Curso Satélite de Matemática Sessão n.º 1 Universidade Portucalense Conceitos Algébricos Propriedades das operações de números reais Considerem-se três números reais quaisquer, a, b e c. 1. A adição de números reais é comutativa, i.e., a + b = b + a. Exemplo: 3 + 2 = 2 + 3 = 5; 2. A adição de números reais é associativa, i.e., (a + b) + c = a + (b + c). Exemplo: (3 + 2) + 1 = 5 + 1 = 6 = 3 + 3 = 3 + (2 + 1); 3. O elemento neutro da adição é o 0, i.e., a + 0 = 0 + a = a. Exemplo: 50 + 0 = 0 + 50 = 50; 4. Qualquer número real a tem um elemento simétrico (denotado por – a) que satisfaz a + (– a) = – a + a = 0. Exemplo: 101 + (– 101) = – 101 + 101 = 0; 5. A multiplicação de números reais é comutativa, i.e., a × b = b × a. Exemplo: 3 × 2 = 2 × 3 = 6; 6. A multiplicação de números reais é associativa, i.e., (a × b) × c = a × (b × c). Exemplo: (3 × 2) × 4 = 6 × 4 = 24 = 3 × 8 = 3 × (2 × 4); 7. O elemento neutro da multiplicação é o 1, i.e., a × 1 = 1 × a = a. Exemplo: 78 × 1 = 1 × 78 = 78; 8. Qualquer número real não nulo a tem um elemento inverso (denotado por a-1) que satisfaz a × a-1 = a-1 × a = 1. 1 1 Exemplo: 10 10 1; 10 10 9. A multiplicação é distributiva em relação à adição, i.e., a × (b + c) = a × b + a × c. Exemplo: 3 × (2 + 4) = 3 × 6 = 18 = 6 + 12 = 3 × 2 + 3 × 4 Note-se que a subtracção de b a a pode ser definida como a soma de a com o simétrico de b, i.e., a – b = a + (– b). Por outro lado, a divisão de a por b pode ser definida como a multiplicação de a pelo inverso de b, i.e., a ÷ b = a × b-1. 1 Como b para qualquer b ≠ 0, então b 1 a b a . b 1 O inverso multiplicativo de 0 não existe, por isso a divisão por 0 não está definida. Regras das operações com números reais: Para somar dois números reais com o mesmo sinal, some os dois valores absolutos (sem o sinal) e acrescente o sinal comum; Exemplo: – 4 – 6 = – 4 + (–6) = – (4 + 6) = – 10. Para somar dois números reais com sinais opostos, encontre a diferença entre os dois valores absolutos e acrescente o sinal do número com maior valor absoluto; Exemplos: – 6 + 4 = – (6 – 4) = – 2; – 3 + 7 = + (7 – 3) = 4. O produto de dois números reais com sinais iguais é positivo; Exemplos: – 4 × (– 10) = 4 × 10 = 40; 2 × 4 = 8. O produto de dois números reais com sinais opostos é negativo; Exemplos: – 10 × 2 = – (10 × 2) = – 20; 3 × (– 6) = – 18. Para somar fracções: • com o mesmo denominador, somam-se os numeradores e mantém-se o denominador comum. 1 6 1 6 5 1 Exemplo: . 10 10 10 10 2 • com denominadores diferentes, reduz-se as fracções ao mesmo denominador e depois cai-se no ponto anterior. 1 3 5 1 4 3 2 5 4 6 5 3 Exemplo: . 2 4 8 2 4 4 2 8 8 8 8 8 Para multiplicar fracções: • multiplicam-se numeradores com numeradores e denominadores com denominadores. 1 3 2 1 (3) 2 6 3 Exemplo: . 2 4 8 2 48 64 32 Para calcular o resultado de uma expressão é necessário seguir a seguinte ordem: 1. Efectue as operações que se encontram dentro de parêntesis (ou módulos); 2. Calcule o valor das potências indicadas (exemplo: 22 = 2 × 2); 3. Execute as multiplicações e divisões da esquerda para a direita; 4. Faça as adições e subtracções da esquerda para a direita. Exemplo: 22 × 3 + 10 ÷ (4 + 1) = 22 × 3 + 10 ÷ 5 = 4 × 3 + 10 ÷ 5 = 12 + 2 = 14. Propriedades das potências Para qualquer número real a define-se: a1 = a; a2 = a × a; a3 = a × a × a; ……… an = a × a × … × a (produto de n factores, com n ∈ ℕ). a denomina-se a base da potência e n o expoente. Note-se que –an não é o mesmo que (–a)n. –an = – a × a × … × a e (–a)n = (–a) × (–a) × … × (–a). Por definição, a0 = 1 para qualquer a ≠ 0. Regras da multiplicação de potências: Seja a ∈ ℝ e m, n ∈ ℕ. Então an × am = a × a × … × a × a × a × … × a = an + m. n factores m factores Na multiplicação de potências com a mesma base e com expoentes diferentes, dá-se a mesma base e somam-se os expoentes. Exemplo: 70 83 220 30 70 70 83 83 22030 70 83 250 . Da regra anterior conclui-se que, se a ∈ ℝ e m, n ∈ ℕ, então m parcelas a n m a n a n ... a n a nn...n a mn m factores Quando temos uma potência de outra potência, dá-se a mesma base da potência dentro dos parêntesis e multiplicam-se os expoentes. 20 2 7 7 202 7 40 Exemplo: . 4 4 4 Note que: a n m nm não é o mesmo que a . Seja a, b ∈ ℝ e n ∈ ℕ. Então an × bn = a × a × … × a × b × b × … × b n factores n factores Pela comutatividade da multiplicação obtém-se = a × b × a × b × a × b × … × a × b = (a × b)n. n multiplicações de a × b Na multiplicação de potências com o mesmo expoente e com bases diferentes, mantém-se o mesmo expoente e multiplicam-se as bases. 300 300 300 300 1 3 1 3 1 Exemplo: . 3 2 3 2 2 Por vezes é necessário trabalhar com expoentes negativos. As regras anteriores mantêm-se válidas em expoentes negativos. Exemplo: 23 × 2-2 = 23-2 = 2. Atendendo à potência de potência e à definição de inverso, para qualquer a, b ∈ ℝ\{0} e n ∈ ℕ verifica-se que 1 n n a a b . b b a Concluindo, qualquer número elevado a um expoente negativo é igual ao seu inverso elevado ao expoente positivo. n Exemplo: 9 3 3 1 . 9 Propriedades dos radicais Define-se a raiz n-ésima (n ∈ ℕ) de um número real a por: n a b se e só se a b n , seguindo as seguintes condições: a=0 a>0 n par n a 0 n a 0 n ímpar n a 0 n a 0 a<0 n a não é real n a 0 Nota: não existe nenhum número real que elevado a um número par dê um número negativo. Exemplos: 2 4 2 uma vez que 4 22. Repare-se que 2 4 2 embora 4 2 ; 2 Por definição, o resultado das raízes pares é sempre positivo. 2 4 não é um número real. Não existe nenhum número real que elevado a um expoente par dê um número negativo. 3 27 3 uma vez que 27 33. 3 27 3 uma vez que 27 3 . 3 Sempre que a n-ésima raiz de a ∈ ℝ é um número real, definimos 1 an n a, para qualquer número natural n. Nas condições anteriores, utilizando a potência de potência, é possível concluir que m n a a 1 m n ou que m n a a 1 m n m a 1 n a n m , 1 n am n am , para qualquer valor de m ∈ ℤ (quando m ≤ 0, a tem que ser não nulo). Regras da multiplicação de radicais: As regras dos radicais resultam das regras das potências. Exemplo: sempre que a n-ésima raiz de a e a n-ésima raiz de b são números reais, então n 1 n 1 n 1 n a b a b ab n ab . n Se, para além das condições anteriores, o b for não nulo, 1 n 1 n a a a a n 1 . n b b b n b n Exemplos: 3 3 9 3 9 27 3; e 3 3 3 4 32 4 32 4 16 2. 4 2 2 Equações do 1º grau Uma equação é uma afirmação que duas quantidades (expressões algébricas) são iguais. Exemplos: (x – 3) ÷ 2 = 1 ou x2 + x = 0. As duas quantidades de cada lado do sinal de igualdade são chamados os membros da equação. A 1ª equação do exemplo anterior tem membros (x – 3) ÷ 2 e 1. Nos exemplos anteriores, x chama-se a variável uma vez que à medida que x varia, a equação pode ser verdadeira ou falsa. A variável x de uma equação também é designada de incógnita da equação. Todos os valores de x que tornam uma equação verdadeira são chamados soluções dessa equação. O conjunto solução de uma equação é formado por todos os valores da variável x que tornam essa equação verdadeira. Duas equações dizem-se equivalentes (representa-se com o sinal ⇔) se elas têm exactamente o mesmo conjunto solução. Exemplo: 4x – 12 = 16 ⇔ 4x = 28 ⇔x=7 Todas as equações anteriores dizem-se equivalentes uma vez que têm todas o mesmo conjunto solução que é {7}. Propriedades da igualdade: Propriedade da substituição: sempre que se substitui a expressão dum membro de uma equação por outra expressão igual a ela, a equação obtida é equivalente à primeira. Exemplo: 3(x + 2) – 2x – 6 = 1 ⇔ 3x + 6 – 2x – 6 = 1 ⇔ x = 1. Dizemos que o conjunto solução desta equação é {1}. Propriedade aditiva: sempre que se adiciona a mesma quantidade a ambos os membros de uma equação, obtém-se uma equação equivalente. Exemplo: x + 4 = 10 ⇔ x + 4 + (–4) = 10 + (–4) ⇔ x = 6. Dizemos que o conjunto solução desta equação é {6}. Propriedade multiplicativa: sempre que se multiplica a mesma quantidade (diferente de zero) por ambos os membros de uma equação, obtém-se uma equação equivalente. 1 1 5 x 10 x 2. Exemplo 1: 5 x 10 (5 x) 10 5 5 5 5 Dizemos que o conjunto solução desta equação é {2}. x 4x x Exemplo 2: 2 4 4 2 8 x 8. 4 4 4 Dizemos que o conjunto solução desta equação é {8}. Se numa equação a variável aparece sempre com o expoente igual a 1, dizemos que essa é uma equação do primeiro grau. As propriedades anteriores são suficientes para resolver (achar o conjunto solução de) qualquer equação do primeiro grau. Como resolver uma equação do primeiro grau 3x 2( x 1) 3 . 4 6 1. Se a equação contém fracções, multiplique ambos os membros da equação pelo denominador comum das fracções (ou seja, pelo mínimo múltiplo comum dos denominadores); Exemplo: Resolva 3x 2( x 1) 3x 2( x 1) 3 12 3 12 Exemplo: . 4 6 4 6 2. Remova todos os parêntesis da equação; 12 3x 2( x 1) 12 12 3 12 3 x 12 3 2( x 1) Exemplo: 4 6 4 6 3 3x 36 4( x 1) 9 x 36 4 x 4. 3. Calcule todas as somas por forma a obter todos os termos que contêm a variável no primeiro membro e todos os termos independentes no segundo membro; Exemplo: 9x + 36 = 4x – 4 ⇔ 9x + 36 – 4x = 4x – 4 – 4x ⇔ (9 – 4)x + 36 = (4 – 4)x – 4 ⇔ 5x + 36 = – 4 ⇔ 5x + 36 – 36 = – 4 – 36 ⇔ 5x = – 40. 4. Divida ambos os membros da equação pelo coeficiente da variável; 5 x 40 5 x 40 x 8. Exemplo: 5 5 5. Verifique a solução obtida substituindo na equação original. Exemplo: 3 (8) 2(8 1) 24 2 (9) 3 3 4 6 4 6 18 6 3 6 3 3. Obteve-se uma proposição verdadeira, logo -8 é solução desta equação. Desafio: Resolva a equação: 1 2 x 1 2 3 1 ( x 2) 3 2 6 Resolução: 1 1 2 x 2 x 1 2 3 2 3 1 1 ( x 2) 6 1 6 ( x 2) 3 2 6 3 2 6 1 12 x 2 18 6 x2 3 2 1 4 x 9 6 x 2 2 4x 2 3 x 2 4x 5 x 2 4 x x 2 5 3 x 3 x 1. O conjunto solução desta equação é {1}. Verificação que 1 é solução da equação: 1 1 2 1 2 3 1 2 1 (1 2) 2 3 2 1 (1) 3 2 6 3 2 2 6 1 1 1 3 2 6 2 3 1 6 6 6 1 1 . 6 6 Obteve-se um proposição verdadeira, logo 1 é solução da equação. Equações de graus superiores – equações do segundo grau Uma equação do segundo grau (numa variável x) é uma equação que se pode escrever na forma geral ax2 + bx + c = 0, onde a, b e c são constantes reais com a ≠ 0. Exemplos: a equação 4x2 + 4x + 1 = 0 é uma equação do 2º grau e já está escrita na sua forma geral. A equação 5x2 + 2x = x2 – 2x – 1 é equivalente à equação anterior. Logo é uma equação do 2º grau mas não está escrita na sua forma geral. O primeiro passo para resolver uma equação do 2º grau é transformá-la na sua forma geral. Para tal usam-se as mesmas propriedades da igualdade que se usam nas equações do 1º grau. Exemplo: converta a equação 5x2 + 2x = x2 – 2x – 1 na sua forma geral: 5x2 + 2x = x2 – 2x – 1 ⇔ 5x2 + 2x – x2 = x2 – 2x – 1 – x2 ⇔ (5 – 1)x2 + 2x = – 2x – 1 ⇔ 4x2 + 2x + 2x = – 2x – 1 + 2x ⇔ 4x2 + 4x = – 1 ⇔ 4x2 + 4x + 1 = – 1 + 1 ⇔ 4x2 + 4x + 1 = 0. Para resolvermos equações do 2º grau que já estão na sua forma geral convém relembrar algumas propriedades importantes: Lei do anulamento do produto: Sejam a e b quaisquer dois números reais. O produto a × b é igual a zero se e só se um dos factores (a ou b) for igual a zero, isto é, a × b = 0 ⇔ a = 0 ∨ b = 0. Quadrado da soma: Sejam a e b quaisquer dois números reais então (a + b)2 = a2 + 2ab + b2. Diferença de quadrados: Sejam a e b quaisquer dois números reais então a2 – b2 = (a – b)(a + b). Resolução de uma equação do 2º grau com b e c iguais a zero Quando b e c são nulos, a equação quadrática fica equivalente a ax2 + 0 × x + 0 = 0 ⇔ ax2 = 0 ⇔ x = 0. Resolução de uma equação do 2º grau apenas com b igual a zero Quando b é nulo, a equação quadrática fica equivalente a ax2 + 0 × x + c = 0 ⇔ ax2 + c = 0 ⇔ ax2 = – c ⇔ x2 = – c/a. Se – c/a for negativo, a equação não tem solução (é impossível) uma vez que não há nenhum número real que elevado ao quadrado seja negativo. Se – c/a for positivo, a solução é x c / a x c / a x c / a . Exemplo 1: ( x 1) 2 2 x 3 x 2 2 x 2 2 x (1) (1) 2 2 x 3 x 2 2 x 2 2 x 1 2 x 3 x 2 2 x 2 1 3 x 2 2 x 2 1 3x 2 2 0 4x2 1 0 4x2 1 1 x 4 2 x O conjunto solução é {-1/2,1/2}. 1 1 1 1 x x x . 4 2 2 2 Exemplo 2: ( x 2) 2 ( x 2) 2 1 1 x 4 x 4 4 2 2 4 ( x 2) 2 4 x 2 x 2 2 2 x 22 4 x 2 x2 4x 4 4x 2 0 x2 2 0 x 2 2 Equação impossível uma vez que não existe nenhum número real que elevado ao quadrado dê – 2. O conjunto solução da equação é {}. Resolução de uma equação do 2º grau apenas com c igual a zero Quando c é nulo, a equação quadrática fica equivalente a ax2 + bx + 0 = 0 ⇔ ax2 + bx = 0 ⇔ x × (ax + b) = 0. Pela lei do anulamento do produto resulta que x × (ax + b) = 0 ⇔ x = 0 ∨ ax + b = 0 ⇔ x = 0 ∨ ax = – b ⇔ x = 0 ∨ x = – b/a. Exemplo 1: 2x2 + 2x + 2 = x2 + 2 ⇔ 2x2 + 2x + 2 – x2 – 2 = 0 ⇔ x2 + 2x = 0 ⇔ x(x + 2) = 0 ⇔ x = 0 ∨ x + 2 = 0 ⇔ x = 0 ∨ x = – 2. Resolução de uma equação do 2º grau com a, b e c não nulos Quando a, b e c não são nulos, a equação quadrática resolve-se utilizando a fórmula resolvente que diz que 2 b b 4ac 2 ax bx c 0 x 2a b b 2 4ac b b 2 4ac x x . 2a 2a Sempre que b2 – 4ac < 0, a raiz quadrada do numerador não é um número real. Neste caso a equação não tem soluções reais. Sempre que b2 – 4ac = 0, a raiz quadrada do numerador é igual a zero. Neste caso a equação tem uma solução real. Sempre que b2 – 4ac > 0, a equação tem duas soluções reais. Exemplo 1: x2 5x x x 2 5 x 5 x 4 5 4 4 4 x 2 5 x x 20 x 2 5 x x 20 0 x 2 4 x 20 0 Como a = 1, b = – 4 e c = 20, pela fórmula resolvente obtém-se (4) (4) 2 4 1 20 (4) (4) 2 4 1 20 x x 2 1 2 1 4 64 4 64 x x . 2 2 A equação é impossível em ℝ. Exemplo 2: 1 2 x x 4 x 2 4 x 1 4 x 2 4 x 1 0. 4 Como a = 4, b = 4 e c = 1, pela fórmula resolvente obtém-se 4 42 4 4 1 4 42 4 4 1 x x 2 4 2 4 4 0 4 0 x x 8 8 4 4 1 x x x . 8 8 2 O conjunto solução desta equação é { – 0.5}. Exemplo 3: x 2 2 x x 2 x 2 2 x x 2 0 x 2 3x 2 0. Como a = 1, b = – 3 e c = 2, pela fórmula resolvente obtém-se (3) (3) 2 4 1 2 (3) (3) 2 4 1 2 x x 2 1 2 1 3 1 3 1 x x 2 2 3 1 3 1 x x x 1 x 2. 2 2 O conjunto solução desta equação é {1, 2}.