DESCENDÊNCIA DE DOMINGOS JOÃO, O TÁ, DE AVEIRO Marcelo Meira Amaral Bogaciovas Resumo: Estudo de uma família da cidade de Aveiro, Portugal, que adquiriu status de nobreza já no século XVII, simultaneamente no Reino de Portugal e no Brasil. Trata da descendência de um contramestre de navio que pescava bacalhau na Noruega, em fins do XVI, da qual parte radicou-se na freguesia do Couto de Verride, em Coimbra, e parte transferiu-se para o Brasil, na distante vila de São Paulo, para onde passara, por volta de 1650, o aveirense Manuel Dias da Silva. Abstract: Study of a family in the Aveiro’s city, Portugal, which acquired the status of nobility already in the seventeenth century, both in the Kingdom of Portugal and Brazil. Part of the descendancy of a ship Foreman, who was used to fish cod in Norway, in the late sixteenth century, he settled in the parish of Couto de Verride in Coimbra, and some of them moved to Brazil in the distant village of São Paulo, where would pass, around 1650, the aveirense Manuel Dias da Silva. Introdução Estudos genealógicos onde se verifica a ascensão social de membros de uma família têm um sabor especial, especialmente quando estudados comparativamente de um lado e do outro do Atlântico. Este é um dos motes deste trabalho. O outro é elucidar as primeiras gerações de Domingos João, o tá, avô do aveirense Manuel Dias da Silva, o qual veio para o Brasil, tornando-se o tronco da família em solo paulista ao se fixar na Capitania de São Vicente, mais exatamente na vila (hoje cidade) de São Paulo. Aí se casou por volta de 1650 com uma senhora de uma linhagem lusitana radicada havia muito tempo em São Paulo: os Pires, que protagonizaram, naqueles idos, uma violenta contenda contra os Camargos.1 Ele deixara parentes em Portugal, para onde retornara ao menos uma vez (em 1668), os quais acolheram dois filhos seus (Antônio e Alexandre), quando ambos foram estudar na Universidade de Coimbra (a partir de 1675). O citado tronco, Manuel Dias da Silva, é meu 10º avô por duas vezes, o que significa que 0,0939849... % do meu sangue tem contribuição do dele. Deve-se ao historiador e genealogista Pedro Taques de Almeida Pais Leme (17141777), cunhado do Mestre de Campo Manuel Dias da Silva (adiante), neto do aveirense homônimo, a preservação da lembrança da origem da família em solo paulista.2 Ao tratar do tronco, assim escreveu o autor: Foi irmão inteiro de Pedro da Silva Castro, cônego doutoral da Sé de Leiria e de D. Sebastiana, mulher de ... que foram pais de Roque Pereira de Macedo, fidalgo da Casa de Sua Magestade professo da Ordem de Cristo, senhor da casa e morgado de Verride, 1 A guerra civil entre os partidos dos Pires e Camargos iniciou-se cerca de 1640 em São Paulo, prolongando-se por mais de 20 anos. Em 1655 o governador geral do Brasil, Conde de Atouguia, fez provisão para que membros de uma e outra família ocupassem a câmara de São Paulo. Em 1660 foi assinado um tratado de paz entre as famílias. Vide PINTO, Luiz de Aguiar Costa. Lutas de famílias no Brasil. 2ª ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1980, pp. 37-85. 2 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Nobiliarquia Paulistana Histórica e Genealógica, 5ª ed., 3 volumes, São Paulo: Ed. Itatiaia/EDUSP, 1980. Vol. II, p. 94. Título Pires, capítulo 6º, § 4º. caudel mor da comarca de Coimbra casado com D. Berarda, que são os pais de D. Francisca Joaquina de Horta Forjaz, primeira mulher de Pedro Dias Pais Leme, fidalgo da Casa de Sua Magestade, alcaide mor da cidade da Bahia, comendador das comendas de Santa Maria de Alverca e de São Fernando de Aiperera, ambas da Ordem de Cristo guarda mor geral, proprietário das minas de ouro e mestre de campo dos auxiliares de um terço do Rio de Janeiro. Este, Manuel Dias da Silva, o Bixira, com seus irmãos, foi filho de Antônio André Pardamo e de sua mulher D. Isabel João de Castro, de tanta nobreza, como constou no tribunal da Mesa da Consciência de Lisboa nas provanças de seu neto, o Mestre de Campo Manuel Dias da Silva para tomar o hábito da Ordem de Cristo.[3] Penetrou a província do Paraguai até a cidade de Santa Fé, e se recolheu rico e abundante de prata. Teve em São Paulo grossa fazenda de culturas com excessivas colheitas de trigo e grande criação de ovelhas e gados vacuns. Por muito tempo persegui uma pista, colhida em uma das árvores de costados do Cônego Roque Luís de Macedo Leme da Câmara (1730-1828).4 Não nas revistas onde se publicaram as citadas árvores, mas sim nos originais conservados na Biblioteca Nacional [do Rio de Janeiro], onde há diversas informações ainda inéditas. O Cônego Roque, ao tratar de Manuel Dias da Silva, que era irmão de sua bisavó D. Sebastiana da Silva, escreveu que, segundo Pedro Taques, ele e seu irmão Pedro da Silva e Castro eram dos mesmos Silvas de Lucas de Seabra da Silva, que foi lente de prima na Universidade de Coimbra e desembargador do Paço. Não descobri, até o momento, nenhum parentesco entre eles. Curiosamente, ignoro se antes ou depois dele escrever seu trabalho, as famílias se uniram, pelo casamento de Manuel de Macedo Pereira (trineto de Sebastiana da Silva) com uma neta do mesmo Lucas de Seabra da Silva. O Cônego Roque escreveu ainda que seu avô, o Capitão Mor Garcia Rodrigues Pais, ao mandar dois de seus filhos para Portugal, recomendou-os ao Conselheiro Alexandre da Silva Corrêa, que os teve em sua casa e debaixo de sua proteção no seminário de São Patrício de Lisboa. Alexandre da Silva Corrêa e Garcia Rodrigues Pais eram parentes consangüíneos, ainda que longinquamente, e provavelmente foram condiscípulos no colégio dos jesuítas em São Paulo. Pesava o fato, ainda, de pertencerem à nobreza da terra e de fazerem parte do partido dos Pires contra os Camargos. Estante em Coimbra, Pedro Dias Pais Leme, filho de Garcia Rodrigues Pais, casou-se com uma sobrinha do conselheiro, em 1729, como se verificará adiante, na freguesia de Verride, não muito distante da cidade de Coimbra. Passemos à descendência de Domingos João, o tá: § 1º I- DOMINGOS JOÃO, o tá. Nasceu por volta de 1564 na vila de Aveiro, hoje cidade e sede do distrito de Aveiro, Portugal. Consoante o depoimento de testemunhas ouvidas no processo de habilitação ao Santo Ofício de seu neto o Cônego Pedro da Silva, Domingos João serviu de contramestre de um navio que foi para a Terra Nova (Groelândia) para a pesca de bacalhau; era homem do mar e foi irmão da Santa Casa da 3 Não localizei a habilitação de Manuel Dias da Silva à Ordem de Cristo, na Torre do Tombo, em Portugal. Aliás, trata-se de uma série com largos períodos de perdas, especialmente em função do terremoto de 1755. 4 Biblioteca Nacional [do Rio de Janeiro]. Seção de Manuscritos. Códice 11, 3, 5. “Nobiliarquia Brasiliense”. Lisboa, 1792. São conhecidas como as árvores de costados do Cônego Roque de Macedo Leme, tendo sido publicadas, com lamentáveis erros e supressões, nas Revistas do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, sob a orientação de Affonso de E. Taunay, nos números 32, 33 e 34, anos de 1937 a 1938. Também podem ser vistas, esquematicamente, na Biblioteca Genealógica Brasileira nº 10, comentadas por Salvador de Moya, ano de 1961. Misericórdia de Aveiro. Uma das testemunhas disse que ele era tanoeiro. Vivia de sua fazenda e era filho de JOÃO PIRES e de sua mulher ISABEL PIRES, moradores na vila de Aveiro, todos já defuntos em 1647. Domingos João casou-se, cerca de 1589, na vila de Aveiro com ANTÔNIA FERNANDES, também natural da vila de Aveiro, filha de ROQUE FERNANDES, que vivia de sua fazenda e de sua mulher (casados cerca de 1564) MARIA FERNANDES, moradores em Verdemilho.5 Domingos João e sua mulher Antônia Fernandes já eram falecidos no ano de 1647. Verdemilho é lugar da freguesia de Aradas, distante 4 quilômetros de Aveiro. Em Verdemilho fica a ermida de Nossa Senhora da Conceição ou Nossa Senhora da Lomba. Domingos João e Antônia Fernandes já eram falecidos em 1647 (ainda conforme o processo do Santo Ofício do filho Manuel Domingues, adiante) e foram pais de, que se conseguiu descobrir: 1 (II)- ISABEL JOÃO DE CASTRO, que segue no § 2º. 2 (II)- MANUEL DOMINGUES, o tá, que segue. II- MANUEL DOMINGUES, o tá. Nasceu cerca de 1606 na vila de Aveiro, tendo sido batizado na igreja de São Miguel. Era tanoeiro, morador e irmão da Santa Casa da Misericórdia da mesma vila. Foi preso, em duas oportunidades, pelo Santo Ofício.6 A primeira vez, em fevereiro de 1647, na cidade de Coimbra, por dizer que a fornicação simples não era pecado. Ouvido em 19 do mesmo mês e ano, em Coimbra, na sessão de Genealogia, declarou ter 40 anos de idade, que vivia de sua fazenda e de seu ofício de tanoeiro, ser cristão-velho, natural e morador na vila de Aveiro, batizado que foi na igreja de São Miguel. Sabia ler e escrever, e que nunca saíra do Reino de Portugal, à exceção de cinco viagens que fizera por mar à Terra Nova (Groelândia), a fazer pescaria de bacalhau, em que gastava tempo de quatro meses em cada viagem (conforme declarou na sessão in genere). De seus pais disse que se chamavam Domingos João, que foi marinheiro, que vivia por sua fazenda, e sua mãe Antônia Fernandes, já defuntos, naturais e moradores da vila de Aveiro. Dos avós paternos, também já defuntos, segundo ouvira dizer, eram João Pires e Isabel Pires, moradores que foram na mesma vila de Aveiro. Os maternos eram Roque Fernandes, que vivia de sua fazenda, e Maria Fernandes, já defuntos, moradores que foram em Verdemilho, junto à vila de Aveiro. Abjurou de leve, assinando termo de soltura em 25 de mesmo mês e ano. Uma pena leve, para os padrões do Tribunal do Santo Ofício. Sua segunda prisão deu-se em 6 de setembro de 1651, novamente em Coimbra. Havia sido detido na vila de Cantanhede, trabalhando em seu ofício. Foi qualificado como tanoeiro, morador na vila de Aveiro, na freguesia de Santa Cruz, na rua Larga. Conforme o comissário de Aveiro, André de Figueiredo, em 5 de junho de 1650, o réu era falador e amigo dos ingleses, entendendo que a fé deles era melhor que a católica. Depôs em 12 de setembro de 1651, em Coimbra, na sessão de Genealogia. Tinha 45 anos de idade e era sargento de uma companhia das ordenanças. Através de contraditas, conseguiu livrar-se das acusações, tendo mostrado que seus delatores eram seus inimigos. Utilizou a tática de relatar fatos e passagens com pessoas que poderiam tê-lo denunciado e, assim, mais facilmente conseguir se livrar das garras da Inquisição. Ou 5 Roque Fernandes e sua mulher Maria Fernandes foram pais dos gêmeos João e Maria, batizados em 5 de agosto de 1580 na vila de Aveiro, paróquia de São Miguel. De João foram padrinhos: Estêvão Pires Nobre e Branca Rodrigues; de Maria: André Lopes e Catarina Gonçalves. Conforme Livro nº 3 de batismos da paróquia de São Miguel (1580-1594), no Arquivo Distrital de Aveiro. Deveriam ser dos últimos filhos do casal. 6 IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Processo nº 3388, de Manuel Domingues, o tá. Microfilme nº 6160. melhor, falar o que o Tribunal do Santo Ofício queria ouvir: a confirmação de denúncias contra o réu. Assim apresentou extenso rol de inimigos. Ao término de sua defesa, demonstrou parentescos que provariam ser cristão-velho: Provará que o Réu é um homem cristão-velho natural da vila de Aveiro, de bons e honrados parentes que tem dous sobrinhos na Companhia de Jesus, e um primo frade de Santo Antônio capucho, e outros muitos parentes clérigos e religiosos, bom cristão temente a Deus e a seus santos, e como tal nunca disse nem falou palavras que lhe impõe nem dele tal se pode presumir. Foi finalmente inocentado, em 11 de novembro de 1651, em Coimbra, decisão ratificada pela Mesa do Conselho Geral, em Lisboa, em 23 do mesmo mês, e posto em liberdade em 1º de dezembro seguinte. Manuel Domingues foi casado com ISABEL REBELO, declarada cristã-velha. Foram pais, que se descobriu, de: III- MARIA DA SILVA, nasceu por volta de 1635 na vila de Aveiro. Casou-se com JOÃO DA ROCHA, natural da vila de Vagos. Foram pais, que se descobriu, de: IV- FRANCISCO DA ROCHA, nasceu por volta de 1653 na vila de Aveiro. A seu pedido, em 18 de julho de 1695, na cidade de Coimbra, passou-se certidão a seu favor, para que seu filho (não nomeado no processo de Manuel Domingues), de 15 anos de idade, mostrasse que era limpo de sangue e entrasse no noviciado, na religião da Santíssima Trindade da Corte de Lisboa. Francisco da Rocha era morador na cidade de Lisboa, natural da vila de Aveiro, filho de João da Rocha, natural da vila de Vagos e de sua legítima mulher Maria da Silva, natural da vila de Aveiro, todos do bispado de Coimbra. § 2º II- ISABEL JOÃO DE CASTRO, filha de Domingos João, o tá, do § 1º nº I. Nasceu na vila de Aveiro, tendo sido batizada em 23 de novembro de 1591 na paróquia de São Miguel, conforme segue: Arquivo Distrital de Aveiro. Livro nº 3 de batismos da paróquia de São Miguel da vila de Aveiro (1580-1594), fls. 160: Isabel Aos 23 de novembro ano acima [corria o ano de 1591] batizou o Padre Gaspar de Couros a Isabel filha de Domingos João e de sua mulher Antônia Fernandes da rua Nova foi padrinho Pedro Vieira ourives e comadre Catarina André filha que foi de André Fernandes da mesma rua. Gaspar de Couros Camelo Isabel João de Castro casou-se com ANTÔNIO ANDRÉ, o Parrono.7 O nome ou sobrenome, ou quiçá apelido, André, é por demais vulgar em Aveiro: à mesma época foram identificados mais de cinco com o nome composto Antônio André! O marido de Isabel João era natural da vila de Aveiro, onde serviu o ofício de tanoeiro e morava no pelourinho da citada vila (em outro local constou ser morador na rua da Rainha), já falecido em 1675, filho de João Pires e de Maria Dias. Foram pais, que se conseguiu descobrir, de: 1 (III)- D. SEBASTIANA DA SILVA, que segue no § 7. 7 Parrono designava o espalhador de boatos, mexeriqueiro. 2 (III)- CÔNEGO PEDRO DA SILVA E CASTRO, que segue. 3 (III)- PADRE DOMINGOS DIAS, da Companhia de Jesus. 4 (III)- MANUEL DIAS DA SILVA, que segue no § 3º. III- CÔNEGO PEDRO DA SILVA E CASTRO, natural da vila de Aveiro, onde nasceu cerca de 1610. Habilitou-se ao Santo Ofício com o propósito de se tornar comissário, no ano de 1675.8 Era cônego dos graduados da Santa Sé de Leiria, havia 6 anos e bacharel formado nos Sagrados Cânones. Fora padre da Companhia de Jesus. Foi julgado não apto, ao Santo Ofício, em maio de 1676, por ter pouca capacidade, ser homem sem talento e de mexericos, e embrulhador. Havia ainda murmuração de que tinha uma ama em sua casa, a qual tivera um parto e suspeitava-se que era do dito cônego. § 3º III- CAPITÃO MANUEL DIAS DA SILVA, o Bixira, filho de Isabel João de Castro, do § 2º nº II.9 Nasceu cerca de 1615 na vila de Aveiro. Pelo apelido Corrêa que assinavam alguns descendentes seus, e porque não se encontram entre os parentes de sua mulher, em São Paulo, onde foram numerosos, depreende-se que o apelido Corrêa provinha pelo lado de Manuel Dias da Silva. Passou para o Brasil por volta de 1650, ano em que provavelmente se casou, certamente na vila de São Paulo, com CATARINA RODRIGUES DE MEDEIROS, nascida cerca de 1630, filha do Capitão João Pires e de sua mulher Mécia Rodrigues, todos naturais da vila de São Paulo. Mécia Rodrigues aí faleceu em 13 de outubro de 1618, tendo sido sepultada no mesmo jazigo de seu marido João Pires.10 Neta paterna de Salvador Pires, que faleceu em 1592 em São Paulo, e de sua segunda mulher Mécia Fernandes. Neta materna de Garcia Rodrigues, juiz ordinário da vila de São Paulo em 1594 e de sua mulher Catarina Dias, esta sobrinha do Reverendíssimo Dr. Manuel de Chaves. A família de Catarina de Medeiros ligava-se às famílias mais proeminentes da capitania: aos Medeiros e Chaves de São Vicente e aos Pires e Garcias Velhos de São Paulo. João Pires foi nobre cidadão de São Paulo, onde faleceu em 8 de julho de 1657, tendo sido sepultado na igreja do Colégio dos jesuítas, em jazigo próprio, por ter sido protetor dos mesmos, após a expulsão deles da vila de São Paulo.11 Havia recebido uma sesmaria de uma légua de testada até o rio Maquerobi, com o seu sertão para a serra de Juqueri.12 Estas terras ficavam na atual cidade de Mairiporã, fronteiriça a São Paulo. Pouco antes de morrer, foi ouvido como testemunha em 5 de abril de 1657 na vila de São Paulo.13 Foi qualificado como João Pires, o velho, morador nesta vila, de mais ou menos 70 e tantos anos. 8 IAN/TT. Habilitação ao Santo Ofício, de Pedro da Silva. Maço 7 nº 200. 9 Bixira parece ser palavra de procedência indígena, cujo significado não é encontrado nos dicionários tupi e guarani. 10 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Op. cit.. Vol. II, p. 94. LEME, Luís Gonzaga da Silva. Genealogia Paulistana. São Paulo: Duprat & Companhia, 1905. Vol. II: Pires, p. 159. 11 Conforme Silva Leme lembrou em sua obra, ao tempo da demolição do velho templo do colégio dos jesuítas, em 1890 ou 1891, os ossos dos que foram sepultados em passadas eras nessa igreja, foram exumados na presença de uma comissão nomeada pelo governo de acordo com a autoridade diocesana, da qual fez parte o citado autor, e foram trasladados para o santuário do Sagrado Coração de Maria em São Paulo. 12 Cartório da Provedoria da Fazenda Real de São Paulo. Livro de sesmarias nº 3, ano de 1618, fls. 214. Apud LEME, Pedro Taques de Almeida Pais. Op. cit., volume II, p. 89. 13 Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. Processo de genere de Cristóvão de Aguiar Girão, ano de 1657. Manuel Dias da Silva foi testemunha do processo de habilitação de genere et moribus do Padre Cosme Gonçalves Moreira.14 Ouvido em 30 de setembro de 1671 na vila de São Paulo, declarou ter mais ou menos 56 anos de idade, e que era morador na vila de São Paulo havia 20 e tantos anos. No ano de 1668, por ocasião do inventário de sua sogra Mécia Rodrigues, estava ausente no Reino de Portugal.15 De volta ao Brasil, moveu ação cível contra seu cunhado João Pires Rodrigues, curador dos órfãos filhos de Antônio Pires.16 O motivo era a negra (assim era denominado o gentio do Brasil) Rufina, que seu sogro lhe havia dado em vida e que, por ocasião do inventário de sua sogra, ausente em Portugal, a mesma negra foi destinada aos citados órfãos. João Pires refutou, alegando que os órfãos não deviam cousa alguma ao suplicante, e que era público que o pai e mãe dele réu consentiram, em sua vida, que a negra estivesse com o suplicante, o qual foi dotado quando casara com sua irmã, e não quis entrar na colação com os mais herdeiros quando faleceu seu pai João Pires, por ser mais abastado que os outros. O Capitão Manuel Dias da Silva protestou, agora em abril de 1671, alegando que seu sogro sabia o nome que os vaqueiros punham nas mais de 300 vacas do curral e, portanto, saberia o nome das peças de seu serviço, que não passariam de 200, com quem assistia a maior parte do ano. João Pires Rodrigues fez nova réplica, afirmando que seu pai tivera mais de 600 peças do gentio do Brasil, entre grandes e pequenas, de que o autor levou em dote boa quantidade delas, e que seria perfeitamente compreensível que seu pai não conhecesse algumas, por serem muitas e também por ter sítios em lugares diferentes, como foram da outra banda do rio desta vila, e nos matos e serras, em Caucaia e em Maquiroui. Não se conhece a conclusão do processo, porque o desfecho está inutilizado. Fica, entretanto, registrado o grande número de índios administrados que trabalhavam em fazendas do Capitão João Pires, bem como o grande número de animais que possuía. Conforme Pedro Taques, Manuel Dias da Silva foi bandeirante, tendo penetrado o interior da América espanhola, da Província do Paraguai até a cidade de Santa Fé (atualmente na Bolívia), recolhendo-se rico e abundante de prata. Teve em São Paulo grossa fazenda de cultura com excessivas colheitas de trigo e grande criação de ovelhas e gados vacuns. Manuel Dias da Silva fez testamento em 15 de janeiro de 1677 na vila de São Paulo, tendo declarado naturalidade e filiação.17 Manifestou ter recebido tudo que lhe coubera de sua legítima, referindo-se à herança dos pais, que lhe enviara seu irmão o Cônego Pedro da Silva. Pediu para seu corpo ser sepultado na igreja do Colégio dos Jesuítas da vila de São Paulo, e que fossem seus testamenteiros a mulher Catarina Rodrigues, os filhos João Dias da Silva e Manuel Dias da Silva e o cunhado o Capitão Francisco Nunes de Siqueira. Declarou que tivera 8 filhos, entre os quais Antônio da Silva de Medeiros e Alexandre da Silva Corrêa, que estavam estudando em Coimbra. Seu testamento recebeu o “cumpra-se” em 6 de março de 1677, data que pode ser considerada a de seu óbito. Por sua morte fez-se auto de inventário em 22 do mesmo mês, no sítio da banda do além (ou seja, do outro lado do rio Tietê, considerando como referência a igreja da Sé, atual catedral) de São Paulo. Entre outros, foram avaliados os seguintes bens: umas casas na vila de dois lanços com seu corredor e quintal (avaliadas em 70$000), um sítio na banda do além, com um lanço de casas de taipa de pilão, cobertas de telha, 14 Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processo nº 1-1-18. 15 Inventários e Testamentos. Publicação oficial do Arquivo Público do Estado de São Paulo. Volume XVII, pp. 113-158. 16 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Autos Cíveis. Nº de ordem CO 488. Partes: Autor: Manuel Dias da Silva. Réu: João Pires Rodrigues. 17 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Inventários não publicados. Nº de ordem: CO 492, de Manuel Dias da Silva, ano de 1677. assoalhada de tábuas, com algodoais e roças de mandioca, animais e muitas castas de arvoredos (avaliado em 150$000), prata, estanho, um negro escravo, 71 vacas com crias, 42 vacas soltas, 7 novilhas, 14 novilhos de 2 anos, 3 novilhos de 3 anos e 17 novilhos de 2 anos, além de 28 peças de gente forra (índios administrados, que não entravam na avaliação). O orçamento resultou em um monte mor de 631$120. Abatidas as dívidas (71$440), o monte menor líquido foi de 559$680. Tiveram os seguintes filhos: 1 (IV)- CÔNEGO ANTÔNIO DA SILVA DE MEDEIROS, nascido cerca de 1653 na vila de São Paulo. Foi estudante da Universidade de Coimbra, onde ingressou juntamente com seu irmão Alexandre da Silva Corrêa (que segue). Conforme constou do Arquivo da Universidade de Coimbra, fez matrículas em Instituta em 25 de outubro de 1675, matrícula em Cânones em 14 de outubro de 1676, e seguidamente em Cânones em 15 de outubro de 1677, 15 de outubro de 1678, 15 de outubro de 1679, 15 de outubro de 1680 e finalmente em 1º de outubro de 1681. Realizou exame em Cânones, tornando-se bacharel em 27 de junho de 1680, tendo-se formado em 8 de junho de 1682.18 Faleceu cônego da Sé de Leiria. Segundo o historiador Pedro Taques, ocupou o cargo deixado pelo seu tio, o Reverendíssimo Cônego Pedro da Silva e Castro. 2 (IV)- MÉCIA DA SILVA E CASTRO, que segue no § 4º. 3 (IV)- CONSELHEIRO DR. ALEXANDRE DA SILVA CORRÊA, que segue. 4 (IV)- MANUEL DIAS DA SILVA, nascido cerca de 1657, certamente em São Paulo. No ano de 1677 estava ausente no sertão, fugido, tendo levado vários pertences da fazenda de seu pai, que o desculpou em seu testamento: “Eu lhe perdôo, e peço a Deus também lhe perdoe, e lhe deixo a minha bênção.” 5 (IV)- JOÃO DIAS DA SILVA, que segue no § 5º. 6 (IV)- BRIGADEIRO DOMINGOS DIAS DA SILVA, que segue no § 6º. 7 (IV)- SEBASTIANA DA SILVA, nascida cerca de 1664, certamente na vila de São Paulo. Casou-se em 1704 na vila de Santana de Parnaíba com o CAPITÃO JOÃO PEDROSO XAVIER, sem geração.19 Ele era viúvo de Ana Bueno, com quem havia se casado em 1692 na mesma vila, e onde ele veio a falecer em 14 de agosto de 1707. Por sua morte fez-se auto de inventário em 27 de fevereiro de 1708 na vila de Santana de Parnaíba, no sítio do defunto, em Ibituruna.20 O monte mor avaliado foi uma pequena fortuna: 11:609$100 (onze contos, seiscentos e nove mil e cem réis); era senhor de 20 escravos negros e 35 peças da administração (índios). João Pedroso era filho do Capitão Francisco Pedroso Xavier, o herói de Vila Rica, porque destruiu, no ano de 1676, uma missão jesuítica espanhola, falecido em 9 de janeiro de 1680 e de sua mulher Maria Cardoso; neto paterno de João Pedroso de Morais, o terror dos índios (pela sua audácia na exploração do sertão e conquista de índios bravios) e de sua primeira mulher Maria de Lima, falecida em 1627; neto materno de Cristóvão da Cunha de Unhate e de sua mulher (casados cerca de 1625, certamente na vila de São Paulo) Mécia Vaz Cardoso, senhores de terras na freguesia de Guarulhos, vila de São Paulo. 8 (IV)- ISABEL DA SILVA, batizada em 20 de março de 1666 na Sé de São Paulo (fls. 44). Sem mais notícias. 18 Informação escrita em 27 de dezembro de 1976 pelo diretor do Arquivo da Universidade de Coimbra, de então, a quem agradeço, o qual me enviou, também, o curriculum de Alexandre da Silva Corrêa. 19 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit. Vol. VII: Morais, p. 148. 20 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nº de ordem CO 501, inventário do Capitão João Pedroso Xavier. IV- CONSELHEIRO DR. ALEXANDRE DA SILVA CORRÊA, nascido cerca de 1654 na vila de São Paulo. Passou para Portugal, juntamente com seu irmão Antônio da Silva de Medeiros, como estudante da Universidade de Coimbra. Fez matrícula em Instituta e em Cânones nas mesmas datas que seu irmão. Prosseguiu na carreira acadêmica, tornando-se licenciado em Artes em 11 de junho de 1678. Exames em Leis: Bacharelado (22 de maio de 1680), Suficiência (4 de julho de 1682), Aprovação e Repetição (8 de julho de 1682), Exame Privado e Licenciatura (26 de julho de 1682) e Doutoramento (29 de julho de 1682). Conforme constou de uma mercê real, em razão dos seus serviços ao Reino de Portugal, trespassou a honraria do hábito da Ordem de Cristo, com 120$000 (cento e vinte mil réis) de tença anual a seu sobrinho José Francisco de Macedo Horta e Sampaio (que segue no § 7º nº V).21 Dessa mercê verifica-se o que segue. Foi passado alvará em 13 de agosto de 1712, confirmando a mercê passada ao Desembargador Alexandre da Silva Corrêa por carta de 20 de maio do mesmo ano, de um lugar de conselheiro de Letras do Conselho Ultramarino, para o que receberia ordenado. Isso se devia aos serviços feitos nas Letras por espaço de mais de 33 anos, desde 1682 até 26 de abril de 1716 nos lugares de Lente da Universidade de Coimbra, Desembargador da Relação do Porto e da Casa da Suplicação e dos Agravos dela, e no de Conselheiro de Letras no Conselho Ultramarino. Em outubro de 1682 tomou o grau e capela de doutor na dita universidade e foi provido logo na substituição da cadeira de Código que ocupou e nos mais anos até o de 1692, e substituiu outras cadeiras de Instituta, Código e Três Livros no de 1693, e foi provido na propriedade da cadeira de Instituta que ocupou até o de 1695, em que sucedeu na sua substituição da cadeira de Código até o de 1698, em substituição a dos Três Livros do Código e no de 1699; foi provido por Sua Magestade que serviu até o de 1701, e dele para o de 1702; foi contado em toda a primeira Terça, fazendo com pontualidade as funções acadêmicas da Universidade no de 1701; tomou posse de um lugar de Desembargador do Porto entrando logo a serviço de Agravos até ser provido em um lugar de Desembargador da Casa da Suplicação em 4 de novembro de 1704, e em 24 de julho de 1706 tomou posse do lugar de Corregedor do Cível da Corte que serviu até julho de 1710, em que tomou outrossim posse de um lugar de Agravos que ocupou até fim de junho de 1712; e no primeiro de julho dele tomou posse de um lugar do Conselho de Letras do Conselho Ultramarino, em que continuava em satisfação de tudo: Houve El-Rei fazer mercê a José Francisco de Macedo Horta e Sampaio, sobrinho do dito Desembargador Alexandre da Silva Corrêa de 120 mil réis de tença cada ano, em sua vida somente para os ter com o hábito da Ordem de Cristo. Sobre ele escreveu Pedro Taques: Alexandre Corrêa da Silva tomou em Coimbra o capelo e foi lente muitos anos. Naquela república de letras não esquecerá o nome deste seu benemérito filho, porque ditando uma postila à lei Galas, até agora é aplaudida sem alteração, e é citado muitas vezes o preceptor Corrêa. Das cadeiras passou para os tribunais de Lisboa; e no da casa de suplicação o achamos no ano de 1709, corregedor do cível da corte. Foi conselheiro do ultramar, e falecendo em 14 de novembro de 1726 o conde de São Vicente, presidente deste tribunal, lhe substituiu o Conselheiro Alexandre Corrêa da Silva até o seu falecimento. As suas grandes letras e virtudes (foi de vida exemplar) o fizeram digno da real estimação do rei Dom João V, como abaixo veremos. Foi dotado de uma grande esfera e claridade de engenho, o que adornava com ações de um ânimo cheio de sossego e tranqüilidade. Tendo feitos grandes serviços, nunca pediu mercê alguma para si ou para outrem. 21 Instituto dos Arquivos Nacionais/ Torre do Tombo. Registro Geral de Mercês. Reinado de D. João V, livro 4, fls. 261 e 261v. Microfilme nº 2419. ......... Chegou a ser tão isento, que nem ainda para seus irmãos, moradores de São Paulo, ocupou jamais a lembrança, sendo eles dignos de serem premiados por seus grandes serviços, como foram os que fez o capitão mor e brigadeiro Domingos Dias da Silva e João Dias da Silva. Foi cordialmente devoto do inefável mistério da Conceição da Senhora em cuja reverência ouvia missa todos os dias com silenciosa religião e devoção católica, todo o tempo que durava este inocente sacrifício. Nunca concebeu paixão, ou menor alteração entre o confuso tropel de pretendentes que o procuravam, de tal sorte, que quando saía da casa para a do conselho lhe faziam parar a carruagem, pegando-lhe nos cordões, porque a sua sege nunca passou desta categoria, e lhe introduziam memoriais, que recebia com afabilidade e compaixão; e por isso, quando aparecia dentro do tribunal, ia carregado de papéis, que os acomodava dentro da pobre beca (nunca ela passou de um crepe vulgar), e dela os ia sacando para os examinar em utilidade dos pretendentes. Dos rendimentos, que recebia anualmente, tinha feito aplicação em obras pias, que executava o pároco da freguesia dos Anjos, seu vizinho, e por amigo confessor e diretor, e só reservava, com limitação, o que bastava para sua sustentação, e de um criado, e uma ama velha, que era a cozinheira. Rezava de joelhos todos os dias das duas horas da tarde para diante o ofício divino, com tanta devoção que, estando neste santo exercício, cerrada a porta do seu quarto interior, não dava assenso ao maior tropel de carruagens, que chegavam à porta da rua. Foi caso muito divulgado na Corte de Lisboa que, chegando o Conde de São Vicente, de quem já fizemos menção, à sua casa, e subindo as escadas dela para falar ao Conselheiro Alexandre Corrêa da Silva, lhe disse o criado que seu amo estava rezando o ofício divino, e enquanto durava a sua devoção não falava a pessoa alguma. Foi este cavalheiro tão benigno, que se dignou esperar que o conselheiro acabasse o seu devoto exercício, e quando ele, tendo concluído este religioso costume, foi buscar ao conde, foi já pedindo-lhe perdão de não acudir prontamente, e lhe disse estas palavras com muita humildade e reverência: "Exmº senhor, quem está falando com o Criador não se deve abstrair para falar com a criatura". E o benigno conde, acreditando-se também bom católico, lhe não estanhou a demora, antes louvando-lhe tão piedoso emprego contou muitas vezes este lance a outros cavalheiros, aplaudindo a exemplar vida e virtudes do mesmo Alexandre Corrêa da Silva. Em todo o tempo deste o em que vestiu a toga, que foram muitos anos, pois acabou em avançada idade, tendo nascido em São Paulo no de 1658, jamais vestiu seda, sendo a sua maior gala o crepe; e sendo tão pobre esta droga, assim mesmo trazia a beca tão velha, que lhe divisavam os fios do pano, e algumas pessoas de muita autoridade, bastando por todas o Exmº Marquês de Alorna, D. Pedro de Almeida, que, sendo conde de Assumar, governou a capitania de São Paulo até o ano de 1721, nos comunicaram na Corte de Lisboa, nos anos de 1755 e 1757, que a beca do Conselheiro Alexandre Corrêa da Silva sempre andava remendada; e para desculpar-se (contra os reparos dos que lhe podiam acusar de menos asseado, e decência de um ministro tão caracterizado) costumava dizer, que queria menos adornado o corpo pelos vestidos, do que a sua alma pelas esmolas. Em um dia do mês que ignoramos, do ano de 1728, contando de idade 70 mais ou menos, recolhendo-se do conselho ultramarino, logo que chegou à sua casa, mandou chamar a seu pároco, amigo, confessor e diretor da freguesia dos Anjos, que vindo prontamente, disse que era chegado já o tempo de ir dar conta no tribunal divino, pois que ao do ultramar não voltaria mais no serviço do rei da terra; que logo lhe entregou, pedindo-lhe que no dia seguinte se dissessem as missas da freguesia por sua tenção com um ofício de defuntos de três noturnos, e cantochão, o que se repetiria também do mesmo modo no segundo e terceiro dia, o qual havia de ser o de sua morte. Instou-lhe o reverendo pároco persuadindo-o, que da perfeita saúde com que se achava sem novidade alguma, que lhe ocupasse o sossego e tranqüilidade de espírito, que gozava, se não devia esperar o fim da vida em tão breve termo como o de três dias. Rogou-lhe com eficácia, que se cumprisse que lhe pedia, pois tinha já chegado o fim de seus dias; deitou-se na cama e dispondo-se como bom católico confessou-se e recebeu o sagrado viático (prostrado já das forças no decurso de 24 horas), e no terceiro dia o sacramento da Extrema Unção, com muita ternura, e atos de amor de Deus, aparelhando-se para aparecer no supremo tribunal, tendo feito o seu testamento. Acabou a vida no terceiro dia com grandes demonstrações de verdadeiro arrependimento. O Senhor D. João V, que na tarde do mesmo dia, em que foi chamado o pároco da freguesia dos Anjos, teve notícia do que havia disposto por sua alma o desembargador Alexandre Corrêa, e cheio de paternal clemência, mandou que os médicos da sua real câmara restaurassem a vida à custa de todo o dispêndio; porém os médicos reconheceram pela debilidade do pulso que com efeito que a doença era mortal. Disto mesmo se deu conta, a sua Magestade, e depois, também se lhe deu conta de sua morte, e suma pobreza em que acabara, como constava já pela abertura do testamento que tinha feito, no qual pedia pelo amor de Deus ao provedor da santa casa de Misericórdia que lhe mandasse enterrar o cadáver, pois nada possuía, porque as casas eram alheias, em que vivia por aluguel, e sem móveis de valor, a sege velha, e sem préstimo para uso dela. Então a real grandeza daquele príncipe fazendo vir à sua presença este testamento quis dar a conhecer à sua corte, e reino o como sabia honrar a um ministro tão adornado de letras, e virtudes, que havia consumido os anos em seu atual serviço e nos de El-Rei seu pai. Por determinação régia foi o cadáver depositado na igreja paroquial dos Anjos, de onde foi conduzido para o jazigo, que lhe destinou a eleição do mesmo monarca, que foi o em que descansavam as cinzas daquele benemérito ministro o Guerreiros, passando o corpo por entre duas alas de tochas, que estavam formadas da porta da igreja dos Anjos até as do templo onde se lhe deu sepultura, acreditando-se nesta extraordinária despesa o paternal amor de Sua Magestade. Por ordem do reverendo pároco dos Anjos, seu antigo confessor e diretor, foi o cadáver coberto de flores, levando nas mãos um palma como insígnia da pureza, que soube conservar aquele corpo nos muitos anos que teve de vida, e o não deixou manchar do comum estrago da natureza pelo ardor e estímulos da carne. Declarou no seu testamento que era natural da cidade de São Paulo, sem herdeiro algum ascendente, ou descendente. Deixou os seus serviços todos a seu primo co-irmão Roque Pereira de Macedo, morgado do Verride, em remuneração dos benefícios e amor que lhe era devedor em todo o tempo que residiu em Coimbra. § 4º IV- 22 MÉCIA DA SILVA E CASTRO, filha de Manuel Dias da Silva, do § 3º nº III. Batizada em 15 de julho de 1654 na Sé de São Paulo (fls. 168), onde certamente se casou, cerca de 1678, com o CAPITÃO ESTÊVÃO DA CUNHA DE ABREU, batizado em 6 de novembro de 1641 na Sé de São Paulo (fls. 73), em cuja vila foi morador e serviu a governança, além de ter sido irmão da Irmandade de São Miguel e Almas, na qual ingressou no ano de 1704. O Capitão Estêvão era filho do português Antônio da Cunha de Abreu, batizado em 22 de março de 1605 na igreja matriz da freguesia de Santo André de Telões, concelho de Amarante, distrito do Porto, e de sua mulher (casados em 7 de julho de 1633 na Sé de São Paulo) Isabel da Silva.22 Neto paterno de Gaspar da Cunha, falecido em 29 de janeiro de 1632 em Telões e de sua mulher Ana Teixeira, senhora da Devesa das Corvas, falecida em 5 de outubro de 1654 em Telões. Neto materno do francês BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral. Origem da família Cunha de Abreu em São Paulo. In Revista da ASBRAP nº 3, pp. 185-194. São Paulo: Rumograf, 1996. Cláudio Furquim, nascido por volta de 1585 na cidade de Nanci, ducado e província de Lorraine, morador na vila de São Paulo, e de sua primeira mulher Maria da Silva (da família Leme), falecida em 1616, com testamento, na vila de São Paulo.23 Estêvão da Cunha faleceu em 8 de março de 1726 na cidade de São Paulo. Mécia da Silva fez testamento em 10 de dezembro de 1719 na cidade de São Paulo, pedindo para seu corpo ser sepultado na Igreja do Colégio de Santo Inácio; esse instrumento recebeu o “cumpra-se” em 21 de janeiro de 1720. Estevão da Cunha fez testamento em 20 de fevereiro de 1720 na cidade de São Paulo, que recebeu o “cumprase” em 6 de março de 1726. Por morte do casal se fez auto de inventário em 29 de maio de 1726 na cidade de São Paulo.24 A descendência do casal Estêvão da Cunha- Mécia da Silva, foi estudada por Pedro Taques, Silva Leme, e parcialmente por Frederico de Barros Brotero, do qual último se serviu o Dr. Maia e Castro em “Carvalhos de Basto”.25 Filhos de Mécia da Silva e Castro e de Estêvão da Cunha de Abreu: 1 (V)- CAPITÃO PEDRO DIAS DA SILVA. Morador em São Paulo, onde ocupou cargos públicos. Sem mais notícias. 2 (V)- SARGENTO MOR CLÁUDIO FURQUIM DE ABREU, nascido cerca de 1684 na vila de São Paulo, onde se casou cerca de 1706 com D. LEONOR DE SIQUEIRA E ALBUQUERQUE, nascida cerca de 1691 na vila de São Paulo, filha do Capitão Francisco de Camargo Santa Maria, natural de São Paulo, onde foi batizado em 20 de agosto de 1653 e onde faleceu em 5 de outubro de 1714 e de sua mulher (casados cerca de 1676) Maria de Siqueira e Albuquerque, batizada em 21 de novembro de 1655 na Sé de São Paulo. Francisco de Camargo serviu os honrosos cargos da república, entre os quais o de juiz ordinário no ano de 1696; foi irmão e provedor da Irmandade de São Miguel e Almas. D. Leonor de Siqueira e Albuquerque era neta paterna do Capitão Fernão de Camargo, o tigre, nascido cerca de 1600 em São Paulo, onde foi juiz ordinário e onde faleceu em 29 de dezembro de 1678, bandeirante e principal chefe do partido dos Camargos contra os Pires, e de sua mulher (casado cerca de 1630) Mariana do Prado; neta materna do Capitão Duarte Pacheco de Albuquerque, nascido cerca de 1620 em Portugal, e de sua mulher (casados cerca de 1650, certamente em São Paulo) D. Simoa de Siqueira, nascida cerca de 1625 em São Paulo, irmã inteira do Licenciado Padre Mateus Nunes de Siqueira, vigário da vila de São Paulo, instituidor (juntamente com sua mãe Maria Nunes de Siqueira) da capela do Senhor Bom Jesus, em área interna da igreja matriz de São Paulo, e irmã inteira, também, do Padre Jacinto Nunes, fundador da ermida de Nossa Senhora da Penha de França, que deu origem ao bairro da Penha, nos limites da cidade de São Paulo. Duarte Pacheco de Albuquerque foi inventariado na vila de São Paulo, por sua morte, no 23 BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral. Franceses em São Paulo: séculos XVI-XVIII. In Revista da ASBRAP nº 15, p. 252. São Paulo: Gráfica CART, 2009. 24 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nº de ordem: CO 722. 25 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Op. cit., vol. II, p. 101; LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., vol. VI: Furquins, p. 238; BROTERO, Frederico de Barros. Descendentes do Ouvidor Lourenço de Almeida Prado. São Paulo: Escolas Profissionais Salesianas, 1939, 500 p. FREITAS, Eugénio de Andréa da Cunha e; FERNANDES, Maurício Antonino; ANDRADE, Nuno Marramaque Ferraz de; CASTRO, Francisco José de Abreu Maia e- Carvalhos de Basto (A Descendência de Martim Pires Carvalho, Cavaleiro de Basto), iniciado em 1977, Braga: Oficinas Gráficas de Barbosa & Xavier, Lda. Vol. VI, § 101 nº XI. ano de 1677; havia recebido patente, em 20 de março de 1667, do Governador do Rio de Janeiro, D. Pedro Mascarenhas, de capitão de infantaria paga da companhia do presídio do Rio de Janeiro, na qual carta patente26, constou haver servido a Sua Magestade nas fronteiras do Alentejo no Reino de Portugal, onde ocupou o posto de alferes e ter passado à Bahia na armada real no ano de 1647 que viera com o intento de desalojar o invasor holandês, que tinha ocupado a Ilha de Itaparica, nas quais empreitadas sempre houve como valente soldado; sua patente foi depois confirmada, em 17 de setembro de 1668, da cidade de Salvador da Bahia pelo Governador do Estado do Brasil Alexandre de Souza Freire.27 Cláudio Furquim foi nobre cidadão de São Paulo, onde ocupou cargos do governo. Recebeu patente, em 27 de novembro de 1711, de sargento mor do regimento de cavalaria da ordenança de São Paulo, que o governador mandara formar na Capitania de São Paulo.28 D. Leonor de Siqueira fez testamento em 14 de dezembro de 1762 na cidade de São Paulo, tendo pedido para que seu corpo fosse sepultado na capela da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo, amortalhada no hábito da mesma religião.29 Seu testamento recebeu o “cumpra-se” em 12 de julho de 1787 na cidade de São Paulo. Entre outros bens, foram avaliadas três moradas de casas na cidade de São Paulo, um sítio, onde morava, no Tietê, e outro sítio nos matos de Tremembé, além de 16 escravos. Cláudio Furquim e Leonor de Siqueira deixaram grande descendência. Foi seu trineto JOÃO DE ALMEIDA PRADO (1824-1912), grande estudioso de genealogia. Em seu túmulo, um dos mais interessantes do cemitério municipal de Piracicaba, fez-se sua estátua em tamanho natural, sentado, portando um livro genealógico com o título Miguel de Almeida Prado (o primeiro a assinar Almeida Prado) e, no dorso: A Família Cunha de Abreu, com um brasão esquartelado das famílias Cunha, Abreu, Carvalho e Coutinho. 3 (V)- TENENTE CORONEL ANTÔNIO DA CUNHA DE ABREU. Nobre cidadão de São Paulo. Foi regente das Minas de Paranapanema; jaz na capela mor da matriz da vila de Atibaia. Ali casou-se com MARIA FRANCO DE OLIVEIRA, com geração. Maria Franco de Oliveira faleceu em 1761 em Mairiporã, filha do Capitão João de Camargo Pimentel (falecido em 1717) e de sua mulher Maria Franco de Oliveira (falecida em 1726).30 4 (V)- ISABEL, batizada em 20 de janeiro de 1687 (fls. 224) na Sé de São Paulo. Sem mais notícias. 5 (V)- CATARINA DA SILVA. Casou-se com JOSÉ DE LEMOS DE MORAIS, com geração. José de Lemos era viúvo de Luzia Bueno, com quem se casou em 1693 em Santana de Parnaíba. Ele era filho de outro José de Lemos e Morais e de Leonor Domingues.31 Neto paterno de Jerônimo de Lemos e Morais e de sua mulher Leonor Domingues de Camargo. 26 Arquivo Nacional [do Rio de Janeiro], códice 61, volume 4, de 1660-1668, pág. 573 a 577. 27 Arquivo Nacional [do Rio de Janeiro], códice 61, volume 4, págs. 676 a 681. 28 Arquivo Público Mineiro. Livro nº 9 de Patentes, fls. 155v. 29 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Inventários. Nº de ordem: CO 601. 30 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., vol. I: Camargos, p. 322. BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral. Coutadas, alentejanos da Vila de Portel. In Revista DisLivro Histórica nº 1. Lisboa: DisLivro, 2008, p. 141. 31 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., vol. VII: Morais, p. 92. Por morte de Catarina da Silva fez-se auto de inventário em 19 de dezembro de 1724 na cidade de São Paulo. Foi declarante o viúvo, Capitão José de Lemos e Morais, que declarou que sua mulher faleceu em 15 de julho de 1723, com testamento.32 Fez testamento em 12 de julho de 1723 na cidade de São Paulo. Pediu que fossem testamenteiros o marido José de Lemos e Morais, e os irmãos Pedro Dias da Silva e Antônio da Cunha de Abreu. Pediu que seu corpo fosse sepultado no mosteiro de Santo Inácio, colégio desta cidade, na sepultura de sua mãe. Declarou ser natural da cidade de São Paulo, filha de Estêvão da Cunha de Abreu e de Mécia da Silva. Foram arrolados 11 negros em São Paulo e 4 em Cuiabá, além de 12 peças do gentio da terra (índios). Por morte de José de Lemos e Morais fez-se auto de inventário em 5 de novembro de 1744 na cidade de São Paulo.33 O monte mor foi avaliado em 920$865 (novecentos e vinte mil, oitocentos e sessenta e cinco réis), possuindo 8 escravos negros e 7 peças da administração (índios carijós). Havia feito testamento em 8 de junho de 1735, tendo pedido que fossem seus testamenteiros ao Reverendo Padre Mestre Matias Álvares, ao Padre José Álvares Torres e ao cunhado Estêvão da Cunha de Abreu. O “cumpra-se” ao testamento foi dado em 31 de outubro de 1737 em São Paulo. 6 (V)- CAPITÃO ESTÊVÃO DA CUNHA DE ABREU, batizado em 28 de junho de 1693 na Sé de São Paulo (fls. 258v). Faleceu nas Minas do Pilar. Casou-se com MARIA CARDOSO, com geração. Ela era filha de Estêvão Ortiz de Camargo e de sua mulher Maria Cardoso.34 Neta paterna de José Ortiz de Camargo e de sua mulher Isabel Ribeiro; neta materna do Capitão Francisco Pedroso Xavier e de sua mulher Maria Cardoso, já citados no § 3º nº 7 (IV). 7 (V)- MANUEL DIAS DE ABREU, batizado em 21 de janeiro de 1695 na Sé de São Paulo (fls. 272). Casou-se em 4 de fevereiro de 1720 na matriz da vila de Santana de Parnaíba (fls. 25) com sua parente ISABEL BUENO DA SILVA, batizada em 24 de novembro de 1703 em Santana de Parnaíba, filha de Antônio Bueno da Silva (batizado em 12 de dezembro de 1664 em Santana de Parnaíba) e de Bernarda Ortiz de Camargo, natural da vila de São Paulo. Pais, entre outros, do PADRE FIRMIANO DIAS XAVIER, batizado na Sé de São Paulo em 8 de outubro de 1730, e habilitado pelo Bispado de São Paulo, de genere et moribus em 1751.35 A Rainha D. Maria, em 6 de outubro de 1787 fez provisão, após consulta ao Tribunal da Mesa de Consciência e Ordens, do provimento de conezia vaga na Sé do Bispado de São Paulo. O Padre Firmiano pôs o barrete na cabeça em 5 de março de 1788 na Sé Catedral de São Paulo. 8 (V)- PADRE FRANCISCO DA CUNHA DE ABREU, batizado em 14 de fevereiro de 1697 na Sé de São Paulo (fls. 289), e habilitado de genere et moribus em 1715 na cidade do Rio de Janeiro.36 Achava-se nessa cidade porque intentava passar à Bahia a tomar o hábito da Companhia de Jesus, o que, por seus achaques, não conseguiu. Na cidade do Rio de Janeiro foram ouvidas testemunhas em maio de 1715, entre as quais o 32 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nº de ordem: CO 658, da série inventários do 1º Ofício. 33 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Nº de ordem: CO 658, da série inventários do 1º Ofício. 34 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., vol. VI: Furquins, p. 244. 35 Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processo nº 1-25-230. 36 Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Processo nº 1-5-85. Reverendo Padre Domingos da Silva Bueno, sacerdote diácono, natural da cidade de São Paulo, de 54 anos de idade, parente consangüíneo no 5º grau do habilitando (portanto, fora do grau proibido). Este padre disse que sabia que a mãe do habilitando era irmã do “Desembargador Alexandre da Silva cavaleiro do hábito segundo ouviu dizer, o qual também é irmão legítimo do Dr. Antônio da Silva, que morreu sendo cônego em Leiria”. Foi julgado cristão-velho. § 5º IV- CAPITÃO JOÃO DIAS DA SILVA (filho de Manuel Dias da Silva, do § 3º nº III). Conforme escreveu Pedro Taques, João Dias da Silva foi nobre cidadão de São Paulo, em cuja república teve grande parte e voto respeitoso nas matérias do governo civil ou do real serviço.37 Foi juiz dos órfãos por provisão de Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, pela qual tomou posse em 16 de julho de 1711, e estando servindo teve provisão régia para servir até haver proprietário.38 Nestes cargos e ocupações soube sempre acreditar aquele honroso conceito, estimação e aplauso que desfrutou dos governadores e capitães generais e ouvidores de São Paulo, desde o tempo de Artur de Sá e Meneses em 1698 até Rodrigo César de Meneses, em tempo de quem faleceu o provedor dos reais quintos João Dias da Silva, em 9 de abril de 1726. João Dias da Silva recebeu, em 20 de dezembro de 1718, passada em Lisboa, provisão do ofício de juiz dos órfãos da cidade de São Paulo, conforme segue:39 João Dias da Silva disseram ser filho de Manuel Dias da Silva e natural da vila de Aveiro. Houve Magestade por bem tendo respeito ao que se lhe representou por parte do Capitão o dito João Dias da Silva em razão de ser provido pelo governador da Capitania de São Paulo no ofício de juiz dos órfãos daquela cidade que serve há muitos anos com boa satisfação, cuidado, e inteireza fazendo inventários que estavam retardados de muitos de muitos anos pondo em arrecadação os bens dos órfãos para o que mandara fazer um cofre de 3 chaves que não havia e que todo o povo se tinha dado por muito satisfeito do bem que ele servia o dito ofício por cujos respeitos o conservara nele o Governador D. Brás Baltasar da Silveira em todo o tempo do seu governo, e que além do dito ofício tinha servido mais de Provedor dos Quintos e Procurador da Coroa com a mesma inteireza e bom procedimento sendo das principais pessoas daquela cidade e comarca e onde tinha servido os honrosos cargos da República com tanto zelo que entrando os franceses no Rio de Janeiro em o ano de 711 e tendo o suplicante esta notícia e que na praça de Santos se necessitava de gente foi em socorro dela com 11 homens à sua custa/ sem embargo de estar servindo os ditos ofícios/ assistindo na dita praça mais de um mês com grande gasto de sua fazenda pedindo-lhe mandasse passar provisão para continuar na serventia do dito ofício de juiz dos órfãos enquanto não mandasse o contrário e sendo visto seu requerimento; documentos que juntou e o que sobre ele respondeu o procurador da Coroa a que se deu vista: Há Magestade por bem fazer-lhe mercê da serventia do dito ofício de juiz dos órfãos da Capitania de São Paulo para continuar nela enquanto não entrar o proprietário com o qual haverá o 37 LEME, Pedro Taques de Almeida Pais. Op. cit., volume II, p. 98. 38 Cartório da câmara de São Paulo, livro de registros, ano de 1708, fls. 239. E Livro de vereanças, ano 1701, fls. 165. Apud LEME, Pedro Taques de Almeida Pais. Op. cit., volume II, p. 98. 39 IAN/TT. Registro Geral de Mercês. D. João V. Livro 10, fls. 256. ordenado que lhe tocar se o tiver, e todos os próis, e percalços que direitamente lhe pertencerem. De que lhe foi passada provisão a 20 de Dezembro de 718. Rei. João Dias da Silva foi casado duas vezes. A primeira com ISABEL DA SILVA, natural da vila de São Paulo.40 Filha do Capitão João Leite de Miranda, falecido em 1715 na vila de Santana de Parnaíba e de sua mulher Ana da Silva Falcão; neta paterna do português Antônio Rodrigues de Miranda e de sua mulher (casados cerca de 1617, provavelmente na vila de São Paulo) Potência Leite, nascida cerca de 1593 em São Paulo, onde faleceu em 17 de abril de 1685, tendo feito testamento; neta materna do português Francisco da Fonseca Falcão, natural da freguesia de Nossa Senhora das Neves, termo da cidade de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores, Portugal41, capitão mor da Capitania de São Vicente e cavaleiro da Ordem de Santiago, e de sua mulher (casados em 11 de maio de 1634 na Sé de São Paulo) Maria da Silva, natural da vila de São Paulo. Isabel da Silva faleceu em 9 de novembro de 1710 na vila de São Paulo, onde fizera testamento em 5 do mesmo mês e ano.42 Por sua morte fez-se auto de inventário em 13 de março de 1713 na cidade de São Paulo, sendo inventariante o viúvo, Capitão João Dias da Silva. Deixou 5 filhos. Entre outros bens foram avaliados 12 escravos negros, duas moradas de casas e dois sítios de terras; o monte mor avaliado foi de 3:431$840 (três contos, quatrocentos e trinta e um mil, oitocentos e quarenta réis). João Dias da Silva casou-se segunda vez, sem geração, com MARIANA BUENO DE OLIVEIRA, irmã inteira do Capitão Mor Manuel Bueno da Fonseca, cavaleiro da Ordem de Cristo, filhos de Diogo Bueno43 e de Maria de Oliveira (esta das famílias Feio e Fonseca de São Paulo). Diogo Bueno, por sua vez, era filho do Capitão Mor Amador Bueno, nascido cerca de 1592 na vila de São Paulo, onde foi homem principal e aclamado rei de São Paulo em 1641, por ocasião da restauração portuguesa, por adeptos dos castelhanos, e de sua mulher (casados cerca de 1608, certamente na vila de São Paulo) Bernarda Luís. Por morte do Capitão João Dias da Silva fez-se auto de inventário em 10 de novembro de 1727 na cidade de São Paulo.44 Foi declarante a viúva Mariana Bueno de Oliveira (que sabia assinar), no sítio do defunto, na paragem chamada Pacaembu. O monte mor foi avaliado em 4:298$011 (quatro contos, duzentos e noventa e oito mil, e onze réis), com 7 escravos. Havia feito testamento em 19 de março de 1726 na cidade de São Paulo, tendo pedido para serem seus testamenteiros à mulher Mariana Bueno de Oliveira, ao primo João de Camargo Pires e ao compadre, o Capitão Mor José de Góis e Morais. Pediu para seu corpo ser amortalhado no hábito de Nossa Senhora do Monte do Carmo, onde queria ser sepultado. Declarou ser natural da cidade de São Paulo, filho de Manuel Dias da Silva e de sua mulher Catarina Rodrigues de Medeiros, já defuntos. § 6º IV- BRIGADEIRO DOMINGOS DIAS DA SILVA (filho de Manuel Dias da Silva, do § 3º nº III). Nasceu cerca de 1661 na vila de São Paulo, onde se casou em 12 de fevereiro de 1684, 40 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., vol. III: Prados, p. 94. 41 RODRIGUES, Rodrigo. Genealogias de São Miguel e Santa Maria. Lisboa: DisLivro, 2007, 6 vol. Volume 2º, capítulo 51º: da descendência de Antônio Lopes Rebelo. p. 1061. 42 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Inventários do 1º Ofício. Nº de ordem: CO 615. 43 Diogo Bueno era proprietário de terras na paragem chamada Tapera Grande do Campo Largo, que em 1758 pertencia ao seu bisneto João Franco da Rocha, então freguesia de São João de Atibaia. 44 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Inventários do 1º Ofício. Nº de ordem: CO 733. na Sé, com LEONOR DE SIQUEIRA, com geração.45 Esta senhora era filha de Lourenço Castanho Taques, o moço, nascido cerca de 1630 na vila de São Paulo, onde faleceu em dezembro de 1708, e de sua mulher Maria de Araújo, batizada em 20 de agosto de 1645 na Sé de São Paulo, onde faleceu no ano de 1683; neta paterna de Lourenço Castanho Taques, o velho, nascido cerca de 1605 na vila de São Paulo, onde faleceu em 5 de março de 1671 e de sua mulher (casados em 24 de novembro de 1631 na Sé de São Paulo) Maria de Lara, natural da vila de São Paulo, onde faleceu em dezembro de 1670; neta materna do Capitão Luís Pedroso de Barros, natural da vila de São Paulo, e de sua mulher (casados em 8 de setembro de 1644 na cidade de Salvador da Bahia) Leonor de Siqueira, natural da Bahia.46 O paulista Luís Pedroso de Barros saiu, acompanhado de muitos índios seus, em socorro da Bahia, invadida pelos holandeses. Da Bahia passou para Pernambuco feito já capitão de Infantaria. Depois de casado, voltou para São Paulo com sua mulher. Por morte do Capitão Luís, no sertão dos Serranos, no Reino do Peru, se fez auto de inventário em 1662 na vila de Santana de Parnaíba. Leonor de Siqueira faleceu em 9 de dezembro de 1703 em São Paulo, tendo feito testamento em 26 de julho de 1699, nele pedindo para seu corpo ser sepultado na Igreja dos Jesuítas, da qual casa de Deus foi grande benemérita, tendo concorrido com grande parte de seu cabedal para se fazer de pedra e cal a torre da sua igreja. Conforme escreveu Pedro Taques, Domingos Dias da Silva... Estabeleceu-se na opulenta fazenda chamada Ajuá, com grandes culturas, e passando para as Minas Gerais, estando nelas muito opulento pela abundância do ouro que extraíam os seus escravos; chegando a notícia de que a cidade do Rio de Janeiro estava invadida pelo poder do inimigo francês, para socorrer a esta praça marchou Domingos Dias da Silva com um troço de soldados à sua custa, em cujo serviço gastou avultado cabedal; porque tanto na saída, como na residência e regresso, sustentou sempre com liberdade o troço todo; e então se lhe conferiu a patente de brigadeiro daquele exército por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, governador e capitão general do Rio de Janeiro e São Paulo, e deste cavaleiro recebeu distintas estimações, porque, como zeloso do real serviço, sabia conhecer os cavaleiros de São Paulo que nele se faziam distintos. O Brigadeiro Domingos Dias fez testamento em 17 de março de 1719, pedindo para serem seus testamenteiros a mulher Leonor de Siqueira, o irmão, Capitão João Dias da Silva e o filho Inácio Dias da Silva. Rogou que seu corpo fosse sepultado no convento de São Francisco, em São Paulo. Seu testamento, aprovado no dia seguinte, recebeu o “cumpra-se” em 22 de março de 1719 na cidade de São Paulo. Por sua morte fez-se auto de inventário em 15 de maio de 1725 na cidade de São Paulo, na paragem chamada Ajuá, onde tinha um sítio.47 Sua mulher, nomeada inventariante, declarou que seu marido faleceu em março de 1719 em São Paulo, com testamento. Além de terras em Ajuá, possuía outras no Tietê, sem definir melhor o local, um curral em Jaguari Aíba, com 180 cabeças de gado vacum e morada de casas na rua de São Bento, centro de São Paulo, com taipa de pilão. O monte mor avaliado foi de 7:576$250 (sete contos, quinhentos e setenta e seis mil, duzentos e cinqüenta réis). Foram julgados herdeiros, por ocasião do inventário: o MESTRE DE CAMPO MANUEL DIAS DA SILVA, de 40 anos de idade, solteiro, e o CAPITÃO INÁCIO DIAS DA SILVA, falecido três anos após o pai, casado com D. ANA MARIA DO AMARAL GURGEL, com três filhos órfãos (BENTO, de 6 anos, DOMINGOS, de 5 anos e INÁCIO, de 4 anos). Em seu testamento, o Brigadeiro Domingos Dias da Silva pediu a sua mulher que 45 LEME, Pedro Taques de Almeida Paes. Op. cit., vol. I, p. 133. 46 FONTES, José Ernesto de Meneses e Sousa de, e BOGACIOVAS, Marcelo Meira Amaral. Os Góes da Bahia. In Revista da ASBRAP nº 1, p. 82. São Paulo: Rumograf, 1994. 47 Arquivo Público do Estado de São Paulo. Série de inventários do 1º Ofício. Nº de ordem: CO 741. olhasse por Alexandre da Silva. Este era seu filho natural, de nome completo ALEXANDRE DA SILVA CORRÊA, que se casou, com dispensa matrimonial, no ano de 1728, na Vila Real do Senhor Bom Jesus do Cuiabá, com ROSA DE OLIVEIRA, filha natural do Coronel Antônio de Oliveira Leitão, já defunto, e de Josefa Corrêa.48 Ambos os contraentes eram naturais da cidade de São Paulo, e Alexandre residia havia 2 anos nas minas do Cuiabá. § 7º III- D. SEBASTIANA DA SILVA (filha de Isabel João de Castro, do § 2º nº II).49 Natural da vila de Aveiro. Foi a primeira mulher do DR. ANTÔNIO DE MACEDO PEREIRA, natural da freguesia de Verride, termo da vila de Montemor-o-velho, distrito de Coimbra. Antônio de Macedo Pereira foi cavaleiro professo da Ordem de Cristo, ouvidor de Avis, familiar do Santo Ofício, por carta passada em 9 de dezembro de 1675.50 Em 1697 era Corregedor do Crime da Relação do Porto. Era filho do Capitão Manuel Colaço de Macedo e de sua mulher Úrsula Coutinho, do mesmo lugar de Verride; neto paterno de Simão Pracero de Macedo e de sua amiga Maria Antônia de Sá, da vila de Aveiro; neto materno de Matias do Couto, natural do lugar da Ermida, da comarca de Esgueira e de sua mulher Maria de Barros, do lugar de Almalagos, moradores que foram em Santa Clara de Coimbra. Antônio de Macedo Pereira casou-se segunda vez com D. Catarina de Sampaio Borges, com quem se achava casado no ano de 1671, quando habilitou-se ao Santo Ofício. Esta senhora era natural e moradora na vila de Estremoz, filha de Antônio de Freitas Lobo, escrivão dos órfãos que foi na vila de Estremoz e de sua mulher Catarina de Sampaio Borges; neta paterna de João de Pena Lobo e de Catarina Soagem, naturais e moradores na vila de Alcáçovas, concelho de Viana do Alentejo, comarca de Évora; neta materna de Francisco de Sampaio, escrivão dos órfãos que foi na vila de Estremoz e de sua mulher Isabel da Silva, naturais da vila de Estremoz. No ano de 1697, já familiar e corregedor do Crime da Relação do Porto, queria se casar (pela terceira vez) com D. Micaela Maria da Silveira Brandão, filha de Inácio da Silveira Brandão e de sua mulher D. Lourença Maria Gomes da Cunha, moradores na sua quinta de cima de vila, freguesia de São Salvador de Castelões de Recezinhos, concelho de Penafiel, distrito do Porto; neta paterna de Francisco da Silveira Brandão, senhor de Vila Caiz, morador no mesmo concelho de Riba Tâmega e de sua mulher D. Maria Lejão, natural de Arrifana de Sousa, termo da cidade do Porto; neta materna de Filipe de Macedo de Magalhães, natural da freguesia de São João da Fontoura, concelho da vila de São Martinho de Mouros (atual concelho de Resende), distrito de Viseu e de sua mulher Catarina Lousada Lejão, natural da cidade do Porto e moradores na rua do Loureiro, em suas casas denominadas da Torre. D. Sebastiana da Silva e o Dr. Antônio de Macedo Pereira foram pais de (único): IV- CAPITÃO MOR ROQUE DE MACEDO PEREIRA E SAMPAIO. Nasceu cerca de 1659 na freguesia de Verride, tendo sido batizado na igreja matriz de Nossa Senhora da Conceição de Verride. Familiar do Santo Ofício, tendo tirado carta em 23 de dezembro de 1699.51 Do processo de habilitação ao Santo Ofício constou que seu batizado não foi 48 Arquivo da Cúria Metropolitana de São Paulo. Dispensas matrimoniais não catalogadas. 49 Ao tratar dessa senhora, Felgueiras Gayo escreveu que ela era filha de Antônio Barroso e de Isabel João de Valdozindo, o que não sigo, em função dos vários documentos arrolados neste artigo. 50 IAN/TT. Habilitações ao Santo Ofício. Antônio. Maço 17, doc. 749. 51 IAN/TT. Habilitações ao Santo Ofício. Roque. Maço 1, doc. 15. encontrado na igreja de Verride, mas que teria 38 anos de idade em 9 de setembro de 1697. Constou, ainda, que teve uma filha natural, de nome MARIA, recolhida no convento de Sandelgas, em Montemor-o-velho. Esta sua filha foi havida de uma mulher solteira, a quem chamavam MARIA RODRIGUES, a ruiva, também natural de Verride, que em 1697 era mulher de AMBRÓSIO DA COSTA, e que era filha de Francisco Rodrigues, o ruivo e de Maria Luís, todos naturais de Verride. Roque de Macedo foi fidalgo da Casa Real. Faleceu em 12 de outubro de 1728 em Coimbra, tendo sido sepultado na igreja matriz de São Bartolomeu; por ser freguês de Verride, seu óbito foi ali trasladado.52 Casou-se em 13 de junho de 1696 (ou 1697) na matriz da freguesia de Verride.53 Sua mulher era D. BERARDA ou BERNARDA VITÓRIA D’HORTA PEREIRA, ou Bernarda Vitória d’Horta Forjaz, natural da vila de Setúbal, recolhida que foi no convento de Santa Clara de Coimbra, falecida em 2 de fevereiro de 1761 em Verride.54 Era filha de Bernardo Amado Pereira, fidalgo da Casa Real, familiar do Santo Ofício e cavaleiro da Ordem de Cristo e de sua mulher D. Ana Josefa d’Horta.55 Neta paterna de Francisco Amado Varela de Macedo, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício e de D. Mariana Pereira Rangel (descendente dos condes da Feira), moradores em Coimbra. Neta materna de Baltasar d’Horta de Carvalho e de sua mulher D. Inês de Carvalho, naturais e moradores na vila de Setúbal. Foram pais, entre outros, de: 1 (V)- ANTÔNIO, batizado em 26 de setembro de 1700.56 Foi seu padrinho o Sr. D. João de Sousa, arcebispo de Braga, representado pelo seu avô, o Desembargador Antônio de Macedo Pereira. 2 (V)- FREI JOSÉ, frade do Varatojo. No século assinava José Francisco de Macedo Horta e Sampaio. Batizado em 3 de julho de 1704 na freguesia de Verride.57 Recebeu a mercê do hábito da Ordem de Cristo, por graça de seu tio o Conselheiro Dr. Alexandre da Silva Corrêa.58 A mercê foi concedida em 3 de agosto de 1718 em Lisboa Ocidental, apesar de ter apenas 15 para 16 anos de idade. Sua Magestade acedeu ao pedido, visto que o interessado alegou ser filho de Roque de Macedo Pereira e Sampaio, fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, bem como por ser neto de Antônio de Macedo Pereira, corregedor do Crime da Relação do Porto. 3 (V)- D. ANA JOSEFA, batizada em 4 de outubro de 1707 na freguesia de Verride.59 Segundo Felgueiras Gayo, era freira em Santa Clara de Coimbra. 4 (V)- FRANCISCO XAVIER DE MACEDO PEREIRA, que segue. 52 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de mistos, fls. 67 e 67v, imagens 360 e 361.tif. 53 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de mistos, fls. 111, imagem 100.tif. Tenho dúvida se foi em 1696 ou 1697: os registros estão fora de ordem. Não constou nome da mãe do noivo, nem filiação da noiva. 54 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de mistos, fls. 83v, imagem 173.tif. 55 GAYO, Manoel José da Costa Felgueiras (1750-1831). Nobiliário das Famílias de Portugal, 2ª ed., 1989-1990, Braga: Oficinas Gráficas de Barbosa & Xavier, Ltda. Edição Carvalhos de Basto, fac-similar da 1ª, 12 volumes. Vol. IX: Rangéis, § 36 N 17, p. 230. 56 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 374.tif. 57 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 376.tif. 58 IAN/TT. Habilitações da Ordem de Cristo. Letra J, maço 96, doc. nº 64. 59 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 386.tif. 5 (V)- JOAQUIM DE MACEDO PEREIRA, batizado em 3 de março de 1713 na freguesia de Verride.60 Foi seu padrinho (o qual teve representante) o Desembargador Alexandre da Silva Corrêa. 6 (V)- D. FRANCISCA JOAQUINA D’HORTA FORJAZ PEREIRA DE MACEDO, natural da freguesia de Verride, onde foi batizada em 21 de outubro de 1714.61 Ali casouse em 19 de março de 1729 (bênçãos tomadas em 25 de abril seguinte) com o MESTRE DE CAMPO PEDRO DIAS PAIS LEME.62 Foram padrinhos do casamento o Dr. Francisco Xavier da Serra Craesbeck63 e o cunhado Francisco Xavier de Macedo. Pedro Dias Pais Leme foi batizado em 1705 na igreja de Nossa Senhora da Apresentação do Irajá, recôncavo da cidade do Rio de Janeiro, bispado do Rio de Janeiro, Brasil, e era estudante em Coimbra quando se casou, sendo assistente na freguesia de São João de Almedina. Era filho legítimo de Garcia Rodrigues Pais, nascido cerca de 1650 na vila de São Paulo, guarda mor das Minas, e de sua mulher D. Maria (Antônia) Pinheiro da Fonseca, neto paterno do bandeirante Fernão Dias Pais, o “Caçador das Esmeraldas” e bisneto materno de outro grande bandeirante, Antônio Raposo Tavares.64 Foram pais, entre outros, do CÔNEGO ROQUE LUÍS DE MACEDO PAIS LEME (DA CÂMARA), genealogista, e avós paternos do MARQUÊS DE SÃO JOÃO MARCOS e do MARQUÊS DE QUIXERAMOBIM. Pedro Dias Pais Leme foi familiar do Santo Ofício, criado no cargo pelo Sr. Cardeal da Cunha em 27 de agosto de 1743.65 Esta informação constou da habilitação ao Santo Ofício, no ano de 1746, de seu sobrinho Garcia Rodrigues Pais Leme.66 É possível que seja o Pedro Dias Pais, indexado no Arquivo da Torre do Tombo em habilitações ao Santo Ofício, maço 25, documento nº 476, não disponível ao público, por estar em mau estado de conservação. Viria, anos depois, a receber carta de brasão de armas dos Lemes, passado em dezembro de 1750.67 Foi qualificado como fidalgo da Casa Real, comendador na Ordem de Cristo e guarda mor geral das Minas Gerais. Havia recebido mercê do foro de fidalgo cavaleiro da Casa de Sua Magestade em 18 de outubro de 1740, sendo lembrado por ser neto do bandeirante Fernão Dias Pais, como segue:68 Pedro Dias Pais Leme natural de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá distrito do Rio de Janeiro filho de Gracia Rodrigues Pais fidalgo da Casa e neto de Fernão Dias Pais. 60 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 405.tif. 61 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 413.tif, fls. 27v. 62 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de mistos, fls. 24 e 24v, imagens 131.tif e 132.tif. 63 Em 1725 o Dr. Francisco Xavier da Serra Craesbeck era ouvidor de Montemor-o-velho. Historiador e genealogista, foi autor, entre outros trabalhos, de “Memórias Ressuscitadas da Província de Entre Douro e Minho em 1726”. Uma amizade que certamente invejaria o filho de Pedro Dias Pais Leme, o Cônego Roque de Macedo Leme... 64 LEME, Luís Gonzaga da Silva. Op. cit., II: Lemes, p. 456. 65 O pai de Pedro Dias Pais Leme, Garcia Rodrigues Pais, havia sido reprovado ao habilitar-se à Ordem de Cristo, conforme sentença da Mesa da Consciência e Ordens, em 29 de outubro de 1710, por haver fama constante que sua avó materna fosse cristã-nova (IAN/ Torre do Tombo. Habilitação à Ordem de Cristo, letra G, maço 6, nº 66). 66 IAN/ Torre do Tombo. Tribunal do Santo Ofício. Habilitações, Garcia, mç. 1, doc. 7, de Garcia Rodrigues Pais Leme. 67 BAENA, Visconde Sanches de. Arquivo Heráldico-Genealógico. 2ª ed. 2 vol. Vol. I, p. 544. 68 IAN/ Torre do Tombo. Registro Geral de Mercês. D. João V. Livro 31, fls. 512. Tem título no Livro 5 de El-Rei D. José o 1º fls. 378. Houve Sua Magestade fazer mercê ao dito Pedro Dias Pais Leme de o tomar no mesmo foro de fidalgo de sua casa com 1600 réis de moradia por mês de fidalgo cavaleiro e um alqueire de cevada por dia paga segundo ordenança que é o foro e moradia que pelo dito seu pai lhe pertence e o alvará foi feito e se passou por duas vias a 18 de outubro de 740. Rei. 7 (V)- ANTÔNIO, batizado em 29 de setembro de 1715 na freguesia de Verride, em casa, por necessidade.69 8 (V)- ANTÔNIO JOSÉ PEREIRA, batizado em 8 de novembro de 1716 na freguesia de Verride. Foi seu padrinho o irmão José Francisco de Macedo.70 Sem geração, segundo Felgueiras Gayo. 9 (V)- BERARDO, batizado em 6 de janeiro de 1718 na freguesia de Verride.71 10 (V)- TERESA RITA, batizada em 5 de janeiro de 1721 na freguesia de Verride.72 Foi seu padrinho o Dr. Alexandre da Silva Corrêa, representado por José Francisco de Macedo Horta. 11 (V)- JOÃO ANTÔNIO, batizado em 7 de janeiro de 1726 na freguesia de Verride.73 Padrinhos os irmãos Francisco Xavier de Macedo Horta e Sampaio e D. Teresa Rita. Segundo Felgueiras Gayo, era frade bernardo. 12 (V)- D. MARIA, citada por Felgueiras Gayo, segundo o qual era freira em Santa Clara de Coimbra. 13 (V)- D. Isabel, citada por Felgueiras Gayo. V- FRANCISCO XAVIER DE MACEDO PEREIRA FORJAZ. Batizado em 31 de janeiro de 1709 na freguesia de Verride.74 Fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo. Casouse cerca de 1727 (era solteiro em 1726 e já casado em abril de 1728) com D. TERESA JOSEFA CAVACO DO COUTO, natural da Vila da Rainha, filha do Desembargador José Henriques Cavaco e de sua mulher D. Helena do Couto. Francisco Xavier era senhor da quinta e solar do Cardeal, na freguesia de Verride, em cuja quinta havia a capela de Santo Antônio. Com o nome de Francisco Xavier Macedo Pereira Forjaz foi padrinho de sua neta HERMENEGILDA BENEDITA, em 30 de junho de 1769. Foram pais de, que se conseguiu descobrir: 1 (VI)- ROQUE DE MACEDO PEREIRA DE HORTA, que segue. 2 (VI)- ANA, citada por Felgueiras Gayo. 69 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 417.tif, fls. 31v e 32. 70 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagens 422 e 423.tif, fls. 37 e 37v. 71 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 429.tif, fls. 44. 72 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 443.tif, fls. 58. 73 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 11 e 12.tif, fls. 11 e 11v. 74 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 1º de batismos (1559-1723), imagem 391.tif. 3 (VI)- HELENA, batizada em 8 de dezembro de 1730 na freguesia de Verride.75 Foi batizada em casa, por necessidade. 4 (VI)- JOAQUIM DE MACEDO PEREIRA FORJAZ, fidalgo da Casa Real. Casou-se com D. MARIA BERNARDA TUDELA CASTILO, filha de Félix Tomé de Freitas Morato, natural de Lares, freguesia de Maiorca, e de D. Rita Tudela de Castilo, natural de Castelo Branco. Com geração. VI- ROQUE DE MACEDO PEREIRA DE HORTA, natural da freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Couto de Verride, onde foi batizado em 28 de dezembro de 1728.76 Foram seus padrinhos D. Pedro, duque de Lafões e D. Luísa de Sousa, duquesa de Lafões, representados respectivamente por Calixto Rangel Pereira, da cidade de Coimbra, e pelo Reverendo João de Lacerda Coutinho, cônego da Sé de Coimbra. Foi fidalgo da Casa Real e bacharel na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra. Casou-se com sua prima D. ISABEL JOAQUINA DE SOUSA PEREIRA COUTINHO, natural da cidade de Coimbra, filha de Manuel José Pereira Coutinho, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, familiar do Santo Ofício, senhor do morgado dos Coutinhos Pereiras e Hortas, e de sua mulher D. Dorotéia Camelo de Sousa e Meneses, natural de Soutelo.77 Neta paterna de Bernardo Pereira Coutinho, fidalgo da Casa Real, senhor dos mesmos morgados, e depois de viúvo frade leigo de São Domingos, e de sua mulher D. Isabel Forjaz de Horta, herdeira (irmã inteira de D. Bernarda Vitória d’Horta Pereira, acima citada). Neta materna de Manuel de Sousa de Meneses, fidalgo capelão, cavaleiro da Ordem de Cristo e prior da igreja de Palmas, e de sua amiga (cujo nome se ignora). Conforme a habilitação de seu filho Manuel, adiante citado, em Leitura de Bacharéis, Roque de Macedo e sua mulher D. Isabel eram assistentes na sua casa do couto de Verride e eram “da primeira nobreza desta cidade e comarca, sem que conste terem cometido crime de lesa magestade divina, ou humana ou terem servido emprego, ou ofício algum vil ou mecânico”. Foram pais de: 1 (VII)- ANTÔNIO, nascido em 18 de setembro de 1758, tendo sido batizado em 28 do mesmo mês na freguesia de Verride.78 2 (VII)- D. MARIA, nascida em 14 de abril de 1761, tendo sido batizada em 27 do mesmo mês na freguesia de Verride.79 3 (VII)- D. MARIANA, nascida em 2 de julho de 1762, tendo sido batizada em 12 do mesmo mês.80 4 (VII)- FRANCISCO XAVIER, nascido em 20 de agosto de 1763, tendo sido batizado em 31 do mesmo mês na freguesia de Verride.81 Foi sua madrinha Nossa Senhora da Conceição, representada pelo seu avô Francisco Xavier de Macedo. 75 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos (1723-1774), fls. 40v, imagem 41.tif. 76 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, fls. 27v e 28, imagem 28.tif. 77 GAYO, Manoel José da Costa Felgueiras. Op. cit. Volume XI, costados 2, p. 379: árvore de costados 17 verso, do morgado dos Coutinhos de Coimbra. Mesmo volume, costados 1, p. 226: árvore dos Pereiras Coutinhos, de Soure. 78 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 287.tif, fls. 6v e 7. 79 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 317.tif, fls. 36v e 37. 80 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 329.tif, fls. 48v e 49. 81 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 336.tif, fls. 56 e 56v. 5 (VII)- D. ANA FELÍCIA DE MACEDO PEREIRA COUTINHO, que nasceu em 20 de setembro de 1764, tendo sido batizada em 7 de outubro do mesmo ano na freguesia de Verride.82 Ali casou-se 83 em 24 de outubro de 1791 na capela de Santo Antônio, sita nas casas de residência de seu pai Roque de Macedo Pereira, com CUSTÓDIO JÁCOME REYMONDE DE NORONHA, natural da vila de Tomar, filho de Rodrigo Jácome Reymonde de Noronha, natural da mesma vila de Tomar e de sua mulher D. Maria Leonor Tavares da Costa, natural da vila de Trancoso, esta filha de Jacinto Lopes Tavares, governador que foi da Província da Beira. Conforme constou da obra de Felgueiras Gayo, Custódio Jácome Reymonde sucedeu na casa de seu pai e por isso era senhor da quinta da Cruz e da de Nossa Senhora do Ó e de outras casas, moço fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo; que foi casado em Évora com D. Inês de Macedo Reymão e segunda vez com D. Ana Felícia de Macedo Pereira Sousa e Menezes (embora no assento de casamento de D. Ana Felícia não consta que seu noivo fosse viúvo).84 6 (VII)- MANUEL DE MACEDO PEREIRA, nascido em 16 de dezembro de 1765, que segue. 7 (VII)- JOSÉ, nascido em 25 de março de 1767, tendo sido batizado em 3 de abril do mesmo ano.85 8 (VII)- HERMENEGILDA BENEDITA, nascida em 19 de junho de 1769, tendo sido batizada em 30 do mesmo mês na freguesia de Verride.86 VII- DESEMBARGADOR MANUEL DE MACEDO PEREIRA DE HORTA. Ou Manuel de Macedo Pereira Coutinho e Horta. Nasceu em 16 de dezembro de 1765, tendo sido batizado em 25 do mesmo mês na freguesia de Verride.87 Foi seu padrinho o avô Francisco Xavier de Macedo. Par do Reino. No ano de 1790 fez leitura no Paço.88 Era solteiro, tendo sido qualificado como de boa vida e costumes. Casou-se com D. FRANCISCA ANTÔNIA DE SEABRA DE ALMEIDA BELTRÃO, filha de Lucas de Seabra e Silva, fidalgo da Casa Real, desembargador do Paço, intendente geral da Polícia e de sua mulher e sobrinha D. Josefa Emanuela de Almeida Beltrão de Seabra.89 Neta paterna de outro Lucas de Seabra da Silva90, lente de Prima de Leis, Colegial de São Pedro, conselheiro da 82 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 346.tif, fls. 65v. 83 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de mistos, imagem 72.tif, fls. 72v e 73. 84 GAYO, Manoel José da Costa Felgueiras. Op. cit. Volume VI: Jácomes, p. 188. 85 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 366.tif, fls. 86 e 86v. 86 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 384tif, fls. 104 e 104v. 87 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 2º de batismos, imagem 357.tif, fls. 76v. 88 IAN/TT. Leitura de Bacharéis. Letra M. Maço 54, doc. nº 8. 89 GAYO, Manoel José da Costa Felgueiras. Op. cit. Volume V: Gouveas, § 122 N7, p. 613; Volume XI, costados 3, pp. 113, 213 e 214: árvore de costados 64 (viscondes da Bahia) e 131 (Beltrões). 90 IAN/TT. Leitura de Bacharéis, letra L, maço nº 2, documento nº 21, de Lucas Seabra da Silva, ano de 1729. Era natural de Lobão, concelho de Besteiro, comarca de Viseu, filho legítimo de Gregório de Seabra da Silva, natural de Fail, termo da mesma cidade, e de Antônia Ribeiro, natural do mesmo lugar de Lobão e ambos nele moradores; neto paterno de Domingos de Seabra, natural e morador do dito lugar de Fail e de Maria Antunes da Silva, natural de Vila Chão de Sá, termo da mesma cidade de Viseu; neto materno de Manuel Ribeiro e de Isabel Joana Pinto, naturais e moradores no dito lugar de Lobão. Fazenda, desembargador do Paço, conselheiro d’El-Rei, fidalgo da Casa Real, cavaleiro da Ordem de Cristo, e de sua mulher D. Josefa Teresa de Morais Ferraz. Neta materna de Miguel Antônio de Almeida Beltrão, capitão de cavalos do Regimento de Moura, mestre de campo de auxiliares da comarca de Castelo Branco, superintendente das caudelarias da comarca de Pinhel, fidalgo da Casa Real, senhor dos morgados de seu pai, e de sua mulher ..... Seabra da Silva (irmã inteira do intendente geral da Polícia, Lucas de Seabra da Silva, acima citado). Foram pais, entre outros, de: VIII- ANTÔNIO DE MACEDO DE SOUSA PEREIRA COUTINHO DE MENESES. Nasceu em 7 de julho de 1814, tendo sido batizado em 30 do mesmo mês na freguesia de Verride.91 Foi Par do Reino, morgado do Cardal, em Verride, fidalgo-cavaleiro da Casa Real, por sucessão. Casou-se com D. MARIA AUGUSTA VASQUES DA CUNHA DE PORTUGAL E MENESES, natural de Maiorca, irmã do 1º Visconde de Maiorca, filhos de Fernando Vasques da Cunha Rangel de Sá e Melo, fidalgo-cavaleiro da Casa Real, senhor de honras e vínculos e de sua mulher D. Vitória Fortunata de Portugal e Meneses.92 Foram pais, entre outros, de: 1 (IX)- MANUEL DE MACEDO PEREIRA COUTINHO, pintor, cenógrafo, escritor e ilustrador. Sua biografia, conforme a Câmara Municipal de Montemor-oVelho:93 Manuel Maria de Macedo Pereira Coutinho Vasques da Cunha Portugal e Menezes. Nasceu a 1 de Maio de 1839, em Verride. Marco na arte da ilustração portuguesa. Representante dos títulos de Morgado da Quinta do Cardal (8º Morgado) e administrador do Vínculo da Capela de Santo António (ainda existem a quinta e a capela em Verride, bem como o solar em que este artista nasceu). Pertenceu a uma das mais antigas e fidalgas famílias da região, a dos Macedos Pereiras. Era irmão mais velho de Henrique, Conde de Macedo, e de Júlia, Viscondessa de Alenquer, todos filhos do 7º Morgado do Cardal e Par do Reino, António de Macedo Pereira Coutinho de Menezes. Inicialmente, era uma família muito opulenta, tendo depois passado por algumas dificuldades após as guerras liberais, o que fez com que o primogênito decidisse granjear o seu sustento com o desenho, para o qual tinha bastante vocação. Assim, retomou os seus estudos artísticos e transferiu-se para o Porto, onde foi aluno do aquarelista inglês Howell. Aqui viveu, com grandes dificuldades, subsistindo graças às vendas que fazia de pequenos álbuns com desenhos humorísticos e de aquarelas sobre costumes populares, sobretudo aos estrangeiros que passavam pela cidade. Deslocou-se depois para Coimbra, onde estudou pintura na Universidade. Um cenógrafo italiano, Eugênio Lucini, deu-lhe grandes ensinamentos e, assim, Manuel de Macedo fez os seus primeiros cenários teatrais. Finalmente, mudou-se para Lisboa e, durante vários anos, dedicou-se à cenografia. Desenhou, entre outros, para os teatros do Príncipe Real e D. Maria II, o cenário de A Viagem à Lua, Opereta Phantastica, cuja representação ocorreu no Teatro da Trindade, em Lisboa. Depressa o seu talento se evidenciou em relação aos outros artistas da época, pela inovação que operou nos processos em voga, produzindo muitas decorações que 91 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 4º de mistos, fls. 39, imagem 39.tif. No assento constam os nomes dos avós paternos e maternos. 92 ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins. Nobreza de Portugal e do Brasil. 3 vol. Lisboa: Editorial Enciclopédia, 1960. Vol. II, p. 715. 93 Visto em janeiro de 2010 na Internet, na seguinte página: http://www.coimbradigital.pt/Artecultura/Paginas/Patrim%C3%B3nioculturaldeMontemorest%C3 %A1maisrico.aspx contribuíram decisivamente para o sucesso das encenações a que se destinaram. No entanto, não descurou o desenho e a pintura, continuando a compor belos álbuns, um dos quais foi adquirido pelo Rei D. Fernando II. Em 1872, foi convidado a participar numa publicação ilustrada. Esta experiência entusiasmou-o de tal maneira que abandonou a cenografia por completo, modificando profundamente a sua carreira. Em 1878, foi fundador da revista “O Ocidente”, na qual desempenhou as funções de director artístico e ilustrador. Executou muitos desenhos e gravuras para esta e outras revistas e livros, além de obter sucessivos êxitos em diversas exposições. Usou vários pseudónimos: Spectator, Pin-sel, P. S. Os seus dotes abrangiam também uma vasta cultura literária e linguística, o que permitiu que traduzisse para português várias obras inglesas, francesas e alemãs. Foi um artista de charneira entre duas escolas, imprimindo à sua época um sinal de evidente inquietação e exercendo um olhar crítico e moderno sobre tudo o se passa em Portugal na disciplina das artes, denunciando as fraquezas do ensino, a falta de rigor dos artistas, a acomodação ao mais fácil e mais tradicional. Aos 45 anos de idade foi vítima de uma fatalidade: atacado por uma doença de olhos, viu-se impossibilitado de desenhar. No entanto, em 1884, ocupou o lugar de conservador do Museu de Belas-Artes e passou a exercer actividades de ensino teórico do seu ofício. Foi colaborador da revista Arte Portuguesa, que surgiu em Janeiro de 1895, sendo autor de vários textos, sob pseudónimo: “Nacionalisação dos Estylos”, “Deterioração das Pinturas a Oleo”, “Museu Nacional de Bellas-Artes”, “Pão Pittoresco”, “Arte Moderna”, “Exposição Techina - Congresso de Pintura”, “As Artes Decorativas no Fim do Seculo”, “Bonequinhos de Barro”, “A Segunda Geração da Renascença”, “Pintura Decorativa - os diversos processos de tempera”. Foi considerado por JoséAugusto França como o melhor ilustrador do século XIX, um bom desenhador e um grande boémio, faceta captada nos seus registos dos vícios lisboetas. Oscilou entre duas correntes estéticas: o Romantismo e o Realismo. Faleceu em Lisboa, no dia 20 de Outubro de 1915, deixando a viúva e dois filhos. Retrato de Manuel de Macedo Pereira Coutinho em: http://4.bp.blogspot.com/_Iz0FVCyKAhs/Se3pdVjLkI/AAAAAAAAAOk/0lVxDMws7-0/s1600-h/Manuel_Macedo.jpg 2 (IX)- HENRIQUE DE MACEDO PEREIRA COUTINHO. Nasceu em 6 de setembro de 1843, tendo sido batizado em 17 do mesmo mês na freguesia de Verride.94 Conforme o Livro de Nobreza de Portugal e do Brasil, foi (único) Conde de Macedo, por decreto de 30 de julho de carta de 19 de setembro de 1890 (Rei D. Carlos).95 Diplomata, cientista e político. Faleceu em Lisboa em 13 de maio de 1910. Conforme a mesma fonte: 94 Conforme http://etombo.com, distrito de Coimbra, concelho de Montemor-o-velho, freguesia de Verride, livro 6º de batismos, imagem 4.tif, fls. 2v e 3. 95 ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins. Op. cit. Vol. II, p. 708. Fez um curso brilhantíssimo na Escola Politécnica de Lisboa, onde se apresentou a concurso para lente substituto da 3ª cadeira em 1863, ainda estudante, pois só concluiu o curso em 1864. Foi aprovado e nomeado no mesmo ano. Foi também ajudante do Observatório da Escola Politécnica (1875) e do Observatório Astronômico da Ajuda (1878), ascendendo a lente proprietário da sua cadeira em 1883. Filiado no Partido Progressista, foi deputado nas legislaturas de 1869-1870 e de 1880-1881. Nomeado par do Reino, por sucessão (7 de janeiro de 1881), foi nomeado vogal do conselho Superior de Instrução Pública em 1885 e foi ministro da Marinha e Ultramar, de 20 de fevereiro de 1886 a 9 de maio de 1887 e de 15 de setembro a 13 de julho de 1888. Ingressou depois no serviço diplomático e foi ministro plenipotenciário em Bruxelas (1889), Roma (1891) e Madrid (1893). Quando exercia as suas funções em Madrid foi nomeado plenipotenciário de Portugal à Conferência da Haia de 1893, para redução dos armamentos. Representou também os Reis de Portugal no casamento da Princesa das Astúrias em 1901 e passou à disponibilidade no ano seguinte. Foi do Conselho de Sua Magestade Fidelíssima, grã-cruz das Ordens de Cristo; de Carlos III, de Espanha; do Mérito Naval (espanhola); de Pio IX, da Santa Sé; da Coroa, de Itália; e da Estrela Polar, da Suécia. Escritor e jornalista, colaborou nas folhas políticas O Progresso e Diário Popular e traduziu para a casa editora David Corazzi vários volumes de Júlio Verne: Da Terra à Lua, A Roda da Lua, Aventuras do Capitão Háteras, A Ilha Misteriosa, etc., que assinou com o nome de Henrique de Macedo. Casou, com uma senhora cujo nome ignoramos, da família Ressano Garcia, que morreu em Málaga em 1903; sem geração. 3 (IX)- D. JÚLIA DE MACEDO DE SOUSA PEREIRA COUTINHO DE MENESES, mulher de D. TOMÁS DE NÁPOLES NORONHA E VEIGA, agraciado com o título de Visconde de Alenquer, por decreto de 11 de dezembro de 1873 do Rei D. Luís.96 96 ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins. Op. cit. Vol. II, p. 226. Quinta do Cardal, na freguesia de Verride, concelho de Montemor-o-velho, conforme: http://www.terralusa.net/microsites/photo.php?foto=f122tp5_foto4.jpg&leg=