CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO MESTRADO EM GESTÃO SOCIAL, EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL CLEUDES DIAS MARTINS ANDRADE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NA PERSPECTIVA DA LEI 9.795/99 Belo Horizonte 2014 CLEUDES DIAS MARTINS ANDRADE A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NA PERSPECTIVA DA LEI 9.795/99 Dissertação apresentada ao Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre. Área de concentração: Inovações Sociais e Desenvolvimento Local. Linha de pesquisa: Desenvolvimento Local. Orientadora: Profª. Gonçalves Quaresma. Belo Horizonte 2014 Educação Drª. e Adilene AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por ter criado um planeta tão lindo; por confiar a nós, seres humanos, o nobre dever de cuidar; e por ter me sustentado durante toda minha vida. Ao meu marido pelas horas subtraídas do nosso convívio e por abdicar de tantas comodidades para eu ter tempo de dedicação aos estudos. Aos meus filhos, Stephanie e Ivan, por terem compreendido e aceitado a minha ausência durante o período da pesquisa. Agradeço a minha mãe, D. Branca, por ter contribuído para eu chegar até aqui. Agradeço a todos os meus familiares e amigos que acreditaram nos meus sonhos e me incentivaram a seguir em frente. Agradeço à Professora Adilene, minha orientadora, pela paciência, compreensão, incentivo e pelas preciosas dicas que foram fundamentais para a conclusão desta dissertação. Agradeço à instituição pesquisada que forneceu importantes dados e que tem desenvolvido um trabalho dentro do que acredita ser o melhor para os alunos. “Gosto de ser gente porque, mesmo sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam” (Paulo Freire, 1996). Rever o passado, cuidar do presente para garantir que haja um futuro, mas um futuro com qualidade! (Pesquisadora) RESUMO O tema: A Educação Ambiental como função social da escola na perspectiva da Lei 9.795/99, parte do pressuposto que as questões ambientais incluem-se dentre os temas contemporâneos que exigem uma abordagem socioeducativa. Requer uma nova articulação das vinculações entre as várias ciências em busca de uma formação cidadã, como parte da formação social de sujeitos que enfrentam a problemática ambiental e se comprometem com as mudanças necessárias à qualidade de vida no ambiente de forma autônoma e responsável. A Lei 979571999 de Educação Ambiental- PNEA possibilita uma formação social que permite o desenvolvimento local, porque ambos são fundamentados no protagonismo de seus sujeitos em torno das potencialidades locais. A gestão social escolar passa, então, a ser vista como estratégia capaz de dar sentido e reconhecimento às experiências locais. Portanto, a gestão do desenvolvimento local compromete-se com o social, balizados pela cidadania em todo processo de planejamento, execução e avaliação do que foi almejado. Assim, o objetivo desta pesquisa foi investigar como as práticas de Educação Ambiental, desenvolvidas por uma escola da rede estadual de Minas Gerais, se articulam com os princípios enunciados na Lei 9.795/99 e possíveis interlocuções entre a formação social, desenvolvimento local e gestão social. Para tal, esta dissertação fez o seguinte percurso metodológico: a pesquisa qualiquantitativa como método de abordagem; e as pesquisas bibliográfica, documental e de campo. Na pesquisa de campo, a investigação empírica de natureza qualiquantitativa, consistiu num estudo de caso, com aplicação dos seguintes intrumentos de coleta de dados: entrevistas semiestruturadas para docentes, especialista e gestores; questionários para os discentes; observação. A pesquisa bibliográfica, realizada em teses, dissertações, artigos, livros e sites, possibilitou a construção de um suporte teórico que orientou a pesquisa documental. Esta última contemplou documentos oficiais de uma escola e do Estado Minas Gerais, de maneira que fosse possível confrontá-los com a Educação Ambiental enunciada pela Lei 9.795/19999 e no referencial teórico. Por fim, os dados empíricos possibilitaram perceber a realidade de Educação Ambiental vivenciada pelos sujeitos cuja análise dos dados evidenciou que os processos de Educação Ambiental não condizem com as diretrizes da Lei 9.795/1999. Os projetos, quando existem, são sazonais e não contemplam a interdisciplinaridade; e as atividades desenvolvidas se resumem a visitas a reservas, feiras e em exposições de trabalhos dos discentes, ficando no nível de transmissão de conteúdos. Conclui-se que a instituição desenvolve a Educação Ambiental que construiu ao longo de seu processo educativo, no entanto, em desacordo com as prerrogativas da Lei por não ter conhecimento e por falta de formação complementar por parte do órgão gestor ao qual está subordinada e que é uma determinação da Política Nacional de Educação Ambiental – Lei 9.795/1999. Palavras-chave: Política de Educação Ambiental. Escola. Formação Social. Desenvolvimento Local. Gestão Social. ABSTRACT The theme: Environmental education as a social function of the school from the perspective of Law 9.795/99, assumes that environmental issues are included among the contemporary themes that require a socio-educational approach. Requires a new articulation of the links between the various sciences in search of a civic education as part of the social formation of individuals facing environmental issues and commit to the necessary quality of life in autonomous and responsible environmental changes. The Law on Environmental Education enables a social formation that allows local development, because both are based on the role of their subjects around the local potential. School social management goes, then, be seen as a strategy capable of giving meaning and recognition to local experiences. Therefore, the management of local development is committed to the social, marked by citizenship whole process of planning, implementation and evaluation of what was desired. The objective of this research was to investigate how the practices of environmental education, developed by a state school of Minas Gerais, articulate with the principles set out in Law 9.795/99 and possible dialogue between the social formation, local development and social management. To this end, this dissertation made the following methodological approach: qualitative research as a method of approach, and bibliographical, documentary and field research. In field research, empirical research, qualitative and quantitative nature, consisted of a case study, with application of the following instruments for data collection: semi -structured for teachers, managers and expert interviews, questionnaires for students; observation. A literature search was undertaken theses, dissertations, articles, books and websites enabled the construction of a theoretical support that guided the documentary research. The latter included official documents of a school and the Minas Gerais State, so it was possible to confront them with the Environmental Education indicated in Law 9.795/1999 and theoretical framework. Finally, empirical data allow to realize the reality of environmental education experienced by the subjects. Data analysis showed that the processes of environmental education are not consistent with the guidelines of the Law 9.795/1999. The projects, when there are seasonal and do not include interdisciplinary, and the activities are summarized visits to reserves, fairs and exhibitions of works of students, getting the level of content delivery. We conclude that the institution develops environmental education that built throughout their educational process, however, at odds with the prerogatives of the Law because the unknown and never received further training by the authorizing body to which it is subject and which is a determination of the national Environmental Education Policy Law 9.795/1999. Keywords: Environmental Education Policy. School. Social Formation. Local Development. Social Management. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Linha do tempo sobre meio ambiente e educação....................... Figura 2 Foto de trabalho sobre poluição atmosférica................................ 147 Figura 3 Oficina de produtos de limpeza ecológicos.................................. 148 Figura 4 Imagem da horta.......................................................................... 149 Gráfico 1 Participação discente nos projetos de educação ambiental da instituição pesquisada................................................................. 128 Presença de educação ambiental nas disciplinas................................................................................ 130 Gráfico 3 Participação discente no Projeto Manuelzão............................... 134 Gráfico 4 Participação discente em projetos de iniciativa externa.............. 137 Gráfico 5 Análise da eficiência da educação ambiental executada.......... 142 Gráfico 6 Resultados da escola pesquisada: PROEB 2012 – Língua Portuguesa – 5º ano.................................................................... 150 Gráfico 2 Gráfico 7 39 Resultados da escola pesquisada: PROEB 2012 – Matemática – 5º ano........................................................................................ 151 Resultados da escola pesquisada: PROEB 2012 – Língua Portuguesa – 9º ano.................................................................... 151 Resultados da escola pesquisada: PROEB 2012 – Matemática – 9º ano................................................................................... 152 Quadro1 Educação Ambiental na Educação Tradicional e na Libertadora 81 Quadro 2 Diretrizes de EA: Federais e Estaduais/MG................................ 123 Quadro 3 125 Quadro 4 Categorias e unidades de análises das entrevistas e questionários ................................................................... Respostas dos participantes sobre ações desenvolvidas........... Tabela 1 Pesquisa stricto sensu em educação ambiental......................... Gráfico 8 Gráfico 9 132 41 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIA - Avaliação de Impacto Ambiental CBC’S – Conteúdos Básicos Comuns CEP - Comitê de Ética em Pesquisa CETESB - Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental CIEA – Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental CONAMA - Conselho Nacional de Meio Ambiente CONEP - Conselho Nacional de Ética em Pesquisa DL - Desenvolvimento Local EA - Educação Ambiental EF - Ensino Fundamental EM - Ensino Médio ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IDEB - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica LDB - Lei de Diretrizes e Bases LEM - Língua Estrangeira Moderna MCT - Ministério da Ciência e Tecnologia MEC - Ministério da Educação e do Desporto MINC - Ministério da Cultura do Brasil MMA - Ministério do Meio Ambiente ONU - Organização das Nações Unidas PAAE - Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais PDPI - Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional PEAS - Projeto de Educação Afetivo Sexual PIB - Produto Interno Bruto PIEA - Programa Internacional de Educação Ambiental PIP - Plano de Intervenção Pedagógica PNE - Plano Nacional de Educação PNEA - Política Nacional de Educação Ambiental PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PPP - Projeto Político Pedagógico PROALFA - Programa de Avaliação da Alfabetização PROEB - Programa de Avaliação de Rede Pública de Educação Básica PROERD - Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência PROETI - Projeto Aluno de Tempo Integral PRONEA - Programa Nacional de Educação Ambiental SAEB - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SEE/MG - Secretaria de Estado de Educação do Estado de Minas Gerais SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente SRE - Superintendência Regional de Educação TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido UFMG - Universidade Federal do Estado de Minas Gerais UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura SUMÁRIO INTRODUÇÃO....................................................................................................... Do tema de pesquisa.......................................................................................... Definição do problema de pesquisa.................................................................... Dos objetivos....................................................................................................... 11 12 12 13 1 CONCEITOS E CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL.. 1.1 Abordagens e Conceitos de Educação Ambiental....................................... 1.2 Contexto Histórico de Educação Ambiental ................................................ 1.3 Principais orientações legais de Educação Ambiental................................. 1.4 Produção científica sobre Educação Ambiental........................................... 17 17 25 31 40 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E EDUCAÇÂO AMBIENTAL..................... 2.1 Lei de Educação Ambiental e sua perspectiva para a formação social..... 43 50 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E GESTÃO SOCIAL .............................................................................................................. 3.1 O que é Desenvolvimento local................................................................... 3.2 O Desenvolvimento Local e Educação Ambiental....................................... 3.3 Noção e perspectivas da Gestão social....................................................... 3.4 Gestão Social, EA e DL – articulações possíveis....................................... 3.5 Educação Ambiental e Comunidade de Aprendizagem.............................. 67 67 71 75 78 80 4 METODOLOGIAS E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO........................ 4.1 Metodologia de abordagem................................................................... 4.2 Delineamento da Pesquisa................................................................... 4.3 Cenário do Estudo................................................................................... 4.4 Sujeitos da pesquisa.............................................................................. 4.5 Instrumentos de coleta de dados......................................................... 4.5.1 Das entrevistas.................................................................................. 4.5.2 Do questionário................................................................................. 4.5.3 Da Observação ................................................................................. 4.5.3.1 Cenário..................................................................................... 4.5.3.2 Comportamentos sociais........................................................... 4.5.3.3 Observação das atividades – dia 15 de julho de 2013................... 4.6 Procedimentos Éticos............................................................................. 4.7 Organização e Análise dos dados....................................................... 88 88 89 90 91 92 92 93 93 93 94 94 95 95 5 A REALIDADE DA EA: O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS E O QUE FOI EVIDENCIADO PELOS DADOS EMPÍRICOS.................................................. 5.1 Apontamentos da Lei 9795/99: objetivos e princípios para a Educação Ambiental..................................................................................... 5.2 Direcionamentos para a Educação Ambiental presentes no CBC - da Secretaria de Estado educação/MG............................................ 97 97 99 5.2.1 Proposta Metodológica para os anos iniciais do EnsinoFundamental .......................................................................................... 5.2.1.1 Ciclo da Alfabetização – 1° ao 3° ano de escolaridade..................... 5.2.1.2 Ciclo Complementar – 4° e 5° ano de escolaridade..................... 5.2.2 Proposta Metodológica para os anos finais do Ensino Fundamental.... 5.2.2.1 Abordagens específicas das questões ambientais em Ciências..... 5.3 Apontamentos do Projeto Político Pedagógico............................................... 5.3.1 Orientações metodológicas e curriculares do PDPI................................ 5.3.1.1 Ensino Fundamental I – 1° ao 5° ano de escolaridade ................... 5.3.1.1.2 Os projetos específicos de cada disciplina................................. 5.3.1.2 Ensino Fundamental II – 6° ao 9° ano.............................................. 5.3.1.2.1 Curriculares.............................................................................. 5.3.1.2.2 Metodologias e projetos realizados de acordo com o PDPI da instituição pesquisada............................................... 5.4 Base curricular nacional para educação ambiental........................................ 5.5 As práticas de Educação Ambiental desenvolvidas pela escola.................... 5.5.1 Análise das entrevistas e dos questionários............................................. 5.5.1.1 Categorização das entrevistas e questionários.................................. 5.5.2 Análise das observações: possíveis articulações das atividades com o desenvolvimento local e social: a função social da educ. ambiental.. 5.5.3 Contribuição para o ensino aprendizagem.............................................. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 100 100 101 106 110 113 115 115 117 119 119 119 124 125 125 126 147 155 157 REFERÊNCIAS........................................................................................................ 166 APÊNDICES............................................................................................................. Apêndice A................................................................................................................ Apêndice B................................................................................................................ Apêndice C............................................................................................................... Apêndice D............................................................................................................... Apêndice E................................................................................................................ Apêndice F................................................................................................................ Apêndice G............................................................................................................... 172 172 192 193 194 195 196 197 ANEXOS................................................................................................................... Anexo 1..................................................................................................................... Anexo 2..................................................................................................................... Anexo 3..................................................................................................................... 198 198 201 208 11 INTRODUÇÃO Diante das circunstâncias atuais, tais como a crescente urbanização, procedimentos de globalização e limites de suporte do meio físico, a capacidade dos países considerados em desenvolvimento, inclusive o Brasil, de oferecer serviços básicos (habitação, saneamento, saúde e transportes, dentre outros) não acompanha as demandas da população excluída desses serviços. São veiculados nos jornais, revistas e noticiários televisivos assuntos relacionados com os agravos ao meio ambiente, à crise energética, ao desmatamento, à poluição, ao efeito estufa, dentre outros. Alguns pesquisadores até afirmam que, se nada for feito, possivelmente haverá a perspectiva de extinção da própria vida humana no planeta. Mesmo se a visão de futuro fosse menos pessimista, a humanidade já tem motivos o bastante para, em conjunto, lutar por mudanças radicais em seus hábitos e também com isso, propor alterações significativas no modelo de sociedade. As mudanças preteridas, a partir da incorporação de novos valores, hábitos e atitudes, requerem o protagonismo da escola, como parte de um esforço para o alcance de tais proposições, envolvendo um processo de aprendizagem social, ambientalmente orientada, cuja implicação é o reconhecimento do meio ambiente como um bem público e o entendimento de que o acesso a um ambiente saudável e à qualidade de vida se constitui como um direito, mas também um dever de todos os cidadãos. Como Analista da Educação, esta pesquisadora desempenha um trabalho direcionado ao acompanhamento de projetos da Secretaria de Estado de Educação (SEE/MG), especialmente no assessoramento das atividades pedagógicas, objetivando a melhoria do desempenho escolar dos alunos e o alcance das metas nas avaliações externas. A vivência no ambiente escolar permitiu uma percepção sobre as práticas de educação ambiental; e estas se mostraram, à primeira vista, insuficientes para promover não apenas a sensibilização, mas o comprometimento dos sujeitos frente 12 às questões ambientais mundiais e locais que levem a mudanças de comportamento e atitude em prol da conservação do meio ambiente e melhoria da qualidade de vida. Do tema de pesquisa A educação ambiental resulta em benefícios e oportunidades sociais que levam ao desenvolvimento na perspectiva local, balizado por uma gestão social. Estes são processos interdependentes que requerem a participação dos sujeitos em busca de um projeto de sociedade que pensa global e age local, que fazem parte dos apontamentos percebidos na Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei 9.795/1999, e que deveriam conduzir as práticas educacionais. Com base nestas premissas, nas observações durante o exercício profissional e no interesse pela temática ambiental foi construído o seguinte tema de pesquisa: A educação ambiental como função social da escola na perspectiva da Lei 9.795/99. Isto significa pensar a escola como agente de transformação social a partir do direcionamento da PNEA. Definição do problema de pesquisa Nesta direção, a situação-problema originou-se da necessidade de desenvolver práticas pedagógicas que se mostrassem coerentes às premissas estabelecidas pela Lei 9.795 de 27 de abril de 1999, que traz, entre outros pressupostos, o entendimento de educação ambiental como os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente (BRASIL, Lei 9.795/1999). Neste processo, em relação às atividades de educação ambiental desenvolvidas, o que se percebe é a insuficiência de práticas concretas que resultem em atitudes proativas de respeito e preservação do meio ambiente. 13 Dos objetivos A investigação se encaminhou com base no objetivo geral, que teve como foco pesquisar de que maneira as práticas de educação ambiental, desenvolvida por uma escola da rede estadual de Minas Gerais, se articulam com os princípios enunciados na Lei 9.795/99. E para melhor compreensão do problema de pesquisa, foi necessário estabelecer objetivos específicos, como: 1) descrever a evolução dos conceitos de educação ambiental; 2) analisar a concepção de função social da educação ambiental enunciadas na Lei 9.795/99 e sua articulação com o desenvolvimento local; 3) investigar a orientação teórico-metodológica de educação ambiental prevista na matriz curricular da escola, nas diretrizes institucionais da Secretaria de Estado de Educação – SEE/MG, no Projeto Político Pedagógico (PPP) - a perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; 4) e por fim, analisar as práticas pedagógicas de educação ambiental desenvolvidas na escola pesquisada, na perspectiva da Lei 9.795/99. Os objetivos – geral e específicos – foram construídos para orientar as questões circunscritas à definição do objeto da pesquisa ou da questão central da investigação a partir da discussão do problema. Neste sentido, a questão central de pesquisa teve o seguinte enfoque: o desenvolvimento de educação ambiental, no âmbito escolar, que resulta em exercício de cidadania, em participação efetiva dos sujeitos, na busca da dimensão social e tem perspectiva de desenvolvimento local, conforme premissas da Lei 9.795/99? As práticas de educação ambiental desenvolvidas pelas escolas, usualmente, são de caráter conteudista, resumindo-se em atividades conceituais confinadas à sala de aula que não condizem com as orientações contidas na Lei 9.795/99. A Lei traz definições que permitem uma prática pedagógica que propicie a construção de um conhecimento emancipatório, capaz de interferir nas práticas sociais e que resulte em exercício de cidadania. 14 A educação é uma importante ferramenta para as transformações na sociedade, pois questiona as decisões relacionadas à vida dos cidadãos; repensa os acontecimentos, como eles foram e aconteceram realmente e as suas correlações com o que acontece nos tempos atuais. É ela que possibilita um enfrentamento da realidade, permitindo uma relação, dentre muitas, entre o conhecimento e o Desenvolvimento Local, que conforme Dowbor (2006) tem por objetivo “(...) formar pessoas que amanhã possam participar de forma ativa das iniciativas capazes de transformar o seu entorno”(DOWBOR, 2006, p 01). Além disso, sua intenção engloba lançar mão do potencial local, resgatar e valorizar a sua cultura, corresponsabilizando os sujeitos envolvidos na busca por soluções dos problemas locais, ao promover mudanças de atitude e de comportamento. Quanto à estrutura da dissertação, o primeiro capítulo abordou conceitos, construção histórica da educação ambiental e orientações legais. Tornou-se necessário descrever os vários conceitos formulados de acordo com as características de cada período sócio-histórico e econômico; e foram elencados os conceitos formulados por vários estudiosos, especialmente o abordado pela Lei e que coadunam com a temática: educação ambiental como função social da escola na perspectiva da Política Nacional de Educação Ambiental, a Lei 9.795/1999. Quanto à abordagem do contexto histórico, foram descritos os principais fóruns mundiais, contribuindo para evolução dos conceitos cujas formulações têm fortes relações entre as respostas dadas pela natureza à ação humana. Tanto é que, inicialmente, os conceitos de educação ambiental estavam ligados à natureza e foi a partir do enfoque das Ciências Sociais e de outras ciências é que passou a relacionar-se à ideia de melhoria do ambiente humano (DIAS, 2010). Percebeu-se que, na atualidade, a educação ambiental está orientada para o desenvolvimento sustentável e pelo enfoque sociocultural que apontam para propostas pedagógicas centradas na criticidade e na emancipação dos sujeitos, com vistas à mudança de comportamento e atitudes e na participação coletiva. 15 Ainda neste capítulo, foi importante relacionar o embasamento legal, especialmente por esta pesquisa ter seu direcionamento a partir de uma lei. Elencou-se as diretrizes legais que vão desde a Constituição Federal até a Resolução nº 2 de 15 de junho de 2012, sendo esta última uma reafirmação da Lei 9.795/1999 e conter orientações curriculares para a educação ambiental. E, para complementar o contexto histórico, fez-se um levantamento sobre as produções científicas envolvendo a temática da pesquisa. No segundo capítulo, após descrever a evolução dos conceitos e o contexto histórico da educação ambiental, que permitiu entender em que conjuntura se deu a elaboração da Política Nacional da Educação Ambiental e sua aplicabilidade no fazer escolar, foram apresentadas discussões sobre a função social da escola. O objetivo proposto para este capítulo foi entender as interlocuções entre Educação e formação social à luz da PNEA no contexto da educação formal. Além da função social da escola, analisam-se as dimensões sociais presentes nas da lei 9.795/1999. No terceiro capítulo foram apresentados conceitos como: desenvolvimento local, gestão social e a interlocução com a educação ambiental. A perspectiva local enfoca a dinâmica particular do espaço, que possibilita entender a dinâmica do desenvolvimento e as relações de proximidades influenciadas pela história, a cultura e a territorialidade. Assim, educação ambiental e o desenvolvimento local, firmados no protagonismo dos sujeitos envolvidos, têm na gestão social um caminho natural. Em todos esses processos, o exercício para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas. Nesse sentido, cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, onde a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. Foram apresentados no quarto capítulo os procedimentos metodológicos cujo método de abordagem é de natureza qualiquantitativa, pois trabalha com dados quantitativos, mas os submetem a uma análise qualitativa na tentativa de por em cena os dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos. 16 No quinto capítulo, intitulado: “A realidade da educação ambiental – o que dizem os documentos e o que foi evidenciado pelos dados empíricos”, apresentaram-se as análises dos dados coletados na pesquisa bibliográfica, documental e pesquisa de campo. Na pesquisa de campo utizaram-se os seguintes intrumentos de coleta de dados: entrevistas semi-estruturadas para docentes, especialista e gestores; questionários para os discentes; observação dirigida a sujeitos, cenários, comportamentos sociais e atividades pedagógicas de educação ambiental. A análise dos dados compreendeu busca criteriosa das diretrizes de educação ambiental presentes nos documentos oficiais da Secretaria de Estado de Educação e da instituição pesquisada, que foram respetivamente: Currículo Básico Comum de Minas Gerais; e o Projeto Político Pedagógico, que na instiuição pesquisada é denominado Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional. Diante das diretrizes da Lei 9.795/1999 e das proposições elaboradas pelos principais pesquisadores na temática ambiental, os dados evidenciaram que a educação ambiental desenvolvida pela instituição pesquisada se reduz a atividades eventuais e em datas específicas, ligadas principalmente aos conteúdos de Ciências, Geografia e Artes. Apoiada na revisão literária e na análise dos dados obtidos, a pesquisadora apresentou suas considerações finais e concluiu que às hipóteses, inicialmente levantadas a partir da questão central, foram confirmadas. Os projetos existentes se revelaram sazonais e não contemplativos da interdisciplinaridade; as atividades desenvolvidas se resumiram em visitas a reservas, feiras e em exposições de trabalhos dos discentes, ficando em nível de transmissão de conteúdos. Assim, verificou-se que as práticas desenvolvidas não alcançam os valores sociais que extrapolam o conhecimento da sala e passam a fazer parte do modo de viver dos indivíduos e da coletividade, modificando suas atitudes e promovendo o desenvolvimento local. 17 1 CONCEITOS E CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 1.1 Abordagens e Conceitos de Educação Ambiental O conceito de educação ambiental esteve, inicialmente, atrelado ao conceito de meio ambiente e à maneira como este era percebido. A partir da interdependência e da contribuição das ciências sociais e de outras ciências é que passou a considerarse à ideia de melhoria do ambiente humano (DIAS, 2010). No entanto, em episódios históricos diferentes, o homem vivencia momentos de extrema lucidez e sensibilidade, ao lado de episódios desastrosos na sua vinculação com o meio ambiente, resultado de uma relação que demonstrava uma total falta de percepção sobre as consequências de tais atos. A Bíblia Sagrada abriga textos do antigo testamento que possuem valores distintos dos ideais sobre a natureza propostos pela Modernidade. Em um período da história antes de Cristo, há indicações sobre cuidados no trato com a natureza e a intrínseca relação com a questão social, ao fazer uma alusão entre o sábado do homem e o sábado da terra; significando que a terra deveria descansar para se renovar e recuperar o vigor produtivo após um ritmo de seis anos de trabalho seguidos. Neste ano, a terra não devia ser cultivada e os donos da produção deveriam abrir mão do produto daquele ano para que o povo pobre pudesse colher (BÍBLIA, Ex. 23:10 e11)1. Assim, a terra possui um direito divinamente garantido de descansar. Além do direito de descanso e a preocupação com os recursos da terra, há indícios antigos da expressão que hoje se denomina equilíbrio ecológico e uma intrínseca relação com a justiça social. A terra é pensada além da forma cartesiana, apenas como uma 1 Êxodo é o segundo livro da Bíblia sagrada que narra a saída do povo de Israel do Egito em busca da terra prometida 18 realidade existente em função dos seres humanos, de maneira que não são concebidos acima da terra (MENDONÇA, 2011). Em outro momento histórico (séc. XIV), o ser humano demonstrou grande estupidez ao ignorar o cuidado com o meio ambiente, especialmente, o seu ambiente imediato. No fim da Idade Média, as moradias – tanto os lares mais humildes como os castelos de pedra dos senhores feudais – possuíam um único cômodo grande no qual todos os moradores habitavam. As condições internas das habitações, como a umidade, a fumaça, a ausência de privacidade e a consequente promiscuidade, eram agentes eficazes na transmissão de doenças. Além disso, as cidades eram densamente povoadas. Os resíduos – fezes, urina e águas fétidas – eram lançados pelas janelas. As roupas eram lavadas raramente e, como consequência, elas ficavam infestadas de pulgas, percevejos, piolhos e traças. As casas eram ninhos de ratos que disputavam os restos de comida com os animais de criação. Foi este ambiente que propiciou a propagação da “Peste Negra”, doença que dizimou a população da Europa (VELLOSO, 2008). Segundo Dias (2010), a partir do desenvolvimento industrial (1779) e com a intensa urbanização, as preocupações com o meio ambiente começaram a se intensificar, mas ainda restrita a aspectos descritivos relacionados à botânica e zoomorfologia, sem promover a inter-relação com os vários campos de conhecimentos. Prevalecia uma análise filosófica, circunscrita a um pequeno grupo de estudiosos. Em 1869, Ernest Haeckel, propôs o vocábulo Ecologia para promover tais relações entre as espécies e estas com o meio ambiente (DIAS, 2010). No século XX, a poluição atmosférica na Inglaterra em 1952, provocou a morte de muitas pessoas e desencadeou propostas políticas que, no âmbito da educação, provocou reformas no ensino de Ciências para abordagem da temática ambiental, porém, ainda de forma incipiente, reduzida a advertências, praticada no meio acadêmico (DIAS, 2010). Com o agravamento dos problemas ambientais, resultado do modelo de desenvolvimento adotado pelos países ricos, a década de 1960 foi marcada por 19 denúncias divulgadas pela imprensa e pelo livro: “Primavera Silenciosa”, de Raquel Carson, com denúncias sobre o descuido e a irresponsabilidade dos setores produtivos ao promoverem a espoliação da natureza sem a menor preocupação com as consequências. Isto suscitou inquietações internacionais e promoveu discussões nos diversos foros internacionais a partir da década de 1970 (DIAS, 2010). Depois deste livro e das discussões suscitadas pelo Clube de Roma, na década de 1970,o termo educação ambiental consolidou-se, sendo tema de vários encontros mundiais como: Estocolmo, Tbilisi, Belgrado, dentre outros. O conceito de educação ambiental na atualidade foi evoluindo a partir de um processo contínuo, construído a cada fórum e pela formulação das políticas nacionais e internacionais. O debate perpassa a discussão da questão do direito à educação ambiental e se consolida como um direito social fundamental. Assim, a educação ambiental assume um caráter mais realista, orientada para a busca de um equilíbrio entre o homem e o ambiente, com vistas à construção de um futuro pensado e vivido numa lógica de desenvolvimento pautado na sustentabilidade, termo que foi agregado à temática ambiental. Neste contexto, a educação ambiental se torna ferramenta para o desenvolvimento sustentável, definido na “Agenda 21”2 como: Aquele que harmoniza o crescimento econômico, com a promoção da justiça social e a preservação do meio ambiente. Assim, busca-se garantir que as necessidades das atuais gerações sejam atendidas sem comprometer o atendimento das gerações futuras (DIAS, 2010, p.50). Esta definição está relacionada ao conceito de sustentabilidade. Entretanto, para muitos especialistas, uma educação ambiental para o desenvolvimento sustentável é severamente criticada pela dicotomia existente entre "desenvolvimento e sustentabilidade". O modelo de desenvolvimento imposto pela modernidade e com o 2 A Agenda 21 Global é um programa de ação que 170 países assumiram para cuidar do planeta.Na Agenda 21, como em qualquer agenda, estão marcados os compromissos da humanidade com o Século XXI, para garantir um futuro melhor para o planeta, respeitando o ser humano e o seu ambiente (DIAS,2004,p.50). 20 viés capitalista reside na inadequação de um sistema socioeconômico de consumo e produção insustentáveis, que impõe um padrão de vida, um conceito cartesiano e economicista que, nem de longe, poderia ser compatível com a sustentabilidade. Amartya Sen (2010), no livro “O desenvolvimento como liberdade”, consegue conceituar o desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais que as pessoas desfrutam que contrasta com visões restritas ao crescimento do PIB relacionadas diretamente ao viés capitalista. Para Sen (2010), o desenvolvimento tem relação direta com a seguinte perspectiva: O desenvolvimento requer que se movam as principais fontes de privação de liberdade: pobreza, tirania, carência de oportunidades econômicas e destituição social sistemática, negligência dos serviços públicos e intolerância ou interferência excessiva de Estados repressivos. (SEN, 2010, p.16). Ao aproximar os conceitos de educação ambiental ao de desenvolvimento trazido por Sen (2010), pode-se dizer que ambos permitem a expansão das oportunidades sociais, possibilitando um desenvolvimento adequado: “O principal é que o impacto do crescimento econômico depende muito do modo como seus frutos são aproveitados”(SEN, 2010, p. 66). A base material do processo de desenvolvimento é fundamental, mas deve ser considerada como um meio e não como um fim. Existem termos relacionados por vários autores, mas que são interligados ao conceito de educação ambiental, tais como: Ecopedagogia, Pedagogia da Terra, Pedagogia da Sustentabilidade e Educação para a Cidadania Planetária. São expressões diferentes, mas que possuem um projeto em comum. No entanto, para Gadotti (2009, p. 99), “a Ecopedagogia incorpora a educação ambiental e oferecelhe estratégias, propostas e meios para a sua realização concreta”. Jacobi (2005) traz um importante esclarecimento sobre as abordagens de educação ambiental, cujos enfoques apontam para duas linhas: conservadora e emancipatória. O discurso conservador privilegia ações pontuais, conteudistas e descontextualizadas da proposta pedagógica, cujas respostas às demandas ambientais têm caráter instrumental e sob uma ótica naturalista. 21 A abordagem emancipatória tem por referência o pensamento crítico, que leva a práticas significativas e com abrangências que transcendem a preservação ambiental a partir de um processo de aprendizagem ativa baseada no diálogo (JACOBI, 2005). É importante destacar alguns conceitos de educação ambiental que dialogam com o sentido desta pesquisa: a) A definição oficial de educação ambiental, do Ministério do Meio Ambiente, conforme Rizzo (2005, p. 2): Educação ambiental é um processo permanente, na qual os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu meio ambiente e adquirem conhecimentos, valores, habilidades, experiências e determinação que os tornam aptos a agir – individual e coletivamente – e resolver problemas ambientais presentes e futuros. A educação ambiental, neste sentido, é uma ação contínua que contempla a aquisição de conhecimentos que resultem em mudança de postura ante os desafios que a humanidade enfrenta e que poderão ser agravados, caso o indivíduo e a sociedade local, regional e global não se proponham a incorporar as premissas da educação ambiental. O Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) considerou a educação ambiental segundo Dias (2010, p. 85): Um processo de formação e informação orientado para o desenvolvimento da consciência crítica sobre as questões ambientais e de atividades que levem à participação das comunidades na preservação do equilíbrio ambiental.. Uma consciência crítica poderá ser formada, inicialmente, a partir de reflexão sobre o papel e a contribuição de cada indivíduo na preservação do planeta como maneira de preservação da vida, inclusive à própria e que, preservar o meio ambiente, não somente garantirá às gerações futuras uma vida com maior qualidade, mas também trará benefícios imediatos à geração atual. 22 b) Educação ambiental definida pela Comissão Interministerial3 na preparação da ECO-92, coloca Dias (2010, p.99): Educação ambiental se caracteriza por incorporar a dimensão socioeconômica, política, cultural e histórica, não podendo se basear em pautas rígidas e de aplicação universal, devendo considerar as condições e estágios de cada país, região e comunidade, sob uma perspectiva histórica [...]Deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que conformam o ambiente, com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade, no presente e no futuro. Não existem modelos preestabelecidos para se promover a educação ambiental, sendo necessário respeitar as especificidades locais. A partir de cada realidade serão definidas diretrizes educacionais para que seja alcançada a sustentabilidade, o respeito à natureza e às pessoas. c) Jacobi (2005) defende educação ambiental como a condição e para o enfrentamento da atual condição socioambiental do planeta: Entende-se, portanto, que a educação ambiental é condição necessária para modificar um quadro de crescente degradação socioambiental, se converte em mais uma ferramenta de mediação necessária entre culturas, comportamentos diferenciados e interesses de grupos sociais para a construção das transformações desejadas (JACOBI, 2005, p. 191). d) Dias (2010) não apenas cita os conceitos de Educação Ambiental, mas elabora uma definição com o seguinte sentido para a temática: A Educação ambiental tem como finalidade promover a compreensão da existência e da importância da interdependência econômica, política, social, e ecológica da sociedade; [...] tornar apta a agir em busca de alternativas de soluções para os seus problemas ambientais, como forma de elevação da sua qualidade de vida (DIAS, 2010, p. 83). Nas definições de Dias (2010) e Jacobi (2005), a educação ambiental, como recurso imprescindível para recuperação dos danos causados à natureza, tem como pressuposto o incentivo ao desenvolvimento sustentável como uma condição sine 3 Comissão composta pelo: Ministério da Educação e Desporto, Mistério do Meio Ambiente, Ministério da Cultura e Ministério da Ciência e Tecnologia. 23 qua non, na tentativa de reverter tal quadro. Neste processo, o educador adquire a função de mediador para a construção de referenciais ambientais e deve saber usálos como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática pedagógica de cunho social e centrada no conceito da natureza. Nesta perspectiva, a noção de sustentabilidade implica, portanto, uma inter-relação necessária de justiça social, qualidade de vida, equilíbrio ambiental e a ruptura com o atual padrão de desenvolvimento, salienta Jacobi (2005), quando relaciona educação ambiental como premissa para recuperação do meio ambiente. e) Na Lei 9.795/99, é entendida como: O processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, Art.1º, Lei 9.795, 1999). A educação ambiental é definida como um processo, ou seja, não é simplesmente um meio ou um conceito em si. O termo processo é definido como uma atividade reflexiva com o objetivo de alcançar o conhecimento de algo; ainda pode ser entendido como “uma série de fenômenos sucessivos formando um todo e culminando em determinado resultado” (JUPIASSU; MARCONDES, 2001, p.157). Neste sentido, o processo de educação ambiental é um ato intencional político que envolve a esfera individual e coletiva. Ainda neste mesmo dicionário, há a ideia de processo como “progresso indefinido ou, sucessão sem término previsível” (JUPIASSU; MARCONDES, 2001, p.157). Assim, a conservação e preservação do meio ambiente é um processo dinâmico e contínuo para melhoria da preservação ambiental e da qualidade de vida. Segundo Dias (2010), a educação ambiental deveria promover a compreensão da existência e da importância de interdependência das dimensões econômica, política, social e ecológica da sociedade. E ainda, proporcionar às pessoas a possibilidade de adquirir conhecimentos, habilidades, valores e atitudes necessárias à proteção e melhoria da qualidade ambiental. 24 Nas diversas definições de educação ambiental citadas acima, a ideia fundamental, ou seja, o objetivo principal é a criação de uma consciência ambiental na população, tendo como principal meio a educação, através da abordagem de elementos do meio ambiente, seus problemas e possibilidades de solução dentro dos programas das diferentes disciplinas escolares. E para Jacobi (2005, p.191), “o educador é o mediador deste processo”, pois tem o privilégio de atuar na construção de referenciais ambientais e usá-los como instrumentos de uma aprendizagem social associada ao conceito de natureza. As políticas ambientais e os programas educativos relacionados à conscientização da crise ambiental demandam cada vez mais novos aspectos que sejam capazes de integrar uma realidade conflitante que gera desigualdades e que transcendem uma simples aplicação dos conhecimentos científicos e tecnológicos disponíveis. Dessa forma, na formulação do conceito de educação ambiental, foram incorporados termos como: conhecimento; atitude; valores; coletividade; sustentabilidade; conscientização; interdisciplinaridade; cidadania; caráter holístico. Estes termos dão à educação ambiental um caráter de aprendizagem socialmente construída. Dar um caráter holístico, conforme orienta a Lei 9.795/99, significa compreender a realidade em totalidades integradas evidenciando que, conforme definição do dicionário Japiassú; Marcondes (2001, p. 95): “a parte está no todo, assim como o todo está na parte, numa inter-relação constante, dinâmica e paradoxal”. É considerar o todo, atentando para as partes e suas inter-relações, e isso demanda empenho para fortalecer visões integradoras para um processo educativo articulado, compromissado e participativo apoiado numa lógica que privilegia o diálogo e a interdependência de diferentes áreas de saber. Com isso, nasce a ideia de sustentabilidade que considera a dinâmica da natureza nos processos relacionados à existência da sustentabilidade social, econômica e ecológica. Neste sentido, o desenvolvimento procura satisfazer as necessidades da 25 geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades (JACOBI, 2005). A educação ambiental é um ato político voltado para a transformação social. O seu enfoque deve buscar uma perspectiva holística de ação, que relaciona o homem, a natureza e o universo, tendo em conta que os recursos naturais se esgotam e que o principal responsável pela sua degradação é o homem. 1.2 Contexto Histórico de Educação Ambiental A ação do homem tem interferido no equilíbrio da natureza, e o nível desta intervenção promove uma espoliação dos bens naturais, cujo ritmo é determinado pela insaciedade do modelo consumista do capitalismo. Iniciada como surgimento do homem, acentuada pelas Revoluções que se seguiram no decorrer da evolução da vida em sociedade com as descobertas do fogo, da roda, da escrita e acelerada pela mecanização dos processos produtivos do século XVIII até a globalização do século XXI, a intervenção humana tem provocado o colapso de ecossistemas locais, comprometendo a sobrevivência da vida no Planeta. Na antiguidade, os filósofos já estudavam as relações do homem com a natureza. A partir da Revolução Industrial (final do séc. XVIII), o modelo de desenvolvimento provocou um aumento qualitativo e quantitativo no processo de exploração dos recursos naturais e, paralelamente, provocou a organização da sociedade em torno da conservação da natureza, instituindo o movimento ambientalista (OLIVEIRA; CARVALHO, 2002). A partir da catástrofe ambiental ocorrida na Inglaterra em 1952 – indícios da inadequação do estilo de vida do ser humano em que morreram 1.600 pessoas pela poluição do ar – desencadeou várias discussões a respeito de meio ambiente e qualidade de vida também em outros países, surgindo movimentos ambientalistas (DIAS, 2010). 26 A efervescência do debate sobre as questões ambientais deu-se a partir da década de 1960, no século XX, considerada como um marco importante na história do movimento ambientalista mundial, com a publicação do livro: “Primavera Silenciosa” no qual a autora relata a perda da qualidade de vida produzida pelo uso indiscriminado e excessivo dos produtos químicos nas lavouras, causando desequilíbrio ambiental e, como resultado, o aparecimento de inúmeras doenças nos seres humanos. Em 1968, criou-se o Clube de Roma, composto por especialistas de várias áreas do conhecimento, para discutir a crise da humanidade e seu futuro, destacando como preocupação maior o crescente consumismo mundial (MARCATTO, 2002). A partir dos anos setenta, começaram importantes encontros mundiais e o termo educação ambiental passou a ser consolidado. A Conferência de Estocolmo, em 1972, foi a primeira atitude mundial em tentar organizar as relações de Homem e Meio Ambiente. Além disso, criou-se a Declaração sobre o Ambiente Humano que expressa a convicção de que as gerações presentes e as futuras tenham reconhecidas como direito fundamental a vida, num ambiente sadio e não degradado; chamam a atenção do mundo para os problemas que o homem estava causando ao ambiente com o consumo exagerado dos recursos naturais. A educação ambiental passou a ser considerada como campo de ação pedagógica, adquirindo relevância e vigência internacional, daí o reconhecimento do fazer educativo como uma estratégia para se construir sociedades sustentáveis. Também foi em Estocolmo, que a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) instituiu o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), conforme relata Marcatto (2002). A Conferência de Belgrado (1975) resultou em um documento denominado “Carta de Belgrado”, considerado um dos mais lúcidos e importantes daquela década, porque questionou os avanços econômicos e o retrocesso das questões sociais; e preconizou uma nova ética para promover a erradicação da pobreza, do 27 analfabetismo, da fome, da poluição, da exploração e de todas as formas de dominação humana (DIAS, 2010). Outra deliberação importante dessa conferência foi a elaboração dos princípios e diretrizes para o Programa Internacional de Educação Ambiental: deve ser continuada, multidisciplinar, integrada às diferenças regionais e voltada para os interesses nacionais; nela é entendida, como absolutamente vital, que os cidadãos insistam a favor de medidas que possibilitem a construção de um modelo de desenvolvimento que não traga consequências às pessoas, e este seria construído através, dentre outros mecanismos, da reforma dos processos e sistemas educacionais (TEIXEIRA, 2007). Em 1974, organismos internacionais alertam, pela primeira vez, sobre a possibilidade da redução da camada de ozônio durante o primeiro congresso Internacional de Ecologia, ocorrido em Haia, Holanda. Após este evento, em 1975, foi criado o Programa Internacional de Educação Ambiental – PIEA, pela UNESCO (DIAS, 2010). Na reunião Sub-regional de Educação Ambiental para o ensino Secundário, na cidade de Chosica, Peru, ano de 1976, o debate foi em torno das questões ambientais na América Latina ligadas às necessidades de sobrevivência e aos direitos humanos. Apesar de ser pouco comentado na literatura, é um importante momento para aliar o debate ambiental levando em consideração as especificidades de cada região, distanciando do modelo eurocentrista de educação ambiental (DIAS, 2010). Também neste mesmo ano acontece o Congresso de Educação Ambiental Brasarville, África, que reconhece na pobreza o maior problema ambiental (DIAS, 2010). No ano de 1977 foi realizada a Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental em Tbilisi, ponto culminante da primeira fase do PIEA, em que se estabeleceu que o processo educativo seria orientado para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, através de enfoques interdisciplinares e da 28 participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade (TEIXEIRA, 2007). No Brasil, nesta mesma década, houve a criação do primeiro curso de pósgraduação em ecologia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul; o Conselho Federal de Educação tornou obrigatória a disciplina Ciências Ambientais em cursos universitários de Engenharia; a criação dos cursos de pós-graduação em Ecologia nas Universidades do Brasil em 1979; o departamento do Ensino Médio (EM) do Ministério da Educação e do Desporto (MEC) e a Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Ambiental (CETESB)-SP publicam o documento “Ecologia - Uma proposta para o Ensino de 1º e 2º graus”. Estes foram os passos iniciais para inserção da educação ambiental no Brasil (SOUZA; BENEVIDES, 2005). A partir da década de 1980, passou-se a avaliar a importância de considerar a dinâmica da natureza nos processos econômicos e sociais – nasce a ideia de sustentabilidade. O Brasil, ao estabelecer sua política de desenvolvimento, implementou a Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) como um dos instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente. Percebe-se aqui, ainda em caráter embrionário, o início da formulação de uma política nacional para educação ambiental. Ainda, nos anos de 1980 a 1985, o MEC reforça a necessidade da inclusão de conteúdos ecológicos ao longo do processo de formação do ensino de 1º e 2º graus, integrados a todas as áreas do conhecimento de forma sistematizada e progressiva, possibilitando a formação da consciência ecológica do futuro cidadão (DIAS, 2010). Em 1987, o Conselho Federal de Educação aprovou por unanimidade, a conclusão da Câmara de Ensino a respeito do parecer 226/87 que considerava necessária a inclusão da educação ambiental dentre os conteúdos a serem explorados nas propostas curriculares das escolas de 1º e 2º graus, bem como sugeria a criação de centros de educação ambiental (TEXEIRA, 2007). 29 Um fator de suma importância no capítulo da história da EA no Brasil foi em 1988: a Constituição da República Federativa do Brasil dedicou o Capítulo VI ao Meio Ambiente e no Art. 225, Inciso VI, determina ao “... Poder Público, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino...” (CF, 1988). A Constituição Brasileira de 1988, reconhecida como Constituição cidadã, começa a reforçar, legalmente, o entendimento de uma educação compromissada com meio ambiente. Também percebe-se que o meio ambiente saudável é um direito, mas a legislação acrescenta que também é dever de todos sua preservação. Já em 1989, em Illinois, a realização da 3º Conferência Internacional sobre Educação Ambiental para as escolas de 2º Grau, teve como tema a Tecnologia e Meio Ambiente. Neste mesmo ano, foi criado o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Com o agravamento das condições climáticas, na década de 1990, os debates são aprofundados. Com a Declaração Mundial sobre Educação para Todos - Tailândia, de 5 a 9 de março de 1990, reitera a contribuição da educação para proteção do meio ambiente. As discussões se encaminham de maneira que haja a interlocução entre os processos históricos que envolvem a educação e meio ambiente. No Brasil, novas medidas são adotadas para implementação de educação ambiental: em 1991 a Portaria 678/1991 do MEC, determinou que a educação escolar devesse contemplar a educação ambiental permeando todo o currículo dos diferentes níveis e modalidades de ensino e enfatizava a necessidade de investir na capacitação de professores (DIAS, 2010). A Portaria 2.421/1991 do MEC instituiu, em caráter permanente, um grupo de Trabalho de educação ambiental com o objetivo de definir com as Secretarias Estaduais de Educação as metas e estratégias para a implantação da educação ambiental no país e elaborar proposta de atuação do MEC na área da educação formal e não formal; Encontro Nacional de Políticas e Metodologias para a educação ambiental, promovido pelo MEC e Secretaria de Meio Ambiente com apoio da UNESCO/Embaixada do Canadá em Brasília, com a finalidade de discutir diretrizes para definição da Política da Educação Ambiental (SOUZA; BENEVIDES, 2005). 30 Diante de tantos encontros mundiais com discussão sobre a importância da temática ambiental, a educação não poderia ficar isenta de tais debates. Começa a ser desenhada as diretrizes para a Política Nacional de Educação Ambiental. Na Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Eco/92 – realizada no Rio de Janeiro no ano de 1992, foram debatidos temas importantes que ressaltaram a importância de políticas concretas e atitudes corretas como forma de enfretamento da crise ambiental; a temática ambiental começa a ser debatida por toda a sociedade civil (mídia, escolas, universidades, ONGs) e também como tema de diversas pesquisas acadêmicas, suscitando no Governo o estabelecimento de medidas concretas. O Ministério da Educação, “diante do desafio, incluiu a temática meio ambiente nos currículos escolares, como tema transversal, por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais” (SOUZA; BENEVIDES, 2005, p. 535). A partir da Eco/92 foi estabelecida a Agenda 21 Global. Trata-se de um programa de ação em que os 179 países assumiram compromissos para cuidar do planeta e da humanidade no século XXI, respeitando o ser humano e o seu ambiente. A Agenda 21 foi instituída em nível nacional, estadual, municipal e local de maneira que o desenvolvimento sustentável se estabeleça com base nas especificidades locais (DIAS, 2010). Ainda na década de 1990, importantes eventos contribuíram para o fortalecimento da política educacional para a preservação do meio ambiente, dentre eles: A proposta do Programa Nacional de Educação Ambiental - PRONEA, elaborada pelo MEC/MMA/MINC/MCT4 com o objetivo de capacitar o sistema de educação formal e não formal em seus diversos níveis e modalidades. Em 1995, foi criada a Câmara técnica temporária de educação ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA, determinante para o fortalecimento da educação Ambiental no Brasil (SOUZA; BENEVIDES, 2005). 4 Ministério da Educação e Desporto, Mistério do Meio Ambiente, Ministério da Cultura e Ministério da Ciência e Tecnologia 31 Na cidade de Thessaloniki, 1997, aconteceu a Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade com o tema: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, com o reconhecimento que, na Conferência da Rio-92, “o desenvolvimento da educação ambiental foi insuficiente” (DIAS, 2010, p. 196). Também neste ano, o Brasil apresentou o documento “Declaração de Brasília para a Educação Ambiental”, consolidado após a I Conferência Nacional de Educação Ambiental, em que reconhece que a visão de educação e consciência pública foi enriquecida e reforçada pelas conferências internacionais e que os planos de ação dessas conferências devem ser implementados pelos governos nacionais, sociedade civil (incluindo ONGs, empresas e a comunidade educacional), a ONU e outras organizações internacionais. Outro passo para abordagem da educação ambiental foi a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacional - PCN com o tema: Convívio Social, Ética e Meio Ambiente, onde a dimensão ambiental é inserida como um tema transversal nos currículos do Ensino Fundamental (SOUZA; BENEVIDES, 2005). Em 1999, após décadas de debates, o Brasil estabelece os objetivos e princípios básicos para a educação ambiental através da Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, como uma medida concreta para estabilização de uma Política Nacional de Educação Ambiental. Essa Lei acolheu muitas ideias apontadas nas diversas conferências internacionais aqui mencionadas, o que lhe conferiu um caráter socioambiental decorrente das propostas de desenvolvimento sustentável. Assim, na formulação do conceito de educação ambiental foram incorporados termos como: conhecimento; atitude; valores; coletividade; sustentabilidade; conscientização; interdisciplinaridade; caráter holístico. 1.3 Principais orientações legais de Educação Ambiental No histórico da efetivação da educação ambiental, no Brasil, muitas leis, pareceres e decretos contribuíram para direcionar, dar princípios e orientações na sua 32 implantação. Dentre os princípios legais que regem a educação ambiental no país, destacam-se: a. A Constituição de 1988, no Artigo 225, confirmando as normas da legislação vigente, consagrou expressamente a educação ambiental, determinando que o Poder Público a promova em todos os níveis de ensino, bem como a conscientização pública para a preservação do meio ambiente (art. 225,VI). Trata como sendo direito de todos o meio ambiente ecologicamente equilibrado e, no mesmo artigo, imputa ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações, assim disposto no Art. 225 da Constituição de 1988: “Art.225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.[...] § 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:[...] VI – Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;”(BRASIL, CF, 1988.). A presença deste artigo na Constituição brasileira foi um importante passo para instituição de uma legislação ambiental, como garantia de preservação dos recursos naturais, ao incumbir responsabilidades ao poder público e à sociedade como um todo. b. A Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, no inciso X do artigo 2º, já estabelecia que a educação ambiental deveria ser ministrada em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, LEI 6.938/1981). c. O Parecer 226/87, do Conselho Federal de Educação, baseando-se no princípio de flexibilidade curricular, orienta para que a temática de educação ambiental seja incluída na educação geral, sem a necessidade se tornar uma disciplina (TEIXEIRA, 2007). 33 d. Na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) 9.394/1996, no § 2º do Art.1º - há vinculação da educação escolar à prática social; no Art. 2º - atrela a sua finalidade ao pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania; novamente, no Art. 22º a associação da educação básica à formação para o exercício da cidadania (BRASIL, Art.1º, Lei 9.394, 1996). A LDB não estabeleceu nenhuma disposição sobre educação ambiental e sequer a cita expressamente em resposta ao esforço nacional e internacional que, desde a Conferência de Estocolmo de 1972, procurava incluir a educação ambiental como um instrumento de política pública relevante para a promoção de uma nova ordem mundial mais justa. No entanto, o Plano Nacional de Educação – PNE (2001-2010), aprovado pelo Congresso Nacional (Lei 10.172/2001), fixa diretrizes, objetivos e metas para o período de 10 anos. Nos objetivos e metas para o Ensino Fundamental5 e Ensino Médio propõe que a educação ambiental, tratada como tema transversal, representa um avanço da questão ambiental no universo da educação (BRASIL, Lei 10.172/2001). A transversalidade acontece quando se trabalha um conjunto de temas integrados às diversas matérias que, dentro de um currículo, refere-se a um tipo de ensino que deve estar presente na educação obrigatória, não como disciplina, mas como parte dos objetivos, princípios e conteúdos de maneira que aja como “cimento entre os tijolos do conhecimento” (grifo da autora) entre as disciplinas clássicas, mas acrescentando inovações próprias de contextos sociais dinâmicos que mudam e evoluem continuamente. 5 De acordo com a LDB 9394/96, a Educação Básica é composta pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. O Ensino Fundamental é composto pelos anos iniciais (1º ao 5º ano) e finais (6º ao 9º ano) .Os anos iniciais subdividem-se em Ciclo de Alfabetização (1º ao 3º) e Ciclo Complementar (4º e 5º). 34 Criação do Programa Nacional de Educação Ambiental em 1994, com o objetivo de capacitar o sistema de educação formal e não-formal, em seus diversos níveis e modalidades (BRASIL, PRONEA,Portaria nº 773/1993 e. Na perspectiva das diretrizes da PNEA, as questões ambientais incluem-se dentre os temas contemporâneos que exigem uma abordagem interdisciplinar, contemplando uma nova articulação das conexões entre as ciências naturais, sociais e exatas. Ainda, com o enfoque holístico, democrático e participativo; a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Estas ideias vêm ao encontro das finalidades do art. 4º da Lei 9.795/99: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. (BRASIL, Art.4º, Lei 9.795,1999). g) No âmbito das políticas de educação ambiental do Estado de Minas Gerais, o Decreto 44.264, de 24 de março de 2006– que institui a Comissão Interinstitucional de Educação Ambiental do Estado de Minas Gerais– tem a finalidade de promover a discussão, a gestão, a coordenação, o acompanhamento e avaliação dos programas, projetos e ações e de implementar as atividades de educação ambiental (MG, DECRETO 44.264/2006). Este decreto veio para regulamentar a Lei 9.795/99 No Estado de Minas Gerais; fomentar parcerias; promover intercâmbios de experiências de educação ambiental em todos os âmbitos; estimular, fortalecer, acompanhar e avaliar a implantação da PNEA, na qualidade de interlocutor do Estado junto ao MMA e ao MEC. Ainda no Decreto, há orientações para contribuir com as ações que promovam a inserção transversal da temática ambiental nos currículos escolares de todos os níveis e modalidades de ensino e nos diversos órgãos estaduais e municipais. E, a partir das 35 recomendações da PNEA, fomentar as ações de comunicação socioambiental de forma contínua e permanente, promover a produção de instrumentos socioeducativos para disseminar a educação ambiental (TEIXEIRA, 2007). h) O parecer CNE/CP nº 8, de 6 de março de 2012, aprovado pelo CNE, estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos incluindo os direitos ambientais no conjunto dos internacionalmente reconhecidos; define que a educação para a cidadania “compreende a dimensão política do cuidado com o meio ambiente local, regional e global” (BRASIL, PARECER CNE/CP N. 8/2012). i) A Resolução 2, de 15 de junho de 2012, em seu primeiro artigo,estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a educação ambiental, reconhece e reafirma a Lei 9.795/99. Do artigo2º ao 6º define como seu objeto a educação ambiental como uma atividade intencional da prática social que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos; potencializar a atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental; construir conhecimentos e desenvolver habilidades, atitudes e valores sociais, com responsabilidade cidadã, na reciprocidade das relações dos seres humanos entre si e com a natureza. (BRASIL, CNE RESOLUÇÃO. 2/2012). Por todos estes objetivos e princípios, a educação ambiental não é atividade neutra, pois envolve valores, interesses, visões de mundo e deve assumir na prática educativa, de forma articulada e interdependente, as suas dimensões política e pedagógica; considera a interface entre a natureza, a sociocultural, a produção, o trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino. As orientações contidas nesta resolução vêm complementar as diretrizes da PNEA, ao detalhar para cada modalidade e nível de ensino como estes serão postulados dentro do currículo, da proposta pedagógica e no fazer diário da educação escolar, reafirmando que a educação ambiental necessita de uma abordagem crítica, de caráter emancipatório e transformador, conforme coloca Jacobi (2005): 36 A inserção da educação ambiental numa perspectiva crítica ocorre na medida em que o professor assume uma postura reflexiva. Isto potencializa entender a educação ambiental como uma prática político-pedagógica, representando a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação da responsabilidade socioambiental (JACOBI, 2005, p.245). Cabe ressaltar que as diretrizes curriculares estabelecidas por esta resolução reafirmam uma abordagem curricular integrada e transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento, conforme o art. 16: A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação Ambiental nos currículos da Educação Básica e da Educação Superior pode ocorrer: I pela transversalidade, mediante temas relacionados com o meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental; II - como conteúdo dos componentes já constantes do currículo; III - pela combinação de transversalidade e de tratamento nos componentes curriculares (BRASIL, RES. N 2, 2012). Neste sentido reitera o compromisso do art. 9o da Lei 9.795/1999 em que a educação ambiental deverá ser desenvolvida no âmbito dos currículos, das instituições de ensino públicas e privadas, permeando todas as modalidades e níveis de ensino. Estas dimensões explicitam a necessidade de tornar compatível a melhoria nos níveis e qualidade de vida com a preservação ambiental, para dar uma resposta à necessidade de harmonizar os processos ambientais com os socioeconômicos. Faz-se necessário cuidar do meio ambiente não apenas porque é uma determinação legal, mas como um exercício diário das práticas pedagógicas e sociais ao incorporar a dimensão ambiental em todos os programas de ensino, vinculando-os aos conteúdos específicos de cada disciplina Não se trata de criar uma disciplina que tente abordar todos os conteúdos ambientais, conforme afirma Teixeira (2007): Mas é necessário explicitar que, se de um lado há legislação moderna, abrangente para normatizar, dar transparência e legitimidade às questões da educação ambiental, de outro, ainda há que se fazer um esforço para se implementar tais políticas e para fazer com que todas as cidadãs e os cidadãos brasileiros adquiram a compreensão e percepção necessárias sobre a importância de assumirem novas atitudes e mudança de comportamento para a proteção do meio ambiente e a conservação da vida planetária (TEIXEIRA, 2007, p.11). Este esforço para implantação das políticas de educação ambiental dever ser ampliado, de maneira que os programas ambientais ultrapassem iniciativas ligadas a 37 prêmios aos melhores projetos e busquem ações efetivas, de maneira que a educação formal incorpore a educação ambiental como parte da rotina. A Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho de 2012, contou com a participação de líderes dos 193 países que fazem parte da ONU. Seu principal objetivo foi renovar e reafirmar a participação dos líderes dos países com relação ao desenvolvimento sustentável no planeta Terra. Foi, portanto, uma segunda etapa da Cúpula da Terra (ECO-92), há 20 anos na cidade do Rio de Janeiro. Na Rio+20 discutiram-se temas como: balanço do que foi feito nos últimos 20 anos em relação ao meio ambiente; importância e os processos da Economia Verde; ações para garantir o desenvolvimento sustentável do planeta; maneiras de eliminar a pobreza; a governança internacional no campo do desenvolvimento sustentável. Infelizmente, o resultado da Rio+20 não foi o esperado. Os impasses, principalmente entre os interesses dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, não corresponderam às expectativas para o desenvolvimento sustentável do planeta. O documento final apresenta várias intenções e joga para os próximos anos a definição de medidas práticas para garantir a proteção do meio ambiente. Vinte anos após a Eco/92, a Rio+20 deixa um sentimento de frustração, que Dowbor (2012) chama de “indignação ativa”, ante a persistente realidade desde a Rio 92. Segundo o autor, o agravamento de males que se apresentam no séc. XXI, como: o aquecimento global, a destruição da vida nos mares, o extermínio das florestas originais, a redução da biodiversidade, o esgotamento de recursos naturais e da contaminação da água são desafios que se colocam para esta geração. E ainda, o não acesso a água limpa, tem levado à morte milhões de pessoas (DOWBOR, 2012). Os governos presentes na Rio+20 deixaram a cidade sem expressar compromissos claros para concretizar o desenvolvimento sustentável, sem decisões internacionais firmadas, sem metas. Dowbor (2012) questiona que os governos estão muito mais preocupados com a manutenção da saúde do sistema financeiro privado 38 internacional, a preservação, à qualquer custo, de suas economias. Guimarães; Fontoura (2012) afirmaram que: Justifica-se, portanto, questionar se a Conferência realizada no Rio de Janeiro em Junho de 2012 pode ser classificada, legitimamente, como a Rio-20, uma vez que não produziu avanço significativo algum em relação à Rio-92, exceto o de manter o desafio do desenvolvimento sustentável na agenda de preocupações da sociedade, mas com um decisivo divórcio entre discursos e compromissos concretos por parte dos governos (GUIMARÃES; FONTOURA, 2012, p.20). Os resultados finais da conferência evidenciaram que o problema encontra-se na vontade política para agir efetivamente, que foi o principal motivo para seu fracasso. Para melhor compreensão do processo histórico da educação ambiental, no Brasil e no mundo, elaborou-se uma linha do tempo desde o sec. XIV até o ano de 2012, conforme demonstrada na figura 1. 39 LINHA DO TEMPO SOBRE MEIO AMBIENTE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL Descobrimento Brasil e exploração do Pau-Brasil 1500 Criação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro 1808 Lei 601 de D. Pedro II fim exploração florestal1850 Princesa Isabel autoriza exploração de madeira -1872 Criado Parque da Cidade. São Paulo - 1896 O pau brasil é considerado extinto - 1920 1ª Conf.Bras. de Proteção à Natureza - 1932 NO MUNDO 1503 –Inicia comercialização do pau-brasil. 1869 - Ernst Haeckel - vocabulário "Ecologia". 1872 -1° parque nacional do mundo “Yellowstone”, 1875 - Fim comércio do pau-brasil- matas exauridas. 1889 - Patrick Geddes,é considerado o pai da EA 1923 – Fordismo – início da sociedade do consumo 1947 - UICN- Conservação da Natureza Suiça Cria-se o Parque Nacional de Itatiaia - 1937 1952 - Acidente de poluição - morte de 1600 pessoas. Cria-se o Parque Nacional do Iguaçu - 1939 1960Ambientalismo no USA, reforma ens.Ceincias Pau brasil e o ipê - símbolos nac. - 1961 Criação AGAPAN – RS - 1971 Conferência de Estocolmo - 1972 Campanha para o Pau Brasil- 1972 Secretaria Especial do MA - 1973 EA nas universidades - 1978 “Ecologia Proposta Ens. 1º e 2º G - 1979 1962 - Publicação da “Primavera Silenciosa” 1965 - É utilizada a expressão “EA”, Grã-Bretanha. 1968 - Fundação do Clube de Roma. 1972 -Estocolmo-EA como campo de ação 1975 - Belgrado - EAcontínua e multidisciplinar. 1975 - Programa Internacional de EA - PIEA. 1976 -Peru. Questões MA na A.Latina ligadas às sobrevivência Lei6938 Política Nacional do MA - 1981 1976 - Congresso , África- pobreza problema ambiental. A SEMA - Especialização em EA.- 1986 1977 - Tbilisi , é o evento mais decisivo sobre a EA. A Const. 1988, Cap. Ambiente. - 1988 Criação do IBAMA - 1989 EA no Ensino Formal . - 1989 Eco 92 - Rio de Janeiro - 1992 LEI 9.597/99Política Nacional de EA. - 1999 1989 - Declaração de HAIA, preparatório da RIO 92, 1990- . Destaca o conceito de Analfabetismo Ambiental 1990 -Ano Internacional do Meio Ambiente. 1992 - Eco 92 - Rio de Janeiro 1997 - Kioto - Mudanças Clim,Efeito Estufa. Res. 2 – Diretrizes Curriculares EA 2012 2012 - Rio+20– Conf. mundial de MA Rio+20 – Conf. Mundial MA - 2012 Figura 1 - Linha do Tempo sobre Meio Ambiente e Educação Ambiental Fonte: DIAS, 2010. 40 1.4 Produção científica sobre Educação Ambiental No Brasil, as pesquisas em educação ambiental, realizadas em Cursos de PósGraduação de diferentes instituições, têm sido produzidas em diferentes programas vinculados a diversas áreas de conhecimento, tais como: Agronomia; Arquitetura e Urbanismo; Biologia (especialmente Ecologia); Ciências Sociais; Direito; Economia e Administração; Educação; Engenharias; Geologia ou Geociências; Geografia; História; Medicina e Saúde Pública; Veterinária. Há também uma vasta literatura e produção acadêmica sobre educação ambiental; afinal, este é um assunto que permeia vários campos de conhecimentos e desperta interesses de profissionais de múltiplos campos de pesquisas. Há estudos de como se configuram as pesquisas na área com análises histórica, epistemológica, filosófica, dentre outras. Os enfoques são diversos, pois dependem das concepções que seus praticantes têm de Educação, de Ambiente e de Sociedade. No entanto, a pesquisa em educação ambiental é diferente da pesquisa realizada na área ambiental. São diferentes seus objetos de investigação, seus objetivos e procedimentos de pesquisa. Assim, esta temática sofre as mais variadas interferências, assumindo diferentes matizes. De fato, algumas das investigações, que têm como objeto aspectos do ambiente, apresentam ou analisam propostas de educação ambiental que usualmente foram conduzidas pelos próprios pesquisadores. Além disso, as diversas pesquisas em educação ambiental derivam de problemas ambientais que foram objetos de estudos sistematizados por investigações ambientais, sendo a educação ambiental apresentada apenas como parte de seus trabalhos (FRACALANZA et al., 2005). O levantamento bibliográfico sobre educação ambiental no Brasil, mediante consulta aos sistemas de informação bibliográfica disponível na Internet, fornece subsídios sobre o número de dissertações, teses e artigos publicados por várias Instituições de 41 Ensino Superior e centros de apoio a pesquisas, como: Anped, Scielo, Capes6, dentre outros. No portal da Capes, com acesso em 18 de março de 2013, com a opção de pesquisa simples para o termo “educação ambiental”, verificou-se os seguintes números: 1287 publicações, sendo 1125 artigos científicos. Na categoria Stricto Sensu, Dissertações e Teses, constatou-se os seguintes resultados, sem especificação de qual instituição foi realizada a pesquisa, conforme tabela 1. Nos anos de 1999 a 2011 foram publicadas 2594 pesquisas Stricto Sensu com o tema educação ambiental, sendo 2088 em nível de mestrado, 299 de doutorado. As teses de doutorado equivaleram 11,5%. Este percentual seria em torno de 12,5% se excluíssem as pesquisas do mestrado profissional que alcançou um total de 207 pesquisas. Tabela 1 -PESQUISA STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL ANO 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 MESTRADO 57 83 96 144 164 163 195 190 169 210 205 203 209 MESTRADO PROF. 01 03 09 10 16 13 19 14 32 21 32 37 DOUTORADO 05 5 10 16 20 19 20 23 28 35 40 36 42 TOTALPARC. 62 89 109 169 194 198 228 232 211 277 266 271 288 TOTAL 2088 207 299 2594 Fonte: www.capes.org.br 6 A CAPES - Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior) é o órgão do Ministério da Educação responsável pelo reconhecimento e a avaliação de cursos de pós-graduação stricto-sensu. Anped - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - congrega programas de pós-graduação stricto sensu em educação;Scielo – Scientific Electronic Library Online- é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos. 42 Os resultados apresentados pela Capes englobam as pesquisas em diversos campos de conhecimentos que ultrapassam as fronteiras das ciências diretamente relacionadas à educação. No entanto, o tema educação ambiental é abordado em algum momento da pesquisa. No site Domínio público, a busca foi feita em 06 de março de 2012, através da palavra-chave: educação ambiental, e teve como resultado um total de 482 pesquisas stricto sensu, sendo 422 em nível de mestrado e 60 de doutorado, sem especificação de ano de publicação. É importante pontuar que, ao se fazer a investigação de teses e dissertações nos próprios sítios eletrônicos de cada instituição, estes apresentam resultados diferentes da Capes porque seus instrumentos de busca não permitem refinar os resultados. Assim, tudo que se refere aos termos “educação e ambiental”, é relacionado. Para entender como a educação formal e a educação ambiental estão dialogando, é importante revisitar, historicamente, alguns fatos que, de certa forma, influenciaram o sistema de ensino. Para tal, buscou-se conhecer e entender como o conceito de educação ambiental foi construído, evocando aspectos históricos sobre a educação ambiental, a fim de contextualizar alguns fatos que antecederam a Lei 9.795/99 e que influenciaram, de certa forma, sua elaboração. Conforme colocam Fracalanza et. al. (2005, p.4), “a discussão de problemas ambientais tem forte conotação técnica e está relacionada a concepções biológica”. Embora existam alguns avanços na concepção de educação ambiental brasileira, o enfoque bastante “naturalista”, com a inserção de tópicos ambientais no ensino de Ciências e, em alguns casos, buscando-se uma integração com a Geografia, é predominante na grande maioria das produções acadêmicas e nas práticas de escolares. 43 2 A FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL Entender a evolução dos conceitos e o contexto histórico da educação ambiental permite compreender em que conjuntura se deu a elaboração da Política Nacional da Educação Ambiental, a fim de propiciar a sua aplicabilidade no fazer escolar. Este fazer precisa estar relacionado a práticas comprometidas com a função social da escola, balizada pela educação ambiental, como uma importante ferramenta de ensino-aprendizagem. Neste sentido, serão apresentadas discussões sobre a função social da escola para aquisição de valores e formação dos sujeitos comprometidos com a cidadania; a educação ambiental como perspectiva de formação social. O objetivo proposto para este capítulo é entender as interlocuções entre educação e formação social à luz da PNEA no contexto da educação formal. As transformações na sociedade capitalista nas últimas décadas desencadearam uma crise global que afetou as instituições, levando-as a rupturas, conflitos e reorganização no âmbito de suas relações sociais. O processo de socialização do conhecimento escolar se reveste dos elementos históricos das relações sociais, trazendo para esse espaço a concretização de conflitos, crises e disputas concomitantes ao cenário social maior, mas com algumas especificidades. Assim, a educação também pode ser compreendida como um campo social de disputa hegemônica que reflete a própria constituição da sociedade. Seu sistema educacional será constituído e organizado para cumprir determinadas finalidades sociais. Conforme afirma Oliveira (2009b, p.237) “ a educação é uma prática social ampla, inerente ao processo de constituição da vida social”, e que sofre alterações em função das transformações sociais. A educação foi sendo pensada considerando a especificidade de cada sociedade e de cada época, contexto histórico, de maneira que seu projeto social atenda às necessidades ou demandas estabelecidas pelos grupos hegemônicos. No que se 44 refere às demandas e interesses da sociedade capitalista atualmente, tem-se os seguintes propósitos conforme coloca Oliveira (2009b): [...] legitimar o sistema vigente; contribuir com a coesão e o controle social; reproduzir a sociedade e manter a divisão social; promover a democracia da representação; contribuir com a mobilidade e ascensão social; apoiar o processo de acumulação; habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para servir ao mundo do trabalho; [...]preparando, qualificando e desenvolvendo competências para o trabalho; proporcionar uma força de trabalho capacitada e flexível para o crescimento econômico (OLIVEIRA, 2009b, p.238). A tarefa histórica da escola foi cunhada inicialmente para transmissão do conhecimento, conformando todo o ideário da escola humanista. A partir da revolução industrial de 1779, quando a fábrica passa a ser a base para a produção no capitalismo industrial, a escola passa a preparar para o trabalho e todo o ideário que conforma a sociedade capitalista industrial . Preparar para ao trabalho, ainda é um dos objetivos da escola. Ao professor cabe garantir a transmissão/reprodução de um conjunto de conhecimentos necessários à formação do trabalhador sob a égide do capital (OLIVEIRA, 2009a). Neste sentido, o projeto de educação é fortemente marcado como elemento de racionalização da vida econômica, da produção, do tempo e do corpo dos trabalhadores. A estes, um modelo de escola destinado às atividades mais básicas do conhecimento, tais como: ler, escrever e contar em contraposição à escola de caráter mais geral, clássica e científica destinada às elites dirigentes. A criatividade e a verdadeira aprendizagem são impedidas quando, nas palavras de Freire (1996): O educador que, ao ensinar Geografia, “castra” a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando e sua capacidade de aventurar-se (FREIRE, 1996, p. 24). Este tipo de formação leva a reflexão sobre a finalidade da escola na sociedade capitalista e suas consequências na vida social, já que os sentidos e significados construídos por estudantes e professores têm se distanciado de uma formação humanizadora. De acordo com esta ótica dominante, “a educação tem como finalidade habilitar técnica, social e ideologicamente os diversos grupos de trabalhadores para atender o mundo do trabalho” (OLIVEIRA, 2009a, p. 245). Neste 45 sentido, a educação tem sua função social de maneira controlada e subordinada às demandas do capital. As políticas educativas do fim do século XX e início do XXI partem da noção de que a escola é um espaço de ensino, mas antes de tudo de promoção de justiça social. Tem sido atribuídas novas funções sociais à escola fazendo com que atue na distribuição de renda como agência de implementação de programas sociais, tais como o Bolsa-família (programa destinado a ações de transferência de renda) e o Pro-jovem; são ações integradas que propiciam a elevação de escolaridade ao jovem brasileiro visando à conclusão do Ensino Fundamental (OLIVEIRA, 2009a). A escola moderna constitui-se no contexto das contradições do próprio capitalismo e enfrenta, em sua trajetória histórica, o conflito permanente entre um objetivo político ousado (no sentido de mudar as estruturas dos ideais capitalistas vigente) e a intensa exploração da classe trabalhadora que não possui condições objetivas de acesso e permanência na escola. Tal fato enraizou-se na sociedade capitalista e está na base do problema educacional atual, na medida em que o alicerce material para a efetivação do processo educacional, destinado à maioria da população, encontra-se restrito e empobrecido. Ou seja, a escola oferece às classes populares uma formação incapaz de municiá-las para enfrentamento e rompimento das barreiras interpostas pelo capitalismo que a impedem de usufruir social e economicamente dos frutos de seu trabalho (OLIVEIRA, 2009a). Discutir a escola implica reconhecer que existe uma articulação entre as dimensões sociológica e pedagógica no interior de um mesmo projeto. Os processos educativos adentram na sociedade inteira e incidem sobre a profissionalização (no nível manual) e sobre a formação de caráter humanístico-religioso (no nível intelectual).Entretanto, em uma nova realidade social, a educação escolar assume novas perspectivas, de maneira que seu projeto de educação acontece de modo intencional que envolve as dimensões do desenvolvimento humano, ou seja: afetivo, social, cultural, profissional, tecnológico, econômico, político, etc. 46 A escola é elemento-chave no processo de formação de novos valores e novos modos de ser e viver, mas não reafirma esta posição no resultado do seu trabalho. Isso reproduz uma situação de desconhecimento e indefinição que afeta o resultado da sua atuação no processo de produção de conhecimento, que também terá reflexos no trabalho pedagógico, que perde sua identidade. Por conseguinte, também será reproduzido na atuação do professor, fazendo com que este perca o domínio, alterando seus objetivos dentro da escola e resultando em barreiras na atuação docente. Mesmo assim, no dizer de Quaresma (2011), o papel do professor é fundamental para uma formação que transcenda o caráter instrumental de preparação para o trabalho: Assim, é que o educador da escola pública deve se pensar e se constituir em um intelectual orgânico, e mesmo se em alguns casos não pertença à classe trabalhadora, mas se para ela trabalha, tem o compromisso de construir esta pedagogia, no mínimo problematizante (QUARESMA, 2011, p. 206). Conforme coloca Quaresma (2011), a escola deve buscar um processo educacional dentro do que a autora chama de “Formação Integral”. Esta formação contempla uma expectativa de ampliação do conhecimento escolar, incorporando outros processos e espaços formativos tais como: movimentos sociais, sindicatos, o espaço de trabalho, movimentos culturais, ambientais. Porque estes conhecimentos permitem ao trabalhador participar da vida social, conforme coloca Oliveira (2009b): A educação é vista, então como processo que permite melhorar a posição social dos grupos carentes, pondo a seu alcance importantes conhecimentos que lhes permitam participar da vida social (OLIVEIRA, 2009b, p. 18). A educação pública não é tão subserviente ao capitalismo, pois ao refletir as demandas sociais e na formação da força de trabalho, não favorece a acumulação do capital de maneira pacífica, pois junto à ideologia dominante do capital, também dissemina as reivindicações oriundas da sociedade e dos movimentos sociais. É pensar escola rompendo com função de reprodutora do sistema capitalista (OLIVEIRA, 2009b). Neste sentido, Quaresma (2011) acrescenta: 47 Mesmo porque, dadas as condições de trabalho e de salários da grande maioria dos educadores brasileiros, o mesmo poder que oprime o povo, também os oprime, ou não estamos falando do mesmo poder? (QUARESMA, 2011, p. 207). A História também mostra que, nesta disputa em torno do projeto da educação com vistas ao atendimento dos anseios da sociedade, a educação também é pensada em outras perspectivas, em especial pelos movimentos sociais, segundo afirma Oliveira (2009b): Transformar a sociedade de modo a eliminar as divisões sociais estabelecidas; desbarbarizar a humanidade no que concerne aos seus preconceitos, opressão, genocídio, tortura e etc., conscientizar os indivíduos, tendo em vista uma formação de sujeitos críticos, autônomos e emancipados; desenvolver uma educação integral, que permita o desabrochar das potencialidades humanas; apropriar-se do saber social, que permita uma socialização ampla da cultura e apreensão dos conhecimentos e saberes historicamente produzidos; formar para o exercício da cidadania (OLIVEIRA, 2009b, p.. 238). A escola é o espaço singular para as mediações que visam à socialização dos conhecimentos a partir de atividades pedagógicas organizadas para esse fim, em cuja condução o professor tem um papel fundamental de fazer a articulação entre esses conhecimentos (significados sociais) e os conhecimentos dos estudantes (sujeitos que atribuirão sentido pessoal a essas práticas sociais consolidadas). A materialidade das relações sociais da escola depende diretamente do planejamento do seu trabalho pedagógico, que tem na mediação e no diálogo entre o mundo material e as necessidades imediatas dos sujeitos, a base para a motivação de estudantes e professores à construção de novos sentidos e significados sociais, de maneira que atenda as suas demandas como sujeitos históricos concretos. Se, especialmente, o professor não consegue atribuir um sentido positivo ao que faz, ou seja, à formação da subjetividade de seus estudantes, como estes últimos poderão ter motivos para aprenderem e se apropriarem de conhecimentos historicamente construídos pela humanidade? Um caminho para responder a esta indagação são as palavras de Paulo Freire (1996): O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me 48 relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente (FREIRE, 1996, p.30). Existe um reconhecimento e legitimidade da escola quanto a sua especificidade – seu papel de disseminadora e produtora de conhecimentos, ou seja, o seu significado social. Os estudantes gostam da escola, mas nem sempre da sala de aula. Apreendem o significado social da instituição, porém não a percebe presente diretamente em suas vidas, não lhes atribuem sentido; seu interesse passa mais pelo espaço de sociabilidade que esta possibilita do que pelo o acesso a conteúdos escolares (MENDONÇA, 2011). Neste sentido, o papel da escola como instituição educadora e com a capacidade de disseminar e produzir conhecimento válido, é visto com certa desconfiança. Esse fato é reforçado pelo baixo desempenho dos alunos em exames externos. As condições objetivas dessa instituição, hoje, desmobilizam e comprometem as ações dos sujeitos históricos, especialmente na escola pública, no desenvolvimento do trabalho pedagógico com o sucateamento da infraestrutura; superlotação das salas de aula; baixos salários de professores e funcionários; bibliotecas fechadas e/ou em precário funcionamento; ausência de um projeto político-pedagógico; precarização do trabalho (rotatividade de trabalhadores, terceirização); políticas governamentais autoritárias com cerceamento da autonomia didático-pedagógica, enfim, elementos presentes há muito tempo no cotidiano escolar (OLIVEIRA, 2009b). Uma das consequências mais diretas desse processo se concretiza no esvaziamento da produção de sentidos, da socialização de conteúdos escolares, distanciando-a de sua função social. A escola, nesta perspectiva, atua como reprodutora de um conjunto de valores ideológicos que visam à hegemonia dos interesses dominantes; transmite conteúdos distantes de uma formação que realmente desenvolva a capacidade humanizadora dos sujeitos históricos que os tornem capazes de desenvolver uma percepção adequada do meio a sua volta e de, 49 conscientemente, nele agir para transformá-lo e, com isso, transformar-se (OLIVEIRA, 2009a). Pensar a escola como espaço do encontro de sentidos e significados exigirá a elaboração de um projeto social maior, que rompa com a lógica do capital, que tenha na humanização o foco central da emancipação política, social e econômica. Sugere pensar a escola como espaço de contradições, de disputa de projetos, de relações dinâmicas que alimentam a práxis de sujeitos históricos e geram a esperança da construção de uma sociedade e uma escola com identidade de novos sentidos e significados. Isso implica pensar em uma escola na perspectiva crítico-dialética, tendo como base uma educação compreendida como um direito universal básico e um bem social público, pois como diz Oliveira (2009b): Ela (educação) é, assim, condição para emancipação social e deve ser concebida numa perspectiva democrática e de qualidade, no contexto de um projeto social mais amplo (OLIVEIRA, 2009b, p. 238). A escola ainda é uma instituição necessária, pois nela os indivíduos passam um tempo significativo de suas vidas, embora muito distantes da apropriação dos significados sociais expressos nos conteúdos escolares. É necessário, portanto, partir dessa realidade e estabelecer uma transição que possibilite a construção de significados, reelaborada à luz de uma perspectiva de educação emancipadora, com vistas a gerar novas possibilidades pedagógicas que superem o distanciamento e a ausência de sentidos tão presentes no cotidiano escolar e nas relações entre seus principais agentes: professor e estudantes. E, na perspectiva de Freire (1996), o educador não pode prescindir à responsabilidade ética da tarefa docente, pautada no exercício da pedagogia para a autonomia que seja “fundada na ética, no respeito à dignidade e à própria autonomia do educando” (FREIRE, 1996, p.7). Mesmo em meio à desvalorização do trabalho do professor em todos os níveis, a compreensão da prática docente só poderá ser concebida enquanto dimensão social da formação humana (FREIRE, 1996). 50 Freire (1996) adverte para a necessidade de uma postura vigilante contra todas as práticas de desumanização: Uma das tarefas mais importantes da prática educativa-crítica é propiciar as condições em que os educandos, em relação uns com os outros e todos com o professor ou a professora, ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar (FREIRE, 1996, p.18). A educação defendida por Freire (1996) é aquela que possibilita oportunidade tanto aos alunos quanto aos docentes, pois no exercício diário, quem ensina também aprende. Isso requer o respeito à identidade do educando, à sua pessoa, a seus direito de ser. Direito este que não pode ser negado nem mesmo quando, historicamente, a custo de tanto descaso pela educação pública, os educadores caírem “no indiferentismo, fatalistamente cínico, que leva ao cruzamento dos braços”. “não há o que fazer” (FREIRE, 1996, p. 27), é um discurso acomodado que não se pode aceitar (FREIRE, 1996). 2.1 Lei de Educação Ambiental e sua perspectiva para a formação social A educação ambiental surge como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento da crise civilizatória de ordem cultural, econômica e social. Sua perspectiva crítica e emancipatória permitem a criação de processos, nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas, servindo para realçar sua utilidade prática na formação da cidadania. Tais mudanças têm efetividade e eficácia concreta nas normas e princípios da sustentabilidade, evidenciados pela legislação e doutrina da defesa ambiental, presentes na Constituição Federal de 1988 e em toda a legislação que visa à proteção ambiental. Assim, partindo-se do seu conceito, alcance e análise sistemática, a educação ambiental é concebida como direito social fundamental. E, de acordo com o Parecer CNE/CP nº 8, de 6 de março de 2012, que estabeleceu as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, incluiu os direitos ambientais no conjunto dos internacionalmente reconhecidos, e define que a educação para a cidadania 51 compreende a dimensão política do cuidado com o meio ambiente local, regional e global (BRASIL, Resolução 2, 2012). A educação ambiental, a partir do panorama da formação social, concretiza-se pelo enfoque de uma educação emancipatória. Nestas concepções de educação – emancipatória e ambiental - o ato de ensinar é também um aprendizado, pois “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.12). E mais, a educação ambiental coaduna com os objetivos de uma formação que compreende o homem e a mulher como seres históricos inacabados, que também é a visão de educação concebida por Paulo Freire: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção ou construção” (FREIRE, 1996, p.12). É este o sentido de educação ambiental vislumbrado pela Lei 9.795/99, que já no seu 1º artigo traz o conceito de educação ambiental como processo que leva à construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente: Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, Art.1º, Lei 9.795, 1999). Este conceito tem origem na influência das recomendações da Primeira Conferência Intergovernamental de Educação Ambiental - Tbilisi, 1977, no qual ficou estabelecido que a educação ambiental acontecesse a partir de um processo educativo voltado para a resolução dos problemas concretos do meio ambiente, com enfoques interdisciplinares e objetivando a participação ativa e responsável no plano individual e coletivo (COSTA, 2003). A lei indica a necessidade de se integrar ao processo de educação os valores sociais, éticos, econômicos, culturais, políticos e históricos que caracterizam determinada região ou país, como parte do conceito de educação ambiental. 52 Existe, hoje, um movimento inverso àquele responsável pela fragmentação do mundo em campos disciplinares na tentativa de que esses campos se comuniquem, permitindo a formação de um conhecimento mais adequado às necessidades de intervenção prática, política e social. A maneira como estes saberes se comunicam dá-se por meio da interdisciplinaridade. A educação ambiental constitui uma área de conhecimento eminentemente interdisciplinar em razão dos diversos sujeitos interligados e necessários ao diagnóstico e à intervenção a que pressupõe. No processo interdisciplinar a aprendizagem e o ensino são exercidos, vividos. A responsabilidade individual e coletiva é a marca do projeto interdisciplinar, porque este necessita do envolvimento das pessoas e das instituições a ele pertencente. A partir da interdisciplinaridade é possível conceber o meio ambiente de maneira integrada. Nos artigos 2° e 3° contempla a educação ambiental como processo mais amplo que envolve uma articulação entre o poder público, a sociedade civil e a iniciativa privada, trazendo aqui a necessidade de um trabalho intersetorial (BRASIL, 1999). Cabe destacar que a educação ambiental é concebida como um direito de todos (art. 3o da Lei 9.795/99) e tem como base um pensamento crítico e inovador, de maneira a propiciar a transformação de valores sociais. Deve envolver o indivíduo e a coletividade em um processo político com vistas à transformação social. Envolve um processo de aprendizagem participativa, a partir de uma perspectiva holística, com enfoque principal na relação entre os seres humanos e a natureza de maneira interdisciplinar, a partir de uma visão de mundo diferente daquela que a ciência tradicional apresenta, baseada na falsa crença de que a natureza deve ser fragmentada para ser mais bem compreendida (COSTA, 2003). Percebe-se o uso de algumas palavras com sentido conceitual polissêmico que dão caráter consistente à Lei 9.795/1999. São termos como: sustentabilidade, cidadania, valores, habilidades, interdisciplinaridade, holístico, dentre outros. Todos têm grande importância na fundamentação, mas tendo em vista o foco dessa pesquisa nas práticas pedagógicas de educação ambiental desenvolvidas na escola, prioriza-se, 53 para melhor aprofundamento os significados de: holismo, interdisciplinaridade, cidadania e sustentabilidade no contexto da lei 9.795/99. Segundo o Dicionário Básico de Filosofia de Japiassú; Marcondes (2001) o termo holístico deriva de holismo, que tem a seguinte definição: Holismo: Doutrina que considera que a parte só pode ser compreendida a partir do todo, que privilegia a consideração da totalidade na explicação de uma realidade, sustentando que o todo não é apenas a soma de suas partes, mas possui uma unidade orgânica (JUPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 95). A educação ambiental no sentido holístico é compreendida a partir do todo, que privilegia a consideração da totalidade na explicação de uma realidade, sustentando que o todo não é apenas a soma de suas partes, mas possui uma unidade orgânica. E, ao criar possibilidade de apreensão da totalidade extraindo a especificidade e a historicidade das dimensões humanas, deve-se evitar criar brechas para generalismos e analogias. É no sentido da solidariedade e da organicidade de todas as coisas que o termo contagia a narrativa da educação ambiental que deve ser sempre pensada e discutida como um processo de aprendizagem participativa, cujo enfoque principal é a relação entre os seres humanos e a natureza de maneira interdisciplinar. Em relação à interdisciplinaridade, o mesmo dicionário Japiassú; Marcondes (2001) assim a define: [...] Um método de pesquisa e de ensino suscetível de fazer com que duas ou mais disciplinas interajam entre si. Esta interação pode ir da simples comunicação das ideias até a integração mútua dos conceitos, da epistemologia, da terminologia, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização da pesquisa (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001, p. 105). A interdisciplinaridade aparece como uma possibilidade de superação da superespecialização e da desarticulação entre a teoria e a prática e sugere uma integração plena das áreas de conhecimento no tratamento da temática ambiental. Pela natureza complexa do ambiente, torna-se necessário aplicar um enfoque interdisciplinar, de maneira que conteúdos específicos de cada disciplina adquiram uma perspectiva abrangente, global e equilibrada. 54 As múltiplas interações que compõem esta temática abarcam as dimensões: “ecológicas, política, social, econômica, ética, cultural, científica e tecnológica” (DIAS, 2010, p.117). Assim, não há como tratar este assunto em uma única disciplina, pois seria necessário um profissional com múltiplas formações. A interdisciplinaridade, a partir do final dos anos 1960, torna-se objeto de pesquisa mobilizando inúmeros intelectuais e empresários, passando a ser fortemente veiculada dentro e fora dos espaços acadêmicos como um empreendimento necessário também no mundo do trabalho, extrapolando a esfera do conhecimento. A interdisciplinaridade, no seu status de categoria de conhecimento, tornou-se fundamental para legitimar as transformações em curso. O contexto de mudanças nos paradigmas do mundo produtivo aproximou conhecimento e produção, tendo na interdisciplinaridade o respaldo para os conjuntos de valores e de práticas em desenvolvimento no mundo do trabalho. Segundo Mangini; Mioto (2009) são percebidas três lógicas de interdisciplinaridade: a primeira, presente na Europa, principalmente na França, compreende a interdisciplinaridade como um fim em si mesmo: “A construção do saber interdisciplinar se justifica pelo conhecer, fixando a questão em dimensões epistemológicas dos saberes e na racionalidade científica” (MANGINI; MIOTO 2009, p.209). A unificação do saber ocorre no sentido de uma estruturação hierárquica das disciplinas, como uma superciência, ou metateoria ou ainda metadisciplina. Uma segunda lógica apresentada, notadamente norte-americana, trata a interdisciplinaridade como um meio. Nesta perspectiva, o saber interdisciplinar se constitui em um recurso para alcançar determinado resultado (saber fazer), ou seja, a interdisciplinaridade em dimensões metodológicas tem sua lógica instrumental orientada para a busca da funcionalidade. A terceira, na concepção de origem latino-americana, principalmente brasileira, capta a interdisciplinaridade como uma forma de realização humana. Para esta, a construção do saber interdisciplinar “se justifica pelo crescimento humano e pela capacidade de emancipação saber-ser/polo-sujeito” (MANGINI; MIOTO, 2009, 55 p.209). Esta concepção fixa a questão da interdisciplinaridade na busca de si, na construção contínua dos indivíduos, orientada por princípios como: humildade, expectativa, coerência e audácia, expressada pela coerência subjetiva, ou melhor, intersubjetiva, introspectiva. Interdisciplinaridade é uma maneira de organizar e produzir conhecimentos, buscando integrar as diferentes dimensões dos fenômenos estudados, exigindo uma nova articulação entre as várias ciências. Em meio a este debate, surgem pensamentos equivocados sobre conceitos de interdisciplinaridade. O primeiro é pensá-la sobre uma nuance generalizadora ou universalista, em que o saber se torna universal, absoluto, consolidado em um saber único, superior às ciências particulares, consideradas fragmentadas e incompletas. O segundo, denominado de instrumental, a interdisciplinaridade é entendida como um meio. Nessa concepção, a ciência não passaria de um mero instrumento a serviço de uma razão instrumental (MANGINI; MIOTO, 2009). Outro enfoque na temática da interdisciplinaridade surge a partir do debate dos componentes constituintes do termo para dar referências mais concretas para sua conceituação, colocam Mangini; Mioto (2009): Decompondo o termo interdisciplinaridade, Assumpção (1991) encontra no prefixo “inter” o significante de uma posição ou ação intermediária e/ou recíproca; no substantivo “disciplina”, a epistéme, ou seja, a organização e a separação de conhecimentos por meio de um regime de ordem imposta, ou livremente consentida; e no sufixo “dade” o sentido da ação, o resultado dela, o modo de ser e a qualidade (MANGINI; MIOTO, 2009, p.209). A divergência dos diferentes conceitos de interdisciplinaridade está relacionada às diversas teorias e as matrizes do pensamento que orientam os estudiosos da temática. Nesse sentido, as autoras resgatam algumas vertentes de discussão da interdisciplinaridade. São elas: a vertente humanista, a vertente da complexidade e a vertente social crítica. Na vertente humanista se estabelece um diálogo ecumênico e reflexivo entre as várias áreas do conhecimento, a partir de uma mudança de espírito dos sujeitos 56 envolvidos no empreendimento interdisciplinar. A vertente da complexidade realiza uma crítica epistemológica à ciência contemporânea e defende diferentes propostas de integração disciplinar, a partir da incorporação da temática da complexidade e da perspectiva sistêmica. Já na vertente social crítica, sua análise é dirigida para a dimensão histórica e social da produção do conhecimento, consoante com a perspectiva marxista que, postula estar à ciência moderna subordinada à lógica da divisão social e técnico-científica do trabalho no modo de produção capitalista. Faz-se necessário esclarecer que esta pesquisa dialoga com a lógica da concepção latino-americana, que fixa a questão da interdisciplinaridade como uma construção contínua dos indivíduos. E, como vertente, se fundamentará na vertente social crítica que tem na dimensão histórica e social a base da produção do conhecimento. A escolha pela lógica e vertente, citadas anteriormente, se justifica pelo fato da educação ambiental preconizada por esta pesquisa estar comprometida com uma educação emancipatória, em que há protagonismo dos sujeitos envolvidos. Este protagonismo só é possível quando há espaço para participação subjetiva e intersubjetiva; cognitiva e social; circunstancial e histórica; local e global. O artigo 4° da Lei 9.795, que trata dos princípios de educação ambiental, estabelece uma correlação com enfoque humanista, holístico, democrático e participativo. Traz uma concepção de meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Faz vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; propicia uma abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; possibilita o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural (BRASIL, art. 4º da Lei 9795, 1999). Os objetivos fundamentais da educação ambiental são listados e definidos no artigo 5º da Lei 9.795/99, são eles: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos;II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, 57 entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade (BRASIL, art.5º, Lei 9795, 1999). Uma compreensão integrada do meio ambiente requer que o indivíduo e a coletividade adquiram conhecimentos acerca da problemática ambiental, considerando a sua relação com os múltiplos e complexos sujeitos existentes. Por conseguinte, a complexidade da realidade não se limita aos elementos naturais do meio físico, mas se estende a todas as formas de organização que se relacionem à presença e à ação do ser humano. E esta visão de integridade não se satisfaz com as respostas prontas, e nem com os caminhos previamente traçados pela educação tradicional, outrora denominada “educação bancária”, cujo conhecimento se dá por meio de transferência e por repetição (FREIRE, 1996, p. 13). No que tange à cidadania, o princípio do reconhecimento e respeito ao pluralismo de ideias, se destaca e se concretiza numa democracia participativa. A educação ambiental, em específico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política, no sentido de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita. A questão ambiental é eminentemente política, pois invoca a interferência de cada cidadão no debate e na tomada de decisões que se faz para a comunidade e com a comunidade. E, segundo Paulo Freire, a ideia de cidadania está ligada à: “capacidade de observar, de comparar, de avaliar para, decidindo, escolher, com o que, intervindo na vida da cidade, exercemos nossa cidadania” (FREIRE, 2000, p. 17). O desafio do fortalecimento da cidadania concretiza-se pela possibilidade de cada pessoa ser portadora de direitos e deveres, e de se converter em sujeito corresponsável na defesa da qualidade de vida, compreendendo a cidadania como processo que se constrói cotidianamente e inserida no contexto contraditório da sociedade atual. Esta postura não é apenas para um grupo restrito, mas envolve a população como um todo. 58 O princípio da vinculação entre a Ética, o Trabalho e as Práticas Sociais é fundamental aos alicerces da educação ambiental, que são temas indissociáveis. Ao pensar nesta perspectiva, pode-se citar a ética na visão de Freire (1996), que coloca: Estar longe ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador (FREIRE, 1996, p. 16). Apresentar tecnicamente educação ambiental é como Freire (1996) afirma acima, um puro treino. Para ter um caráter formador, um importante princípio da Lei é enfatizado na importância de dar continuidade ao processo educativo, no qual a população se conscientiza dos problemas ambientais com permanente avaliação crítica, evidenciando a necessidade de adequar e atualizar constantemente o seu conteúdo e métodos à realidade local. A educação ambiental deve permitir a compreensão da natureza complexa do meio ambiente e interpretar a interdependência entre os diversos elementos que a conforma, com vistas a utilizar racionalmente os recursos do meio na satisfação material e espiritual da sociedade, no presente e no futuro. Diante deste fato, a educação representa um instrumento fundamental na mudança de hábitos e valores impregnados no ideário da sociedade, conforme coloca Costa (2003): É necessário que a Educação Ambiental contemple a formação de valores e alterações de paradigmas arraigados em nossa sociedade, por um processo de aprendizado que é muito mais abrangente, capaz de despertar no indivíduo a cidadania, a responsabilidade social e a preocupação com o bem estar comum, criando uma consciência crítica acerca da necessidade de harmonizar as atividades humanas com a proteção do Meio ambiente (COSTA, 2003, p.6). Há uma concordância em reconhecer que a Educação é um meio eficaz que a sociedade possui para enfrentar as demandas presente e do futuro. Esta contribui para a transformação no modo de pensar das pessoas, a disseminação e absorção de princípios éticos, o fortalecimento do compromisso com as próximas gerações, e por fim, “o desprendimento de valores que induzem ao consumo desenfreado e 59 predador somente será possível através da educação ambiental” (COSTA, 2003, p.6). O investimento em uma educação ambiental permitirá que a sociedade seja encaminhada para o uso racional dos recursos naturais, mediante o estabelecimento de um ciclo equilibrado de retirada e renovação destes recursos, com vistas à manutenção e qualidade de vida. No âmbito das políticas públicas voltadas à educação, muitas ações são destinadas ao meio ambiente. As questões ambientais incluem-se dentre os temas contemporâneos que exigem uma abordagem interdisciplinar e crítica, por oferecer um caminho dialógico, num sistema de confrontação que geram análises, sínteses e muitas vezes rupturas. Enquanto nos cinco primeiros artigos da Lei são definidos o conceito, os objetivos e os princípios, a partir do sexto é instituída a Política Nacional para a Educação Ambiental – PNEA. A sua esfera de ação envolverá, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - SISNAMA, as instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e organizações não-governamentais com atuação em educação ambiental. As atividades vinculadas à PNEA deverão ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas que, na perspectiva desta pesquisa destacam-se, conforme o Art.8º: a capacitação de recursos humanos; incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos educadores, incluindo todos os níveis e modalidades de ensino. Ainda, a inclusão da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, deverá ser inserida em todos os níveis e modalidades de ensino; a criação e o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, com alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área ambiental; o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais na produção de material educativo; a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações (BRASIL,1999). 60 Conforme o art. 9º, a educação ambiental será desenvolvida, no âmbito dos currículos das instituições de ensino público e privado, com a seguinte abrangência na educação formal: educação básica; educação superior; educação especial; educação profissional; educação de jovens e adultos. A Lei determina a inserção das questões ambientais em todos os níveis da educação. (BRASIL, 1999). Para Lipai; Layrargues; Pedro (2007) a educação ambiental para crianças tem a seguinte perspectiva de aplicação: Na educação infantil e no início do Ensino Fundamental é importante enfatizar a sensibilização com a percepção, interação, cuidado e respeito das crianças para com a natureza e cultura, destacando a diversidade dessa relação (LIPAI; LAYRARGUES; PEDRO 2007, p.31). Desde cedo é importante promover o conhecimento a respeito do meio ambiente e buscar o desenvolvimento da consciência cidadã. Dias (2010), no seu livro: Educação Ambiental Princípios e Práticas, traz contribuições sobre exemplos de práticas educativas adequadas à cada faixa de escolaridade. Na etapa da Educação Infantil, o autor destaca que o estudo do meio ambiente deve “recorrer aos sentidos das crianças” (DIAS, 2010, p. 212), na percepção do espaço, das formas, das distâncias e das cores. Destaca também a importância da descoberta dos odores, sabores, temperatura, etc. Nos anos finais do Ensino Fundamental a aplicabilidade tem caráter mais crítico que, progressivamente no Ensino Médio e na Educação de Jovens e a Adultos – EJA, vai evoluindo para uma abordagem mais aprofundada, como colocam Lipai; Layrargues; Pedro (2007): O pensamento crítico, contextualizado e político, e a cidadania ambiental deve ser ainda mais aprofundado, podendo ser incentivada a atuação de grupos não apenas para a melhoria da qualidade de vida, mas especialmente para a busca de justiça socioambiental, frente às desigualdades sociais que expõem grupos sociais economicamente vulneráveis em condições de risco ambiental (LIPAI; LAYRARGUES; PEDRO 2007, p.31.). Com a construção de conhecimentos, mudança de atitudes e com aquisição de um estilo de vida “ecologicamente correto”, como processo de aprendizado concretizado na fase escolar anterior, torna-se necessário no ensino Técnico (no âmbito do Ensino Médio) e Educação Superior, o conhecimento de legislação e gestão 61 ambiental aplicáveis às atividades profissionais, com ênfase na responsabilidade social e ambiental dos profissionais que atuam nas diferentes áreas (LIPAI; LAYRARGUES; PEDRO 2007). No artigo 10°, há orientação para que a educação ambiental seja desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino normal, condizente com toda a lei. Ressalte-se, ainda, que a educação ambiental é muito mais ampla, na forma e no conteúdo, do que a própria e educação. Assim, a transversalidade (art. 2o da Lei 9.795/99) imposta por lei, denota que educação ambiental deverá permear todas as disciplinas, todo o ensino, todas as atividades educacionais, profissionais e sociais. Para isso, não há a necessidade de criação de uma disciplina específica para atender aos objetivos e princípios definidos na lei. No entanto, nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental é facultada a criação de disciplina específica, quando se fizer necessário (BRASIL, Art. 10º, Lei 9.795, 1999). A visão fragmentada, simplificadora e reducionista da realidade limita a possibilidade de uma educação abrangente, capaz de perceber nas relações sociais as causas e efeitos que destroem e as ações que podem reconstruir ou minimizar os impactos causados pelo desenvolvimento da sociedade. Impactos resultantes do movimento acelerado de urbanização e de industrialização. O papel da educação poderá ser decisivo se puder contribuir com a formação de cidadãos capazes de atuar, individual e coletivamente, na busca de soluções para os problemas decorrentes da crise ambiental que nos ameaça. O Meio Ambiente nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), insere a educação ambiental com uma condição de transversalidade para se contrapor à lógica segmentada do currículo, contemplando o ideal de uma nova organização de conhecimentos por meio de práticas interdisciplinares. Cabe ao profissional de cada disciplina promover o diálogo com a temática, conforme coloca Mendonça (2007): Quando esse profissional identifica e explora, no corpo de sua área de conhecimento, os conteúdos que expressam (ou podem expressar) a existência de um campo de saber ambiental, têm-se efetivamente a transversalidade da Educação Ambiental sendo exercitada, e isso 62 possibilita, por outro lado, a construção de novos saberes com olhares diversificados (MENDONÇA, 2007, p. 46). A educação ambiental, pelo seu múltiplo campo de conhecimento, permite que cada professor desenvolva atividades dentro do seu conteúdo específico ou em conjunto com outros docentes de maneira muito rica e criativa. Dada a importância da temática, o artigo 11o traz a indicação que a dimensão ambiental deva constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. E que os profissionais que já estão em atividade recebam formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da PNEA (BRASIL, 1999). Assim como a natureza, o conhecimento também vive em constante transformação. A profissão docente requer sempre atualização para que sua práticas atenda, de forma coerente e integrada, às necessidades dos sistemas de ensino e às mudanças sociais. A formação continuada de educadores e educadoras tem as seguintes prerrogativas, segundo o PRONEA (2005): Construção de planos de formação continuada [...]; apoio à criação de redes de formação de educadores e educadoras[...]; produção de material técnicopedagógico e instrucional de apoio aos processos formativos[...]; continuidade dos seminários anuais sobre o tema Universidade e Meio Ambiente [...]; suporte à qualificação de quadros profissionais [...]; formação continuada de docentes e técnicos, desde a educação pré-escolar ao ensino superior[...];implementação de metodologias de educação a distância[...];realização de parcerias entre escolas públicas e universidades, facilitando o acesso dos professores da rede pública de ensino básico aos cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu em educação ambiental [...]disponibilização de cursos de especialização, mestrado e doutorado em educação ambiental[...];criação de um programa de formação em educação ambiental voltado aos profissionais da educação especial [...];elaboração, junto às secretarias municipais de educação e de meio ambiente ou com o respectivo departamento, de um banco de dados com o cadastro de formadores de educadores ambientais (PRONEA, 2005, p.47). Inclui nesse âmbito, a formação de uma identidade pessoal e profissional que reconhece a docência como um campo de conhecimentos específicos, cujos profissionais contribuem com seus saberes, seus valores e suas experiências. O 63 conceito de educação ambiental no ambiente não formal tem a seguinte definição no artigo 13° da Lei 9.795/99: Entende-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente (BRASIL, Art. 11º, Lei 9.795, 1999). Para além do âmbito da educação ambiental escolar, o Art. 13° incumbe à sociedade o dever de promover a educação ambiental, esclarecendo sobre a obrigatoriedade de participação e a corresponsabilização de toda sociedade no processo de preservação do meio ambiente para a qualidade de vida. Pois somente a escola não seria capaz de executar tal tarefa sozinha. No parágrafo único deste mesmo artigo há o incentivo ao poder público em difundir nos meios de comunicação os programas e campanhas educativas e o incentivo à participação da escola, universidade e organizações não governamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não formal. Há ainda estímulo à participação de empresas públicas e privadas em parcerias com escolas e à sensibilização da sociedade como um todo para participar (BRASIL, Art. 13º, Lei 9.795, 1999). A partir do artigo 14° é definida política nacional, no que tange às diretrizes técnicas, a educação ambiental visa à superação das injustiças ambientais, da desigualdade social, da apropriação capitalista e funcionalista da natureza e da própria humanidade, que resulte em uma transformação social e cultural. Neste sentido, PRONEA tem uma abordagem que reitera um entendimento, historicamente construído, dos desafios desta como um processo dialético para possibilitar transformações ensejadas por toda sociedade, que implica na formulação de direitos, conforme defende Costa (2003, p. 9): O exercício do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sadio à qualidade de vida e do direito a Educação Ambiental não se conflitam com o exercício dos demais direitos e interesses fundamentais previstos na Constituição Federal, por todos procurarem em última instância a qualidade de vida, a dignidade humana, a justiça social, a saúde e a segurança, com realização da vocação pessoal e social do indivíduo. 64 Cumpre à educação ambiental fomentar processos que impliquem no aumento do poder das maiorias hoje submetidas, de sua capacidade de autogestão e o fortalecimento de sua resistência à dominação capitalista de sua vida (trabalho) e de seus espaços (ambiente). Assim, o poder público tem o compromisso de concretizar as diretrizes instituídas pela PNEA, conforme diz Costa (2003, p.17): As autoridades públicas, devem, na forma da lei, fazer implementar a Educação Ambiental nas Escolas e buscar a efetividade integral da Política Nacional da Educação Ambiental, respeitando o princípio da continuidade dos serviços públicos e buscando a capacitação de professores para a aplicação transversal, em todos os níveis da Educação Ambiental. No caso da omissão do Poder Público ou, em determinados casos, dos estabelecimentos escolares, é possível que se instaure inquérito civil ou procedimento administrativo preparatório, no âmbito do Ministério Público, ou tantos outros instrumentos e meio legais constitucionais para assegurar a efetividade deste direito. A educação ambiental, em específico, ao educar para a cidadania, pode construir a possibilidade da ação política no sentido de contribuir para formar uma coletividade que é responsável pelo mundo que habita. A educação constitui uma arena, um espaço social que abriga uma diversidade de práticas de formação do ser humano que não pode ser neutra, conforme destaca Freire (1996): Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha [...] Assim como não posso ser professor sem me achar capacitado para ensinar certo e bem os conteúdos de minha disciplina não posso, por outro lado, reduzir minha prática docente ao puro ensino daqueles conteúdos [...]Tão importante quanto o ensino dos conteúdos é a minha coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço (FREIRE, 1996, p. 40). Freire (1996) esclarece que é muito importante o ensino, mas é a postura e o testemunho que evidenciam a ética ao ensiná-los. Para o docente promover educação ambiental seu discurso tem que ser coerente com seus atos. No entanto, nem todos os profissionais da educação tiveram formação adequada e nem 65 continuada para ministrar uma educação ambiental da maneira como a temática requer. Nessas condições, faz-se necessária a preparação de recursos humanos para o atendimento dessas premissas, o que pressupõe desenvolver a capacidade de assimilar mudanças e adaptar-se a novas formas de organização do trabalho pedagógico. Portanto, a educação ambiental é indispensável na formação do educador que pretende inserir-se em um sistema de ensino moderno orientado para o futuro, visto que, segundo Jacobi; Tristão; Franco (2009): As práticas educativas, ambientalmente sustentáveis, nos apontam para propostas pedagógicas centradas na criticidade e na emancipação dos sujeitos, com vistas à mudança de comportamento e atitudes [...] e da participação coletiva (JACOBI, TRISTÃO; FRANCO, 2009, p.67). Pensar a educação como exercício para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformarem as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida. Nesse sentido, cabe destacar que a educação ambiental assume cada vez mais uma função transformadora, em que a corresponsabilização dos indivíduos torna-se um objetivo essencial para promover um novo tipo de desenvolvimento – o desenvolvimento sustentável. É necessário que o educador assuma a função de mediador na construção de referenciais ambientais e procure saber usá-los como instrumentos para o desenvolvimento de uma prática social centrada no conceito da natureza. Mas é preciso ir além do cuidado com a natureza, torna-se necessário uma formação social que permita o exercício de cidadania que leve os indivíduos a mudar de atitude frente aos desafios das questões ambientais, no sentido de reivindicar atuação do poder público, conforme coloca Jacobi (2003): O momento atual exige que a sociedade esteja mais motivada e mobilizada para assumir um caráter mais propositivo, assim como para poder questionar de forma concreta a falta de iniciativa dos governos para implementar políticas pautadas pelo binômio sustentabilidade e desenvolvimento num contexto de crescentes dificuldades para promover a inclusão social (JACOBI, 2003, p.202). Também faz-se necessário verificar a responsabilidade do setor privado e o papel do poder público, pois cada instituição tem uma importante atribuição. Portanto, a educação ambiental deve trabalhar para estimular as habilidades individuais e munir 66 esses indivíduos com habilidades sociais que permitam ações coletivas na busca da melhoria da qualidade de vida e justiça social. Os fundamentos teóricos e legais para as práticas de educação ambiental fazem com que esta se torne uma importante ferramenta de Desenvolvimento Local, pois enfatiza as relações entre as dimensões pessoais e interpessoais que colaboram e favorecem a constituição de identidades individuais e coletivas, ampliando o potencial educativo de ambientes, dentro e fora da escola, para que se tornem contextos de possíveis diálogos democráticos. Nesta direção, a escola passa a mediar experiências de diferentes sujeitos, auxiliando-os na construção e no planejamento de projetos coletivos, sem a necessidade de intervenção externa, no sentido de buscar a qualidade de vida e desenvolvimento local (JACOBI; TRISTÃO; FRANCO, 2009). É o que afirmam Battassini; Costa (2005), O processo de desenvolvimento local, como da educação ambiental, aparece como um caminho (que se faz ao caminhar) a ser seguido para se chegar à satisfação em qualidade de vida da coletividade, o qual permite perceber a importância do envolvimento de todos os setores da sociedade, considerando o trabalho integrador, assim como a sua autosustentabilidade (BATTASSINI; COSTA, 2005, p.13). Este dois processos ganham sentido nestas palavras de Freire (1996, p. 12): “passa despercebido a nós que foi aprendendo socialmente [...]que é possível ensinar”. Assim, o entendimento sobre a importância de valorizar as experiências que se passam nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, são oportunidades de ensino-aprendizagem. 67 3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL, DESENVOLVIMENTO LOCAL E GESTÃO SOCIAL Após entender a evolução histórica da educação ambiental, sua perspectiva na formação social dos sujeitos e a contribuição da educação neste processo, a partir deste momento serão apresentados o desenvolvimento local e gestão social como questões inerentes à educação ambiental. E será exibida como exemplo de interlocução, a proposta da comunidade de aprendizagem, que é uma forma de promover educação ambiental, a partir de uma gestão social que leva ao desenvolvimento local. 3.1 O que é Desenvolvimento local Apesar da desaceleração da economia em 2011, o crescimento econômico do Brasil foi suficiente para colocá-lo no sexto lugar entre as maiores economias do mundo, segundo o ranking do banco alemão WestLB (O Globo, mar/12). Infelizmente, os avanços sociais não acompanharam este crescimento econômico. O desenvolvimento, associado ao progresso material, procede de uma visão capitalista e positivista, que só é percebido no crescimento de taxas e indicadores econômicos. A ideia de desenvolvimento deve estar atrelada aos vieses econômico e social. Segundo Dowbor (2006) o bem-estar social é um fim e a atividade econômica é um meio. Para Sen (2010), o desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades humanas contrasta com visões que o identificam apenas relacionado com crescimento do Produto Interno Bruto - PIB. “O desenvolvimento requer que se movam as principais fontes de privação de liberdade” (SEN, 2010, p.18). Sen (2010) discorre em seu livro “O desenvolvimento como liberdade” que a tradicional noção de desenvolvimento, que contempla aspectos exclusivamente econômicos, está impregnada no pensamento ocidental e que certos efeitos provocados regionalmente pela globalização levaram à necessidade de se refletir 68 sobre o processo e o significado de desenvolvimento em uma escala local. E ainda que o desenvolvimento econômico dá-se concomitante ao social (SEN, 2010). O termo Desenvolvimento Local, remete a ideia de apropriação dos sujeitos e de suas potencialidades locais, visando à melhoria da qualidade de vida de sua comunidade; leva em consideração sua cultura e as identidades sociais presentes. Martins; Vaz; Caldas (2010, p. 586) acrescentam que o local “É um espaço privilegiado para as experimentações contra hegemônicas”. A reflexão sobre o desenvolvimento local considera o conjunto das necessidades humanas básicas (subsistência, proteção, afeto, entendimento, criação, participação, identidade e liberdade), que segundo a visão de Dowbor (2006, p.6): O crescimento econômico, quando existe, não é suficiente. Nem a área produtiva, nem as redes de infraestruturas, e nem os serviços de intermediação funcionarão de maneira adequada se não houver investimento no ser humano, na sua formação, na sua saúde, na sua cultura, no seu lazer, na sua informação. Neste sentido, o desenvolvimento, na perspectiva local, oferece maiores possibilidades de participação dos sujeitos, pois “é através do poder local que a sociedade decide o seu destino, constrói a sua transformação e se democratiza” (DOWBOR, 2008, p.5). O desenvolvimento local possibilita a organização comunitária em torno de um planejamento para desenvolver-se, contemplando uma perspectiva de construção social, que se constitui em um instrumento essencial, que orienta e conduz na superação da pobreza. Não significa, contudo, a busca ao atendimento das carências materiais apenas, mas esta finalidade é acompanhada pela identificação e a promoção das qualidades, capacidades e competências existentes na comunidade e no lugar (MARTINS, 2002). o desenvolvimento deve ser uma ação de enfrentamento real às piores manifestações da pobreza, objetivando a igualdade de opções e não de renda. A oportunidade de escolha, o direito à liberdade e a condição das pessoas de optarem 69 e buscarem por melhores condições de vida formam, pois, “o cerne do conceito de desenvolvimento humano” (MARTINS, 2002, p. 53). O desenvolvimento local também pode ser definido como um processo de reativação da economia e de dinamização de uma sociedade local, com base no aproveitamento dos recursos endógenos, cujos objetivos perpassam o crescimento da economia, a criação de emprego e a melhoria da qualidade de vida (MARTINS, 2002). Albuquerque; Zapata (2010, p.214) acrescentam: “Quando falamos em desenvolvimento local nos referimos não só ao desenvolvimento econômico, mas também ao desenvolvimento social e sustentável ambientalmente”. O enfoque do desenvolvimento local possui uma visão integrada dessas dimensões, a partir de um desenho que é realizado nos próprios territórios e com a efetiva participação dos sujeitos locais. E conforme coloca Sen (2010, p.19): O que as pessoas conseguem positivamente realizar é influenciado por oportunidades econômicas, políticas, poderes sociais e por condições habilitadoras como: boa saúde, educação básica, incentivo e aperfeiçoamento de iniciativas. Por isso, é preciso realizar investimentos no humano, no social e no natural, além daqueles correspondentes ao capital econômico e financeiro. A liberdade política e a qualidade de vida, pelo acesso aos direitos sociais, contribuem para o progresso econômico e social. Essas liberdades instrumentais aumentam diretamente as capacidades das pessoas, mas também se suplementam e podem, além disso, reforçar umas às outras. É importante apreender essas interligações ao deliberar sobre políticas de desenvolvimento. Na visão de Sen(2010), este é resultante de um processo de transformação que envolve o ser humano como o principal beneficiário dessa mudança, numa perspectiva de melhoria da qualidade de vida de uma coletividade ou grupo de pessoas que fazem parte de uma comunidade (SEN, 2010). O Desenvolvimento Local é uma perspectiva recente de desenvolvimento, cujo processo histórico tem a seguinte trajetória no Brasil: 70 De 1976 a 1988 – anterior a CF 1988 – as câmaras municipais tinham papel limitado, e estes não eram entes da federação, não possuíam leis orgânicas, pouca autonomia fiscal tributária e poucos recursos federais. No plano nacional havia grandes projetos desenvolvimentistas, cujas lutas eram direcionadas à municipalização das políticas públicas. No plano local, buscava-se descentralizar a gestão e democratizar as relações do Estado com a sociedade. Não se tratava prioritariamente de encontrar alternativas locais de desenvolvimento econômico. O processo de Desenvolvimento Local contava com pequeno número de experiências de resistência, que articulavam políticas, territorialmente localizadas, com a preocupação de promover a participação da comunidade (MARTINS; VAZ; CALDAS, 2010). No período de 1989 a 1992, os municípios melhoraram sua capacidade tributária ampliando as fontes de financiamento; há uma redefinição e expansão da autonomia dos municípios. Houve conquista de prefeituras por partidos de oposição à Ditadura, propiciando uma maior visibilidade das ações dos municípios na participação conjunta com o Estado. Nesta fase teve o início da influência do pensamento neoliberal (MARTINS, VAZ, CALDAS; 2010). Neste período, o processo de desenvolvimento local é marcado pela entrada de novos sujeitos políticos nas instâncias decisivas locais com fortes pressões relacionadas ao atendimento de demandas sociais reprimidas. A partir deste momento, os municípios não conseguiram desenvolver um projeto de inserção na federação como protagonista de desenvolvimento local, permitindo que o Estado o banisse de suas agendas (MARTINS, VAZ, CALDAS; 2010). A partir de 1993, ao Governo local foi delegada a gestão das crises sociais, a execução de políticas sociais e de infraestrutura básica. Neste cenário, atuavam a isenção fiscal e guerra fiscal entre os municípios e o projeto de Desenvolvimento Local é afastado da cena política e tem configuração local. Surgem algumas experiências como: banco do povo, cooperativas, formação e qualificação profissional, parcerias com outros países em torno de projetos técnicos e em busca 71 de novos mercados por meio de iniciativas de comércio justo e solidário; experiências de governos e setor progressista da sociedade civil. Segundo os autores Martins; Vaz; Caldas, (2010, p. 567) “ganha centralidade um arsenal de instrumentos de intensificação da participação. O processo de desenvolvimento local nesta pesquisa busca transpor a visão clássica de desenvolvimento para uma noção mais contemporânea, onde termos como a sustentabilidade, a ênfase no local, a promoção da cidadania, da participação e os valores funcionam como adjetivos para o desenvolvimento. O desenvolvimento, sob a perspectiva local, permite uma gama de possibilidades, inclusive com a educação ambiental. 3.2 O Desenvolvimento Local e Educação Ambiental A geração de conhecimentos sobre a realidade local, e a promoção de uma atitude proativa para o desenvolvimento fazem parte evidente de uma educação que pode se tornar no instrumento científico e pedagógico da transformação local. “Pessoas desinformadas não participam, e sem participação não há desenvolvimento” (DOWBOR, 2006, p.1). O cidadão tem maior possibilidade de envolver-se de maneira mais construtiva na sua própria cidade e seus entornos, na região onde cresceu, ao articular-se nas relações pessoais e institucionais que fazem parte do seu cotidiano (DOWBOR, 2006). E ainda na concepção de Dowbor (2006, p.1) ”existe a possibilidade dos cidadãos serem donos da nossa própria transformação econômica e social e que o desenvolvimento é o resultado”. A partir do momento que se substitui a passividade pela ação, ocorrem mudanças mais profundas no país, pois leva os cidadãos a sair de uma atitude de inércia ao assistir um governo sempre insuficiente. Dowbor (2006, p.1) completa afirmando que este protagonismo “devolve ao cidadão a compreensão de que pode tomar o seu destino em suas mãos”. Nesta perspectiva, a ideia da educação para o desenvolvimento local está ligada à compreensão da 72 necessidade para se formar pessoas capacitadas para produzir transformações na sua comunidade e gerirem interesses locais. Não significa deixar de pensar em promover processos mais amplos, mas significa dimensionar os territórios segundo os interesses da comunidade. A educação deverá inserir nas suas formas de educar uma compreensão da realidade local e deverá constituir parcerias com outros sujeitos sociais que constroem a dinâmica local. Em particular, as escolas, ou o sistema educacional (secretarias municipais, por exemplo) local, de forma geral, terão que articular-se com instituições de ensino superior locais ou regionais para elaborar o material correspondente, organizar parcerias com ONGs que trabalham com dados locais, conhecer as diferentes organizações comunitárias, interagir com diversos setores de atividades públicas, buscar o apoio de instituições públicas e privadas. É pensar a escola extrapolando seus limites, geográficos e conceituais, buscando interações com outras instituições e novos sujeitos em busca de melhoria da qualidade de vida e do meio ambiente “é preciso conhecer melhor este potencial para chegar à modalidade de desenvolvimento sustentável adequada à situação local, regional e planetária" acrescenta Dowbor (2006, p.13). Na construção sobre o entendimento de desenvolvimento local e sua interface com meio ambiente, Tenório (2004) traz as seguintes considerações: Pensar o desenvolvimento local requer o envolvimento de diversas dimensões: econômica; social; cultural; ambiental e físico-territorial; políticoinstitucional; científico-tecnológica[...]; importa, necessariamente, uma profunda transformação das relações sociais – não apenas dos processos técnicos de produção – mas também incluída a preservação ambiental [...] implicam esforços articulados de sujeitos estatais, da sociedade civil e do capital [...];a lógica do desenvolvimento local necessita do surgimento e fortalecimento de sujeitos inscritos em seus territórios e com capacidade de iniciativa e proposta socioeconômica que capitalize as potencialidades locais (TENÓRIO, 2004, p. 2). A educação ambiental e o desenvolvimento local fundamentam-se no envolvimento ativo de seus sujeitos, ou seja, na participação da comunidade. Neste sentido, estes sujeitos constroem seu futuro descobrindo e desenvolvendo em torno das potencialidades locais. O desenvolvimento local tem esta perspectiva: possibilita 73 uma organização comunitária em torno de um planejamento para o desenvolvimento do ponto de vista de construção social,consistindo em um instrumento fundamental, que orienta e conduz a superações de realidades. Conforme afirmam Battassini; Costa (2005, p. 14): Para tornar a educação ambiental um instrumento de desenvolvimento local é necessário a formação de uma nova consciência através do conhecimento e da reflexão sobre a realidade ambiental e social. Esta voltada para o desenvolvimento de atitudes e condutas que favoreçam o exercício da cidadania, a conservação do meio ambiente e a promoção da saúde e do bem-estar. No âmbito da educação ambiental, torna-se urgente e necessário oferecer mais informação e capacitação e conforme Dias (2010, p.115): “a educação ainda treina a (o) estudante para ignorar as consequências ecológicas dos seus atos”. A escola é uma instituição inserida no contexto social, portanto, é uma unidade que também provoca impactos ao meio ambiente. Contribui com o crescimento dos problemas ambientais por gerar lixo, esgoto, pelo consumo e desperdício de energia e de água. Estes motivos, em si, já são grandes motivadores para se pensar em estratégias permanentes de educação ambiental escolar com ações práticas, capazes de transformar a escola causadora de impactos em uma unidade que contribua com a redução dos problemas. Isso se dá através do consumo consciente e de uma correta destinação dos seus resíduos, implicando em mudanças de comportamento dos alunos e da escola como um todo, que consequentemente pode influenciar seus familiares e a comunidade em geral, possibilitando, também iniciativas que promovam o desenvolvimento local. Por desenvolvimento local com cidadania entende-se aquela ação coordenada entre a sociedade e o poder público municipal, realizada por meio de um processo participativo e democrático, em prol do bem-estar social, econômico, político e cultural de um dado território. A atual tendência em se pensar e planejar o desenvolvimento é dotá-lo de um caráter mais humano, no sentido de considerar o homem simultaneamente como sujeito e beneficiário. A proposta humanista, holística e ecológica está na essência 74 do conceito de desenvolvimento local, que assim adquire maior complexidade e se torna um desafio à reflexão. Requer uma visão de mundo bem distinta da convencional, aquela “centrada em um racionalismo objetivista e cartesiano e em valores materialistas e adeptos do consumismo” (MARTINS, 2002, p. 51). Enquanto estratégia de planejamento e de ação, o desenvolvimento local aparece num contexto em que se esgotam as concepções de desenvolvimento associadas a progresso material (acúmulo de riquezas), pessoal (“ganhar a vida”) e ilimitado (“quanto mais, melhor”), mas, sobretudo é um produto da iniciativa compartilhada, da inovação e do empreendedorismo comunitários. O verdadeiro diferencial do desenvolvimento local não se encontra em seus objetivos (bem-estar, qualidade de vida, endogenia, sinergias etc.), mas na postura que atribui e assegura à comunidade o papel de agente e não apenas de beneficiária do desenvolvimento. Isto implica rever a questão da participação. Seria aquele balizado por iniciativas, necessidades e recursos locais, tal como uma comunidade que de fato se conduz a caminho do desenvolvimento, ou da promoção do seu bem estar. Neste processo, a participação comunitária assumiria uma destacada condição do desenvolvimento local. Quando se fala de “local”, está se referindo à escala das inter-relações pessoais da vida cotidiana, que sobre uma base territorial constrói sua identidade. O lugar é essa base territorial, o cenário de representações e de práticas humanas que são o cerne de sua singularidade. O enfrentamento e a superação das distintas formas ou manifestações assumidas pela pobreza requerem uma visão mais integrada e humanitária do próprio desenvolvimento. 3.3 Noção e perspectivas da Gestão social A ideia de gestão social se baseia em um novo modelo de relações entre Estado e a sociedade para buscar vencer os desafios contemporâneos. A gestão social vem, progressivamente, afirmando-se como território de inovação, um possível paradigma de governo nos processos de transformação social. 75 Este conceito de gestão atravessa as fronteiras acadêmicas, incorporando discursos gerenciais e agendas de governos. A expressão, que costumava designar variadas práticas sociais, entre organizações de origem governamental, na sociedade civil, em movimentos sociais e empresariais – relacionada às noções de cidadania corporativa ou de responsabilidade social, parece assumir progressivo caráter de solidez, passando a “(...) representar um modo especial de problematizar e gerir realidades sociointeracionais complexas” (BOULLOSA; SCHOMMER, 2009, p.1). Um modelo no qual o Estado revê sua suposta primazia na condução de processos de transformação social e assume a complexidade de atores e de interesses em jogo como definidora dos próprios processos de definição e construção de bens públicos. O público corresponde a um espaço de interação entre diversos interesses que podem ser articulados na definição de valores e interesses em comum, que na colocação de Tenório (2002; 2004): O processo de construção da gestão social como alternativa de governança e de relação entre atores evidencia o propósito de avançar no sentido da democratização nas relações sociais, por meio de participação e engajamento de diversos atores em decisões e práticas que privilegiam a dimensão dialógica e relacional da gestão (TENÓRIO, 2002; 2004;apud BOULLOSA; SCHOMMER, 2009, p.1). Este modelo contrapõe a modos de gestão fundados em hierarquia, controle e racionalização, que são característicos da gestão privada e da gestão pública tradicional. A gestão social passa, então, a ser vista como um processo de construção estratégica com a capacidade de dar significância própria e reconhecimento a experiências localizadas até então dispersas. Assim, a ideia de gestão social não pode ser apresentada como um produto, pois o seu significado é determinado pelos sujeitos e características locais, que são as marcas de inovação desta proposta de gestão (BOULLOSA; SCHOMMER, 2008). A busca por uma gestão legitimamente comprometida com o social evidencia lacunas e explica a necessidade de constituição de um novo esboço metodológico, específico deste tipo de gestão, sem desprezar o aparato técnicogerencial, mas a partir da “adoção de uma abordagem crítica que permita discernir o 76 que pode ser incorporado do mundo privado e o que deve ser efetivamente constituído”, resguardando o reconhecimento da especificidade, em termos de racionalidade, do universo da gestão social. Tenório (2004) argumenta que gestão social não significa negar a razão, mas sim utilizá-la a partir do consenso alcançado por uma ação social baseada não somente na estratégia, mas, sobretudo, na comunicação e no diálogo, em espaços nos quais todos compartilham o direito à fala e o direito de participar das decisões sobre objetivos e meios para atingi-los, A gestão social é apresentada como a tomada de decisão coletiva, sem coerção, baseada na inteligibilidade da linguagem, na dialogicidade e no entendimento esclarecido como processo, na transparência como pressuposto e na emancipação enquanto fim último. (TENÓRIO, 2011, p.697). Assim, a gestão social é entendida como processo gerencial dialógico em que a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação. Tenório (2011) faz três suposições acerca da gestão social: O conceito é subserviente à realidade não-republicana brasileira; o conceito é uma utopia dada a sua pretensão antinômica ao de gestão estratégica; e por último, é um não-conceito, uma mediação entre a consciência e a realidade (TENÓRIO, 2011, p. 9). Prestar contas à sociedade, avaliar processos e resultados e regular ações são também tarefas essenciais do gestor eficaz - no caso de organizações de desenvolvimento social, a eficiência é função de efetividade social, isto é, da legitimidade conquistada. O cruzamento entre a gestão social e a descentralização política oferece perspectivas particularmente interessantes. Uma vantagem muito significativa das políticas locais é o fato de poderem integrar os diferentes setores, e articular os diversos sujeitos .As tendências recentes da gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social, a redefinir a relação entre o político, o econômico e o social, a desenvolver pesquisas cruzando as diversas disciplinas, a escutar de forma sistemática os sujeitos estatais, empresariais e comunitários. Trata-se hoje, realmente, de um universo em construção. 77 Outro requisito fundamental da gestão social, de acordo com Tenório (2011), é a transparência, que surge como condição necessária para as outras características, pois o segredo e a dissonância de informação tornam inviável a tomada de decisão coletiva baseada no entendimento esclarecido. Neste sentido, a linguagem deve ser acessível a todos os participantes. A importância da gestão social na temática ambiental dá-se pelo diálogo em bases teóricas semelhantes, que na visão de Freire (1996, 2000) e Tenório (2004), ocorre pela emancipação do homem como fim e resulta no processo democrático deliberativo e no exercício pleno da cidadania. Isso permite a participação efetiva no processo de tomada de decisão e traz crescimento e amadurecimento para os sujeitos que ampliam sua visão de mundo enquanto seres humanos dotados de razão e cidadãos participantes de uma esfera pública. 3.4 Gestão Social, Educação Ambiental e Desenvolvimento Local – articulações possíveis A perspectiva local enfoca a dinâmica particular do espaço, buscando entender como a história, a cultura, a territorialidade e as relações de proximidade influenciam no desenvolvimento. A ênfase na participação, por sua vez, ressignifica a prática do desenvolvimento que passa a ser concebida coletivamente, dependendo assim de um processo de responsabilização dos diferentes atores sociais. Essa responsabilização coletiva transforma o desenvolvimento em um processo político, envolvendo escolhas e decisões que só podem ser feitas a partir de uma articulação entre o local e o global, entre o indivíduo e o coletivo e entre as diferentes esferas sociais (Estado, mercado e sociedade civil organizada). "A crise ambiental é a primeira crise do mundo real produzida pelo desconhecimento do conhecimento” (TRISTÃO, 2004, p.88). 78 A crise ambiental é, sobretudo, um problema de conhecimento da complexidade do mundo, considerando suas diferenças e as inúmeras interações existentes. O modelo de desenvolvimento com base local e sustentável implica nas palavras de Batassini; Costa (2005, p.3): Na formação e na educação da própria comunidade em matéria de cultura, capacidades, habilidades e competências que permitam a ela mesma agenciar e gerenciar todo o processo de desenvolvimento da localidade, ao invés de apenas participar. É necessário desencadear um processo dinamizador da comunidade local a fim de que a mesma reative sua economia e toda a perspectiva de qualidade de vida sociocultural e ambiental. Isto implica em uma revolução do pensamento, mudança de mentalidade, transformação do conhecimento e das práticas educativas para construir um novo saber e uma nova racionalidade que orientem a construção de um mundo de sustentabilidade, de equidade e de democracia em busca ao desenvolvimento com base local. Estas estratégias no regional/local podem ser configuradas numa perspectiva que tenha o social como vetor central, e a sociedade civil como o sujeito do processo; enquanto que na estratégia centrada no econômico, o mercado é que é o sujeito principal. Em ambos os casos, o poder público participa ora como um dos poderes do local/regional, ora como o poder que estimula o processo de desenvolvimento. O local agora tem sido o centro da discussão, não mais originada nos Planos Nacionais de Desenvolvimento, fomentadores de ações que vê de fora para o nível local; mas sim planos de desenvolvimento local onde o lócus da decisão de implementar a estratégia não está mais no nível do poder central, mas do local. O importante é, principalmente, promover a iniciativa de desenvolvimento local endógeno e de geração de emprego produtivo para enfrentar a pobreza e a marginalização de forma mais sustentável e consistente, não de forma assistencialista (TENÓRIO, 2002). Neste sentido, cabe pensar sobre o papel da escola que é vista como ambiente separado e alheio ao local em que está situada. Geralmente, as pessoas e também 79 quem trabalha na escola não esperam que o trabalho educacional atue sobre as condições de vida de estudantes e de suas famílias, nem que a escola tenha importância para alterar a realidade imediata. Esta é pensada apenas como meio de se preparar para uma vida futura, acreditando que, com os diplomas que são proporcionados, as pessoas terão uma vida melhor porque terão um recurso para disputar vagas no mercado de trabalho. Dowbor (2006) enfatiza o papel formador da educação no sentido de preparar as pessoas para intervir na realidade local e coloca que “A educação não deve servir apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região” (DOWBOR, 2006, p. 2). Desta maneira a escola deveria se relacionar com o território, principalmente a partir do grupo de profissionais da escola, promovendo a entendimento de que a escola, de todo modo, faz parte da comunidade local. Isto impõe um dever moral de participar ativamente da vida desta comunidade. Assim, mobilizar profissionais, estudantes e familiares para identificarem aspectos da comunidade que indicam que os direitos não são respeitados e manter esta mobilização para reivindicar ações do Estado a fim de conseguir justiça e uma vida cada vez mais digna. A escola deve buscar na gestão social um modelo de gerenciamento mais participativo, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais, cuja principal base é o diálogo. Portanto, a gestão do desenvolvimento local se daria com o social, isto é, a cidadania presente nos processos de planejamento, execução e avaliação do desejado. O desenvolvimento local poderia criar um lócus interativo de cidadãos, recuperando a iniciativa e a autonomia na gestão do bem comum. “Sugere-se assim, que o governo poderia estar ao alcance das mãos dos cidadãos” (OLIVEIRA, 2002a, p.15). O essencial é esta atitude de considerar que as crianças podem e devem se apropriar, através de conhecimento organizado, do território onde são chamadas a viver, e que a educação tem um papel central a desempenhar neste plano. Ao 80 estudarem de forma científica e organizada a realidade que conhecem por vivência, mas de forma fragmentada, as crianças tendem a assimilar melhor os próprios conceitos científicos, pois é a realidade delas que passa a adquirir sentido. 3.5 Educação Ambiental e Comunidade de Aprendizagem As questões ambientais fazem parte das preocupações da humanidade há algumas décadas e o campo da educação surgiu como um espaço central de atuação na busca de superação dos novos desafios impostos pelo estilo de vida adotado pela sociedade, implicando na necessidade de incorporação da dimensão ambiental à ação educativa. O campo da educação ambiental surgiu então na perspectiva de garantir e guiar tal incorporação. Para consolidar-se, o campo da educação ambiental busca ancoragem teórica para realçar seu papel de criação e renovação sobre a função de reprodução. Neste sentido, buscam-se abordagens que considerem a complexidade da realidade, sem que se estabeleça uma dicotomia entre a natureza e sociedade. Para tal, torna-se fundamental um olhar crítico e uma atitude crítica, em um compromisso com a preservação da vida, com a transformação social e com a emancipação do ser humano. Esta abordagem conceitual de educação ambiental encontra sua base na tendência conhecida como educação ambiental crítica. Nessa perspectiva de educação ambiental Carvalho (2004) apud Logarezzi (2010) fazem a seguinte consideração: Tem suas raízes nos ideais emancipadores da educação popular, a qual rompe com uma visão de educação determinante da difusão e repasse de conhecimentos, convocando-a a assumir sua função de prática mediadora na construção social de conhecimentos implicados na vida dos sujeitos (CARVALHO, 2004 apud LOGAREZZI, 2010, 164). O exercício da educação ambiental, na perspectiva crítica, implica conhecimento das necessidades e dos interesses, das potencialidades e das limitações que caracterizam os ambientes em que vivem crianças e familiares da comunidade; implica, ainda, reconhecimento específico da participação das classes populares nos problemas ambientais e na busca de suas soluções. Sato (1997) diferencia a educação ambiental nas concepções de educação Tradicional e Libertadora, esta última aproxima-se da visão de educação 81 emancipatória, defendida por Paulo Freire. Segundo a autora, na perspectiva da Educação Libertadora, a educação ambiental “é expressa pela promoção da compreensão social e política através das ações e da consciência crítica” (SATO, 1997, p.99). Nesta visão, estabelece-se uma relação dialética a partir de ações políticas que considerem não somente a busca de soluções para as consequências da degradação ambiental, mas fundamentalmente represente uma possibilidade de empoderamento das comunidades para que identifiquem as causas destas modificações ambientais, por meio da participação ativa que promova as transformações sociais. Ainda permite resgatar o papel da escola e das comunidades por meio de uma participação política e dinâmica. Sato (1992) apud Sato (1997) delineia as principais características entre as duas dimensões da educação ambiental, conforme quadro 1. Quadro1 – Educação Ambiental na educação tradicional e na libertadora Fonte: SATO, 1992, apud SATO, 1997, P. 83 82 Assim, a educação é percebida como elemento de transformação social, a partir de um movimento integrado de mudança de valores e de padrões de conhecimento com ação política democrática e reestruturação das relações econômicas, cuja inspiração está no fortalecimento dos sujeitos, no exercício da cidadania (LOUREIRO, 2004). Nesse sentido, há uma confluência dessa concepção com a aprendizagem dialógica que pode ser entendida como uma concepção de aprendizagem centrada nos aspectos relacionais do processo educativo e apoiada na teoria da ação dialógica de Freire, conforme Logarezzi (2010, p.11): O qualificativo “dialógica” indica, também na concepção freireana, que no fundamento do processo educativo estão a incompletude humana e a tomada de posição frente ao real, como ontologia e base da educabilidade [...] diálogo este que se dá entre sujeitos dispostos à humanização e à coerência entre o que se faz e o que se fala cotidianamente. [...] Mencionando o diálogo que é a práxis. Nesse sentido, a interação é o elemento central do processo educativo. Esta dialogicidade é a base das comunidades de aprendizagem, na qual tem seus princípios fundamentados no diálogo igualitário, inteligência cultural, transformação, criação de sentido, solidariedade e igualdade de diferenças. Nesta direção, o desenvolvimento local e a gestão social encontram nas Comunidades de Aprendizagem um caminho efetivo para relações mais dialógicas e democráticas na escola e para aprendizagens mais efetivas. Uma vez que se apresenta como possibilidade de contribuição para uma mudança cultural na direção de relações sociais mais críticas, aponta questionamentos com compromisso de luta, superação de várias desigualdades e inconsistências estruturais da sociedade contemporânea. As comunidade de aprendizagem tem sua conceituação de acordo com Marigo et al., (2010) como: Proposta educativa que propõe a transformação social e cultural de escolas e seus bairros, na busca de uma convivência respeitosa entre todos (as) e da superação do fracasso escolar baseada no conceito de aprendizagem dialógica (MARIGO et al., 2010, p.74). 83 Tal proposta aposta na democratização da escola por meio da participação e do diálogo e objetiva a articulação dos diferentes agentes educativos de uma escola (docentes, funcionários, familiares, estudantes, entorno da escola – voluntários/a), na busca de uma educação de qualidade para todos e todas. Nasceu em experiências educativas da Espanha e vem sendo desenvolvida no Brasil desde 2003 pelo Núcleo de Investigação e Ação Social e Educativa da Universidade Federal de São Carlos. Sua proposta de transformação educativa e social em parceria com outros centros educativos tem como objetivo melhorar a convivência nas escolas e superar situações de fracasso com base nas elaborações sobre diálogo formuladas por Freire. E conforme afirma Logarezzi (2010, p. 1): Nessa concepção, familiares e outros voluntários do entorno da escola têm papéis importantes a desempenhar em atividades de gestão da escola e também de sala de aula. O funcionamento da escola se democratiza radicalmente na direção de um aprendizado de máxima qualidade [...]. O objetivo da educação não é desenvolver conceitos tradicionais de “educação cívica” por meio de uma moral estabelecida, mas permitir que os sujeitos tenham acesso aos dados básicos do contexto que regerá as suas vidas. Entender o que acontece com o dinheiro público, quais são os indicadores de mortalidade infantil, quem são os maiores poluidores da sua região, quais são os maiores potenciais de desenvolvimento – tudo isso é uma questão de elementar transparência social. “Não se trata de privilegiar o ‘prático’ relativamente ao teórico, trata-se de dar um embasamento concreto à própria teoria” (DOWBOR, 2007, p.81). Neste sentido, a educação ambiental contribui para a emergência de uma comunidade de aprendizagem, através do trabalho de projeto colaborativo, que tem lugar práticas dialógicas e interativas de construção do conhecimento, que possibilitam o desenvolvimento da auto-estima positiva, geral e acadêmica, dos estudantes, à construção de identidades que facilitam a emergência e concretização de projetos acadêmicos e profissionais. Os resultados possibilitam que os estudantes se assumam como participantes legítimos, atuando na sensibilização da comunidade escolar, educativa e social, através dos trabalhos de projetos, realizados em educação ambiental, contribuindo à 84 apropriação de conhecimentos, na mobilização e no desenvolvimento de competências que tenham sentido para os participantes, no domínio da educação ambiental, e que conduzam ao sucesso acadêmico e à inclusão escolar e social. Destaca-se ainda a compreensão de educação ambiental crítica, aqui adotada, inclui também a perspectiva dialética na abordagem de temas socioambientais em busca de conhecer as razões de ser dessas situações concretas que condicionam desigualmente as possibilidades de humanização em busca de identificar relações de poder presentes na realidade e espelhadas na linguagem para interpretar a realidade vivida. Tais reflexões e ações remetem para os princípios da aprendizagem dialógica e os pressupostos da educação ambiental crítica, numa aliança ainda pouco explorada, mas que tem um grande potencial. A responsabilidade escolar nesse processo é essencial, pois há a necessidade preeminente de se construir uma geração de pessoas que entendam efetivamente o meio onde estão inseridas. É essencial uma criança compreender que o tempo que passa na escola pode lhe permitir o entendimento sobre o contexto onde vive e apropriar-se da realidade que a cerca. A criança busca referências para o mundo pela cidade ou pelo bairro onde mora. “O seu espaço de referência é o local” (DOWBOR, 2007, p.1). Nesse contexto, faz-se necessário aprender a representação em escala do seu próprio bairro, das ruas que conhece, do que simplesmente decorar uma aula de geografia, mas ser incapaz de interpretar um mapa para se orientar. Ainda, conhecer a gestão das bacias hidrográficas a partir dos conhecimentos sobre os fluxos dos riachos e as fontes concretas de poluição, lhe assegura desde já ancorar o conhecimento abstrato em vivências concretas (DOWBOR, 2007). Trata-se de investir para tornar o ensino mais produtivo, valorizando a motivação dos alunos e levando-os a entenderem as coisas que os cercam e possibilitar que mais tarde sejam adultos que conhecem as origens ou as tradições culturais que constituíram as suas cidades, os seus potenciais econômicos, os desafios ambientais, o acerto ou desacertos das suas organizações territoriais, os seus desequilíbrios sociais. Conforme coloca Dowbor (2007, p.1): “Trata-se de fechar 85 desde cedo a imensa brecha entre o conhecimento formal curricular e o mundo onde cada pessoa se desenvolve”. A base teórica para educação ambiental suscita discussões em campos diversos, dada a complexidade da temática. E, como maneira de consubstanciar as diversas possibilidades da educação ambiental, seguem exemplos de algumas articulações desenvolvidas, a saber: a) Experiências que contemplam um processo de interação entre educação, meio ambiente e desenvolvimento local podem ser construídas, como por exemplo,quando o professor de Geografia desenvolve conteúdos relativos à atmosfera, faz uma articulação entre os problemas da poluição e a mudanças climáticas, relacionando-os ao efeito estufa. b) Outra forma é promover a interdisciplinaridade com a Química, por exemplo, suscitando discussões sobre como contribuímos para agravar estes problemas e quais atitudes poderiam ser tomadas por alunos, professores, escola e pais para minimizar e diminuir as consequências. Após exploração das informações, poderia ser apresentado como telejornal, programa de rádio, dentre outros que forem acordados. Ao final, solicitar aos alunos que observassem, a partir de um roteiro elaborado coletivamente, as atitudes da comunidade que comprometem a qualidade do ar – durante percurso para casa e na vizinhança. As observações seriam discutidas em forma de seminários e, ao final, poderia ser produzido um folder sobre atitudes adequadas para melhoria da qualidade do ar, consequentemente melhoria da qualidade de vida. Outro exemplo de projeto de educação ambiental, mas com vista ao desenvolvimento local, teve o envolvimento tanto da educação formal quanto da não formal, executado no âmbito municipal, a saber: O Programa de Desenvolvimento Local de Piraí, observado através de três programas: Programa de Geração de Renda, Emprego e Desenvolvimento do Comércio, Indústria e Serviços e os Condomínios Industriais; Programa de Promoção de Trabalho e Renda Rural e o 86 Pólo Regional de Piscicultura; Programa de Geração de Trabalho e Renda com Fomento do Cooperativismo. Foram várias ações envolvendo o poder público, a iniciativa privada, a sociedade civil e as associações existentes no município. No que se refere às ações contempladas pela educação, a prática foi atender não somente ao Ensino Fundamental, mas também na alfabetização de adultos com a participação da Federação de Associações de Moradores; criação de creches; distribuição de bolsaescola; parcerias com universidades públicas (estaduais e federais) através da implantação da Universidade Virtual atendendo, preliminarmente, as seguintes áreas de conhecimento: Matemática, Biologia e Pedagogia. Esta última teve prioritariamente, professores da rede estadual e municipal de ensino na região. A política educacional adotada buscou enfocar temas além daqueles exigidos pela legislação de ensino, como os que focalizavam especialidades profissionais que atendessem as demandas presentes e futuras da política de industrialização do município. d) Outros projetos pontuais que interagem com o todo educacional foram também implementados: “Educação: celeiro de leitura” – ambientes projetados para estimular o hábito da leitura e outras atividades literárias; “Criança não é sucata” – transformação de material reciclável feita por crianças; “Jardineiro mirim” – adolescentes que recebem bolsa do município para manutenção dos jardins da cidade; “Gente de nossa terra” – valorização de artistas e artesões, como exemplos de iniciativas direcionadas à educação dos munícipes. e) Outras iniciativas propostas por Dias (2010), são: 1. A memória viva: fazer convites a moradores antigos da cidade e ou região próxima à escola para conversar com os alunos a respeito de como era a cidade anteriormente – fauna, flora, rios, as festas, os transportes, a energia elétrica. Após o relato,os alunos deverão concluir sobre as mudanças e se melhorou ou piorou, para se estabelecer prioridades de ações (DIAS, 2010). 2. Olfato – solicitar aos alunos que por dois minutos tentem identificar quantos cheiros diferentes podem encontrar no local. Discutir sobre a dificuldade dos 87 citadinos (moradores urbanos) têm em distinguir cheiros, devido aos danos causados pela poluição na estrutura nasal (DIAS, 2010). 3. Ética ambiental: iniciar com alunos a preparação de um código de ética ambiental, descrevendo direitos e deveres para com as espécies em extinção e com o ecossistema (DIAS, 2010). 4. Saúde na comunidade: fazer um levantamento com os setores de atendimento de saúde (hospitais, postos de saúde, farmácias, “rezadeiras”, etc.) buscando informações sobre as doenças mais frequentes na comunidade. Tentar descobrir as causas, as incidências e, em conjunto, sugerir estratégias para minimizá-las ou extinguí-las; elaborar um documento e submetê-lo à apreciação da comunidade para depois fazer o envio as autoridades competentes (DIAS, 2010). É desejável que se desenvolvam práticas de educação ambiental na perspectiva crítico-dialógica e reflexões teóricas a respeito das práticas à luz do que já se tem de conhecimento em aprendizagem (dialógica) e em educação ambiental (crítica), com vistas à elaboração de um marco teórico que se encontre na confluência dessas duas bases. Estas estão intrinsecamente relacionadas à gestão social com a finalidade do desenvolvimento local. Assim, a educação ambiental terá cumprido a sua função na perspectiva social e, indubitavelmente, terá como resultado: melhoria da aprendizagem; ampliação das potencialidades da comunidade escolar, com o aumento da participação da comunidade; respeito e preservação do meio ambiente qualidade de vida; e muitos outros resultados quantos alçarem conquistar. 88 4 METODOLOGIAS E PROCEDIMENTOS DE INVESTIGAÇÃO 4.1 Metodologia de abordagem A metodologia de abordagem é de natureza qualiquantitativa, pois trabalha com dados quantitativos, mas os submete a uma análise qualitativa na tentativa de por em cena os dados subjetivos, crenças, valores, opiniões, fenômenos, hábitos. E, segundo Minayo (2010, p.17): [...] A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado, ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes [...]. A escolha pela predominância de uma abordagem qualitativa se fez necessária, pois o universo da pesquisa tem como diretrizes as práticas pedagógicas e como estas contribuem para que a escola cumpra sua função social a partir da educação ambiental. E, como já foi explicitada, a educação ambiental na perspectiva da PNEA, baseia-se em atividades que envolvem desejos, crenças, motivos; estes levam à aquisição de valores que resultam de atitudes ecologicamente corretas, pautadas na sustentabilidade e no respeito ao meio ambiente. Lembrando que o conceito de meio ambiente, aqui, tem um sentido amplo e ligado à qualidade de vida para continuidade da vida. No entanto, os fenômenos sociais apresentam diversas dimensões e interfaces e sua adequada abordagem requer, com frequência, a integração de aspectos subjetivos com determinantes estruturais ou contextuais mais abrangentes. Neste sentido, realizou-se uma combinação de duas técnicas de pesquisa – a qualitativa e a quantitativa - para possibilitar “o desenvolvimento de pesquisas sociais mais precisas e interessantes” (CRESWELL, 2007, p. 218-219). Assim, ao se fazer um desenho multimétodo, com a combinação de estratégias qualiquantitativa, foi possível chegar a resultados mais completos e efetivos do que os realizados exclusivamente com uma das duas abordagens. A quantificação de dados 89 qualitativos permite ao pesquisador comparar resultados quantitativos com dados qualitativos (SANTOS, 2009). 4.2 Delineamento da Pesquisa Como procedimentos de pesquisa foram escolhidos a Pesquisa Bibliográfica, Documental e a Pesquisa de Campo. Inicialmente a investigação foi feita por meio da pesquisa bibliográfica e documental, apenas lembrando que o que diferencia uma da outra é a fonte. Estas permitem ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia investigar diretamente (GIL 2010, p.65). A Pesquisa Bibliográfica foi efetuada em teses, dissertações, artigos, sites e livros. A Pesquisa Documental compreendeu a análise da Lei 9.795/99, dos documentos oficiais da escola, especialmente no Projeto Político Pedagógico e a matriz curricular do Estado, que são os Conteúdos Básicos Comuns (CBC’s). A Pesquisa de Campo utilizou o estudo de caso, uma vez que este possibilita uma observação detalhada de um contexto ou indivíduo e de um acontecimento específico que, no caso desta pesquisa, relaciona-se aos processos sociais implicados nos projeto de Educação Ambiental desenvolvidos por uma escola da rede pública estadual em Minas Gerais. A escolha deste instrumento se justifica por que o Estudo de Caso contribui para a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos, de acordo com Yin (2005, p.21): O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real - tais como ciclos de vida individuais, processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas, relações internacionais e a maturação de alguns setores. Neste sentido, foi possível investigar as práticas de educação ambiental de uma instituição de ensino da rede pública do Estado de Minas Gerais. 90 4.3 Cenário do Estudo O local pesquisado foi uma escola estadual, situada na região oeste de Belo Horizonte – MG e pertencente à Superintendência Regional de Ensino – SRE Metropolitana B. A escolha deste cenário deu-se pelo fato desta pesquisadora ter tido a oportunidade de visitar dezenas de escolas da circunscrição desta regional, na função de Analista da Educação. Esta função permite o acompanhamento pedagógico, capacitação e cursos com vistas a auxiliar as escolas na melhoria do ensino-aprendizagem e no alcance das metas propostas pelo Sistema Mineiro de Avaliação Externa. A escolha desta instituição específica justificou-se porque a mesma possui todos os níveis da educação básica e desenvolve projeto de educação ambiental. De acordo com as informações do Projeto Político Pedagógico e das observações in loco foi possível perceber as seguintes características: a) A instituição pesquisada está localizada em um bairro da região Oeste, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi criada no início da década de 1930. Além do Ensino Fundamental possui a Educação de Jovens e Adultos – Ensino Médio. b) Atualmente, a escola é administrada por uma professora, cuja filosofia “Educar para a vida com dignidade e esperança” (PDPI, 2012, p.10), que norteiam os preceitos da ética e da responsabilidade. c) Quanto à filosofia da escola - uma educação coerente e objetiva considera a subjetividade do processo educativo, a partir de um processo permanente e integral, fundamentada no compromisso de oferecer oportunidades de desenvolver a autonomia, a ação e a reflexão, bem como, a criatividade e a criticidade numa busca constante de uma melhor qualidade de vida; desenvolvimento das potencialidades; cultivo de ideais e valores perenes ao homem de maneira participativa e democrática para todos. 91 Segundo o PDPI, a organização do trabalho pedagógico serve para democratizar o processo ensino-aprendizagem, através do diálogo com a participação de todos profissionais envolvidos. 4.4 Sujeitos da pesquisa No universo de alunos do Ensino Fundamental, dos turnos matutino e vespertino, a expectativa foi de promover pesquisa com 90 sujeitos que participaram de iniciativas de educação ambiental, no entanto, somente foi possível a realização de 72 questionários, pois foram excluídos os que não devolveram os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE’s (documentos exigidos pelo Conselho de Ética e Pesquisa – CEP UNA), devido ao fato do responsável não ter autorizado, por falta de preenchimento correto ou por tê-lo perdido. Foram escolhidos para responderem aos questionários os alunos do 9º ano pelo motivo destes estarem finalizando uma etapa da Educação Básica, por terem vivenciado toda trajetória escolar na instituição pesquisada e serem do turno matutino. Houve também a participação de alunos do 6º ano. A escolha teve como motivação completar a quantidade proposta inicial (90 discentes), por serem do turno vespertino e ter concluído a primeira etapa do Ensino Fundamental. Os questionários foram efetuados nos dias 4 e 5 de julho/2013. Aos alunos do primeiro ao quinto ano foi feita a coleta de dados por meio da observação. A escola conta atualmente com 130 profissionais, pertencentes ao quadro total da escola, incluindo os profissionais da limpeza, cantina, docentes e demais servidores da instituição. A população de estudo foi constituída por: 1diretor; 4 especialistas da educação, 6 docentes. Assim, as questões levantadas tinham a intenção de diagnosticar as perspectivas de educação ambiental, conforme as seguintes escalas de atuação: a) Diretor: estruturação e gestão da escola – âmbito do planejamento; b) Especialistas: responsáveis pela coordenação pedagógica – âmbito do planejamento e acompanhamento da execução. 92 c) Docentes do Ensino Fundamental: ligados diretamente à execução, ampliação das ideias; representam a parte mais envolvida no processo de ensino e disseminação da educação ambiental. Foram utilizados três roteiros de entrevistas: para os professores, para o diretor e para especialistas da educação, que aconteceram no o período de junho, julho/2013 - coincidiu com final de bimestre, período de avaliações e festas. 4.5 Instrumentos de coleta de dados A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas, questionários e observação. 4.5.1 Das entrevistas Foram utilizadas entrevistas semiestruturadas aos docentes e à equipe pedagógica, no período de junho e julho/2013. As entrevistas foram gravadas e encaminhadas de maneira que o entrevistado ficou livre para exercitar e acompanhar a resposta, com liberdade para fazer perguntas além das que foram elaboradas. Gil (2010) faz a seguinte definição: Define-se entrevista como a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formulam perguntas com objetivos de obtenção de dados que interessam à pesquisa. É, portanto, uma interação social [...]é bastante adequada para obtenção de informações acerca do que as pessoas sabem, creem, esperam, sentem ou desejam, fizeram ou pretendem fazer [...] muito usada em pesquisas sociais [...] usada não apenas para coleta de dados, mas também com objetivos voltados para diagnóstico e orientações. (GIL, 2010, p.117). As entrevistas permitiram contatos com os sujeitos que forneceram dados subjetivos e informação úteis sobre a proposta de educação ambiental desenvolvida. As perguntas foram elaboradas de maneira que as hipóteses da pesquisa fossem elucidadas. Após a transcrição de cada entrevista, o texto foi enviado ao entrevistado para confirmação do conteúdo. No caso em que o entrevistado julgasse necessário, 93 seriam feitas alterações no texto para que não houvesse dúvidas sobre o conteúdo do discurso colhido e registrado. 4.5.2 Do questionário A técnica de coleta por meio do questionário, dirigida aos alunos do 6º e 9º ano, tem como vantagem a possibilidade de atingir um grande número de pessoas e de apreender um número significativo de questões, assim definido por Gil (2010): Pode-se definir questionário como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos interesses, expectativas situações vivenciadas. (GIL, 2010, p.128). 4.5.3 Da Observação A observação foi outro instrumento de coleta de dados que permitiu uma aproximação das experiências de educação ambiental no contexto das atividades oferecidas e vividas pelos alunos dos anos iniciais e, conforme é definida por Gil (2010, p. 114): “consiste na participação real do conhecimento na vida da comunidade, grupo, ou de uma situação determinada” (2010, p.114). As observações também foram dirigidas a cenários, comportamentos sociais e atividades pedagógicas de educação ambiental, de acordo com os apêndices anexos à pesquisa. O período das observações foi de julho a setembro/2013. 4.5.3.1 Cenário A instituição pesquisada situa-se na região oeste de Belo Horizonte; faz parte de um complexo que tem prédios público com muitas áreas verdes e jardins bem cuidados. Quanto à infraestrutura, possui: quadras (cobertas e descobertas); laboratórios de informática e ciências; biblioteca; piscina; amplo espaço nas dependências do prédio; acessibilidade para portadores de deficiências. 94 Quanto ao equipamento público: as salas dos anos iniciais estão melhores conservadas – com banheiro interno, mais amplas, carteiras mais novas e mais arejadas. A cantina possui um espaço amplo, limpo e com merenda de qualidade. O pátio tem bebedouros e lixeiras colocados em locais de circulação e de fácil acesso. 4.5.3.2 Comportamentos sociais Os alunos dos anos iniciais sempre fazem fila antes de se dirigirem para as salas, enquanto os mais velhos ficam sempre do lado de fora aguardando pelo professor. Os discentes estudam em prédios separados; tem horário e intervalos diferentes. Existe cordialidade entre os sujeitos, mas, em determinados momentos, há o uso de austeridade com a justificativa de que alguns alunos não respeitam as normas estabelecidas. Em geral, os sujeitos primam pela manutenção dos equipamentos escolares e o desgaste percebido deu-se pelo tempo de uso. 4.5.3.3 Observação das atividades – dia 15 de julho de 2013 Sujeito – Professor de Ciências, formado em Ciências Biológicas, pós-graduado em Meio ambiente e mestrando em Educação Ambiental; é funcionário efetivo, está na escola há mais de cinco anos e, neste ano (2013), ministra o conteúdo de Ciências Biológicas para as turmas do 9º ano; trabalha também na rede privada em outro horário. A aula começou as 7h07min; foi ministrada uma revisão do conteúdo de Física, tema da próxima prova – princípios da Física e Cinemática. A metodologia utilizada foi aula expositiva e o recurso didático utilizado foi o quadro. O docente demonstrou clareza e domínio sobre o assunto, mas sem referências às questões ambientais. 4.6 Procedimentos Éticos Todas as pesquisas, de qualquer área do conhecimento que envolvem seres humanos (na qualidade de sujeitos de pesquisa),passam pela análise de um Comitê 95 de Ética em Pesquisa regularmente cadastrado e credenciado pelo CONEP. Para tanto, a comunidade UNA (e demais pesquisadores em todo o país) foram cadastrados e utilizam a PLATAFORMA BRASIL, (http://aplicacao.saude.gov.br/ plataformabrasil/login.jsf), sistema desenvolvido para intermediar a tramitação dos protocolos de pesquisa entre pesquisadores, Comitês de Ética em Pesquisa (CEP’s) e o Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). A pesquisa foi realizada em local e horário com a melhor conveniência aos sujeitos da pesquisa, seguida da sua aceitação em participar, a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE (modelo anexo), no qual consta o endereço e telefone do Comitê de Ética da UNA e do pesquisador principal. Sendo assim, o TCLE foi feito em 2 (duas) vias, ficando uma com o entrevistado. 4.7 Organização e Análise dos dados Os dados oriundos dos questionários aplicados aos alunos foram organizados, inicialmente, através da tabulação e/ou gráficos. As entrevistas, após transcrição e leitura, foram organizadas em categorias e unidades de análise, definidas assim por Minayo (2010, p.70): A palavra categoria, em geral, se refere a um conceito que abrange elementos ou aspectos com características comuns ou que se relacionam entre si; [...] palavra ligada a ideia de classe ou série [...] significa agrupar elementos, ideia ou expressões em torno de um conceito capaz de abranger tudo isso. As categorias estabelecidas possibilitaram uma melhor análise, porque permitiram agrupar características e aspectos comuns dos dados e estabelecer interlocuções a partir do referencial teórico, que direcionou as discussões e conclusões finais. Desta forma, realizou-se uma leitura detalhada do material selecionado, resultando em uma visão de conjunto que permitiu apreender as particularidades de cada categoria. Estas categorias, teórica e empírica, foram organizadas a partir do que se propôs nesta pesquisa e analisadas no próximo capítulo desta dissertação. Foram, inicialmente, definidas assim: 96 Categoria 1: Orientações de educação ambiental presentes no CBC’S a) Proposta metodológica para os anos iniciais do Ensino Fundamental b) Proposta metodológica para os anos finais do Ensino Fundamental Categoria 2: Orientações de educação ambiental presentes no PDPI a) Proposta metodológica para os anos iniciais do Ensino Fundamental b) Proposta metodológica para os anos finais do Ensino Fundamental e Categoria 3: Práticas de educação ambiental desenvolvidas pela escola: a) Concepção de educação ambiental; b) Articulação com o PPP; c) Envolvimento dos discentes; d) Envolvimento da comunidade; e) Atividades desenvolvidas e forma como é feita; f) Recursos didáticos utilizados; g) Condições materiais disponibilizadas h) Periodicidade em que os projetos acontecem. Categoria 4: Articulação das atividades com o desenvolvimento local e social: a função social da educação ambiental: a) Melhoria para a qualidade de vida da comunidade escolar; b) Benefícios para as condições ambientais da escola; c) Benefícios para o meio ambiente do bairro; d) Ganhos sociais para a escola e comunidade; e) Contribuição para o ensino aprendizagem. 97 5 A REALIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: O QUE DIZEM OS DOCUMENTOS E O QUE FOI EVIDENCIADO PELOS DADOS EMPÍRICOS Este capítulo tem como pressuposto a análise dos dados coletados por meio da pesquisa documental e empírica. Esta última foi construída através da observação, entrevistas e questionário. A análise dos dados foi realizada a partir das informações obtidas em articulação com o referencial teórico utilizado, que direcionou as discussões e conclusões finais. Desta forma, foi realizada uma leitura detalhada do material selecionado que possibilitou vislumbrar e apreender as particularidades de cada categoria, teórica e empírica, conforme as análises que se seguem. Foram analisadas as diretrizes para a educação ambiental, constantes dos documentos citados acima, conforme as categorias definidas nos procedimentos de pesquisa. Após introspecção teórica, buscou-se um diálogo entre os dados apontados pelos sujeitos, nas diferentes técnicas de pesquisa empírica, utilizadas na investigação para compreender a realidade em sua complexidade. Nesta direção, foram utilizados vários procedimentos de investigação: observação; entrevistas e questionários. 5.1 Apontamentos da Lei 9795/1999: objetivos e princípios para a EA A PNEA, retratada pela Lei 9795/1999, regulamentou a educação ambiental como um componente essencial e permanente, devendo estar presente, de maneira articulada nos níveis e modalidades do processo educativo. É dada a incumbência de promovê-la às instituições de ensino, integradamente, nos seus projetos institucionais e pedagógicos. Em outras palavras, a educação ambiental não é uma escolha, mas uma delegação. Percebem-se apontamentos conceituais, políticos, filosóficos e de diretrizes para execução de educação ambiental em toda extensão da Lei 9795/1999, tanto na esfera pública quanto na privada. Entretanto, a análise foi encaminhada de maneira 98 que se percebessem indicações de educação ambiental segundo as prerrogativas dos Art. 3º, 4º e 5º da Lei 9.795/1999: Art. 3º - Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: [...] II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; Art. 4°- [...] princípios básicos [...] I o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à o pluralidade e à diversidade individual e cultural. Art. 5 São objetivos fundamentais da educação ambiental: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade (BRASIL, Lei 9.795, 1999). Nos artigos citados são percebidas as diretrizes para a educação ambiental, conceituando, estabelecendo objetivos e criando princípios. E, segundo o entendimento da Lei, a educação ambiental é entendida como um processo amplo que permeia todas as disciplinas, projetos e ações desenvolvidas pela escola; um tipo de educação que demarca um campo político de valores e práticas, capaz de mobilizar atores sociais comprometidos com a prática transformadora e emancipatória; leva à promoção da ética e da cidadania ambiental. Ainda, a PNEA permite á escola o protagonismo de atuação, uma vez que sua função precípua é o ensino. No entanto, os apontamentos aqui enunciados não são apenas prerrogativas de uma lei que deverá ser cumprida, mas uma concepção de educação para uma sociedade mais humana, mais justa, mais sustentável. Uma sociedade que pense global e aja em nível local; que privilegie uma maneira de viver menos individual e mais coletiva; e que tudo isso enseje a qualidade de vida de hoje e dos cidadãos futuros. 99 5.2 Direcionamentos para a Educação Ambiental presentes nos Conteúdos Básicos Comuns da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais Segundo o “Guia do Especialista da Educação Básica7” os CBC’s estão fundamentados nas Diretrizes Curriculares Nacionais e nos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN e se destinam aos anos finais do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio das Escolas Estaduais de Minas Gerais (esta informação já está desatualizada, pois parte das diretrizes curriculares para os anos iniciais do Ensino Fundamental já constam no site). Constituem-se como uma afirmação da necessidade indispensável do mínimo que a escola deve ensinar e que os alunos devem aprender. Este documento foi analisado e discutido por cerca de 14 mil professores de diferentes regiões do Estado, divididos em 719 grupos de estudo8. Estes cadernos, distribuídos em todas as Escolas, contêm as diretrizes curriculares a serem desenvolvidas pelos professores nas respectivas turmas a partir do planejamento anual de ensino. Os CBC’s estão assim organizados: Eixos Temáticos (Temas e Subtemas, Tópicos e Subtópicos de Estudo, Habilidades Básicas e seu detalhamento). Os Eixos Temáticos são os conteúdos de ensino que estruturam e identificam a área do conhecimento como componente curricular. São as unidades estruturadas e os tópicos que irão constituir o Conteúdo Básico Comum (CBC’S) para todas as propostas curriculares das escolas estaduais de Minas Gerais. Vale também ressaltar que o CBC’S dos anos iniciais do Ensino Fundamental está incompleto no sítio eletrônico do Centro de Referência Virtual do Professor - CRV da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. Constam apenas orientações 7 Guia do Especialista da Educação Básica – documento da Secretaria de Estado de Educação do Estado de Minas Gerais. Instrumento Didático destinado a orientação e suporte do trabalho do Especialista em Educação Básica da Escola Pública. Elaborado em 2007. 8 Informações obtidas no Centro de Referencia Virtual do Professor. www.crv.educacao.mg.gov.br. (Acessado em 14/10/2013). 100 para proposta curricular das disciplinas de Português e Matemática do Ciclo da Alfabetização - que correspondem aos três primeiros anos de escolaridade do Ensino Fundamental. Nas colocações a seguir serão discorridos sobre a educação ambiental orientada nos Conteúdos Básicos Comuns que, daqui em diante, será denominado CBC’S. 5.2.1 Proposta Metodológica para os anos iniciais do Ensino Fundamental 5.2.1.1 Ciclo da Alfabetização – 1° ao 3° ano de escolaridade a) Português – Não há nenhuma orientação para educação ambiental. b) Educação física – Ênfase ao desenvolvimento de atitudes e valores na prática de jogos. Jogos pré-desportivos na construção do respeito às diferenças. c) Matemática – Discreta interdisciplinaridade com a disciplina História ao resgatar a história dos números, no entanto, sem nenhuma orientação para exploração de temas ambientais. d) História – Não há referência à educação ambiental, mas há bastante alusão a temas que enfatizam o respeito, valores e culturas diversas. Os indícios são percebidos ao enfatizar a importância da qualidade de vida relacionando como era no passado com os dias atuais. e) Ciências – No eixo: Ambiente e vida - começa enfatizando a necessidade de preservação do meio ambiente, pois incentiva valorizar a vida em sua diversidade, reconhecer e adotar atitudes de preservação dos ambientes. Ainda que em caráter conteudista, há uma continuidade na temática ambiental, porque o conteúdo permite a criança reconhecer que não é possível sobreviver sem a água e o ar e sobre a importância de preservação da qualidade destes. Ainda neste eixo, há uma clara orientação para a educação ambiental conforme direcionamentos da PNEA. As demais informações relacionadas ao meio ambiente têm ênfase informacional com o uso de termos como: identificar e caracterizar. 101 f) Geografia – No eixo: A natureza e sua dinâmica: paisagem natural e meio ambiente há pouca exploração da problemática que envolve educação ambiental, pois apenas propicia o desenvolvimento da capacidade relacionada à necessidade de imprimir no aluno o sentimento de pertencer a um grupo, a uma comunidade. Há bastante termos como: identificar, localizar, reconhecer, analisar, dentre outros. Sendo que este último refere-se apenas a dados, sem extrapolar para a reflexão sobre a realidade, ou seja, o ambiente da sua localidade (escola, casa, bairro) e, principalmente, a ação/intervenção. Com base no referencial teórico, foram expostos os conteúdos que mais se aproximaram da proposta de educação ambiental, cuja ênfase dada nestes três primeiros anos do Ensino Fundamental, é tímida e ainda restrita aos campos da Ciência e, de maneira insuficiente, em Geografia. 5.2.1.2 Ciclo Complementar – 4° e 5° ano de escolaridade a) Arte - Não faz nenhuma referência sobre arte e meio ambiente – tem caráter apenas instrucional, sem fazer articulações com valores e meio ambiente. b) Educação Física – Dança – como um incentivo ao desenvolvimento de valores e atitudes; o esporte como meio de inclusão social e o respeito às diferenças; o reconhecimento do potencial do esporte no desenvolvimento de ética, atitudes e valores – solidariedade, respeito, autonomia, confiança e liderança. Análise dos padrões de estética, beleza e saúde como parte da cultura que os produz. Aqui há um indício de valores defendidos pela educação ambiental, aos criticar o consumismo. c) História - Referência sobre a história local - há termos como identificar e compreender, mas falta refletir sobre os problemas locais e as atividades essenciais às necessidades humanas. Conteúdos com um caráter instrucional; ênfase à valorização do patrimônio cultural e a história local; conhecimento das principais atividades econômicas, culturais e sociais, mas sem incentivar a interlocução com o meio ambiente. 102 O primeiro momento em que há alguma relação com a educação ambiental é no item 3.25 –Identificar as principais cidades mineiras e a forma de sustentabilidade presente nas mesmas - em que há várias orientações para o respeito às divergências sociais, culturais étnicas, no entanto, os aspectos instrucionais permanecem, com pouco indicativo para exploração da relação do meio ambiente, do período estudado e o de agora, fazendo uma relação do contexto histórico com temas ambientais. No item: Identificar no período do Brasil Império, os acontecimentos ocorridos entre os anos de 1822 a 1889 e os impactos causados nos aspectos político, social e econômico do Brasil, percebe-se a relação com valores, mas de maneira bem incipiente. Não há conexões entre fatos históricos e ambientais. d) Português – incentiva o professor, por meio de exposições e argumentações, o estímulo à tolerância e ao respeito mútuo, mas, sobretudo por seu exemplo e atitude, poderá ajudar seus alunos a desenvolver essa capacidade que envolve o aprendizado de atitudes e valores éticos. Orienta que, na escola, o professor poderá propor situações simuladas e reais em que os alunos deverão utilizar linguagem culta, quando, por exemplo, apresentarão jornais falados, entrevistas e debates na TV e no rádio, realizarão entrevistas na comunidade, apresentarão eventos, farão campanhas publicitárias com temas de meio-ambiente, convivência e respeito, entre outros. e) Matemática – Não há nenhuma relação presente entre a matemática e valores, ética e meio ambiente, nem mesmo no item: Tratamento da informação, que haveria boas possibilidades de relação com meio ambiente e aos valores a ele agregados. f) Geografia - No eixo 1, que trata da Linguagem cartográfica e Escalas, há expressões como: identificar, relacionar, descrever e compreender diferentes escalas de locais, mas sem refletir sobre questões ambientais possíveis neste assunto. Tem caráter conteudista. No eixo 2 - O ambiente em que a humanidade vive: Campo e Cidade / Espaço rural e urbano – há neste item uma rica discussão entre problemas ambientais, problemas 103 socioambientais presentes no espaço em que se vive; poluição no ambiente urbano; a questão dos resíduos urbanos; discussão e comparação à qualidade de vida no campo e na cidade. Em todos estes itens há orientações para busca de alternativas de intervenção, preservação e correção dos rumos. A mesma análise se aplica às questões da agricultura, meio de transporte. Já no eixo 3 – A natureza e sua dinâmica – incentiva a discutir a importância da preservação dos cursos de água; conhecer os efeitos da devastação da mata atlântica e discutir alternativas de preservação; reflexão sobre a ação humana em relação aos aspectos naturais. Também neste eixo, que trata sobre relevo, tipos de paisagem e bacias hidrográficas, não há muito aprofundamento às questões ambientais, ficando apenas na informação. O item que trata das diferentes regiões do Brasil tem como proposta: identificação dos principais problemas enfrentados por cada região e as possíveis soluções; compreensão das particularidades relacionadas aos aspectos naturais e sociais das regiões brasileiras para ampliar o entendimento sobre essas regiões, considerando que não são áreas homogêneas, mas que guardam grande diversidade; compreensão da desigualdades realidade, sociais e percebendo possibilidades suas de semelhanças, discutir diferenças propostas para e sua transformação. As orientações aqui encontradas fazem uma interlocução com a temática ambiental, no entanto, poderia sugerir um aprofundamento nas discussões, como por exemplo: qual região sofreu mais devastação ambiental? Qual o impacto na qualidade de vida de cada região? No eixo 5 - O planeta Terra – não faz nenhuma alusão às questões ambientais na perspectiva global e possíveis relações com o ambiente aqui. Ciência - No eixo 1 – Vida e ambiente – é composto pelos seguintes conteúdos: reconhecer a importância da água na natureza como bem finito (preservação); caracterizar técnicas de utilização do solo nos ambientes urbano e rural, 104 identificando os produtos desses usos e as consequências das formas inadequadas de ocupação. Percebe-se aqui uma aproximação entre o conhecimento científico e seu uso social ao fornecer informações sobre: reconhecer as principais formas de poluição e outras agressões ao meio ambiente da região em que a escola está localizada, identificando as principais causas e relacionando-as aos problemas de saúde local; ao reconhecer o lixo como fator de degradação ambiental, suas consequências e possibilidades de recuperação dos espaços degradados e da reutilização dos materiais do lixo; caracterizar materiais recicláveis e processos de reciclagem do lixo; tratamento e reciclagem; coleta seletiva; a vida nos lixões; catadores de lixo. Este eixo propicia grandes discussões e abre possibilidades para um projeto de intervenção que, através das diretrizes da PNEA e em experiências de outros sujeitos, poderá buscar subsídios que levem a aprendizagens sociais e ao desenvolvimento local. No eixo 2 – Ser humano e saúde – há uma interlocução entre o saneamento básico, como técnica que contribui para a qualidade de vida, e a preservação do meio ambiente; a busca da relação entre queimadas e a morte dos seres vivos e do solo e, consequentemente, a perda da fertilidade, como ricas possibilidades de interdisciplinaridade e aprendizagem que transcende a mera aquisição de conteúdo. Quando trata do assunto: Terra e Universo – eixo 3 - não faz interlocução com educação ambiental. A mesma observação para o item: Tecnologia e sociedade eixo 4. Dada a transversalidade da educação ambiental e, com as premissas da Lei 9795/1999, far-se-ia necessário um readequamento do CBC’S dos anos iniciais. Isso seria possível na medida em que a educação ambiental se constituísse como uma das prioridades de ensino dentro dos objetivos do CBC’S; na inserção de conteúdos de educação ambiental em todas as disciplinas, não apenas em Geografia e em Ciências; em maior consistência ao orientar aos educadores a uma prática que, efetivamente, fortalecesse a consciência ambiental. 105 Estas proposições não aumentariam os conteúdos oferecidos, pois a perspectiva ambiental oferece instrumentos para que os alunos possam compreender problemas que afetam a sua vida, sua comunidade, seu país e a do planeta, dentro de cada disciplina. Projetos e atividades desenvolvidas em sala de aula com enfoque nas séries iniciais implicam em uma nova consciência cultural, que modifique a relação das pessoas com o ambiente onde vivem. Transformar a sociedade é um trabalho cujos resultados dependem de um esforço contínuo e sistemático que, quando bem realizado, leva a mudanças de comportamento, atitudes e valores para o exercício de cidadania efetiva. O futuro da humanidade depende da relação estabelecida entre a natureza e o uso pelo homem dos recursos naturais disponíveis. 5.2.2 Proposta Metodológica para os anos finais do Ensino Fundamental a) Artes – Segundo informações do CBC’S (2006), o sentido para se ensinar Artes tem as seguintes prerrogativas: é a oportunidade de uma pessoa explorar, construir e aumentar seu conhecimento, desenvolver suas habilidades, articular e realizar trabalhos estéticos e explorar seus sentimentos. Seu ensino deve possibilitar a todos os alunos a construção de conhecimentos que interajam com sua emoção, através do pensar, do apreciar e do fazer arte e ensinar Arte significa, portanto, possibilitar experiências e vivências significativas em apreciação, reflexão e elaboração artística. Por fim, entendendo o ensino de Arte como agente transformador e formador do cidadão, estão elencados objetivos que considera: a memória do patrimônio cultural; novas e possíveis leituras do mundo por meio de sons, imagens e movimentos e o entendimento da sociedade por meio de atividades práticas de pesquisa, criação e fruição em arte. A conexão com as questões ambientais somente foi verificada no tópico 10: Produção de sons e construção de fontes sonoras diversas, com o seguinte detalhamento: Ser capaz de produzir sons musicais a partir de instrumentos 106 tradicionais e/ou não convencionais, construídos com elementos da natureza e diferentes materiais ou materiais reciclados – para o 6° ano. No entanto, sem possibilitar oportunidades de aprendizagem ou aprofundamento abrangendo os temas: sustentabilidade e meio ambiente. A interdisciplinaridade aparece na introdução do CBC’S (2006) de Arte com ênfase na cultura audiovisual, descrita como interdisciplinar e integradora que, como expressão artística, busca referências na arquitetura, na história, na antropologia, nas artes visuais e mesmo nas ciências exatas e biológicas. A associação entre Arte e natureza, de forma mínima, está presente no seguinte item: Identificar, relacionar e compreender a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo, respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, detectando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos de diferentes grupos culturais. A atividade criativa é inerente ao ser humano por suas possibilidades de múltiplas combinações de ideias, emoções e produções nas diversas áreas do conhecimento. A arte mobiliza continuamente nossas práticas culturais e estas mobilizam valores, ampliando a capacidade de perceber o nosso meio. Isso é tão verdade que é em Minas Gerais o maior museu de arte contemporânea a céu aberto da América Latina - Inhotim é um exemplo da interlocução entre arte e educação ambiental. b) Educação Física - Principal sentido para a Educação Física no CBC’S (2006): comprometimento com a construção de uma escola como tempo e espaço de vivência sociocultural; aprendizado de saberes e desenvolvimento do sujeito, considerando a pluralidade das potencialidades humanas, valorizando o conhecimento, a arte, a estética, a identidade, o sentimento, a emoção e as múltiplas linguagens. Não há vinculações com os princípios da educação ambiental, mas, de certa forma, orienta ao desenvolvimento de valores nos seguintes itens: 9. A importância do esporte no desenvolvimento de atitudes e valores éticos e democráticos; adotar 107 atitudes éticas em qualquer situação de prática esportiva; identificar valores éticos nos jogos e brincadeiras; e também no tópico: 23.1. Compreender a dança como meio de desenvolvimento de valores e atitudes (afetividade, confiança, criatividade, sensibilidade, respeito às diferenças, inclusão). É evidente que algumas disciplinas têm mais pontos de articulação com a educação ambiental, todavia, como tema transversal e como múltiplo campo de conhecimento, sempre terá como ser abordada em qualquer disciplina. c) Língua Estrangeira Moderna - LEM – Inglês – O CBC’S (2006) reafirma que a aprendizagem de uma língua estrangeira, junto com a língua materna, é um direito de todo cidadão, conforme expresso na Lei de Diretrizes e Bases (1996). Ainda assegura que aprendizagem de língua estrangeira contribui para o processo de formação integral do aluno e representa muito mais do que uma mera aquisição de formas e estruturas linguísticas em um código diferente. Como maneira de abordagem da questão ambiental, tem as seguintes orientações pedagógicas: Para complementação e expansão dos assuntos discutidos em sala de aula, por exemplo, poderão ser utilizados sites relacionados aos assuntos dos módulos de ensino (identidade, relações familiares, educação, pluralidade cultural, tecnologia, entretenimento, meio ambiente, saúde, alimentação, etc.); os assuntos tratados nos textos escolhidos devem se relacionar a questões da atualidade - meio ambiente, entretenimento, pluralidade cultural, ética e valores - de forma que a sala de aula de língua estrangeira seja o espaço para discussões sobre aspectos de importância social, política e econômica no mundo atual. Segundo o CBC’S (2006), estas orientações são para atender a uma perspectiva interdisciplinar no tratamento dos conteúdos e que os assuntos sugeridos para os módulos de ensino de LEM – identidade, meio ambiente, saúde, pluralidade cultural, entretenimento, esportes, lazer, etc. – facilitam também o trabalho em conjunto com os programas das outras disciplinas da estrutura curricular. Outro fato importante enfatizado pelo CBC’S (2006) é a função interdisciplinar da LEM: seu estudo pode ser conjugado com o de outras disciplinas, como, por 108 exemplo, o da história, o da Geografia, o das ciências físicas e biológicas e o da música, tornando-se possível viabilizar na prática dos procedimentos didáticos, a relação entre língua estrangeira e o mundo social. As referências à educação ambiental associadas ao ensino de Língua Estrangeira são feitas de maneira genérica e indireta. d) Português – O CBC’S de Português (2006) tem a seguinte prerrogativa: Linguagem é atividade interativa em que se constitui como sujeitos sociais; preparar para a vida significa formar locutores/autores e interlocutores capazes de usar a língua materna para compreender o que ouvem e leem e para se expressar em variedades e registros de linguagem pertinentes e adequados a diferentes situações comunicativas. Qualificar para o exercício da cidadania implica compreender a dimensão ética e política da linguagem, ou seja, ser capaz de refletir criticamente sobre a língua como atividade social capaz de regular - incluir ou excluir - o acesso dos indivíduos ao patrimônio cultural e ao poder político; mostrar uma atitude crítica e ética no que diz respeito ao uso da língua como instrumento de comunicação social. O CBC’S de Português (2006) coloca a importância deste conteúdo na vida das pessoas, quanto à questão social, no sentido de qualificar para o exercício da cidadania, compreendendo a dimensão ética e política da linguagem como maneira de refletir criticamente sobre a língua e como atividade social. Ou seja, apenas à instrumentalidade do uso da língua materna sem alusões a sua incursão às questões ambientais. e) Matemática - Na apresentação do CBC’S (2006) fica claro como objetivo, a excelência do ensino da Matemática, cuja importância justifica-se como base para a elaboração da avaliação anual do Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB), para o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) e para o estabelecimento de um plano de metas de cada escola. Percebe-se aqui o caráter técnico-instrumental do ensino de Matemática e a preocupação com um ensino de qualidade, no entanto, há poucos indícios da função 109 social que este conteúdo poderia desempenhar. A única vez que é vinculada o ensino a questões sociais é no caderno: Sugestões de atividades, nos Temas 03 e 10 (Probabilidade) - Utilizar informações sobre saúde, meio ambiente, ciências sociais veiculadas em revistas e jornais que envolvem fenômenos probabilísticos; estabelecer conexões entre temas matemáticos de diferentes campos, e entre esses temas e conhecimentos de outras áreas curriculares e trabalhar coletivamente na busca de soluções para problemas propostos. f) História – O CBC’S desta área de conhecimento não estabelece nenhuma relação direta com a educação ambiental. As questões ambientais apenas estão previstas no Tema 5: Cidadania e Democracia, quando trata no tópico XXIV do Movimento Ambientalista, mas como conteúdo do Ensino Médio. A ênfase na cidadania está voltada apenas à participação social e política do cidadão, mas sem estabelecer correlações com as questões ambientais do passado, do presente e nem do futuro. g) Geografia – faz referências diretas aos conhecimentos relativos ao meio ambiente, mas o incentivo à reflexão dos fatos em relação à capacidade de desenvolver um raciocínio geográfico complexo e, com ele, atitudes que sustentem uma nova lógica e uma nova ética ambiental e social. Outro fator de extrema relevância abordado no CBC’S (2006) foi a compreensão da relação explícita entre lógica do consumo, consumismo e cidadania com vistas à construção de sociedades sustentáveis - Eixo Temático IV Meio Ambiente e Cidadania Planetária - Tema 4 : Ambiente, Tecnologia e Sustentabilidade. As diretrizes curriculares de Geografia estão plenamente articuladas às questões ambientais em conformidade com as diretrizes da PNEA. Constam de suas orientações: refletir, problematizar, prognosticar, dentre outros que levam à aprendizagem significativa e extrapolando o caráter conteudista da educação ambiental das demais disciplinas. h) Ciências – As diretrizes contidas no CBC’S para o ensino dessa área têm como ponto de partida a concepção de que a ciência, além de ser um modo de 110 pensar, de chegar a conclusões coerentes a partir de proposições, de questionar preconceitos e hipóteses e de propor ideias novas a partir do que já existe, é também uma construção humana que envolve relações com os contextos cultural, ambiental, sócio-econômico, histórico e político. Por isso, tais diretrizes têm como meta explicitar escolhas, repensar posturas e sugerir estratégias de ação que promovam a ampliação da noção de conteúdo. Tais diretrizes devem englobar três componentes interdependentes - os conceitos, os procedimentos e os valores e atitudes. O CBC’S ainda enfatiza que, dada a importância de ciência e tecnologia na sociedade, espera-se que o seu ensino possa promover uma compreensão acerca do que é a ciência e como o conhecimento científico interfere nas relações com o mundo natural, com o mundo construído e com as outras pessoas. O CBC’S de Ciência tem a seguinte estrutura: três grandes eixos: I Ambiente e Vida - composto por sete temas e com 15 tópicos; II Corpo Humano e Saúde - três temas e 7 tópicos; III Construindo Modelos - 4 temas com 8 tópicos. Os tópicos subdividemse em obrigatórios e complementares. Os Conteúdos Básicos Comuns foram projetados para ocupar a metade da carga horária disponível para a disciplina Ciências Naturais, o tempo restante deve ser utilizado para o ensino de conteúdos complementares e/ou para o desenvolvimento de projetos pedagógicos da escola. Os temas como: “Reciclagem e preservação ambiental” e outros ligados à sustentabilidade, ação humana no ambiente, implicações ético-ambientais da Biotecnologia, são conteúdos que formam o Tópico complementar - que não são obrigatórios. 5.2.2.1 Abordagens específicas das questões ambientais em Ciências A) Tópicos complementares (não obrigatórios) 111 I. Impactos ambientais e extinção de espécies - Interpretar informações de diferentes fontes sobre transformações nos ambientes provocadas pela ação humana e o risco de extinção de espécies. III. Reciclagem e preservação ambiental - Relacionar a reciclagem dos materiais com a preservação ambiental. VIII. Biotecnologia em debate - Compreender informações básicas sobre clonagem e transgênicos, considerando implicações éticas e ambientais envolvidas. B) Tópicos obrigatórios 8.1. Examinar o problema do lixo nas sociedades modernas e discutir as alternativas. 9. Disponibilidade e qualidade de água – discussão superficial dos problemas ambientais relacionados à água – com caráter mais instrucional do que atitudinal9. 10.0. Relacionar, em situações-problema, a ocorrência de doenças veiculadas pela água, como a diarreia, à aglomeração humana, ao descuido com o saneamento ambiental e à existência de esgoto não tratado. 18.1. Relacionar os modos de evitar algumas doenças, como verminoses, protozoozes e bacterianas com o saneamento ambiental. Reconhecer fatores ambientais (fumo e poluição) em doenças do sistema respiratório. 28.0. Compreender que o meio ambiente pode alterar o fenótipo de um indivíduo. 29. Produção de energia elétrica: custos ambientais e alternativas: 29.1. Discutir e comparar impactos ambientais de usinas geradoras de energia elétrica. 29.2. Associar impactos ambientais ao uso intensivo de energia e examinar alternativas energéticas disponíveis. O CBC’S de Ciências, em suas diretrizes, coloca que o seu ensino deve abordar as questões atuais, refletir sobre os impactos da ciência e da tecnologia na sociedade contemporânea, analisar as questões ambientais ou sobre ações e políticas 9 Coll propõe a classificação dos conteúdos em: conceituais – englobam: fatos, conceitos, princípios (“O que se deve saber”); procedimentais: dizem respeito a técnicas e métodos (“O que se deve saber fazer”); Atitudinais: abrangem valores, atitudes, normas (“Como se deve ser”). 112 destinadas a promover saúde pessoal e coletiva, contudo, ao selecionar os conteúdos, não foi dada a devida relevância à aprendizagem de valores e atitudes, como uma necessidade formativa inquestionável. A visão de educar para o meio ambiente não diz respeito apenas à preservação da natureza, deixando as questões culturais, sociais, econômicas, políticas e históricas, inerentes a essa temática, à margem das discussões. A educação ambiental deve contemplar tanto o conhecimento científico quanto os aspectos subjetivos da vida, que incluem as representações sociais. A importância dada aos CBC’S’s, conforme especificada no CRV (CBC’S, 2006), é que formam a base para a elaboração da avaliação anual do Programa de Avaliação da Educação Básica (PROEB), para o Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE) e no estabelecimento de um plano de metas da escola. O progresso dos alunos, reconhecido por meio dessas avaliações, constitui a referência básica para o estabelecimento de sistema de responsabilização e premiação da escola e de seus servidores. A constatação de um domínio, cada vez mais satisfatório desses conteúdos pelos alunos, gera consequências positivas na carreira de todo professor (CBC’S, 2006). O avanço na aprendizagem dos conteúdos ainda é tímido, conforme os gráficos da instituição pesquisada nas avaliações externas (Sistema Mineiro de Avaliação Externa – SIMAVE). No entanto, dados publicados no Anuário Brasileiro da Educação Básica (2012) demonstram que Minas Gerais tem melhores resultados de aprendizagens em Português e Matemática comparados à média nacional e da região Sudeste. Neste sentido, o CBC’S tem caminhado para alcançar seu propósito, que não tem como prioridade a educação ambiental, mas ao alcance de metas. Sabe-se que o currículo delineia a prática pedagógica de uma dada realidade educacional, da qual decorrerão os resultados escolares estabelecidos. Na medida em que a educação ambiental se constituir como uma das prioridades de ensino dentro dos objetivos do CBC’S e que tenha maior abrangência nas disciplinas, não 113 apenas em Geografia e Ciências, certamente terá maior consistência ao orientar os educadores a uma prática que, efetivamente, fortaleça a consciência ambiental. Apesar dos esforços para inserir a educação ambiental no conjunto de conteúdos do currículo mineiro, ainda não tem sido suficiente. A educação ambiental prevista no CBC’S não é uma prioridade e nem se configura como uma perspectiva em torno de um projeto de educação com vista ao atendimento dos anseios da sociedade, mas ao atendimento de metas. Isso se materializa também na constituição dos conteúdos obrigatório e complementares, pois muitas propostas de educação ambiental encontram-se nos conteúdos complementares (não obrigatórios), o que cria uma desobrigação no desenvolvimento dos mesmos. Seria necessário buscar uma abordagem curricular que levasse à conscientização, à formação de sujeitos críticos; que permitisse a apropriação do saber social para apreensão dos saberes historicamente produzido e que, principalmente, permitisse o efetivo exercício da cidadania (OLIVEIRA, 2009a). Uma observação relevante é que, apesar dos CBC’s não abordarem a educação ambiental conforme orientações da PNEA está presente no sítio eletrônico do CRV uma página denominada: Roteiro de atividades. Nesta poderão ser encontradas muitas propostas de trabalhos, inclusive com a temática ambiental, que proporcionam uma ampla discussão. 5.3 Apontamentos do Projeto Político Pedagógico O documento denominado nesta pesquisa como Projeto Político Pedagógico – PPP, na escola pesquisada denomina-se Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional - PDPI, por tratar-se de escola referência10. Segundo informações no documento, sua elaboração deu-se através de uma ação colegiada destinada a toda a comunidade escolar e contou com a participação e 10 Escolas-Referência são escolhidas pela qualidade do trabalho realizado, especialmente aquelas que evidenciam uma postura empreendedora desenvolvendo projetos bem sucedidos na solução de problemas educacionais relevantes (...). É um projeto da Secretaria de Estado da Educação de Minas Gerais. 114 colaboração dos integrantes de todos os segmentos da escola. E ainda afirma que promover a melhoria do ensino e da aprendizagem, no âmbito escolar, é a preocupação central dos profissionais que nela atuam (PDPI, 2012). O Plano de Desenvolvimento Pedagógico Institucional - PDPI da escola tem como premissa possibilitar mudanças planejadas e compartilhadas que pressupõem uma ruptura com a cultura de reprovação e reafirma o compromisso com a aprendizagem do aluno e com a educação de qualidade para todos os cidadãos (CEE, Parecer 1132/97). Também afirma que a excelência será buscada a partir de projetos desenvolvidos pela escola, principalmente o Projeto de Intervenção Pedagógica – PIP – Neste sentido, o PDPI afirma que esse processo dar-se-á por meio de uma pedagogia inovadora e, consequentemente, uma aprendizagem mais significativa, eficaz, e comprometida com a formação dos alunos; resultam de estudos, reflexões e debates, pesquisas e diagnósticos, executados por todos os profissionais da escola, para que possa nortear as práticas pedagógicas e as políticas internas e externas. Segundo o PDPI (2012), a pedagogia é voltada para abordagens de temáticas contextualizadas, pautadas na formação de um aluno crítico e em conformidade com as atuais demandas da sociedade. E ainda afirma que o fazer pedagógico e administrativo de qualidade é alicerçado nas diretrizes norteadoras, vigentes na legislação atual; posiciona-se em desenvolver uma educação coerente e objetiva, considerando a subjetividade do processo educativo. Destaca a importância de que o aluno possa construir seus conhecimentos de forma coletiva, a partir dos saberes intrínsecos, vivenciando o respeito, a cooperação, a afetividade e a responsabilidade como valores essenciais e que a participação de todos os envolvidos na educação é o principal meio de assegurar uma gestão democrática. Constituem como seus objetivos: um Plano Pedagógico Coletivo como norteador de uma prática de ensino transformadora, problematizadora, instigadora e significativa; o cumprimento do seu papel social na formação de indivíduos autônomos, críticos e 115 compromissados com a cidadania; o assessoramento e o acompanhamento das atividades escolares docentes, discentes e de todos; eficácia da aplicabilidade dos projetos na escola; elaboração de propostas que permitam a participação da comunidade articulando aos desenvolvimentos dos projetos da escola (PDPI, 2012). Diante dos objetivos propostos, a escola se ajusta aos princípios regidos pela Resolução SEE Nº 2.197 de 26 de outubro de 2012: a) Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana; b) Políticos: de reconhecimento dos direitos e deveres de cidadania, de respeito ao bem comum e à preservação do regime democrático e dos recursos ambientais; c) Estéticos: do cultivo da sensibilidade juntamente com o da racionalidade; formas de expressão e do exercício da criatividade; da valorização das diferentes manifestações culturais, especialmente a da cultura mineira e da construção de identidades plurais e solidárias. Ainda segundo o PDPI (2012), a escola busca na pedagogia progressista freireana a teoria dialética do conhecimento, refletindo a prática e retornando a ela para transformá-la. Educador e educando aprendem juntos numa relação dinâmica na qual a prática, orientada pela teoria, reorienta esta teoria, num processo constante (PDPI, 2012). 5.3.1 Orientações metodológicas e curriculares do PDPI 5.3.1.1 Ensino Fundamental I – 1° ao 5° ano de escolaridade Curriculares - De acordo com a orientação da SEE/MG, a escola busca direcionar-se na ênfase aos Cadernos do 11 CEALE, no 12 Guia do alfabetizador e nas Matrizes Curriculares do CBC’S (PDPI, 2012). 11 O CEALE - Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita – è um órgão complementar da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, criado de 1990, com o objetivo de integrar grupos interinstitucionais voltados à alfabetização e do ensino de Português (disponível em: ww.ceale.fae.ufmg.br. Acessado em: 31/10/2013). 116 Metodológica - As metodologias previstas são: aulas expositivas, aulas práticas, trabalhos em grupo, aulas teóricas, diagnósticos, avaliações processuais e formativas. Ainda, ações como exposições, produções de textos, leituras e interpretações oral, com ênfase nas leituras e produções de textos variados, bem como, a aplicação do conteúdo aprendido nas atividades e na vivência do cotidiano do aluno. Dentro dos pressupostos metodológicos, os projetos realizados e propostos, de acordo com PDPI (2012), são: Trabalho sobre a identidade envolvendo todos os conteúdos; trabalho com brinquedos e brincadeiras no contexto escolar; biblioteca em sala para “a hora do baú de histórias”; projeto universo; projeto materiais recicláveis; projeto sistemas do corpo humano; projeto sólido-geométricos; projeto de leitura; projeto cidades históricas e pontos turísticos de belo horizonte; projeto jornalismo; projeto sacolinha de leitura; projeto datas comemorativas; livros de receitas; projeto a hora do conto; construção de maquetes; teatro com envolvimento de diálogo, criação e improviso dos próprios alunos (PDP, I2012, p.21). Esses projetos pretendem atender às necessidades pedagógicas do dia-a-dia, promovendo uma interdisciplinaridade com datas e comemorações no calendário da escola, que se fizerem necessárias. Nota-se no PDPI (2012) da instituição pesquisada, em linhas gerais, uma coerência com os pressupostos curriculares, pedagógicos e filosóficos da política educacional da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais. A postura ideológica buscada é uma educação de qualidade e que atenda às metas estabelecidas. Suas linhas de atuações ensejam os seguintes ideais: gestão democrática; dialogicidade; pedagogia progressista- orientada pelos pressupostos freireanos; formação de cidadãos críticos; envolvimento da comunidade. Do ponto de vista político-pedagógico, a formulação do PDPI está alinhada ao ideal de uma educação de qualidade, no entanto, sob a ótica da aprendizagem intelectual. Ou seja, mais próximas do que Veiga (2003) designa de caráter racional ou técnico, 12 O Guia do Alfabetizador é um instrumento para guiar o professor na condução de um trabalho organizado e voltado para atingir o melhor rendimento dos alunos (Disponível: crv.mg.gov.br. Acessado em 31/10/2013) 117 no qual as propostas assumem um sentido burocrático, de cumprimento das formalidades da política pública. Para ser uma educação eminentemente progressista, baseada nos pressupostos freireanos, seria necessário que este documento não apenas citasse, mas esclarecesse o “como fazer” uma educação crítica. A filosofia, objetivos e metodologia ensejada pelo PDPI não se materializam nos projetos apresentados; não condizem com uma educação crítica e que leve à autonomia, à efetiva participação cidadã, que só é possível quando se dá voz ao sujeito. A participação dos sujeitos é possível a partir de várias instâncias, dentre elas: Associação de Pais e Mestres e o Grêmio Estudantil, que em nenhum momento foram citadas no projeto e, segundo observação de campo, estas instâncias não existem. A gestão democrática é uma oportunidade para incentivar os alunos e as famílias a participarem da escola, não apenas em festas, mas discutindo, refletindo e buscando soluções para seus problemas. A ausência destas instituições reflete uma inobservância da LDB e do Estatuto da Criança e do Adolescente (além de outras legislações) que garantem e reforçam estas representações. Os alunos não podem constituir-se como meros consumidores e espectadores de um saber; precisam ter a oportunidade de ler criticamente o seu mundo, conhecer e reivindicar seus direitos, cumprir, conscientemente, os seus deveres e aprender a ser cidadão. As práticas previstas no PDPI ainda estão distantes da vivência de um processo dinâmico que expresse a própria realidade histórico-social dos sujeitos. Há toda uma busca pela educação de abrangência social, mas os projetos apresentados não propiciam consistência a este aprendizado. 5.3.1.1.2 Os projetos específicos de cada disciplina Segundo informações do PDPI os projetos que visam à interdisciplinaridade são: a) Português: leitura, escrita, jogos, produção de textos, interpretação de texto, gêneros textuais, simulado PROEB, vídeo, brincadeiras, histórias, teatro, texto, 118 literatura, jornais, músicas, internet, produzir livro de poemas, reconto de quadrinhos, linguagem não verbal, diálogo, portadores de textos: receita, palavra, sílaba, frase, ortografia, baú de letras, cantinho da leitura, cruzadinhas, portfólio, recortes (PDPI, 2012). b) Matemática: Projetos que envolvam jogos, brincadeiras, o lúdico, textos, ábacos, tabuada, raciocínio lógico, medidas, gráficos, porcentagens, lateralidade, direcionamento, quantidade, proporção, mosaico, varetas, calendário, ano, mês, dia, numerais, conceitos básicos, formas, diferenças, espaço, tamanho, cores (PDPI, 2012). c) História/Geografia: Promoção de leitura, feiras, maquetes, cartazes, teatro, música, pesquisa, internet, textos de conhecimentos gerais, mapas, excursões, “Faço parte de uma sociedade”, construindo a história; história dos esportes, regiões, origem do esporte, ética, sustentabilidade, empreendedorismo, datas comemorativas, assuntos do momento, hora cívica, fotos dos momentos na escola, identidade (PDPI, 2012). d) Ciências: O uso do laboratório, confecção de maquete, experimentos, filmes, slides, excursões, internet, trabalho com materiais recicláveis, pintores e suas obras, expressão oral, gênero textual: Jornal, poesia, linguagem oral, esquema corporal, sexualidade, saúde, meio ambiente, alimentação, corpo humano, higiene pessoal, sustentabilidade, empreendedorismo, higiene, plantas, animais, água, órgãos dos sentidos (PDPI, 2012). e) Arte: desenho, maquete, dança expressão corporal, movimento, ritmo, música, sabonetes decorativos, criatividade, imaginação, colorido, pintura, danças, recortes, habilidades motoras. Outros: ética, trabalho em equipe, socialização, vídeos (PDPI, 2012). A interdisciplinaridade é ensejada no PDPI, porém as propostas de trabalho apresentadas não esclarecem e nem orientam a esta prática, conforme conceituado por Japiassú; Marcondes (2001, p.106): 119 A prática interdisciplinar de produção de conhecimento possibilita uma evolução da aplicação de conceitos e métodos de diferentes áreas em um processo de fecundação recíproca de conhecimentos de maneira que as disciplinas interajam entre si. O PDPI enseja a interdisciplinaridade, mas esta não se materializa conforme seu sentido epistemológico, conceituado por Japiassú; Marcondes (2001). Esta, não está inserida nos objetivos específicos da escola; não tem sua efetividade favorecida nos projetos citados, excetuando na relação com as datas e comemorações do calendário da escola, como uma necessidade do dia-a-dia. 5.3.1.2 Orientações do PDPI -Ensino Fundamental II – 6° ao 9° ano 5.3.1.2.1 Curriculares Como objetivos primordiais, estão os de estabelecer os conhecimentos, as habilidades e as competências a serem adquiridas pelos alunos, bem como as metas a serem alcançadas pelo professor a cada ano a partir da definição dos Conteúdos Básicos comuns (CBC’S). No entanto, a escola afirma que os CBC’S’s não esgotam todos os conteúdos a serem abordados (PDPI, 2012). 5.3.1.2.2 Metodologias e projetos seguidos pelos professores da instituição pesquisada, de acordo com o PDPI (2012) a) Metodologia: Sondagem diagnóstica; Metodologias sequenciais; Análise pelo aluno, sob diversos ângulos, da matéria lecionada; Atividades pedagógicas diferentes que contemplem as diversas dificuldades; Aulas interativas, expositivas dialogadas e reflexivas; Debates; Produção individual, em grupo, oral e escrita; Pesquisas; Laboratórios (Ciências, Informática); Aulas em ambiente externo (PDPI da instituição pesquisada, 2012). b) Os projetos desenvolvidos ao longo do ano: Feiras de cultura; Exposição de trabalhos; 120 Oficinas; Gincanas; Excursões; Visitas técnicas orientadas; Eventos para o envolvimento da comunidade; Festa junina; Festa da família; Festa da consciência negra; Exposições e mostras Show de talentos. Os projetos têm como objetivo focar a interdisciplinaridade e melhorar o ensino aprendizagem dos alunos desempenho. Ainda segundo o PDPI (2012), as propostas sugeridas são resultados de estudos, reflexões e debates, pesquisas e diagnósticos para nortear as práticas pedagógicas e as políticas internas e externas na melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Também do 6º ao 9º do Ensino Fundamental, o PDPI não previu e nem relacionou projetos de educação ambiental. Estes foram citados nas entrevistas e percebidos na observação da aula de Ciências. Assim, as orientações da PNEA, conforme postula a Resolução 2 (BRASIL, 2012) , não estão presentes no PDPI da escola de maneira que este tenha uma abordagem curricular que enfatize a natureza como fonte de vida; que relacione a dimensão ambiental à justiça social, aos direitos humanos, à saúde, ao trabalho, ao consumo e a de todas as formas de discriminação e injustiça social. A escola desenvolve a educação ambiental dentro do que acredita ser o melhor, mas sem uma abordagem integrada e transversal, contínua e permanente em todas as disciplinas e entre elas. Ou seja, seria promover o que se denomina multidisciplinaridade e interdisciplinaridade, conforme colocadas acima. 121 c) Projetos da Secretaria Estadual desenvolvidos pela escola: PEAS13: Projeto de Educação Afetivo Sexual; PROERD14: Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência; APE15: Aprofundamentos de Estudos; PIP16: Plano de Intervenção Pedagógica; PROETI17–Implantação do Projeto Aluno de Tempo Integral, com o início em 2007. Nesta direção, torna-se necessário esclarecer sobre as dimensões políticas e pedagógicas deste instrumento que, segundo Quaresma (2011, p.35): “organiza o trabalho pedagógico da escola a partir de suas reais demandas, necessidades e desejos” não foram bem estabelecidas dentro do PDPI (2012). Então, pensá-lo enquanto um projeto tem ligação ao que se quer alcançar; aos desejos; às aspirações; ao que se tenciona ou se projeta a partir de suas necessidades físicas, ideológicas, culturais, científicas e filosóficas. Enquanto a dimensão política está ligada à ideologia e à filosofia, pois não pode ser isento de neutralidade. No que tange ao pedagógico, relaciona-se a todas as ações desenvolvidas na escola que envolve o processo de ensino-aprendizagem. Outra questão não esclarecida no PDPI (2012) é “Os CBC’s não esgotam todos os conteúdos a serem abordados na escola, mas expressam os aspectos fundamentais de cada disciplina” (PDPI, 2012, p.24). E também afirma: “O conteúdo básico será parte obrigatória do currículo de todas as escolas estaduais de Minas” (PDPI, 2012, 13 PEAS - O Programa Educacional de Atenção ao Jovem - PEAS Juventude, tem como objetivo complementar a formação escolar dos jovens através de ações de caráter lúdico-educativo. 14 PROERD – Programa Educacional de Resistência às Drogas e a Violência – programa da Polícia Militar em parceria com SEE/MG que tem como meta prevenir e combater a violência e o uso de drogas no Ensino Fundamental. 15 APE - O Aprofundamento de Estudos, iniciativa da Secretaria de Estado de Educação (SEE) auxilia estudantes do ensino médio a ingressarem no ensino superior (www.crv.educacao.mg.gov.br). 16 PIP -Plano de Intervenção Pedagógica tem por finalidade melhorar a eficiência do Ensino Fundamental por meio de intervenções pedagógicas que garantam a elevação dos índices de desempenho dos alunos (www.educacao.mg.gov.br). 17 PROETI - Ampliar as oportunidades educacionais dos alunos, visando à formação de novas habilidades e conhecimentos, pela expansão do período de permanência diária nas atividades promovidas pela escola (www.crv.educacao.mg.gov.br). 122 p.23). Então, o que extrapola ao CBC’S estará inserido em qual documento institucional? Como a equipe pedagógica e os docentes se orientarão para ofertar tais conteúdos? Este tipo de questionamento também se relaciona a outras informações que não são elucidadas no documento, que é a principal orientação política e pedagógica. Em se tratando de orientação, a educação ambiental segue os direcionamentos federais e estaduais que são derivados ou construídos tendo como base a Lei 9.795/1999. No entanto, os PCN’s foram criados anteriores a esta data (1997), mas em acordo com a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. E, no inciso X do artigo 2º, já estabelecia que a educação ambiental deveria ser ministrada em todos os níveis de ensino, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente (BRASIL, Lei nº 6.938/1981). A educação ambiental nos PCN’s tem um capítulo específico denominado: Temas Transversais. Logo, como tema transversal, deve estar presente em todas as disciplinas, perpassando seus conteúdos com uma abordagem ambiental integrada, tanto entre as disciplinas como entre a sociedade seus problemas específicos. Assim, diante desta perspectiva surgem as dificuldades de se trabalhar um tema transversal como é proposto nos PCN’s, pois a integração de todo o corpo docente ao trabalhar a temática ambiental ainda é mal entendida e pouco utilizada em projetos e no cotidiano escolar, conforme evidenciados nos dados analisados. Elaborou-se uma síntese dos principais documentos usados como referência das diretrizes para a educação ambiental nesta pesquisa, conforme representado no quadro 2: 123 Quadro 2 – Diretrizes de EA: Federais e Estaduais/MG EA na Lei 9795/99 Objetivos/princ. Desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações para fomentar novas práticas sociais e de produção e consumo. II - Garantir a democratização e o acesso às informações referentes à área socioambiental. III - Estimular a mobilização social e política e o fortalecimento da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental. IV - Incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania. V - Estimular a cooperação entre as diversas regiões do País,visando à construção de uma sociedade ambientalmente justa e sustentável. VI - Fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnologia, visando à sustentabilidade socioambiental. VII - Fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, como fundamentos para o futuro da humanidade. VIII - Promover o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz. IX - Promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais formativos do País que utilizam e preservam a biodiversidade. 18 Objetivos da EA nos PCN’s EA - diretrizes da SEE/SEMAD - Conhecer e compreender, de modo integrado e sistêmico, as noções básicas relacionadas ao meio ambiente. - Adotar posturas na escola, em casa e em sua comunidade que os levem a interações construtivas, justas e ambientalmente sustentáveis. -Observar e analisar fatos e situações do ponto de vista ambiental, de modo crítico, reconhecendo a necessidade e as oportunidades de atuar de modo reativo e propositivo para garantir um meio ambiente saudável e a boa qualidade de vida. -Perceber, em diversos fenômenos naturais, encadeamentos e relações de causa-efeito que condicionam a vida no espaço (geográfico) e no tempo (histórico), para posicionarse criticamente diante das condições ambientais de seu meio. - Compreender a necessidade e dominar alguns procedimentos de conservação e manejo dos recursos naturais com os quais interagem, aplicando-os no dia-a-dia. - Perceber, apreciar e valorizar a diversidade natural e sociocultural, adotando posturas de respeito aos diferentes aspectos e formas do patrimônio natural, étnico e cultural. - Identificar-se como parte integrante da natureza, percebendo os processos pessoais como elementos fundamentais para uma atuação criativa, responsável e respeitosa em relação ao meio ambiente. Sustentabilidade – enfoque holístico, por meio de uma prática democrática, participativa e inclusiva e pautada na sustentabilidade. Parceira e integração - a participação de diferentes atores sociais intervenientes no processo de gestão ambiental,por meio de uma visão transformadora de Educação Ambiental. Pluralidade e diversidade socioambiental-cultural – o respeito ao pluralismo de ideias e culturas, considerando diferentes modos de relações sociais e de relações com a natureza. Interdisciplinaridade –relação de reciprocidade, de mutualidade, em regime de co-propriedade que possibilita um diálogo mais fecundo entre os vários campos do saber. Caráter permanente e contínuo promover a garantia de continuidade e permanência do processo educativo, para que esse não se constitua somente ações comemorativas e/ou essencialmente pontuais. Planejamento participativo e gestão compartilhada – a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais. Fonte: Programa de EA do Estado de Minas Gerais, uma construção coletiva (2004) 18 Princípios e Objetivos da Educação Ambiental expressos no “Programa de Educação Ambiental de Minas Gerais – Uma Construção Coletiva. Elaborado pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, Secretaria de Estado de Educação - SEE, Universidade Estadual de Minas Gerais - UEMG e Instituto Mineiro da Gestão das Águas – IGAM. 124 5.4 Base curricular nacional para Educação Ambiental Em conformidade com Lei 9795/1999, o Ministério da Educação publicou em 15/06/2012 a Resolução Nº 2, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Ambiental. Esta Resolução traz em sua formulação todos os objetivos, princípios e orientações da Lei 9795/1999 e a complementa com orientações curriculares para o desenvolvimento da educação ambiental; reafirma os pressupostos da PNEA e acrescenta aspectos relevantes para a condução das atividades de educação ambiental que, no âmbito do projeto Político Pedagógico, tem as seguintes determinações: Art. 1º:II - estimular a reflexão crítica e propositiva da inserção da Educação Ambiental na formulação, execução e avaliação dos projetos institucionais e pedagógicos das instituições de ensino, para que a concepção de Educação Ambiental como integrante do currículo supere a mera distribuição do tema pelos demais componentes; Art. 7º Em conformidade com a Lei nº 9.795, de 1999, reafirma-se que a Educação Ambiental é componente integrante, essencial e permanente da Educação Nacional,devendo estar presente, de forma articulada, nos níveis e modalidades da Educação Básica e da Educação Superior, para isso devendo as instituições de ensino promovê-la integradamente nos seus projetos institucionais e pedagógicos. Art. 13º [...}II - abordagem curricular integrada e transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento, componentes curriculares e atividades escolares e acadêmicas [...] (BRASIL, Resol. Nº 2, 2012). Esta Resolução vem esclarecer e consolidar a educação ambiental no fazer escolar que, no âmbito do projeto institucional, precisava ter uma melhor orientação. Na verdade, é mais que uma orientação é uma determinação, conforme colocado no art. 7º. E, no art. 13º, Inciso II esclarece a maneira como deve ser abordada: como uma prática educativa integrada e interdisciplinar, contínua e permanente em todas as fases, etapas, níveis e modalidades de ensino, não devendo ser implantada como disciplina ou componente curricular específico. As análises documentais empreendidas e os dados empíricos apontam para ações de educação ambiental que não contemplam a interdisciplinaridade e nem acontece de formar transversal. Geralmente, é entendida como área de atuação de Ciências, de Geografia, em datas específicas e, como forma de trabalhar com os recicláveis, em Artes. As atividades desenvolvidas distanciam-se das características críticastransformadoras destacadas por alguns pesquisadores e enunciadas pela legislação que a ampara. 125 5.5 As práticas de Educação Ambiental desenvolvidas pela escola Para compreender a realidade em sua complexidade, buscou-se um diálogo entre os dados apontados pelos sujeitos nas diferentes técnicas de pesquisa empírica (questionários, observação e entrevistas) utilizadas na investigação. A combinação de técnicas de coleta de dados de caráter qualitativo (observação e entrevistas) e qualiquantitativo (questionários) visaram assegurar um maior nível de credibilidade e validade dos resultados. A interpretação dos dados sustentou a identificação das unidades de análise. Foram elaboradas questões que refletissem a existência e a concepção de educação ambiental; a existência da interdisciplinaridade; as práticas educativas. É importante esclarecer que os sujeitos que participaram das entrevistas e dos questionários foram indicados como aqueles que, em algum momento, participaram ou estão participando de iniciativas em educação ambiental na instituição pesquisada. A identificação e agrupamento das categorias empíricas basearam-se nos conceitos centrais da investigação, orientando-se por uma perspectiva de interação e interpretação dos dados em sua complexidade, visando perceber as práticas de educação ambiental. 5.5.1 Análise das entrevistas e dos questionários Para a análise das repostas das entrevistas foram constituídos e denominado dois grupos: A e B, sendo o primeiro formado pela equipe pedagógica e o segundo pelos docentes. Um terceiro, denominado grupo C, para verificação das respostas dos questionários. Os sujeitos foram: 11 entrevistados - seis docentes, quatro especialistas e um gestor, 72 respondentes dos questionários (amostra de discentes do 6° e do 9° ano do Ensino Fundamental), conforme quadro 3. 126 5.5.1.1 Categorização das entrevistas e questionários Para a organização e apresentação dos dados utilizou-se como técnica a categorização segundo Oliveira; Carvalho (2002). O quadro abaixo apresenta a organização em categorias e unidades de análises das questões dos questionários e das entrevistas. Quadro 3 – Categorias e unidades de análises das entrevistas e questionários CATEGORIAS UNIDADES DE ANÁLISES DIRETOR/EEP/DOCENTES DISCENTE 1. Participações dos sujeitos no Projeto de EA na escola. 1 Existência de projeto de educação ambiental na escola 2 Participação dos sujeitos – docente, discente, pais e iniciativa externa. 13. Ações de educação ambiental feitas pela escola e a participação discente. 2. Orientação metodológica 3 O projeto é geral para a escola ou por modalidade de ensino. 4. Periodicidade 5. Diretrizes do CBC’S, MEC, outros. 14. Participação no “Projeto Manuelzão”. 3. Articulação com o PDPI 6. As práticas e a metodologia de desenvolvimento da educação ambiental nas disciplinas previstas no PDPI. 7. Articulação entre as práticas de educação ambiental e o PDPI da escola. 8. Os objetivos da escola com a práticas desenvolvidas emEA. 15. Participação em projetos de iniciativa privada ou ONG’s como: O Boticário, Unibanco, outros em parceria com a escola. 9. Interdisciplinaridade nas práticas de EA. 10 Os projetos desenvolvidos por cada docente ou e entre eles. 11 Conhecimentos sobre a Lei 9.795/99. 17. Disciplina (s) na qual teve alguma informação ou aula sobre educação ambiental. 4. Objetivos de EA 5 .Interdisciplinaridade 6 Conhecimento sobre a política de EA – Lei 9.795/1999 7 Capacitação Treinamento. 12 Capacitação oferecida pela SEE/MG em relação a educação ambiental. 16. Concepção sobre o que é educação ambiental. 18. Opinião sobre a educação ambiental oferecida. 19. Sugestão para melhoria do ensino de educação ambiental. Fonte: Dados extraídos (pela pesquisadora) dos questionários e entrevistas. Categoria 1 – Participações dos sujeitos no projeto de educação ambiental na escola. Nessa categoria foram reunidas as unidades de análises 1, 2 e 13: existência de projeto de educação ambiental, participação dos sujeitos e ações desenvolvidas. 127 Seguem os depoimentos de sujeitos entrevistados que testificam o tipo de educação ambiental desenvolvida e qual a parcela de participação: Grupo A “a escola em si, como um todo, não. Os professores desenvolvem os projetos deles, de acordo com o andamento das disciplinas ou com a demanda que ocorre no dia a dia” (Sujeito1) “Tem. Tem vários tipos de projetos, incluindo... é de educação ambiental que está perguntando? (Sujeito 2)”. Grupo B “Acontece o tempo todo nas salas de aula” (Sujeito 6) “Olha.. é.. a educação ambiental é ela vem no novo projeto político pedagógico da escola e... ela sempre teve uma participação assim é... não frequente ela sempre perpassou o ensino de ciências, quando eu lecionava. [...] Agora um projeto específico de educação ambiental hoje no.... eu não conheço”. (Sujeito 7). “Então, eu acho que trabalhar o meio ambiente com os meninos é fundamental e a gente trabalha dentro do contexto, dentro do livro. Este ano... eu trabalho muito com projeto, muito... eu já fiz um projeto que é “o lugar onde eu vivo”, não é! Foi um trabalho muito bonito, onde eu ganhei prêmios. Os meninos trabalharam o meio onde eles vivem, não só o meio que é o de relações interpessoais, mas o meio também que eles cuidam e é através disto que eu trabalho em sala” (Sujeito 8). Tem. Tem um projeto, o Projeto Horta, onde... com a finalidade de intervir na cultura alimentar e nutricional dos alunos. (Sujeito9). “-E aí os pais colaboram sim, sendo o que a gente precisa eles mandam.” (Sujeito 10) “Olha, eu trabalho meu projeto... Específico não. Eu tenho o meu projeto e este projeto fica focado na minha disciplina”. (Sujeito 11). As respostas tanto do grupo A quanto do B evidenciaram que não há um projeto institucional para educação ambiental, mas uma série de ações voltadas para o meio ambiente, principalmente em datas específicas ou cívicas. Isso não representa que não esteja acontecendo, mas responde ao problema e à hipótese inicial da pesquisa – práticas ainda descontextualizadas da política nacional de educação ambiental e, por conseguinte, inconsistentes para promoção da formação de cidadãos críticos, essencialmente, nas questões ambientais. Conforme tratado no capítulo referente à função social da escola, discutir a escola implica reconhecer que existe uma articulação entre as dimensões sociológica e pedagógica no interior de um mesmo projeto. E, quando se fala na existência de um projeto não implica necessariamente em pensar em arcabouço metodológico, mas em processos educativos que possam adentrar na sociedade inteira e permitir o “desabrochar das potencialidades humanas” (OLIVEIRA, 2009b, p.238). 128 É importante frisar que não se trata de dizer se a escola está certa ou errada por não ter um projeto institucional, pois a presença de um projeto não garante em si uma efetiva educação ambiental, mas a existência de um projeto sobre a temática na escola demonstraria que a questão ambiental foi assumida pela instituição como preconiza a Lei 9.795/99 em seu artigo 3º. A ausência de um projeto comum da escola indica que a educação ambiental dependerá do interesse e da importância que cada docente empregará ao tema, o que resulta em práticas individuais, desconectadas de um sentido coletivo e sem objetivos comuns. As respostas do grupo C (discentes), referente à participação em projetos de educação ambiental promovidos pela instituição demonstrou que, apesar destes serem os mais interessados pela temática, não há uma participação efetiva, conforme representado no gráfico1. Gráfico 1 – Participação discente nos projetos de educação ambiental da instituição Fonte- Elaborado pela pesquisadora. O grupo C, representados pelos discentes, foi formado um grupo de sujeitos das turmas do 9º ano do turno da manhã e por outros do 6º ano do período vespertino. É importante salientar que os participantes do questionário foram os que mais participavam das atividades de educação ambiental da instituição pesquisada. 129 Mesmo sendo considerados como sujeitos atuantes, o resultado apontou que 55,5% nunca participaram de qualquer projeto. Dentre os 45% que participaram, alguns declararam que os projetos nos quais participaram foram em campanhas sobre Dengue e no Projeto Afetivo Sexual – PEAS19, que aborda, dentre outros, temas ambientais. Neste sentido, pensando no papel dos sujeitos, os dados sobre a participação demonstraram que o protagonismo é dos docentes, conforme algumas afirmações, dentre elas as dos sujeitos 5 e 6: “Olha, ele é separado por área. Cada professor faz o seu projeto de educação ambiental” (Sujeito 5). “Este tema sustentabilidade é um tema que me agrada muito, é um tema que me chama muita atenção e que eu gosto muito. Eu sou uma professora que eu não gosto de ficar mexendo só com livros com essas coisas muito pobre. [...] Então a sustentabilidade é uma coisa que me dá suporte para trabalhar com tudo” (Sujeito 6). Os dados evidenciaram que, dentro do “projeto guarda-chuva” (que abriga todos os projetos da escola), estão abrigadas várias práticas relativas ao meio ambiente, tais como: O Projeto da Horta, cujo objetivo foi incentivar a alimentação saudável e o manejo da terra. A escola tem boas iniciativas, mas falta melhor articulação e gestão para que os projetos sejam mais consistentes e de maior abrangência. A exemplo disso, pode-se citar um projeto que teria condições de ser ampliado para todos os sujeitos do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental: “Oficinas de Educação Ambiental (produtos de limpeza ecológicos)”, criado por uma professora de Ciências, com formação na área ambiental. São feitas oficinas para o desenvolvimento de produtos de limpeza, tais como: amaciante de roupa, detergente multiuso, desodorizador de ambiente, sais de banho, desinfetante, amaciante de roupa ecologicamente corretos. 19 PEAS - O Programa Educacional de Atenção ao Jovem - PEAS Juventude, tem como objetivo complementar a formação escolar dos jovens através de ações de caráter lúdico-educativo que dinamizem a sua integração com o mundo, através da tomada de decisões assertivas que possam subsidiar a construção de seus projetos de vida, em harmonia com a sociedade onde estão inseridos (Disponível em WWW.educaçao.mg.gov.br). 130 No entanto, este projeto limitou-se apenas às turmas do 9º ano; contou apenas com a colaboração de alguns professores, mas sem promover a interdisciplinaridade. Neste sentido, as possibilidades de trabalhar os temas ambientais, associando às questões sociais, econômicas e culturais com o desenvolvimento das oficinas de produtos de limpeza ecológicos não foram, convenientemente, aproveitadas. Era uma oportunidade para reforçar a importância da temática como pilar fundamental ao desenvolvimento de uma educação ambiental na formação de cidadãos ambientalmente cultos, intervenientes e preocupados com a defesa e a melhoria da qualidade do ambiente natural e humano, conforme colocado nos objetivos do projeto. Segundo observações e depoimentos, houve pouca participação de outros sujeitos na execução deste projeto. Isso reforça a ideia de que poderia ter tido maior abrangência se fosse mais bem articulado. É importante salientar que, justamente em Ciências, houve unanimidade nas respostas das questões dois e três do questionário sobre em quais disciplinas teriam aprendido sobre a importância de cuidar do meio ambiente e em qual nunca teve informações, conforme gráfico 2: Gráfico 2 –Presença de educação ambiental nas disciplinas Fonte: Dados extraídos do questionário pela pesquisadora 131 No gráfico 2, usado para indicar em qual (is) disciplina (s) os sujeitos tinham recebido informações sobre educação ambiental, encontram-se os seguintes resultados: Ciências 100% ; Geografia 90%; Português – 22,2%; História 16,6%; Educação Física 11%; inglês 5,5% ; Matemática 4,2%; Ensino Religioso 33%; Artes 66%. Percebe-se que a abordagem ambiental na instituição pesquisada está circunscrita às disciplinas de Geografia, Ciências e Artes. As interlocuções com os outros conteúdos e a educação ambiental são mínimas. Um dado importante é que, segundo informações da instituição, nem todos os discentes participam dos projetos, somente aqueles que, “espontaneamente”, têm mais interesse. E foram estes os participantes dos questionários, por serem os que mais se envolviam nos projetos, especialmente, os ligados à temática ambiental. E, ao quantificar as respostas de uma questão aberta destes mesmos sujeitos, os dados mostraram que quase metade (47%) acha que a escola não faz nenhuma ação de educação ambiental, efetivamente. A maioria (53%) ficou entre a questão do lixo (30%), vegetação ou cuidado com a natureza (21%) e o restante (2%), o incentivo à economia de água. Parte das respostas vinha com ressalvas, conforme quadro 4 . Quadro 4– Respostas dos participantes sobre ações desenvolvidas Ações/percentual Exemplo de ações com ressalva Nenhuma – 47% “Molhar planta cortar grama e mais nada”. Questões do lixo – 30% “ Placas para separação do lixo”. Economia de água – 2 % “Ensina a economizar água”. Natureza/vegetação – 21% “O incentivo a não poluir a natureza” Outros “Maquetes com materiais não poluentes e recicláveis”. Dados extraídos dos questionários pelo pesquisador Presume-se, diante dos fatos, que estas respostas se aproximam da realidade vivenciada, pois emergiram daqueles sujeitos com maior vivência ambiental (dentro do que é ofertado pela instituição), uma vez que são os que mais participam. 132 No tocante à participação dos pais, esta é feita através de contribuições de materiais para todas as temáticas trabalhadas pela escola, mas apenas quando é solicitado ou em atividades de socialização da escola. Categoria 2 - Orientação metodológica de educação ambiental Nesta categoria foram reunidas as unidades de análise 3, 4, 5 e 14: O projeto é geral para a escola ou por modalidade de ensino; em datas específicas ou ao longo do ano; tem diretrizes do CBC’S, MEC ou outros e participação no “Projeto Manuelzão”. No trecho abaixo há a firmação de que a educação ambiental relaciona-se a determinados conteúdos, conforme sujeito 3: Sim, relacionado com os conteúdos de Ciências e Artes onde as professoras desenvolvem o trabalho e também relacionado às datas comemorativas. Onde desenvolvem o projeto de sustentabilidade (sujeito 3). Tanto neste depoimento, quanto em outros há a confirmação que a temática ambiental é abordada por cada professor e não como projeto para escola como um todo. Esta prática é mais comum nos anos finais do Ensino Fundamental, propiciada pela divisão do ensino por área de conhecimento. Cada disciplina trabalha dentro de suas perspectivas de conteúdo, conforme afirma o sujeito 5: “Tem. Olha, ele é separado por área. Cada professor faz o seu projeto de educação ambiental. [...] Há. Não é um projeto, mas um projeto guardachuva que abriga vários projetos, é muito interessante!” (sujeito 5). Quanto à orientação metodológica, a instituição pesquisada baseia-se nos pressupostos do CBC’S (2006), conforme a afirmação de um sujeito da equipe pedagógica: “é o CBC’S e a... dentro do que o CBC’S orienta” (sujeito 1). E a educação ambiental prevista no CBC’S (2006) ainda não tem sido suficiente por não se constituir uma prioridade no rol de seus objetivos; não se configura como uma perspectiva em torno de um projeto de educação que atenda aos anseios da sociedade, mas ao atendimento de metas. 133 Tanto no CBC’S (2006) quanto no PDPI (2012), percebe-se que os anseios são por uma educação crítica transformadora, capaz de formar cidadãos conscientes e compromissados, mas não há ênfase na educação ambiental como ferramenta, sendo que no PDPI nem é citada como objetivo principal. Assim, as propostas para a educação ambiental continuam atreladas aos conteúdos clássicos - Geografia e Ciências e fortemente marcada pelo conteudismo da década de 1970. A educação ambiental conservadora que, conjeturando os paradigmas da sociedade moderna, tende a privilegiar ou promover as seguintes premissas: o aspecto da formação intelectual do processo pedagógico, acreditando que transmitindo o conhecimento correto garantirá com que o indivíduo compreenda a problemática ambiental e que isso vá transformar suas atitudes e a sociedade; a racionalidade sobre a emoção; a teoria sobre à prática; o conhecimento desvinculado da realidade; a disciplinaridade frente à transversalidade; o individualismo diante da coletividade; o local descontextualizado do global; a dimensão tecnicista frente à política; entre outros. Faz-se necessário esclarecer que, apesar do CBC’S (2006) não fornecer orientações suficientes para promoção da educação ambiental consistente, há muitas informações disponíveis no Centro de Referência Virtual do Professor – CRV. Inclusive, informações sobre o projeto Manuelzão, que é uma parceria da Universidade Federal de Minas Gerais com o a Secretaria de Estado de Educação – SEE/MG, cuja finalidade principal é implementar a educação ambiental nas escolas públicas da bacia hidrográfica do Rio das Velhas, constituindo-se em um dos projetos de educação ambiental do Estado de Minas Gerais. As outras escolas que não fazem parte da área de abrangência da Bacia do Rio das Velhas têm a um material contendo orientações, projetos, oficinas e muita informação. Este material é distribuído gratuitamente às escolas, inclusive na instituição pesquisada. A pesquisa sobre o “Projeto Manuelzão” teve a seguinte resposta pelos discentes: 89% responderam que desconheciam; 11% conheciam, sendo que, parte destes, 134 responderam que conheciam por ter estudado em outra escola ou por outro meio que não fosse a instituição pesquisada, conforme dados do gráfico 3: Gráfico 3 - Participação discente no Projeto Manuelzão Fonte: dados extraídos dos questionários As respostas das entrevistas, quanto às capacitações, cursos ou treinamentos demonstraram que nunca receberam informações sobre o Projeto Manuelzão. Apenas um sujeito afirmou, espontaneamente, que recebeu ao confundir os materiais do Projeto Manuelzão, pensando ser material de treinamento na área ambiental, conforme resposta abaixo: Não, mas a gente recebe muito... Não sei está dentro disso aí que está falando, é o Manuelzão!! [...] então, a gente recebe muita revista do Manuelzão [...]- a escola recebe, e aqui na escola tem muito. Sabe o que eu faço? Por exemplo: eu vou trabalhar... é igual a gora que eu pedi para eles tirarem... eu acho importante os meninos saberem onde está a introdução, desenvolvimento e conclusão de um texto. E aí eu vou lá, pego as revistas, trago para a sala e pego um texto... E falo assim - agora nós vamos pegar cada parte, cada parágrafo... e aí a gente está falando sobre meio ambiente (Sujeito 8). Diante do exposto, subtende-se que o Projeto Manuelzão é pouco explorado. E esta exploração, conforme relato do sujeito 8, teve um enfoque mais da disciplina do que em educação ambiental. Isto representa que a instituição perde a oportunidade de utilizar um material de apoio que seria uma grande referência para experiências pedagógicas e de se adequar à política estadual de educação ambiental – Decreto 135 44.264, de 24 de março de 2006, tendo em vista ser este uma das iniciativas da educação ambiental estadual. Categoria 3 - Articulação entre o PDPI e a educação ambiental Aqui foram reunidas as unidades de análise 6, 7 e 14: As práticas e a metodologia de desenvolvimento da educação ambiental nas disciplinas previstas no PDPI; articulação entre as práticas de educação ambiental e o PDPI da escola e participação em projetos de iniciativa privada ou ONG’s como: O Boticário, Unibanco, outros em parceria com a escola. Nesta categoria, buscou-se perceber se a educação ambiental era orientada pelo documento oficial da escola. Em um exame minucioso, percebe-se que a temática meio ambiente é colocada de forma geral, conforme o próprio documento denomina de “Projeto Guarda-Chuva” (PDPI, 2012, p.40); aparece novamente dentro do Projeto Universo - Projeto Materiais Recicláveis (PDPI, 2012, p. 21), como parte das atividades anuais. Nos objetivos específicos de cada conteúdo consta o termo sustentabilidade apenas em Geografia/História e em Ciências. E, dentro do objetivo geral de todos os projetos desenvolvidos, a meta é atender às necessidades pedagógicas do dia-adia, nas datas e comemorações do calendário da escola, ou que se fizerem necessárias (PDPI, 2012, p.21). A orientação do trabalho para os anos finais são projetos a serem desenvolvidos ao longo do ano com o foco na interdisciplinaridade, no entanto, sem nenhuma menção à temática ambiental. Ainda, segundo informações PDPI (2012), o conteúdo das disciplinas seguirá orientações do CBC’S (2006). A educação ambiental nos anos finais, segundo o PDPI, foi abordada dentro de um subprojeto, parte do “Projeto Guarda-Chuva”, e assim descrita no PDPI: [...]a criação de um centro integrado de arte, cultura e ciências, o CIACC, com a criação da fanfarra e grupo de teatro e artes cênicas, com peças voltadas para temas da atualidade como a preservação do meio ambiente e a sustentabilidade [...], (PDPI, 2012, p.41). 136 Entende-se, pela análise dos dados acima, que a educação ambiental não está prevista nos conteúdos de cada disciplina e que sua inserção, assim como os demais conteúdos, seguirão direcionamentos do CBC’S (2006), ficando a educação ambiental atrelada ao projeto do Centro Integrado de Arte, Cultura e Ciências CIACC, a ser criado. Embora o PDPI para 2013 tenha sido criado em dezembro/ 2012 e com vigência de cinco anos, até a o período da coleta de dados – junho a agosto/2013, o CIACC não foi mencionado nas entrevistas, subtendendo-se que não foi implementado. De acordo com a PNEA (1999), a educação ambiental se concretiza por meio de um processo amplo que permeia todas as disciplinas, projetos e ações desenvolvidas pela escola. E mais, caracteriza-se como um tipo de educação balizada por um campo político de valores e práticas. Isto leva à mobilização de atores sociais comprometidos com a prática transformadora e emancipatória; leva à promoção da ética e da cidadania ambiental. O que ainda não foi alcançado pela instituição pesquisada. Perguntados sobre os projetos de iniciativas externas, as respostas dos sujeitos confirmaram que a instituição não tem como princípio a busca de parcerias na promoção da temática. No entanto, duas respostas confirmaram o envolvimento de atores externos no processo de educação ambiental: Sim, já desenvolveu da Cemig; que está fazendo um trabalho legal com a energia inteligente (Sujeito 4). A Cemig veio... é ... este ano foi a Cemig. Com aquele projeto... é da sustentabilidade, a energia inteligente. (Sujeito 6). O projeto da Companhia Elétrica de Minas Gerais – CEMIG e desenvolvido em escolas mineiras com vistas a promover um consumo consciente, incentivando os alunos desde as séries iniciais da Educação Básica, através de um concurso de redação, distribuição de folders e cartilhas. 137 Gráfico 4– Participação discente em projetos de iniciativa externa Fonte: Dados extraídos dos questionários A partir dos dados apresentados, verifica-se que a participação dos discentes em projetos de iniciativa privada ou ONG’s foi muito pequena, pois 93% nunca participaram, sendo que a maioria destes nunca ouviu falar. Dos 7% que participaram, uma parte afirmou que foi em outra instituição. Apesar de não fazer parte dos objetivos da instituição buscar parcerias para o desenvolvimento de educação ambiental, percebe-se um avanço no trabalho ao aceitar o envolvimento de parceiros externos, como foi o caso da Cemig. Categoria 4 - Objetivos da educação ambiental Nesta categoria foram reunidas as unidades de análise 8 e 15: os objetivos da escola com as práticas desenvolvidas em educação ambiental e a importância de se estudar a educação ambiental . Nos documentos analisados não há objetivos específicos para a educação ambiental. Tanto no CBC’S (2006) quanto no PDPI (2012), existem objetivos ligados a uma educação transformadora, crítica e necessária ao exercício da cidadania, mas não usando a educação ambiental como possível meio para isso. Já nos dados empíricos, nas respostas sobre as práticas de educação ambiental, percebem-se os seguintes objetivos: 138 Formar o aluno... Fazer com que o aluno adquira um, espera aí... adquira uma consciência , não é... daquilo que está sendo trabalhado, por em prática no seu dia a dia e saber utilizar aquilo de maneira que não prejudique o ambiente. (Sujeito 3) É a questão da cidadania, do cidadão... ele modificar o meio ambiente que ele vive para melhor. (Sujeito 7) Conscientização! (sujeito 6) Oh, a gente tem um... vários projetos e entra com o projeto de educação ambiental transversal, não é!!! A gente tem projetos que eu faço hoje, que eu faço um trabalho com as crianças, independente da data do meio ambiente, sobre -eu faço a diferença... Gentileza gera gentileza. Isso inclui a vida pessoal do aluno, vida pessoal do aluno com os outros segmentos da escola - com o professor, cantina, secretaria, seu próprio colega e a escola como um todo. ( Sujeito 8) Diante dos dados analisados, deduz-se que os objetivos perseguidos pelos sujeitos entrevistados, em algum momento, alinham-se às perspectivas da PNEA (1999) e dos principais teóricos de referência nesta pesquisa. Contudo, os trechos das entrevistas e a análise do PDPI (2012), demonstram que estes objetivos estão arraigados nas práticas e atividades regulares da escola e não nos objetivos de educação ambiental, definidos com base na Lei 9597/99 e nos PCN’s. Como principal mediador da educação, a escola precisa entender a educação ambiental como um meio eficaz para uma educação crítica, transformadora e principalmente, como uma importante ferramenta pedagógica na melhoria da aprendizagem. A educação ambiental surge como uma das possíveis estratégias para o enfrentamento de uma crise civilizatória de ordem cultural e social. Sua perspectiva crítica e emancipatória permitem a criação de processos nos quais a busca individual e coletiva por mudanças culturais e sociais estão dialeticamente indissociadas, servindo para realçar sua utilidade prática na formação da cidadania ambiental. Tais mudanças têm efetividade e eficácia concreta nas normas e princípios da sustentabilidade, evidenciados pela legislação e doutrina da defesa ambiental. Um sujeito, dentre os 72 questionários respondidos, resume e se aproxima da educação ambiental discutida nesta pesquisa: “É uma aula da vida que faz vermos a importância da natureza para o mundo” (Sujeito 45). 139 O sentido da fala deste sujeito, segundo opinião desta pesquisadora, deveria nortear as diretrizes da instituição pesquisada para elaboração de sua proposta de educação ambiental, pois educar para a vida, tendo em conta a importância da natureza, realmente é a base da educação ambiental. Categoria 5 - A Interdisciplinaridade Aqui foram reunidas as unidades de análises 9,10 e 16: as práticas que contemplam a interdisciplinaridade; os projetos são desenvolvidos por cada professor ou e entre eles; disciplina (s) na qual teve informações ou conteúdo sobre meio ambiente. No PDPI (2012) a interdisciplinaridade é prevista para os projetos em geral e nos projetos por disciplina: “Esses projetos pretendem atender às necessidades pedagógicas do dia-adia, promovendo uma interdisciplinaridade com datas e comemorações no calendário da escola, que se fizerem necessárias” (PDPI, 2012, p. 21). A interdisciplinaridade é pensada em nível de projeto e não como uma prática em geral. Na fala do próximo sujeito, percebe-se que há certa articulação entre os conteúdos: É... a gente, é o que eu falei a gente procura fazer trabalhos práticos para envolver, por que eles ficam muito mais envolvidos quando a coisa é prática. Então, a gente procura unir, assim... Português, História, Geografia e Matemática e Ciências. A gente expõe os trabalhos, não é... e procura agente tenta fazer uma interdisciplinaridade (Sujeito 10). A pesquisa revelou que a articulação entre os saberes ocorre mais naturalmente nos anos iniciais, pois a turma é gerida por um professor que, por trabalhar todos os conteúdos disciplinares, tem mais facilidade de planejar ações para promoção de interdisciplinaridade entre os conteúdos. Por exemplo: pode-se trabalhar educação ambiental em Português trabalhando com os gêneros textuais, oferecendo aos alunos artigos de jornais com matéria sobre qualidade da água. Ao trabalhar as questões próprias da disciplina, poderá suscitar discussões em torno das questões da temática ambiental associando às questões matemáticas, abordando o consumo; em seguida, orientar a medir, diariamente, o gasto com o intuito de diminuir o consumo no final do mês. 140 Para os anos finais é possível fazer a articulações com o professor de Matemática e extrapolar para as demais áreas de conhecimentos com inúmeras possibilidades. A interdisciplinaridade é um método de pesquisa e de ensino que permite fazer com que duas ou mais disciplinas se interajam. Esta interação poderá ser uma simples comunicação de ideias até a integração mútua dos conceitos, da metodologia, dos procedimentos, dos dados e da organização de uma pesquisa ou projeto. Ela torna possível a complementaridade dos métodos, dos conceitos, das estruturas sobre as quais se fundam as diversas práticas científicas e, neste caso, pedagógicas (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001). A interdisciplinaridade está prevista no artigo 10º da PNEA, no sentido em que o mesmo orienta à educação ambiental desenvolvida como “uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal” (Brasil, Lei 9795/1999). Conforme depoimento, a interdisciplinaridade não é tão experienciada do 6° ao 9° ano, mas sim a multidisciplinaridade: “Com a professora de matemática, devido ao processo de quantificação do material, levantamento dados e hipótese; com a professora de Português, principalmente a (?), ela me ajuda na escrita do projeto quando eu preciso; na construção do receituário, na escrita daquilo que eu preciso; forma de escrita daquilo de forma simples, mais popular mesmo para o aluno poder entender. Nós conseguimos uma abertura neste sentido” (Sujeito 11). Este depoimento descreve um quadro de multidisciplinaridade, ou seja, quando cada disciplina discute o tema, mas sem estabelecerem relações entre si. Gonçalves (1999) defende que, quando se fala em ação pedagógica integrada, refere-se a um processo em que os docentes procuram, conjuntamente, coordenar e justificar ações pedagógicas a partir da troca de conhecimentos e enfoques inerentes a cada disciplina, partilhando e planejando experiências. Nesse contexto, uma atuação educativa de caráter interdisciplinar se estabelece no esforço conjunto de professores no sentido de estabelecer diálogo na busca de um eixo de articulação entre suas disciplinas, de maneira a possibilitar aos alunos 141 experiências em que eles possam associar os diferentes enfoques disciplinares, contribuindo para sua apreensão da realidade concreta, conforme afirma Gonçalves (1999). Outra perspectiva da interdisciplinaridade é quando esta possibilita o estabelecimento de inúmeras relações das disciplinas com a realidade, num processo recíproco de aprendizagens múltiplas e intermináveis. Assim, professor e aluno deverão estabelecer diferentes interconexões entre a teoria dos conhecimentos e o mundo que os cercam, balizando cotidianamente seus saberes e as relações entre teoria e prática (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2001). Categoria 6 - Conhecimento sobre a Política de Educação Ambiental – Lei 9.795/1999 As unidades de análise aqui reunidas foram a 11 e 17: Conhecimento da Lei 9.795/99 e Opinião sobre a educação ambiental oferecida. Na indagação aos sujeitos dos grupos A e B, apenas um conhecia a Política Nacional de Educação Ambiental, conforme respostas abaixo: Sinceramente, não! Ela trata da educação ambiental? (Sujeito 3) Às vezes a gente não sabe o número, não é! Mas o que se trata a gente pode saber, qual é?! (Sujeito 1) Sim, sou bacharel em Educação Ambiental, tem que conhecer a Lei. (Sujeito 11). Eu sei porque você me disse. Porque antes do conhecimento da sua pesquisa, eu sinceramente, não sabia desta Lei do estado. (Sujeito 7). O sujeito que tem desenvolvido a educação ambiental mais próxima do que a temática requer, é o que tem conhecimento sobre as diretrizes da PNEA. Inclusive, parte do que hoje é desenvolvido na instituição é contribuição do mesmo. O conhecimento adquirido é devido ao fato de ter buscado formação nesta área e por acreditar na educação ambiental como tema intrínseco ao fazer pedagógico. 142 As respostas da questão 9 do questionário que perguntava se o ensino de educação ambiental da Instituição era eficiente ou adequado, foram assim evidenciados nos dados do gráfico 5: Gráfico 5 – Eficiência da Educação Ambiental SIM 18% NÃO 82% Fonte: Dados extraídos do questionário Apenas 18% dos discentes acham adequada a educação ambiental desenvolvida. Deduz-se por esta resposta que a maioria dos alunos tem uma expectativa mais abrangente em relação à oferecida pela escola. Isso esclarece a importância de se conhecer as premissas da PNEA e também responde a algumas questões desta pesquisa, que são: a não correspondência das práticas educativas com os princípios da Lei 9.795/99 pode ser um dos fatores da não efetividade da educação ambiental para a formação cidadã, bem como para o desenvolvimento local; e a falta de formação em educação ambiental dos profissionais envolvidos tem interferido nos resultados dos projetos. Outra questão evidenciada pela coleta de dados é que as iniciativas de educação ambiental da instituição são boas e poderiam resultar em desenvolvimento local e social, permitindo à educação e à escola o cumprimento de sua função social se fossem melhor articuladas e se readequassem as premissas da Lei 9795/1999. Categoria 7 – Capacitação e treinamento As unidades de análise reunidas aqui foram 12 e 18: Capacitação da SEE/MG em relação à educação ambiental e sugestão para melhoria do seu ensino. 143 A Lei 9.795/1999 prevê a formação tanto dos futuros profissionais, quanto dos em serviço, conforme o art. 11°: Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Parágrafo único: Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental (BRASIL, Lei 9795/1999). Conforme colocado, a PNEA (1999) tem como um dos seus pressupostos a capacitação dos profissionais em serviço e para os em formação na área docente. Diante do quadro revelado pela pesquisa, os profissionais não receberam formação nem durante seu percurso acadêmico e nem em sua atuação como profissional da educação. Isso pode ser ratificado pelos trechos que revelam as respostas sobre a promoção de curso de capacitação pelo órgão gestor da educação em Minas Gerais: Não a gente não recebeu nada, nem instrução nem eu sabia desta lei que você falou. Eu já ouvi falar e a gente aqui na escola de acordo com as horas cívicas aqui na escola agente procura desenvolver o tema, mas falar e ouvir agora ouvido você falar desta lei, mas agora está tudo muito aberto na mídia falando a gente procura desenvolver um trabalho com os professores. (Sujeito 3). Nunca recebi isso não! (Sujeito 10) Olha, que eu me lembre aqui agora, não. A gente participa de muitas capacitações não é, mas educação ambiental que eu me lembre não. (Sujeito 1) Está tendo muito curso, os professores estão fazendo muito curso, nós até estamos fazendo uma planilha agora... os professores que estão fazendo este curso serão os multiplicadores no módulo para a gente ficar sabendo o que está acontecendo, não é. Então eu, como professora, eu não tenho acesso a esta informação. (Sujeito 6). A Secretaria de Estado de Educação tem provido muitos cursos e capacitações. Faz parte da política de educação a melhoria do ensino-aprendizagem. Para tal, tem havido um grande investimento em cursos de capacitação e contratação de profissionais, tanto em recrutamento amplo, quanto com abertura de concurso público. Além de pessoal e cursos, a SEE/MG também oferece um rico material aos docentes com vistas ao apoio pedagógico. As escolas são visitadas semanalmente com orientações à equipe pedagógica, à direção e aos docentes; são feitos acompanhamentos regulares às salas de aulas para, juntamente com os professores, diagnosticar, acompanhar e melhorar o desempenho dos alunos. 144 No entanto, quanto ao readequamento do ensino para atender às premissas da PNEA (1999) na promoção de uma educação ambiental holística, crítica, transformadora e interdisciplinar, os investimentos têm sido irrisório, ficando circunscritos a alguns itens inseridos nos Conteúdos Básicos Comuns – CBC’S de algumas disciplinas. Ou seja, as perspectivas para um enfoque humanista, crítico e emancipador da educação não tem tanta prioridade quanto à eficiência intelectual. Nas entrevistas e nas respostas dos questionários, percebe-se uma contradição na percepção dos sujeitos sobre as atividades em prol do meio ambiente. Enquanto a equipe pedagógica e os docentes acreditam que as atividades desenvolvidas são emancipadora e hábeis para desenvolver um cidadão crítico, na opinião da maioria dos discentes a instituição não propicia uma educação ambiental efetiva. Os maiores exemplos de ações citadas pelos alunos consideraram: a manutenção da flora da escola, que por sinal é exuberante, a questão do lixo e a economia de água como principais ações de educação ambiental. E, de acordo com a maioria (82%) das respostas do gráfico 5, a escola não propicia nenhuma ação efetiva, mas reconhecem que o cuidado e manutenção da vegetação têm sido adequados. Um segundo grupo (18%) discorreu sobre a ação ligada ao lixo, alguns até citaram o incentivo à reciclagem. Isto é resultado das várias ações que propiciaram esta percepção, no entanto, a escola não tem destinação para os resíduos sólidos, apesar de ter recipientes próprios. A atitude considerada a mais ecologicamente correta foi a doação de papeis e livros didáticos para uma associação de catadores, que mobilizou vários sujeitos: alunos, professores e servidores da cantina. A questão do lixo nesta pesquisa ilustra bem a situação da educação ambiental: cria-se uma atmosfera em torno de um assunto, mas acaba por não conseguir a efetividade das ações por falta de planejamento, sujeitos interessados e, principalmente por falta de conhecimentos para assegurar uma prática transformadora e que resulte em desenvolvimento local. Assim, as instituições desenvolvem ações pontuais que não trazem melhoria da qualidade de vida. Os ganhos ambientais para escola poderiam resultar em 145 benefícios para o meio ambiente da comunidade escolar e seu entorno, não se resumindo apenas em preservar seu patrimônio natural. Isso implica em não extrapolar para a comunidade ações tão importantes, cujos ganhos sociais são acanhados, quanto ao potencial existente. As consequências desse processo é o esvaziamento da produção de sentidos e o distanciando de sua perspectiva social que a educação e a educação ambiental podem oferecer. A escola, assim, perpetua um conjunto de valores ideológicos que são determinados e subordinados aos interesses dominantes. Neste sentido, os conteúdos se distanciam de uma formação que realmente desenvolva a disposição humanizadora dos sujeitos históricos de maneira a torná-los capazes de ampliar uma percepção adequada do seu entorno e nele agir para transformá-lo e, com isso, transformar-se. Nas diversas publicações na área da educação ambiental, percebe-se uma tendência em considerar somente resultados positivos, frutos de uma trajetória linear. Isso dificulta o fortalecimento da educação ambiental, que aparece como se fosse um campo fácil de ser estudado ou viabilizado, tendo em vista a valorização de atuações que valorizam apenas iniciativas de cunho ecológico. Proliferam-se ações pontuais de abraçar árvores ou oficinas de reciclagem de papel, sem disseminação de uma postura crítica dos padrões de consumo assumidos pela sociedade, ou pela relação domínio do ser humano sobre a natureza, com alto valor antropocêntrico. Diante das perspectivas enunciadas pelos pesquisadores, da PNEA (1999) e pelas diretrizes da Resolução 2 (2012), esta pesquisadora, em sua função de Analista de Educação Básica, vislumbra caminhos simples para a fazer da educação ambiental uma ferramenta de ensino aprendizagem e como perspectiva de uma educação crítica: é fazer com que os sujeitos responsáveis pelo ensino aprendizagem vejam na educação ambiental tal possiblidade. É preciso acreditar no seu potencial transformador. E enxergar as possibilidades de educação ambiental como ferramenta de ensino aprendizagem, exige que os profissionais da educação sejam sensibilizados sobre 146 as condições degradantes do meio ambiente, em seus aspectos físicos, social, cultural, econômico e que todos estes fatores estão interligados. O passo seguinte é possibilitar a reflexão sobre a importância do conteúdo de cada disciplina para educação ambiental, promovendo sua contextualização. Este é o segredo (na opinião desta pesquisadora). É o que se denomina de transdisciplinaridade. Este termo tem sido amplamente divulgado e sempre aparece nas legislações e nos textos dos principais pesquisadores. Estudantes plantam árvores no dia mundial do meio ambiente (5 de junho), como se o ambientalismo se resumisse em datas comemorativas e não configurasse como um projeto de vida, de lutas sociais para os cuidados ecológicos, necessários para a construção da sociedade. Sabe-se que o poder público tem sua parcela de responsabilidade na disseminação de uma educação ambiental efetivamente transformadora, no entanto, os educadores precisam acreditar em possibilidades de mudança, e, no âmbito de sua ação profissional, tentar abrir espaços para a emergência de uma nova racionalidade, que favoreça a reconstrução da sociedade e a reinvenção da cultura. Esse processo envolve a consolidação de uma ética de responsabilidade social, com base em ações que visem ao bem coletivo. É garantir a possibilidades de vida a todos, incluindo as gerações futuras, conforme colocado na PNEA (1999). Nesta direção, a capacitação requer um modelo diferente do que tem sido, nem teria esta terminologia. Dar-se-ia através de encontros para a troca de experiências entre profissionais; possiblidades observação de situações concretas de degradação e de preservação ambiental; conhecimentos de experiências positivas de superação. Tudo isso com momentos de reflexão e abertura para sugestões e críticas. Ao final, cada sujeito, ou grupos de sujeitos, teriam a chance de produzir propostas de educação ambiental para sua disciplina e em parcerias com outras áreas, promovendo a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. 147 5.5.2 Análise das observações: possíveis articulações das atividades com o desenvolvimento local e social: a função social da educação ambiental Buscou-se nessa análise, a partir das observações das atividades desenvolvidas pela escola, compreender a contribuição destas para a promoção da educação ambiental, para o processo de ensino-aprendizagem, para o desenvolvimento local, bem como de outros ganhos sociais. Nesse sentido, seguem as considerações. Observação da atuação dos sujeitos na sala de aula Na aula de Ciências foi abordada matéria referentes à Cinemática sem alusões ou interlocuções à educação ambiental. As percepções relativas à temática somente foram possíveis na aula seguinte deste mesmo docente – às 7h52min. Foram apresentados pelos alunos painéis em TNT, confeccionado com alguns materiais recicláveis, sobre os efeitos da poluição na atmosfera que abordaram temas como: chuva ácida; poluição dos veículos, dentre outros. A figura 2 se refere à apresentação de trabalho dos alunos, como maneira de externar o conhecimento adquirido sobre o conteúdo ministrado em relação aos danos à natureza (aula do dia 13/07/2013). TRABALHOS DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO AMBIENTAL Figura 2 – Foto de trabalho sobre Poluição atmosférica Fonte: Fotografia tirada pela autora pesquisadora 148 Dentro do que foi observado na instituição, as atividades desenvolvidas tinham como meta o desenvolvimento da cidadania, mas no âmbito da participação, sem o protagonismo dos sujeitos. Pode-se citar como exemplo um evento presenciado que acontece todos os anos: “A festa da Família”. A festa da família tem o intuito de promover integração entre a escola e os pais. Nesta ocasião, são apresentados alguns projetos desenvolvidos na instituição, dentre eles, o mais significativo do ponto de vista da educação ambiental para o desenvolvimento local, foi a exposição dos produtos de limpeza ecológico, produzidos na aula de Ciências, que é parte do projeto: Oficinas de Educação Ambiental (Produtos de Limpeza Ecológicos), figura 3. FIGURA 3 – Produtos de limpeza ecológicos Fonte: Foto tirada pela pesquisadora Oficina de produto de limpeza ecológico A contribuição dessa atividade para o processo de ensino-aprendizagem se dá no sentido de proporcionar aprendizagens sociais ligadas à preservação do meio ambiente ao incentivar o uso de produtos ecológicos; à convivência em grupos; dentre outros. 149 No entanto, sobressai a atividade ligada à formação intelectual, pois foram desenvolvidas atividade relacionadas ao conteúdo de Química – uso e manuseio de substâncias; Matemática e Física – nos cálculos de quantidades, densidade, volume, uso de fórmulas; Português – elaboração de rótulos, receitas e relatórios. Horta Outro projeto observado e citado nas entrevistas foi o projeto da Horta. Enquanto a oficina de produtos ecológicos é desenvolvida com sujeitos do 9º ano, o projeto da Horta é desenvolvido com os discentes do primeiro ano do Ensino Fundamental e tem como finalidade intervir na cultura alimentar e nutricional dos alunos. Este projeto não está relacionado e nem anexo ao PDPI, as informações sobre o mesmo foram obtidas através dos relatos de alguns dos sujeitos participantes das entrevistas. Figura 4 - Imagem da horta Fonte: foto tirada pela pesquisadora O projeto da horta deveria ser ampliado de maneira que atendesse a objetivos mais abrangentes e que fosse ao encontro das prerrogativas de uma educação ambiental comprometida com o social e com o desenvolvimento local. Neste sentido, poderia ter sido um projeto formal, com envolvimento de todos os sujeitos do processo ensino-aprendizagem no planejamento, desenvolvimento e execução, como projeto institucional, previsto no PDPI, e que envolvessem os pais e comunidade. 150 Nos dados obtidos pela observação das atividades durante a pesquisa e em visitas anteriores, como Analista Educação, foi possível perceber uma constante preocupação com a formação sócio-cultural e intelectual dos alunos. No tocante ao sócio-cultural, a instituição desenvolve algumas atividades que permitem o envolvimento dos sujeitos de dentro da comunidade escolar. Um bom exemplo é a Festa da Família que, apesar de ser comum nas instituições de ensino da rede estadual, conta com grande empenho de todos. Em relação à formação intelectual, a escola empreende grandes esforços nesta perspectiva e, em decorrência, tem alcançado bons resultados nas avaliações externas, demonstrado nos gráficos 6, 7, 8, e 9. Gráfico 6 –Resultado PROEB/2012 –Língua Portuguesa - 5º ano FONTE: CAED/UFJF 151 Gráfico 07 - Resultado PROEB/2012 – Matemática 5º ano FONTE: CAED/UFJF Gráfico 08 – Resultado PROEB/2012– Língua Portuguesa9º Ano FONTE: CAED/UFJF 152 Gráfico 09 – Resultado PROEB/2012 – Língua Matemática 9º ano FONTE: CAED/UFJF Os dados apresentados demonstram que os resultados da instituição pesquisada são superiores aos do Estado e da SRE Metropolitana b. Significa que a escola tem superado as metas estipuladas e que seus objetivos educacionais, propostos no PDPI (2012) para o desenvolvimento intelectual dos alunos, alinham-se aos do Estado e os esforços empreendidos têm sido alcançado. O PDPI (2012) da escola tem anexos alguns projetos que, de forma geral, estão ligados às seguintes disciplinas: Português, Artes e Educação Física. A questão que se coloca é o fato de que os projetos da Horta e dos Produtos de Limpeza Ecológicos não estão citados no PDPI, apenas a Festa da Família. Dado que o PDPI corresponde ao PPP, na sua concepção deveriam estar inseridas prerrogativas que delineiam intenções, convicções pedagógicas e de gestão. Este processo é marcado pela participação dos profissionais (professores, diretores, supervisores, auxiliares), alunos e demais segmentos da comunidade na definição 153 de estratégias e objetivos coerentes com o enfrentamento dos desafios e construção da escola, da sociedade desejada (QUARESMA, 2011). O PDPI (2012) da instituição não apresenta uma convicção pedagógica no que tange à educação ambiental. Esta se postula como apêndice dos projetos desenvolvidos. Há uma incoerência entre as estratégias direcionadas à temática, uma vez que os projetos mencionados acima (Horta e Produtos de Limpeza Ecológicos) foram amplamente citados nas entrevistas e até expostos na Festa da Família, no entanto, não constam no PDPI (2012). E, se este sistematiza intenções e convicções, presume-se que a educação ambiental não está bem sistematizada. Nesta direção, as conexões possíveis entre educação ambiental e o desenvolvimento local não se estabelecem. Na verdade, a instituição pesquisada desconhece as perspectivas que a educação, como um todo, pode usufruir ou contribuir para o desenvolvimento local e vice-versa. Isso se materializa nas colocações a seguir. Condições ambientais da escola A escola pesquisada ocupa um grande terreno, com edificações bem distribuídas. Possui várias áreas verdes com dezenas de árvores, plantas e jardins bem cuidados, que contribui para amenizar a poluição sonora e atmosférica causada pelo grande fluxo de veículos que a circunda. Nos dados empíricos e no PDPI (2012), não estavam previstos benefícios que visassem à expansão, manutenção e melhoria das condições ambientais da escola, que também não estipula metas ambientais no que se refere ao seu patrimônio natural. A educação ambiental desenvolvida na escola e os benefícios para o meio ambiente do bairro. A instituição pesquisada tem a particularidade de estar inserida em local de grande concentração de empresas públicas e privadas e algumas destas entidades ocupam grande extensões do seu entorno. Uma parte considerável da comunidade escolar 154 vem de outros bairros. Segundo professores e gestores, este fator dificulta o contato com a comunidade, pois em nenhum dos dados analisados, documental e empírico, foi encontrado informações sobre a interlocução entre a comunidade escolar e seu entorno. Esta é a principal alegação dos profissionais da escola por não conseguir estabelecer uma comunicação com a comunidade local e, por conseguinte, não promover desenvolvimento local para a escola, para o bairro e demais comunidade escolar. Isso ocorre pelo desconhecimento da reciprocidade entre os processos de educação ambiental e desenvolvimento local como oportunidades educacionais que estes podem promover. Os ganhos possíveis para o meio ambiente são de maneira indireta e eventual, como o resultado da campanha sobre o lixo em que houve o incentivo a não jogar lixo no chão, pois a reciclagem, conforme os dados dos questionários, não existe. Outro possível ganho é a melhoria da qualidade do ar, a melhoria da sensação térmica dentro a diminuição ruído da escola. Segundo relato, já houve um projeto de uma professora que incentivou a pesquisa sobre a árvore Gameleira, árvore que deu origem ao nome do bairro. Este projeto envolveu a comunidade e até gerou uma cartilha. Outra iniciativa foi a campanha contra a Dengue, em que foi feita uma passeata pelas ruas do bairro (no entorno da escola) para incentivar e conscientizar sobre os cuidados necessários ao combate à doença. No entanto, as experiências extraescolares são pontuais, sem continuidade e sem promoção de desenvolvimento local, conforme discutido nesta pesquisa e não geram ganhos ambientais que atinjam a comunidade. Para isso, é indispensável partilhar objetivos, experiências e responsabilidades, estabelecendo ligações que perdurem para além de atividades pontuais. Essa possibilidade é fomentada por um projeto consistente, cujo investimento propicia novas iniciativas pro - ambientais estabelecidas através de uma participação que favoreça a construção de uma comunidade viva, integradora, comunicativa e responsável, com capacidade de dar forma ao seu futuro promovendo o desenvolvimento local, como resposta da educação ambiental promovida. 155 Quanto aos ganhos sociais para a escola e comunidade Pensar em ganhos sociais é admitir a materialidade da função social da educação ambiental que engloba, entre outros aspectos, a mudança de pensamento e atitude frente às demandas ambientais, como por exemplo: pensar que o simples fato de tomar um banho demorado, sair da sala de aula sem apagar a luz e jogar lixo no chão comprometem a qualidade de vida dos seres humanos e da natureza. Assim, em relação aos projetos observados, os ganhos sociais ocorreram apenas durante as atividades, sem dar prosseguimento às atitudes desenvolvidas e as oportunidades de aprendizagens sociais. Estes poderiam ter maior alcance social se tivessem sido melhores articulados, como parte integrante dos objetivos de uma educação ambiental holística e interdisciplinar. Isto permitiria uma maior participação e envolvimento de docentes e discentes a partir de uma gestão articulada entre a direção e à equipe pedagógica, deixando de ser eventual. A educação ambiental assim como a educação, configura-se também como ato político voltado à transformação social; é conteúdo, ação e objetivo inserida na Lei 9.597/1999 como formação sociocultural e para cidadania. Nenhuma escola que objetiva a formação cidadã crítica pode se eximir dessa tarefa. 5.5.3 Contribuição para o ensino aprendizagem No projeto de materiais de limpeza ecológicos, além do manuseio e preparo de produtos de limpeza, a aprendizagem maior, segundo os objetivos do projeto foi: de promover a interação entre meio ambiente e preservação, produzindo “materiais de limpeza ecológicos” com o educando, de forma sustentável, contribuindo para a formação de uma sociedade consciente. No projeto da Horta, a perspectiva era de incentivar uma alimentação saudável, o trabalho pedagógico com textos sobre os produtos da horta, relacionando aos conteúdos de Geografia, Português e de formação geral ao incentivar os hábitos saudáveis. 156 Nos dados empíricos, ficaram evidenciados que há participação dos sujeitos em educação ambiental, mas de maneira individual conforme a colocação: “Olha, ele é separado por área. Cada professor faz o seu projeto de educação ambiental” (Sujeito 5). Na fala deste sujeito, verifica-se que não há planejamento de um projeto em comum, cuja abrangência levasse em conta as vozes dos diversos sujeitos envolvidos para, juntos, levantar as demandas da comunidade local e as possíveis soluções e que, principalmente, resultasse na melhoria da qualidade de vida. Conforme colocado anteriormente, o desenvolvimento na perspectiva local oferece maiores possibilidades de participação dos sujeitos e a oportunidade de decidir seu destino. No entanto, os projetos desenvolvidos ficam na abrangência da formação intelectual-científica e sócio-cultural, sem que promovam o desenvolvimento local. É como na palavra de um dos sujeitos entrevistados: “tudo é para o aluno”... “a gente visa somente o aluno” (Sujeito 5). Esta frase poderia ficar melhor se fosse “com” e não apenas “para”. A instituição deverá compreender que a realidade local exige a organização e parcerias com os diversos sujeitos sociais, que constroem a dinâmica local, para alinhar suas formas de educar. A educação ambiental e o desenvolvimento local têm como base o protagonismo de seus sujeitos, ou seja, na participação da comunidade, construindo junto o que almejam, mas sempre valorizando e utilizando os potenciais locais. Ou seja, colocar em prática a gestão social do processo de ensino aprendizagem. A instituição conta com boas iniciativas individuais de educação ambiental, porém necessita redimensionar sua gestão, com vistas a atender demandas locais; buscar soluções coletivas, dar voz a todos os sujeitos, chamar à participação os que não se envolvem e, principalmente, ampliando sua forma de fazer educação ambiental, repensando o seu fazer. 157 CONSIDERAÇÕES FINAIS Foi possível perceber os esforços das equipes pedagógicas das escolas estaduais para cumprir as metas determinadas pela Secretaria de Educação de Minas Gerais. Para o cumprimento destas metas, ligadas principalmente à melhoria do ensinoaprendizagem, eram feitas visitas regulares às escolas para, em conjunto, auxiliar os alunos nas dificuldades de aprendizagem. Este trabalho tem elevado as taxas de desempenho escolar e colocando Minas Gerais em posição confortável em relação aos outros estados Brasileiros. Se por um lado percebe-se o desenvolvimento da formação intelectual, por outro o desenvolvimento sócioeducacional não tem acompanhado o mesmo ritmo. A ênfase na formação intelectual tem deixado pouco espaço para a aprendizagem social, apesar de o Estado ter várias iniciativas para inclusão dos alunos socialmente vulneráveis, tais como: o PEAS, PROERD, dentre outros. Paralelos a estas iniciativas, os temas transversais, inseridos nos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s contêm orientações que enfatizam temáticas relacionadas a valores sociais. São direcionamentos de atividades a serem trabalhadas pelos professores em sala de aula e que também permeiam os livros didáticos. Os valores são direcionados à ética, orientação sexual, pluralidade, meio ambiente entre outros. A ideia é de que todos os professores apliquem estes conceitos durante as aulas, seja de História, Matemática ou Geografia, porém na prática, não acontece. O que foi observado é que os valores transmitidos são, muitas vezes, derivados de crenças pessoais, sem relação com um referencial central e, às vezes, apenas associados aos livros didáticos. E o que deveria ser “tema transversal” em todos os conteúdos, aparece de forma indireta e restrita a matérias tidas como “mães” da educação ambiental: Geografia, Ciências e às vezes Artes, quando se trata de reciclagem. Esta realidade despertou o interesse para investigar os caminhos percorridos pela escola no desenvolvimento da educação ambiental como tema central a ser 158 pesquisado. A partir de então, foi construído um objetivo geral que buscou pesquisar como as práticas de educação ambiental, desenvolvida por uma escola da rede estadual de Minas Gerais, se articulam com os princípios enunciados na Lei 9.795/99. O objetivo geral foi dividido em objetivos específicos para estabelecer relação com as particularidades relativas à temática e propiciar uma melhor compreensão do problema de pesquisa. O primeiro foi descrever a evolução dos conceitos de educação ambiental para entender suas conjecturas e suas abrangências. Foi possível apreender que o conceito, inicialmente relacionado às questões da natureza, na atualidade, abrange uma gama de conhecimentos porque seu objeto principal é o ser humano. Logo, todas as relações que envolvem o ser humano englobam o meio ambiente. Em seguida, foi elaborado o segundo objetivo: analisar a concepção de função social da educação ambiental enunciadas na Lei 9.795/1999 e sua articulação com o desenvolvimento local. Neste momento, conhecer o conceito de educação ambiental foi fundamental, pois ao entender que meio ambiente refere-se principalmente ao ser humano, torna-se natural entender sua conexão com as questões sociais, culturais, econômicas, dentre outras. Esta é uma questão muito presente nas entrelinhas da Lei 9.794/1999, pois leva ao entendimento que o meio ambiente é formado por um conjunto de sujeitos, seres e substâncias (orgânicas e inorgânicas), que estão no mundo e são interdependentes. O prejuízo para um refletirá no outro. O exemplo disto é a extinção de algumas espécies que tiveram seu habitat destruído e migraram para outros espaços causando desequilíbrio ambiental ou se extinguindo. Outros fatores também servem de exemplos, tais como: desperdício de alimentos e a fome no mundo; excesso de veículos e a poluição; a falta de água e o consumo exagerado. A perspectiva de formação social está expressa no conceito, princípios e objetivos da PNEA (1999) que incentiva uma compreensão integrada do meio ambiente, nos seus aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos. E ainda estimula o fortalecimento de uma criticidade frente à problemática ambiental e social, através do incentivo à participação 159 individual e coletiva. Corresponsabiliza toda a sociedade na preservação do equilíbrio do meio ambiente, atrelado ao exercício da cidadania. Estimula à cooperação entre as diversas regiões do País, fundamentando-se nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade. Dentro dos pressupostos da PNEA, o desenvolvimento local é alcançado, gerando benefícios para a educação e, consequentemente, para o ensino-aprendizagem. No entanto, as atividades de educação ambiental analisadas não oferecem perspectivas de desenvolvimento local porque não possibilita a participação dos sujeitos no planejamento; a execução resume-se em orientação dos docentes e na apresentação de trabalhos dos discentes. Segundo Battassini; Costa (2005), os processos de educação ambiental e desenvolvimento local são caminhos que se constroem durante a caminhada e permitem o desenvolvimento concomitante de todos os sujeitos envolvidos no percurso. A escola analisada não conseguiu promover a educação ambiental ensejada pela Lei 9.795/1999 e ainda não percebeu as inúmeras abrangências e oportunidades de desenvolvimento social, presentes nas orientações contidas na Lei. Na verdade, a escola desconhece a PNEA porque, na sua ação diária para atender às metas estabelecidas pela SEE/MG, não teve a oportunidade de acesso a uma formação continuada que permitisse extrapolar a formação intelectual, de maneira a contribuir na formação de cidadãos, efetivamente autônomos, capazes de intervir nesta realidade. No terceiro objetivo buscou-se investigar a orientação teórico-metodológica de educação ambiental prevista nas diretrizes institucionais da SEE/MG, que são os CBC’S (2006), e no Projeto Político Pedagógico (PPP) para esclarecer até que ponto estava coerente com a PNEA (1999). E ainda, como parte deste objetivo buscou-se esclarecer qual perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade da educação ambiental da escola. 160 O estado de Minas Gerais tem conseguido avanços na aprendizagem dos conteúdos, conforme os últimos resultados das avaliações externas do SIMAVE (2012). Por esta ótica, o CBC’S (2006) tem caminhado para alcançar seu propósito, que tem como prioridade o alcance das metas. Tanto no CBC’S (2006) quanto no PDPI (2012), percebem-se que os anseios são por uma educação crítica transformadora, capaz de formar cidadãos conscientes e compromissados, mas não há ênfase na educação ambiental como ferramenta, sendo que no PDPI nem é citada como um objetivo. As atividades para a Educação Ambiental continuam atreladas aos conteúdos clássicos - Geografia e Ciências e fortemente marcada pelo conteudismo, sem a perspectiva que Jacobi; Tristão; Franco (2009, p. 67) colocam: “propostas de uma educação, ambientalmente sustentáveis, centradas na criticidade e na emancipação dos sujeitos” que leve a interferir individual e coletivamente na dinâmica da sociedade. O Projeto Pedagógico, além de não fazer referências aos objetivos do ensino aprendizagem de cada disciplina, não menciona as finalidades da educação ambiental. Esta se postula ligada à sustentabilidade ou meio ambiente como projetos a serem desenvolvidos, relacionados à Ciências e Geografia. Apesar de citados, não constam nos anexos do PDPI. Quanto ao caráter da Multi, inter e transdisciplinaridade da educação ambiental, não há espaço para reflexão destas dimensões nos conteúdos apresentados. Há apenas a orientação para o uso da interdisciplinaridade, mas o como fazer, não existe. Nesta direção, pensar estas dimensões implica nas seguintes reflexões: primeiro na perspectiva Multi – no sentido de ser abordada por múltiplas disciplinas, mas de maneira isolada - não acontece, permanece confinada às disciplinas de Geografia, Ciência e as vezes em Arte. Em seguida, de maneira interdisciplinar – suscetível de fazer com que duas ou mais disciplinas interajam entre si, comunicando ideias, conceitos e metodologias - o que 161 a escola chama de interdisciplinaridade corresponde à multidisciplinaridade, em que cada um faz uma parte. O sentido transdisciplinar - a abrangência permeia todas as disciplinas e permite que estas alcancem, além do seu conteúdo, outra dimensão, neste caso a ambiental - ainda é uma utopia para a realidade da educação ambiental observada no contexto desta instituição. O quarto e último objetivo corresponde à análise das práticas pedagógicas de educação ambiental desenvolvidas na escola pesquisada, na perspectiva da Lei 9.795/99. As observações das atividades apontaram que há uma discordância entre o que foi planejado e o que é executado, pois os principais projetos citados nas entrevistas – Horta e Produtos de Limpeza Ecológicos - não constam no PDPI. Também a criação do Centro Integrado de Arte, Ciências e Cultura (CIACC) que, dentre outros assuntos, tinha intenção de trabalhar em 2013 as questões ambientais, não foi mencionado nem pelos gestores e nem por nenhum sujeito da pesquisa empírica. É importante refletir que não basta comemorar o dia mundial do meio ambiente, da consciência negra e tantos outros ligados a valores, cidadania ou confeccionar souvenires de materiais recicláveis. Faz-se necessário e urgente que os conteúdos de cada disciplina propiciem oportunidades de reflexão sobre as atividades e, principalmente, mudança de comportamento que resultem em ações concretas no dia a dia de cada indivíduo, refletindo no local imediato, na comunidade, no bairro e no modelo de sociedade. A educação ambiental terá efetividade a partir de atividades de caráter intencional, que levem à prática social e imprimam ao desenvolvimento individual um cunho social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos. Devem potencializar a atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental. Por isso tudo, não é uma atividade neutra, tem que ser intencional. Envolve valores, interesses e visões de mundo para superar uma ótica despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino. 162 Esta dissertação suscita algumas questões relacionadas ao problema de pesquisa no sentido de responder à questão central, cujas respostas fortaleceram as proposições iniciais. A primeira questão: “A não correspondência das práticas educativas com os princípios da Lei 9.795/99, pode ser um dos fatores da não efetividade da educação ambiental para a formação cidadã, bem como para o desenvolvimento local”. A análise dos documentos e a pesquisa empírica comprovaram que o desconhecimento da PNEA tem resultado na inconsistência e não efetividade da educação ambiental, refletindo nas práticas em geral da educação formal. Isso se dá porque as práticas são desenvolvidas como atividades temporárias; não envolvem o caráter holístico; não possibilita diálogos democráticos e nem se coloca como intermediadora de experiências dos diferentes sujeitos envolvidos, que são fatores preponderantes na formação cidadã e para a promoção do desenvolvimento local. A falta de base conceitual e metodológica tem interferido e comprometido a eficiência dos projetos que, conforme a observação e com base nos dados coletados, é consequência da falta de formação em educação ambiental dos profissionais envolvidos. Uma segunda questão refere-se a falta de formação dos profissionais, pois as orientações e capacitações promovidas pela SEE/MG, dentro processo de formação continuada, relacionam-se às avaliações externas e não contemplam os processos sociais que envolvem a educação ambiental. Este fato foi confirmado por uma situação recente observada na instituição pesquisada e que também foi a realidade da maioria das escolas. As escolas foram chamadas a participar da IV Conferência Infanto Juvenil de Meio Ambiente (CNIJMA), cujo tema foi: “Vamos cuidar do Brasil com escolas sustentáveis”. Este projeto foi de iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Educação e repassada a todas as secretarias de educação do Brasil. 163 Das 300 escolas de Ensino Fundamental (abrangendo as redes estadual, municipal e privada) de responsabilidade SRE Metropolitana B – 158 são da rede estadual. Foram apresentados 24 projetos para a conferência, dos quais apenas oito eram de escolas estaduais, ou seja, houve pouca adesão. Os referenciais estabelecidos para a IV CNIJMA/2013 comungam com a Resolução 02/2012, que estabelece diretrizes curriculares para educação ambiental, cuja fundamentação baseia-se nos pressupostos da PNEA - a Lei 9.795/1999. A iniciativa foi de grande importância para fomentar ações de educação ambiental, pois o principal pressuposto era o protagonismo infanto-juvenil, que envolvia alunos matriculados do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, mas permitia a participação de toda a escola. A falta de conhecimento, formação e o entendimento sobre a importância da educação ambiental como um componente essencial do processo político-pedagógico das escolas, foram ratificados pela inexpressiva participação das escolas na IV CNIJMA. O evento da IV CNIJMA também evidenciou que os profissionais responsáveis pelas orientações às escolas - os analistas do Projeto de Intervenção Pedagógicas (PIP) ficaram à margem do processo e só conheceram as prerrogativas da conferência por iniciativa desta pesquisadora que sugeriu à Diretoria da SRE – Metropolitana B que fossem dadas orientações para que os mesmos pudessem agir na mobilização das escolas, que foi prontamente viabilizado pela diretoria educacional. Outra questão refere-se à dificuldade do desenvolvimento da inter, multi e transdisciplinaridade na educação ambiental promovida na escola. Uma vez que a percepção geral de educação ambiental é de abrangência específica de alguns conteúdos, ficou explicito que somente a Multidisciplinaridade é percebida, mas em alguns momentos, como na execução de práticas eventuais como a Festa da Família. Esta mobilizou vários profissionais com divisão das tarefas como: exposição de produtos feitos com material reciclável; apresentação dos trabalhos de Ciências e Geografia ligados ao meio ambiente, como a oficina de produtos de limpeza; produto repelente de plantas naturais; cartazes; dentre outros. 164 E por fim, a cobrança dos resultados nas avaliações externas compromete o desenvolvimento de projetos de educação ambiental, uma vez que o trabalho pedagógico tem se orientado pelas avaliações e as mesmas não contemplam tais temáticas. Esta é mais que uma proposição que, na opinião desta pesquisadora, é uma afirmativa, pois uma das tarefas dos analistas da Educação é mobilizar as escolas para o cumprimento das metas nas avaliações externas. Esse trabalho é feito através de visitas regulares, confecção de formulários e instrumentos de diagnósticos para o acompanhamento do trabalho pedagógico. Ainda, há diversos cursos e capacitações promovidos pela Secretaria de Estado de Educação e, em alguns casos, repassados pelos Analistas aos profissionais da escola. Existe uma parceria entre a SRE e as escolas na busca por melhoria do ensino-aprendizagem, mas o foco é o cumprimento das metas estabelecidas. Isto compromete o trabalho pedagógico, porque absorve grande esforço e tempo das escolas e tem comprometido o desenvolvimento de atividades que propiciem uma formação crítica e cidadã que levem à participação na transformação social. Assim, ficou evidenciado que a educação ambiental não faz parte do cotidiano das escolas nem de alguns órgãos gestores como conhecimento inerente ao fazer diário, mas como algo eventual, anexo e como um apêndice do processo de ensinoaprendizagem. Para alterar esta realidade, uma das propostas seria ampliar o programa de melhoria de aprendizagem: Programa de Intervenção Pedagógica - PIP a partir dos pressupostos da PNEA. Esta é uma questão que demanda novas pesquisas. Far-se-ia necessário readequar o CBC’S (2006) de maneira que a educação ambiental fizesse parte dos objetivos de todos os conteúdos com sugestões de contextualização. Por fim, a alteração dos projetos pedagógicos de todas as escolas, incluindo as diretrizes da educação ambiental em todas as disciplinas. Nesta direção, a educação não pode ser conivente para a produção de um mundo que nenhum ser humano deseja, mas de certa forma, perpetua. É um mundo em 165 que as pessoas parecem anestesiadas frente ao grande desafio da sustentabilidade, segundo coloca Dias (2010): A perda do equilíbrio ambiental, acompanhada da erosão cultural, injustiça social e econômica e violência, como corolário da sua falta de percepção, do seu empobrecimento ético e espiritual, também fruto de um tipo de Educação que “treina” as pessoas, para serem consumidores úteis, egocêntricos e, ignorar as consequências ecológicas dos seus atos (DIAS, 2010, orelha do livro). A educação precisa buscar uma formação que extrapole a formação intelectual, de maneira que propicie a formação de cidadãos, efetivamente autônomos, capazes de intervir no local, na comunidade, na sociedade e no mundo. Nas palavras do mestre Freire (1996) é possível expressar a conclusão desta dissertação que buscou nas premissas da Política Nacional da Educação Ambiental a base para uma educação transformadora, de maneira que passemos de meros expectadores a sujeitos da história: Nas condições de verdadeira aprendizagem os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinando, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. Só assim podemos falar realmente de saber ensinando, em que o objeto ensinado é apreendido na sua razão de ser e, portanto, aprendido pelos educandos. [...]Minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da história (FREIRE, 1996, p. 23). 166 REFERÊNCIAS ALBUQUERQUE, Francisco; ZAPATA, Tania. Alternativas sustentáveis de desenvolvimento local. In DOWBOR, Ladislau; POCHMANN, Marcio Orgs. 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BELO HORIZONTE 2013 173 Figura 2 - Fonte: Imagem Google Rever o passado, cuidar do presente para garantir que haja um futuro, mas um futuro com qualidade (pesquisadora). 174 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 04 2 OBJETIVOS 06 3 METODOLOGIA 06 4 DESENVOLVIMENTO 07 a) 1º MÓDULO 07 b) 2º MÓDULO 08 c) 3º MÓDULO 11 d) 4º MÓDULO 12 LEVANTAMENTO DIAGNÓSTICO 13 CONCLUSÃO 16 REFERÊNCIAS 18 175 A arte, a sociedade, a cultura, a economia e a educação refletidos imagem. na mesma Figura 3 - Fonte: Google imagens Apresentação: A elaboração de um programa para formação em Educação Ambiental é uma contribuição técnica como parte do trabalho de conclusão de curso do Mestrado Profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA. E uma exigência legal, tendo em vista o caráter profissional do mestrado. Ela tem por referência pesquisa realizada no Mestrado Profissional, iniciado em 2012, com a defesa agendada para fevereiro/2014,, cujo objetivo foi analisar as práticas de educação ambiental da escola em detrimento as diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental, Lei 9795/1999 (BRASIL, 1999). A escola precisa perceber na educação ambiental uma formação que extrapole a formação intelectual de maneira que propicie a formação de cidadãos, efetivamente, autônomos capazes de intervir no meio ambiente e na melhoria da qualidade de vida. Para tal, este programa de formação tem como premissa engendrar conhecimentos que permitam aos profissionais da educação: repensar sua prática; potencializar os conhecimentos e reformular o processo de ensino-aprendizagem 176 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO ORIGINADA DA DISSERTAÇÃO: EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA NA PERSPEPCTIVA DA LEI 9795/1999. 1 INTRODUÇÃO A educação ambiental é parte de um amplo debate que tem ocorrido em todas as esferas das instituições privadas e públicas. Acredita-se que, se nada for feito, possivelmente haverá o esgotamento dos recursos que a Terra pode produzir, resultando na perspectiva de extinção da própria vida humana no planeta. Na atualidade, tem-se aprofundado a reflexão em torno desta temática ao considerar sua íntima relação com os problemas sociais, econômicos e até culturais. Discute-se sobre de atuações de cada sujeito de maneira que possa haver uma rápida intervenção neste processo de degradação que, na opinião de muitos autores, se relaciona à degradação ética e moral dos homens, porque questiona os avanços econômicos e o retrocesso das questões sociais. A educação ambiental preconiza uma nova ética para promover a erradicação da pobreza, do analfabetismo, da fome, da poluição, da exploração e de todas as formas de dominação humana (DIAS, 2010). As mudanças preteridas, a partir de incorporação de novos valores, hábitos e atitudes, requerem o protagonismo da escola. Neste sentido, far-se-ia necessário incorporar uma aprendizagem sob uma ótica social, ambientalmente orientada, como parte de um esforço para o alcance de tais proposições, a partir de um processo que reconhece o meio ambiente como um bem público e o entendimento que o acesso a um ambiente saudável e à qualidade de vida se constitui como um direito, mas também um dever de todos os cidadãos. O aprendizado de atitudes e valores não depende exclusivamente do acesso à informação de cunho puramente científico. Por exemplo, para aprender a ser solidário, escutar e respeitar o outro, não promover desperdício e preservar a natureza é preciso vivenciar situações exemplares em que essas ações fazem 177 sentido e são valorizadas. Nesse caso, o contexto em que se vive ensina muito mais do que o conhecimento que se procura transmitir em palavras. E é papel do professor potencializar este aprendizado de maneira não tradicional e sim de forma crítica, conforme coloca Jacobi (2005): A inserção da educação ambiental numa perspectiva crítica ocorre na medida em que o professor assume uma postura reflexiva. Isto potencializa entender a educação ambiental como uma prática político-pedagógica, representando a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação da responsabilidade socioambiental (JACOBI, 2005, p.245). A atuação do discente, como parte importante e imprescindível neste processo, requer uma articulação entre saberes tradicionais com um aprendizado socioambiental. Estas reflexões fazem parte da pesquisa de mestrado intitulada: A educação ambiental como função social da escola na perspectiva da Lei 9795/1999, do Centro Universitário UNA Instituto de Educação Continuada, Pesquisa e Extensão Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local. Esta pesquisa apontou que a educação ambiental ocorre, mas com caráter conteudista e descontextualizada da realidade socioambiental; está presente em disciplinas tidas como “próprias” para a temática ambiental – Geografia, Ciências e em Arte (quando o assunto é reciclagem). A partir dos resultados, foi possível perceber que a realidade presente na instituição pesquisada representa a dificuldade de outras escolas: a falta de conhecimento e de formação compromete os resultados da educação ambiental holística, interdisciplinar, transdisciplinar e com a perspectiva de formação social que permita os sujeitos intervir na realidade que o cerca. Com base nestas premissas, encontram-se a seguir os objetivos deste programa, que foi contextualizado e desenvolvido para a rede Municipal de Ouro Branco/MG. 178 2 OBJETIVOS Diagnosticar as percepções da escola sobre a temática ambiental; Sensibilizar os profissionais da educação sobre a importância de se promover à Política Nacional de Educação Ambiental – Lei 9795/1999, que se relaciona à perspectiva holística, interdisciplinar, multidisciplinar e transdisciplinar; Promover o entendimento das questões sociais, econômicas e culturais associada aos problemas ambientais; Instrumentalizar os professores para o desenvolvimento de uma educação ambiental que possibilite ao indivíduo e à coletividade a construção de valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a melhoria da qualidade de vida e conservação do meio ambiente; Propiciar a cada profissional a possibilidade de desenvolver estratégias ou práticas de acordo com a realidade de cada escola. Reforçar a importância da educação ambiental como forma de reverter o quadro atual de degradação ambiental para manutenção da vida e preservação dos recursos naturais. Relacionar a educação ambiental ao processo de ensino-aprendizagem como uma ferramenta de ensino. Ampliar para a comunidade os conhecimentos adquiridos. 3 METODOLOGIA Para consecução dos objetivos propostos sugere-se a seguinte estrutura de atuação: Diagnóstico sobre a percepção docente sobre as questões ambientais. O Programa formação de educadores ambientais da Rede Municipal da Prefeitura de Ouro Branco/ MG. O programa terá a seguinte estrutura: a) Momentos de reflexão e discussão da temática - a serem desenvolvidos em vários encontros; 179 b) Cada encontro terá duração de 4 horas; c) Serão promovidas atividades teóricas e práticas que atendam aos objetivos propostos; d) Elaboração de projetos coletivos de acordo com as demandas levantadas. e) Incentivo à implementação de projetos através de campanhas com premiação aos envolvidos. 4 DESENVOLVIMENTO 1ª fase – Levantamento diagnóstico sobre a percepção de educação ambiental dos profissionais da educação e a tabulação dos dados levantados. 2º fase – Elaboração do cronograma do curso; organização das turmas; definição de locais para aplicação do curso; Organização e impressão do material necessário. 3ª Fase – Aplicação do curso em quatro encontro, definidos como módulos. 4º Fase – Avaliação do curso através da análise dos projetos recebidos. 1º MÓDULO: Reconhecimento das condições ambientais do município – urbana e rural; formulação do conceito de educação ambiental para realidade estudada. Atividade 1- Visita técnica- Visita a um determinado espaço (aterro sanitário, centro de reciclagem, outros) do município para observação. Atividade 2 – De volta ao local do curso, passar o filme “A história das coisas”. Problematizar o que foi visto na visita técnica e o conteúdo do filme com as seguintes questões: O que é meio ambiente? Em seguida apresentar os principais conceitos de educação ambiental inseridos pela Política Nacional de Educação Ambiental - Lei 9795/1999; Resolução 2 de 15/06/2012; principais pesquisadores da temática. Para refletir: 180 Figura 4 - Fonte: Google imagens A partir da imagens refletir e discutir: Você já vivenciou esta situação demonstrada pela imagem? De que maneira contribuímos para esta situação? O que faremos para melhorar mudar esta realidade?. 2º MÓDULO Atividade 1: Análise das imagens O lixo mata ou alimenta? Figura 5 - Fonte: Google imagens Figura 6 - Fonte: Google imagens Lixo eletrônico 181 Figura 7 – Fonte: Google imagens Falta de água Figura 8 - Fonte: Google imagens Desperdício Figura 9 - Fonte: Google imagens - Transporte; individual Fonte: Google imagens Figura 10 Cidadania Respeito 182 Figura: 11 - Fonte: Google imagens Figura 12 - Fonte: Google imagens Sociedade de consumo Figura 13 - Fonte: Google imagens Atividade 2 -Indicar qual (is) destas imagens se relacionam com educação ambiental. - Apresentação do histórico da educação ambiental. Atividade 3 - Apresentação de filme sobre Asmare ou outra associação. Atividade 4 - Amparo legal da educação ambiental – distribuir previamente tiras de papel reciclável com as principais leis que amparam a educação ambiental; solicitar aos participantes que leiam e colem no mural. Discorrer sobre princípios e objetivos de educação ambiental; como deve se postular no currículo municipal, no Projeto Político Pedagógico e em cada disciplina; sugestões sobre a participação dos alunos, pais ou responsáveis e demais funcionários da escola. Atividade 4 – o que é e qual a importância da Agenda 21. 183 Atividade para casa: solicitar aos participantes que façam inventário das condições ambientais da escola e do bairro onde moram: existência do esgotamento sanitário, água potável canalizada, ruas urbanizadas, coleta de lixo, coleta seletiva; existência e condições dos postos de saúde, das praças, do transporte público, arborização, dentre outras informações que julgarem necessárias. Para refletir – o que faço com meu lixo? Figura 14 -Fonte – Google imagens 3º MÓDULO Atividade 1 - Reconhecimento das condições ambientais da escola, do bairro e do município percebidas no inventário. Atividade 2 - Oficinas com práticas a serem desenvolvidas de acordo com as condições de cada realidade: 1º momento: escola – trabalho em grupo – trabalhar o inventário ambiental da escola – discutir problemas e sugestões para soluções -; 2º momento – bairro – idem; 3º momento - cidade – demandas e propostas; definições de instâncias de atuação: local (escola), regional (bairro) e geral (município). 184 Atividade 3 - Sugestões para a Agenda 21 municipal e para política municipal de educação ambiental. Atividade 4 - Para casa: elaborar ou reformular um projeto de educação ambiental para escola de acordo com discussões e sugestões no grupo e elaborar a agenda 21 da escola, através de um fórum com a participação de toda comunidade escolar. 4º MÓDULO Atividade 1 - Formar novos grupos, ler e discutir os projetos elaborados ou reformulados; elaborar práticas de educação ambiental a serem desenvolvidas de acordo com o inventário Atividade 2 - Apresentação das sugestões e das práticas elaboradas; Atividade 3 - Compilação dos dados para posterior entrega do material aos participantes; Atividade 4 – entrega de certificado de participação e confraternização. Hoje a educação ambiental assume uma postura cada vez mais socioambiental, voltada à superação da crise planetária e ao ser humano. É reconhecida, então, como fundamental na busca de uma sociedade mais justa e com melhor qualidade de vida, associada à proteção dos recursos naturais para as futuras gerações. 185 Figura 15 - Fonte – Google imagens Figura 16 - Fonte – Google imagens Base teórica do programa: Dias (2010); Jacobi (2006, 2007, 2008 e 2012); Freire (1996, 2000); Souza; Benevides (2005); BRASIL, Resolução N 2, de 15 de junho de 2012; Art. 225 da CF; BRASIL, lei 9394/1996; BRASIL, Lei 9795/1999; BRASIL, Sato (1997); Dowbor (2007); Formando o Com-vida – Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola. 186 LEVANTAMENTO DIAGNÓSTICO 1. a. b. c. d. Idade: ( ) 18 – 30; ( ) 31 – 40; ( ) 41 - 50; ( ) Acima de 50. 2. a. b. c. Formação: ( ) Ensino médio; ( ) Superior; ( ) Pós-graduação. 3. a. b. c. d. e. Tempo de docência: ( ) 01 a 05 anos ( ) 06 a 10 anos; ( ) 11 a 15 anos; ( ) 16 a 20 anos; ( ) acima de 20 anos. 4. a. b. c. d. e. f. Modalidade de ensino em que atua: ( ) Educação Infantil; ( ) Ensino Fundamental – anos iniciais; ( ) Ensino Fundamental – anos finais; ( ) Ensino Médio; ( ) Educação de Jovens e Adultos; ( ) Educação Especial. 5. Disciplina que leciona: ___Geografia, ___Biologia, ___Química, ___ Física, ___ Português, ___História, ___ Artes, Educação Física, ___Língua Estrangeira, ___Ciências, __Ensino Religioso, ___Matemática. 6. Você já participou de alguma capacitação ou curso sobre educação ambiental? ( ) Sim ( ) Não 7. Caso a resposta anterior seja sim, quando foi? a. ( ) Este ano; b. ( ) Há mais de um ano. 8. a. b. c. Qual foi a entidade promotora? ( ) Escola; ( ) Secretaria Municipal de Educação; ( ) Secretaria Municipal de meio Ambiente; 187 d. ( ) Secretaria Estadual de Educação; e. ( ) Outros ___________________________________. 9. a. b. c. d. Tipo de formação recebida: ( ) Palestra; ( ) Curso de até 40 horas; ( ) Curso Especialização; ( ) Outros _________________________________________. 10. A sua escola tem projeto de educação ambiental? ( ) Sim ( ) Não 11. Caso a resposta seja sim, envolve todas as disciplinas? ( ) Sim ( ) Não 12. Se for desenvolvido por disciplinas específicas, cite quais. ______________________________________. 13. O projeto está previsto no projeto político pedagógico? ( ) Sim ( ) Não 14. Caso a resposta for sim, qual a periodicidade? ( ) Datas específicas ( dia do meio ambiente, da árvore, outro); ( ) Ao longo do ano. 15. As disciplinas desenvolvem projetos de educação ambiental em conjunto? ( ) Sim ( ) Não 16. O projeto tem a participação da comunidade extra-escolar? ( ) Sim ( ) Não 17. Assinale abaixo a (s) alternativa (s) que, no seu entendimento, é a disciplina (s) mais adequada para ministrar a educação ambiental: ___Geografia, ___Biologia, ___Química, ___ Física, ___ Português, ___História, ___ Artes, Educação Física, ___Língua Estrangeira, ___Ciências, __Ensino Religioso, ___Matemática, ___ todas. 18. Você conhece as diretrizes nacionais da política de educação ambiental? ( ) Sim - ( ) Não 19. Como você avalia as condições ambientais da sua escola? ( ) Ótima ( ) boa ( ) ruim ( ) péssima. 20. Como você avalia as condições ambientais do bairro onde mora? 188 ( ) Ótima ( ) boa ( ) ruim ( ) péssima. 21. Como você avalia as condições ambientais da sua cidade? ( ) Ótima ( ) boa ( ) ruim ( ) péssima. 22. Cite qual a disciplina que ministra e assinale qual (is) disciplina (s) você percebe maior articulação com temas ambientais: _____________________, ___Geografia, ___Biologia, ___Química, ___ Física, ___ Português, ___História, ___ Artes, Educação Física, ___Língua Estrangeira, ___Ciências, __Ensino Religioso, ___Matemática. 23. EM SUA OPINIÃO, qual alternativa abaixo contempla os conhecimentos que mais se relacionam à educação ambiental: a. ( ) Desenvolvimento sustentável; pobreza; consumismo, cidadania; b. ( ) Chuva ácida, desmatamento, reaproveitamento da matéria prima, poluição; enchente; reciclagem, reflorestamento, economia de água. 24. Cite uma ação de educação ambiental que você desenvolve com seus alunos. 25. Cite ações de educação ambiental que sua escola desenvolve. 26. Resuma em uma frase o que é educação ambiental para você. 27. Assinale qual (is) dificuldade (s) encontra para promover educação ambiental: a. ( ) Falta de formação; b. ( ) falta de orientação ou incentivo da coordenação e ou gestão da escola; c. ( ) nenhuma; d. ( ) Outro ____________________. 189 CONCLUSÃO: Este programa de formação em educação ambiental é o resultado de estudos desenvolvidos no mestrado profissional em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local do Centro Universitário UNA, tendo como referência a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Tem como meta colaborar para uma educação ambiental efetiva, de maneira que contribua para um ensino de qualidade. As contribuições teóricas deste programa coadunam para o entendimento da educação ambiental como uma ferramenta de ensino-aprendizagem e como atividade teórico-prática que possibilita conhecimentos necessários à ação transformadora da realidade existente. Assim, a consecução dos objetivos será verificada de acordo com projetos apresentados pelos participantes do programa. Estes servirão de base para se verificar a necessidade de aperfeiçoamento e definir novas perspectivas e diretrizes educação ambiental nas escolas coerentes à Política Nacional de Educação Ambiental. 190 Referência: BRASIL, Constituição Federal de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ ccivil_03/constituição/constituicao.htm. Acessado em 13/05/2012. BRASIL, Lei de Diretrizes de Bases da Educação Nacional 9.394, de 20 de dezembro de 1996.Disponível em: www.planalto.gov.br/ ccivil_03/leis/L9394.htm. Acessado em: 20/04/2012. BRASIL, Ministério da Educação Conselho Nacional de Educação. Resolução N 2, de 15 de junho de 2012 , Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 18 de jun. 2012, n 116. Seção 1, P. 70. Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acessado em: 20/10/2012. BRASIL. Lei 9.795, de 27.04.1999. Dispõe sobre Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. DOU 28.04.1999. 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In: II Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia, 2005, Resende, 2005, p.518-548. 192 Apêndice B Roteiro de entrevista semiestruturada para diretores 1) A escola tem projeto de Educação Ambiental? 2) Caso a resposta seja sim, qual a periodicidade? 3) Foi construído na sua gestão? 4) Quais os sujeitos participaram da construção do projeto? 5) O projeto é geral para a escola ou por modalidade de ensino? 6) O que orienta a execução dessas atividades (Matriz curricular, alguma legislação, outros)? 7) Qual (is) são os objetivos da escola com a oferta da EA? 8) As práticas de educação ambiental estão prevista no PPP? 9) Caso a resposta anterior seja sim, como se articulam com o PPP da escola? 10) Há o envolvimento de todos os professores? ( ) Sim ( ) Não 11) Há o envolvimento dos pais? Esclareça. ( ) Sim ( ) Não 12) A escola disponibiliza recursos para as atividades desenvolvidas? 13) Que recursos didáticos são utilizados? 14) A escola desenvolve algum projeto de educação ambiental de iniciativa externa (empresas privadas ou ONG’s)? Qual (s)? 15) Você tem conhecimento da Lei 9.795/99? Sabe do que ela trata? 16) A escola recebeu alguma capacitação da SEE/MG nesta 193 Apêndice C Roteiro de entrevista semiestruturada para especialistas da educação básica EEB 1) A escola tem projeto de Educação Ambiental nesta modalidade de ensino? 2) Caso a resposta seja sim, qual a periodicidade? 3) O que orienta a execução dessas atividades (Matriz curricular, alguma legislação, outros)? 4) Que concepção de Educação Ambiental orienta essas práticas? 5) Qual(is) são os objetivos da escola com a oferta da EA? 6) Qual é a articulação dessas práticas com o PPP da escola? 7) Há o envolvimento de todos os professores? ( ) Sim ( ) Não 8) Há o envolvimento dos pais? Esclareça. ( ) Sim ( ) Não 9) Quais são as atividades desenvolvidas e como são desenvolvidas? 10) Que recursos didáticos são utilizados? 11) Quais condições materiais são disponibilizadas para o desenvolvimento dessas práticas? 12) Essa práticas contemplam a interdisciplinaridade? Como? 13) Você tem conhecimento da Lei 9.795/99? Sabe do que se trata? 14) A escola recebeu alguma capacitação da SEE/MG? 194 Apêndice D Roteiro de entrevista semiestruturada para professor da Educação Básica 1. A escola tem projeto de Educação Ambiental? 2. Como é sua participação? 3. Você participou da construção do projeto? 4. O que orienta a execução dessas atividades (Matriz curricular, alguma legislação, outros)? 5. As práticas de educação ambiental que desenvolve na sua disciplina estão previstas no PPP? 6. Caso a resposta anterior seja sim, como é a articulação dessas práticas com o PPP da escola? 7. Qual a articulação que faz com outros conteúdos nos projetos? 8. Qual o nível de envolvimento da comunidade escolar nessas práticas? 9. A escola disponibiliza recursos para as atividades desenvolvidas? 10. Que recursos didáticos são utilizados? 11. A escola desenvolve algum projeto de educação ambiental de iniciativa externa (empresas privadas ou ong’s)? Qual (s)? 12. Você tem conhecimento sobre a Lei 9.795/99? Sabe do que ela trata? 13. A escola recebeu alguma capacitação da SEE/MG em relação a Educação Ambiental? 14. Descreva, em poucas palavras, de que forma a disciplina que ministra tem articulação com a educação ambiental? 195 Apêndice E Roteiro de questionário para alunos 1. Resuma em uma frase o que é educação ambiental para você. 2. Cite ações de educação ambiental que sua escola faz. 3. Assinale *8a (s) disciplina (s) na(s) qual (is)você teve informações sobre a importância da preservação do meio ambiente para manutenção da vida? ___Geografia, ___Biologia, ___Química, ___Matemática, ___Português, ___História, ___ Física ___, Educação Física, ____, Língua Estrangeira. 4. Assinale a (s) disciplina (s) que você não teve informações sobre a importância da preservação do meio ambiente para manutenção da vida? ___Geografia, ___Biologia, ___Química, ___Matemática, ___Português, ___História, ___ Física ___, Educação Física, ____, Língua Estrangeira. 5. Você já participou de algum projeto sobre o Meio Ambiente desenvolvido na escola? ( ) Sim ( ) Não. 6. Você já participou de projetos desenvolvidos por empresas como: O Boticário, Unibanco, em parceria com sua escola? ( ) Sim ( ) Não. 7. Você já estudou ou ouviu na escola sobre o Projeto Manuelzão? ( ) Sim ( ) Não. 8. Descreva em uma frase: Para você, qual a importância de se estudar sobre o meio ambiente? 9. Você acha que sua escola ensina sobre educação ambiental de maneira eficiente? ( ) Sim ( ) Não. 10. Em sua opinião, como a escola pode melhorar o ensino sobre o meio ambiente? 196 Apêndice F Roteiro de observação dos alunos O QUE OBSERVAR Os Sujeitos: a) Quem são b) Faixa etária c) Hábitos O cenário: a) Escola b) Localização geográfica. c) Características físicas gerais d) Quais características das salas de aula e) Lugar preferido dos alunos durante o intervalo f) É arborizado g) Tem lixeiras suficientes; h) Os equipamento públicos – bebedouro, banheiros, cantina – estado de conservação Comportamento Social: a) Comportamento dos alunos no que se refere ao uso dos ambientes b) No percurso usam a lixeira ou jogam resíduos no chão c) Existe cordialidade entre as pessoas? d) Como agem em relação aos equipamentos da escola? e) Há satisfação quanto à merenda oferecida pela escola? 197 Apêndice G Roteiro de observação das atividades - O QUE OBSERVAR Os Sujeitos: a) Quem são b) Faixa etária c) Formação. O cenário: a) Sala de aula (localização) b) Horário: c) Disciplina: d) Conteúdo ministrado: e) Quais as características da aula – expositiva, trabalho em grupo, outros. f) Recursos didáticos e audiovisuais utilizados g) Tem lixeira h) Iluminação. i) Nível de ruído j) Os equipamentos públicos – carteiras, cadeiras, quadro – estão bem conservados Comportamento Social: 1. Atitude dos alunos na entrada – Vão direto para sala ou ficam do lado de fora 2. Atitude do professor – pontualidade ou não. 3. A lixeira é usada, ou jogam resíduos no chão 4. Existe cordialidade entre pessoas 5. Os alunos demonstraram interesse pela matéria ministrada ( dados para compor a análise das práticas de EA) 198 ANEXOS Anexo 1 199 200 201 Anexo 2 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI No 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999. Mensagem de Veto Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: CAPÍTULO I DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 1o Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. Art. 2o A educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal. Art. 3o Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo: I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem; III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; 202 V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente; VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais. Art. 4o São princípios básicos da educação ambiental: I - o enfoque humanista, holístico, democrático e participativo; II - a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o sócio-econômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; III - o pluralismo de idéias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade; IV - a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; V - a garantia de continuidade e permanência do processo educativo; VI - a permanente avaliação crítica do processo educativo; VII - a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais; VIII - o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural. Art. 5o São objetivos fundamentais da educação ambiental: I - o desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos, culturais e éticos; II - a garantia de democratização das informações ambientais; III - o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; IV - o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente 203 equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; VI - o fomento e o fortalecimento da integração com a ciência e a tecnologia; VII - o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade. CAPÍTULO II DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Seção I Disposições Gerais Art. 6o É instituída a Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 7o A Política Nacional de Educação Ambiental envolve em sua esfera de ação, além dos órgãos e entidades integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente Sisnama, instituições educacionais públicas e privadas dos sistemas de ensino, os órgãos públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e organizações não-governamentais com atuação em educação ambiental. Art. 8o As atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA -devem ser desenvolvidas na educação em geral e na educação escolar, por meio das seguintes linhas de atuação inter-relacionadas: I - capacitação de recursos humanos; II - desenvolvimento de estudos, pesquisas e experimentações; III - produção e divulgação de material educativo; IV - acompanhamento e avaliação. § 1o Nas atividades vinculadas à Política Nacional de Educação Ambiental serão respeitados os princípios e objetivos fixados por esta Lei. § 2o A capacitação de recursos humanos voltar-se-á para: I - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos educadores de todos os níveis e modalidades de ensino; II - a incorporação da dimensão ambiental na formação, especialização e atualização dos profissionais de todas as áreas; III - a preparação de profissionais orientados para as atividades de gestão ambiental; 204 IV - a formação, especialização e atualização de profissionais na área de meio ambiente; V - o atendimento da demanda dos diversos segmentos da sociedade no que diz respeito à problemática ambiental. § 3o As ações de estudos, pesquisas e experimentações voltar-se-ão para: I - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à incorporação da dimensão ambiental, de forma interdisciplinar, nos diferentes níveis e modalidades de ensino; II - a difusão de conhecimentos, tecnologias e informações sobre a questão ambiental; III - o desenvolvimento de instrumentos e metodologias, visando à participação dos interessados na formulação e execução de pesquisas relacionadas à problemática ambiental; IV - a busca de alternativas curriculares e metodológicas de capacitação na área ambiental; V - o apoio a iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de material educativo; VI - a montagem de uma rede de banco de dados e imagens, para apoio às ações enumeradas nos incisos I a V. Seção II Da Educação Ambiental no Ensino Formal Art. 9o Entende-se por educação ambiental na educação escolar a desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições de ensino públicas e privadas, englobando: I - educação básica: a) educação infantil; b) ensino fundamental e c) ensino médio; II - educação superior; III - educação especial; IV - educação profissional; 205 V - educação de jovens e adultos. Art. 10. A educação ambiental será desenvolvida como uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal. § 1o A educação ambiental não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino. § 2o Nos cursos de pós-graduação, extensão e nas áreas voltadas ao aspecto metodológico da educação ambiental, quando se fizer necessário, é facultada a criação de disciplina específica. § 3o Nos cursos de formação e especialização técnico-profissional, em todos os níveis, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética ambiental das atividades profissionais a serem desenvolvidas. Art. 11. A dimensão ambiental deve constar dos currículos de formação de professores, em todos os níveis e em todas as disciplinas. Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender adequadamente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 12. A autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, observarão o cumprimento do disposto nos arts. 10 e 11 desta Lei. Seção III Da Educação Ambiental Não-Formal Art. 13. Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente. Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará: I - a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e campanhas educativas, e de informações acerca de temas relacionados ao meio ambiente; II - a ampla participação da escola, da universidade e de organizações nãogovernamentais na formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental não-formal; 206 III - a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações não-governamentais; IV - a sensibilização da sociedade para a importância das unidades de conservação; V - a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de conservação; VI - a sensibilização ambiental dos agricultores; VII - o ecoturismo. CAPÍTULO III DA EXECUÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 14. A coordenação da Política Nacional de Educação Ambiental ficará a cargo de um órgão gestor, na forma definida pela regulamentação desta Lei. Art. 15. São atribuições do órgão gestor: I - definição de diretrizes para implementação em âmbito nacional; II - articulação, coordenação e supervisão de planos, programas e projetos na área de educação ambiental, em âmbito nacional; III - participação na negociação de financiamentos a planos, programas e projetos na área de educação ambiental. Art. 16. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, na esfera de sua competência e nas áreas de sua jurisdição, definirão diretrizes, normas e critérios para a educação ambiental, respeitados os princípios e objetivos da Política Nacional de Educação Ambiental. Art. 17. A eleição de planos e programas, para fins de alocação de recursos públicos vinculados à Política Nacional de Educação Ambiental, deve ser realizada levando-se em conta os seguintes critérios: I - conformidade com os princípios, objetivos e diretrizes da Política Nacional de Educação Ambiental; II - prioridade dos órgãos integrantes do Sisnama e do Sistema Nacional de Educação; III - economicidade, medida pela relação entre a magnitude dos recursos a alocar e o retorno social propiciado pelo plano ou programa proposto. 207 Parágrafo único. Na eleição a que se refere o caput deste artigo, devem ser contemplados, de forma eqüitativa, os planos, programas e projetos das diferentes regiões do País. Art. 18. (VETADO) Art. 19. Os programas de assistência técnica e financeira relativos a meio ambiente e educação, em níveis federal, estadual e municipal, devem alocar recursos às ações de educação ambiental. CAPÍTULO IV DISPOSIÇÕES FINAIS Art. 20. O Poder Executivo regulamentará esta Lei .no prazo de noventa dias de sua publicação, ouvidos o Conselho Nacional de Meio Ambiente e o Conselho Nacional de Educação. Art. 21. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 27 de abril de 1999; 178o da Independência e 111o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza José Sarney Filho Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 28.4.1999 208 Anexo 3 MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO CONSELHO PLENO RESOLUÇÃO Nº 2, DE 15 DE JUNHO DE 2012 (*) Estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. O Presidente do Conselho Nacional de Educação, de conformidade com o disposto na alínea “c” do § 1º e na alínea “c” do § 2º do artigo 9º da Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, com a redação dada pela Lei nº 9.131, de 24 de novembro de 1995, e nos artigos 22 ao 57 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, e com fundamento no Parecer CNE/CP nº 14/2012, homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 15 de junho de 2012, CONSIDERANDO que: A Constituição Federal (CF), de 1988, no inciso VI do § 1º do artigo 225 determina que o Poder Público deve promover a Educação Ambiental em todos os níveis de ensino, pois “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”; A Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, no inciso X do artigo 2º, já estabelecia que a educação ambiental deve ser ministrada a todos os níveis de ensino, objetivando capacitá-la para a participação ativa na defesa do meio ambiente; A Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), prevê que na formação básica do cidadão seja assegurada a compreensão do ambiente natural e social; que os currículos do Ensino Fundamental e do Médio devem abranger o conhecimento do mundo físico e natural; que a Educação Superior deve desenvolver o entendimento do ser humano e do meio em que vive; que a Educação tem, como uma de suas finalidades, a preparação para o exercício da cidadania; A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamentada pelo Decreto nº 4.281, de 25 de junho de 2002, dispõe especificamente sobre a Educação Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), como componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo; As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica em todas as suas etapas e modalidades reconhecem a relevância e a obrigatoriedade da Educação Ambiental; O Conselho Nacional de Educação aprovou o Parecer CNE/CP nº 8, de 6 de março de 2012, 209 homologado por Despacho do Senhor Ministro de Estado da Educação, publicado no DOU de 30 de maio de 2012, que estabelece as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos incluindo os direitos ambientais no conjunto dos internacionalmente reconhecidos, e define que a educação para a cidadania compreende a dimensão política do cuidado com o meio ambiente local, regional e global; O atributo “ambiental” na tradição da Educação Ambiental brasileira e latinoamericana não é empregado para especificar um tipo de educação, mas se constitui em elemento estruturante que demarca um campo político de valores e práticas, mobilizando (*) Resolução CNE/CP 2/2012. Diário Oficial da União, Brasília, 18 de junho de 2012 – Seção 1 – p. 70. atores sociais comprometidos com a prática políticopedagógica transformadora e emancipatória capaz de promover a ética e a cidadania ambiental; O reconhecimento do papel transformador e emancipatório da Educação Ambiental torna-se cada vez mais visível diante do atual contexto nacional e mundial em que a preocupação com as mudanças climáticas, a degradação da natureza, a redução da biodiversidade, os riscos socioambientais locais e globais, as necessidades planetárias evidencia-se na prática social, RESOLVE: TÍTULO I OBJETO E MARCO LEGAL CAPÍTULO I OBJETO Art. 1º A presente Resolução estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental a serem observadas pelos sistemas de ensino e suas instituições de Educação Básica e de Educação Superior, orientando a implementação do determinado pela Constituição Federal e pela Lei nº 9.795, de 1999, a qual dispõe sobre a Educação Ambiental (EA) e institui a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), com os seguintes objetivos: I - sistematizar os preceitos definidos na citada Lei, bem como os avanços que ocorreram na área para que contribuam com a formação humana de sujeitos concretos que vivem em determinado meio ambiente, contexto histórico e sociocultural, com suas condições físicas, emocionais, intelectuais, culturais; II - estimular a reflexão crítica e propositiva da inserção da Educação Ambiental na formulação, execução e avaliação dos projetos institucionais e pedagógicos das instituições de ensino, para que a concepção de Educação Ambiental como integrante do currículo supere a mera distribuição do tema pelos demais componentes; III - orientar os cursos de formação de docentes para a Educação Básica; IV - orientar os sistemas educativos dos diferentes entes federados. 210 Art. 2º A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental. Art. 3º A Educação Ambiental visa à construção de conhecimentos, ao desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores sociais, ao cuidado com a comunidade de vida, a justiça e a equidade socioambiental, e a proteção do meio ambiente natural e construído. Art. 4º A Educação Ambiental é construída com responsabilidade cidadã, na reciprocidade das relações dos seres humanos entre si e com a natureza. Art. 5º A Educação Ambiental não é atividade neutra, pois envolve valores, interesses, visões de mundo e, desse modo, deve assumir na prática educativa, de forma articulada e interdependente, as suas dimensões política e pedagógica. Art. 6º A Educação Ambiental deve adotar uma abordagem que considere a interface entre a natureza, a sociocultural, a produção, o trabalho, o consumo, superando a visão despolitizada, acrítica, ingênua e naturalista ainda muito presente na prática pedagógica das instituições de ensino. CAPÍTULO II MARCO LEGAL Art. 7º Em conformidade com a Lei nº 9.795, de 1999, reafirma-se que a Educação Ambiental é componente integrante, essencial e permanente da Educação Nacional, devendo estar presente, de forma articulada, nos níveis e modalidades da Educação Básica e da Educação Superior, para isso devendo as instituições de ensino promovê-la integradamente nos seus projetos institucionais e pedagógicos. Art. 8º A Educação Ambiental, respeitando a autonomia da dinâmica escolar e acadêmica, deve ser desenvolvida como uma prática educativa integrada e interdisciplinar, contínua e permanente em todas as fases, etapas, níveis e modalidades, não devendo, como regra, ser implantada como disciplina ou componente curricular específico. Parágrafo único. Nos cursos, programas e projetos de graduação, pós-graduação e de extensão, e nas áreas e atividades voltadas para o aspecto metodológico da Educação Ambiental, é facultada a criação de componente curricular específico. 211 Art. 9º Nos cursos de formação inicial e de especialização técnica e profissional, em todos os níveis e modalidades, deve ser incorporado conteúdo que trate da ética socioambiental das atividades profissionais. Art. 10. As instituições de Educação Superior devem promover sua gestão e suas ações de ensino, pesquisa e extensão orientadas pelos princípios e objetivos da Educação Ambiental. Art. 11. A dimensão socioambiental deve constar dos currículos de formação inicial e continuada dos profissionais da educação, considerando a consciência e o respeito à diversidade multiétnica e multicultural do País. Parágrafo único. Os professores em atividade devem receber formação complementar em suas áreas de atuação, com o propósito de atender de forma pertinente ao cumprimento dos princípios e objetivos da Educação Ambiental. TÍTULO II PRINCÍPIOS E OBJETIVOS CAPÍTULO I PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 12. A partir do que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, e com base em práticas comprometidas com a construção de sociedades justas e sustentáveis, fundadas nos valores da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade, sustentabilidade e educação como direito de todos e todas, são princípios da Educação Ambiental: I - totalidade como categoria de análise fundamental em formação, análises, estudos e produção de conhecimento sobre o meio ambiente; II - interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque humanista, democrático e participativo; III - pluralismo de ideias e concepções pedagógicas; IV - vinculação entre ética, educação, trabalho e práticas sociais na garantia de continuidade dos estudos e da qualidade social da educação; V - articulação na abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações, nas dimensões locais, regionais, nacionais e globais; VI - respeito à pluralidade e à diversidade, seja individual, seja coletiva, étnica,racial, social e cultural, disseminando os direitos de existência e permanência e o valor da 212 multiculturalidade e plurietnicidade do país e do desenvolvimento da cidadania planetária. CAPÍTULO II OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL Art. 13. Com base no que dispõe a Lei nº 9.795, de 1999, são objetivos da Educação Ambiental a serem concretizados conforme cada fase, etapa, modalidade e nível de ensino: I - desenvolver a compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas relações para fomentar novas práticas sociais e de produção e consumo; II - garantir a democratização e o acesso às informações referentes à área socioambiental; III - estimular a mobilização social e política e o fortalecimento da consciência crítica sobre a dimensão socioambiental; IV - incentivar a participação individual e coletiva, permanente e responsável,na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; V - estimular a cooperação entre as diversas regiões do País, em diferentes formas de arranjos territoriais, visando à construção de uma sociedade ambientalmente justa e sustentável; VI - fomentar e fortalecer a integração entre ciência e tecnologia, visando à sustentabilidade socioambiental; VII - fortalecer a cidadania, a autodeterminação dos povos e a solidariedade, a igualdade e o respeito aos direitos humanos, valendo-se de estratégias democráticas e da interação entre as culturas, como fundamentos para o futuro da humanidade; VIII - promover o cuidado com a comunidade de vida, a integridade dos ecossistemas, a justiça econômica, a equidade social, étnica, racial e de gênero, e o diálogo para a convivência e a paz; IX - promover os conhecimentos dos diversos grupos sociais formativos do País que utilizam e preservam a biodiversidade. Art. 14. A Educação Ambiental nas instituições de ensino, com base nos referenciais apresentados, deve contemplar: 213 I - abordagem curricular que enfatize a natureza como fonte de vida e relacione a dimensão ambiental à justiça social, aos direitos humanos, à saúde, ao trabalho, ao consumo, à pluralidade étnica, racial, de gênero, de diversidade sexual, e à superação do racismo e de todas as formas de discriminação e injustiça social; II - abordagem curricular integrada e transversal, contínua e permanente em todas as áreas de conhecimento, componentes curriculares e atividades escolares e acadêmicas; III - aprofundamento do pensamento crítico-reflexivo mediante estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos a partir da dimensão socioambiental, valorizando a participação, a cooperação, o senso de justiça e a responsabilidade da comunidade educacional em contraposição às relações de dominação e exploração presentes na realidade atual; IV - incentivo à pesquisa e à apropriação de instrumentos pedagógicos e metodológicos que aprimorem a prática discente e docente e a cidadania ambiental; V - estímulo à constituição de instituições de ensino como espaços educadores sustentáveis, integrando proposta curricular, gestão democrática, edificações, tornando-as referências de sustentabilidade socioambiental. TÍTULO III ORGANIZAÇÃO CURRICULAR Art. 15. O compromisso da instituição educacional, o papel socioeducativo, ambiental, artístico, cultural e as questões de gênero, etnia, raça e diversidade que compõem as ações educativas, a organização e a gestão curricular são componentes integrantes dos projetos institucionais e pedagógicos da Educação Básica e da Educação Superior. § 1º A proposta curricular é constitutiva do Projeto Político-Pedagógico (PPP)e dos Projetos e Planos de Cursos (PC) das instituições de Educação Básica, e dos Projetos Pedagógicos de Curso (PPC) e do Projeto Pedagógico (PP) constante do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) das instituições de Educação Superior. § 2º O planejamento dos currículos deve considerar os níveis dos cursos, as idades e especificidades das fases, etapas, modalidades e da diversidade sociocultural dos estudantes, bem como de suas comunidades de vida, dos biomas e dos territórios em que se situam as instituições educacionais. § 3º O tratamento pedagógico do currículo deve ser diversificado, permitindo reconhecer e valorizar a pluralidade e as diferenças individuais, sociais, étnicas e 214 culturais dos estudantes, promovendo valores de cooperação, de relações solidárias e de respeito ao meio ambiente. Art. 16. A inserção dos conhecimentos concernentes à Educação Ambiental nos currículos da Educação Básica e da Educação Superior pode ocorrer: I - pela transversalidade, mediante temas relacionados com o meio ambiente e a sustentabilidade socioambiental; II - como conteúdo dos componentes já constantes do currículo; III - pela combinação de transversalidade e de tratamento nos componentes curriculares. Parágrafo único. Outras formas de inserção podem ser admitidas na organização curricular da Educação Superior e na Educação Profissional Técnica de Nível Médio, considerando a natureza dos cursos. Art. 17. Considerando os saberes e os valores da sustentabilidade, a diversidade de manifestações da vida, os princípios e os objetivos estabelecidos, o planejamento curricular e a gestão da instituição de ensino devem: I - estimular: a) visão integrada, multidimensional da área ambiental, considerando o estudo da diversidade biogeográfica e seus processos ecológicos vitais, as influências políticas, sociais, econômicas, psicológicas, dentre outras, na relação entre sociedade, meio ambiente, natureza, cultura, ciência e tecnologia; b) pensamento crítico por meio de estudos filosóficos, científicos, socioeconômicos, políticos e históricos, na ótica da sustentabilidade socioambiental, valorizando a participação, a cooperação e a ética; c) reconhecimento e valorização da diversidade dos múltiplos saberes e olhares científicos e populares sobre o meio ambiente, em especial de povos originários e de comunidades tradicionais; d) vivências que promovam o reconhecimento, o respeito, a responsabilidade e o convívio cuidadoso com os seres vivos e seu habitat; e) reflexão sobre as desigualdades socioeconômicas e seus impactos ambientais, que recaem principalmente sobre os grupos vulneráveis, visando à conquista da justiça ambiental; f) uso das diferentes linguagens para a produção e a socialização de ações e experiências coletivas de educomunicação, a qual propõe a integração da comunicação com ouso de recursos tecnológicos na aprendizagem. 215 II - contribuir para: a) o reconhecimento da importância dos aspectos constituintes e determinantes da dinâmica da natureza, contextualizando os conhecimentos a partir da paisagem, da bacia hidrográfica, do bioma, do clima, dos processos geológicos, das ações antrópicas e suas interações sociais e políticas, analisando os diferentes recortes territoriais, cujas riquezas e potencialidades, usos e problemas devem ser identificados e compreendidos segundo a gênese e a dinâmica da natureza e das alterações provocadas pela sociedade; b) a revisão de práticas escolares fragmentadas buscando construir outras práticas que considerem a interferência do ambiente na qualidade de vida das sociedades humanas nas diversas dimensões local, regional e planetária; c) o estabelecimento das relações entre as mudanças do clima e o atual modelo de produção, consumo, organização social, visando à prevenção de desastres ambientais e à proteção das comunidades; d) a promoção do cuidado e responsabilidade com as diversas formas de vida, do respeito às pessoas, culturas e comunidades; e) a valorização dos conhecimentos referentes à saúde ambiental, inclusive nomeio ambiente de trabalho, com ênfase na promoção da saúde para melhoria da qualidade de vida; f) a construção da cidadania planetária a partir da perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações. III - promover: a) observação e estudo da natureza e de seus sistemas de funcionamento para possibilitar a descoberta de como as formas de vida relacionam-se entre si e os ciclos naturais interligam-se e integram-se uns aos outros; b) ações pedagógicas que permitam aos sujeitos a compreensão crítica da dimensão ética e política das questões socioambientais, situadas tanto na esfera individual, como na esfera pública; c) projetos e atividades, inclusive artísticas e lúdicas, que valorizem o sentido de pertencimento dos seres humanos à natureza, a diversidade dos seres vivos, as diferentes culturas locais, a tradição oral, entre outras, inclusive desenvolvidas em espaços nos quais os estudantes se identifiquem como integrantes da natureza, estimulando a percepção do meio ambiente como fundamental para o exercício da cidadania; 216 d) experiências que contemplem a produção de conhecimentos científicos, socioambientalmente responsáveis, a interação, o cuidado, a preservação e o conhecimento da sociobiodiversidade e da sustentabilidade da vida na Terra; e) trabalho de comissões, grupos ou outras formas de atuação coletiva favoráveis à promoção de educação entre pares, para participação no planejamento, execução,avaliação e gestão de projetos de intervenção e ações de sustentabilidade socioambiental na instituição educacional e na comunidade, com foco na prevenção de riscos, na proteção e preservação do meio ambiente e da saúde humana e na construção de sociedades sustentáveis. TÍTULO IV SISTEMAS DE ENSINO E REGIME DE COLABORAÇÃO Art. 18. Os Conselhos de Educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios devem estabelecer as normas complementares que tornem efetiva a Educação Ambiental em todas as fases, etapas, modalidades e níveis de ensino sob sua jurisdição. Art. 19. Os órgãos normativos e executivos dos sistemas de ensino devem articularse entre si e com as universidades e demais instituições formadoras de profissionais da educação, para que os cursos e programas de formação inicial e continuada de professores, gestores, coordenadores, especialistas e outros profissionais que atuam na Educação Básica e na Superior capacitem para o desenvolvimento didático-pedagógico da dimensão da Educação Ambiental na sua atuação escolar e acadêmica. § 1º Os cursos de licenciatura, que qualificam para a docência na Educação Básica, e os cursos e programas de pós-graduação, qualificadores para a docência na Educação Superior, devem incluir formação com essa dimensão, com foco na metodologia integrada e interdisciplinar. § 2º Os sistemas de ensino, em colaboração com outras instituições, devem instituir políticas permanentes que incentivem e dêem condições concretas de formação continuada, para que se efetivem os princípios e se atinjam os objetivos da Educação Ambiental. Art. 20. As Diretrizes Curriculares Nacionais e as normas para os cursos e programas da Educação Superior devem, na sua necessária atualização, prescrever o adequado para essa formação. Art. 21. Os sistemas de ensino devem promover as condições para que as instituições educacionais constituam-se em espaços educadores sustentáveis, com a intencionalidade de educar para a sustentabilidade socioambiental de suas 217 comunidades, integrando currículos, gestão e edificações em relação equilibrada com o meio ambiente, tornando-se referência para seu território. Art. 22. Os sistemas de ensino e as instituições de pesquisa, em regime de colaboração, devem fomentar e divulgar estudos e experiências realizados na área da Educação Ambiental. § 1º Os sistemas de ensino devem propiciar às instituições educacionais meios para o estabelecimento de diálogo e parceria com a comunidade, visando à produção de conhecimentos sobre condições e alternativas socioambientais locais e regionais e à intervenção para a qualificação da vida e da convivência saudável. § 2º Recomenda-se que os órgãos públicos de fomento e financiamento à pesquisa incrementem o apoio a projetos de pesquisa e investigação na área da Educação Ambiental, sobretudo visando ao desenvolvimento de tecnologias mitigadoras de impactos negativos ao meio ambiente e à saúde. Art. 23. Os sistemas de ensino, em regime de colaboração, devem criar políticas de produção e de aquisição de materiais didáticos e paradidáticos, com engajamento da comunidade educativa, orientados pela dimensão socioambiental. Art. 24. O Ministério da Educação (MEC) e os correspondentes órgãos estaduais, distrital e municipais devem incluir o atendimento destas Diretrizes nas avaliações para fins de credenciamento e recredenciamento, de autorização e renovação de autorização, e de reconhecimento de instituições educacionais e de cursos. Art. 25. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. PASCHOAL LAÉRCIO ARMONIA Presidente em Exercício7.