MODELO TÉRMICO DE OLEDs ATRAVÉS DO MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS Jean S. Brand Graduando do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Fernanda B. Mendes Graduanda do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Vitor C. Bender Pós-Graduando do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Tiago B. Marchesan Professor do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Maria [email protected] Resumo. O presente artigo tem como objetivo definir um modelo térmico para as trocas de calor por condução, convecção e radiação térmica, através do desenvolvimento de uma metodologia matemática. Posteriormente, uma comparação através de simulação computacional pelo método de elementos finitos (MEF) e de imagens obtidas através do termovisor são apresentadas com o objetivo de validar o modelo matemático. Palavras-chave: Método dos elementos finitos. OLED. Trocas térmicas. 1. INTRODUÇÃO O estudo dos diodos orgânicos emissores de luz (OLEDs) tem evoluído ultimamente por possuírem um grande potencial para aplicação em sistemas de iluminação. Os OLEDs são finos, leves e também podem ser flexíveis (KUNIC, 2012). O desempenho dos OLEDs está ligado a sua temperatura de operação sendo assim, o aumento dessa temperatura causa um incremento da condutividade elétrica, que afeta o dispositivo de diferentes maneiras, seja na redução da uniformidade da luminância, do fluxo luminoso e da eficácia, como também na vida útil do dispositivo (SCHWAMB, 2013). Esse artigo contém uma análise térmica dos OLEDs com base nos fenômenos de transferência de calor e nas diferentes orientações do dispositivo. 2. O CALOR NOS OLEDS O funcionamento dos OLEDs baseia-se na geração de um campo elétrico em um material orgânico. Quando uma diferença de potencial elétrico é aplicada no dispositivo ocorre um gradiente de potencial elétrico responsável pela circulação de elétrons e lacunas pelas camadas orgânicas. Quando o nível de potencial elétrico é suficiente para polarizar diretamente o dispositivo ocorre a recombinação dos elétrons e lacunas, quando a recombinação é radiativa gera fótons ou luz e quando não-radiativa gera fônons ou calor. A resistência elétrica dos materiais da construção do OLED é responsável pelo aquecimento do dispositivo pelo efeito Joule. Para estimar o valor da potência de aquecimento (Ph) emprega-se um coeficiente XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil de conversão de potência em calor (kh), o qual é multiplicado pela potência elétrica (Pel), como na Eq. (1). Ph Pel kh V f I f kh (1) A potência é dissipada pelos mecanismos de transferência de calor: condução, radiação e convecção térmica como presente na Fig. 1. Na Fig. 2 tem-se as camadas construtivas de um OLED, considerando as suas resistências térmicas (Rθ) por condução (Rθcond), radiação (Rθrad) e convecção (Rθconv). Figura 1. Mecanismos de troca de calor. O cálculo de Rθconv tem base no coeficiente de convecção térmica (hconv), o qual calcula-se através dos números de Nusselt (Nu), que determina a transferência de calor por convecção e condução intrinsicamente a convecção, o número de Rayleigh (Ra) que define o regime do fluído no entorno do objeto, Prandtl (Pr) que aproxima difusidade térmica e a viscosidade cinemática, Grashof (Gr) que é a razão entre força viscosa e de empuxo sobre o fluído, e a dimensão crítica do OLED (Lc) que depende da orientação na qual o dispositivo se encontra. Quando na vertical, Lc é o valor da altura do OLED (h)=0,125m. Já na horizontal é dado por, Lc=AOLED/POLED, onde POLED é o perímetro do OLED (p)=0,408m (ÇENGEL, 2009). Para encontrar Nu, calcula-se Ra, através do produto de Gr e Pr, como na Eq. (3). Pr definido foi 0,71, valor aceitável para temperaturas de operação entre 0 e 40 ºC (KREITH, 2011, ÇENGEL, 2009), além da expansão térmica do ar (β)=3,43x10-3ºC-1, constante gravitacional (g)=9,8m/s2, -6 2 viscosidade do ar (va)=15,1x10 m /s, calor especifico do ar (ca)=1,005kJ/kg.ºC e condutividade do ar (ka)=0,0257W/mºC. Ra Gr Pr Figura 2. Arquitetura térmica do OLED. O cálculo do valor da Rθrad do OLED baseia-se no coeficiente de radiação (hrad). Calcula-se o valor da resistência de radiação pela variação de temperatura (∆T)=15ºC, a emissividade do vidro (ε)=0,9 e a área da superfície do OLED (AOLED)=5,937x10-3m², como expresso na Eq. (2). Para Rθrad obtevese o valor de 9,78x105ºC/W. g (T )Lc 2 vca g (T )Lc 2 0.71 v2 ka v2 Ra depende da orientação do OLED e do regime do fluido (laminar ou turbulento). Para o OLED na orientação horizontal tem-se a relação entre Ra e Nu, dada pela Eq. (4) para a superfície superior no regime laminar e Eq. (5) para a superfície inferior no regime laminar. Na orientação vertical, se no regime laminar Nu é dado pela Eq. (6) (KREITH, 2011, ÇENGEL, 2009). A partir do valor de Nu, pode-se calcular o valor de Rθconv, através da Eq. (7). 1 104 Ra 107 : Nu 0.54Ra 4 1 R rad 1 1 hrad AOLED (T )3 AOLED (3) 105 Ra 1011 : Nu 0.27 Ra 4 (2) XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil (4) (5) 1 105 Ra 109 : Nu 0.59Ra 4 R conv 1 Lc hconv AOLED ka NuAOLED (6) R ca _ i R ja tvidro kvidro AOLED (8) R conv _ i R rad _ i R conv _ i R rad _ i (9) ( R jc1 R ca1 )( R jc 2 R ca 2 ) R jc1 R ca1 ( R jc 2 R ca 2 ) R ja 2 Ph R ja1 R ja 2 (11) q2 R ja1 Ph R ja1 R ja 2 (12) (7) Através dos cálculos, obteve-se Ra=2,45x107 para a orientação vertical e Nu=41,509. Logo Rθconv=9,86ºC/W. Já na orientação horizontal Ra=4,644x105 e Nu=14,097, sendo assim Rθconv_1=8ºC/W e Rθconv_2=16ºC/W. Para o cálculo de Rθcond, considera-se as resistências dos materiais envolvidos na construção do OLED (material orgânico (Rθorg), vidro (Rθvidro), ITO (RθITO) e alumínio (Rθalumínio)). O somatório das resistências a partir da junção para as superfícies resulta em Rθjc1 e Rθjc2, como na Eq. (8), onde espessura do vidro (tv)=0,7x10-3m3, condutividade do vidro (kv)=1,3W/mºC e área do OLED (AOLED)=5,94x10-3m2. Já a resistência térmica do encapsulamento para o ambiente (Rθca) é calculada pelo equivalente paralelo entre Rθrad e Rθconv Como na Eq. (9). A partir de Rθjc e Rθca calcula-se a resistência térmica equivalente da junção até o ambiente (Rθja) através da Eq. (10). R jc_ i q1 (10) Para o modelo térmico dinâmico, calcula-se as capacitâncias térmicas do OLED, através do calor específico (cvidro) de valor 669,76J/kgºC, da densidade do vidro (ρvidro) igual a 4365Kg/m3 e do volume do OLED (vOLED) com valor 1,07x10-5m3, como na Eq. (13). Sendo assim as temperaturas nas superfícies (Tc) do OLED podem ser calculadas através da Eq. (14) e da Eq. (15). Após calcula-se a temperatura na junção (Tj) do OLED, através da Eq. (16). C c _ i cvidro vidrovOLED (13) Tc1 Ta R ca1q1 (14) Tc 2 Ta R ca 2 q2 (15) T j Ta R ja Ph Ta R ja khV f I f (16) Os valores obtidos foram Cθc=31,24J/ºC, Tc1=30,05ºC e Tc2=30,05ºC na vertical e Tc1=30,448ºC e Tc2=30,488ºC na horizontal. Por fim Tj=30,094ºC na vertical e Tj=30,52ºC na horizontal. Após ter todas as resistências térmicas desde a junção até o ambiente, define-se modelo térmico do OLED como na Fig. 3. Através dos cálculos encontrou-se Rθjc=0,091ºC/W e Rθca=9,86ºC/W na orientação vertical e Rθca_1=8ºC/W e Rθca_2=16ºC/W na horizontal. Logo Rθja=4,975ºC/W na vertical e Rθja=5,384ºC/W na horizontal. A partir do modelo térmico da Fig. 3 os fluxos de calor (q) podem ser definidos através da Eq. (11) e da Eq. (12), onde q1=0,512W e q2=0,512W na vertical e q1=0,618W e q2=0,343W na horizontal. Figura 3. Modelo térmico dos OLEDs. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete – RS – Brasil 3. RESULTADOS EXPERIMENTAIS No projeto utilizou-se o OLED do fabricante Osram, modelo Orbeos RMW046. Além disso, usou-se na simulação do método dos elementos finitos o software ANSYS®, e o termovisor Fluke Ti32. Como parte da potência elétrica converte-se em calor, tem-se um coeficiente kh=0,9. A partir disto, realizaram-se diferentes simulações para avaliação da temperatura. A Fig. 4 mostra o gradiente de temperatura simulado e medido para o OLED operando com a potência elétrica nominal de 1,023W. A Fig. 5 apresenta a simulação da convecção térmica. Analisando as figuras, observa-se que a homogeneidade da temperatura no OLED depende da orientação do dispositivo, fato que se reflete também na homogeneidade da luminância (POPPE et al., 2009). Figura 5. Convecção térmica no OLED. 4. CONCLUSÃO O presente artigo analisou a transferência de calor em OLEDs onde percebeu-se a diferença na temperatura nas diferentes orientações. A análise baseou-se em um modelo matemático e simulações através do MEF, as quais tiveram resultados satisfatórios, visto algumas simplificações matemáticas e na geometria da simulação. Em suma, as simulações são muito uteis no auxílio do modelo térmico, e auxiliam no entendimento da do comportamento dos OLEDs em diferentes situações. 5. REFERÊNCIAS ÇENGEL, Y. A. Heat & Mass Transfer: A Practical Approach. McGraw-Hill Education, 2009. KREITH, F. M., R.; BOHN, M. Principles of Heat Transfer. 7th. Stamford: Cengage Learning, 2011. KUNIC, S., SEGO, Z. OLED technology and displays. ELMAR, 2012 Proceedings, pp. 31-35, 2012. POPPE, A. et al. Methodology for thermal and electrical characterization of large area OLEDs. 25th Annual IEEE Semi-Therm 2009a. p.38-44, 2009. Figura 4. Imagens MEF e termografia. SCHWAMB, P.; REUSCH, T. C. G.; BRABEC, C. J. Passive cooling of large-area organic light-emitting diodes. Organic Electronics, v. 14, n. 8, p. 1939-1945, 2013. 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