas 16 Salas de Recursos Multifuncionais, presente na escola ou em centros especializados. Nele poderão ser realizadas atividades como ensino de Braille, LIBRAS, trabalhos para Comunicação Alternativa/Aumentativa, Acessibilidade, orientação/ acompanhamento aos profissionais da escola regular inclusiva por profissionais itinerantes, etc. Há uma lei que deve reger a sociedade, mas há também uma sociedade que precisa se adequar a essa lei. No entanto, a legislação da educação inclusiva não partiu de um costume social, mas da ausência dele. É relevante, dessa forma, educar a nossa sociedade para servir ao todo coletivo que é feito por pequenas partes especiais de negros, brancos, altos, baixos, idosos, jovens, surdos, cegos, ouvintes, videntes e tantos outros. Bueno (1999) elucida a situação quando escreve que: estão, exigindo que os profissionais se adequem a nova realidade e façam uma retomada educacional mais ampla, como está posta na lei. E o terceiro tipo, seria o da Inclusão Responsável, um modelo transitório até que se possa chegar à inclusão total. Já que no país não temos recursos materiais e humanos para realizar uma inclusão como está posta na lei (FACION, 2008). Na Inclusão Responsável há um cuidado com a inserção do aluno para que, além da matrícula, sejam dadas condições adequadas por uma rede de ajuda e apoio aos educadores, alunos e familiares, pelo movimento responsável com avaliação constante, buscando a qualidade progressivamente. Assim, ficam expostos aspectos relevantes da inclusão e a necessidade de uma inclusão escolar por meio de um projeto coletivo. Mas, como a escola e os professores se preparam para isso? A resposta está no PPP. [...] tornar realidade a educação inclusiva não se efetuará, simplesmente por decreto, sem que avalie as reais condições que possibilitem a inclusão gradativa, contínua, sistemática [...] Deve ser gradativa, por ser necessário que tanto os sistemas de educação especial como os do ensino regular possam ir se adequando à nova ordem, construindo práticas políticas, institucionais e pedagógicos que garantam o incremento de qualidade de ensino que envolve não só os alunos com NEEs, mas todo o alunado do ensino regular. (BUENO, 1999, p.12). O Departamento de Educação Especial, da Secretaria de Educação do governo do estado do Paraná, traz importante contribuição para análise da situação. Quando define três tipos de inclusão: Condicional, Total e Responsável (PARANÁ, 2005). A primeira, Inclusão Condicional, estaria na espera das condições ideais (profissionais capacitados, escolas adaptadas, número reduzido de alunos por turma, especialistas como auxiliar, etc.) por isso negaria o direito do acesso à escola. O segundo tipo, a Inclusão Total, também chamada de Radical, seria o da matrícula de todos os alunos com deficiência nas escolas regulares como elas 17 3 O PPP E A INCLUSÃO ESCOLAR O PPP é a alma da escola, a sua identidade, o mapa que direciona a caminhada, o programa que elucida as ações que devem ser realizadas, ele é a planta da casa que se quer erguer. Veiga (1998, p. 9) esclarece que o PPP “[...] exige profunda reflexão sobre a finalidade da escola, assim como a explicação de seu papel social e a clara definição de caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos [...]”. A filosofia de inclusão que rege a escola deve estar explícita no seu Projeto Político-Pedagógico (PPP) e no alinhamento das atitudes de seus membros. Lembrando que o termo político está associado à visão de homem e sociedade que se almeja (VASCONCELLOS, 2000). E o termo pedagógico é a efetivação dessa intencionalidade (VEIGA, 1998). No seu PPP a escola deverá, segundo a LDB nº 9.394/96, evidenciar o currículo, métodos, técnicas, recursos e organizações entrelaçados por um plano de ação que atenda, em determinado espaço de tempo, às peculiaridades de sua coletividade: alunado, funcionários, professores e comunidade. Salientando que há valores da filosofia inclusiva que devem de sobremodo pautar as decisões e medidas, para tanto o princípio da heterogeneidade é fundamental (MITTLER, 2003). O planejamento e a implantação de políticas educacionais para atender alunos com necessidades educacionais especiais requerem domínio conceitual sobre inclusão escolar e sobre as solicitações decorrentes de sua adoção enquanto princípio ético-político, bem como a clara definição dos princípios e diretrizes nos planos e programas elaborados, permitindo a (re) definição dos papéis da educação especial e do lócus do atendimento desse alunado. (PRIETO, 2006, p.35). Porém, ao analisar a situação da Nelson Pessoa, pode-se perceber que apesar dos seus reconhecimentos no avanço do ensino de qualidade, quanto à Inclusão ainda estão engatinhando. No PPP da escola não constam planos sobre a inclusão, mesmo sendo atual. A sua elaboração em 2010 se deu após a aplicação de um questionário elaborado pela coordenação e direção da escola aos professores. Desde então, não sofreu alterações em sua constituição. Sendo que entre os docentes entrevistados, apenas um não estava presente no corpo docente da escola no período da elaboração do PPP. No PPP não é abordada a discussão acerca de quem é esse sujeito com deficiência que adentrará a escola pela política de inclusão. O documento consensual não apresenta instruções sobre quem é esse indivíduo e nem tão pouco como lidar com ele. Assim, o PPP que é uma construção do coletivo do corpo escolar, dá pistas de uma posição omissa/desinformada dos docentes frente ao processo inclusão. A ênfase da inclusão deve, assim, ser na pessoa que, como todos, tem seu direito de igualdade perante nossa lei e nosso julgo éti- A ênfase da inclusão deve, assim, ser na co e moral. Há um dever social de pessoa que, como todos, tem seu direito de preservação que não pode negar o igualdade perante nossa lei e nosso julgo 4 RESULTADOS E ANÁLISE indivíduo, assim não deve negar o ético e moral. que ele é em suas possibilidades e limitações. Há uma pessoa com deficiência que precisa ser educada, há uma escola que precisa ser educada, há uma sociedade inteira que necessita de educação especial. Educação especial no sentido de atender inclusivamente cada indivíduo em suas exclusividades. Portanto, é necessário que se tenha um projeto estabelecido, com intenções claras que definam e norteiem propostas e ações para realização da inclusão no contexto escolar. 18 Os dados da pesquisa foram tratados a partir da análise de conteúdo da temática, que segundo Minayo (1994), oferece a viabilidade de discussão de questões, podendo confirmar ou não as hipóteses estabelecidas antes do trabalho de investigação. Para o tratamento do material empírico será utilizado uma organização por categoria de análise para a investigação do objeto de estudo. Foram entrevistadas ao todo oito (08) professoras da escola Nelson Pessoa, elas são profissionais que, em sua maioria, atuam mais de dez (10) anos na área de educação, a mais jovem tem cinco anos na docência e a mais experiente vinte (20) anos de ensino. Muitas delas, também, já trabalharam nas diversas séries do Ensino Fundamental, apenas duas delas trabalham em outras escolas. Na escola Nelson Pessoa suas salas de aula são compostas, em média, por vinte e seis (26) alunos por turma, nos turnos matutino e vespertino. Do total de alunos, quarenta e cinco (45) alunos apresentam um quadro de dificuldade ou deficiência, segundo dados da coordenação. Estes são distribuídos pelas turmas, com base no nível acadêmico. Das oito professoras, apenas duas apresentam somente o magistério, as demais possuem nível superior, sendo que cinco são pedagogas e uma licenciada em biologia. Das professoras com nível superior, todas já possuem especialização lato sensu, em Coordenação ou em Psicopedagogia. Para esse grupo de professoras foi realizada uma entrevista semiestruturada com cada docente, direcionada por um roteiro com questões acerca do PPP e da inclusão. Na questão referente à preparação da escola Nelson Pessoa para a inclusão escolar de pessoas com deficiência, houve unanimidade ao afirmarem, que a escola não está preparada para realizar essa inclusão. Suas justificativas estão demonstradas no “Quadro A”, abaixo. QUADRO A – Preparo da Nelson Pessoa para Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiência A visão dos professores quanto à preparação da escola é compartilhada por Matiskei (2004) que complementa a posição afirmando que: A ampliação do número de alunos a serem atendidos no contexto da escola inclusiva está condicionada tanto ao redimensionamento dos projetos políticopedagógicos das escolas quanto à política de expansão de serviços de apoio no ensino regular, como professores-intérpretes de língua de sinais para alunos surdos, salas de recursos para apoio de alunos com deficiência mental matriculados de 5ª a 8ª séries e enriquecimento curricular para alunos com altas habilidades/superdotação, professores de apoio permanente para alunos com graves comprometimentos físico-motores e transtornos invasivos de desenvolvimento, entre outros (MATISKEI, 2004, p.197). Quanto à existência de planos e ações para a Inclusão de Pessoas com deficiência na Nelson Pessoa, os professores apresentaram respostas negativas em sua maioria, apenas dois se eximiram por não conhecerem os planos da escola nesse sentido. Na visão dos professores a escola não tem realizado planos e, tampouco, ações inclusivas. Seis dos oito professores responderam que não havia a existência desses planos e ações, dois afirmaram desconhecer qualquer situação nesse sentido, como apresentado no “Quadro B”, a seguir: QUADRO B – Realização de planos e ações de Inclusão Escolar de Pessoas com Deficiência Fonte:A autora. 19 Para os docentes responderem a questão seguinte da entrevista: “há propostas para Inclusão Escolar de pessoas com deficiência no PPP da escola?”, eles deveriam ter conhecimento do PPP construído na escola. No entanto, apenas uma professora teve convicção em dizer que a inclusão não estava prevista no PPP atual da escola. Todas as demais deram respostas vagas com base somente em suas opiniões, revelando não ter contato com o Projeto Político Pedagógico. As professoras ignoram, assim, a assertiva de Carvalho (2008) quando salienta a necessidade da participação de todos. Dados relatados no “Quadro C”, abaixo. defender o PPP expondo que nas “[...] escolas inclusivas, educadores, gestores, famílias e comunidade estão em parceria, desenvolvendo conversações reflexivas como ação permanente e prevista em seu projeto político pedagógico”. QUADRO D – O significado real do PPP para a Inclusão Escolar de pessoas com deficiência QUADRO C – A inclusão escolar prevista no PPP Fonte:A autora. Pode-se analisar o significado dado pelos docentes ao PPP, ao nível do manifesto nos discursos e do manifesto nas ações e planejamentos. Percebendo as seguintes categorias em ambos: “a) Os docentes acreditam que o PPP favorece a efetivação da inclusão”; e “b) Os docentes não acreditam que o PPP favorece a efetivação da inclusão”. Por fim, chegamos à questão norte do estudo: qual é o significado real do PPP A falta de formação referente à inclusão é para a Inclusão Escolar de pessoas Ficou marcada no discurso posta como um dos pontos essenciais pelos com deficiência? Ao respondê-la professores. dos profissionais, em sua maioria, (registros no “Quadro D”, abaixo), a ênfase na importância do PPP os professores assumem, em sua enquanto marco norteador das ações da escola, maioria, um discurso muito próximo acerca da o que viabilizaria um planejamento das propostas importância do PPP para os planos da escola e ações a serem desenvolvidas, como a própria no geral e para a adaptação da escola para a inclusão de pessoas com deficiência, prevendo realização da inclusão, bem como na realização adaptações para a estrutura e questões para da formação e da capacitação dos profissionais. a formação dos professores para atuar com as A resposta de um dos professores sintetiza a crianças com deficiência. Destaca-se a categoria: ideia dos demais, quando diz que O que fica explícito é que a ideia de inclusão “a) Os docentes acreditam que o PPP: “Tem importância, ele é o já nasceu na sociedade, está germinando o PPP favorece a efetivação da projeto, é o marco de orientação, de nas escolas e nos professores e dando inclusão”. planejar. E projetar leva a funcionar alguns frutos aos nossos estudantes. e, ao menos, a ter tentativas. Ele é Já, ao nível das ações e de suma importância”. No discurso, planejamentos, para além do discurso, pode-se apreendem a ideia de Carvalho (2008, p. 26) ao 20 notar o desconhecimento por parte da maioria dos professores acerca do conteúdo do PPP, principalmente quanto à inclusão escolar de pessoas com deficiência. Apesar de ser apontado como de “suma importância”, o PPP no cotidiano escolar, no “saber fazer”, é utilizado apenas em seu sentido discursivo, deixando de ter importância quando a esfera passa a ser a da realização. Assim, nesse nível, tático e operacional, na interpretação dos dados obtidos prevalece a categoria “b) Os docentes não acreditam que o PPP favorece a efetivação da inclusão”. objetivando um impacto social efetivo nos injustificáveis processos de exclusão social a que têm sido submetidos diversos grupos da sociedade civil, há necessidade de uma releitura das políticas públicas em andamento”. A partir de toda a reflexão proposta, destacase a relevância de regar as consciências e as atitudes de cada um nas diversas esferas do setor educacional brasileiro para que a inclusão seja mais do que uma fase. Pois, como afirma Prieto (2006, p.35): “Se os princípios da educação inclusiva vêm se fortalecendo desde meados da década de 90, na prática é o modelo da integração escolar que ainda predomina”. Ainda, pode-se ir mais além e refletir sobre a relação inclusão e posicionamento dos docentes da escola com base em duas categorias complementares: “a) Saber conhecer a inclusão” 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS e “b) Saber fazer a inclusão”. Os Mesmo nas escolas em que se matriculam professores mostraram um saber Assim, percebe-se que não os alunos com necessidades educativas conhecer sobre a inclusão e a sua há um Projeto Político-Pedagógico especiais está presente ainda a filosofia relação com o PPP. No entanto, de integração e não a de inclusão que rege da inclusão. As escolas em sua quanto ao “saber fazer a inclusão”, todas as práticas e convívios no espaço maioria, enquanto instituição e para lidar com a diversidade de modo escolar. pessoas que a compõem, não esa compreendê-la e atendê-la devidamente, as tão preparadas para agir alinhadas com a filosofia professoras demonstraram no discurso, nas ações inclusiva. Existem, ainda, muitos casos em que e planejamentos que não saberiam e não teriam não se vê “a pessoa com deficiência” e sim “o decondições do lidar com ela na situação atual, como ficiente”. Ainda, são criadas escolas segregadas e, previu Bueno (1999), ante o cenário vigente de até mesmo, escolas especiais que atuam de modo formação de professores. substitutivo ao ensino regular sem um nível avaliativo das condições do alunado e raras perspectivas A falta de formação referente à inclusão é posta de progressão. como um dos pontos essenciais pelos professores. Glat (2002) aponta que os professores não recebem Mesmo nas escolas em que se matriculam capacitação, formação e instrumentalização os alunos com necessidades educativas especiais suficientes para atender às distintas formas de está presente ainda a filosofia de integração e não aprendizagem do alunado. Desse modo, os a de inclusão que rege todas as práticas e convídocentes apresentam um alto grau de dificuldade vios no espaço escolar. Há até uma aceitação pela ao planejar em torno da desconhecida inclusão, o presença, mas falta a responsabilidade pela convique se reflete nos aspectos omissos do PPP. vência nas diferenças. Esse contexto justifica a ausência de PPP, ou seu uso de forma burocrático e O que fica explícito é que a ideia de inclusão engavetado, numa visão de integração. Isso reflete já nasceu na sociedade, está germinando nas uma realidade que precisa se ver e rever, ter seu escolas e nos professores e dando alguns frutos projeto do que é e do que será com as medidas aos nossos estudantes. No entanto, para uma necessárias para isso. Inclusão responsável, se faz necessário uma política pública. Como afirma Matiskei (2004, p. A partir dos dados coletados pode-se notar o 188): “Para cumprir esse papel com eficiência, desconhecimento por parte da maioria dos profes- 21 sores acerca do conteúdo do PPP, principalmente quanto à inclusão escolar de pessoas com deficiência. Apesar de ser apontado como de “suma importância”, o PPP, na realidade da escola, não se concretiza pelo “saber fazer”. E é utilizado para embasar discursos dissonantes com a prática. Um problema na formação docente que repercute em todo planejamento escolar. A situação da Nelson Pessoa se apresenta entre um avanço, na matrícula de pessoas com deficiência, e o atraso, na ausência de um projeto de inclusão. Faltam planos diretivos que movimentem as ações do grupo, bem como faltam pessoas formadas e capacitadas para fazê-lo. A partir dos discursos dos professores, observa-se que há uma esfera dos planos que não seguem para uma esfera operacional. O grau acadêmico, inclusive com especialização, adverte através das fundamentações teóricas da importância do documento, no entanto, para além do saber conhecer, se faz necessário o saber fazer, uma revisão na formação. A consideração das categorias “estrutura adequada” e a “formação para educação inclusiva” como essenciais para começar a pensar o trabalho com a heterogeneidade revela a tendência à concepção de Inclusão Condicional pelos professores da Nelson Pessoa. Pois, apesar de admitir que a escola não esteja preparada, não há indícios, nas falas dos professores, sobre a tomada de responsabilidade perante esse processo, nem tampouco ações de apoio e ajuda que os incentive a tal. Espera-se que as discussões aqui propostas possam embasar a formação de um ciclo virtuoso, na busca do “saber fazer”, em que se busque o projeto de inclusão com ações emergenciais e a longo prazo, alcançando a tão desejada capacitação de professores. O PPP tem significado marcante e indiscutível para dar uma guinada na inclusão escolar, alcançando uma Inclusão Responsável ou, até mesmo, uma Inclusão Total. REFERÊNCIAS BRASIL. Senado Federal. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal,1988. BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: Senado Federal,1996. BRASIL. Senado Federal. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC,2008. BRASIL. Programa Mais Educação: passo a passo. Brasília, MEC/Secad, 2009b. Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_ maiseducacao.pdf>. Acesso em: 01/12/2013. BRASIL. Resolução nº 4, de 02 de outubro de 2009. Diário Oficial da União. Brasília, 2009. BUENO, J.G.S. Crianças com necessidades educativas especiais, política educacional e a formação de professores: generalistas ou especialistas? Revista Brasileira de Educação Especial, n.3, p. 12, 1999. 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In: VEIGA, Ilma dos Passos Alencastro; RESENDE, Lúcia Maria Gonçalves de. (Orgs.). Escola: espaço do projeto políticopedagógico. Campinas: Papirus, 1998. p. 9-32. 23 ARTIGO VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ? VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?: O DESAFIO DA FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARA A ESCOLA INCLUSIVA Luciana Martins Vieira Pedagoga formada pela PUCRS. Especialista em Educação Infantil pela UFRGS. Especialista em Educação Especial Inclusiva pela Uniasselvi. Professora da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre. Contato: [email protected] RESUMO O presente artigo é resultado de uma revisão bibliográfica e tem como tema central o desafio da formação de professores para a escola inclusiva. Com o objetivo de responder à seguinte questão: por que os professores tem medo de receber em suas turmas alunos com necessidades especiais? Este artigo traz inicialmente a recapitulação das leis que embasam a escola inclusiva e determinam a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais na escola comum. Em seguida, aborda a questão do medo e do luto dos profissionais da educação ao se depararem com a obrigatoriedade e a imposição de atenderem estes alunos nas turmas regulares. A formação e a preparação desses professores, a remoção de barreiras físicas, arquitetônicas e atitudinais, a construção de equipes de trabalho que atuem em rede e a participação da família no processo de escolarização dos alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular são abor- 24 dadas na sequência do texto que termina com algumas reflexões, apontamentos e possíveis caminhos a serem seguidos diante da inclusão de alunos Palavra-Chave: Educação Inclusiva. Formação de professores. Necessidades Educacionais Especiais. 1 INTRODUÇÃO Este material baseia-se na metodologia de revisão bibliográfica partindo da leitura de obras relacionadas à temática de Inclusão e formação de professores para trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais. Propõe elucidar algumas questões que permeiam a preparação de professores para atuar nas escolas inclusivas. Pode-se dizer que a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas esco- las de ensino regular é recente. O tema está em evidência na mídia (escrita, televisiva e online) e em encontros (seminários, congressos e reuniões) há quase duas décadas, data das primeiras legislações e acordos sobre o tema como a Declaração de Salamanca em 1994 e LDB 9394 de 1996. Até a década de 90 a única opção de escolarização disponível era a escola especial e algumas instituições filantrópicas. Muitas dessas pessoas ficavam em casa sob os cuidados das famílias, pois na escola regular não havia lugar para elas, dificultando e/ou impedindo não só sua escolarização como a sua socialização ao privá-las do contato, do convívio e do encontro com os outros alunos. Na década de 70 houve expressivo aumento das classes especiais nas escolas públicas de ensino comum, destinadas a alunos com deficiência mental. Além disso, as referidas classes passaram a constituir-se também como espaço de atendimento aos alunos com dificuldades de aprendizagem, bem como àqueles com problemas de comportamento. Estes ingressavam nas turmas regulares e posteriormente eram encaminhados para as classes especiais. (TEZZARI, 2011, p.110). Era bastante comum que estas turmas ficassem distante das demais, assim como ter o recreio e outras atividades em horários diferentes dos outros alunos. Enquadravam-se os alunos em categorias patológicas que buscavam a cura através de atividades manuais e de O argumento mais difundido era O argumento mais difundido era de que repetição. de que nas escolas especiais nas escolas especiais os alunos com os alunos com necessidades necessidades educacionais especiais Atualmente amparados por educacionais especiais enconencontrariam profissionais capacitados uma legislação que assegura a trariam profissionais capacitados para atender essa demanda: pedagogos, matrícula de todos os alunos na para atender essa demanda: psicólogos, neurologistas, entre outros. rede regular de ensino, como a pedagogos, psicólogos, neuLDB 9394/96 e a resolução CNE/CEB nº2 de 11 rologistas, entre outros. E também encontrade setembro de 2001. Os alunos com necessiriam outros alunos na mesma situação que a dades especiais têm garantido seu direito de fresua, tendo, assim, contato com os iguais. quentar a escola comum. [...] Enquanto a instrução escolar era restrita a o autor demonstra que as abordagens A perspectiva inclusiva vai DE uma pequena parcela da ambientais e ecológicas da economia, por encontro ao modelo de escola população, os mesmos fazerem concessões à racionalidade e à homogeneizadora que conhecemos, passavam despercebidos. racionalidade instrumental, não conseguem uma vez que para poder trabalhar Os indisciplinados eram com essa diversidade em sala de questionar as causas centrais da crise aula, é preciso considerar diferentes expulsos e os atrasados eram ignorados. Na medida ambiental, na medida em que enfrentam as ritmos, formas e modalidades de em que os países ampliaram referidas contradições. aprendizagem, sem perder de vista o a escolarização para toda coletivo, que também nos exige muito. a população, esse “tipo de aluno” passou a (TEZZARI, 2011, p.111). frequentar a escola e a inquietar professores e gestores escolares, tornando-se um A escola deve se preparar para receber este problema para o qual era preciso encontrar aluno, o professor precisa estar ciente de que solução. (TEZZARI, 2011, p.109). A solução encontrada para atender a estes alunos foi a criação de espaços separados como as classes especiais. A escola regular criava barreiras frente à diferença e, por que não dizer, diversidade, por puro desconhecimento. Por basear sua prática partindo daquilo que o aluno não sabe. para atender um aluno com necessidades especiais não pode esperar a mesma resposta dos demais. Seu planejamento deve ser adaptado às necessidades dele, partindo do que o aluno sabe, identificando potenciais, pois estes é que irão alavancar o processo de ensino aprendizagem. No dia a dia percebe-se a complexidade desse processo que envolve mudança em muitos 25 25 aspectos, como os referentes à flexibilização do currículo, apoio aos professores, adaptação do espaço físico e inclusão da família nesse contexto, trazendo informações importantes sobre o aluno. A meta primordial da inclusão é a de não deixar ninguém no exterior do ensino regular, desde o começo. As escolas inclusivas propõem um modo de constituir o sistema educacional que considera as necessidades de todos os alunos e é estruturado em função dessas necessidades. Assim a educação inclusiva contribuiria para uma maior igualdade de oportunidades a todos os membros da sociedade, sem necessariamente referirse somente às pessoas com necessidades especiais. (LAGO; LOSS, 2008, p.110) Nessa perspectiva a escola inclusiva se constitui pelo trabalho com a diferença, ao contrário da escola regular tradicional que se constitui pela cultura das semelhanças. A proposta de se vivenciar uma escola inclusiva com a capacidade de atender aos alunos em diferentes situações de aprendizagem é um desafio. E para a sua efetivação requer uma ação conjunta de todos os envolvidos para que esta escola seja possível. A seguinte seção trata da questão do luto e do medo dos professores em atender a esta demanda, já que nas universidades e centros acadêmicos a formação dos professores não é voltada para a diversidade, mas sim para a homogeneidade. A busca de uma escola que atenda a todas as necessidades de seus alunos sejam eles com necessidades especiais ou não passa também pela remoção de barreiras quer sejam: físicas, atitudinais, comportamentais, arquitetônicas. A preparação dos professores, através de cursos, formações continuadas, palestras. A mudança do trabalho de forma isolada para um trabalho colaborativo são pontos chave na construção de uma escola inclusiva. A construção de equipes de apoio com profissionais especializados e a participação da família, formando uma rede de colaboradores. Pois frequentemente os professores sentem que algumas necessidades dos alunos estão fora do seu alcance. Esse contato com diferentes profissionais 26 oferece mais segurança ao professor no trabalhar com o educando que apresenta necessidades educacionais especiais. 2 VOCÊ TEM MEDO DE QUÊ? Atualmente existem muitas publicações (PACHECO, 2007; MANTOAN, 2006; CARVALHO, 2011; BEYER, 2006; BAPTISTA, 2001) que tratam sobre a formação de professores para atuarem na educação inclusiva. Porém, o que chama a atenção é que mesmo sendo um tema bastante difundido e debatido em encontros, palestras e seminários, no dia a dia, na prática, no cotidiano das escolas, os professores continuam se sentindo despreparados para atender a essa demanda. E mais, muitos sentem medo de ter em sua sala de aula alunos com necessidades educacionais especiais. Basta uma conversa com um pequeno grupo de professores para perceber essa realidade. Mas onde está a raiz desse problema? Nos cursos superiores de formação docente? É possível, mas não somente. Historicamente a profissão do professor está ligada a imagem do mestre detentor do saber e dos alunos que nada sabem e que vão à escola para aprender. Segundo Lago e Loss (2008), a educação foi configurada para reproduzir ideais sociais que determinam formas de agir e atuar dos sujeitos em seus grupos e dos grupos em seu meio social. Os métodos de ensino eram baseados na concepção dominante de aluno ideal, possuidor de determinadas características, capacidades e comportamentos concebidos como normais pela sociedade. Os cursos superiores na área da Educação até bem pouco tempo atrás não traziam em seus currículos disciplinas que abordassem a questão da deficiência, das dificuldades de aprendizagem e da inclusão propriamente dita. Havia um curso específico para formar professores para atender a estes alunos que tinham as escolas especiais como única alternativa de escolarização e socialização. O caminho da inclusão é um processo eduEsse luto pode levar dias, meses ou anos e cacional inegável, mencionado pela Constituição essa mudança do fazer pedagógico não se dá soFederal em seu artigo 208, inciso III que prevê de mente para o professor em sala de aula, ela pasforma ampla em seu texto: “o atendimento edusa pela equipe diretiva e pedagógica das escolas cacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede O caminho da inclusão é um processo ou das redes que tem o papel de regular de ensino.” (BRASIL, 1988, educacional inegável, mencionado pela ajudar a todos a evoluir já que o p.138). Constituição Federal em seu artigo 208, professor geralmente trabalha soziinciso III que prevê de forma ampla em nho, de forma isolada. Outro documento que enfatiza seu texto: “o atendimento educacional Para atender alunos com neesse processo é a LDB, lei 9394/96, especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede cessidades educacionais especiais que estabelece em seu capítulo V regular de ensino.” (BRASIL, 1988, p.138). é preciso abrir mão das certezas e que a educação especial é uma saber contar com o outro, modalidade oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para alunos com necessidades especiais (art. 58), os quais terão acesso, quando necessário, a serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender suas especificidades. A Declaração de Salamanca originada a partir da Conferência Mundial em Educação Especial organizada pelo governo da Espanha em cooperação com a UNESCO proclama que “aqueles com necessidades educacionais especiais devem ter acesso à escola regular que deveria acomodá-los dentro de uma Pedagogia centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades”. Além da resolução CNE/CEB nº2 de 11 de setembro de 2001 que institui as diretrizes nacionais para a Educação Especial traz em seu artigo 2º que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos”. [...] trabalhar em equipe é assumir o luto de sua autonomia e de sua loucura pessoal. É conceder aos outros, por uma boa causa e sem os mecanismos de defesa que conservam a hierarquia a distancia, um direito de observar as práticas aplicadas, um direito e um dever de ingerência na sala de aula. É romper com a “lei ambiental” dos professores: “Cada um por si; depois de fechar a porta eu é que mando na sala e não me intrometo no que meus colegas fazem”. É enfrentar a diferença, o conflito, os problemas de comunicação e de poder entre adultos. (PERRENOUD, 2001, p.139-140). De acordo com a citação, precisamos abrir mão de ser a única referência, o líder, o maestro, aquele que detém o saber e o poder em sala de aula. Contudo, necessitamos aprender a ajudar e receber ajuda. Sair da posição central e se tornar um com todos. Conforme Perrenoud (2001, p.140) [...] se tornar organizador, pessoa recurso, mestre de apoio, criador de meios e sequências didáticas geradas em parte sem professor, oferecedor de feedback, negociador de contratos, inspirador de desejos e projetos, mediador entre os alunos e outras fontes de informação em vez de magister único Toda essa alteração vinda sob a forma de lei gerou medo dentro das escolas. Lidar com o desconhecido, com o diferente, mexe com sentimentos profundos. Desacomodar o que já está acomodado, desconstruir o que le- Toda essa alteração vinda sob a forma de vou anos para ser construído, sair lei gerou medo dentro das escolas. Lidar da zona de conforto. “Diferenciar com o desconhecido, com o diferente, mexe seu ensino é assumir o luto por re- com sentimentos profundos. presentações e práticas bastante cômodas.” (PERRENOUD, 2001, p.134). Dessa forma, para o professor diferenciar sua prática é preciso assumir o luto de sua prática antiga, obviamente é um longo caminho em que dúvidas, hesitações, temores circundam os pensamentos. 27 Mas, a inovação só se dará a partir do momento que o professor verbalizar o seu luto, trabalhá-lo, mostrar suas resistências, reconhecer as contradições para, então, elaborá-las e encarar a prática da educação inclusiva abertamente. A inclusão possibilita o aperfeiçoamento da prática pedagógica para os alunos com e sem deficiências, porém depende da motivação interna do professor para enfrentar as inovações. Estas inovações não se referem somente ao aluno com necessidades educacionais especiais, mas ao que apresenta dificuldade de aprendizagem, ao menino de rua, ao que se destaca pela inteligência e rapidez no raciocínio. Estes que mexem conosco, que provocam o encontro com o outro desconhecido, que nos colocam em perigo, que mostram nossos limites e fragilidades, mas que fazem ir além de nós mesmos. “É enfrentar a diferença em suas aparências menos abstratas, distâncias culturais e pessoais, conflitos, rejeições. Portanto, é aceitar trabalhar consigo mesmo, com preconceitos e imagens do aluno aceitável.” (PERRENOUD, 1994b, 1994c apud PERRENOUD 2001, p.138). mais apoio e atenção para superar o medo, o luto, as inseguranças e ansiedades, que advêm desse novo papel do professor, a educação para todos. 3 VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? Desejo, necessidade, vontade e atitudes, itens indispensáveis para a prática pedagógica nas escolas inclusivas [...] adotar uma pedagogia diferenciada significa desaprender, “desconstruir”, ultrapassar as práticas antigas para mudar. Isso não pode ser feito de forma inconsciente, com rejeição ou esquecimento, mas com integração do passado e das novas perspectivas [...] é preciso que seja um caminho compartilhado, que permita e a um situar-se, identificar seus próprios bloqueios e contradições como obstáculos totalmente normais, que não poderiam ser superados por meio de sua negação. (PERRENOUD, 2001, p. 144) As legislações que determinam a matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular já têm mais de uma década. E durante este período pouco ou nada se Essas inquietações mostram que as propostas fez para dar suporte aos professores que estão de reformulação da prática pedagóAs legislações que determinam a matrícula em sala de aula recebendo esses gica no ensino para a diversidade, de alunos com necessidades educacionais alunos. Também houve pouco inestão afetando os professores, leespeciais nas escolas de ensino regular já vestimento em adaptações dos esvando-os a sentirem-se desprepapaços escolares para adequá-los têm mais de uma década. rados para as transformações, que com rampas de acesso, corrimãos, reconhecem como importantes e barras de apoio, portas mais largas, nivelamento necessárias, porem não sabem por onde começar. de pisos, equipamentos pedagógicos para salas de recursos, softwares educativos etc. Muitos professores conseguem visualizar a inclusão como um caminho possível, pois já vivenPara adaptar é preciso remover barreiras, iniciaram experiências que lhes provaram que isso cialmente as arquitetônicas, mas também barreié viável. Outra parte dos professores está percorras pedagógicas e atitudinais. rendo o caminho da busca através da literatura, contato com outros profissionais, cursos, etc. e O que se pretende na educação inclusiva tem aqueles que não conseguem Muitos professores conseguem visualizar é remover barreiras sejam elas se desprender de hábitos incrusta- a inclusão como um caminho possível, extrínsecas ou intrínsecas aos alunos, buscando-se todas as formas de dos e não se permitem lançar, so- pois já vivenciaram experiências que lhes acessibilidade e de apoio de modo bre a sua prática, um novo olhar, provaram que isso é viável. a assegurar (o que a lei faz) e, principalmente garantir (o que deve novas propostas, técnicas e proceconstar dos projetos político-pedagógicos dos dimentos. Estes são os que necessitam receber sistemas de ensino e das escolas e que deve 28 ser executado), tomando-se as providências para efetivar ações para o acesso, ingresso e permanência bem sucedida na escola. (CARVALHO, 2005, p.72). Para remover as barreiras do ensino é preciso dar suporte aos professores através de programas de formação continuada e incentivo às especializações. Pois, ao se familiarizar com esse mundo novo que é a inclusão, o medo e as barreiras se dissolvem. Para Mantoan (2005), as barreiras para a aprendizagem e para a participação estão relacionadas à construção de conhecimentos, com as interações entre os alunos, seus educadores, familiares e objetos de conhecimento. Nesse sentido, um esforço coletivo de todos os envolvidos (poder público, escola e famílias) facilitaria o trabalho no processo de inclusão. Outro ponto importante dentro das propostas de inclusão é a adaptação curricular para os alunos com necessidades educacionais especiais. Buscar propostas que rompam com o paradigma clínico-médico. Para Carvalho (2005, p.107), A proposta é, portanto, a de ressignificar a prática pedagógica nas classes comuns, tendo em conta: a sala de aula (aspecto físico/arquitetônico, arrumação do mobiliário, o clima afetivo, etc.) a ação didáticopedagógica (planejamento dos trabalhos em equipe; atividades curriculares “fora da escola”, como passeios, excursões, visitas) revisão da metodologia didática, desenvolvendo-se mais trabalhos em grupo, pois favorecem a aprendizagem cooperativa; adoção de recursos da tecnologia informática, preparação do material didático; adequação do vocabulário do professor; mais escuta dos alunos; adoção da pesquisa como estratégia de ensino/aprendizagem; organização de adaptações curriculares, principalmente as de acesso; substituição do dever de casa pelo PRAZER de casa; revisão dos procedimentos de avaliação do processo de ensino-aprendizagem (entendendo-se a avaliação como subsidio ao planejamento...). Nesse aspecto, qualificando o currículo, as propostas, a avaliação e o olhar, todos os alunos se beneficiam da inclusão. Pois um professor melhor preparado é mais seguro em sua pratica e torna suas aulas mais criativas e atrativas. Mostrando que há compreensão das diferenças e do direito que cada criança tem de aprender. Porém, essas mudanças externas e atitudinais se tornam mais fáceis quando há parceria entre os professores e o grupo de trabalho da escola, formando uma equipe que dá apoio e suporte ao professor em sala de aula, desenvolvendo ações de forma conjunta e responsável. Sente-se que a inclusão é uma preocupação da escola toda, e não apenas de uma determinada turma. Portanto, enfatiza-se a necessidade de que as escolas formem uma equipe ou equipes colaborativas de funcionários para apoiar o trabalho dos professores de turma em questão. Essas equipes poderiam incluir o diretor, o coordenador dos alunos com necessidades especiais e outros membros da equipe com conhecimento e habilidades relevantes. (PACHECO, 2007, p.49). O professor precisa permitir-se não saber tudo e colocar-se na condição de aprendiz. Dessa forma, aprender se torna mais fácil e a qualificação do trabalho docente cresce. Segundo Lago, (2011, p.103), Promover trocas efetivas entre os educadores da mesma escola e que a principio não compartilham das mesmas ideias, seria uma forma de avançar na construção de novas possibilidades, implicando um maior numero de profissionais na resolução de problemas que surgem no contexto educativo. A formação de professores é o caminho para que haja coesão entre teoria e prática, é quando a construção de conhecimento e o estudo se fundem com a troca de experiências e a análise das próprias vivências. A formação de professores, nesse sentido, visa a promover não só a instrumentalização pedagógica com recursos e técnicas, ou o esclarecimento sobre as síndromes e deficiências, mas 29 também a ruptura de paradigmas. Conforme aponta Beyer (2006), emerge como uma necessidade a fim de promover a inclusão. No paradigma clinico-médico, a deficiência é vista de forma individualizada, em que os aspectos clínicos da deficiência são tratados. Por isso, muitas vezes, há a indicação da escola especial, já que lá existem recursos na área terapêutica. É como se fosse procurada a cura para cada indivíduo. Esse paradigma se opõe ao que se propõe na educação inclusiva que é partir daquilo que há no aluno, das suas potencialidades e não daquilo que lhe falta. aprendizagem dos alunos, e, para isto analisar todos os fatores implicados no sucesso ou na dificuldade da sua aprendizagem. A formação de uma equipe de apoio dentro da escola é um caminho possível para a efetivação da inclusão. O contato do professor com os diferentes profissionais que atendem este aluno é fundamental para compreendê-lo de forma global. Mas, dentro da escola, é preciso que haja colaboração entre todos os envolvidos nesse processo. Para Pacheco (2007, p.130): A colaboração tem várias dimensões, formas No paradigma sistêmico, conforme Beyer e propósitos. Como acontece com muitos aspectos do ensino e da aprendizagem, é (2006), a deficiência apresentada pelo aluno é importante que as escolas reconheçam que avaliada com base nas demandas impostas pelo a colaboração precisa ser praticada ampla sistema escolar. Ou seja, aqueles que não consee frequentemente a fim de melhorar as guem acompanhar os demais, cumprindo o que habilidades colaborativas com o pessoal e com os alunos. é estabelecido pelo currículo escolar, são encaminhados para escolas ou classes No paradigma sistêmico, conforme Beyer A colaboração para melhorias especiais. Mais uma vez não é o (2006), a deficiência apresentada pelo que se espera em uma escola que aluno é avaliada com base nas demandas e mudanças, com a equipe multidisciplinar, com os alunos, com a atende a diversidade. Não é o alu- impostas pelo sistema escolar. equipe pedagógica são fundamenno que deveria se adaptar ao contais para o andamento do trabalho, o desenvolviteúdo, mas o professor que deveria ensinar aquemento e crescimento do aluno. Pois este aluno é le conteúdo de uma forma que o aluno seja capaz de toda escola, ele tem uma caminhada a fazer, de aprender. Para Beyer, (2006, p.92): vai passar por vários professores. Por isso, para A partir do paradigma sociológico(c), a Pacheco (2007, p.131): deficiência é definida por um processo de atribuição social [...] a deficiência é interpretada por meio da reação do grupo social. A forma como o grupo reagir à situação da deficiência poderá implicar o agravamento (pelo preconceito ou incompreensão) ou o alívio (pela empatia ou compreensão) da situação individual. Ao unir forças e compartilhar pontos de vista, o pessoal cria uma comunidade de aprendizagem para si mesmos dentro da escola uma escola inclusiva baseia-se em pontos de vista compartilhados e na concordância do pessoal. A educação para a cidadania planetária A participação da família no cotiCada paradigma gera um im- consiste na renovação dos currículos nos diano das escolas inclusivas permite pacto forte sobre a forma de rece- sistemas formais e na educação popular, aos familiares uma visão mais ampla do ber e lidar com o aluno com neces- engajando sua adesão em todos os níveis processo educativo que vai muito além sidades especiais, superá-los é um de ensino. A cidadania está relacionada da socialização. Também aproxima as desafio urgente já que representam com a consciência e, a formação desta famílias dos professores, auxiliando-os juízo de valor sobre os indivíduos. depende da educação (GADOTTI, 2010). no contato com estes alunos, trazendo E não é papel do professor julgar ou classificar. contribuições importantes sobre eles. Beyer (2006, p.102), reforça: Ninguém é ou deve se arvorar juiz do outro, porém é função dos professores assumirem plenamente sua posição de promotores da 30 Considerando a história da integração/ inclusão escolar em diferentes países, salienta-se o fato de que a mesma contou com a iniciativa e a colaboração decidida de pais de crianças com deficiência, inconformados com a separação (segregação) escolar de seus filhos. E também o engajamento de professores que viam na iniciativa dos pais uma aspiração justa e a possibilidade da implementação de um projeto pedagógico diferenciado e necessário! (BEYER, 2006, p.124). A educação inclusiva convida os pais a participarem do cotidiano da escola, ao contrário do ensino regular tradicional, em que as famílias ficam de fora do que acontece no dia a dia escolar. A educação inclusiva ainda tem um longo caminho para trilhar. Muitas barreiras para transpor. Como o fortalecimento dos serviços educacionais especializados, flexibilidade curricular, formação de professores, disponibilização de recursos, participação da família no processo de inclusão. A mudança de atitude frente à escola das diferenças traz em si a necessidade de repensar o trabaDevemos superar a fragmentação das lho pedagógico desenvolvido. Essa áreas de conhecimento por abordagens é uma barreira complexa e difícil de interdisciplinares, tanto na escola como nas remover, pois exige do professor a universidades e nos centros de pesquisa, mudança que vem de dentro para conciliando, por exemplo, a realização de fora. E para isso acontecer é preciatividades físicas em meio a natureza ou so de tempo. em habitações construídas preocupandose com a sustentabilidade. O grande desafio que se impõe As escolas inclusivas mudam da tradição de informar os pais sobre decisões tomadas pelas escolas com relação a seus filhos. Em vez disso, elas vêem os pais como parceiros igualitários. Dessa forma, os pais são vistos como aqueles que conhecem melhor as crianças e preocupam-se com elas fora do período escolar, e o pessoal das escolas é visto como os especialistas em aprendizagem. Consequentemente, a prática inclusiva constrói uma equipe de profissionais e pais a fim de formar políticas, tomar decisões e planejar para a criança, etc. (PACHECO, 2007, p.133). para a escola inclusiva é conseguir articular todas essas esferas para que forme uma rede efetiva de ações em prol da inclusão. Isso se torna possível somente quando acreditamos no potencial de cada aluno, na grandeza que a diferença pode significar e na capacidade que cada um tem de ensinar e aprender. As famílias são vistas como colaboradoras no processo de ensino e têm muito a contribuir, trazendo informações preciosas sobre seus filhos. Dados que auxiliam o professor a compreender melhor o seu aluno, fazendo com que este evolua em suas aprendizagens. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da necessidade, imposta por uma legislação vinda de esferas superiores, de uma escola que inclua, emerge o desejo e A partir da necessidade, imposta por uma a vontade de se fazer uma escola legislação vinda de esferas superiores, de que seja realmente para todos. uma escola que inclua, emerge o desejo e Mas, isso que, para muitos, pare- a vontade de se fazer uma escola que seja ce utopia só se tornará realidade realmente para todos. a partir do momento que houver mudança de atitude frente a tudo que se relaciona com a inclusão. 31 REFERÊNCIAS BAPTISTA, Cláudio Roberto; JESUS, Denise Meyrelles de, (org.). Avanços em políticas de inclusão: O contexto da educação especial no Brasil e em outros países. 2ed. Porto Alegre: Mediação, 2001. BEYER, Hugo Otto. Inclusão e avaliação na escola de alunos com necessidades educacionais especiais. 2ed. Porto Alegre: Mediação, 2006. BRASIL. Constituição Federativa da República do Brasil de 1988. Brasília, 1988, Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm>. Acesso: 08 mar.2013. BRASIL. Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional. LDB nº 9394. Brasília, 1996. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L9394.htm>. Acesso em 08 de mar. de 2013. BRASIL. Resolução CNE/ CEB nº 2. Brasília, 2001. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ resolucao2.pdf>. Acesso em: 08 de mar. 2013. CARVALHO, Rosita Edler. Escola Inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico. 4 ed. Porto Alegre: Mediação, 2011. _____. Educação Inclusiva: com os pingos nos “is”. 3ed. Porto Alegre: Mediação, 2005. ESPANHA. Declaração de Salamanca. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>. Acesso em: 08 mar. 2013. PACHECO, José; EGGERTSDÓTTIR, Rósa; MARINÓSSON, Gretar L. Caminhos para a inclusão: um guia para o aprimoramento da equipe escolar. Porto Alegre: Artmed, 2007. PERRENOUD, Philippe. A Pedagogia na escola das Diferenças: Fragmentos de uma sociologia do fracasso. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2001. 32 33 ARTIGO PSICOLOGIA AMBIENTAL: A PERCEPÇÃO DE AMBIENTES/ESPAÇOS RESTAURADORES NAS ESCOLAS E EM EDUCANDOS COM TDAH Autora: Sandra Puff. Doutoranda em Psicologia – Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC . E-mail: [email protected] Autora: Ariane Kuhnen. Formação: Psicóloga e Doutora em Ciências Sociais – UFSC. E-mail: [email protected] Resumo O presente artigo apresenta-se sob a estética dos ambientes restauradores, o qual é uma vertente dos estudos da Psicologia Ambiental (PA). Tendo em vista que ao estudar os ambientes restauradores pode-se dimensioná-lo e transportar esse assunto para os ambientes escolares, dessa forma há uma contribuição para um comparativo entre o ambiente escolar desejável e o ambiente no qual a pesquisa foi feita. Sob essa perspectiva, também, verificamos como o ambiente natural ou construído pode interferir nos educandos com TDAH de uma instituição educacional no município de Blumenau. Dessa forma, é imperativo demonstrar como é percebido um ambiente 34 restaurador com o principal objetivo de compreender como os sujeitos percebem ambientes que podem ser restauradores ou nocivos para os educadores e educandos. A pesquisa se mostra de modo exploratório, ilustrada com imagens e com os procedimentos técnicos de pesquisa bibliográfica. A coleta de dados está baseada na observação do ambiente e educandos com TDAH em que a professora/pesquisadora atua, dando ênfase à revisão bibliográfica e apresentando resultados tímidos por se tratar de um tema, ainda, novo no município de Blumenau. Palavras-Chave: Psicologia Ambiental; Ambientes Restauradores; Ambientes Escolares; TDAH; Práticas Restauradoras. “Era [...] lá do bosque que eu escapava aos olhos apreensivos da família; amainava a febre dos meus pés na terra úmida, cobria meu corpo de folhas e, deitado à sombra, eu dormia na postura quieta de uma planta enferma vergado ao peso de um botão vermelho, não eram [...] aqueles troncos todos ao meu redor, velando em silêncio e cheios de paciência meu sono adolescente? [...] meu sono, quando maduro, seria colhido com a volúpia religiosa com que se colhe um pomo” (NASSAR, 2003 p.13-14). na compreensão das relações do homem com seu ambiente. Trata-se, portanto, de uma posição nova, uma diferente e mais consistente maneira de entender o desenvolvimento humano e social. A psicologia ambiental nasce de uma vertente multidisciplinar, ou seja, dialoga com várias áreas do conhecimento como a antropologia, sociologia, geografia, entre outras e, dessa maneira, propõe uma visão integrada da relação do sujeito com o ambiente, também relaciona que essa integração aconteça na própria produção do conhecimento. Assim, salienta-se que as pesquisas 1 INTRODUÇÃO atuais demonstram grande iniciativa em termos de mudança de comportamentos, hábitos que poA psicologia ambiental deriva da psicologia, dem gerar consciência entre a relação do homem esta estuda as relações dos sujeie o espaço/lugar e a psicologia amA psicologia ambiental deriva da psicologia, tos, ou seja, o ser humano com o biental verde, esta que se dedica a esta estuda as relações dos sujeitos, ou ambiente/espaço no qual está in- seja, o ser humano com o ambiente/espaço pensar nos processos de sustentaserido e tem como primazia que o bilidade, o uso consciente da água, comportamento humano altera o ambiente e este dos espaços verdes como restauradores da saúaltera o comportamento humano. Essa relação de física e mental. do comportamento humano e o meio ambiente estão intrínsecos pelas percepções dos sujeitos, Este artigo está ancorado nas pesquisas feipor seus valores, por suas crenças e suas subtas pelos Kaplan & Kaplan (1989) na teoria da jetividades. Dessa forma, a Psicologia Ambiental restauração, na qual predomina duas abordagens estuda as inter-relações entre o comportamento e teóricas: o ambiente. Este pode ser o natural ou o ambien[...] os modelos dos Kaplans sobre a te que foi construído. Entende, também, que o ser preferência de ambientes e sobre a humano constrói relações, por meio da comprerestauração da atenção. Ambos são ensão de seus sentimentos, comportamentos que baseados na premissa de que o ambiente representa um conjunto de informações podem estar associadas ao meio físico e social. Tendo em vista que a psicologia ambiental se manifesta pelo interesse do comportamento humano e o ambiente, também faz-se uma interface com o meio ambiente, contextos sociais e físicos. Assim, a psicologia ambiental tem grande interesse sobre as condições do ambiente como os comportamentos individuais, ou seja, como esse indivíduo percebe o espaço, como atua sobre ele e como percebe seu entorno. A psicologia ambiental pode ser considerada a psicologia do espaço/lugar onde os indivíduos interagem, em suas casas, escolas, comunidades, ou seja, uma interação de relações da pessoa-ambiente. A noção de espaço e lugar ocupa uma posição central a serem processados pelos indivíduos. Quando os estímulos ambientais são incompatíveis com a ação, há a redução na capacidade do indivíduo de se concentrar em tarefas específicas. Esta capacidade pode ser restaurada através da exposição e uso de certos tipos de ambiente: ambientes naturais. Ambientes naturais têm o potencial de “restaurar” os níveis de atenção e reduzir níveis de stress. [...] (apud ALVES; BETRABET-GULWADI, 2008, p. 348). Ou seja, esta teoria da restauração, da atenção e do estresse está diretamente vinculada com a interação de ambientes naturais. Ainda, nessa proposta dos ambientes restauradores, com ênfase na recuperação do estresse e atenção, fractais de pesquisas de Yannick Joye, Agnes E. Van Den 35 35 Berg e Susana M. Alves. Segue outro momento deste artigo que trata dos ambientes escolares, o qual terá o embasamento teórico de Pablo Olivos e também de Frances E. Kuo que se dedicam às paisagens verdes como forma de saúde humana e na melhora dos sintomas da TDAH em espaços verdes. muita fadiga. Os tratamentos atuais, medicamentos e terapia comportamental, não funcionam em todos os casos e, em muitos, oferecem apenas um alívio limitado. Estudo de Taylor e Kuo (2006) compara os efeitos de atividades pós-escolares realizadas em ambientes ao ar livre verdes contra aquelas Este artigo é uma ilustração de um procesrealizadas em ambos os ambientes, ao ar livre so da revisão da literatura e faz uma correlação e indoor, construídos. Controlando a quantidade do ambiente escolar observado e desenvolve a de atividade física, tipo de atividade, a preferênanálise de estudos sobre as interações do ser hucia para a natureza, ou o tempo da medicação. mano com a psicologia ambiental, principalmente Constataram que o tempo gasto na natureza recom os ambientes naturais ou construídos que duz os sintomas de TDAH. Concluíram, ainda, venham a contribuir com as relações pessoa-amque, enquanto os medicamentos são eficazes biente. para a maioria das crianças com TDAH, são ineficazes para outras crianças. Dessa forma, uma dose verde, ou série de doses verdes, pode re2 TDAH E PRÁTICAS RESTAURADORAS duzir a necessidade da medicação de uma dose por dia, permitindo que as crianças recuperem o O transtorno de déficit de O transtorno de déficit de atenção e apetite e tenham uma boa noite de atenção e hiperatividade (TDAH) é hiperatividade (TDAH) é caracterizado por sono. caracterizado por um padrão per- um padrão persistente de desatenção e sistente de desatenção e impulsivi- impulsividade grave, sendo que os sintomas O trabalho eficiente consiste dade grave, sendo que os sintomas incluem a agitação, explosões, problemas de em ter a atenção em foco e essa incluem a agitação, explosões, pro- audição, dificuldade em seguir instruções e tarefa, especialmente para quem blemas de audição, dificuldade em problemas com foco em tarefas. sofre com o TDAH, pode levar à seguir instruções e problemas com fadiga mental e ao aumento do foco em tarefas. estresse. Um remédio para esta fadiga é a exposição à natureza. Crianças com TDAH que partiCrianças com TDAH, muitas vezes, apresencipam de atividades realizadas em ambientes ao tam índice baixo de desempenho em ambientes ar livre concentram-se melhor e mostram menos escolares, ou seja, um baixo rendimento acadêimpulsividade. mico que limita suas condições de desenvolvimento físico, psicossocial que irá interferir nas O estudo de Taylor e Kuo (2006), realizado amizades, rejeições, relações conflitantes com os pela Universidade de Illinois, demonstra que os pais e contextos familiares, tendem à agressivisintomas de TDAH em crianças são mais leves dade, à ansiedade, depressão e baixa autoestiapós as atividades em ambientes verdes. A cama, o que leva a um ínfimo convívio social. pacidade de concentração, concluir tarefas e seguir as instruções, melhora após um jogo em A medicação para a TDAH pode apresentar ambientes naturais verdes. A natureza melhora a eficiência, porém diminui o apetite, o sono e, em capacidade de prestar atenção, pois é envolvenalguns casos, levam à depressão. Faber Taylor e te, ela atrai nossa atenção sem esforço. E isso Kuo (2006) constatam que a TDAH afeta até 7% permite que a atenção deliberada, que exige esdas crianças. Estas sofrem com as dificuldades forço, para descansar, renovar e restaurar esteja crônicas ao prestar atenção e concentrar-se em disponível quando necessário. Tal estudo estava tarefas, o que pode resultar em um processo de pautado em pesquisas com pais e crianças com 36 TDAH e resumia-se em fazer atividades em espaços verdes naturais e espaços construídos. As atividades em espaços verdes naturais incluía o camping, a pesca e jogar futebol. As não-verdes: assistir televisão, jogar videogames e fazer tarefas. Já, as atividades como jogar futebol e patinação in-line, poderiam se desenvolver em ambos os espaços, uma vez que podem acontecer em espaços abertos verdes, ruas pavimentadas pouco arborizadas ou em espaços construídos. Dessa forma, havia de fato um relacionamento entre as atividades mais prováveis de ocorrer em ambientes verdes fossem muito mais propensas a serem justificadas como o melhor para os sintomas do TDAH. Atividades que eram prováveis de ocorrer em ambientes que não eram verdes eram mais propensas à indicação de piorar os sintomas. Os ambientes restauradores dizem respeito às pesquisas interessadas em investigar as propriedades que os ambientes, naturais ou construídos, possuem para disparar processos restauradores do ponto de vista psicológico e fisiológico, os quais são desencadeados por determinados ambientes ou configurações ambientais. Há um número considerável de experiências que demonstraram que os ambientes naturais tendem a ser mais restauradores do que ambientes urbanos ou construídos. A exposição a ambientes naturais restauradores pode contribuir para o bem-estar e a prevenção de doenças, bem como o alívio de agentes estressores. De acordo com Joye e Berg (2012), pesquisas em ambientes de restauração são direcionadas, principalmente, por duas explicações teóricas, cada uma com a sua própria interpretaOs resultados revelaram que atividades em ção da construção de restauração. Primeiro, a teambientes verdes naturais eram muito mais prooria de recuperação de esforço (ULRICH, 1983; pensas a deixar as crianças com TDAH mais caULRICH et al, 1991) que está preocupada com paz de se concentrar e prestar atenção. Estes a restauração do estresse que ocorre quando um resultados apontam positivamente ao uso de reindivíduo é confrontado com uma situação que creação ao ar livre em ambientes Os resultados revelaram que atividades é percebida como a exigência ou verdes como um tratamento com- em ambientes verdes naturais eram muito ameaça ao bem-estar. Em segunplementar para ajudar as crianças mais propensas a deixar as crianças do lugar, a teoria da restauração da com TDAH a reduzir os sintomas com TDAH mais capaz de se concentrar e atenção (KAPLAN, 1995; KAPLAN; nocivos, como também evitar al- prestar atenção. KAPLAN, 1989) centra-se na recuguns dos problemas da medicação peração de fadiga de atenção que estimulante, ou seja, as atividades são amplaocorre após o envolvimento prolongado em tamente acessíveis, de baixo custo e livre de efeirefas que são mentalmente fatigantes. Embora tos colaterais. Estas também podem oferecer altenha havido discussão sobre a compatibilidade, guma ajuda para os 10% de crianças com TDAH a recuperação do esforço e a teoria da restauque não são sensíveis à medicação. ração (KAPLAN, 1995; ULRICH et al, 1991), as duas teorias são geralmente consideradas como O estudo também diz respeito às atividades perspectivas complementares que se concentram e configurações de restaurar ou melhorar a caem diferentes aspectos do processo restaurativo pacidade das crianças para prestar atenção e (HARTIG; EVANS; JAMNER; DAVIS; GARLING, incentivá-las a cuidar e a proteger as árvores em 2003). Para Alves (2003, p.44): seus bairros e espaços comuns. E se os lugares Ambientes restauradores são aqueles que ondem moram não têm árvores, incentivar adiciopermitem a renovação da atenção direcionada nando-as à paisagem para torná-las mais acessíe, consequentemente, a redução da fadiga veis para aqueles que querem se beneficiar dos mental. Isso implica, necessariamente, uma condição de diminuição – nesse caso, de espaços verdes. 3 AMBIENTES RESTAURADORES atenção – e requisita um meio pelo qual essa atenção chegue a um estado de equilíbrio 37 para reduzir a fadiga mental. Como o conceito de ambientes restauradores faz parte da teoria da restauração da atenção proposta por Kaplan e Kaplan (1989,1995) [...] o conceito de atenção direcionada foi concebido com base na distinção feita por James (1898) em relação a dois tipos de atenção, voluntária e involuntária. Esta atenção direcionada diz respeito à atenção voluntária, ou seja, a ação que o sujeito faz precisa estar atrelada à concentração ou em tarefas que necessitem de outros estímulos ou ainda que suprimam quaisquer distrações. Um bom exemplo é quando o sujeito está escrevendo algo, realizando uma tarefa, uma redação e precisa suprimir qualquer estímulo competitivo, como deixar de navegar na web para se concentrar no que estava fazendo e o uso continuado deste mecanismo que inibe a ação de navegar para se concentrar no trabalho pode desencadear a fadiga ou ao cansaço mental. “Sinais de fadiga mental incluem comportamento antissocial, irritabilidade e diminuição na habilidade para desenvolver tarefas que exijam concentração” (ALVES, 2003, p.45). Com isso, é necessário a renovação ou restauração da atenção. Já a fadiga mental relaciona-se com processos em que, conforme Kaplan e Kaplan (1989, 1995), A capacidade de processar informações (entender e antecipar eventos) para atingir um determinado objetivo foi fundamental para nossos antepassados, os hominídeos, e mantém papel importante na vida moderna, na qual há a predominância de trabalhos e atividades especializadas. (apud ALVES, 2003, p.45). Em linhas teóricas, existem duas teorias que se destacam quanto à investigação de fenômenos dos Ambientes Restauradores, ou seja, a teoria da recuperação do estresse e a teoria da restauração da atenção. Vejamos os quadros 1 e 2: Quadro 1 - Teoria da Recuperação do Estresse Defende a ideia de que nossa resposta inicial acerca de um ambiente é de natureza afetiva e generalizante – “gosto, não gosto”, e ocorre de forma não-consciente. Respostas de afeto positivo surgem quando o ambiente apresenta componentes específicos como vegetação, texturas e ambientes sem ameaças. Estes elementos incitam o processo restaurador ao promover um descanso do estresse, diminuição do grau de excitação e sentimentos negativos associados ao medo. Caso a cena proporcione interesse suficiente, um processo cognitivo sobre o ambiente pode surgir, resultando numa experiência restauradora mais consciente e deliberada. Adaptado de Kaplan e Kaplan (1989; 1995). QUADRO 2 – Teoria de restauração da atenção Baseia-se na ideia de que as pessoas possuem capacidades limitadas de direcionar sua atenção a algo que não seja interessante por si só. A sobrecarga da capacidade executiva de inibir estímulos provoca sintomas de fadiga mental. Apesar de os ambientes naturais serem mais eficazes na redução dos efeitos da fadiga mental, ambientes construídos também são capazes de produzir resultados semelhantes. Entende que o ambiente pode inibir os efeitos da fadiga mental através de quatro atributos: Escape, Distanciamento Fascinação e Compatibilidade. Adaptado de Kaplan e Kaplan (1989; 1995). Em linhas teóricas, existem duas teorias que se destacam quanto à investigação de fenômenos dos Ambientes Restauradores, ou seja, a teoria da recuperação do estresse e a teoria da restauração da atenção. 38 Conforme Joye e Berg (2012), na pesquisa dos Kaplans (1989) para o ambiente ser considerado restaurador necessita de quatro características principais: 1)Escape: refere-se tanto à distância física quanto à conceitual, ou seja, está ligado ao fato de dirigir a lugares diferentes do dia a dia. 2) Escopo: o ambiente deve ter escopo suficiente para engajar a mente, assim ser considerado restaurador. O escopo refere-se à sensação de estar em contato ou perceber o mundo ao seu redor. 3)Fascinação: denomina-se o estímulo fascinante aquele que desperta atenção involuntária ou que não requer muito esforço em captar, sentir-se ligado ao lugar. 4)Compatibilidade: enfatiza o nível de congruência ou não existente no que o ambiente tem a oferecer, ou seja, o que o sujeito deseja realizar naquele momento. 3.1 CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS: NATURAIS E CONSTRUÍDOS Alves (2003) relata em seu artigo que Kaplan e Kaplan (1989; 1995) desenvolveram pesquisas a partir de excursões em regiões naturais em Michigan onde se comparava as preferências por cenários de ambientes naturais e construídos. Partindo desse pressuposto, desenvolveram suas teorias sobre os ambientes restauradores devido aos resultados positivos em relação às excursões [passeios] em ambientes naturais, ou seja, o espaço/ambiente natural se sobressai às pesquisas em ambientes construídos. Dessa forma, o cenário natural apontou para resultados positivos de como os sujeitos preferiam as cenas de ambientes naturais e, assim, surgiu a indagação de qual característica nos ambientes naturais surtia experiências de restauração ou descanso como também da atenção direcionada. Conforme Alves e Betrabet Gulwadi (2008, p. 348-349): [...] o ambiente representa um conjunto de informações a serem processadas pelos indivíduos. Quando os estímulos ambientais são incompatíveis com a ação, há a redução na capacidade do indivíduo de se concentrar em tarefas específicas. Esta capacidade pode ser restaurada através da exposição e uso de certos tipos de ambiente: ambientes naturais. Ambientes naturais têm o potencial de “restaurar” os níveis de atenção e reduzir níveis de stress. [...] A teoria também enfatiza os benefícios advindos da interação com ambientes naturais. Nesse sentido, ela expande o nosso entendimento a respeito das razões das pessoas preferirem vistas de ambientes naturais a ambientes urbanos, suas respostas de afeto ao ambiente natural, e sua organização em termos de uso e sistemas de atividades neste ambiente [...]. Neste nicho de experiências restauradoras em ambientes naturais há perspectivas evolucionistas que entendem que ao longo da evolução o ser humano foi beneficiado por ambientes naturais integrando instrumentos de segurança e preservação das espécies. Assim, o homem evoluiu para responder a estímulos como o do afeto positivo. Críticas metodológicas ou conceituais estão atreladas às teorias recentes como: a fluência perceptual que entende os ambientes naturais como formas percebidas mais fluentes e sem o esforço cerebral. Como também a conexão com a natureza, ou seja, o sentido de pertencer ao mundo natural e as experiências micro-restauradoras e efeitos instauradores que tendem a curtas exposições a ambientes com natureza, como exemplo: janelas, livros, que se mostram eficazes na diminuição do estresse. 4 O AMBIENTE ESCOLAR A questão da psicologia ambiental, aplicada aos ambientes escolares, está, diretamente, entre a psicologia e a pedagogia. Para Olivos (2010) estudar o ambiente escolar em seus aspectos físicos, atualmente, volta a ter grande importância devido ao significado da relação ser humano – ambiente, uma vez que Stern (2000) fala das novas concepções das inter-relações pessoais no ambiente escolar e Dorman (2002) 39 aborda os questionamentos e a missão da educação acerca das mudanças do mundo moderno. Podemos perceber essa mudança crescente que dialoga com os objetivos da escola. Nota-se que há problemas graves na educação como um todo, muito mais do que pensar, por exemplo, nos desenhos do ambiente escolar e da infraestrutura. Mas, ao mesmo tempo, existem desafios quanto ao desenho e também na gestão de espaços físicos e de ambientes escolares que necessitam de intervenções para aprimorar todo um processo de ensino-aprendizagem, pois estes problemas envolvem a interação social que se apresenta no sistema educativo. Entre outras razões, é justificado que a promoção de interatividades pessoais positivas passam por uma integração harmônica entre a escola e seu entorno, como ambientes internos e externos e também os arredores. Dessa forma, o ambiente escolar, assim como o ambiente interno ou externo, dizem respeito aos estudos da psicologia ambiental ao direcionar tanto as condições físicas das aulas, como o de favorecer a participação e aprendizagens, uma vez que o papel do ambiente é o de integração, atenção e aprendizagem. Os processos evolutivos do ser humano surgiram dos questionamentos sociopolíticos gerados de produtos educativos conservadores, porém, surgem contribuições notáveis desde a teoria do desenvolvimento humano elaboradas por Vygotsky, Piaget, Erikson e Bronfenbrenner que resultam nas interações com o ambiente e suas consequências sobre os enfoques pedagógicos modernos. Vygotsky (2005) segue com a importância do ambiente como fonte inesgotável de símbolos que representam fenômenos sociais e destes derivam estudos que analisam as propriedades, também, simbólicas dos ambientes físicos, ou seja, favorecem a aprendizagem de forma dimensional e completa. Segundo a teoria ecológica do desenvolvimento humano de Bronfenbrenner (1987), as mudanças de comportamento nos indivíduos se produzem devido à influência do ambiente, orga- 40 nizados em uma série de sistemas, que vão do micro ao macro-sistema, ou seja, o ponto central desta teoria, em relação ao ambiente educativo, reside na adaptação mútua entre o ser humano ativo, alterando as propriedades dos ambientes e mediações, que entram em uma dinâmica de interação mútua. A escola moderna requer que o educando permaneça mais tempo no espaço/ambiente de aprendizagem e este fator veio incrementar os espaços ocupados pelas escolas de maneira a enriquecer o cotidiano do educando como também dos professores e outros funcionários, ou seja, é uma evidente exigência desse mercado que requer muito cuidado ao moldar os sujeitos. Esse fator tende a numerosos recursos já propostos ao longo da história pedagógica por Froëbel, Montessori, Decroly, Freinet e Freire para citar alguns que contribuíram com estudos que repercutiram direta ou indiretamente com o desenho dos ambientes escolares que são mais conhecidos como modelos alternativos de ensino. Outro momento está ligado aos princípios como a funcionalidade do trabalho e a cooperação, na base psicológica de sua pedagogia o chamou ensaio experimental, que tinha como propósito a manipulação ativa e organização do ambiente pelas crianças com o propósito de compartilhar suas experiências. Dentre suas numerosas técnicas que definiram seus princípios educativos destacam-se as aulas passeios em que os professores e seus educandos saíam dos espaços escolares para observar o meio natural e humano com objetivos de registros orais e escritos dessas experiências que trabalhariam adiante em aulas clássicas. Outras inovações nos ambientes escolares foi a eliminação do piso mais alto, uma espécie de palco do professor, e o uso de instrumentos de comunicação para quebrar as formalidades, ou seja, ser mais espontâneo e, ainda, o desenvolvimento de atividades ao ar livre como: a agricultura como meio de aprender o sentido real dos princípios matemáticos, históricos, geográficos entre outros. 5 ESTUDO DE CASO O local da análise das observações está situado no município de Blumenau, no bairro Bom Retiro, e denomina-se Colégio Célestin Freinet, uma instituição de ensino para crianças e adolescentes. O local possui uma área total de 10 mil metros quadrados com área construída de seis mil metros quadrados que está distribuído entre salas de aula, coordenação, secretaria, demais dependências, salas diferenciadas para a educação infantil, ensino fundamental e médio. A instituição está em atividade por 29 anos, conta com 40 educadores e 239 educandos, sendo que oito têm transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Os ambientes físicos construídos contam com o pátio interno e externo e também com salas para oficinas de pintura, escultura, biscuit, música, gastronomia, teatro e quadras poliesportivas. Este estudo contou com o aval e colaboração da coordenação, sendo que esta foi de suma importância nas informações, nos pequenos detalhes e apoio à pesquisadora. O local de análise deste artigo vem ao encontro das investigações já feitas no campo da psicologia ambiental, dando maior enfoque ao ramo das pesquisas sobre ambientes restauradores e como estes podem ser benéficos aos educandos e aos que apresentam a TDAH, pois o espaço percebido pode contribuir de forma significativa no reparo e na restauração mental destes educandos. Ao trabalhar em uma escola com as concepções da nova escola correlacionamos alguns princípios usados pelos estudiosos aqui citados. O uso dos espaços construídos enriquecidos aos ambientes verdes. Este estudo de caso mostra as observações feitas acerca do ambiente escolar supracitado com imagens: Foto 1- Mata ao Fundo Fonte: Acervo da Autora Foto 2- Bosque “Oscar Niemayer Fonte: Acervo da Autora Foto 3- Espaço Horta Fonte: Acervo da Autora Foto 4- Vista da “Cidade Mirim” Fonte: Acervo da Autora 41 Foto 5- Disposição do Piso Cerâmico CONSIDERAÇÕES FINAIS A psicologia ambiental tem um grande papel A psicologia ambiental tem nos estudos modernos sobre o espaum grande papel nos estudos ço e a inter-relação do homem com o modernos sobre o espaço e a inter- meio ambiente. Este estudo nasceu relação do homem com o meio da psicologia e se identifica com áreambiente. Este estudo nasceu da as multidisciplinares. psicologia e se identifica com áreas multidisciplinares. Ficou claro que as pesquisas atuais demonstram grande iniciativa em termos de mudança de comportamentos, hábitos que Fonte: Acervo da Autora podem gerar consciência entre a relação do hoFoto 6- Vistas Verdes das janelas mem e o espaço/lugar e a psicologia ambiental verde, esta que se dedica a pensar nos processos de sustentabilidade, o uso consciente da água, dos espaços verdes como restauradores da saúde física e mental. Fonte: Acervo da Autora Foto 7- Praça da “Cidade Mirim” Fonte: Acervo da Autora Foto 8- Alameda “Cidade Mirim” Fonte: Acervo da Autora 42 Ao falarmos dos ambientes restauradores temos como ponto de partida as teorias de Kaplan que investigou as propriedades dos ambientes, naturais ou construídos, e como eles podem restaurar a fadiga e a atenção. A exposição a ambientes naturais restauradores podem contribuir para o bem-estar e a prevenção de doenças. Como tal, os ambientes restauradores são um tema de destaque no estudo de benefícios para a saúde. Levamos em conta que os processos evolutivos do ser humano surgiram dos questionamentos sociopolíticos gerados de produtos educativos conservadores, porém, surgiram contribuições notáveis desde a teoria do desenvolvimento humano elaboradas por Vygotsky, Piaget, Erikson e Bronfenbrenner, que resultam nas interações com o ambiente e suas consequências sobre os enfoques pedagógicos modernos. As escolas modernas evoluíram através de quebra de paradigmas em que muitos estudiosos do campo da psicologia e da pedagogia alcançaram grande êxito com suas técnicas e teorias que visam a colaborar com as novas práticas pedagógicas. Novos métodos e usos do ambiente natural fizeram com que Froëbel com seu jardim para crianças e Freinet seriam reconhecidos mundialmente. Freinet instaura a escola moder- na e contribui com as propostas conhecidas com alternativas de ensino, como as aulas passeio para a interação do educando com o meio em que ele vive e [se] reconhece. Ao apresentarmos o TDAH, reiteramos como esse transtorno é danoso à criança e também que muitos estudos na área da psicologia ambiental estão contribuindo para desmistificar que alternativas mais simples, não caras, e menos nocivas, podem ajudar aqueles que sofrem com esse transtorno, como o uso de áreas verdes como benefícios e o aproveitamento desses estudos para conscientizar e educar o ser-humano a respeito do uso sustentável de forma adequada. A observação do ambiente escolar, correlacionado com as teorias aqui apresentadas, mostra que a instituição favorece o ensino e a aprendizagem pelas condições apresentadas em termos de espaços construídos e espaços verdes bem cuidados e também em suas imediações. Os lanches são compartilhados ou coletivos, tendo uma gama variada de alimentos e frutas, o que favorece uma interação entre os educandos na hora do recreio e influencia na qualidade dos alimentos oferecidos no lanche, ou seja, uma variedade de frutas, sucos naturais, pães integrais são parte integrante do processo de educação e consciência. Há uma grande interação dos educandos quanto à cooperação e higiene. Eles, após finalizarem seus lanches, colaboram na limpeza das mesas, no recolhimento dos utensílios usados e na seleção do lixo advindo do lanche. Com essa ação os educandos se conscientizam mais sobre reciclagem e como esta seleção está diretamente ligada à preservação e à sustentabilidade, não só na escola, pois levam este aprendizado aos familiares. Também ao participarem desse processo aprendem de forma espontânea que cada um tem um compromisso, ou seja, que todos participam do começo ao fim deste lanche coletivo. A escola conta com um bosque denominado “Oscar Niemayer”, neste os alunos fazem jardinagem, regam as plantas e têm contato direto com a natureza. Perto do bosque há um espaço construído e planejado denominado de “Cidade Mirim” com uma praça arborizada com palmeiras e pequenos arbustos, bancos e iluminação. Essa cidade mirim é repleta de casinhas que possuem diferentes papéis (por exemplo: há correio com uma central de coleta de lixo, uma biblioteca municipal, a casa da cultura, o mercado público, o museu, a biblioteca, a prefeitura da cidade mirim com seu fórum e câmara onde todos podem interagir uns com os outros, com o ambiente e diversidade). Nesse contexto os educandos interagem com a cidade, a praça, o bosque e também praticam esportes indoor. Os mesmos vivenciam esse local em horários de recreio e em aulas guiadas, bem ao modelo de educação de Célestin Freinet. As imediações do colégio é privilegiada com mata nativa e fornece a sensação de que a instituição não se encontra em uma área urbana, uma vez que fica no centro da cidade. Esse contato com um ambiente natural verde traduz-se pela sensação de paz, percebe-se o canto de muitos pássaros, cheiros de bromélias, orquídeas e outras florações são percebidas em aulas guiadas de biologia, ou seja, os educandos entram em contato com um ambiente natural e construído sem perder as sinestesias proporcionadas. Por mais que a instituição favoreça o ensino – aprendizagem pelas condições apresentadas aqui, não é de todo, assim como outros ambientes, pleno. Ainda que os ambientes verdes, naturais ou construídos sejam o ponto forte desta instituição, é necessário reforçar a atenção quanto aos ruídos, sejam decorrentes de ambientes com eco, paredes com a falta de isolação acústica ou muito finas, ou mesmo os pisos cerâmicos, os quais ao movimentar carteiras e cadeiras causam ruídos demasiados. Há, também o aspecto de iluminação artificial, umidade devido ao entorno ter muita vegetação e, até mesmo, salas/ espaços que podem dificultar o manejo das car- 43 teiras para formar círculos ou semicírculos Claro seja, no entanto, que a instituição é muito cuidadosa frente a esses aspectos apresentados aqui e contribui sobremaneira de imediato ao perceber qualquer interferência que não seja a agradável e usual. Sobre os educandos com TDAH, foi observado que eles fazem acompanhamento médico e tratamentos alopáticos, ou seja, com receituário médico. Nem sempre esses tratamentos isolados surtem os efeitos esperados, deixando, muitas vezes, os estudantes abatidos, insones, descompassados. Essa foi uma primeira impressão nas observações coletadas ao longo da pesquisa e, por se tratar de um estudo novo em nosso município, muitas informações, sobre como melhorar o cotidiano desses educandos foram repassadas aos pais e professores. Além disso, destacou-se o papel do ambiente/espaço ser bem aproveitado com múltiplas atividades e reforços desses estímulos, pois isso pode proporcionar uma melhora significativa na qualidade de vida e, como consequência, nos estudos. tes de suas relações – inter-relações com outros sujeitos e com o ambiente/espaço natural. REFERÊNCIAS ALVES, S. Ambientes restauradores. Cap 3. Psicologia Ambiental., p. 44-52. 2003. BRONFENBRENNER, U. (1987). “La Ecologia del Desarrollo Humano”. Barcelona: Ediciones Paidós. JOYE, Y; Van den Berg, A.E. Environmental Preference and Restoration: (How) are they related? Journal of Environmental Psychology, p. 1-12. 2003. JOURNAL PSICOLOGY: Disponível em: <http://www.psych.utah.edu/people/people/fogel/jdp/ journals/6/journal06.pdf>. Acesso em: 10 jul.2013. KAPLAN, S. The restorative benefits of nature: Towards an integrative framework. Journal of Environmental Psychology, 15, 169–182. 1995 NASSAR, Raduan. Lavoura Arcaica. Ed. Companhia das Letras. São Paulo. 2003. Além disso, depreende-se, a partir de registros, que os pais dessas crianças apostam na PIAGET, J. Lógica e conhecimento científididática da instituição escolar, demonstram que co. Porto: Civilização, 1981. 2 v seus filhos gostam de frequentá-la e percebem Além disso, depreende-se, que são sujeitos interativos. Também, a partir de registros, que os pais STERN, P. C. (2000). Psycholonas conversas e observações dos educandos com TDAH, é evidenciado que dessas crianças apostam na didáti- gy, sustainability, and the science of as práticas escolares e a interação com ca da instituição escolar, demons- human-environment interactions. Ameo meio ambiente são apreciadas. Os tram que seus filhos gostam de rican Psychologist, 55, 523–530 frequentá-la e percebem que são educandos percebem o espaço escolar sujeitos interativos. TAYLOR, Faber, A; KUO, F.E., & como um cenário agradável que possiSULLIVAN, WC. Coping with ADD: The surprising bilita ter contatos visuais com a natureza e consconnection to green play settings. Environment & tatam ser muito rico na flora e na fauna. Essa Behavior, 33 (1), 54-77. 2001. é uma evidência muito importante e esperada quando sujeitos percebem, inconscientemente, VYGOTSKY, Lev S. Pensamento e linguagem. que o ambiente/espaço é reparador dos estímuSão Paulo: Editora Martins Fontes, 3ª Ed., 2005. los hiperativos. Tradução Jefferson Luiz Camargo. O estudo da revisão da literatura sobre a psicologia ambiental mostrou que esta é uma área, ainda, a ser explorada e que profissionais qualificados e multidisciplinares podem fazer a diferença como educadores e como pessoas conscien- 44 45 RESENHA A INCLUSÃO: ENTRE A AÇÃO E O DISCURSO Autora: Patrícia Cesário Pereira Offial. mestrado em Educação e graduação em Pedagogia. Trabalha como professora no ensino a distância - graduação e pós-graduação - da Uniasselvi em Indaial/SC. E-mail: [email protected] PACHECO, José. Inclusão não rima com solidão. Editora Wak, 2012. ISBN: 8578542177. com alunos e professores da Escola da Ponte e escolas brasileiras por onde percorreu como docente. Por muito tempo o que percebeu foi o retrato da solidão. O autor da obra sobre a qual neste momento discorremos é José Pacheco, Mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e de A primeira lição sobre a qual o autor discorCiências da Educação da Universire é a solidão nas escolas. Inicia dade do Porto/ Portugal. Possui es- Nessa perspectiva, de acordo com o autor questionando sobre o fato do isopecialização em Música, em Leitura as escolas carecem de mais diálogo, lamento se manifestar não somene Escrita. Em 1976, coordenou e reflexão e solidariedade. te entre alunos, mas também entre idealizou a Escola da Ponte, localizada em Vila das Aves – Portugal, transformando, junto com uma equipe de professores, uma escola de solidão em uma escola de inclusão, conhecida por apresentar uma prática diferenciada. Pacheco escreveu diversos livros e artigos sobre a educação. Atualmente mora no Brasil, na cidade de São Paulo, e presta assessoria a muitas escolas brasileiras. professores. Nessa perspectiva, de acordo com o autor, as escolas carecem de mais diálogo, reflexão e solidariedade. Ainda, segundo o autor, há professores que estão sós e há alunos que estão sós. As escolas, assim, estão necessitadas de humanidade, que, de acordo com Pacheco, é o primeiro passo para vencer a solidão. Na segunda lição, abraçar para incluir, o autor relembra os dias em que era professor de uma Em seu livro, Inclusão não Rima Escola em Portugal, a Escola da Por muito tempo o que percebeu foi o com Solidão, o autor apresenta, em Ponte. Alguns alunos eram consiretrato da solidão. dez lições, reflexões e questionaderados como a “turma do lixão”. mentos a partir de entrevistas que Conta que não há como recuperar realizou durante seu percurso como educador. Asessas “almas inquietas”, sem antes conquistá-las. sim, busca discutir, nesse texto, a concepção de Muitas vezes as escolas constroem uma parede inclusão nas escolas. Expõe relatos de vivências invisível, constituídas de cobranças, exigências e 46 punições. Relembra o autor, todavia, que foi o abraço que realmente transformou aqueles alunos. Não só o abraço físico, mas o abraço percebido num olhar, na compreensão, na confiança e no diálogo. significa juntar as pessoas num mesmo lugar e continuar com o mesmo sistema de currículo em que seleciona o bom do mau aluno, isso é exclusão. Inclusão é saber lidar com o diferente, respeitando o tempo de cada um aprender. O atual sistema educativo, segundo autor, não colabora para essa ação. Relembra o autor que foi o abraço que realmente transformou aqueles alunos. Não só o abraço físico, mas o abraço percebido num olhar, na compreensão, na confiança e no diálogo. Nesse sentido, o autor afirma que as escolas necessitam de ambientes que estimulem a convivência em harmonia, despertando nos alunos uma consciência responsável e solidária. Para o autor, ainda, a divisão de salas por idade só prejudica a inclusão. De acordo com ele, existe muito para se aprender com o coletivo e em grupos diversificados. Além disso, existe muito para ser feito a fim de se conquistar uma verdadeira inclusão. O autor propõe que repensemos o sistema educacional, pois muito se fala, muito se pesquisa, mas pouco se faz. A inclusão, segundo um dos entrevistados do autor, está, no momento, servindo apenas de enfeite para teses de mestrado e doutorado, produzindo teorias pouco aproveitadas. Conforme citado anteriormente, não se trata apenas da inclusão de alunos. O autor, em mais de três décadas de experiência, presenciou também a exclusão de professores. E, lembra em seus relatos, que os excluídos eram justamente aqueles que não se conformavam com a estagnação dos currículos, os que propunham mudar uma prática que não se encaixava mais em uma sociedade que preconizava a inclusão. Essa obra apresenta reflexões importantes acerca das ações no cotidiano escolar que podem colaborar ou não para tornar possível a inclusão. Contudo, precisamos das pesquisas, precisamos dos discursos, precisamos de docentes conscientes, mas nada disso faz mudar as práticas das salas de aula, porque necessitamos de algo maior, de transformação, ou seja, transformar a ação. Não foi, no entanto, somente A inclusão, segundo um dos entrevistados a exclusão que o autor encontrou. do autor, está, no momento, servindo A inclusão é ainda uma conquisFoi em escolas carentes brasilei- apenas de enfeite para teses de mestrado ta. Para alcançá-la é necessário alras, por onde percorreu, que per- e doutorado, produzindo teorias pouco terar os currículos, preparar os procebeu grandes lições de inclusão. aproveitadas. fessores e todos os envolvidos com Presenciou a insistência de certos a educação, inclusive os pais e a coprofessores pela formação cidadã dos alunos, munidade. Para que aconteça verdadeiramente principalmente os que eram rejeitaa inclusão nas escolas, é preciso Foi em escolas carentes brasileiras, por dos. Afirmou ter aprendido mais ali, onde percorreu, que percebeu grandes romper o preconceito instaurado com aquelas professoras, do que lições na sociedade e esse é um desafio com os anos todos que passou nos de todos e para todos. bancos da faculdade, pois aprendeu lições de amor e estas não estão contidas nos liA partir de toda a reflexão proposta na prevros. sente obra, depreendemos que é preciso fazer sair do papel, e dos discursos, a verdadeira cidaNa obra, o autor enfatiza a importância de dania, pois o processo de inclusão nada mais é continuarmos a discutir sobre a inclusão, pois é que uma questão de respeito e humanidade. uma questão histórica e social. Uma escola que percebe a sua função social abre caminhos para a inclusão. Incluir, segundo Pacheco (2012), não 47 47